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4| OS DETERMINANTES DA PERSONALIDADE Neste capitulo, iremos abordar os seguintes t6picos: 4. Quais séo as grandes tipologias que marcaram a histéria da psicologia da perso- nalidade. De que forma os sistemas fisiolégicos influenciam a personalidade. (Os métodos da genética comportamental {Quais sto as influéncias genéticas sobre a personalidade. ‘De que modo o ambiente age sobre a personalidade. 84 PsIcoLoGiA DA PEREONALIDADE come somes capt 1, «plage de perondede no soft a des Grever 0 mocio como os individuos se comportam, procurando, também, explicar € predizer os comportamentes desses mesmos individuos. Segundo a opiniéo de autores como Eysenck (ver cap. 5), estes dois pontos sao, aliés, muito importantes. A este respeito, existe um amplo debate a propdsito dos factores biolégicos e dos factores socials, que agem (@, sobretudo, interagem) na determinagao do comporta- ‘mento e da personalidad. Neste capitulo, passaremos em revista diferentes elemen- tosem favor daimplicagao de varidveis biolgicas sobre apersonalicade, Sequidamente, abordaremos o cldssico problema da hereditariedacle e do meio, explicando os méto- dos especiticos da genética comportamentel. A oposigao entre hereditariedade e melo & complexa, sendo, infelizmente, mal explicada pela psicologia mundana. Nao tivemos jd ocasiao de ler, em revistas diri- gidas ao grande pubblico, que, tanto a homossexualidade como os comportamentos anti-sociais eram hereditarios? De que forma interpretam os leltores tais factos, sem terem nogdes de genética? Sera que eles cistinguem uma predisposig&o genética que pode ser fraca~, que significa que um individuo tem maior probabilidade do que outro em manifestar tal ou tal comportamento, sem que tal seja automatico, de um determinismo genético, que implica uma transmissao genética conhecida com tal e tal caracteristica fisica ou psicolégica. Ora esta diferenca 6 capital, se quisermos compreender, sem ambiguidade, a genética comportamental. Em paralelo, circulam diversos erros relativamente influéncia genética. Por exemplo, com frequéncia ouvimos dizer que a hereditariedade significa que a pessoa nao ‘muderé. Efectivamente, os individuos mudam. Por vezes, os efeitos da hereditarie- dade mudam com aidade. Nocaso dainteligéncia, a hereditariedade exerce um efsito mais importante @ medida que as criangas avangam na idade, Noutros casos, © impacte da hereditariedade sera reduzido, quando as influéncias devidas ao meio © contrabalancarem. Ouvimos dizer, também, que desperdicamos as nossas forcas, tentando influenciar um trago que possui uma importante componente herediitéria. De facto, o impacte da hereditariedade pode variar de um meio para outro. Obviamente {ue um individuo detentor de disposigées para se comportar de forma anti-social tera menos possibilidades de assim actuar se crescer num meio tranquilo e pouco stres- sante do que se viver num meio hosti Actual mente, apenas podemos ter como dado adquirido que as diferengas observa- das entre os comportamentos dos individuos sao determinadas, concomitantemente, or factores genéticos, por factores ligados ao meio e, sobretudo, pela sua interac 40. Este Ultimo ponto significa que o impacte de uma influéncia hereditéria na Personalidade nao sera o mesmo em fungao do ambiente em que a pessoa cresce. Muito recentemente, a genética comportamental dedicou-se a uma tarefa que ultrapassa 0 facto de se saber em que proporg6es um comportamento é influenciado or factores genéticos e ambientais: trata-se da identificagao dos genest respons? veis pelos comportamentos. | Os Devensinawres a Persowauioape 8S Os determinantes biolégicos As tipologias A ideia de factores biolégicos poderem influenciar os comportamentos dos indivi- duos, bem como a personalidade destes, € muito antiga, exprimindo-se em diferentes tipologias. No capitulo 1, tivemos ocasiao de referir, quando distinguimos as nodes de temperamento e de personalidade, que, na Antiguidade, as proporgdes relativas dos quatro humores (a saber: a linfa, o sangue, a bilis negra e a bilis amarela) determina. vam as reacg6es, bem como os tipos psiquicos dos sujeitos (respectivamente, o fleuma tico, 0 sanguineo, o melancélico ¢ o colérico). Trata-se de um exemplo perfeito de uma tipologia, que associa caracteristicas fisicas (no caso, bioldgicas) a comportamentos observéveis. AAs tipologias subentendem claramente uma causalidade directa entre estas caracteristicas fisicas e a forma como uma pessoa se comporta. Mais recentemente, outras tipologias associaram caracteristicas fisicas a diferengas individuais. As mais conhecidas destas tipologias so as de Kretschmer (1925) ¢ de Sheldon (1942). Kretschmer, cujos trabalhos remontam a década de 1920, era Ppsiquia- tra de formagio. No seu trabalho clinico, foi alertado pelo facto de determinadas afec. ‘gdes mentais graves, chamadas psicoses, se encontrarem preferencialmente associadas a caracteristicas fisicas especificas. De acordo com as suas observacGes, os perfisfisicos dos individuos podiam repartir-se por trés tipos morfoldgicos: 0 leptossémico=, © picnicor ¢ o atléticor. O primeito corresponde a uma pessoa de estatura relativa. mente alta e, sobretudo, muito magra, com uma musculatura e tecido adiposo pouco desenvolvidos. O segundo representa uma pessoa predominantemente mais baixa, mas mais gorda, com preponderincia de tecido adiposo e pouco miisculo. O terceiro tipo descreve individuos cuja musculatura se encontra bem desenvolvida: trata-se de indivi. duos, nem magros nem gordos, mas musculados. A pessoa que nao integra estas cate: gorias corresponde ao tipo displastico* Com base em diversos dados clinicos, Kretschmer demonstrou que 0 tipo leptos s6mico (alto e magro) se encontra mais frequentemente em doentes esquiizefrénicos ¢ ue 0 tipo pfenico (baixo e gordo) se observa mais regularmente em doentes maniaco- ~depressivose. O tipo atlético encontra-se igualmente em pacientes esquizofrénicos. Im= plicitamente, estes resultados sugerem que a morfologia dos individuos poderia ser Fesponsavel pelas respectivas perturbagdes psiquidtricas. Adoptar a posigao inversa, isto 6, dizer-se que as afeccdes psiquidtricas determinam 0 fisico, como é evidente, ¢ luma posigao que pode igualmente ser considerada, Nao nos esquecamos que, neste aso, encontramo-nos diante de uma associagao de duas variaveis, associacao essa que nada nos diz a respeito dos nexos de causalidade, Uma terceira varidvel - com os habi- tos alimentares ~ poderia muito bem explicar essa associagao. Para nos assegurarmos a causalidade, haveria que seleccionar individuos ao acaso, submetendo alguns deles a regimes hipocaléricos, outros a regimes hipercal6ricos, avaliando se eles desenvol- vem de forma preferencial afeccSes psiquidtricas. Do ponto de vista ético, tal experién- cia seria muito complexa de implementar. Contudo, com regularidade, determinados Psiquiatras, embora nao se baseiem em dados objectivos, recolhidos de forma rigorosa, 86 —PsicoLocia pa PeRsonauiDaDe atestam que os esquizofrénicos so habitualmente altos e magros e delgados, enquanto ‘0s manfaco-depressivos so tendencialmente mais baixos e gordos. Esta questo pode- ria levar-nos a realizar investigagdes, mas como as ideias relativas as tipologias nao se baseiam em hipoteses sérias, hd poucas possibilidades de que as ditas investigacdes alguma vez. venham a ver a luz do dia. A segunda das tipologias conhecidas data de 1942, sendo da autoria de Sheldon. O seu mérito consiste em ter alargado as nogées desenvolvidas por Kretschmer & perso- nalidade normal. Segundo 0 autor, ndo havia razo alguma para limitar a associa¢ao entre as caracteristicas fisicas, bem como a forma de se comportar, & patologia mental As tipologias devem aplicar-se a todos. Inicialmente, Sheldon considerava que uma pessoa podia ser definida por aquilo que designou por somatotipos, dito de outro modo, pelas suas caracteristicas fisicas. A originalidade desta perspectiva reside no facto de 0 somatotipo ser composto por 3 valores, podendo cada um variar entre 1 e 7; estes valores correspondiam a 3 caracteristicas fisicas precisas, que 0 autor definiu de forma cocrente. Estas 3 caracterfsticas fisicas reflectiam uma preponderancia do desen- volvimento de uma das 3 camadas embriondrias, que foram designadas pelos seguintes termos: endomorfor, mesomorfo* e ectomorfor. O endomorfo 6 predominantemente alto e gordo, nao apresenta a musculatura desenvolvida, nao tendo apeténcia para 0 trabalho fisico 4rduo. Este tipo € talhado para 0 conforto, ¢ nao tanto para a veloci dade, fatigando-se rapidamente. Este primeiro tipo encontra-se relacionado com um importante desenvolvimento do sistema digestivo. Trata-se do equivalente ao tipo picnico descrito por Kretschner. O mesomorfo tem uma aparéncia musculada, que reflecte um bom desenvolvimento 6sseo, muscular, ¢ bem assim dos tecidos de ligacao. Trata-se de um individuo forte, resistente as doengas e talhado para exercicios fisicos; este tipo equivale ao atlético, que Kretschner descreveu. O ectomorfo & um sujeito fino, eviden- ciando a preponderdncia da pele e do sistema nervoso, Este tipo apresenta, ainda, uma dimensio cerebral proporcionalmente mais importante do que a do corpo € nio se ajeita para realizar trabalhos fisicos, ficando