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CARTILHA g 4 Hated Ney Xo) i SUMARIO mum APRESENTACAO em © QUE E QUILOMBO ees DIREITOS QUILOMBOLAS PROBLEMA DO RACISMO AMBIENTAL NAS COMUNIDADES REMANESCENTES QUILOMBOLAS; gems QUAL A IMPORTANCIA DA CERTIFICAGAO - PROGRAMA BRASIL QUILOMBOLA ~ PROGRAMA MARANHAO QUILOMBOLA = PASSO A PASSO PARA CERTIFICACAO- ques AGRADECIMENTOS 05 1 18 eat Col oe ee) i APRESENTAGAO Caro leitor, A baixada maranhense conta com uma grande populagao. negra em situagdo social de vulnerabilidade, Contabiliza-se mais de cinquenta comunidades tradicionais de remanescentes quilombolas. Dentre elas, muitas ndo tém acesso a direitos sociais basicos. As lutas por igualdade, que permeiam a histéria humana, construiram ao longo do tempo marcos normativos de enfrentamento 4 discriminagdo. Por sua vez, a ConstituigGo Federal de 1988, prevé em seu artigo 39, IV, o dever de promogao do bem estar de todos, sem preconceitos de origem, raga, Sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminagGo, que se estende a todas as insténcias publicas e privadas do pais. “Quilombo eu Sou" é um projeto de extensdo universitaria, onde os alunos visitam as comunidades e executam trabalhos de pesquisas com intervengdo através de agdédes sociais, atendimento juridico, e confec¢géo de cartilhas. Ele nasceu com intuito de aproximar a academia cientifica da comunidade, possibilitando a melhoria na qualidade de vida ambiental das comunidades reconhecidas e ndo reconhecidas, Oficialmente como remanescentes quilombolas. E salutar mencionar que © primeiro passo para a comunidade quilombola ter acesso ds politicas puiblicas e a mesma ser reconhecida pelo Estado Brasileiro, portanto deixamos nossa contrilbuigGo para que as comunidades possam alcangar o éxito no reconhecimento e na garantia por justiga social. Registre-se que essa cartilha é fruto de pesquisas sobre o minimo existencial ambiental realizados pelos alunos de Direito da Faculdade Supremo Redentor, coordenados pela idealizado- ra do projeto, Saile Azevedo da Cruz, e a Professora Pamela Suen Fonseca Mineiro Pereira, com ajuda de parceiros e apoiadores da igualdade racial. Saile Azevedo da Cruz Prot Me. Meio Ambiente. i O QUEEO QUILOMBO A primeira conceituagdo de quilombo na administragao colonial ocorreu em 1740. E quem a fez foi o Conselho Ultramarino Portugués. A palavra quilombo vem do idioma banto, sendo uma referencia a “guerreiro da floresta". Para esta instituigdo, o quilombo era: “toda a habitagdo de negros fugidos que passem de cinco, em parte desprovida, ainda que ndo tenham ranchos levantados nem achem pil6es neles". O artigo 68 da nossa Constituigao Federal provoca as comunidades interessadas a busca pelos conceitos adequados do quilombo, instaurando, assim , os critérios para se conceituar quilombo, de modo que a maioria dos grupos que hoje, efetivamente, reivindicam a titulagGo de suas terras, pudesse ser contemplada por esta categoria, uma vez demonstrada, por meio de estudos cientificos, a exist6ncia de uma identidade social e étnica por eles compartilhada, bem como a antiguidade da ocupagGo de suas terras e, ainda, suas 'prdticas de resisténcia na manutengGo e reprodugdo de seus modos de vida caracteristicos num determinado lugar" Cfe. OLIVEIRA & ODWYER, 1994. ‘a situagGo presente dos segmentos negros em diferentes regiées e contextos e é utilizado para designar um legado, uma heranga cultural e material que Ihe confere uma referéncia presencial no sentimento de ser e pertencer a um lugar especifico’. GARCIA, in: ANDRADE (1997.47). Dessa forma, © que se pode esclarecer € que no moderno conceito antropolégico, a condigdo de remanescente de quilombo é também acentuada de forma dilatada e enfatiza os elementos identidade e territério. Ha, em nossa ConstituigGo Federal o reconhecimento dos quilombos como uma forma de organizagdo social com caracteristicas préprias no uso das terras, em razGo dos seus costumes, tradigdes e condigdes sociais que diferenciam esses grupos dos demais existentes na comunidade nacional. Por fim, € necessdrio enfatizar que para considerarmos atualmente uma comunidade como remanescentes de quilombos precisamos observar diversos fatores que que abarcam as fugas com ocupagdo de terras livres e geralmente isoladas, mas também as herangas, doagées, recebimento