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ANÁLISE ANÁLISE

Análise Ambiental
AMBIENTAL AMBIENTAL
Camila Bolfarini Bento Camila Bolfarini Bento

Em uma época em que as exigências relacionadas ao controle ambiental estão cada


vez maiores, o biomédico desponta como um profissional capaz de atuar ativamente
na temática ambiental, desde que possua conhecimentos sólidos e a capacidade de
fazer interconexões entre as áreas. O manejo do ambiente demanda um conhecimen-
to dos padrões e processos dos sistemas biológicos para permitir o desenvolvimento
de procedimentos de análise e avaliação, visando a proteção ou a conservação dos
recursos biológicos (TAUK-TORNISIELO et al., 1995).
Fazer uso da perspectiva ecossistêmica significa a possibilidade de o profissional se
posicionar crítica e formalmente e que os planos de análise ambiental não devem con-
siderar somente os aspectos físico-químicos e os parâmetros legais, mas principal-
mente devem buscar a integridade biológica.
Desse modo, tendo contextualizado a relação entre o biomédico e a ecologia, inicia-
remos os estudos dos conceitos relativos à especialidade da biologia que relaciona os
seres vivos entre si e com o meio ambiente, a ecologia.

GRUPO SER EDUCACIONAL

gente criando o futuro

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Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz

Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira

Autoria Camila Bolfarini Bento

Projeto Gráfico e Capa DP Content

DADOS DO FORNECEDOR

Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional,

Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão.

© Ser Educacional 2021

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Código Penal.

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Boxes

ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.

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Sumário

Unidade 1 - Introdução à análise ambiental


Objetivos da unidade............................................................................................................ 12

Introdução à Ecologia.......................................................................................................... 13
Conceitos de Ecologia..................................................................................................... 13
Biosfera e ecossistema................................................................................................... 16
Dinâmica de populações................................................................................................. 21
Ecologia das populações................................................................................................ 25

Biomarcadores...................................................................................................................... 27
Avaliação de risco ambiental......................................................................................... 28
Risco socioambiental....................................................................................................... 30
Monitoramento de populações expostas a agentes tóxicos.................................... 33
Ecologia humana e das doenças................................................................................... 34

Sintetizando............................................................................................................................ 36
Referências bibliográficas.................................................................................................. 37

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Sumário

Unidade 2 - Ecotoxicologia ambiental e bioindicadores de qualidade ambiental


Objetivos da unidade............................................................................................................ 41

Ecotoxicologia ambiental.................................................................................................... 42
Risco ecotoxicológico e saúde humana....................................................................... 43
Poluentes ambientais ..................................................................................................... 46
Agentes poluidores.......................................................................................................... 53
Poluição da água e do solo............................................................................................. 59

Bioindicadores de qualidade ambiental.......................................................................... 62


Estressores ambientais e hidrológicos......................................................................... 64
Gerenciamento de resíduos tóxicos de laboratórios ................................................ 67

Sintetizando............................................................................................................................ 68
Referências bibliográficas.................................................................................................. 69

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Sumário

Unidade 3 - Análises ambientais e qualidade ambiental


Objetivos da unidade............................................................................................................ 72

Análises químicas e a manutenção da qualidade ambiental....................................... 73


Volumetria.......................................................................................................................... 74

Volumetria de neutralização............................................................................................... 76
Análise de acidez potencial do solo por volumetria de neutralização.................... 78
Determinação de alumínio trocável do solo por volumetria de neutralização......79
Análise das águas e determinação da acidez das águas......................................... 80
Bioacumulação do ácido benzoico no organismo e determinação do coeficiente
de partição.........................................................................................................................84
Remoção de compostos orgânicos voláteis (COVs) pelo carvão ativo................... 88

Volumetria de complexação............................................................................................... 92
Determinação do ferro e alumínio trocável do solo por volumetria de complexação....93
Análise do teor de magnésio e cálcio no solo por volumetria de complexação...... 94
Determinação do tipo de acidez do solo ..................................................................... 96

Sintetizando.......................................................................................................................... 100
Referências bibliográficas................................................................................................ 101

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Sumário

Unidade 4 - Metodologias e procedimentos para análises de água e ar


Objetivos da unidade.......................................................................................................... 104

Métodos analíticos............................................................................................................. 105


Volumetria de óxido-redução....................................................................................... 105
Método do iodo............................................................................................................... 106
Método enzimático......................................................................................................... 107

Análise das águas............................................................................................................... 108


Determinação do oxigênio dissolvido no meio aquático......................................... 111
Fatores que influenciam na quantidade de oxigênio dissolvido na água............. 113
Determinação da demanda química de oxigênio (DQO).......................................... 115
Determinação do teor de ferro na água..................................................................... 117
Determinação do cloro residual livre.......................................................................... 118
Dosagem da acidez na água (ou esgoto) devido ao CO2, ácidos minerais e sais
hidrolisados..................................................................................................................... 119
Determinação de coliformes fecais na água............................................................. 121
Como decidir o melhor método de tratamento da água.......................................... 125

Qualidade do ar................................................................................................................... 127


Método visual SIERP .................................................................................................. 131

Sintetizando.......................................................................................................................... 133
Referências bibliográficas................................................................................................ 134

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Apresentação

Em uma época em que as exigências relacionadas ao controle ambiental


estão cada vez maiores, o biomédico desponta como um profissional capaz
de atuar ativamente na temática ambiental, desde que possua conhecimen-
tos sólidos e a capacidade de fazer interconexões entre as áreas. O manejo do
ambiente demanda um conhecimento dos padrões e processos dos sistemas
biológicos para permitir o desenvolvimento de procedimentos de análise e ava-
liação, visando a proteção ou a conservação dos recursos biológicos (TAUK-
-TORNISIELO et al., 1995).
Fazer uso da perspectiva ecossistêmica significa a possibilidade de o profis-
sional se posicionar crítica e formalmente e que os planos de análise ambiental
não devem considerar somente os aspectos físico-químicos e os parâmetros
legais, mas principalmente devem buscar a integridade biológica.
Desse modo, tendo contextualizado a relação entre o biomédico e a ecolo-
gia, iniciaremos os estudos dos conceitos relativos à especialidade da biologia
que relaciona os seres vivos entre si e com o meio ambiente, a ecologia.

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A autora

A professora Camila Bolfarini Bento


é doutora e mestre em Biotecnologia e
Monitoramento Ambiental pela Univer-
sidade Federal de São Carlos – UFSCar
(2020). Licenciada em Biologia (2020) e
bacharel em Engenharia Agronômica
pela Universidade Estadual Paulista –
Unesp (2012).

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3230386423166043

Dedico este trabalho aos meus professores, que acrescentaram conhecimento


teórico e prático desde a minha formação de base até a pós-graduação.
Agradeço por serem profissionais tão dedicados nessa árdua e nobre tarefa de
formar pessoas intelectual e socialmente.

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UNIDADE

1 INTRODUÇÃO À
ANÁLISE AMBIENTAL

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Objetivos da unidade
Contextualizar a importância e fornecer conceitos sobre Ecologia aos
estudantes de Biomedicina;

Abordar a dinâmica do meio ambiente e de seus indivíduos, assim como os


principais fatores que mantêm o seu equilíbrio;

Apresentar a importância dos fatores ecológicos e o impacto da atividade


humana no meio ambiente;

Apresentar ferramentas para avaliação e monitoramento de riscos


ambientais.

Tópicos de estudo
Introdução à Ecologia
Conceitos de Ecologia
Biosfera e ecossistema
Dinâmica de populações
Ecologia das populações

Biomarcadores
Avaliação de risco ambiental
Risco socioambiental
Monitoramento de populações
expostas a agentes tóxicos
Ecologia humana e das doenças

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Introdução à Ecologia
A palavra ecologia deriva da pala-
vra grega oikos que significa “casa” ou
“lugar onde se vive” e logos que signifi-
ca “estudo” (ODUM, 2001). Assim, em
um sentido literal, a Ecologia é o estu-
do dos organismos em sua casa, en-
tendido por nós como planeta Terra.
No dicionário, é definida como o ramo
da Biologia que estuda as relações en-
tre os organismos vivos e suas relações com seus respectivos ambientes.
Podemos ainda definir Ecologia como “o estudo das inter-relações que li-
gam os organismos vivos ao seu ambiente” ou, considerando uma abordagem
mais genérica, como “o estudo da estrutura e do funcionamento da natureza
uma vez que ela se ocupa de estudar os grupos de organismos e de processos
funcionais na terra, no mar e na água doce” (ODUM, 2001, p. 4).

Conceitos de Ecologia
O termo ecologia foi utilizado pela primeira vez, em 1866, por Ernst Haeckel;
para ele, o entendimento dos processos de desenvolvimento do organismo e
da Ecologia era necessário para que os mecanismos evolutivos fossem verda-
deiramente compreendidos (WATTS; HOßFELD; LEVIT, 2019). Nesse sentido, o
conceito de Ecologia construído no século XIX, por Haeckel, envolve um sistema
teórico que abrange desenvolvimento, evolução e meio ambiente.
A compreensão moderna de Ecologia a contextualiza como o estudo cien-
tífico da distribuição e abundância dos organismos e de suas respectivas inte-
rações (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2008). Atualmente, sabemos que a Eco-
logia está focada em uma ideia de ecossistema que pode ser empregada em
qualquer área, pois trata as relações entre os organismos e o meio ambiente
como uma rede funcional envolvendo os componentes bióticos e abióticos.
É importante que se compreenda o espectro dos sistemas biológicos,
para tanto, o Quadro 1 apresenta alguns dos principais termos em Ecologia.

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QUADRO 1. GLOSSÁRIO PARA ESTUDOS EM ECOLOGIA

Termo Significado Exemplo

São os seres, em seus


diferentes graus de
organização, que se mantêm Os organismos
Organismo em contato com um meio multicelulares, como os
biótico e abiótico com os animais.
objetivos de sobrevivência e
reprodução.

São os indivíduos semelhantes


de uma população natural que A espécie Felis catus (gato
Espécie
podem se reproduzir e gerar doméstico).
descendentes férteis.

São grupos de indivíduos As bactérias da espécie


de uma mesma espécie Streptococcus pyogenes
População formados por qualquer causando uma inflamação
tipo de organismo em um na garganta durante uma
determinado período. semana.

É o conjunto de populações
que habitam um determinado Os seres de um lago no
Comunidade
espaço em um determinado período Cretáceo.
tempo.

É uma rede de relações das


A Floresta Amazônica
Ecossistema comunidades entre si e delas
forma um ecossistema.
com os fatores abióticos.

É um local que contém um


Atualmente, o habitat dos
conjunto de condições bióticas
Habitat leões consiste nas savanas
e abióticas ideais para uma
da África e da Índia.
espécie se desenvolver.

Conjunto das condições


ambientais e recursos
relacionados a uma O leão carnívoro e predador
Nicho ecológico
espécie que resulta no em seu habitat.
desenvolvimento de uma
determinada função ecológica.

Condições físicas, químicas


e edáficas (elementos não Condições de temperatura,
Fatores abióticos
vivos) que fazem com que uma acidez e tipo de solo.
espécie exista em um habitat.

Efeitos causados pelos seres


Os grupos de organismos
Fatores bióticos vivos por meio de suas
autótrofos e heterótrofos.
relações ecológicas.

Força motriz que entra em


Energia solar captada
um sistema fluindo nos níveis
Energia pelas plantas por meio da
tróficos da cadeia alimentar
fotossíntese.
por transferência e troca.

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O espectro dos sistemas biológicos é subdividido em níveis que podem ser
entendidos a partir de seus atributos fundamentais, ou seja, das característi-
cas que os definem, conforme mostra o Diagrama 1. Os níveis do espectro em
conjunto com os componentes abióticos resultam em biossistemas. A quanti-
dade, a variabilidade e a complexidade dos atributos que compõem cada sis-
tema crescem, principalmente, da esquerda para a direita, todavia, o contrário
também pode ocorrer.

DIAGRAMA 1. ESPECTRO DOS NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO

Componentes bióticos Genes Células Órgãos Organismos Populações Comunidades

mais

Componentes abióticos Matéria Energia

igual a

Biossistemas Sistemas Sistemas Sistemas Sistemas de Sistema de Ecossistema


genéticos celulares de órgãos organismos populações

Fonte: ODUM, 2001, p. 6. (Adaptado).

Os níveis do espectro não podem ser compreendidos isoladamente, por


essa razão se utiliza o termo “espectro”. É importante entender que a capacida-
de de compreensão sobre um nível é influenciada pelo grau de conhecimento
sobre aquele anteriormente posicionado. Contudo, tal condição não é suficien-
te para explicar todos os fenômenos que ocorrem ao nível que se está alisando,
pois existem características exclusivas em cada um deles.
Logo, é possível conceber o sistema a partir de qualquer nível hierárquico
ou em qualquer posição intermediária conveniente. Além disso, o fluxo ener-
gético entra e sai do espectro, fluindo constantemente por ele. Analisando o
espectro, podemos observar que a Ecologia se aplica a estudar a interdepen-
dência e as inter-relações a partir dos níveis que englobam os organismos,
populações e comunidades. A capacidade limite regula o crescimento de uma
população. Fatores como nascimento, morte, imigração e emigração controlam
a capacidade limite. Os indivíduos de uma comunidade estabelecem relações
que também regulam o crescimento populacional.

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Segundo uma perspectiva ecológica, na qual é imprescindível
a inclusão de conceitos e de teorias ecológicas, a análi-
se ambiental deve considerar, então, o espectro dos
níveis de organização, resultando na inclusão dos
atributos ecossistêmicos, das comunidades, das po-
pulações e dos indivíduos.

Biosfera e ecossistema
Como vimos no espectro dos níveis de organização, o ecossistema é o nível
com maior quantidade, variabilidade e complexidade de atributos. Por isso, os
ecossistemas formam as unidades básicas de trabalho da Ecologia, eles abar-
cam fatores bióticos e abióticos que se influenciam e se inter-relacionam até
atingirem o equilíbrio. Ecossistemas são variáveis em termos de dimensão:
podemos levar em consideração as populações de organismos que sobrevivem
em microecossistemas, como por exemplo, um tronco de árvore em decompo-
sição, até florestas gigantescas com suas características específicas.

CITANDO
[...] qualquer unidade que inclua a totalidade dos organismos de uma
área determinada interagindo com o ambiente físico por forma a que uma
corrente de energia conduza a uma estrutura trófica, a uma diversidade
biótica e a ciclos materiais (isto é, troca de materiais entre partes vivas e
não vivas) claramente definidos dentro do sistema é um sistema ecológico
ou ecossistema (ODUM, 2001, p. 7).

Considerando as relações entre os organismos e o meio ambiente para ob-


tenção de energia, considera-se que elas estão impreterivelmente relaciona-
das aos organismos autótrofos e heterótrofos. Sendo que:
• Autótrofos: são os organismos que produzem o próprio alimento;
• Heterótrofos: são os organismos que não produzem o próprio alimento.
As relações entre organismos autótrofos e heterótrofos em conjunto com os
fatores abióticos, em um mesmo ecossistema, estabelecem os níveis tróficos
fazendo com que os organismos se arranjem hierarquicamente em diferentes
grupos dentro de uma cadeia alimentar, conforme apresenta o Diagrama 2.

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DIAGRAMA 2. NÍVEIS TRÓFICOS DA CADEIA ALIMENTAR

Cadeia alimentar

Produtores Consumidores Decompositores

Plantas Bactérias Fungos

Herbívoros Carnívoros Onívoros

Na cadeia alimentar, os produtores são os organismos autótrofos, sendo


que utilizam a energia luminosa e as substâncias simples para obtenção de ener-
gia ao longo de seu ciclo de vida. Os produtores são essenciais para a manu-
tenção da cadeia alimentar uma vez que dão suporte energético (alimentar) aos
consumidores e decompositores (organismos heterótrofos). Os consumidores
podem ser classificados em:
• Primários: herbívoros;
• Secundários: carnívoros que se alimentam dos herbívoros;
• Terciários: carnívoros que se alimentam de carnívoros.
Os onívoros transitam entre os níveis tróficos de acordo com a disponibilida-
de de alimento, podendo ter hábitos herbívoros e/ou carnívoros. Já a ação dos
decompositores disponibiliza substâncias simples (nutrientes) indispensáveis
para os produtores.
O fluxo de energia e matéria nos ecossistemas ocorre de modo distinto, en-
quanto o primeiro é unidirecional, o segundo é cíclico, pois a matéria existe no
ambiente em quantidade limitada.
Os diferentes níveis tróficos configuram o aspecto cíclico da reciclagem da ma-
téria. O aspecto cíclico é chamado de ciclo biogeoquímico. Os ciclos biogeoquí-
micos não ocorrem isoladamente, ao contrário, são interdependentes e ocorrem
de modo contínuo e simultâneo. Resumidamente, ciclos mais relevantes para
compreendermos a interdependência e as inter-relações ecossistêmicas são:

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• Ciclo da água: ocorre ciclicamente pela evaporação e evapotranspiração; a
acumulação de água em estado gasoso na atmosfera forma as nuvens que pre-
cipitam de forma líquida ou sólida (chuva, orvalho, neve ou granizo);
• Ciclo do carbono: o carbono é um elemento fundamental na composição
de moléculas como carboidratos, pro-
teínas e lipídeos, ele está presente no
metabolismo da maioria dos organis-
mos; ocorre ciclicamente no ambiente
quando o carbono presente na atmos-
fera é assimilado, podendo ser utiliza-
do como alimento pelos consumidores
e decompositores;
• Ciclo do oxigênio: a ciclagem do
oxigênio ocorre por meio de processos
como fotossíntese, respiração celular,
decomposição e combustão. O ciclo
passa por ambientes como oceanos,
solo e pelos organismos vivos;
• Ciclo do nitrogênio: a ciclagem do nitrogênio ocorre, principalmente, pela
ação bacteriana. As bactérias são responsáveis por processos como nitrificação,
desnitrificação e fixação que retiram e devolvem o nitrogênio dos organismos
para o ambiente.
Os fatores abióticos são importantes para o funcionamento dos ecossiste-
mas, pois regulam o equilíbrio dos processos em conjunto com os componentes
bióticos. Em geral, alterações nesses componentes resultam em desequilíbrio
ecossistêmico ou mudanças na diversidade e abundância de espécies. Os com-
ponentes abióticos são divididos em:
• Físicos: luz, temperatura, precipitação, vento, pressão, fogo, correntes ma-
rítimas etc.;
• Químicos: pH, nutrientes, água, salinidade, oxigênio dissolvido, matéria or-
gânica, entre outros;
• Edáficos: tipo de solo, tipo de vegetação, erodibilidade, declividade etc.
Conforme o Quadro 2, os ecossistemas podem ser descritos de acordo com
alguns de seus componentes.

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QUADRO 2. COMPONENTES QUE DESCREVEM OS ECOSSISTEMAS

Componente Descrição Exemplo

Substâncias que estão


Carbono, nitrogênio, dióxido de
Substâncias inorgânicas envolvidas na ciclagem dos
carbono e água.
materiais.

Compostos que conectam o Proteínas, carboidrato, lipídeos,


Compostos orgânicos
biótico e o abiótico. substâncias húmicas.

Fatores físicos que definem Temperatura, altitude e pressão


Regime climático
condições de clima. atmosférica.

Produtores Organismos autótrofos. Plantas.

Macroconsumidores ou
Organismos heterótrofos. Animais.
fagótrofos

Microconsumidores,
Organismos heterótrofos. Bactérias e fungos.
saprófitos ou osmótrofos

Fonte: ODUM, 2001, p. 11-12. (Adaptado).

A biosfera ou ecosfera é o sistema que inclui todos os organismos vivos da Ter-


ra, interagindo com o ambiente físico e formando os ecossistemas (Diagrama 3). Re-
sumidamente, a biosfera é o nível de maior complexidade ecológica no espectro dos
sistemas biológicos, pois é composta por todos os ecossistemas do nosso planeta.

DIAGRAMA 3. A BIOSFERA E OS COMPARTIMENTOS QUE A COMPÕEM

Fonte: Shutterstock. Acesso em: 26/02/2021.

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A biosfera é composta pelos seguintes compartimentos:
• Litosfera: compreende a camada sólida que cobre a superfície terrestre (crosta
e manto terrestre);
• Hidrosfera: compreende toda a água da Terra, esteja ela em superfície ou sub-
terrânea, em estado sólido, líquido ou gasoso;
• Atmosfera: compreende a faixa composta por diferentes moléculas em estado
gasoso que envolve o planeta Terra.
Em todos os compartimentos da biosfera existe vida, essa condição é possível
graças à existência de um sistema de entrada de matéria e energia. A entrada e
as trocas de matéria são relativamente estáveis, enquanto a energia flui constante-
mente pelo planeta Terra.
Como vimos, a biosfera se compõe de todos os ecossistemas do nosso planeta,
haja vista a dimensão dessa definição, alguns agrupamentos são utilizados com ob-
jetivo de facilitar a nossa compreensão sobre os ecossistemas presentes na biosfe-
ra, conforme mostra o Diagrama 4.

DIAGRAMA 4. DIVISÕES DA BIOSFERA

Biosfera
Conjunto de ecossistemas

Biociclos
Subdivide os Epinociclo Talassociclo Limnociclo
ecossistemas (biociclo terrestre) (biociclo marinho) (biociclo de água doce)
distintos

Florestas Zona nerítica


Biocoros
Savanas Zona batial
Subdivide os
Campos Zona abissal
biociclos distintos
Desertos (profundidades)

Florestas Savanas Campos Desertos


Biomas
Subdivide os
Floresta amazônica Caatinga Pampas Saara
biocoros distintos
Mata Atlântica Pantanal Pradarias Calaári

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É importante destacar que o Brasil possui seis biomas e um sistema costeiro
(BRASIL, 2018). São biomas brasileiros:
• Amazônia: possui a maior diversidade de flora e fauna do mundo e ocupa
aproximadamente 49% do território brasileiro, fazendo parte do biocoro floresta.
Possui extrema relevância na manutenção do regime pluviométrico do País;
• Mata Atlântica: ocupa aproximadamente 13% do território brasileiro e faz
parte do biocoro floresta. Apresenta elevada densidade populacional e menos da
metade da sua vegetação natural está preservada;
• Cerrado: ocupa aproximadamente 24% do território brasileiro e faz parte do
biocoro savana. Trata-se da savana com a maior diversidade do mundo;
• Caatinga: localizada no semiárido brasileiro, ocupa aproximadamente 10% do
território do País;
• Pampa: ocupa 2% do território brasileiro, é um bioma com grande variação da
amplitude térmica, chegando a atingir temperaturas negativas durante o inverno;
• Pantanal: ocupa aproximadamente 2% do território brasileiro, é uma das re-
giões com a maior biodiversidade do planeta.

Dinâmica de populações
Vale considerar o estudo da dinâmica das populações, pois já sabemos o
que são e onde as populações estão localizadas dentro da biosfera. É impor-
tante compreender como as populações se formam, funcionam, crescem e se
mantêm – ou não – em equilíbrio, pois a dinâmica populacional é determinante
no processo evolutivo das espécies pela seleção natural.
Por meio do estudo da dinâmica de populações é possível observar, enten-
der e prever variações na abundância das espécies que compõem um ecossis-
tema. Para isso, ressalta-se as interações e as reações dos seres com outros
seres e com o seu ambiente.
Uma população compartilha três propriedades:
• Distribuição: refere-se às fronteiras demográficas e abrangência geográ-
fica durante seu ciclo de vida;
• Dispersão: referente à distância ou ao espaçamento entre os indivíduos,
que pode ser agrupada (cardumes), homogênea (grupos de seres humanos) ou
aleatória (populações de árvores em uma floresta);

ANÁLISE AMBIENTAL 21

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• Densidade: é a razão entre o número de indiví-
duos que compõem uma população em um determi-
nado espaço em um determinado tempo.
A densidade populacional pode ser bruta ou eco-
lógica, sendo que o primeiro caso descreve o número de
indivíduos por unidade de espaço total e o segundo aborda a ques-
tão do habitat, ou seja, o espaço que pode ser habitado pela popu-
lação. A densidade populacional pode ser estimada por diferentes metodolo-
gias, isso permite que questões sobre as tendências populacionais possam ser
estudadas, por exemplo, o estudo sobre sobrevivência e ameaças de extinção,
e que um diagnóstico populacional possa ser feito. Os principais métodos de
quantificação da densidade populacional são:
• Densidade absoluta: faz contagens totais da população (censo, recensea-
mento);
• Densidade relativa: esse método é usado em situações em que não é
possível amostrar a população inteira. Nesse caso, são realizadas amostragens
populacionais, que podem ser feitas em áreas pré-definidas, por retirada de
organismos ou por marcação com liberação e recaptura.
A densidade populacional é controlada pela taxa de nascimento, crescimen-
to e mortalidade. Deve haver um equilíbrio entre as taxas para que não ocorra
um desequilíbrio populacional e escassez de recursos.
Alguns fatores são responsáveis por promoverem mudanças no tamanho
das populações, tais como:
• Fatores relativos à dispersão:
• Emigração, imigração e migração: são os tipos de movimentos popu-
lacionais que refletem a capacidade de colonizar novas áreas;
• Fatores relativos à densidade:
• Natalidade: capacidade de aumento da população, em números, em
um determinado período de tempo, por meio de nascimento, germina-
ção, eclosão etc.;
• Mortalidade: trata-se do número de indivíduos que morrem na popu-
lação em um determinado período de tempo. Pode-se considerar fato-
res como mortes por faixa etária e incidência de doenças para analisar o
futuro populacional.

