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O turismo € m € um negocio, um proceso ou uma atividade ‘peradora de impa ‘um conjunto complexo de siste iS que inelui @ economia, os ambientes naturais e 0s construidos pelo homem, as relagdes entre os paises emissores € receptores de turistas, eas rela- Goes entre os lugares onde o turismo ocorre € o restante dla sociedade, Neste livro, P +r M. Burns explica somo a antropologia abre uma janela através da qual a dindmi do turismo pode ser adequadamente ‘analisada ¢ avaliada. Partindo de uma breve apresentagio do desen- volvimento da antropologia como ciéneia social, ele examina: + a definicio e as caracte do turismo; + definigdes ¢ tipologias de turistas; + as relacdes entre turismo e cultura; + 08 temas-chave e os autores importantes na antropologia do tu rismo eas questoes por ela discutidas, + 05 nexos entre a globalizicio, 0 turismo e a antropologia; , + as relagdes entre as teorias do desenvolvimento ¢ subdesenvolvi- mento € antropologia da turismo, Através de exemplos variados, quadros comparativos ¢ de roteiros leitura € reflexiio, o autor discute importa pa do os impactos socioculturais, politicos & econdmicos do turismo e re- mo © culturs ndo € necessaria- re tus vela que a dindmica existent mente “uma coisa ruin! Colegao TOURS | UM) | HM olrassaslogs TURISMO E ANTROPOLOGIA * Peter M. Burns CHR@NOS ee ee SMO E ANTROPOLOGIA Péter M. Burns Turismo e antropologia uma introducao Peter M. Burns ROQUE PINTO CHR®NOS - ROQUE PINTO Authorised transation from English language edition published by Sumario Routledge, a member ofthe Taylor & Francis Group. ns reserved, Todos ivitoa reservar, era © 2002 by Figdes Chronos Comercial Lda Copycight da eisso bra ae Tous Cones fo acape i ons ali! age ak | a \ Diyse Batista Lista de figuras sees 7 Revisio Lista de tabelas 9 Come cos : ‘Alice de Toledo Preficio 13 ers ei Agradecimentos bocteeeeeeeeeee 1S Caeser ‘Das nteracioni de Catalogo ne Puig ( PARTE I: ANTROPOLOGIA, TURISMO E TURISTAS — LAntopologid eevee vee eeeeveeee 19 abgames 2 Turismo a | 3. Turistas a ween 57 ee | | bligf, 4,Cultura .. 2.2... eee 73 q se PARTE 1: ANTROPOLOGIA DO TURISMO, ve GLOBALIZAGAO E DESENVOLVIMENTO. 5.A antropologia do turismo. 6. Questdes discutidas pela antropologia do turismo ....... 113 Turismo como religido e ritual: 0 turismo é wma forma ee moderna de religiao ou peregrinacao? ......eeseeveesee IB | Rua Espirito Sato,s40 Turismo como mudanga social: 0 turismo prejudica 36-0 Si Palo — se | acultura? 12 4 “eta syns brppsnedcoscronos.com.br Turismo como simbolismo e mitologia: o turismo pode ‘emai inosecoechronoscome oferecer 0 “paraiso na Terra”? o.oo ee eee eee ve 133 Turismo nas relagdes locais-globais: 0 turismo gera desenvolvimento? o.oo ec eevee wee BD 7. Globalizagao, turismo ¢ hospitalidade . cee HS 8, Mapeando o pensamento sobre o desenvolvimento... . 161 Anexo especial ao Capitulo 8: Perspectivas tebricas sobre o desenvolvimento Beer er Bibliogre Reg eer ee eye rere er ee eo Indice remissivo 197 Sobre o autor = 203 | Figuras 11 Temas importantes na sociedade ocidental em meados do século x1x 1.2 Temas dos primérdios da antropotogia 1.3 Temas unificadores da antropologia cultural 14 Temas-chave na antropologia cultural 1.5 Blementos da cultura organizacional 2.1 Elementos primérios do turismo 2.2 Sistema turistico (i) 2.3 Sistema turistico (ii) 2.4 Sistema turistico (it) 2.5 Sistema turistico (iv) 3.1 Motivagao: as forgas que direcionam e fundamentam o comportamento 3.2 Determinantes psicologicos da demanda por viagens 3.3.A natureza mutive do turismo e seu consumo 4.1 Componentes da cultura 4.2 Turismo e cultura 5.1 A neyacao dos antropélogos! 5.2 As ralzes da ciéncia social do turismo 5.3 Uma visio antropoligica de um sistema turistico 54 Por que os antropélogos devem estudar 0 turismo 5.5 Motivagao social ¢ consumo do turismo 6.1 Alguns temas da antropologia do turismo 6.2 Pressbes sobre as relagdes entre anfitries e convidados 6.3 Bipolaridades nas relagdes globais-locais do turismo 6.40 enfogue preservacionista para um futuro melhor para o turismo 8.1 Modelo de Desenvolvimento Humano Sustentavel 8.2 Algumas idéias-chave sobre o desenvolvimento 8.3 Tensbes ¢ contradigbes no turismo e no desenvolvimento 8.4 Fatores relacionados a insuficiéncia da anslise politica do turismo i Tabelas 1.1 Algumas datas importantes para os primérdios da antropologia 1.2 TensOes que moldam 2 sociedade 211 Descrigées e definigbes de turismo 3.1 Tipologia dos turistas,por Cohen 3.2 Classficagao de turistase viajantes da American Express (1989) 3.3 Tipologia dos turistas, por Smith (1977) autores da antropologia do turismo 5.2 Inversbes sociais/eulturais Fotografia I Ceriménia de mergutho na terra nailha de Pentecost Vanuatu)” Esta ceriménia complexa é executada por homens e meninos da ilha Pentecost hi centenas de anos e tem dupla finalidade. A primeira delas ¢ provar a masculinida- dee realizar a iniciagio de meninos; a segunda & que, a0 rogarem 0 solo com aca besa no final do salto, os mergulhadores fertlizam simbolicamente a terra para a colheita de inhame da préxima estaga0.O turismo e o deseja de gerarreceta para projetos da aldeis produziram uma terceira razao, Talvez 0 meegulho