de terras como pagamento de servigos prestados ao Estado, a simples continuagdo nas terras que ocupavam e cultivavam no interior das grandes propriedades, bem como a compra de terras, tanto durante a vigéncia do sistema escravocrata quanto apés a sua extingGo. Prof. Saile Azevedo da Cruz : DIREITOS QUILOMBOLAS A ConstituigGo Federal de 1988, por meio do seu artigo 68, pode ser considerado um grande marco na luta pelos direitos quilombolas. Foi a primeira constituigao a garantir os direitos dos quilombolas em ter as suas terras e organizagées preservadas por lei. “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-Ihes os titulos respectivos". O pleno exercicio dos seus direitos culturais e sociais, ao entender a cultura como uma forma de criar, fazer e viver das comunidades tradicionais é assegurado pela CF de 1988. O Decreto ne 4,887, que visa garantir, alm da posse de terras, uma melhor qualidade de vida aos quilombolas. O documento dispde sobre o direito desses povos em ter acesso a servicos essenciais como educagGo, satide e saneamento. Também trata sobre a regulamentagdo da titulagGo das terras dos quilombolas e pode ser considerado um marco para os direitos dos quilombolas por reconhecer o direito de auto-atrilbuigGo desse grupo étnico-racial. © Decreto gerou discusses no mundo juridico e legislativo sobre a sua validade. Até que em 2018, o Supremo Tribunal Federal garantiu por maioria dos votos a constitucionalidade do Decreto. A ConstituigGo de 1988 foi um divisor de Gguas nesse sentido, pois possibilitou o processo de regularizagado das terras de quilombos. Fazendo com que atualmente a preservagdo das suas culturas, costumes e tradigées seja garantida como um direito fundamental dos povos quilombolas. A conquista desses direitos representa uma vitéria a esse grupo étnico-racial que por muito tempo sofreu nado apenas com aescraviddo, mas com as perseguigées e invasdes ds suas terras. Prof. Saile Azevedo da Cruz Prof. Pamela Suen Fonseca Mineiro Pereira O PROBLEMA DO RACISMO AMBIENTAL NAS COMUNIDADES REMANESCENTES QUILOMBOLAS Os impactos ambientais ndo ocorrem de forma igual entre as populagées. O racismo ambiental é a discriminagdo que populagées periferizadas ou compostas de minorias étnicas sofrem através da degradagdo ambiental. Os estudos certificam que uma parcela marginalizada e historicamente invisibilizada é a mais, inevitavelmente, afetada pela poluigGo e degradagdo ambiental. E notdvel, que as comunidades quilombolas apresentam forte integragao com o ambiente, ndo de hoje, mas desde a colonizagdo destas terras, no qual estdo inseridas, e para isto o uso dos bens naturais englobam a “exploragao econémica dos recursos naturais, assim como também revelam a existéncia de um complexo de conhecimentos adquiridos pela tradigGo herdada dos mais velhos, de mitos e simbologias que levam a manutengdo e ao uso sustentado dos ecossistemas naturais" (DIEGUES, 2008). Diante de tais afirmagées observa-se que os desafios enfrentados por essas comunidades vGo muito além de legislagdes articuladas que prezam pela conservagdo de suas terras, culturas e do meio ambiente, mas também que sejam efetivamente concretizadas dentro e fora de forma eficaz para garantir os direitos destas comunidades. Oacesso desigual 4 agua potavel e ao saneamento basico, a localizagdo de instalagdes poluidoras e de alto risco em Greas habitadas por negros e uma maior exposigGo aos riscos de desabamentos e de contaminagdo por residuos téxicos, € o cendrio de desigualdade racial verificado, principalmente, em relagGo ds comunidades quilombolas. Em visitas as comunidades localizadas em seis municipios da baixada maranhense percebeu-se uma dramdtica luta pelos direitos a Ggua potdvel, a educagdo e satide de qualidade. Percebe-se facilmente que existe uma luta incansdvel para superar as mazelas do racismo e conseguir a regularizagao da posse das terras em que vive. Além de todos esses problemas, notou-se em nossas pesquisas que o conflito possessério é algo comum em terras das comunidades mencionadas, adite-se aos desmatamentos e ataques violentos. Nota-se que tais atos arbitrarios acontecem, em sua maioria, por falta de seguranga publica e desinformagado. Saile Azevedo da Cruz Prof. Me. Direito Ambiental Carlos Viana Pimentel Estudante de Direito da FACSUR i QUAL A