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O registro de flutuações populacionais é mais constante na natureza,
uma vez que a disponibilidade de recursos é sempre finita. Entretanto, exis-
tem diversos modelos de previsão do crescimento populacional, dos quais
destacam-se:
• Exponencial: o crescimento populacional é constante no tempo, pois há
condições ideais e não há escassez de recursos; dificilmente observado na
natureza;
• Logístico: o crescimento populacional é exponencial até que fatores am-
bientais limitem o crescimento; descreve condições que ocorrem na natureza
com maior frequência.
Em resumo, o crescimento populacional pode ser entendido pela seguinte
equação:
∆N = (B + i) - (D + e) (1)
Onde:
∆N = crescimento populacional;
B = natalidade;
D = mortalidade;
i = imigração;
e = emigração.
A equação de crescimento populacional permite que, a partir das entradas
e saídas de indivíduos, seja possível estimar as dinâmicas populacionais. Ou
seja, se ∆N > 0, a população está aumentando; se ∆N = 0, a população está es-
tabilizada (possui tamanho constante); se ∆N < 0, a população está em declínio.
As curvas de sobrevivência são parâmetros importantes a serem estudados
quando abordamos o tema estrutura sexual, pois a partir desse conceito são
definidas as estratégias reprodutivas. São apresentadas por meio de
gráficos que mostram em qual etapa do ciclo de vida a taxa de mor-
talidade aumenta, ou seja, a quantidade de indivíduos que sobre-
vivem ao longo do tempo. As curvas de sobrevivência
podem ser (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006):
• Tipo I: a mortalidade é maior no final do ci-
clo de vida, fazendo que a probabilidade de so-
brevivência seja elevada durante a maior parte
desse ciclo;

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• Tipo II: a mortalidade é distribuída igualmente em todas as etapas do ciclo
de vida; assim, a probabilidade de morte permanece constante com a idade;
• Tipo III: a mortalidade é maior no início do ciclo de vida seguida de elevada
probabilidade de sobrevivência dos indivíduos que passam da fase de morta-
lidade alta.
A partir das curvas de sobrevivência é possível entender a estrutura sexual
e o período do ciclo de vida em que o indivíduo pode se produzir. As estraté-
gias reprodutivas entram nesse contexto como uma condição essencial para
a perpetuação da espécie em seus ambientes. O desempenho da espécie ao
explorar e colonizar um ambiente depende das estratégias escolhidas, bem
como dos fatores bióticos e abióticos que determinaram o sucesso ou insuces-
so da espécie.
Nesse contexto, destaca-se a estratégia de reprodução r/K, que é um
modelo de crescimento populacional exponencial em que há seleção de ca-
racterísticas biológicas que podem ter sucesso ou não, dependendo das par-
ticularidades do ambiente. Nesse modelo, o crescimento da população varia
ao longo do tempo de acordo com a estratégia escolhida. Nessa estratégia, os
indivíduos são classificados em dois grupos:
• Estrategistas r (r-estrategistas): colonizadores de habitats vazios. Geral-
mente, colonizam ambientes instáveis e imprevisíveis. O tempo decorrido do
nascimento até a fase reprodutiva costuma ser curto. A prole cresce sem cui-
dado dos pais e possui muitos indivíduos. Possuem expectativa de vida curta
e alta taxa de mortalidade. Além disso, possuem poucas estratégias de defesa,
mas apresentam ampla tolerância ao ambiente. Exemplos: dente-de-leão e a
maioria dos peixes;
• Estrategistas K (K-estrategistas): são competidores, pois exploram ha-
bitats colonizados e, por isso, disputam recursos. Geralmente, coloni-
zam ambientes estáveis e previsíveis. O tempo decorrido até a fase
adulta costuma ser longo. Grande parte da vida da prole, que é de
poucos indivíduos, ocorre sob o cuidado dos pais, o que
garante altas taxas de sobrevivência e longevidade.
Possuem muitas estratégias de defesa, pois apre-
sentam baixa tolerância ao ambiente. Exemplos: se-
res humanos e felinos.

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Ecologia das populações
A Ecologia das populações estuda como os fatores bióticos e abióticos in-
fluenciam na densidade, na dispersão e no tamanho de uma população. Pode-
-se considerar a existência de fatores que limitam (controlam) o crescimento
populacional de acordo com duas classificações:
• Dependentes, direta ou inversamente, da densidade (controle popu-
lacional intrínseco): a população se autorregula, ou seja, a intensidade do
controle aumenta com o aumento populacional;
• Independentes da densidade (controle populacional extrínseco): a in-
tensidade do controle populacional independe do tamanho da população.
O Gráfico 1 mostra como esses fatores se comportam ao limitar o cresci-
mento de uma população.

GRÁFICO 1. COMPORTAMENTO DOS FATORES QUE LIMITAM


O CRESCIMENTO POPULACIONAL

Diretamente dependente
Intensidade do fator

Independente

Inversamente dependente

Densidade populacional
Fonte: ODUM, 2001, p. 312. (Adaptado).

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Para que se entenda como os fatores bióticos e abióticos influenciam na
população, é importante compreender os tipos de relações ecológicas entre os
seres vivos. Destaca-se que essas relações refletem o grau de dependência en-
tre os indivíduos de uma população, podendo ocorrer entre indivíduos da mes-
ma espécie (intraespecíficas ou homotípicas) ou entre indivíduos de espécies
diferentes (interespecíficas ou heterotípicas). Quando as relações resultam
em benefícios mútuos ou de um dos indivíduos, desde que não causem prejuí-
zo ao outro, são chamadas de interações positivas ou harmônicas; quando
há prejuízo a algum dos indivíduos da relação, são chamadas de negativas ou
desarmônicas. Desse modo, considera-se:
• Relações intraespecíficas harmônicas:
• Sociedade: ocorre quando indivíduos de uma mesma espécie se as-
sociam com objetivos em comum. A sobrevivência do indivíduo não de-
pende da sobrevivência da sociedade ou da proximidade a ela. Exemplo:
seres humanos, cupins e formigas;
• Colônias: ocorre quando indivíduos de uma mesma espécie se asso-
ciam com objetivos em comum. A sobrevivência do indivíduo depende da
sobrevivência da sociedade ou de estar próximo a ela. Além disso, pode
haver ou não especialização de funções entre os indivíduos. Exemplo:
corais e caravelas;
• Relações intraespecíficas desarmônicas:
• Canibalismo: ocorre quando o indivíduo se alimenta da sua própria es-
pécie. Isso pode ocorrer por diversos motivos, por exemplo, por escassez
de alimento, por questões culturais/religiosas ou por questões reprodu-
tivas. Exemplos: ratos, algumas etnias humanas pré-sociedade moderna,
cachorros e viúva-negra;
• Relações interespecíficas harmônicas:
• Mutualismo: ambas as espécies envolvidas nessa relação são bene-
ficiadas e dependem dessa relação para sobreviver. Exemplo: liquens
(fungos e algas);
• Protocooperação ou mutualismo facultativo: ambas as espécies en-
volvidas nessa relação são beneficiadas, mas elas não dependem uma
da outra para sobreviver. Exemplos: acácia e formigas, mamíferos e
aves, anêmona-do-mar e caranguejo-eremita;

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• Inquilinismo: apenas um dos indivíduos da relação se beneficia obtendo
abrigo, mas não há prejuízo ao outro. Exemplos: orquídeas que “moram”
em árvores e os peixes (fierásfer) que vivem nos pepinos-do-mar;
• Comensalismo: apenas um dos indivíduos da relação se beneficia obten-
do alimento a partir da outra espécie, também não há prejuízo ao outro.
Exemplos: o homem e o urubu, rêmoras e tubarões, carnívoros e abutres;
• Relações interespecíficas desarmônicas:
• Amensalismo ou antibiose: ocorre quando indivíduos de uma espécie
liberam substâncias tóxicas que impedem ou limitam a reprodução ou so-
brevivência de outras espécies. Exemplos: fungos que produzem antibióti-
cos e inibem o crescimento bacteriano;
• Sinfilia ou esclavagismo: ocorre quando uma espécie se aproveita do
trabalho, atividade ou alimento do outro. Exemplos: seres humanos e abe-
lhas, formigas e pulgões, fragatas e gaivotas;
• Predatismo ou herbivorismo: ocorre quando o indivíduo de uma espé-
cie caça ou captura outra espécie para se alimentar. Exemplos: leões e ze-
bras, plantas carnívoras e insetos;
• Parasitismo: ocorre quando um indivíduo de uma espécie vive
no corpo de outra espécie (hospedeira), causando-lhe
prejuízos ou até a morte. Muitas doenças são re-
sultado desse tipo de relação. Exemplos: piolhos,
carrapatos, cravos, pulgas que se hospedam no
homem e em outros animais.

Biomarcadores
As mudanças climáticas, a industrialização e o sistema econômico global estão
degradando os serviços ecossistêmicos dos quais dependemos para sustentar a
vida, inclusive aqueles que regulam o ciclo de toxinas e patógenos (OESTREICHER
et al., 2018). Os sistemas terrestres têm sido tão transformados que alguns autores
consideram que entramos em uma nova época geológica chamada Antropoceno
(STEFFEN; CRUTZEN; MCNEILL, 2007). Processos contínuos, como desmatamento,
eutrofização, perda de biodiversidade, desertificação e acidificação dos oceanos,
definem nossas relações complexas e negativas com o meio ambiente.

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Simultaneamente a essas mudanças ecológicas em larga escala, há
uma reemergência de doenças e enfermidades, pois está cada vez
mais difícil controlar a transmissão de agentes patogênicos e a expo-
sição aos contaminantes ambientais (OESTREICHER et al., 2018, p. 24).
Nesse contexto, ferramentas que possam ser utilizadas no diagnóstico ou
para identificar riscos de ocorrência, para estratificar doentes e identificar a
gravidade ou progressão, prever um prognóstico ou monitorar um determi-
nado tratamento de um determinado problema (como danos ambientais ou
doenças), são de grande importância.
Os biomarcadores ou marcadores Ecológicos são desenvolvidos com esse
objetivo. Eles podem ser definidos como uma mudança na resposta biológica,
desde níveis moleculares, passando pelo nível celular e fisiológico até mudança
comportamental, que pode estar relacionada à exposição a um determinado
ambiente contaminado (PEAKALL, 1994).

Avaliação de risco ambiental


Diversas são as condições, substâncias e organismos que podem nos colo-
car em situação de risco. Na natureza não é diferente, principalmente quando
consideramos a ação do homem sobre o meio ambiente. Por meio da avalia-
ção do risco ambiental, é possível ter embasamento para a tomada de decisão
diante de condições de incerteza.
A avaliação de risco se antecipa ao dano propriamente dito ao identificar
seu potencial e impede que ele aconteça estimando a necessidade de medidas
de mitigação. Os biomarcadores entram nesse contexto como ferramentas de
mensuração que refletem a interação entre um sistema biológico e um risco
potencial (DAL PONT, 2014). Ou seja, um biomarcador é tudo aquilo que pode
ser usado como um indicador de dano real ou potencial a
algum organismo. Podem ser classificados como:
• Biomarcadores de exposição: fazem a quanti-
ficação de uma substância de origem externa, seus
possíveis metabolitos ou o produto da interação entre
um composto químico estranho e uma molécula ou célu-
la-alvo de um organismo;

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• Biomarcadores de efeito: medição da diferenciação de um tecido ou flui-
do do organismo que remeta a alguma condição de doença ou risco à saúde;
• Biomarcadores de suscetibilidade: mostra o nível de resposta de um
organismo à exposição e os fatores que o leva a diferenças de suscetibilidade
ao agente de risco.
Os estudos do efeito de agentes de risco ambiental devem focar no espec-
tro de complexidade biológica (Diagrama 5), isso porque alterações decor-
rentes da exposição a agentes de risco ambiental são mais frequentemente
observadas em nível celular do que nos níveis de organização biológica mais
elevados (HEATH, 1995). Os biomarcadores têm sido considerados sob essa
mesma perspectiva, pois seus efeitos iniciais costumam ser observados a par-
tir das funções celulares ou em níveis enzimáticos. Assim, uma vez que podem
ser identificados biomarcadores de nível intracelular a níveis populacionais, a
sua utilização pode esclarecer a relação causa-efeito e dose-efeito na avaliação
de risco à saúde para fins de diagnóstico clínico e/ou monitoramento bioló-
gico, quando realizado a partir de protocolos de rotina sistemática e periódica
(AMORIM, 2003).

DIAGRAMA 5. ESPECTRO DE COMPLEXIDADE BIOLÓGICA NA AVALIAÇÃO DO EFEITO DE


QUALQUER FATOR DE RISCO AMBIENTAL

Nível populacional
(avaliações comportamentais
e ecológicas)

Crescimento e reprodução
Homeostase

Funções de órgãos

Lesões histológicas

Células e metabolismo

Nível subindividual (avaliações


gênicas, enzimáticas e de
permeabilidade de
membranas)
Fonte: DAL PONT, 2014. (Adaptado).

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No diagnóstico clínico, os biomarcadores são utilizados para evidenciar
quadros de intoxicação aguda ou crônica, para validar um tratamento e/ou
para avaliar predições em casos individuais. No monitoramento, são utiliza-
dos para quantificar o grau de exposição individual, para quantificar o grau
de exposição de uma população e/ou para avaliar o risco da exposição.
No espectro de complexidade biológica, o objetivo de investigação do ris-
co pode ocorrer dos baixos níveis de organização biológica (efeitos molecula-
res, histológicos ou fisiológicos), ao nível de indivíduo (efeitos histopatológi-
cos, bioenergéticos ou reprodutivos) ou aos níveis mais elevados (populações
e comunidades).
Quando se considera os baixos níveis de complexidade, re-
mete-se a investigações de suborganismos, em que os efeitos
da exposição ao risco podem ser visualizados
em minutos ou horas. Entretanto, ao se con-
siderar os níveis elevados de complexidade,
o tempo para resposta à exposição é maior,
podendo haver observação do risco somen-
te anos após a exposição, o que aumenta a
sua relevância ecológica.

Risco socioambiental
Os problemas resultantes do desenvolvimento das sociedades modernas
caracterizam as sociedades de risco, que têm caráter globalizante. Esses pro-
blemas são resultados da intensa aplicação da tecnologia e do consumismo
desacompanhados da conscientização ambiental. A modernidade vem li-
berando riscos irreversíveis em uma medida, até então, desconhecida, desse
modo, a produção de riqueza é substituída pela produção riscos (BORINELLI;
CAPELARI; GONÇALVES, 2015). Segundo os autores, a consciência do risco e o
compromisso com seu enfrentamento dependem do nível material, da infor-
mação e da formação de pessoas que tenham capacidade de perceber a amea-
ça resultante das sociedades de risco.
Segundo Beck (1992), há cinco teses que podem ter aplicação global resul-
tantes da presença de riscos socioambientais:

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• Quando em nível populacional, os riscos são percebidos em longo prazo
e seus danos são sistemáticos e irreversíveis, muitas vezes são invisíveis e por
não se basearem somente em interpretações científicas, mas também em opi-
nião pública e política, estão abertos aos processos sociais de definição, o que
os torna passíveis de interpretações errôneas. Com isso, pode haver diminuição
da atenção ao nível do risco ou simplesmente conformismo ao conviver com ele;
• Com o incremento da modernidade e da tecnologia acompanhado da in-
tensificação das diferenças de classe sociais, há distribuição e incremento das
situações de risco socioambiental. Em um primeiro momento, os riscos afetam
diretamente os mais pobres, mas, com o passar do tempo, e com o incremento
do risco, todos são afetados;
• A existência do risco ambiental não coloca em xeque a economia capitalis-
ta, ao contrário, ele se torna um negócio lucrativo;
• Os riscos assumem postura tributária, por serem de escala populacional,
e entraram em pautas políticas;
• A consciência dos danos potenciais resultantes do risco ambiental o torna
um conteúdo político explosivo que pode conduzir a reorganização do poder e
das competências.
A partir disso, pode-se definir os riscos no contexto socioambiental. Eles po-
dem ter origem de fatores químicos, físicos ou biológicos ou do conjunto des-
ses fatores. Podem ainda ser elencados os fatores psicológicos e acidentais,
mas esses, em geral, são resultados das pressões socioambientais causadas
pelos fatores químicos, físicos ou biológicos.
Os riscos são caracterizados por sua atuação antrópica nas diversas condições
bióticas ou abióticas do ecossistema (em estado sólido, líquido ou gasoso), que por
diferentes desencadeamentos podem resultar em diversos graus de danos.
Para que um evento de risco ocorra, um conjunto de condições precisa
se estabelecer: o risco precisa existir e alguém ou algo precisa se expor a
condições de sofrer algum prejuízo causado por esse risco. O risco combina
a chance ou a frequência da ocorrência contaminante e, também, a magni-
tude das consequências adversas aos receptores ambientais, tanto naturais
quanto antrópicos, decorrentes da exposição a um perigo. Por fim, alguma
via precisa fazer a conexão entre o contaminante e o seu receptor, conforme
mostra o Diagrama 6.

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DIAGRAMA 6. TRIPÉ DAS CONDIÇÕES QUE CARACTERIZAM O RISCO AMBIENTAL

Via de
exposição

Risco

Contaminante Receptor

Fonte: VIANA, 2010, p. 12. (Adaptado).

Se essas condições não ocorrerem, o risco não deve se concretizar (VIANA,


2010). Após entender as condições para que o risco socioambiental ocorra,
é possível observar que a atividade antrópica pode conduzir a riscos em di-
versas situações. É importante destacar algumas dessas situações, que, ao
serem aprendidas, não devem ser entendidas como conceitos isolados, mas
como condições conectadas e desencadeadas ciclicamente:
• O abandono de construções gera o desgaste natural dos materiais que
causam a redução da estabilidade das estruturas, descargas elétricas, incên-
dios, explosões, desmoronamentos, exposição a substâncias tóxicas etc.;
• Desmatamento de áreas nativas que resultam na extinção de espécies,
perda de patrimônio genético (vacinas, remédios e avanços tecnológicos não
ocorrem), desestruturação da organização ecológica pela destruição de habi-
tat, predação excessiva, liberação de poluentes pela atividade subsequente,
entrada de espécies exóticas ligadas à perda de espécies nativas, aumento da
incidência de pragas e doenças etc.;

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• Mudanças de uso do solo podem causar degradação, alteração em suas
características físico-químicas, manejo impróprio, superexploração por cul-
turas e pastagens ou ocupação urbana, redução da proteção e da estabili-
dade da estrutura do solo, erosão e movimentos de massa, desabamento de
estruturas, perda da capacidade hídrica e da fertilidade, lixiviação, redução
da produtividade de áreas agrícolas destinadas à produção de alimentos etc.;
• Populações de baixa renda sofrem com pouco saneamento, maior ex-
posição a contaminantes e vetores de doenças, moradias informais em áreas
de risco, condições de trabalho inadequadas, trabalho informal, baixa ins-
trução e baixa remuneração, poucas condições de higiene, falta de acesso
à água potável e energia elétrica, alimentação restrita e de baixa qualidade
nutricional etc.
Como visto, as situações de risco são locais, todavia, desencadeiam con-
dições de risco global, como, por exemplo, o aquecimento global, as mudan-
ças climáticas, as alterações de regimes hídricos, o derretimento em áreas
polares, a desertificação, o desmatamento, a contaminação de lagos, rios e
oceanos, bem como a perda de biodiversidade.
Alguns hábitos modernos resultam no consumo tecnológico injustificado,
na emissão de grande quantidade de poluentes na atmosfera e no solo, no
uso inconsciente de plásticos e materiais não recicláveis, na baixa taxa de
reciclagem de materiais, entre outros.
O conhecimento da existência de potenciais danos justifica a necessidade
da avaliação do risco socioambiental. O uso de ferramentas, como de biomar-
cadores que auxiliam a estimar e prever condições de risco, é fundamental,
assim como a presença de profissionais que dominem o uso e a avaliação
dessas condições.

Monitoramento de populações expostas a agentes tóxicos


Detectar o risco antes da exposição diminui significativamente seus efeitos
adversos e a quantidade de indivíduos afetados, pois possibilita a adoção de me-
didas de prevenção e controle. Essa condição define o monitoramento. A ativida-
de de monitoramento se baseia em uma rotina de avaliação e interpretação de
parâmetros biológicos e/ou ambientais, conforme apresentado no Quadro 3.

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QUADRO 3. AÇÕES DE MONITORAMENTO PARA DEFINIÇÃO DOS NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO

Monitoramento ambiental Monitoramento biológico

Avaliação de parâmetros ambientais. Avaliação de parâmetros biológicos.

Coleta de amostras. Uso de indicadores biológicos ou biomarcadores.

Monitoramento por bioacumulação (nível


individual);
Monitoramento químico.
Monitoramento biológico e ecossistêmico (nível
populacional e de comunidade).

Exemplos: avaliação da presença de Exemplo: avaliação da presença de substâncias no


substâncias coletadas no ar, solo, água etc. sangue, urina, ar exalado etc.

Fonte: AMORIM, 2003, p. 160. (Adaptado).

Antes de fazer o monitoramento em si, é necessário definir os níveis per-


missíveis de exposição ao risco, caracterizar as vias de exposição e avaliar os
níveis de risco. É preciso conhecer a toxicocinética da substância – ou de seu
matabolito – a ser monitorada. Para isso, deve-se conhecer as vias de absor-
ção, distribuição, biotransformação, eliminação e acumulação da substância no
organismo do indivíduo a quem se quer prevenir o dano. Além disso, é preciso
conhecer a toxicodinâmica, ou seja, quais são os mecanismos de ação e seus
efeitos negativos diretos e indiretos.

Ecologia humana e das doenças


Os componentes bióticos e abióticos que constituem o ecossistema natural,
originais ou manipulados, integram a Ecologia humana. Devido à sua ampla
capacidade de adaptação, os seres humanos ocuparam os mais diversos ecos-
sistemas, alguns mais e outros menos favoráveis à sua sobrevivência.
A ecologia tradicional, ao se preocupar tanto com os aspectos físicos
e bioquímicos da natureza, solidificando uma ecologia dos bichos e
outra ecologia das plantas, deixou de fora um grupo-chave para o
entendimento das dinâmicas dos ecossistemas: a espécie humana,
objeto-sujeito da ecologia humana (MARQUES, 2014, p. 14).
Tomando como base as relações entre a sociedade e o ecossistema, a Ecolo-
gia humana analisa os resultados das atividades dos seres humanos por meio
do estudo das interações entre o ecossistema e o sistema social humano.

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Seres humanos ocupam um nicho muito grande que foi historicamente
construído, transformado e modificado pelo estabelecimento de relações ét-
nico-culturais. Desse contexto deriva a enorme diversidade de habitats que
os seres humanos podem viver. Apesar disso, existem casos em que o meio
ambiente pode ser desfavorável à manutenção da saúde humana. Condições
mínimas para a sobrevivência e reprodução dos seres humanos precisam ser
mantidas, ou seja, para que haja o funcionamento regular das funções orgâni-
cas, físicas ou mentais que permitem que a espécie se perpetue. Desse modo,
deve-se considerar o conhecimento da Ecologia das doenças como uma ques-
tão importantíssima na manutenção de um ambiente saudável que possibilite
a permanência dos seres humanos em um determinado habitat.

EXPLICANDO
O consumo de animais selvagens é um exemplo de como a atividade hu-
mana pode resultar em doenças com potencial pandêmico. Antes da pan-
demia da COVID-19, pesquisadores já alertavam para potenciais infecções
por coronavírus decorrentes do consumo da carne de morcegos. Essas
pesquisas são resultado de estudos voltados para a Ecologia de doenças.

Como mencionado, vivemos em um mundo em transformação. Os seres hu-


manos estão constantemente adentrando em áreas ecologicamente estáveis,
que possuem espécies – conhecidas ou não – com nichos e habitat isolados.
Essas espécies possuem suas próprias doenças e, na grande maioria das vezes,
não se sabe se elas podem ser um risco à saúde dos seres humanos. Perturbar
um ecossistema natural pode causar novas doenças, bem como modificar ou
intensificar as que já são conhecidas. A maioria das doenças que surgiram nos
últimos cinquenta anos são resultados da atividade antrópica em áreas nativas
e de mudanças demográficas.
As saúdes humana, animal e ecológica estão interligadas e preci-
sam ser estudadas e gerenciadas de modo global. O estudo
da Ecologia das doenças tenta descobrir, com base nas
mudanças de paisagens naturais para áreas antrópicas,
onde as próximas doenças podem se espalhar, atingin-
do os seres humanos, e como identificá-las quando sur-
girem, antes que se disseminem (ROBBINS, 2020).

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Sintetizando
Nessa unidade, estudamos a Ecologia, suas definições, terminologias e a con-
textualização do ramo para profissional de Biomedicina. Aprendemos que essa
ciência evoluiu com o passar dos anos, até chegar ao conceito moderno que a
contextualiza como o estudo científico da distribuição e abundância dos organis-
mos e das interações que determinam a distribuição e abundância. Estudamos o
conceito de ecossistema e das relações e interconexões entre os indivíduos que
o compõem, bem como da dependência da disponibilidade de recursos (fato-
res bióticos e abióticos) para o equilíbrio ecossistêmico. Entendemos a biosfera
como um grande ecossistema que possui diversos compartimentos que exer-
cem funções fundamentais para a manutenção de regiões particulares em mor-
fologia e diversidade. A partir desses conceitos, imergimos um pouco mais em
ecossistemas e estudamos a dinâmica das populações, como elas se formam,
funcionam, crescem e se mantêm, os fatores que controlam as dinâmicas popu-
lacionais e as relações bióticas entre os indivíduos em um ecossistema.
Além disso, aprendemos sobre os biomarcadores e os riscos ambientais em
uma abordagem ecológica. Entendemos a importância da utilização dessas fer-
ramentas na avaliação de riscos ambientais, os tipos existentes e os mecanismos
envolvidos com o uso dos marcadores ambientais no organismo dos indivíduos.
Sobre os riscos, entendemos seu conceito, o que define sua ocorrência e sua re-
lação com a questão socioambiental humana quando controlada pela atividade
antrópica. Por fim, discutimos a importância do monitoramento no conceito de
meio ambiente e pelo uso de biomarcadores, bem como estudamos a Ecologia
do homem e das doenças como importantes meios para previsão e prevenção
de novas patologias e pandemias.

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ANÁLISE AMBIENTAL 39

SER_FARMA_ANAMBI_UNID1.indd 39 05/05/2021 13:48:24


UNIDADE

2 ECOTOXICOLOGIA
AMBIENTAL E
BIOINDICADORES
DE QUALIDADE
AMBIENTAL

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Objetivos da unidade
Contextualizar a importância e fornecer conceitos sobre ecotoxicologia;

Mostrar processos, classificações, tipos de poluentes ambientais e agentes


poluidores, bem como o contraste com a saúde humana e qualidade ambiental;

Descrever indicadores ambientais, sua importância e seus grupos;

Abordar os estressores ambientais e sua relação com a população e a


comunidade de um ecossistema;

Explicar o programa de gerenciamento de resíduos tóxicos laboratoriais.

Tópicos de estudo
Ecotoxicologia ambiental
Risco ecotoxicológico e saúde
humana
Poluentes ambientais
Agentes poluidores
Poluição da água e do solo

Bioindicadores de qualidade
ambiental
Estressores ambientais e
hidrológicos
Gerenciamento de resíduos
tóxicos de laboratórios

ANÁLISE AMBIENTAL 41

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Ecotoxicologia ambiental
Solventes orgânicos, íons inorgânicos, substâncias radiativas, herbicidas,
fungicidas, inseticidas e outros produtos entram de forma contínua nos ecos-
sistemas terrestres e aquáticos, sendo detectados num nível traço em águas
residuárias, superficiais e subterrâneas, solos agrícolas tratados com logo de
esgoto, bem como na água potável. Com o despertar da consciência ambien-
tal, a comunidade científica e as organizações regulatórias precisam analisar
e avaliar os potenciais riscos para a saúde humana e para o meio ambiente,
tomando as medidas adequadas caso necessário.
Nesse sentido, o estudo da ecotoxicologia é fundamental para a análise e a
compreensão dos efeitos desses compostos químicos estranhos a um organismo
ou sistema biológico nos diversos níveis de organização do espectro dos seres
vivos, assim como para determinação dos riscos, níveis de ação, medidas preven-
tivas e monitoramento dos compostos químicos. A partir de estudos ecotoxicoló-
gicos, é possível definir o grau de toxicidade das substâncias para as populações e
comunidades de seres vivos que compõem a biosfera.
Segundo Oga, Camargo e Batistuzzo, no livro Fundamentos de toxicologia, edita-
do em 2014, a ecotoxicologia compreende a caracterização, compreensão e prog-
nóstico dos efeitos deletérios de substâncias químicas de origem antropogênica
no meio ambiente, além da avaliação das medidas necessárias para prevenir, con-
ter ou tratar os danos causados. Em uma época em que as exigências relacionadas
às questões ambientais são cada vez maiores, o biomédico se destaca como um
profissional capaz de atuar de forma ativa, com conhecimentos sólidos e capacida-
de em fazer análises interdisciplinares.
DIAGRAMA 1. INTERDISCIPLINARIDADE DA ECOTOXICOLOGIA

Geologia
Bioquímica
Estatística Toxicologia
Oceanografia
Limnologia Ecotoxicologia
Química
Ecologia
Farmacologia
Biologia
Epidemiologia

Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 136. (Adaptado).

