You are on page 1of 392
A Sabedoria do Eneagrama A Sabedoria do Eneagrama Guia completo para o crescimento psicolégico e espiritual dos nove tipos de personalidade Don Richard Riso Russ Hudson Tradugao| MARTA ROSAS DE OLIVEIRA © EDITORA CULTRIX ‘Sao Paulo Titulo original: The Wisdom of the Enneagram. Copyright © 1999 Don Richard Riso e Russ Hudson. Publicado mediante acordo com The Bantam Dell Publishing Group, uma divisio da Random House, Inc. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletronico ou mecanico, inclusive fotocépias, gravacoes ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissao por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas criticas ou artigos de revistas. A Editora Pensamento-Cultrix Lida. nao se responsabiliza por eventuais mudangas ocorridas nos endereos convencionais ou eletrdnicos citados neste livro. primeiro numero a esquerda indica a edicto, ou reedigao, desta obra. A primeira dezena A direita indica © ano em que esta edigdo, ou reedigao foi publicada Edicio ‘Ano 5-6-7-8-9-10-11-12-13-14 7 09-10-11-12-13-14-15-16 Direitos de tradugdo para o Brasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA. Rua Dr. Mario Vicente, 368 - 04270-000 - Sao Paulo, SP Fone: 2066-9000 ~ Fax: 2066-9008 E-mail: pensamento@cultrix.com.br hup:/www.pensamento-cultrix.com.br que se reserva a propriedade literdria desta traducdo. Impressio ¢ acabamento: Orgrafie Gnifiea e Editora Nove tipos distintos de personalidade.... Nove maneiras diferentes de ver a vida... Nove modos de estar no mundo... CADA TIPO POSSUI EXTRAORDINARIOS DOTES — E CORRE RISCOS PREVISIVEIS 1. O REFORMISTA Pode liderar pela integridade e pelo bom senso OU sucumbir ao perfeccionismo ¢ ao ressentimento 2. O AJUDANTE Pode brithar pela generosidade e pelo poder de cura OU ver-se obrigado a lutar contra a adulagao e a possessividade 3. O REALIZADOR Pode tornar-se um inspirador exemplo de exceléncia e autenticidade OU buscar o sucesso ¢ 0 status a qualquer custo 4. O INDIVIDUALISTA Pode ser um modelo de criatividade ¢ intuicdo OU cair na irritabilidade e na afetacao 5. O INVESTIGADOR Pode demonstrar inventividade e intelecto visionario OU tornar-se cada vez mais isolado e excéntrico 6. O PARTIDARIO Pode ser um exemplo de coragem e lealdade OU ter de lutar contra a ansiedade e a rebeldia 7. O ENTUSIASTA. Pode ser um individuo ardente ¢ realizado OU deixar-se deter pela impaciéncia ¢ impulsividade 8. O DESAFIADOR Pode ser um lider forte e magnanimo OU controlar e intimidar as pessoas 9. © PACIFISTA Pode aglutinar as pessoas e sanar conflitos OU ver-se preso na passividade ¢ na teimosia COMECE SUA JORNADA DE AUTOCONHECIMENTO FAZENDO O TESTE DA PAGINA 24. Daezdicamos este livro @ Razao de todo Ser, Aquele de Quem vienos, ea quem retornaremos, a Fonte de sabedoria e Luz das luzes, Aquele que cria, renova e mantém todas as coisas. Que este livro, vindo de nosso coragao, possa falar ao coragao de cada leitor. SUMARIO Prefaicio — Seres de Luz .. i I'v AJORNADA INTERIOR 1. Descobrindo seu Tipo de Personalidade.. 19 Apresentacito dos Nove Tipos .. 21 O Questiondria Riso-Hudson 24 2. Origens Antigas, Novas Revelacde: 29 3. Esséncia e Personalidade.... 37 4. O Cultivo da Percepcao ... 46 5. O Eu Triadico.. 59 As Triades. - O Estilo Social — Os Grupos Hornevianos.. 70 O Estilo de Confronto das Dificuldades — Os Grupos Harmonicos .... a 6. Dinamica ¢ Variacoes 79 As Asas. 79 As Variantes Instintivas. 80 Os Niveis de Desenvolvimento. 85 As Tendéncias Rumo a Integracao ¢ a Desintegracao 7 10 A SABEDORIA DO ENEAGRAMA Il ¥ OS NOVE TIPOS DE PERSONALIDADE 7. Tipo Um: O REFORMISTA.... 107 8. Tipo Dois: O AJUDANTE ... 135, 9. Tipo Trés: O REALIZADOR... 161 10. Tipe Quatro: O INDIVIDUALISTA .. 188 11. Tipo Cinco: O INVESTIGADOR... 216 12. Tipo Seis: O PARTIDARIO. 243 13. Tipo Sete: O ENTUSIASTA 297 14. Tipo Oito: O DESAFIADOR .. 5. Tipo Nove: O PACIFISTA .. 324 lll ¥ INSTRUMENTOS PARA A TRANSFORMAGAO, 16, O Eneagrama c a Pratica Espiritual.... 17. A Jornada Espiritual — Sempre Agora .. Agradecimentos... Bibliografia ... Para Mais Informacées..... PREFACIO Seres de Luz TODOS NOS SOMOS MOVIDOS por uma profunda inquictude interior. Podemos descreve-la como a sensacao de que algo nos falta, algo que geralmente é dificil de definir com exatidao. Temos mil idéias acerca do que pensamos que pre- cisamos ou queremos — um relacionamento melhor, um emprego melhor, um car- to melhor € por af vai. Acreditamos que, se adquirirmos o relacionamento, 0 em- prego ou o novo “brinquedo” perfeitos, a inquietude cessara, deixando-nos satisfeitos ¢ completos. Mas a experiencia nos ensina que o carro novo sé nos faz sentir melhor por pouco tempo. O novo relacionamento pode ser fantastico, mas jamais nos preenche da mancira que pensivamos. Entdo o que realmente buscamos? refletirmos por um instante, perceberemos que 0 anseio de nosso coragdo € saber quem somos ¢ por que estamos aqui. Porém, nossa cultura pouco nos estimu- la a procurar respostas para essas questoes tao importantes. Ensinaram-nos que a nossa qualidade de vida depende da melhoria de nossa riqueza exterior. Entretan- to, mais cedo ou mais tarde, descobrimos que, apesar de seu valor, as coisas exter- nas nao podem falar a profunda inquictude de nossa alma. Entdo, onde podemos buscar respostas? Varios dos livros sobre transformagao pessoal hoje disponiveis discorrem com cloquéncia acerca do tipo de pessoa que todos nos gostariamos de ser. Eles reconhecem a importancia vi- tal da compaixao, do espirito comunitario, da comu- nicacao e da criatividade. Porém, por mais belas ¢ de- sejaveis que essas (¢ outras) qualidades possam ser, é para nos muito dificil adota-las ou pratica-las em nos- sa vida cotidiana. Nosso coracao anscia por asas, mas quase sempre entramos em parafuso ¢ nos chocamos. “Ha em cada ser vivo uma par- te que deseja que ele se torne o que é: 0 girino em sapo, a crisili- da em borboleta, o ser humano machucado em um ser inteiro. s- ELLEN BASS 12_A SABEDORIA DO ENEAGRAMA “Parece-me que, antes de co- megarmos a viagem em busca da realidade, em busca de Deus, an- tes de agirmos ou podermos ter qualquer relagio uns com os ou- tros (...), € essencial que comece- mos por compreender-nos a nés mesmos.” contra as rochas do medo, do habito e da ignorancia. Demasiadas vezes nossas boas intencdes e nobres es- perancas tornam-se simplesmente novas fontes de de- cepcao. Desistimos de tudo, voltamos as nossas velhas distracées e tentamos esquecer a histéria toda. Entdo a maioria dos atuais livros de psicologia es- td equivocada? Os seres humanos serdo de fato incapa- zes de viver uma vida mais plena e satisfat6ria? Os gran- des mestres da moral e do espirito sempre insistiram em que temos 0 potencial que nos permite atingir a gran- deza — que, na verdade, somos criaturas divinas num sentido concreto. Entéo por que temos tanta dificuldade em admitir essa verdade e viver de acordo com ela? Nao acreditamos que a maioria dos livros de auto-ajuda esteja necessariamen- te errada, mas apenas incompleta. Tomemos como exemplo um tema mais simples, como a perda de peso. Ha varias possiveis razées para alguém ter problemas com 0 peso ou com a comida: suscetibilidade ao aguicar, excesso de gordura na dieta, uso da comida para minorar a ansiedade ou diversas outras razdes ligadas ao fator emo- cional. Sem identificar qual a razao que esta causando o problema, sera impossivel soluciond-lo, por maior que seja.o empenho. Ao sugerir alguma coisa, 0 autor ou autora do livro de auto-ajuda'se bascia normalmente em métodos que funcionaram para eles e que t¢m que ver com seu proprio cardter e sua maneira de ser. Se o leitor coincidir nisso com o autor, o mé- todo pode funcionar para ele, Mas, quando etes nao “combinarem”, em vez de con- seguir auxtlio, o leitor poder ser induzido a erro. Por isso, para funcionar, qualquer tentativa de crescimento deverd levar em conta o fato de que existem diferentes tipos de pessoa — diferentes tipos de persona- lidade. Historicamente, varios sistemas psicologicos ¢ espirituais tentaram incorpo- rar essa idéia-chave: a astrologia, a numerologia, os quatro temperamentos clissi- cos (fleumatico, colérico, melancélico ¢ sangiineo), o sistema junguiano de tipos psicolégicos (orientacdo extroversa ou introversa versus as funcées da sensacdo, in- tuicdo, sentimento e raciocinio) e varios outros. Além disso, recentes estudos sobre 0 cérebro ¢ o desenvolvimento infantil indicam que as diferencas mais marcantes de temperamento entre diferentes tipos de pessoas tem uma base bioldgica. Essa diversidade explica por que um bom conselho para uma pessoa pode ser desastroso para outra. Dizer a certos tipos que se concentrem mais em seus sent mentos € como jogar digua em quem esta se afogando. Dizer a outros que precisam afirmar-se mais ¢ tdo insensato quanto mandar um anoréxico fazer dieta. Ao nos compreendermos e compreendermos os relaciona- “Independentemente de sua Mentos, 0 crescimento espiritual e diversas outras KRISHNAMURTI idade, criagao e educagao, a maior parte daquilo que voce é consiste em potencial ndo aproveitado.” GEORGE LEONARD questécs importantes, veremos que ¢ 0 tipo — ¢ nio o género, a cultura ou as diferencas de geracio — o fa- to: crucial. Acreditamos que em muitas areas — na educa- cao, nas ciéncias, nos negocios, nas humanidades ¢ na terapia e, acima de tudo, na espiritualidade e na trans- formacao — € preciso conhecimento dos tipos de per- sonalidade. Embora nossos incansaveis anseios pos- sam ser universais, a forma como os expressamos ¢ muito particular c, de fato, ¢ uma funcao do “filtro” PREFACIO 13 “Espiritualmente falando, tu- do aquilo que se quer, almejae ne- cessita est4 sempre presente, acessivel aqui e agora — para aqueles que tém olhos para ver.” SURYA DAS através do qual vemos a vida. Nosso principal filtro — aqucle que usamos para entender a nés mesmos c ao mundo que nos cerca, para ex- pressar-nos, defender-nos, lidar com o passado e antecipar o futuro, para aprender, para alegrar-nos ¢ para nos apaixonar — é 0 nosso tipo de personalidade. E se houvesse um sistema que nos permitisse ver e entender melhor quem so- mos ¢ quem so os outros? E se esse sistema nos ajudasse a discernir melhor nos- sos filtros e leva-los em conta dentro de uma perspectiva mais adequada? E se ele pudesse mostrar-nos nossas principais questdes psicoldgicas ¢ nossos pontos fracos ¢ fortes nas relacdes