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CERTAU, Michel de; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano 2.

Morar, cozinhar. Editora Vozes: Petrópolis, 2013.

Pág 31: “O cotidiano aquilo que nos é dado cada dia (ou que nos cabe em partilha), nos
pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opção de presente. Todo dia, pela
manhã, aquilo que assumimos, ao despertar, é o peso da vida, a dificuldade de viver, ou
de viver nesta ou na outra condição, com essa fadiga, com esse desejo. O cotidiano aquilo
que nos prende intimamente, a partir do interior. É uma história a meio caminho de nós
mesmos, quase retirada, as vezes velada.

Habitação do bairro por práticas familiares remete a “estrutura fervilhante da rua“, que é
também a estrutura formigante das atividades ritmados por espaços relações.

Pág 39 - Usar: com ou sem razão, achei por bem confiar apenas algumas personagens os
elementos essenciais da pesquisa, acumulando atrás deles os frutos de uma prospecção
em uma área de relações muito mais ampla. Procurei, nesta reconstrução, respeitar na
medida do possível discurso das diversas gerações, privilegiando paramentos pessoas de
mais idade e os adultos, na medida em que o tempo investido no espaço facilitava um dos
eixos da investigação, polarizado pelo problema, temporal no acaso, da apropriação.

Lefebvre: “O bairro é uma porta de entrada e de saída entre espaços qualificados e o


espaço quantificado“. O bairro surge como domínio onde a relação espaço/tempo é a mais
favorável para um usuário que deseja deslocar-se por ele até o centro de sua casa. É um
pedaço da cidade atravessada por um limite distinguido o espaço privado do espaço
público: é o que resulta de uma caminhada, da sessão de passos de uma calçada, pouco a
pouco significado pelo seu vínculo orgânico com a residência.

O bairro é uma nação dinâmica, que necessita de uma progressiva aprendizagem, que vai
progredindo mediante a repetição do engajamento do corpo do usuário no espaço público
até exercer aí uma apropriação.

Pág 40: Essa apropriação implicações que recomponham o espaço proposto pelo
ambiente a medida do investimento dos sujeitos, e que são as peças mestras de uma
prática cultural espontânea: sem elas, a vida na cidade seria impossível.
Pág 41: O bairro espaço de uma relação com outro como ser social, exigindo um
tratamento especial. Sair de casa, andar pela rua, efetuar de tudo um ato cultural, não
arbitrária: inscreve os habitantes em uma rede de sinais sociais que eles são pré existentes
(os vizinhos, configuração dos lugares etc). A relação entrada/saída, dentro/fora penetra
outras relações (casa/trabalho, conhecido/desconhecido, calor/frio, tempo úmido barra
tempo seco, atividade/passividade, masculino/feminino…). É sempre uma relação entre
uma pessoa e o mundo físico e social.

Pág 42 - 1/3: processo de apropriação do espaço como lugar da vida cotidiana pública.

A prática do bairro introduz um pouco de gratuidade no lugar da necessidade; ela favorece


uma utilização do espaço urbano não finalizado pelo seu uso somente funcional. No
limite, visa conceder o máximo de tempo a um mínimo de espaço para liberar
possibilidades de deambulação. Conforme você vai caminhando, sem ordem sem regra,
despertado ao acaso dos encontros, suscitadas pela atenção flutuante aos “acontecimento“
que, sem cessar, se vão produzindo na rua.

Pág 43: aquilo que usuário ganha quando sabe “possui” direito o seu bairro não é
contabilizado, nem se pode jogar numa troca necessitando ter uma relação de forças: o
adquirido trazido pelo costume não é senão a melhoria da “maneira de fazer“, de passear,
fazer compras, pela qual usuário pode verificar sem cessar a intensidade da sua inserção
no ambiente social.

Ideia: conceitos Bálio para ressaltar a importância e contrapor o modelo de condomínio.

Pág 44: O bairro se define como a organização coletiva de trajetórias individuais: com
ele ficam postos à disposição dos seus usuários “lugares“ na proximidade dos quais este
se encontra necessariamente para atender as suas necessidades cotidianas.

Pág 197: assim como a relação terapêutica ser reintroduzir, ainda muito marginal mente,
no campo de uma tecnocracia médica, a dinâmica das relações entre habitantes
especialistas deve ser restaurada. Ela coloca em jogo relações de força entre cidadãos
supostamente iguais diante da lei. Aqui está em questão uma política que ultrapassa e
controla uma gestão econômica.

Pág 198 - Cap 1/3: os habitantes, sobretudo os mais favorecidos, não só tem, no quadro
das leis, o direito a ocupação dos lugares; também tenho direito a sua estética. De fato, o
“gosto“ deles é sistematicamente denegrido, sendo privilegiado o dos técnicos.

Pág 199: sobre a cidade: seu patrimônio é feito dos objetos que ela criou, mas as
capacidades criadoras e do estilo inventivo que articula, à sua maneira de uma língua
falada, a prática sutil e múltipla de um vasto conjunto de coisas manipuladas e
personalizadas, empregadas e “poetizadas“. Finalmente o patrimônio são todas essas
“artes de fazer“.

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