ANÁLISE AMBIENTAL 42

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Risco ecotoxicológico e saúde humana
Uma vez que a saúde e a segurança humana são prioridades na definição
do risco em uma área contaminada e que a integridade ecossistêmica está, de
modo direto e indireto, relacionada à saúde humana, a identificação e quan-
tificação dos riscos à população é um dos objetivos da determinação do risco
ecotoxicológico. O risco ecotoxicológico é usado na avaliação do perigo que
um contaminante ou resíduo causa ao meio ambiente e, por consequência, à
manutenção da saúde humana.
A partir da demarcação do risco, são tomadas decisões de gerenciamento am-
biental para quantificar metas de remediação ao dano, por meio da elaboração
de ações corretivas de maior ou menor emergência. Logo, os parâmetros ecoto-
xicológicos vão além da caracterização físico-química de sistemas fechados, pois
complementam a visão ecossistêmica que relaciona fatores bióticos e abióticos,
objetivando avaliar o potencial de impacto às vidas terrestre e aquática.
As metodologias existentes de avaliação de risco à saúde humana em áreas con-
taminadas, como, por exemplo, o Manual de gerenciamento de áreas contaminadas
da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), de 2001, em geral, se-
guem a desenvolvida pela USEPA (United States Environmental Protection Agency),
agência de proteção ambiental dos Estados Unidos. Existe também a metodologia
de avaliação do risco ecológico, o que é de extrema importância quando falamos de
ecotoxicologia. De acordo com essas duas metodologias de avaliação, alguns parâ-
metros devem ser realizados, a fim de quantificar o risco.

QUADRO 1. COMPARAÇÃO ENTRE TIPOS E ETAPAS DA AVALIAÇÃO DE RISCO

Saúde humana Ecológica

1. Identificação do perigo 1. Formulação do problema

Quantidade e concentrações dos agentes Identificação e caracterização da natureza dos


nos compartimentos ambientais em um problemas ecológicos observados ou que podem
determinado local ou área de estudo. Iden- ocorrer. Elaboração do plano de análise de dados
tificação dos contaminantes de interesse. e caracterização do risco.

2. Avaliação da toxicidade

Levantamento do comportamento no ambiente de informações físico-químicas


e toxicológicas de todas as substâncias.

ANÁLISE AMBIENTAL 43

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3. Avaliação da exposição

Identificação da população exposta e avalia-


ção da dose recebida por todos os grupos ou Analisar a exposição, real ou potencial, por
subgrupos sensíveis, a partir do estudo do meio do exame das fontes e das características
transporte ambiental dos contaminantes e/ou dos estressores e dos receptores estudados.
de análises ambientais e bioensaios.

4. Avaliação da dose-resposta 4. Avaliação dos efeitos

Estudo da relação entre as doses recebidas Avaliar os efeitos dos estressores nos recepto-
pelos grupos expostos e a ocorrência de res estudados por meio da avaliação da toxici-
efeitos adversos à saúde. dade aquática, terrestre e/ou outros ensaios.

5. Caracterização do risco

Integração das etapas anteriores para a ex- Integra as etapas anteriores e fornece a es-
pressão de riscos à saúde em termos qualitati- timativa dos riscos ecológicos em termos da
vos ou quantitativos. Análise de incertezas. significância dos efeitos observados, relacio-
namento causal e apreciação das incertezas.

Resultados

Risco de câncer na população, perigo de Impacto no habitat ou ecossistema, como


efeitos não carcinogênicos. abundância da população, diversidade de
espécies e impactos globais.

Aplicações típicas

Avaliação e remediação de áreas contamina- Ainda em fase de estudos. Alguns casos de


das. Controle de poluição do solo, água e ar. aplicações em estudos de impacto ambiental,
Gestão de substâncias químicas em geral: registro de agrotóxicos e avaliações de áreas
alimentos, agrotóxicos, entre outros. contaminadas.

Fonte: SISINNO; OLIVEIRA FILHO, 2013, p. 194. (Adaptado).

O risco ecotoxicológico pode ser analisado a partir de uma estimativa


da probabilidade de exposição e de efeito adverso, ou ainda por meio de
estimativas quantitativas ou qualitativas dos efeitos adversos, feitas por
amostragens que determinam o risco de forma numérica ou por nivelação
em categorias. A avaliação técnica e conceitual do risco ecotoxicológico em
áreas contaminadas por substâncias perigosas é um procedimento defen-
sável e sustentável focado na determinação da probabilidade de ocorrên-
cia de danos à saúde humana. Segundo a CETESB, no manual de 2001, a
necessidade de realização da avaliação técnica e conceitual do risco está
associada a alguns aspectos:
• Proteção à saúde humana;
• Determinação do nível de remediação ambiental necessário;
• Estabelecimento de metas de remediação;
• Avaliação da viabilidade técnica da remediação;
• Determinação dos benefícios associados ao processo de remediação;

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• Priorização de áreas contaminadas;
• Priorização de alocação de recursos;
• Gerenciamento ambiental integrado.
O risco ecotoxicológico e à saúde humana deve ser determinado com
bases científicas sólidas. A análise, a avaliação e o gerenciamento do risco
dependem de profissionais habilitados. De acordo com o artigo “Avaliação
de risco ecotoxicológico”, disponível no site Tecnohidro, o profissional é
responsável por:
• Delinear e conceituar o risco ecotoxicológico;
• Avaliar e selecionar métodos e modelos;
• Determinar a relevância dos dados disponíveis para a avaliação de risco;
• Desenvolver suposições baseadas na lógica e em princípios científicos
para preencher as lacunas de informação, de forma a evitar parametrização
subjetiva;
• Interpretar os efeitos previstos ou observados na integridade ecológica.
Em geral, a determinação da origem, das medidas de prevenção, de con-
tenção e de tratamento dos danos resultantes dos riscos ecotoxicológicos e
à saúde humana é necessária por se originar da própria atividade antropo-
gênica na busca e manipulação, justificada ou não, dos recursos ambientais.
O Diagrama 2 ajuda a entender melhor os efeitos antropogênicos no meio
ambiente e a necessidade de desenvolvimento de ferramentas de caracteri-
zação, compreensão e prognóstico dos danos causados ao meio ambiente.

DIAGRAMA 2. EFEITOS ANTROPOGÊNICOS NO MEIO AMBIENTE E AS CIÊNCIAS QUE


ELABORAM FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO DO RISCO

Urbanização
Industrialização

Ecotecnologia
Modelos ecotoxicológicos
Engenharia ecológica
Legislação ambiental

Poluição no
Poluição global
ecossistema local

Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 136. (Adaptado).

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Poluentes ambientais
Como visto, os ecossistemas podem ser influenciados pelo ser humano por
meio da entrada de substâncias indesejáveis. A principal questão é que, se a
concentração destas substâncias não está acima da capacidade do ambiente de
degradá-las ou incorporá-las, seu efeito não é constatado ou está limitado a um
tempo e espaço, o que quer dizer que a contaminação e seu agente podem ser
evitados e eliminados. Os problemas estão relacionados com a persistência do
contaminante no tempo e no espaço, pois, dependendo do tipo de efeito, os da-
nos não são aparentes de maneira imediata. A contaminação ambiental pode ser
resultante de poluentes de origem natural ou antrópica:
• Contaminação natural: resultante de atividades naturais (contaminação de
alimentos por micotoxinas ou atmosférica por erupções vulcânicas);
• Contaminação antrópica: resultante da atividade humana (eliminação in-
correta pelas indústrias de águas residuárias com metais).
A contaminação pode ser classificada de acordo com o agente contaminante.
Há três tipos principais:
• Contaminação física: ocorre quando há formas de energia excedendo os
níveis naturais (níveis prejudiciais de calor ou frio, som ou radiação);
• Contaminação química: ocorre quando há acúmulo de substâncias quí-
micas em níveis que excedem os que ocorrem por natureza, podendo ser na-
tural ou sintética (aumento da concentração de metano na atmosfera resul-
tante de erupções vulcânicas, eutrofização pelo despejo de esgoto residencial
ou industrial);
• Contaminação biológica: ocorrência de microrganismos em substratos aos
quais não pertencem ou pertencem, mas estão em ocorrência acima da natural
(alimentos contaminados com fezes que transmitem Salmonella sp.).
Ademais, o processo que resulta em poluição e toxicidade nem sempre é ge-
rado no momento da exposição ou resulta de somente um evento de contato. É
importante lembrar que existem dois tipos de efeitos resultantes da exposição
que variam em função do tempo e da concentração do contaminante:
• Efeito agudo: causado por rápida exposição a altas concentrações do conta-
minante;
• Efeito crônico: causado pela exposição prolongada a baixas concentrações.

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O Diagrama 3 evidencia a relação entre contaminação e poluição. Ocorre polui-
ção sempre que um contaminante (substância com potencial de dano) é liberado no
ambiente, seja ele terrestre, aquático ou atmosférico. O contaminante sempre cau-
sa poluição, mesmo que não resulte em efeito aos fatores bióticos/organismos. Já a
ocorrência de contaminação pode ser de efeito ou não, o que não descaracteriza
o ambiente como poluído. A contaminação depende do organismo, ou seja, da con-
centração e da exposição ao contaminante ocorrendo em níveis necessários para
causar efeito agudo ou crônico, e isso varia de organismo para organismo.

DIAGRAMA 3. RELAÇÃO ENTRE CONTAMINAÇÃO E POLUIÇÃO

CONTAMINAÇÃO Não efeito Poluição

Não

Exposição Concentração

Efeitos
BIOTA (agudos ou
crônicos)

Sim

POLUIÇÃO

Fonte: SISINNO; OLIVEIRA FILHO, 2013, p. 20. (Adaptado).

Na atualidade, estudos têm buscado entender as estratégias adaptativas dos


seres vivos que promovem resistência frente a condições ambientais adversas. A
capacidade intrínseca de percepção, sinalização e resposta às variáveis ambientais
é uma característica comum a todos os seres vivos, sendo fundamental na ma-
nutenção de seus processos vitais durante condições de estresse ambiental, de
acordo com Oga, Camargo e Batistuzzo. Tais condições são importantes por per-
mitirem a manutenção e a sobrevivência das espécies, contudo o nível de poluição
ambiental não permite tal condição em alguns casos.
É fato que a exposição que resulta em efeito, seja agudo ou crônico, gera res-
postas no espectro dos níveis de organização dos seres vivos, ou seja, respostas
observadas em nível celular podem provocar reações em cadeia que resultam em

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alterações de nível ecológico. É importante entender as reações desencadeadas
pelos diversos tipos de poluentes ambientais quando um organismo é exposto a
ele; por isso, o Diagrama 4 colabora na visão do contexto geral. Vale lembrar que
interferem na absorção do poluente questões como o tamanho e o metabolismo
do organismo, a disponibilidade do poluente, fatores ambientais e o teor de lipídeo.

DIAGRAMA 4. REAÇÕES DESENCADEADAS POR POLUENTES

Exposição a poluentes

Absorção e acúmulo

Alvo celular

Processo patológico Processo adaptativo

Danos a tecidos e órgãos


Efeitos sob a reprodução e crescimento

Doença
Efeitos sob a população
Morte
Efeitos sob a comunidade

Efeitos sob o ecossistema


Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 139. (Adaptado).

Dois conceitos muito importantes explicam como se dá a acumulação dos po-


luentes no organismo dos seres vivos. A acumulação de poluentes ambientais nos
seres vivos acontece após os eventos de exposição, e pode ser de forma direta,
quando as substâncias são absorvidas a partir dos compartimentos ambientais
(solo, sedimento e água), ou indireta, quando há a ingestão de alimentos contami-
nados com essas substâncias. Esses processos, de acumulação direta e indireta de
poluentes, são simultâneos.

ANÁLISE AMBIENTAL 48

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A bioacumulação refere-se ao processo de absorção de poluentes pelos or-
ganismos que compõem um ecossistema, enquanto a bioconcentração trata da
absorção de poluentes pelos organismos em concentrações mais elevadas do que
o ambiente circundante. A biomagnificação, também conhecida como magnifi-
cação trófica, acontece quando há acúmulo contínuo de substâncias de um nível
trófico para outro ao longo da cadeia alimentar. Como mostra o Diagrama 5, a
acumulação de poluentes é maior nos seres vivos que ocupam o topo da cadeia
alimentar quando ocorre biomagnificação.
DIAGRAMA 5. BIOACUMULAÇÃO E BIOMAGNIFICAÇÃO DE POLUENTES AMBIENTAIS

Bioacumulação
Concentração do poluente

Biomagnificação

Tempo
Poluente

Há bioacumulação quando a acumulação do poluente é apenas ao longo do


tempo, em um único nível trófico da cadeia alimentar; por outro lado, a biomagni-
ficação ocorre entre os diferentes níveis da cadeia alimentar. Para não confundir
os termos, as diferenças entre eles são explanadas no Quadro 2.
QUADRO 2. DIFERENÇAS ENTRE BIOACUMULAÇÃO, BIOCONCENTRAÇÃO
E BIOMAGNIFICAÇÃO

Bioacumulação Bioconcentração Biomagnificação

Termo mais geral.


Concentração da substância no Aumento da concentração da
Inclui todas as vias de
organismo é maior do que no substância ao longo da cadeia
exposição.
compartimento de entorno. alimentar.

Ocorre ao longo da cadeia ali-


Ocorre dentro dos organismos.
mentar.
Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 207. (Adaptado).

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Para que haja resposta à exposição, primeiro o poluente chega ao habitat e
atinge as concentrações que causam efeito no organismo. Portanto, é pertinente
estudar, de modo resumido, propriedades físico-químicas relacionadas ao trans-
porte e distribuição dos poluentes, uma vez que elas refletem a forma química
de uma substância e o seu comportamento nos diferentes compartimentos am-
bientais. De acordo com Oga, Camargo e Batistuzzo, certas propriedades são de
interesse para previsão da exposição ao poluente:
• Peso molecular: usado para prever o movimento do poluente através de
membranas biológicas ou para calcular a lei de Henry, em associação à pressão de
vapor e à solubilidade de uma substância quando não houver estimativa por meio
experimental. Varia conforme a composição do poluente;
• Ponto de ebulição, ponto de fusão e pressão de vapor: permitem a previ-
são do estado físico e as possíveis vias de exposição em que a substância tem mais
chance de ser encontrada. São interpretados conforme o Quadro 3;

QUADRO 3. ESTADO DAS SUBSTÂNCIAS E OS PONTOS DE EBULIÇÃO, FUSÃO E PRESSÃO

Propriedade Parâmetro Estado da substância

Ponto de ebulição < 25 °C Gasoso

< 25 °C Líquido

Ponto de fusão
> 25 °C Sólido

> 10-4 Preferencialmente vapor

10-5 e 10-8 Vapor ou particulado


Pressão de vapor

< 10-8 Preferencialmente sólido

Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 197-198. (Adaptado).

• Hidrossolubilidade: quanto mais polar, maior a solubilidade e a probabilida-


de de lixiviar e chegar ao solo. Além disso, ela é mais facilmente distribuída no ci-
clo d’água e de difícil volatilização em águas subterrâneas, podendo percolar para
profundidade, podendo ser interpretada conforme o Quadro 4;

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QUADRO 4. CLASSIFICAÇÃO DOS POLUENTES DE ACORDO COM A HIDROSSOLUBILIDADE

Quantidade solubilizada em 1 L de água (mg/L) Classificação

> 10.000 Muito solúvel

> 1000 a 10.000 Solúvel

> 100 a 1000 Moderadamente solúvel

> 0,1 a 100 Pouco solúvel

< 0,1 Solubilidade negligenciável


Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 198. (Adaptado).

• Coeficiente de partição octanol/água (Kow): quando uma substância não


polar (como o octanol) é acrescida à água, são formadas duas fases. O Kow refle-
te a concentração da substância nas duas fases quando o equilíbrio é atingido,
sendo expresso em forma logarítmica decimal, e, quanto maior ele é, menor a
polaridade a substância poluente, de acordo com o Quadro 5;

QUADRO 5. CLASSIFICAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS SEGUNDO O LOG DE KOW

Log de Kow Comportamento da substância

<1 Substância hidrofílica

>4 Substância hidrofóbica

>8 A substância não está facilmente disponível

> 10 Não disponível quimicamente

Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 198. (Adaptado).

• Constante da lei de Henry: indica a volatilidade da substância em meio


aquoso, o que permite predizer o potencial de remoção do contaminante em
água superficial, segundo o Quadro 6;

QUADRO 6. CLASSIFICAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS DE ACORDO COM A SUA VOLATILIDADE

Constante da lei de Henry (atm · m3/mol) Volatilidade a partir de um meio aquoso

> 10 -1
Muito volátil

10-1 a 10-3 Volátil

< 10 a 10
-3 -5
Moderadamente volátil

< 10-5 a 10-7 Pouco volátil

< 10 -7
Não volátil
Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 198. (Adaptado).

ANÁLISE AMBIENTAL 51

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• Coeficiente de partição carbono orgânico/água (Koc): indica a capacida-
de de uma substância química em se adsorver à fração orgânica do solo, sedi-
mento, lodo de esgoto e/ou sua capacidade de lixiviar pelo solo e atingir águas
subterrâneas. O Koc é expresso em forma logarítmica decimal. Substâncias com
Koc baixo não se ligam à fração orgânica e lixiviam com facilidade, enquanto
substâncias com Koc elevado tendem a se acumular no sedimento, sendo inter-
pretadas de acordo com o Quadro 7;

QUADRO 7. CLASSIFICAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS DE ACORDO COM A SUA MOBILIDADE

Log de Koc Adsorção solo sedimento/mobilidade

> 4,5 Muito forte/irrelevante

3,5 a 4,4 Forte/muito baixa

2,5 a 3,4 Moderada/baixa

1,5 a 2,4 Baixa/moderada

< 1,5 Irrelevante/elevada

Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 199. (Adaptado).

• Fator de bioconcentração (BCF): indica o potencial do poluente em se


bioconcentrar no tecido adiposo dos indivíduos. É um indicador de bioacumu-
lação de poluentes ambientais nos níveis tróficos mais elevados, analisado com
base no Quadro 8.

QUADRO 8. CLASSIFICAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS DE ACORDO COM SUA BIOCONCENTRAÇÃO

Bioconcentração em organismos
BCF Log de BCF
aquáticos

> 5000 ≥ 3,7 Elevado potencial

1000 a 5000 3 Moderado potencial

< 1000 <3 Baixo potencial

Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 199. (Adaptado).

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O monitoramento e a determinação das concentrações de poluentes nos com-
partimentos ambientais são de interesse para a avaliação das condições do meio
ambiente e têm relação com a integridade ecossistêmica e com a saúde humana.

Agentes poluidores
As atividades antropogênicas e os processos naturais podem liberar po-
luentes para o meio ambiente. Uma vez no ambiente, eles podem contaminar
águas superficiais e subterrâneas, o solo e a atmosfera. A poluição resultado
da atividade antrópica pode ser intencional ou não. Considerando os compar-
timentos ambientais, é possível mencionar exemplos de agentes poluidores:
• Poluição por processos naturais: degradação de rochas, atividade vulcâ-
nica e incêndios florestais;
• Poluição por processos antropogênicos não intencionais: acidentes
ambientais, como derramamentos de óleo, explosões em usinas nucleares,
rompimentos de barragens etc. Esses acidentes são considerados não inten-
cionais, no sentido de que não há consciência coletiva de que eles podem vir a
ocorrer, pois é esperado que os procedimentos a fim de evitá-los sejam segui-
dos. Porém, tal condição não exclui a caracterização do acidente como crime
ambiental passível de averiguação das falhas e dos envolvidos, com julgamento
e aplicação de penalidades cabíveis pelas esferas competentes;
• Poluição por processos antropogênicos intencionais:
• Agente poluidor: conglomerados urbanos, indústrias, agricultura, fundi-
ção, mineradoras, laboratórios, hospitais, residências etc.;
• Vias (contaminantes): efluentes (detergentes, agrotóxicos, sabão, sol-
ventes, medicamentos, cosméticos e hormônios), fundição (metais pesados,
substâncias orgânicas e inorgânicas), redes de esgoto (detergentes, urina, fezes,
papel, sabão, solventes, medicamentos, cosméticos e hormônios), lixo doméstico
(plásticos, substâncias orgânicas e inorgânicas, papel e alumínio), lixo hospitalar
(seringas, medicamentos e plásticos), emissão de partículas contaminadas (HPAs,
hormônios e gases efeito estufa).
Na atualidade, a grande maioria dos agentes poluidores tem à disposição
procedimentos para reduzir os impactos dos poluentes liberados no meio am-
biente nas suas atividades, com organizações, leis, normas, procedimentos e

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profissionais que acompanham a liberação e o tratamento desses poluentes.
Apesar disso, ainda há muito que melhorar na garantia da sustentabilidade
ambiental em comparação com os avanços da poluição que colocam em risco
a integridade ecossistêmica.
No que concerne aos principais poluentes ambientais, os metais se dão de
forma natural no ambiente, são utilizados pelo homem desde a pré-História, com
intensificação na Revolução Industrial até os dias atuais. Dada a alta exploração,
houve uma interferência antrópica nos ciclos biogeoquímicos destes elementos,
acarretando em um desbalanceamento de suas concentrações naturais, tornan-
do-os um dos principais grupos de poluentes ambientais.
É importante ter em mente que os processos de contribuição natural para
o aumento nos níveis de metais no ambiente são pequenos em comparação às
fontes de contribuição antropogênicas. Diante das diferenças nas características
físico-químicas dos metais, os locais afetados no organismo humano pelos efeitos
tóxicos dos compostos e das diferentes espécies químicas são muito distintos, se
contar que eles variam de acordo com a dose, o tipo e a via de exposição (ar, água,
solo ou alimento). As contaminações por metais podem alterar a estrutura das
comunidades devido aos diferentes níveis e tipos de sensibilidade das populações
que compõem o ecossistema.

DICA
Ao visitar o catálogo de periódicos nacionais SciELO e
fazer uma busca indexando os termos “contaminação”
e “metais”, é possível ver que há uma vasta gama de
artigos que pesquisam essa temática e seus efeitos nos
mais variados compartimentos ambientais.

As fontes naturais dos metais são erupções vulcânicas e deposição atmosféri-


ca, mas a atividade antrópica libera esses elementos no ambiente, alterando suas
concentrações, por meio da mineração, fundição de metais, queima de combus-
tíveis e produção de agrotóxicos. Tais atividades liberam os metais nos compar-
timentos ambientais (água, solo e ar). As biotas aquáticas e terrestres possuem
sensibilidade aos metais, e o nível de sensibilidade depende da espécie metálica e
dos fatores bióticos e abióticos do meio.
Em geral, podem ocorrer alterações nas taxas fotossintéticas, reprodutivas e
de mortalidade, além da inibição do crescimento e mudanças comportamentais.

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O mercúrio pode participar de inúmeras reações químicas, sendo classificado, de
acordo com essa característica, como compostos voláteis, compostos reativos e
muito tóxicos, compostos pouco reativos e relativamente inertes:
• Uso: produção de cloro-soda, tintas, materiais plásticos, produtos farmacêu-
ticos, equipamentos elétricos, baterias, lâmpadas, fungicidas e amálgamas odon-
tológicas;
• Efeitos tóxicos ao homem: bronquite, bronquiolite, pneumonia, edema pul-
monar agudo, insuficiência respiratória, dermatites, úlceras, insônia, nervosismo,
enjoo, perda da memória, irritabilidade, ansiedade, sonolência, depressão, delírio,
alucinação, tremores, cegueira, surdez, gengivite, salivação, diarreia, nefrite, insu-
ficiência renal, contaminação do leite materno e efeitos neurológicos tardios em
crianças e morte. A exposição crônica pode causar mutações genéticas e aberra-
ções cromossômicas;
• Efeitos tóxicos na biota: é um poluente global. A retenção nos organismos é
elevada, pois compostos de mercúrio podem cruzar as membranas celulares com
eficiência. A maior parte do mercúrio presente nos organismos aquáticos está na
forma de compostos organomercuriais (metilmercúrio), posto que os organismos
são menos sensíveis aos compostos inorgânicos, podem afetar a reprodução e
causar elevação da mortalidade. O mercúrio elementar afeta menos os ambientes
aquáticos, pois é quase inerte e pouco solúvel em água. No ambiente terrestre,
plantas e pássaros são muito afetados.
O cádmio é um metal raro na natureza em seu estado puro. No ambiente,
aparece na forma de sais praticamente insolúveis em água, não sendo conhecida
nenhuma forma orgânica desse elemento:
• Uso: já foi usado na galvanoplastia e em pigmentos ou estabilizantes de plás-
ticos, embora hoje em dia seja usado na produção de baterias de níquel-cádmio.
Os resíduos são provenientes de efluentes líquidos na extração e processamento
de metais não ferrosos e da extração de rochas para a produção de fertilizantes
fosfatados;
• Efeitos tóxicos ao homem: causa danos severos nos pulmões e rins. Pode
causar alterações nas funções ventilatórias, chegando até a insuficiência respira-
tória, pneumopatia, edema pulmonar, gastroenterite aguda, disfunção tubular re-
nal, hipercalciúria e cálculos renais, osteoporose e osteomalácia. Relaciona-se com
casos de câncer de pulmão e próstata;

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• Efeitos tóxicos na biota: a retenção nos organismos é elevada em micror-
ganismos e moluscos, e seus principais efeitos são na divisão celular e no cresci-
mento. Animais expostos ao cádmio apresentam efeitos em vários órgãos (fígado,
pâncreas, rins, pulmões e gônadas), além de efeitos teratogênicos, embriotóxicos
e carcinogênicos. A presença de cádmio afeta em maior intensidade organismos
de água doce do que os marinhos. No solo, afeta fungos, ao passo que pássaros se
mostram pouco afetados por altas concentrações de cádmio.
O chumbo é um metal com potencial poluidor que incide na crosta terrestre,
formando compostos orgânicos estáveis e sais inorgânicos de chumbo com baixa
solubilidade em água e no ambiente em geral:
• Uso: mais usado em baterias automotivas, foi usado como aditivo na gaso-
lina, na pigmentação de tintas, inseticidas, cosméticos e como isolante de cabos;
• Efeitos tóxicos ao homem: crianças até seis anos são um grupo crítico
com relação ao efeito tóxico do chumbo, assim como mulheres grávidas e fe-
tos. A maior parte do chumbo se acumula nos ossos, e pode causar nefrites
crônicas, doenças cerebrovasculares, danos à pressão cardiovascular e aos sis-
temas hematopoiético, nervoso, gastrointestinal, renal, reprodutivo e endócri-
no, podendo levar à morte;
• Efeitos tóxicos na biota: é considerado poluente global. Plantas podem as-
similar o chumbo do solo e do ar, no entanto as características químicas do solo
afetam sua capacidade de acumular chumbo. A acumulação no organismo se dá
de acordo com os níveis no ambiente e pela alimentação, embora acredite-se que
o chumbo seja adsorvido ao tecido no organismo e não incorporado a ele, por isso,
efeitos tóxicos são mais observados em elevados níveis no ambiente ou na dieta.
O arsênio é um metaloide que aparece distribuído de diversas formas na
natureza. Os compostos de arsênio estão nos compartimentos da biosfera
em concentrações-traço. O arsênio elementar é insolúvel em água, porém
os sais de arsênio têm solubilidade definida de acordo com as condições
físico-químicas do meio. Dos pontos de vista toxicológico e biológico, o ar-
sênio é distribuído em três grupos, os chamados compostos inorgânicos,
orgânicos e gás arsina:
• Uso: utilizado na produção de agrotóxicos, pilhas, vidros, pigmentos,
ligas metálicas, semicondutores, preservação de couro e na indústria far-
macêutica;

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• Efeitos tóxicos ao homem: afeta a pele e os sistemas respiratório,
cardiovascular, gastrointestinal e nervoso, com mudanças nas mucosas, le-
sões vasculares, neurológicas, hematológicas, além de sinais clínicos como
salivação, cólicas, redução da atividade sexual, emagrecimento, surgimento
de verrugas, lesões eczematoides e melanose. Pode causar diversos tipos
de câncer (pele, rins, bexiga e pulmão) e morte;
• Efeitos tóxicos na biota: formas inorgânicas de arsênio são mais tóxi-
cas do que as orgânicas. Em ecossistemas com elevados níveis de fosfato, a
toxicidade do arsênio diminui.
Os agrotóxicos são substâncias químicas produzidas pelo homem
com objetivo de reduzir populações de pragas, a fim de diminuir danos
potenciais em algum compartimento ambiental, alterado pela atividade
antrópica. Têm elevado potencial de se tornarem poluentes ambientais,
pois possuem um amplo espectro de ação e seletividade insatisfatória,
que podem ser tóxicos para organismos não alvos. Os agrotóxicos podem
ser classificados como:
• Inseticidas químicos: são de uso agrícola e doméstico para controle de
insetos. De acordo com o grupo químico do ingrediente ativo, podem ser
classificados como organoclorados, organofosforados, carbamatos e pire-
troides. Podem ser altamente tóxicos;
• Inseticidas biológicos: são alternativas ao uso de substâncias quími-
cas para o controle de insetos. Os mais utilizados são os feromônios, os
inimigos naturais e os agentes microbiológicos;
• Herbicidas: controlam as ervas daninhas. São os agrotóxicos mais uti-
lizados no mundo. São preocupantes do ponto de vista ambiental, pois têm
alta mobilidade no solo, podendo ser encontrados em águas sub-
terrâneas e lixiviados para riachos;
• Fungicidas: controlam doenças fúngicas. Há resultados que
mostram que os fungicidas têm potencial positivo
de mutagenicidade, além de efeitos reproduti-
vos, carcinogênicos e teratogênicos. Essa con-
dição faz com que as moléculas sejam cons-
tantemente reavaliadas e até mesmo retiradas
do mercado.