rapidamente estafado. Fste tipo corres- ponde ao leptossémico de Kretschner. A vantagem desta tipologia assenta em considerar a existéncia de um continuum entre os dois pélos dos 3 tipos, propondo uma combinacao entre os mesmos. Nesta tipologia, valor atribuido aos tipos depende das suas respectivas preponderancias. Assim, é possivel que um sujeito corresponda a um tipo puro, tendo 171 do tipo mesomorfo, 711 do endomorfo e 117 do ectomorfo. Todavia, a maioria dos individuos possui um pouco de cada qualidade, ainda que possam existir neles todas as combina- ges. A titulo de exemplo, alguém musculado, embora predominantemente magro, apresentard uma configuracdo de 264, enquanto outra pessoa muito magra, mas com uum ventre volumoso, apresentaré uma configurago de 617. A falha deste sistema reside no facto de, infelizmente, nao existirem crieérios precisos para designar os valores que assumem 05 valores que classificam os 3 tipos. Paralelamente a estes somatotipos, Sheldon definiu 3 tempecamentos, que séo a viscerotonia, a somatotonia ea cerebrotonia. O primeiro corresponde as seguintes carac- teristicas: relaxado, tolerante, socivel e apreciador do conforto; o segundo corresponde as caracteristicas que se seguem: coragem, assertividade, espirito de aventura e risco, to se es Os Derenwinanrts pa Personatinane 87 apressividade, compettividade e energia. O terceiro equivale as caractersticas de pro- cura de intimidade, hipersensiblidade a dor, evitamento de situagdes sociais, aptidées Socials insuficentes eansiedade, Num trabalho que incidia sobre 200 sujeitoe vans doe wrolonia, mesomorfo-somatotonia e ectomorfo-cerebrotonia. Visto que os red dos se encontravam conformes as hipéreses, alguns autores afirmaran’ que Sheldon havia falsfieado os dados. De qualquer forma, ainda que reals tais associagSes nunca foram depois validadas, Que podemos nés concluir destas tipologias, bem como da ideia geral de associar Catacteristicas fisicas& personalidade e aos temperamentos? Independentemente das fn Bilidades teGricas ¢ da dificuldade de operacionalizacio dos conceitos dan referidas Spologias, estas consideram haverinfluéncia do fsico na personalidade, Mac que influén- cia € essa? Serd que 0 Haico cma parsonalidade ou serk que uma essoa se comporta de acordo com os estere6tipos aplicados ao seu isco pela pressdo social? Ou sla, eed que um gordinho & tendencialmente mais bem disposto,relaxado e aproveita ben, ¢ vida por Sir Drostamado pela sua morfologia ou, pelo contrério, ted ele estas caracteristicas om ria de saber que, habitualmente, os gordinbos se comportam dessa formas neste caso, © dito sujcito dé resposta a uma pressio de ordem social? Portanto, é dif Borge € que ha uma relagio entre estes dois elementos, 0 que leva miitas peroas a considerarem de forma céptica a teorla de Sheldon, tanto mais que diversas variaveis Jntermédias poderiam fornecer elementos Ge respoxta Us tpologias Part slew isso, tals ‘eorias no (ém impacte algum sobre a actual psicologia da personalidad. 1 As relagées entre a personalidade © os sistemas fisiolégicos Se verdade que as tipologias remontam ao passado, a ideia de associar pardmetzos biolégicos¢fisiologicos a tipos de personalidade é paticularmente fecunda, New bann dade, integrando-as, sem Ihes conferit demasiada importancia, nas detemminnce do ineio ambiente. Contudo, hi quem ainda recuse considerar de forma eonstrariva diversos dados da psicobiologia da personalidade. [Zo muito recentes os estudos que demonstram haver uma relagéo entre fungdes fsioldgicas €a personal dade, baseando-re para tal em dade objets ‘Alguns desses éstudos serao referidos em pormenor no proxinia Capitulo, que versa sobre as teorias da personalidade, mais especificamente, quando se tratar do modelo de Eysenck, bem como dos autores da corrente psicobiol6gica. Por ora, relativamente a este onto, limi- canis £mOS & evocar aspectos genéricos. A partir dos anos 60 do século xx. diverson ssrudos endocrinalégicos psicofsiol6gicas concluiram que detetminadas oer 4 personalidade sofrem a influbieia de certas manifestacbes Psiclogicas- | l 88 PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE A endocrinologia demonstrou que as glandulas fabricam substancias quimicas, que sio directamente langadas no sangue, sangue esse que assegura o seu transporte aos outros 6rgios sobre os quais as ditas substincias vo actuar (Hennen, 2001). Estas substancias podem ter uma influéncia nao silenciosa sobre os nossos comportamentos. Por exemplo, sabemos que uma hipersecrecéo da hormona* tiroideia desencadeia mani- festacdes comportamentais, como sejam, agitacio, perda de peso e insbnia (Burger ¢ Philippe, 1992; Hennen, 2001). Inversamente, uma insuficiéncia da tirdide pode pro- duzir sonoléncia, ganho de peso, fadiga e perturbacdes da concentracao (Hennen, 2001). Alids, é de toda a conveniéncia excluir este tipo de disfungo, antes de se estabelecer um diagnéstico de depressio major ou de estado maniaco. Isto mesmo é referido no DSM-IV (APA, 1996). De entre as outras glandulas que exercem uma influéncia directa sobre os compor- tamentos, refiram-se as supra-renais, que desempenham um importante papel nas mani- festagdes emocionais, bem como nas reacgdes de stress. Estas glandulas libertam adre- nalina* e noradrenalina*, A primeira intervém, principalmente, nas reaccdes de medo ¢ de ansiedade e a segunda nas siruagGes de célera e de irritabilidade. Quando um indivi duo é sujeito a uma situagdo de medo, a adrenalina aumenta a frequéncia das pulsacoes cardiacas, a pressio sanguinea sistdlica, bem como 0 débito cardiaco e diminui o afluxo sanguineo & musculatura esquelética. Em situagdes desencadeadoras de célera, obser- va-se uma secregao de noradrenalina, com consequente aumento da pressio sanguinea diastélica e do afluxo sanguineo musculatura esquelética, a par de uma diminuigao da frequéncia cardiaca e do débito sanguineo (Ax, 1953; Beckham, 2002). Paralela- mente, Miller e colaboradores (1999) mostraram que sujeitos que apresentavam um baixo resultado de agradabilidade evidenciavam uma taxa de adrenalina mais elevada, enquanto os individuos que apresentavam baixo resultado de extroversio revelavam elevadas taxas de adrenalina ¢ de noradrenalina As hormonas sexuais desempenham um papel de relevo no tocante aos comporta- mentos. Os homens ¢ as mulheres nao se encontram submetidos as mesmas hormonas; os homens estao submetidos aos androgéneos* (testosteronas) e as mulheres aos esto. géneos*. Os homens possuem um nivel mais elevado de testosterona, o que assegura 0 aparecimento das caracteristicas masculinas fenotipicas. Para além disso, as diferengas hormonais repercutem-se no desenvolvimento do sistema nervoso central; no caso da mulher, as interligacdes entre os dois hemisfésios so, por exemplo, mais numerosas, havendo, em consequéncia, uma menor especializagao hemisférica (Kimura, 2001) Diversos estudos tém mostrado uma relagio entre a taxa de testosterona e a agressivi- dade. Por exemplo, Dabbs e colaboradores (1987) mostraram que, de entre os presos, 0 que haviam sido condenados por crimes violentos e que desrespeitavam as regras de comportamento caracterizavam-se por valores mais elevados de testosterona. Obtive- ram-se idénticos resultados com adolescentes (Brooks ¢ Reddon, 1996; Dabbs et al., 1991). Em paralelo, outro estudo realizado pelo mesmo grupo evidenciou que a taxa de testosterona era mais elevada nos militares que tinham tido problemas de indisciplina, de droga e de alcool (Dabbs e Morris, 1990). De igual modo, foram detectados mais problemas de comportamento nas respectivas adolescéncias, com os préprios pais e na escola. Um aspecto interessante reside no facto de isto ser particularmente verdadeiro que 20s tas os. r0- 1). Iv or- ni re oe bes xo er ea ta vie ais (Os DevernawaN7Es Da Personanipane — 89 no caso de pessoas de baixo estatuto socioeconémico. Segundo Dabbs (1992), um clevado valor de testosterona tende a orientar a pessoa para um nivel de vida feaco, pois tal implica comportamentos anti-sociais, bem como uma educago mais limitada, Trata-se de pessoas que se casam menos e mais frequentemente se divorciam. Este aspecto constitui um excelente exemplo de um constrangimento biolégico sobre o com. portamento, Banks € Dabs (1996) demonstraram também que os valores de testoste rona eram mais clevados nos adolescentes delinquentes — tanto em rapazes como em raparigas ~, relativamente a sujeitos de controlo. Como iremos ver na seccdo dedicada as teorias psicobiol6gicas da personalidade, esto também implicados na personalidade diferentes neurotransmissorest, sendo eles a serotonina*, a dopamina* ea noradrenalina. Estes diferentes pontos serao desenvol- vidos em pormenor nos capitulos seguintes. Presentemente, o que hd a reter dos estudos que apresentam uma associagao entre as varidveis fisiol6gicas e as dimensdes da personalidade é 0 facto de essas mesmas associag6es nem sempre serem tao simples e directas como nas experiéncias citadas. Na realidade, os varios dados da literatura que procuram demonstrar o papel das variaveis ‘Biolégicas na personalidade nge de ser coerentes — al@nt de diversos estud: z do dia - sem que, por 1880, Sea TECESSario questionar __ahipsteses de base, Vejamos, como exemplo, a telagao entre a dopamina e a dimen- Sao de procura de novidade, do