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Marketing
Comportamento de cocriação de valor do consumidor como antecedente
da satisfação e lealdade
Customer value co-creation behavior as a preceding of satisfaction and loyalty
Ricardo Saraiva Frio a,∗ e Vinícius Sittoni Brasil b
a Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RG, Brasil
b Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil
Recebido em 6 de novembro de 2014; aceito em 8 de dezembro de 2015
Disponível na internet em 19 de maio de 2016
Resumo
Com o crescente debate sobre a lógica de serviço dominante no marketing, a cocriação de valor tornou-se um conceito central nos debates
acadêmicos, tendo em vista sua relevância para a lógica proposta. No presente estudo buscou-se avaliar as consequências do comportamento de
cocriação de valor do consumidor. Pautando-se no modelo de Yi e Gong (2013), que avalia esse comportamento como um constructo de terceira
ordem, duas coletas de dados foram feitas. Na primeira buscou-se validar – no contexto brasileiro – a escala proposta. Para a segunda coleta avaliou-
-se a cocriação do consumidor como uma variável antecedente da satisfação e lealdade. Além disso verificou-se se o tempo de relacionamento
se comporta como moderador da relação entre constructos de segunda e terceira ordem. Os resultados apontam que a cocriação de valor prediz a
satisfação e lealdade. O estudo contribuiu ao validar o primeiro modelo de cocriação de valor para o contexto brasileiro. Além disso, apresentou
consequências positivas que esse comportamento gera aos consumidores. Os resultados obtidos indicam que apesar de se estudar a criação de valor
de forma distinta àquela anterior a lógica de serviço dominante, a maneira como o consumidor percebe o valor permanece inalterada.
© 2016 Departamento de Administração, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA/USP.
Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este é um artigo Open Access sob uma licença CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-
nd/4.0/).
Abstract
Thanks to the growing debate about the service-dominant logic in marketing, value co-creation has become a central concept in academic debates,
given its relevance to the logic proposed. In this study we sought to evaluate the consequences of the behavior of the consumer’s co-creation of value.
Always focusing on the model of Yi and Gong (2013), which evaluates this behavior as a third order construct, two data collections were carried
out. At first we attempted to validate the proposed scale in the Brazilian context. For the second collection we evaluated the consumer’s co-creation
as a preceding variable of satisfaction and loyalty. In addition, it was found that the relationship time acts as a moderator of the relationship between
second- and third-order constructs. The results indicate that the value co-creation predicts satisfaction and loyalty. The study helped to validate
the first model of value co-creation for the Brazilian context. Additionally, it showed how this behavior can result in positive consequences for
clients. The results indicate that despite studying value creation differently from the way it has been done before service-dominant logic, the way
consumers perceive value remains unchanged.
© 2016 Departamento de Administração, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA/USP.
Published by Elsevier Editora Ltda. This is an open access article under the CC BY-NC-ND license (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-
nd/4.0/).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rege.2015.12.003
1809-2276/© 2016 Departamento de Administração, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA/USP. Publicado
por Elsevier Editora Ltda. Este é um artigo Open Access sob uma licença CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
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(2012) identificam que a participação do consumidor aumenta comportamento disfuncional do comprador (Fisk et al., 2010).
sua satisfação. Resultados semelhantes foram encontrados por Todavia, os clientes devem buscar um comportamento funcio-
Dong et al. (2008) e Roggeveen, Tsiros e Grewal (2012) em um nal, baseado no respeito e na confiança (Ennew e Binks, 1999;
contexto de recuperação de falhas de serviço. Yi e Gong, 2013). O compartilhamento de informações cor-
Fang (2008) identificou que a participação do consumidor no responde à execução do serviço, a qual só ocorrerá com base nas
processo de desenvolvimento de novos produtos gera diferentes informações prestadas por quem consome (Yi e Gong, 2013).