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Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) são substâncias tó-
xicas persistentes ubíquas no ambiente, cuja importância está relacionada
às propriedades carcinogênicas e/ou mutagênicas que muitos deles e/ou
seus derivados apresentam, de acordo com Sisinno e Oliveira Filho. Proces-
sos pirolíticos ou de combustão incompleta dão origem aos HPAs quando há
aquecimento da matéria orgânica. Os HPAs são emitidos por fontes naturais
ou antropogênicas – sendo a segunda maior do que a primeira:
• Na queima de resíduos sólidos, da matéria orgânica não decomposta,
do carvão ou do petróleo;
• No derramamento de petróleo;
• Pela fumaça liberada por cigarros;
• Na disposição de resíduos industriais e residenciais;
• No coqueamento de carvão e na síntese de HPAs;
• Por vulcões e áreas de elevada atividade geotérmica;
• Por fornos industriais;
• Na produção de alumínio, ferro ou aço e outras fundições.
Por serem apenas sólidos, os HPAs atmosféricos se depositam sobre a
vegetação e sobre o solo, que vira o principal local de deposição
das moléculas, que permanecem ligadas à matéria orgânica.
Na água, associam-se a faixas superficiais e a sedi-
mentos em suspensão, dada a baixa solubilidade. A
drenagem superficial de água da chuva em solos
contaminados com HPAs resulta em contamina-
ção de corpos d’água. Nas plantas, a acumula-
ção depende da concentração atmosférica, por-
que elas são responsáveis pela retirada dos HPAs do
ambiente e podem ser utilizadas como indicadores de contaminação por
essas substâncias.
A capacidade dos animais em metalizar os HPAs varia muito e a concen-
tração no organismo varia de acordo com essa capacidade. A exposição
humana acontece pela inalação do ar poluído (inalação passiva ou ativa),
pela ingestão de alimentos ou água contaminados. O aparecimento de di-
versos tipos de câncer em humanos (pulmão, bexiga, colo, reto e esôfago)
está associado à contaminação por HPAs.

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QUADRO 9. FONTES E DANOS DE SUBSTÂNCIAS DERIVADAS OU RELATIVAS AOS HPAs

Substância Fonte Dano

HPAs Combustão Carcinogênicos

NHPAs Combustão; fotoquímica Carcinogênicos e/ou mutagênicos

Cetonas Combustão Pouco efeito

Quinonas Combustão Pouco efeito

Aldeídos Combustão Pouco efeito

Azarenos Combustão; outras fontes Carcinogênicos

Nitrozarenos Combustão; fotoquímica Informações limitadas

Cetonas nitradas Combustão; fotoquímica Carcinogênicos e/ou mutagênico

Fonte: SISINNO; OLIVEIRA FILHO, 2013, p. 99. (Adaptado).

Poluição da água e do solo


O solo está localizado na camada superficial da crosta terrestre, tem com-
posição amplamente variada, elevada dinamicidade e propriedades físico-
-químicas muito características, sendo composto pelas fases sólida (minerais,
organismos vivos e matéria orgânica), líquida (água ou solução do solo) e ga-
sosa (ar), além de ser um recurso natural fundamental para todos os compar-
timentos ambientais e para os organismos que nele habitam, como os seres
humanos. Por isso, é de extrema relevância conhecer os tipos de contamina-
ção, as consequências e os processos de descontaminação.
O aterramento de substâncias, o uso do solo (agrícola, industrial e mine-
ração), a extração de recursos e o crescimento urbano são processos que po-
dem causar a poluição do solo e das águas subterrâneas. As funções do solo
podem ser impactadas por perturbações físicas que causam danos em sua
estrutura e/ou por adição de substâncias. As perturbações físicas alteram
algumas características do solo, geradas por processos geológicos que levam
milhões de anos para acontecer, que são alteradas por práticas relacionadas
à poluição do solo:

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• Deposição de resíduos;
• Migração de gases;
• Escavações;
• Erosão;
• Manejo agrícola (preparo do solo);
• Desmatamento;
• Compactação pelo tráfego de máquinas.
A adição de substâncias pode advir por diversas vias e ela também está relacio-
nada à poluição do solo. São exemplos de vias de adição de substâncias:
• Lixiviação;
• Percolação;
• Deposição;
• Aplicação de substâncias (uso de fertilizantes e agrotóxicos).
Diversas consequências negativas estão associadas à poluição do solo, e, entre
os principais danos, é possível citar:
• Redução de fertilidade;
• Aumento da erodibilidade;
• Alterações de salinidade e pH;
• Desertificação;
• Redução da diversidade de fauna e flora terrestre;
• Problemas de saúde pública;
• Emissão de gases poluidores;
• Desequilíbrio ecológico.
Um fator preocupante associado à poluição hídrica é que os lençóis freáticos,
os lagos, os rios, os mares e os oceanos são o destino final de todo poluente solú-
vel em água que tenha sido liberado no ar ou no solo. Desta forma, além dos po-
luentes que são lançados nos corpos d’água, as redes hídricas recebem
os poluentes ambientais vindos da atmosfera e do solo, como lembra-
do no artigo “Poluição da água: tipos, causas e consequên-
cias”, do site eCycle (2015). Os processos de poluição
hídrica são ponderados a partir de quatro condições:
• Poluição sedimentar: resultante dos processos
de lixiviação, deposição e percolação de poluentes tó-
xicos;

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• Poluição orgânica: resultante da introdução de detritos orgânicos (carboidra-
tos, proteínas, gorduras, fosfatos e bactérias) liberados por esgotos domésticos,
efluente industrial e agrícola. Causa diminuição do O2 dissolvido e eutrofização;
• Poluição química: resultante do uso de substâncias químicas em áreas ur-
banas, industriais ou rurais e liberação direta ou indireta, cumulativa ou não, em
corpos d’água;
• Poluição térmica: resultante do aumento ou diminuição da temperatura de
um ecossistema aquático, causando um impacto direto na população.
Sobre a poluição hídrica, ainda é possível discutir a poluição de água de consu-
mo humano, que pode ter origem na fonte hídrica, no tratamento ou na distribui-
ção. Os poluentes mais comumente observados são:
• Tri-halometanos: subprodutos do processo de cloração da água de consu-
mo. São formados a partir de reação entre o tratamento oxidativo (cloro livre) e
materiais orgânicos naturalmente presentes na água;
• Fluoretos: possuem ocorrência natural na crosta terrestre, mas podem cau-
sar danos aos organismos em concentrações aumentadas;
• Nitratos e nitritos: são íons de ocorrência natural no ciclo do nitrogênio. O
aumento de fertilizações nitrogenadas no solo e da carga de material orgânico na
água pode conduzir ao aumento desses poluentes.

Bioindicadores de qualidade ambiental


Um bioindicador é todo parâmetro biológico, qualitativo ou quantitati-
vo, medido ao nível de indivíduo, população ou comunidade, e suscetível a
indicar condições ambientais particulares que correspondam a um estado
estabelecido, a uma variação natural ou a uma perturbação do meio, como
exposto por Cairns Jr. e Pratt, em capítulo do livro Freshwater biomonitoring
and benthic: macroinvertebrates, de 1993.
Os organismos refletem as condições ambientais do local, pois respondem à
presença dos poluentes ambientais presentes em seu ecossistema. Em um pri-
meiro momento, os poluentes ambientais causam impactos negativos à biota nos
níveis mais baixos do espectro de organização dos seres vivos (alterações bioquí-
micas e fisiológicas nos organismos). As respostas dos organismos, observadas
durante a análise desses níveis de organização, são chamadas de biomarcadores.

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Depois, os poluentes ambientais impactam os níveis mais elevados (populações,
comunidade e ecossistema), dando-se o nome de bioindicação à utilização das
respostas desses níveis organizacionais.

ASSISTA
O vídeo Cientistas estudam plantas e bichos como bioin-
dicadores das mudanças climáticas traz uma reportagem
da TV Cultura que aborda um exemplo de utilização dos
bioindicadores para a manutenção da qualidade am-
biental, esclarecendo quais alterações biológicas podem
ocorrer devido às modificações climáticas.

A utilização de bioindicadores de qualidade ambiental prova que os poluentes


ambientais se encontram acumulados em organismos presentes em um ecossiste-
ma, determinando os tipos de poluentes ambientais, seus impactos e sua distribui-
ção temporal e espacial, bem como os momentos em que os organismos são mais
afetados pelos poluentes, diferenciando os efeitos da exposição aguda da crônica,
embasando programas de monitoramento ambiental e inferindo sobre a integri-
dade do ecossistema. Segundo Hellawell, no livro Biological indicators of freshwater
pollution and environmental management, de 1986, e também Cairns Jr., McCormick
e Niederlehner, em artigo para a revista Hydrobiologia publicado em 1993, um bom
bioindicador de qualidade ambiental deve possuir algumas características, como:
• Taxonomia conhecida;
• Abundância numérica;
• Baixa variabilidade genética e ecológica;
• Mobilidade limitada e ciclo de vida relativamente longo;
• Não ser destrutivo;
• Relevância biológica e social;
• Sensibilidade aos poluidores;
• Ampla aplicação a locais e poluidores;
• Possibilidade de uso de um procedimento padrão com baixo erro;
• Permitir diferenciar condições aceitáveis de não aceitáveis;
• Bom custo-benefício;
• Disponibilidade de dados históricos;
• Capacidade de prevenir o dano;
• Adequação para uso em estudos de laboratório.

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A qualidade ambiental pode ser medida pelo uso de bioindicadores
compostos por indivíduos, ou populações deles, que indiquem mudanças
na integridade ecossistêmica. Essas medidas são interpretadas pela respos-
ta do bioindicador, que, quando exposto a um poluente, pode apresentar
bioacumulação, biomagnificação ou os efeitos finais (danos) resultantes da
exposição. São exemplos de respostas:
• Efeitos bioquímicos;
• Concentração de poluentes em tecidos;
• Carcinogênese;
• Efeitos congênitos;
• Alterações na propensão ao desenvolvimento de doenças;
• Mudanças comportamentais;
• Mudanças morfológicas;
• Alterações hormonais;
• Alterações no crescimento, na idade e no tamanho populacional;
• Mudanças na taxa de natalidade e mortalidade;
• Mudanças na abundância e biomassa;
• Redimensionamento da extensão geográfica.
Não se espera que um mesmo bioindicador apresente mais de uma
resposta, muito menos todas. Na realidade, tais parâmetros são observa-
dos em espécies diferentes, por isso, em estudos de qualidade ambiental
para avaliar o risco e os danos potenciais a que um ecossistema está su-
jeito, não se usa somente um tipo de bioindicador, cuja escolha deve se
basear nas metas e objetivos do estudo, considerando as características
do ecossistema a ser estudado. A seguir, são descritos os bioindicadores
mais comuns:
• Bioindicadores terrestres:
• Líquens e vegetação: podem responder metais por
alterações na taxa fotossintética, na assimilação
de CO2 ou pela presença de necrose, clorose,
queda foliar, redução do crescimento, morta-
lidade e extinção. A riqueza, a diversidade e
a abundância de espécies também podem ser
indicadores de qualidade ambiental;

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• Macro e microfauna do solo: podem ser utilizados como bioindica-
dores, pois refletem a qualidade do solo. São analisadas riqueza, diversidade,
equitatividade e abundância de espécies;
• Herpetofauna (répteis e anfíbios): podem ser utilizados como bioin-
dicadores, pois apresentam diminuição de espécies em áreas afetadas por po-
luentes ambientais ou degradação e dominância de espécies generalistas;
• Aves: algumas espécies são bioindicadores de qualidade ambiental em
áreas florestais, por terem habitat (reprodução, alimentação etc.) relacionado
com espécies ou grupo de espécies vegetais específicas. Além disso, espécies
de interior ou de borda, bandos mistos ou migrantes, espécies raras ou amea-
çadas com hábitos de dispersão distintos fornecem informações valiosas ao
monitoramento e manejo da fauna.
• Bioindicadores aquáticos
• Todos os organismos aquáticos (plânctons, néctons, bentos, peri-
fítons, macrófitas aquáticas) podem ser usados como bioindicadores. Para
escolher entre toda essa diversidade, é preciso ter pleno conhecimento das
características e exigências ambientais que influenciam na ocorrência e no de-
senvolvimento do organismo que vive no ecossistema aquático em que se quer
avaliar a qualidade ambiental.

CURIOSIDADE
Uma reportagem do Jornal da USP ajuda a entender como os
peixes podem ser utilizados como bioindicadores aquáticos, o
que fez até com que concentrações de poluentes tidas como
seguras pelas agências ambientais fossem contestadas.

Estressores ambientais e hidrológicos


Segundo Loretto e Delciellos, em artigo para a revista Ciência Hoje (2008),
o estresse ambiental pode ser definido como uma condição que causa:
1. Diminuição da aptidão do organismo, ou seja, de seu sucesso reprodu-
tivo;
2. Redução ou mudança das funções do organismo.
É, portanto, algo potencialmente prejudicial. Em condições ambientais que
apresentem desvios das consideradas ótimas, o estresse ambiental está ligado

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à resposta biológica de um organismo ou população. Apesar da potencialidade
prejudicial, o estresse é uma condição natural que ocorre como consequência
de ambientes competitivos em que seres humanos e animais estão sujeitos.
Na verdade, segundo os autores, o que se observa na natureza são as mais va-
riadas formas e intensidades de estresse, em que os agentes estressantes não
parecem causar grandes reduções na aptidão de um organismo.
O estresse pode ser de origem natural ou antropogênica. Em alguns
ecossistemas, há condições estressantes naturais, como incêndios, inunda-
ções, mudanças de marés, alterações na concentração de O2 e alterações de
pH. O estresse antropogênico não tem origem natural, sendo possível citar
como exemplo as mudanças nos cursos d’água, aterros, drenagens, urbaniza-
ção, desmatamento, queima de combustíveis fósseis, contaminação de corpos
d’água e emissão de poluentes que resultam em redução da biodiversidade,
extinção de espécies e surgimento de doenças, logo, configurando um desequi-
líbrio ecossistêmico em que o ser humano é o principal agente estressor. Deste
modo, é importante aprender sobre a origem e os riscos que alguns agentes
estressantes hidrológicos podem apresentar:
• Enriquecimento orgânico:
• Riscos: afeta e altera o ecossistema aquático, pois pode resultar na
diminuição do O2 dissolvido, na proliferação de doenças, na produção de ga-
ses tóxicos e na eutrofização;
• Origem antropogênica: resultante do despejo irregular de efluen-
tes industriais e domésticos em corpos d’água, do escoamento de água plu-
vial proveniente de áreas agrícolas e urbanas com elevada carga de resíduos
orgânicos.
• Mudanças no pH:
• Riscos: afeta o ecossistema aquático, resultando em maiores concentra-
ções de amônia e alumínio, alterações na permeabilidade de membranas e
interferência em funções fisiológicas (respiração e osmorregulação);
• Origem antropogênica: mineração de carvão, chuva ácida e ativida-
de industrial (liberação de efluentes com elevada ou baixa acidez) e manejo
agrícola (fertilização e uso de agrotóxicos).
• Aumento na concentração de sólidos suspensos:
• Riscos: afeta o ecossistema aquático e, em altas concentrações, pode

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resultar em danos físicos nos organismos, diminuição da incidência de luz
(reduzindo radiação, transmissão de calor e fotossíntese) e redução na quali-
dade físico-química da água para humanos e animais;
• Origem antropogênica: resultante da construção civil, da atividade
industrial (liberação de efluentes sem tratamento), do manejo agrícola e da
extração de areia.
• Adição de calor:
• Riscos: afeta o ecossistema aquático, resultando em aumento da
temperatura e acelerando a decomposição da matéria orgânica, diminuin-
do o O2 disponível, alterando a viscosidade d’água e a solubilidade de gases,
além de aumentar a toxicidade de poluentes;
• Origem antropogênica: utilização de água como agente resfriador
em usinas de geração de energia.
• Adição de substâncias químicas:
• Riscos: as respostas dos indivíduos à exposição a estas substâncias
são variadas, determinadas pelo tipo de substância, concentração, via de ex-
posição, tipo de efeito (agudo ou crônico) e suscetibilidade do organismo;
• Origem antropogênica: possui, em geral, origem industrial (química,
petrolífera, papel, metalurgia e fertilizantes).
• Introdução de espécies invasoras:
• Riscos: afeta o ecossistema aquático, transformando a estrutura e a
composição do ecossistema, eliminando ou reduzindo a abundância de es-
pécies;
• Origem antropogênica: ocorre quando uma espécie exótica é introdu-
zida em um ambiente novo no qual ela apresentará bom desempenho repro-
dutivo.

Gerenciamento de resíduos tóxicos de laboratórios


De acordo com Almeida, no livro Boas práticas de laboratório, de 2013, o
gerenciamento de resíduos laboratoriais é um conjunto de procedimentos
de gestão, planejados e implementados a partir de bases científicas e técni-
cas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos
e proporcionar aos gerados um encaminhamento seguro e eficiente, visando

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à proteção dos trabalhadores, à preservação da saúde pública, dos recursos
naturais e do meio ambiente.
Como a classificação e a separação dos resíduos laboratoriais dependem
de uma série de fatores inerentes ao tipo de resíduo manipulado e da espe-
cialidade do laboratório, cada instituição deve redigir seu próprio Programa
de Gerenciamento de Resíduos (PGR). Além disso, a implementação de um
PGR deve seguir leis e normas técnicas, como a RDC 306/2004, a NBR 10.040
e a Lei n. 12.305/2010, e ser desenvolvida por profissional de nível superior
com habilitação na área química. O Quadro 10 mostra as etapas sugeridas
para elaboração de um PGR.

QUADRO 10. ETAPAS DE UM PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

Etapa Procedimento Descrição

1 Elaboração de inventário. Levantar composição, quantidade e variedade.

Levantamento de infor- Determinar reatividade, toxicidade, compatibilidade


2
mações de segurança. e os procedimentos de segurança.

Estudo de viabilidade de substituição de subs-


Minimização ou
3 tâncias perigosas para minimização dos riscos e
substituição.
resíduos.

Classificação do resíduo
laboratorial em resíduos Considera as características físico-químicas,
4
químicos não perigosos periculosidade, compatibilidade e destino final.
ou perigosos.

Nome do laboratório, constituintes, concentra-


Rotulagem e identificação ção, quantidade, laboratório gerador, data, hora,
5
do tipo de resíduo. responsável pela coleta, identificação do risco de
manipulação.

O armazenamento deve ser feito de acordo com


o tipo de resíduo em recipientes especiais. Deve
Tratamento e
6 ser feito em locais exclusivos com identificação e
armazenamento.
dimensões compatíveis, que sejam impermeáveis
e laváveis.

Quando não for possível reutilizar, é avaliado o tipo


de resíduo para optar pela incineração, aterramento
ou degradação por processos oxidativos avançados.
Para material biológico ou infectante, deve-se seguir
7 Destinação final.
o previsto na Lei n. 11.105 da Política Nacional de
Biossegurança e na NR 32 da Anvisa. Para materiais
radioativos, deve ser seguido o previsto pelo Conse-
lho Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

Fonte: ALMEIDA, 2013, p. 242-257. (Adaptado).

ANÁLISE AMBIENTAL 67

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Sintetizando
Nessa unidade, foi apresentado o conceito de ecotoxicologia e sua interdis-
ciplinaridade. A partir daí, foram estudados os riscos ecotoxicológicos na saúde
humana, já que têm relação direta com a integridade ecossistêmica, entendendo
como e quando o risco ecotoxicológico é aplicado e a metodologia para definir o
nível de risco, que se baseia na avaliação do risco ambiental. Ainda nesse contex-
to, foi abordada a temática dos poluentes ambientais.
Na ideia de poluição, aprendeu-se sobre contaminação e contaminantes, bem
como os efeitos dos contaminantes nos organismos. Outro conceito importante
exposto foi o de exposição, distribuição, transporte e absorção dos poluentes.
Correlacionando estas ideias, foram analisados os agentes poluidores naturais e
antropogênicos, focando em metais pesados, agrotóxicos e nos hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos (HPAs).
Foi analisada a poluição em dois importantes compartimentos ambientais:
água e solo. Com a bagagem sobre ecotoxicologia ambiental, aprendeu-se me-
lhor sobre os bioindicadores de qualidade ambiental, os conceitos, as caracte-
rísticas, as respostas esperadas apresentadas pelos organismos e os principais
grupos de bioindicadores, relacionando ainda o conceito dos bioindicadores ao
estudo dos estressores ambientais.
Para tanto, foram abordados conceitos, condições e origem natural ou an-
tropogênica, focando nos agentes estressores hidrológicos. Uma vez que está
relacionado com os tópicos estudados, ao final desta unidade, aprendeu-se ain-
da sobre o gerenciamento de resíduos tóxicos de laboratórios a partir da análise
das etapas do programa de gerenciamento de resíduos e das legislações relacio-
nadas a esse tema.

ANÁLISE AMBIENTAL 68

SER_FARMA_ANAMBI_UNID2.indd 68 05/05/2021 13:48:18


Referências bibliográficas
ALMEIDA, M. F. C. Boas práticas de laboratório. 2. ed. São Caetano do Sul: Difu-
são Editora, 2013.
CAIRNS JR., J.; PRATT, J. R. A history of biological monitoring using benthic
macroinvertebrates. In: ROSENBERG, D. M.; RESH, V. H. (Eds.). Freshwater
biomonitoring and benthic: macroinvertebrates. Londres: Chapman &
Hall, 1993.
CAIRNS JR., J.; McCORMICK, P. V.; NIEDERLEHNER, B. R. A proposed framework
for developing indicators of ecosystem health. Hydrobiologia, Bruxelas, n. 263,
p. 1-44, 1993. Disponível em: <https://www.napawatersheds.org/img/mana-
ged/Document/3508/Cairns%20et%20al%20-%201993%20-%20A%20propo-
sed%20framework%20for%20developing%20i.pdf>. Acesso em: 02 mar. 2021.
CETESB – COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Manual de ge-
renciamento de áreas contaminadas. 2. ed. São Paulo: CETESB; Alemanha:
GTZ, 2001. (Projeto de Cooperação Técnica Brasil – Alemanha).
CIENTISTAS estudam plantas e bichos como bioindicadores das Mudanças
Climáticas. Postado por TV Cultura. (4min. 42s.). son. color. port. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=HPf7OCN-Rs0>. Acesso em: 02 mar. 2021.
ECYCLE. Poluição da água: tipos, causas e consequências. [s.l.], jan. 2015. Dispo-
nível em: <https://www.ecycle.com.br/2945-poluicao-da-agua.html>. Acesso em:
02 mar. 2021.
FERREIRA, I. Comportamento de peixes é bioindicador para risco ambiental. Jor-
nal da USP, São Paulo, 02 jan. 2018. Disponível em: <https://jornal.usp.br/cien-
cias/ciencias-ambientais/comportamento-de-peixes-e-bioindicador-para-risco-
-ambiental/>. Acesso em: 02 mar. 2021.
HELLAWELL, J. M. Biological indicators of freshwater pollution and environ-
mental management. Nova York: Elsevier, 1986.
LORETTO, D.; DELCIELLOS, A. C. Estresse ambiental: doença do século 21 ou pro-
cesso natural? Ciência Hoje, Rio de Janeiro, v. 42, n. 247, p. 28-44, abr. 2008.
OGA, S.; CAMARGO, M. M. A.; BATISTUZZO, J. A. O. Fundamentos de toxicologia.
4. ed. São Paulo: Atheneu Editora, 2014.
SISINNO, C. L. S.; OLIVEIRA FILHO, E. C. Princípios de toxicologia ambiental. Rio
de Janeiro: Interciência, 2013.

ANÁLISE AMBIENTAL 69

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TECNOHIDRO. Avaliação de risco ecotoxicológico. São Paulo, maio 2006. Dis-
ponível em: <http://tecnohidro.com.br/portfolio-posts/avaliacao-de-risco-eco-
toxicologico/>. Acesso em: 02 mar. 2021.