IMPORTANCIA DA CERTIFICACAO E perceptivel que por algumas comunidades ainda néo serem certificadas ou terem documentagdo que Ihes garanta ao efetivo direito, estas comunidades sofrem duplamente com ages de reintegragdo de posse, judicializagdo de processos e com isso muitas comunidades ficam de fora de outras politicas publicas extremamente importantes para o seu desenvolvimento, Existem projetos e verbas direcionadas as mesmas pelas quais s6 podem ser realizadas através da comprovagdo deste direito como bem regulamenta as Disposigées Constitucionais Transitérias. E salutar mencionar que o primeiro passo para a comunidade quilombola ter acesso as politicas puiblicas € a mesma ser reconhecida pelo Estado Brasileiro. Nas prdximas linhas, falaremos sobre alguns programas de politicas publicas. - PROGRAMA BRASIL QUILOMBOLA O Programa Brasil Quilombola compreende um conjunto de agées, denominada "Agenda Social Quilombola" (Decreto n° 6261/2007), voltadas para a melhoria das condigdes de vida e ampliagGo do acesso a bens e servigos puiblicos das pessoas que vivem em comunidades de quilombos no Brasil. Essas agdées sGo desenvolvidas de forma integrada pelos diversos érgaos do Governo Federal responsdaveis pela execug¢ao dessas agdes. Eixo 1: Acesso a Terra — execugdo e acompanhamento dos trGmites necessdrios para a regularizagdo fundidria das areas de quilombo, que constituem titulo coletivo de posse das terras tradicionalmente ocupadas. Eixo 2: Infraestrutura e Qualidade de Vida — consolidagdo de mecanismos efetivos para destinagdo de obras de infraestrutura (habitagdo, saneamento, eletrificagdo, comunicagdo e vias de acesso) e€ construgdo de equipamentos sociais destinados a atender as demandas, notadamente as de satide, educagGo e assisténcia social. Eixo 3: InclusGo Produtiva e Desenvolvimento Local — apoio ao desenvolvimento produtivo local e autonomia econémica, baseado na identidade cultural e nos recursos naturais presentes no territdrio, visando a sustentabilidade ambiental, social, cultural, econémica e politica das comunidades. Eixo 4: Direitos e Cidadania - fomento de iniciativas de garantia de direitos promovidas por diferentes érgdos puiblicos e organizagées da sociedade civil, estimulando a participagdo ativa dos representantes quilombolas nos espagos coletivos de controle e participagdo social, como os conselhos e féruns locais e nacionais de politicas puiblicas, de modo a promover o acesso das comunidades ao conjunto das agées definidas pelo governo e seu envolvimento no monitoramento daquelas que sdo implementadas em cada municipio onde houver comunidades remanescentes de quilombos. Eixo 1; Regularizagdo Fundidria © Ministério, por intermédio da Secretaria Nacional de Politicas de Promogdo da Igualdade Racial, tem transferido recursos para o Instituto Nacional de Colonizagéo e Reforma Agraria (INCRA), ao qual compete a_ identificagdo, o reconhecimento, a delimitagdo, a demarcagao e a titulagdo das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, com o objetivo de realizar transfer&ncia de recursos que tenham por finalidade promover a regularizagdo fundidria de territérios quilombolas. Eixo 2: Fomento ao acesso a dgua Por meio desse investimento, as comunidades quilombolas tém sido atendidas pelo Programa com capacitagao para operagdo e na construgdo de cisternas nas comunidades localizadas em regiées de dificil acesso a Agua de qualidade. Eixo 3: Oportunidade para todos O Projeto “Oportunidade para todos" tem por objetivo a capacitagGo em empreendedorismo e cooperativismo e o aprimoramento de técnicas de agricultura familiar, para que os povos tradicionais possam, a partir dos conhecimentos adquiridos, desenvolver atividades produtivas que gerem trabalho e renda, promovendo igualdade étnico-racial e, ao mesmo tempo, preservando suas tradigées culturais. Esse projeto é realizado por meio de recursos préprios da Secretaria Nacional de Politicas de Promogdo da Igualdade Racial e com recursos de Emendas Parlamentares destinadas para sua execugdo. Eixo 4: Censo Demografico O Ministério, por intermédio da Secretaria Nacional de Politicas de Promogdo da Igualdade Racial, tem buscado trocar dados e informagées cadastrais com o IBGE, visando a facilitagGo da operagdo do Censo Demogrdfico 2021 nos territorios quilombolas e o mapeamento