impactos na inovação e velocidade do mercado. Fang, Palmatier Para participar da execução do serviço, o cliente deve buscar
e Steenkamp (2008) atestam que a participação do consumi- informações acerca dos processos para melhorar sua perfor-
dor nesse processo gera benefícios à empresa, como valor aos mance como coprodutor (Yi e Gong, 2013). O consumidor
produtos desenvolvidos. apresenta um papel de produtor do serviço (Zeithaml, Bitner e
Auh et al. (2007) identificaram que a participação ante- Gremler, 2014). Ao assumir um comportamento responsável,
cede a lealdade do consumidor. Pacheco, Lunardo e Santos ele faz as tarefas que lhe são solicitadas, almeja atingir os resulta-
(2013) notaram que a participação (denominada no estudo como dos propostos, beneficiar a si e à empresa (Ennew e Binks, 1999).
coprodução) antecede a satisfação, essa relação é totalmente
mediada pelo controle percebido. Modelo de pesquisa e hipóteses do estudo
McColl-Kennedy et al. (2012) avaliaram – por meio de grupos
de foco e entrevistas em profundidade – ações dos consumidores Na figura 1 apresenta-se o modelo de pesquisa do presente
como cocriadores de valor. Esses autores identificaram várias estudo. Nota-se que além da proposição original de Yi e Gong
atividades, entre elas a coprodução. Brown (2007) afirma que (2013), inseriram-se uma variável moderadora e duas endóge-
existe pouca clareza acerca da distinção dos termos cocriação nas.
e coprodução, porém a cocriação de valor é um termo mais
amplo que abrange, entre outros, a coprodução (Lusch, Vargo e Lealdade
O’Brien, 2007). Para a proposição dessa hipótese identificam-se inicialmente
A partir disso, Yi e Gong (2013), propuseram que o compor- estudos que relacionam de maneira positiva a participação e
tamento de cocriação de valor do consumidor é um constructo cidadania com a lealdade, em um segundo momento argumenta-
de terceira ordem e formativo, é composto pela participação e -se que apesar de existir uma mudança na criação de valor, a
cidadania. Os autores consideram o primeiro mais importante e percepção por parte do consumidor permanece igual.
relevante à cocriação de valor, porém não exclusivo nesse pro- Nota-se que a lealdade não apresenta uma definição e
cesso. A participação compreende que a entrega de serviços operacionalização definida entre os pesquisadores. Alguns auto-
passa pela atuação e participação dos consumidores (Ennew e res verificam o constructo e consideram o aspecto atitudinal e
Binks, 1999; Yi e Gong, 2013). A cidadania é um papel volun- comportamental (por exemplo, Dick e Basu, 1994), a verificação
tário do consumidor para auxiliar na empresa (Groth, 2005; é feita também nas dimensões cognitiva, afetiva, conativa e de
Yi e Gong, 2013). Busca de informação, compartilhamento ação (por exemplo, Harris e Goode, 2004; Vieira e Slongo,
de informação, comportamento responsável e interação pessoal 2008).
compõem a participação. Por sua vez feedback, ajuda, tolerância Sirdeshmukh, Singh e Sabol (2002) e Zeithaml, Berry e
e advocacia são constructos de primeira ordem de cidadania (Yi Parasuraman (1996) avaliam a lealdade na perspectiva unidi-
e Gong, 2013). mensional. Os autores consideram que a intenção de recompra
Um comportamento de ajuda se refere ao consumidor auxi- e o boca a boca positivo integram o constructo.
liar outros durante o processo de uso de um serviço, o cliente Brown e Dant (2008) identificaram que a lealdade é um
com maior conhecimento apresenta ferramentas e apoio neces- tópico continuamente pesquisado no contexto de varejo. Con-
sários àqueles que encontram dificuldades para fazer suas tarefas quistar e manter a lealdade dos consumidores é o objetivo das
no serviço (Yi e Gong, 2013). A advocacia é conceituada como organizações (Harris e Goode, 2004). Empresas têm investido
uma atividade de recomendação da organização a outros (Yi e em programas de fidelidade, como forma de manter seu relaci-
Gong, 2013). onamento com clientes em longo prazo (Mimouni-Chaabane e
Feedback associa-se com comentários, positivos e negativos, Volle, 2010). Nota-se assim a importância acadêmica e gerencial
por parte dos consumidores com relação aos produtos e pro- acerca do que mantém o cliente leal ou não.