agora refer- lize, simbolicamente, a colheita de tristas para ano seguinte, Cada mergulhador seleciona seus proprios cipés,cotta-os ¢ amarra as extremida- ‘des com folhas molhadas para que essas nao ressequem. O comprimento das cor das €decidido de acordo com 0 local de onde 0 mergulhador saltars e de seu peso, Isto precisa ser feito com muito cuidado, ji que oefeto desejado & mergulhar e ape- nas tocar a terra com a cabera.A torre, construida de galhos e brotos de plantas, ppode chegara 25 metros de altura. Ela simbaliza a forma de um homem, as pata formas de salto sao colocadas estrategicamente, para coincidicem com "jelhos", “cintura’,Yombros" etc A pessoa que organiaa os elementos priticos do mergulho. (uma vez que 0s aspectos cerimoniais permanecem nas mos dos chefes) faz seu ‘mergulho saltando da “cabesa’, eo mergulho é batizada com sew nome, A danga € acompanhada por cantoria das mulheres da aldea, Esta fotografia foi trad pelo autor em maio de 1988, no primeiro mergulho argenizado em conjunto pelo N tional Tourist Office of Vanuatu, Tour Vanuatu (uma companhia estatal de tris mo} e pelos chefes de Pentecost meridional. A cesimdnia foi conduzida exatamente ‘como manda atradigi, embora descabrissemos, mais tarde, que parte do dinheiro supostamente foi desviada para um politica local eno chegou! ao proto promet doa aldeia O paradoxo, para qualquer aspirante a antroplogo, seria tentar define até que ponto este acontecimento foi “auténtic’ Os turstas com quem conversei na viagem de volta disseram-me que o evento superou stas maiores expeetativas para les e para mim),nio havia nenhuma divida sobre o valor desta surpreendente experiéncia cultural, (+) Repiblica de Vanuatu, formada por tea ilhas prinipais¢ muitasouteas, no se do Pacifico. (N. da.) em. Prefacio Um ntimero cada ver maior de estudantes escreve, atualmen- te, ensaios, dissertagdes ¢ teses baseados no impacto social e cultural do turismo. Isto apresenta dois perigos. O primeiro vem do analis- ta pouco informado, que pode ter uma bagagem cultural enraizada ‘em pesquisas quantitativas e/ou voltada para o mercado e, assim, criticar tais ensaios por serem “nao-cientificos” ¢ emocionais, a0 in- vés de racionais ¢ empiricos. O segundo perigo € que eles podem estar certos! Os estudantes, na verdade, podem assumir uma visio muito leve e “superficial” de determinado aspecto do turismo e ba- sear seu trabalho na interpretagio socialmente construfda, nao na andlise objetiva. Este livro pretende demonstrar como as pesquisas qualitativas, especialmente a antropologia, aplicam-se e influenciam no estudo de turistas e do turismo. A antropologia diz respeito ao trabalho de campo, ao registro de informagoes,a relatos da cultura humana e & organizagao social. A antropologia social, em particular, dedica-se a0 estudo atento e detalhado de determinadas comunidades ou sub- culturas. Neste sentido, ela difere da sociologia, que em geral esté mais envolvida com a andlise de tendéncias sociais na sociedade, usando normalmente métados estatisticos. Podemos ver, portanto, que a antropologia é uma ciéncia par excellence para 0 uso no estu- do qualitativo dos turistas e do turismo. Minha intengao, ao redigir este livro, é apresentar aos estudan- tes vérias idéias fundamentais (com mencio de seus autores), ex- 3 plicé-las e indicar suas fontes originais. Assim, se os alunos consi: derarem interessante 0 trabalho de Graham Dann ou de Valene Smith, poderao consultar as fontes originais! Nada substitui real- mente a leitura de um autor em suas préprias palavras, mesmo se alguns textos, como este aqui, oferecem um contexto explicativo. Neste sentido, meu livro pode ser visto como uma introdusio, a0 invés de uma conclusio. Peter Burns, University of Luton Jullio de 1998 Agradecimentos Varias pessoas leram rascunhos anteriores deste livro € me fi- zeram a gentileza de comentar sobre o contetido, estilo ¢ enfoque. Elas também incentivaram meu trabalho, Sou especialmente grato a Emma Heard (aluna do Marre, turma de 1997); professor Mike Hitchcock; dra. Julie Scott, da Eastern Mediterranean University: alunos da turma de 1998, do médulo de “Sistemas de turismo” na University of North London; Sarah Macmillan, aluna do iiltimo ano da turma de 1998, bacharel (com honra) em turismo Raoul Bian- chi, da Derby University; Kiran Kalsi, University of North Londons John Coventon (a quem ainda devo uma garrafa de vinho!); e Oli- ver Bennett, da Touche Deloitte, com quem tive 0 prazer de travar tum debate continuo sobre 0 “uso” de académicos em consultorias de turismo! Sou grato também a Lierni Lizaso Urrutia (bacharel — com honra — em turismo, classe de 1993), que realizou grande par- te das pesquisas originais na literatura. Embora o professor Chris Cooper nao estivesse envolvido diretamente neste projeto em par~ ticular, sua fé habitual em minhas idéias foi preciosa, Casey Mein, editora-assistente na Routledge, também merece uma mengao de gratiddo por manter seu entusiasmo pelo projeto, embora este te- nha demorado um pouco mais do que deveria! Finalmente, obriga- doa Andrew Holden por ser um amigo bom e consistente e, natu- ralmente, a0 professor Tom Selwyn por ser meu mentor. [Nao sei nem como agradecer as pessoas que conheci em mi- nnhas