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ey REPUBLICA DE ANGOLA ‘TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ACORDAO N.* 651/2020 Processo n° 707-C/2019 (Recurso Extraorlindrio de Inconstitucionalidade) Em nome do Povo, acordam, em Conferéncia, no Plendrio do Tribunal ‘Constitucional: LRELATORIO Victor Morais Lemos, José Filipe ¢ Outros, melhor idenificados nos autos, interpuseram o presente recurso extraoninisi de inconsttacionalidade do Acbrdao profrido pela I* Secpdo da Cimara do Trabalho do Tribunal Supremo, no imbito do Processo n° 47/09, que revogou a decisio do “Tribunal «qo, intando, asim, 0 Poro de Luanda da responsibiléade de snranir 0 acesso dos trabalhadores em questo ao Fundo de PensBes do Porto de Luanda. 7 Inconformados com referido acérdfo do Tribunal Supremo, os sal sg ab we a ( 8) © Acted do Tribunal Supremo julgou improcedente (quando na Dh verdade prtendia dizer procedente, conforme foi excarecido na \,. Y\ resposta&relamapto junto aos autos) 0 recurto,e revogou a decsto _° veto da primeira instincia que condenava a requerda nos autos, Porto de Luanda, no pagamento do Fundo de Pensées; 1) Os Veneraados Juizes do Tribunal ad quem erraram 20 revogar a deciséo anterior, pois os Fundos de Penstes sao patriménios auténomos e nenhuma institui¢ao ¢ obrigada a constitui-los se no disposer de condites fnanceras para tal, sendo que a constituieto esti sueita 4 autorizacdo do Ministrio de tutela, no caso o Ministério das Finanyas, que pelo Despacho n° 125/04, de 15 de Junho autorizou ¢consttsgdo do Fundo de Pens8es do Porc de Luanda; ¢) Os encarges com o Fundo de PensBes nfo podem ser transitidos a0 novo empregador, no caso a UNICARGAS, que além de nto dspor de condigtes para tal, nfo foi a iso autorizado pela Ministrio das FFinangas,stuagdo que ais foi resalvada no artigo 31.° do Contato de Explor do Terminal Polivalente, a0 referr que a concessto era live de Gnus ou encargs; 4) 0 Tribunal ad quem conclu, eradament, que o Porto de Landa era pare legtima da acplo, por entender que com a concessto foram transferides para a UNICARGAS todos os direitos obrigacdes dos trabathadcres, ns termos do dsposto non. 1 do artigo 72° da Lein* 2/00, de Il de Fevereiro, Lei Geral de Trabatho, em vigor & data dos facts ©) Ao decidir que os eréitos reativos ao fundo de pensbes deve ser reclamadcs junto do novo empregador, 0 Tribunal ad quem violow. o-— > diseito dos ora Recorrentes a um julgamento justo € ee Os Revorrentes coneluiram alegando que deve o Acénito proferido pela 1* 6°" Secsio da Cémara do Trabalho do Tribunal Supremo ser revogado, por violagdo dos ptincipios constitucionais da legalidade e do direito a um julgamento justo 0 processo foi A vista do Ministério POblico. Colhidos os vistos egais, curnpre, agora, apreciar para decidir. ‘I. COMPETENCIA © presente recurso extraordinirio de inconsitucionalidace fo intexposto nos termos ¢ com os fundamentos da alinea a) do artigo 49.° da Lei n.° 3/08, de 17 de Junho, Lei do Processo Constitucional (LPC), norma que estabelece © Ambito do recurso extraordinério de inconstitucionalidade, para o Tribunal Constitucional, de “Sentengas dos demaistribunais que contenham fundamentos de iret edecsbes que contrariem prinlpios, direitos, liberdades e garantias previstos na CConsttuigdo da Reptbica de Angola”. ordindrios legalmente previstos, nos wibunais comuns ¢ demais tribunais, conforme estatuido no parigrafo (nico do artigo 49.° da LPC, pelo que tem Tribunal Constitucional competencia para apreciar o presente recurso. ‘Ademais, foi observado 0 pressuposto do prévio esgotamento dos recursos g ( IN, LEGITIMIDADE \ 'A legitimidade para o recurso extraordindrio de inconstitucionalidade cabe, ) no caso de sentenca, & pessoa que de harmonia com a lei reguladora do processo em que a deeist0 foi proferda, punsa dela intsrpor recurso, nos == ‘termos da alinea a) do artigo $0.° da LPC. Tn cnanupnen eee ee an wns nie" cee e mer imme anwaipteaie, ee ee ‘No caso conereto, 0s aqui Recorrentes, enquanto partes no Processo 1." 