cessos organizacionais (Verleye, Gemmel e Rangarajan, 2014). Auh et al. (2007) constatam que a participação do consumidor
Ideias de consumidores e outros stakeholders são importantes prediz sua lealdade, essa relacionada com intenções de retorno.
para a obtenção de melhor eficiência organizacional (Podsakoff Castro, Armario e Ruiz (2004) apontam uma relação positiva
et al., 2000). Groth (2005) conceitua o comportamento cidadão entre a cidadania da organização e lealdade dos consumidores.
com base nesses três comportamentos. Yi e Gong (2013) inseri- Deve-se notar que anteriormente à lógica de serviço domi-
ram a tolerância como componente da cidadania do consumidor. nante, empresários e acadêmicos de marketing entendiam que o
Os autores pressupõem que o comprador aceita eventuais falhas valor era criado pelas empresas ao consumidor, que usava ou o
da empresa na entrega de serviço. destruía com base em suas expectativas (Zeithaml, 1988). Vargo
O processo de serviço exige, em muitas situações, uma e Lusch (2004) entendem que o consumidor deve ser envolvido
interação pessoal entre consumidores e funcionários. Mui- no processo de criação de valor. Para Prahalad e Ramaswamy
tos são os casos em que esse encontro ocorre com um (2002), o cliente é um agente ativo na criação de valor.
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Buscade informação
Compartilhamento de
informação H4a
Participação H2
Comportamento Satisfação
responsável
Interação pessoal
Comportamento de H3
cocriação de valor do
consumidor
Feedback
Lealdade
Cidadania H1
Advocacia
H4b
Ajuda
Tolerância
Tempo de
relacionamento
Para Lusch, Vargo e O’Brien (2007, p. 7), “não existe valor (Hoffman et al., 2010). A satisfação é compreendida como a
até que a oferta seja usada – experiência e percepção são essen- comparação da expectativa do consumidor com o serviço e o
ciais à determinação de valor”. Grönroos (2011) afirma que o resultado obtido (Hoffman et al., 2010; Zeithaml et al., 2014).
valor é acumulado ou destruído durante o processo. Grönroos De fato, Oliver (1980) considera que a expectativa é
(2008) considera que cocriação é criar valor em uso pelo e para o um elemento preponderante no comportamento pós-compra.
consumidor. Grönroos (2008; 2011), Grönroos e Ravald (2011) A satisfação é relevante na imagem do consumidor com a
e Grönroos e Voima (2013) consideram que no valor em uso o organização e associado com outros constructos importantes,
papel da empresa é apenas propor valor o qual deve ser aceito por exemplo, valor percebido e lealdade (Fornell et al., 1996).
pelo consumidor, iniciar assim a criação de valor do cliente. Bendapudi e Leone (2003) demonstraram que a participação
Assim, observa-se que o consumidor somente irá (co)criar o do consumidor influencia sua satisfação, porém quando escolhe
valor quando aceitar a oferta da empresa. participar dos processos da empresa e o resultado final é inferior
Barrutia e Gilsanz (2013) e Chan, Yim e Lam (2010) enten- àquilo que ele espera. Dellande, Gilly e Graham (2004), Guo
dem que no processo de cocriação, o valor tem a mesma et al. (2013) e Pacheco, Lunardo e Santos (2013) mostraram que
conotação daquela proposta por Zeithaml (1988). Barrutia e a maior participação do consumidor afeta de maneira positiva
Gilsanz (2013) propõem que o valor é cocriado e após isso sua satisfação.
percebido pelo consumidor. Williams (2012) fala que o valor Chang, Chiang e Han (2012) e Groth (2005) indicaram
é percebido e determinado pelo consumidor, a partir da oferta que a cidadania das empresas influencia de maneira positiva a
da empresa, o cliente se baseia no valor em uso. satisfação do consumidor. Prahalad e Ramaswamy (2004) enten-
Com base nessa premissa, Echeverri e Skalén (2011) apresen- dem que a cocriação gera satisfação no consumidor. Conforme
tam a ideia de que o valor não é apenas cocriado, advém de boas mencionado anteriormente, autores que avaliam a cocriação
experiências, porém também é codestruído, resulta de interações a partir da participação identificaram uma relação positiva
decorrentes de experiências negativas. Os autores denominam da participação com a satisfação (Chan, Yim e Lam, 2010,
essa ideia como codestruição de valor. Roggeveen, Tsiros e Grewal, 2012 e Yim, Chan e Lam, 2012).
