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Quando nos colocamos como agentes ativos das praticas de responsabili- dade socioambiental, estamos indiretamente praticando assistencialismo, in- clusdo social, inclusdo digital e educagdo ambiental! Envolver-se nessas agées nos torna cidaddos participativos e responsaveis, além disso, as questdes socioambientais vém se tornando cada vez mais importantes e moldando-se como um dever de todos. QUADRO 1. PRATICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL QUE PODEM SER ADOTADAS NAS CIDADES Os cidadaos exercem a responsabilidade socioambiental individual. Ela consiste em atitudes individuais reiteradas para uma maior preservacao do ambiente a nossa volta. Devemos pensar que ela deve ser praticada individual- mente, mas por todos nos, resultando em uma acao coletiva e de grande poder ambiental. Sao exemplos de responsabilidade socioambiental individual: + Evitar usar sacolas e embalagens plasticas; + Ndo desperdicar alimentos; + Separar e reciclar 0 lixo; + Armazenar e destinar corretamente o dleo de cozinha; DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS. @ + Economizar agua e energia elétrica, usando de forma racional; + Adquirir eletrodomésticos com baixo consumo de energia. As empresas que aderem a responsabilidade socioambiental buscam co- nhecer as caracteristicas regionais, ouvir seus colaboradores e possuem pro- cessos e/ou servicos ambientalmente corretos. Elas reconhecem a sua respon- sabilidade socioambiental e assumem voluntariamente compromissos que vao para além dos requisitos reguladores convencionais, aos quais estao necessa- riamente vinculadas. Procuram elevar o grau de exigéncia das normas relacio- nadas com a protegdo ambiental, com o desenvolvimento social e com o res- peito aos direitos fundamentais, adotando uma cultura organizacional aberta em que interesses de todas as esferas se conciliam em direcdo a uma aborda- gem global da qualidade de vida e do desenvolvimento sustentavel. Como podemos observar na Figura 3, adotando as praticas de responsabili- dade socioambiental e estratégias de marketing, aleém dos beneficios sociais e ao meio ambiente, as empresas também melhoram sua imagem corporativa e aumentam seus lucros. Ocorre ainda a valorizacao da marca, maior fidelizagao dos clientes, reducdo dos custos, aprimoramento da comunicagdo externa eo. melhor desempenho dos empregados. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS & Empresas podem adotar praticas de responsabilidade socioambiental por meio da adocao de programas e projetos de inclusao social ou digital, de direi- tos das mulheres e insergdo no mercado do trabalho de maneira igualitaria, por programas de alfabetizacdo, reciclagem, reflorestamento e recuperacao de areas degradadas e destinacdo e/ou liberacdo correta de residuos industriais (efluentes ou gasosos). &e Aspectos legais No que diz respeito as leis de responsabilidade socioambiental, pode- se dizer que o Brasil possui uma das legislagoes mais complexas e avan- cadas do mundo. O cumprimento das leis socioambientais nacionais é, em sua grande parte, de aspecto juridico, mas também podem ser aplicaveis as pessoas fisicas A Constituigao Federal de 1988 prevé que toda pessoa, fisica ou juridica, que apresentar conduta ou atividade que cause dano ao meio ambiente estara passivel de sancGes penais administrativas, que serdo aplicadas independente- mente da obrigatoriedade de recuperar o dano causado. O poluidor é a pessoa juridica ou fisica responsavel, direta ou indiretamente, pelo dano causado. O sujeito se responsabilizara pelo dano ambiental real e potencial, que sera es- tipulado por entidades da drea. Uma vez que o meio ambiente é um direito da atualidade e das gerac6es futuras, os prejuizos e dimensées do dano sdo de interesse mundial, o que torna a ac¢ao juridica de extrema relevancia. Contudo, ha grande dificuldade na comprovacdo da escala do dano causado, devido a complexidade de mensura¢dao, assim, a responsabilidade devera ser objetiva O Estado, uma vez que € 0 responsavel pela sauide publica, também pode ser responsabilizado pelo dano causado ao meio ambiente quando ha omis- sao de sua responsabilidade legal. A Constituigdo Federal, alicerg¢ada nos valores da solidariedade, dignidade humana e justica social, instituiu 0 “estado social”, que deve orientar as rela- Ges sociais e econémicas. Para que cidadaos, governos e empresas exergam praticas de responsabilidade socioambiental, devemos ter em mente que, an- tes de qualquer coisa, ha necessidade da regulacao das politicas e dos direitos sociais, entre eles, educacao, satide, habitacdo e assisténcia social. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS & Uma vez que hd uma forte tendéncia de mudanca com relagao a adocao de uma postura ambientalmente correta, a responsabilidade socioambiental as- sociada as penalidades legais e exercida pelas leis, normas e infragdes devem ser conhecidas e praticadas pela sociedade civil, governos e empresas Nas empresas, ha a responsabilidade socioambiental empresarial, que tem natureza de responsabilidade juridica caracterizada como encargos sociais que, quando nao cumpridos, resultam em multas e/ou penalidades. Os encargos so- ciais tem origem na Consolidagao das Leis de Trabalho (CLT). Eles sdo os custos pagos pelo empregador sobre a folha de pagamento de saldrio dos colaboradores. Leis socioambientais brasileiras O Quadro 2 lista algumas das leis ambientais mais importantes no Pais. Existem também as leis estudais e municipais, bem como os 6rgdos que se certificam de que elas estéo sendo cumpridas, como o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) € 0 Ministério do Meio Ambiente (MMA). QUADRO 2. EXEMPLOS DE LEIS AMBIENTAIS BRASILEIRAS DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVELE DIREITOS INDIVIDUAIS @ CUE Maite Ma ttre Coed Cee Pe eRe Lei 12.305/2010 | 19 de fevereiro de 1998, e da outras providéncias. Estabelece normas gerais sobre a protecao da vegetacao, areas de aru ee an ee cree reer un cue e o eeu cus cs produtos florestais e o controle e prevencdo dos incéndios florestais, e eC ct caucus es eeu ett Fem us uke Keer okie RPA says A Lei 5.452 é uma das principais leis sociais brasileiras; ela rege os direitos dos trabalhadores. Nela, sdo discutidas quest6es sobre registro em carteira de trabalho e rescisdo contratual, vale-transporte, descanso semanal remunera- do, pagamento de salario, férias, fundo de garantia do tempo de servico (FGTS), décimo terceiro salario, hora extra, adicional noturno, aviso prévio, liceng¢a ma- ternidade e paternidade. A responsabilidade social empresarial aborda questGes que vao além das regulamentadas por lei. Ela trabalha a igualdade de oportunidades. Deve considerar os critérios de promogao dos funcionarios, igualdade de género e pessoas com deficiéncia, acidentes de trabalho, capacitagao continuada para 0 aprimoramento do nivel do conhecimento do colaborador, além da relagao ética entre os colaboradores. 