ANÁLISE AMBIENTAL 70

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UNIDADE

3 ANÁLISES
AMBIENTAIS
E QUALIDADE
AMBIENTAL

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Objetivos da unidade

Explicar a importância das análises ambientais para a manutenção da


qualidade ambiental;

Descrever os métodos de avaliação e controle de poluentes nos


compartimentos ambientais (solo, água e atmosfera);

Conceituar os fundamentos químicos das metodologias abordadas.

Tópicos de estudo
Análises químicas e a manuten- Volumetria de complexação
ção da qualidade ambiental Determinação do ferro e alumínio
Volumetria trocável do solo por volumetria de
complexação
Volumetria de neutralização Análise do teor de magnésio e
Análise de acidez potencial do cálcio no solo por volumetria de
solo por volumetria de neutralização complexação
Determinação de alumínio Determinação do tipo de acidez
trocável do solo por volumetria de do solo
neutralização
Análise das águas e determinação
da acidez das águas
Bioacumulação do ácido benzoico
no organismo e determinação do
coeficiente de partição
Remoção de compostos orgâni-
cos voláteis (COVs) pelo carvão ativo

ANÁLISE AMBIENTAL 72

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Análises químicas e a manutenção da qualidade ambiental
A manutenção da qualidade ambiental está intimamente relacionada com
a integridade ecossistêmica e com a saúde humana. Os processos de ava-
liação, monitoramento e gerenciamento do risco ambiental são necessários
devido à poluição dos compartimentos aquáticos, terrestres e atmosféricos.
Tais processos envolvem a utilização de análises físicas, químicas e biológicas,
que qualificam e/ou quantificam o risco ou o dano e fornecem as alternativas
para recuperação.
É comum que profissionais responsáveis por análises ambientais não con-
siderem necessário conhecer a fun-
damentação química das análises.
Muitas vezes, acredita-se que o co-
nhecimento das etapas de execução
da metodologia ou a solicitação da
análise e interpretação dos resultados
possa ser o bastante. O que, sem dú-
vida, trata-se de um pensamento er-
rôneo. Subestimar a importância dos
fundamentos dificulta a visualização
dos processos físico-químicos envolvi-
dos nas análises e a interpretação e resolução de problemas que possam vir a
surgir, assim como facilita a ocorrência daqueles resultantes da própria condu-
ção do método no laboratório. Ademais, uma vez que a escolha do método se
dá em função do tipo de problema ambiental, a interpretação dos resultados
somente será realizada com eficiência após conhecimento e compreensão da
metodologia empregada.
Nesse sentido, torna-se imprescindível o domínio dos métodos e dos funda-
mentos químicos que os embasam para que haja um bom desempenho indivi-
dual e coletivo dos profissionais e das equipes responsáveis pelos estudos de
qualidade ambiental que envolvem a avaliação do risco causado pela poluição.
Tendo em vista essa necessidade, estudaremos aspectos teóricos e práticos
de algumas das principais metodologias de avaliação e controle de poluentes
ambientais que têm como fundamento alguns parâmetros químicos.

ANÁLISE AMBIENTAL 73

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Volumetria
A análise volumétrica baseia-se na aplicação de uma reação química entre
um material ou uma substância que se deseja determinar (analito) e o volume
gasto de um reagente-padrão. Basicamente:
mA + nR↔Am Rn
Onde:
A = analito;
R = reagente-padrão.
Nas determinações volumétricas, o reagente-padrão R é adicionado pro-
gressivamente sobre a amostra até chegar a um ponto final, em que todo A foi
transformado em Am Rn.
A quantidade do analito A é calculada a partir do volume de reagente R ne-
cessário para reagir de forma equivalente (LIMA; NEVES, 2015).
O processo de adição de quantidades conhecidas de reagente denomina-se
titulação (Figura 1). Em química, chama-se solução-padrão aquela feita com
o reagente de concentração conhecida na qual se baseia a titulação, a qual se
tem conhecimento da molaridade real (concentração em mol/L-1).

200 ml

Titulante Titulação Titulado

Figura 1. Esquema de uma titulação. Fonte: LIMA; NEVES, 2015, p. 51. (Adaptado).

O reagente ou solução-padrão é conhecido como titulante, e o analito é


chamado de titulado. É esperado que, ao final de uma reação de titulação,
ocorra na solução uma mudança brusca de alguma propriedade observável.
Há casos em que essa propriedade só será constatada pelo uso um indicador

ANÁLISE AMBIENTAL 74

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(Tabela 1) de ação visual ou físico-química. Os indicadores são substâncias quí-
micas que nos mostram as variações de pH devido a alterações de coloração.
A escolha do indicador irá depender da análise, mas ele está disponível em
praticamente todas as faixas de variação do pH (0-14).

TABELA 1. FAIXAS DE VARIAÇÃO DE PH E SOLUÇÕES INDICADORAS

Indicador Faixa de pH Cor em meio ácido Cor em meio básico

Alaranjado de metila 3,1 a 4,6 Vermelho Laranja

Verde de bromocresol 3,8 a 5,4 Amarelo Azul

Vermelho de metila 4,4 a 6,2 Vermelho Amarelo

Tornassol 4,5 a 8,3 Vermelho Azul

Azul de bromotimol 6,0 a 7,6 Amarelo Azul

Vermelho cresol 7,2 a 8,8 Amarelo Vermelho

Vermelho fenol 6,8 a 8,4 Amarelo Vermelho

Azul de timol 8,0 a 9,6 Amarelo Azul

Fenolftaleína 8,2 a 9,8 Incolor Vermelho

Timolftaleína 9,3 a 10,5 Incolor Azul

Amarelo alizarina 10,1 a 11,1 Amarelo Lilás

Fonte: PIVELI; KATO, 2006, p. 5. (Adaptado).

A solução titulante é colocada em uma bureta, na qual se controla a va-


zão para liberar lentamente o analito, que deverá estar contido em quantidade
conhecida no interior de um erlenmeyer. A adição é interrompida quando os
reagentes se equivalem, sendo isto percebido por um indicador adicionado ao
analito. O momento em que os reagentes se equivalem é chamado
de ponto de equivalência.
Resumidamente, o método volumétrico é realizado
pela quantificação do volume gasto por uma solu-
ção que tenha concentração conhecida para rea-
gir com outra de concentração desconhecida, em
um processo de adição gota a gota, denominado
titulação (SILVA, 2018).

ANÁLISE AMBIENTAL 75

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De acordo com Silva (2018), para alcançar a concentração apresentada pela
do analito em análise, considera-se a normalidade:
nº eq · g
N= (1)
V
Sendo a normalidade (N) definida como o número de equivalentes-grama
(nº eq . g) contido no volume (V ), expresso em litro.
Ou, também expressa como:
nº eq · g = V · N (2)

Pode-se inferir que, no final da titulação, o nº eq . g da substância reagente


será igual ao da substância em estudo, em razão das reações químicas processa-
rem-se em igualdade de nº eq . g. Assim, no ponto de equivalência, tem-se que:
nº eq . g(solução 1) = nº eq . g(solução 2)
Assim, conclui-se que:
V · N(solução 1) = V · N(solução 2)
Que equivale a:
V1 · N1 = V2 · N2 (3)
Nesse momento, obtemos a chamada equação fundamental da volumetria
e podemos calcular a concentração da solução em estudo.
O tipo de reação química que ocorre definirá a escolha do método volumétri-
co a ser escolhido. Existem quatro métodos principais:
• Volumetria de neutralização;
• Volumetria de complexação;
• Volumetria de óxido-redução;
• Volumetria de precipitação.
Vamos estudar mais a fundo as duas primeiras metodologias.

Volumetria de neutralização
A reação de titulação denominada volumetria de neutrali-
zação – ou volumetria ácido-base, alcalimetria ou acidime-
tria – é uma metodologia muito utilizada em química ana-
lítica, que tem como objetivo a quantificação de ácidos ou
bases em soluções. Por exemplo:

ANÁLISE AMBIENTAL 76

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H+ + OH- ↔ H2O
H+ + A - ↔ HA
B + OH- ↔ BOH
+

Se um ácido é a solução titulante e a solução a ser titulada é uma base,


chamaremos de acidimetria. Se a solução titulante é uma base, enquanto a
solução a ser titulada é um ácido, chamaremos a reação de alcalimetria.
No caso da volumetria de neutralização, o ponto de equivalência (ou pon-
to estequiométrico, ou ponto final) ocorre quando a quantidade de mols de
ácido e base é igual. Nesse ponto, a reação cessa e a solução titulada está
neutralizada.
Podemos interpretar o ponto de equivalência da seguinte forma:
nácido = nbase
Se n é o número de mols, sabemos que:
n=M·V (4)
Onde:
M é molaridade;
V corresponde ao volume da solução ácida ou básica.
Sabendo-se da necessidade de uma solução titulante e de uma solução a
ser titulada em que uma será um ácido (a) e a outra será uma base (b), pode-se
inferir que:
na = Ma · Va e nb = Mb · Vb
Seguindo o proposto na equação fundamental da volumetria, tem-se
que o ponto de equivalência entre o ácido e a base será:
Ma · Va = Mb · Vb (5)
Assim, a concentração da solução a ser titulada será determinada utilizando
a equação anterior.
É necessário utilizar um indicador ácido-base que
nos revele o ponto de equivalência. Os indicadores,
nesse caso, são ácidos ou bases orgânicas fracas em
que a cor do respectivo par conjugado se diferen-
cia da forma ácida ou básica (LIMA; NEVES, 2015). A
fenolftaleína é um dos indicadores ácido-base mais co-
mumente utilizados. Ela se apresenta incolor na forma ácida e com
tom róseo na forma básica.

ANÁLISE AMBIENTAL 77

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Análise de acidez potencial do solo por volumetria de
neutralização
Essa metodologia refere-se aos íons H+ e Al3+ que estão retidos na superfície
dos coloides do solo por forças eletrostáticas. São análises fundamentais para
avaliar a capacidade de troca catiônica (CTC) a pH 7,0 e a saturação de bases (V),
que são parâmetros que auxiliam na avaliação da qualidade e da fertilidade
do solo para plantios agrícolas e recuperação de áreas degradadas.
A metodologia para a análise de acidez potencial do solo por volumetria de
neutralização será apresentada de acordo com o proposto por Silva (2018) e
Silva (2009).
Resumidamente, na análise da acidez potencial do solo a utilização do ace-
tato de cálcio como reagente-padrão baseia-se no poder tampão do ânion ace-
tato desse sal na presença dos cátions H+ e Al3+. Uma vez finalizada a titulação
alcalimétrica, com pH ajustado em 7, haverá a extração dos íons que caracteri-
zam acidez (SILVA, 2009).
A metodologia divide-se em quatro etapas principais:
• 1ª etapa – extração:
• Secar ao ar as amostras de solo coletadas no local de interesse, destor-
roar e passar em peneira de 20 cm de diâmetro e malha de 2 mm (terra
fina seca ao ar - TFSA);
• Transferir 10 mL de TFSA para um erlenmeyer de 125 mL e adicionar
100 mL de solução de acetato de cálcio 1 N, pH 7;
• Agitar por 30 minutos em agitador horizontal circular e, após agitação,
deixar em repouso por uma noite em frascos tampados.
• 2ª etapa – determinação:
• Pipetar 25 mL do líquido sobrenadante obtido e colocar em erlenmeyer
de 125 mL;
• Adicionar três gotas de fenolftaleína a 1% e titular com solução de
NaOH 0,025 N até a mudança na coloração, de incolor para levemente
rósea. Anotar o volume gasto na bureta (La).
• 3ª etapa – prova em branco:
• Transferir 25 mL da solução de acetato de cálcio 1 N, pH 7, para um
erlenmeyer de 125 mL;

ANÁLISE AMBIENTAL 78

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• Adicionar três gotas de fenolftaleína e titular com NaOH 0,025 N até
mudança na coloração, de incolor para levemente rósea. Anotar o volu-
me gasto na bureta (Lb).
• 4ª etapa – determinação do fator de correção da solução de NaOH:
• Transferir 10 mL de solução 0,025 N de biftalato de potássio para um
erlenmeyer de 125 mL e adicionar três gotas de fenolftaleína;
• Titular com a solução de NaOH 0,025 N e anotar o volume gasto (V).
A acidez potencial existente na amostra é obtida pela expressão abaixo:
Teor de H+ + Al3+ (cmolcdm-3) = (La – Lb) · fNaOH (6)
Onde:
La = volume gasto (mL) de titulante na determinação com extrato;
Lb = volume gasto (mL) de titulante na prova em branco;
fNaOH = fator de correção da concentração da solução de NaOH.
O fator será dado pela expressão:
10
fNaOH = (7)
V
Onde:
V = volume gasto na titulação.

DICA
Para saber mais sobre formas de coleta de amostra de
solo, recomendamos que assista ao vídeo Epagri: coleta de
amostra de solo para análise – Como fazer, e leia o material
Como retirar amostras de solo, do Instituto Agronômico
(IAC) de São Paulo.

Determinação de alumínio trocável do solo por volumetria


de neutralização
A análise do teor de alumínio trocável é relevante quando se quer avaliar a
capacidade de troca de cátions (CTC) efetiva em alumínio. Em algumas regiões do
Brasil, o teor de Al trocável no solo é utilizado como referência na correção da aci-
dez do solo, ou seja, para o cálculo da quantidade de calcário que será necessário

ANÁLISE AMBIENTAL 79

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aplicar no solo para diminuir a acidez (KAMPRATH, 1970). Assim, auxilia na imple-
mentação da qualidade do solo, pois permite a correção do pH a faixas ideais para
o desenvolvimento das plantas e dos macro e micro-organismos do solo.
A metodologia para a análise do alumínio trocável no solo por volumetria
de neutralização será apresentada de acordo com o proposto por Silva (2018):
• 1ª etapa – extração:
• Colocar 10 mL de TFSA em erlenmeyer de 250 mL e adicionar 100 mL
de KCl 1N, pH 7;
• Agitar durante 30 minutos em agitador horizontal circular;
• Remover o erlenmeyer do agitador e manter em repouso durante uma
noite em frascos vedados;
• Pipetar 25 mL do mesmo extrato obtido durante a extração para de-
terminação de cálcio e magnésio e colocar em erlenmeyer de 125 mL.
• 2ª etapa – determinação:
• Adicionar três gotas do indicador fenolftaleína a 1% e titular com
NaOH 0,025 N, até observar mudança na coloração, de incolor para
levemente rósea;
• Registre o volume utilizado na bureta.
O teor de alumínio trocável na amostra é dado pela igualdade:
Teor de Al3+ (cmolc /dm3) = mL de NaOH utilizado na bureta

Análise das águas e determinação da acidez das águas


A análise da água pode ter como objetivos a avaliação de parâmetros micro-
biológicos e/ou físico-químicos. Esses parâmetros podem nos indicar o grau de
poluição ou a potabilidade da água. A Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de
2011, dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade
da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade; e a Resolução
do CONAMA nº 357, de 2005, dispõe sobre a classificação dos corpos de água
e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as
condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Es-
ses documentos públicos devem ser consultados sempre que seja necessário
saber os padrões máximos e mínimos que classificarão a água para consumo
humano, bem como as diretrizes ambientais.

ANÁLISE AMBIENTAL 80

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As análises microbiológicas das águas têm como objetivo fornecer informa-
ções sobre a sua potabilidade, isto é, informar se há risco quando ingerida pelo
ser humano em razão da ingestão de micro-organismos causadores de doenças.
Os micro-organismos contaminantes de água geralmente são oriundos de con-
taminações por fezes e esgotos não tratados. Os micro-organismos patogênicos
comumente encontrados em água contaminada são as bactérias, os protozoários
e os helmintos, além de diversas cepas causadoras de doenças virais.
Incluem-se nas análises microbiológicas os coliformes totais, coliformes ter-
motolerantes, contagem de bactérias heterotróficas, Escheriquia coli etc.
As análises físico-químicas das águas também possuem relação com a verifi-
cação de sua qualidade. As análises podem ser selecionadas de acordo com o mé-
todo analítico. Nesse contexto, de acordo com Parron, Muniz e Pereira (2011), po-
demos agrupar as análises físico-químicas das águas em quatro grupos principais:
• Análises físicas: utilizam como técnicas de base a espectroscopia, espectro-
metria, turbidimetria, entre outras. Essas técnicas são baseadas no uso das pro-
priedades físicas das substâncias químicas que se deseja separar ou quantificar;
• Análises químicas: utilizam como técnicas de base a titulometria, volume-
tria, gravimetria, combustão, entre outras. Para separação e quantificação do ana-
lito, essas técnicas se baseiam nas propriedades químicas das substâncias;
• Análises eletroquímicas: utilizam como técnicas de base a potenciometria,
condutometria, entre outras. Para quantificação do analito, essas técnicas medem
as voltagens ou fluxos de corrente associados a transformações químicas;
• Análises cromatográficas: tem como fundamento a separação das substân-
cias por métodos químicos e físicos de detecção e quantificação. São exemplos os
detectores de massa ou UV/Vis.
Os principais métodos adotados são titulometria,
colorimetria, turbidimetria, potenciometria, con-
dutividade elétrica, cromatografia, espectrofo-
tometria ou combustão. Vale ressaltar que uma
mesma análise poderá ser utilizada para se obter
o mesmo parâmetro, mas a decisão dependerá do
objetivo da análise e da precisão desejada, e deve-
rão ser considerados fatores como precisão, acuracidade, sensibili-
dade, repetibilidade, segurança e custo.

ANÁLISE AMBIENTAL 81

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Nas análises físico-químicas, incluem-se alcalinidade total, gás carbônico
livre, pH, cloretos, cloro residual livre, cor, alumínio, turbidez, dureza, tempe-
ratura, fluoretos, ensaio de coagulação, determinação do teor de cloro ativo,
oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, sólidos totais dissolvidos, carbono
orgânico total, demanda biológica e química de oxigênio (DBO, DQO), fósforo
total, fosfatos, série nitrogenada, cálcio e magnésio, sódio e potássio, cloretos,
sulfato de ferro e manganês.

DICA
Para aprender sobre como decidir o planejamento, os
locais, os métodos, os equipamentos de amostragem de
água de acordo com o objetivo da análise, acesse à Diretriz
Nacional do plano de amostragem da vigilância da quali-
dade da água para consumo humano (BRASIL, 2016) e ao
Guia nacional de coleta e preservação de amostras (ANA;
CETESB, 2011).

Acidez das águas define-se como a reação quantitativa entre a molécula de


água e outra substância (base forte, ácido fraco ou sal com caráter ácido) em
um valor de pH definido (PIVELI; KATO, 2006).
O CO2 dissolvido e a oxidação de sulfetos são frequentemente relacionados
à acidez das águas naturais. Eles resultam em acidez de acordo com as seguin-
tes reações químicas:
CO2 + H2O ↔ H2CO3
2S° + 3O2 + 2H2O → 2H2SO4
FeS + 3½O2 + H2O → FeSO4 + H2SO4
O controle da acidez das águas é importante, pois auxilia em estudos de
corrosão, que pode ser causada pelo CO2 dissolvido e pelos ácidos minerais
presentes em efluentes industriais. O parâmetro “acidez” não se caracteriza,
apesar de sua importância, em nenhum tipo de padrão, seja de potabilidade,
de classificação das águas naturais ou de emissão de esgotos. O efeito da aci-
dez é controlado pelo valor do pH (PIVELI; KATO, 2006).
A determinação da acidez das águas consiste em uma titulação por volu-
metria de neutralização ácido-base, com final estimado por potenciometria ou
colorimetria.

ANÁLISE AMBIENTAL 82

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• Procedimento:
• Colocar no erlenmeyer (de 250 mL) 100 mL da amostra de água, medi-
dos em uma proveta.
• Por potenciometria:
• Imergir o eletrodo do potenciômetro na amostra de água, para indicar
a acidez potenciometricamente;
• Anotar os volumes gastos de NaOH (0,02 mols L-1) quando atingir pH
de 8,3 e 4,5.
A acidez será dada pela igualdade:
Acidez total (mg de CaCO3 L-1) = volume gasto de NaOH em pH 8,3
• Por indicação colorimétrica:
• Adicionar três a quatro gotas de fenolftaleína;
• Titular com NaOH (0,01 N) até o ponto de viragem (cor rósea);
• A titulação deve permanecer na cor rósea por, no mínimo, 30 segundos.
Vale observar que a cor rósea na água indica acidez nula.
A determinação do pH, ou seja, a determinação dos íons H+ presentes na
solução, também é muito relevante, pois exerce influência direta nos ecossis-
temas aquáticos e na fisiologia dos seres vivos. Nos processos de tratamento
e nas rotinas laboratoriais das estações de tratamento, ele deve ser medido e
ajustado sempre que necessário para melhorar o processo de coagulação e
floculação da água, bem como o controle da desinfecção (FUNASA, 2013).
O valor do pH da água – e de todos os outros analitos – varia de 0 a 14: um
valor de pH da água em 7 indicará neutralidade,
valores de pH abaixo de 7 serão considerados
ácidos e valores acima de 7 serão classifi-
cados como básicos (alcalinos). Em geral,
águas naturais possuem faixas de pH
entre 4 e 9. Devem ser evitadas condi-
ções de acidez da águas nos sistemas de
distribuição, segundo a Portaria nº 2.914, de
12 de dezembro de 2011, e o pH da água deve
ser mantido na faixa de 6,0 a 9,5.
Vejamos sobre a determinação do pH (FUNASA, 2013) da água
por titulação por meio da utilização de um potenciômetro:

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• 1ª etapa – preparo do equipamento:
• O potenciômetro deve ser acionado 30 minutos antes do uso;
• Os eletrodos devem ser lavados e secos com água destilada;
• Calibrar o potenciômetro com as soluções padrão pH 4 e 7;
• Enxaguar os eletrodos antes e depois de calibrar o aparelho.
• 2ª etapa – determinações do pH:
• Colocar os eletrodos em contato com a amostra a qual se deseja aferir
pH e proceder com a leitura;
• Enxaguar os eletrodos e deixá-los imersos em água destilada;
• Desligar o aparelho.
O valor do pH será dado por:
pH = valor registrado pelo potenciômetro

Bioacumulação do ácido benzoico no organismo e


determinação do coeficiente de partição
O ácido benzoico (C7H6O2) é um ácido carboxílico aromático de consistência só-
lida incolor cristalina, que pode também ser chamado de ácido fenil fórmico, ácido
benzenocarboxílico ou ácido dracílico (Figura 2). Ele é encontrado na natureza na
forma pura ou combinado com outras moléculas (OLIVEIRA; REIS, 2017).

OH

Figura 2. Fórmula estrutural do ácido benzoico.

O ácido benzoico foi descoberto muito antes de sua síntese industrial. Quando
passou a ser produzido industrialmente, foi utilizado, primeiramente, como conser-
vante de alimentos e, posteriormente, passou a ter uso farmacológico em medi-
camentos e cosméticos. Desde então, o uso do ácido benzoico só passou a crescer.
Atualmente, sua utilização tem ocorrido para substituir os plastificantes de ftalato.

ANÁLISE AMBIENTAL 84

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Industrialmente, o ácido benzoico é uma matéria prima de grande relevância,
produzido pela reação de oxidação do tolueno na presença de metais pesados
como o cobalto e sais de manganês como catalisadores (OLIVEIRA; REIS, 2017).
O fenol é o principal produto industrial do ácido benzoico, mas outros exem-
plos de uso também em indústrias químicas, farmacêuticas, cosméticas e ali-
mentícias podem ser citados. Dentre eles:
• Como reagente, em diversas reações de síntese química;
• Na produção de agentes plastificantes (ésteres de benzoato glicólico);
• Na síntese intermediária de nylon (produção de caprolactama).
Observe o Diagrama 1 para entender melhor as etapas industriais da utiliza-
ção do ácido benzoico.

DIAGRAMA 1. ETAPAS DE OBTENÇÃO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS INDUSTRIAIS


DO ÁCIDO BENZOICO

Fenol

Conservantes Benzoato de sódio ÁCIDO BENZOICO Dibenzoatos glicólicos Plastificantes

Copralactama

Nylon 6

Fonte: OLIVEIRA; REIS, 2017, p. 2681. (Adaptado).

O monitoramento de concentração de substâncias com potencial poluidor


complementa o controle ambiental e a vigilância à saúde, pois quan-
tifica a exposição global do indivíduo e detecta efeitos precoces e
reversíveis, permitindo que o risco seja estimado com
maior eficácia.
O ácido benzoico, além de ser um potencial po-
luidor ambiental, pode apresentar efeito tóxico para
os seres vivos incluindo o ser humano. O risco humano

ANÁLISE AMBIENTAL 85

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está relacionado a altas exposições ao ácido benzoico quando incluem pessoas
sensíveis à aspirina ou com histórico de doença hepática. Em geral, essas pes-
soas apresentaram irritação gastrointestinal, asma, erupções cutâneas e irri-
tação dos olhos e das membranas mucosas (OLIVEIRA; REIS, 2017). Por essas
razões, as concentrações desse ácido nos compartimentos ambientais devem
ser monitoradas.
Os indicadores biológicos de exposição, que podem ser os próprios compostos
químicos estranhos ou seus metabólitos em amostras biológicas dos indivíduos
expostos, permitem o monitoramento de poluentes. Observa-se se os níveis en-
contrados permanecem dentro dos índices biológicos máximos permitidos, que
são determinados por meio de estudos epidemiológicos, experimentais e de ca-
sos clínicos (BULCÃO, 2008).
Nesse sentido, para monitoramento biológico do tolueno, um solvente lar-
gamente utilizado em produtos diversos que pode ocasionar o aparecimento de
vários efeitos nocivos, utiliza-se a análise das quantidades do ácido hipúrico na
urina, metabólito não específico do tolueno. O ácido hipúrico, que é proveniente
do ácido benzoico, é substância normalmente encontrada na urina de não expos-
tos a esse solvente, sendo, então, um bioindicador de contaminação por tolueno.
A metodologia para a análise da bioacumulação do ácido benzoico, que deter-
mina o coeficiente de partição desse material, será apresentada de acordo com o
proposto por Vieira e colaboradores (2006):
• Procedimento:
• Em um funil de separação, transferir 25 mL de água e 25 mL de hexano;
• Pesar 1,2 g de ácido benzoico;
• Transferir o ácido benzoico para o funil;
• Manter em agitação por 8 minutos;
• Aguardar a formação de duas fases no funil de separação;
• Transfira a fase aquosa (inferior) para um béquer, desprezando a cama-
da entre a fase aquosa e a orgânica;
• Retirar toda a fase aquosa (inferior) de forma que a fase orgânica fique
no funil;
• Pipetar uma alíquota de 5 mL da fase aquosa em um erlenmeyer;
• Adicionar ao erlenmeyer 25 mL de água e uma gota de fenolftaleína;
• Aquecer até a ebulição;

ANÁLISE AMBIENTAL 86

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• Titular com solução de NaOH (0,1 N) até que se observe o ponto de viragem;
• Anotar o volume consumido;
• No funil de separação, pipetar uma alíquota de 3 mL da fase orgânica
para um erlenmeyer;
• Adicionar ao erlenmeyer 25 mL de água e uma gota de fenolftaleína;
• Manter sob aquecimento até a ebulição;
• Titular com solução de NaOH (0,1 N) até que se observe o ponto de
viragem;
• Anotar o volume consumido.
Vale ressaltar que, nas duas titulações dessa metodologia, no ponto de vira-
gem, espera-se visualizar a cor rósea.
A concentração do ácido benzoico será dada por:
Meq = M ÷ PM (8)
Então:
M = Meq · PM (9)
Se
Meq = V · F ·V (10)
Sabe-se que:
Mfase = V · N · F · PM (11)
Onde:
Meq = miliequivalente;
M = molaridade;
PM = peso molecular do ácido benzoico;
V = volume do NaOH gasto na titulação;
F = fator de correção do NaOH;
N = normalidade do NaOH.
Vale apontar que as concentrações devem ser calculadas em mol/L-1. Para
isso, considere o V em mL por 1000 mL, ou seja, para um consumo de NaOH de
1,8 mL na titulação, o V = 1,8/1000 = 0,0018.
O coeficiente de partição (K) será dado por:
K = Maq ÷ Morg (12)
Onde:
Maq = molaridade da fase aquosa;
Morg = molaridade da fase orgânica.

