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TTT} 9 opeayiubis op PTT CEU TEs | 6 O1NLIdv9 apresentacao CHRISTIAN NORBERG-SCHULZ . 0 FENOMENO D0 LUGAR O nome do teérico noruegués Christian Norberg-Schulz esté intimamente ligado @ adocdo de uma fenomenologia da arquitetura. Desde os primeiros estudos re- alizados na década de 1960 até seu livro Architecture: Meaning and Place (1988) Norberg-Schulz vem desenvolvendo ume interpretaggo textual e pictérica das ideias de Martin Heidegger (1889-1976), baseando-se sobretudo no ensaio do fi- lésofo alemSo “Construir, habitar, pensar”. Em intentions in Architecture (1963), Norberg-Schulz usou a linguistica, a psicologia da percepcdo (Gestalt) e a fenome- nologia para construir uma teoria abrangente da arquitetura. A obra foi publicada pouco an- tes do livio de Robert Venturi Complexidade e contradicao na arquitetura, outro importan- tissimo texto pos-moderno, Os ultimos livros de Norberg-Schulz evidenciam seu interesse crescente pela fenomenologia. A fenomenologia, definida inicialmente por Edmund Husserl (1859-1938) como uma investigago sistemética da consciéncia e seus objetos,' 6 entendida por Norberg- Schulz como um “método” que exige um “retorno as coisas’, em oposigao as abs- tragdes e construgdes mentais”. Na época em que este ensaio foi publicado, poucos esforgos haviam sido empreendidos para estudar 0 ambiente do ponto de vista feno- menolégico. Norberg-Schulz identifica o potencial fenomenolégico na arquitetura como a capacidade de dar significado ao ambiente mediante a criagao de lugares especificos. 0 teérico introduz a antiga nogéo romane do genius loci, isto 6, a ideia do espirito de um determinado lugar (que estabelace um elo com o sagrado), que cria um “outro” ou um oposto com © qual a humanidade deve defrontar a fim de habitar. Ele interpreta © coneeito de habitar como estar em paz num lugar protegido. Assim, ocercamento, 0 ato de demarcar ou diferenciar um /ugar no espaco se converte no ato arquetipico da construgao e a verdadeira origem da arquitetura. O autor sublinha a importancia de certos elementos arquitetonicos bésicos, como parede, chao ou teto, percebidos como horizontes, fronteiras © enquadramentos da natureza. A arquitetura torne clara @ localizagao da existéncia dos homens, que, na definigéo de Heidegger, esté entre o céu @ a terra, em face dos seres divinos. Fenomendlogos como Vittorio Gregotti também aludem a necessidade de que 0 local da construgée intensifique, condense & indique com exatidao a estrutura da natureza e como o homem a percebe (cap. 7). A celebra- G80 de determinados atributos do lugar também 6 fundamental no regionalismo critico de Kenneth Frampton (cap. 11) Além do foco no sitio, a fenomenologia abrange a tecténica, porque, No dizer de Nor- berg-Schul, “o detalne explica o ambiente e manifesta sue qualidade peculiar” (caps. 10 € 12), Por causa dessa invocagio do local e da tectdnica, @ fenomenologia se afirmou como influente escola de pensamento entre alguns arquitetos contemporaneos, como Tadao Ando, Steven Holl, Clark e Menefee, ¢ Peter Waldman. Ela despertou um novo interesse nas qualidades sensoriais dos materiais, da luz, da cor, bem como na importéncie simbé- lica e tatil das jungdes. Esses aspectos contribuem para realcar a qualidade postica que na opinido de Heidegger 6 essencial para o habitar. Norberg-Schulz, levado por sus grande admiragao por Robert Venturi, identifica-o equivocedamente com a fenomenologia, por causa do interesse recente do arquiteto na “parede entre o interior @ 0 exterior”. Depois de Aprendendo com Las Vegas, restam pou- cas duividas de que Venturi e seus colaboradores esto mais interessados na superficie (0 “galpao decorado”) do que em questées espaciais, como lugares delimitados. 1. Anthony Flew, A Dictionary of Philosophy, 2.64. revisada. Nova York: St. Martin’s Press, 1984, p. 187. CHRISTIAN NORBERG-SCHULZ O fenémeno do lugar Nosso mundo-da-vida cotidiana consiste em “fendmenos” concretos. Compée-se de pessoas, animais, flores, arvores ¢ florestas, pedra, terra, madeira e agua, cidades, ruas e casas, portas, janelas e mobiias. E consiste no sol, na lua e nas estrelas, na passagem das. nuvens, na noite ¢ no dia, e na mudanga das estagdes. Mas também compreende fend- menos menos tang{veis, como os sentimentos. Isto é, 0 que nos é “dado” € 0 “contetido” de nossa existéncia. Rilke escreveu: “Quem sabe nao estamos aqui para dizer: casa, ponte, fonte, portio, jarra, arvore frutifera, janela, ~ no maximo, pilar, torre”." Tudo 0 mais, sejam dtomos e moléculas, numeros e todos os tipos de “dados”, sio abstragdes ou ferramentas construidas para atender a outros propésitos que nao a vida cotidiana. Atualmente, é muito comum confundir as ferramentas com a realidade. As coisas concretas que constituem nosso mundo dado se inter-relacionam de modo complexo e talvez contraditério. Alguns fenémenos, por exemplo, podem compreender outros. A floresta compée-se de drvores e a cidade é feita de casas. A “paisagem” é um fendmeno muito abrangente. De maneira geral, pode-se dizer que alguns fendmenos formam um “ambiente” para outros. Um termo concreto para fa- lar em ambiente é lugar. Na linguagem comum diz-se que atos e acontecimentos tém lugar. Na verdade, nao faz o menor sentido imaginar um acontecimento sem referén- cia a uma localizagao. E evidente que o lugar faz parte da existencia. Entdo, 0 que se quer dizer com a palavra “lugar”? E claro que nos referimos a algo mais do que uma localizagao abstrata. Pensamos numa totalidade constitufda de coisas concretas que A actos 208 indo dade isopee de vis sca do home ‘eed uma sada zig foi concet Scales mentas, P "lag psicolo “cea do Aare 4 a, x Seg... Min Na “ge nn a Gy Y, 2g het 0 do lig iste em “fendiens” cus! tas, pedra ter maine ste no sol na uaemseoo# a das eure Mote? nentos. [sto 404% ' Quem sabe 280 ee er, ane a w astgo" rs ¢ todos ie” possuem substancia material, forma, textura e cor. Juntas, essas coisas determinam uma “qualidade ambiental” que é a esséncia do lugar. Em geral, um lugar é dado como esse caréter peculiar ou “atmosfera”. Portanto, um lugar é um fendmeno qualitativo “total”, que nao se pode reduzir a nenhuma de suas propriedades, como as relacoes espaciais, sem que se perca de vista sua natureza concreta. Acexperiéncia didria nos diz, ademais, que agdes diferentes exigem ambientes dife- rentes para que transcorram de modo satisfat6rio. Em consequéncia disso, as cidades @ as casas consistem em uma multiplicidade de lugares. E claro que as teorias corren- tes da arquitetura e do planejamento levam em consideragao esse fato, mas até aqui o problema tem sido tratado de modo excessivamente abstrato, Geralmente se entende “ter lugar” num sentido quantitativo e “funcional”, com implicages que remetem 20 dimensionamento e & distribuigao espacial. Mas as’ “fungdes” nao sdo inter-humanas e similares em toda parte? E evidente que nao. Fungées “similares”, mesmo