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DOUTORADO MULTI-INSTITUCIONAL E MULTIDISCIPLINAR EM DIFUSÃO DO CONHECIMENTO

LINHA DE PESQUISA 2 - DIFUSÃO DO CONHECIMENTO:


Informação, Comunicação e Gestão

ALVARO JOSÉ DE OLIVEIRA

CAPITAL SOCIAL E TECNOLOGIA SOCIAL:


Um estudo de caso na Associação Aroeira em Alagoas

Salvador-BA
2016
DOUTORADO MULTI-INSTITUCIONAL E MULTIDISCIPLINAR EM DIFUSÃO DO CONHECIMENTO
LINHA DE PESQUISA 2: DIFUSÃO DO CONHECIMENTO:
Informação, Comunicação e Gestão

CAPITAL SOCIAL E TECNOLOGIA SOCIAL:


Um estudo de caso na Associação Aroeira em Alagoas

Tese apresentada ao Programa de Doutorado


Multi-Institucional e Multidisciplinar em Difusão
do Conhecimento, como requisito parcial para
a obtenção do título de Doutor em Difusão do
Conhecimento.

Orientadora: Dra. Núbia Moura Ribeiro

Salvador-BA
2016
SIBI/UFBA/Faculdade de Educação – Biblioteca Anísio Teixeira

Oliveira, Alvaro José de.

Capital Social e Tecnologia Social: Estudo de Caso na Associação


Aroeira em Alagoas / Alvaro José de Oliveira – Salvador, 2016.
161 f.: il.

Orientadora: Profa. Dra. Núbia Moura Ribeiro.

Tese (Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do


Conhecimento) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de
Educação, Salvador, 2016.

1. Capital Social. 2. Tecnologia Social. 3. Capacidade Associativa,


4. Confiança interpessoal. 5. Sociabilidade. 6. Cooperação.
ALVARO JOSÉ DE OLIVEIRA

CAPITAL SOCIAL E TECNOLOGIA SOCIAL:


Um estudo de caso na Associação Aroeira em Alagoas

Tese apresentada ao Programa de Doutorado Multi-Institucional e Multidisciplinar em


Difusão do Conhecimento, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor
em Difusão do Conhecimento.

Banca Examinadora

Profa. Núbia Moura Ribeiro


Instituto Federal da Bahia (IFBA)
Doutorado em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Profa. Ana Maria Ferreira Menezes


Universidade Estadual da Bahia (UNEB)
Doutorado em Administração Pública pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Profa. Cristiane Santos Souza


Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB)
Doutorado em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP)

Prof. José Wellington Marinho de Aragão


Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Doutorado em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Prof. Antônio Maurício Castanheira das Neves


Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ)
Doutorado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
AGRADECIMENTOS

À Deus, pela graça da sabedoria e da fortaleza que me permitiram chegar até o


fim de mais um ciclo de minha vida;

Às minhas amadas esposa e filha, que se sacrificaram abrindo mão da minha


presença, nos momentos de estudo, viagens e mesmo presente estando “ausente”;

À minha amiga, professora e orientadora Dra. Núbia Moura Ribeiro, pelos


ensinamentos recebidos e, de modo especial, pelas suas orientações que me fizeram
trilhar o caminho correto para o encerramento deste ciclo acadêmico;

Aos professores do programa, que contribuíram para a ampliação dos meus


conhecimentos, que mediante estímulos me desafiaram a aprender mais;

Aos membros da banca, que me ajudaram a aperfeiçoar o trabalho com valiosas


correções e apontamentos;

Aos colegas do programa, que ajudaram a enriquecer a experiência das aulas e dos
momentos que estivemos juntos;

Um agradecimento especial as instituições públicas de ensino, pela oportunidade que


me foi concedida durante toda a minha formação acadêmica;

Às Instituições financiadoras, Instituto Federal de Alagoas e CAPES, que me deram


condições de terminar este trabalho;

Aos membros da Associação Aroeira da cidade de Piaçabuçu em Alagoas, gente


simples e acolhedora, cujos relatos e história de vida, me fizeram e me fazem refletir
sobre suas adversidades no tempo e no espaço. Espero que este trabalho possa de
alguma forma contribuir para a comunidade extrativista e incentivar outros
pesquisadores a colaborar no incentivo a esta e outras comunidades em situação de
pobreza, e pobreza absoluta.

De modo geral, a todos que diretamente ou indiretamente contribuíram para que este
trabalho pudesse se tornar realidade.
RESUMO

A presente tese teve como objetivo analisar dimensões do Capital Social dos
membros de uma Associação no Estado de Alagoas onde houve o desenvolvimento
de uma Tecnologia Social. As dimensões do capital social analisadas foram:
Capacidade Associativa, Confiança interpessoal, Cooperação e Sociabilidade. Os
principais aportes teóricos versaram sobre capital social e tecnologia social. Os
sujeitos da pesquisa foram os membros da Associação Aroeira, localizada no
município de Piaçabuçu no Estado de Alagoas/Brasil, onde houve o desenvolvimento
da tecnologia social de beneficiamento da pimenta-rosa, bem como representantes
do Instituto Ecoengenho, instituição que colaborou com a Associação Aroeira no
desenvolvimento da tecnologia social, e membros da comunidade de Piaçabuçu.
Trata-se de um estudo de caso único, caracterizado como pesquisa aplicada, quali-
quantitativa e exploratória que evoluiu para uma pesquisa descritiva, adotando como
procedimento uma pesquisa de levantamento, com entrevistas e aplicação de
formulário, e a observação sistemática. Observou-se como resultado que a tecnologia
desenvolvida para o beneficiamento da pimenta-rosa caracteriza-se como tecnologia
social. Quanto às dimensões do capital social analisadas, verificou-se que os
membros da Associação Aroeira demonstraram terem aprofundado estas dimensões
a partir do desenvolvimento da tecnologia social, ressaltando-se que a dimensão que
apresentou alguma fragilidade foi a capacidade associativa.

Palavras-chave: Capital Social. Tecnologia Social. Pimenta-rosa. Capacidade


Associativa. Confiança interpessoal. Cooperação. Sociabilidade.
ABSTRACT

This thesis aimed to analyze dimensions of Social Capital of the members of an


association in the state of Alagoas, Brazil, where they developed a social
technology. Some dimensions of social capital were analyzed: associative capacity,
interpersonal trust, cooperation and sociability. The main theoretical contributions
were about social capital and social technology. The individuals from the research
were members of Aroeira Association, located in Piaçabuçu county in the state of
Alagoas / Brazil, where there was the development of pepper rose improvement of
social technology; as well as representatives of Ecoengenho Institute, an institution
that collaborated with Aroeira Association in the development of social technology,
and members of Piaçabuçu community. This is a single case study, characterized
as applied research, qualitative and quantitative, and exploratory which evolved into
a descriptive research, adopting as a search procedure, with interviews and
application forms, and also systematic observation. It was observed as a result that
the developed technology for the pink pepper improvement was characterized as
social technology. As to the dimensions of the social capital analyzed, it was found
that the members of the Aroeira Association demonstrated have deepened these
dimensions from the development of social technology, it should be emphasized
that the dimension that showed some weakness was the associative capacity.

Keywords: Social Capital. Social technology. Pepper rose. Associative capacity.


Interpersonal trust. Cooperation. Sociability.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AL Alagoas
ANA Agência Nacional de Águas
BR Brasil
CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica
CONNEPI Congresso Norte e Nordeste de Pesquisa e Inovação
CS Capital Social
DMMDC Doutorado Multi-Institucional e Multidisciplinar em Difusão do
Conhecimento
ETFAL Escola Técnica Federal de Alagoas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IDH-M Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IFAL Instituto Federal de Alagoas
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IS Inclusão Social
ITS Instituto de Tecnologia Social
PIB Produto Interno Bruto
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
QI-MCS Questionário Integrado para medir Capital Social
RTS Rede de Tecnologia Social
TA Tecnologia Apropriada
TC Tecnologia Convencional
TS Tecnologia Social
UF Unidade da Federação
UFBA Universidade Federal da Bahia
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
UNILAB Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-brasileira
USAID Agência Americana para Desenvolvimento internacinal (United
States Agency for International Development)
LISTA DE FIGURAS

Figura 01. Árvore e fruto da aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius) ..................16

Figura 02. Mapa de Localização de Piaçabuçu-AL ...................................................22

Figura 03. Estufas termo solares da Associação Aroeira e


as bandejas de secagem ...........................................................................................25

Figura 04. Embalagem da pimenta-rosa ..................................................................26

Figura 05. Dimensões do capital social .....................................................................29

Figura 06. Possíveis desdobramentos do desenvolvimento


de uma tecnologia social ............................................................................................30

Figura 07. Círculo virtuoso para geração do capital social ........................................33

Figura 08. Mapa de Localização de Alagoas ............................................................35

Figura 09. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal médio dos Estados


Brasileiros ..................................................................................................................37

Figura 10. Dimensões do Desenvolvimento Humano ...............................................38

Figura 11. Faixas de Desenvolvimento Humano .......................................................38

Figura 12. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal médio – Longevidade ....39

Figura 13. Ordenamento das taxas de homicídios na população total


das UF (2012) ............................................................................................................40

Figura 14. Índice de Desenvolvimento Municipal médio – Renda (2010) .................41

Figura 15. PIB per capita (R$) de Estados do Nordeste - 2005-2009 ......................42

Figura 16. Alagoas: População Economicamente Ativa – Renda 2011 ....................43

Figura 17. Índice de Desenvolvimento Humano – Pobreza (2010) ...........................43

Figura 18. Crescimento da renda domiciliar per capita .............................................45

Figura 19. Estrutura deste documento .....................................................................46

Figura 20. Produção científica sobre capital social – 1986 a 2003 ...........................51

Figura 21. Linha do tempo dos autores basilares sobre capital social .....................55

Figura 22. Ganhos e perdas efetivas e potenciais em transações mediadas pelo


capital social ...............................................................................................................61

Figura 23. Fatores considerados para o desenvolvimento local ...............................75


Figura 24. Classificação da pesquisa ........................................................................81

Figura 25. Sede da Associação Aroeira ....................................................................95

Figura 26. Pimenta-rosa ............................................................................................96

Figura 27. Coleta da pimenta-rosa ............................................................................97

Figura 28. Secagem da pimenta-rosa .......................................................................97

Figura 29. Geradores termo solares da Associação Aroeira .....................................98

Figura 30. Estufas para desidratação da pimenta-rosa .............................................98


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01. Dimensão do CS medida - Capacidade Associativa: “Como uma pessoa


passa a ser um membro da associação Aroeira?” ...................................................104

Gráfico 02. Dimensão do CS medida - Capacidade Associativa: “Quantos dias de


trabalho, em média, você dedicou a essa Associação nos últimos 12 meses?” .....105

Gráfico 03. Dimensão do CS medida - Capacidade Associativa: “Após sua


participação na Associação Aroeira, aconteceu melhora na sua renda?” ...............106

Gráfico 04. Dimensão do CS medida - Capacidade Associativa: “Como acontece o


planejamento da Associação Aroeira, através de quais pessoas?” .........................107

Gráfico 05. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Em geral, você diria
que a maior parte das pessoas da Associação Aroeira é confiável?” ......................109

Gráfico 06. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Se de repente você


precisasse viajar por um ou dois dias, você poderia contar com pessoas da
Associação Aroeira para olhar as suas crianças ou a sua casa?” ...........................110

Gráfico 07. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Você acha que no


último ano, a confiança entre as pessoas membros da Associação Aroeira?” ........111

Gráfico 08. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Hoje em dia com que
frequência você diria que as pessoas membros da Associação Aroeira ajudam umas
às outras?” ...............................................................................................................112

Gráfico 09. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Após você se tornar membro da


Associação, você trabalhou com outras pessoas para fazer alguma coisa em benefício
da comunidade extrativista?” ...................................................................................113

Gráfico 10. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Uma pessoa que não participa
da Associação e pega pimenta-rosa é criticada ou sofre algum tipo de discriminação?”
..................................................................................................................................114

Gráfico 11. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Se houvesse a necessidade de


ajudar uma pessoa da Associação, qual a chance das pessoas cooperarem para
tentar resolver o problema?” ....................................................................................115

Gráfico 12. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Suponha que ocorresse uma


doença grave, ou a morte de um parente. Qual a probabilidade de algumas pessoas
na comunidade se unirem para ajudar você?” .........................................................116

Gráfico 13. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes
você se encontrou com pessoas em um local público para conversar, para comer ou
beber?” .....................................................................................................................118

Gráfico 14. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes
as pessoas visitaram você em sua casa?” ...............................................................119
Gráfico 15. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes
você visitou outras pessoas em suas casas?” .........................................................120

Gráfico 16. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes
você se reuniu com outras pessoas para fazer alguma atividade esportiva?” .........120
LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Conceitos de autores seminais sobre capital social .................................58

Quadro 2. Sinônimos de Confiança ...........................................................................64

Quadro 3. Contraponto entre Tecnologia Convencional e Tecnologia Social ...........70

Quadro 4. Implicações da Tecnologia Social ............................................................70

Quadro 5. Sujeitos e instrumentos de pesquisa ........................................................85

Quadro 6. Relação entre objetivos, procedimentos e fontes .....................................91

Quadro 7. Principais convergências entre os resultados decorrentes dos


procedimentos de pesquisa .....................................................................................127
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16
1.1 Contexto e justificativa da pesquisa ................................................................ 32
1.1.1 Por que Alagoas? .................................................................................. 33
1.2 Estrutura do texto ............................................................................................ 45

2 CAPITAL SOCIAL E TECNOLOGIA SOCIAL ........................................................ 48


2.1 Capital Social ................................................................................................... 49
2.1.1 Capacidade associativa ......................................................................... 62
2.1.2 Confiança interpessoal .......................................................................... 62
2.1.3 Cooperação ........................................................................................... 66
2.1.4 Sociabilidade ......................................................................................... 66
2.2 Tecnologia Social ............................................................................................ 66
2.2.1 Tecnologias sociais e comunidades locais ............................................ 72

3 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................................... 78


3.1 Classificação da pesquisa ............................................................................... 81
3.2 A pesquisa de campo e a análise de dados .................................................... 85
3.3 Uma análise de coerência da pesquisa ........................................................... 91

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS ............................................... 92


4.1 Dados coletados na observação sistemática .................................................. 93
4.1.1 Características da tecnologia ................................................................ 99
4.2 Dados coletados por meio do formulário ....................................................... 101
4.2.1 Capacidade Associativa ...................................................................... 103
4.2.2 Confiança Interpessoal ........................................................................ 107
4.2.3 Cooperação ......................................................................................... 112
4.2.4 Sociabilidade ....................................................................................... 117
4.3 Dados coletados por meio das entrevistas .................................................... 121
4.4 Triangulação dos dados ................................................................................ 127

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 131

REFERENCIAS ....................................................................................................... 139

APENDICES ............................................................................................................ 147


AP-A. Roteiro de observação sistemática ........................................................... 148
AP-B. Roteiro semiestruturado de entrevista ...................................................... 149
AP-C. Formulário de pesquisa aplicado aos membros da Associação Aroeira .. 151
AP-D. Termo de autorização de uso de imagem e/ou depoimento ..................... 156
AP-E. Termo de consentimento livre e esclarecido ............................................. 157

ANEXOS ................................................................................................................. 158


AN-A. Ata de fundação da Associação Aroeira ................................................... 158
AN-B. Receitas com pimenta-rosa disponibilizadas pela Associação Aroeira .... 161
16

1 INTRODUÇÃO

Como as iniciativas de pesquisa em geral, o presente trabalho é fruto de


inquietações que convêm serem apresentadas para o entendimento do processo de
construção da tese. A pesquisa surgiu a partir do reconhecimento da importância do
objeto da pesquisa – o desenvolvimento de uma tecnologia social em uma associação
extrativista – e da busca por respostas para questões relativas à formação do capital
social entre pessoas e famílias pertencentes à comunidade extrativista da pimenta-
rosa, fruto da aroeira-vermelha (Figura 01), no município de Piaçabuçu no Estado de
Alagoas. “A aroeira-vermelha, um dos nomes populares da Schinus terebinthifolius
(Anacardiaceae), é uma planta que ocorre do Rio Grande do Norte até o Rio Grande
do Sul; a espécie apresenta ampla distribuição geográfica e plasticidade ecológica”
(LORENZI, 2008, p. 17). A tecnologia social desenvolvida por esta comunidade e
estudada aqui é o próprio processo de produção da pimenta-rosa, que será
apresentado ao longo desta introdução.

Figura 01. Árvore e fruto da aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius)


Fonte: acervo do autor (2015)

Uma das principais características do século 21 é o desejo quase universal


de desenvolvimento, na expectativa de que o desenvolvimento resulte em
empoderamento1 das comunidades. Assim, Santos (2009) parte da constatação de

1
“O empoderamento pode ser entendido como o envolvimento dos indivíduos na gestão política e
econômica das localidades, através da descentralização, do repasse de responsabilidades e da
democratização do poder. Estes passam a interagir melhor, compreender e assumir responsabilidades
e consequências, o que permite um maior poder de decisão na sua comunidade, assim como o
surgimento e crescimento do civismo e, por conseguinte um aumento na participação social” (COSTA
et al., 2006, p.9).
17

que o grande desafio do século 21 é produzir ações eficientes e eficazes que


promovam a emancipação social e o desenvolvimento humano das pessoas que são
objetos destas ações. O autor afirma que a participação cidadã, o respeito às culturas
locais e os saberes populares são valores indispensáveis para assegurar o
compromisso com um projeto de mudança que gere empoderamento,
desenvolvimento e inclusão social (SANTOS, 2009).

Todo acréscimo de poder, induzido ou conquistado, permite que as pessoas,


as unidades familiares ou os grupos sociais ampliem o seu exercício de cidadania. Tal
empoderamento pode se dar pela oferta de conhecimentos necessários para a
promoção de mudanças em suas próprias comunidades, no conjunto de relações e
inter-relações e de poderes e contra poderes que se estruturam nessas comunidades,
gerando autonomia da população e elevando o seu capital social (FRIEDMANN,
1996).

Levando em conta esta necessidade de empoderamento por parte das


comunidades e considerando que o aumento do capital social resulta em
empoderamento (BAQUERO; BAQUERO, 2007), a motivação para pesquisa surgiu
de reflexões sobre as modificações no capital social das pessoas de uma comunidade
extrativista da aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius) no Estado de Alagoas onde
houve o desenvolvimento de uma tecnologia social.

Acredita-se que o desenvolvimento de tecnologias sociais2 resulta num


possível aumento do capital social entre as pessoas pertencentes a uma comunidade,
sempre considerando os sujeitos diferentes em suas habilidades, competências,
singularidades e identidades e sempre respeitando as diferenças dos valores,
crenças, costumes e hábitos, diferenças estas comumente encontradas em grupos
sociais.

2
O tema das tecnologias sociais será debatido ao longo deste texto. Mas para favorecer o entendimento
desta parte do texto, pode-se dizer que, de acordo com a Rede de Tecnologia Social (RTS, 2014), a
tecnologia social compreende produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na
interação com a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social. Disponível
em <http://www.rts.org.br/rts/tecnologia-social/tecnologia-social.> Acesso em 22 de abril de 2014.
18

Mesmo dentro de uma sociedade ou comunidade, os valores podem ser


contraditórios: alguns grupos ou indivíduos podem valorizar crenças
religiosas tradicionais, enquanto outros podem enfatizar o progresso e a
ciência. Enquanto algumas pessoas preferem conforto material e sucesso,
outras podem preferir a simplicidade e uma vida tranquila. Em nossa época
de mudanças, tomada pelo movimento global das pessoas, das ideias, dos
bens e da informação, não é surpreendente que encontremos exemplos de
valores culturais em conflito (GIDDENS, 2005, p.35).

A fim de compreender algumas dimensões do capital social na comunidade


extrativista da aroeira-vermelha estudada, reconhecendo a complexidade e
heterogeneidade que caracterizam as práticas sociais, foi utilizada, para efeito de
contextualização deste trabalho, uma leitura plural, que, de acordo com (ARDOINO,
1998, p.4),

[...] quer dizer que no lugar de buscar um sistema explicativo unitário [...] as
ciências humanas necessitam de explicações, ou de olhares, ou de óticas, de
perspectivas plurais para dar conta um pouco melhor, ou um pouco menos
mal, da complexidade dos objetos.

A compreensão sobre a capacidade associativa das pessoas requer que seja


levado em consideração essa complexidade.

[...] a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido junto) de


constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o
paradoxo do uno e do múltiplo. Num segundo momento, a complexidade é
efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações,
determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico (MORIN,
2005, p. 13).

Assim, esta pesquisa surgiu a partir da percepção de que o bom uso de novas
tecnologias, mais especificamente tecnologias sociais, estaria associado à
intensidade das interações entre os diferentes atores envolvidos no fortalecimento
destas interações. A partir daí capital social e tecnologia social foram utilizados como
categorias basilares para o estudo, categorias estas que foram aprofundadas nas
seções 2.1 e 2.2 deste trabalho. Os referidos temas foram tratados através de uma
abordagem multirreferencial na sua perspectiva epistemológica, buscando
fundamentar a temática da tese, sem levar em conta apenas um olhar para a
compreensão do objeto da pesquisa, apreendendo,

[...] a realidade (se isto for possível) através e a partir de visões e sistemas
de referência diversos, irredutíveis, expressos por linguagens distintas, de
modo a capturar o menos reducionista mente possível, a complexidade da
situação em estado de pesquisa (BURNHAM, 2007, p.7).
19

No decorrer desta análise, a discussão sobre capital social tomou como foco
o ressurgimento contemporâneo da ideia, evitando assim uma longa discussão sobre
os seus precursores clássicos, começando por passar em revista as abordagens dos
principais autores associados ao uso contemporâneo do termo. Na investigação feita
para esta tese, foram analisados alguns aspectos do surgimento do capital social e
suas principais aplicações.

O capital social compartilha muitos atributos com outras formas de capital,


mas o que justifica sua centralidade nesta tese é que foram analisadas algumas de
suas características com o desenvolvimento de uma tecnologia social, partindo do
pressuposto que o desenvolvimento da tecnologia social pode servir como catalizador
para melhoria no capital social da comunidade, implicando na interação entre pelo
menos duas pessoas, e normalmente entre um maior grupo de pessoas, e permitindo
uma relação dialética entre o sujeito e a sociedade a seu redor.

Se vier a existir uma comunidade no mundo dos indivíduos, só poderá ser (e


precisa sê-lo) uma comunidade tecida em conjunto a partir do
compartilhamento e do cuidado mútuo, uma comunidade de interesse e
responsabilidade em relação aos direitos iguais de sermos humanos e igual
capacidade de agirmos em defesa destes direitos (BAUMAN, 2003, p.134).

Com base na multirreferencialidade, esta pesquisa envolveu as atividades da


Associação Aroeira, na perspectiva do capital social de seus membros, considerando-
os como seres sociais e históricos, determinados pelos múltiplos contextos em que
estão inseridos e sem perder de vista a importância destes sujeitos3 na comunidade.
Tratar de capital social implica tratar também das relações sociais e, nestas, incluem-
se as formas de solidariedade, integração social e cooperação como principais
agentes de empoderamento da comunidade.

Es necesario comprender el análisis multirreferencial como una lectura plural,


bajo diferentes ́ángulos, de los objetos que quiere aprehender, en funcíon de
sistemas de referencias supuestamente distintos, no reductibles los unos a
4
los otros. (ARDOINO, 1991, p.173).

3
A descrição dos sujeitos de pesquisa fará parte dos resultados deste trabalho, com base em dados
colhidos por meio dos formulários aplicados à comunidade pesquisada.
4
É necessário compreender a análise multirreferencial como uma leitura plural, sobre diferentes
ângulos, dos objetos que se quer apreender, em função de sistemas de referências supostamente
distintos, não redutíveis uns aos outros. (ARDOINO, 1991, p.173, tradução nossa).
20

Este empoderamento resulta nos mais diversos desdobramentos, e dentre


estes está o desenvolvimento endógeno. Embora nesta tese o desenvolvimento não
seja uma categoria de estudo, espera-se que a tecnologia social discutida nesta tese
fomente este tipo de desenvolvimento, que Remmers (1998, p.11), assim define:

[...] desenvolvimento endógeno é o processo social em que as pessoas


progressivamente percebem que têm um maior controle sobre a direção de
suas vidas, num esforço para expressar e fazer valer, dentro de um contexto
global e articulando-se com ele, a peculiar qualidade de seu lugar de vida,
tanto na sua vertente de recursos naturais e humanos como na vertente de
controle do processo de desenvolvimento.

Trata-se de um modelo de desenvolvimento produzido por atores locais com


recursos locais, com perspectivas fortemente sustentadas em uma rede de
colaboração a partir das circunstancias sociais, econômicas e culturais, tomando-se
como fator mais relevante desta relação a dinamização de formas de ação social
coletiva que possuem um potencial endógeno transformador, como, por exemplo, a
formação de cooperativas ou associações fundamentadas no potencial emancipador
e empoderador das pessoas e da localidade.

Pode-se citar como exemplo o campo de estudo (a Associação Aroeira), que


possui associados, atores locais, que desenvolvem um trabalho cooperativo a partir
da vontade de superar suas necessidades, consideradas através de nossas
observações como necessidades básicas de sobrevivência. O recurso financeiro
conseguido através da venda da pimenta-rosa, fruto da aroeira-vermelha, é utilizado
não só para a subsistência dos cooperados, mas também para o aprimoramento da
Associação Aroeira, proporcionando empoderamento e inclusão social das pessoas
participantes da associação.

O desenvolvimento endógeno é, portanto, entendido como um processo de


transformação, proporcionado pela conjugação do aproveitamento dos recursos e dos
serviços locais, bem como da cooperação entre os atores. Para Bourdieu (1983, p.
248), esta cooperação representa o “agregado dos recursos reais ou potenciais que
estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos
institucionalizadas de conhecimento mútuo ou reconhecimento”. Isto significa que as
relações institucionalizadas na forma de normas ou redes sociais devem se traduzir
por meio do crescimento e da mudança estrutural da economia local, caracterizando
21

a importância do capital social para o desenvolvimento local endógeno5, baseando-se


no princípio das

[…] relações entre indivíduos, empresas e organizações, razão pela qual


pode ser identificada uma grande variedade de redes. Assim, existem as
redes pessoais e as redes que as empresas estabelecem com os agentes do
entorno próximo e que se caracterizam por apresentar relações informais ou,
mais precisamente, casuais e, às vezes, comerciais. Os sistemas produtivos
locais, por outro lado, constituem um tipo especial de rede, marcado pelo forte
enraizamento no território e pela manutenção de relações comerciais
baseadas sobretudo na confiança (BARQUERO, 2002, p. 98).

Corroborando com Furlanetto (2008) e sob o ponto de vista da dimensão


institucional do desenvolvimento, o território local, com seus governos e formas de
associativismo, deve ser valorizado, pois é onde as pessoas vivem e podem lutar por
uma maior transparência, pelo controle social das políticas públicas, e podem agir
como articuladores e aglutinadores das políticas de desenvolvimento. Reforçando o
que já foi dito sobre desenvolvimento, pode-se entender este desenvolvimento como
um

[...] processo endógeno de mobilização das energias sociais em espaços de


pequena escala (municípios, localidades, microrregiões) que implementam
mudanças capazes de elevar as oportunidades sociais, a viabilidade
econômica e as condições de vida da população (BUARQUE, 2006, p.25).

Como dito antes, o desenvolvimento não é objeto de estudo desta tese, mas
espera-se que a tecnologia social catalise um processo de mudança regulado pelas
interações sociais, por múltiplas relações sociais, aleatórias ou não, cujo propósito
seja assegurar a conservação dinâmica de suas próprias relações e, nessa medida,
dos elementos que compõem a comunidade, e que possivelmente se reflita em
desenvolvimento local, inclusive econômico.

Na perspectiva do capital social, a qualidade e a quantidade de interações


sociais formam uma estrutura forte e um patrimônio invisível, constituindo uma rede
de relações de reconhecimento mútuo e participativo. Existindo esta rede, centrada
nos benefícios angariados pelas pessoas, o desenvolvimento acontecerá se os
componentes da comunidade forem beneficiados em virtude de sua participação

5
Desenvolvimento local refere-se ao aspecto espacial, territorial, do desenvolvimento, enquanto
desenvolvimento endógeno refere-se à proveniência local dos diversos recursos que promovem este
desenvolvimento (BARQUERO, 2002).
22

coletiva, baseando-se nas normas de intercâmbio entre eles. Bourdieu (1983, p. 249)
afirma que “os benefícios angariados por virtude da pertença a um grupo são a própria
base em que assenta a solidariedade que os torna possíveis”.

Autores como Robert Putnam (1993; 1995; 1996; 2002) e James Samuel
Coleman (1988; 1990), entre outros estudiosos do tema, tratam as redes de
compromisso cívico, as normas de confiança mútua e a riqueza do tecido associativo
como fatores importantes do desenvolvimento local, fatores marcados pelo contexto
em que se situam através de atividades culturais, econômicas, políticas e sociais.
Observam-se exemplos desta realidade no Estado de Alagoas (2012), no município
de Piaçabuçu (Figura 02), campo da pesquisa onde se encontram os sujeitos,
membros e colaboradores da Associação Aroeira.

Figura 02. Mapa de Localização de Piaçabuçu-AL


Fonte: Adaptado pelo autor do Googlemaps (2015).

Nesta perspectiva, esta pesquisa caminhou no sentido de analisar aspectos


do capital social das pessoas de uma comunidade onde houve o desenvolvimento de
uma tecnologia social, considerando o pressuposto de que algumas características do
capital social se modificam com o desenvolvimento de uma tecnologia social,
proporcionando soluções para um maior empoderamento e inclusão social, e
melhorias da situação econômica da comunidade.
23

Considera-se aqui que estas melhorias não significam necessariamente a


obtenção de lucros econômicos, mas sobretudo o aumento das relações sociais e a
concretização de um nexo entre os graus de associativismo, confiança e cooperação.
Em diversos momentos da vida das pessoas, elas se encontram imersas neste nexo,
consolidando uma atitude de solidariedade através de associações horizontais,
ocasionando melhorias na situação econômica e também proporcionando um maior
empoderamento da comunidade onde vivem.

Este estudo das relações entre as pessoas de uma comunidade, enfocando


sua interação social a partir do desenvolvimento de uma tecnologia resultou nesta
tese intitulada “Análise do capital social de uma comunidade do Estado de Alagoas
onde houve o desenvolvimento de uma tecnologia social”.

Com base na literatura, fica evidenciado que estas transformações no capital


social geram dinâmicas sociais e econômicas de inclusão e de desenvolvimento social
com diversos atores que devem ser capazes de interagir de forma horizontal.

[…] las redes caracterizadas por el predominio de lazos horizontales suelen


fortalecer las relaciones de solidaridad, reciprocidad y de pertenencia a un
grupo es decir, en otra terminología, sobre todo los lazos de unión, aunque
también eventualmente los de puente […] (SAAVEDRA; ESPINOZA, 2009,
6
p.212).
O capital social decorre das características individuais e das trocas com o
coletivo. Mesmo se tomado como algo individual, inerente a um ser humano
específico, o capital social é constituído a partir de sua relação com outros atores
pertencentes a sua rede social, está relacionado com o capital social cognitivo e com
a influência da ação individual e coletiva. O capita social está na essência das relações
humanas, quando se tira espaço do individualismo para destacar o altruísmo,
proporcionando às pessoas o seu desenvolvimento.

É na escala local, na do bairro, da cidade, ou da microrregião que alguns


problemas da vida diária podem ser regulados, por exemplo, os que se
referem à organização dos serviços públicos. A solidariedade e a
sociabilidade podem se desenvolver dentro de redes muito dispersas, mas
são muitas vezes mais fáceis de criar quando se apoiam na vizinhança.
Enfim, o quadro local pode servir para se organizarem grupos muito unidos,
ou coalizões para a ação. Tudo isso, porém, nada tem de obrigatório e
automático (BOURDIN, 2001, p.13).

6
[…] as redes caracterizadas pelo predomínio de laços horizontais costumam fortalecer as relaciones
de solidariedade, reciprocidade y de sentido de pertencimento de um grupo, ou seja, em outra
terminologia, sobre todo os laços de união, ainda que também eventualmente dos de ponte […]
(SAAVEDRA; ESPINOZA, 2009, p.212, tradução nossa).
24

O desenvolvimento de uma tecnologia social, por sua própria natureza de


construção coletiva, fortalece a compreensão e a participação do sujeito em seu meio
social, aumentando o seu nível de confiança. Acredita-se, então, que através do
desenvolvimento e da aplicação de uma tecnologia social, eleva-se o capital social
que pode ser observado em três níveis denominados como micro, meso e macro. De
acordo com Halpern (2005), o nível micro do capital social possui características
relacionadas a identificação da presença dos laços existentes e estreitos com a família
e amigos, o nível meso refere-se a comunidades e organizações associativas, e o
nível macro é formada por conexões com o estado a nível nacional.

Esta pesquisa apresenta uma análise em nível micro e meso, pois o trabalho
de campo incluiu um levantamento caracterizado pela interrogação direta às pessoas
que compõem uma associação cujo comportamento se buscou conhecer, pessoas
que estavam envolvidas no desenvolvimento da tecnologia social.

Mobilizado por pelas inquietações do autor quanto à realidade social de


comunidades alagoanas, o presente estudo buscou compreender aspectos do capital
social em uma comunidade com o desenvolvimento de uma tecnologia social. Para
isso foi escolhida, como lócus da pesquisa, a Associação Aroeira. De acordo com sua
ata de fundação (vide Anexo AN-A), esta associação foi criada em 30 de junho de
2011 com a participação de 50 pessoas, todos membros da comunidade extrativista
da aroeira-vermelha, na cidade de Piaçabuçu a 140 km da capital do Estado de
Alagoas.