modelo de Cloninger. Segundo este modelo, a procura de novidade esta associada a um valor baixo de dopamiina, isto é, os elevados resulta- dos de procura de novidade esto associados a uma taxa baixa de descargas dopaminér- gicas neuronais, bem como a uma hipersensibilidade pos-sinaptica; inversamente, os baixos resultados de procura de novidade encontram-se associados a uma importante actividade dopaminérgica de base, acompanhada de yma hipossensibilidade pés-sindptica (Cloninger, 1986; 1987). Intmeros estudos validaram esta associagao entre procura de novidade e dopamina (Wiesbeck et al., 1995; Gerra et al, 2000; Hansenne et al.,2002a), enquanto outros nao chegaram a resultados compativeis com 0 modelo (Curtin et al., 1991; Limson et al., 1991; Hansenne e Ansseau, 1998). O cardcter contraditério destes dados permite intimeras explicagdes possiveis. A primeira refere-se a que as metodolo- Bias destes estudos nem sempre podem comparar-se, além de as técnicas de dosagem poderem diferir de um estudo para outro. Em segundo lugar, os sujeitos incluidos nos diferentes estudos nem sempre so equivalentes ~ nalguns casos so pacientes e noutros voluntarios sos. Todos estes aspectos sugerem que as varidveis fisiologicas desempenham um papel, entre outras varidveis, ¢ insistem no facto de as associacées serem, na maioria dos casos, indirectas. Importa aqui, tal como nas outras disciplinas da psicologia e das outras ciéncias, separar um facto adquirido, que foi reproduzido por diversas pessoas em diferentes laboratérios, de um facto isolado. © primeiro pode ser considerado, de for- ma justa, como um dado de peso, susceptivel de ser reproduzido e com um importante Poder explicativo; o segundo pode ser considerado como um facto interessante, que pode dar origem a estudos de validagao, além de sugerir perspectivas de investigagao ¢ hipoteses de trabalho. 90 PaicoLocta DA PERSONALIDADE Os determinantes genéticos A ideia das caracteristicas fisicas e mentais poderem estar sujeitas a uma transmis- sdo hereditéria no é recente, visto que j4 a encontramos implicitamente em praticas muito antigas de criagao de animais e de plantas. Foi preciso esperar pelos trabalhos de ‘Mendel (1866) para a ver assumir uma forma cientifica e conhecer um rapido desen- volyimento. Foi este monge que, apés longas experiéncias sobre o crescimento das ervilhas, descobriu duas leis fandamentais da genética. A primeira ~a lei da segregagao — significa que os caracteres unidos no organismo se separam nos elementos reprodutores, reaparecendo na descendéncia. A segunda ~ a lei da dominancia - significa que, se dois caracteres opostos aparecerem ao mesmo tempo, um dos dois eclipsaré 0 outro € a influéncia do primeiro seré a dnica a se exercer. Na época, havia-se compreendido 0 mecanismo, sem contudo se conhecer o substrato biolégico que Ihe estava associado. Porém, no se tardaria a descobri-lo. Em finais do século x1x, inicios do século xx, jé haviam sido feitas descobertas nesta area. Jé se falava de cromossomas’,, gendtipost ¢ fenstipos*. Todavia, foi gracas aos trabaihos de Watson e Crick (1953) que se descobriu a estrutura interna dos genes: 0 Acido desoxirribonucleico (ADN®) (fig. 4.1). A molécula do ADN é 0 nosso cédigo genético, sendo portanto o alfabeto do organismo, e é constituida por dois fios distin- tos, ligados entre si através de pares de quatro bases: adenina (A), timina (T), guanina (G)e citosina (C). Em consequéncia das propriedades estruturais destas bases, a adenina emparelha-se sempre com a timina ¢ a guanina com a citosina. £ com este alfabeto muito elementar que nasce a imensa diversidade de caracteristicas fisicas e comport ‘mentais. Certamente que o leitor ja compreendeu que a diversidade decorre do facto de a sequéncia deste alfabeto criar miltiplas combinagoes diferentes: uma sucesso A-A- -A-C-A € diferente de A-A-C-A-A, sendo que a expresso de uma caracteristica externa depende, com frequéncia, de centenas bases de ADN. A totalidade do genoma* humano, que recentemente foi estabelecida (McPherson e¢ al., 2001; Venter et al., 2001), compreende cerca de 3000 milhdes de bases, que contém sensivelmente 30 000 genes. Apés mais de 10 anos de investigagSes, o projecto genoma humano chegou & descrigao da totalidade dos genes. Langado em 1990, o projecto refe- ido visava identificar os 30 000 genes do ADN humano, determinar as sequéncias dos 3000 milhdes de bases, registar essas informacdes em bancos de dados, melhorar os a. ‘A genética tem intimeras implicagdes no mundo cientifico. Se bem que 0 projecto genoma humano acabe de concluir o repertério completo das sequéncias de ADN, presentemente hé que descobrir a que correspondem os diferentes genes ou, noutros termos, ha que descobrir o que os mesmos determinam. Uma parte especifica da gené- tica, designada genética comportamental, estuda o impacte da hereditariedade na per- sonalidade, bem como no resto do comportamento. Trata-se de uma disciplina parti- cularmente interessante que, durante muito tempo, procurou determinar se um comportamento possui, ou no, uma ligagZo com factores gené Esta disciplina esteve na génese de diversos debates entre 0 inato ¢ o adquirido, Mais recentemente, a genética comportamental tentou identificar os genes — ou seja, as localizagées nos instrumentos de andlise ¢ debrugar-se sobre diversos problemas de ordem é i aa os Os Detenninanas pa Pesonautoae 91 Figura 4.1. A estrutura do ADN (segundo Godetroia, 2001, De Boeck) cromossomas — responséveis pelos comportamentos, procurando ainda compreender 0 curso fisiolégico entre o efeito primrio de um gene € a sua manifestagao comporta- mental (Roubertoux et al., 1990). A esta disciplina pertencem métodos especificos, que iremos agora passar em revista. © método dos gémeos © método de longe mais utilizado em genética comportamental é 0 método dito dos gémeos (Neale ¢ Cardon, 1992; Zazzo, 1991). O referido método tira proveito de dois acidentes da reproducéo, que dio origem ao nascimento de dois tipos de gémeos. primeiro acidente ocorre pouco depois da concepgéo. Um ovo fecundado divide-se, normalmente, em duas células, dividindo-se cada uma, por seu turno, o que leva 20 nascimento de uma pessoa. Por veres, as duas primeiras células tornam-se independen- tes, desenvolvendo-se cada uma em separado, para produzirem, cada uma dessas célu- las, uma pessoa. Estas duas pessoas so gémeos idénticos, ou gémeos monozig6ticos (MZ), ou ainda gémeos verdadeiros. Visto que provém da mesma célula, estes gémeos 92 PsicoLocta DA PERSONALIDADE partilham exactamente os mesmos genes, tendo o mesmo genétipo. Sio duas cépias ‘exactas da mesma pessoa. Porém, no é inteiramente correcto considerar-se os gemeos tronovigéticos como perfeitamente idénticos, pois eles podem apresentar diferencas genéricas devidas a mutagdes ocorridas apés a divisfo do ovo fecundado, nam estidio srito precoce do desenvolvimento, apresentando, além disso, diferengas fenoripicas, © segundo acidente ocorze durante a concep¢ao propriamente dita, Habitualmente, apenas um ovo & ibertado pelo ovétio da mulher; todavia, por vezes, hi 2. Se ambos pret facundadose se se desenvolverem normalmente, dardo origem ao nascimento de duas pessoas designadas gémeos fraternos ou gémeos dizigoticos (DZ), ou ainda falsos gémeos, Geneticamente falando, estas das pessoas sfo compardveis a duas irmés, 2 dois irmaos on a um irmao e uma itm, Nascem exactamente a0 mesmo tempo ¢ como covoe os descendentes dos mesmos pais, partilham, em média, $0% dos genes daqucles, Os gémeos MZ. consttuem um achado para a genética comportamental poi, visto terem 6 mesmo genoma, tal permite afirmar que toda a diferenga constatada entre wenbos é forgosamente devida ao efeito do meio. Paralelamente, eles oferecem ume lade Gnica de estudar a influéncia de diferentes meios sobre unr ra iden. Se, para essa medida, os géme SPalmente mais parecidos do que os gémeos DZ, tal facto deve-se forgosamente a seme- Thanea genética dos primeiros, o que prova, portanto, a partcipacio da hereditarie- dade (fig. 4.2). Teta conclusdo é apenas valida se postularmos que os pares de gémeos ~ tanto MZ, ‘como DZ. sio expostos as mesmas experiéncias de vida e que 0 meio em que vivem) é coin ante, Porém, este postulado é criticével, pos os pais dos gémeos MZ podem perfi- tamente comportar-se de diferente forma relativamente aos filhos, comparativamente nos pais dos dizigbticos. A semelhanga fisica dos primeiros pode suscitar a adopeao de pedticas endentes a reforgar ainda mais tal semelhanga (roupa igual, corte de cabelo Igual, ete), além da identidade genética poder levé-os, aos proprios gémeos,« Procn: saenmcios idénticos. Contrariamente, para apagar essas semelhangas, podem adoptar diferentes escolhas de comportamentos. Como é evidente, se os gemeos MZ partilhas- sem umm ambiente mais similar do que os DZ, essa circunstancia desencadeatia automa- sem mente uma sobreavaliacdo da hereditariedade. A hipétese dos ambientes iguais foi ttada de diversas manciras, parecendo ser razodvel na maioria das personalidades estudadas (Bouchard e Propping, 1993). ‘Outro método clissico que tira proveito da particularidade Gnica dos gémeos MZ ¢ oc trata-se do método dito do gémeo de controlo, que consiste em modificar o meio através das manipulagdes experimentals controladas, submetendo