viagens (a trabalho e por prazer), que responderam minhas 15 perguntas, ouviram meus comentarios e enriqueceram meus co- nhecimentos e entendimento, Acho que tudo 0 que posso dizer é que voces estao sempre em meus pensamentos, mesmo quando as promessas de “voltar a se ver” nao se realizam. Parte 1 Antropologia, turismo e turistas A primeira parte deste livro consiste de quatro capitulos. O Capi- tulo 1 oferece um contexto geral para o livro, examinando breve mente o desenvolvimento e a hist6ria da antropologia como cién- cia. O capitulo termina com uma discussao sobre algumas das tendéncias atuais na antropologia. O Capitulo 2 revisa algumas das tentativas de formulagao de teorias sobre o turismo ¢ explica por que é itil pensar o turismo como um sistema, em vez de simples- mente como um processo ou um conjunto de fendmenos, Partindo dessas idéias, o Capitulo 3 examina como os turistas tém sido defi- nidos e discutidos no mundo académico e discute algumas das mo- tivagdes mais complexas que transformam as pessoas em turistas, enquanto 0 Capitulo 4 articula essas andlises através de um exame do elemento basico de construcao da sociedade: a cultura. | i y 1. Antropologia fia 2: Esta foto uma continuagio da ilustracio anterior. Ela exibe um gru- po de homens e meninos dailha de Pentecost com sua indumentatia tradicional {o tapa-sexo, ou naniba), enguanto preparam-se para 0 mergulho na terra. Uva fot cilmente associada com antropologia, ainda que, ia de povos tibai como o capitulo revelars a antropol ‘gue powos re motos ¢distantes, la € wad: judar na compreensio de setores, tla sociedade e instituigdes da cultura ocidental. A fotografia paderia ter sida urna e visjantes da nova era, de pessoas idosas em um asilo ou de fazendeiras em um, ‘mercado de gado, \VISAO GERAL, OBJETIVOS E RESULTADOS DA APRENDIZAGEM. A antropologia é 0 estudo da humanidade. Ela tenta compreen- der e explicar 0 funcionamento das sociedades humanas. Este capi- tulo traca uma histéria parcial da evolugao da antropologia desde 0 seus primérdios, em meados do século xix. Ble discute, também, as principais escolas de pensamento e abordagens surgidas na con- dusao de pesquisas antropolgicas em um mundo de crescente com- plexidade. Os objetivos especificos do capitulo sao: + mapear a evolucdo da antropologia social; + discutir as principais abordagens da antropologia; e + identificar alguns dos possiveis rumos para a antropologia no futuro. Depois de ler este capitulo, voce deverd ser capaz de: + reconhecer a diferenga entre as principais abordagens da an- tropologias + analisar as implicagdes decorrentes dessas abordagens; ¢ + descrever algumas das mudangas as quais a antropologia sub- ‘mete-se pata enftentar 0s desafios do futuro. ITRopUCAG Vivendo em Londres, preciso seguir certas regras para intera- gir com meus concidadaos. Quando vou ao supermercado, sei on- de esta a maioria dos artigos e que preciso enfrentar uma fila para compré-los; provavelmente nao iniciarei, no supermercado, con- versas com outros clientes que ndo conheco. Ao viajar no metro de Londres, sei que nao devo conversar com os outros passageiros e nem mesmo, em principio, olhé-los nos olhos. Portanto, quando fui morar nas ilhas Fiji com minha familia, sentimo-nos perplexos com a hospitalidade, quando as pessoas nos cumprimentavam em lojas e nas ruas. Quando andavamos de dnibus com nossos filhos pequenos, éramos surpreendidos quando tomavam 0 bebé de nos- so colo € 0 passavam de mao em mao dentro do Onibus para que as mulheres de Fiji pudessem olha-lo bem ¢ beijé-lo. Minha familia e eu tivemos que aprender a dizer “sim” a ofertas de alimentos (para no sermos grosseiros), a ndo admirar de forma muito aberta coi- (ou logo encontrarfamos aquilo que admiravamos em- brulhado para presente e ofertado a nés) ea ensinar nossos filhos a nao pedir coisas (ja que inevitavelmente receberiam 0 que pediam). [As regras sociais eram diferentes, e tivemos que aprender a agir de acordo com elas. Sofremos uma forma branda de “choque cultu- ral’, embora este fosse particularmente agradsvel. Ao refletirmos so- bre isso nao € dificil perceber por que, em certo nfvel, as coisas s20 diferentes em Londres ¢ em Fiji, Por um lado, a populagao de Lon- dres € de 6,8 milhoes de habitantes, enquanto a de Fiji, 73 mil. Londres é uma megacidade, frenética e pés-industrial, enquanto Fi- jiainda é basicamente rural. Além de aprendermos a nos “compor- tar” nas ruas, em Onibus e nas lojas, tivemos que aprender também sobre a cultura complexa que organiza as relagGes entre os nativos de Fiji ea populagao indiana levada a Fiji como parte da politica colonial da Gra-Bretanha. E isso nao é tudo! Havia também a ques- to da cultura dos “expat” (expatriados). Na época, conviviam em Fiji duas centenas de familias expatriadas da Austrélia, Nova Zelin- dia, Gra-Bretanha etc. Essa comunidade possufa sua prépria cultu- ra, com regras tanto formais quanto informais governando cédigos, de comportamento e padroes de lazer. E essa gama de complexidades, interagbes sociais, regras, solu- ‘¢20 de conflitos, habitos alimentares, atitudes para com estranhos, sistemas de crenca ¢ outros elementos que molda a cultura que atrai a atencdo dos antropslogos. Os PRIMORDIOS DA ANTROPOLOGIA A antropologia, como a vemos hoje, emergiu durante meados do século x1x: um periodo muito interessante e agitado da historia.’ (1) Valea pena observar que os chinese estavam conduindoestudos recone a TURISMO F ANTROPOLOGIA Nesta épaca (que coincide, grosso modo, com a era vitoriana), pelo ‘menos trés temas importantes estavam presentes no pensamento dda sociedade ocidental erudita. Esses eram 0 colonialismo, as socie- dades missiondrias ¢ 0 darwinismo. A proximidade entre cles é exi- bida na Figura 1.1 ‘Um periodo caracierizado palo comécio mevcatlimperaisa e pela tecnologia. np conbevinewtl oyna dug citron | gested homent «par repos" i | “iene ineinvel ds aniropelosia. _marcado pelo aumento das visgensplanejadss, da educagio eda curosidade Figura 1: Temas importantes na socedade ocidental erm meadas do século x. 0s trés principais elementos mostrados no modelo anterior estavam interligados. Os missiondrios traziam Deus e a “civ ‘s40” as populagdes nativas do mundo colonial. Em seus primérdios (digamos, em meados do século xvi, mais ou menos durante a épo- ca do Tuminismo’), esses missiondrios podem ter difundido a idéia ‘mente antropologicos no século x Murray (1994) ¢ Hodgen (1964) ferecem relatos de tentativas de coletas de dados sobre o que seria chamado, hoje, de povs tribas nas séculos V1 € XV, O erudito marraquino lbn-Khaldun escrevew o que sriam, em os inci, etnogrtias sabre os pavos que encontrou em suas vagens. (2)0 Hluminismo consisiu de um movimento literito ¢filosfico do século xv “romantica” de que as sociedades “descobertas” pelo imperialismo sua ferramenta politica, o colonialismo, eram os “bons selvagens” (noble savages) arquetipicos de Rousseau,’ nao corrompidos e vendo uma vida simples, como agradava a Deus. Em um momento posterior, a medida que se aproximava o século xtx, é provavel que eles tenham pensado que tais povos eram “primitivos” que estavam em um degrau muito baixo da hierarguia da sociedade, og nava imperioso civiliza-los(O¥ oficiais coloniais estavam, muito provavelmente, convencidos de sua superioridade racial sobre aque: les que dominavam fum reflexo das posturas conservadoras da epo- TAT € Ettos populares de interpretacao da teoria de Darwin reforga- vam a idéia de uma evolugdo unilinear da espécie, na qual apenas ‘0s mais aptos sobreviviam (a escola de pensamento evolucionista biolégica). Isso ndo era bem o que pretendia Darwin, que salienta- va o elemento aleatorio na natureza, Devido a este misto poderoso de politica cultural e senso de superioridade da sociedade ocidental originado da industrializagao (isto é, do controle sobre a natureza), nao chega a surpreender a emergéncia de uma resposta cientifica a0 estudo da espécie humana. A Figura 1.1 uma interpretagao do estado de coisas a época, uma versdo dos eventos que reflete o pen- samento corrente sobre a historia da antropologia. Ela nao deve ser vista como o tinico modo de observar as estruturas sociopoliticas existentes naquele periodo, Edward Said, um intelectual nascido na contra superstigio,aignorincia,o conhecimento“ tradicional" convicgSesarraigadas Ele caracterizou-se por uma intense andlis critica da bli, pela execusio de Charles — que eliminow a idéia de um Gavernante Divino ~ e pela crenga na cna como ‘um modo de explora eamplise 0 conhecimento, Sus figura importantes foram John Locke (1632-1711), René Descartes (1596-1650), Goethe (1749-1832) e Benjamin Fran- ‘lin (1706-90). Suas discusses econsequéncias mais importantes foram a convicgBo na fisca de Newton ( dea de que o univesa era gavernad por leis que poderiam set desvendadas)e, especialmente, a Revolucdo Francesa A riquest das napies (1776), de ‘Adam Smith também exemplifica aera do luminismo em sua tentaiva de buscar so ugdescienttcas eracionais para problemas ecandmicos (@) A idéia de Jean-Jacques Rousseau de um homem da natureza" ou"bom selva~ em como um primitivo nao corrompido pela modernidade agiu como um simbolo ‘conservantismo romantio que busca um vislumbre de coesio no presente dit- Hiller, 1991-65) e como uma espécie de antidoto para a vida industrial, 3 Palestina e professor de Inglés ¢ Literatura Comparativa na Co- lumbia University, indica quatro elementos importantes nesse periodo: 1. um element cGronioitsie de utopias imaginarias, ¢ a percepsio eRescent€da forga cultural européia; 2. “uma postura mais versada em relagéo ao estranho e exsti- co foi favorecida nao apenas por viajantes e exploradores mas também pela (...) confrontacao das peculiaridades do Oriente com certo distanciamento e com a tentativa de li dar diretamente com as fontes materiais produzidas no Orien- [permitindo quel criticos muculmanos do texto sagra- do [0 Corao] falassem por si mesmos (1978:117, itélicos acrescidos)"; 3.