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Tese CAPITAL SOCIAL E TECNOLOGIA SOCIAL - Um Estudo de Caso Na Associação Aroeira em Alagoas - Autor - Alvaro José de Oliveira
Tese CAPITAL SOCIAL E TECNOLOGIA SOCIAL - Um Estudo de Caso Na Associação Aroeira em Alagoas - Autor - Alvaro José de Oliveira
Salvador-BA
2016
DOUTORADO MULTI-INSTITUCIONAL E MULTIDISCIPLINAR EM DIFUSÃO DO CONHECIMENTO
LINHA DE PESQUISA 2: DIFUSÃO DO CONHECIMENTO:
Informação, Comunicação e Gestão
Salvador-BA
2016
SIBI/UFBA/Faculdade de Educação – Biblioteca Anísio Teixeira
Banca Examinadora
Aos colegas do programa, que ajudaram a enriquecer a experiência das aulas e dos
momentos que estivemos juntos;
De modo geral, a todos que diretamente ou indiretamente contribuíram para que este
trabalho pudesse se tornar realidade.
RESUMO
A presente tese teve como objetivo analisar dimensões do Capital Social dos
membros de uma Associação no Estado de Alagoas onde houve o desenvolvimento
de uma Tecnologia Social. As dimensões do capital social analisadas foram:
Capacidade Associativa, Confiança interpessoal, Cooperação e Sociabilidade. Os
principais aportes teóricos versaram sobre capital social e tecnologia social. Os
sujeitos da pesquisa foram os membros da Associação Aroeira, localizada no
município de Piaçabuçu no Estado de Alagoas/Brasil, onde houve o desenvolvimento
da tecnologia social de beneficiamento da pimenta-rosa, bem como representantes
do Instituto Ecoengenho, instituição que colaborou com a Associação Aroeira no
desenvolvimento da tecnologia social, e membros da comunidade de Piaçabuçu.
Trata-se de um estudo de caso único, caracterizado como pesquisa aplicada, quali-
quantitativa e exploratória que evoluiu para uma pesquisa descritiva, adotando como
procedimento uma pesquisa de levantamento, com entrevistas e aplicação de
formulário, e a observação sistemática. Observou-se como resultado que a tecnologia
desenvolvida para o beneficiamento da pimenta-rosa caracteriza-se como tecnologia
social. Quanto às dimensões do capital social analisadas, verificou-se que os
membros da Associação Aroeira demonstraram terem aprofundado estas dimensões
a partir do desenvolvimento da tecnologia social, ressaltando-se que a dimensão que
apresentou alguma fragilidade foi a capacidade associativa.
AL Alagoas
ANA Agência Nacional de Águas
BR Brasil
CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica
CONNEPI Congresso Norte e Nordeste de Pesquisa e Inovação
CS Capital Social
DMMDC Doutorado Multi-Institucional e Multidisciplinar em Difusão do
Conhecimento
ETFAL Escola Técnica Federal de Alagoas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IDH-M Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IFAL Instituto Federal de Alagoas
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IS Inclusão Social
ITS Instituto de Tecnologia Social
PIB Produto Interno Bruto
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
QI-MCS Questionário Integrado para medir Capital Social
RTS Rede de Tecnologia Social
TA Tecnologia Apropriada
TC Tecnologia Convencional
TS Tecnologia Social
UF Unidade da Federação
UFBA Universidade Federal da Bahia
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
UNILAB Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-brasileira
USAID Agência Americana para Desenvolvimento internacinal (United
States Agency for International Development)
LISTA DE FIGURAS
Figura 15. PIB per capita (R$) de Estados do Nordeste - 2005-2009 ......................42
Figura 20. Produção científica sobre capital social – 1986 a 2003 ...........................51
Figura 21. Linha do tempo dos autores basilares sobre capital social .....................55
Gráfico 05. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Em geral, você diria
que a maior parte das pessoas da Associação Aroeira é confiável?” ......................109
Gráfico 08. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Hoje em dia com que
frequência você diria que as pessoas membros da Associação Aroeira ajudam umas
às outras?” ...............................................................................................................112
Gráfico 10. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Uma pessoa que não participa
da Associação e pega pimenta-rosa é criticada ou sofre algum tipo de discriminação?”
..................................................................................................................................114
Gráfico 13. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes
você se encontrou com pessoas em um local público para conversar, para comer ou
beber?” .....................................................................................................................118
Gráfico 14. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes
as pessoas visitaram você em sua casa?” ...............................................................119
Gráfico 15. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes
você visitou outras pessoas em suas casas?” .........................................................120
Gráfico 16. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes
você se reuniu com outras pessoas para fazer alguma atividade esportiva?” .........120
LISTA DE QUADROS
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16
1.1 Contexto e justificativa da pesquisa ................................................................ 32
1.1.1 Por que Alagoas? .................................................................................. 33
1.2 Estrutura do texto ............................................................................................ 45
1 INTRODUÇÃO
1
“O empoderamento pode ser entendido como o envolvimento dos indivíduos na gestão política e
econômica das localidades, através da descentralização, do repasse de responsabilidades e da
democratização do poder. Estes passam a interagir melhor, compreender e assumir responsabilidades
e consequências, o que permite um maior poder de decisão na sua comunidade, assim como o
surgimento e crescimento do civismo e, por conseguinte um aumento na participação social” (COSTA
et al., 2006, p.9).
17
2
O tema das tecnologias sociais será debatido ao longo deste texto. Mas para favorecer o entendimento
desta parte do texto, pode-se dizer que, de acordo com a Rede de Tecnologia Social (RTS, 2014), a
tecnologia social compreende produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na
interação com a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social. Disponível
em <http://www.rts.org.br/rts/tecnologia-social/tecnologia-social.> Acesso em 22 de abril de 2014.
18
[...] quer dizer que no lugar de buscar um sistema explicativo unitário [...] as
ciências humanas necessitam de explicações, ou de olhares, ou de óticas, de
perspectivas plurais para dar conta um pouco melhor, ou um pouco menos
mal, da complexidade dos objetos.
Assim, esta pesquisa surgiu a partir da percepção de que o bom uso de novas
tecnologias, mais especificamente tecnologias sociais, estaria associado à
intensidade das interações entre os diferentes atores envolvidos no fortalecimento
destas interações. A partir daí capital social e tecnologia social foram utilizados como
categorias basilares para o estudo, categorias estas que foram aprofundadas nas
seções 2.1 e 2.2 deste trabalho. Os referidos temas foram tratados através de uma
abordagem multirreferencial na sua perspectiva epistemológica, buscando
fundamentar a temática da tese, sem levar em conta apenas um olhar para a
compreensão do objeto da pesquisa, apreendendo,
[...] a realidade (se isto for possível) através e a partir de visões e sistemas
de referência diversos, irredutíveis, expressos por linguagens distintas, de
modo a capturar o menos reducionista mente possível, a complexidade da
situação em estado de pesquisa (BURNHAM, 2007, p.7).
19
No decorrer desta análise, a discussão sobre capital social tomou como foco
o ressurgimento contemporâneo da ideia, evitando assim uma longa discussão sobre
os seus precursores clássicos, começando por passar em revista as abordagens dos
principais autores associados ao uso contemporâneo do termo. Na investigação feita
para esta tese, foram analisados alguns aspectos do surgimento do capital social e
suas principais aplicações.
3
A descrição dos sujeitos de pesquisa fará parte dos resultados deste trabalho, com base em dados
colhidos por meio dos formulários aplicados à comunidade pesquisada.
4
É necessário compreender a análise multirreferencial como uma leitura plural, sobre diferentes
ângulos, dos objetos que se quer apreender, em função de sistemas de referências supostamente
distintos, não redutíveis uns aos outros. (ARDOINO, 1991, p.173, tradução nossa).
20
Como dito antes, o desenvolvimento não é objeto de estudo desta tese, mas
espera-se que a tecnologia social catalise um processo de mudança regulado pelas
interações sociais, por múltiplas relações sociais, aleatórias ou não, cujo propósito
seja assegurar a conservação dinâmica de suas próprias relações e, nessa medida,
dos elementos que compõem a comunidade, e que possivelmente se reflita em
desenvolvimento local, inclusive econômico.