um-e outro dos membros de um sara diferentes aprendiza- [Gops Ao comparar as performances no Final do p periodo concedidio, podemos verificar send uma diferenca em fungio da aprendizagem. Por exemplo, podemos medi a inte- Tigdncia em diversos pares de gémeos MZ, num dado perfodos posteriormente, ProP¢r- comamos um ambiente estimulante a uma metade dos pares € um ambiente normal & pias 2¢0s agas dio cas. nte, bos ode Isos sa 'mo les. isto ttre én er ma tas an ae- ie aé ee te Os Derennanres Da PrRsoNaLiDADE | Gemeos MZ Gémeos DZ Xt =x1" Yi-yr X2~Xo" Yo-yo" x ~Xa Ya~vs" Xi-xi vi-yr one | Correlagdo MZ Cotrelecéo DZ Comrelagao MZ > D2 => influéncia genética Figure $2: Como método dos gémeos & possivel determiner se uma carecterstica SorjPortamental 6 influenciada pelos genes. Medimos essa caracieristing nos dois membros dos ditere Partinam de mesmo genoma, o que avanga em defesa de uma partcipegae sever Felativamente & caracteristica em estuda Feaia metade, calculando nessa altura, uma vez mais, a inteligénca, Se os sueitos que Everem beneficiado de um ambiente estimulante progridem signifcativamenne on mos de inteligéncia, entre as medidas realizadas, enquanto os outros nfo melkgck as tare na cab Poderemos concluir que o ambiente desempenha um papel impor, tante na inteligéncia. No caso contrario, concluiremos que o ambiente mac desempe- nha um papel de relevo na inteligéncia. Um tal estudo, como se compreenders, é dificil mente exequivel. 93 94 — Psicovocia DA Persons que recorreram aos jé referidos métodos. A primeira das limitagbes Fefere-se a fiabilidade dos diagnésticos. Importa saber que determinados estudos de gémeos foram realizados muito antes da descoberta do ADN e que para outros estudos, 0s critérios de classifi- cacéo MZ e DZ baseavam-se, essencialmente, na semelhanga fisica. Neste sentido, gémeos DZ. irmaos ou irmas puderam ser diagnosticados como MZ por apresentarem uma espantosa semelhanea fisica. De algumas investigagées dedicadas ao estudo dos efeitos da ma classificagao de um par de gémeos, conclui-se que, quando os pais pensam que 05 seus filhos sio gémeos DZ, ainda que na realidade cles sejam MZ, esses gémeos mal identificados so também comportamentalmente tio semelhantes quanto uns gémeos MZ correctamente identificados (Scarr ¢ Carter-Saltzman, 1979). Enquanto no passado este problema se podia colocar, esta limitacio jé ndo se observa nna actualidade pois 0s estudos, que determinam o tipo de gémeos baseiam-se em anali- ses de sangue ‘Uma segunda limitagao que se prende com a questo de saber se os resultados obti- dos a partir de gémeos se podem generalizar & restante populagio é, em compensagio, um ponto de toda a pertinéncia. Esta diivida surgiu da verificagao de diferencas no dominio das caracteristicas fisicas e também psicolégicas. No dominio fisico, nos gémeos, observa-se uma prematuridade no nascimento muito mais frequente, além de um peso inferior 4 média e de uma satide geral muito mais fragil. Em termos psicolégicos, veri- ficamos existir nos gémeos um atraso do aparecimento da linguagem, um desenvolvi- mento intelectual mais lento, ainda que estas diferencas sejam pouco expressivas. As diferencas tornam-se maiores se considerarmos a personalidade, bem como as con: ‘Ges em que esta se desenvolve, Os gémeos tém tendéncia a estabelecer menos contac tos sociais e a viver mais no interior do par: sao cimplices, chegando mesmo a desen- volver uma linguagem prépria, em determinados casos. A isto acresce o facto de o meio familiar nao se comportar com gémeos do mesmo modo do que com outras criangas. Todavia, estas limitagdes apenas lancam uma pequena sombra sobre o interesse do método dos gémeos; tais limitagdes chamam a atengio para o facto de os gémeos nao serem de todo compardveis as criancas da populacao geral, além de que os resultados obtidos com base em tais estudos nao podem ser generalizados & dita populacio, sem precaugdes. Contudo, seria abusivo crer que tais criticas diminuem de forma significa tiva 0 valor dos resultados obtidos com o auxilio desta metodologia. Sao estes os resul- tados que iremos relatar de seguida. Influéncia da hereditariedade sobre a personalidade A grande maioria dos trabalhos sobre a genética da personalidade recorre a ques- tiondrios de avaliacao aplicados a adultos e a criangas. Tal como iremos ver, em por- menor, no capitulo seguinte, tais questiondrios compreendem centenas de frases-tipo, como «Sou timido geralmente quando contacto com pessoas pela primeira vez», ou ainda «Irrito-me facilmente». Os questiondrios mais utilizados sio o EPQ, 0 TCI, © NEO Pleo 16 PF. Habitualmente, comparam-se as correlacdes intrapares de gémeos MZe DZ. (Os Devegainantes DA Pexsonauipape 95 Lochlin ¢ Nichols (1976) realizaram um estudo-piloto com 800 pares de gémcos, no qual foram examinados diversos tracos de personalidade. Os autores chegaram a duas grandes conclusdes, que se reconhecem actuais. Em primeiro lugar, todos os tracos de personalidade se mantém moderadamente hereditaveis. Esta conclusio é surpreendente, pois poderiamos esperar que determinados tragos fossem mais hereditaveis do que ow. tos. Em segundo lugar, o meio que mais influencia a personalidade néo ¢ o ambiente comum as diferentes criangas de uma mesma familia, mas antes aquele que nao é par- tilhado. As influncias ambientais mais salientes nao so, portanto, partilhadas pelos membros de uma mesma familia. Por outras palavras, 0 que o distingue dos seus irmaos e das suas irmas deve-se, precisamente, a experiéncias tinicas realizadas num ambiente no partilhado. Como é evidente, os irmaos e irmas assemelham-se, tanto mais quando crescem em meios idénticos, Imaginemos um caso extremo de dois irmaos que frequen tam a mesma escola, relacionam-se com as mesmas pessoas, escolhem as mesmas acti- vidades de lazer as mesmas opgdes musicais ¢ literarias; € pouco provavel que eles se distingam profundamente, isto porque nao foram sujeitos a experiéncias diferencia- doras do meio. Este fendmeno ilustra o facto de os ambientes partilhados nao se limi- tarem ao meio familiar. Esta notavel descoberta significa que as influéncias ambientais que se exercem sobre o desenvolvimento actuam de tal maneira que as criangas que erescem no seio da mesma familia no se assemelham mais do que se crescessem em familias diferentes. Esta segunda conclusio é igualmente surpreendente, pois, segundo as teorias derivadas das concepcGes freudianas da personalidade, as relages precoces mantidas com os pais desempenham um papel critico na elaboracao da personalidade. Muito esquematicamente, hoje em dia pensa-se que 40% das diferencas individuais ue se referem & personalidade se devem aos factores genéticos e que 60% sio devidas a0 meio nao partilhado (fig. 4.3). tie do ambiente: 60% Figura 4.3. Resumindo o conjunto dos dados de genética comportamental esquematicamente, podemos afirmar que a influéneia dos factores hereditarlos na personalidade corresponde a cerca de 40% @ que a rastante percentagem (60%) ‘se deve ao efeita do ambiente nao partihado 96 — Psicovosia Da PERSONALIDADE Loehlin (1992) apresentou os resultados de cinco grandes estudos, que incidiam sobre um rotal de 24 000 pares de gémeos. Tais estudos basearam-se no questiondrio NEO PI do modelo dos 5 factores e, mais precisamente, na extroversao e no neuroticismo. Os resultados séo apresentados no quadro 4.1. No que toca a extroversao, verificamos que a correlagao entre gémeos MZ. de 0,51, enquanto a mesma correlagio, no caso dos gémeos DZ, é de apenas 0,18. Tal significa que os gémeos MZ se assemelham tendencialmente mais do que os gémeos DZ, 0 que implica uma participacdo da here- ditariedade nesta dimensio da personalidade. & interessante verificar que a correlagao obtida nos gémeos MZ educados separados indica, também, uma contribuigao dos genes, pois estes individuos assemelham-se quase tanto quanto os gémeos MZ educa- dos juntos (0,38 versus 0,51) e que eles se parecem muito mais do que os gémeos DZ educados, tanto separados como juntos. Podemos ainda observar que as semelhangas entre 05 gémeos MZ, so muito mais importantes do que as encontradas nas fratrias biolégicas, as quais so equivalentes, neste ponto, as semelhangas entre os gémeos DZ.. Este aspecto nada tem de espantoso, visto que os gémeos DZ nao sao nem mais nem menos equivalentes aos irmiios e irmas que partilham 50% de genes. Registam-se dois resultados comparaveis no neuroticismo. As anélises comparativas dao uma estimativa de hereditariabilidade* (ver destaque 4.1) de cerca de 49% em extroversio ¢ de 41% em neuroticismo. Quadro 4.1. Correlagao entre yémoos MZ e gémeos DZ vivendo juntos ou separadios, ‘bem como entre irmaos e irmas relativamente as dimens6es de extroversto ‘ede nauroticismo do modelo dos 5 factores (segundo Plomin et a., 1999) Proximidade genética e do meio Extroversao Neuroticismo Gémeos MZ que vive juntos ost 046 Gémeos DZ que vive juntos 0,18 0.20 Gemeos MZ que vivem separados 038 038 (Gémeos DZ que vivem soparados 0,05 023 Fratrias biol6gicas 020 o.09 No que diz respeito as restantes 3 dimensGes da personalidade descritas no modelo dos 5 factores, Bergman ¢ colaboradores (1993) estimaram indices de hereditariedade de 12% na dimensdo de agradabilidade, de 40% na de conscienciosidade e de 29% na dimenséo de cultura, Noutro