*simpatia’ ou “orientalismo popular’, no qual o “verdadei- 10” conhecimento sobre o Outro poderia ser obtido apenas pela suspensio de todos os preconceitos, apés o que pode- riamos “ver elementos ocultos de ligacao entre [nés mes- mos] ¢ 0 Oriente” (1978:118); 4. finalmente, “o impulso para classificar @ nature mem em tipos; Gia para estabelecer caracteristicas gerais, para reduzir vas- tos niimeros de objetos a um nimero menor de tipos original). Esses quatro pontos so importantes, uma vez que server co- ‘mo introdugao a algumas das éreas problemsticas que examinare- ‘mos posteriormente neste livro. Tabela 1. Igumas datas importantes para os primérdios da antropologia 1839 __A Société Ethnologique de Pars €fundada na Franga 1883 Ethnological Soc 1859 171 1871___E.B. Tylor publica Primitive lure 1871___ Sir John Nubbock publica Origin of Civilization 1871-82 O naturalists russo Nikolai Milouho-Macay conduz.0 primeira trabalho «de campo prolongado(etnografa)reconhecvel como tal, estudando 0 po- va de Madang, na Nova Guiné 1876-96 Herbert Spencer (1820-1903) publica The Principles of Sociology (res valu ‘mes, cujo texto sugere que a sociedade humana pode ser comparada com um organism biologio (por ex. em ambos os casos todas partes preci- sam ser extudadas, antes de podermos compreender o“todo") 1877 __ Lewis Henry Morgan (1818-81, Estados Unidos) publica Ancient Sociey, sobre parentesco, familia e propriedade entre ndiosiroquois 1879 __A University of Rochester (Eu) inca seus cursos de antropalogia 1879 O Bureau of American Ethnography ¢estabelecido na Smithsonian Insti 1864 Sir Edward Tylor €nomeado docente de antropologia na Oxford University 1888 As universidades de Harvard e Clark (Estados Unidos) inaugurar seus de- paramentos de antropologia 1896 Franz Boas (1858-1942) (de nacionalidadealema e baseado na Columbia ‘Univesity nos Estados Unidos) publicou The Limitations ofthe Comparative Method of Ambropolagyeitiand os evolu 1898-99 Expedigao da Cambridge Univesity a Tones Straits (entre Australia © No- ‘va Guin, liderada por Alfred Haddon (zo6logo)¢incluindo W. H.R. Ri- vers (psicdlogo} 1908 Primeira citedra britinica de antropologia para Sir James Frazer (1854 1941) na Liverpool University, onde escreveu The Golden Bough 1915-18 ‘Trabalho de campo (etnografa) de Bronslawe Malinowski (1884-1942) nas {thas Tobriand; observagio patieipante com foco na cultura Radefe-Brown (1881-1955) concentrase na coleta de dados em trabalho de campo envolvendo especialmente as elagies socsis/sociedade/manss tengo da esrutura social TURISMO F ANTROPOLO\ A Tabela 1.1 é uma apresentaco cronolégica de algumas das datas importantes para os primordios da antropologia. A finalida- de da compilagao desta lista ¢ simplesmente colocar em ordem cro- nol6gica alguns dos nomes mencionados com mais frequéncia, para que voct possa ter idéia da ordem dos acontecimentos. A seu prd- prio modo, cada um dos nomes ¢ eventos listados prestou uma con- tribuigao importante para o desenvolvimento da antropologia. Con- tudo, se tivéssemos que escother aqueles com uma influéncia particular sobre a constitui¢o da antropologia, Boas, Haddon, Ma- Jinowski e Radcliffe-Brown apresentariam um interesse particular, em virtude de suas tentativas de desenvolvimento de formas siste- maticas de coleta de dados pela observagao pessoal e de suas énfa- ses na explicagao de costumes e convicgdes dentro do contexto de seus arranjos sociais e culturais, Eles criaram a idéia de trabalho de ‘campo! como indispensavel para a antropologia. Assim, com suas énfases na observasao participante’ e extensos periodos no campo, eles diferenciaram a antropologia de suas raizes anteriores, produzidas “no gabinete”. 0 trabalho seminal de Frazer sobre a natureza evolutiva da vida humana e sobre as origens e ca- racteristicas da religido, The Golden Bough (publicado em treze volu- ‘mes, a partir de 1890), por exemplo, ndo se baseava em pesquisas em- piricas ou observagoes de campo, mas na reflexao académica, as vezes chamada, de modo bastante simplista, de “antropologia de gabinete” Para que as datas mencionadas na Tabela 1.1 sejam colocadas em um context um pouco mais reflexivo, a Figura 1.2 mostra os principais temas da antropologia em seus primeiros tempos e algu- ‘mas das filosofias por trds deles. As idéias de “determinagio” e“hie- (4) Em termos elssicos este tipo de trabalho deve ultrapassar um ano do clend ro, de modo aabranger todos os eventos anuaisenvolvende a cultura ea sociedad ob- servadas (5) A observagio partcipante € outta nome ou modo de descrever a etologis, oe tudo estreito ede fonga duracio de determinada sociedade.Implicito na etnoogia ext fo fato de eantropslogo que condur o estudo aprender primeira lingus lea de wo- do que as observagoessejam tomadas em primeira mio e nie sofram a interferénca dd barrira da trad, rrquia”, neste contexto, significam a crenga em uma ordem natu- ral, imutavel ou mesmo divina de coisas — por exemplo, o papel das mulheres na sociedade como algo de certo modo “preordena- do”, ow a idéia de que algumas culturas sao “naturalmente” melho- res (mais importantes) que outras. Em geral, a visio de mundo ex- pressa na Figura 1.3 poderia ser descrita tanto como deterministica quanto como hierarquica. ‘iia forjadas por uma visi delrminiatica do mando Seersunan dsm), loi (Grzecaea tober Sanco omeseapidhaa)efmimens, — acenadequtala etadhago mina cone isace: tied toe sone retina clon eee “ates es prtanasaare pera a Fatirsme hiker ots be exo da eis aces par rater ae ) ie neato Tact: doe pn sitio aps onions (Sate eo esi ‘contoe rots scare aaa ao oe econ vires cat oe ital ade pair ‘imporiamentmespetian 7 ag dias oradas pla cresceterejeigi a vndes eraguicas acerca da cultura