5
Desenvolvimento local refere-se ao aspecto espacial, territorial, do desenvolvimento, enquanto
desenvolvimento endógeno refere-se à proveniência local dos diversos recursos que promovem este
desenvolvimento (BARQUERO, 2002).
22
coletiva, baseando-se nas normas de intercâmbio entre eles. Bourdieu (1983, p. 249)
afirma que “os benefícios angariados por virtude da pertença a um grupo são a própria
base em que assenta a solidariedade que os torna possíveis”.
Autores como Robert Putnam (1993; 1995; 1996; 2002) e James Samuel
Coleman (1988; 1990), entre outros estudiosos do tema, tratam as redes de
compromisso cívico, as normas de confiança mútua e a riqueza do tecido associativo
como fatores importantes do desenvolvimento local, fatores marcados pelo contexto
em que se situam através de atividades culturais, econômicas, políticas e sociais.
Observam-se exemplos desta realidade no Estado de Alagoas (2012), no município
de Piaçabuçu (Figura 02), campo da pesquisa onde se encontram os sujeitos,
membros e colaboradores da Associação Aroeira.
6
[…] as redes caracterizadas pelo predomínio de laços horizontais costumam fortalecer as relaciones
de solidariedade, reciprocidade y de sentido de pertencimento de um grupo, ou seja, em outra
terminologia, sobre todo os laços de união, ainda que também eventualmente dos de ponte […]
(SAAVEDRA; ESPINOZA, 2009, p.212, tradução nossa).
24
Esta pesquisa apresenta uma análise em nível micro e meso, pois o trabalho
de campo incluiu um levantamento caracterizado pela interrogação direta às pessoas
que compõem uma associação cujo comportamento se buscou conhecer, pessoas
que estavam envolvidas no desenvolvimento da tecnologia social.
7
“Cabe ressaltar que o extrativismo nessa região teve início de forma exógena, como demanda das
indústrias processadoras localizadas no estado do Espírito Santo. Indústrias que exportam o fruto da
espécie para diversos países da União Européia, bem como para os Estados Unidos, Canadá e
Argentina” (JESUS; GOMES, 2010, p. 183).
25
colocados nas bandejas das estufas termo solares (Figura 03) para serem
desidratados.
Antes do envase, são feitas amostragens das sementes para aferir a sua
umidade, que deve estar entre 5 e 7% para uma boa conservação e diminuição da
possibilidade de contaminação.
8
Disponível em: <http://www.ecoengenho.org.br/quem-somos/o-instituto/>. Acessado em 24 agosto de
2014.
9
Disponível em: <http://www.ecoengenho.org.br/?page_id=1270>. Acessado em 24 agosto de 2014.
10
O Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania é resultado de um conjunto de esforços.
Elaborado com a participação de membros das diferentes áreas da Petrobras, representantes da
sociedade civil e do governo, seu conteúdo reflete o compromisso da empresa em contribuir para o
desenvolvimento local, regional e nacional, gerando a inserção social, digna e produtiva, de pessoas e
grupos que vivem em risco social no Brasil. Disponível em:
<http://sites.petrobras.com.br/minisite/desenvolvimento-e-cidadania/apresentacao/>. Acessado em 24
agosto de 2014.
27
11
O caráter multidimensional do Capital Social de acordo com Nahapiet e Ghoshal (1998, p. 246) se
refere basicamente “A dimensão cognitiva […] aborda os significados que são compartilhados pelos
atores da rede. São idéias comuns com relação a assuntos diversos que fazem parte do contexto
específico da rede e que orientam as decisões e os comportamentos. A dimensão estrutural […] traz
aspectos de nível micro, como a força das relações e aspectos de nível macro como a configuração da
network. […] A dimensão relacional […] aborda o conteúdo transacionado entre os atores da network.
Esta dimensão também considera os papéis que estes atores assumem como: amigos, informantes,
confidentes, professores ou mentores”.
28
12
transformado en mejores condiciones de vida.
Embora existam na literatura acadêmica muitos estudos sobre capital social,
não foram encontrados estudos que verifiquem se há um nexo causal entre
modificações positivas no capital social das pessoas de uma comunidade onde houve
o desenvolvimento de uma tecnologia social. Assim sendo, foi definida como questão
central para a investigação pretendida: De que forma o desenvolvimento de uma
tecnologia social modifica alguns aspectos do capital social em uma
comunidade?
12
[…] então uma estratégia para desenvolver a consciência crítica que, por sua vez, se desenvolve
com a reflexão e a com a ação, produz através de ambas a transformação das circunstancias
naturalizadoras e alienadoras. A problematização sensibiliza, desnaturaliza, estabelece as bases
cognitivas e afetivas para produzir uma motivação de mudança que se traduz em ações concretas de
transformação. Esse movimento transformador da consciência permite passar do real aceito
acriticamente ao possível transformado em melhores condições de vida (MONTERO, 2006, p. 231,
tradução nossa).
29
Macro
Instituições do
Estado,
Estado de
Direito Governança
Estrutural Capital
Cognitivo
Social
Instituições Locais,
Redes sociais, Confiança,
Associações Normas locais
comunitárias e valores
Micro
[...] já que [estudo de caso] é um método definido para ser usado visando a
um estudo aprofundado de casos particulares, sejam eles simples e
específicos ou complexos e abstratos. Isto é, uma análise intensiva, que pode
ser empreendida numa única ou várias organizações reais. O estudo de caso
coleta informações tão numerosas quanto detalhadas, visando o máximo
possível apreender a totalidade do objeto a ser investigado. (ARAGÂO, 2008,
pg. 56).
1. A
tecnologia
social
potencializa
as relações
sociais,
gerando
3. 2. confiança
cooperação e e
o espíríto aumentando
associativo a
13
A pobreza e a vulnerabilidade estão interligadas, são multidimensionais e, por vezes, reforçam-se
mutuamente. Mas não são sinónimos. Enquanto a vulnerabilidade constitui geralmente um aspeto
importante da pobreza, ser rico não significa não ser vulnerável. Tanto a pobreza como a
vulnerabilidade são dinâmicas. Os ricos podem não ser vulneráveis sempre, ou por toda a vida, tal
como alguns pobres podem não permanecer sempre pobres. (ONU. PNUD, Relatório do
Desenvolvimento Humano, 2014, p. 19).
35
14
O IDHM aqui apresentado expressa uma média dos valores do IDH municipal por estado.
37
0,9
0,8
0,824
0,7
0,783
0,774
0,761
0,749
0,746
0,740
0,735
0,731
0,729
0,727
0,725
0,708
0,707
0,699
0,6
0,690
0,684
0,682
0,674
0,673
0,665
0,663
0,660
0,658
0,646
0,646
0,639
0,5 0,631
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Pernambuco
Maranhão
Rio de Janeiro
Paraíba
Mato Grosso
Paraná
Brasil
Amazonas
Minas Gerais
Roraima
Ceará
Distrito Federal
Espírito Santo
Goiás
São Paulo
Tocantins
Bahia
Acre
Rondônia
Sergipe
Pará
Santa Catarina
Amapá
[…] o IDHM agregava suas 3 dimensões por meio de uma média aritmética
simples: o IDHM de um município era o resultado da soma de seus
subíndices, dividido por três (IDHM Educação + IDHM Longevidade + IDHM
Renda / 3). Assim, o fraco desempenho em uma dimensão poderia ser
compensado por um desempenho melhor em outra. Por exemplo, municípios
que apresentavam baixa esperança de vida, mas alta renda municipal,
poderiam ter IDHM semelhante aos municípios que estavam com equilíbrio
no desempenho concomitantes entre as três dimensões. No IDHM do Atlas
Brasil 2013, foi adotada a média geométrica: as dimensões são multiplicadas
e o produto é extraído pela raiz cúbica (3IDHMEducação x IDHMLongevidade
x IDHMRenda). Deste modo, a média geométrica reduz o nível de
substituição entre as dimensões. Ou seja, um baixo desempenho em uma
dimensão não é mais linearmente compensado pelo elevado desempenho
em outra. Assim, o IDHM reflete desempenhos nas três dimensões. O
desempenho dos municípios, tanto na renda, quanto na longevidade e na
educação, deve ser harmonioso (ONU, 2013, p.28)
38
é calculado o IDHM
t"KVTUBSBNFUPEPMPHJBBPDPOUFYUP 3
brasileiro, buscando indicadores mais
adequados para avaliar as condições de
( x x )
núcleos sociais menores – os municípios MÉDIA GEOMÉTRICA
RAIZ CÚBICA DA MULTIPLICAÇÃO DOS 3 IDHMS
=
t"EBQUBSBNFUPEPMPHJBEP*%)
global aos indicadores disponíveis
nos Censos Demográficos brasileiros,
de forma a garantir mesma fonte de
dados e comparabilidade entre todos os
IDHM
municípios brasileiros
www.atlasbrasil.org.br
Figura 10. Dimensões do Desenvolvimento Humano
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (ONU, 2013. p.27)
De acordo com o PNUD (ONU, 2013), o item longevidade do IDHM deve ser
avaliado considerando a expectativa de vida ao nascer (Figura 12) e deve mostrar a
quantidade de anos que uma pessoa nascida em uma localidade, em um ano de
referência, deve viver, refletindo as condições de saúde e de salubridade no local, já
que o cálculo da expectativa de vida é fortemente influenciado pelo número de mortes
precoces. Provavelmente a situação precária do saneamento básico contribui para
estes dados.