as mais basicas como dormir e comer, se dio de diferentes maneiras e requerem lugares que possuem propriedades diversas, de acordo com as diferentes tradigées culturais e as diferentes condi¢6es ambientais. Dessa forma, a abordagem funcional deixou de fora o lugar como um “aqui” concreto com sua identidade particular. Sendo totalidades qualitativas de natureza complexa, os lugares nao podem ser definidos por meio de conceitos analiticos, “cientificos”, Por uma questao de prin- cfpio, a ciéncia “abstrai” o que é dado para chegar a um conhecimento neutro e “ob- jetivo”. No entanto, isso perde de vista 0 mundo-da-vida cotidiana, que deveria ser a verdadeira preocupacao do homem em geral e dos planejadores e arquitetos em Particular* Felizmente, hd uma saida para o impasse, 0 método chamado de fenome- nologia. A fenomenologia foi concebida como um “retorno as coisas” em oposicao a abstragoes ¢ construgdes mentais. Por enquanto, os fenomendlogos tém se ‘ocupado Principalmente da ontologia, psicologia, ética e, em certa medida, da estética, e deram Pouca atengao a fenomenologia do ambiente cotidiano, Existem algumas obras pio- neiras que, no entanto, fazem escassas referéncias diretas a arquitetura.’ Uma fenome- nologia da arquitetura é, portanto, urgentemente necesséria. Alguns filésofos que abordaram o problema do mundo-da-vida usaram a lingua- Bem e a literatura como fontes de “informagoes. Na realidade, a poesia & capaz de concretizar as totalidades que escapam a ciéncia e, por isso, 6 capaz de sugerir como se deveria proceder para obter a necesséria compreensio, Um dos poemas usados Por Heidegger para explicar a natureza da linguagem € 0 magnifico “Uma noite de inverno”, de Georg Trakl.‘ As palavras de Trakl também servem aos nossos propésitos Por apresentarem uma situacao de vida total em que 0 aspecto do lugar ¢ fortemente sentido: Uma noite de inverno Quando a neve cai na janela E08 sinos noturnos repicam longamente, A.mesa, posta para muitos, Eacasa esta bem preparada, HE quem, na peregrinagao, Chegue ao portal da senda misteriosa, Florescéncia dourada da arvore da misericérdia, Da forga fria que emana da terra. O peregrino entra, silenciosamente, Na soleira, a dor petrifica-se, Entio, resplandecem, na luz incondicional, Pao e vinho sobre a mesa. Nao pretendo reproduzir a penetrante anilise de Heidegger sobre o poema, mas apenas chamar a atengao para umas tantas propriedades que iluminam o tema deste ensaio, Em geral, ‘Trak! emprega imagens concretas que todos conhecemos a partir da vida co- tidiana. Ele fala de “neve”, “janela”, “casa”, “mesa”, “porta”, “arvore”, “soleira”, “pao e vinho”, “escuridao” e “luz” e define 0 homem como um “peregrino”. Mas essas ima- gens trazem implicitas estruturas mais gerais. Em primeiro lugar, 0 poema distingue entre um lado de fora e um lado de dentro. O lado de fora é apresentado nas duas primei- ras linhas da primeira estrofe e compreende tanto elementos naturais como fabricados pelo homem. O lugar natural est presente na neve caindo, que sugere o inverno, e na referéncia ao anoitecer. O préprio titulo do poema “situa” tudo nesse contexto natural. Mas um anoitecer de inverno nao ¢ apenas um ponto no calendario. Presenga concreta, também é vivido como um conjunto de qualidades, ou, em geral, como um Stimmung, um “temperamento ou cardter”, que forma o pano de fundo dos atos e acontecimentos. No poema, essa qualidade est presente na neve fria, gelada, macia, silenciosa, que bate na janela e esconde 0 contorno dos objetos ainda reconheciveis no lusco-fusco. A pala- vra “cai” induz ainda a uma impressao de espaco, ou melhor, a sugestao da presenca da terra e do céu, Com um minimo de palavras, Trakl da vida a todo um ambiente natural. Mas 0 exterior, o lado de fora, também possui propriedades criadas pela mao do ho- mem. Lé est 0 sino que toca ao anoitecer, ouvido em toda parte, que torna 0 “lado de dentro”, 0 “privado”, parte de uma totalidade “publica” abrangente. O sino vespertino, entretanto, € mais que um artefato pratico, é um simbolo, que relembra os valores co- muns nos quais se fundamenta essa totalidade. Como diz Heidegger, “o repicar do sino ao anoitecer chama os homens, como mortais, 4 presenga do divino”.* Os dois versos seguintes apresentam 0 “lado de dentro”, descrito como uma casa que dé abrigo e seguranga por ser fechada e “bem-preparada”, Mas ha uma janela, seed’ € ose singrasdeira que 0 bf dumina alguns supnpriedades fur Stuns tempo lo bateun local, um ‘sg getais, as “tema concreting p on e transfor ag, tt Com i Pais, Soe win Tall fg uma abertura que nos faz sentir o interior como complemento do exterior. Dentro da casa hé um ultimo ponto focal, a mesa que esté “posta para muitos”. Em torno da ‘mesa, as pessoas se retinem; ela ¢ o centro, e mais que qualquer outra coisa constitu o“de dentro”. Nao se diz muito sobre caréter desse interior, mas de todo modo ele estd presente. Sabemos que € iluminado e célido, e contrasta com o frio e 0 escuro do lado de fora, e seu siléncio é prenhe de sons latentes. De modo geral, o interior € um mundo de coisas compreensfveis, onde a vida de “muitos” tem lugar. ‘As duas estrofes seguintes aprofundam a perspectiva. Aqui sobressai o significado dos lugares e das coisas, e o homem é apresentado como um peregrino que chega pela “senda misteriosa”. Em vez de ficar na seguranca da casa que fez para si mesmo, ele vem de fora, do “caminho da vida”, que também representa a tentativa do homem de “orientar-se” num ambiente desconhecido dado. Mas a natureza tem um outro lado: ela oferece a graca do crescimento e da florescéncia. Na imagem da arvore “dourada”, terra e céu se unem formando um mundo. Pelo labor do homem 0 mundo é trazido para o interior como pao e vinho, por meio dos quais 0 interior se “ilumina”, isto 6, adquire significado. Nao fossem os frutos “sagrados” do céu e da terra, o interior estaria “vazio”. A casa e a mesa recebem e retinem, e trazem o mundo para “perto”. Habitar uma casa significa habitar 0 mundo. Mas esse habitar nao € facil, tem de ser al- cancado por caminhos escuros e uma soleira separa o dentro do fora. Representando a “brecha” entre a “alteridade” e o sentido manifesto, a soleira concretiza a dor que “se petrifica”, Assim, é na soleira que o problema do habitar se torna presente.’ © poema de Trak! ilumina alguns fendmenos essenciais de nosso mundo-da-vida e, em particular, as propriedades fundamentais do lugar. Primeiramente, ele indica que toda situacao é a um s6 tempo local e geral. O anoitecer de inverno que 0 poema descreve ¢ obviamente um local, um fendmeno nérdico, mas as sugestdes de um “in- terior” e um “exterior” so gerais, assim como os sentidos relativos a essa distingao. Dessa forma, o poema concretiza propriedades bisicas da existéncia, Falo aqui em “concretizar” no sentido de transformar aquilo que € genérico, “visivel”, isto é, em uma situagao local, concreta. Com isso 0 poema se move numa diregao oposta & do pensamento cientifico, pois, enquanto a ciéncia parte do “dado”, a poesia nos remete as coisas concretas, desvendando os sentidos inerentes ao mundo-da-vida.