Argumenta-se assim que, apesar da mudança no processo de Cossío-Silva et al. (2013) relacionaram de maneira positiva o
criação de valor, a percepção por parte do consumidor perma- comportamento de cocriação de valor do consumidor – con-
nece inalterada. Dessa forma, as relações consolidadas sobre forme conceituado por Yi e Gong (2013) – com a satisfação.
o valor percebido permanecem semelhantes. Nota-se um largo Em conformidade com o exposto na subseção anterior,
corpo de artigos que avaliam a lealdade como uma consequência argumenta-se que apesar de o processo de criação de valor
do valor percebido (Agustin e Singh, 2005; Brasil, 2005, 2006; sofrer alterações, o entendimento sobre a percepção de valor
Brei e Rossi, 2005; Sirdeshmukh et al., 2002; Yang e Peterson, do consumidor permanece inalterado. Kim, Kim e Goh (2011) e
2004). Assim: Yang e Peterson (2004) identificam o valor percebido como um
H1: O comportamento de cocriação de valor do consumidor antecedente da satisfação. Dessa forma:
afeta de maneira significante e positiva a lealdade. H2: O comportamento de cocriação de valor do consumidor
afeta de maneira significante e positiva a satisfação.
Satisfação
Giese e Cote (2000) alertavam sobre múltiplas na definição Satisfação e lealdade
do constructo. Estudos sobre a satisfação remontam à década Notam-se vários artigos que relacionam de maneira positiva a
de 1970, é um dos principais tópicos trabalhados em marketing, relação entre satisfação e lealdade (Brasil, 2005; Harris e Goode,
observado pelo elevado número de publicações sobre o tema 2004; Santos e Fernandes, 2008; Tarasi et al., 2013). Deve-se
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notar a importância de replicações de resultados para o cresci- Yim e Lam (2010) reportaram altos índices de confiabilidade.
mento da ciência (Evanschitzky e Armstrong, 2013). Com base Por não se identificarem traduções válidas de ambas as escalas,
nessas considerações: fez-se um processo de tradução reversa. Duas pessoas com alto
H3: A satisfação impacta positiva e significativamente na conhecimento em língua inglesa traduziram a escala ao portu-
lealdade. guês, outras duas tradutoras fizeram o processo inverso. Ao notar
semelhanças entre as versões originais e traduzidas encerrou-se
Tempo de relacionamento o processo.
Ao propor sua escala, Yi e Gong (2013) sugerem que A lealdade foi mensurada com base na proposição de
futuros estudos avaliem o tempo de relacionamento do consu- Sirdeshmukh et al., 2002. Essa escala apresentou resultados
midor como um moderador das relações no comportamento de positivos como variável endógena do valor percebido no estudo
cocriação de valor. Dentro da lógica de serviço dominante, o original e estudos brasileiros (Brasil, 2005; Brei, 2001). Para
relacionamento tem um papel de extrema importância (Vargo tempo de relacionamento usou-se um item que variou de até
e Akaka, 2009). Lindgreen et al. (2012) afirmam que o valor dois anos a mais de oito anos de relacionamento. Solicitou-se
do relacionamento apresentou importância para a evolução e a que três professores com doutorado em marketing avaliassem os
cocriação de valor. Payne, Storbacka e Frow (2008) ressaltam itens usados para mensuração dos constructos. Após as suges-
que a cocriação é um processo contínuo de relação entre consu- tões consolidou-se o instrumento final, que é observado no
midores e empresas. Aggarwal (2004) e Ennew e Binks (1999) quadro 1.
observam que alguns pontos da participação e cidadania estão
ligados ao relacionamento com a empresa. Dessa forma: Estudo-piloto
H4a: O maior tempo de relacionamento do consumidor com
a empresa aumenta a relação entre participação e o comporta- O objetivo do estudo-piloto foi avaliar o comportamento da
mento de cocriação de valor do consumidor. escala de comportamento de cocriação de valor do consumidor
H4b: O maior tempo de relacionamento do consumidor com a no contexto brasileiro. Para isso fez-se uma coleta de dados com
empresa aumenta a relação entre a cidadania e o comportamento estudantes de uma universidade de Porto Alegre (RS). Os ques-
de cocriação de valor do consumidor. tionários foram entregues em sala de aula e autopreenchidos.