0,9
0,88
0,86
0,873
0,84
0,86
0,845
0,82
0,84
0,838
0,835
0,835
0,833
0,83
0,827
0,8
0,821
0,816
0,813
0,809
0,805
0,78
0,8
0,793
0,793
0,792
0,789
0,789
0,76
0,783
0,783
0,781
0,777
0,777
0,74
0,757
0,755
0,72
0,7
0,68
Rondônia
Tocantins
Sergipe
Rio Grande do Norte
Bahia
Minas Gerais
Santa Catarina
Pernambuco
Goiás
Espírito Santo
Maranhão
Alagoas
Mato Grosso
Amazonas
Pará
Rio de Janeiro
Acre
Paraíba
Roraima
Piauí
São Paulo
Distrito Federal
Brasil
Ceará
60
55
55
50
45
40
35
38,3
36,7
36,3
30
33
31,7
31,2
30,3
28,8
28,8
25
28
24,3
24,2
20
22,8
22,5
22,1
21,9
18,5
18,4
15
17
16,7
14,3
13,4
10
12
11,2
10,1
8,6
5
7,5
0
RJ
DF
AL
AP
RS
CE
RR
SP
AC
PE
SE
GO
BA
ES
SC
RO
PR
PA
RG
PB
AM
TO
PI
MT
MS
MA
MG
Brasil
Figura 13. Ordenamento das taxas de homicídios na população total das UF (2012)
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Waiselfisz (2013).
1
0,9
0,8
0,863
0,7
0,789
0,782
0,773
0,769
0,757
0,743
0,742
0,74
0,739
0,732
0,73
0,712
0,695
0,6
0,694
0,69
0,678
0,677
0,673
0,672
0,671
0,663
0,656
0,651
0,646
0,641
0,635
0,612
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Rio Grande do Norte
Acre
Pará
Ceará
Goiás
Bahia
Brasil
Paraná
Minas Gerais
São Paulo
Alagoas
Piauí
Rio de Janeiro
Mato Grosso
Sergipe
Espírito Santo
Paraíba
Amazonas
Distrito Federal
Tocantins
Maranhão
Pernambuco
O Produto Interno Bruto (PIB) per capita de Alagoas está entre os piores do
Brasil (Figura 15) com um altíssimo nível de concentração da renda, tornando esta
concentração impactante no elevado nível de pobreza e violência, trazendo
consequências direta no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM).
42
18.000,00
16.000,00
14.000,00
12.000,00
10.000,00
8.000,00
6.000,00
4.000,00
2.000,00
0,00
Maranhão
Pernambuco
Paraíba
Rio Grande do Norte
Ceará
Alagoas
Sergipe
Brasil
Bahia
Nordeste
Piauí
2005 2006 2007 2008 2009
50%
45%
40% 44%
35%
30%
25%
26%
20%
15%
17%
10%
10%
5%
3%
0%
Sem renda Até 1 salário mínimo Até 1/2 salário 2 a 5 salários + de 5 salários
mínimo mínimos mínimos
Figura 16. Alagoas: População Economicamente Ativa – Renda 2011
Fonte: Elaborado pelo autor com base em IBGE (2012).
40
35
34,29 %
30
25
20
15 16,66 %
15,2 %
10
5 6,62 %
0
% de pobres (2010) % de extremamente pobres (2010)
Brasil Alagoas
Não há um consenso sobre qual padrão deve ser adotado para medir a linha
de pobreza. Em seu Relatório de Desenvolvimento Mundial de 1990, o Banco Mundial
estabeleceu que a linha de pobreza mundial é de menos de US$ 1,25 (um dólar e
vinte cinco centavos) por dia. “Pessoas em situação de pobreza extrema são aquelas
que apresentam uma renda média de R$ 2,36 por dia, ou R$ 71,75 por mês” (ONU,
2015, sem paginação). Segundo o Loureiro e Suliano (2009, p.2), “No Brasil, é comum
a utilização da linha da pobreza de ½ salário mínimo por mês de renda per capita
como medida de pobreza, ou, ainda, tendo como base uma cesta mínima de
consumo”.
Segundo dados disponíveis (ONU, 2013), até 2013 Alagoas estava entre os
três Estados brasileiros que apresentam pessoas em situação de extrema pobreza.
Embora não traga dados especificamente sobre o Estado de Alagoas, o Comunicado
n° 159, publicado pelo IPEA em 2013 intitulado “Duas décadas de desigualdade e
pobreza no Brasil medidas pela PNAD/IBGE” mostra que cerca de 3,5 milhões de
brasileiros saíram da pobreza em 2012. Em 2012, eram cerca de 15,7 milhões de
pessoas vivendo na pobreza no Brasil, dos quais 6,53 milhões continuam abaixo da
linha de pobreza. Em 2011, esses números eram de 7,6 milhões de pobres e em torno
de 19,2 milhões de pessoas na extrema pobreza. A Figura 18 mostra o crescimento
da renda domiciliar per capita (R$ 2012) para grupo selecionados entre 2002 e 2012.
Observa-se que no Nordeste houve crescimento de 5% da renda domiciliar per capita,
e este crescimento deve ter repercutido no Estado de Alagoas, mas não foram
encontrados dados específicos para o estado.
45
Capítulo 1
Introdução
Capítulo 2
Capital Social e Tecnologia Social
Capítulo 3
Metodologia da Pesquisa
Capítulo 4
Apresentação e Análise de Resultados
Capítulo 5
Considerações Finais
Referências
Apêndice e Anexos
.
Figura 19. Estrutura deste documento
Fonte: Elaborado pelo autor
Da mesma forma que ocorreu com capital social, na introdução foram tratados
aspectos gerais relacionados à tecnologia social, mas na seção 2.2, serão
apresentadas as principais discussões sobre tecnologia social e um aprofundamento
teórico pautado na análise pretendida nesta pesquisa. O tema é estudado como uma
proposta que considera a importância da participação coletiva na produção de
dinâmicas sociais e econômicas, capazes de propiciar a inclusão social e o
desenvolvimento sustentável. Portanto a tecnologia social é compreendida nesta
análise como procedimentos metodológicos com impacto social, desenvolvidos a
partir de necessidades, com o fim de solucioná-las. Uma TS deve sempre considerar
a realidade social e estar, de forma geral, ligada uma organização coletiva.
49
Este trabalho de tese não teve como foco principal a discussão de qual é o
melhor caminho para conceituar capital social. Buscou-se aqui definir a importância
do capital social para a análise feita nesta pesquisa.
Para efeito deste estudo, o capital social de uma pessoa relaciona-se com a
dimensão de sua rede de relações e a capacidade interacional que ela possui
efetivamente para mobilizar os capitais cultural, econômico ou simbólico com as
pessoas às quais ela tem alguma conexão, trazendo a estas pessoas maior
capacidade de inserção social e tornando-os uma força motriz para o desenvolvimento
da comunidade a que pertencem. Simplificadamente o capital social, aqui
compreendido, relaciona-se com a coesão social dentro de uma comunidade como
um recurso social para o seu desenvolvimento.
