You are on page 1of 6
Capitulo 3a do livro RELATO INTEGRADO E SUSTENTABILIDADE. Kassai, J.R. 2019 16 3.3 Desvendando o Termémetro de Insolvéncia de Kanitz termémetro de Insolvéncia de Kanitz foi divulgado pela primeira vez em uma publicagdo na Revista Exame em dezembro de 1974 e, surpreendentemente, o autor mostrou que € possivel prever com antecedéncia a faléncia de uma Companhia. O professor e colega Stephen Charles Kanitz, do Departamento de Contabilidade e Atuarias da FEA/USP, havia coneluido o seu mestrado nos EUAS ¢ exerceu durante mais de duas décadas a coordenagao da edigdo especial da Revista Exame, denominada “Melhores & Maiores”, e ao aplicar seu modelo, inovou 0 processo de andlises econémica e financeira das demonstragdes contibeis, Naquela época Kanitz aplicou o seu modelo na andlise das 500 Melhores & Maiores Empresas Brasileiras e a empresa escolhida como a melhor do ano apresentou um fator de insolvéncia igual a +10, enquanto que uma outra empresa que apresentou fator igual a -2.6 pediu concordata no ano seguinte, com fator havendo caido para ~7, No Brasil, o modelo de Kanitz foi um dos precursores (1972), nos EUA Edward Altman ja explorava essa técnica (1930) e atualmente ha diversos modelos mais atualizados e sofisticados Entretanto, em nenhum momento o autor revelou como chegou a férmula de caleulo, dizendo apenas tratar-se de um ferramental estatistico: “Para calcular 0 fator de insolvéncia usamos uma combinagao de indices ponderados estatisticamente. Trata-se de uma ponderacdo relativamente complexa’’’. |UDICIBUS (1990), em seus livros de analises de balango, também relata 0 fato: “Stephen Charles Kanitz construiu 0 termémetro de insolvéncia, por outro lado niio revelou a metodologia empregada”” E, num trabalho de pesquisas do doutorado na FEA/USP, KASSAI (1998) elaborou uma investigagdo intitulada “Desvendando 0 Termémetro de Insolvéncia de Kanitz”, publicada inicialmente nos anais do XIX EnANPAD (1998), no Caderno Tematico da 1OB (1999) e, dentre outros, na Revista do CRCSP (1999), na qual se baseia o presente t6pico deste livro, O objetivo € mostrar, passo-a-passo, como se pode construir um modelo semelhante ¢ incentivar 0 uso desse ferramental, O ferramental matematico que fundamenta esse tipo de modelo ¢ uma técnica estatistica denominada “andlise discriminante” e seré demonstrado por meio de céleulos de regressdo linear e utilizando-se as tradicionais planilhas eletrénicas Excel, Para demonstrar a técnica, desenvolvemos cinco passos basicos para a construgao desse modelo, a saber: Obter os dados e montar o problema. Efetuar o calculo de regressio linear e definir a equagdo discriminante Construir uma coluna chamada escore diseriminante e calcular 0 ponto de corte Analisar 0 grau de preciso do modelo. Construir o termémetro de insolvéncia. weene ara ilustrar esses passos, criou-se um caso simplificado para fins didaticos, a partir de uma amostra de apenas 20 empresas, sendo 10 empresas consideradas solventes ¢ 10 empresas + Kanitz estudou na mesma turma do Bill Gates na Universidade de Harward ¢ soube-se que o americano n&o concluin o curso! © Kanitz, Stephen Charles. Como prever a faléncia de empresas. Artigo publicado na Revista Exame, dezembro de 1974, pag. 95 a 102, Capitulo 3a do livro RELATO INTEGRADO E SUSTENTABILIDADE. Kassai, J.R. 2019 17 consideradas insolventes. As empresas solventes foram escolhidas pelo consenso geral (sem nenhum outro método sofisticado) ¢ as insolventes com base em empresas que ja haviam falido. Para cada uma dessas empresas, selecionou-se inicialmente dezenas de indicadores, mas, apés uma simples andlise de correlago entre eles, ¢ também a experiéneia do autor, eliminou-se aqueles com forte correlagdo positiva e restaram 3 indicadores significativos para 0 modelo a ser criado (Ind1, Ind2 e Ind3)." 