Figura 4.2: Temas dos primérdios da antropologia Da metade a iltima parte do século Xx, 0 principal suporte teo- rico foi o estruturalismo, associado mais estreitamente ao antrops- (6) Neste live, tentodescrevere definirvitas vores oestruturalismo, le € um me todo para o est de algo pea anilise das estruturas que o formar (de mode que wm estodo esrututalista do transporte public dria respeita 40s motivos eaos mados co » logo belga Claude Lévi-Strauss. As idéias fundamentais que o aju- daram a desenvolver sua teoria de estruturalismo foram as seguintes: + 0s humanos reorganizam, categorizam e classificam intermi- navelmente 0 mundo a sua volta; + todas as mentes humanas, e, portanto, todos os processos de pensamento, sao basicamente semelhantes no mundo intei- 10;e + 0s processos de pensamento sao estruturados em pares con- trastantes de dualidades simbilicas (opostos, bipolaridades ou oposigdes simbélicas), comecando com “escuro/claro” € indo até“homem/mulher” e“eu mesmo/outro’, até, finalmen- te,“nascimento/morte”? O trabalho de Lévi-Strauss diz respeito ao design das culturas. Assim, além de observar a estrutura social para explicar 0 compor- tamento das pessoas nessa sociedade, ele buscava um significado ‘mais profundo, Ele fazia isso nao tanto pela observacao de compor- tamentos imediatamente observaveis ou da cultura material, mas buscando a relagao entre essas estruturas sociais eas estruturas mer tais mais profundas (como lingua, parentesco mitos) que formam a sociedade. Lévi-Strauss acreditava que nao havia diferenga no funcio- namento dos processos de pensamento dentro de uma sociedade governada por uma mitologia “primitiva” ¢ outra governada por ‘uma estrutura “cientifica”:“o tipo de légica do pensamento mitico € t20 rigoroso quanto o da ciéncia moderna ¢ (...) a diferenga esta nndo na qualidade do processo intelectual, mas na natureza das coi- sas as quais ¢ aplicada” (Lévi-Strauss, 1963:230). ‘ho vos grupos de passageros sam Gnibus¢trens, aos sindicatos, empregadores, administradores et, em ver de enfocartajtose hoririosdesses meios de transports) (7) Malinowski classficou pela primeiea vez um sistema de dualismas simbolicos \dacante seu periodo na thas Trobriand. Alguns desses duslismos eram:“abaivava ‘uasol,“espiritoshomens’,“invisiveljvsivel”e“imortalimartal’. Le reexaminou 0 trabalho de Malinowski eacrescentou dualsmos anda mus complexos *perfeico/cnteal’“cozidoveru’,profano/sagrado e"easarnento/nao.casamento” 28 Desta forma, em algumas sociedades 0 mundo intelectual ex- pandiu-se imensamente (em especial através da tecnologia) e, as- sim, os produtos de seu pensamento foram transformados, como Keesing e Keesing descrevem: “Homens' de todas as partes so in- telectualmente atormentados pelas contradicdes da existéncia — pela morte; pelo carter duplo do homem, que é parte da natureza mas também é transformado pela cultura; (...) a esfera do mito é tusada acima de tudo para lidar incessantemente com essas contra- digdes” (1971:311) Dado que estar de férias ¢ 0 oposto de estar trabalhando, po- demos ver que grande parte do trabalho de Lévi-Strauss é relevante para a andlise profunda do turismo. MacCannell sugere que “na so- ciedade tradicional, o homem nao poderia sobreviver a menos que orientasse seu comportamento de acordo com critérios como 'nés, somos bons — eles sio ruins” (1976:40). A idéia de estados opostos do ser é muito importante para o entendimento do turismo, assim ‘como suas idéias sobre o papel dos mitos. Se concordamos com a proposta de que o termo “mito” refere-se a algo que nao é,em um sentido literal, verdadeiro,’ entao provavelmente concordamos que, em um nivel mais bisico e ébvio, os mites funcionam como historia cultural, Eles legitimam a crenga religiosa e contribuem para a ma- nutengao da ordem social existente."" Contudo, os mitos sao mais que meras projegdes ou reflexos de uma ordem social existente. Kee~ sing e Keesing argumentam que: Lévi-Strauss est tentando explicar o funcionamento universal {isto é nao especifico de uma cultura] da mente humana, examinando as variadas formas culturais como seus artefatos.A arena do mito &fun- (8) 0 uso frequente do géncro masculino em explicaciesé um reflexo da paca em {questo fi esrito endo deve diminuiro valor do que eses autores estao dizend, (9) Este ¢ um campo fet para um debate sobre a natuteza da verdade por filesofos ‘outts academicos endo pode sr explorado neste lv, (10) Exist sna outra visio dos mitos no contesto da historia, Amon Saba Saarka~ raafirma que dois dles foram nidos na era do imperialism elluminismo como wins Forma de discursonarativa infinitament superia aos mito do"selvagem indomado en cristae 29 TURISMO E ANTROPOLOGIA — damental para este fim, porque aqui o pensamento humano é dota- do de plena liberdade. Nem toda forma imagindvel de casamento,e5- tilo arquitetonico ou padrao de residéncia existe de fato — hi tantas restrigbes,¢ tantas possibilidades, que ¢ impossivel materializé-las por razdes ecolégicas,técnicas ou puramente fiscas. © homem,en- tretanto, pode pensar em todas essas possibilidades e, no mito, seus ‘pensamentos tém rédeas livres. (1971:311) No ambiente urbano e pés-industrial que gera a maior parte dos turistas do mundo inteiro—e parte