* Além disso, o poema de Trakl faz uma distingdo entre elementos naturais ¢ elemen- tos fabricados pelo homem, com 0 que sugere um ponto de partida para uma “feno- menologia do ambiente”. Os elementos naturais sao, evidentemente, os componentes principais do dado, e os lugares costumam ser definidos em termos geogrificos. Cabe insistir, porém, que “lugar” significa mais do que uma localizagio. A literatura atual so- bre a “paisagem” contém varias tentativas de descrigdo de lugares naturais, mas essa prética usual nos parece, mais uma vez, excessivamente abstrata, porque se baseia em considerag6es “funcionais”, ou mesmo “visuais”.” Precisamos mais uma vez recorrer a a7 ajuda da filosofia. Heidegger estabelece uma primeira distingao fundamental entre os conceitos de “terra” ¢ céu”, quando afirma: “A terra & que sustenta servindo, flores- cendo e dando frutos, espalhando-se em rochedo ¢ 4gua, abrindo-se em plantas e ani- mais [...] O céu é 0 caminho arqueado do sol, o curso das varias luas, da cintilagao das estrelas, das estacdes do ano, da luz e do creptisculo do dia, das sombras ¢ dos clardes da noite, da cleméncia e da incleméncia do tempo, das nuvens errantes ¢ do azul pro- fundo do espago celeste [...]”.!° Como muitos achados fundamentais, a distingao entre terra e céu pode parecer trivial. Mas sua importincia se revela quando acrescentamos a definigo de Heidegger do “habitar”: “O modo como vocé é, eu sou, 0 modo como 0s homens sdo na terra, é habitar (...]”. Mas“na terra” jé traz em si o sentido de“sob 0 céu”.!! Heidegger também chama de mundo 0 que fica entre a terra e 0 céu,¢ diz. que“o mundo é a casa onde habitam os mortais”.!? Em outras palavras, quando 0 homem é capaz de habitar,o mundo se torna um “interior”. Em geral, a natureza forma ampla e extensa totalidade, um “lugar”, que, de acordo com as circunstancias locais, possui uma identidade peculiar. E possivel definir essa identidade, ou “espirito”, nos termos concretos, “qualitativos”, que Heidegger em- ; prega para caracterizar o céu.e a terra, ¢ devemos partir dessa distingao fundamental. Ms Com isso, podemos obter uma compreensio existencialmente relevante do conceito de paisagem, que cabe preservar como principal designagao dos lugares naturais. Mas a paisagem comporta lugares subordinados e também “coisas” naturais, como a “ér- vore” de Trakl. O significado do ambiente natural se “condensa” nessas coisas. "9 Os elementos do ambiente criado pelo homem sio, em primeiro lugar, todos os. © aoa assentamentos” de diferentes escalas, das casas as fazendas, das aldeias as cidades, *" sh nf e,em segundo lugar, os “caminhos” que os conectam, além dos diversos elementos que transformam a natureza em “paisagem cultural”. Quando os assentamentos es- see tao organicamente integrados ao seu ambiente, supde-se que Sao pontosfocaisonde a set qualidade peculiar do ambiente se condensa e “explica”. Heidegger afirma:“As casas sz particulares, as aldeias, as cidades sto construgées que retinem dentro delas € em torno delas esse entre multiforme. As construges trazem a terra, como paisagem habitada, para perto do homem e, ao mesmo tempo, situam a intimidade da vizi- &% nhanga sob a vastidao do céu’. Logo, a propriedade basica dos lugares criados pelo os homem a concentragdo ¢ 0 cercamento. Os lugares sao literalmente “interiores”, 0° ue significa dizer que “retinem” o que é conhecido. Para cumprir essa fungi, os" * lugares contém aberturas através das quais se ligam com 0 exterior. (A bem dizer, dy s6 um interior pode possuir aberturas.) Além disso, as construgbes se ligam as suas Sing vizinhangas porque repousam sobre o solo e se elevam para o céu. Finalmente, 0s ambientes criados pelo homem incluem artefatos ou “coisas” que servem de focos “ja, internos e sublinham a fungdo de reuniao do assentamento. Nas palavras de Heide- Xa ger: “the thing things world” [‘a coisa reine o mundo”), onde a palavra “thinging” € } ‘usada em seu sentido original de reunir”, e, mais adiante, ele acrescenta: “Only what conjoins itself out of world becomes a thing” ("S60 que se retine fora do mundo chega aser coisa”’}.'* Essas observagdes introdutérias fornecem varias pistas sobre a estrutura dos la- gares. Algumas jé foram estudadas pelos fildsofos e oferecem um excelente ponto de partida para uma fenomenologia mais completa, Demos um primeiro passo com a distingio entre fendmenos naturais ¢ fendmenos fabricados pelo homem, Um segundo passo ¢ representado pelas categorias terra-céu (horizontal-vertical) ¢ fora-dentro, Es tas categorias tém implicagbes espaciais, mas o conceito de “espago” reaparece aqui no como uma nogio essencialmente matematica, mas como uma dimensio existencial.'* Um iltimo passo especialmente importante 6 dado pelo conceito de “cariter”. O ca~ riter ¢ determinado por como as coisas sito, ¢ oferece como base de nossa anilise os leg, fendmenos concretos do mundo-da-vida cotiiana, $6 assim podemos compreender + de modo cabal 0 genius loci isto é, 0 “espirito do lugar” que os antigos reconheciam Isnt SPs Gono aquele “outro” que os homens precisam aceitar para ser capazes de habitar* O Gul» conceito de genius loc refere-se A esséncia do lugar. 8 part ds die igercidne A ESTRUTURA DO LUGAR design ye Aanilise até aqui realizada sobre o fendmeno do lugar leva-nos a concluir que a estru- andr i ae aes 4 5 "tua do lugar deveria ser classificada como “paisagem” e “assentamento” e analisada |e" or categorias como “espaco” e “cardter". Enquanto “espaco” indica a organi ven side" {pidimensional dos elementos que formam um lugar, o “earster” denota a “atmosfera” «js fulat” geal que ¢ a propriedade mais abrangente de um lugar, Em ver da distingto entre o joi! espago @ carter, podemos partir de um conceito amplo, como o de “espago vivido”."” Ne bet No-mosso caso, entretanto, & mais prtico distinguir espago de cardter, Organizagdes jul C ¢ espaciais similares podem ter eunhos muito diferentes conforme o tratamento con- yy creto dos elementos que definem 0 espago (ou fronteina), A histéria das formas es- wait wef Pacis bisica jf reeeu novas earacterizagdes,"* Por outro lado, deve-se assinalar xe qi) que a organizagdo espacial impde certos limites a essas interpretagdes ¢ que os dois We gn Sonceltos = eypago e canter ~ sto interdependentes. ial” Oeonceito de “espagocertamente nto & novo na teoria da arquitetura, mas pode ter muitos significados. A literatura corrente distingue dois usos: o espago como geo~ metria tridimensional, ¢ eypago como campo perceptual” Entretanto, nenbum deles 6 satisfatdrio, porque ado abstragdes a partie da totalidade intuitiva tridimensional da experiéncia cotidiana, que podemos chamar de “espago conereto”, Na realidade, as Aagdes concretas das pessoas nao tém lugar num espago isotrdpico homogeneo, mas ‘ocorren em