1. Passo: Obter os dados e montar o problema Com base nos dados iniciais, montou-se 0 problema atribuindo-se nimeros 2 e 1, respectivamente, para as denominacGes de empresas “solvente” e “insolvente”, para possibilitar © processamento dos célculos, a saber* Empresa Indi Ind2 Ind3_ Classif__Classif 1 81 0,13 0,64 — Solente 2 2 6,6 0,10 1,04 — Sobente 2 3 5,8 0,11 0,68 — sohente 2 4 12,3 0,09 0,80 — Sohente 2 5 4,5 0,11 0,69 — Sovente 2 6 91 0,14 0,74 — Sohente 2 7 1,1 0,12 0,63 — Sohente 2 8 89 0,12 0,75 — Sonente 2 8 0,7 0,16 0,56 — Sohente 2 1 98 0,12 0,65 Sovente 2 4 7,3 0,10 0,55 — Insohente 1 12 14,0 0,08 0,46 —_insohente 1 13 9,6 0,08 0,72 — Insohente 1 14 12,4 (0,08 0,43 Insohente 1 18 18,4 0,07 0,52 _insohente 1 16 8,0 0,08 0,54 — Insohente 1 17 12,6 0,09 0,30 _Insohente 1 18 9,8 0,07 0,67 — insohente 1 19 83 0,09 0,51 — insohente 1 1 20206 0,13 0,79 _insolvente 7 A titulo de curiosidade, estamos concluindo um modelo para prever se um aluno vai ser aprovado ou no em nossas disciplinas. A amostra & composta por um grupo formado pelos melhores alunos que jé tivemos e por outro ‘grupo de alunos que foram reprovados. E 0s indicadores esto sendo detinido a partir do seguinte banco de dados idade, sexo, altura, nota do Enem, cor dos olhos, média geral do ensino bsico, quantidade de livros que jé leu, profissio dos pais, teste de conceitos basicos, se jd montou o cubo mégico, horas na internet, se namora, se é casado, se tem filho, se trabalha, se gosta de matemiitia, consumo da conta de luz etc, O que voe® sugere para nos ajudar? (jrkassai@usp br) Poder-se-iaatribuir quaisquer outros nimeros e alguém sabe por atribuimos 2 ¢ 1 (e nfo | e 2)? Resposta = para que o termémetro nio ficasse de “ponta cabega” Capitulo 3a do livro RELATO INTEGRADO E SUSTENTABILIDADE. Kassai, J.R. 2019 18 2, Passo: Efetuar o calculo de regressao linear e definir a equacio discriminante Com base na planilha de dados no Excel, pode-se calcular a regressdo linear com base na fungao de Regressio. Caso esta fungao nao esteja habilitada, pode-se fazé-la clicando na guia “Arquivo”, em “Opgdes”, em “Suplementos” e escolhendo a opgdo Ferramentas de Analises. e ae a 2 3 (empresa ind — ina Casi m=) 3 68 O40 108 6 5 58 OM O88 7 ‘ 23 om 080 me : 5 ao on oe tet ee ees 10 , 1 on 08s 2 ne lose " ' 89 O32 075 eta . 2 : 07 a8 038 ae ir 7 73010055 = i 6 88 Ope 72 ” “ 124 G08 048 8 s sas 007 082 freaaeey cn = 20 O08 54 2 ° 128 Gon 030 ree nt 2 * 98 O07 OB? = 2 x mu 013070 A opie F e H 28 7 28 RESUMO DOS RESULTADOS 29 30 EWalistica de regressio 31 Rap mai 32 R-avadrado 0600 33. Reauatado auscado nse 34 eo paso os 20 Goofciontes Eropadie Siti valrP OGM OoNaup _—WFOSOR Sep 050% (66100) 04040762 _057E4 07259 Detane421 4.151280057 -orea042 11512000 ‘0189009 -22red8 0.0368 -0.07OSEDHEA 01002306734 -00TODEDS 00025967 vea0i7 259672 019 _o.21064e704_2ABARGISASO2VeN4BD _2,1047515 ‘Apés avaliar a qualidade da fungo discriminante (R quadrado = 0,69), pode-se escrever a equagdo da reta? com base nos coeficientes obtidos, a saber: Y = 0,16619 — 0,036449(Ind1) + 8,859217(Ind2) = 1,2005(Ind3) * Emtao, como se pode ver, a formulagdo de Kanitz, é uma equagdo ou fungdo linear obtida, provavelmente, por meio de cdleulos de regressio — lembrando que naquela época ainda nao estavam disponiveis calculadoras, computadores, nem planilhas de cAlculos; comenta-se que os calculos foram feitos por meio de cart6es perfurados nos computadores da Poli-USP. Capitulo 3a do livro RELATO INTEGRADO E SUSTENTABILIDADE. Kassai, J.R. 2019 3. Passo: Construir uma coluna