deste mundo é representada pelo afastamento da natureza e da espiritualidade—, o mito que permanece € 0 da liberdade. Viagens e turismo mantém vivo este mito particular e Ihe dao continuidade, com a idéia de que a viagem & como a Us Travel Administration afirma, “A liberdade perfeita’ AVANGOS NA ANTROPOLOGIA Qs temas que unificam a antropologia (Haviland, 1990) sio ‘mostrados na Figura 1.3 propiciam um modo peculiar de estudo da vida humana, ‘Nem sempre esses temas receberam peso igual. Keesing e Kee- sing refletem sobre a ascensao do colonialismo e sobre a “agressio cultural” que a acompanhou, na forma de missiondrios, de repres- sao cultural e de imposigao de mudanga social. Eles continuam: O tratamento dado aos povos tribais variava entre as administragoes coloniais, indo desde a repressio brutal até o protecionismo pater- nalistae simpatia pelos costumes locais (...). Ainda assim, 0 cinico pode descobrir muitas evidéncias de que mesmo agora, [em perio- dos de maior esclarecimento] quando muito esta em jogo, os povos nnativos que tentam impedir a explorasio de represas, urdnio, cobre ‘ow espago aéreo sio varridos do caminho com a mesma eficiéncia de sempre. (1971:359) Embora devamos reconhecer que varrer eficientemente os po- vos para dar lugar ao desenvolvimento nao ¢ prerrogativa exclusiva 30 ETER M. BURNS ‘unveralismos todos os poves so pena © iguamente umanose neshim # ma “importante” ‘queaute sunificadores fazem de antropologia ‘um modo distinto Figura 1.3: Temas unificadores da antropologa cultural. Fone: A partic de Howatd, 1996-8 {das administragdes coloniais, essastiltimas sofisticaram os mecanis- mos usados para este fim, Os mesmos autores dizem, novamente: Nao importando quao opressivos ou bem-intencionados as admi- nistragdes coloniais, missionérios e outros tenham sido, uma coisa todos deixaram muito caro para os povos colonizados — a sup. ‘dade européia.“O nativo” era uma criaturaa parte, exeluida pela cor de sua pele, por seu atraso cultural e ignorinciae pela circuns- ‘nciainfelz de seu nascimento, da graga acessivel aos europeus. O relegar simbdlico do “nativo” a uma posigao intermediaria entre 0 animal ¢ 0 homem ocidental era deixado muito claro para todos (.) 6 estigma do nascimento permanecia simbolicamente mesmo [se] a fossem treinados para ascender e rejeitassem seus modos tradi nais de vida. (1971:360) periodo pés-colonial imediato (mais ou menos em fins dos anos 40 até meados da década de 60 do século passado) represen- tou um momento paradoxal para a antropologia. Por um lado, o excelente trabalho de campo etnogrifico e os avangos tedricos con- tinuavam (por exemplo, 0 trabalho de Edmund Leach em Burma, o trabalho de Lévi-Strauss sobre lingiiistica, mito, organizagao so- cial etc.), enquanto, por outro lado, alguns afirmam que o papel da antropologia aplicada” empalideceu. Howard, por exemplo, obser- ‘vou que muitas das teorias formadoras da antropologia aplicada ram insuficientes e que: A destruigdo da ordem colonial apés a Segunda Guerra Mundial dei- xoua antropologia e, em particular, os profissionais da antropologia aplicada expostos ao ataque. Em muita partes do mundo, os lideres nacionalistas que haviam substituido os administradores coloniais {dentificavam os antropdlogos com os regimes coloniais anteriores, vendo-os como agentes da repressio colonial. (1996:400) Nao seria completamente justo darmos demasiada importin- cia as ligagdes entre a antropologia e 0 colonialismo, mas elas real- ‘mente existem, mesmo se apenas de uma forma branda, Em face de certo’ paradoxos, entretanto, o tema encontrou novos rumos. Para 0s fins deste texto, o envolvimento antropolégico com os Estudos do Desenvolvimento (temas do Terceiro Mundo") tem sido o prin- cipal desses, com novos insights trazidos pelos antropélogos sobre (11) "Antropologis aplicads” é um termo definida por Howard (1996-401) “como Pesquisas eatividades que visem produzir uma condigao sociveultural que melhore a ‘ida das pessoas envolvidas le prossegue dizenda, porém, que o tema fol criado por ‘Lane Fox Pitt-Riversem 1861 eusad como uma subdisciplina para tveinat os oficas ‘colonise para“faciltaroestabelecimento da autoridade colonial (12) Aexpressio “Tetceiro Mundo” tem suas raizes na divisio do planeta criads no Peviodo da Guerra Fri, em um Primeiro Mundo (o Ocidente desenvolvdo),o Segun ‘do Mundo (pals dentro do impériosovitic, a blac oriental) etodo a teo, ose jo Tereciro Mundo, Atualmente a expressto parece ulteapassada, mas divers ext 2 ‘0 impacto de projetos de desenvolvimento. Os antropélogos tem agido como mediadores nas discuss6es entre populagdes locais & planejadores centrais (ou outros) ow até mesmo planejadores es- trangeiros. Howard pronuncia-se novamente: ‘A populagao local normalmente desconfia dos planejadores, Bssa des- confianga pode ter fundamento, porque em geral esses grupos nao conecem clus locale a necesidade «objetvos epics da sopulagao. Para cobrir 0 abismo entre as pessoas ¢ os planejadores, Spm ay mete nae smenier ee eet riesireney tomada de decisdes ¢ (2) ajudar tanto os nativos quanto os planeja- dores a adaptarem estruturas locais para atenderem do melhor mo- do possivel as necessidades de desenvolvimento apontadas pelos re- sidentes,(1996:401) Uma