un expago que se caracteriza por diferengas qualitativas, como “em cima” e“embaixo", Muitas tentativas jd foram feitay na teoria da arquitetura para definir 0 espago em termos qualitativos concretos. [Siegfried] Giedion distingue “exterior” de “interior” como fundamento de uma concepgao grandiosa da hist6ria da arquitetura2” Kevin Lynch investiga mais a fundo a estrutura do espago concreto, introduzindo os conceitos de “nodo” (“marco”), “baliza”, “caminho”, “borda” e “distrito” para indicar os elementos que embasam a orientagao das pessoas no espaco.” E Paolo Portoghesi de- fine 0 espaco como um “sistema de lugares”, o que dé a entender que o conceito tem ratzes em situacdes concretas, embora possa ser descrito por métodos matemiticos.” Esta ultima concepgao € compativel com a afirmacao de Heidegger de que “os espa- 0s recebem sua esséncia dos lugares e nao ‘do espago”.” A relacio interior-exterior, que é um aspecto principal do espaco concreto, sugere que os espagos possuem graus variados de extensdo e cercamento. Enquanto as paisagens se diferenciam por terem extens6es varidveis, mas basicamente continuas, os assentamentos sao entidades mura- das entre fronteiras, Portanto, assentamento e paisagem mantém entre si uma relacdo de figura-fundo. De modo geral, tudo 0 que fica encerrado se manifesta como “figura” contra 0 vasto fundo da paisagem. © povoamento perde sua identidade quando tal relagdo se corrompe, da mesma forma como a paisagem perde sua identidade de am- pla extensio. Em um contexto maior, tudo 0 que fica encerrado se torna um centro que pode exercer a fungao de “foco” para seu entorno. O espaco se estende a partir do centro com graus varidveis de continuidade (ritmo) e em diferentes diregdes. Na- turalmente, as dire¢des principais sio a horizontal ea vertical, isto , as diregdes da terra e do céu. Portanto, centralizacdo, direcdo e ritmo sao importantes propriedades do espaco concreto. Por tiltimo, deve-se mencionar que os elementos naturais (como as montanhas) e os assentamentos podem agrupar-se ou formar feixes, com graus di- versos de proximidade. Todas as propriedades espaciais mencionadas sio de natureza “topolégica” e cor- respondem aos famosos “princfpios de organizacao” da teoria da Gestalt. As pesquisas de Piaget sobre a concepsao de espago das criangas confirmam a importancia existen- cial desses princfpios.** Os modos geométricos de organizacao somente se desenvol- vem mais tarde na vida para atender a necessidades especiais e geralmente sao vistos como uma defini¢ao mais “exata” de estruturas topoldgicas basicas. 0 cercamento topolégico converte-se entao em circulo, a curva livre converte-se em linha reta, ¢ 0 feixe numa grade. A arquitetura usa a geometria para tornar patente um sistema geral de grande abrangéncia, como uma ilacdo de “ordem césmica”. ‘Todo espaco cercado ¢ definido por uma fronteira, e Heidegger afirma:“A fronteira nao é aquilo em que uma coisa termina, mas, como jé sabiam os gregos, a fronteira é aquilo de onde algo comesa a se fazer presente”. As fronteiras de um espaco cons- trufdo so 0 chdo, a parede e o teto. As fronteiras de uma paisagem sao estruturalmente semelhantes e consistem no solo, no horizonte e no céu. Essa similaridade estrutural simples tem importincia fundamental para as relacdes entre os lugares naturais € 0s sigeam ied apigal da Saeaninar acl "apn d torn. O ayaa rtm) een al ea verte ritmo snag? a que os arse one lugares feitos pelo homem. As propriedades de confinar um espaco, tipicas de uma fronteira, so determinadas por suas aberturas, como ‘Trakl intuiu poeticamente a0 usar as imagens da janela, da porta e da soleira. Geralmente a fronteira, especialmente a parede, expe a estrutura espacial como extensao, direcao e ritmo continuos ou des- continuos. “Cardter” é um conceito a0 mesmo tempo mais geral e mais concreto do que “es- paco”. Por um lado, indica uma atmosfera geral e abrangente e, por outro, forma e a substancia concreta dos elementos que definem 0 espago. Toda presenca real esta inti- mamente ligada ao caréter.”* Uma fenomenologia do caréter deve compreender uma pesquisa sobre os caracteres observaveis bem como um exame de seus determinantes concretos, Assinalamos anteriormente que diferentes agdes exigem lugares com um cunho diferente. Um habitat tem de ser “protetor”; um escritério tem de ser “pratico”; um salao de baile, “festivo”; ¢ uma igreja, “solene”. Quando visitamos uma cidade es- trangeira, geralmente o que nos impressiona é seu caréter peculiar, que é parte impor- tante da experiéncia. As paisagens também possuem cardter, algumas das quais sio de um tipo especialmente “natural”. Falamos, por exemplo, de paisagens “éridas” e “férteis”, “sorridentes” e “ameagadoras”. E importante assinalar que geralmente todos os lugares possuem um cardter, e que essa qualidade peculiar é a maneira basica em que o mundo nos é“dado”, Até certo ponto, o carater de um lugar é uma funcao do tempo; ele muda com as estacées, com o correr do dia e com as situagdes meteoroldgicas, fatores que, acima de tudo, determinam diferentes condigées de luz. cardter é determinado pela constituicao material ¢ formal do lugar. Devemos entéo perguntar como é 0 solo em que pisamos, como é 0 céu sobre nossas cabecas, ‘ou de modo mais geral, como sao as fronteiras que definem o lugar. O modo de ser de uma fronteira depende de sua articulagao formal, que esta novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi “construida”. Olhando uma construgao desse ponto de vista, temos de examinar como ela repousa sobre o solo e como se ergue para o céu. Uma atengdo especial deve ser dedicada as fronteiras laterais, ou paredes, que contri- buem decisivamente para determinar o carater do ambiente urbano. Devemos a Ro- bert Venturi o reconhecimento desse fato, depois de tantos anos em que se considerou “ioral? falar sobre “fachadas”.” O cardter de uma “familia” de construgdes que cons- titui um lugar geralmente esta “condensado” em motivos caracteristicos, como certos tipos de janelas, portas e telhados. Esses motivos se tornam as vezes “elementos con- vencionais” que servem para transpor o cardter de um lugar para outro, Desse modo, na fronteira, cardter e espago se combinam ¢ isso nos leva a concordar com Venturi quando ele define a arquitetura como “a parede entre o interior ¢ 0 exterior”. Excetuando as intuigdes de Venturi, o problema do cardter do lugar quase nao foi tratado na teoria corrente da arquitetura. O resultado disso foi que grande parte da teoria perdeu contato com o mundo-da-vida concreta. Isso é especialmente notério no caso da tecnologia, que atualmente considerada um meio banal de satisfazer de- mandas praticas. Contudo, 0 cardter do lugar depende de como as coisas stio feitas & por isso mesmo, determinado pela realizagao técnica (a “construgio”). Heidegger observa que a palavra grega téchne significava uma “re-velacao” criativa (Entbergen) da verdade e pertencia a pofésis, isto