interpessoais? E se esse sistema nao dependesse do veredicto de gurus ou especialistas, de nossa data de nascimento ou de nossa ordem de apa- ricdo na familia, mas sim dos padrdes de nossa personalidade ¢ de nossa disposicao para a auto-analise honesta? E se esse sistema nao s6 nos mostrasse nossos princi- pais problemas, mas também indicasse como lidar satisfatoriamente com eles? E se ele também nos fizesse voltar-nos para as profundezas de nossa alma? Esse sistema existe ¢ ¢ chamado de “Eneagrama”. SERES DE LUZ Uma das coisas mais importantes de minha vida aconteceu ha muitos anos, quando eu, Don, estava fazendo um retiro espiritual de uma semana de duracao no norte do Estado de Nova York. Eramos cerca de cinqtienta pessoas e estavamos hos- pedados num hotel da virada do século, pertencente ao nosso mestre. Ja que tanto 0 terreno quanto o interior da antiga casa sempre precisavam de manutencao, a si tuagdo se prestava maravilhosamente bem a que nos dedicassemos com todo afin- co a0 trabalho bracal — e a que observassemos nossas reacoes ¢ resistencias duran- te esse trabalho. O calor do verdo era intenso; os chuveiros, poucos; as filas para os banheiros comuns, longas; ¢ quase nao havia perfodos de descanso. Como bem sa- biamos, nosso mestre havia maquinado todas aquclas situacdes para que os “tracos” de nossas personalidades se evidenciassem, permitindo-nos a observacao mais de- talhada em meio a intensidade daquele laboratorio de vida. Uma bela tarde, tivemos a rara oportunidad de descansar 45 minutos entre uma tarefa e outra. Eu havia sido encarregado de raspar a pintura das paredes ex- ternas do velho hotel ¢ estava coberto, da cabeca aos pés, de pequenos pedacos de reboco c tinta. No fim daquela sessdo de trabalho, eu estava tao suado e exausto que nem me importava estar tao imundo — precisava dar um cochilo e, assim que fo- mos dispensados, fui o primeiro a subir ¢ deitar-me na cama. A maioria das pessoas 14_A SABEDORIA DO ENEAGRAMA “O espirito & a forca invisivel jam o quarto comigo também subiu logo cm que se vé na vida.” seguida c, cm menos cle cinco minutos, estavamos to- MAYA ANGELOU los presies a cair no sono. Justo nesse momento, o companheiro que falta- , Alan, entrou ruidosamente no quarto. Ele havia fi- cado encarregado de tomar conta dos filhos dos participantes do encontro c, pelo modo como jogava coisas em cima dos méveis, estava [urioso por nao poder aban- donar seu servico e dormir como nos. Entretanto, deu um jeito de subir e fazer tan- to barulho que ninguém mais péde descansar também. Porem, logo apés Alan haver feito sua aparicao ruidosa, algo incrivel me ocor- des negativas que ele havia despertado em mim crescerem em meu corpo como um trem que entra na estacdo e eit ndo embarquei nesse trem. Num ins- tante de lucidez, vi Alan com sua raiva e [rustragio — vi seu comportamento pelo que era, sem maiores claboracdes — ¢ vi minha raiva “acumulando-se” para revi- dar — e nao reagi a nada daquilo, Simplesmente observando minhas reagdes — a raiva ¢ autojustificacéo — sem as por em pritica, senti como se um véu tivesse sido retirado de cima de meus olhos ¢ me abri. Algo que normalmente bloqueava minha percepgao se diluiu num Atimo, ¢ 0 mundo inteiro ganhou vida, Alan de repente cra digno de amor ¢ as outras pes- soas eram perfeitas em suas reacdes, independentemente de quais estas fossem. De modo igualmente espantoso, quando virei a cabeca ¢ olhei pela janela, vi tudo em torno de mim resplandecer numa luz que vinha de dentro. A luz do sol nas arvores, © balango das folhas ao vento, o leve tremor das vidragas da velha janela, tudo cra belo demais para ser dito em palavras. Estava maravilhado por tudo ser um mila- gre. Tudo, sem excegao, era belo. Eu ainda estava aténito, imerso nesse éxtase, quando me juntei ao resto do grupo para uma meditagdo de fim de tarde. Enquanto a meditacao se aprofundava, eu abri os alhos e olhei cm torno, caindo em algo que s6 posso chamar de visio in- terior, algo cuja impressio permancce comigo ha anos. O que vi foi que cada um dos presentes era um “ser iluminado”. Vi claramen- te que todos somos feitos de luz — que somos como formas luminosas. Mas sobre nés se forma uma crosta. Essa crosta é negra e viscosa como breu e abscurece a luz interior que é 0 eu verdadleiro de cada um. Algumas partes so muito espessas; ou- tras so mais ralas e transparentes. Os que se trabalham ha mais tempo tem menos breu ¢ irradiam mais de sua luz interior. Devido a suas histérias pessoais, outros ¢s- tdo cobertos por uma maior quantidade de breu ¢ precisam de muito trabalho para conseguir livrar-se dela. Apés cerca de uma hora, a visio se esvaiu e acabou por desaparecer. Quando a meditacio chegou ao fim, mais trabalho nos aguardava e eu me apressei a ofere- cer-me para uma das tarefas mais evitadas: lavar pratos na abafada cozinha. Mas, co- mo os resquicios do éxtase que sentira cram ainda palpaveis, também aquela tarefa foi um momento de felicidade. Conto essa historia nao s6 pela importancia que tem para mim, mas também v PREFACIO 15 porque cla me mostrou vividamente que as coisas de que falamos neste livro exis- tem mesmo. Se nos observarmos com sinceridade ¢ sem julgamentos, vendo em agdo os mecanismos de nossa personalidade, poderemos despertar, e nossa vida pode- ra tornar-se uma maravithosa sucessdo de belezas ¢ alegrias. COMO USAR ESTE LIVRO O Eneagrama s6 pode ajudar-nos se formos sinceros. Assim, os elementos do sistema — ¢ este livro — encontram sua melhor aplicagio como guia de auto- observacio ¢ autoquestionamento. Conforme foi planejado, este livro possui diver- Sos tépicos praticos que o ajudarao a usi-lo dessa forma, entre os quais: > Dons, atitudes propicias a cura ¢ processo de transformacao especificos de cada tipo > Como “detectar ¢ abandonar” habitos e reacdes problematicos > Como trabalhar com as motivagoes de cada tipo > Mensagens inconscientes da infancia > Estratégias terapeuticas para cada tipo > ~Empurroes espirituais”, Sinais de Alerta ¢ Bandeiras Vermelhas para cada tipo > Como cultivar a percepcao no dia-a-dia > Sessdes € priticas de trabalho interior para cada tipo > Como usar o sistema para continuo crescimento espiritual Ja que € aconselhavel fazer os exercicios deste livro como se fossem uma es- pécie de diario, seria bom reservar um caderno ou classificador para eles. Sugeri- mos que vocé use seu Diario de Trabalho Interior para registrar as idéias que forem surgindo a medida que vocé ler nao so o material a respeito de seu tipo de persona- lidade, bem como aquele dedicado aos demais tipos. Para a maioria das pe so trard consigo associacées relacionadas a virios tipos de problemas, lembra inspiracoes criativas. Como primeiro exercicio de seu Diario de Trabalho Interior, sugerimos que vocé escreva uma biografia sua — observe que nao é uma autobiografia: escreva a seu respeito na tercei Je" ou “ela”, em vez de “eu”. Conte a historia de sua vida, comecando pelos primeiros anos de sua infancia (ou antes, se souber algo da historia de sua familia) ¢ vindo até o presente, como se estivesse falando de outra pessoa. Se possivel, dedique pelo menos uma pagina a cada déc da — assim, havera espaco para acrescentar lembrangas ¢ observacdes oportunas medida que vocé recordar mais coisas. Nao se preocupe em ser literario nem “cor- reto”, O importante é ver sua vida como um todo e como se estivesse sendo conta- da por uma outra pes: ngas € pessoa, isto é& como * 16 A SABEDORIA DO ENEAGRAMA Quais foram os momentos decisivos — seus traumas e triunfos, aqueles mo- Mentos em que vocé teve a certeza de que sua vida jamais voltaria a ser a mesma, acontecesse o que acontecesse? Quais foram as pessoas mais importantes de sua vi- da — aquelas que serviram de “testemunhas” de suas lutas ¢ conquistas, as que 0 magoaram e as que 0 compreenderam, que foram suas mentoras ¢ amigas? Scja o mais detalhado possivel. : Volte a sua biografia sempre — quando quiser acrescentar alguma coisa ¢ quando, ao prosseguir a leitura deste livro, for adquirindo uma melhor perspectiva de si mesmo. Sua histéria serd mais rica e mais cheia de sentido na medida em que voce se compreender melhor. PARTE | 7 A Jornada Interior A CAPITULO 1 v DESCOBRINDO SEU TIPO DE PERSONALIDADE A © ENEAGRAMA € uma figura geométrica que representa graficamente os no- ve tipos essenciais de personalidade presentes na natureza hu- mana ¢ suas complexas inter-relagoes. Ele ¢ resultante da evo- lucao da psicologia moderna, que tem suas raizes na sabedoria espiritual de diversas tradigdes antigas. A palavra Encagrama vem do grego ennea, que significa “nove”, ¢ grammos, que sig- nifica “figura, desenho"; assim, a palavra representa uma “figu- rade nove pontas”. O atual Eneagrama de tipos de personalidade foi obtido a partir de muitas tradicoes espirituais ¢ religiosas distintas. Boa parte dele é resultante da condensacao da sabedoria universal, O ENEAGRAMA a filosofia perene acumulada em milhares de anos por cristdos, budistas, muculmanos (especialmente os sufistas) e judeus (na Cabala). O coracdo do Eneagrama é a revelagdo universal de que os seres humanos sao presencas espi- rituais encarnadas no mundo material que misteriosamente personificam a mesma vida ¢ o mesmo espirito do Criador. Por tras das diferencas ¢ semelhancas superfi- ciais, por tras dos véus da ilusdo, a luz da Divindade brilha em cada individuo. Porém, varias forgas obscu- recem essa luz, 0 que levou cada tradi¢ao espiritual aos mitos ¢ doutrinas que buscam explicar como a hu- manidade perdeu sua ligagdo com o Divino. Um dos pontos fortes do Eneagrama esta em sua transcendéncia das diferengas entre doutrinas. Ele vem ajudando pessoas de praticamente todos os maiores credos a redescobrir sua unidade fundamen- “As grandes metaforas de to- das as tradigées espirituais — gra- ¢a, libertagao, nascer de novo, despertar da ilusio — provam que é possivel transcender 0 con- dicionamento de meu passado fazer algo novo.” SAM KEEN, 20 A SABEDORIA DO ENEAGRAMA ee “Nao chore; nao fique indig- tal como seres espirituais. Portanto, o Encagrama tem nado. Entenda.” imensa valia no mundo de hoje: ele pode mostrar a SPINOZA __ negros ¢ brancos, mulheres ¢ homens, protestantes ¢ catdlicos, judeus ¢ arabes, homossexuais e heterosse- xuais, pobres ¢ ricos que, se forem além das distin- des superficiais que os separam, encontrarao um nivel inteiramente novo de co- munhao em sua humanidade. Com a ajuda