Tais elementos impulsionadores e cíclicos não são exauridos com seu uso,
ao contrário tornam-se elementos de desenvolvimento, e sua maior utilização o
expande, ou seja, “os estoques de Capital Social, tais como a confiança […] tendem
a ser retroalimentados e cumulativos” (PUTNAM, 1993, p.177). Difere, portanto, do
dinheiro que, ao ser usado, se esgota. O capital social quanto mais é usado mais
tende a se ampliar.
53
15
A título de ilustração, ressalta-se a importância dada por Émile Durkheim aos laços e coesão sociais
e seu estudo sobre o suicídio, ou a forma com que Alexis de Tocqueville celebrou a capacidade da
sociedade americana em criar laços e associações com vistas à realização do bem comum (LEMOS,
2008, p.83).
55
Figura 21. Linha do tempo dos autores basilares sobre capital social
Fonte: Autoria própria
16
his neighbors (HANIFANN, 1920, p. 79).
Outras contribuições vieram de Jane Jacobs (1961), que, apesar de não ter
tratado diretamente sobre o capital social, salientou que a segurança nas cidades
depende diretamente do contato interpessoal e das redes de confiança no âmbito da
vizinhança como forma de resolver problemas comuns.
These networks are a city’s irreplaceable social capital. Whenever the capital
is lost, from whatever cause, the income from it disappears, never to return
until and unless new capital is slowly and chancily accumulated (JACOBS,
17
1961, p.138).
Woolcock (1998) afirma que Jane Jacobs com o seu livro “The Life and Death
of Great American Cities” forneceu o sentido contemporâneo de capital social.
16
O indivíduo é impotente socialmente, se entregue a si mesmo. Mesmo a associação dos membros
da própria família falha em satisfazer o desejo que cada indivíduo normal tem de estar com seus
companheiros, de fazer parte de um grupo maior do que a família. Se ele entra em contato com seus
vizinhos, haverá uma acumulação de capital social, o que pode imediatamente satisfazer suas
necessidades sociais, e pode conter uma potencialidade social suficiente para a melhoria substancial
da vida em toda a comunidade. A comunidade em seu conjunto vai beneficiar a cooperação de todas
as suas partes, enquanto o indivíduo vai encontrar em suas associações as vantagens da ajuda, a
simpatia, e a comunhão dos seus vizinhos (HANIFANN, 1920, p. 79, tradução nossa).
17
As redes de relações são o capital social insubstituível de uma cidade. Se este capital se perde, por
quaisquer razões, sua ‘renda’ desaparece para não mais retornar, até que um capital novo tenha a
chance de ser lentamente acumulado (JACOBS, 1961, p.138, tradução nossa).
18
A existência de uma rede de relações não é um dado natural, nem mesmo um “dado social”,
constituído de uma vez por todas e para sempre por um ato social de instituição (representado, no caso
do grupo familiar, pela definição genealógica das relações de parentesco que é característica de uma
57
formação social), mas o produto do trabalho de instauração e de manutenção que é necessário para
produzir e reproduzir relações duráveis e úteis, aptas a proporcionar lucros materiais ou simbólicos
(BOURDIEU, 1980, p.2, tradução nossa).
58
[...] esses ativos tangíveis que contam para a maioria das pessoas na
vivencia diária: denominadas de confiança, companheirismo, simpatia e
relações sociais entre os indivíduos e as famílias que integram uma unidade
LYDA JUDSON social. A integração entre vizinhos favorece para que aja acumulação de
HANIFAN capital social, que pode satisfazer imediatamente suas necessidades
sociais e que pode ter uma potencialidade suficiente para a melhora
substancial das condições de vida em toda a comunidade (HANIFAN, 1920,
p.79).
JAMES S. O capital social é definido pela sua função. Não é uma entidade única, mas
COLEMAN uma variedade de diferentes entidades que têm duas características em
comum: todos eles consistem em algum aspecto da estrutura social e
59
[...] como um patrimônio ‘não visível’, mas altamente eficaz, a serviço dos
sujeitos sociais, sejam estes individuais ou coletivos, esse sentido, se as
relações sociais estão baseadas na reciprocidade e na expectativa de
cumprimento mútuo – caso contrário haveria sanção social –, os motores da
ação coletiva serão a confiança e a cooperação (HIGGINS, 2005, p.1)
Ganhos
Fonte: Altruista
- Observância de normas
- Introjecção de valores
- Apoio familiar
- Soliedariedade confinada
-Benefícios mediados por redes
Definição
Capacidade de angariação de benefícios
através da pertença a redes e outras
estruturas sociais
Perdas
Fonte: Instrumental:
- Acesso restrito a oportunidades;
- Trocas reciprocas
- Restrições a liberdade individual;
- Confiança exigível
Solicitações excessivas sobres membros de
grupo;
- Normas de nivelação descendente
Figura 22. Ganhos e perdas efetivas e potenciais em transações mediadas pelo capital social
Fonte: Adaptado pelo autor, a partir de Portes (2000, pg.140)
pela primeira vez no século XV, por volta de 1430, e ligado a fides,
conjugação verbal de fidere, que significa confiar, e está também na raiz de
significação da palavra fé, já registrada cerca de 200 anos antes. Se o olhar
do pesquisador for dirigido para o início da árvore de evolução dos
significados, tanto fé como confiança, têm origem na crença, no credo, em
acreditar em algo. (VALENTIM, 2006, p.19).
19
Em grande medida, a percepção de confiabilidade do outro está relacionada com a percepção de
qualidades que o fazem merecedor de nossa confiança. Exemplo disso é ver o outro como competente,
íntegro, benevolente, aberto à comunicação e compartilhar uma identidade social comum (Yáñez,
2006). Una segunda variável é a predisposição a confiar por parte de quem confia, e se refere à
tendência a ver o ser humano como uma pessoa boa y, por fim, confiável (Kramer, 1999). Esta
tendência surge tanto pelas experiências da primeira infância, como por fatores culturais (Kramer, 1999;
Solomon & Flores, 2001). Uma terceira variável é o contexto social, o qual faz referência aos valores
culturais e as normas institucionais existentes na sociedade. Estreitamente vinculada ao anterior, está
a percepção de risco para o que confia e a decisão de assumir este risco. O risco é um componente
essencial da confiança. A confiança no outro só se coloca à prova no momento em que se toma a
decisão e se atua; então, se aceita o risco, o que implica ficar em estado de vulnerabilidade ante o
outro. (ANTUÑANO et al., 2008, p.45, tradução nossa).
64
O sujeito espera que algo aconteça O sujeito espera que algo aconteça
Convicção com certeza, e não considera a com certeza, e não considera a
possibilidade que algo dê errado. possibilidade que algo dê errado.
2.1.3 Cooperação
2.1.4 Sociabilidade
A opção por utilizar nesta tese de doutorado a tecnologia social (TS) como
indutora de capital social, ou seja, como um fator capaz de colaborar com o surgimento
ou aumento do capital social de uma comunidade, surge da preocupação com os
problemas sociais existentes no Estado de Alagoas, mais especificamente na
Associação Aroeira, numa comunidade extrativista do município de Piaçabuçu,
conforme apresentado na Introdução deste trabalho.
20
Diz-se reaplicação de uma tecnologia social quando uma tecnologia social é desenvolvida por um
grupo para resolver um problema local e, ao ser conhecida por outro grupo social, este novo grupo
social a discute, adapta e transforma de modo que ela possa ser usada por este para resolver seus
problemas respeitando as características e singularidades deste novo grupo.
68
21
A Rede de Tecnologia Social reúne, organiza, articula e integra um conjunto de instituições com o
propósito de contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável mediante a difusão e a
reaplicação em escala de tecnologias sociais. Disponível em: <http://rts.ibict.br/rts/a-rts/proposito>.
Acesso em: 26 dez. 2014.