Para o beneficiamento da pimenta-rosa foi desenvolvido um processo simples


e moderno, aqui considerado uma tecnologia social. Essa tecnologia social utiliza
energia termo solar adaptada para a secagem e desidratação dos frutos da Aroeira
em estufas montadas na Associação Aroeira. O processo tem início na colheita da
pimenta-rosa7, com a retirada das folhas e galhos. Em seguida é feita a lavagem das
sementes e uma pré-secagem com ar frio. Logo após esta etapa, os frutos são

7
“Cabe ressaltar que o extrativismo nessa região teve início de forma exógena, como demanda das
indústrias processadoras localizadas no estado do Espírito Santo. Indústrias que exportam o fruto da
espécie para diversos países da União Européia, bem como para os Estados Unidos, Canadá e
Argentina” (JESUS; GOMES, 2010, p. 183).
25

colocados nas bandejas das estufas termo solares (Figura 03) para serem
desidratados.

Figura 03. Estufas termo solares da Associação Aroeira e as bandejas de secagem


Fonte: acervo do autor (2015)

Após a desidratação, visando a qualidade do produto a ser comercializado, é


feita uma triagem da pimenta-rosa, que deve levar em consideração a coloração
uniforme, que identifica o grau de maturidade e integridade do fruto.

Antes do envase, são feitas amostragens das sementes para aferir a sua
umidade, que deve estar entre 5 e 7% para uma boa conservação e diminuição da
possibilidade de contaminação.

Na última etapa de produção, as sementes selecionadas são envasadas em


embalagens de 30 g (Figura 04) e empacotadas em lotes de 40 unidades. Esses lotes
são organizados em uma sala de estoque, para serem distribuídos para
comercialização.
26

Figura 04. Embalagem da pimenta-rosa


Fonte: Disponível em: < http://www.projetoaroeira.com.br/conheca-nossos-
extrativistas/#prettyPhoto[gallery]/35/> Acesso em 10 de setembro de 2015.

A tecnologia social acima descrita foi desenvolvida pela Associação Aroeira


com a colaboração do Instituto Ecoengenho. O Instituto Ecoengenho é uma
Organização não-governamental brasileira (ONG), certificada como Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), com sede em Maceió, no Estado de
Alagoas, Brasil. Fundado em julho de 2001, há quase 15 anos o Instituto Ecoengenho
vem desenvolvendo projetos de energia economicamente e ambientalmente
sustentáveis, baseados em fontes renováveis, na região nordeste do Brasil8. A partir
desta colaboração, em 2010 projeto Aroeira9 foi elaborado em parceria com a
comunidade e foi aprovado pelo programa Petrobras Desenvolvimento e Cidadania10,
o que viabilizou a construção das estufas termo solares. O objetivo do projeto Aroeira
foi transformar a vida dos extrativistas, através da geração de renda, pela

8
Disponível em: <http://www.ecoengenho.org.br/quem-somos/o-instituto/>. Acessado em 24 agosto de
2014.
9
Disponível em: <http://www.ecoengenho.org.br/?page_id=1270>. Acessado em 24 agosto de 2014.
10
O Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania é resultado de um conjunto de esforços.
Elaborado com a participação de membros das diferentes áreas da Petrobras, representantes da
sociedade civil e do governo, seu conteúdo reflete o compromisso da empresa em contribuir para o
desenvolvimento local, regional e nacional, gerando a inserção social, digna e produtiva, de pessoas e
grupos que vivem em risco social no Brasil. Disponível em:
<http://sites.petrobras.com.br/minisite/desenvolvimento-e-cidadania/apresentacao/>. Acessado em 24
agosto de 2014.
27

comercialização de produtos de alto valor agregado, expandindo oportunidades de


trabalho e reduzindo as desigualdades sociais.

A quantidade de pessoas pertencentes a comunidade extrativista, e atuante


na Associação Aroeira, pode variar devido ao curto período para o beneficiamento da
pimenta-rosa, que compreende, de acordo com o Instituto Ecoengenho (2011) de “[...]
4 a 5 meses ao ano”. Quando não é época da colheita e beneficiamento da pimenta-
rosa, alguns dos membros da Associação migram para outras regiões onde há
demanda de pessoas para trabalho.

Segundo o Comitê Coordenador da RTS, (2010), a tecnologia social tem como


princípio contribuir para a produção do conhecimento com a intencionalidade ética da
justiça social, direcionada a atender as necessidades da população. Com isso, ela
melhora as condições de vida, gerando interação e relações cooperativas entre os
diversos atores sociais. Torna-se assim um fator fundamental para o aumento do
estoque do capital social com consequente empoderamento e desenvolvimento social.

A fim de aprofundar as reflexões aqui apresentadas e partindo do


posicionamento de que o estudo de uma área temática multidimensional11 como a do
capital social, com conceitos teóricos diferentes, sem uma conformidade para sua
definição, pode dar origem a diversas questões e a diferentes problemas de pesquisa,
esse estudo teve como propósito compor uma linha de investigação respeitando
diversos autores que tratam do tema. Visando iniciar a reflexão sobre o problema de
pesquisa, considera-se a assertiva de Montero (2006, p. 231) sobre problematizar:

[…] entonces una estrategia para desarrollar la conciencia crítica que, a la


vez que se desarrolla en la reflexión y en la acción, produce a través de
ambas la transformación de las circunstancias naturalizadoras y alienadoras.
La problematización sensibiliza, desnaturaliza, establece las bases cognitivas
e afectivas para producir una motivación de cambio que se traduce en
acciones concretas de transformación. Ese movimiento transformador de la
conciencia permite pasar de lo real aceptado acríticamente a lo posible

11
O caráter multidimensional do Capital Social de acordo com Nahapiet e Ghoshal (1998, p. 246) se
refere basicamente “A dimensão cognitiva […] aborda os significados que são compartilhados pelos
atores da rede. São idéias comuns com relação a assuntos diversos que fazem parte do contexto
específico da rede e que orientam as decisões e os comportamentos. A dimensão estrutural […] traz
aspectos de nível micro, como a força das relações e aspectos de nível macro como a configuração da
network. […] A dimensão relacional […] aborda o conteúdo transacionado entre os atores da network.
Esta dimensão também considera os papéis que estes atores assumem como: amigos, informantes,
confidentes, professores ou mentores”.
28

12
transformado en mejores condiciones de vida.
Embora existam na literatura acadêmica muitos estudos sobre capital social,
não foram encontrados estudos que verifiquem se há um nexo causal entre
modificações positivas no capital social das pessoas de uma comunidade onde houve
o desenvolvimento de uma tecnologia social. Assim sendo, foi definida como questão
central para a investigação pretendida: De que forma o desenvolvimento de uma
tecnologia social modifica alguns aspectos do capital social em uma
comunidade?

A partir desta questão central de pesquisa, foram derivadas algumas questões


norteadoras:

1. Com o desenvolvimento da tecnologia social, houve aumento da


participação das pessoas na Associação Aroeira?

2. Com o desenvolvimento da tecnologia social, houve o aumento da


confiança entre as pessoas na Associação Aroeira?

3. Com o desenvolvimento da tecnologia social, houve o aumento da


cooperação entre as pessoas na Associação Aroeira?

4. Com o desenvolvimento da tecnologia social, houve o aumento da


sociabilidade entre as pessoas na Associação Aroeira?

Estas foram as indagações que o presente trabalho buscou responder,


utilizando levantamentos de dados na comunidade.

12
[…] então uma estratégia para desenvolver a consciência crítica que, por sua vez, se desenvolve
com a reflexão e a com a ação, produz através de ambas a transformação das circunstancias
naturalizadoras e alienadoras. A problematização sensibiliza, desnaturaliza, estabelece as bases
cognitivas e afetivas para produzir uma motivação de mudança que se traduz em ações concretas de
transformação. Esse movimento transformador da consciência permite passar do real aceito
acriticamente ao possível transformado em melhores condições de vida (MONTERO, 2006, p. 231,
tradução nossa).
29

Foi considerada para efeito de estudo nesta pesquisa a multidimensionalidade


do capital social, que de acordo com Santos (2003), possuem as dimensões estrutural
e cognitiva:

O capital social estrutural diz respeito às instituições, normas (regras formais:


legislação, regulamentos das organizações etc.) e meios pelos quais o capital
social se manifesta. O número de associações (verticais ou horizontais)
existentes em uma comunidade, a tecnologia disponível (ex.: uma cidade
“conectada” à Internet potencializa a troca de informações e de interação
entre seus membros), as leis e o conjunto de políticas públicas que promovem
ou facilitam a interação entre as pessoas e a ação coletiva (ex.: orçamento
participativo, conselhos municipais etc.) são exemplos da forma estrutural de
capital social. A forma cognitiva de capital social diz respeito a conceitos mais
abstratos e subjetivos, como confiança, reciprocidade, solidariedade,
atitudes, valores e crenças. (SANTOS, 2003, p.16).

A pesquisa realizada nesta tese trouxe uma abordagem quanto ao escopo do


capital social para efeito do seu embasamento teórico, utilizando para sua análise as
formas do capital social apresentadas na Figura 05, denominadas de capital estrutural
e capital cognitivo, focando suas classificações no nível micro e meso, considerando
as associações horizontais que surgem após o desenvolvimento de uma tecnologia
social. Buscou-se estudar o capital social levando em conta as características culturais
e a consciência coletiva, o conhecimento transmitido, emitido, recebido, armazenado,
acumulado e articulado pelo grupo.

Macro
Instituições do
Estado,
Estado de
Direito Governança

Estrutural Capital
Cognitivo
Social

Instituições Locais,
Redes sociais, Confiança,
Associações Normas locais
comunitárias e valores
Micro

Figura 05. Dimensões do capital social


Fonte: Adaptado pelo autor com base em Grootaert & Bastelaer, 2001, p. 16.
30

Durante toda a pesquisa foram destacadas a relevância, a originalidade e a


contribuição dos referenciais teóricos, redefinindo o problema da pesquisa e os seus
objetivos, na tentativa de 30xplica-los em bases analíticas.

Há uma pressuposição implícita no questionamento central, segundo a qual o


estoque do capital social de uma comunidade aumenta com o desenvolvimento de
uma tecnologia social, proporcionando soluções para o aumento da ação coletiva
(Figura 06) entre as pessoas e as ações que compõem uma unidade social. Ainda que
se pretenda considerar tal afirmativa axiomática, o estudo buscou argumentos que a
sustentassem ou a contradissessem.

Figura 06. Possíveis desdobramentos do desenvolvimento de uma tecnologia social


Fonte: Elaborado pelo autor

O empoderamento e o desenvolvimento local podem ser produzidos com a


implantação de uma tecnologia social a partir do aumento das interações sociais, na
medida em que criam uma nova forma de consciência e uma postura diferenciada das
31

pessoas. Na investigação proposta nesta tese, optou-se por uma escolha


metodológica de uso do estudo de caso

[...] já que [estudo de caso] é um método definido para ser usado visando a
um estudo aprofundado de casos particulares, sejam eles simples e
específicos ou complexos e abstratos. Isto é, uma análise intensiva, que pode
ser empreendida numa única ou várias organizações reais. O estudo de caso
coleta informações tão numerosas quanto detalhadas, visando o máximo
possível apreender a totalidade do objeto a ser investigado. (ARAGÂO, 2008,
pg. 56).

Assim, neste estudo de caso é fundamental o contexto local da Associação


Aroeira, que, com a tecnologia social desenvolvida, é capaz de propiciar o
fortalecimento das relações e estruturas sociais, contribuindo para os processos de
criação e de compartilhamento de conhecimentos e habilidades.

Como norteadores deste estudo, seus objetivos, descritos a seguir,


evidenciam a busca de resposta ao problema enunciado e apontam os rumos tomados
por esta investigação. Tomou-se como objetivo geral:

• Analisar dimensões do Capital Social (Capacidade Associativa,


Confiança interpessoal, Cooperação e Sociabilidade) dos membros de
uma Associação no Estado de Alagoas onde houve o desenvolvimento
de uma Tecnologia Social.

Para o alcance deste objetivo, algumas etapas foram cumpridas em termos


de construção conceitual, caracterizando os principais elementos desta investigação:
o capital social e a tecnologia social. E para nortear o alcance do objetivo geral, foram
propostos os seguintes objetivos específicos:

• Compreender as características da tecnologia social estudada;

• Analisar se o desenvolvimento de uma tecnologia social resultou em


mudança da capacidade associativa das pessoas na comunidade
extrativista da Aroeira;

• Analisar se o desenvolvimento de uma tecnologia social resultou em


mudanças na confiança entre as pessoas;

• Analisar se o desenvolvimento de uma tecnologia social resultou em


mudanças na cooperação entre as pessoas da associação Aroeira;
32

• Analisar se o desenvolvimento de uma tecnologia social resultou em


mudança na sociabilidade dos membros da associação Aroeira.

A pesquisa proposta trouxe como pressuposto que o desenvolvimento de uma


tecnologia social modifica o “estoque” do capital social promovendo o aumento das
interações sociais das pessoas de uma comunidade e incrementando o
desenvolvimento e o bem-estar social.

Na próxima seção serão apresentadas a justificativa da pesquisa e uma


contextualização relativa ao Estado de Alagoas onde se situa o município de
Piaçabuçu e a comunidade extrativista estudada.

1.1 Contexto e justificativa da pesquisa


A preocupação com a situação social e a inexistência de estudos envolvendo
a compreensão sobre como o desenvolvimento de uma tecnologia social influencia no
capital social de uma comunidade no Estado de Alagoas, contexto social onde está
localizado o objeto estudado, referendam esta pesquisa no contexto sócio histórico
em que ela se coloca. Assim, a principal justificativa científica da pesquisa é esta
inexistência de estudos envolvendo a compreensão sobre como o desenvolvimento
de uma tecnologia social influencia aspectos do capital social

Mas há também a justificativa social, pois à medida que se estuda, se


compreende e se dá visibilidade às modificações de aspectos do capital social de uma
comunidade com o desenvolvimento de uma tecnologia social, pode-se estimular que
o mesmo ocorra em outras comunidades. Vale lembrar que uma das características
principais do capital social se encontra na confiança entre as pessoas pertencentes a
uma mesma rede interacional. Como o desenvolvimento de uma atividade associativa
implica no aumento dos laços ou elos existentes entre as pessoas, neste trabalho
acredita-se que com o desenvolvimento de uma tecnologia social podem-se aumentar
estes laços e, consequentemente o capital social, promovendo a cooperação e, por
conseguinte, gerando um círculo virtuoso do capital social (Figura 07).
33

1. A
tecnologia
social
potencializa
as relações
sociais,
gerando

3. 2. confiança
cooperação e e
o espíríto aumentando
associativo a

Figura 07. Círculo virtuoso para geração do capital social


Fonte: Elaborado pelo autor

Putnam (1993, p. 178) corrobora este posicionamento, afirmando que a “[...]


cadeia de relações sociais permite transmitir e disseminar a confiança: confio em você
porque confio nela, e ela me garante que confia em você”.

1.1.1. Por que Alagoas?

Com o objetivo de contextualizar e justificar a realização desta pesquisa no


Estado de Alagoas, apresentam-se nesta seção alguns dados que irão corroborar com
a angustia deste pesquisador, nascido na cidade de São Paulo, onde permaneceu
toda sua infância e parte de sua adolescência, tendo mudado para o Estado de
Alagoas em 1979. Nos anos que se seguiram até o momento atual da escrita desta
tese, ele tem atuado como membro do corpo docente do atual Instituto Federal de
Alagoas, antiga Escola Técnica Federal de Alagoas (ETFAL). Neste ambiente, através
de suas experiências acadêmico-profissionais, foi possível vivenciar práticas que
resultaram numa análise crítica sobre o Estado de Alagoas, serviram para desenvolver
seus posicionamentos sobre a importância das interações sociais, utilizada nesta
análise como base de sustentação do capital social e como uma forma de
fortalecimento das relações estabelecidas entre as pessoas em comunidades
34

vulneráveis13, proporcionando a estas pessoas o sentimento do pertencimento a um


grupo social.

Esta experiência consolidou uma visão de mundo na produção do


conhecimento proposto para a realização deste estudo. Assim, esta experiência
permeia este estudo, fundamentado na multirreferencialidade destas vivencias,
implicado na construção de saberes que balizam o movimento de construção/
(des)construção/(re)construção do pensamento deste pesquisador.

A fim de balizar com mais informações e com maior profundidade teórica a


escolha deste ambiente de pesquisa, foram utilizados dados relativos ao índice de
desenvolvimento humano municipal (IDHM) considerando a atual realidade social do
Estado de Alagoas.

O Estado possui baixos índices de crescimento econômico e desenvolvimento


social, caracterizado por uma distribuição desigual da riqueza com os indicadores
sociais nas áreas de educação, renda e expectativa de vida, apontados como os
piores do Brasil pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD,
ONU, 2013).

Um conjunto de problemas sociais – criminalidade, saúde, pobreza,


desemprego tem sido empiricamente associado à existência (ou falta de)
capital social em uma comunidade, e com eles um sentido de preocupação
por parte de cidadãos e formuladores de políticas públicas de que novas
formas de capital social precisam ser imaginadas e construídas, conforme
outras formas mais velhas entram em declínio (como resultado, por exemplo,
de mudanças tecnológicas ou demográficas). Essas questões são relevantes
tanto para países onde a renda per capita é alta, como para aqueles onde a
renda é baixa (WOOLCOCK et al., 2003, p.6).

O Estado de Alagoas localiza-se na porção centro oriental da Região Nordeste


do Brasil, limitando-se ao sul com o Estado de Sergipe, a leste com o Oceano Atlântico
e a oeste com os Estados de Pernambuco e Bahia, e ao norte com o Estado de
Pernambuco (Figura 08).

13
A pobreza e a vulnerabilidade estão interligadas, são multidimensionais e, por vezes, reforçam-se
mutuamente. Mas não são sinónimos. Enquanto a vulnerabilidade constitui geralmente um aspeto
importante da pobreza, ser rico não significa não ser vulnerável. Tanto a pobreza como a
vulnerabilidade são dinâmicas. Os ricos podem não ser vulneráveis sempre, ou por toda a vida, tal
como alguns pobres podem não permanecer sempre pobres. (ONU. PNUD, Relatório do
Desenvolvimento Humano, 2014, p. 19).
35

Figura 08. Mapa de Localização de Alagoas


Fonte: Alagoas em Mapas (IBGE, 2010).

Alagoas é o segundo menor Estado brasileiro, com 102 municípios, e área de


27.768 km² correspondente a 0,33% do tamanho do Brasil e 1,79% da região
Nordeste. Sua população atinge, conforme dados do IBGE (2014), 3.120.494 (três
milhões, cento e vinte mil, quatrocentos e noventa e quatro) habitantes, que possuem
um dos mais baixos níveis de renda do país. Ainda que seja uma referência de cerca
de uma década, Urani (2005, p.2) corroborava esta afirmação relatando que, “Alagoas
é hoje o Estado mais pobre do Brasil. É o que possui a menor renda real média e a
maior proporção de pobres. Boa parte deste fenômeno se deve à pífia performance
econômica dos últimos anos”.

Carvalho (2012) buscou responder à pergunta sobre as razões para os


indicadores sociais de Alagoas estarem entre os piores do Brasil:

A pobreza combinada com a má distribuição de renda são os elementos


determinantes para a compreensão de outros fenômenos regionais. A
economia do Estado possui um reduzido parque industrial, uma agricultura
com alguns poucos setores dinâmicos e uma rede de comércio e serviços
com forte presença da economia informal, pouco desenvolvida, e, por isso,
incapaz de gerar mais empregos. Apresenta, ainda, uma das mais
concentradas distribuições de renda do Brasil. […] (CARVALHO, 2012, p.8).

Várias cidades do Estado de Alagoas apresentam grandes desafios do ponto


de vista das suas desigualdades sociais, colocando o Estado como o pior do Brasil de
acordo com o principal indicador social utilizado para mensurar a qualidade de vida
de uma população municipal: o índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM,
2013).
36

O IDHM, segundo o programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,


(ONU, PNUD, 2013), pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento
humano e tem como objetivo desviar o foco do desenvolvimento da economia para as
políticas centradas nas pessoas. O IDHM ajusta o IDH para a realidade dos municípios
brasileiros e mostra as especificidades e desafios regionais no alcance do
desenvolvimento humano no Brasil.

[...] as mesmas três dimensões do IDH Global - longevidade, educação e


renda, mas vai além: adequa a metodologia global ao contexto brasileiro e à
disponibilidade de indicadores nacionais. Embora meçam os mesmos
fenômenos, os indicadores levados em conta no IDHM são mais adequados
para avaliar o desenvolvimento dos municípios brasileiros. (ONU, 2015, sem
paginação).

Os dados trazidos para justificar o desenvolvimento deste trabalho são


balizados pelos índices de desenvolvimento humano municipal (IDHM), que
propiciaram uma radiografia dos valores no Estado de Alagoas, estas informações
foram apresentadas no atlas de desenvolvimento humano no Brasil, elaborado pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, ONU), Fundação João
Pinheiro (FJP) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), utilizando como
base os índices de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Observa-se que, de acordo com dados divulgados em 2012 pelo PNUD, o Brasil
apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,727, ocupando o 85°
lugar no ranking mundial, e, dentre todos os estados brasileiros, Alagoas apresenta
um dos mais baixos de IDHM médio14 do país: 0,631 (Figura 09).

14
O IDHM aqui apresentado expressa uma média dos valores do IDH municipal por estado.
37

0,9
0,8

0,824
0,7

0,783
0,774
0,761
0,749

0,746
0,740
0,735

0,731
0,729
0,727

0,725
0,708

0,707

0,699
0,6

0,690
0,684
0,682
0,674

0,673

0,665
0,663

0,660

0,658
0,646

0,646
0,639
0,5 0,631

0,4
0,3
0,2
0,1
0

Pernambuco
Maranhão

Rio de Janeiro
Paraíba
Mato Grosso

Paraná
Brasil

Amazonas

Minas Gerais

Roraima
Ceará

Distrito Federal

Espírito Santo

Goiás

São Paulo

Tocantins
Bahia
Acre

Mato Grosso do Sul

Rio Grande do Sul


Piauí
Alagoas

Rondônia

Sergipe
Pará

Santa Catarina
Amapá

Rio Grande do Norte


Figura 09. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal médio dos Estados Brasileiros
Fonte: Elaborado pelo autor com base no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Disponível
em <http://www.pnud.org.br/idh/Default.aspx?indiceAccordion=1 &li=li_AtlasMunicipios> Acesso em
14 de setembro de 2015. (ONU, 2013).

O IDHM é um índice composto, que agrega três das mais importantes


dimensões do desenvolvimento humano (Figura 10): (a) a oportunidade de viver uma
vida longa e saudável, (b) de ter acesso ao conhecimento e (c) de ter um padrão de
vida que garanta as necessidades básicas, representadas, respectivamente, pela
longevidade, educação e renda. De acordo com o ranking elaborado no PNUD (ONU,
2013) e apresentado no Atlas de Desenvolvimento no Brasil,

[…] o IDHM agregava suas 3 dimensões por meio de uma média aritmética
simples: o IDHM de um município era o resultado da soma de seus
subíndices, dividido por três (IDHM Educação + IDHM Longevidade + IDHM
Renda / 3). Assim, o fraco desempenho em uma dimensão poderia ser
compensado por um desempenho melhor em outra. Por exemplo, municípios
que apresentavam baixa esperança de vida, mas alta renda municipal,
poderiam ter IDHM semelhante aos municípios que estavam com equilíbrio
no desempenho concomitantes entre as três dimensões. No IDHM do Atlas
Brasil 2013, foi adotada a média geométrica: as dimensões são multiplicadas
e o produto é extraído pela raiz cúbica (3IDHMEducação x IDHMLongevidade
x IDHMRenda). Deste modo, a média geométrica reduz o nível de
substituição entre as dimensões. Ou seja, um baixo desempenho em uma
dimensão não é mais linearmente compensado pelo elevado desempenho
em outra. Assim, o IDHM reflete desempenhos nas três dimensões. O
desempenho dos municípios, tanto na renda, quanto na longevidade e na
educação, deve ser harmonioso (ONU, 2013, p.28)
38

Vida longa Acesso ao Padrão


e saudável conhecimento de vida

é calculado o IDHM

O Índice de Desenvolvimento Humano


Municipal – IDHM – apresentado Expectativa Escolaridade Fluxo escolar Renda
no Atlas 2013 possui uma nova de vida da população da população per capita
metodologia. Embora versões ao nascer adulta jovem
anteriores (Atlas 1998 e Atlas 2003) já
apresentassem dados para os anos de
1991 e 2000, toda a base de dados do
novo Atlas Brasil 2013 foi recalculada
para esses anos, em razão da adaptação
metodológica. Por esse motivo, toda
3
comparação entre anos, indicadores e
municípios deve ser realizada dentro da ( x )
plataforma do Atlas Brasil 2013. MÉDIA GEOMÉTRICA Vida longa e saudáve
RAIZ CÚBICA DA MULTIPLICAÇÃO DOS É medida pela expectat
Embora inspirado pelo Índice de SUBÍNDICES COM PESOS 1 E 2 ao nascer, calculada po
Desenvolvimento Humano – IDH – indireto, a partir dos da
global, o IDHM possui ajustes para Demográficos do IBGE.
melhor se adequar à realidade brasileira, mostra o número médio
adaptando-se às bases de dados do uma pessoa nascida em
Censo e às características inatas aos município viveria a part
municípios. Por isso, não é possível mantidos os mesmos pa
realizar qualquer tipo de comparação mortalidade.
entre o IDHM de um município e o IDH IDHM IDHM IDHM
de um país, por exemplo. longevidade educação renda

A construção da metodologia de cálculo


do IDHM teve como objetivo adequar a
metodologia do IDH global para:

t"KVTUBSBNFUPEPMPHJBBPDPOUFYUP 3
brasileiro, buscando indicadores mais
adequados para avaliar as condições de
( x x )
núcleos sociais menores – os municípios MÉDIA GEOMÉTRICA
RAIZ CÚBICA DA MULTIPLICAÇÃO DOS 3 IDHMS

=
t"EBQUBSBNFUPEPMPHJBEP*%)
global aos indicadores disponíveis
nos Censos Demográficos brasileiros,
de forma a garantir mesma fonte de
dados e comparabilidade entre todos os
IDHM
municípios brasileiros

www.atlasbrasil.org.br
Figura 10. Dimensões do Desenvolvimento Humano
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (ONU, 2013. p.27)

O PNUD (ONU, 2013) estabelece uma escala para análise de faixas de


desenvolvimento humano, segundo a qual quanto mais alto for o valor do IDHM,
melhor é a condição social da população (Figura 11).

muito baixo baixo médio alto muito alto


0,000 até 0,499 0,500 até 0,599 0,600 até 0,699 0,700 até 0,799 0,800 até 1,000

Figura 11. Faixas de Desenvolvimento Humano


Fonte: Elaborado pelo autor com base no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (ONU, 2013).
39

De acordo com o PNUD (ONU, 2013), o item longevidade do IDHM deve ser
avaliado considerando a expectativa de vida ao nascer (Figura 12) e deve mostrar a
quantidade de anos que uma pessoa nascida em uma localidade, em um ano de
referência, deve viver, refletindo as condições de saúde e de salubridade no local, já
que o cálculo da expectativa de vida é fortemente influenciado pelo número de mortes
precoces. Provavelmente a situação precária do saneamento básico contribui para
estes dados.

0,9
0,88
0,86

0,873
0,84

0,86
0,845
0,82

0,84
0,838
0,835
0,835

0,833
0,83

0,827
0,8

0,821
0,816

0,813
0,809
0,805

0,78
0,8

0,793

0,793
0,792
0,789

0,789
0,76
0,783

0,783
0,781
0,777

0,777

0,74
0,757

0,755

0,72
0,7
0,68
Rondônia

Tocantins

Sergipe
Rio Grande do Norte

Bahia
Minas Gerais

Santa Catarina
Pernambuco

Goiás
Espírito Santo
Maranhão

Alagoas

Mato Grosso
Amazonas

Pará

Rio de Janeiro
Acre

Paraíba
Roraima

Rio Grande do Sul


Amapá

Piauí

São Paulo

Mato Grosso do Sul


Paraná

Distrito Federal
Brasil

Ceará

Figura 12. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal médio - Longevidade


Fonte: Elaborado pelo autor com base no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (ONU, 2013).

Pode-se observar que em Alagoas o número médio de anos que as pessoas


vivem a partir do nascimento está abaixo da média brasileira. Um dos fatores que
contribuem para este índice, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA, 2013), é o fator relacionado à redução da expectativa de vida devido a morte
violenta causada por homicídios, acidentes e suicídios de pessoas.

Os homicídios podem ser causados por diversos fatores presentes em


diferentes instâncias. No plano individual, várias disfunções psíquicas, ou
biológicas podem estar associadas a um histórico de vida familiar para
motivar o indivíduo a cometer assassinatos. Por outro lado, as associações e
relações pessoais, podem explicar determinados incidentes fatais, que não
ocorreriam em outros contextos. Ainda, os conflitos interpessoais e o uso da
violência letal podem ser largamente influenciados pela presença de fatores
criminógenos como armas e drogas psicotrópicas. Condicionando as ações
dos indivíduos, há os elementos estruturais de ordem social, econômica e
demográfica, como renda, desigualdade socioeconômica, adensamento
populacional e estrutura etária. (CERQUEIRA, 2014, p. 25).
40

Dados apresentados por Waiselfisz (2013, p.35) no mapa da violência no


Brasil indicam que o Estado de Alagoas saiu de uma posição intermediária em relação
a homicídios com armas de fogo em 2002, passando para a liderança nacional em
2012, com uma taxa de 55 óbitos (por 100 mil habitantes) (Figura 13), o que
representa aproximadamente a morte de 2.253 pessoas apenas em 2012. Estas taxas
de óbitos apresentam as seguintes características: homens, 107 (por 100 mil);
mulheres 6,1 (por 100 mil). Em relação a vítimas por armas de fogo de brancos e
negros, pode-se dizer que, para cada branco vitimado, morre proporcionalmente mais
de 10 negros, vítimas de homicídios intencional.

60

55

55
50

45

40

35

38,3
36,7
36,3
30

33
31,7
31,2
30,3
28,8
28,8

25
28
24,3
24,2

20
22,8
22,5
22,1
21,9
18,5
18,4

15
17
16,7
14,3
13,4

10
12
11,2
10,1
8,6

5
7,5

0
RJ

DF

AL
AP

RS

CE
RR

SP

AC

PE

SE
GO

BA

ES
SC

RO

PR

PA
RG

PB
AM
TO
PI

MT
MS

MA
MG

Brasil

Figura 13. Ordenamento das taxas de homicídios na população total das UF (2012)
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Waiselfisz (2013).

De acordo com Cerqueira (2014), a violência crescente deve ser atribuída a


falta de políticas sociais bem estruturadas, a inexistência de escolas em tempo
integral, creches, áreas de lazer e segurança pública eficiente, fazem com que os
índices no Estado de Alagoas, possuam altos índices de violência, com as taxas de
homicídios maior do país. Esta situação de criminalidade no Estado é provocada pela:

[…] baixa obtenção de renda relativa, para indivíduos residentes numa


localidade, representaria um indicador de barreiras estruturais ao acesso
universal dos meios econômicos para atingir o ideal de sucesso. A frustração
e o estresse causados pela privação relativa constituiriam os principais
motivos para cometer crimes, até os que resultam em homicídios por razões
interpessoais ou interesses econômicos. Vários autores que se basearam
nessa abordagem teórica documentaram empiricamente a relação entre
41

desigualdade de renda e crimes violentos. (CERQUEIRA, 2014, p. 26).

Alagoas ocupou em 2010 o lugar de terceiro Estado mais pobre do Brasil, de


acordo com o indicador de renda do IDHM (ONU, PNUD, 2010), na frente apenas do
Maranhão e Piauí (Figura 14). Estes são os estados com a proporção de pessoas com
renda domiciliar per capita igual ou inferior a R$ 255,00 mensais, o que caracteriza o
nível mais precário de pobreza.

1
0,9
0,8

0,863
0,7

0,789
0,782

0,773
0,769
0,757
0,743

0,742
0,74
0,739

0,732
0,73
0,712

0,695

0,6
0,694
0,69

0,678
0,677

0,673

0,672
0,671

0,663
0,656
0,651
0,646

0,641
0,635
0,612

0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Rio Grande do Norte
Acre

Pará

Ceará

Goiás
Bahia
Brasil

Rio Grande do Sul


Amapá

Paraná

Mato Grosso do Sul


Santa Catarina
Roraima
Rondônia

Minas Gerais

São Paulo
Alagoas
Piauí

Rio de Janeiro

Mato Grosso
Sergipe

Espírito Santo
Paraíba
Amazonas

Distrito Federal
Tocantins
Maranhão

Pernambuco

Figura 14. Índice de Desenvolvimento Municipal médio – Renda (2010)


Fonte: Elaborado pelo autor com base em PNUD (ONU, 2013).

O atraso de Alagoas em relação aos demais estados do Brasil é


fundamentalmente caracterizado pela sua formação histórica. A vocação
agroexportadora de Alagoas, tão politicamente sustentada no decorrer da sua história,
confundindo-se em muitos momentos com a dinâmica da história nacional, é uma forte
causa da estrutura atual no Estado.

O Estado de Alagoas é herdeiro de uma formação social onde a produção


açucareira voltada para o mercado externo era realizada nos grandes
latifúndios, tendo a escravidão como forma de organização do trabalho até
fins do século passado, [...] continua penalizada por todas as sequelas que
daí derivam (CARVALHO, 2012, p. 71).