interpretagao possfvel para isto & que a antropologia con- tinua sendo o que foi desde o inicio: brancos estudando “Outros”. Esta no € a intengio de Howard, mas repetidas vezes os antropé- logos sio percebidos como plantocratas (uma elite governante, pro- prietaria de plantagées), protegendo sua propriedade (intelectual) com olhos de éguia. No caso da Gra-Bretanha, os antropélogos mantiveram conta- s por muito tempo com a Overseas Development Admi tos of nistration (DA) ¢ isto continua com o Department for Internatio nal Development (oFtb), recém-formado. © amadurecimento da antropologia aplicada, através de seu papel no desenvolvimento sustentavel, na participagao das mulhe- res no desenvolvimento e na defensoria” provavelmente deuo maior impulso para a profissio. Antropélogos trabalham em empresas, atualmente, ajudando na compreensao da cultura organizacional interna (Hofstede, 1991). © objetivo geral é melhorar a eficiéncia satislagao dos consumidoress enamiahuneno lame, Famessalzsao ¢ promos publiidadee xr, reservse vedas \ precede ada Figura 2-4 Sista taistico (i) Fonte: Baseado em Poon, 1993. 45 TURISMO F ANTROPOLOGIA turismo contemporaneo Figura 2 Sistem tutstico (i) Fonte: Baseado em Burns & Holden, 1995, A vantagem de um enfogue sistémico é que o turismo nao é automaticamente visto como isolado de seus ambientes politico, natural, econdmico ou social (embora isto dependa do modelo sis- témico usado). Ele salienta a interligagao entre uma parte e outra do sistema, incentivando pensamento multidisciplinar que, da- das as complexidades do turismo, é essencial para um entendimen- to mais profundo, O conhecimento do sistema turistico em deter- minado destino permitiré uma melhor compreensio do processo do turismo, levando-nos além da estrutura relativa a0 funcionamento de suas partes, incluindo relagoes entre o destino e virios paises ge- radores (isto €,0 sistema) e como o sistema opera (o proceso), 46 DEPININDO E DESCREVENDO 0 TURISMO: Embora um enfoque sistémico nos ajude a organizar nossos pensamentos sobre este tema multidisciplinar, ele nao é substituto para um significado do turismo que possa ser definido e descrito de muitas maneiras. A Tabela 2.1 apresenta algumas idéias de auto- res que escteveram sobre o turismo (ela nao inclui antropélogos do turismo, que tém sua prOpria lista no Capitulo 5). Evitei delibera- damente as definigdes mais tradicionais e formais enunciadas pela Organizagao Mundial do Turismo, jé que é facil encontré-las por serem amplamente publicadas. A finalidade da lista é permitir a compreensio das complexidades do turismo. Existem, € claro, outras definigdes envolvendo distancia, tem- po, pernoites, perspectivas geogréficas etc. Entretanto, a variedade de definigoes e descricoes nao deveria ser vista necessariamente co- mo problemitica. Desde que as premissas ¢ finalidades basicas que dio suporte a definigao sejam entendidas, a explicagao pode ser con- siderada em seu contexto proprio. Assim, pelo exposto acima, pode ser vilido saber que Jafar Jafari interessa-se pela sociologia do tu- rismo, que a definigao de Mathieson e Wall vem de seu livro sobre impactos, que Urry é um proponente do pés-modernismo' e que a (1) Este € um termo bastante problemitico! Um modo de explici-l €descrevendo, em primeira lugar, o"modernismo" ou a“moderaidade’, que tev inicio no séeulo xv, ‘quando 0s primeitos conflitos entre"“Antigos” e“Modernos" (isto ¢,a descoberta eo conflto entre sociedades com tecnologia de manufatura eaqueas sem esta) ocorreram, spas viagens de descoberta, desde aera do lluminismo até dezembro de 1910 (0 mo- ‘mento em que, de acorda com Virginia Woolf, naturees humana mudow!). Embors poss parecer, sso nto ¢ uma piada. © mundo industralizado, da producao em mass, en vsto como "completamente modern", com explicagies sobre seu funcionamento avangos na cigncia surgindo com rapidez¢profusio. Foi necssira a ascensdo das “eu turas comuns” (tornadas possveis pelo sistema de comunicagto em massa e pela ex- ‘pansio da democraca), dos movimentos artsticas (comegando pelo foviemo e conti- rnusndo com 0 pés-impressionismo, dadaismo,surtealismo etc), poitizagiovisivel daarteeo enfoque desconstrucionista crtco da literatura e da arquitetura, no qual tu- ‘dora analisado em busca de sigificados vlados, para que o mundo moderno “explo: disse" eingressassena era pis-moderna (um alerta: 0 pos-madernismo nto ¢ deforma alguma acita por todos os observadoresculturasecritcos).O termo veo a ser usado amplamente na década de 70 do século xxparadescrevera eeigio, por alguns arquteto, a TURISMO E ANTROPOLOGIA - descrigdo de Middleton visa a promogao de um grupo lobista in- dustrial cujas idéias fixam-se no crescimento — o World Travel and ‘Tourism Council (wrrc)2 CARACTERISTICAS DO TURISMO Além das definigoes e descrigdes de turismo, muitas de suas caracteristicas também ja foram publicadas. Ao discutit turismo e p6s-modernismo, Urry (1990:2), por exemplo, pode ser assim pa- rafraseado: Turismo é uma atividade de lazer que pressupoe seu oposto isto &, uum trabalho regulamentado e organizados relagées de turismo sur- gem a partir do movimento e da permanéneia de pessoas em virios

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