do Eneagrama, veremos que uma pessoa que pertence ao Tipo Seis ¢ como todos os seus colegas de tipo, comparti- lhando com eles os mesmos valores. Os negros pertencentes ao Tipo Um sao mui- to mais parecidos aos brancos desse tipo do que poderiam imaginar ¢ assim por nte. Surge um novo nivel de compaixio ¢ comunhdo que oblitera o antigo me- do ea antiga ignorancia. : Entretanto, o Eneagrama nao é uma rcligido nem interfere com a orientagao religiosa. Ele nao pretende ser um caminho espiritual em si, Todavia, ocupa-se de um elemento fundamental a todos os caminhos espirituais: 0 autoconhecimento. Sem autoconhecimento, nao iremos muito longe em nossa jornada espiritual nem seremos capazes de manter o progresso obtido. Um dos maiores riscos do tra- balho de transformagio é que 0 ego tenta esquivar-se do trabalho psicologico mais profundo lancando-se cedo demais ao transcendente. Isso ocorre porque ele sem- pre se julga muito mais “avangado” do que realmente é. Quantos novigos ja nao se persuadiram, no primeiro ano, de que estavam prontinhos para ser canonizados? Quantos alunos de meditagao nao acharam que haviam chegado a iluminacdo em tempo recorde? O auténtico autoconhecimento ¢ de valor inestimavel contra esse tipo de en- gano. O Eneagrama nos permite ir em frente (c possibilita um verdadeiro progres- so) porque parte de onde nés realmente estamos. Da mesma forma que nos revela 98 pincaros espirituais que somos capazes de atingir, ele langa luz clara e imparcial sobre os aspectos sombrios ¢ intransponiveis de nossa vida. Se quisermos viver co- mo seres espirituais no mundo material, devemos saber de antemo que essas so as areas que mais precisamos explorar, Presenca (percepcao alerta, consciéncia), pratica “O que ganhamoscomaidaa — de auto-observacao (adquirida por mcio do autoconhe- Lua sendo conseguimos transpor —_cimento) ¢ comprecnsdo do significado das proprias ex- © abismo que nos separa de nds yeriencias (uma interpretagio precisa fornecida por meses um contexto mais amplo como a comunidade ou o sis- THOMAS MERTON tema espiritual) so os trés elementos biisicos do tra- balho de transformagao. O ser fornece o primeira, vo- cé fornece o segundo ¢ o Encagrama fornece 0 terceiro. Quando esses irés elementos estdo juntos, as coisas acontecem rapido. DESCOBRINDO SEU TIPO DE PERSONALIDADE 21 APRESENTAGAO DOS NOVE TIPOS Vocé pode comegar a trabalhar com o seu tipo e compreender quai: mbora possamos identificar em nds mesmos comportamentos de cada um dos nove tipos, as caracteristicas que mais nos definem provém de apenas um de- les. Na pagina 24 vocé encontrara o Questionsrio Riso-Hudson, que o ajudara a des- cartar 0s tipos que nao the correspondem ¢ determinar qual 0 seu tipo bisico. No inicio dos capitulos dedicados a cada tipo ha um se- gundo teste, 0 Classificador Tipolégico por Atitude ou CTA Riso-Hudson, para que vocé confirme suas con- clusées. Usando esses dois testes ¢ as descrigdes € 05. exercicios dos capitulos dedicados a poderii descobrir qual o seu tipo com alto grau de pre- cisio. Eneagrama quando identificar qual o as suas principais questocs. “Se os homens se conheces- sem, Deus lhes daria a mao e os perdoari a tipo, voce PASCAL Por enquanto, leia a rapida descrigdo de cada tipo chegar as duas ou trés que mais Ihe parecem adequadas a voce mesmo. Lembre-se que as caracteristicas aqui relacionadas so apenas os tracos mais marcantes — 0 quadro completo con- 1ém muito mais detalhes. Tipo Um: O Reformista. Tipo idealista, seguidor de principios. Eticas ¢ conscien- ciosas, as pessoas do Tipo Um tém um senso muito claro do que € certo ou crrado. Sao professores e cruzados que sempre lutam para melhorar as coisas, mas ttm medo de errar, Organizadas, ordeiras ¢ meticulosas, elas tentam viver conforme altos pa- droes, mas podem resvalar para a critica ¢ 0 perfeccionismo. Costumam ter proble- mas com a impaciéncia ¢ a raiva reprimida. Em seu aspecto mais positive, quando se encontram na faixa sauckivel, essas pessoas bres, além de moralmente herdicas. Tipo Dois: 0 Ajudante. Tipo compreensivo, voltado para o lado interpessoal. As pessoas do Tipo Dois sao amigaveis, mas podem ser também sentimentalis- tas ¢ aduladoras, esforgando-se para agradar os outros a qualquer preco. Sua 0 criteriosas, ponderadas, realistas ¢ no- enerosas, empaticas, sinceras ¢ afetuosas, © Pacifista 9 maior motivagao é chegar perto dos de- O Desufiador 8 1 OReformista mais ¢, por isso, muitas vezes tentam tornar-se necessarias. Costumam ter di- 6 Fnusasta 7 2 OAjudante ficuldade’em cuidar de si mesmas ¢ re- conhecer suas proprias necessidades. 4 pariitario 6 sae Em seu aspecto mais positivo, quando se encontram na faixa saudiivel, sao pes- i. 4 soas altruistas ¢ desprendidas que tigador——O Individualista amam a si mesmas ¢ aos demais incon- dicionalmente. EAGRAMA COM A TIPOLOGIA RISO-HUDSON 22 A SABEDORIA DO ENEAGRAMA Tipo Trés: O Realizador. Tipo adaptavel, movido pelo sucesso. As pessoas do Tipo Trés sao seguras de si, atraentes ¢ encantadoras. Ambiciosas, competentes € sempre prontas a agir, elas podem deixar-se orientar muito também pelo status ¢ pe- la idéia de progredir na vida. Muitas vezes preocupam-se com a prépria imagem e com 0 que os outros pensam a seu respeito, Seus problemas geralmente sio a pai- xao excessiva pelo trabalho ¢ a competitividade. Em seu aspecto mais positive, quan- do se encontram na faixa saudavel, sao pessoas auténticas, que se aceitam como sao € de fato representam tudo aquilo que parecem ser: modelos que a todos inspiram. Tipo Quatro: O Individualista. Tipo romantico, introspectivo. As pessoas do 10 Quatro sao atentas a si mesmas, sensiveis, calmas ¢ reservadas. Sao emocional- mente honestas e nao t¢ém medo de revelar-se como sao, mas estdo sujeitas a Mlutua- ges de humor e inibicdes. Podem mostrar-se desdenhosas ¢ agir como se nao esti vessem sujeitas as mesmas leis que os demais, a0 mesmo tempo que se esquivam das pessoas por sentir-se vulneraveis e cheias de defeitos. Seus problemas mais co- muns sio o comodismo ¢ a autocomiseragao. Em seu aspecto mais positivo, quando se encontram na faixa saudvel, sto pessoas muito criativas c inspiradas, capazes de renovar-se e transformar as proprias experiéncias. Tipo Cinco: O Investigador. Tipo concentrado, cerebral. As pessoas do Tipo Cin- co sao alertas, perspicazes ¢ curiosas. Conseguem abstrair-se de tudo € concentrar-se no cultivo de idéias ¢ dons os mais complexos. Independentes ¢ inovadoras, quando excessivamente dedicadas a seus pensamentos ¢ construtos imaginarios, podem mos- trar-se distantes e irritadigas. Em geral, seus maiores problemas sao 0 isolamento, a excentricidade e 0 niilismo. Em seu aspecto mais positive, quando se encontram na fai- xa saudavel, as pessoas do Tipo Cinco sao como pioneiros ¢ visionarios que vivem adiante de seu tempo ¢ véem o mundo de uma forma inteiramente nova. Tipo Seis: O Partiddrio, Tipo dedicado, que valoriza a seguranca. As pessoas do Tipo Seis sao esforcadas, responsaveis e dignas de confianca, mas podem ser de- fensivas, evasivas ¢ muito ansiosas, estressando-se s6 de reclamar do stress. Costu- mam ser indecisas e cautclosas, mas podem mostrar-se reativas, desafiadoras e re- beldes. Seus problemas mais comuns sao a inseguranca ¢ a desconfianga. Em seu aspecto mais positivo, quando se encontram na faixa saudavel, as pessoas deste tipo sao dotadas de muita estabilidade ¢ autoconfianga, defendendo corajosamente os mais necessitados. ‘Tipo Sete: O Entusiasta. Tipo produtivo, sempre ocupado. As pessoas do Tipo Sete sdo versateis, espontaneas e otimistas. Praticas, brincalhonas e joviais, podem mostrar-se também dispersivas e pouco disciplinadas, tendendo a assumir mais res- ponsabilidades do que poderiam dar conta. Sua eterna busca de novas emo¢des po- de levd-las a nao terminar o que comegaram, exaustas pelo excesso de atividade. Seus maiores problemas sao geralmente a superficialidade e a impulsividade. Em seu aspecto mais positive, quando se encontram na faixa saudavel, as pessoas do Tipo Sete mostram-se capazes de concentrar-se em metas louvaveis, realizando-se ¢ tor- nando-se cheias de alegria ¢ gratidao. DESCOBRINDO SEU TIPO DE PERSONALIDADE 23 ipo Oito: O Desafiador. Tipo forte ¢ dominador. As pessoas pertencentes ao Tipo Oito sao seguras de si, firmes ¢ assertivas. Protetoras, talentosas e decididas, po- dem ser também orgulhosas e dominadoras. Por achar que precisam controlar o meio em que vivem, as pessoas deste tipo mostram-se muitas vezes contenciosas ¢ intimi dadoras. Seu maior problema é a dificuldade de compartilhar a intimidade. Em seu aspecto mais positive, quando se encontram na faixa saudavel, as pessoas deste tipo ‘so mestras do autodominio — usam sua for¢a para melhorar a vida dos outros, mos- trando-se herdicas, magndnimas e, as vezes, deixando sua marca na Historia. Tipo Nove: O Pacifista. Tipo descomplicado, de facil convivencia. As pessoas deste tipo sao constantes, crédulas e receptivas. Tém bom génio, bom coragao ¢ sao faceis de contentar, mas podem ir longe demais na disposigdo de ceder para manter a paz, Em sua ansia de evitar conflitos, podem exagerar na complacéncia, minimi- zando todos os entraves que surgirem. Seus maiores problemas sao a passividade ¢ ateimosia. Em seu aspecto mais positive, quando se encontram na faixa saudavel, as pessoas do Tipo Nove sao incansaveis em sua dedicagao a aproximar os demais e resolver mal-entendidos. OS QUESTIONARIOS O primeiro questionario, apresentado a pagina 24, € 0 Questionario Riso-Hud- son, um teste que 0 ajudara a identificar seu tipo em menos de cinco minutos ¢ com precisdo de cerca de 70%. Na pior das hipoteses, vocé conseguira identificar as duas ou trés maiores possibilidades relacionadas ao seu tipo. O segundo grupo de questionarios ¢ o Classificador Tipolégico por Atitude ou CTA Riso-Hudson. No inicio de cada um dos nove capitulos ha 15 afirmagoes ca- racteristicas do tipo descrito. Se tiver interesse, vocé poderd fazer um Teste do Enea- grama em nossa pagina na Internet: www.EnneagramInstitute.com. Esse teste, cha- mado RHETI (Riso-Hudson Enneagram Type Indicator, Verso 2.5)/ITERH (Indicador Tipologico via Eneagrama Riso-Hudson, Versao 2.5), consta de 144 afir- mativas e tem cerca de 80% de precisao. Além de indicar o tipo principal, ele cria um perfil que mostra os pontos fortes de cada um dos nove tipos presentes em sua personalidade. Esse teste