Professional Documents
Culture Documents
Matão, SP
1ª edição
2013
Copyright © 2013 by
CASA EDITORA O CLARIM
Propriedade do Centro Espírita O Clarim
1ª edição: janeiro/2013, 6 mil exemplares
Impresso no formato 14x21 cm
ISBN 978-85-7357-114-1
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser fotocopiada, gravada,
reproduzida ou armazenada num sistema de recuperação ou transmitida sob qualquer forma ou por
qualquer meio eletrônico ou mecânico sem autorização do detentor do copyright.
Casa Editora O Clarim
Rua Rui Barbosa, 1.070 – Centro – Caixa Postal 09
CEP 15990-903 – Matão-SP, Brasil
Telefone: (16) 3382-1066; WhatsApp: (16) 99270-6575
CNPJ: 52.313.780/0001-23; Inscrição Estadual: 441.002.767.116
www.oclarim.com.br | oclarim@oclarim.com.br
www.facebook.com/casaeditoraoclarim
Capa: Rogério Mota
Projeto grá co: Equipe O Clarim
Nos aproximamos da mediunidade e ela bastante inquieta nos disse que não
era nada agradável o que estava sentindo. Logo, em seguida, tomada de medo,
embora experiente no campo mediúnico, nos disse que o que estava vendo não
tinha forma humana.
Procurando encorajá-la, respondemos que confiasse em Deus, fosse quem
fosse esse espírito, não podíamos esquecer que acima de tudo era um irmão
nosso e que ali estávamos para servir.
Pedimos a concentração de todos e em prece rogamos a proteção do Pai e
que também naquele momento fizesse Ele de nós, instrumentos em Suas mãos
em nome de Jesus.
Certamente sob o rigoroso controle dos mentores espirituais, os
verdadeiros condutores dos trabalhos mediúnicos, não precisamos esperar
muito e aquele espírito se apresentou violento e com certeza teria esmurrado a
mesa com muito mais vigor, não fosse a vigilância da mediunidade experiente.
Realmente é um quadro muito triste e de cortar o coração, ver criaturas se
apresentarem nas condições em que essa apresentava-se. Com amor sincero,
dissemos a essa entidade para se acalmar, pois não se encontrava ela entre
inimigos; pelo contrário, só queríamos ajudá-la.
A voz rouquenha e a extrema dificuldade em pronunciar palavras, tornava
quase impossível entender o que essa entidade queria dizer. Assim, com muito
sacrifício e a dedução nos auxiliando, percebemos que esse irmão fazia parte
de uma dessas falanges que se denominam “justiceiros”, que obsediam e
castigam duramente encarnados e desencarnados que esses grupos julgam
“devedores”.
Observando mais atentamente a postura da mediunidade nesse momento;
reparamos que ela mantinha os braços sobre a mesa, bastante retesados e
levemente curvados nos cotovelos. Reparando as mãos, seus dedos “mínimo”
e “anelar”, estavam dobrados, ou encolhidos, enquanto que os outros três
dedos permaneciam distendidos. Isso fazia-nos ver, que esse espírito possuía
“garras”, ou coisa semelhante.
Esse espírito foi se acalmando pouco a pouco, na medida que compreendeu
estar num ambiente amigo, onde realmente queríamos ajudá-lo. Na verdade,
apesar da aparência que trazia, tínhamos ali um irmão abatido, cansado de
causar tantos sofrimentos às suas vítimas, sem que isso fosse capaz de estancar
seus próprios padecimentos que de há muito carregava.
Oramos por esse irmão que, fazendo sinais com a cabeça, nos disse sentir-
se mais aliviado. Em seguida foi ele levado pelos amigos espirituais para o
devido tratamento.
Essa forma animalesca que certos espíritos adquirem e assim são levados
até com certa frequência em trabalhos mediúnicos, ocorre devido ao fato do
perispírito, envoltório do qual o espírito está revestido, ser bastante plasmável,
ou moldável e assim, através do pensamento, esses espíritos “se modelam” por
assim dizer, na forma que desejarem.
Na questão número 95, de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec pergunta:
“O envoltório semimaterial do espírito tem formas determinadas e pode ser
perceptível?”