O Produto Interno Bruto (PIB) per capita de Alagoas está entre os piores do
Brasil (Figura 15) com um altíssimo nível de concentração da renda, tornando esta
concentração impactante no elevado nível de pobreza e violência, trazendo
consequências direta no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM).
42

Entre os nove estados do Nordeste (a região menos desenvolvida do País),


Alagoas apresentava em 2009, a 3a menor renda per capita (6.728,21 reais
por ano), resultado da divisão do Produto Interno Bruto (21,235 bilhões de
reais) por sua população (3,1 milhões de habitantes). Uma renda que
representa apenas 40% da média nacional, sendo 20% menor que a média
nordestina (CARVALHO, 2012, p. 9).

18.000,00
16.000,00
14.000,00
12.000,00
10.000,00
8.000,00
6.000,00
4.000,00
2.000,00
0,00

Maranhão
Pernambuco

Paraíba
Rio Grande do Norte

Ceará

Alagoas
Sergipe

Brasil
Bahia

Nordeste
Piauí
2005 2006 2007 2008 2009

Figura 15. PIB per capita (R$) de Estados do Nordeste - 2005-2009


Fonte: Elaborado pelo autor com base em IBGE (2012).

Analisando a diferenciação salarial entre os 1,3 milhão de alagoanos que


compõem a população economicamente ativa do Estado, o destaque é o grande
percentual de pessoas recebendo até 1 (um) salário mínimo (44%), e 17% da
população não possui nenhuma renda (Figura 16). Este cenário ocasiona elevado
nível de desigualdade social e o baixo nível de desenvolvimento local. A pequena
participação de Alagoas no PIB per capita nacional coloca o Estado como o terceiro
menor PIB do Nordeste (R$ 6.728,21), superando apenas as economias do Maranhão
e do Piauí. É o oitavo menor PIB per capita considerando todas as unidades da
Federação.
43

50%
45%
40% 44%

35%
30%
25%
26%
20%
15%
17%
10%
10%
5%
3%
0%
Sem renda Até 1 salário mínimo Até 1/2 salário 2 a 5 salários + de 5 salários
mínimo mínimos mínimos
Figura 16. Alagoas: População Economicamente Ativa – Renda 2011
Fonte: Elaborado pelo autor com base em IBGE (2012).

De acordo com o IBGE (2012), o Maranhão apresenta o maior percentual


(24%) de pessoas que ganham até R$ 70,00 por mês; no Piauí, o percentual é superior
a 21%; e, em Alagoas, 20,4% pessoas que ganham até R$ 70,00 por mês, o que
equivale dizer que aproximadamente 655.304 pessoas em Alagoas se encontram sem
condições de viver dignamente e estão abaixo da linha da pobreza, com 34,29% de
pobres e 16,66% considerados em extrema pobreza (Figura 17).

40

35
34,29 %
30

25

20

15 16,66 %
15,2 %
10

5 6,62 %
0
% de pobres (2010) % de extremamente pobres (2010)

Brasil Alagoas

Figura 17. Índice de Desenvolvimento Humano – Pobreza (2010)


Fonte: Elaborado pelo autor com base no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (ONU, 2013)
44

Não há um consenso sobre qual padrão deve ser adotado para medir a linha
de pobreza. Em seu Relatório de Desenvolvimento Mundial de 1990, o Banco Mundial
estabeleceu que a linha de pobreza mundial é de menos de US$ 1,25 (um dólar e
vinte cinco centavos) por dia. “Pessoas em situação de pobreza extrema são aquelas
que apresentam uma renda média de R$ 2,36 por dia, ou R$ 71,75 por mês” (ONU,
2015, sem paginação). Segundo o Loureiro e Suliano (2009, p.2), “No Brasil, é comum
a utilização da linha da pobreza de ½ salário mínimo por mês de renda per capita
como medida de pobreza, ou, ainda, tendo como base uma cesta mínima de
consumo”.

Segundo dados disponíveis (ONU, 2013), até 2013 Alagoas estava entre os
três Estados brasileiros que apresentam pessoas em situação de extrema pobreza.
Embora não traga dados especificamente sobre o Estado de Alagoas, o Comunicado
n° 159, publicado pelo IPEA em 2013 intitulado “Duas décadas de desigualdade e
pobreza no Brasil medidas pela PNAD/IBGE” mostra que cerca de 3,5 milhões de
brasileiros saíram da pobreza em 2012. Em 2012, eram cerca de 15,7 milhões de
pessoas vivendo na pobreza no Brasil, dos quais 6,53 milhões continuam abaixo da
linha de pobreza. Em 2011, esses números eram de 7,6 milhões de pobres e em torno
de 19,2 milhões de pessoas na extrema pobreza. A Figura 18 mostra o crescimento
da renda domiciliar per capita (R$ 2012) para grupo selecionados entre 2002 e 2012.
Observa-se que no Nordeste houve crescimento de 5% da renda domiciliar per capita,
e este crescimento deve ter repercutido no Estado de Alagoas, mas não foram
encontrados dados específicos para o estado.
45

Figura 18. Crescimento da renda domiciliar per capita


para grupo selecionados entre 2002 e 2012. Fonte: IPEA, 2013, p. 31

Os dados apresentados sobre o Estado de Alagoas evidenciam a


necessidade de ações inovadoras que tenham como objetivo melhorar as condições
negativas apresentadas. Nesta perspectiva a tecnologia social pode ser uma
ferramenta para colaborar com o aumento do capital social das pessoas de uma
determinada comunidade, ajudando no crescimento das interações sociais e no
desenvolvimento local.

1.2 Estrutura do texto

Esta tese está estruturada em 5 capítulos, conforme retrata a Figura 19. O


Capítulo 1, referente a esta introdução, que apresentou o tema, o problema da
investigação em forma de questionamento, os objetivos que nortearam o
desenvolvimento deste estudo, o contexto e a justificativa da pesquisa.
46

Capítulo 1
Introdução

Capítulo 2
Capital Social e Tecnologia Social

Capítulo 3
Metodologia da Pesquisa

Capítulo 4
Apresentação e Análise de Resultados

Capítulo 5
Considerações Finais

Referências

Apêndice e Anexos

.
Figura 19. Estrutura deste documento
Fonte: Elaborado pelo autor

O Capítulo 2 apresenta a fundamentação teórica adotada na pesquisa, a qual


versa sobre as principais categorias analisadas: capital social e a tecnologia social. A
primeira seção do referencial teórico focaliza o capital social e a segunda seção do
referencial teórico focaliza a tecnologia social.

No Capítulo 3 é apresentado o arcabouço metodológico construído e


empregado para a realização do estudo. São descritos os fundamentos metodológicos
e conceituais que guiaram a realização da pesquisa de campo, o detalhamento do
formulário e do roteiro para a observação aplicados para a coleta e análise dos dados
desta pesquisa.

O Capítulo 4 apresenta a análise dos dados que foram obtidos após a


aplicação dos instrumentos previamente definidos para esta pesquisa. A
apresentação está dividida nas seguintes seções: capacidade associativa, confiança
interpessoal, cooperação e sociabilidade.

No Capítulo 5, referente as considerações finais, são apresentados os


resultados proporcionados pelas análises feitas na pesquisa realizada, observando o
47

universo científico no qual o trabalho se encontra inserido, e levando em conta os


aspectos relevantes para a realização de novas investigações.

Seguem-se ainda as referências, os apêndices e os anexos.


48

2 CAPITAL SOCIAL E TECNOLOGIA SOCIAL

A discussão conceitual para este trabalho de pesquisa envolve uma revisão


da literatura sobre o capital social e a tecnologia social, temas basilares para o
desenvolvimento do estudo proposto.

Inicialmente são feitas considerações a respeito do capital social, conceito que


despertou na comunidade científica uma discussão sobre sua validade e obteve uma
variedade de significados. Na Introdução desta tese já foram discutidos aspectos
gerais relacionados ao capital social, e aqui cita-se o trabalho de Lemos (2008) que
traz autores considerados seminais para a construção do conceito de capital social –
Pierre Bourdieu, James Samuel Coleman e Robert Putnam – os quais apresentam
definições com algumas diferenças em suas interpretações:

Para Bourdieu, o capital social é um ativo individual inscrito nas relações


sociais que permitem a esse indivíduo auferir ganhos materiais e simbólicos.
Para Coleman o capital social consiste em certos aspectos da estrutura social
que facilitam as ações dos atores, sejam eles instituições ou indivíduos. Há,
portanto, entre esses autores, o ponto em comum de que o capital social é
um ativo (portanto uma forma de capital) inscrito nas relações sociais, capaz
de possibilitar a consecução de determinados objetivos. Para Bourdieu, no
entanto, o capital social é atributo de uma elite que possibilita a perpetuação
das desigualdades de uma dada sociedade. Putnam por seu turno concebe
o capital social como sendo um atributo da coletividade. Para ele, sociedades
marcadas por elevados estoques de capital social na forma de engajamento
e formas de participação cívica seriam capazes de gerar governos mais
democráticos e eficientes e maior desenvolvimento econômico (LEMOS,
2008, p.105).

Da mesma forma que ocorreu com capital social, na introdução foram tratados
aspectos gerais relacionados à tecnologia social, mas na seção 2.2, serão
apresentadas as principais discussões sobre tecnologia social e um aprofundamento
teórico pautado na análise pretendida nesta pesquisa. O tema é estudado como uma
proposta que considera a importância da participação coletiva na produção de
dinâmicas sociais e econômicas, capazes de propiciar a inclusão social e o
desenvolvimento sustentável. Portanto a tecnologia social é compreendida nesta
análise como procedimentos metodológicos com impacto social, desenvolvidos a
partir de necessidades, com o fim de solucioná-las. Uma TS deve sempre considerar
a realidade social e estar, de forma geral, ligada uma organização coletiva.
49

2.1 Capital Social

Este trabalho de tese não teve como foco principal a discussão de qual é o
melhor caminho para conceituar capital social. Buscou-se aqui definir a importância
do capital social para a análise feita nesta pesquisa.

Em um estudo sobre conceitos de capital social, Lemos (2008, p. 85) ressalta


que há convergências entre Bourdieu, Coleman e Putnam, quando definem o capital
social como “[...] um recurso para os indivíduos inscritos nas relações sociais, ou seja,
um ativo que lhes permite a criação de redes de relações sociais com o objetivo de
alcançar determinados objetivos”, impulsionando o desenvolvimento de uma
comunidade ou território.

Para efeito deste estudo, o capital social de uma pessoa relaciona-se com a
dimensão de sua rede de relações e a capacidade interacional que ela possui
efetivamente para mobilizar os capitais cultural, econômico ou simbólico com as
pessoas às quais ela tem alguma conexão, trazendo a estas pessoas maior
capacidade de inserção social e tornando-os uma força motriz para o desenvolvimento
da comunidade a que pertencem. Simplificadamente o capital social, aqui
compreendido, relaciona-se com a coesão social dentro de uma comunidade como
um recurso social para o seu desenvolvimento.

Considerando que o capital físico se refere a objetos físicos e capital humano


refere-se às propriedades dos indivíduos, o capital social refere-se a ligações
entre os indivíduos - as redes sociais e as normas de reciprocidade e
confiança que surgem a partir deles. Nesse sentido o capital social está
intimamente relacionado com o que alguns chamaram de "virtude cívica”. A
diferença é que o "capital social" chama a atenção para o fato de que a virtude
cívica é mais poderosa quando incorporado em uma rede sentido das
relações sociais recíprocas. Uma sociedade de muitos indivíduos virtuosos,
mas isolado não é necessariamente rica em capital social (PUTNAM, 2000,
p.19).

Assim sendo, o capital social desempenha um papel multiplicador do capital


existente em um determinado grupo de pessoas pertencentes a uma comunidade,
deixando-o disponível para todos os membros desta comunidade (BOURDIEU, 1983,
p.249). Com a interação entre estas pessoas, acontece uma série de trocas
(econômicas, culturais, simbólicas e sociais), favorecendo que o reconhecimento
mútuo seja interminavelmente afirmado e reafirmado, gerando mudanças e
transformação social no local onde estas pessoas vivem.
50

É no plano local, especialmente num dado território, que se concentram as


energias e forças sociais da comunidade, constituindo o poder local daquela
região; no local onde ocorrem as experiências, ele é a fonte do verdadeiro
capital social, aquele que nasce e se alimenta da solidariedade como valor
humano. O local gera capital social quando gera autoconfiança nos indivíduos
de uma localidade, para que superem suas dificuldades. Gera, junto com a
solidariedade, coesão social, forças emancipatórias, fontes para mudanças e
transformação social (GOHN, 2004, p.24).

Devido à amplitude deste debate com diversos autores já previamente


identificados, este tema vem sendo definido e redefinido em diversas áreas da ciência
e tem como principais campos temáticos para estudo a sociologia, a economia e as
ciências políticas, reconhecendo-se os desafios teóricos, metodológicos e também
político de uso do conceito.

Em termos gerais, o conceito de capital social aparece de duas formas no


conjunto dos 326 registros aportados pela base de dados Sociological
Abstracsts: como variável explicativa ou como variável dependente. Os
critérios de busca que aplicamos foram três: (a) títulos em língua inglesa ou
espanhola , (b) trabalhos que incorporavam, em seu título, a expressão social
capital e (c) o período compreendido entre 1986 e 2001 (HIGGINS, 2005,
p.33).

A Figura 20 mostra o quantitativo de produções sobre capital social nas


diversas áreas científicas no período de 1986 a 2003, disponível na Base de Dados
Sociological Abstracts publicada e alimentada pela Universidade de Cambridge,
demonstrando que o conceito tem sido usado principalmente nas áreas de
antropologia e na sociologia, especialmente na sociologia do direito, da religião e na
sociologia urbana.
51

Figura 20. Produção científica sobre capital social – 1986 a 2003


Fonte: Adaptado pelo autor a partir da Base de Dados Sociological Abstracts publicada e alimentada
pela Universidade de Cambridge. Acesso em 7 jan. 2015.

O entendimento teórico para este estudo levou em consideração os conceitos


defendidos pelos diversos autores que tratam sobre o tema, mas sobretudo
estabeleceu aspectos do capital social a serem investigados de acordo com os
objetivos desta pesquisa e proposta de análise, respeitando os limites da formulação
do problema apresentado e os objetivos propostos. Assim, trazer uma conceituação
singular de capital social é um desafio que esta tese não se propõe superar, por
acreditar que tal redução seria imprópria para este estudo, que procurou ter um
entendimento sobre aspectos do capital social também através de dados empíricos.

[...] talvez a “visibilidade” do conceito de capital social esteja na sua


capacidade de reforçar a importância dos laços que conectam os indivíduos,
as normas e regras de reciprocidade bem como os sistemas de participação
cívica […] (LEMOS, 2008, p.83).

Este enfoque não apenas é uma curiosidade pessoal, mas contém a


necessidade de acreditar na possibilidade de que o desenvolvimento com inclusão
social é possível, e que as relações pessoais existentes em uma comunidade quando
fortalecidas favorecem a sua inclusão social, partindo do pressuposto de que o
desenvolvimento de uma tecnologia social modifica este “estoque” do capital social
com a promoção do aumento das interações sociais das pessoas de uma
comunidade, incrementando o bem-estar social.
52

Existe certo consenso entre alguns autores contemporâneos utilizados nesta


pesquisa (Figura 21) quanto à validade do capital social como fator capaz de alavancar
a prosperidade econômica e o desenvolvimento social, considerando que o capital
social é inteiramente relacional e funcional, conforme a definição de Coleman (1990,
p. 303-304), “Diferentemente de outras formas de capital, o capital social herda a
estrutura de relações entre as pessoas”.

No caso do foco desta tese, o aumento das interações sociais criadas ou


fortalecidas a partir do desenvolvimento de uma tecnologia social pode favorecer o
aumento da confiança entre as pessoas, gerando uma maior cooperação e
fortalecimento da sua capacidade associativa. Mas é preciso lembrar que esses
processos se passam em nível individual, entre indivíduos que se identificam com a
proposta associativista.

Assim, se o indivíduo estiver inserido na sociedade e agir, o seu ato é fruto


daquela sociedade e detém as características que a distinguem. Mesmo que
haja cidadãos com pensamentos distintos numa mesma comunidade, a
comunhão das ideias encaminha aquela sociedade para a solução de
problemas comuns inerentes ao meio em que se encontra (SOARES, 2009,
p.46).

O caráter evidente desta afirmação contrasta, porém, com a dificuldade em


determinar o aumento da confiança entre os indivíduos, pois as pessoas têm suas
singularidades. De acordo com Barata (2008, p.6), “A unicidade convém ao singular
como a unidade convém ao indivíduo, mas entre o que é um e o que é único não
resulta fácil compreender como estabelecer um regime partilhável”. Ainda assim, com
base na literatura aqui apresentada acredita-se que o dinamismo existente nas
interações sociais, e o esperado crescimento da confiança entre as pessoas, criem
relações horizontais de cooperação e evolução do capital social, que devem ter como
objetivo principal resolver seus problemas coletivos.

Tais elementos impulsionadores e cíclicos não são exauridos com seu uso,
ao contrário tornam-se elementos de desenvolvimento, e sua maior utilização o
expande, ou seja, “os estoques de Capital Social, tais como a confiança […] tendem
a ser retroalimentados e cumulativos” (PUTNAM, 1993, p.177). Difere, portanto, do
dinheiro que, ao ser usado, se esgota. O capital social quanto mais é usado mais
tende a se ampliar.
53

Um número cada vez maior de pesquisadores sugere que onde confiança e


redes sociais florescem, indivíduos, firmas, vizinhanças, e mesmo nações
prosperam economicamente. Capital social pode ajudar a mitigar os efeitos
perversos da desvantagem socioeconômica (PUTNAM, 2000, p. 319)

Ao tratar de capital social, Robert Putnam (1996) traz como enfoque as


“associações horizontais de pessoas” e, nesta ótica, a cooperação decorrente destas
associações se baseia numa noção forte da importância recíproca dos participantes.
“Uma vez tendo criado suas primeiras instituições de pequeno porte, um grupo de
pessoas pode utilizar o capital social assim gerado para solucionar problemas mais
complexos” (PUTNAM, 1993, p. 179). Alguns dos desafios de associações horizontais
são representatividade da liderança, assunção de responsabilidades, divisão de saldo,
dentre outras.

Em grupos sociais, como associações horizontais, muitos podem ser os


fatores que contribuem para processos de desenvolvimento e de mudança sociais, e
um deles pode ser a transferência de recursos das atividades tradicionais para as
modernas, bem como o aproveitamento de atividades econômicas locais com
abordagens criativas e a introdução de inovações, determinando a elevação do bem-
estar da população. Este processo está “baseado na ideia de que localidades e
territórios dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais e culturais, bem
como de economias não aproveitadas, que formam seu potencial de desenvolvimento”
(BARQUERO, 2002, p. 57). Cabe ressaltar que as interações sociais e a participação
cívica e associativa das pessoas em uma comunidade são de fundamental
importância para o incremento de ações que venham a promover o desenvolvimento
com equidade. Em outras palavras, o fortalecimento das características locais e,
consequentemente, do capital social, pode favorecer o desenvolvimento endógeno.

O desenvolvimento endógeno propõe-se a atender às necessidades e


demandas da população local através da participação ativa da comunidade
envolvida. Mais do que obter ganhos em termos da posição ocupada pelo
sistema produtivo local na divisão internacional ou nacional do trabalho, o
objetivo é buscar o bem-estar econômico, social e cultural da comunidade
local em seu conjunto. Além de influenciar os aspectos produtivos (agrícolas,
industriais e de serviços), a estratégia de desenvolvimento procura também
atuar sobre as dimensões sociais e culturais que afetam o bem-estar da
sociedade (BARQUERO, 2002, p. 39).

O desenvolvimento endógeno precisa da constituição de um entorno


institucional e econômico favorável, beneficiado pela união do aproveitamento entre
os recursos e os serviços locais, bem como da cooperação entre os atores, pois são
54

estes os que possuem condições de promover mudanças. Tal cooperação também


indica acúmulo de capital social, o que, segundo Putnam (2001), significa relações na
forma de normas ou interações horizontalizadas, ou seja, pouco hierarquizadas, nas
quais prevaleçam as decisões, a participação e a gestão coletiva.

O desenvolvimento endógeno é um tema de difícil operacionalização, portanto


a sua utilização neste trabalho de tese restringe-se à expectativa, não avaliada nesta
pesquisa, de que o envolvimento das pessoas na criação de uma tecnologia social
resulte nesse tipo de desenvolvimento com implicações sociais positivas. O
desenvolvimento endógeno, como o resultado de uma série de ligações entre as
pessoas valorizando as características locais, pode resultar do aumento do capital
social em uma comunidade através de um catalizador, no caso desta pesquisa uma
tecnologia social, proporcionando a geração de renda e o aumento das relações
sociais.

O desenvolvimento almejado deve gradativamente tornar a relação de forças


entre empreendimentos que não visam apenas nem principalmente aos
lucros e os que sim o fazem, mais favorável aos primeiros. Se e quando a
economia solidária, formada por empreendimentos individuais e familiares
associados e por empreendimentos auto gestionários, for hegemônica, o
sentido do progresso tecnológico será outro, pois deixará de ser produto da
competição intercapitalista para visar à satisfação de necessidades
consideradas prioritárias pela maioria. (SINGER, 2004, pg. 7).

Os diversos autores que escreveram sobre capital social reconhecem a


importância dos laços de reciprocidade e o fato de que algumas dimensões do capital
social – tais como capacidade associativa, confiança, solidariedade, ação coletiva,
cooperação, coesão e sociabilidade – são capazes de proporcionar a integração entre
as pessoas, através das suas interações e relações sociais, favorecendo a
prosperidade econômica e o desenvolvimento de uma comunidade15.

Fazendo um resgate histórico do termo, a terminologia “capital social” só foi


amplamente reconhecida no final do século 20 (década de 1980 e em meados da
década seguinte), quando adquiriu importância, atraindo um número crescente de
pesquisadores das diversas áreas do conhecimento, discutindo e rediscutindo o

15
A título de ilustração, ressalta-se a importância dada por Émile Durkheim aos laços e coesão sociais
e seu estudo sobre o suicídio, ou a forma com que Alexis de Tocqueville celebrou a capacidade da
sociedade americana em criar laços e associações com vistas à realização do bem comum (LEMOS,
2008, p.83).
55

conceito. A Figura 21 apresenta a linha do tempo de autores basilares sobre capital


social.

Figura 21. Linha do tempo dos autores basilares sobre capital social
Fonte: Autoria própria

Segundo Robert Putnam (1993), as considerações teóricas contemporâneas


a este respeito datam de 1916, refletindo preocupações de cunho notadamente
sociológico e político. Em um artigo publicado por Lyda Judson Hanifan em 1916 na
American Academy of Political and Social Science que teve como título “The Rural
Community Center”, o termo conceitual de capital social foi utilizado pela primeira vez
com o interesse de encorajar a importância da comunidade para as escolas de
sucesso em West Virginia (EUA). Na época o uso do termo enfatizava as vantagens
da confiança, normas e sistemas, características do capital social e facilitadores da
ação coletiva e da organização social. Este foi o primeiro uso conhecido do conceito
de capital social que embasou os elementos cruciais para interpretações posteriores.

Em 1920 Hanifan escreveu o livro “The Community Center”, que descreve


como o envolvimento da comunidade nas escolas podem fazê-las ficar mais bem-
sucedidas, através principalmente do desenvolvimento da boa vontade,
companheirismo, solidariedade e relações sociais entre aqueles que constituem uma
comunidade.
The individual is helpless socially, if left to himself. Even the association of the
members of one's own family fails to satisfy that desire which every normal
individual has of being with his fellows, of being a part of a larger group than
the family. If he comes into contact with his neighbors, there will be an
accumulation of social capital, which may immediately satisfy his social needs
and which may bear a social potentiality sufficient for the substantial
improvement of life in the whole community. The community as awhole will
benefit by the cooperation of all its parts, while the individual will find in his
associations the advantages of the help, the sympathy, and the fellowship of
56

16
his neighbors (HANIFANN, 1920, p. 79).

Outras contribuições vieram de Jane Jacobs (1961), que, apesar de não ter
tratado diretamente sobre o capital social, salientou que a segurança nas cidades
depende diretamente do contato interpessoal e das redes de confiança no âmbito da
vizinhança como forma de resolver problemas comuns.

These networks are a city’s irreplaceable social capital. Whenever the capital
is lost, from whatever cause, the income from it disappears, never to return
until and unless new capital is slowly and chancily accumulated (JACOBS,
17
1961, p.138).

Woolcock (1998) afirma que Jane Jacobs com o seu livro “The Life and Death
of Great American Cities” forneceu o sentido contemporâneo de capital social.

Vale ressaltar que, no caso do Brasil, os espaços de convívio e trocas da


população vêm sendo adulterados pelo furor da especulação imobiliária em estágio
crescente em decorrência dos shoppings.

Pierre Bourdieu foi o primeiro a tratar sobre o capital social no âmbito da


sociologia em um artigo intitulado “Le capital social-notes provisoires”, no qual ele fala
sobre as relações sociais:

L'existence d'un réseau de liaisons n'est pas un donné naturel, ni même un


«donné social», constitué une fois pour toutes et pour toujours par un acte
social d'institution (représenté, dans le cas du groupe familial, par la définition
généalogique des relations de parenté qui est caractéristique d'une formation
sociale), mais le produit du travail d'instauration et d'entretien qui est
nécessaire pour produire et reproduire des liaisons durables et utiles, propres
18
à procurer des profits matériels ou symboliques (BOURDIEU, 1980, p.2).

16
O indivíduo é impotente socialmente, se entregue a si mesmo. Mesmo a associação dos membros
da própria família falha em satisfazer o desejo que cada indivíduo normal tem de estar com seus
companheiros, de fazer parte de um grupo maior do que a família. Se ele entra em contato com seus
vizinhos, haverá uma acumulação de capital social, o que pode imediatamente satisfazer suas
necessidades sociais, e pode conter uma potencialidade social suficiente para a melhoria substancial
da vida em toda a comunidade. A comunidade em seu conjunto vai beneficiar a cooperação de todas
as suas partes, enquanto o indivíduo vai encontrar em suas associações as vantagens da ajuda, a
simpatia, e a comunhão dos seus vizinhos (HANIFANN, 1920, p. 79, tradução nossa).
17
As redes de relações são o capital social insubstituível de uma cidade. Se este capital se perde, por
quaisquer razões, sua ‘renda’ desaparece para não mais retornar, até que um capital novo tenha a
chance de ser lentamente acumulado (JACOBS, 1961, p.138, tradução nossa).
18
A existência de uma rede de relações não é um dado natural, nem mesmo um “dado social”,
constituído de uma vez por todas e para sempre por um ato social de instituição (representado, no caso
do grupo familiar, pela definição genealógica das relações de parentesco que é característica de uma
57

Segundo Higgins (2005, p. 19), Pierre Bourdieu trata ou identifica:

[…] três formas distintas de capital: econômico, cultural e social, dando


destaque a seus mecanismos de acumulação e conversão. Esta análise
questiona o interesse demasiado estreito da teoria econômica, a qual fixa sua
atenção só no capital econômico convertível em dinheiro e institucionalizado
em forma de direitos de propriedade. Desta perspectiva, o universo dos
intercâmbios é reduzido à troca mercantil, onde os agentes econômicos
procuram a maximização de seu interesse; as outras formas de troca, por não
serem econômicas, ficam fora do campo de análise. Como alternativa a esta
redução, Bourdieu propõe o desenvolvimento de uma ciência geral da
economia prática capaz de estudar o capital, entendido como poder, em todas
suas formas. É por isso que também são identificados o capital cultural e o
social.

Embora o capital social compartilhe muitos atributos com outras formas de


capital, é fundamentalmente diferente em pelo menos um aspecto, especificamente,
no fato de que sua criação implica a interação entre pelo menos duas pessoas e
normalmente entre um maior grupo de pessoas, possuindo uma relação dinâmica
entre seus componentes que evolui constantemente em escalas espaciais e
temporais.

[...] refere-se à natureza e extensão do envolvimento de um indivíduo em


várias redes informais e organizações cívicas formais. Desde a conversa com
os vizinhos ou o engajamento em atividades recreativas, até a filiação a
organizações ambientais e partidos políticos, o capital social é usado, nesse
sentido, como um termo conceitual para caracterizar as muitas e variadas
maneiras pelas quais os membros de uma comunidade interagem. Assim
entendido, é possível traçar um mapa da vida associativa da comunidade e,
com isso, perceber seu estado de saúde cívico. Um conjunto de problemas
sociais – criminalidade, saúde, pobreza, desemprego – tem sido
empiricamente associado à existência (ou falta de) capital social em uma
comunidade (WOOLCOK et al., 2003, p. 6).

Cada interação social entre os atores tem resultados amplos e imprevisíveis


para a estrutura e para as consequências do capital social em vários níveis. O conceito
de capital social representa “uma das mais poderosas e populares metáforas da
pesquisa social contemporânea” (SAAVEDRA; ESPINOZA, 2009, p.196), possuindo
características capazes de fomentar e fortalecer as relações sociais e o processo de
desenvolvimento social.

formação social), mas o produto do trabalho de instauração e de manutenção que é necessário para
produzir e reproduzir relações duráveis e úteis, aptas a proporcionar lucros materiais ou simbólicos
(BOURDIEU, 1980, p.2, tradução nossa).
58

Pode-se afirmar, corroborando com Saavedra e Espinoza (2009), que as


relações sociais devem ser consideradas como uma forma de fortalecimento das
interações entre as pessoas, que se encontram imersas nestes relacionamentos, por
meio de recursos intangíveis (normas) inerentes a estas relações.

Tanto Coleman como Bourdieu sublinham a intangibilidade do capital social,


em comparação com outras formas. Enquanto o capital económico se
encontra nas contas bancárias e o capital humano dentro das cabeças das
pessoas, o capital social reside na estrutura das suas relações. Para possuir
capital social, um indivíduo precisa de se relacionar com outros, e são estes
— não o próprio — a verdadeira fonte dos seus benefícios. (PORTES, 2000,
p.138).

Sendo múltiplos os conceitos, múltiplas também são as fontes que


caracterizam o capital social para o seu entendimento teórico. Assim, o Quadro 01
apresenta diferentes conceitos, tendo em vista as aproximações realizadas pelos
diferentes autores para a compreensão sobre o capital social.

Quadro 01. Conceitos de autores seminais sobre capital social

[...] esses ativos tangíveis que contam para a maioria das pessoas na
vivencia diária: denominadas de confiança, companheirismo, simpatia e
relações sociais entre os indivíduos e as famílias que integram uma unidade
LYDA JUDSON social. A integração entre vizinhos favorece para que aja acumulação de
HANIFAN capital social, que pode satisfazer imediatamente suas necessidades
sociais e que pode ter uma potencialidade suficiente para a melhora
substancial das condições de vida em toda a comunidade (HANIFAN, 1920,
p.79).

Para a autogestão de um lugar funcionar, acima de qualquer flutuação da


população deve haver a permanência das pessoas que forjaram a rede de
relações do bairro. Essas redes são o capital social urbano insubstituível.
JANE JACOBS
Quando se perde esse capital, pelo motivo que for, a renda gerada por ele
desaparece e não volta senão quando se acumular, lenta e ocasionalmente,
um novo capital (JACOBS, 1961, p.151).

O capital social é o conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão


ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos
institucionalizadas de interconhecimento e de Inter reconhecimento ou, em
outros termos, à vinculação a um grupo, como conjunto de agentes que não
somente são dotados de propriedades comuns (passíveis de serem
PIERRE percebidas pelo observador, pelos outros ou por eles mesmos), mas
BOURDIEU também são unidos por ligações permanentes e úteis. Essas ligações são
irredutíveis às relações objetivas de proximidade no espaço físico
(geográfico) ou no espaço econômico e social porque são fundadas em
trocas inseparavelmente materiais e simbólicas cuja instauração e
perpetuação supõem o reconhecimento dessa proximidade (BOURDIEU,
1980, p.1).

JAMES S. O capital social é definido pela sua função. Não é uma entidade única, mas
COLEMAN uma variedade de diferentes entidades que têm duas características em
comum: todos eles consistem em algum aspecto da estrutura social e
59

facilitam certas ações de indivíduos que estão dentro da estrutura


(COLEMAN, 1990, p 302).

Características da organização social como redes, normas e confiança


ROBERT D.
social que facilitam a coordenação e cooperação para benefício mútuo
PUTNAM
(PUTNAM, 1995, p. 67).

FRANCIS Capacidade de pessoas para trabalhar em conjunto para fins comuns em


FUKUYAMA grupos e organizações (FUKUYAMA, 1996, p. 10).

MICHAEL A informação, confiança e normas de reciprocidade inerente as redes


WOOLCOCK sociais (WOOLCOCK, 1998, p. 153).

A capacidade dos atores para garantir os benefícios em virtude de


ALEJANDRO
participação em redes sociais ou outras estruturas sociais (PORTES, 2000,
PORTES
p. 136).
Fonte: Autoria própria, com base nas fontes citadas

Analisando a evolução do conceito a partir de diversos autores, conforme


apresentado no Quadro 01, nota-se que o conceito apresentado por Hanifan, (1920,
p. 79), vincula-se principalmente com a condição material: “acumulação de capital
social [...] para a melhora substancial das condições de vida em toda a comunidade”,
enquanto Jacobs (1961, p.151) traz explicitamente um enfoque econômico: “a renda
gerada por ele [capital social urbano] desaparece e não volta senão quando se
acumular, lenta e ocasionalmente, um novo capital”. Bourdieu (1980), Coleman (1990)
e Putnam (1995), por sua vez, enfatizam a importância das interações, da rede de
contatos, para o capital social, enquanto Fukuyama (1996) destaca o objetivo comum,
e Portes (2000, p. 6), “os benefícios em virtude de participação em redes sociais ou
outras estruturas sociais”. Trazendo uma abordagem mais intangível, para Woolcock
(1998), a informação, a confiança e as normas de reciprocidade são os fundamentos
das redes onde há capital social.