geralmente leva 45 minutos para ser respondido. Se esta for a primeira vez que utiliza o Eneagrama, responda primeiro ao Ques- tionario e depois ao CTA Riso-Hudson para ver se ha coincidencia. Suponhamos que 0 Questiondrio indique que seu tipo € 0 Seis. Leia as quinze afirmativas do CTA para 0 Tipo Seis (Capitulo 12) — se sua pontuagao ai for alta, vocé provavelmente estar na trilha certa. Todavia, insistimos em que vocé mantenha a cabega aberta e leia todo 0 capi- tulo dedicado ao Tipo Seis (para continuar com o exemplo apresentado acima) até que mais pecas se encaixem. Se a descri¢ao ¢ os exercicios Ihe causarem forte im- pressio, voce podera dizer com certeza quase absoluta que pertence ao Tipo Seis. 24 A SABEDORIA DO ENEAGRAMA Fazemos essas ligeiras ressalvas porque sempre ¢ possivel errar no autodiag- nostico — da mesma forma que também € possivel ser erradamente diagnosticado e classificado por um “especialista em Eneagrama”. Portanto, nao se precipite em de- terminar o seu tipo. Leia atentamente este livro c, principalmente, procure acostumar- se com o resultado por algum tempo. Fale sobre ele com as pessoas que o conhecem bem. Lembre-se que a autodescoberta ¢ um processo que nao termina com a identi- ficacao do tipo a que se pertence — na verdade, ela constitui apenas o comego. Quando descobrir seu tipo, vocé sabera, Provavelmente vai sentir-se aliviado e constrangido, euférico e preocupado. Coisas que inconscientemente sempre sou- be a seu proprio respeito de repente sc tornardo claras, fazenco surgir padroes em acao na sua vida. Pode ter a certeza de que, quando isso acontecer, vocé tera iden- tificado corretamente seu tipo de personalidade. oO INSTRUCOES: QUESTIONARIO Para que o resultado seja preciso, ¢ importante que RISO-HUDSON | voce siga as instrugdes absixo: > Selecione um pardgrafo em cada um dos dois gru- o pos de afirmacdes. Ele devera ser aquele que melhor espe- Teste Iha suas atitudes e comportamentos até o momento. Classificatorio > Nao € preciso concordar inteiramente com cada Rapido palavra ou afirmativa no parigrafo escolhido! Vocé pode concordar s6 em 80 ou 90% com o que se afirma nele e, ain- da assim, consider4-lo prefertvel aos outros dois do grupo. Porém, é preciso que voce concorde com o tom geral ¢ com a “filosofia” em que ele se baseia, Provavelmente voce dis- cordara de alguma parte de cada um dos pardgrafos escolhi- dos. Nao rejeite um pardgrafo por causa de uma palavrinha ou frase! Lembre-se: o importante é a visto geral. > Nao analise excessivamente suas escolhas. Escolha o pardgra- fo que voce “sente” que ¢ 0 mais certo para voce, mesmo que nao con- corde 100% com ele. A motivagao ea idéta geral do pardgrafo como um todo sdo mais importantes que suas partes individualmente. Siga sua intuigao. > Se nao conseguir decidir qual o pardgrafo que melhor o des- creve em qualquer dos dots grupos, pode escolher dois, mas sé em um dos grupos: por exemplo, C no grupo I e X ¢ Y no grupo Il. > Escreva a letra correspondente ao pardgrafo selecionado no lugar indicado. do Eneagrama oPcAo REFERENTE AOGRUFOI DESCOBRINDO SEU TIPO DE PERSONALIDADE 25 GRUPO! A. Até hoje, tendi a ser bastante indcpendente e assertivo: para mim, a vida funciona melhor quando voce a encara de frente. Defino minhas préprias metas, envolvo-me com as coisas ¢ quero fazé-las acontecer. Nao gosto de ficar de bracos cruzados — quero realizar gran- des coisas e causar impacto. Nao ando em busca de confrontos, mas também nao deixo que ninguém me pressione. Na maioria das vezes, sei o que quero ¢ procuro consegui-lo. Geral- mente entro de cabeca tanto no trabalho quanto na diversio. B. Até hoje, tenho sido uma pessoa tranqaila e estou acostumado a “me virat" sozinho. Em sociedade, normalmente nao chamo a atengio, ¢ é raro que me imponha a qualquer cus- to, Nao me sinto a vontade em posicées de lideranca nem em competicdes, como tanta gen- te. E provavel que me julguem um tanto sonhador — é na imaginacao que se alimenta boa parte da emoco que sinto. Nao me incomodbo se nao tiver de ser ativo o tempo inteiro. C. Até hoje, tenho sido extremamente responsavel ¢ dedicado. Para mim ¢ terrivel nao poder honrar meus compromissos ow colocar-me & altura das expectativas. Quero que as pes- soas saibam que desejo ajuda-las e fazer o que acredito ser melhor para elas. Ja fiz grandes sa- criffcios para o bem dos outros, estivessem eles sabendo ou nao. Muitas vezes esquego de mim. mesmo; faco 0 que tenho que fazer e depois — se sobrar tempo — relaxo (e faco 0 que real- mente queria). GRUPO II X, Sou uma pessoa que geralmente procura ter uma visio positiva e achar que as coi- sas correrao da melhor forma possivel. Sempre encontro alguma coisa que me entusiasme ¢ atividades diferentes com que me ocupar. Gosto de companhia ¢ de ajudar os outros a serem felizes — gosto de compartilhar o bem-estar que sinto. (Nem sempre estou t4o bem, mas ten- to ndo deixar transparecer!) Porém, para manter essa visio positiva, as vezes tive de adiar de- mais a resolucdo de alguns problemas pessoais. ¥. Sou uma pessoa que nao esconde o que sente — todo mundo sabe quando nao gos- to de alguma coisa. Posso ser reservado, mas no fundo sou mais sensivel do que deixo trans- parecer, Quero saber como as pessoas me julgam ¢ com quem ou o que cu posso contar — minha opinido sobre elas quase sempre ¢ bem clara. Quando alguma coisa me aborrece, que- Fo que 05 outros reajam e se afetem tanto quanto cu. Sei quais sto as regras, mas ndo gosto que ninguem me diga o que fazer. Quero decidir por mim mesmo. Z, Sou uma pessoa légica e autocontrolada — nao fico a vontade com 08 sentimentos. Sou competente — até perfeccionista — e prefiro trabalhar sozinho, Quando surgem conflitos ou problemas pessoais, procuro nao en- volver meus sentiments. Ha quem me considere muito frio e distante, mas ndo quero que minhas reagdes emocionais me afastem do que realmente me importa, Geralmente ndo demonstro minhas reagdes quando alguem me Opcag “incomoda’. REPERENTE Para interpretar suas respostas, veja a pégina 28. ‘AO GRUPO IL 26 A SABEDORIA DO ENEAGRAMA “'Se vocé odeia uma pessoa, ~(CO|SAS A LEMBRAR EM RELACAO odela algo nela que faz parte de A ¢ Tipag vocé. O que nio faz parte de nés no nos incomoda.” HERMANN HESSE » Embora todos tenhamos uma mistura de va- rios tipos em nossa personalidade como um todo, ha um determinado padrao ou estilo que é nossa “base” € a0 qual retornamos sempre. Nosso tipo basico permanece 0 mesmo no decorrer da vida. As pessoas podem mudar e desenvolver-se de muitas maneiras, mas nao passam de um tipo de personalidade a outro. > As descrigdes dos tipos de personalidade s4o universais e aplicam-se tan- toa homens quanto a mulheres. Evidentemente, as pessoas expressam os mesmos tracos, atitudes e tendéncias de modo um tanto diferente, mas as questdcs basicas do tipo permanecem as mesmas. > Nem tudo na descricao do seu tipo basico se aplicara a voce todo o tempo. Isso ocorre porque nés constantemente transitamos entre os tracos saudaveis, mé- dios e nao-saudaveis que compdem nosso tipo de personalidade, conforme veremos no Capitulo 6 (Os Niveis de Desenvolvimento). Veremos ainda como 0 amadureci- mento ou o stress podem influir significativamente sobre nossa forma de expressar © tipo a que pertencemos. > Embora tenhamos atribufdo a cada tipo um titulo descritivo (como Refor- mista, Ajudante etc.), na pritica preferimos utilizar 0 numero correspondente no Eneagrama. Os nuimeros sao neutros — sao um modo de referéncia rapida ¢ nao Preconceituosa aos tipos. Além disso, a sequéncia numérica dos tipos nao é signifi- cativa: tanto faz pertencer a um tipo de ntimero menor quanto a um de nimero maior. (Por exemplo, nao é melhor ser do Tipo Nove que do Tipo Um.) > Nenhum dos tipos de personalidade é melhor ou pior que os demais — to- dos tém pontos fortes ¢ fracos, todos tém trunfos e desvantagens especificos. O que pode acontecer é que determinados tipos sejam mais valorizados que outros numa dada cultura ou grupo. A medida que vocé aprender mais sobre todos eles, vera que, da mesma forma que cada um tem qualidades intrinsecas, tem também limitagdes caracteristicas. > Independentemente de qual seja o seu tipo, voce tem em si, até certo ponto, algo dos nove tipos. Cultiva-los coloca-los em acao é ver em si mesmo tudo que po- de haver na natureza humana. Essa conscientizacdo o levard a uma maior com- preensio e compaixao pelos seus semelhantes, pois o fara reconhecer em si proprio varias facetas dos habitos e reacées deles. Sera mais dificil condenarmos a agressi- vidade do Tipo Oito ou a garéncia disfarcada do Tipo Dois, por exemplo, se estiver- mos atentos a agressividade ¢ a caréncia que existem em nés mesmos. Investigan- do os nove tipos que ha em vocé, vocé vera que eles sio tao interdependentes quanto o simbolo do Eneagrama que os representa. DESCOBRINDO SEU TIPO DE PERSONALIDADE 27 A CLASSIFICAGAO TIPOLOGICA DE —_“Aauele que conhece os ou- TERCEIROS tros é culto. Aquele que conhece a si mesmo é sdbio.” Estamos convictos de que sempre ¢ mais proble- ee matico usar o Eneagrama para classificar outras pes- soas que para descobrir 0 nosso proprio tipo. Todos temos pontos cegos ¢ ha tan- las possiveis variacdes entre os tipos que simplesmente ndo podemos conhecer todas. Devido aos nossos preconceitos, também é provavel que tenhamos absoluta aversao a certos tipos. Lembre-se que o Encagrama deve ser utilizado essencialmen- te para a autodescoberta e a autocompreensao. Alem disso, o [ato de sabermos qual 0 nosso tipo ou 0 de outra pessoa pode nos revelar coisas muito importantes, mas ndo nos diz tudo — como o fato de sa- ber qual a raga ou a nacionalidade de alguém tampouco nos diria. O tipo em si nao diz nada da historia, da inteligéncia, do talento, da honestidade, da integridade, do carter da pessoa nem muitos outros fatores referentes a ela. Por outro lado, ele nos diz muita coisa acerca da forma como vemos o mundo, nossas escolhas mais pro- vaveis, nossos valores, nossas motivacdes, nossas reacdes, nosso comportamento em situagoes de stress e varias outras coisas importantes. Quanto mais conhecermos 0s padroes de personalidade revelados por este sistema, mais facilmente apreciare- mos as perspectivas diferentes das nossas. O OBJETIVO MAIS PROFUNDO DO ENEAGRAMA Descobrir qual dentre os nove tipos de personalidade nos pertence pode ser como uma revolucdo. Pela primeira vez na vida, temos a oportunidade de conhecer o padrao ea légica subjacente ao modo como vivemos e agimos. Porém, ao chegar a determinado ponto, o conhecimento de nosso tipo se incorpora a nossa auto-ima- gem e pode transformar-se em obstaculo a continuacao de nosso crescimento. Com efeito, alguns estudiosos do Eneagrama ficam presos demais ao seu tipo de personalidade, dizendo: “Claro que eu entro em paranoia! Afinal, sou do Tipo Seis” ou “Vocé sabe como somos nés do Tipo Sete; ndo conseguimos ficar parados!” Justificar atitudes questionaveis ou adotar uma identidade mais rigida é usar mal o Eneagrama. Porém, ajudando-nos a ver como estamos presos a nossas ilusdes ¢ 0 quanto nos afastamos de nossa natureza Essencial, o Encagrama nos convida a desvendar o mistério de nossa verdadeira identidade. Ele se destina a iniciar um processo de ques- tionamento que pode levar-nos a uma verdade mais profunda sobre nés ¢ sobre nos- so lugar no mundo. Entretanto, se usarmos o Encagrama simplesmente para atin- gir uma auto-imagem melhor, interromperemos 0 processo de descoberta (ou. melhor, de resgate) de nossa verdadeira natureza. Se conhecendo nosso tipo obte- mos informacées importantes, elas devem ser apenas 0 ponto de partida para uma jornada muito maior. Em resumo, saber qual 0 nosso tipo ndo ¢ 0 nosso destino final. 