2 Aresponsabilidade socioambiental além das exigéncias legais Quando uma empresa ou organizacao segue leis de cunho socioambiental ou normas determinadas por lei, ela esta exercendo seu papel como pessoa juridi- ca, ou Seja, a empresa esta somente seguindo os aspectos juridicos inerentes ao seu setor. Ser uma empresa social e ambientalmente responsavel vai além das obrigagées legais e econdémicas: significa que ela se posiciona e atua no combate aos problemas, buscando o desenvolvimento socioambiental sustentavel. A série ISO (International Organization for Standardization - organizacao in- ternacional para padronizacdao) estabelece sistemas de gestao na cultura orga- nizacional de empresas. As séries ISO sao compostas por normas que vao além das exigéncias legais e algumas podem se tornar tao importantes que passam a ser exigidas em lei. As normas ISO no Brasil sao controladas pela ABNT NBR (Associacao Brasileira de Normas Técnicas). DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS e Asérie ISO 14001 possui normas de gestao ambiental que permitem que a empresa pratique ideias de mitigagao dos possiveis danos ambientais decor- rentes de sua atividade, objetivando tornar-se sustentavel no curto e no longo prazo. A norma estabelece algumas praticas: * Implementagdo de um sistema de gestao ambiental; + Rotulagem ambiental; * Andlise de desempenho ambiental; + Andlise de ciclo de vida; + Integracdo de aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento de produtos; + Comunicagdo ambiental; * Mitigagdo das mudangas climaticas. A adocao das normas também pode trazer beneficios, como: * Reducdo de custos devido ao uso de matéria-prima, dgua e energia de forma consciente; * Captacao de novos clientes, devido a insergdo no mercado ambiental; + Melhoria dos processos inter e intra setoriais, bem como, da cultura orga- nizacional; * Menor risco de faléncia; + Abertura a patrocinios e boa visao internacional; + Possivel diversificacdo setorial; + Adesdo de novos grupos de clientes; + Maior qualidade e controle dos produtos, servicos e processos. Asérie ISO 9000 fornece meios para implementacdo e monitoramento con- tinuo de técnicas para otimizacao de processos pela implementacao de um sistema de gestao da qualidade. As normas que comp6em a série ISO 9000 estado sempre sendo atualizadas e sdo conhecidas e desejadas por empresas do mundo todo. Aderir as normas ISO 9000 traz uma série de beneficios: + Aumento da produtividade; * Reducdo de custos; + Produtos e servicos de maior qualidade; * Credibilidade e reconhecimento interno e externo; + Viséo mais ampla do fluxo de trabalho; + Seguranca nos procedimentos internos; + Colaboradores engajados e integrados DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS e A série ISO 45001 implementa um sistema de gestdo de satide e seguranca ocupacional com foco na melhoria do desempenho das empresas em termos de satide e seguranga do trabalho. Segundo a propria norma, uma organizagao é responsavel pela sauide e seguranc¢a ocupacional dos trabalhadores e outros que podem ser afetados por suas atividades. Esta responsabilidade inclui pro- mover e proteger sua sate fisica e mental. Podem ser citadas como beneficios da implementagao da norma ISO 45001 em uma empresa: + Gerenciamento de risco e acidentes de trabalho; + Reducdo de afastamentos por acidente de trabalho; + Maior qualidade de vida e melhor relacionamento empregador x empregado; + Reducdo dos prejuizos financeiros devido a processos trabalhistas. A ISO 50001 tem objetivo de melhorar a eficiéncia enérgica das empresas. Im- plementando um sistema de gestao de energética, a empresa tem como beneficios: + Uso de tecnologias modernas e eficientes; + Reducdo dos custos com energia; + Reducao da emissdo de gases de efeito estufa e das mudancas climaticas A adogao das normas ISO atesta a responsabilidade no desenvolvimento das atividades de uma empresa. Para sua obtencao e manuten¢ao, sao realiza- das auditorias periddicas por uma empresa certificadora, que deve ser creden- ciada e reconhecida por orgaos nacionais e internacionais. Organizagoes que aderem as normas ISO possuem sistema de manejo integrado e se colocam no mercado como responsaveis socioambientalmente. e Desenvolvimento sustentavel O crescimento econémico no século XX se desenvolveu nos moldes capita- listas, passando a depender do consumo cada vez maior de energia e recursos naturais (recursos renovaveis e nao renovaveis). Atrelado a isto, da década de 1950 em diante, a preocupacdo com uma eminente explosdo demografica glo- bal resultante do crescimento dos paises pobres causou um interesse global pelos temas populacionais. Iniciaram-se diversos movimentos para controlar a fecundidade dos paises pobres. Na Conferéncia Mundial de Populagao, realizada pela ONU em Bucareste, 1974, de um lado, os paises desenvolvidos DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ articulavam que, para reduzir a pobreza, deveriam haver programas de esti- mulo a reducao do crescimento da populagado por meio de reducgao da taxa de natalidade, do outro, os paises pobres e em desenvolvimento defendiam que politicas de desenvolvimento eram necessdrias. Apos longos periodos de debates, constatou-se que os moldes de desen- volvimento até entao adotados poderiam ser insustentaveis, e novos meios de producao e consumo deveriam ser adotados uma vez que a disponibilidade dos recursos era finita. De acordo com 0 Ministério do Meio Ambiente, a producdo sustentavel baseia-se na incorporacdo, ao longo do ciclo de vida de bens e servicos, de medidas que minimizem os custos ambientais e sociais resultantes da agao hu- mana. Sobre consumo sustentavel, entende-se como o uso de bens e servicos