estudo que incide em 123 pares de gémeos MZ e 127 pares de gémeos DZ, Jang e colaboradores (1996) encontraram os seguintes indices de hereditariedade: 41% de neuroticismo, 53% de extroversao, 61% de abertura, 41% de agrabilidade e 44% de conscienciosidade. O facto de estes indices serem claramente inferiores a 100% faz supor que os factores ambientais so importantes, nfo esquecendo que eles so exclusivamente constitufdos por efeitos ambientais nao pastilhados. ‘A procura de sensages, uma dimensao do modelo de Zuckerman, aparece relacio- nada com a extroversdo. Num estudo realizado hé bastantes anos, que compreendia 422 pares de gémeos, as correlagoes entre os gémeos MZ eram de 0,60 e de 0,21 entre os gémeos DZ (Pulker et al., 1980); isto sugere uma hereditariedade de 78%, 0 que € Os Derexmvaivres DA PeRsoNaLDaDE 97° bastante. Esta importante contribuicio genética para a dimensio da ersonalidade em guest foi confirmada pelos resultados de um estudo realieado cons ‘gémeos MZ, edu- cados em separado, tendo levado a uma correlagao de 0,54 (Tellegen et al., 1988). Este “leimo resultado, uma vez mais, demonstra que 0 ambiente families nag exerce influén- cia alguma sobre a personalidade, uma vez que os gémeos MZ. se assemelham pratica- {Heath et al, 1994). Deste estudo, destaca-se também que os modelag de Cloninger e de Eysenck nao so, apenas, descrigées comparaveis de tracos idénticos de personali- dade, mas que cada um deles fornece uma descricao incompleta do que, na persona- lidade; € determinado por factores hereditérios. Noutro este de genética comporta- mental, Stallings ¢ colaboradores (1996) confirmaram a influéncia ta, hereditariedade sobre as dimensdes da personalidade do modelo de Cloninger (quadro 4.2). Obser- ando mais de perto estes resultados, verficamos que a diferente mos importante entre gémeos MZ ¢ DZ se observa na dimensio do evitamento de etigo, e mais parti- cularmente nos homens. Quadro 4.2. Valores das corelagtes entre gémeos MZ e DZ masculnos ¢ femininos noe temPeramentos do modelo de Gloninger (segundo Stalings etal; 1e9e) Procura Evitemonto Dependéncia — Persisténcia de novidlacie do perigo da recompensa Gémeos MZ masculinas 033 ost 0.40 os ‘Gémeos MZ femininos 0.44 0,50 oa7 022 Gémeos DZ masculinos ont 0.01 0,04 135 Gémeos DZ femininos 023 026 ote 0.10 Destaque 4.4 A hereditariabilidade Nos estudos reaizados com gémeos, os cferen- {88 cdlculos de correlacdes mostram & que ponto 08 gémeos MZ e DZ se assemelham. Sea corre. [2sé0 intrapares obtida com gemeos MZ é mais importants do que a encontrada em gémeos DZ, Podemos estimar que a caracteristica estudada 6 influenciada por factores genéticos. Outro pases Gorsiste em questionarmos em que proporeae @ Sonética exerce influéncia sabre esse caracter, Podemes Ia chegar através de diferentes mate, $88. 88 quais fornecem uma estimativa do que & Sgcianado por herecitariabilidade; trata-se ce uns GAlculo estatisticn que estima a dimensde da panto, 208 genes. Acima de tudo, convém distin. Sulrahereditariedade do uma dada caracteristioa 2 sua hereditariabiidade Roubertoux © Carter, 1976; Cartier et Roubertoux, 1994). A hereditarie, Gade corresponde & heranga de genes dos noseos ais. Assim, podemos predizer que uma caracte~ Fistica presente numa pessoa se encontraré nos ‘Sous descendentes. A hereditariablidade, essa 6 luma nogao estatistica endo casual; trata se da Proporedo da variéncia de um trago fenotipioo, {ue pode ser atribuida a varidncia genética numa dada populagao ou, noutros termos, uma parte da Vvariagao de um determinado tenétipo numa dada opulagao, Existem diferentes formas de calcular a heredita- Nabilidade. A referida hereditariabilidade calcula -8e, simplesmente, estabeleconco a relagdo entre 98 Psicorocia DA PexsonatinaDe avarlancia genética (aparte davariancia fenotipica ‘atribulvel aos genes, Sendo @ outra atribuivel ao ‘embiente) ¢ a variancia fenotipica (ou variancia total: genética + ambiental): Horeditariabilidade = V./V, fem que Vi, é a variancia genética de um cardcter eV,avariéncia fenotipica. Quantomals esteindice ‘se aproxima de 1 (ou de 10035), mais o cardcter fenotipico é atribulvel a variéncia genética, por- tanto, a0 efeite dos genes. Inversamente, quanto mais este indice se aproxima de 0, menos © cardcter estudacio se encontra relacionado coma. ‘ariagao genotipica. Estanereditariabliidade éaqui tentendida em sentido amplo. Trata-se da propor- ‘9d de diferengas fenotipicas causadas por toda ‘aespéciode fontes de variag6es genotipicas, sem ter em linha de conta o modo operatério dos ‘genes, que pode ser, ou néo, aditivo. A heredi tariabllidace em sentido estrito corresponde & proporedo de variéncia fenotipica atribuivel atin a variancia genética aditiva (Plomin a a., 1999). Esta herecitariablidade calcula-se do seguinte modo: Horeditariabiidade (h) ‘em que V, 8 refere a variéncia genética aditiva (uma parte da variéncla genética). Podemos tam- bbém, de forma grosseira, estimar a hereditariabll- {dade a parir de cooficientes de correlagées obti- dos com gémeos MZ @ DZ num dado caracter: Hereditariabilidade = (ry_~ fo) x2 Basta duplicar a diferenga entre a correlagao obsarvada com 0s gémeos MZ e a encontrada ‘com os gémeos DZ. Sem entrar em pormenores estatisticos demasiadamente precisos, visto que 105 verdadeiros gémeos so geneticamente idén- ticos e que os falsos gémeos apenas o so em metade, a dferenga das suas respectivas correla~ (GBes corresponde & metade do efeito genético; Guplicando esta diferenca, obtemos uma avalia- (980 da herocitariabllidade. No quadro 4.3, obser- vyamos uma correlagao de 0,40 em gémeos MZ ‘masculinos, na dimensto de dependéncia de re- ‘compensa do modelo de Cloninger, ede 0,04 com ‘gémeos DZ: aheritabilidade, neste caso, 6de0,72 011 72% [2 x (0,40 0,04)], o que deixa penser que coreade 3/4 da varianciados resultados dedepen- dencia de recomensa podem sor explicados pela acgao dos genes. Como todo 9 indice esta- tistico se encontra associado a um nivel de erro, convém replicar 0s resultados em amostras inde- pendentes, para determinar realmente a parte de hereditariablidade do um trago. O método familiar os Outro método clissico em genética comportamental é 0 método dito familiar*. estudos que utilizam este método, mede-se um traco especifico em individuos perten- centes 4 mesma familia, Se 0 traco se observar mais frequentemente nos descendentes de uma pessoa que o manifesta do que nos descendentes de uma outra pessoa despro- vida desse trago, podemos concluir que, seguramente, hd uma influéncia hereditédria Desde sempre, as semelhangas entre ascendentes ¢ descendentes tém sido objecto de observagdes que alimentam as crencas populares relativamente ao peso da hereditarie- dade de tal forma que essas crengas se expressam, por exemplo, no adagio «E tal e qual © pair. Quando procedemos a avaliacdes objectivas, geralmente, verificamos que as semelhangas so menos vincadas do que a tradigo popular deixaria supor. Por exem- plo, Bouchard e McGue (1981), a partir da observacio de 8433 casais de pais ¢ filhos, registam uma correlacao de 0,38 entre os quocientes intelectuais (Ql) dos pais e dos filhos por eles educados. Loehlin (1992) mostra também que a extroversio medida através do questionarios NEO PI est4 correlacionada em 0,16 entre os pais ¢ os filhos biol6gicos. ;RMINANTES DA PeRsoNALIDADE 99 Todavia, as investigacdes genealdgicas que incidem sobre diversas geragoes de as- | cendentes, descendentes e colaterais revelaram-se muito titeis no estudo de determina, das doengas mentais, como a esquizofrenia e as perturbagdes do humor, Tais eetudos Permitem determinar se a doenga pode ser atribuida a um gene especifico, além de possibilitarem observar 0 seu modo de transmissao e ajudarem a identified tp, A esquizofrenia € uma doenga mental grave caracterizada por perturbacdes do pen- samento, alucinagdes ¢ delirios (APA, 1996). Em todo o mundo, cerca de 1 em cede 100 pessoas sofre desta doenga. Trata-se de uma doenca familiar pois, se se tiver am parente de segundo grau (av6s, tos, etc.) vitima de esquizofrenia, orisco que se corre de desenvolvé-la é de 4%, ou seja, 4 vezes mais do que a populacao em geral Se am Parente de primeiro grau (pais ou irmios) sofrer da doenga em questio, o risco cobe para cerca de 9%. Se uma crianga pertencente a um par de gémeos DZ. for atin, { Bida, 0 risco de a outra desenvolver uma esquizofrenia é de 17% e no caso de gémeos | MZ, 0 referido risco passa a 48% (Gottesman, 1991). Por outras palavras, o risco de desenvolver uma esquizofrenia aumenta em fungao da proximidade genética. A situa. gio € semelhante no que diz respeito as perturbacdes do humor, pois o risco de sofrer de uma depressio major € de 9%, se os parentes do primeiro grau padecerem da dita doenca, enquanto na populacio em geralo risco é de apenas 3% (Plomin et al. 1995), Os valores sio, respectivamente, de 8% e de 1% no tocante as perturbages bipolares \ (McGuffin ¢ Katz, 1986). Os estudos sobre a adopgdo Oterceito método cléssico em genética comportamental é 0 das adopsies. Efectiva- mente, algumas criangas provenientes de meios desfavorecidos so adoptadas pouco tempo apés 0 nascimento, por familias com situagdes socioeconémicas ¢ culturais con. sideradas boas. Recolhemos, entio, informacées relativas a estas criangas, que com. paramos com