69
[…] não é adequada para a Inclusão Social (IS). Ou seja, existem aspectos
na TC, crescentemente eficientes para os propósitos de maximização do
lucro privado para os quais é desenvolvida nas empresas, que limitam sua
eficácia para a IS (DAGNINO, 2004, p.1).
apresentadas por Dagnino (2010, p.54) foram sistematizadas por Maltez (2014), e são
mostradas no Quadro 03.
22
O ITS Brasil tem como principal missão: “Promover a geração, o desenvolvimento e o aproveitamento
de tecnologias voltadas para o interesse social e reunir as condições de mobilização do conhecimento,
a fim de que se atendam as demandas da população”. Disponível em < http://itsbrasil.org.br/conheca-
o-its-brasil/conheca-o-its-brasil>. Acesso em 2 de janeiro de 2015.
71
Com base no mostrado no Quadro 04, pode-se dizer que a tecnologia social
se compromete primeiramente com o social, com a relevância e eficácia social,
deslocando o foco somente de aspectos econômicos. Em outras palavras, embora
busque a sustentabilidade socioambiental e econômica, seus objetivos prioritários são
sociais. Seu desenvolvimento requer a criação de um espaço de descoberta e escuta
de demandas e necessidades sociais, requer pensamento e ação inovadores, requer
organização e sistematização dos conhecimentos. Isto mobilizará um processo
pedagógico para todos os envolvidos, com diálogo entre diferentes saberes, exigindo
difusão e ação educativa, bem como acesso e apropriação de tecnologias. Todo este
processo precisa ser participativo com planejamento, acompanhamento e avaliação
coletiva, decorrendo aí uma construção cidadã do processo democrático.
23
Utiliza-se aqui a terminologia “comunidade local” para destacar o aspecto espacial e presencial da
convivência das pessoas, em contraposição às comunidades virtuais.
74
como é assinalado pelo Instituto de Tecnologia Social (ITS, 2010), que faz menção a
fatores para o desenvolvimento local, conforme a Figura 23.
Maltez (2014, p. 136) elenca aspectos das tecnologias sociais que nortearam
uma pesquisa sobre Turismo de Base Comunitária: a tecnologia social é (a) adaptada
para empreendimentos auto gestionários, de pequeno tamanho; (b) desenvolvida de
forma descentralizada sem valorizar ou estimular hierarquias nos empreendimentos;
(c) tem a possibilidade de apropriação pelas comunidades que participam da criação,
desenvolvimento, implementação e organização dessas tecnologias; (d) é voltada
para a solução de problemas sociais e/ou ambientais locais, na perspectiva dos
grupos imediatamente envolvidos, visando a dinamização da criatividade e da
economia, com capacidade de articulação entre saberes tradicionais e conhecimentos
técnicos e científicos; e (e) possui simplicidade no seu desenvolvimento e facilidade
de reaplicabilidade.
• Gestão descentralizada;
• Apropriação pela comunidade com sua participação na criação,
desenvolvimento, implementação e organização dessas tecnologias;
• Voltada para a solução de problemas sociais e/ou ambientais locais,
visando a dinamização da criatividade e da economia, articulando
saberes tradicionais e conhecimentos tecno-científicos;
• Simplicidade no seu desenvolvimento e facilidade de (re)
aplicabilidade.
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Considerou-se esta uma pesquisa social já que este tipo de pesquisa refere-
se ao “[…] processo que, utilizando a metodologia científica, permite a obtenção de
novos conhecimentos no campo da realidade social” (GIL, 2008a, p.26). Teve-se,
portanto, como princípio o cumprimento de uma série de normativas recomendadas
para os estudos científicos, para que desenvolver a pesquisa de campo, seguindo a
lógica e a determinação das questões metodológicas científicas. Para tanto, tomou-
se a multirreferencialidade como método de abordagem epistêmica.
24
Embora alguns pesquisadores não recomendem as obras de Antônio Carlos Gil, aqui serão usadas
citações de Gil que coadunam com as ideias do autor desta tese, e que serão devidamente
referenciadas.
79
25
[…] necessário entender a análise multirreferencial como uma leitura plural, sob diferentes ângulos,
dos objetos que você quer entender, em função de diferentes sistemas de referência supostamente
não redutíveis uns aos outros [...] Por conseguinte, do ponto de vista do conhecimento, a
multirreferencialidade interessa ao psicólogo, ao psicólogo social, ao economista, ao sociólogo, ao
filósofo, ao historiador etc. No plano da ação, são necessárias múltiplas competências tanto para a
inteligência prática como para a gestão de situações específicas. Só se pode esperar empreender
seriamente a análise de tais práticas a partir do reconhecimento de sua complexidade e,
consequentemente, de uma compreensão consideravelmente reformulada do estado de sua opacidade
(ARDOINO, 1991, p.1, tradução nossa).
80
[…] a conjugação de uma série de abordagens, de tal forma que elas não se
reduzam umas às outras e nos levem a um tipo de conhecimento que se
diferencia daquele que é concebido na ótica do cartesianismo e do
positivismo […] tendo como objetivo estabelecer um novo “olhar” sobre o
“humano”, mais plural, a partir da conjugação de várias correntes teóricas, o
que se desdobra em nova perspectiva epistemológica na construção do
conhecimento sobre os fenômenos sociais […] (MARTINS, 1998, p.1).
Esta tese tomou como método basilar da pesquisa de campo o estudo de caso
homogêneo (YIN, 2010), pois o caso de estudo é único (dimensões do capital social
relacionadas ao desenvolvimento de uma tecnologia social) com uma única unidade
de análise (Associação Aroeira). O estudo tem procedimentos de coleta de dados
baseados em pesquisa de levantamento. De acordo com a análise desenvolvida para
compreender o objeto de estudo, a investigação empreendida seguiu a configuração
mostrada na Figura 24.
Como dito, o maior enfoque, entretanto, foi dado à abordagem qualitativa, pois
os dados são predominantemente descritivos com o reconhecimento da experiência
social e da singularidade do sujeito, focalizando suas particularidades e as suas
especificidades, de acordo com as observações feitas, que serviram de fundamento
para a análise dos dados com base nos referenciais teóricos.
[...] têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que
estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a
descoberta de intuições. (GIL, 2008a, p.41).
Número de
Número de Instrumento de
Sujeitos de pesquisa Pessoas
participantes pesquisa
pesquisadas
Gestores e Membros da Associação
75 pessoas 60 pessoas Formulário
Aroeira
Gestores da Associação Aroeira 5 pessoas 5 pessoas Entrevista
Membros do Instituto Ecoengenho 3 pessoas 2 pessoas Entrevista
Representantes da Comunidade 3 pessoas 3 pessoas Entrevista
Fonte: Elaboração Própria (2015)
26
O material primário no qual se baseia o survey do Banco Mundial reúne as lições aprendidas nos
seguintes estudos (enumerados em ordem cronológica):
· O Survey sobre Capital Social na Tanzânia coletou dados sobre participação em associações e
confiança, e relacionou esses conceitos ao acesso a serviços e tecnologia agrícola (NARAYAN;
PRITCHETT, 1999).
· O Estudo Sobre Instituições de Nível Local coletou dados comparáveis sobre capital social estrutural
na Bolívia, em Burkina Faso e na Indonésia. A análise focalizou o papel do capital social em relação ao
bem-estar e à pobreza doméstica, acesso ao crédito, e ação coletiva (GROOTAERT, 2001).
· A Iniciativa do Capital Social patrocinou 12 estudos acerca do papel do capital social em projetos
setoriais e no processo de criação e destruição de capital social. As lições empíricas foram
apresentadas em dois volumes (GROOTAERT; BASTALAER, 2001, 2002).
· O Survey sobre Capital Social em Gana e Uganda coletou dados sobre grupos e redes, bem-estar
subjetivo, engajamento político, sociabilidade, atividades comunitárias, violência, criminalidade e
comunicações (NARAYAN; CASSIDY, 2001).
· O Levantamento acerca da Pobreza na Guatemala combinou uma Pesquisa de Padrão de Vida (PPV),
com o módulo de capital social (IBÁÑEZ; LINDERT; WOOLCOCK, 2002).
87
[...] não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação
e a compreensão de sua totalidade [...] além de manter a presença consciente
e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações (TRIVIÑOS,
1987, p. 152).