Os respondentes deveriam escolher uma experiência de serviço
Método de pesquisa recente (companhia aérea, banco, hotel, salão de beleza, serviço
de saúde, restaurante de serviço completo e loja de varejo). Com
Nesta seção estão descritos os processos de obtenção e aná- base nessa experiência, deveriam preencher os questionários. No
lise de dados usados em ambas as coletas feitas. A primeira fim do questionário foram solicitadas variáveis sociodemográ-
objetivou avaliar o comportamento da escala de comportamento ficas (sexo, renda e idade). A coleta ocorreu entre 29/10/2013 e
de cocriação de valor do consumidor no contexto brasileiro. 01/11/2013.
Para a segunda coleta buscou-se testar as hipóteses propostas. O A análise dos dados iniciou-se com avaliação dos missing
estudo se caracteriza como descritivo e transversal. Em ambas value, outliers e normalidade dos dados. Após isso se fez a aná-
as coletas usou-se uma escala do tipo Likert com cinco opções lise fatorial confirmatória (Hair et al., 2009). Iniciou-se pela
de resposta (Revilla, Saris e Krosnick, 2014; Weijters, Cabooter avaliação dos índices de ajustamento, com base em Bagozzi e
e Schillewaert, 2010). Yi (2012) e Hair et al. (2009). Optou-se pelo uso dos seguintes
itens: 2/GL (que deveria apresentar valor compreendido entre
Operacionalização das variáveis 1 e 5); CFI (>0,9); TLI (>0,9); IFI (>0,9); GFI(>0,9); RMSEA
(<0,07); e SRMR (<0,07).
Para mensurar o comportamento de cocriação de valor do Atestou-se a confiabilidade por meio da confiabilidade com-
consumidor usou-se a escala proposta por Yi e Gong (2013). Os posta e variância extraída. Respectivamente, esses valores
autores conceituaram o comportamento de cocriação de valor devem ser superiores a 0,6 e 0,5. Nessa etapa foram avalia-
do consumidor como um modelo de terceira ordem e formativo das as cargas fatoriais que devem ser maiores do que 0,7 (Hair
(formado por cidadania e participação do consumidor). Dessa et al., 2009). Hair et al. (2014) sugerem que quando as cargas
forma, a soma dos constructos de segunda ordem formam o apresentam valores compreendidos entre 0,4 e 0,7, devem ser
constructo de terceira ordem (Bagozzi, 2007). Conforme men- excluídas se incorrerem em substanciais melhorias nos valores
cionado anteriormente, esse estudo é considerado o primeiro a de confiabilidade composta e variância extraída.
mensurar o constructo. Yi e Gong (2013) atestaram bons índi- Na sequência observou-se a validade convergente (avaliaram-
ces de ajuste, confiabilidade e validade da escala. Ranjan e Read -se os t-values superiores a 1,96 p<0,05) (Dunn, Seaker e Waller,
(2014) propuseram a cocriação de valor igualmente como um 1994) e validade discriminante (atestada quando o valor da
constructo de terceira ordem. Para esses autores esse comporta- variância extraída for superior ao quadrado das correlações do
mento é formado pela coprodução (participação) e valor em uso constructo) (Fornell e Larcker, 1981). Atestando-se esses resul-
do consumidor. tados, consolida-se a validade do constructo (Dunn, Seaker e
A medida usada por Chan, Yim e Lam (2010) foi usada para Waller, 1994).