Nesta reflexão até aqui apresentada buscou-se identificar ideias e teorias de


diversos autores sobre capital social, tentando relacionar estes conceitos com o
estudo proposto para esta tese. Considerando estas diversas definições sobre o
capital social, pode-se afirmar que a síntese aqui produzida sobres os conceitos,
convergem para um entendimento sobre sua aplicabilidade nesta tese, considerando
suas definições e corroborando com os autores quanto ao fato de que as relações
sociais constituem a ideia central sobre o tema, tornando-a:
60

[...] como um patrimônio ‘não visível’, mas altamente eficaz, a serviço dos
sujeitos sociais, sejam estes individuais ou coletivos, esse sentido, se as
relações sociais estão baseadas na reciprocidade e na expectativa de
cumprimento mútuo – caso contrário haveria sanção social –, os motores da
ação coletiva serão a confiança e a cooperação (HIGGINS, 2005, p.1)

É importante neste estudo salientar, também, que a socialização através de


mecanismos desenvolvidos ou incorporados pelos membros de uma comunidade,
podem levar a resultados menos interessantes do ponto de vista do seu
desenvolvimento. O capital social, portanto, como outras fontes de capitais (capital
simbólico, cultural, financeiro etc.) é capaz de gerar benefícios, mas também aspectos
negativos. Corroborando com D`Araujo (2010), leva-se em consideração que:
Há vários estudos sobre o “avesso do capital social” referindo-se a
associações criminosas. Nāo levaremos em conta esse tipo de contribuição
[...] esses grupos se definem por uma relação de poder centralizado e
hierarquizado, contrariando a noção de associação voluntária e cívica em que
há horizontalidade nas relações entre os membros. (D`ARAUJO, 2010, p.11)

De acordo com Portes (2000), estudos identificaram quatro consequências


negativas do capital social: exclusão dos não membros, exigências excessivas a
membros do grupo, restrições à liberdade individual e normas de nivelação
descendente.

No primeiro caso, os próprios laços fortes que produzem benefícios para os


membros de um grupo permitem-lhe normalmente barrar o acesso a
terceiros. […] O segundo efeito negativo do capital social é o reverso do
primeiro, na medida em que o fechamento de grupo ou da comunidade pode,
em certas circunstâncias, impedir o êxito de iniciativas empresariais dos seus
membros. […] em terceiro lugar, a participação em comunidades ou em
grupos cria necessariamente exigências de conformidade. […] O nível de
controle social nestes contextos é forte e altamente restritivo quanto às
liberdades individuais, razão pela qual os jovens e os indivíduos de espírito
mais independente acabam sempre por partir. […] em quarto lugar, existem
situações em que a solidariedade do grupo é cimentada pela experiência
comum da adversidade e pela oposição às tendências dominantes da
sociedade (PORTES, 2000, p. 146-148)

A Figura 22 aponta ganhos e perdas efetivas e potenciais em transações


mediadas pelo capital social entre as fontes altruístas e instrumentalistas.
61

Ganhos
Fonte: Altruista
- Observância de normas
- Introjecção de valores
- Apoio familiar
- Soliedariedade confinada
-Benefícios mediados por redes
Definição
Capacidade de angariação de benefícios
através da pertença a redes e outras
estruturas sociais
Perdas
Fonte: Instrumental:
- Acesso restrito a oportunidades;
- Trocas reciprocas
- Restrições a liberdade individual;
- Confiança exigível
Solicitações excessivas sobres membros de
grupo;
- Normas de nivelação descendente

Figura 22. Ganhos e perdas efetivas e potenciais em transações mediadas pelo capital social
Fonte: Adaptado pelo autor, a partir de Portes (2000, pg.140)

Porém considerando o seu caráter multidimensional e a finalidade desta


análise, o entendimento adotado neste trabalho está associado ao nível de
investigação a ser feita, e está pautado no fato de que as interações sociais podem
desempenhar um papel fundamental para o desenvolvimento social da comunidade
estudada.

Assim, utilizando como um princípio para desenvolvimento desta tese de


doutorado, considera-se o capital social como um conceito segundo o qual, por meio
do desenvolvimento de uma tecnologia social, os atores pertencentes a um grupo ou
comunidade têm a capacidade de garantir benefícios coletivos, promovendo a criação
de conexões no nível micro social (entre pessoas).

Para Coleman (1988), os processos que ocorrem no nível micro, as ações


sociais praticadas por pessoas, constituem os nexos causais que interligam os
fenômenos do nível macro. Em consequência destas conexões, surgem os elos entre
as pessoas, construído com base na confiança, solidariedade e reciprocidade,
utilizadas neste estudo como as principais dimensões do capital social, e promotoras
das ações coletivas de cooperação.

Considerando esta revisão da literatura, foram escolhidas algumas dimensões


do capital social, que foram observadas na pesquisa de campo no que se refere a este
62

tema, a saber: Capacidade associativa; Confiança interpessoal; Cooperação e


Sociabilidade.

2.1.1 Capacidade associativa

O entendimento sobre o capital social é uma espécie de resposta a um dos


mais decisivos mitos fundadores da civilização moderna, o de que a sociedade é um,

[…] conjunto de indivíduos independentes, cada um agindo para alcançar


objetivos a que chegam independentemente uns dos outros, o funcionamento
do sistema social consistindo na combinação destas ações dos indivíduos
independentes (COLEMAN, 1990, p.300).

A essência da vida social deve levar às pessoas a agir coletivamente,


estabelecer seus objetivos de maneira compartilhada. Neste sentido, as estruturas
sociais quando fortalecidas são recursos, um ativo de capital de que as pessoas
podem dispor para o desenvolvimento social.

O capital social, não é uma entidade singular, mas uma variedade de


diferentes entidades que possuem duas características em comum:
consistem em algum aspecto de uma estrutura social e facilitam algumas
ações dos indivíduos que estão no interior desta estrutura”. (COLEMAN,1990,
p 302)

A ideia aqui analisada sobre a capacidade associativa, leva em consideração


a predisposição das pessoas em cooperar e confiar, para que possam desenvolver-
se socialmente observando e valorizando a cultura cívica que deve atuar, segundo
Putnam (2000), positivamente sobre as instituições. Isto caracteriza, de acordo com
D’Araujo (2010), uma sociedade comprometida com o bem público, cooperativa e com
confiança em seus pares. Portanto o fortalecimento dos laços sociais aumenta a
capacidade associativa não hierarquizada, de forma horizontal, proporcionando o
desenvolvimento, com objetivo de produzir correções na desigualdade social.

2.1.2 Confiança interpessoal

A confiança interpessoal é uma das dimensões mais discutidas por estudiosos


do capital social. Apesar de ser considerado complexo e de difícil definição, devido ao
seu caráter subjetivo, o conceito de confiança interpessoal é utilizado na pesquisa
sociológica, econômica, política, antropológica e outras áreas do conhecimento.

A etimologia de confiança remete-nos ao termo latino confedere, registrado


63

pela primeira vez no século XV, por volta de 1430, e ligado a fides,
conjugação verbal de fidere, que significa confiar, e está também na raiz de
significação da palavra fé, já registrada cerca de 200 anos antes. Se o olhar
do pesquisador for dirigido para o início da árvore de evolução dos
significados, tanto fé como confiança, têm origem na crença, no credo, em
acreditar em algo. (VALENTIM, 2006, p.19).

Wrightsman (1991) acredita que as pessoas são tipicamente bem-


intencionadas, explicando que elas geralmente confiam em novas pessoas até que
elas possam, com a convivência, dar-lhes alguma razão para não confiar nelas. Como
a fé nas pessoas reflete a extensão em que se acredita que os outros podem ser
confiáveis, significando que alguém pode ser benevolente, competente, honesto e
possuir credibilidade, essas características provavelmente podem fazer surgir a
confiança inicial e aumentar o capital social individual.

Um modelo aceito que permite considerar as principais variáveis envolvidas


na confiança foi proposto por Mayer et al. (1995) e baseia-se na a percepção de
confiança que se tem no outro.

En gran medida, la percepción de confiabilidad del otro está relacionada con


percibir en él cualidades que lo hacen merecedor de nuestra confianza.
Ejemplo de lo anterior es ver al otro como competente, íntegro, benevolente,
abierto a la comunicación y compartir una identidad social común (Yáñez,
2006). Una segunda variable es la predisposición a confiar por parte de quien
confía, y se refiere a la tendencia a ver al ser humano como una persona
buena y, por ende, confiable (Kramer, 1999). Esta tendencia se genera tanto
por las experiencias de la primera infancia, como por factores culturales
(Kramer, 1999; Solomon & Flores, 2001). Una tercera variable es el contexto
social, el cual hace referencia a los valores culturales y las normas
institucionales existentes en la sociedad. Estrechamente vinculada a lo
anterior, está la percepción de riesgo para el que confía y la decisión de
asumir dicho riesgo. El riesgo es un componente esencial de la confianza. La
confianza en el otro sólo se pone a prueba en el momento en que se toma la
decisión y se actúa; entonces, se acepta el riesgo, lo que implica quedar en
19
estado de vulnerabilidad ante el otro. (ANTUÑANO et al., 2008, p.45).

19
Em grande medida, a percepção de confiabilidade do outro está relacionada com a percepção de
qualidades que o fazem merecedor de nossa confiança. Exemplo disso é ver o outro como competente,
íntegro, benevolente, aberto à comunicação e compartilhar uma identidade social comum (Yáñez,
2006). Una segunda variável é a predisposição a confiar por parte de quem confia, e se refere à
tendência a ver o ser humano como uma pessoa boa y, por fim, confiável (Kramer, 1999). Esta
tendência surge tanto pelas experiências da primeira infância, como por fatores culturais (Kramer, 1999;
Solomon & Flores, 2001). Uma terceira variável é o contexto social, o qual faz referência aos valores
culturais e as normas institucionais existentes na sociedade. Estreitamente vinculada ao anterior, está
a percepção de risco para o que confia e a decisão de assumir este risco. O risco é um componente
essencial da confiança. A confiança no outro só se coloca à prova no momento em que se toma a
decisão e se atua; então, se aceita o risco, o que implica ficar em estado de vulnerabilidade ante o
outro. (ANTUÑANO et al., 2008, p.45, tradução nossa).
64

De acordo com Blomqvist (1997), alguns conceitos são utilizados como


sinônimos para confiança, palavras como: competência, credibilidade e a esperança
são conceitos passivos, ligados a uma percepção em relação à outra parte ou a um
evento; a convicção e a fé não levam em consideração alternativas. A lealdade tem a
característica de ser estática e a confiabilidade é um conceito menos amplo, ligado a
um aspecto específico do relacionamento. O Quadro 02 mostra os sinônimos mais
comumente utilizados, que podem ter relação com outras características
comportamentais, delimitando e diferenciando o conceito de confiança, ajudando a
contextualizar o tema.

Quadro 02. Sinônimos de Confiança

CONCEITO DEFINIÇÃO CONEXÃO COM CONFIANÇA

Um conceito passivo descrevendo a


A habilidade percebida de determinado
Competência habilidade de um determinado sujeito
sujeito para desempenhar algo.
para desempenhar algo.

Um conceito passivo se referindo a


Habilidade percebida de determinado
uma habilidade reivindicada, que,
sujeito em desempenhar alguma coisa
Credibilidade entretanto, não diz nada sobre as
que ele afirma que pode fazer se
intenções ou desejo do ator de fazer o
requerido.
que foi requisitado.

O sujeito pode considerar decidir O sujeito pode considerar decidir


confiar somente em certos aspectos confiar somente em certos aspectos ou
Confiabilidade ou características de outro sujeito ou características de outro sujeito ou
sistema. sistema.

Devido à passividade do sujeito ele não


A expectativa futura favorável do investe ou arrisca nada tendo
Esperança
sujeito em relação a algo. esperança, como ocorreria no caso da
confiança.

O sujeito espera que algo aconteça O sujeito espera que algo aconteça
Convicção com certeza, e não considera a com certeza, e não considera a
possibilidade que algo dê errado. possibilidade que algo dê errado.

Devido à passividade do sujeito ele não


investe ou arrisca nada tendo
Fé A crença cega do sujeito em algo.
esperança, como ocorreria no caso da
confiança.

O sujeito tem uma posição de


fidelidade em relação a outro sujeito, Um conceito estático e de longo prazo,
Lealdade se comportando de forma totalmente que não parece envolver a
positiva em relação a necessidades possibilidade de quebra.
desse outro ator.
Fonte: Adaptado de Blomqvist (1997).
65

O início da confiança entre as pessoas, de acordo com Mcknight et al. (1998),


está baseada na disposição de uma pessoa em criar vínculos com outro individuo,
aumentando suas relações sociais.

Este estudo leva em consideração que a confiança interpessoal pode surgir a


partir de um instrumento social motivador, que cria disposição para confiar, a partir de
processos cognitivos e crenças sobre confiança, fortalecendo suas relações
interpessoais, formando associações voluntárias, trazendo como consequência o
surgimento ou aumento do seu capital social. Daí pode resultar o que Frey (2003,
p.175) indica como uma “[…] democracia mais vital e participativa, com cidadãos
ativos, engajados em favor do bem comum e, por fim uma sociedade mais humana”.

O desenvolvimento de uma tecnologia social pode trazer para a comunidade


a possibilidade de fortalecimento da confiança interpessoal como requisito para a
formação de associações voluntárias, devido aos interesses comuns das pessoas
envolvidas de forma associativa. O trabalho coletivo que o desenvolvimento de uma
tecnologia social requer, pode produzir expectativas de reciprocidade e aumentar o
capital social, que é utilizado de forma não perceptível, devido ao seu caráter
intangível, mas evidenciado no fortalecimento dos elos entre as pessoas para
superação das desigualdades sociais;

A generalização da confiança interpessoal produz níveis altos de


previsibilidade de comportamentos e de expectativas de reciprocidade entre
indivíduos que, presumivelmente, geram incentivos individuais para
engajamento em assuntos públicos. […] Em todas essas aplicações do
conceito, confiança interpessoal não é generalizada para além da vida
pessoal imediata, aquela composta apenas pela família extensa, portanto não
extrapola para indivíduos mais afastados. A consequência agregada desse
padrão motivacional é uma sociedade civil fragilizada, incapaz de controlar o
Estado e produzir benefícios coletivos por si mesma. (SELIGSON; RENNÓ,
2000, p. 783).

A confiança estimula a participação política, favorecendo o aumento do capital


social de uma comunidade. Putnam (2000) e Coleman (1990) acreditam que, sem a
presença da confiança entre as pessoas, reduz-se a mobilização coletiva, tornando a
democracia mais frágil.
66

2.1.3 Cooperação

Fukuyama (1996) define capital social como bens intangíveis relacionados


com a cooperação, evidenciando a capacidade das pessoas de trabalhar em conjunto
para atingir objetivos comuns.

A cooperação descreve uma reciprocidade entre as pessoas, e esta


capacidade depende da presença da confiança. Segundo D’Araujo (2010), a
capacidade de uma sociedade de estabelecer laços de confiança interpessoal e redes
de cooperação com vistas à produção de bens coletivos pode ajudar a criar uma
comunidade em que a cooperação contribua diretamente com o desenvolvimento
social.

2.1.4 Sociabilidade

Pode-se afirmar que o termo sociabilidade está aliado à natureza essencial


das pessoas, que é viver em sociedade, ou seja, como o ser humano é um ser social,
em sua vida existe sempre o desejo de estar integrado com outros seres humanos.

A sociabilidade pode ser entendida como a capacidade das pessoas de


estabelecer redes, através das quais as atividades, individuais ou coletivas, fazem
circular gostos, paixões, opiniões etc. Os contatos advindos da sociabilidade
aumentam as interações entre as pessoas, promovendo uma maior integração e
criando condições para o aumento do capital social.

2.2 Tecnologia Social

A opção por utilizar nesta tese de doutorado a tecnologia social (TS) como
indutora de capital social, ou seja, como um fator capaz de colaborar com o surgimento
ou aumento do capital social de uma comunidade, surge da preocupação com os
problemas sociais existentes no Estado de Alagoas, mais especificamente na
Associação Aroeira, numa comunidade extrativista do município de Piaçabuçu,
conforme apresentado na Introdução deste trabalho.

O locus utilizado para a pesquisa foi a Associação Aroeira, que desenvolveu


uma tecnologia social, discutida, elaborada e implementada coletivamente, com
67

pessoas pertencentes a comunidade extrativista da pimenta-rosa em Piaçabuçu. Essa


tecnologia social refere-se a uma metodologia de produção da pimenta-rosa, gerando
renda para os associados, e a geração de renda pode ser considerada um indicador
da melhoria decorrente do desenvolvimento da tecnologia social.

Esta atividade e suas consequências representam soluções para problemas


sociais, considerando que, ao aproximar as demandas sociais da produção de
conhecimento, integrando os saberes acadêmicos e os tradicionais e populares, com
a participação dos atores envolvidos no processo, promove-se o desenvolvimento
humano, socioambiental, cultural e econômico.

Segundo Feenberg (2002), um determinado padrão de tecnologia serve como


uma espécie de moldura para determinado estilo de desenvolvimento econômico e
social. Ainda conforme este autor, a tecnologia é admitida como um bem social e, ao
lado da ciência, é vista como um instrumento importante para o acesso ao capital,
além de ser caracterizada como uma peça fundamental na estratégia para
competitividade e inclusão social.

No que se refere às tecnologias sociais, estas têm como objetivo promover


inclusão social e melhoria da qualidade de vida dos membros da rede social
pertencente ao sistema que a desenvolve ou a reaplica, é praticada na interação com
a população e apropriada por ela (RTS, 2010). Assim, o desenvolvimento ou a
reaplicação20 de uma tecnologia social gera um processo de inovação local
fundamentado no conhecimento criado coletivamente pelos atores interessados no
desenvolvimento, através do fortalecimento das interações sociais daquele grupo
específico.

Nessa perspectiva, as experiências inovadoras podem ser avaliadas e


valorizadas tanto pela sua dimensão de processos de construção de novos
paradigmas e novos atores sociais, de fortalecimento da democracia e da
cidadania, quanto pelos resultados que proporcionam em termos de melhoria
da qualidade de vida (BAVA, 2004, p.106).

20
Diz-se reaplicação de uma tecnologia social quando uma tecnologia social é desenvolvida por um
grupo para resolver um problema local e, ao ser conhecida por outro grupo social, este novo grupo
social a discute, adapta e transforma de modo que ela possa ser usada por este para resolver seus
problemas respeitando as características e singularidades deste novo grupo.
68

Corroborando com Recuero (2010), as pessoas que fazem parte de uma


comunidade atuam de forma a moldar as suas estruturas sociais, através da
constituição e interação das conexões estabelecidas entre os atores sociais, formando
seus laços sociais. As tecnologias sociais nascem com, pelas e para as pessoas.

A tecnologia social, na medida em que exige a reaplicação em outros lugares


do produto, processo e metodologia desenvolvidos na interação com a
comunidade, representa uma efetiva solução de transformação social,
devendo ser capaz de viabilizar economicamente os empreendimentos auto
gestionários (DAGNINO, 2010, p.56).

O desenvolvimento de uma tecnologia social decorre de um sistema de


relações sociais e de interações recorrentes entre pessoas, que, segundo Putnam
(2000, p.19), “[...] refere-se à conexão entre pessoas – redes sociais e normas de
reciprocidade e confiança que emergem dela”. Tais conexões promovem associações
voluntárias, que devem estar fundamentadas na confiança e na reciprocidade.

A partir destes fundamentos, com o desenvolvimento de uma tecnologia social


consolidam-se a cooperação e as trocas sociais entre os atores, o que permite a
constituição e o desenvolvimento de associações voluntarias constituídas por estes
atores (RECUERO, 2010). Tais estruturas associativas surgem entretecidas por
aspectos de diversas naturezas, sejam eles políticos, econômicos, biológicos,
ambientais e/ou outros, da mesma maneira que os diversos aspectos da vida, que não
são compartimentados, estanques, mas complexos.

Segundo a Rede de Tecnologia Social (RTS)21, que corrobora com Dagnino


(2010, p.11), a tecnologia social “[...] compreende produtos, técnicas e/ou
metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que
represente efetivas soluções de transformação social”.

Uma tecnologia social é desenvolvida e praticada na interação com a


população e é apropriada por esta. Assim sendo, essas tecnologias promovem a
confiança, a ajuda recíproca e a cooperação, o que incorpora benefícios na busca da
inclusão social, surtindo resultados positivos na comunidade, com o desenvolvimento

21
A Rede de Tecnologia Social reúne, organiza, articula e integra um conjunto de instituições com o
propósito de contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável mediante a difusão e a
reaplicação em escala de tecnologias sociais. Disponível em: <http://rts.ibict.br/rts/a-rts/proposito>.
Acesso em: 26 dez. 2014.
69

e fortalecimento das interações sociais, com o respeito às pessoas e ao ambiente


onde eles estão inseridos, valorizando o contexto de vida dos que a desenvolvem.

A discussão e o desenvolvimento de uma tecnologia social implicam


planejamento da comunidade sobre como deve ocorrer este desenvolvimento,
possibilitando o diálogo entre as pessoas da comunidade e com entidades que
porventura colaborem com esse processo. Dessa maneira, surgem as redes
interacionais com uma dinâmica capaz de criar condições capazes de aumentar as
relações sociais e as dimensões do capital social, como a confiança e cooperação
entre as pessoas que compartilham as tarefas com um objetivo comum, devendo
contribuir para o sucesso nos resultados da aplicação da tecnologia social.

É no fluxo das trocas, ideias, conversas e debates que surgem as


construções coletivas de conhecimento e esse é um dos papéis mais
importantes em uma rede: promover a interação, compartilhar conhecimento,
(re) criar conhecimento e construir novas formas de cooperação a partir dessa
dinâmica. […]. As comunidades empoderam-se e o capital social se eleva
quase que instantaneamente (BARROS; MIRANDA 2010, p.61-62).

Corroborando com esta afirmação, pode-se estabelecer contrapontos entre


tecnologia social e tecnologia convencional (TC), considerando que a TC:

[…] não é adequada para a Inclusão Social (IS). Ou seja, existem aspectos
na TC, crescentemente eficientes para os propósitos de maximização do
lucro privado para os quais é desenvolvida nas empresas, que limitam sua
eficácia para a IS (DAGNINO, 2004, p.1).

A tecnologia convencional potencializa a produtividade em detrimento da mão


de obra, pois é:

[...] mais poupadora de mão-de-obra do que seria conveniente porque o lucro


das empresas depende de uma constante redução da mão-de-obra
incorporada ao produto, ou do tempo de trabalho socialmente necessário
para produzir mercadorias (DAGNINO, 2004, p.3).

Segundo Dagnino (2010), a tecnologia convencional refere-se à tecnologia


que hoje existe e que as empresas utilizam. É uma tecnologia que poupa mão-de-
obra, busca escalas crescentes de produção, é ambientalmente insustentável, com
controles coercitivos sobre os empregados. A tecnologia social, por sua vez, também
na visão de Dagnino (2010), é adaptada a pequeno tamanho físico e financeiro, não
estabelece discriminação entre os que a desenvolvem, volta-se para mercados locais
e para a viabilização econômica de empreendimentos auto gestionários. Para uma
melhor visualização, as diferenças entre essas modalidades de tecnologias
70

apresentadas por Dagnino (2010, p.54) foram sistematizadas por Maltez (2014), e são
mostradas no Quadro 03.

Quadro 03. Contraponto entre Tecnologia Convencional e Tecnologia Social

TECNOLOGIA CONVENCIONAL TECNOLOGIA SOCIAL


Mais poupadora de mão de obra. Não é poupadora de mão de obra.
Mais intensiva em insumos sintéticos do que
Intensiva em insumos naturais e mão de obra
seria conveniente.
Possui escalas ótimas de produção sempre
Adaptada a pequeno tamanho.
crescentes.
Sua cadência de produção é dada pelas Cadência de produção é dada pelos seres
máquinas. humanos
Busca relações ambientalmente e humanamente
Ambientalmente insustentável.
sustentável.
Monopolizada pelas grandes empresas dos Capaz de viabilizar economicamente os
países ricos. empreendimentos auto gestionários e pequenos.
Adaptada a tamanho físico reduzido e pequeno
Segmentada: não permite controle do
porte financeiro, não discriminatória, sem
produtor direto.
diferenciação entre patrão e empregado
Maximiza a produtividade em relação à mão Não busca maximizar a produtividade em relação
de obra ocupada à mão de obra ocupada
Alienante: não utiliza a potencialidade do Liberadora do potencial físico e financeiro, e da
produtor direto. criatividade do produtor direto
Possui padrões orientados pelo mercado
Orientada para o mercado interno de massa
externo de alta renda.
Hierarquizada: demanda a figura do chefe
Não discriminatória (patrão versus empregado).
etc.
Fonte: adaptado de Dagnino (2010)

As implicações da implantação de uma tecnologia social são discutidas pelo


Instituto de Tecnologia Social22 (ITS, 2010, p.57), que afirma as premissas mostradas
no Quadro 04.

Quadro 04. Implicações da tecnologia social

Compromisso com a transformação social.


Relevância e eficácia social.
Sustentabilidade socioambiental e econômica.
Criação de um espaço de descoberta e escuta de demandas e
necessidades sociais.
Pensamento e ação inovadores.
Organização e sistematização dos conhecimentos.
Processo pedagógico para todos os envolvidos.

22
O ITS Brasil tem como principal missão: “Promover a geração, o desenvolvimento e o aproveitamento
de tecnologias voltadas para o interesse social e reunir as condições de mobilização do conhecimento,
a fim de que se atendam as demandas da população”. Disponível em < http://itsbrasil.org.br/conheca-
o-its-brasil/conheca-o-its-brasil>. Acesso em 2 de janeiro de 2015.
71

Diálogo entre diferentes saberes.


Difusão e ação educativa.
Acessibilidade e apropriação das tecnologias.
Processos participativos de planejamento, acompanhamento e avaliação.
Construção cidadã do processo democrático.
Fonte: ITS, 2010, p. 57.

Com base no mostrado no Quadro 04, pode-se dizer que a tecnologia social
se compromete primeiramente com o social, com a relevância e eficácia social,
deslocando o foco somente de aspectos econômicos. Em outras palavras, embora
busque a sustentabilidade socioambiental e econômica, seus objetivos prioritários são
sociais. Seu desenvolvimento requer a criação de um espaço de descoberta e escuta
de demandas e necessidades sociais, requer pensamento e ação inovadores, requer
organização e sistematização dos conhecimentos. Isto mobilizará um processo
pedagógico para todos os envolvidos, com diálogo entre diferentes saberes, exigindo
difusão e ação educativa, bem como acesso e apropriação de tecnologias. Todo este
processo precisa ser participativo com planejamento, acompanhamento e avaliação
coletiva, decorrendo aí uma construção cidadã do processo democrático.

Os usos de tecnologias, mais especificamente tecnologias sociais, dependem


da intensidade e da eficácia das interações entre os diferentes atores envolvidos na
geração e difusão de novos conhecimentos. Essas interações manifestam uma forma
de “aprendizagem” mútua, que contribui para a criação de um acervo de
conhecimentos úteis e necessários para o desenvolvimento social de uma
comunidade.

A preocupação com o processo de produção da tecnologia social, embora


não prescinda de aspectos gerenciais, volta-se prioritariamente para a
emancipação dos atores envolvidos, tendo no centro os próprios produtores
e usuários dessas tecnologias. Dito de outro modo, a tecnologia social implica
a construção de soluções de modo coletivo pelos que irão se beneficiar
dessas soluções e que atuam com autonomia, ou seja, não são apenas
usuários de soluções importadas ou produzidas por equipes especialistas, a
exemplo de muitas propostas das diferentes correntes da tecnologia
apropriada (RODRIGUES; BARBIERI, 2008, p.1075).

Na sociedade contemporânea, o progresso das tecnologias traz como


característica a mudança do pensamento, da ação e do comportamento,
configurando-se a partir deste avanço um novo cenário nas relações interpessoais.
Este é o foco da tecnologia social, pois o campo dessas tecnologias volta-se para a
72

valorização das relações pessoais. Mas o desenvolvimento ou a reaplicação de uma


tecnologia social aprofunda as reflexões para os que dela participam e amplia a
capacidade de percepção social. Esta percepção deve, também, proporcionar uma
melhor compreensão do mundo natural e do artificial, além de instigar indagações e
estimular habilidades de trabalho coletivo, imprescindíveis para um maior
desenvolvimento da vida cotidiana. Assim tais sujeitos poderão participar das
decisões técnicas e cientificas que afetam os demais cidadãos, percebendo a partir
da própria experiência prática que a participação coletiva é um fator poderoso para
trazer melhor compreensão acerca do mundo que os cerca.

Parafraseando Pierre Bourdieu, os padrões e as tecnologias de organização


social, cuja hierarquização define a disputa e a segregação de lugares por
intermédio de regras, são campos delimitados simbolicamente pela
dominância do habitus da racionalidade técnica e pelo discurso legitimador
da ciência (BOCAYUVA, 2009, p.126).

Nesta tese compreende-se uma tecnologia social como um produto, um


processo, um método de produção ou de gestão, concebido por membros de uma
comunidade para resolver um problema local, e sua implementação é intensiva em
mão de obra, não hierarquizada, valorizando o ser humano e visando o bem-estar
social dos participantes.

2.2.1 Tecnologias sociais e comunidades locais

Entendem-se como comunidades locais aquelas formadas por um conjunto


de pessoas com características próprias que compartilham um espaço geográfico
comum, citado por Bauman (2003) como um “círculo aconchegante”, onde as pessoas
se sentem protegidas, devido a sua própria intenção de existir e o seu valor e
capacidade de transformar:

[…] O tipo de entendimento em que a comunidade se baseia precede todos


os acordos e desacordos. Tal entendimento não é uma linha de chegada,
mas o ponto de partida de toda união. É um “sentimento recíproco e
vinculante” — “a vontade real e própria daqueles que se unem”; e é graças a
esse entendimento, e somente a esse entendimento, que na comunidade as
pessoas “permanecem essencialmente unidas a despeito de todos os fatores
que as separam” (BAUMAN, 2003, p.15).

[...] o destino dos indivíduos de jure em indivíduos de facto, e um seguro


coletivo contra incapacidades e infortúnios individuais (idem, p.133)
73

Cada comunidade local23 reúne um conjunto de características geográficas,


culturais, políticas, históricas, ambientais que a definem e distinguem de outras
comunidades. Este conjunto de características ou fatores formam um comportamento
interacional autônomo, estabelecido como um aspecto importante para provocar uma
modificação de práticas das pessoas envolvidas na comunidade. Sobre o
comportamento interacional,

[…] a autonomia que cresce com a individuação progressiva caracteriza,


conforme Durkheim, uma nova forma de solidariedade que não vem
assegurada por um consenso normativo assegurado de antemão, mas que
deve ser alcançada cooperativamente mediante esforços individuais
(HABERMAS, 1999, p.122).

Como resultado deste comportamento e da aplicação de uma tecnologia


social, o aumento das relações sociais entre as pessoas ocasiona um aumento do seu
capital social, entendido neste trabalho dadas as múltiplas relações que são capazes
de ocorrer dentro de uma comunidade, produto dos processos de compartilhamento
e colaboração que se estabelecem entre as pessoas e em seu entorno.

É importante também levar em consideração as características peculiares do


local, que, tal como assinala Peruzzo e Volpato (2009), é um espaço que evoca
sentimentos de familiaridade e vizinhança, congrega certa identidade e história,
hábitos e linguagem comuns.

Visto assim, nas comunidades locais pode ocorrer um conjunto de interações,


caracterizadas pelas relações entre os próprios membros (relações intracomunitárias)
e pelas relações que se produzem entre a comunidade e o entorno (relações
intercomunitárias). Em muitos casos, o desenvolvimento da comunidade está
associado ao conjunto de relações intra e intercomunitárias que ela possa
estabelecer, seja para promover melhoras nas condições existentes ou promover
soluções de problemas dentro ou fora dos seus limites, por exemplo, problemas
ambientais, sanitários, educativos ou estruturais, entre outros. Mas, esse conjunto de
relações possíveis que a comunidade pode estabelecer está necessariamente
relacionado com os recursos que ela tem, os quais podemos denominar capital, tal

23
Utiliza-se aqui a terminologia “comunidade local” para destacar o aspecto espacial e presencial da
convivência das pessoas, em contraposição às comunidades virtuais.
74

como é assinalado pelo Instituto de Tecnologia Social (ITS, 2010), que faz menção a
fatores para o desenvolvimento local, conforme a Figura 23.

Conforme o Instituto de Tecnologia Social (ITS, 2007), as características das


tecnologias sociais são a transformação social, a sustentabilidade socioambiental e
econômica, o diálogo entre diferentes saberes, a acessibilidade e apropriação das
tecnologias, entre outras. Essas características permitem estabelecer relações entre
as pessoas e o desenvolvimento das comunidades locais.

Levando em consideração os recursos das comunidades e a aplicabilidade de


tecnologias sociais, é possível inferir que as tecnologias sociais contribuem para a
melhoria da qualidade de vida da comunidade, através do aumento das relações
sociais entre os membros de uma comunidade responsável pelo desenvolvimento de
uma tecnologia social, fortalecendo a sua confiança e a cooperação. Neste sentido, é
importante considerar que as tecnologias sociais podem favorecer as comunidades
de muitas maneiras, sempre e quando se considerem as características particulares
de cada comunidade e as relações que envolvam o capital social, econômico e
cultural.