é, a0 “fazer”. Uma fenomenologia do lugar deve, entao, abordar os métodos basicos de construgio e suas relagdes com a articulagio formal. Somente dessa maneira a teoria da arquitetura poder ter uma base verdadei- ramente concreta. A estrutura do lugar se expressa em totalidades ambientais que incluem os as- pectos do espago e de seu carter, Esses lugares sio chamados de “paises”, “regioes”, “paisagens”, “assentamentos” e “construcdes”. E isso nos traz de volta a “coisas” con. cretas do mundo-da-vida cotidiana do qual partimos e nos relembra as palavras de Rilke: “Quem sabe nao estamos nés aqui para dizer (...]” Assim, ao classificar lugares, deveriamos usar palavras como “ilha’, “promont6rio”, “bata”, “floresta”, “bosque”, ou “praca”, “rua”, “patio”, “chao”, “parede”, “teto”, “telhado”, “janela’, “porta”. Por isso, lugares sio designados por substantivos e isso implica dizer que os con- sideramos “coisas [reais] que existem”, que ¢ o sentido original da palavra “substan- tivo”. O espaco, como um sistema de relagoes, é indicado por preposigdes. No dia a dia, raramente falamos sobre “espagos”, mas sobre coisas que estao “acima” ou “abaixo”, “antes” ou “atrés” umas das outras, ou usamos preposig6es como “de”, “em”, “entre”, “sob”, “sobre”, “para” “desde”, “com”, durante”, Todas essas preposicées indi- cam relagdes topoldgicas do tipo mencionado acima. Por fim, o carater é indicado por adjetivos, conforme jé dissemos. Um carter é uma totalidade complexa e um adjetivo sozinho nao pode dar conta de mais de um aspecto dessa totalidade. Muitas vezes, porém, 0 cardter é tio nitido que uma sé palavra é suficiente para captar sua esséncia. Como se ve, a prépria estrutura da linguagem cotidiana confirma a andlise que fizemos do lugar. Paises, regides, paisagens, assentamentos, construgdes (e seus lugares secundarios) formam uma série dotada de uma escala que diminui gradativamente. Designamos os degraus nessa escala de “niveis ambientais”.”° No “topo” da série, encontramos os luga- res naturais mais abrangentes, que “contém” os lugares criados pelo homem nos niveis “inferiores”. Estes possuem a fungio de“reunir” e “focalizar” a que nos referimos acima. Em outras palavras, o homem “recebe” o ambiente e faz convergir para ele as cons- trugdes ¢ as coisas. Desse modo, as coisas “explicam’” o ambiente e evidenciam o seu caréter. Esta é a fungao basica do detalhe em nosso ambiente." Isso nao significa, po- rém, que os diferentes niveis tenham a mesma estrutura. Alids,a hist6ria da arquitetura mostra que isso raramente acontece. Os assentamentos vernaculares geralmente tem uma organizagao topoldgica, embora as casas particulares possam ser rigidamente geométricas. Nas grandes cidades, nao é dificil encontrar dreas organizadas de forma rune” existe sina ereunid tight, no sentid ‘maopriblema com ar vebanbiete um tod “ab ita forte so Siem como ‘i Ma, topoldgica no interior de uma estrutura geométrica etc. Voltaremos mais adiante a es- =A ses problemas especificos de correspondéncia estrutural; por ora, é preciso dizer algu- mas palavras a respeito do principal “degrau” na escala de niveis ambientais: a relacao ’ ay Nig, entre lugares naturais e lugares criados pelo homem. Pe: Os lugares construidos pelo homem se relacionam com a natureza de trés formas , bisicas, Em primeiro lugar, o homem deseja fazer a estrutura natural mais exata. Isto Notalidades — é cle quer visualizar seu “modo de entender” a natureza, dando “expressio” & base de Me so ea apoio existencial que conquistou. Para tanto, ele constrdi o que viu: onde a natureza insinua um espaco delimitado, constréi uma area fechada; onde a natureza se mostra Me fee thing “centralizada’, ele erige um Mal [marco};* onde a natureza indica uma diresao, ele faz ay um caminho. Em segundo lugar, o homem tem de simbolizar seu modo de entender a Para dizer |. ‘Aug _‘Batureza (inclusive ele mesmo). simbolizagao implica “traduzir" para outro meio um ‘roment significado experimentado. Por exemplo, um determinado carater natural é traduzido tc oll _ em uma construgao cujas propriedades de algum modo o exprimem.” O objetivo da simbolizacao é libertar o significado da situagao imediata, por meio do que se torna Substantveseisoigs ym “objeto cultural”, que pode fazer parte de uma situagio mais complexa ou transfe- jue é 0 sentido orgndige —rir-se para outro lugar. Finalmente, o homem precisa reunir os significados aprendidos elagbes,éindcao ry por experiéncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou um microcosmo, se mas sik cise que dé concretude a esse mundo, A reunido desses significados depende, ¢ claro, da ¢ __ simbolizago e pressupde uma transposicao de sentidos para um lugar, que por isso ras, 00 USDA assume ocaréter de um “centro” existencial om’, duran’ ss Visualizagao, simbolizagao e reuniao sio aspectos do processo geral de fixar-se num jonado int #8 determinado lugar; habitar,no sentido existencial da palavra, depend dessasFungSes, Heidegger ilustra o problema com a mengio & ponte, “construcao” que visualiza, sim- Jm cardter sd o agi ‘ ] ‘ ‘ jeu wi!” boliza e liga, e faz do ambiente um todo unificado, Heidegger escreve 0 seguinte: -mals' a nt e uma oe ‘A ponte se estende lépida e forte sobre o rio, Ela nao junta as margens que jé existem, as margens é que surgem como margens somente porque a ponte cruza 0 rio. Ea ponte propriamente dita que faz.com que as margens fiquem uma defronte da outra. E pela ponte que um lado se opde ao outro, Tampouco as margens correm ao longo do rio como faixas de fronteira indiferentes da terra firme. Com as margens, a ponte leva ao rio as duas extensdes de paisagem que se encontram atrés delas, Poe o rio, as ‘margens e a terra numa vizinhanga reciproca. A ponte junta a terra, como paisagem, em torno do rio. Heidegger também descreve 0 que a ponte junta e assim revela seu valor como sim- bolo. Nao podemos nos estender aqui sobre esses detalhes, mas eu gostaria de salien- tar que a paisagem como tal obtém seu valor por intermédio da ponte. Antes dela, significado da paisagem estava “oculto” ea construgao da ponte lhe retira 0 véu. “Jocalizagao” que podemos chamar de um “lugar”. $6 ‘dade antes da ponte (embora sempre houvesse poderia surgir), mas se faz ‘A ponte liga 0 Ser a uma certa que esse lugar nao existia como enti muitos “sitios” ao longo da margem do rio em que lugar presente com e como ponte.