E os espíritos respondem:
“Sim; tem uma forma que o espírito deseja, e é assim que eles se vos
apresenta algumas vezes, seja em sonho, seja em estado de vigília, podendo
tomar forma visível e mesmo palpável”.(25)
Já André Luiz, no livro: “Nos domínios da mediunidade”, referindo-se a
Castro, um médium que adormecido, seu espírito deslocava-se do corpo físico,
diz:
“Castro é ainda um iniciante no serviço. À medida que entesoure
experiência, manejará possibilidades mentais avançadas, assumindo os aspectos
que deseje, considerando que o perispírito é constituído de elementos
maleáveis, obedecendo ao comando do pensamento, seja nascido de nossa
própria imaginação, ou da imaginação de inteligências mais vigorosas que a
nossa, mormente quando a nossa vontade se rende, irrefletida, à dominação de
espíritos tirânicos, ou viciosos, encastelados na sombra”.(26)
Os espíritos que adquirem formas animalescas e que são interpretados
como demônios pelos nossos irmãos das outras religiões, quando não foram
outras entidades maléficas as causadoras dessas transformações, assim se
apresentam, para se imporem através do terrível pavor que causam às suas
vítimas.
Quem sabe sejam essas criaturas, as mais doentes da alma e, portanto, as
mais necessitadas das nossas preces e da misericórdia do Pai, como já disse
Jesus em Mateus capítulo IX, versículo12:
“Não necessitam de médicos os sãos, mas sim os doentes”.(27)
Uma mulher religiosa
O que vamos narrar agora, logicamente não é caso a se repetir todo dia
num Centro Espírita; mas, também não é coisa tão rara assim de acontecer.
Com mais de trinta anos dentro do Espiritismo, já tivemos oportunidade de
nos defrontar com várias situações como essa.
Esses casos normalmente começam iguais. O carro estaciona em frente ao
Centro Espírita, alguém abre a porta desse veículo e do seu interior é retirada
uma pessoa, que sem qualquer firmeza nas pernas, é conduzida amparada e
aos gritos para dentro do Centro.
Até nesse ponto, os procedimentos da chegada ao Centro de pessoas
possuidoras de obsessões graves se assemelham. Daí por diante, cada caso é
um caso.
Essa pessoa acabava de ser conduzida ao Centro, exatamente nessas
condições que acabamos de descrever. Colocada numa cadeira, logicamente ela
forçava tentando se levantar para ir embora. Pedimos várias vezes para se
acalmar e com palavras amigas, procuramos fazê-la ver que estava entre
pessoas que desejavam unicamente ajudar.
Nesses casos, embora pareça que estamos falando com a pessoa encarnada,
ou obsediada, na verdade estamos nos dirigindo mais especificamente ao
espírito obsessor, porque é ele que está ali atuando; é ele, que cheio de ódio,
está no domínio da situação e promovendo todo constrangimento à pessoa
obsediada. Além disso, ao voltar ao normal, a pessoa obsediada muitas vezes
nem se lembrará do que ocorreu. Nesse momento, a obsediada nos serve de
médium para chegarmos ao espírito obsessor.
Elevamos o pensamento a Deus e em prece pedimos ajuda àquela entidade
tão necessitada.
Depois disso esse espírito obsessor se acalmou bastante, percebendo que
realmente queríamos ajudá-lo. Muitas vezes, o espírito obsessor pensa que só
queremos ajudar o obsediado e ele que “se dane”. No Espiritismo não é assim,
o obsessor, tal qual o encarnado, é um irmão que requer todo o nosso carinho
e respeito.
Às vezes também acontece que o espírito obsessor, além de odiar a pessoa a
quem obsedia, passa a odiar também aqueles que procuram intervir no
processo de vingança que ele executa. Nesse caso, é necessária a intervenção
mais severa dos nossos amigos espirituais.
Existe também aquele espírito obsessor, que só odeia a pessoa a quem ele
obsedia, porque foi essa pessoa que o prejudicou. Não tendo nada contra as
demais que nada lhe fizeram de mal, essas outras pessoas lhe são indiferentes,
podendo até mesmo vir a ganhar sua simpatia, se fizerem por merecer isso.
Esse espírito era dessa categoria.
Essa entidade foi levada pelos espíritos bondosos da nossa Casa Espírita e a
pessoa obsediada que chegou aos gritos e praticamente arrastada, depois do
passe e da água fluidificada, foi embora sem se lembrar de nada e também sem
que ninguém precisasse segurá-la.
Posteriormente, em trabalhos mediúnicos, tivemos oportunidade de
conversar com esse espírito obsessor, que compreendeu o erro que cometia e
abandonou sua vítima. A esse irmão poderíamos lembrar aquelas palavras do
Cristo em Mateus, capítulo VI, versículo 14:
“Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai
Celestial perdoará a vós”.(30)
Quanto a pessoa obsediada, teve ela ainda algumas recaídas, isso porque
dificilmente um espírito obsessor atua isoladamente. Se no passado a vítima de
hoje prejudicou a muitos, são muitos também aqueles que agora fazem a
cobrança. Se prejudicou somente a uma pessoa, nunca faltarão criaturas
devotadas ao mal, para se juntarem a esse vingador, ou obsessor.