da realidade das comunidades remanescentes de quilombos. Fonte: Site Governamental - PROGRAMA MARANHAO QUILOMBOLA Instituido pelo Decreto Ne 30981 de julho de 2015, tem suas agdes pautadas na implementagdo de estratégias e agdes que garantam melhores condigdes de vida & populagdo quilombola. Suas agdes sGo executadas atraves de parcerias entre a SEIR e as secretarias e érgdo do governo estadual, com os demais entes federados e ou a iniciativa privada. O programa realiza agdes em municipios com comunidades quilombolas e se organiza a partir dos eixos de: acesso a terra, infraestrutura, desenvolvimento local e inclusGo produtiva, satide e educagdo. Sdo estratégias para a implementagdo: as Rotas Quilombolas, o Selo de Origern Quilombos do Maranhdo e a Caravana Maranhdo Quilombola. Fonte: Site Governamental ~ PASSO A PASSO PARA CERTIFICACAO O reconhecimento de uma comunidade como tradicional remanescente quilombola é realizada pela Fundagdo Palmares. Quais documentagdes de acordo com a Portaria FCP_n° 57, de 31/03/2022: Modelo Em reunido realizada dia L L na Localidade de , do Municipio de Pinheiro-MA, nés da Comunidade , com base na histéria comum, nos testemu- nhos dos moradiores e na memédria imaterial e material da comu- nidade que somos Remanescentes de Comunidade Quilombola A comunidade se originou de —$_ historia da comunidade) , por isso requeremos do presidente da Fundagéo Cultural Palmares que autorize a certidGdo de autodefinigGo e o registro no cadastro geral de Remanescentes. Nesses termos, Pede e Espera deferimento Assinatura dos Membros da comunidade. 3 [Fer Tp ooo Nesse Terceiro passo € necessdrio conter o maximo de informagdes que podem ser colhidas com os mais antigos. Documentos: 1. Fotos; 2. Relatos das manifestagdes culturais religiosas; 3. Estudos; 4, Reportagens; 5. Registro dos objetos antigos. A ata da reuniGo deve ser especifica para tratar da autodefinigao. U i U AGRADECIMENTOS Agradego a Deus, em primeiro lugar, que nos proporcionou satide e forga, e nos conduziu as terras, por vezes de dificil acesso. Agradego aos Professores Pamela Suen Fonseca Mineiro Pereira e Matheus Silva Alves, Coordenador de ExtensGo, por toda parceria, e todo empenho. Agradeg¢o a Diregado Académica por todo o apoio. Agradego a Bianca Kelly Ribeiro Machado, Secretaria Municipal de Direitos Humanos, Familia e Mulher de Pinheiro-MA, e seu Assessor Especial Ryermerson Pereira Martins por toda parceria na luta pelas politicas puiblicas de igualde racial no Municipio de Pinheiro. Agradego ao Instituto Ambiental PericumG pela disponibilidade e contribuigGo nas pesquisas. Agrtadego a todos os lideres de comunidades remanescentes quilombolas, que sempre demonstraram disposigGo e solicitude nos trabalhos e pesquisas, e aqui registro a minha profunda admiragao pelo Sr. Raimundo Aldo Costa, lider da comunidade Santana dos Pretos, por ser nosso principal interlocutor com as comunidades, e por ser um acervo vivo da cultura quilombola. Agradego ao Professor Carlos Pimentel, historiador e também aluno desta IES, por todo conhecimento dispensado, e por fim a todos os meus alunos que entenderam o verdadeiro sentido, e importancia da extensGo e pesquisa para a obtengcdo do conhecimento, e para mudanga da realidade das comunidades locais. Saile Azevedo da Cruz Prof. Me. Meio Ambiente. U ll JJ QUEM SOU? Quem eu sou? Somos em tomo de cinco mil novecentos e noventa e dois territorios Quem eu sou? Eu Sou terra Terra de preto Sempre fui desejada Com a nova ConstituigGo. Hoje sou certificada. Dificil caminho, Quase impossivel? Era longe e escura, era inacessivel Se esconder? Ou se encontrar? quando eu trilhava s6 queria lutar E quando me perguntam quem eu sou Eu digo Sou alivio em meio a dor Quem eu sou? Eu fui sangue no navio Desapego Luta turbulenta Hoje eu sou marca Hoje sou resistencia Quilombo Eu Soi Quem eu sou? Sou danga Tambor que contagia Eu sou cores ‘Sou sortiso Sou alegria Quem eu sou? Eu fui comércio Fui moeda de troca Servo da minha missGio Escravo das minhas dores E quando me perguntam quem eu sou, com orgulho respondo Eu Sou Quilombo Quilombo Eu Sou Sou terra de preto meu amor. Respeita a minha historia, Respeita minha dor Eu sou origem, sid! Sato Awa do Cay Realizagdo: FA IR FACULDADE SUPREMO REDENTOR

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