suficientes para atender as necessidades basicas, proporcionando melhor qua- lidade de vida, enquanto reduz 0 uso de recursos naturais e materiais toxicos, a geracao de residuos e a emissao de poluentes. De acordo com 0 Relatério de Brundtland, os principais objetivos das politi- cas de desenvolvimento sustentavel seriam os seguintes: + Retomar o crescimento; + Alterar a qualidade do desenvolvimento; + Atender as necessidades essenciais do emprego, educacao, alimenta¢ao, saude, energia, 4gua e saneamento; + Manter um nivel populacional sustentavel; + Conservar e melhorar, por meio da tecnologia, as bases dos recursos; + Incluir 0 meio ambiente e a economia nas decisGes que afetem a sociedade. Para atingir tais objetivos de produgado e consumo, a modificagao das or- ganizacdes deveria ser continua, contar com o apoio da ciéncia e manter-se dinamicamente equilibrada. Praticas produtivas exploratorias, predatorias e que visassem o lucro deveriam dar espaco para relacées sociais justas e para bem-estar dos seres vivos. Em um primeiro momento, a busca pelo desenvolvimento sustentavel das nagGes parece limitar seu potencial de desenvolvimento. Na realidade, deve-se entender o desenvolvimento sustentavel como um conjunto de praticas que nao limite o desenvolvimento econédmico, mas que considere que os recursos naturais sao finitos e devem ser usados sob um viés conservacionista. Assim, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ se estabelece um paradigma que consiste em diminuir 0 consu- mo e a exploracgdo dos recursos renovaveis e ndo renovaveis pe- los paises desenvolvidos, garantindo que paises industrializados - em desenvolvimento - possam se modernizar, proporcionando qualidade de vida as suas populagdes em sinergia com 0 meio ambiente. Muito se discute sobre desenvolvimento sustentavel; as vezes, ha consen- so entre as atitudes a serem adotadas, as vezes, nao ha. De fato, diversas acdes foram tomadas e cada vez fica mais evidente que ainda ha muito a ser feito. ASSISTA ‘A Organizagao das Nag6es Unidas vem se posicionando como uma grande difusora das ideias de desenvolvimen- to sustentavel no mundo todo. Assista ao video da Cupula das NacGes Unidas sobre o Desenvolvimento Sustenta- vel, realizada em 2015. Acoes globais rumo ao desenvolvimento sustentavel Chegamos a um ponto em que assuntos relacionados aos impactos da agdo humana, bem como sobre a necessidade das praticas de responsabilidade so- cial sdo vistos diariamente nos meios de comunicacao. Cada dia mais é exigido que a sociedade adote uma postura de mudanga diante de seus meios de pro- ducdo e de suas opcdes de consumo. As consequéncias do desenvolvimento em condigées de insustentabilidade fizeram com que diversos cientistas discutissem a transgressdo das fronteiras planetarias. As fronteiras planetarias se referem ao poder de fornecimento de recursos e da resiliéncia do planeta diante dos habitos e moldes de produgao e consumo. O conceito pode ajudar a sociedade civil e o poder publico na defini- gdo de modelos de produgdo seguros para a humanidade e a vida na Terra. As nove fronteiras planetarias, segundo Martine e Alves, sao: 1a camada de oz6nio estratosférico; acidificaga oceanos juimicos (ciclos de fésforo e nitr mudan, o de DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS e& aerosséis atmosféricos; e introdugdo de poluente materiais radioativos, nano iais e microplasticos. Das nove quatro jé foram ultrap. s: mudangas climaticas, perda da ntegridade da biosfera, mudanca no uso da terra e fluxos bio geoquimicos (MARTINE; ALVES, 2015, p. 445) Sobre o aquecimento global e mudancas climaticas, devemos conside- rar duas situac6es. A primeira trata do efeito estufa natural, que consiste na absorc¢dao, pelos gases do efeito estufa, dos raios infravermelhos emitidos pela superficie terrestre. Este processo permite que a superficie terrestre se man- tenha em temperaturas ideais para os seres vivos. A segunda situagdo aborda 0 efeito estufa antrdpico, no qual o aumento da concentracao atmosférica dos gases do efeito estufa, causados pelo uso excessivo de recursos ndo renova- veis - como os combustiveis fdsseis -, resulta no aumento da temperatura da superficie terrestre, chamado de aquecimento global (Figura 4). DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS. @ Asociedade vem discutindo ativamente as consequéncias do segundo caso, bem como as formas de mitigar as emissGes reduzindo a velocidade das mu- dancas climaticas causadas pelo aquecimento global. Os cientistas relatam que, caso nenhuma acao seja tomada, eventos ex- tremos podem comecar a acontecer, como: aumento da temperatura dos oceanos, ondas de calor, alteracdo dos regimes pluviométricos, desertifica- Gao, derretimento das calotas polares, redugdo da diversidade de fauna e flora, entre outros. O termo “pegada de carbono" refere-se ao consumo individual diante das praticas de responsabilidade ambiental, ou seja, 0 quanto os habitos de uma pessoa podem impactar o desenvolvimento sustentavel do planeta. A pegada de carbono pode ser calculada, tornando-se um indice, geralmente, expresso em emissdo de didxido de carbono - um dos principais gases do efeito estufa causado pelo homem - que quantifica 0 efeito da utilizacgao dos recursos sobre a bioesfera. Estes dados individuais podem ser extrapolados para medir os efeitos da atividade humana, servindo como base para elaboracao de politicas publicas e desenvolvimento de novos produtos. CURIOSIDADE Vocé pode calcular a sua pegada de carbono pessoal ou simplesmente sa- ber mais sobre a pegada de carbono na sua regiao. Fornecendo informa- ces sobre sua dieta, seus habitos de transporte e consumo de energia, uma calculadora especializada fara os calculos e vocé poderé comparar sua pegada com a de pessoas de outros paises. Sem duvida, ndo podemos conceber um mundo sem uso de fontes energéticas. Porém, existem diversas alternativas sendo disponibilizadas e aprimoradas pela ciéncia. Diante desse contexto, abordamos a ideia de energia limpa. Ela vem de fontes de energia renovaveis (Figura 5), e quando optamos por utilizd-las, estamos reduzindo a emissdo de gases do efeito estufa para a atmos- fera. Sdo exemplos de energia limpa aquelas pro- venientes de fontes solares, edlicas, geotérmicas, hidrdulicas e maremotrizes. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS &) _-iih 1 Energia poluente/fontes nao 4 Energia limpa/fontes renovaveis renovaveis Empresas que reduzem as emiss6es de gases do efeito estufa em seus pro- cessos produtivos podem comercializar créditos de carbono. Esse mercado internacional cresce anualmente. Os créditos baseiam-se na quantidade de gas nao emitido para a atmosfera, sendo que cada crédito se refere a uma tonelada de dioxido de carbono equivalente (t CO,e). Nao somente o didxido de carbono € contabilizado, outros gases causadores do aquecimento global também, mas seus valores sdo calculados considerando sua equivaléncia em moléculas de didxido de carbono. Os consumidores estaéo se tornando cada vez mais exigentes e cons- cientes em relacdo a producdo e a origem dos alimentos. Nesse sentido, a agricultura intensiva vem avancgando lentamente na busca de tecnologias e processos que minimizem problemas de poluicgdo e degrada¢ao dos recursos naturais e que oferecam produtos seguros ao consumidor final. Podemos ci- tar 0 zoneamento econdmico-ecoldgico, a agricultura de precisdo, a fixagao bioldgica de nitrogénio, as praticas de controle da erosao do solo, os sistemas de plantio direto e o manejo integrado de pragas. Além disso, a produgao organica sera decisiva como a agricultura do futuro, assim como os sistemas agroflorestais, a agricultura sintrépica e o consumo local. Cada vez mais, os consumidores buscam opc¢ées de produtos originarios do modelo organico de produgao. Tais sistemas resultam em sustentabilidade no curto e no longo prazo, uma vez que sdo baseados em praticas de responsabilidade socioam- bientais com abordagens integradas. Os processos produtivos nesses siste- mas sao baseados nos mecanismos e processos naturais que eliminam o uso dos agrotoxicos e fertilizantes sintéticos. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ O = As trés dimensées da sustentabilidade A responsabilidade socioambiental é alcangada por meio da adocao de praticas de desenvolvimento sustentavel por empresas, por politicas governa- mentais e pela atuacao do cidaddo. Ela se concretiza sob 0 emprego das trés dimens6es da sustentabilidade, como mostrado na Figura 6. A esfera social, sob uma perspectiva sustentavel de produgdo e consumo, deve considerar a qualidade de vida dos seres humanos tendo em vista a di- versidade cultural, étnica, religiosa e de género, bem como questées regionais da comunidade. Do ponto de vista econdmico, deve-se considerar o papel da sociedade na rentabilidade e a viabilidade empresarial por meio de acdes ganha-ganha, de forma que haja retorno, na forma de lucro, ao investimento realizado pelo ca- pital privado e qualidade de vida aos colaboradores. Sodell LDF PN ee Economica) Figura 6. Fonte RI fa) Na esfera ambiental da sustentabilidade, os processos de producgao e consumo deverdo considerar a adocao de praticas ambientalmente corretas. Termos como ecoeficiéncia, pegada de carbono, energia limpa e sete R’s pro- porcionardo uma cultura organizacional ambiental nas empresas, residéncias e espacos publicos, uma vez que conduzem ao desenvolvimento do perfil de responsabilidade socioambiental. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ ® *. Debates mundiais Em 1972, a ONU convoca a Conferéncia das Nagées Unidas para o Meio Am- biente, em Estocolmo, e a pauta ambiental comeca a ser debatida oficialmente, resultando no Programa das Nacées Unidas para o Meio Ambiente. Apds al- guns anos depois da Conferéncia das NagGes Unidas para o Meio Ambiente de 1983, nasce um grande marco da pauta ambiental elaborado pela Comissao de Brundtland, 0 relatério nomeado como Nosso futuro comum. Apos a Conferéncia, diversos outros eventos discutiram os ideais e os meios de conduzir 0 desenvolvimento mundial para os moldes do desenvolvimento sustentavel. Em 1988, uma unido entre a ONU Meio Ambiente e a Organiza- ¢do Meteoroldgica Mundial (OMM) resultou na criagdo do Painel Intergover- namental para as Mudangas Climaticas (IPCC), sendo que os resultados de pesquisas sobre mudancas climaticas realizadas no mundo todo sao reunidas e relatorios e planos de agao sdo publicados periodicamente. A famosa Cupula da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992, foi um marco de sua década, pois discutiu a importancia de se agregar os componentes sociais, econémi- cos e ambientais nas buscas pelo desenvolvimento sustentavel e finalizou a Agenda 21. O Protocolo de Kyoto, de 1997, estabeleceu metas obrigatorias de redugdo das emiss6es de gases de efeito estufa nos 37 paises signatarios. Em 2000, a Cupula do Milénio das NagGes Unidas definiu oito objetivos con- cretos e mensuraveis, que foram acompanhados em escala nacional, regional e global. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) foram resultado de uma série de cuipulas multilaterais realizadas na década de 90 sobre as condi- des do desenvolvimento humano. A formulacaéo dos ODM contou com especialistas renomados de diversas areas que estiveram focados na redugdo da pobreza extrema observada, principal- mente, nos paises pobres e em desenvolvimento. Todos os paises signatarios da época aderiram ao acor- do, comprometendo-se em inserir em suas politicas, acdes para alcancar os objetivos. Os oito objetivos do milénio foram definidos conforme o Quadro 3. Eles deveriam ser atingidos até 2015, quando seriam entao discutidos novamente. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ QUADRO 3. OITO OBJETIVOS DEFINIDOS NA CUPULA DO MILENIO DAS NACGES UNIDAS CS Em 2002, a Capula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentavel, realiza- da na Africa do Sul, discutiu os compromissos e metas da Agenda 21 e analisou suas conquistas, para entdo conceber uma Agenda 21 reformulada, com agées concretas e tangiveis em relacdo aquelas estabelecidas em 1992. Em 2015, foi definida uma nova agenda, a Agenda 2030. Ela foi desenvolvida em um trabalho conjunto entre governos, entidades e sociedade civil. Entre outros, foram definidos os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentavel (ODS's), que tiveram como base os ODM's. Os ODS's sdo 0 que se tem de mais atual com relacdo as metas em diregdo a um mundo mais sustentavel. O ° Agenda 21 A Cupula da Terra, também conhecida como Eco-92 ou Rio 92, realizou-se no Rio de Janeiro, em 1992, e finalizou a Agenda 21. Nela, determinou-se a DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVELE DIREITOS INDIVIDUAIS. @ relevancia dos paises em parceria com empresas, organizagdes governamen- tais endo governamentais em se comprometerem com estudos para avaliar e combater os problemas socioambientais. Desde a sua finalizacao, a Agenda 21 foi aprimorada e adaptada a condigdes mais palpaveis para os niveis de desen- volvimento de cada Pais. £ importante lembrar que cada Pais desenvolveu sua Agenda 21, inclusive o Brasil. Ela discutiu assuntos de extrema relevancia socioambiental, como: comba- te a pobreza, mudanga nos padrées de consumo, cooperagao internacional, protecdo e promogdo da sauide humana, protegdo da atmosfera e de ecossiste- mas, protecdo da biodiversidade, protecao da infancia, desenvolvimento rural, Dia da Mulher, fortalecimento das populagGes indigenas, dos trabalhadores, dos agricultores, do comércio e da industria etc. CONTEXTUALIZANDO A Conferéncia das NagGes Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvol- vimento (CNUMAD) finalizou a Agenda 21, um documento dividido em 40 Capitulos que aborda os meios para que seja adotado em escala planeta- ria um padrao de desenvolvimento sustentavel. No total, 192 paises acor- daram e assinaram a Agenda 21. A partir da Agenda 21, pdde-se refletir sobre a agdo humana segundo os moldes industriais e capitalistas. De forma sinérgica, buscou-se (e busca-se até os dias atuais) promover a qualidade de vida e nao apenas o crescimento indi- vidual estimulado pela producado e consumo injustificado. O * Agenda 2030 Em 2015, durante uma Assembleia Geral da ONU que ocorreu nos Estados Unidos, elaborou-se um plano guia para a acaéo da comunidade internacional, que elencava os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentavel (ODS) e 169 metas para erradicar a pobreza e promover vida digna a todos, considerando os pardmetros sustentaveis de uso dos recursos naturais. O documento Transformando o mundo: a Agenda 2030 para o desenvolvimen- to sustentdvel, que deve ser cumprido até 2030, traz um plano de acdo para as pessoas, o planeta e a prosperidade. Os 17 ODS's sao: DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS © QUADRO 4. OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL Os objetivos e metas definidos na reuniao devem ser inseridos na realidade de cada Pais signatario, considerando suas prioridades internas, mas voltando- se para um desenvolvimento global. Eles sao integrados e indivisiveis, e mes- clam, de forma equilibrada, as trés dimensdes do desenvolvimento sustenta- vel: a econdmica, a social e a ambiental. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ Contexto atual Atualmente, a populagao brasilei- ra é de, aproximadamente, 212 mi- IhGes de pessoas distribuidas ao lon- go das 27 unidades federativas que compéem nosso Pais. Um dos princi pais indicadores que revela a riqueza de um Pais é 0 seu Produto Interno Bruto (PIB), que calcula o valor de toda a riqueza produzida por um Pais considerando 0 desempenho dos trés setores que compdem a economia. Em 2019, o PIB do Brasil foi de R$ 7,3 trilh6es e a ordem de participacgao dos setores neste resultado foi: ser- vigos, industria e agropecuaria (IBGE, 2020). Com este resultado, o Pais ficou entre as dez maiores economias do mundo (FUNAG, 2020). Em contraponto, é o segundo Pais em area florestal no mundo com, aproxi- madamente, 12% do territorio coberto por florestas. Apesar de usarmos mais fontes de energia nao renovaveis do que renovaveis (56,5%), usamos mais fon- tes renovaveis do que o resto do mundo. Além disso, ha riqueza de fauna e flora, biomas diversificados e uma imensa diversidade étnico-cultural. Uma vez que possui relevancia econdmica e ambiental e que ha continuo fortalecimento de um perfil mundial voltado 4 questao da responsabilidade socioambiental, 0 Pais posiciona-se em um contexto estratégico, no sentido de que as organizagées brasileiras podem se destacar mundialmente de maneira positiva na geracgdo de ambientes sustentaveis de produgdo e consumo. Nesse sentido, ha destaque para organizacées alicercadas em atitudes con- cretas, que adotam nado somente ideologias, mas que praticam rotineiramente as pautas mais atuais do desenvolvimento sustentavel, como ecoeficiéncia e os 7'Rs. Para isso, elas aprimoram-se e se reposicionam, utilizando a tecnologia, a diversidade e os recursos sociais e ambientais do nosso Pais, garantindo credi- bilidade nacional e internacional. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ _« Ecoeficiéncia O termo ecoeficiéncia refere-se ao uso consciente dos recursos naturais nos processos produtivos e de consumo, de forma que nao deixe de atender as neces- sidades das pessoas. Produtos ecoeficientes devem focar no uso consciente de matéria-prima renovavel em processos produtivos que minimizem a geracao de residuos, além disso, devem apresentar elevada produtividade sem deixar de lado a qualidade. Basicamente, significa produzir mais com menos. O conceito envolve a sociedade como um todo, uma vez que 0 governo deve incentivar esse tipo de produgao (fomentando pesquisas, subsidiando e divulgan- do) e as empresas devem adaptar seus processos e procedimentos operacionais. Um sistema pode ser chamado de ecoeficiente se conseguir produzir de acor- do com oito elementos fundamentais: + Minimizando o uso de materiais dos bens e servicos; + Minimizando 0 uso de energia na produgao de bens e servicos; * Minimizando a dispersdo de toxicos; + Fomentando a reciclabilidade dos materiais; + Maximizando a utilizagdo sustentavel de recursos renovaveis; + Estendendo a durabilidade dos produtos; + Promovendo a educa¢do dos consumidores para um uso mais racional dos recursos naturais e energéticos. Algumas perguntas podem ser feitas pelos consumidores para analisar a ecoe- ncia do produto: + Ele minimiza 0 uso de fontes energéticas e maximiza a uti- lizagdo sustentavel de recursos renovaveis? + Ele utiliza em sua composicao materiais toxicos? + Ele descarta materiais toxicos em seu processo produtivo? + Os materiais utilizados sao reciclaveis ou biodegra- daveis? * O produto promove seu uso racional? +Amarca adota a ideia de desenvolvimento sus- tentavel? DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ © * Os 7 R's da sustentabilidade Os 7 R’s sdo um conjunto de praticas de educa¢do ambiental para garantir a mudanga de habitos em prol do desenvolvimento