No momento em que atores sociais integrados a comunidades decidem


conjuntamente fazer um projeto de tecnologia social, eles iniciam um conjunto de
relações, que necessariamente deve considerar aspectos tais como transferência de
tecnologia, informação, formação técnica, formulação de projeto na área de prioridade
estabelecida pela comunidade, formas de participação, responsabilidades, entes
financiadores, entre outros.
75

Figura 23. Fatores considerados para o desenvolvimento local


Fonte: Adaptado de ITS (2010)

Neste sentido, é possível tentar representar esse conjunto de relações que


ilustram tecnologias sociais no processo de melhoramento das condições de vida das
comunidades. Levando em consideração o assinalado por Marteleto e Silva (2004),
os fluxos de informação e conhecimento produzidos pelos laços existentes entre os
membros da comunidade dependem de características culturais, sociais, econômicas
e políticas que também determinam a participação de cada um.

O conceito e a aplicação de tecnologias sociais foram criados como uma


opção tecnológica que pudesse vencer as deficiências da tecnologia convencional,
principalmente, no que se refere à capacidade de ser útil as pessoas que a utilizam.

Outro aspecto diferenciador concerne à apropriação dos conhecimentos, ao


seu uso e reaplicação. Na tecnologia social esses aspectos são endereçados
à população e aos atores envolvidos. Isso é coerente com o processo
democrático de tomada de decisão e elimina a possibilidade de apropriação
privada dos conhecimentos por meio de direitos de propriedade industrial
(patentes de invenção, modelo de utilidade, marcas etc.) (RODRIGUES;
BARBIERI, 2008, p. 1083).
76

Segundo Garcia (1987) e Dagnino (2004), a tecnologia social surgiu como


uma alternativa de cunho tecnológico para ser capaz de vencer a visão linear do
desenvolvimento da ciência e tecnologia (determinismo tecnológico) e o inadequado
aparato tecnológico importado em função desta. Partindo deste princípio, pode-se
afirmar que a tecnologia social pode superar a ideia de que deve ser utilizada como
um recurso ou solução de curto prazo que considera a “[...] realidade presente em
uma perspectiva de mudança futura [...]” (FREITAS, 2012, p.23). Portanto criar e
desenvolver uma tecnologia social deve ter como objetivo principal proporcionar às
pessoas que a utilizam uma melhoria de sua condição futura, tornando-os
beneficiários do seu próprio uso e finalidade.

O desenvolvimento de uma tecnologia social pode ser utilizada como uma


solução tecnológica que deverá contribuir com as pessoas que a utilizam, de forma
que o seu uso resulte numa transformação social e no desenvolvimento econômico
sustentável da comunidade. Vale ressaltar que algumas deficiências e restrições
podem ocorrer no desenvolvimento da tecnologia social, tornando-se fundamental
uma adequação da mesma, levando em consideração as características ou requisitos
sociais e ambientais da comunidade que irá utilizá-la.

Maltez (2014, p. 136) elenca aspectos das tecnologias sociais que nortearam
uma pesquisa sobre Turismo de Base Comunitária: a tecnologia social é (a) adaptada
para empreendimentos auto gestionários, de pequeno tamanho; (b) desenvolvida de
forma descentralizada sem valorizar ou estimular hierarquias nos empreendimentos;
(c) tem a possibilidade de apropriação pelas comunidades que participam da criação,
desenvolvimento, implementação e organização dessas tecnologias; (d) é voltada
para a solução de problemas sociais e/ou ambientais locais, na perspectiva dos
grupos imediatamente envolvidos, visando a dinamização da criatividade e da
economia, com capacidade de articulação entre saberes tradicionais e conhecimentos
técnicos e científicos; e (e) possui simplicidade no seu desenvolvimento e facilidade
de reaplicabilidade.

Considerando estes aspectos e a revisão da literatura aqui apresentada, são


definidas dimensões para delinear a observação sistemática sobre tecnologia social
no campo de pesquisa:

• Autogestão e micro ou pequeno empreendimento;


77

• Gestão descentralizada;
• Apropriação pela comunidade com sua participação na criação,
desenvolvimento, implementação e organização dessas tecnologias;
• Voltada para a solução de problemas sociais e/ou ambientais locais,
visando a dinamização da criatividade e da economia, articulando
saberes tradicionais e conhecimentos tecno-científicos;
• Simplicidade no seu desenvolvimento e facilidade de (re)
aplicabilidade.

Nesta perspectiva de desenvolvimento ou de reaplicação de uma tecnologia


social, para efeito de sua análise, não se deve considerar, de acordo com Dagnino
(2007), a tecnologia social como uma intervenção que seja apenas pontual, como
solução de curto prazo para uma comunidade. Ela deve ser compreendida como um
processo, que considera a realidade presente em uma perspectiva de mudança futura,
“[…] nesse fato reside o desafio de concebê-la e aplicá-la como um mecanismo de
intervenção que possibilite a ampliação das condições humanas de seus beneficiários,
na busca da emancipação destes” (FREITAS, 2012, p.23). E esta concepção permeou
a pesquisa de campo desta tese.
78

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Ao longo do desenvolvimento desta pesquisa foi assumido que a


multiplicidade que nos cerca não pode ser definida de acordo com um único
referencial, mas, sim, de acordo com uma visão construída, a partir da
multirreferencialidade que define os fatos sociais e incorpora uma perspectiva
epistemológica que lhe é própria.

Frente aos fatos sociais o pesquisador não é capaz de ser absolutamente


objetivo. Ele tem suas preferências, inclinações, interesses particulares,
caprichos, preconceitos, interessa-se por eles e os avalia com base num
sistema de valores pessoais. […] E é com base nessas preconcepções, que
24
irá abordar o objeto de seu estudo (GIL, 2008a, p. 5) .

A metodologia aqui utilizada se caracterizou por aceitar o processo de


construção e reconstrução do tema desta tese, fortalecendo o embasamento teórico
para o nível da investigação realizado. Este argumento metodológico levou em conta
as relações dinâmicas entre os diversos atores que fazem parte de uma comunidade,
capazes de atuar no aumento de uma rede interacional, promovendo laços dialógicos
de cooperação entre as pessoas.

A abordagem da realidade social que foi utilizada nesta tese proporcionou os


subsídios para a análise de aspectos do capital social em uma comunidade do Estado
de Alagoas, onde houve o desenvolvimento de uma tecnologia social.

Considerou-se esta uma pesquisa social já que este tipo de pesquisa refere-
se ao “[…] processo que, utilizando a metodologia científica, permite a obtenção de
novos conhecimentos no campo da realidade social” (GIL, 2008a, p.26). Teve-se,
portanto, como princípio o cumprimento de uma série de normativas recomendadas
para os estudos científicos, para que desenvolver a pesquisa de campo, seguindo a
lógica e a determinação das questões metodológicas científicas. Para tanto, tomou-
se a multirreferencialidade como método de abordagem epistêmica.

Assim, o método que dá fundamentação epistemológica a esta pesquisa é a


multirreferencialidade, pois compreende-se que é o que melhor define o itinerário para

24
Embora alguns pesquisadores não recomendem as obras de Antônio Carlos Gil, aqui serão usadas
citações de Gil que coadunam com as ideias do autor desta tese, e que serão devidamente
referenciadas.
79

este estudo. Tal entendimento está baseado na perspectiva do desenvolvimento de


novos conhecimentos, nascidos das observações investigativas, da análise dos fatos,
das práticas, das situações efetuadas e da interpretação dinâmica e totalizante da
realidade.

[…] necesario comprender el análisis multirreferencial como una lectura


plural, bajo diferentes ángulos, de los objetos que quiere aprehender, en
función de sistemas de referencias supuestamente distintos, no reductibles
los unos a los otros […] Por consecuencia, desde el punto de vista del saber,
le interesa tanto al psicólogo como al psicólogo social, al economista como al
sociólogo, al losofo como al historiador, etcétera. En el plano de la acción, se
advierten múltiples competencias necesarias tanto para la inteligencia
practica como para la gestión de situaciones concretas. Solo se puede
esperar emprender seriamente el análisis de tales prácticas a partir del
reconocimiento de su complejidad y, por consecuencia, de una comprensión
considerablemente re trabajada del status de su opacidad. (ARDOINO, 1991,
25
p.1)

Assim, considera-se que a análise de dimensões do capital social em uma


comunidade envolve o reconhecimento da imbricação do pesquisador no objeto-
processo,

[…] já que nem ele [o objeto] nem o pesquisador tem em si mesmos as


condições para sua inteligibilidade. É uma análise hermenêutica, que
pressupõe a interpretação, a implicação, a mediação do investigador e a
consideração das interrelações que tal objeto-processo estabelece
circunstancialmente (BURNHAM, 2007, p. 8).

Consequentemente para a compreensão de algumas das dimensões


trabalhadas neste estudo e, mais especificamente, aquelas que se circunscrevem no
âmbito do entendimento do capital social, pode-se afirmar, compactuando com
Burnham (2007, p. 3), que:

A perspectiva multirreferencial […] busca apreender a realidade (se isto for


possível) através e a partir de visões e sistemas de referência diversos,
irredutíveis, expressos por linguagens distintas, de modo a capturar o menos
reducionistamente possível a complexidade da situação em estado de
pesquisa.

25
[…] necessário entender a análise multirreferencial como uma leitura plural, sob diferentes ângulos,
dos objetos que você quer entender, em função de diferentes sistemas de referência supostamente
não redutíveis uns aos outros [...] Por conseguinte, do ponto de vista do conhecimento, a
multirreferencialidade interessa ao psicólogo, ao psicólogo social, ao economista, ao sociólogo, ao
filósofo, ao historiador etc. No plano da ação, são necessárias múltiplas competências tanto para a
inteligência prática como para a gestão de situações específicas. Só se pode esperar empreender
seriamente a análise de tais práticas a partir do reconhecimento de sua complexidade e,
consequentemente, de uma compreensão consideravelmente reformulada do estado de sua opacidade
(ARDOINO, 1991, p.1, tradução nossa).
80

Portanto, a escolha da multirreferencialidade como método epistêmico para


este estudo possui caráter crítico e de criação científica, buscando articular:

[…] a conjugação de uma série de abordagens, de tal forma que elas não se
reduzam umas às outras e nos levem a um tipo de conhecimento que se
diferencia daquele que é concebido na ótica do cartesianismo e do
positivismo […] tendo como objetivo estabelecer um novo “olhar” sobre o
“humano”, mais plural, a partir da conjugação de várias correntes teóricas, o
que se desdobra em nova perspectiva epistemológica na construção do
conhecimento sobre os fenômenos sociais […] (MARTINS, 1998, p.1).

Desta forma a construção do conhecimento nesta pesquisa se evidencia,


principalmente, pela pluralidade e heterogeneidade, considerando que, como dito
antes, a compreensão da multiplicidade atual requer a interação de visões de diversas
áreas do conhecimento e de diferentes referenciais sociais, ou seja, uma visão
multifacetada, construída conjuntamente pelas visões de diversos referenciais e de
diversas áreas do conhecimento, incorporando uma perspectiva epistemológica que
lhe é própria.

Para uma compreensão mais completa do objeto, é preciso levar em conta o


contexto em que ele se situa. Assim, para compreender melhor a
manifestação geral de um problema, as ações, as percepções, os
comportamentos e as interações das pessoas devem ser relacionadas à
situação específica onde ocorrem ou à problemática determinadas a que
estão ligadas (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 18-19).

Esta análise metodológica leva em conta as relações dinâmicas entre as


pessoas que fazem parte de uma rede interacional, capazes de atuar na construção
dos laços sociais, organizando os sistemas de troca, controle, dependência,
cooperação e conflito, promovendo laços dialógicos entre as pessoas através da
interação contínua dos seus agentes na perspectiva de uma maior inclusão social,
considerando que cada objeto de pesquisa traz implícito os métodos e técnicas mais
próprios para seu estudo.

A multirreferencialidade da pesquisa é garantida de diversas formas,


sobretudo, por coletar dados de múltiplas fontes, com visões diferentes, não redutíveis
entre si, a exemplo dos membros de uma associação comunitária, a Associação
Aroeira, dos membros da organização não governamental denominada de Instituto
Ecoengenho que colaborou no desenvolvimento da tecnologia social, e de
representantes da comunidade de Piaçabuçu.
81

3.1 Classificação da pesquisa

Esta tese tomou como método basilar da pesquisa de campo o estudo de caso
homogêneo (YIN, 2010), pois o caso de estudo é único (dimensões do capital social
relacionadas ao desenvolvimento de uma tecnologia social) com uma única unidade
de análise (Associação Aroeira). O estudo tem procedimentos de coleta de dados
baseados em pesquisa de levantamento. De acordo com a análise desenvolvida para
compreender o objeto de estudo, a investigação empreendida seguiu a configuração
mostrada na Figura 24.

Figura 24. Classificação da pesquisa


Fonte: Elaborado pelo autor

Quanto à natureza, o estudo tem um perfil de pesquisa aplicada, já que


analisou dimensões do capital social relacionadas ao desenvolvimento de uma
tecnologia social dirigida à solução para um problema real e específico na Associação
82

Aroeira. A tecnologia social de produção da pimenta-rosa poderá ser extrapolada para


outras realidades similares.

Ferrari (1982, p.171), destaca que toda pesquisa “pode contribuir


teoricamente com novos fatos para o planejamento de novas pesquisas ou mesmo
para a compreensão teórica de certos setores do conhecimento”. Especificamente em
relação às pesquisas aplicadas, estas têm como característica fundamental o
interesse na aplicação, utilização e consequências práticas dos conhecimentos
(FERRARI, 1982). Todavia, vale lembrar que a pesquisa aplicada apresenta muitos
pontos de contato com a pesquisa pura, pois depende de suas descobertas e se
enriquece com o seu desenvolvimento.

A forma da abordagem do problema proposto referendando o objetivo deste


estudo se deu pela utilização combinada de técnicas, com abordagem prioritariamente
qualitativa, mas valendo-se de abordagem quali-quantitativa, já que, utilizou dados
representados por valores numéricos, porém valorizando sempre os fatos sociais “[...]
são produzidos por seres que sentem, pensam, agem e reagem, sendo capazes,
portanto, de orientar a situação de diferentes maneiras” (GIL, 2008b, p.5). A utilização
de apenas uma abordagem pode não ser suficiente para abarcar todas as facetas da
realidade que se conforma como complexa e multirreferencial, tornando a relação
destes métodos complementares e de articulação. Assim, a utilização de abordagens
qualitativas e quantitativas revelou-se estratégica para a análise desta pesquisa,
demonstrando a necessidade da identificação de contextos específicos, que levam à
associação ou, pelo menos, à complementaridade entre os métodos, permitindo
aprofundar o problema e construir os dados para validar ou não o pressuposto
levantado neste estudo.

As abordagens quantitativa e qualitativa são necessárias, mas muitas vezes


insuficientes para abarcar toda a realidade observada. Em tais circunstâncias,
devem ser utilizadas como complementares. Do ponto de vista metodológico,
não há contradição […] do ponto de vista epistemológico, nenhuma das
abordagens é mais científica do que a outra, mas são de natureza diferente.
A relação entre abordagem quantitativa (objetividade) e a qualitativa
(subjetividade) não pode ser pensada como de oposição ou contrariedade,
como também não se reduz a um continuum. As duas abordagens permitem
que as relações sociais possam ser analisadas nos seus diferentes aspectos:
a pesquisa quantitativa pode gerar questões para serem aprofundadas
qualitativamente, e vice-versa (BRUGGEMANN; PARPINELLI, 2008, p.564).
83

Como dito, o maior enfoque, entretanto, foi dado à abordagem qualitativa, pois
os dados são predominantemente descritivos com o reconhecimento da experiência
social e da singularidade do sujeito, focalizando suas particularidades e as suas
especificidades, de acordo com as observações feitas, que serviram de fundamento
para a análise dos dados com base nos referenciais teóricos.

A pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no


mundo. […] envolve uma abordagem naturalista, interpretativa, para o
mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus
cenários naturais, tentando entender, ou interpretar os fenômenos em termos
dos significados que as pessoas a eles conferem. (DENZIN; LINCOLN, 2006,
p. 17).

Quanto aos seus objetivos, a pesquisa de campo foi, inicialmente,


exploratória, pois a proximidade com objeto da pesquisa se torna imperativo para
aprofundar o pouco conhecimento acumulado e sistematizado, tornando o
levantamento dos dados necessário para a análise proposta para este estudo, pois o
critério adotado para a escolha levou em conta que estas pesquisas

[...] têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que
estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a
descoberta de intuições. (GIL, 2008a, p.41).

Na etapa de pesquisa exploratória, seu planejamento foi, portanto, bastante


flexível, de modo que possibilitou a consideração dos mais variados aspectos relativos
ao fato estudado.

Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental,


entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos de
amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados […] (GIL, 2008a,
p.27).

De posse dos dados da pesquisa exploratória, a pesquisa evoluiu para uma


etapa descritiva, visando uma apreensão cada vez maior do objeto de pesquisa e a
construção de meio para analisá-lo, ou seja, o ponto de partida foi um processo
observacional de familiarização com o problema e seu cenário, para torná-lo mais
explícito.

As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das


características de determinada população ou fenômeno ou, então, o
estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que
podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais
significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados,
tais como o questionário e a observação sistemática (GIL, 2008a, p.42).
84

Portanto, corroborando com a ideia formativa e conceitual para a análise


proposta neste estudo, a passagem de pesquisa exploratória para pesquisa descritiva
visou identificar os fatores que contribuíram para a ocorrência do fenômeno analisado,
levando em conta as dimensões ao capital social analisadas, relativas a um grupo
específico e previamente determinado de pessoas da comunidade pesquisada. Assim,
na etapa descritiva, foram analisadas dimensões do capital social, dando ênfase à
capacidade associativa, à confiança interpessoal, à cooperação e sociabilidade.

Quanto aos procedimentos, o método basilar da pesquisa foi o estudo de


caso, para o qual foram utilizados inicialmente procedimentos de pesquisa
bibliográfica e documental, com leitura e fichamento, com objetivo de referenciar
teoricamente os conceitos e procedimentos, recorrendo-se aos autores que discutem
sobre capital social e tecnologia social, e sobre procedimentos de pesquisa. A
pesquisa bibliográfica e documental foi realizada com a leitura de livros, periódicos
científicos, teses e dissertações, além de documentos em meio eletrônico que
apresentavam relação com a temática em estudo e que foram relevantes para
enriquecer a pesquisa e fornecer as fundamentações teóricas necessárias. Assim, a
coleta e a sistematização dos dados das fontes bibliográficas e documentais foram
desenvolvidas em bibliotecas convencionais, bases de dados, pesquisa em sistemas
de busca, fichamentos com resumos para a análise e interpretação de textos e dados.

Na etapa de pesquisa de campo, o levantamento das informações junto aos


atores sociais permitiu a construção de um cenário adequado, aprofundando os
conhecimentos sobre as temáticas necessárias para o desenvolvimento da tese.

A linguagem na pesquisa é inexorável, daí sua importância, seja como meio


de comunicação seja como ferramenta para a produção de conhecimento
científico, tanto na geração de dados e produção de resultados em relação a
um determinado problema quanto na posterior análise dos mesmos
(MICHINEL, 2006, p.2).

Foi utilizado como um dos procedimentos técnicos de investigação a


observação, com roteiro sistemático, que é apresentado no Apêndice AP-A. Na busca
de um maior aprofundamento das questões propostas, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas, com roteiro apresentado no Apêndice AP-B. Foi utilizado também
como ferramenta para a coleta de dados um formulário semiestruturado, que consta
do Apêndice AP-C. O detalhamento desses procedimentos é apresentado na próxima
seção.
85

3.2 A pesquisa de campo e a análise de dados

A fim de obter dados multirreferenciais acerca do objeto deste estudo, foram


coletadas informações junto a diferentes sujeitos de pesquisa, cujo número de
participantes e pessoas pesquisadas estão indicadas no Quadro 05.

Quadro 05. Sujeitos e instrumentos de pesquisa

Número de
Número de Instrumento de
Sujeitos de pesquisa Pessoas
participantes pesquisa
pesquisadas
Gestores e Membros da Associação
75 pessoas 60 pessoas Formulário
Aroeira
Gestores da Associação Aroeira 5 pessoas 5 pessoas Entrevista
Membros do Instituto Ecoengenho 3 pessoas 2 pessoas Entrevista
Representantes da Comunidade 3 pessoas 3 pessoas Entrevista
Fonte: Elaboração Própria (2015)

Tendo como objetivo investigar dimensões do capital social dos membros de


uma associação de trabalhadores extrativistas no Estado de Alagoas onde houve o
desenvolvimento de uma tecnologia social, a pesquisa foi realizada com membros da
Associação Aroeira pertencentes a comunidade extrativista da pimenta-rosa de
Piaçabuçu, constituída por aproximadamente 75 pessoas. Considerando que
aproximadamente 50% são analfabetos, de acordo com observação feita na pesquisa
de campo, optou-se pela utilização do formulário, instrumento que pode ser auto
respondido ou aplicado oralmente pelo pesquisador. O formulário foi aplicado
oralmente pelo pesquisador.

Do total de 75 pessoas elegíveis, o formulário foi aplicado a 60 pessoas. Não


participaram da pesquisa 15 membros da Associação (80%), devido a precariedade
do acesso a estas pessoas no campo de pesquisa, local onde moram e trabalham os
membros da comunidade extrativista da pimenta-rosa, membros da Associação
Aroeira.

Na definição da amostra intencional para o estudo de campo, foi considerado


que “[...] a pesquisa não se baseia no critério numérico para garantir representividade”
(BRUGGEMANN; PARPINELLI, 2008, p.43), mas que a amostra deve levar em
consideração a vinculação com o problema pesquisado.

A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa, mas a análise dos


documentos resultou em diligência por parte do Comitê, solicitando assinatura de
86

documentos por responsáveis institucionais da UFBA no período de greve das


universidades. Como já haviam sido obtidas as declarações de anuência à
participação da Associação Aroeira e do Instituto Ecoengenho, e como o projeto já
havia sido aprovado na banca de qualificação, para não atrasar muito a pesquisa,
optou-se por iniciar os procedimentos de campo, requerendo dos participantes da
pesquisa a assinatura dos termos de consentimento livre e esclarecido.

Assim, na aplicação do formulário, procurou-se deixar os respondentes livres


de qualquer coerção, intimidação ou pressão. Vale lembrar que o caráter metódico da
aplicação do formulário pode ocasionar o não estabelecimento de uma perfeita
relação de confiança entre pesquisador e respondente, ocasionando uma atmosfera
pouco favorável para abordar as perguntas e obter as respostas desejadas com a
devida confiabilidade. Buscou-se criar esta relação de confiança.

As pesquisas deste tipo se caracterizam pela interrogação direta das pessoas


cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se à
solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do
problema estudado para em seguida, mediante análise quantitativa, obter as
conclusões correspondentes dos dados coletados (GIL, 2008b, p.55).

A título de referencial de consulta, o formulário aplicado nesta pesquisa de


levantamento (Survey) foi elaborado levando em consideração o material
disponibilizado pelo Banco Mundial em 2003, denominado de Questionário Integrado
para Medir Capital Social (QI-MCS). O QI-MCS foi elaborado a partir de aplicações26
em alguns países considerados com baixo índice de capital social pelos autores

26
O material primário no qual se baseia o survey do Banco Mundial reúne as lições aprendidas nos
seguintes estudos (enumerados em ordem cronológica):
· O Survey sobre Capital Social na Tanzânia coletou dados sobre participação em associações e
confiança, e relacionou esses conceitos ao acesso a serviços e tecnologia agrícola (NARAYAN;
PRITCHETT, 1999).
· O Estudo Sobre Instituições de Nível Local coletou dados comparáveis sobre capital social estrutural
na Bolívia, em Burkina Faso e na Indonésia. A análise focalizou o papel do capital social em relação ao
bem-estar e à pobreza doméstica, acesso ao crédito, e ação coletiva (GROOTAERT, 2001).
· A Iniciativa do Capital Social patrocinou 12 estudos acerca do papel do capital social em projetos
setoriais e no processo de criação e destruição de capital social. As lições empíricas foram
apresentadas em dois volumes (GROOTAERT; BASTALAER, 2001, 2002).
· O Survey sobre Capital Social em Gana e Uganda coletou dados sobre grupos e redes, bem-estar
subjetivo, engajamento político, sociabilidade, atividades comunitárias, violência, criminalidade e
comunicações (NARAYAN; CASSIDY, 2001).
· O Levantamento acerca da Pobreza na Guatemala combinou uma Pesquisa de Padrão de Vida (PPV),
com o módulo de capital social (IBÁÑEZ; LINDERT; WOOLCOCK, 2002).
87

Grootaert, Narayan, Jones e Woolcock (2003). O modelo QI-MCS considera a


realidade analisada em regiões diferentes como: Nigéria, Albânia, Tanzânia, Bolívia,
Burkina Faso, Gana, Uganda, Guatemala.

O objetivo do Questionário Integrado para Medir Capital Social (QI-MCS) é


prover um conjunto de questões essenciais do tipo survey para todos aqueles
interessados em gerar dados quantitativos sobre várias dimensões do capital
social […] (GROOTAERT; NARAYAN; JONES; WOOLCOCK, 2003, p. 3).

Elaborou-se um formulário semiestruturado, de modo que ele pudesse ser


modificado de acordo com as diferentes situações apresentadas durante a etapa de
pesquisa de campo, considerando a importância do aspecto multidimensional do
capital social e os objetivos traçados para este estudo. Ressalta-se que, embora as
questões do formulário tenham sido cuidadosamente elaboradas, inclusive quanto à
clareza delas, as modificações durante a aplicação do formulário originaram-se da
dificuldade que alguns respondentes apresentaram na compreensão das perguntas.
Assim, algumas delas foram reformuladas para facilitar tal compreensão.

O formulário foi adaptado ao contexto da comunidade analisada,


considerando o perfil do público-alvo; o problema, os objetivos, o pressuposto da
pesquisa e a associação das abordagens qualitativa e quantitativa para a construção
de um resultado mais detalhado a respeito da percepção dos trabalhadores
extrativistas quanto às diferentes dimensões do capital social. Assim, o formulário
utilizado nesta pesquisa tem pouquíssima semelhança aos questionamentos
utilizados no modelo QI-MCS do Banco Mundial.

Mesmo reconhecendo a possibilidade de diversas abordagens sobre o capital


social, devido ao seu caráter multidimensional, utilizou-se nesta pesquisa quatro
dimensões para a organização do formulário: Capacidade associativa, Confiança,
Cooperação e Sociabilidade. Estes aspectos não foram escolhidos de forma aleatória,
já que foi utilizando para esta escolha um criterioso embasamento teórico, pois estas
são as dimensões mais relevantes do capital social. Assim, com base no referencial
teórico, estes aspectos foram considerados as principais formas de caracterizar o
capital social na comunidade pesquisada.

As questões do formulário foram apresentadas na forma de questões


fechadas. Nelas, “[…] pede-se aos respondentes para que escolham uma alternativa
dentre as que são apresentadas numa lista. São as mais comumente utilizadas,
88

porque conferem maior uniformidade às respostas e podem ser facilmente


processadas” (GIL, 2008b, p.123).

As entrevistas aqui utilizadas tiveram o objetivo de, como uma técnica de


investigação social, obter informações sobre as características pré-existentes e
existentes do capital social membros da Associação Aroeira, possibilitando um maior
número de respostas do entrevistado e oferecendo as seguintes vantagens no campo
da pesquisa social:

a) não exige que a pessoa entrevistada saiba ler e escrever;


b) possibilita a obtenção de maior número de respostas, posto que é mais
fácil deixar de responder a um formulário do que negar-se a ser entrevistado;
c) oferece flexibilidade muito maior, posto que o entrevistador pode esclarecer
o significado das perguntas e adaptar-se mais facilmente às pessoas e às
circunstâncias em que se desenvolve a entrevista;
d) possibilita captar a expressão corporal do entrevistado, bem como a
tonalidade de voz e ênfase nas respostas (GIL, 2008b, p.110).

O uso da entrevista neste trabalho respeitou a natureza da informação e do


fenômeno estudado, que ficaria difícil ou impossível de ser apenas observado,
portanto a entrevista possibilitou

[...] não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação
e a compreensão de sua totalidade [...] além de manter a presença consciente
e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações (TRIVIÑOS,
1987, p. 152).

Adicionalmente, foi realizada uma observação sistemática. A escolha desta


técnica decorreu do fato de ela fornece detalhes ao pesquisador, por basear-se na
descrição do que é observado, e na qual o pesquisador utiliza todos os cincos
sentidos, valendo-se de um roteiro que norteia o registro do fenômeno estudado, com
uso de anotações, gravador, câmera fotográfica ou filmadora. Esta técnica é uma das
mais utilizadas nas ciências sociais.

A observação estruturada é também conhecida como sistemática, planejada


ou controlada. Tem em vista objetivos e propósitos predefinidos, logo, requer
[...] planejamento prévio, cuidadoso, específico, para o registro do que atende
aos propósitos do pesquisador (VERGARA, 2009, p. 75).

De acordo com Breakwell (2010, p.136), “A observação pode revelar o que


fazem as pessoas, como elas fazem e como isso é influenciado e, por sua vez, tem
influência sobre o ambiente social dentro do qual têm suas ações”.
89

Assim sendo, a observação forneceu dados para compreensão da tecnologia


social. O formulário aplicado aos membros da Associação permitiu compreender as
dimensões do capital social da comunidade. Por fim, as entrevistas contribuíram
também para investigar as dimensões do capital social dos membros de uma
Associação no Estado de Alagoas onde houve o desenvolvimento de uma tecnologia
social.
Ao longo do período de coleta de dados, paralelamente era realizada a análise
dos dados já coletados, confirmando ou refutando os questionamentos levantados,
para a produção do conhecimento proposto para este estudo. Assim, a análise dos
dados aconteceu concomitante ao processo de pesquisa, promovendo um exame
detalhado das informações colhidas no campo.

A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que
possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para a
investigação. Já a interpretação tem como objetivo a procura do sentido mais
amplo das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros
conhecimentos anteriormente obtidos (GIL, 2008b, p.156).

A análise permitiu confirmar o pressuposto traçado inicialmente e os que


surgiram durante a pesquisa de campo, permitindo verificar se os objetivos foram
cumpridos.

A análise de dados foi baseada em inferências fundamentadas no referencial


teórico, considerando que foi extraído dele um marco teórico balizador com categorias
e dimensões de análise, e nas reflexões advindas da observação deste pesquisador,
sempre balizadas pela multirreferencialidade.

A análise de dados usou a triangulação. O conceito de triangulação,


amplamente usado nas ciências humanas e nas sociais, decorre das ciências
militares: na navegação e da topografia, a triangulação é empregada como método
para fixar ou para determinar geograficamente uma posição (AZEVEDO et al., 2015).
Assim foi feita uma triangulação dos dados da observação sistemática, dos
formulários e das entrevistas a fim de aprofundar a validação das evidências colhidas
no campo de pesquisa.

Os instrumentos desta pesquisa foram avaliados por banca multidisciplinar,


composta por 5 doutores, na etapa acadêmica da qualificação desta tese, em 07 de
maio de 2015. Assim sendo, durante o período de 27 de maio a 15 de julho de 2015,
90

foi efetivada a pesquisa de campo, totalizando um período de 45 dias, que serviram


para fazer os levantamentos propostos.

Se establece el contacto con ellos y/o ellas en caso de que no se les conozca
previamente; se les invita a participar informándoles de los objetivos y fines
de la investigación, y solicitando su consentimiento para la publicación de los
27
resultados que puedan obtenerse. (MONTERO, 2006, p. 240)

Ao longo da pesquisa de campo, foram utilizados os diversos procedimentos


para coleta de informações, procedimentos que se tornaram fundamentais no
processo de construção e interpretação dos dados coletados. Foi feito contato
telefônico e presencial com os membros da Associação Aroeira, especialmente com
a atual presidente da Associação Aroeira, Santos Ferreira, e o atual vice-presidente,
Rocha dos Santos, conhecido na região como “Mimo”. Ambos foram os interlocutores
deste pesquisador com a comunidade extrativista, durante a pesquisa de campo,
desempenhando um papel fundamental no processo de contato com as pessoas
pesquisadas para a análise proposta, o modo colaborativo destes personagens e a
confiança existente dos sujeitos pesquisados com estas pessoas, contribuíram de
forma significativa para que as pessoas da comunidade participassem, com as
informações necessárias para esta análise.

Após visita a comunidade para uma prévia apresentação dos objetivos da


pesquisa, foram feitas outras visitas aos membros da associação para que
assinassem ou se identificassem com a digital nos termos de consentimento livre e
esclarecido e de autorização de uso de imagem e/ou depoimento.

O formulário foi aplicado pelo pesquisador graças a confiança existente com


os interlocutores, que se fizeram presentes no momento inicial da aplicação do
formulário.

27
Estabelece-se o contato com eles e/ou elas no caso de não os conhecer previamente; convida-os a
participar, informando-lhes de os objetivos e fins da investigação, e solicitando seu consentimento para
a publicação dos resultados que se possam obter. (MONTERO, 2006, p. 240, tradução nossa)
91

3.3 Uma análise de coerência da pesquisa

A fim de garantir que fossem atingidos os objetivos desta tese, foi feita uma
análise de coerência da proposta de pesquisa considerando, o objetivo geral, que trata
da análise de dimensões do capital social dos membros de uma Associação no Estado
de Alagoas onde houve o desenvolvimento de uma tecnologia social. Para nortear o
alcance do objetivo da tese, os objetivos específicos foram relacionados aos
procedimentos e às fontes de dados, conforme Quadro 06.