avaliar o constructo satisfação. A mesma fora avaliada como uma Conforme a conceituação de Yi e Gong (2013), o compor-
consequência do valor percebido pelos consumidores. Chan, tamento de cocriação de valor do consumidor é observado por
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Tabela 1
Índices de ajuste
Inicial Final Yi e Gong (2013) Cossío-Silva et al. (2013)
meio da participação e cidadania do consumidor. Essa relação é Após isso se fez a análise do modelo estrutural. Em um
hierárquica (terceira ordem) e formativa, ou seja, a soma desses primeiro momento observou-se a colinearidade dos dados (por
constructos forma a cocriação (Wilcox, Howell e Breivik, 2008). meio do valor do VIF, que deve ser inferior a 5). Fez-se o proce-
Usaram-se os preceitos sugeridos por Becker, Klein e Wetzels dimento Bootstrapping com 5.000 amostras (Hair et al., 2014)
(2012). Com isso fez-se a repetição de indicadores modo B e pro- para se observar a significância das relações (1,96, p>0,05).
cedimento Bootstrapping com 5.000 amostras (Hair et al., 2014).
As variáveis de primeira ordem foram repetidas nos constructos
de segunda e terceira ordem. O modelo é confirmado quando Resultados
a relação entre os constructos de ordem inferior e superior é
significante (1,96, p<0,05). Estudo-piloto
Tabela 2
Validade discriminante e confiabilidade
Confiabilidade composta CompInfo CompRes IntPess Advo Ajuda Tol Feedback
Tabela 5
Validade discriminante e confiabilidade
CC Advo Ajuda BuscaInfo CompInfo CompRes Feedback IntPess Leal Satis Tol
Busca de
informação
Compartilhamento
de informação NS
Participação (+)
²
Comportamento Satisfação R = 0,512
responsável
β = 0,715
Interação pessoal
Comportamento de
cocriação de valor do (+) β = 0,499
consumidor
Feedback
β = 0,426
Advocacia Cidadania
(+) ²
Lealdade R = 0,735
(+)
Ajuda
Tolerância
Tempo de
relacionamento
comportamento de cocriação de valor do consumidor. Além uma perspectiva de coprodução, na qual o consumidor é um auxi-
disso, foi validada uma escala cuja finalidade é mensurar esse liar na execução das tarefas. Na presente pesquisa a cocriação foi
constructo. avaliada com base na perspectiva da lógica de serviço dominante.
Duas coletas de dados foram feitas. Em um primeiro ins- Assim, além da participação, outros comportamentos devem ser
tante, cinco itens foram retirados da escala de comportamento avaliados e compõem o constructo. No presente estudo, pau-
de cocriação de valor do consumidor, porém os oito constructos tado em modelos anteriormente verificados, acrescentou-se a
de primeira ordem foram mantidos. Na segunda coleta todos os cidadania do consumidor.
itens foram mantidos por apresentar adequados índices. Nota-se Nessa perspectiva, a cocriação passa a ser entendida com
que uma potencial explicação relaciona-se com a diferença entre um papel normativo à execução de serviço (participação do
amostras usadas. No primeiro estudo apenas estudantes foram consumidor) e atitudes voluntárias do consumidor ao serviço
contatados. Na segunda coleta, membros da população em geral (notadamente no presente estudo de cidadania). Essa nova pers-
foram pesquisados. pectiva amplia a função do consumidor com as empresas e o
Os resultados atestam a validade da escala de comportamento próprio conceito de cocriação.
de cocriação de valor do consumidor para uso em estudos no A principal implicação gerencial foi demonstrar que quando
contexto brasileiro, essa é a primeira implicação acadêmica do os consumidores se engajam em um comportamento de
estudo. Além disso, no presente estudo validou-se uma escala cocriação de valor tornam-se satisfeitos e leais com suas empre-
para mensurar a cidadania e a participação do consumidor, esca- sas. Da mesma forma, a escala aqui validada pode ser usada
las que podem ser usadas separadamente em futuros estudos. como ferramenta de diagnóstico das empresas, avaliar sua capa-
A segunda implicação acadêmica foi comprovar que o com- cidade de engajar o seu cliente na cocriação de valor (por
portamento de cocriação de valor do consumidor influencia de exemplo: existem ferramentas para o consumidor gerar feed-
maneira positiva e significativa a satisfação e a lealdade dos con- back?).