Hoje, no entanto, essa pessoa que chegou obsediada ao Centro está bem e
se quiser permanecer assim, é preciso seguir o ensinamento de “O Evangelho
Segundo o Espiritismo”, no capítulo: “Amai os vossos inimigos”, em que diz:
“Não há coração tão perverso que mesmo a seu mau grado, não se mostre
sensível ao bom proceder. Mediante o bom procedimento, tira-se pelo menos,
todo pretexto as represálias, podendo-se até fazer de um inimigo um amigo,
antes e depois da sua morte”.(31)
A obsessão que mostra a reencarnação
Esse espírito chegou e antes que pudéssemos falar alguma coisa foi logo
dizendo:
— Tenho sofrido muito – fazendo uma pausa. – Mas, eu mereço esse
sofrimento porque matei, matei muito – completou.
— Então perguntamos:
— Amigo, o que significa exatamente, “matei muito”?
— Sou mulher – corrigiu ela. – Fiz muitos abortos, me pagavam e eu fazia
isso sem medir as consequências do que estava fazendo.
Pelo tom de voz com que foram ditas essas palavras, podíamos perceber o
grande abatimento moral que trazia essa irmã e não era preciso vê-la para
saber que, diante de nós, ali estava um verdadeiro “farrapo humano”.
Conversamos mais um pouco com essa entidade e ela nos contou dos seus
terríveis padecimentos em regiões tenebrosas, onde se via perseguida
constantemente por figuras horrendas. Falou também das visões apavorantes,
nas quais criaturas revoltadas, que foram suas vítimas, não cessavam de
atormentá-la.
Percebendo o sentimento de culpa muito grande que a torturava e o
arrependimento sincero que trazia, então sugerimos:
— Amiga, porque você não eleva o pensamento a Deus e pede perdão a
Ele pelos erros cometidos?
— Será que Deus vai me perdoar? – perguntou ela.
— Claro que vai – respondemos. – Todos nós erramos, todos nós somos
grandes devedores perante as leis divinas. Não vamos dizer a você, que quando
pedimos perdão ao Pai, Ele simplesmente passa uma borracha sobre o que
fizemos de errado e fica tudo por isso mesmo como se nada tivesse
acontecido; não é assim. O perdão do Pai, consiste nas oportunidades que Ele
concede, de repararmos os erros e os prejuízos que causamos aos nossos
semelhantes.
Peça perdão a Deus minha amiga e deixe por conta Dele que possui
recursos inimagináveis, para podermos de um jeito ou de outro, no momento
exato, reparar as nossas graves faltas.
— Estou entendendo – falou ela resignada.
O arrependimento pelos erros cometidos, é sem sombra de dúvida um bom
sinal. Significa o primeiro grande passo para nos corrigirmos porque ninguém
se corrige, se antes não se arrependeu. Por outro lado é preciso ter muito
cuidado, porque o arrependimento traz sempre junto uma dor moral muito
grande, podendo levar o indivíduo a um círculo vicioso, ou ideia fixa, em que
ele fica o tempo todo remoendo o erro e os danos que causou, sem no
entanto, que esse sofrimento traga qualquer resultado prático, que seria o
conserto do erro e dos danos causados. É como derramar o leite e ficar
olhando para o chão se lamentando, em vez de pegar o pano e limpar.
Percebemos que essa nossa irmã estava nessa condição, porque o tempo
todo ela se autocondenava. Chamamos a atenção dela para esse fato e em
seguida os amigos espirituais a levaram.
Exceto nos casos em que a vida da mãe corre perigo, nessa situação, é
preferível sacrificar o ser que ainda não nasceu. O Espiritismo condena o
aborto, por ser isso um crime.
Vejamos o que diz “O livro dos Espíritos”, na questão número 358:
“O abortamento voluntário é um crime, qualquer que seja a época da
concepção”?
E os espíritos respondem:
“Existe sempre crime quando transgredis a lei de Deus. A mãe, ou qualquer
pessoa, cometerá sempre crime, tirando a vida à criança antes de nascer,
porque está impedindo a alma, de suportar as provas das quais o corpo deveria
ser o instrumento”.(38)
E Jesus em Mateus capítulo V, versículo 21, ensina:
“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar
será réu de juízo”.(39)
Suicídio? Nem pensar
A conversa com esse espírito não foi longa. Seu atraso espiritual, seus
pensamentos deletérios, seus fluidos extremamente pesados, negativos, faziam
muito mal à mediunidade que o recebia naquele momento. Diante de nós,
tínhamos uma criatura que, quando encarnada, fora assassino profissional.