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Remoção de compostos orgânicos voláteis (COVs)
pelo carvão ativo
Os COVs (ou VOCs, sigla em inglês) são compostos de carbono que parti-
cipam de reações fotoquímicas no compartimento atmosférico. De acordo
com a Resolução CONAMA nº 382/2006, os COVs são “poluentes que não
possuem característica química definida, são definidos como compostos or-
gânicos que possuem ponto de ebulição até 130 °C na pressão atmosférica
e podem contribuir na formação de oxidantes fotoquímicos”.
É um subgrupo de compostos orgânicos que volatilizam a temperatura
ambiente e pressão atmosférica nor-
mal. Podem ser classifi cados nos se-
guintes grupos: alcanos, alcenos, al-
deídos, cetonas, ácidos carboxílicos,
éteres, álcool, nitratos de peroxiacil,
hidrocarbonetos aromáticos e hidro-
carbonetos biogênicos (GUIMARÃES,
2016). Eles podem ser emitidos por
fontes naturais (plantas, oceanos,
atividades microbianas etc.) e por
fontes antropogênicas (em processos industriais, durante processos de
queima e refinamento de petróleo etc.).
Existem diversos métodos de controle disponíveis para reduzir a emissão
de COVs. Eles baseiam-se na remoção, destruição ou remoção do composto
antes ou depois de ser lançado para a atmosfera. Os métodos de controle
que conseguem reduzir as emissões dos COVs no local em que são gerados,
antes que sejam emitidos para a atmosfera, são os métodos de controle
por remoção ou destruição. O método de destruição elimina o COV por
incineração. Já nos métodos de controle por remoção temos os processos
de absorção em carvão ativado ou em via úmida ou seca. Existe também o
método baseado na biodegradação de COVs, ou seja, o controle biológico
por biofiltros. O ar com poluentes passa pelo biofi lme, que contém micro-
-organismos ativos, e fi ca adsorvido no suporte. O Diagrama 2 esquematiza
as técnicas de tratamento de controle de emissão atmosférica de COVs.

ANÁLISE AMBIENTAL 88

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DIAGRAMA 2. MÉTODOS DE TRATAMENTO E CONTROLE DE EMISSÃO DE COVS

Tecnologias de controle de emissão de COVs

Biológica Destruição Remoção

Incinerador Incinerador Absorção Absorção Adsorção com


Biofiltro
térmico catalítico via úmida via seca carvão ativado
Fonte: KHAN; GHOSHAL, 2000, p. 527. (Adaptado).

Vamos estudar mais a fundo o método de tratamento e controle de emis-


são de COVs por adsorção em carvão ativo, que é um método de controle
de emissão muito comum.
Por meio do processo de adsorção é feita a retirada dos COVs presen-
tes nas fontes de emissão, geralmente em estado gasoso, para o carvão
ativado, material em estado sólido com elevada porosidade e capacidade
adsorvente. O carvão ativado é um ótimo adsorvente, por ser um material
sólido, de superfície heterogênea (geométrica e química), altamente poroso
e com grande área de superfície específica (KHAN; GHOSHAL, 2000). A capa-
cidade de adsorção do carvão para um determinado tipo de COV é determi-
nada pela isoterma de adsorção do carvão ativo, pela concentração na fonte
emissora e pela presença de outros COVs. O uso do carvão ativo como ma-
terial adsorvente de COVs pode ser vantajoso do ponto de vista ambiental e
econômico porque esse material pode ser reutilizado quando submetido à
recuperação em processos regenerativos.
A adsorção remove poluentes atmosféricos em forma de gases e vapores
que estão em baixas concentrações, por isso, são caracterizados como pro-
cessos seletivos. O tipo de sistema será mensurado nas fontes de emissão
de acordo com a quantidade e a concentração de COVs lançada.
Os equipamentos de remoção por carvão ativo serão dimensionados
dependendo da quantidade de COVs emitidos, sendo chamados de adsor-
vedores e podem ser de leito único ou múltiplo, fixo ou móvel (LISBOA;
SCHIRMER, 2007). A Figura 3 mostra um sistema duplo de adsorvedor de
leito fixo de carvão ativo.

ANÁLISE AMBIENTAL 89

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Entrada d’água
Saída d’água

Filtro de
particulados
Tanque Tanque
carvão carvão
ativado ativado

Saída de gás limpo

Figura 3. Adsorvedor de leito fixo de carvão ativado. Fonte: LISBOA; SCHIRMER, 2007, p. 58. (Adaptado).

O carvão ativado não é utilizado somente na remoção de COVs, mas, em


geral, seu uso é decorrente da elevada capacidade de sorção que ele apre-
senta em contanto com outras substâncias, principalmente as mais reati-
vas. Ele possui diversos usos:
• Tratamento de água por filtração;
• Tratamentos de envenenamentos e overdoses;
• Remoção de metais;
• Remoção de vapores de óleos;
• Remoção de odores;
• Descoloração de soluções;
• Remediação de solos.

DICA
Para saber mais sobre a metodologia de um tipo de amos-
tragem de COVs, além de conhecer uma discussão muito
rica sobre diversos COVs precursores do ozônio, como o
formaldeído, acetaldeído, tolueno, propeno, entre outros,
leia o artigo chamado “Estudos dos compostos orgânicos
voláteis precursores de ozônio na cidade de São Paulo”
(ALVIM e colaboradores, 2011).

ANÁLISE AMBIENTAL 90

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O método de remoção de compostos orgânicos voláteis
(COVs) pelo carvão ativo tem como objetivo quantificar a
adsorção do ácido acético pelo carvão ativado quando em
temperatura ambiente. Para isso, utilizaremos as informa-
ções da CETESB (2006) e Atkinson (2000):
• Procedimento:
• Limpe e reserve quinze erlenmeyers de 250 mL;
• Enumere cinco dos quinze erlenmeyers com tampa ou rolha;
• Adicione 5 g de carvão ativo;
• Utilizando uma bureta de 25 mL, acrescente aos erlenmeyers, respei-
tando a ordem de 1 a 5: 25; 15; 7,5; 4; e 2 mL de solução de CH3COOH (0,4 N);
• Utilizando uma bureta, acrescente água aos erlenmeyers com solução
de CH3COOH, respeitando a ordem de 1 a 5, nos seguintes volumes: 25; 35;
42,5; 46; e 48 mL;
• Agite as amostras durante cinco minutos (é importante manter a tem-
peratura constante);
• Filtrar as soluções em papel de filtro em outros cinco erlenmeyers
rotulados;
• Pipete 20 mL do filtrado para outro erlenmeyer;
• Adicione duas gotas de fenolftaleína;
• Titule com NaOH (0,1 N);
• Anotar volume gasto.
Vale ressaltar que, nesse protocolo, os erlenmeyers devem ser manusea-
dos pela parte superior.
Para o cálculo da taxa de adsorção do carvão ativado, considere:
Mi = 0,4 · VCH3COOH ÷ 50 (13)
Onde:
Mi = molaridade do CH3COOH (concentração inicial);
VCH3COOH = volume de CH3COOH em soluções diluídas em água.
Mf = 0,1 · V NaOH ÷ 20 (14)
Onde:
Mf = molaridade do CH3COOH nas soluções após a adsorção em carvão
ativado (concentração final);
V NaOH = volume de NaOH gasto na titulação.

ANÁLISE AMBIENTAL 91

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A adsorção (Mads) e a taxa de adsorção (Ta) em cada
solução serão iguais a:
M ads = Mi - Mf (15)
Ta (%) = 100 · M ads ÷ Mi (16)

Volumetria de complexação
Nas titulações por volumetria de complexação ocorre uma reação entre
um reagente-padrão, chamado de agente ligante, e um analito. O produto
final da reação é um complexo.
• Agente ligante: atua como base de Lewis (íons ou moléculas) doando
um par de elétrons;
• Analito: íon que aceita o par de elétrons por possuir orbital livre.
Então, dizemos que as reações de complexação envolvem um íon me-
tálico (M) reagindo com um ligante (L) para formar um composto ML, da
seguinte forma:
M + L ↔ ML
São exemplos dessas reações:
2CN + Ag + ↔ [Ag(CN) 2 ] -
Hg 2+ + 2Cl - ↔ HgCl2
Nas reações acima, [Ag(CN) 2 ] - e HgCl 2 são exemplos de com-
plexos. Basicamente, uma nova espécie foi formada por um
átomo ou íon central de metal ao qual se ligam outros íons
ou moléculas por ligações coordenadas, que são eletricamente
neutras (LIMA; NEVES, 2015).
O complexante mais utilizado nas volu-
metrias de complexação é o ácido etile-
nodiaminotetracético (EDTA), que con-
figura-se como fraco e possui quatro
hidrogênios ionizáveis e seis sítios ati-
vos. As soluções de EDTA combinam íons
metálicos na proporção 1:1, não importan-
do a carga do cátion, por isso, são particularmente úteis
(LIMA; NEVES, 2015).

ANÁLISE AMBIENTAL 92

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Determinação do ferro e alumínio trocável do solo por
volumetria de complexação
Esta metodologia tem como princípio a determinação por complexome-
tria do ferro (Fe) e do alumínio (Al) no extrato sulfúrico, utilizando como com-
plexantes o EDTA para Fe e, após, o CDTA para Al.
A metodologia para a análise do ferro e alumínio trocável por volumetria
de complexação será apresentada de acordo com o proposto pela EMBRAPA
(1997):
• 1ª etapa – extração por ataque sulfúrico (solubilização de amostras com
H2SO 4 1:1):
• Adicionar 1 g de solo em erlenmeyer de 500 mL;
• Adicionar 20 mL de ácido sulfúrico diluído de 1:1 e ferver por 30 mi-
nutos. Para reduzir perdas por evaporação é preciso usar condensador
de refluxo;
• Deixar a mistura esfriar;
• Adicionar 50 mL de água destilada e filtrar em balão volumétrico de
250 mL;
• Lavar o recipiente com a mistura (solo + ácido sulfúrico) com água até
completar 250 mL;
• Para as determinações de ferro e alumínio será utilizado o extrato
sulfúrico filtrado.
Importante destacar que o erlenmeyer utilizado nessa análise deve ser de
qualidade. Caso tenha dúvidas quanto à qualidade do vidro indicamos o uso
de recipiente de teflon.
• 2ª etapa – determinação do ferro:
• Pipetar 20 mL do extrato e adicionar em um béquer de 300 mL de
forma alta;
• Acrescentar 2,5 mL da solução de HCl + HNO3 1:4, e ferver por alguns
minutos até a cor escura desaparecer;
• A operação deverá ser refeita quando a cor escura não desaparecer;
• Acrescentar 25 a 30 mL de água destilada;
• Usando o potenciômetro, ajustar o pH da solução para 1,5 com solu-
ção de HCl 1:1 e NH4 OH concentrado, caso seja necessário;

ANÁLISE AMBIENTAL 93

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• Adicionar 1 mL da solução de ácido sulfossalicílico (5%) como indicador;
• Aquecer até aproximadamente 60 ºC;
• Titular com solução de EDTA 0,01M (pH a 1,5). O ponto de viragem
será observado com a mudança da cor vermelha para amarela (a rea-
ção é lenta);
• Após a titulação, separar o béquer com a solução, pois ela será utili-
zada na determinação de Al2O3.
O teor de ferro na amostra de solo é dado por:
Fe2O3 (g kg-1) mL EDTA = mL EDTA 0,01M gasto · 10
• 3ª etapa – determinação do alumínio (sempre feita após a quantificação
do Fe2O3):
• Adicionar 10 mL de solução de CDTA (0,01 M) (esperar aproximada-
mente 1 hora), 10 mL da solução tampão de acetato de amônio pH 4,5
(esperar 10 minutos), 50 mL de álcool etílico comercial e 2 mL de solu-
ção de ditizona (0,025%) (recém-preparada);
• Titular o CDTA com solução de sulfato de zinco (0,0156 M), até ponto
de viragem na cor verde-acinzentada para rosa forte (a viragem é nítida
e instantânea).
Destacamos que uma prova em branco deve ser feita separadamente. Deve-se
anotar o volume do sulfato de zinco necessário para reagir com 10 mL do CDTA.
O teor de alumínio na amostra de solo é dado por:
Al2O3 (g kg-1) = (a – b) · 10 (17)
a = mL de ZnSO 4 gasto na amostra;
b = mL de ZnSO 4 gasto na prova em branco.
Este método determina o alumínio e o titânio. Será necessário descontar
o TiO2 obtido pelo método para ter o resultado só de Al2O3.

Análise do teor de magnésio e cálcio no solo por


volumetria de complexação
Faz parte da rotina dos laboratórios de análise do solo a determinação do teor
de cálcio e magnésio trocável. Ambos são elementos importantes para a nutrição
das espécies vegetais, a manutenção da fertilidade do solo e a determinação dos
características físico-químicas relacionadas aos diversos tipos de solo.

ANÁLISE AMBIENTAL 94

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A metodologia para a análise do teor de cálcio e magnésio trocável do solo
por volumetria de complexação será apresentada de acordo com o proposto por
Silva (2018).
• 1ª etapa – extração:
• Colocar 10 mL de TFSA, em erlenmeyer de 250 mL, e adicionar 100 mL
de KCl (1N) pH 7;
• Agitar durante 30 minutos em agitador horizontal circular;
• Retirar o erlenmeyer do agitador e deixar em repouso por uma noite em
frascos tampados.
• 2ª etapa – determinação de Ca2+ + Mg2+:
• Pipetar 25 mL do extrato límpido e sobrenadante, e transferir para er-
lenmeyer de 125 mL;
• Adicionar 4 mL do coquetel constituído de trietanolamina e solução-
-tampão pH 10;
• Três gotas ou uma pitada (de acordo com a forma de preparo) do indica-
dor negro de eriocromo T (EBT);
• Em caso de haver formação de coloração pardo-acinzentada, ao invés
da rósea, devido à interferência de manganês, é preciso acrescentar 1/2
pitada de ácido L-ascórbico, titulando-se em seguida;
• Titular com solução de EDTA (0,025 N) até a viragem de róseo para
azul puro.
O teor de Ca2+ + Mg2+ existente na amostra é dado pela igualdade:
Teor de Ca2+ + Mg2+ (cmolcdm-3) = mL de EDTA gasto na titulação
• 3ª etapa – determinação do Ca2+:
• Pipetar 25 mL do restante do liquido sobrenadante, obtido na extração
de cálcio + magnésio trocáveis, e colocar em erlenmeyer de 125 mL;
• Adicionar 2 mL de solução trietanolamina e 3 mL de solução de KOH (10
%) e uma pitada do indicador murexida;
• Titular com EDTA (0,025 N) ate viragem do róseo para roxo;
• Anotar o volume gasto na bureta.
O teor de Ca2+ existente na amostra é dado pela igualdade:
Teor de Ca2+ cmolcdm-3 = mL EDTA gastos na titulação
O teor de Mg2+ existente na amostra é obtido por diferença:
Teor de Mg (cmolcdm-3) = (Ca2+ + Mg2+) – (Ca2+) (18)

ANÁLISE AMBIENTAL 95

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Determinação do tipo de acidez do solo
Diversos fatores podem acarretar aumento da acidez dos solos. Pode-
mos citar os processos intempéricos muito intensos, a baixa quantidade de
bases trocáveis (cálcio, magnésio, potássio e sódio), o desmatamento e/ou
a exploração agrícola muito intensa como fatores geradores de acidez. Em
geral, essas condições resultam em maiores concentrações de hidrogênio e
alumínio nos coloides e na solução do solo, bem como no desequilíbrio dos
ciclos biogeoquímicos.
Para avaliar a acidez ou a neutralidade dos solos o principal parâmetro
utilizado é o valor de pH, que pode ser determinado por diversas metodolo-
gias. O pH representa a concentração de íons H+ na solução do solo. Basica-
mente, considerando uma escala de pH que varia entre 0 a 14, uma solução
será ácida se os valores de pH forem menores que 7,0, neutra se o pH for
igual a 7,0, e básica se os valores de pH forem maiores que 7,0.
As principais metodologias de determinação do pH dos solos são:
• Água;
• KCl;
• CaCl2 ;
• SMP.
Elas têm como princípio medir o potencial eletrônico por meio de ele-
trodo combinado imerso em suspensão solo:líquido na proporção 1:2,5
(EMBRAPA, 1997).
As análises de pH do solo nos auxiliam a averiguar características muito
importantes, como a avaliação da fertilida-
de do solo, que está relacionada à dispo-
nibilidade dos nutrientes às plantas. Por
exemplo, se conhecemos o valor de pH,
podemos ter uma ideia da disponibili-
dade da maioria dos macronutrientes e
micronutrientes do solo (Gráfi co 1). O valor
de pH considerado ideal para que os proces-
sos físicos, químicos e biológicos dos solos ocorrem de for-
ma equilibrada deve estar na faixa de 6,5.

ANÁLISE AMBIENTAL 96

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GRÁFICO 1. DISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES NA SOLUÇÃO DO SOLO DE ACORDO COM O PH
Disponibilidade

Fe, Cu, Mn e Zn

Mo e Cl

N, S e B

K, Ca e Mg
Al

5,0 6,0 6,5 7,0 8,0 pH em H2O


4,4 5,4 5,9 6,4 7,4 pH CaCl2
Fonte: MALAVOLTA, 1980, p. 45.

A metodologia para a análise do pH dos solos será apresentada de acordo


com o proposto por Silva (2018):
• 1ª etapa – preparo do equipamento:
• Acionar o potenciômetro 30 minutos antes do uso;
• Calibrar o equipamento com as soluções padrão pH 4 e pH 7, nessa ordem;
• Os eletrodos do aparelho devem ser lavados antes e após a calibração.
Se for analisar diversas amostras em série não é necessário lavar os eletro-
dos entre uma amostra e outra. Quando não estiverem em uso, os eletrodos
combinados devem permanecer imersos em solução saturada de KCl (3 mol/L-1).
Não proceder as leituras com tempo de repouso maior do que três horas, em
razão do efeito de oxirredução.
• 2ª etapa – determinações pH:
• Em copos plásticos enumerados (100 mL), adicionar 10 cm3 de solo;
• Acrescentar 25 mL de água destilada, KCl (1N) ou CaCl2 (0,01 M), depen-
dendo do tipo de determinação de pH;

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• Agitar o extrato com bastão de vidro;
• Deixar descansar por uma hora;
• Agitar, novamente, as amostras com bastão de vidro;
• Mergulhar os eletrodos na suspensão após homogeneização pela agita-
ção e fazer a leitura do pH.
O pH da amostra é:
pH (água, KCl 1N ou CaCl2 0,01 M) = leitura do potenciômetro
De acordo com Silva (2009), a determinação do pH do solo em
água tem como desvantagem o fato de que os resultados são
bastante influenciados pela presença de sais ou pelo revesti-
mento dos eletrodos com óxidos de Fe e Al,
que podem variar com a época de amostra-
gem do solo e com o manuseio da amos-
tra. Essa interferência nos resultados
não é observada quando a determina-
ção do pH é feita em solução de CaCl2.
Outra forma de determinação de pH do
solo se dá pelo uso da solução SMP, que con-
siste em uma mistura de sais neutros com vários tampões de
modo a se obter um decréscimo linear do pH, quando titulado de
forma potenciométrica com ácido forte. O índice SMP apresenta alta correlação
com o valor da acidez potencial dos solos, por isso tem sido utilizado em diversas
regiões do País para correção da acidez do solo com calcário (SILVA, 2009).
A metodologia para a análise do pH SMP dos solos será apresentada de acor-
do com o proposto por SILVA, 2009:
• Procedimento associado ao pH em CaCl2:
• Em copos plásticos enumerados (100 mL), adicionar 10 cm3 de solo;
• Acrescentar 25 mL de CaCl2 (0,01 M);
• Agitar o extrato com bastão de vidro;
• Adicionar 5,0 mL, medido em proveta, da solução tampão SMP;
• Manter sob agitação a 220 rpm, por 15 minutos, e deixar em repouso
por uma hora;
• Calibrar o potenciômetro com os tampões 7 e 4, nessa ordem;
• Ler o pH da suspensão tampão.

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• Procedimento associado ao pH em água:
• Em copos plásticos enumerados (100 mL), adicionar 10 cm3 de solo;
• Acrescentar 10 mL de água destilada e misturar com bastão de vidro;
• Manter em repouso durante 30 minutos;
• Misturar novamente e aferir o pH;
• Adicionar 5 mL de solução SMP e misturar com bastão de vidro;
• Deixar em repouso por 20 minutos;
• Agitar novamente;
• Calibrar o potenciômetro com os tampões 7 e 4, nessa ordem;
• Medir o pH da suspensão tampão (pH SMP).
Nesse caso, o pH da amostra será igual a:
pH (SMP) = leitura do potenciômetro

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Sintetizando
Nessa unidade, estudamos questões teóricas e métodos relacionados às
principais metodologias de avaliação e controle de poluentes ambientais nos
compartimentos ambientais (solo, água e atmosfera).
Primeiramente, aprendemos sobre a remoção de compostos orgânicos volá-
teis pelo método do carvão ativo e, por meio do estudo de fundamentos de quí-
mica analítica, abordamos volumetria e titulação. Dentro da ideia de volumetria,
focamos em dois tipos principais: a volumetria de neutralização e a volumetria
de complexação.
Abordamos o tema volumetria de neutralização mais a fundo para tratar so-
bre fundamentos e metodologias de análise química de solo (análise da acidez
potencial e o alumínio trocável), da água (análise da acidez) e do ácido benzoico.
Sobre a temática volumetria de complexação, estudamos que nessas reações
são formados complexos e que é importante a utilização de um complexante,
geralmente, o EDTA. Após estudarmos o conceito desse tipo de titulação, apren-
demos sobre a metodologia de determinação do ferro e alumínio trocável, e do
teor de magnésio e cálcio no solo por volumetria de complexação. Por fim, es-
tudamos as metodologias de determinação de pH e as faixas de acidez do solo.
Os conceitos aprendidos nessa unidade auxiliarão na condução de estudos
sobre análise da qualidade ambiental, pois discutimos diversos métodos que de-
finem parâmetros de relevância para a manutenção do equilíbrio das condições
físicas, químicas e biológicas dos compartimentos ecossistêmicos.

ANÁLISE AMBIENTAL 100

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ANÁLISE AMBIENTAL 101

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ANÁLISE AMBIENTAL 102

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UNIDADE

4 METODOLOGIAS E
PROCEDIMENTOS
PARA ANÁLISES DE
ÁGUA E AR

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Objetivos da unidade
Ensinar os fundamentos analíticos relacionados com as metodologias de
análise de água e ar;

Abordar os procedimentos e a importância das metodologias para a


determinação da qualidade da água e do ar;

Informar sobre os parâmetros de qualidade, os limites máximos e mínimos,


bem como as normas e legislações relacionadas aos padrões de qualidade da
água e do ar.

Tópicos de estudo
Métodos analíticos Determinação do teor de ferro
Volumetria de óxido-redução na água
Método do iodo Determinação do cloro residual
Método enzimático livre
Dosagem da acidez na água
Análise das águas (ou esgoto) devido ao CO2, ácidos
Determinação do oxigênio minerais e sais hidrolisados
dissolvido no meio aquático Determinação de coliformes
Fatores que influenciam na fecais na água
quantidade de oxigênio dissolvi- Como decidir o melhor método
do na água de tratamento da água
Determinação da demanda
química de oxigênio (DQO) Qualidade do ar
Método visual SIERP

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Métodos analíticos
Entender sobre a importância dos fundamentos físico-químicos envol-
vidos com análises ambientais facilita a compreensão dos processos físico-
-químicos envolvidos na interpretação da resolução de problemas que pos-
sam vir a surgir e a ocorrência daqueles resultantes da própria condução do
método no laboratório. Ademais, uma vez que a escolha do método se dá
em função do parâmetro que se deseja estimar, a interpretação dos resulta-
dos somente será realizada com efi ciência após conhecimento e compreen-
são da metodologia empregada.
Nesse sentido, torna-se imprescindível o domínio dos métodos e dos funda-
mentos químicos que os embasam para que haja um bom desempenho indivi-
dual e coletivo dos profissionais e das equipes responsáveis pelos estudos de
qualidade ambiental que envolva a avaliação do risco causado pela poluição.
Tendo em vista essa necessidade, estudaremos aspectos teóricos e práticos
de alguns métodos analíticos, bem como as principais metodologias de avalia-
ção e controle de poluentes ambientais que foram desenvolvidas a partir deles.

Volumetria de óxido-redução
A análise volumétrica baseia-se na aplicação de uma reação química entre
um analito e o volume gasto de um reagente-padrão. Basicamente:

mA + nR ↔ Am Rn

Onde:
A é o analito;
R é o reagente-padrão.
Nas determinações volumétricas um reagente R é adicionado progressiva-
mente sobre a amostra até chegar a um ponto final, em que todo A foi trans-
formado em Am Rn. A quantidade do analito A é calculada a partir do volume de
reagente R necessário para reagir de forma equivalente (LIMA; NEVES, 2015).
Na volumetria de óxido-redução (redox) estão incluídas as titulações feitas a
partir de reações de óxido-redução, que se baseiam na transferência total ou par-
cial de elétrons entre o oxidante e o redutor. Dependendo do objetivo da titulação,

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reagentes oxidantes podem titular um reagente redutor e vice-versa, o ponto final
da titulação ocorrerá quando forem atingidas as proporções estequiométricas.
De acordo com Lima e Neves (2015), os conceitos da volumetria de óxido-re-
dução são: envolver uma espécie oxidada (que perde elétrons) e uma reduzida
(que ganha elétrons e possui potenciais padrões). Vejamos um exemplo de uma
reação redox:
Ce4+ + Fe2+ = Ce3+ + Fe3+

A detecção do ponto final de volumetrias de óxido-redução pode ser feita


por três métodos empregados nas titulações (LIMA; NEVES, 2015):
• Permanganatometria: reação de óxido-redução em meio ácido, onde os
íons MnO4- são reduzidos em Mn2+. Não necessita utilização de indicador. Geral-
mente utiliza permanganato de potássio;
• Dicromatometria: reação de óxido-redução que ocorre somente em meio
ácido, onde os íons são reduzidos rapidamente a Cr3+. Uma coloração verde for-
te é formada, o que dificulta a visualização da titulação. É necessário uso de
indicador. Geralmente utiliza o dicromato de potássio como reagente;
• Determinações iodométricas: podem ser diretas (iodimetrias), corres-
pondendo a reações com solução de iodo, ou indiretas (iodometrias), caso em
que correspondem a titulações com iodo liberado nas reações químicas.