A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que
possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para a
investigação. Já a interpretação tem como objetivo a procura do sentido mais
amplo das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros
conhecimentos anteriormente obtidos (GIL, 2008b, p.156).
Se establece el contacto con ellos y/o ellas en caso de que no se les conozca
previamente; se les invita a participar informándoles de los objetivos y fines
de la investigación, y solicitando su consentimiento para la publicación de los
27
resultados que puedan obtenerse. (MONTERO, 2006, p. 240)
27
Estabelece-se o contato com eles e/ou elas no caso de não os conhecer previamente; convida-os a
participar, informando-lhes de os objetivos e fins da investigação, e solicitando seu consentimento para
a publicação dos resultados que se possam obter. (MONTERO, 2006, p. 240, tradução nossa)
91
A fim de garantir que fossem atingidos os objetivos desta tese, foi feita uma
análise de coerência da proposta de pesquisa considerando, o objetivo geral, que trata
da análise de dimensões do capital social dos membros de uma Associação no Estado
de Alagoas onde houve o desenvolvimento de uma tecnologia social. Para nortear o
alcance do objetivo da tese, os objetivos específicos foram relacionados aos
procedimentos e às fontes de dados, conforme Quadro 06.
Compreender as
características da tecnologia Observação sistemática Pesquisador
social estudada
Analisar se o 1) Gestores e Membros da
desenvolvimento de uma Associação Aroeira
tecnologia social resultou em 1) Formulário
mudança da capacidade 2) Gestores da Associação
associativa das pessoas na 2) Entrevistas Aroeira, Instituto
comunidade extrativista da Ecoengenho e Cidadãos de
Aroeira. Piaçabuçu
1) Gestores e Membros da
Analisar se o Associação Aroeira
desenvolvimento de uma 1) Formulário
tecnologia social resultou em 2) Gestores da Associação
mudanças na confiança entre 2) Entrevistas Aroeira, Instituto
as pessoas Ecoengenho e Cidadãos de
Piaçabuçu
Analisar se o 1) Gestores e Membros da
desenvolvimento de uma Associação Aroeira
tecnologia social resultou em 1) Formulário 2) Gestores da Associação
mudanças na cooperação 2) Entrevistas Aroeira, Instituto
entre as pessoas da Ecoengenho e Cidadãos de
associação Aroeira Piaçabuçu
Analisar se o 1) Gestores e Membros da
desenvolvimento de uma Associação Aroeira
tecnologia social resultou em 3) Formulário 2) Gestores da Associação
mudança na sociabilidade 4) Entrevistas Aroeira, Instituto
dos membros da associação Ecoengenho e Cidadãos de
Aroeira Piaçabuçu
Fonte: elaborado pelo autor
4 ANÁLISE DE RESULTADOS
28
O Instituto Ecoengenho é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que
desenvolve projetos baseados em fontes renováveis. A equipe do Instituto Ecoengenho possui
experiência no desenvolvimento de projetos de energia solar fotovoltaica, solar térmica, em biomassa,
energia eólica, e está envolvido em todas as etapas dos projetos, desde o estudo de viabilidade, até a
sua implementação. O emprego dessas tecnologias tem hoje um forte componente social,
acompanhados de programas de capacitação e assistência técnica, para inclusão sócio produtiva de
populações em condições de pobreza extrema.
94
Assim nasceu a tecnologia social aqui destacada, capaz de gerar renda para
a comunidade pertencente a cadeia produtiva extrativista da pimenta-rosa. A sede da
Associação Aroeira, onde se realizam a maioria das etapas do beneficiamento da
pimenta-rosa é mostrada na Figura 25.
29
Uma Unidade Demonstrativa de beneficiamento foi construída em Piaçabuçu, a 140 km de Maceió,
com a utilização de um moderno sistema tecnológico [...] através da utilização de energia termo solar
e fotovoltaica, para a secagem e desidratação dos frutos. Disponível em
<http://www.projetoaroeira.com.br/descubra-o-projeto/unidade-de-beneficiamento/>. Acessado em: 12
de novembro de 2015.
95
apenas como resposta nesta tese, mas também como instrumento de motivação para
futuras análises sobre o tema, propiciando a outros pesquisadores motivação e
curiosidade para o desenvolvimento de novas teorias sobre os temas aqui discutidos.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
92%
40%
30%
20%
10%
8%
0%
Gráfico 01. Dimensão do CS medida - Capacidade Associativa: “Como uma pessoa passa a ser um
membro da associação Aroeira?”
104
90%
80%
70%
60%
50%
85%
40%
30%
20%
10% 15%
0%
Menos de 182 Mais de 182
Gráfico 02. Dimensão do CS medida - Capacidade Associativa: “Quantos dias de trabalho, em média,
você dedicou a essa Associação nos últimos 12 meses ?”
Assim, foi verificado que 15% dos respondentes se dedicam mais do que 182
dias às atividades da Associação Aroeira. Estas pessoas trabalham em campo
fazendo a colheita da pimenta-rosa e fazendo o beneficiamento na Associação
Aroeira, sem funções administrativas, apenas no trabalho relativo a colheita e
beneficiamento (lavagem, pré-secagem a frio com ventiladores ou secagem natural
ao sol, desidratação por forno termo solar, seleção dos frutos desidratados, pesagem
e embalagem, armazenamento). Elas trabalham, portanto, no período da entre safra,
com menor tempo de contato com a comunidade como um todo. Os 15% que
trabalham mais de 182 dias por ano na Associação são os que normalmente assumem
as atividades burocráticas e administrativas da gestão associativista.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
88%
40%
30%
20%
10%
12%
0%
Sim Não
Este dado tem paralelo com o que pode ser verificado através da observação
na pesquisa de campo: em todas as casas visitadas foi verificada a presença de
alguns bens de consumo como rádio, TV, geladeira, bicicletas, entre outras coisas,
adquiridos na sua grande maioria pela renda gerada na extração da pimenta-rosa.
Uma das características da motivação para as pessoas se relacionarem está ligada a
algum benefício elas podem obter com este relacionamento. Ficou evidenciado neste
estudo que, após o desenvolvimento e a implantação da Tecnologia Social, houve
aumento de renda para as pessoas envolvidas nesta ação na comunidade
pesquisada, e isto pode incentivar a manutenção das relações das pessoas com a
Associação. Deve-se, porém, destacar que 12% dos membros a Associação afirmam
quem não houve melhorias em sua renda. Isto também vai de encontro com o que se
espera de uma gestão democrática, com divisão justa dos rendimentos.
120%
100%
80%
60%
97%
40%
20%
3% 0%
0%
Pertence(m) a Associação
Em geral, você diria que a maior parte das pessoas é confiável? Uma
quantidade impressionante de testes empíricos foi realizada com base nessa
medida simples de confiança interpessoal e, em todos os casos, os
pesquisadores assumem que a medida é válida (SELIGSON; RENNÓ, 2000,
p.2).
Quatro perguntas foram aqui utilizadas para verificar essa dimensão do capital
social. Corrobora-se com Valentim (2005), que afirma que a confiança, a credibilidade
e a cumplicidade entre dois ou mais indivíduos contribuem na formação de uma rede
de relacionamento, empoderando todos os envolvidos. Além disso a confiança traz
benefícios para a coletividade, através de
100%
90%
80%
70%
60%
50%
87%
40%
30%
20%
10%
13%
0%
Sim Não
Gráfico 05. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Em geral, você diria que a maior parte
das pessoas da Associação Aroeira é confiável? “
90%
80%
70%
60%
50%
40% 82%
30%
20%
10% 18%
0%
Sim Não
Gráfico 06. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Se de repente você precisasse viajar
por um ou dois dias, você poderia contar com pessoas da Associação Aroeira para olhar as suas
crianças ou a sua casa? “
90%
80%
70%
60%
50%
85%
40%
30%
20%
10%
10%
5%
0%
Gráfico 07. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Você acha que no último ano, a
confiança entre as pessoas membros da Associação Aroeira? “
Corroborando com esta ideia foi elaborada a seguinte pergunta para análise
sobre a presença do Capital Social: “Hoje em dia com que frequência você diria que
as pessoas membros da Associação Aroeira ajudam umas às outras? “ Foi verificado
que 85% das pessoas pesquisadas sempre ajudam outras pessoas da comunidade
extrativista; 10%, disseram que quase sempre ajudam; e apenas 5% responderam
que nunca ajudam (Gráfico 08).