— Desde que me paguem, eu vou e mato mesmo – dizia esse espírito com
muita frieza, sem dar mostras de qualquer arrependimento.
— Você sabe que deixou o corpo de carne, morreu como se diz. Como
aconteceu isso? – indagamos.
— Escondi-me no mato, mas não adiantou, a polícia me encontrou, houve
muita troca de tiros e agora estou aqui todo perfurado de balas.
Esse irmão se via ainda ferido pelas balas que o atingiram e com certeza
aquilo sangrava e doía muito; mesmo assim sua dureza de coração não
permitia de forma alguma dobrar-se, reconhecer as graves faltas praticadas,
pedir perdão ao Pai e oportunidades para refazer os erros cometidos.
Não havia muito o que conversar com esse irmão ainda tão embrutecido e
foi ele então levado pelos bons espíritos. Oramos por ele, lembrando que os
sãos, não precisam de médico e ficamos a imaginar qual seria o futuro dessa
criatura, verdadeira fera humana. Quem sabe uma nova encarnação
compulsória o aguardava e sabe Deus sob que condições expiatórias.
Muitas pessoas não compreendem o motivo de tantas aflições, de tantos
sofrimentos sobre a face da Terra. Aí está a resposta. A dor, o sofrimento, são
consequências dos nossos próprios desatinos e ao mesmo tempo funcionam
como lapidadores do nosso espírito. Sem a dor, sem o sofrimento, não haveria
corrigenda dos erros praticados. Se uma criança coloca a mão na chapa quente,
a dor a ensina e ela não tornará mais a cometer esse erro.
Aprendamos de uma vez por todas, que a violência, só gera violência. Esse
negócio de que “eu não levo desaforo prá casa”, muitas e muitas vezes acaba
muito mal, trazendo muito sofrimento para nós mesmos e sofrimentos
também para pais, mães, esposas, filhos, pessoas essas que, por nosso extremo
egoísmo, jamais pensamos na hora que estamos “tirando satisfação”.
Já diz “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capítulo “Bem-
aventurados os que são misericordiosos”:
“O ódio e o rancor denotam alma sem elevação, nem grandeza”. (54)
Diante disso, observemos como fica fácil fazermos uma análise, um juízo
de nós mesmos.
Se odiamos ainda, se carregamos rancor, se temos desejos de vingança e
diríamos mais, se somos daquele tipo que “não leva desaforo prá casa”,
daquele tipo encrenqueiro, “carne de cabeça” como se diz, esses defeitos
demonstram claramente que não somos pessoas elevadas. Se carregamos ainda
essas mazelas, mostramos que não temos grandeza espiritual, justamente
porque nos falta a mansidão, nos falta a humildade.
Por outro lado, aquele que esquece as ofensas, aquele que não fica
remoendo ódio, ou revolta pelos insultos que recebeu, aquele que evita se
desgastar com a ingratidão, que também é uma ofensa, esse mostra que é
pessoa elevada e que está acima das agressões que lhe foram dirigidas.
Portanto está mais do que na hora de deixarmos de ser aquela pessoa que
se irrita por qualquer coisa, de querermos levar tudo a “ferro e fogo”.
Está mais do que na hora, de deixarmos de estar sempre “em guarda” e
armados contra as pessoas. Esse armados a que nos referimos aqui, é em
todos os sentidos dessa palavra. Armado no sentido de arma mesmo e armado
também, no sentido da “língua afiada” para responder mal, “língua afiada”
para ofender, ironizar, desafiar, insultar e xingar nossos semelhantes.
Não podemos deixar de alertar ainda aqui, aliás, hoje muito em voga, os tais
“nervosinhos do trânsito”. Esses quando saem de carro, já vão com o vidro da
janela abaixado e com a boca para fora, prontos para vociferarem, xingarem o
primeiro motorista que eles acharem que está fazendo uma manobra errada,
mesmo que quem esteja fazendo a manobra errada, sejam eles mesmos.
Não esqueçamos, que as desavenças muitas vezes começam com pequenas
ofensas e vão se avolumando até chegarem às “vias dos fatos” e aí, quando
vemos, a “desgraça” já está feita.
Vamos viver em paz, lembrando sempre daquela passagem do Cristo, em
Mateus, capítulo XXVI, versículos 51 e 52:
“E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou da
espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha.
Então Jesus disse-lhe: Mete no seu lugar a tua espada; porque os que
lançarem mão da espada, à espada morrerão”.(55)
O Espírito que tinha medo de ser bom