28 A SABEDORIA DO ENEAGRAMA O objetivo deste Trabalho é interromper as reagdes automaticas da personali- dade por meio da conscientizacdo. Sé distinguindo e compreendendo os mecanis- mos da personalidade poderemos despertar — que é a razio de havermos escrito este livro. Quanto mais percebermos as reacdes mecanicas de nossa personalidade, menor a nossa identificagdo com elas ¢ maior a nossa liberdade. E disso que trata o Eneagrama, INTERPRETAGAO DAS RESPOSTAS DO QUESTIONARIO (pdginas 24 e 25) Cédigo | Tipo Nome ¢ Caracteristicas Principais ae as duas Digramuitico do Tipo formam um AX 7 | O Entusiasta: Otimista, talentoso, impulsive codigo. Por ay 8 | O Desafiador: Confiante, decidido, exemplo, dominador oeG AZ 3. | O Realizador: Adaptavel, ambici foC do gre calizador: Adaptavel, ambicioso, poleo mm consciente da prépria imagem paragrafo Y do gru- BX 9 | O Pacifista: Receptivo, apaziguador, poll, tem-se 0 c6- complacente digo digramatico md BY 4 | O Individualista: Intuitivo, esteta, absorto Pa saber qual em si mesmo o tipo de Bz 5 | O Investigador: Perceptivo, inovador, personalidade que distante The . see cx 2 | 0 Ajudante: Afetuoso, generoso, possessivo confira os oF 6 | O Partidario: Leal, responsivel, defensivo codigos no Indo: cz 1 | © Reformista: Racional, escrupuloso, autocontrolado CAPITULO 2 Vv ORIGENS ANTIGAS, NOVAS REVELAGOES A O MODERNO ENEAGRAMA de tipos de per- “Descubra o que vocé é € se- Eleé um — Jao sonalidade nao provem de uma tnica fonte. produto hibrido, um amalgama atual de diversas anti- PINDARO gas trad Varios autores ja se indagaram acerca das origens do contribuiram para criar muito folclore sobre sua historia ¢ desenvolvimento, mas a verdade ¢ que, infelizmente, muito do que se diz ¢ fruto de ma interpretagao. Va- ios dos primeiros pesquisadores do tema atribuiram-no aos mestres sufistas, © que nao € 0 caso, como hoje se sabe. des de sabedoria ¢ da moderna psicologi cagrama € seus entusiastas Para entender a historia do Eneagrama, ¢ preciso tragar uma distingao entre o simbolo do Eneagrama os nove tipos de personalidade. E verdade que 0 simbolo do Eneagrama € muito antigo, tendo pelo menos 2.500 anos. Da mesma maneira, a origens das idéias que por fim levaram ao desenvalvimento da psicologia dos nove tipos remonta ao século IV d.C., talvez antes. Porém foi apenas ha algumas décadas que essas duas fontes de conhecimento foram reunidas. As origens exatas do simbolo do Encagrama se perderam na Histéria; nao sabe mos de onde ele vem, da mesma forma que nao sahemos quem inventou a roda ou ascrita. Diz-se que surgi na Babilonia por volta do ano 2500 a.C., m provas em favor dessa hipdtese. Muitas das idéias abstratas relacionadas ao Et ma, para nao falar em sua geometria e derivagdo matemiatica, sugerem que cle pode ter origem no pensamento grego clissico. As tcorias a ele subjacentes podem ser en- contradas nas idéias de Pitigoras, Platio ¢ alguns dos filosofos neoplaténicos. Seja como for, cle certamente pertence a tradicao ocidental que deu origem ao judaismo, a0 cristianisino ¢ ao istamismo, bem como a filosofia hermetica e gnostica, cujos in- dicios podem ser vistos em todas essas trés grandes religides proféticas. as hi poucas. 30 A SABEDORIA DO ENEAGRAMA “Junte a compreensio do Nao ha duvida, porém, de que o responsavel pe- Oriente ao conhecimento de Oci- fa introducdo do simbolo do Eneagrama no mundo dente — e entio busque.” moderno foi George Ivanovich Gurdjieff, um greco- GURDJIEFF —arménio nascido por volta de 1875. O jovem Gurd- jieff, interessado pelo esoterismo, estava convencido de que os antigos haviam criado uma ci¢ncia capaz de transformar a psique huma- na. Essa ciencia se teria perdido ao longo dos séculos. Junto com alguns amigos igualmente apaixonados pela idéia de resgatar a ciéncia perdida da transformacao humana, Gurdjieff passou a juventude tentando reconstituir as relagdes que havia entre os ensinamentos da antiga sabedoria que ia descobrindo. Juntos, cles criaram um grupo chamado “Os que Buscam a Verdade” e resolveram que cada um explo- raria independentemente diferentes ensinamentos e sistemas de pensamento e pe- tiodicamente se reuniriam para compartilhar suas descobertas. Correram mundo, viajaram pelo Egito, Afeganistao, Grécia, Pérsia, India e Tibete, conhecendo monas- térios ¢ santuarios remotos, aprendendo tudo que podiam acerca das antigas tradi- des de sabedoria. Numa de suas viagens, possivelmente ao Afeganistdo ou a Turquia, Gurdjieff encontrou o simbolo do Eneagrama. A partir dai, elaborou uma sintese de tudo que ele e seu grupo haviam pesquisado. Gurdjieff concluiu seus muitos anos de busca pouco antes da I Guerra Mundial e comegou a ensinar em Sao Petersburgo e Mos- cou, atraindo imediatamente uma dvida platéia. O sistema que Gurdjieff ensinava era um com- “Lembre-seatodomomentoe — plexo estudo de psicologia, espiritualidade e cosmolo- em todo lugar de vocé mesmo.” sia que visava ajudar os discfpulos a discernir seu lu- GURDJIEFF gar no universo ¢ seu propésito objetivo na vida. Ele ensinou também que o Eneagrama era o simbolo cen- tal e mais importante em sua filosofia. A seu ver, ninguém podia compreender na- da completamente se ndo o fizesse em termos do Eneagrama, isto €, se ndo colocas- se corretamente os elementos de um processo nos pontos corretos do Eneagrama, vendo assim a interdependéncia e o apoio existentes entre as partes do todo. O Eneagrama ensinado por Gurdjieff era, portanto, basicamente um modelo de proces- Sos naturais e nao uma tipologia psicolégica. Gurdjieff explicou que o simbolo do Eneagrama tem trés partes que represen- tam as trés leis Divinas, as quais regem toda a existéncia. A primeira delas € 0 cir- culo, uma mandala universal, presente em quase todas as culturas. O circulo diz res- peito A unidade, integridade e identidade e simboliza a idéia de que Deus é uno, compartilhada pelas trés maiores religides ocidentais: o judaismo, o cristianismo e oislamismo. : Dentro do circulo, encontramos o simbolo seguinte, o triangulo. No cristianis- mo, ele tradicionalmente se refere a Trindade do Pai, Filho ¢ Espirito Santo. Da mes- ma forma, a Cabala, um ensinamento esotérico do judatsmo, prega que Deus ini- ORIGENS ANTIGAS, NOVAS REVELACOES 31 cialmente Se manifesta no universo como trés emanagoes ou “esferas”, os Sefirot (Kether, Binah e Hokmah), designado pelo principal simbolo da Cabala, a Arvore da Vida. Podem-se ver reflexos da idéia da trindade em outras religides: os budistas falam de Buda, Dharma ec Sangha; os hindus, de Vishnu, Brahma e Shiv: tas, de Céu, Terra e Homem. 1S Laois Surpreendentemente, quase todas as grandes religides pregam que o universo nao é a manifestacdo de uma dualidade, como ensina a légica ocidental, mas sim de uma trindade. Nossa forma usual de ver a realidade baseia-se em pares de opostos, co- mo bom e mau, preto ¢ branco, macho c fémea, introvertido ¢ extrovertido, ¢ assim por diante. As antigas tradigoes, por sua vez, ndo veem homem e mulher, mas homem, mulher ¢ crianga. As coisas ndo sao classificaveis segundo o preto ou o branco, mas segundo o preto, o branco e 0 cinza. . Gurdjieff chamava a esse fendmeno “a Lei da Trindade” e dizia que tudo que existe resulta da interacdo de trés forcas (sejam elas quais forem numa determina- da situacdo ou dimensio). Até as descobertas da fisica moderna parecem respaldar a idéia da Lei da Trindade. Na escala subatomica, os atomos sao feitos de protons, elétrons ¢ néutrons e, em vez das quatro forcas fundamentais que julgdvamos ha- ver na natureza, a fisica descobriu que s6 existem trés: a forca forte, a fraca e 0 ele- tromagnetismo. A terceira parte desse simbolo triplice chama-se héxade (a figura que interliga os ntimeros 1-4-2-8-5-7). Essa figura simboliza o que Gurdjieff chamava de “a Lei do Sete”, que diz respeito a processos ¢ desenvolvimento ao longo do tempo. Ela afirma que nada ¢ estatico; tudo esta em movimento e no processo de tornar-se ou- tra coisa. Mesmo as rochas ¢ as estrelas por fim se transformam, Tudo esta em mu- danga, recicla-se e evolui ou involui — embora de mancira previsivel ¢ de acordo com uma lei, segundo sua natureza e as forcas que estejam atuando. Os dias da se- mana, a Tabela Periédica ¢ a oitava musical ocidental baseiam-se na Lei do Sete. Quando juntamos estes trés elementos — 0 circulo, o triangulo e a héxade — temos o Eneagrama. Ele ¢ um simbolo que demonstra a integridade de algo (circu lo), cuja identidade resulta da interacao de trés coisas (tridngulo) e evolui ou mu- da ao longo do tempo (héxade). AS TRES PARTES DO SIMBOLO DO ENE, \GRAMA, 32_A SABEDORIA DO ENEAGRAMA Preguica Gurdjieff ensinava o Eneagrama mediante 9 uma série de dangas sagradas, cxplicando que Leoairia 8 Jira ele deveria ser concebido, nao como um sim- bolo estatico, mas sim como vivo, mutivel ¢ di- Gula7 Sa nimico. Contudo, nem nas suas publicagées nem nas de seus discipulos, encontra-se men- ¢do ao Encagrama de tipos de personalidade. As origens deste sao mais recentes ¢ tem duas 8 fontes modernas principais. Avanex Inveja ipeaeseeuseeedg + A primeira ¢ Oscar Ichazo. Assim como