112
90%
80%
70%
60%
50%
40% 85%
30%
20%
10%
10% 5%
0%
Sempre ajudam
Quase sempre ajudam
Nunca ajudam
Gráfico 08. Dimensão do CS medida - Confiança Interpessoal: “Hoje em dia com que frequência você
diria que as pessoas membros da Associação Aroeira ajudam umas às outras? “
4.2.3 Cooperação
Uma das perguntas para avaliar a cooperação foi: “Após você se tornar
membro da Associação, você trabalhou com outras pessoas para fazer alguma coisa
em benefício da comunidade extrativista? “ Verificou-se que 88% das pessoas
responderam sim, confirmando que diretamente ou indiretamente trabalharam com
outras pessoas no desenvolvimento de ações para o fortalecimento da Associaçāo
Aroeira, enquanto 12% responderam que não tiveram tempo para trabalhar em ações
que proporcionassem benefícios para a coletividade (Gráfico 09).
100%
90%
80%
70%
60%
50%
88%
40%
30%
20%
10%
12%
0%
Sim Não
Gráfico 09. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Após você se tornar membro da Associação,
você trabalhou com outras pessoas para fazer alguma coisa em benefício da comunidade
extrativista? “
100%
90%
80%
70%
60%
50% 97%
40%
30%
20%
10%
0% 3%
Não Sim
Gráfico 10. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Uma pessoa que não participa da Associação e
pega pimenta-rosa é criticada ou sofre algum tipo de discriminação? “
30
Uma pessoa está em vulnerabilidade social quando ela vive em condições que a colocam em risco
social, ou seja, é um cidadão, mas ela não tem os mesmos direitos e deveres dos outros, vive em
condições precárias de moradia e saneamento e em subempregos. É uma situação de exclusão social,
em que as pessoas são impossibilitadas de compartilhar os bens e recursos oferecidos pela sociedade
(PAVANINI et al. 2009).
115
100%
90%
80%
70%
60%
50%
92%
40%
30%
20%
10%
8%
0%
Gráfico 11. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Se houvesse a necessidade de ajudar uma
pessoa da Associação, qual a chance das pessoas cooperarem para tentar resolver o problema? “
100%
80%
60%
88%
40%
20%
8% 4%
0%
Muito provável
Pouco provável
Não quero responder
Gráfico 12. Dimensão do CS medida – Cooperação: “Suponha que ocorresse uma doença grave, ou
a morte de um parente. Qual a probabilidade de algumas pessoas na comunidade se unirem para
ajudar você? “
Como havia sido dito, esperava-se uma correlação entre o perfil de respostas
para a dimensão de confiança interpessoal e a de cooperação, expectativa que se
confirmou, já que para as perguntas relacionadas à confiança interpessoal, todas as
respostas tiveram posicionamento afirmativo de pelo menos 85% dos respondentes,
e para as perguntas relacionadas à cooperação, todas as respostas tiveram
posicionamento afirmativo de pelo menos 88% dos respondentes.
4.2.4 Sociabilidade
80%
70%
60%
50%
40%
75%
30%
20%
10% 20%
5%
0%
Gráfico 13. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes você se
encontrou com pessoas em um local público para conversar, para comer ou beber? “
60%
50%
40%
30% 57%
20% 41%
10%
0% 2%
Gráfico 14. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes as pessoas
visitaram você em sua casa? “
80%
70%
60%
50%
40%
70%
30%
20%
10% 18%
12%
0%
Gráfico 15. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes você visitou
outras pessoas em suas casas? “
70%
60%
50%
40%
30% 63%
20%
25%
10%
12%
0%
Gráfico 16. Dimensão do CS medida – Sociabilidade: “No último mês, quantas vezes você se reuniu
com outras pessoas para fazer alguma atividade esportiva? “
121
A partir da implantação das estufas [...] como a gente iria imaginar que a luz
do sol poderia ser captada para colocar numa estufa e secar a pimenta-rosa
[...] passaram a ir para roça juntos para tirar a pimenta-rosa. (Rocha dos
Santos. Entrevista E01, 2015).
Por força do próprio projeto, houve mais foco no coletivo [...]. Estas pessoas,
quando utilizavam a tecnologia existente na Associação, frequentavam com
mais frequência o próprio ambiente de trabalho, as capacitações [...] as
reuniões eram uma forma de balizar a participação. A cada novo encontro
apareciam mais pessoas da comunidade com o objetivo de cooperar,
124
A expansão da rede social para além do seu círculo familiar trouxe benefícios
para os membros da Associação Aroeira, promovendo a sociabilidade e
proporcionando benefícios sociais evidentes, como o fortalecimento dos laços de
confiança.
Vale salientar que, para surgir o associativismo, foi necessário que as pessoas
da comunidade extrativista participassem de ações comuns, desde a coleta da
pimenta rosa, incluindo todo o processo de produção até o envasamento, em que
juntos produziam o produto final para a comercialização. Portanto foi necessário que
as pessoas confiassem entre si, não bastando apenas o desejo comum de melhoria,
afetando a sua capacidade de se associarem.
Um dos entrevistados foi Carmo Amaral que, durante esta pesquisa, era dono
do restaurante Rancho do São Francisco, e comercializava a pimenta rosa com
turistas e também a utilizava em alguns dos pratos preparados no restaurante. No
Anexo NA-B são mostradas receitas usando a pimenta-rosa, disponibilizadas pela
Associação. Conforme a fala de Carmo Amaral, pode-se verificar que:
Tecnologia social
A observação sistemática foi o principal procedimento para análise das características da
tecnologia social, que mostrou-se ter sido concebida com a participação da comunidade, para
resolver um problema local, é de fácil apropriação, exceto no que se refere ao custo dos geradores
termo solares e das estufas de secagem da pimenta-rosa, a tecnologia é auto gestada pela
Associação Aroeira, de forma participativa, democrática e horizontalizada.
Nas respostas ao formulário e nas entrevistas, confirmaram-se as principais características da
tecnologia social – a autogestão, a solução de problemas locais e a gestão participativa.
Capital Social
O formulário foi o principal procedimento para análise das dimensões do capital social estudadas:
capacidade associativa, confiança, cooperação e sociabilidade. As respostas relativas a todas
essas quatro dimensões evidenciam uma comunidade com elevado estoque de capital social, em
que há propensão para atuarem de forma associativa, com confiança, cooperação e revelando
práticas sociais sólidas.
Estas dimensões do capital social também foram constatadas ao longo da observação sistemática,
e transparecem nas falas dos entrevistados, que expressam os fortes vínculos da rede social que
une principalmente os membros da Associação, mas transbordam para toda a comunidade
extrativista local.
Relações entre Tecnologia social e Capital social
Durante a observação sistemática foi possível perceber o potencial da tecnologia social estudada –
o processo produtivo da pimenta-rosa – como fator agregador de um grande número dos membros
da comunidade extrativista, favorecendo práticas que propiciavam a dinamização do capital social
entre elas.
A autogestão participativa e democrática, com suas reuniões, o próprio trabalho de coleta,
lavagem, pré-secagem, desidratação, seleção e envase da pimenta-rosa, aproxima as pessoas,
128
[...] ocorreu pela própria introdução de um conceito novo [...] existia uma
mesmice na vida deles, toda a percepção de uma nova ideia aproximou mais
a comunidade [...] (Fonseca e Silva. Entrevista E06, 2015)
Assim, a análise global dos dados, por meio desta triangulação, permite
chegar a algumas conclusões que serão apresentadas no próximo capítulo desta tese.
131
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa constatou uma mudança de atitude entre seus associados. Isto foi
evidenciado por uma das catadoras de pimenta-rosa de apenas 22 anos, conforme
publicado no Caderno Técnico Projeto Aroeira (INSTITUTO ECOENGENHO, 2011,
p.06): “[ela] vivia fazendo faxinas e pesca artesanal. Ao se engajar no Projeto Aroeira,
ela diz que além da renda, incorporou algo que não imaginava: Mudança de atitude”.