chamada “Escore Discriminante” e calcular 0 “Ponto de Corte”. A coluna escore discriminante a propria equago da reta aplicada para cada uma das empresas e com base em seus respectivos indices. Para apurar-se 0 ponto de corte, primeiro calcula-se a média do escore das empresas solventes (2) e das insolventes (1) e, em seguida, 0 ponto de corte" é obtido pela média das duas médias, que ¢ igual a 1,5. E para que serve o ponto de corte? A resposta é ébvia: para separar as clas entre solventes (acima) e insolventes (abaixo) dele. A B c F GS 2 3 Empresa Ind1 Ind2__Ind3__Classif Escore 4 7 81 0,13 0,64 2 1,791 5 2 66 0.10 1,04 2 2,060 6 3 5,8 0,11 0,66 2 1,722 7 4 12,3 0,09 0,80 2 1,476 8 & 45 011 0.69 2 1,805 9 6 9,1 0.14 0,74 2 1,963 ia 7 4,1 0,12 0,63 2 1,946 11 8 89 012 0,75 2 1,805 12 | 9 0,7 016 0,56 2 2,230 13) +0 98 0,12 0,85 2 4,652 14| 4 7,3 0,10 0,55 1 1,446 15. 12 14,0 0,08 0,46 1 0,917 16 13, 9,6 0,08 0,72 1 1,389 17) 14 12,4 0,08 0,43 1 0,939 18) 18 184 0,07 0,52 1 0,740 19 16 8,0 0,08 0,54 1 4,232 20 w 12,6 0,09 0,30 1 0,864 21! 18 9,8 0,07 0,67 1 1,233 22| 19 83 0,09 0,51 1 1,273 23 20 20,6 0.13 0.79 4 1,515, 24 Média (2) 1,155 Média (1) 1,845 Como se pode comprovar, 0 ponto de corte ¢ exatamente a média entre os valores atribuidos para as empresas solventes (2) e insolventes (1). Ha outras formas de refinar © ponto de corte, como caleulo das distancias ceuclidianas, ponto de Mahalanobis ete., que empurraria 0 ponto de corte um pouco para cima ou para baixo, mas no & 0 objeto discutir neste momento Capitulo 3a do livro RELATO INTEGRADO E SUSTENTABILIDADE. Kassai, J.R. 2019 20 1. Passo: Analisar o Grau de Preciséo do modelo Note que das vinte empresas, duas delas foram classificadas pelo modelo de forma divergente da classificagdo original: a empresa 4 era classificada originalmente como solvente, mas © modelo classificou abaixo do ponto de corte, ¢ a empresa 20 originalmente era classificado como insolvente, mas © modelo classificou acima do ponto de corte Portanto, mesmo “raspando” o ponto de corte, os 18 acertos correspondem a um grau de precisdo de 90%, validando 0 modelo. F, caso o grau de precisdo fosse muito baixo, teriamos que recomegar desde o passo 1; igualmente se o R2 fosse insignificante. A B c D — E co 2 3 Empresa Ind4 Ind2__Ind3__Classif. Escore 4 1 8,1 0.13 0.64 a 41,791 5 2 6.6 0,10 1,04 2 2,060 6 3 58 011 0,66 2 4,722 fd 4 12,3 0,09 0,80 Z 1,476 8 5 45 0.11 0,69 2 1,805 9 6 91 0.14 0,74 2 1,963 10 7 41 0,12 0,63 2 1,946 1 8 89 012 0,75 2 4,805 12 9 07 0,16 0,56 2 2,230 13 10 98 012 0.65 2 1,652 14 " 7,3. 0,10 0,55 1 1,486 15 12 14,0 0,08 0,46 1 0,917 16 13 96 0,08 0,72 1 1,389 17 14 12,4 0,08 0,43 1 0,939 18 5 18,4 0,07 0,52 1 0,740 19 16 8,0 0,08 0,54 1 4,232 20 7 12,6 0,09 0,30 1 0,864 21 18 98 0,07 0,67 1 1,233 22 19 8,3 0,09 0,51 1 41,273 23 20. 20,6 0.13 0,79 4 1,515 24 25 26 Grau de Preciséo = 90% Capitulo 3a do livro RELATO INTEGRADO E SUSTENTABILIDADE, Kassai, JR. 2019 21 2. Passo: Construir o Termémetro de Insolvéni A exemplo do modelo de Kanitz, pode-se construir 0 seu termémetro calculando-se 0 desvio-padrao e as médias dos escores discriminantes de cada grupo e, em seguida, desenhar 6s intervalos nas curvas normais, considerando-se a dispersdo de um desvio-padrio para cada um dos grupos de empresas, Note que ha um intervalo (1,41 a 1,65) que & comum aos dois grupos e que Kanitz denominou de “penumbra”, O intervalo acima de 1,65 identifica as empresas “solventes” ¢ abaixo de 1,41 as empresas “ | F eas B 29)|D.Padrao do Grupo 2.. 0,20 =DESVPADP(FS:F14) 2il|D.Padrao do Grupo 1 0.25 | =DESVPADR (15 F24) 3t 2 416 B 1,85 uM 45. [S| Nosso TenmOMerno DEINSOLVENGIA INSOLVENTE

You might also like