Gurdjieff, quando jovem Ichazo era fascinado pela idéia de recuperar conhecimentos perdi- dos. Na infancia, ele aplicou sua notavel inte- ligéncia 4 absor¢do de informagao na vasta biblioteca de filosofia e metafisica de um tio, Ainda muito jovem, viajou da Bolivia para Buenos Aires, na Argentina, ¢ depois para outros paises em busca da antiga sabedoria. Apés viajar pelo Oriente Médio ¢ por outros lugares, voltou & América do Sul ¢ comecou a depurar o que havia aprendido. Ichazo pesquisou ¢ sintetizou os varios clementos clo Encagrama até que, no inicio da década de 50, descobriu qual a relagao entre o simbolo ¢ os tipos de per- sonalidade. Os nove tipos que ele ligou ao simbolo do Eneagrama provém cle uma antiga tradigdo que lembrava os nove atributos Divinos conforme se refletem na natu- reza humana. Essas idéias comecaram com os neoplatdnicos, se ndo antes, ¢ apare- cem, no terceiro sécutlo d.C, nas Endadas de Plotino. Elas penetraram na tradi¢ao crista como seu contrario: a distorgado dos atributos Divinos deu origem aos Sete Pe- cados Capitais (ou “Pecados Mortais” ou “Paixdes”), acrescidos de mais dois (me- uso). Comum tanto ao Eneagrama quanto aos Sete Pecados Capitais ¢ a idéia de que, embora tenhamos em nés todos eles, um especificamente se avulta. Ele é a origem de nosso desequilibrio ¢ de nosso apego ao ego. Conforme as pesquisas de Ichazo, as primeiras idéias sobre os nove atributos Divinos remontam a Grécia e aos pais do deserto do século IV, que foram os que primeiro elaboraram o conceito dos Sete Pe- cados Capitais, Dat, introduziram-se na literatura medieval, por meio dos Contos de Canterbury, de Chaucer, ¢ do Purgatorio, de Dante. Ichazo estudou ainda a antiga tradigdo judaica da Cabala. Esse ensinamento mfstico surgi em comunidades judias da Franga e da Espanha entre os séculos XIL ¢ XIV de nossa era, cmbora tivesse antecedentes em antigas tradigdes misticas ju- daicas, bem como no gnosticismo e na filosofia neoplatonica. De importancia cen- tral na filosofia cabalistica ¢ o simbolo conhecido como a Arvore da Vida (Etz Ha- yim), 0 qual, como o Eneagrama, contém as idéias de unidade, trindade e de um proceso de desenvolvimento que implica sete partes. Medo6 3 tlusae O ENEAGRAMA DAS PAIXOI (PECADOS CAPITAIS) DE OSCAR ICHAZO ORIGENS ANTIGAS, NOVAS REVELACOES 33 AS NOVE PAIXOES Compreenderemos melhor a idéia dos Pecados Capitais (também chamados “Paixdes") se pensarmos na palavra pecado nao como algo errado ou ruim, mas sim como a tendéncia a “falhar, errar 0 alvo” de alguma forma. As Paixdes representam as nove principais maneiras de perder 0 equiltbrio e incorrer em distorgées de raciocinio, sentimento e aco. 1 IRA. SOBERBA ILUSAO. INVEJA AVAREZA MEDO GULA LUXURIA PREGUICA Esta paixdo estaria mais bem descrita pela palavra Ressentimento. A ira cm si nao € problema, mas no Tipe Um ela é reprimida, levando a constantes frustragdes ¢ dissabores em relagao a si ¢ ao mundo, A soberba consiste numa incapacidade ou falta de disposi¢ao para re- conhecer o proprio sofrimento. Enquanto procura “ajudar™ os outros, © Tipo Dois nega muitas de suas proprias necessidades. Esta paixto também poderia ser descrita como Vangléria — orgulho das proprias virtudes. A ilusao consiste em pensar que somos apenas 0 ego. Quando acredi- tamos nisso, esforgamo-nos para desenvolver o ego, em vez da nossa verdadeira natureza, Também poderiamos chamar esta paixao de Vai- dade, uma tentativa de fazer 0 ego sentit-se importante sem recorrer a fonte espiritual A inveja baseia-se na sensacao de que algo fundamental nos falta. Ela leva o Tipo Quatro a pensar que os outros tem qualidades que ele nao possui. As pessoas desejam o que estd ausente, esquecendo-se muitas vezes de ver as dadivas com que foram abencoadas. O Tipo Cinco acredita que, por ter poucos recursos interiores, a inte- ragdo com as pessoas o le strofica redugdo ou esgota- mento. Esta paixao leva as pessoas a esquivar-se do contato com o mundo e a minimizar suas necessidades para garantir a preservagdo de seus recursos. Esta paixdo estaria mais bem descrita pela palavra Ansiedade, pois es- ta nos faz recear coisas que na verdade no esto acontecendo. O Ti- po Seis vive a vida em constante estado de apreensdo e preocupagio com possiveis eventos futuros. A guia aqui se refere ao desejo insaciavel de “encher-se” de experién- cias. O Tipo Sete tenta superar a sensagdo de vazio interior dedican- do-se a intimeras ide ra a uma ias © al nunca acha que tem o bastante. A luxuria nao se aplica apenas ao desejo sexual; o Tipo Oito tem lu- xuria no sentido de deixat-se mover por uma constante necessidade de intensidade, controle ¢ quantidade. A luxtiria leva 0 Tipo Oito a tentar controlar tudo em sua vida — a afirmar-se com obstinagdo. A preguiga nao sign apenas inagao, ja que o Tipo Nove pode ser bem ativo e realizador. Aqui, ela se refere mais ao desejo de nao ser afetado pelas coisas, uma falta de disposicao para entregar-se plena- mente a vida. ades estimulantes ¢ positivas, mas 34 A SABEDORIA DO ENEAGRAMA Num lampejo de genialidade, foi Ichazo quem conseguiu pela pri- meira vez, em meados dos anos 50, dar a esse material a seqaéncia ade- quada no simbolo do Eneagrama. S6 ento as diferentes correntes de trans- missdo se juntaram para formar o pa- drao basico do Eneagrama conforme hoje o conhecemos. Em 1970, o eminente psiquiatra Claudio Naranjo, que estava clabo- rando um método de gestalt-terapia no Esalen Institute, em Big Sur, na California, juntamente com um gru- po de pensadores do movimento do potencial humano, viajou para Arica, no Chile, para estudar com Ichazo. Este estava ministrando um curso in- tensivo de quarenta dias, criado para ajudar seus discipulos a encontrar a auto-realizagdo, Um dos primeiros itens abordados nesse curso foi o Eneagrama c 0s nove tipos ou, como ele os chamava, “fixagaes do ego”. © Encagrama imediatamente cativou varias pessoas do grupo, par- ticularmente Naranjo, que voltou a California ¢ comecou a aplicd-lo aos sistemas psicolégicos que havia estu- ane dado. Naranjo interessou-se em cor- HAYIM) relacionar os tipos do Encagrama as categorias psiquiatricas que conhecia ¢, assim, comecou a expandir as resu- midas descrigdes que Ichazo inicialmente fizera dos tipos. A forma que encontrou para demonstrar a validade do sistema foi reunir grupos de pessoas que se identifi- cavam com um determinado tipo, ou cujas categorias psiquidtricas cram conheci- das, entrevistando-as para destacar as semelhangas entre elas e obter informacoes adicionais. Ele reunia, por exemplo, todas as pessoas de scu grupo que tinham per- sonalidade obsessivo-compulsiva e observava como suas reacoes se encai descrigdes do Tipo Um de personalidade, e assim por diante. © metodo de Naranjo — usar grupos para estudar os tipos — nao faz parte, como ja se afirmou, de nenhuma antiga tradigao oral, Tampouco o Eneagrama da avam nas ORIGENS ANTIGAS, NOVAS REVELACOES 35 personalidade provém de um corpo de conhecimento que tenha sido transmitido oralmente a nossos dias. O uso de grupos comecou com Naranjo no inicio dos anos 70 ¢ constitui apenas uma forma de estudar e esclarecer o Eneagrama. Naranjo comegou a divulgar uma versao preliminar do sistema a pequenos grupos de estudantes em Berkeley, na California, ¢, a partir dat, houve uma répida disseminagdo. O Encagrama ganhou mestres entusiastas na area metropolitana de San Francisco ¢ em retiros jesuitas de todo o territério norte-americano, num dos quais um de nés, Don, entaéo um seminarista jesuita, teve contato com 0 novo ma- terial. Desde o surgimento da obra fundamental de Ichazo e Naranjo, varias pessoas, entre as quais nos incluimos, vém desenvolvendo o Eneagrama ¢ descobrindo nele muitas novas facetas. Nosso trabalho consistia principalmente no desenvolvimento da base psic logica dos tipos, pela ampliacao das resumidas descrigdes originais e pela demons- trago da forma como o Eneagrama se relaciona com outros sistemas psicologicos e espirituais. Don sempre teve certeza de que, se as descrigdes dos tipos nao fossem plena e precisamente resolvidas, o Eneagrama teria pouca utilidade e, de fato, po- deria tornar-se uma fonte de informagées erréncas ¢ tentativas equivocadas de cres- cimento. Um avango de grande importancia verificou-se em 1977, quando ele desco- briu os Niveis de Desenvolvimento. Os Niveis revelaram as gradacées de crescimen- toe decadencia realmente encontradas pelas pessoas no decorrer de suas vidas. Eles Mostraram quais os tracos ¢ motivagées inerentes a cada tipo ¢ o porque. Mas o mais importante € que eles indicaram o grau de nossa identificacao com a persona- lidade € nossa consequente falta de liberdade. Don também chamou a atencao pa- ta as motivacdes psicoldgicas de cada tipo, de uma mancira muito distinta das des- crigdes impressionistas que prevaleciam quando comecou sua pesquisa. Ele desenvolveu essa ¢ outras idéias, tal como a das correlagdes com outras tipologias psicolégicas, ¢ apresentou suas conclusdes em Personality Types (1987) ¢ Unders- tanding the Enneagram (1990). Russ juntou-se a Don em 1991, inicialmente para ajudar na elaboracdo de um questionario sobre os tipos do Eneagrama — que veio a ser o Riso-Hudson Ennea- gram Type Indicator (RHETI)/Indicador Tipologico via Eneagrama Riso-Hudson (ITERH) —., ¢ posteriormente nas revisdes de Personality Types (1996). Russ trou- xe sua experiéncia ¢ compreensdo das tradi¢ées ¢ praticas por tras do Eneagrama para o trabalho. Subseqitentemente, ele desenvolveu as idéias inicialmente apresen- tadas por Don, revelando as estruturas profundas dos tipos e as varias implicaoes do sistema em relagao ao crescimento pessoal. Desde 1991, ambos temos ministra- do workshops ¢ seminarios em todo o mundo. Grande parte das revelacoes con neste livro vem dessa nossa experiéncia de trabalho com alunos. Tivemos o privilé- gio de trabalhar com pessoas dos cinco continentes ¢ de todas as principais reli- gides. Continuamos surpresos e impressionados com a universalidade e a utilidade do Eneagrama. 