sustentavel. A questdo cen- tral € a de repensar costumes e habitos, reduzindo o consumo e o desperdicio. Os 7 R's so verbos que nos passam a sensacdo de acao. Observe a Figura 7. ~sFer~ Reutilizar [ Repense seus habitos, consuma 0 que é realmente necessario, Recuse pro- dutos e servicos de origem insustentavel, conhe¢a a origem da matéria-prima. Reduza 0 lixo gerado e, assim, 0 gasto energético no processo. Repare seus produtos quebrados em vez de comprar novos. Reintegre, por exemplo, com- postando 0 lixo organico. Recicle o lixo, separe-o e leve para reciclagem. Se nao pode reciclar, reutilize, dando func6es novas e sustentaveis aos produtos. O foco esta em pensar que nao existe jogar fora! © Responsabilidade socioambiental como estratégia de gestao No mundo globalizado, as empresas tém se mostrado responsdveis pelo direcio- hamento da economia dos paises ou de conjuntos de paises. Entretanto, por muitos anos, o setor empresarial viveu uma realidade propria, em geral, desvinculada das DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ questées sociais e ecoldgicas. Os modelos de producao nao estavam em sintonia com as necessidades sociais e ambientais. No passado, uma das maiores dificuldades para que as empresas adotassem a gestao ambiental se baseava em uma ideia distorcida de que 0 investimento em meio ambiente nao atraia lucros, fazendo com que os custos fossem repassados aos consumidores, resultando no aumento dos precos (COMINI et al., 2013). Em um contexto de intensas discusses sobre moral, ética e justica, diversos paradig- mas vém sendo quebrados. Se a situagao ver mudando, os resultados positivos podem ser entendidos, em grande parte, como consequéncia da intensa atuac¢do das politicas soci is e ambientais formuladas a partir de dados cientificos e apoiadas pela populagdo. Aaderéncia aos pressupostos das acées de responsabilidade socioambiental tam- bém resulta da percepcao de que, ao investir no compromisso voluntario de um futu- ro sustentavel, esta-se agindo coerentemente com o mercado que migra em direcao ao desenvolvimento sustentavel e ao continuo aumento de sua rentabilidade. Atualmente, sabe-se que as empresas que adotam praticas de responsabilidade socioambiental possuem beneficios como: redugao dos custos, valorizagao da marca, transparéncia nas atividades, mais fidelizacao de clientes, melhor comunicacao exter- na, melhor desempenho dos processos e dos empregados. A responsabilidade socioambiental empresarial se refere as ferramentas de ges- tao que analisam o cumprimento dos temas e que conduzem a empresa ao desenvolvi- mento sustentavel. Empresas comprometidas com essa questao atendem a itens como: + Transformacgao em desempenho positivo das leis, regulamentos e normas de adesdo voluntaria as quais esta sujeita; + Conhecimento e promocao voluntaria e proativa de acdes de desenvolvimento sustentavel regional, nacional e internacional; + Possiveis danos ao meio ambiente e os impactos sociais causados por seus pro- dutos, processos e instalacGes sao previamente identificados; + Conhecimento antecipado de treinamentos e planos de evacua¢ao em casos de emergéncia ambiental; + Conhecimento dos métodos de resposta em casos de prevencao ou mitigacao dos impactos adversos; + Ciéncia, por parte da populacao local, do segmento da empresa e dos impactos, Positivos e negativos, decorrentes da sua atua¢do na regido; + Acessibilidade aos produtos e instalagdes. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ Paradigma econ6émico, social e ambiental As instituigées publicas zelam pelo que é de interesse coletivo da popula- Gao por meio de normas, valores e regras. As instituigées particulares pos- suem cardater privado uma vez que guardam os interesses individuais. Apesar das distingdes entre instituig6es publicas e privadas, 0 meio am- biente, pelo fornecimento de recursos, e a sociedade, por meio da sua forga de trabalho, além de estarem intimamente relacionados e possuirem cardater pu- blico, sdo as bases para a existéncia empresarial. Assim, pode-se dizer que as empresas se colocam como instituigdes publicas com fungao social, pois lidam subjetiva e materialmente com a sociedade e com o meio ambiente, que sdo de extrema importancia para a humanidade e pauta internacional. Consequentemente, espera-se que as empresas possuam uma postura compromissada, que deve se espelhar nas questOes econdmicas, sociais e ambientais. Desse modo, devem exercer suas atividades com base nas trés dimensGes da sustentabilidade para que trabalhem em equilibrio com as questées econdmicas, sociais e ambientais. Por muitos anos, na economia capitalista, a obtencdo de lucro se mostrou um dos principais meios para se estimar 0 sucesso empresarial. Decorre disso o fato de que, muitas vezes, as empresas se esquecem da ética e agem a partir de atos oportunistas. Os paises se diferem quanto as leis sociais e ambientais que possuem, geralmente, refletindo seu grau de desenvolvimento. Um pais em desenvolvimento pode se tornar menos atrativo para a permanéncia de empre- sas devido as leis sociais, fiscais ou ambientais que venham a promulgar. Diver- sas vezes é possivel constatar que agir de acordo com o que as leis preconizam pode ndo ser suficiente para atender as expectativas da sociedade em relacao as empresas. As relacdes entre paises e instituigdes publicas e privadas devem ser fortalecidas para garantir a transpar€éncia das atividades empresariais. Diversas sao as partes interessadas (stakeholders) que afetam e sao afe- tadas, influenciam e sao influenciadas pelas empresas e que, muitas vezes, possuem interesses conflitantes entre si e em relac¢do a empresa (Diagrama 1). E importante entender que buscar o melhor para si nao resulta em atingir o melhor para todos, entdo, as partes interessadas devem atuar de modo que se equilibrem, considerando os trés pilares da sustentabilidade. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVELE DIREITOS INDIVIDUAIS @ DIAGRAMA 1. PARTES INTERESSADAS (STAKEHOLDERS) QUE AFETAM O DESEMPENHO DE UMA EMPRESA Comunidade Grupos politicos J Proprietdrios ere CT OSL Cy Cie Ig COT eel} ESTE Ly 45 are Cry ara Atualmente, sabe-se a importancia do desenvolvimento sustentavel para garantir melhor qualidade de vida para a populagao e um futuro sustentavel para as geracGes seguintes. A atuacdo empresarial, nesse contexto, deve agir ativamente e em articulagdo com projetos que evitem a crise social e ética de paradigmas econdémicos, sociais e ambientais. © ” Empresa sustentavel Segundo Carroll (1979), a responsabilidade social das empresas compreen- de as expectativas econdmicas, legais, éticas e discricionarias que a sociedade tem em relacdo as organizagdes em um determinado periodo. Uma empresa responsavel socioambientalmente deve ter como objetivo o desenvolvimento sustentavel e, por meio dele, exercer, em suas relacées internas e externas, 0 cumprimento das questdées legais e 0 posicionamento ético de modo integra- do, considerando todas as expectativas das partes interessadas. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS. @ Sempre havera dificuldades para implantar as praticas de responsabilidade socioambiental, j4 que envolvem uma diversidade de questdes que se tradu- zem em direitos, obrigagdes e expectativas de diferentes publicos, internos e externos a empresa (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016). Todavia, no Brasil, a Constituigdo Federal definiu que as empresas devem observar os seguintes principios: + Soberania nacional; + Propriedade privada; + Funcao social da propriedade; + Livre concorréncia; + Defesa do consumidor; * Defesa do meio ambiente; + Reducdo das desigualdades regionais e sociais; + Busca do pleno emprego; + Tratamento favorecido para empresas de pequeno porte que tenham sua sede e administracdo no Pais. Desse modo, a Constitui¢do Federal brasileira traz a tona a ideia de desen- volvimento sustentavel, colocando-o como uma das raz6es para a limitagao da atuagao de uma empresa quando ameaga 0 uso racional dos recursos. Empresas sustentaveis nado esperam que leis ambientais sejam elabora- das pelos paises, e sim pensam globalmente e agem localmente, adotando as trés dimens6es da sustentabilidade em suas atividades (Diagrama 2). Es- sas trés dimensGes abrangem a sustentabilidade econdmica, social e am- biental, mas também abarca questées de: + Sustentabilidade espacial: referente a uma configuragao rural-urbana equilibrada, que avalia solucdes para os assenta- mentos humanos; + Sustentabilidade cultural: referente ao respeito pela plu- ralidade apropriada a cultura local; + Sustentabilidade politica: ressalta a necessidade de processos democraticos consolidados; + Sustentabilidade institucional: relacionada a atividade publica e as suas relacdes com outras instancias da sociedade. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ DIAGRAMA 2. TRIPE DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL Oey © Modelos de gestao ambiental O triple bottom line (resultado triplo) é um modelo de gestao empresarial criado a partir das dimens6es da sustentabilidade, e possui como pressuposto basico que a responsabilidade social das empresas deve contribuir para a su- peracao das crises socioambientais. Esse modelo propée uma abordagem em que todas as formas de capital se- jam favorecidas ao longo do tempo por meio de uma gestao econdmica, social e ambiental responsavel. No modelo tradicional, as empresas obtém aumento de valor de mercado com geragao de lucro liquido e consequente aumento da riqueza dos acionistas. Na esfe- ra econdémica do tripé da sustentabilidade, as empresas também obtém desempe- nho financeiro positivo, mas consideram os custos sociais e ambientais envolvidos em seus processos. Na esfera social, o capital social que esto construindo deve ser considerado e seu conhecimento vislumbrado como fator de competitividade. Na esfera ambiental, o diferencial desse modelo esta na obtencdo de lucro liquido am- biental por meio da adogao do conceito de capital natural baseado no modo como a empresa lida com a manutencao dos recursos naturais e os servicos ambientais. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ A partir do modelo triple bottom line, desenvolveram-se Os 3 Ps - profit, peo- ple e planet (lucro, pessoas e planeta), cuja aplicagdo esta restrita as empresas, a medida que se associa a dimensao econdmica ao lucro, conforme ilustra a Figura 1 (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016). Sustentabilidade empresarial Responsabilidade socioambiental empresarial @® 7 Indicadores, certificagdes, tecnologias e instrumentos de gestao A sobrevivéncia e 0 sucesso de uma organizacaéo estado diretamente rela- cionados a sua capacidade de atender as necessidades e expectativas dos pro- prietdrios, dos clientes e da sociedade. De acordo com a ABNT (2012), uma vez que as decisGes e atividades tém impac- to ambiental, agdes entre organizagdes puiblicas ou privadas e o meio ambiente devem atuar no sentido de reduzi-los, sendo conveniente que a organizacao adote uma abordagem integrada que considere as implicagées econdémicas, sociais, na satide e no meio ambiente de suas decisées e atividades, direta e indiretamente. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS. @ Muito se tem trabalhado ao longo das ultimas décadas para garantir que as praticas de responsabilidade socioambiental sejam exercidas pelas empresas e para que estejam alinhadas ao conceito de desenvolvimento sustentavel. As praticas de responsabilidade socioambiental reestruturam a cultura or- ganizacional das empresas, influenciando as diversas instancias da gestao em- presarial, tais como: a gestdo financeira, o marketing, a producao, a gestao de pessoas, a logistica e o desenvolvimento de produtos. Desse modo, é importante entender melhor os indicadores, certificacées, tecnologias e instrumentos de gestao que podem ser adotados pelas empresas em busca de um desempenho ambiental eficiente. © Fontes de orientacao estratégica O ciclo PDCA (pian, do, check, act, ou seja, planejar, fazer, verificar e agir) busca a melhoria continua dos processos das organizagGes (Diagrama 3). QuestGes sobre como adotar novos ou como fazer a melhoria de processos ja existentes buscando um melhor desempenho socioambiental podem ser resolvidas a partir dessa técnica. DIAGRAMA 3. CICLO PDCA DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ Esse ciclo garante dois tipos de aces corretivas: + Agdo corretiva temporaria: busca a resolucdo do problema ja instaurado; + Agdo corretiva permanente: consiste na investigagdo e eliminagdo das causas e, portanto, visa a sustentabilidade do processo. A ideia do ciclo PDCA é realizar o planejamento, estabelecendo