47/2009, que n> viram a sua pretensio atendida, tém certamente legitimidade para recorrer, IV. OBJECTO presente recurso tem como objecto analisar se o Acérdao da I* Seorao da ‘Camara do Trabalho do Tribunal Supremo, proferido aos 23 de Novembro de 2016, no Ambito do Processo n° 47/09, violou os principios ‘constitucionais da egalidade e do direito a um julgamento justo e conforme & lei, alegados pelos Recorrentes ‘V. APRECIANDO B submetida & apreciagdo do Tribunal Consitucional 0 Acérdo da IY. Seco da Clmare do Trabalho do Tribunal Supremo proferido no Procesto n° 47/09, que revogou a decisio do Tribunal a quo e absolveu a Requerida de todos os pedi. Os Recorrentes, no presente recurso extrardinério de inconstitucionaldade, “| reivindicam a intevensao do Tribunal Constiucional, por entenderem que «© acérdao recorricoviolow princpios conttucionais, bem como diteitos que a Constituigto da Repiblica de Angola Ihes confere, pelo que a andlise des ‘Tribunal deve incidir sobre as seguintes quests: 1+ Seo Pono de Luanda & pane lepima na sero pica, yotendo sei” 7K demandado a proposito de quest6es relacionadas com os trabalhadores que i ‘eram afectos & sua instituiglo; 2-Se os funconitios abrangidos pelo process de cesttotém ou nto dieito SO fst ao Fundo de Pensies do Porto de Luanda. Vejamos: A) DA ILEGITIMIDADE DO PORTO DE LUANDA Resulta dos autos que o Porto de Luanda foi objecto de um profundo processo de restruturacio, sendo que no Ambito desse processo foram celebrados contratos de concessAo, em que um desses contratos ditou a fusto dos terminais de contentores n° 1 ¢ de carga geral n.° 2 num inico terminal denominado Terminal Polivalente. [esse Contrato de Concessio Portuiria, assinado aos 17 de Janeiro de 2005, ‘a Empresa Porruéria de Luanda, E.P., Porto de Luanda) cedeu o direito de exploracao do Terminal Polivalente & Empresa de Transporte Rodovirio de Cargas, U.EE (Unicargas), sendo que, nos termos desse contrato de concessio, a Unizargas deveria absorver todo 0 pessoal activo do Porto de ‘Luanda que exerciam funebes no terminal Polivalente. fe Essa mudanga de empregador vem prevista na Lei Geral de Trabalho, nos artigos 71.°¢ 728, da Lei? 2/00, de 11 de Fevereiro, Lei Geral de Trabalho (LGT) em vigor é data dos factos. om, venta de cnkpnan on arigns mending, tends > ‘transmissio da posictio de empregador, 0 novo empregador fica sub-rogado y ton diritose brigngdes do antigo empregador. © objectivo do leisladar foi J" 6 de garantr que a situasdo juridicolaboral dos trabathadores nao fosse” a afectada pela mudanga de empregador, dai que 0 novo empregador “/ assumiria todos 0s direitos e obrigagSes que anteriormente pertenciam ao \.- antigo empregador. re No No entanto, e, prevendo o legislador que alguns direitos ¢ obrigacoes ppudessem ser demasiado onerosos para 0 novo empregador, a Lei Geral de ‘Trabalho, no seu artigo 73° prevé uma co-responsablidade entre o antigo € 0 novo empregador, estabelecendo no n° 3 que anterior empregador, rmantém-se como 9 responsivel pelos créditos nto reclamados e os vencidos fem momento anterior aos 12 meses que antecederam & mudanca de empregador. Posto isto, concluise que o Porto de Luanda, nio est totalmente eximido, pelo que se mantém responsivel, perante os seus ex funcionérios sobre eventuais eréditos nfo reclamados ¢ ov vencidos até um ano antes da concretizagdo da mudanca de empregador. No caso concreto, os Recorrentes reivindicam direitos adquirdos no period de 15 de Junho de 1992 231 de Julho de 2005, uma vez que 0 Contrato de Q CConstituisio do Fundo de Pensbes do Porto de Luanda, n0n.° 1 da Cidusula 3° prevé um minimo de 10 anos de efetivo servigo prestado, como ao) para beneficiar do Fundo de Pens6es do Porto de Luanda Por conseguinte, os eréditos reclamados so legitimos e, nos termos do artigo 732 da anterior LGT, pode o Porto de Luanda ser demandado, sendo, por isso, parte legitima na acglo principal, uma vez que, na qualidade de titular do fundo de pensées, tem certamente interesse em contradizer, Z: B) DO DIREITO AO FUNDO DE PENSOES Um fundo de pensSes € um patriménio auténomo que se destina a exclusivamente ao financiamento de um ou mais planos de pensOes. \ oak ( fundos de pensdes podem ser abertos ou fechados. YOR Sto fechados os que dizem respeito apenas a um associado, ou existindo virios associados, exista um vinculo empresarial associativo, profissional ow social entre os mesmos. © Decreto n.