36 A SABEDORIA DO ENEAGRAMA pe cccceMacaaasMe A HISTORIA DO SERRALHEIRO: UMA PARABOLA SUFISTA Era uma vez um serralheiro que, acusado de crimes que no cometera, foi condenado a viver encerrado numa pristo escura. Decorrido algum tempo da sentenca, sua mulher, que muito 0 amava, foi ao Rei e suplicou-Ihe que a deixasse ao menos enviar ao marido um tape- te para que ele pudesse observar as cinco prostragdes didrias para a oracao. O Rei acedeu e permitiv-lhe que mandasse ao marido o tal tapete. O prisioneiro, agradecido pelo presente que ganhara da mulher, passou a cumprir fielmente suas prostracdes didrias no tapete. Muito tempo depois, ele fugiu da prisio. Quando as pessoas lhe perguntavam como ha- via conseguido sair, o serralhtiro explicava que, apés anos ¢ anos cumprindo as prostragdes e orando para ser libertado, percebera o que estava bem diante de seu nariz. Um dia ele viu subitamente que a forma que sua mulher havia bordado naquele tapete nao era outra coisa sendo o mecanismo da fechadura que o separava da liberdade. Ao perceber isso e compreen- der que possufa todas as informacdes de que precisava para fugir, comecou a fazer amizade com os guardas. Persuadiu-os de que todos teriam uma vida melhor se colaborassem e fugis- ‘sem juntos da prisio. Eles concordaram porque, embora fossem guardas, se deram conta de que também viviam presos. Queriam sair dali, mas ndo tinham como. Entdo 0 prisioneiro e seus guardides elaboraram o seguinte plano: eles the trariam pe- dacos de metal, e o serralheiro confeccionaria utensilios que poderiam ser vendidos no mer- cado, Juntos acumulariam recursos para a fuga e, com o pedaco de metal mais resistente que‘ encontrassem, 0 serralheiro faria uma chave. Uma noite, quando tudo estava preparado, o prisioneiro e seus guardiaes abriram o por- tdo e safram para o frescor da noite. O serralheito deixou o tapete na prisdo para que, assim, outros prisioneiros astutos o bastante para interpretar o que nele estava bordado pudessem fugir também. Desse modo, o serralheiro voltou para a mulher que o amava, seus antigos guardides tornaram-se seus amigos e todos viveram em paz. O amor e a habilidade venceram. Essa tradicional parabola sufista de Idries Shah pede simbolizar nosso estudo do Enea- grama: a fechadura é nossa personalidade, o tapete é o Eneagrama e a chave ¢ o Trabalho. Ob- serve que, embora a mulher tenha enviado o tapete, para conseguir os instrumentos 0 serra- Iheiro teve de criar algo util para seus guardides, Ele ndo podia sair dali sozinho e precisava dar-thes algo em troca. Além disso, enquanto orava por sua propria libertagao, o melo de que precisava estava literalmente “bem embaixo de seu nariz”, apesar de ele ndo ter visto o me- canismo da fechadura no tapete nem entendido 0 que significava. Um dia, porém, ele desper- tou, viu-o e ficou pronto para sair da prisao. A moral da histéria ¢ evidente: todos estamos numa prisdo. Precisamos apenas desper- tar para “ler” o mecanismo da fechadura que nos permitird ganhar a liberdade. cee ameeeeeemn CAPITULO 3 Vv ESSENCIA E PERSONALIDADE A A VERDADE MAIS PROFUNDA que ha no Eneagrama ¢ que somos muito mais que a nossa perso- nalidade. Esta nao senao as partes familiares ¢ con- dicionadas de um leque muito mais amplo de poten- ciais que todos possuimos, Além das limitacdes de “O espirito € 0 verdadeiro eue nao a figura fisica que podemos apontar com 0 dedo.” CICERO nossa personalidade, somos um vasto ¢ pouco reconhecido atributo do Ser ou Pre- senga — aquilo que se chama nossa Esséncia. Em termos espirituais, poderfamos dizer que dentro de cada um ha uma centelha do Divino, apesar de havermos es- quecido essa verdade fundamental, pois adormecemos para nossa verdadeira nature- za. Nao vivenciamos nossa prépria natureza Divina nem os outros como manifes- tagdes do Divino, Em vez disso, tornamo-nos duros e até cinicos, tratando os demais como objetos contra os quais devemos defender-nos ou que devem ser usados pa- ra que obtenhamos satisfacao. A maioria das pessoas tem alguma nogao do que é a personalidade, mas a idéia de Esséncia provavelmente € menos conhecida. Quando falamos de Esséncia, refe- rimo-nos ao seu sentido literal — aquilo que no fundo somos, nosso cu Essencial, a base do Ser que ha em nos. (Espirito é outra palavra adequada.) E importante tragar uma distingdo entre Esséncia, ou espirito, e “alma”. A base fundamental de nosso Ser é Esséncia ou Espirito, mas ela assume uma forma di- namica a qual denominamos “alma”. Nossa personali- dade ¢ apenas uma faceta da alma. Esta é “feita” de Es- séncia ou Espirito. Se o Espirito fosse agua, a alma seria um rio ou lago ea personalidade seria os pedacos de ge- lo ow as ondas que se formam em sua superficie “O desenvolvimento espiritual uma viagem longae drdua, uma aventura através de terras estra- nhas e cheias de surpresas, ale- gria, beleza, dificuldades e até pe- rigos.” ROBERTO ASSAGIOLI 38 A SABEDORIA DO ENEAGRAMA Em geral, nao vivenciamos nossa Esséncia em seus diversos aspectos porque nossa percepgao est muito dominada pela personalidade. Mas, 4 medida que nos- sa personalidade se conscientiza, ela se torna mais transparente ¢ nos possibilita a vivéncia mais dlireta de nossa Esséncia. Continttamos a agit no mundo, mas com uma percepcao cada vez maior de nossa ligagdo com a Divindade. Conscientizamo- nos de que somos parte de uma Divina Presenga que a tudo cerca ¢ a tudo preen- che, em constante ¢ maravilhosa multiplicagao. O Encagrama pode ajudar-nos a ver 0 que nos impede de lembrar essa profun- da verdade sobre quem realmente somos, a verdade de nossa natureza espiritual. Ele 0 faz por meio de suas precisas revelagées acerca de nossa estrutura psicoldgica ¢ espiritual. O Encagrama pode ajudar-nos também a descobrir o rumo em que deve- mos trabalhar, mas s6 se lembrarmos que ele néo conta quem somos, mas sim co- mo limitamos aquilo que somos. Lembre-se: 0 Encagrama ndo nos prende num cubi- culo; ele simplesmente mostra 0 cubiculo em que estamos encerrados c a saida que devemos tomar: A PSICOLOGIA SAGRADA Uma das mais profundas ligdes do Encagrama ¢ que a integracao psicologica ea realizacao espiritual nao s4o processos separados. Sem a espiritualidade, a psi- cologia nao nos liberta nem nos conduz as mais profundas verdades que existem sobre nés. Sem a psicologia, a espiritualidade pode representar uma ilusio ¢ uma tentativa de fuga da realidade. O Eneagrama nao é nem psicologia rida nem misti- cismo confuso, mas sim um instrumento de transformacao que usa a lucidez ea pre- cisdo da psicologia como ponto de partida para uma espiritualidade profunda ¢ uni- versal. Desse modo, num sentido bastante literal, o Eneagrama representa “a ponte entre a psicologia e a espiritualidade™”. fulcro dessa psicologia sagrada ¢ que nosso tipo basico revela os mecanismos psicoldgicos pelos quais esquecemos nossa verdadcira natureza — nossa Esséncia Divi- na — ¢ 0 modo como nos abandonamos. Nossa personalidade se vale de nossa capi cidade inata de erguer defesas e compensacdes para o que nos magoou na infancia. A fim de sobreviver as dificuldades que encontramos nessa época, inconsciente- mente adotamos um repertorio finito de estratégias, auto-imagens e comportamen- tos que nos permitiram resistir ¢ sobreviver aos primeitos desafios de nosso meio ambiente. Portanto, cada um se torna “perito” numa determinada forma de com- portamento que, quando excessivamente utilizaca, se torna a base da area desestru- turada da nossa personalidade. A medida que se tornam mais estruturadas, as “OQ homem quer ser feliz mes- _defesas c estratégias de nossa personalidade nos afas- mo quando vive de modo a tam da vivéncia direta de nés mesmos, de nossa Essén- itar a felicidade.” cia. A personalidade torna-se a nossa fonte de identi- SANTO AGOSTINHO dade, em vez de ser 0 nosso contato com o Ser. A ESSENCIA E PERSONALIDADE 39 forma como nos vemos se bas cada vez mais em lembrancas, agens imeriores € comportamentos aprendidos, em vez de basear-se na expressdo espontanea de nossa verdadeira natureza. Essa falta de contato com a Esséncia provoca muita an- siedade, assumindo a forma de uma das nove Pa Paixdes — geralmente incons: cam a dirigir a personalidade. Por conseguinte, a compreensio do tipo de per- sonalidade ¢ de sua dinamica representa um modo de abordagem muito cficaz do inconsciente, de nossas fe- ridas ¢ compensacdes ¢, em ultima anilise, da cura eda transformagao. O Encagrama mostra onde a persona- lidade mais nos “puxa o tapete”. Ele destaca nado $6 0 ixdes, Uma vez estabelecidas, esas ntes ¢ invisiveis a nossos préprios olhos — come- } © processo neurético (...) € um problema do eu. Trata- se de um processo de abandono do verdadeiro eu em favor de um eu idealizado; de uma tentativa de atualizar, em vez dos poten- que podemos conseguir como também o quanto sao _ciais que possuimos, esse pseu- desnecessarios — ¢ por vezes prejudiciais a nosso de- ° do-eu.” senvolvimento — tantos de nossos velhos comporta- KAREN HORNEY mentos ¢ reagoes. E por isso que, quando nos identili- camos com a personalidade, fadamo-nos a ser muito menos do que realmente somos. E como se ganhissemos uma mansio ricamente mo- biliada e cercada de belos jardins para morar, mas nos confindssemos a um cubfcu- lo escuro no porao. A maioria das pessoas esquece que o resto da mansao existe ¢ a quem ela de fato pertence. Como assinalaram muitos mesires espirituais através dos séculos, adormece- mos para aquilo que somos ¢ para o que é nossa vida, Boa parte do tempo corremos de um lado para 0 outro, consumidos por idéias, ansiedades, preocupacoes ¢ ima- gens mentais. Raramente estamos presentes para ndés mesmos ¢ nossa experiéncia imediata. Porém, 4 medida que comecgamos a nos trabalhar, comecamos a ver que nossa atengao foi tomada ou “atraida” pelas preocupagées ¢ pelos tracos de nossa personalidade e que, na verdade, atravessamos a vida quase toda como sonambu- los. Essa forma de ver as coisas é contriria ao senso comum e muitas vezes parece ofensiva ao modo como nos vemos: pessoas conscientes ¢ determinadas que t¢m controle sobre as coisas. Ao mesmo tempo, nossa personalidade nao ¢ “ma”. Ela € importante para nos- so desenvolvimento ¢ necessdria para o refinamento de nossa natureza Essencial. O problema ¢ que nos prendemos a ela ¢ ficamos sem saber como passar a fase seguin- te. Essa atrofia no desenvolvimento nao se deve a alguma falha nossa, mas ocorre porque, nos anos de formagao, as pessoas geralmente nio esto conscientes cle que ¢ possivel desenvolver- se mais. Nossos pais ¢ professores podem ter tido lam- pejos quanto a sua verdadeira natureza, mas, como nds, nao os reconheceram nem, muito menos, vive- ram como se fossem sua expressio. Assim, uma das revelagdes mais propicias 4 transformagao que nos pode fazer © Eneagrama & que nao