Quadro 06. Relação entre objetivos, procedimentos e fontes

Objetivos específicos Procedimentos Fonte

Compreender as
características da tecnologia Observação sistemática Pesquisador
social estudada
Analisar se o 1) Gestores e Membros da
desenvolvimento de uma Associação Aroeira
tecnologia social resultou em 1) Formulário
mudança da capacidade 2) Gestores da Associação
associativa das pessoas na 2) Entrevistas Aroeira, Instituto
comunidade extrativista da Ecoengenho e Cidadãos de
Aroeira. Piaçabuçu

1) Gestores e Membros da
Analisar se o Associação Aroeira
desenvolvimento de uma 1) Formulário
tecnologia social resultou em 2) Gestores da Associação
mudanças na confiança entre 2) Entrevistas Aroeira, Instituto
as pessoas Ecoengenho e Cidadãos de
Piaçabuçu
Analisar se o 1) Gestores e Membros da
desenvolvimento de uma Associação Aroeira
tecnologia social resultou em 1) Formulário 2) Gestores da Associação
mudanças na cooperação 2) Entrevistas Aroeira, Instituto
entre as pessoas da Ecoengenho e Cidadãos de
associação Aroeira Piaçabuçu
Analisar se o 1) Gestores e Membros da
desenvolvimento de uma Associação Aroeira
tecnologia social resultou em 3) Formulário 2) Gestores da Associação
mudança na sociabilidade 4) Entrevistas Aroeira, Instituto
dos membros da associação Ecoengenho e Cidadãos de
Aroeira Piaçabuçu
Fonte: elaborado pelo autor

O próximo capítulo apresenta os resultados e a discussão deles visando


desvelar o objeto da pesquisa e compreender como o desenvolvimento de uma
tecnologia social pode afetar as dimensões pesquisadas do capital social da
comunidade.
92

4 ANÁLISE DE RESULTADOS

A pesquisa de campo teve a coleta de informações no período de 27 de maio


a 15 de julho de 2015, totalizando 45 dias de contato contínuo com o locus de estudo,
por meio de aplicação de formulários, realização de entrevistas e observação
sistemática, especialmente junto aos membros da Associação Aroeira, pertencentes
à comunidade extrativista da Aroeira Vermelha, localizada no Município de Piaçabuçu
no Estado de Alagoas, Brasil.

Aqui são apresentados os resultados dos diferentes procedimentos de


pesquisa. Em relação aos formulários, os dados coletados são apresentados por meio
de um conjunto de gráficos, produto das informações levantadas. Em conjunto, essas
informações contribuem para a compreensão, a descrição e a análise de diversos
aspectos abrangidos pela pesquisa.

Tendo optado por conhecer in loco a comunidade onde vivem os sujeitos da


pesquisa, este pesquisador encontrou algumas dificuldades de acesso, devido a
dispersão territorial existente entre os sujeitos da pesquisa. No município de
Piaçabuçu, em Alagoas, existem diversos povoados e terrenos onde vivem os
extrativistas da aroeira, o que dificultou conseguir aplicar os formulários na totalidade
de membros da Associação Aroeira, como era o objetivo inicial, o que não
comprometeu a análise proposta, já que 80% dos membros responderam ao
formulário. Paralelamente, a inserção no campo de pesquisa, como pesquisador e
observador, enriqueceu a colheita de informações, devido as referências advindas do
contato direto e da visão in loco, das diversas realidades existentes na comunidade
extrativista pesquisada.

De acordo com o objeto de interesse apresentado nesta tese e em


consonância com os objetivos propostos para análise, foram preparados gráficos que
trazem dados quantitativos sobre a análise das dimensões do capital social levantadas
na pesquisa de campo. Um importante aspecto a ser destacado quanto às pessoas
que foram respondentes dos formulários, refere-se à confiança e ao compromisso que
elas demonstraram em fornecer de forma transparente informações relacionadas às
perguntas, revelando comprometimento com a qualidade dessas informações.
93

4.1 Dados coletados na observação sistemática

Esta tese, de forma geral, preocupa-se com as relações entre as pessoas,


com a tecnologia e as interações sociais, considerando que o processo de construção
do conhecimento é permanente, e que o uso de uma tecnologia social pode
proporcionar o aumento de algumas dimensões do capital social de uma comunidade,
promovendo o seu desenvolvimento e suscitando condições para a inclusão social.

Como já foi dito, o locus dessa pesquisa é uma comunidade extrativista da


pimenta-rosa do município de Piaçabuçu, localizado na região do Baixo São
Francisco, no litoral sul de Alagoas. Os principais sujeitos de pesquisa são os
membros da Associação Aroeira que participam das atividades extrativistas. Essa
comunidade extrativista da pimenta-rosa, de acordo com o Caderno Técnico do
Projeto Aroeira elaborado pelo Instituto Ecoengenho (2011)28, pode agregar, no
período de colheita, até cerca de 300 pessoas, entretanto apenas 50 pessoas
participaram como sócios fundadores da Associação Aroeira (Ata de Fundação,
Anexo AN-A). No período da pesquisa, foi informado que 75 membros estavam
participando da Associação.

A Associação Aroeira foi criada a partir das necessidades da comunidade


extrativista da pimenta-rosa desta região de Alagoas, no ano de 2011. Como o próprio
nome diz, trata-se de uma comunidade extrativista, ou seja, não há um planejamento
de cultivo da aroeira-vermelha para a colheita da pimenta-rosa. Há extração do
produto vegetal, a pimenta-rosa, que não é cultivada pela comunidade. No
extrativismo, a comunidade somente coleta os recursos que a natureza lhe
proporciona e, por isso, muitas vezes o extrativismo é também chamado de coleta
vegetal.

Embora vivessem como comunidade extrativista da pimenta-rosa do


município de Piaçabuçu, até 2010 a população extrativista desconhecia-se, em sua

28
O Instituto Ecoengenho é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que
desenvolve projetos baseados em fontes renováveis. A equipe do Instituto Ecoengenho possui
experiência no desenvolvimento de projetos de energia solar fotovoltaica, solar térmica, em biomassa,
energia eólica, e está envolvido em todas as etapas dos projetos, desde o estudo de viabilidade, até a
sua implementação. O emprego dessas tecnologias tem hoje um forte componente social,
acompanhados de programas de capacitação e assistência técnica, para inclusão sócio produtiva de
populações em condições de pobreza extrema.
94

maioria, os princípios e as práticas do associativismo. Em 2010, a comunidade contou


com o apoio institucional do Instituto Ecoengenho, que em conjunto com membros
interessados da comunidade, discutiu e elaborou o Projeto Aroeira, que foi aprovado
no Edital de 2010 do Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania. A aprovação
do projeto propiciou a criação da Associação, em 2011, com uma unidade de
beneficiamento29 e um modelo de gestão sustentável, entendido como um modelo
participativo e horizontalizado.

Um projeto sustentável é o que usa os recursos naturais para a satisfação de


necessidades presentes sem comprometer a satisfação das necessidades
das gerações futuras, devendo ser: Ecologicamente correto,
economicamente viável, socialmente justo, culturalmente diverso. Um projeto
é considerado sustentável quando também alcançou autonomia financeira e
gerencial, ou seja, se tornou independente das fontes de financiamento
externas iniciais, onde o grupo-alvo gerencia todas as atividades de produção
e comercialização de maneira autônoma (Instituto Ecoengenho, Caderno
Técnico: Projeto Aroeira, 2011, p. 26)

Assim nasceu a tecnologia social aqui destacada, capaz de gerar renda para
a comunidade pertencente a cadeia produtiva extrativista da pimenta-rosa. A sede da
Associação Aroeira, onde se realizam a maioria das etapas do beneficiamento da
pimenta-rosa é mostrada na Figura 25.

Figura 25. Sede da Associação Aroeira


Fonte: acervo do autor (2015)

29
Uma Unidade Demonstrativa de beneficiamento foi construída em Piaçabuçu, a 140 km de Maceió,
com a utilização de um moderno sistema tecnológico [...] através da utilização de energia termo solar
e fotovoltaica, para a secagem e desidratação dos frutos. Disponível em
<http://www.projetoaroeira.com.br/descubra-o-projeto/unidade-de-beneficiamento/>. Acessado em: 12
de novembro de 2015.
95

A proximidade deste pesquisador com o tema surgiu das atividades


profissionais iniciadas a partir de 2005, como docente e gestor do Instituto Federal de
Alagoas (IFAL). As atividades desenvolvidas estavam ligadas à projetos de pesquisa
aplicada de extensão do IFAL, que propiciaram o contato com diversas comunidades
carentes em Alagoas, entre elas a comunidade extrativista da Aroeira e o Instituto
Ecoengenho.

Quanto à planta em torno da qual se desenvolvem as atividades da


Associação, trata-se da Schinus terebenthifolius Raddi (Anacardiaceae), conhecida
popularmente como Aroeira-vermelha. É uma árvore nativa que se reproduz do
nordeste brasileiro até o sul do Brasil. As propriedades mais importantes dos frutos da
Aroeira-vermelha são de caráter medicinal e alimentício. Esses frutos são chamados
de pimenta-rosa, possuem cor vermelha ou rosada, aromáticos, com sabor adocicado
e são utilizados na culinária de várias partes do mundo, podendo ser extraído de sua
casca e semente óleos essenciais que são utilizados na fabricação de perfumes. Na
culinária esses frutos são utilizados como condimento na cozinha do mundo inteiro
comumente comercializados também com a denominação de pimenta-rosa (Figura
26).

Figura 26. Pimenta-rosa


Fonte: acervo do autor (2015)

Segundo Lorenzi (2008), o uso medicinal da pimenta-rosa inclui banhos de


assento após o parto, tratamento de doenças do sistema respiratório e urinário,
lavagem de feridas e úlceras entre outros. Além da vasta importância econômica, a
96

espécie vegetal se destaca também na recuperação de áreas degradadas e em


programas de reflorestamento.

Ao longo da observação sistemática, em contato com os membros


constituintes da Associação Aroeira, pode-se constatar que, após a aprovação do
projeto, através da coleta (Figura 27), beneficiamento e venda da pimenta-rosa, houve
ganhos na geração de renda para a comunidade.

Figura 27. Coleta da pimenta-rosa


Fonte: acervo do autor (2015)

Observou-se também que as atividades da Associação têm unido os


extrativistas da região, por meio da oferta cursos de capacitação, envolvendo desde
a coleta, até o beneficiamento da pimenta-rosa (Figura 28). Assim, as observações
demonstram que as atividades da Associação têm transformado a vida dos
extrativistas, através da geração de renda, já que eles estão conseguindo
comercializar um produto de alto valor agregado. Isso expandiu as oportunidades de
trabalho e, gradualmente, está reduzindo as desigualdades sociais das pessoas que
fazem parte da Associação.
97

Figura 28. Secagem da pimenta-rosa


Fonte: Instituto Ecoengenho (2014)

O modelo implantado de tecnologia social incorporou diversos elementos de


eficiência energética e energias renováveis, com o uso de geradores termo solares de
ar quente (Figura 29). A expertise para isto não existia na Associação Aroeira, mas
este avanço, que deu um salta qualitativo nas atividades da Associação e no produto
comercializado, foi possível por meio da parceria com o Instituto Ecoengenho.

Figura 29. Geradores termo solares da Associação Aroeira


Fonte: acervo do autor (2015)

Na Associação Aroeira, esses geradores têm como finalidade melhorar o


beneficiamento da pimenta-rosa, através da desidratação do fruto em estufas (Figura
30) em índices inferiores a 10%, processo necessário para a conservação e
comercialização da pimenta-rosa.
98

Figura 30. Estufas para desidratação da pimenta-rosa


Fonte: acervo do autor (2015)

Foi possível observar o amadurecimento da comunidade em aspectos de


gestão solidária e ecologicamente consciente. As atividades da Associação baseiam-
se nas práticas de comércio justo e solidário, além de impactar positivamente na
recuperação e preservação da mata ciliar e vegetação de restinga nas margens do
São Francisco, importante bacia hidrográfica brasileira.

Durante a observação sistemática, este pesquisador também pode verificar


que existe na comunidade, e não só entre os membros da Associação Aroeira, fortes
laços de amizade. O elevado grau de colaboração também era perceptível, não só
nas atividades de trabalho da Associação, mas também nas atividades do dia-a-dia,
quando um membro da Associação recorria a outro, por exemplo, para olhar os filhos
enquanto ele fazia alguma atividade fora de casa, ou para compartilhar um alimento
preparado por um deles etc. A situação de pobreza une os moradores, que cooperam
entre si a fim de superar suas dificuldades. Também ficou evidenciado o quanto esses
membros da Associação interagem entre si, visitando uns aos outros, encontrando-se
em pracinhas, lanchonetes e bares. O convívio compartilhado, próximo, pelo prazer
de estarem juntos, rindo, conversando, demostrava o elevado estoque de capital
social presente na comunidade.
99

4.1.1 Características da tecnologia

A tecnologia social desenvolvida pela Associação Aroeira e estudada aqui é


o próprio processo de produção da pimenta-rosa, que inclui colheita, lavagem, pré-
secagem a frio, desidratação, seleção e envase desses frutos da aroeira-vermelha, e
inclui sobretudo uma forma de gestão associativa. Quanto a essa tecnologia
desenvolvida e utilizada pela Associação Aroeira, observou-se que suas
características foram evidenciadas a partir do impacto social que a sua aplicação
causou nas pessoas envolvidas com seu desenvolvimento, representando para estas
pessoas uma efetiva solução de transformação social.

Um dos elementos mais interessantes e cruciais deste enredo é o fato de que


a solução tecnológica discutida com o Instituto Ecoengenho – de uso dos geradores
termo solares e das estufas – foi apropriada pelas pessoas, através da discussão e
da metodologia utilizada para a aplicação da Tecnologia Social, alterando o modo
como as pessoas se relacionam, oferecendo a oportunidade de melhoria de vida, que
anteriormente era quase inexistente.

A apropriação pela comunidade com sua participação na criação,


desenvolvimento, implementação e organização dessa tecnologia social, foi verificada
por meio de diversos fatos. Os integrantes da Associação relatam que ao longo do
tempo eles passaram a ter uma ação mais crítica e buscaram maior compreensão do
uso da tecnologia em benefício social. Conceitos como colaboração, produção
coletiva de conhecimento, ressignificação da tecnologia e apropriação crítica,
passaram a servir de base para outros níveis de experimentação, criação e auto-
gestão da Tecnologia Social.

Ainda quanto aos aspectos da tecnologia social, observou-se que a gestão é


descentralizada, como se pode comprovar por meio da realização de reuniões para
discutir a participação horizontalizada das decisões no gerenciamento dos processos
de produção da pimenta-rosa.

Os fatos observados sinalizam que a participação das pessoas no


desenvolvimento da tecnologia de produção e beneficiamento da pimenta-rosa
resultou em melhoria da produção, por meio algumas oficinas e treinamentos
100

referentes a extração da pimenta-rosa. Estas observações foram confirmadas por


dados do Caderno Técnico Projeto Aroeira (INSTITUTO ECOENGENHO, 2011, p.22):

[...] a metodologia organizacional da coleta com base no padrão de qualidade


estabelecido, capacitando os participantes tanto na teoria como na prática,
[...] Definir áreas de coleta, Aguardar o ponto correto para colheita, Usar
técnicas de colheita adequadas, Organizar o transporte do campo para a
unidade de beneficiamento e programar as quantidades de frutos coletados
por dia conforme capacidade de beneficiamento.

Uma das características da tecnologia social é de ser voltada para a solução


de problemas sociais e/ou ambientais locais, na perspectiva dos grupos
imediatamente envolvidos, visando a dinamização da criatividade e da economia, com
capacidade de articulação entre saberes tradicionais e conhecimentos tecno
científicos. Tal característica foi observada na comunidade extrativista da pimenta-
rosa que aliou o saber do conhecimento tradicional com o conhecimento tecno
científico produzido, como um dos caminhos para a sua sustentabilidade, criando nas
pessoas a consciência da valorização de seus próprios conhecimentos e na
incorporação de novos saberes, tanto para agir, como para ter consciência da
responsabilidade com o outro.

Ainda quanto às características de uma tecnologia social, foi observada a


simplicidade no uso e certa facilidade de aplicabilidade da tecnologia no
beneficiamento da pimenta-rosa, ressalvando o custo das estufas termo solares, que
foram viabilizadas por meio do projeto aprovado pelo Edital financiado pela Petrobras,
como já foi dito. Estas observações se fundamentam na importância que os membros
da Associação dão ao processo de beneficiamento da pimenta-rosa usando as estufas
termo solares. Após a lavagem das sementes da aroeira, estas devem ser colocadas
nas bandejas das estufas termo solares, onde acontece a desidratação.
Posteriormente há a seleção e o envase dos frutos para a comercialização. Ficou
evidenciado o domínio, por parte dos membros da Associação, de todo o processo de
produção.

Assim pelo exposto acima, caracteriza-se a tecnologia de produção e


beneficiamento da pimenta-rosa como uma tecnologia social. Já que essa tecnologia
tem as seguintes características: por não ser poupadora de mão de obra; não ser
intensiva em insumos sintéticos; não buscar escalas ótimas de produção sempre
crescentes; por não ter sua cadência de produção dada pelas máquinas; ser
101

ambientalmente sustentável; ser monopolizada pelos próprios membros da


Associação Aroeira; por não ser segmentada e permitir controle pelos próprios
membros da Associação Aroeira; por não se preocupar em maximizar a produtividade
em relação à mão de obra ocupada; por não ser alienante e utilizar a potencialidade
dos membros da Associação Aroeira; por possuir padrões orientados pelo mercado
local, ser horizontalizada, não hierarquizada e com gestão participativa.

4.2 Dados coletados por meio do formulário

Os dados coletados a partir da aplicação do formulário foram apresentados


em gráficos, com base nas dimensões do capital social analisadas: capacidade
associativa, confiança interpessoal, cooperação e sociabilidade.

As questões relativas a estas dimensões do capital social apresentaram


resultados que, em conjunto com suas análises, ampliam o conhecimento sobre o
tema investigado. Desde à aproximação aos sujeitos da pesquisa, passando pela
tabulação e análise dos dados, pode-se dizer que buscou informações as mais
próximas da fidedignidade do objeto estudado.

Do ponto de vista do comprometimento para a abordagem sugerida nesta


tese, defende-se aqui a ideia de que o conceito denominado de capital social possa
ser tomado como uma ferramenta útil, para verificar aspectos do desenvolvimento em
uma comunidade, através do aumento da qualidade das suas relações interpessoais,
do fortalecimento das suas interações sociais e das redes de cooperação, trazendo
com isso inclusão social e desenvolvimento local, considerando que:

O conceito de Capital Social, [...] ele pode se constituir em importante


instrumento conceitual e prático para a consolidação de políticas públicas,
para o desenvolvimento sustentado e para a revitalização da sociedade civil
e da democracia. (D`ARAUJO, 2010, p. 7).

Para que a análise fosse representativa dentro do universo pesquisado, foi


utilizado um formulário com 4 partes, com um total de 16 perguntas, cujas respostas
fundamentaram a elaboração dos gráficos aqui apresentados. A coleta de dados na
pesquisa de campo enfrentou algumas dificuldades. Dos 75 membros participantes
da Associação Aroeira no período da pesquisa, apenas 60 responderam ao formulário.
A pesquisa levou em consideração que enfrentaria dificuldades. Algumas resistências
102

e os conflitos existentes das pessoas pertencentes a comunidade extrativista da


aroeira eram previsíveis, tendo em vista que estes conflitos sociais podem ser

[...] um reconhecimento coletivo de interesses que congregam ou agregam


grupos mais ou menos homogêneos e que parecem os diferenciar de outros
agrupamentos. Desse modo, não podem ser definidos apenas pelo somatório
de interesses individuais, e sim pelo reconhecimento de interesses de ordem
coletiva. (JESUS; GOMES, 2010, p.187).

Foi elaborado um formulário semiestruturado porque já se sabia que grande


parte dos respondentes poderiam ter dificuldades para responde-las. Em vários
momentos da pesquisa, a seleção de perguntas teve que ser readequada, ajustando-
se ou mudando a forma de expressão, de modo a facilitar a compreensão do
respondente quanto ao conteúdo da pergunta.

Com a finalidade de atender os objetivos traçados para o desenvolvimento


desta análise as quatro partes do formulário foram organizadas na pesquisa de campo
da seguinte forma: a primeira trata sobre capacidade associativa; a segunda, sobre
confiança interpessoal; a terceira, trata sobre cooperação; e a quarta, faz
questionamentos sobre a sociabilidade.

Responderam o formulário 60 membros da Associação Aroeira, dos quais


23% são do sexo masculino e 77% do sexo feminino, pode-se verificar que esta
participação maior de mulheres no extrativismo se deve ao fato das mesmas tentarem
reverter sua situação social através da diversificação de atividades para a geração de
renda. Na atualidade essas mulheres não só contribuem financeiramente para as
despesas de sua casa, como também para maior desenvolvimento e consolidação da
comunidade extrativista, o que possibilita a elas participar das tomadas de decisões
na Associação e nas questões ligadas a própria comunidade extrativista.

Desta maneira, a organização das mulheres da comunidade extrativista da


Aroeira resultou em diversos benefícios coletivos, dentre eles, podem-se citar, a
melhoria na qualidade de vida das famílias, a inclusão social, o aumento da
sociabilidade e da autoestima, a confiança entre seus pares e, principalmente, o
aumento das interações sociais, característica fundamental do capital social.

Respeitando a importância da questão central e as questões norteadoras


desta investigação, foram feitas de forma direta e objetiva as análises dos dados
apresentados nos gráficos a seguir, entendendo que estas análises devem servir não
103

apenas como resposta nesta tese, mas também como instrumento de motivação para
futuras análises sobre o tema, propiciando a outros pesquisadores motivação e
curiosidade para o desenvolvimento de novas teorias sobre os temas aqui discutidos.

4.2.1 Capacidade Associativa

Entre os objetivos específicos elencados nesta pesquisa, encontra-se o


questionamento sobre se o desenvolvimento de uma tecnologia social pode resultar
em mudança da capacidade associativa das pessoas na comunidade extrativista da
Aroeira. Tal questionamento considera que a importância da superação do
individualismo e da criação da confiança entre as pessoas assegura que os ganhos
coletivos sejam maiores que os individuais. Para investigar sobre esta perspectiva,
foram elaboradas quatro perguntas a fim de verificar se aconteceram mudanças na
capacidade associativa da comunidade, com a implantação da Tecnologia Social.

A primeira pergunta feita no formulário sobre capacidade associativa


(Apêndice AP-C), utilizado nesta pesquisa, se refere à forma por meio da qual se
iniciou a participação das pessoas como membros da Associação Aroeira. A pergunta
foi assim formulada: “Como uma pessoa passa a ser membro da Associação Aroeira?

100%
90%
80%
70%
60%
50%
92%
40%
30%
20%
10%
8%
0%

Sua participaçāo é solicitada


Sua participaçāo é voluntária

Gráfico 01. Dimensão do CS medida - Capacidade Associativa: “Como uma pessoa passa a ser um
membro da associação Aroeira?”
104

Esta pergunta visou verificar como os membros fundadores da Associação


Aroeira iniciaram sua participação, se foi de forma voluntária ou se foram convidados
a participar. Pode-se observar que 92% das pessoas, responderam que sua
participação decorreu de uma solicitação para que eles fizessem parte como membro
da Associação por algum outro membro comunidade extrativista, por um membro do
Instituto Ecoengenho ou por um membro da Associação Aroeira (Gráfico 01). Apenas
8% iniciaram sua participação voluntariamente. O perfil delineado por esta resposta,
com apenas 8% de participação voluntária, contradiz o que se espera dos princípios
de uma gestão democrática e participativa. Dada a observação de que a gestão da
Associação ocorre de maneira aberta, horizontalizada e democraticamente, não há
elementos que indiquem o porquê da baixa iniciativa individual de participação na
Associação. Suposições, sem respaldo desta pesquisa científica, podem ser feitas,
tais como acomodação da comunidade ou mesmo desconhecimento.

O questionamento “Quantos dias de trabalho, em média, você dedicou a essa


Associação nos últimos 12 meses?” Teve por objetivo mostrar uma característica
própria desta comunidade, pois, este dado está ligado diretamente ao período em que
as pessoas envolvidas podem trabalhar no campo e conseguir alguns recursos para
seu sustento. Na coleta dos dados verificou-se que a pergunta era melhor
compreendida se questionado se os respondentes dedicam mais ou menos de 6
meses (cerca de 182 dias) às atividades da Associação. O Gráfico 02 mostra que a
maioria dos membros da Associação Aroeira dedicam menos de 6 meses (182 dias)
às atividades da Associação.
105

90%

80%

70%

60%

50%
85%
40%

30%

20%

10% 15%
0%
Menos de 182 Mais de 182

Gráfico 02. Dimensão do CS medida - Capacidade Associativa: “Quantos dias de trabalho, em média,
você dedicou a essa Associação nos últimos 12 meses ?”

Assim, foi verificado que 15% dos respondentes se dedicam mais do que 182
dias às atividades da Associação Aroeira. Estas pessoas trabalham em campo
fazendo a colheita da pimenta-rosa e fazendo o beneficiamento na Associação
Aroeira, sem funções administrativas, apenas no trabalho relativo a colheita e
beneficiamento (lavagem, pré-secagem a frio com ventiladores ou secagem natural
ao sol, desidratação por forno termo solar, seleção dos frutos desidratados, pesagem
e embalagem, armazenamento). Elas trabalham, portanto, no período da entre safra,
com menor tempo de contato com a comunidade como um todo. Os 15% que
trabalham mais de 182 dias por ano na Associação são os que normalmente assumem
as atividades burocráticas e administrativas da gestão associativista.

Quanto à questão “Após sua participação na Associação Aroeira, aconteceu


melhora na sua renda?”, foram apresentadas duas opções como resposta: sim ou não.
Os dados revelaram que a grande maioria dos membros na Associação Aroeira (88%)
responderam que, a partir de sua participação como membro da Associação, houve
aumento em sua renda.
106

100%
90%
80%
70%
60%
50%
88%
40%
30%
20%
10%
12%
0%
Sim Não

Gráfico 03. Dimensão do CS medida - Capacidade Associativa: “Após sua participação na


Associação Aroeira, aconteceu melhora na sua renda?”

Este dado tem paralelo com o que pode ser verificado através da observação
na pesquisa de campo: em todas as casas visitadas foi verificada a presença de
alguns bens de consumo como rádio, TV, geladeira, bicicletas, entre outras coisas,
adquiridos na sua grande maioria pela renda gerada na extração da pimenta-rosa.
Uma das características da motivação para as pessoas se relacionarem está ligada a
algum benefício elas podem obter com este relacionamento. Ficou evidenciado neste
estudo que, após o desenvolvimento e a implantação da Tecnologia Social, houve
aumento de renda para as pessoas envolvidas nesta ação na comunidade
pesquisada, e isto pode incentivar a manutenção das relações das pessoas com a
Associação. Deve-se, porém, destacar que 12% dos membros a Associação afirmam
quem não houve melhorias em sua renda. Isto também vai de encontro com o que se
espera de uma gestão democrática, com divisão justa dos rendimentos.

Ao serem indagados sobre “Como acontece o planejamento da Associação


Aroeira, através de quais pessoas?”, 97% responderam que tomadas de decisão
sobre os assuntos referentes à Associação Aroeira sempre ocorrem por meio de uma
decisão em conjunto dos seus membros. Entretanto 3% dos respondentes afirmam
que as tomadas de decisão ocorrem por pessoas de fora da Associação, porém são
pessoas que pertencem à comunidade extrativista. Nenhum dos respondentes
indicam as que as decisões são tomadas por pessoas que não participam da
Associação nem comunidade extrativista (Gráfico 04).
107

120%

100%

80%

60%
97%
40%

20%
3% 0%
0%
Pertence(m) a Associação

São de fora da Associação mas


pertencem à comunidade extrativista
São de fora da Associação e não
pertencem à comunidade extrativista

Gráfico 04. Dimensão do CS medida - Capacidade Associativa: “Como acontece o planejamento da


Associação Aroeira, através de quais pessoas? “

Em resumo, pode-se constatar, quanto à dimensão de capacidade


associativa, que a grande maioria dos respondentes (92%) tornou-se membro da
Associação Aroeira porque foram convidados a participar; 85% dos respondentes
dedicam menos de 6 meses por ano às atividades da Associação Aroeira; 97% dos
respondentes informaram que tomadas de decisão sobre os assuntos referentes à
Associação Aroeira sempre ocorrem por meio de uma decisão em conjunto dos seus
membros e 88% responderam que, a partir de sua participação como membro da
Associação, houve aumento em sua renda. Assim, as respostas demonstraram os
membros da Associação Aroeira, núcleo de agregação da comunidade em torno da
tecnologia social de produção da pimenta-rosa, apresentam capacidade associativa,
embora haja aspectos limitantes nessa capacidade associativa, já que a participação
deles tenha ocorrido, não por iniciativa própria, mas por convite e a grande maioria
(85%) passe a maior parte do ano em atividades não vinculadas à Associação.

4.2.2 Confiança Interpessoal

A confiança é um conceito abstrato e frequentemente mensurado no plano


individual, considerada nesta pesquisa como uma das mais importantes e basilares
dimensões do capital social, responsável pelo fortalecimento do elo de ligação entre
108

as pessoas em uma rede interacional. Inúmeros pesquisadores questionam sobre


esta dimensão, de forma simples e direta, questão que muitas vezes é escrita de forma
clara para facilitar a análise sobre essa dimensão do capital social:

Em geral, você diria que a maior parte das pessoas é confiável? Uma
quantidade impressionante de testes empíricos foi realizada com base nessa
medida simples de confiança interpessoal e, em todos os casos, os
pesquisadores assumem que a medida é válida (SELIGSON; RENNÓ, 2000,
p.2).

Quatro perguntas foram aqui utilizadas para verificar essa dimensão do capital
social. Corrobora-se com Valentim (2005), que afirma que a confiança, a credibilidade
e a cumplicidade entre dois ou mais indivíduos contribuem na formação de uma rede
de relacionamento, empoderando todos os envolvidos. Além disso a confiança traz
benefícios para a coletividade, através de

[...] uma abordagem que coloca as pessoas e o poder no centro dos


processos de desenvolvimento; um processo pelo qual as pessoas, as
organizações, as comunidades assumem o controle de seus próprios
assuntos, de sua própria vida e tomam consciência da sua habilidade e
competência para produzir, criar e gerir. (ROTTER, 1980, p.7)

A primeira pergunta utilizada para análise sobre a confiança interpessoal foi:


“Em geral, você diria que a maior parte das pessoas da Associação Aroeira é
confiável? “ Como pode ser verificado por meio do Gráfico 05, este questionamento
revelou um alto grau de confiança interpessoal entre os membros da Associação
Aroeira, já que 87% dos respondentes indicam que eles consideram confiáveis a maior
parte dos membros da Associação. Apenas 13% consideram membros da Associação
Aroeira não confiáveis.
109

100%
90%
80%
70%
60%
50%
87%
40%
30%
20%
10%
13%
0%
Sim Não

Gráfico 05. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Em geral, você diria que a maior parte
das pessoas da Associação Aroeira é confiável? “

A previsibilidade de comportamento e expectativas de reciprocidades entre as


pessoas está ligada diretamente ao aumento de confiança interpessoal, que deve
gerar incentivos individuais para as pessoas interagirem e resultar na participação
mais ativa em assuntos relativos a coletividade. Levando em conta este enfoque, foi
feito a seguinte pergunta: “Se de repente você precisasse viajar por um ou dois dias,
você poderia contar com pessoas da Associação Aroeira para olhar as suas crianças
ou a sua casa? “, 82% dos respondentes indicaram que deixariam seus filhos e sua
casa sob a responsabilidade de outros membros da Associação Aroeira, enquanto
somente 18% respondeu que não deixariam (Gráfico 06). Tal questionamento, visou
levantar dados que corroborem com a presença da confiança nas relações sociais,
indicando a presença do Capital Social cognitivo, que está associado diretamente ao
fortalecimento da coesão social, gerando benefícios para todos e viabilizando o
desenvolvimento local.
110

90%

80%

70%

60%

50%

40% 82%

30%

20%

10% 18%
0%
Sim Não
Gráfico 06. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Se de repente você precisasse viajar
por um ou dois dias, você poderia contar com pessoas da Associação Aroeira para olhar as suas
crianças ou a sua casa? “

Se as relações de confiança estão consolidadas, há sinais que caracterizem


a sua presença. A confiança é firmada numa espécie de hipótese sobre o
comportamento futuro do outro. Pode-se afirmar que para uma família entregar sua
casa e seus filhos aos cuidados de outros é necessário existir relações de confiança.

A percepção acerca da presença da confiança nas relações interpessoais


pode ser verificada através da seguinte pergunta: “Você acha que no último ano, a
confiança entre as pessoas membros da Associação Aroeira? Melhorou, piorou ou
permaneceu exatamente a mesma? “ Foi verificado, que 85% dos respondentes
concordam que, no último ano (2015), a confiança entre eles melhorou; 10% afirmou
que o nível de confiança entre eles continua o mesmo; e apenas 5% informou que o
nível de confiança entre eles piorou (Gráfico 07).
111

90%

80%

70%

60%

50%
85%
40%

30%

20%

10%
10%
5%
0%

Melhorou Exatamente a mesma Piorou

Gráfico 07. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Você acha que no último ano, a
confiança entre as pessoas membros da Associação Aroeira? “

A ajuda entre as pessoas forma laços de confiabilidade, evidenciando o capital


social presente na comunidade. A partir da confiabilidade no outro, a rede interacional
favorece a colaboração entre as pessoas, que assim resolverem problemas de caráter
individual e coletivo. Por exemplo, se um indivíduo muito pobre e até então
socialmente isolado conseguir estabelecer ter laços de confiança com outras pessoas,
tais laços podem ajuda-lo, por meio das conexões existentes na sua rede de
relacionamento, a encontrar oportunidade de trabalho e renda de superar a pobreza.