° 25/98, de 7 de Agosto, aprova e regulamenta a criacdo ¢ funcionamento des Fundos de Pensbes, como complemento do sistema de seguranga social. ‘Trata-se, assim, de planos de pensbes, que mais nfo sto do que programas que definem as cendiedes em que se constitui o direito ao recebimento de Juma pensio a titulo de reforma por velhice, invalidez ou sobrevivéncia, A constituigio de um fundo de pensbes esti sujeita, a titulo prévio, & autorizagao do Ministro das Financas, No presente caso, temos um fundo fechado, ou seja, apenas adstrito aos trabathadores do Porto de Luanda, ndo contributivo, sendo © Porto de Luanda 0 Ginico financiador, nos termos do n.° 2 do artigo 2.°, do ANEXO I ‘a0 contrato de Constituigo do Fundo de Pensdes do Porto de Luanda, aprovado pelo Despacho n.° 125/04, de 15 de Junho, do eto Ministro das Finangas. [Nos termos da classula 2.* do Despacho n.° 125/04, 0 fundo foi constituido ‘como plano de pagamento de prestacdes complementares de reforma por velhice, reforma antecipada e subsidio por morte. Sendo que, a cléusula 3° dispde que s4o partcipantes do fundo todos os fe imho Asoc un comer do memo, wan Juma relasao juridica de emprego ou que, até extingto deste, venham a, encontrar-se nessa stuaelo, com um minimo de 10 anos de servigo continuo cfectivamente presado, Yoh ‘Na verdade, house uma mudanca de empregador, no entanto, & data da ‘concretizacio de tl mudanca, jé os trabalhadores abrangidos pelo Contrato de concessio haviam completado mais de 10 anos de servigo efeetivo como trabalhadores do Porto de Luanda, estando, assim, claramente habilitados a beneficiar do Fundo de Pensoes do Porto de Luanda. Nio pode tal rélito ser exigido ao novo empregador,tnica esimplesmente por forga do regime previsto nos artigos 71." e 72°, da Lei n.° 2/00, de 11 de Fevereiro, Lei Geral de Trabalho (LGT) em vigor & data dos factos, quando © artigo 73° da anterior LGT, particularmente o n.°3, vem especificamente para acautelar situapoes desta natureza, ja que é claro que a UNICARGAS, enquanto novo empregador, no poder assumir tal encargo, porque, em primeiro lugar, no tem autonomia para tal, uma vez que, como referido, criago de um furdo de pensbes carece de autorizacio prévia do Minit das Finangas. Assim, conclui este Tribunal que os Recorrentes sio beneficidrios efectivos do Fundo de Penstes do Porto de Luanda ‘No entanto, ¢ porque o Fundo assim o define, uma vez preenchidos os 7: requisitos para beseficar do fondo, a saber, um minimo de 10 anos de servigo fective prestado, & necessirio que os beneficiétios estejam i—A situagdo de rforma por velhiee,reforma antecipada ou em caso de more Oe indemnizacao, mas tao somente de reconhecimento do direito ao fundo, de { i sen gotta ra eons ce A sm thems cc 08 en ex de moe, me eer 0 hs es ae ee a ‘estes termos, o Tribunal Constitucional conclui que efectivamente 0 acérdao recorrido violou o principio da legalidade, assim como o diteito dos Recorrentes a um julgamento justo e conforme & lei, na medida em que foi feita uma interpretagdo dos artigos 71.", 72.°e 73.°, da Lei n° 2/00, de LI de Fevereiro, Lei Gel de Trabalho, LGT, em vigor a data dos factos, contréria 20 espirito € Ieta da lei, extravertendo o instituto da mudanga de cempregador, deixindo desamparada a parte mais vulnerdvel da relagao laboral, mormente os trabathadores. DECIDINDO estes Termos, Tudo visto ¢ porderado, acordam em Plendrio, os Juizes do Tribunal Constitucional em: SB. Prarine slo re LAE Meeudko, da ao jacitfe Ss de & Boy x LAD Pi Sone a MS Sem Custas (nos termos do artigo 15.° da Lei n.? 3/08, de oe 40 Processo Constiucional). Nouifique ‘Tribunal Constitucional, em Luanda, aos 25 de Dezembro de 2020 (Os Juizes Consetheiros Dr-* Guilhermina Prata (Vice Presidente) - Relatora Dr. Catlos Burity da Sik Dr. Carlos Magalies. 7 csr y —— ‘Dr* Josefa Antonia dos Santos Neto i dos Seton bly Dr.* Maria da Conceicto Almeida Sango M(x Dr. Simo de Sousa oe De* Viera Mamel da Siva ata Vices)

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