as dos pais e irmaos biolégicos (que permaneceram com a familia de crigem) € com as dos pais adoptivos e respectivos filhos. A adopcio é uma situaga0 tinica, que cria individuos geneticamente ligados, sem que partilhem 0 mesmo meio familiar. O estudo destes individuos permite avaliar a contribuigo dos genes nas seme. thangas entre individuos de uma mesma familia. Se irmaos biolégicos, que vivem em dois meios diferentes na sequéncia de uma adopeao, apresentarem uma correlagio for- feno que toca a um trago, hd francas possibilidades de esse traco estar sob influéncia de genes. Em contrapartida, se a correlagao for fraca, tal situaclo advoga em favor de Luma participagao igualmente fraca dos factores genéticos e, consequentemente, de uma influéncia ambiental substancial. Numa familia classica, os pais sio, simultancamente, genéticos ¢ ambientais quan- do partilham tanto a hereditariedade como o ambiente com os seus filhos. O cago da 6 dopo confunde um pouco estes dados: esta situacio vai criar 0 aparecimento de Pais genéticos ¢ de pais ambientais. Os primeiros so os que deram vida e abandona- zam as criangas pouco apés o nascimento. As semelhancas entre os pais genitores ¢ os seus filhos, adoptados por outra familia, reflectem 0 contributo dado pelos genes as PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE 100 semelhanga pais-criangas: se uma crianga adoptada se assemelha mais aos pais biolégi- cos do que aos pais adoptivos no que diz respeito a um traco de personalidade, esse facto nfo poderd explicar-se em virtude de um ambiente comum, mas antes pela proxi- midade genética. Os segundos ~ os pais ambientais ~ so pais adoptivos, que adopta- ram criangas com quem no tém ligagdo genética. As semelhangas entre os pais adop- tivos e as criangas que adoptaram reflectem a contribuigo de factores ambientais no tocante as semelhangas pais-filhos: se uma crianga adoptada se assemelha tendencial- mente mais aos pais adoptivos do que aos pais biol6gicos no poderemos obviamente atribuir tal semelhanga a genética, mas antes ao ambiente. Os estudos sobre a adop¢ao trouxeram informacées interessantes para esclarecer as origens ambientais e genéticas das semelhangas familiares. O primeiro estudo sobre 0 QI data de 1924 (Theis, 1924), datando o primeiro estudo sobre a esquizofrenia de 1966 (Heston, 1966). O trabalho de Heston permitiu ultrapassar uma importante bar- reira no dominio da psicopatologia: a esquizofrenia passou do estatuto de doenca cau- sada por uma mé relagio precoce genitor-crianca ao de doenga fortemente determina- da por factores genéticos. Antes deste estudo, de acordo com as teorias psicanaliticas, a esquizofrenia resultava de uma mé relagdo precoce entre a mie e a crianga, havendo, consequentemente, uma enorme culpabilidade materna. De facto, o estudo de Heston demonstra que as criangas que foram adoptadas cedo e que tinham uma mde esquizo- frénica, apresentavam maiores probabilidades de desenvolver um quadro de esquizo- frenia do que as criangas adoptadas cujas maes nao sofriam daquela doenca. Dito de outra forma, uma crianga tem mais probabilidades de se tornar esquizofrénica se tiver antecedentes hereditérios da doenca, a qual nao é atribuivel a factores do meio. Se é verdade que os estudos sobre a adopeao so importantes para esclarecer as influéncias ambientais ¢ hereditdrias, também é verdade que, na actualidade, tais estu- dos sio dificeis de realizar, dado que o nimero de adopgées diminuiu consideravel- mente. Nos anos 60, até 1% do total de criancas eram adoptadas, Com a contracepeao € oaborto, as adopgdes tornaram-se claramente menos frequentes; além disso, tenden- cialmene, as mies solteiras tém os filhos a seu cargo. O método da adopgio, a semelhanca do dos gémeos, padece de diferentes proble- ‘mas metodol6gicos. O primeiro corresponde a representatividade dos dados e, portanto, 8 sua generalizagao dos mesmos. Se os pais bioldgicos, os pais adoptivos e as criangas adoptadas nao forem representativos da populagao, os resultados observados nao pode- tio generalizar-se & populacao global. No que diz respeito a este ponto, os dados sio contraditérios: ora em favor da representatividade, ora em seu desfavor (DeFrries et al, 1994). segundo problema — de ordem mais prética — refere-se ao facto de nem sem- pre ser possivel encontrar pais bioldgicos de criangas adoptadas. O terceiro problema que se levanta no ambito deste método refere-se ao ambiente pré-natal. Cada vez mais, considera-se que as maes proporcionam as criangas geradas e paridas um ambiente pré-natal e sabemos que estas influéncias podem ser importantes, Ainda assim, as suas semelhangas podem traduzir a influéncia do ambiente pré-natal. Uma das vantagens dos estudos sobre a adopeao refere-se & circunsténcia de os efeitos do ambiente pré- -natal poderem ser testados independentemente dos do ambiente pés-natal, compa- rando as correlagdes das mies e dos pais biol6gicos. Se a correlagio entre a mae biolégica Os Derenuawanres Da Pensonauioave 101 ea crianga adoptada for maior di lo que @ observada ent crianga, podemos concluir, razoavelmente, Te © pai biolégico ¢ a mesma gue © ambiente pré-natal pode desempe- ‘otadas fossem preferencialmente confiadas « as criancas adoptadas nao sao necessa- s (6 a 8 repeticées) ificativamente mais ig6es). Os resultados figura 4.4. Podemos ai 102 Psicotocia oa PeRSONALIDADE 407 gg 38 » 23 — alelos curtos ga 2 — alelosiongos E30 0. Tes 4 6 67 8 Resultado estimado de procura de novidade Figura 4.4. Distribuigao dos resultados de procure de novidade em individuos ‘com alolos curtos ¢ em individues com alelos longos (segundo Benjamin et al., 1996) Esta associagao entre o gene codificado pelo o receptor dopaminérgico D4 ea pro- cura de novidade foi replicada em diversos estudos (Ono et al., 1997; Ekelund et al., 1999; Strobel et al., 1999), Em contrapartida, outros estudos realizados com indivi- duos voluntarios nao encontraram a associagao em questo (Jénsson et al., 1998; Kiihn et al, 1999; Vandenbergh et al., 1997). Com base nestes resultados contraditérios, alguns autores sugericam que a associagio entre 0 polimosfismo DRD4 reflectia, sobretudo, as subdimensdes de excitabilidade exploratéria, de extravagancia ¢ de extroversio mais do que a de implusividade (Stroble et al., 1999). Todavia, Persson e colaboradores (2000) no encontram associacdo entre os genétipos do gene DRD4 ea extroversio, neste caso medida através do questionatio NEO PI-R do modelo dos § factores. Uma vez que estes estudos foram realizados em diferentes paises (Suécia, Finlandia, Alemanha e EUA), é muito provavel que factores demograficos ~ como a idade ov o sexo — possam contribuir para uma fonte importante de variago dos alelos, sendo, portanto, prematuro concluir que existe uma associagao entre 0 polimorfismo do gene DRD4 e a procura de novidade. Lesch e colaboradores (1996) mostraram uma relacdo entre a dimensao de neuro- ticismo do questiondrio NEO PI e o gene codificado pelo transportador de seretonina (gene SLC6A4 do cromossoma 17q12). Mais especificamente, os sujeitos com alelos Jongos tinham uma nota mais baixa de neuroticismo do que os sujeitos com alelos curtos (fig. 4.5). Este resultado nao é especifico desta dimensao, observando-se também na de cvitamento do perigo do modelo de Cloninger ena dimensao de segunda ordem de ansie- dade, do modelo de Cattell. Visto que, nos 3 casos, se trata de uma dimensio da persona- lidade ligada & ansiedade, os autores supuseram que o gene SLO6A¢ se encontra impli- cado de maneira especifica nesta categoria psicopatolégica mais ampla. Nao obstante, tal como no estudo de Benjamin e colaboradores (1996), as distribuigées referidas na figura 4.5 mostram com clareza haver uma sobreposigdo das distribuicdes. Consequente- mente, as associagées referidas neste estudo representam, apenas, uma pequena quanti- dade~ cerca de 5% a 10 % ~da influéncia que os factores hereditirios exercem sobre os tracos ansiosos da personalidade, Assim sendo, um total de 10. 15 genes, cujos impactes seriam compardveis, poderia explicar a totalidade da influéncia hereditaria. in o1 Hi ga do ed ent coc em (Ee ace tes Os men pers (195 oan cobe tend Qua slo} parti Os DeTERaNANres Da Pensonatioave 103 — alslos curtos ' — aloiosiongos | Percentagem de sujeltos: 10 | + oe eee : 5 Resultados estimados de neuroticismo | Flawa 45, Dtruio dos estas de neuoticme em ven ia | Sb alos utes om ndune se meen Sim nao ser facil encontrar associagdes consistentes orn ees Hi ¢ dimensées da personalidade, isto porque, Provavelmente, diferentes genes interagem | cntte si pot forma a originarem comportamentos estaveis, | Jam contrapartida, recentemente, foi demonstrado existc uma relago entre 0 gene codificado pelo receptor Serotoninérgico S-HT,.