* (arquitetura) é fazer um sitio tornar-se um lugar, isto 6, revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado. ‘A estrutura de um lugar nao é fixa e eterna. £ normal que os lugares mudem, as vezes muito rapidamente. Isso nao significa, porém, que o genius loci necessariamente mude ou se extravie. Mais adiante veremos que fer lugar pressupde que os lugares con- servem suas identidades durante determinado periodo de tempo. Stabilitas loci é uma condi¢do necesséria para a vida humana, Como entao essa estabilidade compativel com a dinamica da mudanga? Deve-se assinalar, primeiramente, que qualquer lugar deveria ter a “capacidade” de receber diferentes “contetidos”, naturalmente dentro de certos limites. Um lugar que s6 € préprio para certos fins logo se torna inuitil. Se- gundo, é ébvio que se pode “interpretar” um lugar de diferentes maneiras. Na verdade, proteger e conservar o genius loci implica concretizar sua esséncia em contextos hist6- ricos sempre novos. Poderfamos dizer também que a histéria de um lugar deveria ser sua “autorrealizagao”. O que, a princfpio, eram simples possibilidades ¢ revelado pela agao humana, iluminado e “conservado” em obras de arquitetura que so ao mesmo tempo “velhas e novas”” Assim sendo, um lugar comporta propriedades que tem um grau varidvel de invariancia. A conclusao geral é que o lugar ¢ 0 ponto de partida e o objetivo de nossa investi- gacdo estrutural; no inicio, o lugar se apresenta como um dado, espontaneamente vi- vido como uma totalidade e, ao fim e ao cabo, ele surge como um mundo estruturado, iluminado pela anilise dos aspectos do espaco e do carater. © propésito existencial do construir 0 ESPIRITO DO LUGAR Genius loci é um conceito romano. Na Roma antiga, acreditava-se que todo ser “inde- pendente” possufa um genius, um espfrito guardiao, Esse espirito da vida as pessoas e aos lugares, acompanha-os do nascimento a morte, e determina seu carter ou essén- cia. Até os deuses tinham seus genius, o que bem ilustra a natureza fundamental do conceito."* O genius denota o que uma coisa é, ou 0 que “ela quer ser”, para usar uma expressio de Louis Kahn. Nao precisamos nos estender aqui na histéria do conceito de genius e sua relagdo com o daimon dos gregos. Basta assinalar que os antigos viviam seu ambiente como constitu‘do de caracteres definidos. Principalmente, os antigos re- conheciam a suma importancia de entrar em acordo com o genius da localidade onde viviam. Em tempos passados, a sobrevivéncia dependia de uma boa relagao com o lugat, Ft ie ee eat ri pcs ‘um lugar de diet a concretiza su esttisy ambém que hiss ), eam simple possi ” em obra de args am lugar comport pre tanto num sentido fisico como ps{quico. No Egito antigo, por exemplo, o campo era nao somente cultivado de acordo com os fluxos e refluxos do rio Nilo, mas a estrutura mesma da paisagem servia de modelo para o tragado dos edificios “publics” que de- viam dar uma sensagao de seguranga por simbolizarem uma ordem ambiental eterna.” ‘No curso da histéria, o genius loci tem se mantido como uma realidade viva, apesar de nem sempre ser designado por esse nome. Artistas ¢ escritores buscam inspiragéo no carter local e tendem a “explicar” fendmenos da vida cotidiana e da arte por refe- réncia a paisagens e ao contexto urbano. Goethe, por exemplo, afirmou: “E claro que o olho é educado pelas coisas que vé desde a infancia e, por isso, os pintores venezianos enxergam tudo com mais clareza e alegria do que outros povos”.”Em 1960, Lawrence Durrell escreveu: “A medida que vocé vai conhecendo a Europa, saboreando lenta- mente seus vinhos, queijos ¢ as qualidades peculiares dos diferentes paises, comeca a perceber que o determinante mais importante de qualquer cultura é, no fim de tudo, o espirito do lugar”. O turismo moderno comprova que as pessoas tém grande inte- resse pela experiéncia de diferentes lugares, embora, ao que parece, esse também seja um dos valores em declinio nos dias de hoje. 0 fato é que, durante muito tempo, o ho- mem moderno imaginou quea ciéncia ea tecnologia o haviam libertado da dependén- cia direta dos lugares. Mas essa crenca logo se revelou iluséria - de repente, surgiram, como tenebrosa némesis, a poluigao e 0 caos ambiental, devolvendo ao problema do espaco sua verdadeira relevancia. Usamos a palavra “habitar” para nos referirmos as relagdes entre 0 homem e 0 lugar, Para entender melhor o que esta tiltima palavra significa, vale a pena retomar a distingao entre “espaco” e “carter”. Quando o homem habita, est simultaneamente localizado no espago e exposto a um determinado carter ambiental. Denominarei de “orientagao” e “identificagéo” as duas fungdes psicolégicas implicadas nessa con- digo.” Para conquistar uma base de apoio existencial, o homem deve ser capaz de orientar-se, de saber onde esta. Mas ele também tem de identificar-se com o ambiente, isto 6, tem de saber como esta em determinado lugar. O problema da orientagdo tem recebido considerével atengao por parte da literatura tedrica recente sobre planejamento e arquitetura. Devemos citar novamente a obra de Kevin Lynch, cujos conceitos de “nodo”, “caminho” e “distrito” indicam as estruturas espaciais basicas que sao objetos da orientagao das pessoas. A percepcao de uma in- ter-relacdo entre esses elementos forma uma “imagem ambiental”, sobre a qual Lynch afirma:*Ter uma boa imagem ambiental confere ao individuo uma importante sensacao de seguranga emocional”.* Assim, todas as culturas criaram “sistemas de orientagio”, ou seja, estruturas espaciais que facilitam o desenvolvimento de uma boa imagem am- biental.“O mundo pode organizar-se em torno de um conjunto de pontos focais, ou fragmentar-se em regides indicadas por nomes préprios, ou articular-se por cami- nhos fixados na lembranga”.** Esses caminhos geralmente se baseiam ou derivam de uma dada estrutura natural. Quando o sistema é frdgil, a pessoa tem dificuldade de formar aquela imagem e se sente “perdida”. “O medo de se perder decorre da neces- sidade caracterfstica do organismo vivo de orientar-se em seu entorno.”* Evidente- mente, estar perdido € justo 0 oposto do sentimento de seguranga que distingue o habitar. A qualidade ambiental que protege o ser humano de perder-se é denominada por Lynch de “imagibilidade”, que designa “aquela forma, cor ou organizacdo que facilita a formagao de imagens mentais vividamente identificadas, fortemente estru- turadas e de grande utilidade do ambiente”.” O que Lynch pretende acentuar é que os elementos componentes da estrutura espacial si “coisas” concretas, dotadas de “carater” e de “significado”. Mas Lynch se limita a analisar a fungdo espacial desses elementos e, por conseguinte, nos lega um entendimento fragmentario do habitar, Mesmo assim, a andlise de Lynch é uma contribuicdo essencial para a teoria do lugar. A importancia de seu livro decorre ainda do fato de seus estudos empiricos sobre a estrutura urbana concreta confirmarem os “princfpios gerais de organizagao” da percepsao, definidos pela psicologia da Gestalt e pelas pesquisas sobre psicologia infantil de [Jean] Piaget. Nao querendo reduzir a importancia da orientacao, é preciso ressaltar que habi- tar pressupée, antes de tudo, uma identificagao com 0 ambiente. Embora orientacdo ¢ identificagao sejam aspectos de uma rela¢ao total, esses fatores mantém certa indepen- déncia no interior da mesma totalidade. Sem diivida, uma pessoa é capaz de orientar- se bem sem se sentir profundamente identificada; ela se safa sem sentir-se “em casa”. E € possivel