31
O termo “extrativista” não é muito utilizado pela comunidade extrativista. Eles utilizam o termo
“catadores”. A maioria dos membros da Associação desconheciam o termo extrativista durante a
pesquisa de campo e na aplicação dos formulários.
135
dinheiro, tinha que fazer com os outros, de forma conjunta. Estou aprendendo
a fazer isso, é bom para todos (Aparecida dos Santos, 2015).
revelaram que as pessoas engajadas na Associação Aroeira não têm tempo para uma
socialização lúdica, devido a necessidade de estarem todos os dias trabalhando, seja
na extração da pimenta-rosa, seja desempenhando outras atividades que lhes
possam trazer alguma renda. Mas estão sempre predispostos à cooperação, abertos
para atender os outros e não apenas os seus interesses individuais.
Foi relatado por alguns entrevistados o esforço inicial individual das pessoas
da comunidade extrativista, empreendido na direção de superar a pobreza em que
vivem. Este esforço por recompensado pelo aumento da confiança interpessoal no
processo desenvolvimento da Tecnologia Social, conforme pode-se observar na fala
de Santos Ferreira, presidente da Associação Aroeira.
REFERENCIAS
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008a.
HANIFAN, L. J. The Community Center. Silver, Burdett & Company. Boston, New
York, Chicago, San Francisco, 1920.
ITS. Instituto de Tecnologia Social. Revista Conhecimento - Ponte para a Vida, ano
1, n. 1-2, 2007.
JACOBS, J. Death and Life of Great American Cities. New York: Random House,
1961.
143
NARAYAN, D., PRITCHETT, L. Cents and Sociability: Household Income and Social
Capital in Rural Tanzania. Economic Development and Cultural Change v. 47(4),
p. 871-97, 1999.
NAHAPIET, J., GHOSHAL, S. Social capital, intellectual capital, and the organizational
advantage. Academy of Management: Review. v. 23, n. 2, p. 242-266. Abril, 1998.
PUTNAM, R. D. The prosperous community: social capital and public Life. The
American Prospect. n. 13, mar. 1993.
APENDICES
Este roteiro tem como objetivo analisar algumas características da tecnologia social
desenvolvida na Associação Aroeira.
Data da observação:
Horário:
Local:
Descrição do cenário:
Gestão descentralizada
Voltada para a solução de problemas sociais e/ou ambientais locais, na perspectiva dos grupos
imediatamente envolvidos, visando a dinamização da criatividade e da economia, com capacidade
de articulação entre saberes tradicionais e conhecimentos tecnocientíficos
Prezado(a):
Esta entrevista tem como objetivo contribuir para compreender mudanças que ocorrem no capital social
com o desenvolvimento de uma tecnologia social na Associação Aroeira.
Confidencialidade
Esclarecemos que as respostas serão tratadas de forma confidencial e apresentadas de maneira que
nenhuma resposta individual possa ser identificada, garantindo assim o anonimato do (a) respondente.
Função:
Coordenador da Associação Aroeira Membro da Instituto Ecoengenho
Representante da Prefeitura de Piaçabuçu Cidadão de Piaçabuçu
Idade:__________ Sexo: M F
Formação acadêmica/profissional:
Parte II – QUESTÕES
SIM NÃO
De que forma isto ocorreu?
SIM NÃO
Poderia dar exemplos?
SIM NÃO
Poderia dar exemplos?
SIM NÃO
Como você acha que isto ocorreu ?
5 - Você acha o desenvolvimento da tecnologia social resultou em maior inclusão social, para as
pessoas membros da Associação Aroeira ?
x SIM NÃO
Poderia falar disso ?
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com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
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Prezado(a):
Este formulário tem como objetivo analisar algumas dimensões do capital social
(Capacidade associativa, confiança, cooperação e sociabilidade) com o
desenvolvimento de uma tecnologia social em sua comunidade.
Confidencialidade
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com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
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PARTE 1 DO FORMULÁRIO
1. Capacidade associativa
1.2 Quantos dias de trabalho, em média, você dedicou a essa Associação nos últimos
12 meses?
1.3 Quando a Associação precisa tomar uma decisão, geralmente como isso
acontece?
1 Pertence(m) a Associação
2 São de fora da Associação mas pertencem à comunidade extrativista
3 São de fora da Associação e não pertencem à comunidade extrativista
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PARTE 2 DO FORMULÁRIO
2. Confiança interpessoal
Em toda comunidade, algumas pessoas se dão bem e confiam umas nas outras,
enquanto outras pessoas não. Agora, eu gostaria de falar a respeito da
confiança na sua comunidade.
2.1 Em geral, você diria que a maior parte das pessoas da Associação Aroeira é
confiável?
1 Sim
2 Não
2.2 Se de repente você precisasse viajar por um ou dois dias, você poderia contar com
pessoas da Associação para olhar as suas crianças ou a sua casa?
1 Sim
2 Não
2.3 Você acha que no último ano, o grau de confiança entre as pessoas membros da
Associação Aroeira?
1 Melhorou
2 Piorou
3 Exatamente o mesmo
2.4 Hoje em dia com que frequência você diria que as pessoas membros da
Associação Aroeira ajudam umas às outras?
1 Sempre ajudam
2 Quase sempre ajudam
3 Nunca ajudam
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PARTE 3 DO FORMULÁRIO
3. Cooperação
3.1 Após você se tornar membro da Associação, você trabalhou com outras pessoas
para fazer alguma coisa em benefício da comunidade extrativista?
1 Sim
2 Não
3.2 Uma pessoa que não participa da Associação e pega pimenta-rosa é criticada ou
sofre algum tipo de discriminação?
1 Sim
2 Não
1 Muito provável
2 Pouco provável
3 Não quero responder
3.4 Suponha que ocorresse uma doença grave, ou a morte de um parente. Qual a
probabilidade de algumas pessoas na comunidade se unirem para ajudar você?
1 Muito provável
2 Pouco provável
3 Não quero responder
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com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
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PARTE 4 DO FORMULÁRIO
4 Sociabilidade
4.1 No último mês, quantas vezes você se encontrou com pessoas em um local
público para conversar, para comer ou beber?
4.2 No último mês, quantas vezes as pessoas visitaram você em sua casa?
4.3 No último mês, quantas vezes você visitou outras pessoas em suas casas?
4.4 No último mês, quantas vezes você se reuniu com outras pessoas para fazer
alguma atividade esportiva?
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com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
Piaçabuçu/AL – 2015
156
Ao mesmo tempo, libero a utilização destas imagens e/ou depoimentos para fins
científicos e de estudos (livros, artigos, meio eletrônico, slides e transparências), em
favor do pesquisador, acima especificado, obedecendo ao que está previsto nas Leis
que resguardam os direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.°
10.741/2003) e das pessoas com deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo
Decreto Nº 5.296/2004).
Piaçabuçu - AL, ______ de _____________ de 2015
_____________________________
Assinatura do participante ou Identificação Digital
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com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
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Título do estudo: Análise do capital social de uma comunidade do Estado de Alagoas onde houve o
desenvolvimento de uma tecnologia social.
Pesquisador responsável: Alvaro José de Oliveira
Instituição/curso: Universidade Federal da Bahia/Doutorado em Difusão do Conhecimento
Telefone para contato: (82) 9024275 E-mail: alvaroifal@hotmail.com
Local da coleta de dados: Piaçabuçu/Alagoas
Prezado(a) Senhor(a): Você está sendo convidado(a) a participar deste estudo de forma totalmente
voluntária. Antes de concordar, é muito importante que você compreenda as informações e instruções
contidas neste documento. O pesquisador deverá responder todas as suas dúvidas antes de você
decidir participar. Você tem o direito de desistir de participar da pesquisa a qualquer momento.
Nome do participante:___________________________
_____________________________
Assinatura do(a) participante ou Identificação digital
Pesquisa de Campo – Tese: Análise do capital social de uma comunidade do Estado de Alagoas
com o desenvolvimento de uma tecnologia social – Doutorando: Alvaro José de Oliveira
Piaçabuçu/AL – Junho de 2015
158
ANEXOS