sumidores. Esses resultados lançam luz à ideia de que apesar das A primeira limitação da presente pesquisa foi não avaliar
diferenças na forma de criar-se valor no marketing, a percepção variáveis antecedentes ao comportamento de cocriação do con-
por parte do consumidor deve ser avaliada da mesma forma sumidor. Outro ponto limitante foram as escalas de satisfação
que anteriormente a lógica de serviço dominante. Conforme e lealdade usadas – ambas apresentaram relação positiva com
mencionado no capítulo introdutório, alguns autores indicam valor em estudos passados –, não foram usadas medidas que
a necessidade de se identificarem consequências desse compor- gerem um contraponto.
tamento. A validade do instrumento limita-se ao contexto de serviços,
Observou-se também que o maior tempo de relacionamento não gera observações na indústria de bens. Por fim, a cocriação
do consumidor com a empresa aumenta a relação entre cidadania de valor foi avaliada apenas na relação entre consumidores e
e cocriação de valor. Esses resultados apresentam uma variável funcionários; o papel de outros stakeholders – como gerentes,
moderadora que influencia as relações no modelo. fornecedores e outros consumidores – não foi verificado na
A cocriação de valor é debatida há bastante tempo, especi- presente análise. Do ponto de vista metodológico, a amostra
almente nas pesquisas relacionadas com serviços, com base em usada foi não probabilística. Além disso, todas as respostas
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são afirmativas, podem gerar o viés de respostas afirmativas2 Becker, J.-M., Klein, K., & Wetzels, M. (2012). Hierarchical latent variable
(Brown, 2015; Devellis, 2003). models in PLS-SEM: guidelines for using reflective-formative type models.
Long Range Planning, 45(5-6), 359–394.
Sugere-se que futuros estudos avaliem o papel de outros Bendapudi, N., & Leone, R. P. (2003). Psychological implications of customer
stakeholders. Um grande campo de estudos em marketing de participation in co-production. Journal of Marketing, 67(1), 14–28.
serviços indica que outros consumidores influenciam o encon- Bitner, M. J. (2014). A vision for the future of the Journal of Service Research
tro de serviço. Dessa forma, avaliar o quanto a interação entre (JSR). Journal of Service Research, 17(1), 3–4.
consumidores aumenta a cocriação de valor torna-se um estudo Brambilla, F. R., & Damacena, C. (2011). Lógica dominante do serviço em
marketing: estudo dos conceitos e premissas aplicados à educação supe-
relevante. Da mesma forma, sugere-se que novos artigos identi- rior privada na perspectiva docente. Brazilian Journal of Marketing, 10(3),
fiquem variáveis antecedentes ao comportamento de cocriação 151–176.
de valor do consumidor (por exemplo: confiança e engaja- Brasil Vinícius. Análise das variáveis antecedentes e das consequências do
mento); moderadoras (por exemplo: envolvimento e qualidade uso de diferentes sistemas de entrega de serviços (SES). 2005. 198 f. Tese
do relacionamento); e consequências (por exemplo: qualidade (Doutorado em Administração) - Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), Porto Alegre, 2005.
percebida). Brasil, V. (2006). O impacto dos canais de distribuição no comportamento de
Ademais, se sugere que novas pesquisas busquem adaptar e compra no turismo: uma análise das relações entre satisfação, valor e lealdade
ajustar a escala de comportamento de cocriação de valor do con- na aquisição de passagens aéreas por meio de canais interpessoais e canais
sumidor. Nota-se que no decorrer do estudo demonstrou-se que baseados em tecnologia. Turismo – Visão e Ação, 8(3), 361–378.
alguns constructos – sobretudo busca de informação e feedback Brei, V. A. (2001). Antecedentes e consequências da confiança do consu-
midor final em trocas relacionadas com empresas de serviço: um estudo
– apresentaram alguma inadequação. Futuros estudos podem com o usuário de Internet Banking no Brasil. Dissertação (Mestrado em
considerar separar a variável feedback, avaliá-la a partir de uma Administração). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul
atitude de elogio e outra com comentários sobre experiências (UFRGS).
negativas. Além disso, o constructo busca de informação deve ser Brei, V. A., & Rossi, C. A. (2005). Confiança, valor percebido e lealdade
avaliado frente sua efetividade na composição da participação em trocas relacionais de serviço: um estudo com usuários de inter-
net banking no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, 9(2),
do consumidor. A geração ou exclusão de novos itens e variá- 145–168.
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