Método do iodo
Os métodos analíticos por volumetria que envolvem o iodo, sejam pela oxi-
dação (iodometria) ou pela redução (iodimetria), ocorrem por meio da semir-
reação

que indica o potencial do elemento como um oxidante moderado e o iodeto


como um redutor relativamente fraco. De acordo com essa reação, podemos
inferir que substâncias com potencial de redução menor que I2 /I - podem ser
tituladas por iodimetria, com uso de uma solução-padrão contendo esse ele-
mento, pois podem sofrer oxidação pelo iodo.
Nessas reações há formação de iodo, pois os íons iodeto têm atividade redu-
tora em reações de caráter oxidativo. Nesse contexto, o iodo precisa ser titulado
por iodometria, geralmente com emprego de solução-padrão de tiossulfato de

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sódio. A substância indicadora na iodometria costuma ser o amido, que indica
visualmente o ponto de viragem da titulação pelo surgimento de cor azul intensa.
A iodometria é empregada para a determinação da acidez de soluções
diluídas de ácido forte, porque é visualizada uma brusca mudança de cor no
ponto final.
IO - + 5I- → 3I2 + 3H2O

Considerando a reação anterior, podemos concluir que ela se processa


muito rapidamente e é quantitativa. Resumidamente, se um excesso de iodato
ou iodeto de potássio é acrescentado a um ácido forte, o iodo produzido será
equivalente aos íons de caráter ácido da reação (hidrogênio), que apresentará
ponto de viragem visualizado pelo indicador tiossulfato de sódio.
Dentre os métodos iodométricos existentes, podemos citar dois mais utiliza-
dos: o direto e o indireto. No método direto, também chamado de iodimetria,
emprega-se diretamente o iodo em meio levemente ácidos ou levemente básicos,
como agente oxidante da titulação, ou seja, como solução-padrão (I2). A mesma,
nesse método, é feita por meio da dissolução do iodo em solução aquosa de iode-
to de potássio (KI). No método indireto, chamado também de iodometria, há ou-
tra espécie oxidante e a quantificação do ácido é feita pela adição de iodeto (I-) que
será oxidado a iodo, ou seja, o iodeto é adotado como redutor, e o iodo liberado na
reação associada, é titulado em meio neutro ou levemente ácido, adotando-se um
redutor. Nesse caso, a titulação é feita com tiossultafo de sódio.

Método enzimático
As análises de qualidade da água que envolvem métodos analíticos emba-
sados em técnicas biológicas utilizam um elemento biológico como parte do
sistema de detecção. A potencialidade do desenvolvimento de novas técnicas a
partir de análises biológicas é muito grande, por isso elas são muito estudadas
e possuem um grande potencial de expansão.
Diversos métodos biológicos são baseados nas interações que ocorrem en-
tre processos enzima/inibidor/ativador, antígeno/anticorpo, receptor/ligante,
entre outros. Esses processos atualmente caracterizam-se como ferramentas-
-chave para avaliação da qualidade dos compartimentos ambientais e biológi-
cos (NISTOR; EMNEUS, 1999).

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Os métodos enzimáticos utilizam uma enzima com atividade metabólica es-
pecifica em um determinado organismo ou um grupo de organismos que por di-
versos processos indicam a presença do organismo patogênico ou não em meios
de cultura, soluções etc. Esses métodos são altamente específicos e sensíveis.
Um exemplo é o método baseado na atividade enzimática de enzimas espe-
cíficas dos coliformes (ß galactosidade) e E. coli (ß glucoronidase). Os meios de
cultura para essas análises contêm nutrientes indicadores (substrato cromo-
gênico) que, hidrolisados pelas enzimas específicas dos coliformes e/ou E. coli,
provocam uma mudança de cor no meio (FUNASA, 2013).

Análise das águas


O movimento dos elementos químicos no planeta, principalmente do C, H,
O, N, P e S por meio dos ciclos biogeoquímicos, permite que versões orgânicas
e inorgânicas de moléculas interajam formando padrões que sustentam a vida.
Compreender os fundamentos desses padrões possibilitam que consigamos
estabelecer as conexões entre os fatores bióticos e abióticos e os comparti-
mentos ecossistêmicos.
Vários conceitos e parâmetros interdisciplinares precisam ser estabeleci-
dos para que determinemos as condições ideais de sobrevivência dos organis-
mos – incluindo o ser humano – e de seus habitats.
A compreensão dos fundamentos físicos, químicos e biológicos permitiu
que diversas análises fossem desenvolvidas para avaliação, monitoramento e
gerenciamento das condições dos compartimentos atmosféricos, ter-
restres e aquáticos. Todas essas análises estão intimamente relacio-
nadas à manutenção da qualidade ambiental e da saúde humana.
No caso das análises das águas não é diferen-
te. A definição de padrões de qualidade de águas
naturais (subterrâneas, superficiais, da chuva
e da solução do solo) e residuais (de origem
doméstica, industrial ou agrícola que trans-
portam poluentes) permite o funcionamento
dos ecossistemas e a resolução de problemas
de ordem ambiental e social.

ANÁLISE AMBIENTAL 108

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Podemos abordar a análise das águas sob as perspectivas físico-quí-
micas ou microbiológicas. A Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011,
dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da
água para consumo humano e seu padrão de potabilidade e a Resolução
do CONAMA n° 357, de 2005, dispõem sobre a classificação dos corpos de
água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabe-
lece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras pro-
vidências. Essas resoluções do CONAMA estabelecem valores máximos de
parâmetros orgânicos, inorgânicos e de metais pesados em águas doces,
salobras, salinas e efluentes.
Em geral, as análises microbiológicas da água objetivam avaliar a po-
tabilidade, ou seja, se a água está própria para consumo humano de acor-
do com padrões pré-estabelecidos por órgãos responsáveis. Tais análises
são sensíveis a fatores como temperatura, pH, salinidade, nutrientes, entre
outros, por isso costumam ser trabalhosas (com relação ao tempo e a pro-
cessos) e de custo elevado. As análises microbiológicas incluem coliformes
totais, coliformes termotolerantes, contagem de bactérias heterotróficas,
Escheriquia coli etc. A água potável não deve conter micro-organismos pa-
togênicos e deve estar livre de bactérias indicadoras de contaminação fecal
(FUNASA, 2013).

ASSISTA
Para saber mais sobre o debate relacionado à questão da
análise das águas e sua relevância no tocante à poluição
ambiental, assista ao vídeo Crise mundial da água: falta de
água potável e saneamento básico.

É importante lembrar que em águas naturais existem micro-organismos


inofensivos e até mesmo benéficos à saúde humana, assim a detec-
ção e quantificação de micro-organismos em análises de água não
significam necessariamente um risco a saúde. Em ge-
ral, os micro-organismos causadores de doenças são
provenientes de contaminações por contato com fe-
zes de humanos e de outros animais. Veja exemplos
no Quadro 1.

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QUADRO 1. ALGUMAS DOENÇAS VEICULADAS PELA ÁGUA E SEUS AGENTES

Origem Doenças Agentes patogênicos

Salmonella typhi;
Salmonella parathyphi A e B;
Shigella sp.;
Febre tifoide e paratifoide;
Vibrio cholerae;
Disenteria bacilar;
Bacteriana Escherichia coli enterotóxica
Cólera;
Campylobacter;
Gastroenterites agudas e diarreias.
Yersínia enterocolítica;
Salmonella sp.;
Shigella sp.

Vírus da hepatite A e E;
Hepatite A e E; Vírus da poliomielite;
Poliomielite; Vírus Norwalk;
Viral
Gastroenterites agudas e Rotavirus;
crônicas. Enterovirus;
Adenovirus.

Entamoeba histolytica;
Disenteria amebiana;
Parasitária Giárdia lamblia;
Gastroenterites.
Cryptosporidium.

Fonte: FUNASA, 2013, p. 9. (Adaptado).

As análises físico-químicas das águas também possuem relação com a


verificação de sua qualidade. Elas têm como objetivo identificar e quantificar
os elementos e espécies iônicas em compostos e associar os efeitos de suas
propriedades às questões ambientais (PARRON; MUNIZ; PEREIRA, 2011). As
análises podem ser selecionadas de acordo com o método analítico. São
exemplos de análises físico-químicas das águas as análises titulométricas
(alcalinidade total, gás carbônico livre, cloretos, pH etc.), as análises colo-
rimétricas (cloro residual livre, cor etc.), as análises de alumínio, turbidez,
temperatura, fluoretos, entre outras.
Tenha em mente que uma análise com um resultado confiável depende,
antes de qualquer coisa, de uma coleta bem feita. No campo, a coleta das
amostras para a avaliação da qualidade da água, seja para determinação de pa-
râmetros biológicos ou físico-químicos, é importante para que a amostragem
seja feita com precaução e técnica, de modo que seja evitada qualquer fonte
de contaminação. As metodologias de coleta de amostras de água são di-
ferentes dependendo do local de amostragem, por exemplo, a metodologia uti-
lizada para coleta em residências ou rede de tratamento é diferente daquelas
realizadas em águas naturais, reservatórios ou subterrâneas.

ANÁLISE AMBIENTAL 110

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DICA
Para aprender sobre como escolher o planejamento,
os locais, os métodos, os equipamentos de amostra-
gem de água de acordo com o objetivo da análise,
acesse os documentos Diretriz nacional do plano de
amostragem da vigilância da qualidade da água para
consumo humano e o Guia nacional de coleta e pre-
servação de amostras.

Determinação do oxigênio dissolvido no meio aquático


No ambiente aquático, o oxigênio é importante no metabolismo dos
organismos aeróbios. O parâmetro relacionado com a quantificação do
oxigênio é a determinação do oxigênio dissolvido (OD). Considerando o
envolvimento desse parâmetro com os fatores bióticos e abióticos do com-
partimento aquático, podemos afirmar que ele é fundamental na avaliação
da qualidade das águas.
A concentração de OD na água varia de acordo com a quantidade de
oxigênio atmosférico que se dissolve na interface água-atmosfera devido
a diferenças de pressão, assim como na fotossíntese realizada por algas e
plantas aquáticas. Em geral, a concentração ideal fica próxima de 8 mg/L-1
quando atingido os 25 °C, mas segundo estabelecido pela Resolução do CO-
NAMA nº 357/2005, o valor mínimo é de 5 mg/L-1. Mesmo assim, concentra-
ções de 5 mg/L-1 podem ser letais para alguns organismos (como a maioria
dos peixes), enquanto concentrações menores de 2 mg/L-1 será letal para a
maioria deles, causando a chamada hipóxia, ou seja, baixas concentrações
de OD na água. Nas águas naturais ao nível do mar existe uma variação
sazonal na concentração considerando as 24 horas do dia. Em lagoas e re-
presas, a concentração muda conforme se aprofunda na coluna de água.
Rios e riachos podem apresentar estratificação vertical da concentração
do OD dissolvido, mas, em geral, são observadas alterações na concentra-
ção do OD mais dependente do curso das águas do que da profundidade
(EMBRAPA, 2021).
Em locais em que ocorre alteração nas condições físico-químicas e bioló-
gicas em relação aos padrões naturais, como pelo aumento da emissão de

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poluentes com elevada carga orgânica, pode haver um esgotamento do OD,
estresse ambiental, desequilíbrio ecossistêmico e, consequentemente, redu-
ção da qualidade das águas. Nesse sentido, em sistemas de tratamento de
efluentes, controlar a concentração de oxigênio dissolvido é fundamental para
manter o crescimento de micro-organismos nas taxas adequadas, de modo
que eles não comprometam o funcionamento dos sistemas de tratamento e a
qualidade das águas para a população.
Em geral, a determinação do OD é feita por volumetria ou potenciometria;
além disso, pode-se aferir o OD diretamente no campo com uso de equipamen-
tos especiais. A escolha do método depende dos recursos disponíveis e da pre-
cisão desejada. Equipamentos de campo para quantificação do OD precisam
ser rotineiramente calibrados.
A determinação da concentração OD pode ser feita pelo método eletromé-
trico ou pelo método químico. No método eletrométrico são utilizados equipa-
mentos chamados oxímetros ou medidores de OD, em que uma sonda com uma
membrana adsorve seletivamente o oxigênio. O método químico é chamado de
Winkler modificado pela azida de sódio, que compreende diversas fases.
Atualmente, o método de Winkler (norma L5.169) encontra-se revogado
pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), e somente o mé-
todo eletrométrico (norma L5.178) está vigente devido a sua rapidez, economia
e precisão. A seguir, descrevemos resumidamente os procedimentos relativos
aos dois métodos.
• Procedimentos do método eletrométrico:
• Calibrar o aparelho medidor de OD conforme instruções fornecidas
pelo fabricante;
• Mergulhe a sonda na amostra de água;
• Agite continuamente;
• Anote a concentração de OD fornecida pelo equipamento em mg/L-1.
Observação: consulte a norma L5.511 sobre os procedimentos de coleta e
preservação de amostras de água para determinação do OD. O equipamento
medidor de OD deve estar provido de sonda com catodo de ouro, anodo de
prata e membrana permeável. Galvanômetro graduado em termos de concen-
tração de oxigênio.
• Procedimentos do método de Winkler modificado pela azida sódica:

ANÁLISE AMBIENTAL 112

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• Coloque um balão volumétrico de 250 mL dentro de um recipiente de
bordas baixas (bandeja ou placa de Petri);
• Com cautela, encha com a amostra de água a temperatura ambiente
até a marca do balão;
• Adicione 1,0 mL de sulfato de manganês (MnSO4 325 g L-1);
• Após, acrescente 1,0 mL de reagente azida de sódio;
• Mergulhe a ponta da ponteira de uma pipeta no frasco com a amostra
ao transferir os reagentes;
• Feche e limpe o frasco;
• Misture lentamente por inversão;
• Deixe o frasco em repouso durante 5 minutos;
• Com a formação do precipitado adicione 1,0 mL de ácido sulfúrico;
• Feche o frasco novamente e misture por agitações sucessivas;
• Retire do frasco com a amostra uma alíquota de 100 mL e coloque em
um Erlenmeyer de 250 mL;
• Faça a titulação com tiossulfato (Na2S2O3 0,025M) até a coloração ama-
relo claro;
• Adicione 1,0 mL de goma de amido 0,5%;
• Continue a titulação até o descoramento total da solução, com o desa-
parecimento da cor azul.
O cálculo do OD em ppm será feito de acordo com:

1 mL Na2S2O3 = 1 ppm OD

Observação: para preparo do reagente azida de sódio (iodeto-azida alcali-


no) adicione 500 g NaOH + 150 g KI + água até 1L + 10 g NaN3 em 40 mL de H20.

Fatores que influenciam na quantidade de oxigênio


dissolvido na água
A solubilidade dos gases, em geral, aumenta com a diminuição da tempera-
tura; assim, o aumento da salinidade, com o oxigênio dissolvido, não é diferen-
te. Assim, a quantidade de oxigênio dissolvido na água em condições normais
depende da temperatura, da salinidade e da pressão atmosférica (EMBRAPA,
s.d.). Vamos discutir esses fatores:

ANÁLISE AMBIENTAL 113

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• Temperatura: a quantidade de oxigênio dissolvido na água aumenta
com a diminuição da temperatura. Águas mais frias retém maior quantidade
de oxigênio que as águas mais quentes. Os níveis de oxigênio dissolvido po-
dem atingir cerca de 10 mg/L-1 em águas frias;
• Salinidade: águas com maior quantidade de sais dissolvidos contém me-
nos oxigênio. Considerando que a água do mar é mais salgada, ou seja, que
possui mais sais dissolvidos, pode-se dizer que a água do mar contém menos
oxigênio dissolvido do que a “água doce”;
• Pressão atmosférica: a solubilidade do oxigênio dissolvido varia de
acordo com a pressão atmosférica. Quanto maior a pressão, maior será a
solubilidade do oxigênio dissolvido na água;
• Altitude: sabendo que a pressão atmosférica varia com a altitude, con-
cluímos que a altitude também é um fator que influencia na quantidade de
oxigênio dissolvido. Isso nos mostra que a altitude irá interferir na COD. As-
sim, com o aumento da altitude há a diminuição do oxigênio dissolvido na
água, pois há aumento da pressão atmosférica;
• Características hidráulicas e velocidade de deslocamento de água
superficial: a taxa de reintrodução de oxigênio dissolvido em águas natu-
rais na superfície depende da reaeração superficial. Em cachoeiras, casca-
tas ou rios com correntezas fortes, a quantidade de oxigênio dissolvido é
maior do que a de um rio com velocidade normal, que, por sua
vez, apresenta aeração superior à de represas ou lagos, nos
quais a velocidade de deslocamento da água é normalmen-
te baixa (PIVELI; K ATO, 2006);
• Fatores físico-químicos que alteram as atividades fo-
tossintéticas (pH, cor, turbidez): a taxa fotossintética influen-
cia na quantidade de oxigênio dissolvido na água. Con-
dições físico-químicas inadequadas a atividades dos
organismos fotossintetizantes influenciam indire-
tamente na diminuição do oxigênio dissolvido na
água. Condições elevadas de turbidez e cor, por
exemplo, dificultam a penetração dos raios sola-
res. Nessas condições apenas poucas espécies con-
seguem manter a taxa fotossintética.

ANÁLISE AMBIENTAL 114

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Determinação da demanda química de oxigênio (DQO)
A demanda química de oxigênio (DQO) é um teste utilizado para medir o oxi-
gênio equivalente ao conteúdo de matéria orgânica de uma amostra (SABESP,
1997). A análise da DQO funciona como um indicador da presença de matéria
orgânica, que se baseia na quantidade de oxigênio demandado para oxidar qui-
micamente por titulação em meio ácido com ação de um agente químico de ação
oxidante o material orgânico e inorgânico presente em uma amostra de água.
Esse parâmetro quantifica a concentração de matéria orgânica em termos
de oxigênio consumido, proporcionando uma caracterização do potencial da
matéria orgânica presente na amostra (coletada em águas residuárias) em se
biodegradar. Por essa razão, essa análise é importante no monitoramento e
controle da liberação de cargas orgânicas em águas residuárias e na escolha
do melhor processo de tratamento, ou seja, o que mais auxilie na redução da
poluição causada por fontes orgânicas.
Existem diversas metodologias para a determinação da DQO. Elas se ba-
seiam em reações de titulação e são diferenciadas pelo tipo de reagente oxi-
dante forte empregado na análise, sendo o principal reagente-padrão utiliza-
do o dicromato de potássio (K 2Cr2O7), mas também podem ser encontrados
protocolos feitos com outros reagentes, como o permanganato de potássio.
É importante salientar que para um mesmo estudo deve ser empregado um
mesmo reagente oxidante.
Entre as vantagens da adoção desse método podemos citar o fato de que
ele é rápido (2 a 3 horas para ser finalizado), o resultado da análise dá uma in-
dicação do oxigênio requerido para a estabilização da matéria orgânica e que
ele não é afetado pela nitrificação, indicando apenas da oxidação da matéria
orgânica proveniente do carbono. Existem algumas desvantagens, entre elas,
o fato de que são oxidadas tanto a fração biodegradável quanto a fração inerte
presentes na amostra, o que leva a uma superestimação do oxigênio consumi-
do (SABESP, 1997).
A escolha do método também pode ser feita pelo tipo de água que se pre-
cisa analisar. Para águas com DQO esperada acima de 50 mg/O2L-1, como de
amostras coletadas em águas poluídas, esgotos domésticos e industriais, es-
colhe-se um método diferente daquelas com DQO esperada menor de 50 mg/

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O2L-1, como águas brutas em geral, de rios, represas e na ausência de poluição
elevada e esgotos com baixo teor de matéria orgânica. As metodologias de aná-
lise da DQO encontram-se disponíveis em diversos sites e são sempre atualiza-
das. Aqui vamos apresentar os procedimentos de análise para DQO esperada
< 50 mg/O2L-1, disponível para consulta na norma técnica interna da SABESP
(NTS 004).
• Procedimentos:
• Com pipeta adicione, em um balão de 500 mL, um volume de 50 mL de
água da amostra;
• Adicionar no balão 1,0 g de sulfato mercúrio P.A. e pérolas de ebulição;
• Com pipeta, acrescente no balão um volume de 20 mL de solução de
ácido sulfúrico/sulfato de prata;
• Com pipeta, acrescente no balão um volume de 25 mL de solução pa-
drão de dicromato de potássio (0,00417 M);
• Misture;
• Adicione pelas paredes do balão 50 ml de ácido sulfúrico/sulfato de
prata vagarosamente para que o ácido atinja o fundo sem reagir com a
solução;
• Prepare a prova em branco com 50 mL de água deionizada e o controle
do padrão utilizando um volume de 50 mL de solução-padrão de bifta-
lato de potássio;
• Os balões com amostra e controle devem ficar durante 2 horas em
refluxo na chapa;
• Após, espere esfriar, lave o condensador com água deionizada e des-
conecte-os;
• Lave as paredes internas dos balões com água deionizada;
• Titule mantendo em agitação magnética com solução de sulfato ferro-
so amoniacal (0,025 M);
• Adicione de 2 a 3 gotas de solução indicadora de ferroin;
• Observe o ponto de viragem de azul esverdeado para marrom aver-
melhado;
• Anotar os volumes gastos da solução de sulfato ferroso amoniacal.
Observação: a padronização da solução de sulfato ferroso amoniacal deve
ser feita diariamente.

ANÁLISE AMBIENTAL 116

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O cálculo da DQO será feito como a seguir:

(A - B) · M · 8000
DQO (mg O2 L-1) = (1)
V
Onde:
A é o volume (mL) de solução-padrão de sulfato ferroso amoniacal gasto
para titular a prova em branco;
B é o volume (mL) de solução-padrão de sulfato ferroso amoniacal gasto
para titular a amostra;
M é a molaridade da solução-padrão de sulfato ferroso amoniacal;
V (mL) é o volume da amostra de água utilizado na análise.

Determinação do teor de ferro na água


O ferro é elemento essencial para os seres humanos, mas, em altas concen-
trações, pode ser prejudicial, por isso é importante proceder com a sua deter-
minação para avaliar a qualidade da água.
Esse elemento na água pode estar em estado oxidado, reduzido ou com-
plexado. Em amostras filtradas de águas superficiais oxigenadas, as concentra-
ções de ferro raramente alcançam 1 mg/L-1 (SABESP, 2001).
A determinação do teor total de ferro em amostras de água seguirá os proce-
dimentos propostos pela Norma Técnica SABESP NTS 010, que caracterizam o mé-
todo de 1,10 fenantrolina em águas naturais ou tratadas e efluentes domésticos.
Para essa análise, colete no mínimo 500 mL de água em frasco de polietile-
no. A amostra deve ser preservada com ácido nítrico até pH < 2,0, por um perío-
do máximo de 6 meses. Os procedimentos envolvem a titulação e a construção
de uma curva de calibração.
• Procedimentos:
• Faça a homogeneização da amostra de água;
• Pipete 50 mL da amostra em um Erlenmeyer de 250 mL;
• Adicione 2,0 mL de ácido clorídrico concentrado P.A. e 1,0 mL de solu-
ção de cloridrato de hidroxilamina a 10% (m/v);
• Acrescente algumas “pérolas” de vidro e mantenha aquecendo médio;
• Aguarde o volume diminuir para 10 ou 20 mL;
• Transfira para um balão volumétrico de 50 mL e complete com água

ANÁLISE AMBIENTAL 117

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deionizada em temperatura ambiente;
• Pipete 25 mL da amostra digerida para um tubo de Nessler com papel
indicador Congo (deverá haver mudança de coloração rósea para azul);
• Reserve o restante da amostra digerida;
• Adicione 5 mL de solução tampão de acetato de amônio (o papel indica-
dor deverá voltar para cor rósea, caso isso não seja observado adicione
solução tampão de acetato de amônio até que a retorne a cor rósea e
corrija o volume de acetato de amônio adicionado a amostra);
• Acrescente 2,5 mL da solução de 1,10 fenantrolina a 0,1% (m/v);
• Faça a homogeneização da solução;
• Espere por 15 minutos;
• Proceder com a leitura do branco e da amostra em espectrofotômetro
a 510 nm (utilize cubeta de 10 a 100 mm);
• Elabore uma a curva de calibração com a solução padrão de ferro e
calcule o fator da curva de calibração.
Os resultados serão expressos pela igualdade:
mg Fe L-1 = (A-B) · F (2)
Onde:
A é a leitura da amostra;
B é a leitura do branco no espectrofotômetro;
F é o fator da curva de calibração.

Determinação do cloro residual livre


A análise do cloro residual livre está relacionada com a verificação da dose
que está sendo adicionada ao produto durante o processo de tratamento da
água e com o monitoramento das concentrações ao longo do processo de tra-
tamento. O cloro é um produto químico utilizado na desinfecção em geral.
A aplicação do cloro na forma de hipoclorito de cálcio, cal clorada, hipoclo-
rito de sódio ou cloro gasoso é conhecida por resultar em uma eficiente desin-
fecção. A Portaria nº 2.914/2011, do Ministério da Saúde, determina a obrigato-
riedade de se manter, no mínimo, 0,2 mg/L-1 de cloro residual livre ou 2 mg/L-1
de cloro residual combinado em toda a extensão do sistema de distribuição
(reservatório e rede) (FUNASA, 2013).

ANÁLISE AMBIENTAL 118

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A determinação do cloro residual livre é feita por comparação visual uti-
lizando-se um equipamento chamado comparador colorimétrico, que tem
como fundamento a análise colorimétrica.
• Procedimentos:
• Posicionar o comparador colorimétrico contra uma fonte de luz;
• Encha uma cubeta com água da amostra até atingir o volume de 5,0 mL;
• Encaixe a amostra na abertura do lado esquerdo do equipamento;
• Encha outra cubeta com 5,0 mL da amostra a ser testada, acrescente
uma cápsula de reagente DPD e misture;
• Coloque a cubeta da amostra a ser testada na abertura do lado direito
do equipamento;
• Determine o teor de cloro antes de completar 1 minuto de reação;
• Rotacione o disco até que se obtenha a mesma tonalidade nos dois tubos.
O resultado será expresso em mg/L-1 de cloro residual livre.

Dosagem da acidez na água (ou esgoto) devido ao CO2,


ácidos minerais e sais hidrolisados
Define-se como acidez das águas a reação quantitativa entre a molécula de
água e outra substância (base forte, ácido fraco ou sal com caráter ácido) em
um valor de pH definido (PIVELI; KATO, 2006).
O CO2 dissolvido e a oxidação de sulfetos são comumente relacionados à
acidez das águas naturais. Eles resultam em acidez de acordo com as seguintes
reações químicas:
CO2 + H2O ↔ H2CO3
2S° + 3O2 + 2H2O → 2H2SO4
FeS + 3½O2 + H2O → FeSO4 + H2SO4

O controle da acidez das águas é importante, pois auxilia em estudos de


corrosão de estruturas metálicas e de materiais de fibro-cimento de sistemas
de abastecimento de água, que pode ser causado pelo CO2 dissolvido e pelos
ácidos minerais presentes em efluentes industriais. O parâmetro “acidez” não
se caracteriza, apesar de sua importância, em nenhum tipo de padrão, seja de
potabilidade, de classificação das águas naturais ou de emissão de esgotos. O
efeito da acidez é controlado pelo valor do pH (PIVELI; KATO, 2006).