sentir-se “em casa” sem conhecer a fundo a estrutura espacial do lugar, isto é, 0 lugar é percebido por ter um carter genericamente agradavel. O sentimento profundo de ser do lugar pressup6e que as duas fungoes psicol6gicas estejam plena- mente desenvolvidas. Nas sociedades primitivas, até os menores detalhes do meio sio conhecidos e significativos, constituindo estruturas espaciais complexas. As socie- dades modernas, porém, concentram toda a atengao quase exclusivamente na funcdo “pratica” de orientacao, enquanto a identificagao é deixada ao acaso. Em consequéncia disso, a alienacdo tomou o lugar do verdadeiro habitar, no sentido psicoldgico. Existe, portanto, uma urgente necessidade de compreender melhor os conceitos de “identifi- cago” e de“cardter”, “Identificagao” significa, para os fins desta andlise, ter uma relagdo “amistosa” com determinado ambiente. O homem nérdico tem de se relacionar bem com o nevoeiro, a neve ¢ os ventos gelados; tem de gostar do ruido da neve rangendo sob seus pés quando sai para passear, tem de sentir a poesia de estar envolto pelo nevoeiro, como Herman Hesse, que escreveu: “Estranho, caminhar no nevoeiro! Solitario é cada ar- busto e pedra, uma drvore ndo enxerga a outra, todas as coisas esto sés [...]”° 0 arabe, por sua vez, tem de ser amigo da infinita imensidao do deserto de areia e do sol escaldante. Isso néo quer dizer que seus assentamentos nao devam protegé-lo contra san epee sma conbece gn us futur snes inter- cerns pelo ‘ens de orien Sedeum pessc SI sk eles ¢ “arene da “Sinn io Stedner wi ' sp Nea alt ‘ea i Neat we & bh Nee 1 as “forgas” da natureza: um assentamento humano no deserto visa principalmente ex- cluir a areia eo sol. 0 que queremos dizer é que o ambiente é vivido como portador de um significado, [Otto Friedrich] Bollnow escreveu com bastante propriedade que, “Jede ete iy, Stimmung ist Ubereinstimmung”, isto €, todo carter consiste em uma correspondéncia eine te ence externo ¢ 0 mundo interno, entre corpo alma. No caso do homem ~ joderno, a relagdo amistosa com um ambiente natural limita-se a relagdes _ fragmentérias, Em vez disso, ele tem de identificar-se com coisas fabricadas pelo ho- a lig mem, como ruas ¢ casas. O arquiteto norte-americano de origem alema Gerhard Kall- meng man craven contou uma histéria que ilustra bem essa situagao. Ao visitar sua cidade res, natal, Brim, no final da Segunda Guerra Mundial, depois de muitos anos deauséncia, i Seip, ele quis tever a casa em que crescera, Como era de esperar, tratando-se de Berlim, a fo dg, c482tinha desaparecido, e Kallman se sentiu um pouco perdido, De repente, ele reco- "ping, MBeEeLO desenho tipico das caleadas: o chao em que brincava quando crianca! E teve alte espe a forte sensagao de, enfim, voltar para casa. Essa histéria nos mostra que os objetos de identificagao sao propriedades con- a cretas do ambiente e que as pessoas geralmente desenvolvem relagdes com elas du- ientagio,épriest ante a infancia. A crianga cresce em espagos verdes, marrons ou brancos; passeia som oanbietite ou brinca na areia, na terra, na pedra ou no musgo, sob um céu nublado ou sereno; Jjesesfisasse _garrae levanta coisas duras e macias; owve ruidos, como 0 som do vento balangando as folhas de uma certa espécie de arvore; tem experiéncias do calor ¢ do frio. E assim que a crianga toma conhecimento do ambiente e elabora esquemas perceptuais que determinam todas as suas futuras experiéncias.” Os sistemas perceptuais se compoem de estruturas universais, inter-humanas, ¢ também de estruturas condicionadas pela cultura e determinadas pelo lugar. £ evidente que todo ser humano precisa possuir tanto sistemas mentais de orientacao como de identificacao. ‘A identidade de uma pessoa se define em fungao dos sistemas de pensamento de- senvolvidos, porque so eles que determinam o “mundo” acessivel. Esse fato € con- firmado pelo uso corrente da linguagem. Quando uma pessoa quer declarar quem é, geralmente diz: “Sou nova-iorquino” ou “Sou romano”. Isso tem um significado bem mais concreto do que dizer: “Sou arquiteto” ou, entao, “Sou um otimista’. Nés enten- demos que a identidade das pessoas é, em boa medida, uma fungao dos lugares e das coisas, Heidegger disse: “Wir sind die Be-Dingen’”.* Por isso, ¢ importante nao 86 que nossa ambiéncia possua uma estrutura espacial que facilite a orientacao, mas também que esta seja constituida de objetos concretos de identificagao. A identidade humana svida, uma poset pressupée a identidade do lugar. Tdentificacao e orientacao sio aspectos essenciais do estar-no-mundo do homem. Enquanto a identificagdo a base do sentimento de pertencer, a orientacio é a fun- io que o torna capaz de ser aquele homo viator [homem peregrino} que faz parte de sua natureza. Caracteristicamente, o homem moderno, por muito tempo, deu ao Peregrino um papel de honra. Ele desejou ser “livre” e conquistar © mundo. Hoje comegamos a compreender que a verdadeira liberdade pressupde um sentimento de pertencer e que “habitar” significa pertencer a um lugar concreto. A palavra “habitar” tem muitas conotagdes que confirmam e iluminam nossa tese, Em inglés, a palavra dwell (habitar] deriva do noruegués antigo dvelja, que significa residir ou permanecer. De modo andlogo, Heidegger relacionou 0 alemao “wohnen” [morar, residir] a bleiben [permanecer] e sich aufhalten (deter-se, ficar].** O fildsofo assinala que o gético wunian significava “estar satisfeito”, “estar em paz”.A palavra em alemao para “paz”, Friede, significa ser livre, isto é, protegido do perigo e das amea- as. Essa protecao € obtida por um Umfriedung, ou confinamento. Friede também se relaciona com zufrieden (contetido), Freund (amigo) e 0 gotico frijin (amor), Hei- degger usa essas relagdes linguisticas para mostrar que habitar significa estar em paz num lugar protegido. Acrescente-se que a palavra em alemdo para habitar, Wohnung, vem de das Gewohnte, 0 que € conhecido ou habitual. As palavras “habito” e “habitat” revelam uma relacao anéloga. Isto é, 0 homem sabe ao que tem acesso por meio da morada. Com isso, voltamos ao Ubereinstimmung ou a correspondencia entre 0 ho- mem e seu ambiente, e tocamos entdo na raiz do problema do ato de “reunir”, Reu- nir significa que o mundo-da-vida se tornou gewohnt ou “habitual”. Mas reunir é um fendmeno concreto e isso nos conduz a conotacao final do “habitar”. Mais uma vez é Heidegger quem desvenda a relagio fundamental, quando assinala que a palavra “construir” no inglés antigo ¢ no alto alemao equivalente, buan, significava morar e € estreitamente relacionada com o verbo ser. “Entao, 0 que significa ich bin [eu sou]? A antiga palavra bauen, com a qual tem a ver bin, responde: ich bin, du bist, quer di- zer: eu habito, tu habitas. O modo como tu és ¢ eu sou, a maneira pela qual nés, os seres humanos, somos na terra é buan, o habitar.”