¢ a dependéncia da recompensa ¢ isto fi / Cepntetacs%0 com os genes codificados pelos receprores dopaminérgicos D4 e D3 } (Ebstein et al., 1997). O efeito do gene S-HT,, na dependéncia da recompensa é mais acentuado nos individuos caracterizados por uma repeticao de 7 sequéncias semelhan- tes no gene do receptor dopaminérgico D4, sp | Os determinantes ambientais {i AP6s a evocacio dos mais pertinentes dados provenientes da Benética comporta- | mentah resta-nos descobrir 0 que se entende pela segunda fowre de influéncias sobre a | ra tudade: os determinantes ambientais. Como Plomin s colaboradores sugerem (1980), em primeito lugar hé que destacar que a genética ates nossa maneira de ver | sicOLOGIA DA PERSONALIDADE 104 individuos e inclusivé sobre a personalidade dos mesmos. A razao pela qual vocé nao se assemelha a0 seu irmao ow A sua irma reside na circunstncia das influéncias ambien- tais nao serem idénticas; tal sucede pelo facto do ambiente nao ser partilhado. Se, em contrapartida, vocé partilhar diversas experiéncias de vida com o seu irmao ou a sua ima, a semelhanga ser maior. Consequentemente, o papel do ambiente estritamente familiar parece pouco importante; de outro modo, independentemente das diferentes experiéncias que vocé vivesse, ainda assim, vocé parecer-se-ia com 0 seu irmao oua sua irma. Refira-se também que, na actualidade, est em desuso falar-se de meio familiar (c, portanto, de influéncias familiares), bem como de meio extra-familiar (e bem assim, portanto, de influéncias extra-familiares, portanto): preferem-se as respectivas desig nagées de ambiente partilhado* e de ambiente nao partilhado. Estes termos substituem de forma vantajosa os primeios em diversos pontos, sendo que os dois mais importan- tes dizem respeito ao facto de, primeiramente, as experiéncias familiares poderem nao ser partilhadas e, em segundo lugar, as experiéncias extra-familiares poderem ser par- tilhadas. Retomaremos a discussio deste aspecto mais tarde. Diferentes autores da area das ciéncias sociais concedem um lugar preponderante &s influéncias ambientais, a pontos de, na opinido desses mesmos autores, se uma diferen- ca nio for visivel & nascenca, significa isso que ha que rejeitar uma influéncia heredita- ria nesse aspecto. Os autores em questo dirigem criticas relativas aos estudos que sugerem haver uma influéncia hereditaria na personalidade, estudos esses que, repeti- mos, sejam provenientes em grande medida de trabalhos realizados com gémeos. Os ditos autores pensam que as baixas valorizages do meio referidas pelos investigadores poderiam advir do recurso a métodos de avaliagao inadequados. Com efeito, as influén- cias ambientais so mais diffceis de avaliar do que as ligadas & hereditariedade. Um meio & complexo e, ainda que saibamos que gémeos DZ partilham 50% dos genes, desconhecemos qual a percentagem de meio que partilham. Como veremos mais adiante, um mesmo meio pode ser vivido de diferentes formas pelos membros de uma mesma familia. Devem ser tidas em mente duas observagées relativas ao ambiente. Primeiro que tudo, a genética constitui a melhor prova de que dispomos da importncia dos factores ambientais. De facto, os factores genéticos exercem grande influéncia sobre iniimeros dominios da psicologia, embora numa proporeio limitada, o que concede ao ambiente toda a sua importancia, Depois, 0 termo ambiente faz referéncia a todas as influéncias ue existem para além da transmissao hereditaria. O significado deste termo é alarga- do comparativamente ao seu sentido corrente em psicologia. Nao se trata somente da acgao socializante da familia e do meio social, mas também dos acontecimentos pré- -natais e biolégicos, como sejam a doenca ~ em sentido lato ~ e a nutrigao. O ambiente nao partilhado Desde Freud, a maioria das teorias sobre o papel do ambiente no desenvolvimento, sugerem, implicitamente, que as criangas se assemelham aos pais em virtude de estes ci a m fa (si ose bien- em vsua rente ntes asua riliar :nto, estes Os Derenaanvanres pa Personatimane 105 thes proporcionarem 0 ambiente familiar necessério e que os irmos¢ as irmas se pare- em uns com: 0s Outros por partilharem esse mesmo ambiente. Este ponte de visa mudou consideravelmente na sequéncia das observagées de criangas adopradas ¢ tne gstudos com gémeos, studs esse que descrevemos mais atrés. Tal como fd referimos, pela psicologia. No quadro 4.2 vimos que a dimensao de procura de novidade apresen- 196) afer atte de 0533 nos gémeos MZ e de 0,11 nos gémeos DZ (Stallings ota, 1996). Referindo-nos a um céleulo de hereditaciabilidade baseado em correla, $6es, ob- femos um indice de 44%, o que significa que 56% da variacio fenotipiea é anlburel a0 ambiente ou, por outras palavras, a tudo o que nao for genético. Mas, nae esquega- ‘mos, trata-se principalmente do ambiente nao partilhado De que forma se avala o feito do ambiente? A vatiancia ambiental 6 forgosamente, a variéncia que ndo ¢ explicada pela genética. O ambiente familiar partilhade ¢ aval do como as semelhangas familiares que no sio explicadas pela genética, O onbens go parilbado forma o resto da variancia que nao se explica nem pela genética sere pelo ambiente fami ‘efere 4s aptiddes cognitivas, as fratrias nao ligadas geneticamente obtém wns co vee so de 0,25, durante a infancia (McGue et al., 1993). Na medida em que estas criangas ‘40 partilham os mesmos genes, esta correlagao explica-se pelo meio. Na adolescéncia, Fone ms orelacio desce até zero, 0 que serve de base & conclusio segundo a cual 2 longo prazo, a parttha do meio tem geralmente um efeito insignficame Relativamente & personalidade, a correlacao esta préxima de zero; este valor permite supor que 0 ambiente partilhado pela fratria nio é importante. Por exemplo, Loehlin (1992) relata srclasdes de 0,07 entre frarias adoptivas no rocante& dimensio de extroversio eit tante do questiondério NEO PI ede 0,11 em telacdo a dimensao de neuroticismo. Da deareeectia du as fratrias adoptivas sem ligacéo genética fornecem un vente dineee, do efeito do ambiente partilhado, os gémeos verdadciros, tise directo do ambiente no pactilhado. Uma vee que os gémeos verdadciwe sx, gene- Facinenteidénticos, as diferengas observadas num par podem apenas dever see han tes ambientais nao partilhados. Estas nogGes de meio partilhado ¢ nao pastilhado devem, contudo, ser acenvadas Por exemplo, os factores ambiemtas partlhados nem sempre vio partilhados o mesmo modo no seio de uma fratra. A titulo de exemplo, os efeitos de vavidven cogs odivér- Hee Guta! Podem nio ser partilhados, pois tal acontecimento nio é necessertemen Vivido da mesma forma por todas as criangas da familia. Neste exemplo, a idade das mes Pode ter influéncia nas suas reacgdes. Uma adolescente de 18 anos nia vive aa Mesmo modo o divércio dos Pais que a sua irma mais nova, de 12 anos. Paralzlamente, 2 influéncia do ambiente familiar pode exercer-se de forme diferente no sei> de uma familia, se os pais adoptarem atitudes contrastadas relativamenn aos diferertes filhos iS Bvorecem um em relagao a outro), mas também em funeSo das relagdes entre ‘nnios e irmas, as quais podem ser muito contrastadas em divereos Pontos, como, por 106 Psicovosia Da Personauspape exemplo, o dominio de um ou de uma e a dependéncia dos outros. Assim sendo, os efeitos ambientais nao partilhados podem derivar de experigncias no interior ou no exterior da familia que se apliquem somente a uma das criangas dessa familia. De entre essas experigncias, podemos citar os abusos sexuais, os acidentes que obrigaram a lon- gas hospitalizagées, uma doenga prolongada, a chacota de que se é alvo na escolae a influéncia de um grupo de jovens delinquentes. A correlagao genética-ambiente Na literatura que versa sobre genes ¢ comportamentos, com muita frequéncia se encontra a afirmagao de que os factores genéticos que apoiam os comportamentos interagem com 0 ambiente. Significa isto que diferentes genétipos podem reagir de forma diferente as mesmas condigdes ambientais ou, por outras palavras, que un mes- mo gen6tipo pode originar manifestacdes fenotfpicas diferentes, segundo 0 tipo de am- biente no qual o individuo se tiver desenvolvido. Esta ideia é sustentada por experién- cias célebres, realizadas com animais, hé jé muito tempo. Cooper e Zubek (1958) mostraram que condigdes de criagéo normalizadas, empobrecidas ou enriquecidas, tinham repercussdes divergentes em duas racas diferentes de ratos seleccionados para a aprendizagem de um percurso de um labirinto, com base no niimero de erros que come- tiam nesta tarefa. Para a raga que aprendeu bem, o meio empobrecido nao diminui de forma marcante a sua performance, enquanto o meio enriquecido a melhora considera- velmente. Para a raga que pouco aprendeu, o meio empobrecido diminui drasticamente a performance, enquanto 0 meio enriquecido apenas a melhora de forma muito ligeira. Dito de outro modo, os efeitos do meio so opostos. Desde ha alguns anos, a genética comportamental sugeriu igualmente que diferen- Gas genéticas poderiam levar os sujeitos a escolher tal ou tal ambiente: fala-se de inato do adquirido ou da natureza da cultura, Por outeas palavras, temos predisposigdes genéticas para nos comportarmos de uma determinada maneira e, consequentemente, para privilegiarmos um certo tipo de ambiente no qual poderemos comportar-nos de tal forma. Portanto, criamos as nossas proprias experiéncias, em parte, por razSes genéticas. Por exemplo, segundo 0 modelo biossocial de Cloninger, certos individuos estio predispostos a procura da novidade e outros a evitar o perigo. Como € evidente, estes dois tipos de individuos vao evoluir em dois ambientes extremamente diferentes. Plomin ¢ colaboradores (1977) consideram existir ts tipos de correlacdes gen6tipo- -ambiente: a passiva, a evocativa e a activa. O tipo passivo tem lugar quando as crian- gas herdam passivamente ambientes