claramente os objetivos e as metas para que as aces sejam programadas com embasamento. Além disso, descreve os processos que envolvem o problema para entendé-lo e para identi- ficar as areas para melhorias. Para isso, a utilizacdo de fluxogramas e mapas dos pro- cessos € importante. Muitas ferramentas estao disponiveis para coletar e interpretar dados, como histogramas, graficos de execucao, de dispersao e de controle. Compreendido o cenario atual, deve-se implementar o programa estabelecido, promovendo a organizacao e o treinamento de funcionarios e/ou parceiros. As solu- ¢6es decididas devem ser implementadas individualmente. E importante que os res- ponsaveis se certifiquem de que todas as etapas foram totalmente compreendidas. A fase de verificagao é caracterizada por uma aprendizagem significativa. Ha a oportunidade de desenvolver planos atualizados, elevando o processo a novos patamares, em vez de simplesmente consertar o que deu errado na fase anterior. Se os resultados forem negativos, 0 trabalho de melhoria deve recomegar na fase de planejamento, pois, caso contrario, as solugdes testadas passam para a fase de agao. A verificacdo deve ser feita continuamente pelo monitoramento e elabora- ¢ao de relatorios que evidenciem com clareza os resultados alcangados. A atuagao deve promover a melhoria continua. Uma vez que o ciclo atingiu essa etapa, as solugGes sdo preparadas para implementacgao final e, possivelmen- te, para adocdo por outros setores da organizacao. Nessa etapa, deve-se adotar normas e certificagdes para reconhecimento nacional e internacional das melho- rias realizadas, e, para manter a melhoria, € preciso repetir o ciclo continuamente. _« A Norma ISO 26000 Aobtencgao de certificados pelo atendimento de padroes técnicos sobre produ- tos, processos produtivos, métodos e ensaios é um grande diferencial para as em- presas. Em alguns casos, a norma que fornece 0 certificado é tao importante que se torna uma lei. Criada em 1947 e mais conhecida por sua sigla ISO, a principal organizacdo de normalizacao é a International Organization for Standardization. DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ O objetivo da ISO é desenvolver padrées e atividades para facilitar as trocas de bens e servigos no mercado internacional e promover a cooperagao entre os pai- ses nas esferas cientificas, tecnologicas e produtivas (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016). As normas de gestao da ISO se aplicam a qualquer organiza¢ao, pois nado sao normas de conteudo, mas de procedimentos que podem se adequar ao segmen- to da empresa que a adota. Todas elas adotam o ciclo PDCA para melhoria con- tinua dos processos. A certificacdo requer auditorias periddicas de avaliacao. AISO possui normas adotadas mundialmente, entre as mais importantes es- tao as séries ISO 9000, de gestao da qualidade, e a ISO 14000, sobre sistemas de gestdo ambiental. A norma ISO 26000 foi desenvolvida para organizacées que querem adotar um sistema de gestéo focado em responsabilidade social e desenvolvimento sustentavel. Por fazer uso de termos como “pode” ou “convém que” em seu tex- to, pode-se dizer que é uma norma-guia nao certificavel que busca, por meio de suas diretrizes, mais fazer indicagdes e recomendacgées do que exigir ou tornar algo obrigatorio Anorma ISO 26000 aborda sete temas centrais voltados para a responsabili- dade social das organizagées: + Governan¢a organizacional; + Direitos humanos; + Praticas de trabalho; + Meio ambiente; + Praticas leais de operacao; * QuestGes relativas aos consumidores; + Envolvimento e desenvolvimento da comunidade. Essa norma elenca principios especificos associados ao meio ambiente, que discutem quatro questGes centrais definidas por uma descri¢ao de expectativas relacionadas ao desenvolvimento sustentavel, sendo eles: + Principio da responsabilidade ambiental: além de cumprir leis vigentes, con- vém que a organizagdo assuma a responsabilidade pelos impactos ambientais causa- dos por suas atividades ao meio ambiente em geral; convém que nao deixe de atuar em busca de desempenho positivo, mas que, para isso, reconheca seus limites ecoldgicos; + Principio da precaugao: onde houver ameacgas de danos graves ou irrever- siveis ao meio ambiente ou a satide humana, convém que nao se utilize da falta DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS @ de certeza cientifica para postergar o uso de medidas eficazes que impecam a degradacao ambiental ou danos a saude humana em fungao dos custos. Con- vém que a organizacgaéo considere os custos e beneficios de longo prazo e nao somente os custos de curto prazo de uma medida; + Gestao de risco ambiental: convém que programas sejam utilizados pelas organizacées a partir de uma perspectiva baseada em riscos e na sustentabili- dade, para avaliar, evitar, reduzir e mitigar riscos e impactos ambientais de suas atividades. Convém que sejam elaboradas e aplicadas atividades de conscien- tizacao, além de procedimentos de resposta a emergéncias, bem como meios de divulgar informagées sobre incidentes ambientais e para reduzir e mitigar impactos ambientais na satide e na seguranca, causados por acidentes; + Poluidor pagador: de acordo com a extensdo do impacto ambiental na socie- dade, convém que a organiza¢ao arque com os custos da polui¢ado causada por suas atividades e providencie as acées corretivas, totalmente ou a medida que a poluicao se adeque aos niveis permitidos. O custo da poluicao e a quantificagao dos beneficios econdmicos e ambientais da prevencao devem ser internalizados pelas organizacées. Desse modo, as empresas devem considerar 0 emprego da gestao ambiental seguindo abordagens estratégicas, como: ciclo de vida de produtos, avaliacao de im- pacto ambiental, producao mais limpa e ecoeficiéncia, abordagem por sistemas de produto-servico, uso de tecnologias e praticas ambientalmente saudaveis, praticas de compras sustentaveis (priorizar produtos ou servigos com impactos minimizados e fazer uso de sistemas de rotulagem confiaveis) e aprendizagem e conscientizacao. O Quadro 2 destaca as principais quest6es abordadas pela ISO 26000. QUADRO 2. QUESTOES CENTRAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE ABORDADAS PELA NORMA ISO 26000 rue Ty Prarie ty DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS ©

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