ANÁLISE AMBIENTAL 119

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Os métodos de determinação da acidez nas águas
superficiais devido à presença de CO2, ácidos mine-
rais e sais hidrolisados serão apresentados para
acidez total e acidez carbônica (FUNASA, 2006).
• Procedimentos de determinação da acidez to-
tal das águas:
• Pipete 100 mL da amostra de água e adicione em
Erlenmeyer de 250 mL;
• Adicione 3 gotas de indicador fenolftaleína;
• Proceda com a titulação com NaOH (0,02 N);
• O ponto de viragem é visualizado no surgimento de
coloração rosa constante;
• Marque o volume de NaOH utilizado.
A acidez total em água será calcula em ppm de acordo com:

acidez em ppm (em termos de CaCO3 = volume de NaOH (0,02 N) • 10 (3)

• Procedimentos de determinação da acidez carbônica das águas:


• Repita os procedimentos anteriores para determinação da acidez total;
• Pipete 100 mL da amostra de água em um Erlenmeyer de 250 mL;
• Ferva em chapa elétrica durante 3 minutos exatos;
• Sem agitar, remova o Erlenmeyer da chapa, cobrindo com um vidro de
relógio;
• Deixe a amostra esfriar;
• Ao atingir a temperatura ambiente, acrescente três gotas de indicador
fenolftaleína;
• Análise o ponto de viragem da titulação;
• Se houver viragem para cor rosa ou vermelho, não há presença de aci-
dez carbônica;
• Se não houver viragem, continue a titulação com NaOH (0,02 N);
• Quando atingir o ponto de viragem na cor rósea anote o volume gasto.
A acidez carbônica em água será calcula de acordo com:
acidez carbônica em ppm (em termos de CaCO3) = volume de NaOH (0,02 N)
gasto – volume de NaOH (0,02 N) gasto na titulação anterior · 10 (4)

ANÁLISE AMBIENTAL 120

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Determinação de coliformes fecais na água
Os coliformes compõem um grupo de bactérias de diversos gêneros, como
os Klebsiella, Escherichia, Serratia, Erwenia e Enterobactéria, que habitam o in-
testino de animais mamíferos, incluindo o homem. Por isso, são largamente
utilizados na avaliação da qualidade das águas. Elas são importantes parâme-
tros microbiológicos que embasam a elaboração de leis e resoluções desenvol-
vidas por organizações públicas ou privadas que as utilizam para disponibilizar
água potável para o consumo humano.
A indicação de poluição e de risco potencial da presença de organismos pato-
gênicos em água é evidenciada pela presença de coliformes, enquanto a ausên-
cia desses organismos indica uma água bacteriologicamente potável, uma vez
que são mais resistentes do que as bactérias patogênicas de origem intestinal.
As análises são feitas para o grupo dos coliformes totais que inclui os gê-
neros que não são de origem exclusivamente fecal e para o subgrupo dos
coliformes termotolerantes, os quais são diferenciados dos coliformes totais
pela capacidade de fermentar a lactose em temperatura elevada (44,5 ºC) e
que, apesar de apresentarem maior capacidade de indicar contaminação fe-
cal, possuem espécies que também não são de origem exclusivamente fecal.
Por essa razão, atualmente também é feita a análise de detecção específica de
Escherichia coli, uma representante do grupo coliforme de origem exclusiva-
mente fecal. Em geral, os fundamentos analíticos das análises desse parâmetro
são os métodos enzimáticos.
As normas técnicas da CETESB L5.202 e a L5.214 trazem informações deta-
lhadas acerca do escopo, da metodologia, dos materiais, preparo de reagentes,
dos meios de cultura e da execução do ensaio de coliformes totais, coliformes
termotolerantes e Escherichia coli pela técnica de tubos múltiplos e por mem-
brana filtrante. Toda vez que uma análise der positivo para coliformes totais
deve-se proceder com a análise de coliformes termotolerantes.
Vamos conhecer os procedimentos relacionados a essa análise de forma
mais sucinta, descrita de acordo com a FUNASA (2013).
A seguir, resumimos os procedimentos para análise de coliformes totais e
termotolerantes pela técnica dos tubos múltiplos, esse método divide-se em
presuntivo e confirmativo:

ANÁLISE AMBIENTAL 121

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• Teste presuntivo:
• Higienize, de acordo com o protocolo para análises microbiológicas,
uma bateria contendo 15 tubos de ensaio de Durhan;
• Distribuí-los em fileiras de 5 em 5;
• Diluição 1:1: adicione caldo lactosado de concentração dupla nos primei-
ros 5 tubos e inocule com pipeta esterilizada 10 mL da amostra de água;
• Diluição 1:10: adicione caldo lactosado de concentração simples nos ou-
tros 5 tubos e inocule com pipeta esterilizada 1 mL da amostra de água;
• Diluição 1:100: adicione caldo lactosado de concentração simples nos últi-
mos 5 tubos e inocule com pipeta esterilizada 0,1 mL da amostra de água;
• Misture bem;
• Incube por 24/48 horas controlando a temperatura a 35 ± 0,5 °C;
• Completando as 24/48 horas, analise se há bolhas (gás) nos tubos nas
3 diluições 1:1; 1:10 e 1:100;
Não há bolhas: teste presuntivo negativo: finalize a análise.
Há bolhas: teste presuntivo positivo: proceda com teste confirmativo.
• Teste confirmativo:
• Separe os tubos do teste presuntivo que deram positivos nas 3 dilui-
ções 1:1; 1:10 e 1:100;
• Separe e identifique o mesmo número de tubos com caldo lactosado
verde brilhante bile a 2%;
• Retire dos tubos uma porção da amostra positivada utilizando alça de
platina (flambada e fria);
• Inocule no tubo contendo o caldo lactosado verde brilhante;
• Incube novamente por 24/48 horas a 35 ± 0,5 °C;
• Completando as 24/48 horas, analise se há bolhas (gás);
Não há bolhas: teste confirmativo negativo.
Há bolhas: teste confirmativo positivo.
Os resultados para a quantidade de coliforme total são expressos em:
Número Mais Provável (NMP)
(5)
100 mL de amostra
O NMP é obtido pela combinação entre as três diluições e o número de tu-
bos que testou positivo em cada uma delas. Por exemplo, se a relação de tubos
positivos foi 1 na diluição 1:1, 2 na diluição 1:10 e 1 na diluição 1:100, então a

ANÁLISE AMBIENTAL 122

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combinação será 1-2-1. Após a determinação da combinação, determine o NMP
consultando a Tabela 3 da norma CETESB L5.202 que define o número NMP e o
limite de confiança de 95% para as combinações de resultados positivos quan-
do 5 tubos são usados para cada diluição (10 mL, 1,0 mL e 0,1 mL).

DIAGRAMA 1. PASSO A PASSO DA ANÁLISE DE COLIFORME TOTAIS EM AMOSTRAS DE ÁGUA

Inocular em caldo lactosado


e inocular por 24 ± 2h a 35 ±
0,5 °C.

(A) Formação de gás ou (B) Ausência de gás ou produção


crescimento forte. Confirmar em duvidosa. Incubar por + 24 horas.
verde bile a 35 ± 0,5 °C durante
24/48 horas.

1) Produção de gás ou
2) Ausência de gás. Teste
1) Não produz gás. produção duvidosa
2) Produz gás. Grupo negativo para o grupo
Ausência do e crescimento forte.
coliforme confirmado. coliforme.
grupo coliforme. Confirmar como em (A).

Determine o NMP.

Fonte: FUNASA, 2013, p. 23. (Adaptado).

• Procedimentos para análise de coliformes termotolerantes pela técnica


dos tubos múltiplos:
• Retome todos os tubos do teste presuntivo (positivos e negativos) em
que houve crescimento após 48 horas, nas 3 diluições;
• Transfira com alça de platina uma porção para os tubos de ensaio com
meio EC;
• Misture bem;
• Deixe os tubos em banho de água por 30 minutos;
• Incube em banho-maria a 44,5 ± 0,2 °C por 24 ± 2 horas;
• Completando as 24 horas ou menos, analise se há bolhas (gás);
Não há bolhas: teste negativo para coliformes termotolerantes.
Há bolhas: teste positivo para coliformes termotolerantes.

ANÁLISE AMBIENTAL 123

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Determine o NMP consultando a tabela da mesma forma que no método de
análise de coliformes totais.
Observação: esse ensaio deve ser realizado simultaneamente ao teste con-
firmativo de coliformes totais.
Agora vamos aprender sobre os procedimentos para análise de coliformes
totais e termotolerantes pelo método das membranas filtrantes.
• Procedimentos para a análise de coliformes totais:
• Adicione em placa de Petri cartão absorvente com uso de pinça;
• Adicione 1,8 mL do meio de cultura no cartão absorvente com pipeta
esterilizada;
• Tampe a placa;
• Usando uma pinça coloque a membrana filtrante no porta-filtro;
• Agite o frasco com a amostra (no mínimo 25 vezes);
• Destampe e flambe a boca do frasco;
• Verta 100 mL de amostra no porta-filtro;
• Evite que gotas de água pinguem nas bordas superiores;
• Ligue a bomba de vácuo e faça sucção para filtragem da amostra;
• Lave 3 vezes as paredes do funil com água de diluição estéril com por-
ções de 20 mL de água de diluição estéril sob vácuo continuo;
• Após lavar, reduza a intensidade do vácuo e remova o funil do suporte;
• Remova o filtro do suporte com pinça;
• Coloque na placa de Petri com o lado quadriculado voltado para cima;
• Vede a placa e incube invertida a 35 °C por 24 ± 2 horas;
• Finalizada a incubação faça a contagem das colônias.
A contagem das colônias indicativas de coliformes totais tipicamente tem
cor rosa a vermelho escuro, com brilho metálico. Outro tipo de colônia significa
ausência de coliformes totais.
• Procedimentos para a análise de coliformes termotolerantes:
• Repita as etapas da análise de coliformes totais até a incubação;
• Incube a 44,5 ± 0,2 °C por 24 ± 2 horas;
• Finalizada a incubação, faça a contagem das colônias.
A contagem das colônias indicativas de coliformes termotolerantes tipica-
mente tem cor azul, com brilho metálico. Outros tipos de colônias crescem em
coloração clara ou rósea.

ANÁLISE AMBIENTAL 124

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Os métodos descritos são largamente utilizados, no entanto, existe tam-
bém o método do substrato cromogênico-fluorogênico para determinação
de coliformes totais e E. coli. Eles são geralmente adotados por serem de fácil
manuseio e por possuírem bom custo benefício.
• Procedimentos para a análise de coliformes totais e E. coli por substrato
cromogênico-fluorogênico:
• Colete uma amostra de 100 mL em um frasco estéril com tiossulfato de
sódio a 10%;
• Adicione o conteúdo de um frasconete de substrato cromogênico
(ONPG)/fluorogênico (MUG);
• Feche o frasco e agite levemente sem a necessidade de dissolução total
do substrato;
• Incube por 24 horas em temperatura de 35,0 ± 0,5 °C;
• Após a incubação, retire o material da estufa e observe visualmente o frasco.
Os resultados serão expressos em presença ou ausência dos coliformes to-
tais e E. coli considerando:
Amostra com coloração amarelada = indica a presença de coliformes totais.
Amostra amarelada e com fluorescência azul (observar em lâmpada ultra-
violeta 365 nm) = presença de E. coli.
Amostra transparente = ausência de coliformes totais como e E. coli.

Como decidir o melhor método de tratamento da água


Água absolutamente pura não existe. Nesse contexto, o tratamento das
águas é necessário para garantir os padrões de potabilidade. O que significa
dizer que a água está apta para o consumo humano, ou seja, livre de conta-
minantes orgânicos e inorgânicos e de bactérias patogênicas, com aspecto
atraente e com sabor agradável, com pouca dureza e estável, nem corrosiva
nem incrustante (HICHTER, 2017).
Padrões de qualidade da água são escolhidos para os fatores físico, quími-
cos ou biológicos que mais interferem em sua qualidade para consumo huma-
no (potabilidade). Veja a Tabela 1 para conhecer alguns dos padrões definidos
pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pela Agência de Proteção Ambien-
tal dos Estados Unidos (Environmental Protection Agency, EPA).

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TABELA 1. PADRÕES DE POTABILIDADE DA ÁGUA SEGUNDO A OMS E A EPA. QUANDO
A UNIDADE NÃO ESTÁ NO ITEM CONSIDERAR MG/L-1. VMR: VALOR MÁXIMO
RECOMENDÁVEL, VMP: VALOR MÁXIMO PERMITIDO

OMS EPA (EUA)


Parâmetro
VMR VMP VMR VMP

Físicos e organolépticos

Cor Hazen 5 15 15 -

Turbidez UNT 1 5 - 1

Sabor nenhum nenhum Não objecionável -

Odor nenhum nenhum Não objecionável -

pH 7 – 8,5 6,5 – 9,2 6,5 – 8,5 -

Químicos

Alumínio - 0,2 - -

Arsênio - 0,05 - 0,05

Chumbo - 0,1 - 0,05

Cloretos 200 600 250 -

Dureza (mg/L CaCO3)


-1
100 500 - -

Ferro 0,1 1,0 0,3 -

Fluoretos - 0,6 – 1,7 1,4 – 2,4 -

Magnésio - 150 - -

Manganês 0,05 0,5 0,05 -

Mercúrio - 0,001 - 0,002

Nitrato mg/L N -1
- - - 10

Selênio - 0,01 - 0,01

Sódio - - 20 -

Sólidos totais dissolvidos 500 1500 500 -

Sulfato 200 400 250 -

Trihalometanos - - - 100

Zinco 5 15 5 -

Bacteriológicos

Coliformes org 100 mL-1 - 1 - 1


Fonte: HICHTER, 2017, p. 67. (Adaptado).

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As partículas que as águas possuem são provenientes de materiais mine-
rais ou orgânicos, classificados de acordo com seu tamanho em suspensão,
estado coloidal e solução, do maior para o maior tamanho, respectivamente.
Como consequência, os métodos de tratamentos adotados para remoção ou
redução a limites adequados serão escolhidos de acordo com essas caracterís-
ticas. Os principais condicionantes na escolha do processo de tratamento da
água são a natureza da água bruta e a qualidade desejada para a água tratada.
Além desses condicionantes devem-se atender as necessidades baseando-se
na segurança do processo, na facilidade de construção, no impacto ambiental,
na disponibilidade de equipamentos adequados e na facilidade de operá-los,
na manutenção, nos custos de construção e operação (HICHTER, 2017).
Assim, as estações de tratamento de água atualmente utilizadas são classi-
ficadas em três categorias:
• Estações de tratamento convencional;
• Estação de filtração direta;
• Estação de flotação a ar dissolvido.
A escolha de uma ou outra estação deve ser feita considerando as caracte-
rísticas físico-químicas e a tratabilidade da água em questão.

Qualidade do ar
Em meio urbano, os poluentes atmosféricos são liberados, principalmen-
te, por fontes poluidoras antropogênicas (tráfego automóvel e a atividade
industrial) e, subsequentemente, transportados e dispersados na atmosfe-
ra atingindo os vários receptores por deposição gravítica úmida (lavagem da
chuva ou neve) ou deposição gravítica seca (por meio da adsorção de partícu-
las) (SILVA; MENDES, 2006).
Podemos classificar os poluentes atmosféricos como primários ou secun-
dários. Os poluentes primários são considerados mais importantes, pois ori-
ginam os secundários; além disso, são liberados diretamente para a atmos-
fera e poluem em caráter local. Os poluentes secundários permanecem em
suspensão na atmosfera por longos períodos e são resultantes de reações
químicas entre os poluentes primários e os constituintes naturais da atmos-
fera (COMPANHIA DAS DOCAS DO PARÁ, s.d.). São exemplos:

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• Poluentes primários: as partículas totais em suspensão, as partículas ina-
láveis, a fumaça, o dióxido de enxofre (SO2) e de nitrogênio (NO2) (ou óxidos de
nitrogênio, NOx), e o monóxido de carbono (CO) estão entre os principais;
• Poluentes secundários: o ozônio (O3) e os hidrocarbonetos.
As fontes de emissão dos poluentes atmosféricos e os efeitos causados por
cada um são bastante diferentes. Analise a Quadro 2 para conhecer os princi-
pais poluentes, as fontes e as características físico-químicas.

QUADRO 2. POLUENTES ATMOSFÉRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E FONTES

Parâmetros Características físico-químicas Fontes

Material particulado Tráfego, setor industrial,


Material sólido ou pequenas
(partículas totais em obras de construção civil,
gotículas de fumo, poeiras e
suspensão, partículas varrição e movimentação
vapor condensado no ar.
inaláveis ou fumaça). de matérias-primas.

Incolor, inodoro (em baixas


concentrações) e cheiro
Dióxido de Enxofre (SO2). Setor industrial.
de enxofre (em altas
concentrações).

Monóxido de carbono (CO). Incolor e inodoro. Tráfego.

Forma-se ao nível do solo,


Incolor e constituinte do
nas reações químicas que
smog fotoquímico (névoa que
Ozônio (O3). se estabelecem entre
se forma acima da superfície
poluentes primários na
do solo).
presença de luz solar.

Castanho claro (em baixas


Tráfego, setor industrial,
concentrações), castanho
Dióxido de Nitrogênio (NO2). em geral, pela queima de
e desagradável (em altas
combustíveis.
concentrações).

Fonte: Companhia das Docas do Pará, p. 4-5. (Adaptado). Acesso em: 07/03/2021.

Os padrões de qualidade do ar (PQAr) são influenciados por fatores como


risco à saúde, viabilidade técnica, questões econômicas, políticas e sociais. A
determinação da influência de cada fator depende, entre outros, do nível de
desenvolvimento e do poder das organizações públicas em gerenciar a qua-
lidade do ar. Considerando as diferenças políticas, econômicas e sociais das
regiões brasileiras, a formulação de políticas públicas que determinem os pa-
drões nacionais de qualidade do ar devem nortear os processos de gerencia-
mento, porém devem também considerar as características e limitações local
em termos de saúde pública.

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Nesse sentido, um dos documentos que definem os padrões de qualidade
do ar no Brasil é a Resolução do CONAMA nº 491, de 19 de novembro de 2018,
que revogou e substituiu a Resolução CONAMA nº 3, de 28 de junho de 1990,
nela os limites dos parâmetros PI e PF para diversos poluentes foram reformu-
lados e reestabelecidos (Tabela 2). O parâmetro PI define os padrões de quali-
dade do ar intermediários que são valores temporários a serem cumpridos em
etapas, já o parâmetro PF define o padrão de qualidade do ar final definidos de
acordo com os valores guia da Organização Mundial da Saúde.

TABELA 2. PADRÕES DE QUALIDADE DO AR DE ACORDO COM A RESOLUÇÃO CONAMA Nº 491

PI2,5 PI10 SO2 NO2 CO O3 Fumaça


(µg/m3) (µg/m3) (µg/m3) (µg/m3) (ppm) (µg/m3) (µg/m3)

0-25 0-50 0-20 0-200 0-9,0 0-100 0-60

26-60 51-120 21-125 201-260 **** 101-140 61-150

61-124 121-249 126-799 261-1129 9,1-14,9 141-199 151-250

125-209 250-419 800-1599 1130-2259 15,0-29,9 200-399 251-420

210-249 420-499 1600-2099 2260-2999 30,0-39,9 400-599 421-500

≥ 250 ≥ 500 ≥ 2100 ≥ 3000 ≥ 40 ≥ 600 >501

Fonte: FEPAM. (Adaptado). Acesso em: 04/03/2021.

Sobre padrões de qualidade do ar, podemos discutir ainda sobe o IQAr,


ou seja, sobre o Índice de Qualidade do Ar, um valor adimensional que tem
como objetivo principal esclarecer sobre a qualidade do ar a partir das con-
centrações de poluentes atmosféricos obtidos por monitoramento no lo-
cal. O índice é uma ferramenta matemática utilizada para transformar as
concentrações medidas dos inúmeros poluentes atmosféricos em um único
valor que possibilita a comparação com os limites legais de concentração
definidos pelo PQAr (FEPAM, s.d.).
Veja no Quadro 3 a classificação da qualidade do ar de acordo com as faixas
do IQAr e os possíveis danos à saúde humana.

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QUADRO 3. CLASSIFICAÇÃO DA QUALIDADE DO AR, FAIXAS DO IQAR E POSSÍVEIS
DANOS À SAÚDE HUMANA. *GRUPOS SENSÍVEIS: CRIANÇAS, IDOSOS E PESSOAS
COM DOENÇAS RESPIRATÓRIAS E CARDÍACAS

Qualidade Cor Níveis de


Índice Descrição dos efeitos
do ar referência cautela

Não há riscos consideráveis à


Boa Verde 0-40 Seguro à Saúde
saúde.

Pessoas de grupos sensíveis*.


Sintomas como tosse seca e
Regular Amarelo 41-100 Tolerável cansaço podem ser observados em
grupos sensíveis, mas a população
não é afetada.

A população pode apresentar


Insalubre sintomas como tosse seca, cansaço,
Inadequada Laranja 101-199 para grupos ardor nos olhos, nariz e garganta.
sensíveis Pessoas de grupos sensíveis podem
sofrer efeitos mais sérios.

A população pode apresentar


Muito insalubre agravamento dos sintomas e ainda
Má Vermelho 200-299 (Nível de apresentar falta de ar e respiração
atenção) ofegante. Os grupos sensíveis são
ainda mais afetados.

Perigoso
Péssima Roxo 300-399 Riscos de manifestações de doenças
(Nível de alerta)
respiratórias e cardiovasculares
por toda a população. Nos grupos
Muito perigoso
400 ou sensíveis há aumento de mortes
Crítica Preto (Nível de
maior prematuras.
emergência)

Fonte: Brasil, 2018.

A transformação de dados científicos em um índice torna a compreensão


das informações sobre poluição atmosférica acessível e interpretável para todos
os cidadãos. Nesse sentido, é importante que a população, principalmente nas
grandes cidades, mantenha-se informada sobre a qualidade do ar. Muitas das
grandes cidades e áreas industriais disponibilizam em tempo real as informa-
ções da qualidade do ar seguindo a classificação informada na Tabela 1 e o IQAr.

CURIOSIDADE
Você pode acessar informações sobre a qualidade do ar em tempo real,
os dados horários por estação, os dados horários por parâmetro, um
boletim diário ou o resumo do boletim diário, acessando a página Qualar
da CETESP e se cadastrando no sistema.

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Método visual SIERP
Diversos equipamentos com sensores eletroquímicos e métodos foram e
estão sendo desenvolvidos para detectar a quantidade e o tipo de material
particulado e/ou gases presentes na atmosfera, assim como, para melhorar
a qualidade do ar. Como esperado em qualquer metodologia de medição, a
confiabilidade, a sensibilidade e a precisão dependem do equipamento, do nú-
mero de amostras, do intervalo de medição, da calibração do equipamento
e do operador. Analise o Quadro 4 para conhecer os métodos e o tempo de
amostragem relacionado com a quantificação de cada poluente atmosférico.

QUADRO 4. MÉTODO E TEMPO DE AMOSTRAGEM RELACIONADO AOS


PARÂMETROS ATMOSFÉRICOS

Parâmetros Método de medição Tempo – unidade

Partículas totais em
Amostrador de grandes volumes 24h – µg/m3
suspensão

Partículas inaláveis Separação inercial/filtração 24h – µg/m3

Fumaça Refletância 24h – µg/m3

Dióxido de enxofre Peróxido de hidrogênio 24h – µg/m3

Dióxido de nitrogênio Quimiluminescência 24h – µg/m3

Monóxido de carbono Infravermelho não dispersivo 8h – ppm

Ozônio Quimiluminescência 1h – µg/m3

Fonte: Brasil, 1990.

É possível determinar o índice de poluição atmosférica por meio de uma


metodologia simples que se baseia na coleta da água exposta e posteriormen-
te filtrada para avaliar a quantidade de partículas sedimentadas no ar e coleta-
das na água exposta e filtrada, esse método visual é chamado de SIERP. Vamos
aprender como realizá-lo no próximo tópico.

ANÁLISE AMBIENTAL 131

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O método SIERP nos auxilia na determinação do índice de qualidade do ar por
meio da coleta, em recipientes com água, das partículas poluentes presentes no
ar que se depositam na água. Essa metodologia é interessante porque pode ser
realizada em diversos pontos de um bairro e em diversos bairros. Com os resul-
tados pode ser elaborado um estudo das diversas regiões de uma cidade utili-
zando, para isso, um mapa onde são plotados os resultados das análises SIERP,
resultando na construção de um painel informativo sobre a qualidade do ar.
Para a determinação do IQAr por meio da quantificação das partículas do ar
sedimentadas, coletadas em água exposta e filtrada, de acordo com o método
visual SIERP, siga as seguintes etapas (BRASIL, 2018):
• Procedimentos:
• Coloque 2 L de água da torneira em uma bacia ampla (volume aproxi-
madamente 2 L);
• Deixe exposta ao ar do local em que se deseja quantificar as partículas
poluentes durante 24 horas;
• Após as 24 horas, colete a água da bacia e leve ao laboratório para
análise;
• Proceda com a filtração da água em papel de filtro coletada;
• Para melhorar a qualidade do procedimento de filtração, utilize uma
bomba a vácuo;
• Analise a quantidade e os sedimentos e partículas presentes na amostra.

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Sintetizando
Nessa unidade aprendemos sobre os fundamentos analíticos envolvi-
dos com algumas análises físico-químicas que avaliam a qualidade da água
e do ar, entre eles: a volumetria de óxido-redução, o método do iodo e o
método enzimático.
Abordamos algumas análises físico-químicas e biológicas das águas resi-
duais e naturais, que estão relacionadas aos parâmetros físico-químicos que
auxiliam na determinação dos padrões de potabilidade, entre elas: a análise
que determina o oxigênio dissolvido no meio aquático, e sobre essa análise
avaliamos os fatores que influenciam na quantidade de oxigênio dissolvido na
água (temperatura, salinidade, pressão atmosférica, altitude, características
hidráulicas e velocidade de deslocamento água superficial e os fatores que al-
teram as atividades fotossintéticas); a análise e a importância da determinação
da demanda química de oxigênio (DQO); a determinação do teor de ferro na
água; a determinação do cloro residual livre; a determinação da acidez na água
(ou esgoto) devido ao CO2, ácidos minerais e sais hidrolisados; e a determina-
ção de coliformes fecais na água.
Ainda sobre análise das águas, estudamos como decidir sobre o melhor mé-
todo de tratamento. Após, aprendermos sobre as análises das águas, aprende-
mos sobre as análises que envolvem a qualidade do ar e os parâmetros adota-
dos pelas organizações de saúde.
Por fim, aprofundamos nossos estudos no método visual SIERP que deter-
mina o índice de qualidade do ar por meio de partículas sedimentadas no ar,
coletadas nas águas exposta e filtrada.

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