familiares correlacionados com as suas propen- ses genéticas. O tipo evocador tem lugar quando individuos evocam as reaccoes de outras pessoas com base nas suas predisposigdes genéticas. O tipo activo ocorre quando individuos procuram, ou criam eles préprios, ambientes correlacionados com as suas tendéncias genéticas. Ilustremos 0 efeito destes trés tipos com base no exemplo da procura de sensagdes. No caso passivo, uma crianga que herda esta disposigio poder ser levada a viver num ambiente familiar onde os pais lhe dao a oportunidade de reali- zar a sua disposigao, sobretudo treinando-a em actividades desportivas radicais. as 0 re Os Devanamnvanras Da Pexsonatinane 107 No caso evocador, podemos identificar a crianca que apresenta essa caracterstica ¢ Proporsionar-Ihe oportunidades particulars. No caso activo, a crianga, que nao esta Particularmente consciente desta caracteristica, ird ela propria Procurar ambientes que the permitirdo a realizagio da sua disposigdo,seleccionando certos meios ou convicans do preferencialmente com amigos que pratiquem desportos radicais. Uina teoria do desenvolvimento prediz que o tipo passivo é preponderante na infancla, « que as fox, mas evocativa ¢ activa de correlagGes gen6tipo-ambiente se tornam mais importantes num estédio ulterior do desenvolvimento. Resumo 1.A Ideia de factores biolégicas poderem influen- Ciaros comportamentos dos incividuos, bem como ‘personalidade destes, 6 muito antiga, exorimindo- ~seemdiferentestipologias queessociam caracte risticas fsicas a comportamentos observavels, AS tipologias subentendem claramente uma causal Jade directa entre caracteristicas fisicas e a forma ‘como @ pessoa se comporta. As mais conhecidas {estas tipologias saoasde Kretechmer ede Sheldon A fraglidades teéricas e a respectiva dificuldade de operacionalizagao dos concertos tomam, con. tudo, pouco tteis estas tipologias. 2. A ideia de associar parématros biolégicos & fisiolégicos a tipos de personalidade é particular ‘mente fecunds, visto basear-se em dados objec- tivos relativamente consistentes, fornecendouma osigéo psicobiossocial da personalidade, que, indiscutivelmente, ¢amais completa epertinente, Indmeros dados endocrinolégicos e psicofisiolS. gicos demonstram @ que ponto a psicobiologia ‘bode terum impacte considerdvel na personalida 8. Por exemplo, as hormonas sexuais desompe- ‘nham um papel de relevo no tocante aos com. Portamentos, sobretudo nos comportamentos agressivos. 8, Oque haa reter dos estudos que mostram uma associapao entre as varidvels fisioligicas o as imensées da personalidade 6 0 facto de essas ‘mesmas associagdes nem sempre-serem téo.sim- ples e cirectas como nas experiéncias citadas. Na Fealidade, os varios dados da literatura que pro- Curam demonstrar © papel das variaveis biolagh. ‘Cas na personalidade esto longe de ser coerentes = além de diversos estudos contraditérios terem visto a uz do cia-, sem que, porisso, seja neces. ‘Sdrio questionar as hipéteses de base 4, Uma parte especitica da genética, designada genética comportamental, estuda o impacte da hereditariedade na personalidade, bem como no resto do comportamento. Trata-se de uma disci, plina particulermente interessente que, durante ‘muito tempo, procurou determinar se um compor- famento possul, ou nao, uma ligagdo com facto- Fes genéticos. Esta disciplina estevenagénese de Glversos debates entre Inato @ adquirido. Mais recentemente, a genética comportamental tentou identificar os genes~ ou seja, as localizacoes nos eromossomas responsavels pelos compartamon 0s, procurando ainda compreendero curso fisio. l6gico entre o efeito primério de um geno e a sua ‘manitestagao comportamental. 5. Os gémeos MZ constituem um achado para a genética comportamental pois, uma vez que tém ‘© mesino genoma, tal permite afirmar que toda 2 lferenga verificada entre ambos é forcosamente devida ao efeito do meio. Paralelamento, ofera- ‘cem uma oportunidade Unica de estudarainfluén- la de diferentes meios sobre um genomaidéntico. Ao comparar a correla, numa dimens&o da Personalidade, em gémeos MZ 0 DZ, podemnos determinar se essa dimensao ¢ influenciada pela hereditariadade, sendo esta conclusao apenas valida no caso de postularmos que os dois tipos de gémeos se encontram expostes as mesmas experiéncias de vida, além de 0 meio onde sles Vivem ser constante, 6. Ao estudar gémeos MZ educados separaca- ‘mente, podomos dar-nos conta dos efeitos da hereciteriedade. Se os gémeos MZ que vivem Separacamente se assomelharem tanto quantoos ‘gémeos MZ que vivem juntos, podemos coneluir U8 0 efeito cio ambiente neste ponto é predomi- antemente fraco, senao inexistente. Erm contra partida, se os gémeos MZ que vivern juntos 86 assemelharem mais do que os que foram educa- dos separados, clevemos dai coneluir que o am- biente desempenha aqui um importante papel 108 PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE 7. Os métodos dos gémeos niio se encontram desprovidos de limitagdes, sendonecessario astar bem congciente das mesmas antes de interpretar dados provenientes de estudos que recorreram 98 referidos métodos. A primeira das limitagbes rofere-se & fablidade dos dlagnésticos. Enquanto no passado o monozigotismo podia ser diagnos- ticado por 270, este problema jé no se observa na actualidade, pois os estudos basoiam-se em snélises do sanguo, para determinar o tipo de oé- meos. Ume segunda limitagao & sempre actual: 6a que se prende com a questio de saber se 05, resultados obtides a partir do gémeos podem ge. neralizar-se a toda a populagao. 8. A grande maicria dos trabalhos sobre a gené- tica da personalidade recorre a questionérios de avaliagao apiicados a adultos ea criangas. Da sua Utiizagao canclui-se que todos os tragos de per- sonalidade séo moderadamente hereditavels © que o mele que mais influencia a personalidade do & o ambiente comum as diferentes eriangas deume mesma familia, mas antes aquele que nao 6 partithadc. Muito esquematicamente, na actua- lidade penea-se que 40% das diferengas indivi- duais que se referem & personalidade se devem aos factores genéticos & que 60% so cevidas ao meio nao partilnado 8. Convém aistingulr @ hereditariedade de uma dada caracteristica da sua hereditariabilidado. Ahereditariedadecorrespondeaheranca de genes dos nossos pais. Assim, podemos predizer que uma caracteristica presente numa dada pessoa se encontraré nos seus descencentes. A here- ditariablidade, essa éuma nogacestatistica endo ‘casual; trata-se da proporcao da varlancia de um trago fenotipico, quepodeser atibuida avariancia, genética numa dada populagéo ou, noutros ter- ‘mos, uma parte da variagao de um determinado {endtipo numa dada populagao. 10. Outto métado classico em genética compor- tamental 6 método dito familiar. Nos estucos que Utilizam ests método, mede-se um trago especifi- ‘co nos individuos pertencentes & mesma familia Se 0 trago 0 observar mais frequentemente nos descenden'es de uma pessoa que o manifesta do que nos descendentes de uma pessoa despro- Vida desse trago, podemos concluir quo, segura- mente, ha equi uma influbncia hereditéria, 11.0 terceiro método classico em ganétics com- Portamental 60 das adopgdes, Recolhomosiinfor- magoes relativas a criangas adoptadas, que ‘comparamos com 2s dos seus pals ¢ irmios bio- lgicos (que permaneceram com a familia de ort gem) © com as dos pais adoptivos e respectivos filhos biol6gicos. Se irmaos biol6gicos, que vivem fem dois meios diferentes na sequéncia de uma adop¢o, apresentarem uma correlagsi forte no ‘que toca aum trago, ha francas possibildades de fesse trago ser fruto da infiuéncia de genes. Em Contrapartida, 60 a correlagdo for fraca, tal situa: 80 advoga em favor de uma participagao igual- mente fraca de factores genéticos e, consequen- temente, deumainfiuéncia ambiental substancial 12. Se 6 verdade que a participagdo de factores genéticos na personalidade nao levanta quais- {quer dividas, também é vordade que nos encon- tramos algo atrasados no que se refere a identi- ficagdo dos genes implicados neste processo. Recentemente, civarsos estudos tontaram identi- ficar os genes que participam na expresso de determinadas dimensdes da personalidade. Tals estudos centraram-se nas dimensdes do modelo {de Cloninger @ do modelo dos cinco factores. As associagées referenciadas nesses estudos repre- sentam, apenas, uma pequena quantidace -cer- ca de 5% a 10 % ~da influéncia que tém os fac- tores hereditarios rolativamente aos tragos da personalidade. 18. O termo ambiente faz referéncia a todas as influéncias que se encontram para além da trans- misso hereditaria. Uma das grandes descober- tas da genética comportamental assenta no facto {de os contributos do ambiante tenderem a tornar as eriangas de uma mesma familia diferentes & do semelhantes. Quando as influéncias ambien- tais no tocante ao desenvolvimento psicolégico nao so partihadas por todas as criangas de uma mesma feria, fala-se de ambiente no partihado. 14. Avarianciaambientalé, orgosamente, avarian- cia quenéo éexplicada pela genética. Oambiente {familiar partihado € assimilado as samelhangas {familiares que nao so explicadas pela genética, (ambiente nao partiihado forma oresto davverian- cia que nao se explica, nem pela genética nem pelo ambiente familiar partinad. O teste recto

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