Corroborando com esta ideia foi elaborada a seguinte pergunta para análise
sobre a presença do Capital Social: “Hoje em dia com que frequência você diria que
as pessoas membros da Associação Aroeira ajudam umas às outras? “ Foi verificado
que 85% das pessoas pesquisadas sempre ajudam outras pessoas da comunidade
extrativista; 10%, disseram que quase sempre ajudam; e apenas 5% responderam
que nunca ajudam (Gráfico 08).
112

90%
80%
70%
60%
50%
40% 85%

30%
20%
10%
10% 5%
0%
Sempre ajudam
Quase sempre ajudam
Nunca ajudam

Gráfico 08. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Hoje em dia com que frequência você
diria que as pessoas membros da Associação Aroeira ajudam umas às outras? “

Numa síntese sobre o que foi constatado sobre a dimensão de confiança


interpessoal, pode-se dizer que 87% dos respondentes consideram a maior parte dos
membros da Associação confiáveis; 82% dos respondentes indicaram que deixariam
seus filhos e sua casa sob a responsabilidade de outros membros da Associação
Aroeira; 85% dos respondentes concordam que, no último ano (2015), a confiança
entre os membros da Associação melhorou; e 85% dos respondentes sempre ajudam
outras pessoas da comunidade extrativista. Assim, a análise mostra que os
respondentes, representando a Associação Aroeira, demonstram amadurecimento
desta dimensão do capital social, com um elevado grau de confiança entre os
membros da Associação.

4.2.3 Cooperação

A cooperação pode ser caracterizada por meio de parcerias e alianças


estratégicas voltadas para o enfrentamento dos desafios do desenvolvimento
socioeconômico. Revela-se através de um processo de interação social, onde os
objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos
para todos.

Caracterizar dimensões do capital social na Associação Aroeira pressupõe


identificar também sinais de cooperação entre seus membros. A cooperação e os
113

laços de confiança são fatores interligados: a confiança favorece a cooperação e a


cooperação aprofunda os laços de confiança. Assim, espera-se que essas duas
dimensões do capital social revelem perfis semelhantes entre os membros da
Associação Aroeira.

Uma das perguntas para avaliar a cooperação foi: “Após você se tornar
membro da Associação, você trabalhou com outras pessoas para fazer alguma coisa
em benefício da comunidade extrativista? “ Verificou-se que 88% das pessoas
responderam sim, confirmando que diretamente ou indiretamente trabalharam com
outras pessoas no desenvolvimento de ações para o fortalecimento da Associaçāo
Aroeira, enquanto 12% responderam que não tiveram tempo para trabalhar em ações
que proporcionassem benefícios para a coletividade (Gráfico 09).

100%
90%
80%
70%
60%
50%
88%
40%
30%
20%
10%
12%
0%
Sim Não

Gráfico 09. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Após você se tornar membro da Associação,
você trabalhou com outras pessoas para fazer alguma coisa em benefício da comunidade
extrativista? “

Uma das maneiras de o capital social fortalecer-se é por meio da conexão


entre pessoas como forma de superação de dificuldades comuns. Em outras palavras,
a necessidade pode leva-las a desenvolver atividades de interesse comum,
organizando-as em movimentos ou grupos sociais que criam as bases para as ações
cooperativas. Como visto, a grande maioria dos membros da Associação (88%)
criaram vínculos de cooperação visando o bem da comunidade, o que evidencia forte
114

característica do capital social ali existente. Assim, os membros da Associação Aroeira


pertencentes à comunidade extrativista da Aroeira demonstram uma característica
social de cooperação.

Quando se analisam os dados a respeito do seguinte questionamento: “Uma


pessoa que não participa da Associação e pega pimenta-rosa é criticada ou sofre
algum tipo de discriminação? “, pode-se perceber que 97% das pessoas responderam
não haver este tipo de discriminação. Apenas 3% responderam que há discriminação
quanto a atividades de pessoas não membros da Associação em colheitas da
pimenta-rosa. Portanto, como se pode observar na Gráfico 10, quase a totalidade dos
respondentes (97%) não têm conhecimento de atos discriminatórios contra membros
da comunidade extrativista que não participem da Associação Aroeira e que colham a
pimenta-rosa.

100%
90%
80%
70%
60%
50% 97%
40%
30%
20%
10%
0% 3%
Não Sim

Gráfico 10. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Uma pessoa que não participa da Associação e
pega pimenta-rosa é criticada ou sofre algum tipo de discriminação? “

Ao agir visando sair superar sua situação de vulnerabilidade social30, os


membros da Associação Aroeira conseguiram o fortalecimento grupal. Esse
fortalecimento, conforme também ficou evidenciado na observação sistemática, não

30
Uma pessoa está em vulnerabilidade social quando ela vive em condições que a colocam em risco
social, ou seja, é um cidadão, mas ela não tem os mesmos direitos e deveres dos outros, vive em
condições precárias de moradia e saneamento e em subempregos. É uma situação de exclusão social,
em que as pessoas são impossibilitadas de compartilhar os bens e recursos oferecidos pela sociedade
(PAVANINI et al. 2009).
115

ocorreu de modo a criar uma rede fechada, o que favoreceria a discriminação e a


manutenção do status quo de pobreza e diferenciação social, mas de forma não
discriminatória, sem fazer distinção a nenhum membro da comunidade onde vivem,
evidenciando a existência de valores cooperativos e comunitários.

O questionamento “Se houvesse a necessidade de ajudar uma pessoa da


Associação, qual a chance de as pessoas cooperarem para tentar resolver o
problema? “ Visou verificar se existe, entre membros da Associação, o trabalho em
conjunto de forma que resulte em ações positivas para que seja atendido um propósito
comum. Os resultados indicaram que 92% dos pesquisados responderam que muito
provavelmente, em uma situação de necessidade, eles iriam, de forma colaborativa e
espontânea, ajudar uma pessoa em um momento de necessidade; apenas 8%
responderam que seria pouco provável esta ajuda (Gráfico 11).

100%
90%
80%
70%
60%
50%
92%
40%
30%
20%
10%
8%
0%

Muito provável Pouco provável

Gráfico 11. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Se houvesse a necessidade de ajudar uma
pessoa da Associação, qual a chance das pessoas cooperarem para tentar resolver o problema? “

As respostas ilustradas no Gráfico 11 demonstram que, do trabalho em


conjunto entre as pessoas da comunidade, emergiu um sentido de cooperação,
percebido também na observação sistemática por meio de sentimentos de simpatia e
amizade e, sobretudo, por um sentimento de pertencimento à comunidade.
116

Pode-se constatar que, quando os sujeitos da pesquisa foram questionados


sobre o fato de as pessoas da comunidade se unirem para ajudá-los em alguma de
suas necessidades específicas, 88% responderam que muito provavelmente
poderiam receber ajuda, 8% pouco provável e 4% não gostariam de responder
(Gráfico 12).

100%

80%

60%

88%
40%

20%

8% 4%
0%
Muito provável
Pouco provável
Não quero responder

Gráfico 12. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Suponha que ocorresse uma doença grave, ou
a morte de um parente. Qual a probabilidade de algumas pessoas na comunidade se unirem para
ajudar você? “

Os dados retratados no Gráfico 12 revelam que a comunidade extrativista da


aroeira-vermelha conseguiu estabelecer entre seus membros fortes vínculos de
cooperação, o que dá aos seus membros a confiança de que podem contar com a
ajuda dos demais em momentos de dificuldades.

Como havia sido dito, esperava-se uma correlação entre o perfil de respostas
para a dimensão de confiança interpessoal e a de cooperação, expectativa que se
confirmou, já que para as perguntas relacionadas à confiança interpessoal, todas as
respostas tiveram posicionamento afirmativo de pelo menos 85% dos respondentes,
e para as perguntas relacionadas à cooperação, todas as respostas tiveram
posicionamento afirmativo de pelo menos 88% dos respondentes.

Assim, nesta dimensão de cooperação, as respostas revelaram que 88% das


pessoas trabalharam, diretamente ou indiretamente, com outras pessoas no
desenvolvimento de ações para o fortalecimento da Associação Aroeira; 97% das
117

pessoas responderam não haver discriminação quanto a atividades de pessoas não


membros da Associação em colheitas da pimenta-rosa; 92% dos pesquisados
responderam que muito provavelmente, em uma situação de necessidade, eles iriam,
de forma colaborativa e espontânea, ajudar uma pessoa em um momento de
necessidade; e 88% responderam que muito provavelmente poderiam receber ajuda
em alguma de suas necessidades específicas. O conjunto das respostas evidencia
uma comunidade, e não só os membros da Associação Aroeira, unida por laços de
cooperação.

4.2.4 Sociabilidade

A essência da sociabilidade pode ser percebida, para efeito da análise nesta


tese, quando as pessoas estão interagindo de forma descontraída, rindo, brincando e
curtindo o puro prazer de estarem juntas. Este prazer advindo do relacionamento com
o outro é possível quando, de alguma forma, as pessoas se abstraem de condições
sociais como posição, poder e riqueza, e compartilham a presença das demais. Desta
forma o relacionamento flui de forma mais igualitária, tornando mais fácil a
sociabilização, levando em conta que a sociabilidade é influenciada pelas
características individuais e pelo ambiente físico no qual as pessoas interagem em
conjunto ou separadamente.

Algumas perguntas foram utilizadas para analisar esta dimensão do capital


social entre os membros da Associação Aroeira. O primeiro questionamento foi
construído com objetivo de perceber traços de sociabilidade nas pessoas
pesquisadas, que são evidenciados através de atitudes amigáveis, que ajudam a
melhorar as interações entre as pessoas, fortalecendo a sua comunicação e as suas
amizades: “No último mês, quantas vezes você se encontrou com pessoas em um
local público para conversar, comer ou beber? “ Os resultados apresentados indicam
que 75% se encontraram com outras pessoas mais de 5 vezes, 20%, menos de 5
vezes; e 5%, nenhuma vez (Gráfico 13).
118

80%

70%

60%

50%

40%
75%
30%

20%

10% 20%
5%
0%

Mais de 5 Menos de 5 Nenhuma

Gráfico 13. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes você se
encontrou com pessoas em um local público para conversar, para comer ou beber? “

As respostas indicam que 3/4 dos respondentes (75%) encontram-se com os


vizinhos mais de 5 vezes por mês, ou mais de uma vez por semana, para socializarem-
se, usufruindo da companhia uns dos outros. O convívio social, compartilhando
momentos em conjunto, é um movimento na contramão do individualismo, que isola
as pessoas e abre espaço para ações egocêntricas. Entre os respondentes, a maioria
afirma agir nessa direção ao individualismo, tendo o prazer da convivência com os
demais membros da comunidade.

O Gráfico 14 apresenta os resultados referentes ao seguinte questionamento:


“No último mês, quantas vezes as pessoas visitaram você em sua casa? “. Pode-se
constatar que 57% das pessoas pesquisadas tiveram mais de 5 visitas em suas casas
no período de um mês; 41 %, menos de 5 visitas; e 2%, nenhuma visita.

Corroborando com a ideia de que a socialização para acontecer deve estar


embasada em encontros sociais, nesta pergunta buscou-se verificar se os
respondentes exercitam a socialização com um grau de confiança a ponto de
compartilha o ambiente de suas famílias, abrindo suas casas à visita de outros
membros da comunidade. Verificou-se que, enquanto na pergunta anterior uma
significativa maioria (75%) pratica frequente a socialização, nesta pergunta só um
pouco mais da metade dos respondentes (57%) pratica a socialização no seu
119

ambiente familiar na mesma frequência, revelando certa reserva para a abertura da


vida privada aos demais.

60%

50%

40%

30% 57%

20% 41%

10%

0% 2%

Mais de 5 Menos de 5 Nenhuma

Gráfico 14. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes as pessoas
visitaram você em sua casa? “

Seguindo a mesma linha de raciocínio, foi feito outro questionamento


invertendo a ação proposta para a pessoa que está sendo analisada: “No último mês,
quantas vezes você visitou outras pessoas em suas casas? “. Pode-se verificar que
70% dos sujeitos que responderam os formulários disseram que, em um período de
um mês, visitaram mais de 5 vezes pessoas membros da comunidade extrativista da
pimenta-rosa; enquanto 18% visitaram menos de 5 vezes outros membros da
comunidade; e 12%, não visitaram nenhuma vez (Gráfico 15).

Esta pergunta, semelhante à anterior, porém mudando o ator das visitas,


indica que há, por parte dos respondentes, maior predisposição à socialização do que
eles percebem em relação ao conjunto. Isso porque 70% dos respondentes afirmam
terem realizado mais do que 5 visitas por mês, enquanto apenas 57% afirmaram que
receberam mais do que 5 visitas por mês.
120

80%

70%

60%

50%

40%
70%
30%

20%

10% 18%
12%
0%

Mais de 5 Menos de 5 Nenhuma

Gráfico 15. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes você visitou
outras pessoas em suas casas? “

Em relação ao questionamento: “No último mês, quantas vezes você se reuniu


com outras pessoas para fazer alguma atividade esportiva? “, pode-se observar que
25% dos sujeitos da pesquisa responderam que se reuniram ou se encontraram com
outras pessoas para praticar alguma atividade esportiva mais de 5 vezes durante o
período de um mês, 63% dos sujeitos pesquisados menos de 5 vezes e 12% nenhuma
vez (Gráfico 16).

70%

60%

50%

40%

30% 63%

20%
25%
10%
12%
0%

Mais de 5 Menos de 5 Nenhuma

Gráfico 16. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes você se reuniu
com outras pessoas para fazer alguma atividade esportiva? “
121

Os dados ilustrados no Gráfico 16, analisados em conjunto com as demais


respostas em relação a esta dimensão da sociabilidade, demonstram que os
respondentes tendem à prática da socialização, já que 88% (25% + 63%) dos sujeitos
praticam esportes juntos, mas indicam também que a prática de esporte não é uma
forma de socialização tão forte na comunidade com o encontro ou as visitas entre as
pessoas. Tal assertiva baseia-se no fato de que as respostas às questões anteriores
indicam maiores percentuais para socializações, encontros e visitas, mais de 5 vezes
por mês.

As práticas de socialização são perceptíveis entre os respondentes na medida


em que 75% deles afirmam que se encontraram com outras pessoas da comunidade
mais de 5 vezes; 57% das pessoas pesquisadas tiveram mais de 5 visitas em suas
casas no período de um mês e 41 %, menos de 5 visitas; 70% dos sujeitos
responderam, em um período de um mês, visitaram mais de 5 vezes pessoas
membros da comunidade extrativista da pimenta-rosa; e 25% dos sujeitos da pesquisa
responderam que se reuniram ou se encontraram com outras pessoas para praticar
alguma atividade esportiva mais de 5 vezes durante o período de um mês, enquanto
63% dos sujeitos pesquisados reuniram-se para isto menos de 5 vezes por mês.

De modo geral, a análise das respostas ao formulário de pesquisa, indica que


a comunidade pesquisada vivencia de modo aprofundado as dimensões do capital
social aqui estudadas, e várias respostas sinalizam que o desenvolvimento e o uso de
uma Tecnologia Social na comunidade contribuíram para isto.

4.3 Dados coletados por meio das entrevistas

A fim de trazer um olhar multirreferencial para o objeto de pesquisa, foram


feitas 9 (nove) entrevistas; dentre os entrevistados 5 (cinco) trabalham na Associação
Aroeira, 2 (dois) são membros do Instituto Ecoengenho e 2 (dois) são cidadãos de
Piaçabuçu que possuem negócios com a Associação Aroeira. Esta amostra foi
escolhida a partir de suas contribuições e densidade na participação da Associaçāo
Aroeira.
122

As entrevistas foram realizadas durante o período de 27 de maio a 15 de julho


de 2015, quando foi efetivada a pesquisa de campo. Houve a preocupação por parte
do entrevistador de verificar se a presença de um equipamento de gravação iria causar
inibição ou constrangimento aos entrevistados. Foi verificado que, dos nove
entrevistados, cinco (todos que trabalham na Associaçāo) não se sentiram à vontade
com o uso do gravador. Neste caso, às respostas a estas entrevistas foram anotadas
ao longo do contato, sem o registro de gravação. Dessa forma somente 4 (quatro)
entrevistas foram gravadas e transcritas, e o registro destas e das demais será
mantido por 5 anos após a defesa desta tese. O tempo médio de gravação de cada
entrevista variou conforme o desenvolvimento do contato e conforme as respostas dos
entrevistados, tendo em média 30 minutos.

Foi utilizado um roteiro para as entrevistas com 5 (cinco) perguntas, que


tiveram como objetivo coletar informações dos sujeitos entrevistados referente as
mudanças que ocorreram no Capital Social das pessoas, membros da Associação
Aroeira, após o desenvolvimento de uma Tecnologia Social.

A primeira pergunta apresentada foi a seguinte: “Você acha que a aplicaçāo


da Tecnologia Social resultou em mudanças na confiança entre as pessoas membros
da Associaçāo Aroeira? “ Todos os entrevistados (100 %) responderam que sim e, de
acordo com os respondentes, isto ocorreu de forma horizontalizada, pois a percepção
por parte dos sujeitos da pesquisa de uma ideia nova ampliou a confiança entre eles,
evidenciada na participação coletiva nas atividades proporcionadas na Associação
Aroeira.

Esta resposta está de acordo com o exposto no referencial teórico no que se


refere à confiança interpessoal, que, quando ausente, a comunidade fica menos
propensa para desenvolver ações coletivas. Por outro lado, se a confiança é
permanente, influi no fortalecimento dos laços entre estas pessoas, o que implica
diretamente no empoderamento delas, como pode se verificar através da fala de
Santos, que assumia a função de Secretária da Associação Aroeira durante esta
pesquisa de campo:

Estou na Associação há quatro anos, trabalho como secretária e estoquista,


estou aqui desde o começo, sempre achei as pessoas desconfiadas, mas no
início era mais [...] as pessoas participavam [...] com o tempo, a convivência
entre eles só fez aumentar a produção da pimenta rosa, a confiança entre
eles aumentou, fortalecendo a Associação” (Santos. Entrevista E04, 2015).
123

A segunda pergunta diz respeito ao estimulo decorrente do desenvolvimento


da tecnologia Social: “Você acha o desenvolvimento da tecnologia social estimulou
que as pessoas membros da Associação Aroeira participassem de ações coletivas? “
Foi possível observar que 90% responderam que o desenvolvimento da tecnologia
social estimulou a participação de ações coletivas. Este resultado evidenciou que as
pessoas pesquisadas perceberam que utilização da Tecnologia Social desenvolvida
na Associação Aroeira foi um catalisador para que as pessoas se aproximassem da
Associação, se engajassem em suas atividades, colhendo benefícios sociais e
econômicos.

Assim, aconteceu uma aproximação entre estas pessoas, fortalecendo suas


relações e proporcionando um aumento de Capital Social, o que estimulou uma maior
participação no trabalho coletivo, como pode-se verificar na fala Rocha dos Santos,
carinhosamente chamado por todos que fazem a comunidade extrativista como
simplesmente Mimo, que trabalha na Associação Aroeira desde a sua fundação, bem
como na fala de Muniz, ex-presidente da Associação e que durante esta pesquisa de
campo colaborava com novos membros nas etapas de produção da pimenta rosa:

A partir da implantação das estufas [...] como a gente iria imaginar que a luz
do sol poderia ser captada para colocar numa estufa e secar a pimenta-rosa
[...] passaram a ir para roça juntos para tirar a pimenta-rosa. (Rocha dos
Santos. Entrevista E01, 2015).

Foi através da implantação desta tecnologia de desidratar e comercializar a


pimenta-rosa que as pessoas da comunidade da Aroeira, se juntaram para
construir e fortalecer a Associação, promovendo maior desenvolvimento por
aqui [...]. (Muniz. Entrevista E03, 2015).

A terceira pergunta se refere à seguinte questão: “Você acha que a aplicação


da Tecnologia Social estimulou que as pessoas membros da Associação Aroeira,
cooperassem mais entre si? “ 95% responderam que esta característica do Capital
Social ficou evidenciada ao longo do tempo em que estas pessoas se relacionaram,
fortalecendo suas ligações interpessoais através do desenvolvimento de atividades
diárias, relacionadas a extração e produção da pimenta rosa. Isto pode ser confirmado
através da fala de Fonseca e Silva, Presidente do Instituto Ecoengenho:

Por força do próprio projeto, houve mais foco no coletivo [...]. Estas pessoas,
quando utilizavam a tecnologia existente na Associação, frequentavam com
mais frequência o próprio ambiente de trabalho, as capacitações [...] as
reuniões eram uma forma de balizar a participação. A cada novo encontro
apareciam mais pessoas da comunidade com o objetivo de cooperar,
124

colaborando para que pudessem, de forma coletiva, tentar sair da situação


social em que se encontravam (Fonseca e Silva, Entrevista E06, 2015).

Pode-se verificar, num paralelo com o exposto no referencial teórico, que a


cooperação existente entre os membros da Associação Aroeira surgiu e se fortaleceu
a partir da necessidade que tiveram em superar suas dificuldades sociais. Essa busca
levou estas pessoas a utilizar os recursos locais como fonte para alimentar e
retroalimentar a cooperação entre elas, evidenciando que o aproveitamento dos
recursos locais, utilizados através da tecnologia social, pode ser entendido como um
processo de transformação social através do fortalecimento das suas relações
pessoais, proporcionando condições para a quebra de um ciclo de pobreza, tornando
favorável o empoderamento e a inclusão social.

Entretanto, verificou-se também que o elemento distributivo das atividades


desenvolvidas na Associação também pode afetar o interesse das pessoas na
participação do esforço cooperativo. A importância e a representatividade dentro do
grupo podem significar, dependendo da intenção, uma maior ou menor probabilidade
de a pessoa cooperar.

Quanto à pergunta “Você acha que a aplicação da Tecnologia Social tornou


as pessoas pertencentes a Associação Aroeira mais unidas? “, foi verificado que 90%
dos entrevistados responderam que sim, as pessoas que estavam participando da
Associação Aroeira ficaram mais próximas e mais unidas, reforçando o capital social,
enquanto conceito que tem como base as relações interpessoais.

Foi verificado também que o trabalho desenvolvido na Associação Aroeira


proporcionou que as pessoas membros da comunidade extrativista tivessem um
contato mais frequente e constante, aumentando o quantitativo de novos amigos na
comunidade, conforme relato de Nascimento e de Santos Ferreira.

As pessoas da comunidade são meio desconfiadas. No começo não


acreditavam no projeto da Associação, depois que perceberam que os
atravessadores estavam ganhando nas nossas costas, começaram a
participar mais, se aproximaram para conversar e muitos fizeram novas
amizades, que eu acho que ajuda na cata da aroeira, aumenta a produção,
trazendo ganhos para todos [...] (Nascimento. Entrevista E07, 2015).
Foi através do processo de trabalho e da participação na retirada da pimenta
rosa que existiu uma maior convivência entre os membros, alguns se
tornaram unidos pela convivência no trabalho, começaram a confiar um
pouco mais uns nos outros, depois da descoberta também da confiança no
processo existente na Associação. (Santos Ferreira. Entrevista E02, 2015).
125

A expansão da rede social para além do seu círculo familiar trouxe benefícios
para os membros da Associação Aroeira, promovendo a sociabilidade e
proporcionando benefícios sociais evidentes, como o fortalecimento dos laços de
confiança.

Pode-se verificar, num paralelo com o exposto no referencial teórico, que a


sociabilidade entre os membros da Associação Aroeira ficou evidenciada através da
fala e do comportamento das pessoas pesquisadas. Por meio dos contatos sociais e
maior tempo de convivência, houve uma maior integração, através de fatos
corriqueiros, cotidianos da vida, motivados pela participação direta no processamento
da pimenta-rosa. O convívio entre estas pessoas que se realizou na Associação, no
campo, na vizinhança das suas casas etc., e estimulou o compartilhamento de
soluções para problemas coletivos.

Vale salientar que, para surgir o associativismo, foi necessário que as pessoas
da comunidade extrativista participassem de ações comuns, desde a coleta da
pimenta rosa, incluindo todo o processo de produção até o envasamento, em que
juntos produziam o produto final para a comercialização. Portanto foi necessário que
as pessoas confiassem entre si, não bastando apenas o desejo comum de melhoria,
afetando a sua capacidade de se associarem.

Quanto à pergunta “Você acha o desenvolvimento da tecnologia social


resultou em maior inclusão social, para as pessoas membros da Associação Aroeira?
“, constatou-se, num paralelo com o exposto no referencial teórico, que a inclusão
social pode afetar a capacidade associativa das pessoas, proporcionando um
aumento do seu Capital Social. A partir desta constatação ficou evidenciado um
sentido de pertencimento mais fortalecido por parte das pessoas pesquisadas na
comunidade extrativista. Este sentimento surgiu a partir do contato destas pessoas
com a Tecnologia Social desenvolvida na Associação. Foi aferido que 80% dos
entrevistados responderam que o desenvolvimento da tecnologia social resultou em
maior inclusão social, como pode ser observado na fala do Presidente do Instituto
Ecoengenho:

Hoje as pessoas envolvidas são vistas de uma maneira diferente pela


comunidade, aparecem na mídia, alguns associados estão visivelmente
adquirindo mais bens, vivendo melhor na comunidade (Fonseca e Silva.
Entrevista E06, 2015).
126

Em contraponto, foi verificado também junto aos cidadãos de Piaçabuçu que


possuem negócios com a Associação Aroeira, que, apesar de entenderem a
importância da Associação, não possuem um referencial claro sobre a inclusão social
dos membros da Associação. Apenas disseram que o produto (pimenta rosa)
comercializada pela Associação Aroeira tem uma boa aceitação e que, devido a estas
vendas, as pessoas envolvidas pareciam estar conseguindo sair da pobreza em que
se encontravam.

Um dos entrevistados foi Carmo Amaral que, durante esta pesquisa, era dono
do restaurante Rancho do São Francisco, e comercializava a pimenta rosa com
turistas e também a utilizava em alguns dos pratos preparados no restaurante. No
Anexo NA-B são mostradas receitas usando a pimenta-rosa, disponibilizadas pela
Associação. Conforme a fala de Carmo Amaral, pode-se verificar que:

O contato que tenho com as pessoas da Associação Aroeira se faz através


do Sr. Mimo, que sempre traz as pimentas por aqui, para que possamos
vender e utilizar no restaurante com receitas da própria Associação, receitas
criadas por chefs famosos [...] em alguns momentos conversamos e ele
sempre diz que a maioria da comunidade está ganhando muito mais dinheiro
com as vendas da Pimenta Rosa, do que quando não existia a Associação.
Eu observo que ele, no começo, vinha a pé ou de bicicleta, hoje já possui
uma moto, tudo com dinheiro da retirada, produção e comercialização da
pimenta rosa. (Carmo Amaral. Entrevista E05, 2015).

Na pesquisa de campo observaram-se algumas vantagens relativas à


aplicação destas entrevistas. Em primeiro lugar elas serviram para revelar o
posicionamento de uma amostra das pessoas de interesse no estudo pretendido. Em
segundo lugar possibilitaram uma conversa mais aberta sobre os temas abordados
com abordagens multireferenciais: membros da Associação Aroeira, membros do
Instituto Ecoengenho e membros da comunidade onde a Associação está instalada.
Em terceiro lugar a interação entre o entrevistador e o entrevistado que favoreceu as
respostas consideradas como espontâneas. Ocorreu, na realização das entrevistas,
uma maior aproximação por parte deste pesquisador na linguagem utilizada com o
contato dos entrevistados, o que favoreceu a diminuição de uma possível violência
simbólica que poderia ser exercida, com isso as pessoas entrevistadas se sentiram
mais seguras para colaborar.

Em quarto lugar consideramos como ponto positivo das entrevistas, a


abrangência alcançada nas respostas. O entrevistador procurou fazer com que os
127

entrevistados, exceto pelo uso do gravador, não se sentissem constrangidos, podendo


responder as perguntas de forma suficiente para a análise pretendida.

Por fim é preciso considerar que as entrevistas se basearam num roteiro


intimamente ligado ao problema da pesquisa. Assim as informações colhidas foram
analisadas com a responsabilidade de entender e traduzir com o máximo de fidelidade
as informações coletadas, permitindo obter evidências sobre a relação entre algumas
dimensões do Capital Social com o desenvolvimento da tecnologia social.

4.4 Triangulação dos dados

Num estudo de caso são empregadas múltiplas fontes de evidências para


corroborar a interpretação dos dados, que são analisados em paralelo por meio da
triangulação de dados. Assim, nesta seção são estabelecidos paralelos entre os
dados coletados por meio da observação sistemática, da aplicação do formulário e da
realização das entrevistas. O Quadro 07 resume as principais convergências entre os
resultados decorrentes dos procedimentos de pesquisa, que serão discutidos a seguir.

Quadro 07. Principais convergências entre os resultados decorrentes


dos procedimentos de pesquisa

Tecnologia social
A observação sistemática foi o principal procedimento para análise das características da
tecnologia social, que mostrou-se ter sido concebida com a participação da comunidade, para
resolver um problema local, é de fácil apropriação, exceto no que se refere ao custo dos geradores
termo solares e das estufas de secagem da pimenta-rosa, a tecnologia é auto gestada pela
Associação Aroeira, de forma participativa, democrática e horizontalizada.
Nas respostas ao formulário e nas entrevistas, confirmaram-se as principais características da
tecnologia social – a autogestão, a solução de problemas locais e a gestão participativa.
Capital Social
O formulário foi o principal procedimento para análise das dimensões do capital social estudadas:
capacidade associativa, confiança, cooperação e sociabilidade. As respostas relativas a todas
essas quatro dimensões evidenciam uma comunidade com elevado estoque de capital social, em
que há propensão para atuarem de forma associativa, com confiança, cooperação e revelando
práticas sociais sólidas.
Estas dimensões do capital social também foram constatadas ao longo da observação sistemática,
e transparecem nas falas dos entrevistados, que expressam os fortes vínculos da rede social que
une principalmente os membros da Associação, mas transbordam para toda a comunidade
extrativista local.
Relações entre Tecnologia social e Capital social
Durante a observação sistemática foi possível perceber o potencial da tecnologia social estudada –
o processo produtivo da pimenta-rosa – como fator agregador de um grande número dos membros
da comunidade extrativista, favorecendo práticas que propiciavam a dinamização do capital social
entre elas.
A autogestão participativa e democrática, com suas reuniões, o próprio trabalho de coleta,
lavagem, pré-secagem, desidratação, seleção e envase da pimenta-rosa, aproxima as pessoas,
128

levando-as a interagirem, a amadurecerem as relações interpessoais, a se organizarem


socialmente, disponibilizando um campo muito fértil para o crescimento do capital social.
Esse vínculo da tecnologia social e do capital social ficou também evidenciado em respostas ao
formulário, em especial na dimensão de capacidade associativa, e nas entrevistas especialmente
no que se refere à filiação à Associação Aroeira.
Fonte: elaboração própria

Vários dados colhidos na observação sistemática, relativos à relação entre a


Associação Aroeira e o Instituto Ecoengenho, foram confirmados por meio das
entrevistas, revelando que o projeto Aroeira aprovado no edital de 2010 do Programa
Petrobras Desenvolvimento & Cidadania pode, no decorrer de sua implementação,
desenvolver ações que que capacitaram pessoas que viviam em situação de pobreza,
tornando-se também uma fonte de renda lucrativa e proporcionando mudança de vida.

Os dados evidenciados na observação sistemática, relativos à relação


tecnologia social, foram também verificados nas entrevistas, revelando que a
implantação da tecnologia social foi motivadora para que as pessoas da comunidade
se tornassem membros da Associação Aroeira. Essa participação possibilitou que as
pessoas pudessem fortalecer seus elos de ligação, fomentando valores relacionados
ao capital social.

Os dados coletados por meio dos formulários, relativos à dimensão de


capacidade associativa, foram confirmadas por meio das entrevistas revelando que
os resultados, advindos deste levantamento, mesmo se contrapondo aos princípios
do desenvolvimento de uma tecnologia social, que implicitamente aponta para uma
aproximação voluntária dos participantes, no processo de construção e efetivação
desta tecnologia, já que a maioria afirma que se tornou membro da Associação por
convite e não por um movimento espontâneo. Mas, de modo geral, os resultados
verificados por meio do formulário evidenciam a presença do Capital Social,
confirmados por meio das características existentes nos relacionamentos dos
membros da Associação Aroeira.

Os dados apresentados na análise das respostas ao formulário e nas


entrevistas permitem visualizar as dimensões do Capital Social na comunidade, pois
a capacidade associativa indica a participação dos atores envolvidos no
desenvolvimento e uso da Tecnologia Social. Vale ressaltar que foi possível observar,
para a análise pretendida, dados relativos à criação da Tecnologia Social na
comunidade pesquisada. Conforme observado e conforme consta no Caderno
129

Técnico Projeto Aroeira (INSTITUTO ECOENGENHO, 2011, p.11), para o


desenvolvimento da Tecnologia Social na Associação Aroeira se fez necessário:

[...] várias reuniões de mobilização e informação [...] ao longo de dois anos


com diversos cursos de capacitação [...] realização de oficinas de fomento ao
associativismo [...] o objetivo foi discutir a constituição da associação dos
extrativistas [...] e levar o participante a compreender a cultura da cooperação
e participação em um determinado grupo social.

Durante a observação sistemática, pode-se perceber também que as pessoas


desconheciam, antes da constituição da Associação Aroeira e da implantação da
Tecnologia Social de produção da pimenta-rosa, a prática dos princípios do
associativismo. Assim sendo, a participação através do convite parece ter sido a forma
mais adequada para, em 2010, iniciar-se o desenvolvimento da Tecnologia Social aqui
estudada e a formação da Associação Aroeira.