somos nossa personalidade. Captar essa idéia leva a uma transformacdo da nogio de eu. Quando finalmente compreendemos que nao somos a fonte da infelicidade.” “A maior felicidade ¢ conhecer DOSTOIEVSKI 40 A SABEDORIA DO ENEAGRAMA nossa personalidade, percebemos que somos seres espirituais que t¢m uma perso- nalidade por intermédio da qual se manifestam. Quando deixamos de nos ident car com ela e de defendé-la, ocorre um milagre: nossa natureza Essencial esponta- neamente surge ¢ nos transforma. A PERSONALIDADE NAO DESAPARECE © objetivo do Eneagrama nao ¢ livrar-nos de nossa personalidade, Mesmo que pudéssemos, isso ndo nos ajudaria muito. Isso talvez tranqiilize aqueles que re- ceiam que, se deixarem de lado a personalidade, perderao a identidade ou se torna- rao menos capazes ¢ competentes. Na verdade, o contrario é que vale. Quando nos aproximamos de nossa Essén- cia, ndo perdemos a personalidade. Ela se torna mais transparente e Mexfvel, algo que nos auxilia a viver, cm vez de dominar nossa vida. Quando estamos mais pre- sentes e conscientes — qualidades da Esséncia —, sobrevém momentos de “fluxo” ¢ de “desempenho maximo”, ao passo que as manifestacées da personalidade cos- tumam levar-nos a ignorar coisas, cometer erros ¢ criar problemas de toda espécie. Se estivermos muito ansiosos por causa de uma viagem, por exemplo, provavelmen- te colocaremos na mala as roupas erradas ou esqueceremos de levar objetos impor- tantes, Aprendendo a permanecer relaxados e presentes em meio as pressdes do dia- a-dia, tornaremos a vida mais facil. : Quando conseguimos nos identificar menos com a personalidade, ela se tor- na uma parte menor da totalidade que somos. A personalidade ainda existe, mas ha uma inteligéncia mais ativa, uma sensibilidade ¢ uma Presenca por tris dela que a utilizam como veiculo, em vez de deixar-se guiar por ela. Quanto mais nos identi- ficarmos com a Esséncia, mais veremos que nao perdemos a identidade — nos na verdade a encontramos. Seria um erro, porém, sugerir que uma experién- “Quando um homem desper- cia de despertar — ou mesmo varias delas — nos ta, cle desperta do falso pressu- posto de haver estado sempre desperto e, assim, de haver sido senhor de seus pensamentos, sentimentos e atos.” HENRI TRACOL bertaria da identificagdo com a personalidade. Embo- ra cada momento de auto-realizagio até certo ponto nos transforme, em geral é preciso ter varias dessas ex- periéncias para que a percepcao se amplie. A medida que elas vio se acumulando, a identidade gradual- mente se expande, pasando a abarcar mais e mais da natureza Essencial. Surge a capacidade de viver expe- riéncias mais profundas ¢ tornamo-nos transmissores mais constantes do Divino. Nossa luz interior torna-se mais forte e brilha no mundo com maior firmeza. ESSENCIA E PERSONALIDADE 41 O MEDO E O DESEJO FUNDAMENTAIS O mecanismo da personalidade ¢ acionado pelo que denominamos o Medo Fundamental de cada tipo. Esse medo surge em decorréncia da inevitavel perda “As mesmas coisas que deseja- mos evitar e esquecer revelam-se a ‘prima materia’ da qual provém ae rdadei it de contato com a natureza Essencial na primeira in- _° Y°Toadelo crescimento, fancia. Varias s4o as razdes para isso. Como recém-nascidos, chegamos ao mundo com necessidades naturais, inatas, que precisavam de satisfagéo para que nos tor- nassemos seres humanos maduros. Todavia, mesmo nas circunstancias mais favo- raveis, nossos pais ndo puderam — nem poderiam — atender perfeitamente a to- das as nossas necessidades de desenvolvimento. Por mais bem- tencionados que fossem, eles enfrentaram problemas ao satisfazer nossas necessidades, principal- mente aquelas que eles proprios tiveram ¢ foram inadequadamente atendidas. proprio dos bebés manifestar uma grande variedade de emogées e estados de espi- rito. Se essa manifestagdo tiver sido bloqueada em nossos pais, eles provavelmente ficardo ansiosos ¢ pouco a vontade quando nos o fizermos, assim tornando nosso eu infantil igualmente ansioso ¢ insatisfeito. ANDREW HARVEY Quando um bebé manifesta sua alegria e seu pra- zer de viver e a mae esta deprimida, é pouco provavel “Antes de morrer, todos deve- riamos lutar para saber o que evi- camos, para onde vamos e por que ela se sinta a vontade diante da efusao do filho. Assim, esse bebé aprende a suprimir sua alegria para nao perturbar mais a mae. Outro bebé, de tempera- mento diferente, pode chorar ou tentar de outras ma- neiras obter uma reacdo da mac, mas de qualquer modo nao vé nela um reflexo de sua alegria. E importante notar que essas reagdes nado se devem ao fato de nossos pais serem “maus”, mas sim ao de eles s6 poderem refletir aquilo que neles nao ti- ver sido bloqueado. qué.” Essa gama limitada — ¢ muitas vezes desestruturada — de ati- tudes e comportamentos grava-se na alma receptiva da crianca como o pano de fun- do que ela usaré na vida ¢ em todos os relacionamentos futuros. Em decorréncia de necessidades infantis nao satisf qu mecamos a sentir logo no ini tao faltando em nés. Naturalmente, essa sensagao cria uma profunda ans s ¢ subseqtientes blo- 10 da vida que certos elementos-chave es- dade. E provavel que nosso temperamento inato determine nossa reagao a ansiedade. Seja como for, independente de nosso futuro tipo de personalidade, acabamos chegan- do a conclusao de que ha algo fundamentalmente errado conosco, Mesmo que nao consigamos verbalizar 0 que isso ¢, sentimos 0 puxdo de uma ansiedade muito for- te € inconsciente — nosso Medo Fundamental. Cada tipo possui um Medo Fundamental caracteristico, embora todos esses Medos sejam universais. (De um ponto de vista mais sutil, cada Medo Fundamen- tal é uma reagdo ao medo universal da morte ¢ da aniquilagaéo — o medo que nos- 5, JAMES THURBER 42_A SABEDORIA DO ENEAGRAMA “No conseguimos mudar as _ sa personalidade tem do nada.) Veremos em nés mes- coisas conforme desejamos. Nosso mos os Medos Fundameniais de todos os nove tipos, desejo é que gradualmente muda.” embora o que é inerente ao nosso tipo nos motive o PROUST — comportamento muito mais que os outros. Para compensar o Medo Fundamental, surge um Desejo Fundamennal. Ele é o meio que cncontramos de proteger-nos do Medo Fun- damental para de alguma forma continuar a agit. O Desejo Fundamental é aquilo que acreditamos que nos fara bem; é como se nos disséssemos: “Se eu tivesse X MENSAGENS INCONSCIENTES DA INFANCIA ‘Todos recebemos de nossos pais (bem como de outras figuras importantes) varias men- sagens inconscientes durante a infancia, Elas tem um profundo efeito sobre nossa identida- de em formacdo e sobre o quanto nos permitiram ser plenamente o que somos, A menos que nossos pais fossem eles proprios seres humanos muito desenvolvidos ¢ conscientes, o brilho expansivo de nossa alma teve de reduzir-se em graus varlaveis. Embora possamos ter recebido varias das mensagens abaixo, uma delas nde sempre ser mais importante para um tipo. Quais o afetam particularmente? Tipo Um: — “Errar nao é bom.” Tipo Dois: “Ter necessidades proprins nao ¢ bom.” Tipo Trés: “Ter sentimentos e identidade proprios ndo ¢ bom.” Tipo Quatro: “Estar bem ou feliz demais nao ¢ bom.” Tipo Cinco: “Estar A vontade no mundo nao ¢ bom.” Tipo Seis: “Confiar em si mesmo nao ¢ bom.” “Depender dos outros para alguma coisa nao ¢ bom.” “Ser vulnerdvel e confiar nos outros no é bom.” Tipo Nove: “Impor-se nao é bom.” OS MEDOS FUNDAMENTAIS DE CADA TIPO Medo de ser mau, corrupto, malvado ou falho Medo de nao merecer ser amado- Medo de ser desprezfvel, de nao valer nada Medo de nao ter identidade ou importancia Medo de ser intitil, incapaz ou incompetente Medo de nao contar com apoio ou orientaciio Medo de sofrer dor ou privagao Medo de ser machucado ou controlado pelos outros Medo de fragmentar-se, de perder 0 vinculo com os outros Carat un a ESSENCIA E PERSONALIDADE 43 (amor, seguranga, paz etc.), tudo entraria nos eixos”, Poderfamos chami-lo de prio- ridade do ego, pois esse descjo sempre nos revela o que o ego se empenha em obter. Os Desejos Fundamentais representam necessidades humanas universais ¢ le- gitimas, embora a idealizagdo e a importancia que cada tipo da ao seu desejo espe- cffico sejam tantas que afctam outras necessidades. Contudo, é importante frisar que nao ha nada de errado com nosso Desejo Fundamental. O problema ¢ que, a0 tentar satisfazé-lo, podemos tomar caminhos errados que acabam por levar-nos 4 improdutividade. Por exemplo, o Desejo Fundamental do Tipo Seis ¢ encontrar seguranga. Con- forme veremos, as pessoas desse tipo podem buscd-la com tanta ansia que acabam por arruinar tudo em sua vida, inclusive, ironicamente, sua prépria seguranca. Da mesma forma, todos os tipos sao capazes de tornar-se autodestrutivos se persegui- rem cega ¢ demasiadamente seu Desejo Fundamental. Acabamos perseguindo sem- pre a mesma coisa, usando as mesmas estratégias, mesmo que elas nao nos tragam os resultados pretendidos. Nosso Desejo Fundamental pode também levar-nos a um bloqueio incons- ciente de nossa natureza Essencial porque a personalidade nao abrira mao de seu controle enquanto nao acreditar que o Desejo Fundamental esta satisfeito. O Tipo Seis, por exemplo, nao relaxara enquanto nao tiver certeza de que seu mundo esta em absoluta seguranca. Da mesma forma, o Tipo Um no relaxard nem se fard mais presente enquanto tudo em seu mundo nio estiver perfeito. Evidentemente, essas coisas jamais se concretizario. Entender o Medo c o Desejo Fundamentais ajuda a compreender melhor o mi- lenar ensinamento universal de que a natureza humana é movida pelo medo e pe- lo desejo. Assim, poderfamos dizer que a estrutura de nossa personalidade ¢ cons- tituida por um movimento de fuga do Medo Fundamental e outro de busca do Desejo Fundamental. O tom geral de nossa personalidade surge dessa dinamica, a qual se torna a base de nossa nogdo de cu. OS DESEJOS FUNDAMENTAIS E SUAS DISTORGOES desejo de ter imtegridade (descamba em perfeccionismo e critica) © desejo de ser amado (descamba em necessidade de fazer-se necessério) O desejo de ter valor (descamba em busca de sucesso) © desejo de ser quem ¢ (descamba em autocomplacencia) © desejo de ser competente (descamba em especializagdes inuiteis) O desejo de ter seguranca (descamba em apego aconvicgdes) O desejo de ser feliz (descamba em escapismo frenético) O desejo de proteger-se (descamba em briga constante) O dlesejo de estar em paz (descamba em teimosa negligencia)

You might also like