Para que as pessoas inicialmente pudessem fazer parte como membro da


Associação, a utilização do convite através de um membro já conhecido da
comunidade extrativista foi fundamental, pois a aproximação à ideia de participar de
uma associação nasceu da necessidade de subsistência dos próprios extrativistas,
para isso foram necessárias mudanças de atitudes e de rotinas já pré-estabelecidas
dos sujeitos da pesquisa. De acordo com o Presidente do Instituto Ecoengenho, isto,

[...] ocorreu pela própria introdução de um conceito novo [...] existia uma
mesmice na vida deles, toda a percepção de uma nova ideia aproximou mais
a comunidade [...] (Fonseca e Silva. Entrevista E06, 2015)

Os dados evidenciados por meio dos formulários, relativos à dimensão de


confiança interpessoal, foram confirmadas por meio das entrevistas revelando que
essa dimensão do Capital Social está presente nos membros da Associação Aroeira.
Segundo relatos dos entrevistados, ficou evidenciado que os membros da Associação
se sentiram mais seguros em seus relacionamentos sociais após o desenvolvimento
da Tecnologia Social. A maior proximidade entre estas pessoas quando iniciaram sua
participação no Projeto Aroeira promoveu o aprofundamento da confiança. O maior
tempo de convívio em conjunto permitiu o compartilhamento de informações pessoais,
tornando possível que estas pessoas, construíssem juntos ações pautadas em um
objetivo comum.

Os dados evidenciados nos formulários, relativos à dimensão de cooperação,


foram confirmadas por meio das entrevistas revelando que a criação da Associação
130

Aroeira trouxe benefícios na promoção e no acesso dos membros da comunidade


extrativista a oportunidades e iniciativas de ação cooperativa, fortalecendo suas
relações interpessoais. Conforme relato do Carmo Amaral, proprietário do restaurante
Rancho do São Francisco, localizado as margens do São Francisco, próximo à cidade
de Piaçabuçu:

As pessoas da comunidade da Aroeira quase não vinham por aqui. Depois


da criação da Associação, conseguimos ver o quanto eles estão, de forma
cooperativa, se ajudando [...] comecei a utilizar em minhas receitas e vender
a pimenta-rosa nos potinhos que eles me oferecem, acho que de alguma
forma ela ajuda a todos (Carmo Amaral. Entrevista E05, 2015).

Quanto à dimensão de cooperação, os respondentes ao formulário indicaram


que haver o espírito de colaboração quando trabalharam com outras pessoas no
desenvolvimento de ações para o fortalecimento da Associação Aroeira, quando não
discriminam outras pessoas da comunidade, não membros da Associação, que
realizam colheitas da pimenta-rosa; quando confiam na possibilidade de, em uma
situação de necessidade, contarem com a ajudar da comunidade. As entrevistas e a
observação sistemática corroboram que os membros da Associação Aroeira estão
unidos também por laços de cooperação. A cooperação tornou o trabalho no campo
menos penoso para aqueles que perceberam que com o fortalecimento da
cooperação os benefícios coletivos seriam maiores.

Os dados evidenciados nos formulários, relativos à dimensão de sociabilidade


foram confirmados por meio das entrevistas e da observação sistemática, revelando
que os membros da Associação Aroeira cultivam práticas de sociabilidade,
encontrando-se uns com os outros para compartilharem o prazer de estar juntos para
conversar, comer e beber. Embora em proporção menor do que os encontros em
locais públicos, grande parte desses membros também abrem suas casas para visitas
e vão à casa de outros membros para visita-los. Em proporção menor, eles também
cultivam práticas de sociabilidade em atividades esportivas.

Assim, a análise global dos dados, por meio desta triangulação, permite
chegar a algumas conclusões que serão apresentadas no próximo capítulo desta tese.
131

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve como objetivo geral analisar dimensões do Capital


Social – Capacidade Associativa, Confiança Interpessoal, Cooperação e
Sociabilidade – entre os membros da Associação Aroeira, que fazem parte de uma
comunidade extrativista da pimenta-rosa, no município de Piaçabuçu no Estado de
Alagoas, onde houve o desenvolvimento uma Tecnologia Social. Estas dimensões
foram escolhidas com base na literatura sobre o tema, já que são consideradas como
as principais formas de caracterizar o capital social em uma comunidade.

Os objetivos específicos foram:

• OE1 - Compreender as características da tecnologia social estudada;

• OE2 - Analisar se o desenvolvimento de uma tecnologia social resultou em


mudança da capacidade associativa das pessoas na comunidade extrativista
da Aroeira;

• OE3 - Verificar se o desenvolvimento de uma tecnologia social resultou em


mudanças na confiança entre as pessoas;

• OE4 - Avaliar se o desenvolvimento de uma tecnologia social resultou em


mudanças na cooperação entre as pessoas da associação Aroeira;

• OE5 - Examinar se o desenvolvimento de uma tecnologia social resultou em


mudança na sociabilidade dos membros da associação Aroeira.

Numa retrospectiva, para a realização do estudo, primeiramente procurou-se


uma aproximação exploratória, buscando-se identificar as pessoas que fazem parte
da comunidade extrativista e que são membros participativos da Associação Aroeira.
Para isso, inicialmente foram necessárias visitas à comunidade e à Associação, com
objetivo de levantar documentos que pudessem servir para a quantificação da amostra
a ser trabalhada na pesquisa, ou seja, que pudessem ser utilizados como documentos
comprobatórios para a pesquisa de campo.

Posteriormente foram elaborados os instrumentos de coleta de dados e a


pesquisa de campo de fato iniciou-se. Com a observação sistemática, a aplicação dos
132

formulários e as entrevistas pode-se perceber que o desenvolvimento da tecnologia


social de produção da pimenta-rosa, propiciou o desenvolvimento do Capital Social.

As dimensões utilizadas para esta análise identificaram que, ao se


estabelecer a tecnologia Social, como ferramenta indutora para a criação do capital
social, houve o aumento das relações interpessoais com o predomínio das relações
horizontalizadas, que fortaleceram a capacidade associativa, a confiança, a
cooperação e a sociabilidade.

Quanto ao OE1, compreender as características da tecnologia social


estudada, a observação sistemática somada aos dados das entrevistas permitiu a
compreensão da tecnologia estudada: o processo de beneficiamento da pimenta-rosa.
Essa tecnologia atende aos requisitos de uma tecnologia social, já que ela não é
poupadora de mão de obra; não é intensiva em insumos sintéticos; não busca escalas
de produção sempre crescentes; não tem sua cadência de produção dada por
máquinas; é ambientalmente sustentável; é gerida e monopolizada pelos próprios
membros da Associação Aroeira; não é segmentada e permite controle pelos próprios
membros da Associação. Além disso, a tecnologia estudada não se preocupa em
maximizar a produtividade em relação à mão de obra ocupada; não é alienante; utiliza
a potencialidade dos membros da Associação Aroeira; possui padrões orientados pelo
mercado local, é horizontalizada, não hierarquizada e com gestão participativa.

Para atingir o OE2, analisar se o desenvolvimento de uma tecnologia


social resultou em mudança da capacidade associativa das pessoas na
comunidade extrativista da Aroeira, foram utilizados principalmente os dados
coletados por meio do formulário, que se complementaram com os dados decorrentes
da observação sistemática e das entrevistas. Com base nestes dados ficou
evidenciada uma certa fragilidade na capacidade associativa, como, por exemplo,
revela o dado de que 92% dos respondentes ao formulário de pesquisa tornaram-se
membros da Associação Aroeira porque foram convidados a participar e 85% dos
respondentes dedicam menos de 6 meses por ano às atividades da Associação
Aroeira. Esta fragilidade é compensada, porém, pelo fato de que 97% dos
respondentes ao formulário informaram que tomadas de decisão sobre os assuntos
referentes à Associação Aroeira sempre ocorrem por meio de uma decisão em
conjunto dos seus membros e 88% responderam que, a partir de sua participação
133

como membro da Associação, houve melhoria em sua renda. Como a capacidade


associativa pressupõe um movimento voluntário e dedicação dos atores envolvidos
no desenvolvimento e uso da Tecnologia Social, pode-se considerar que estes
aspectos do voluntariado e da dedicação, advindos deste levantamento, se
contrapõem aos princípios da tecnologia social. Se o contato entre os membros da
associação é escasso, há menor envolvimento com a tecnologia social, o que
desfavorece o capital social.

Durante a estada em contato com o locus de pesquisa, este pesquisador pode


observar que, antes da constituição da Associação Aroeira, as pessoas desconheciam
os princípios do associativismo e seus objetivos. Como dito nas discussões
precedentes, não se tem evidência científica, mas provavelmente este fato justifica o
convite como a forma mais adequada de reunir as pessoas para compor a Associação.

Foi verificado, ao longo da observação sistemática e também através de


conversas com os extrativistas, que entre junho e agosto e entre novembro e
dezembro, período das chuvas na região, a Aroeira entra em sua melhor época para
a colheita. A coloração vermelha-escura dos frutos, o teor de água das sementes de
30,5% e a presença de aves se alimentando de frutos, são indicadores do melhor
momento de colheita para as sementes de Schinus terebinthifolius.

Nos meses de janeiro a junho, fora da época das atividades extrativistas da


pimenta-rosa, os membros da Associação dedicam-se a outras atividades, ficando a
Associação praticamente inativa. Com isso o contato entre os associados diminui
significativamente, prejudicando as práticas de trabalho entre os seus membros,
reduzindo sua capacidade associativa.

As pessoas desta região sempre viveram da pesca e da coleta da Aroeira. Só


que antes da Associação os atravessadores compravam a Aroeira muito
barata, e quando começamos a comercializar a pimenta-rosa, conseguimos
ganhar mais dinheiro. Mas durante a entre safra, infelizmente as pessoas
acabam se afastando, pois elas têm que sobreviver fazendo outras
atividades. (Santos Ferreira, Entrevista E02, 2015).

É preciso destacar que esta pesquisa deixa claro que a capacidade


associativa de fato se limita às atividades da Tecnologia Social que requerem o
trabalho durante seis meses do ano. Não resultou em novas atividades associativas
para preencher os outros seis meses do ano, portanto o tempo dedicado à Associação
está relacionado ao tempo utilizado pelos extrativistas para a colheita e
134

beneficiamento da pimenta-rosa. Assim, este resultado indica uma fragilidade desta


dimensão do Capital Social, pois os membros da Associação, a partir do envolvimento
com a tecnologia social de beneficiamento da pimenta-rosa, poderiam criar outras
opções de atividades. Além disso, não foi percebido em nenhum dos procedimentos
de pesquisa a tendência da comunidade de deixar as atividades extrativistas para
tornarem-se agricultores, cultivando a aroeira e assim desenvolvendo um manejo
agrícola da planta.

Ainda assim, de acordo com a observação feita na pesquisa de campo pode-


se afirmar que a necessidade da subsistência tem levado os extrativistas da pimenta-
rosa a buscar alternativas para melhorar a sua renda familiar. Eles combinam várias
atividades ao longo dos meses do ano. Além disso, alguns membros da comunidade
recebem auxílio de políticas sociais, por exemplo, bolsa família, seguro na época de
defeso da pesca. Esta busca de atividades diversificadas foi também observada o
trabalho de Jesus e Gomes (2010, p. 193):

[...] Os atores dedicam-se a agricultura de subsistência, ao artesanato e à


pesca de peixe/camarão, o que torna a apropriação do território diversificada
e a relação homem-natureza se dá por meio de diferentes práticas, seja pelo
conhecimento que elaboram, ou pelas oportunidades que surgem.

A pesquisa constatou uma mudança de atitude entre seus associados. Isto foi
evidenciado por uma das catadoras de pimenta-rosa de apenas 22 anos, conforme
publicado no Caderno Técnico Projeto Aroeira (INSTITUTO ECOENGENHO, 2011,
p.06): “[ela] vivia fazendo faxinas e pesca artesanal. Ao se engajar no Projeto Aroeira,
ela diz que além da renda, incorporou algo que não imaginava: Mudança de atitude”.

O desenvolvimento da capacidade associativa em geral não é espontâneo,


requer um certo esforço, em geral motivado pela perspectiva de melhoria da vida dos
associados. Aparecida dos Santos, dona de casa, mãe, pescadora e catadora de
pimenta-rosa, diz que aprendeu muito com a convivência com outros catadores
(extrativistas31),

Aprendi depois de muito tempo ao tentar trabalhar com outras pessoas. Eu


não gostava da cata, mas na Associação percebi que, para ganhar algum

31
O termo “extrativista” não é muito utilizado pela comunidade extrativista. Eles utilizam o termo
“catadores”. A maioria dos membros da Associação desconheciam o termo extrativista durante a
pesquisa de campo e na aplicação dos formulários.
135

dinheiro, tinha que fazer com os outros, de forma conjunta. Estou aprendendo
a fazer isso, é bom para todos (Aparecida dos Santos, 2015).

De modo geral, os dados indicam que, na comunidade pesquisada, a


capacidade associativa surgiu e foi fortalecida por resultados reais, com mudanças de
atitudes, motivando os membros a fortalecerem a Associação Aroeira, através de uma
maior participação nas decisões e no planejamento dos trabalhos de forma coletiva.

Os dados coletados permitiram atingir o OE3, ou seja, verificar se o


desenvolvimento de uma tecnologia social resultou em mudanças na confiança
entre as pessoas. Principalmente os dados resultantes do formulário, associados aos
da observação sistemática e das entrevistas, possibilitam afirmar que os membros da
Associação Aroeira perceberam a importância do trabalho solidário, através da
construção coletiva e associativa, e perceberam que o uso da Tecnologia Social tem
sido importante para aumentar as relações interpessoais. Assim, caracterizou-se a
dimensão de confiança com aumento do estoque do Capital Social entre os membros
da Associação.

Foi possível observar, também, que o desenvolvimento da Tecnologia Social,


levou os membros da Associação a trabalharem em conjunto, evitando o
comportamento individualista, onde as pessoas pudessem satisfazer apenas seus
próprios interesses, desencorajando as conveniências pessoais. Isto propiciou o
fortalecimento das relações sociais e gerou mais confiança interpessoal.

Note-se aqui que, ao longo da observação, foi percebido que os membros da


Associação Aroeira reconheceram que a confiança interpessoal teve um papel
fundamental para o desenvolvimento da Associação. Esta confiança inicialmente
nasceu de necessidades individuais, como a superação da pobreza, mas, no decorrer
das atividades, foi-se firmando um pacto relacional baseado nas regras de confiança
que proporcionou benefícios sociais, como o fortalecimento das redes interacionais
promovendo maior coesão e bem-estar social, provocando a institucionalização dos
interesses coletivos, beneficiando a todos os envolvidos.

O OE4, avaliar se o desenvolvimento de uma tecnologia social resultou


em mudanças na cooperação entre as pessoas da associação Aroeira, foi
respondido pelos dados coletados por meio do formulário, associados aos da
observação sistemática e das entrevistas. A observação sistemática e as entrevistas
136

revelaram que as pessoas engajadas na Associação Aroeira não têm tempo para uma
socialização lúdica, devido a necessidade de estarem todos os dias trabalhando, seja
na extração da pimenta-rosa, seja desempenhando outras atividades que lhes
possam trazer alguma renda. Mas estão sempre predispostos à cooperação, abertos
para atender os outros e não apenas os seus interesses individuais.

O comportamento observado indicou que, mesmo em diferentes situações


desfavoráveis e contrariando uma certa coerência com as suas necessidades
econômicas, as pessoas pesquisadas cooperavam entre si, criando laços de amizade
e por consequência fortalecendo suas relações sociais.

Foi relatado por alguns entrevistados o esforço inicial individual das pessoas
da comunidade extrativista, empreendido na direção de superar a pobreza em que
vivem. Este esforço por recompensado pelo aumento da confiança interpessoal no
processo desenvolvimento da Tecnologia Social, conforme pode-se observar na fala
de Santos Ferreira, presidente da Associação Aroeira.

[...] confiança nas pessoas e no processo de implantação da Tecnologia


Social [...] as pessoas passaram a acreditar mais nelas e confiar cada vez
mais nos outros, fazendo com que todos ganhassem neste aumento da
confiança. (Santos Ferreira, Entrevista E02, 2015).

O aumento da confiança entre os membros da Associação reforçou os laços


que as conectavam, propiciando o acesso a recursos econômicos, como forma de
resolver problemas de subsistência e outros, garantindo a sobrevivência do
extrativista, da sua família e da comunidade em que está inserido.

Quanto ao OE5, examinar se o desenvolvimento de uma tecnologia social


resultou em mudança na sociabilidade dos membros da Associação Aroeira, os
dados coletados por meio do formulário, associados aos da observação sistemática e
das entrevistas, indicam que houve um aumento da sociabilidade, pois características
desta dimensão do Capital Social foram identificadas no convívio dos membros da
Associação Aroeira.

Os resultados encontrados demonstraram que o desenvolvimento e a


utilização da tecnologia social na Associação Aroeira serviram como instrumento para
mobilizar os aspectos do capital social estudado, comprovando sua contribuição para
o fortalecimento das relações interpessoais.
137

Adicionalmente aos achados desta pesquisa, pode-se dizer que o


desenvolvimento de uma tecnologia social e a mobilização do capital social têm uma
grande influência sobre as possibilidades de uma pessoa superar a linha de pobreza,
refletindo favoravelmente na coesão social e resultando no aumento das relações
sociais. No entanto, esta superação é frágil e a potencialidade pode não se traduzir
em realidade, pois o fato de uma pessoa se encontrar em contexto de alto capital
social, porém no interior de uma comunidade vulnerável como a comunidade
extrativista da Aroeira, não garante realmente as possibilidades de sua família superar
a linha de pobreza, devido às diversas influências sociais a que estão submetidos.

Como limitações reconhecidas nesta pesquisa, podem-se resumi-las nos


seguintes itens:

• A distância entre a sede do doutorado, na Bahia, e o locus da


pesquisa, em Alagoas, dificultou a coleta de dados, impondo
restrições que resultaram na delimitação da pesquisa sem englobar
outras dimensões do capital social que poderiam ser estudados.
Assim, restringiu-se a pesquisa a apenas quatro aspectos do capital
social;

• O nível de instrução dos membros da Associação Aroeira e a


pressão pela sobrevivência, não permitindo que eles dispusessem
de tempo para a aplicação de formulário ou realização de
entrevistas, foi um dos maiores gargalos na coleta de dados;

Vislumbrando a possibilidade de futuros desdobramentos decorrentes desta


pesquisa, pode-se citar que a pesquisa sobre outros aspectos do capital social com o
desenvolvimento da tecnologia social se faz merecedora aos pesquisadores
interessados pelo tema.

Como já mostrado durante a elaboração do texto deste trabalho, o caráter


multidimensional do Capital Social abre espaços para a difusão deste conhecimento
e novos aprofundamentos interessantes e necessários. Pode-se citar que novos
estudos sobre a relação da Tecnologia Social e o Capital Social podem ser realizados,
em outras comunidades de regiões diferentes do Brasil, trazendo novos olhares sobre
esta profícua relação.
138

Durante este trabalho de pesquisa, alguns questionamentos apareceram


como curiosidades e preocupações. Por razões diversas, durante este estudo várias
deles não foram incorporados, mas podem gerar interessantes pesquisas no futuro.
Algumas recomendações, para estas possíveis pesquisas estão propostas abaixo:

• Utilizar uma metodologia de pesquisa semelhante, como estudo de


caso, respeitando as especificidades deste novo objeto em uma outra
comunidade extrativista, para fins de comparação com a pesquisa aqui
apresentada, o que permitiria ampliar a coletânea de conhecimentos
sobre o tema estudado;

• Realizar pesquisas aprofundando ou utilizando noções, conceitos e


definições diferentes sobre o Capital Social e Tecnologia Social dos
apresentados nesta tese.

• Estudar a intensidade existente do Capital Social nos relacionamentos


das pessoas participantes, resultante do desenvolvimento de uma
Tecnologia Social;

• Aprofundar o estudo sobre o empoderamento decorrente da


implantação de uma Tecnologia Social em comunidades carentes;

Como resultado imediato desta pesquisa, considerando os efeitos positivos


do aumento do Capital Social em uma comunidade, o autor desta tese propõe-se a
formar um grupo de pesquisa no Instituto Federal de Alagoas (IFAL), voltado para o
estudo sobre o Capital Social e Tecnologias Sociais, com objetivo de desenvolver
projetos para o combate à pobreza e o empoderamento de comunidades carentes do
Estado de Alagoas. Para isso será organizado de forma institucional um grupo de
pesquisa junto ao CNPq com pesquisadores das diversas áreas do conhecimento do
IFAL, visando buscar financiamento para projetos de pesquisa com este enfoque.
139

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147

APENDICES

A. ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA


B. ROTEIRO SEMIESTRUTURADO DE ENTREVISTA
C. FORMULÁRIO
D. TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E/OU DEPOIMENTO
E. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
148

AP-A. Roteiro de observação sistemática

Este roteiro tem como objetivo analisar algumas características da tecnologia social
desenvolvida na Associação Aroeira.

ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA

Data da observação:

Horário:

Local:
Descrição do cenário:

Observação da tecnologia social


Autogestão e micro ou pequeno empreendimento

Gestão descentralizada

Apropriação pela comunidade com sua participação na criação, desenvolvimento, implementação e


organização dessas tecnologias

Voltada para a solução de problemas sociais e/ou ambientais locais, na perspectiva dos grupos
imediatamente envolvidos, visando a dinamização da criatividade e da economia, com capacidade
de articulação entre saberes tradicionais e conhecimentos tecnocientíficos

Simplicidade no seu desenvolvimento e facilidade de reaplicabilidade


149

AP-B. Roteiro semiestruturado de entrevista

Prezado(a):

Esta entrevista tem como objetivo contribuir para compreender mudanças que ocorrem no capital social
com o desenvolvimento de uma tecnologia social na Associação Aroeira.

Confidencialidade

Esclarecemos que as respostas serão tratadas de forma confidencial e apresentadas de maneira que
nenhuma resposta individual possa ser identificada, garantindo assim o anonimato do (a) respondente.

Agradecemos a sua preciosa contribuição.


Alvaro José de Oliveira
Doutorando em Difusão do Conhecimento da Universidade Federal da Bahia
Professor do Instituto Federal de Alagoas

Parte I – PERFIL DO ENTREVISTADO


Código atribuído ao entrevistado: ENT._____ Data da entrevista: ____/______ /2015

Função:
Coordenador da Associação Aroeira Membro da Instituto Ecoengenho
Representante da Prefeitura de Piaçabuçu Cidadão de Piaçabuçu

Idade:__________ Sexo: M F

Tempo de contato com a Associação Aroeira:

Formação acadêmica/profissional:
Parte II – QUESTÕES

1- Você acha que o desenvolvimento da tecnologia social resultou em mudanças na confiança


entre as pessoas membros da Associação Aroeira?

SIM NÃO
De que forma isto ocorreu?

2 - Você acha o desenvolvimento da tecnologia social estimulou que as pessoas membros da


Associação Aroeira, participassem de ações coletivas (exemplos)?

SIM NÃO
Poderia dar exemplos?

3 - Você acha o desenvolvimento da tecnologia social estimulou que as pessoas membros da


Associação Aroeira, cooperassem mais entre si?
150

SIM NÃO
Poderia dar exemplos?

4 - Você acha o desenvolvimento da tecnologia social tornou as pessoas pertencentes a


Associação Aroeira mais unidas?

SIM NÃO
Como você acha que isto ocorreu ?

5 - Você acha o desenvolvimento da tecnologia social resultou em maior inclusão social, para as
pessoas membros da Associação Aroeira ?

x SIM NÃO
Poderia falar disso ?

Pesquisa de Campo – Tese : Análise do capital social de uma comunidade do Estado de Alagoas
com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
Piaçabuçu/AL – 2015
151

AP-C. Formulário de pesquisa aplicado aos membros da Associação Aroeira

DOUTORADO EM DIFUSÃO DO CONHECIMENTO

Prezado(a):

Este formulário tem como objetivo analisar algumas dimensões do capital social
(Capacidade associativa, confiança, cooperação e sociabilidade) com o
desenvolvimento de uma tecnologia social em sua comunidade.

Preciso de sua valiosa contribuição em responder as questões a seguir, ressaltando


que não existem respostas certas ou erradas, sendo que o mais importante é o que
você pode considerar como o mais correto ou adequado.

Confidencialidade

Esclarecemos que as respostas serão tratadas de forma confidencial e apresentadas


de maneira que nenhuma resposta individual possa ser identificada, garantindo assim
o anonimato do(a) respondente.

Agradecemos a sua preciosa contribuição.

Alvaro José de Oliveira


Doutorando em Difusão do Conhecimento da Universidade Federal da Bahia
Professor do Instituto Federal de Alagoas

Dados dos respondentes:


Sexo
Idade
Nível de escolaridade

Pesquisa de Campo – Tese : Análise do capital social de uma comunidade do Estado de Alagoas
com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
Piaçabuçu/AL – 2015
152

PARTE 1 DO FORMULÁRIO

1. Capacidade associativa

A formação de associações pode ser dispendiosa em termos de tempo e outros


recursos, porém é de extrema importância na superação do individualismo e na
criação da confiança entre as pessoas, assegurando que os ganhos coletivos
sejam maiores que os individuais.

Eu gostaria de começar perguntando sobre a Associação a que você pertence.

1.1 Como uma pessoa passa a ser um membro da associação Aroeira?

1 Sua participação é solicitada


2 Sua participação é voluntária
3 Outros (especifique)____________________________________________

1.2 Quantos dias de trabalho, em média, você dedicou a essa Associação nos últimos
12 meses?

menos de 182 mais de 182

1.3 Quando a Associação precisa tomar uma decisão, geralmente como isso
acontece?

1 A decisão é imposta de fora.


2 O líder decide e informa os outros membros do grupo.
3 Os membros do grupo discutem o assunto e decidem em conjunto.

1.4 Como acontece o planejamento da Associação? Através de pessoas que:

1 Pertence(m) a Associação
2 São de fora da Associação mas pertencem à comunidade extrativista
3 São de fora da Associação e não pertencem à comunidade extrativista

Pesquisa de Campo – Tese : Análise do capital social de uma comunidade do Estado de Alagoas
com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
Piaçabuçu/AL – 2015
153

PARTE 2 DO FORMULÁRIO

2. Confiança interpessoal

Em toda comunidade, algumas pessoas se dão bem e confiam umas nas outras,
enquanto outras pessoas não. Agora, eu gostaria de falar a respeito da
confiança na sua comunidade.

2.1 Em geral, você diria que a maior parte das pessoas da Associação Aroeira é
confiável?

1 Sim

2 Não

2.2 Se de repente você precisasse viajar por um ou dois dias, você poderia contar com
pessoas da Associação para olhar as suas crianças ou a sua casa?

1 Sim

2 Não

2.3 Você acha que no último ano, o grau de confiança entre as pessoas membros da
Associação Aroeira?

1 Melhorou
2 Piorou
3 Exatamente o mesmo

2.4 Hoje em dia com que frequência você diria que as pessoas membros da
Associação Aroeira ajudam umas às outras?

1 Sempre ajudam
2 Quase sempre ajudam
3 Nunca ajudam

Pesquisa de Campo – Tese : Análise do capital social de uma comunidade do Estado de Alagoas
com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
Piaçabuçu/AL – 2015
154

PARTE 3 DO FORMULÁRIO

3. Cooperação

* A cooperação deve ser caracterizada por meio de parcerias e alianças


estratégicas voltadas para o enfrentamento dos desafios do
desenvolvimento socioeconômico, através de um processo de interação
social, onde os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os
benefícios são distribuídos para todos.

3.1 Após você se tornar membro da Associação, você trabalhou com outras pessoas
para fazer alguma coisa em benefício da comunidade extrativista?

1 Sim
2 Não

3.2 Uma pessoa que não participa da Associação e pega pimenta-rosa é criticada ou
sofre algum tipo de discriminação?

1 Sim
2 Não

3.3 Se houvesse a necessidade de ajudar uma pessoa da Associação, qual a chance


das pessoas cooperarem para tentar resolver o problema?

1 Muito provável
2 Pouco provável
3 Não quero responder

3.4 Suponha que ocorresse uma doença grave, ou a morte de um parente. Qual a
probabilidade de algumas pessoas na comunidade se unirem para ajudar você?

1 Muito provável
2 Pouco provável
3 Não quero responder

Pesquisa de Campo – Tese : Análise do capital social de uma comunidade do Estado de Alagoas
com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
Piaçabuçu/AL – 2015
155

PARTE 4 DO FORMULÁRIO

4 Sociabilidade

Agora eu vou fazer algumas perguntas a respeito de suas interações sociais


cotidianas.

4.1 No último mês, quantas vezes você se encontrou com pessoas em um local
público para conversar, para comer ou beber?

menos de 5 mais de 5 nenhuma

4.2 No último mês, quantas vezes as pessoas visitaram você em sua casa?

menos de 5 mais de 5 nenhuma

4.3 No último mês, quantas vezes você visitou outras pessoas em suas casas?

menos de 5 mais de 5 nenhuma

4.4 No último mês, quantas vezes você se reuniu com outras pessoas para fazer
alguma atividade esportiva?

menos de 5 mais de 5 nenhuma

Pesquisa de Campo – Tese : Análise do capital social de uma comunidade do Estado de Alagoas
com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
Piaçabuçu/AL – 2015
156

AP-D. Termo de autorização de uso de imagem e/ou depoimento

DOUTORADO MULTI-INSTITUCIONAL E MULTIDISCIPLINAR


EM DIFUSÃO DO CONHECIMENTO - UFBA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E/OU DEPOIMENTO

Eu______________________________________, CPF ______________________,


RG___________________, depois de conhecer e entender os objetivos,
procedimentos metodológicos, riscos e benefícios da pesquisa, bem como de estar
ciente da necessidade do uso da imagem e/ou do depoimento de todos os membros
da Associação Aroeira, conforme especificado no Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do presente termo, o pesquisador Alvaro
José de Oliveira, autor do projeto de pesquisa intitulado “Análise do capital social
de uma comunidade do Estado de Alagoas onde houve o desenvolvimento de
uma tecnologia social”, a coletar depoimentos e a realizar as imagens que se façam
necessárias sem quaisquer ônus financeiros a nenhuma das partes.

Ao mesmo tempo, libero a utilização destas imagens e/ou depoimentos para fins
científicos e de estudos (livros, artigos, meio eletrônico, slides e transparências), em
favor do pesquisador, acima especificado, obedecendo ao que está previsto nas Leis
que resguardam os direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.°
10.741/2003) e das pessoas com deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo
Decreto Nº 5.296/2004).
Piaçabuçu - AL, ______ de _____________ de 2015

_____________________________
Assinatura do participante ou Identificação Digital
Pesquisa de Campo – Tese : Análise do capital social de uma comunidade do Estado de Alagoas
com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
157

Piaçabuçu/AL – Junho de 2015

AP-E. Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012,
Conselho Nacional de Saúde

Título do estudo: Análise do capital social de uma comunidade do Estado de Alagoas onde houve o
desenvolvimento de uma tecnologia social.
Pesquisador responsável: Alvaro José de Oliveira
Instituição/curso: Universidade Federal da Bahia/Doutorado em Difusão do Conhecimento
Telefone para contato: (82) 9024275 E-mail: alvaroifal@hotmail.com
Local da coleta de dados: Piaçabuçu/Alagoas

Prezado(a) Senhor(a): Você está sendo convidado(a) a participar deste estudo de forma totalmente
voluntária. Antes de concordar, é muito importante que você compreenda as informações e instruções
contidas neste documento. O pesquisador deverá responder todas as suas dúvidas antes de você
decidir participar. Você tem o direito de desistir de participar da pesquisa a qualquer momento.

Objetivo do estudo. Analisar algumas dimensões do capital social (Confiança, Cooperação,


Capacidade Associativa e Sociabilidade) nos membros da Associação Aroeira localizada no município
de Piaçabuçu no Estado de Alagoas, após o desenvolvimento de uma tecnologia social.
Procedimentos. A participação nesta pesquisa consistirá apenas na aplicação de alguns formulários
e/ou entrevistas, que abordam temas relacionados ao objetivo do estudo.
Benefícios. Esta pesquisa trará maior conhecimento sobre o tema abordado, propiciando como
hipótese gerar maior inclusão social entre os membros da associação.
Riscos. A sua participação não representará qualquer risco de ordem física ou psicológica para você.
Caso não se sinta à vontade, a qualquer momento poderá comunicar ao pesquisador a decisão de não
mais participar, assim como poderá pedir mais informações sobre o estudo sempre que achar
necessário.
Sigilo. As informações fornecidas por você terão sua privacidade garantida pelo pesquisador
responsável. Os sujeitos da pesquisa não serão identificados em nenhum momento, mesmo quando
os resultados desta pesquisa forem divulgados em qualquer forma.
Custos e Benefícios: Não haverá nenhum gasto para participar deste estudo, apenas o tempo que é
dedicado para atender ao pesquisador. Não há nenhuma gratificação para participar da pesquisa.
Consentimento: Declaro que este documento me foi explicado e todas as minhas dúvidas foram
esclarecidas.

Nome do Pesquisador: Alvaro José de Oliveira


Data:________/ Junho /2015

Nome do participante:___________________________

_____________________________
Assinatura do(a) participante ou Identificação digital

Pesquisa de Campo – Tese: Análise do capital social de uma comunidade do Estado de Alagoas
com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
Piaçabuçu/AL – Junho de 2015
158

ANEXOS

AN-A. Ata de fundação da Associação Aroeira


159
160
161

AN-B. Receitas com pimenta-rosa disponibilizadas pela Associação Aroeira


162

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