** Pode-se concluir que habitar sig- nifica reunir, juntar, o mundo como uma construgdo concreta, ou uma “coisa”, e que © ato arquetipico de construir € o Umfriedung ou confinamento. A intuicdo pottica de Trakl sobre a relagao fora-dentro confirma isso e nos faz entender que 0 conceito de concretiza¢ao denota a esséncia do habitar.** O homem habita quando é capaz de concretizar o mundo em construgées e coisas. Jé dissemos que a “concretizagao” é a funcao da obra de arte em oposicéo a “abstra- ¢a0” da ciéncia.” As obras de arte concretizam o que fica “entre” os puros objetos da ciéncia. Nosso mundo-da-vida cotidiana consiste nesses objetos “intermedidrios”, e compreendemos que a fungao essencial da arte ¢ reunir as contradig6es e complexi- dades do mundo-da-vida. Sendo uma imago mundi, a obra de arte ajuda o homem a habitar. [Friedrich] Hélderlin estava certo quando disse: Cheio de mérito, mas poeticamente, o homem Habita nesta terra.* ema do ode a habitual Nas I do habitat undo ine Esses versos dizem que os méritos do homem nao contam muito se ele é incapaz de habitar poeticamente, isto é, de habitar no verdadeiro sentido da palavra. Heidegger afirma o seguinte: “A poesia nao voa acima e sobrepuja a terra a fim de escapar dela ede pairar sobre ela. A poesia € 0 que primeiro traz 0 homem para a terra, fazendo-o pertencer a ela, ¢ assim trazendo-o a morada”.” Somente a poesia, em todas as suas formas (¢ também a “arte de viver”) da sentido a vida humana, ¢ o significado € a ne- cessidade humana fundamental. A arquitetura pertence & poesia, ¢ seu propésito é ajudar 0 homem a habitar, Mas uma arte dificil. Fazer construgdes e cidades concretas nao ¢ suficiente. A arquitetura comega a existir quando “faz visivel todo um ambiente”, para citar uma definigao de Su- zanne Langer.” Isso significa concretizar 0 genius loci. Vimos que isso acontece por meio de construgoes que retinem as propriedades do lugar e as aproximam do homem. Logo, 0 ato fundamental da arquitetura é compreender a “vocacio” do lugar. Dessa maneira, pro- tegemos a terra e nos tornamos parte de uma totalidade compreenstvel. O que se defende aqui néo é uma espécie de “determinismo ambiental”. Apenas reconhecemos o fato de que o homem é parte integral do ambiente e que ele somente contribui para a alienacao eruptura do ambiente quando se esquece disso. Pertencer a um lugar quer dizer ter uma base de apoio existencial em um sentido cotidiano concreto. Quando Deus disse a Adio: “Serds um fugitivo e um peregrino na Terra’, pés o homem frente a frente com seu pro- blema fundamental: atravessar a soleira e reconquistar o lugar perdido. [*The Phenomenon of Place” foi extraido de Architectural Association Quarterly 8, n. 4, 1976: pp. 3-10. Cortesia do autor e da editora,] 1.R.M.Rilke, The Duino Elegies, 1x Elegy. Nova York: 1972. 2.0 conceito de “mundo-da-vida cotidiana” foi criado por Husserl em The Crisis of European Scien- ‘es and Transcendental Phenomenology, 1936. 3. Martin Heidegger, “Bauen Wohnen Denken”; Bollnow, “Mensch und Raum’; Merleau-Ponty, “Phenomenology of Perception”; Bachelard, “Poetics of Space”; também L. Kruse, Réumliche Um- welt. Berlim: 1974. 4. eeidegger; “Language”, in Albert Hofstadter (org.), Poetry, Language, Thought. Nova York: 1971. 5 Traducao de Liliane Stahl. Bin Winterabend Wenn der Schnee ans Fenster fallt, Lang die Abendglocke lauter, Vielen ist der Tisch bereitet Und das Haus ist woblbestellt. Mancher auf der Wanderschaft Kommt ans Tor auf dunklen Pfaden. Golden blabt der Baum der Gnaden Aus der Erde kiihlem Saft. ‘Wanderer tritt still herein; Schmerz versteinerte die Schwele. Da erglinzt in reiner Helle ‘Auf dem Tische Brot und Wein. 8, Heidegger, op. cit, p.199. 1. Ibid. p. 204. 8, Christian Norberg-Schulz,"Symbolization”, em Intentions in Architecture. Oslo e Londres: 1963. 9. Ver, por exemplo, J. Appleton, The Experience of Landscape. Londres: 1975. 10. Heidegger, op. cit., p. 149. 11. Ibid., pp.147,149. 12, Heidegger, Hebel der Hausfreund. Pfullingen: 1957, p.13. 18 Ibid, pv. 14, Heidegger, op. cit. pp. 181-82. 15. Norberg-Schulz, Existence, Space and Architecture, Londres e Nova York: 1971, onde adoto 0 con- ceito de “espaco existencial”. 16. Heidegger chama a atenco para a relacao entre as palavras gegen (contra, contrario) e Gegend (ambiente, localidade). 17. Foi o que fizeram alguns autores, entre os quais K. Graf von Durckheim, E. Straus e O. F. Bollnow. 18 Compare-se com a distingao de Alberti entre “beleza” e“ornamento”, 19, Norberg-Schulz, op. cit.,1971, p.1288. 20.8. Giedion, The Eternal Present: The Beginnings of Architecture. Londres: 1964. 21. K-Lynch, The Image of the City. Cambridge: 1960. 22 P.Portoghesi, Le Inibizioni dell’ Architettura Moderna, Bari: 1975, pp. 885s. 28, Heidegger, op. cit. p.18, 24, Norberg-Schulz, op. cit.,1971, p.18. 35. Heidegger, op. cit. p.154."Presenga éa velha palavra para o ser.” 26. O. F. Bollnow, Das Wesen der Stimmungen. Franfurt am Mein: 1956. 21. Robert Venturi, Complexity and Contradiction in Architecture. Nova York: 1967,p. 88. BB. Ibi ). 23. Heidegger, “Die Frage nach der Technik’, in Vortrage und Aufsatze Pfullingen, 1954, p.12. 30. Norberg-Schulz, op. cit.,1971, p.27. 31. Ibid, p.32. 32. D, Frey, Grundlegung 2u einer vergleichenden Kunstwissenschaft. Viena e Innsbruck: 1949. 33, Norberg-Schulz, op. cit., 1963. 44, Heidegger, op. cit, p.152,1971. 35 W.]. Richardson, Heidegger Through Phenomenology to Thought. The Hague: 1974, p.585. 36, Para o conceito de ‘capacidade”, ver Norberg-Schuilz, op. cit, 1963, 37. Venturi, op. cit. 58, Pauly, Realencylopedie der Klassschen Alterumwissenschaft vi, 1, cola 55ss. 38 Norberg: Schulz, Meaning in Western Architecture Londres e Nova York: 1975, pp. 80ss. 40. Goethe, italienische Reise 8, out. 1786, Nimans Sn oma, af von Dice te apresentagao 41.L. Durrell, Spirit of Place (Londres, 1965), p.156. 42 Ver M. M. Weber, Explorations into Urban Structure (Filadélfia: 1963), que fala de “uma esfera ‘urbana sem lugares”. 48, Norberg-Schulz, op. cit. 1963, em que utilizo os conceitos de “orientagao cognitiva” e “orienta- ‘qho catéctica”, 44 Lynch, op. cit, p.4. 45 Ibid, p.7. 46. Ibid. p125. 47. Ibid., p.9. 48 Para uma exposicio mais detalhada, ver Norberg-Schulz, op. cit. 1971. 48. A. Rapoport, “Australian Aborigines and the Definition of Place”, in P. Oliver (org.), Shelter, Sign, Symbol. Londres: 1975. 50, Seltsarm, im Nebel zu wandern! Einsam ist jeder Busch und Sein, kein Baum sieht den anderen, jeder istallein. 51, Bollnow, op. cit, p. 39. 52 Norberg-Schulz, op. cit.1963, pp. 4185. 53. Heidegger, op. cit, 1971, p.181. "Nos somos os ‘oisificados”, os condicionados. 54, Heidegger, “Building Dwelling Thinking”, in op. cit. 1971, pp. 146 ss. 86. Ibid, p.147. ‘56, Norberg-Schulz, op. cit, 1963, pp. 61 5, 68. 51. Ibid. pp. 168 ss. 58 Full of merits, yet poetically, man Dwells on this earth. 59. Heidegger, op. cit.,1971, p.218. 6S. Langer, Feeling and Form. Nova York: 1953. 61. Genesis, cap. 4, versiculo 2. CHRISTIAN NORBERG-SCHULZ . 0 PENSAMENTO DE HEIDEGGER SOBRE ARQUITETURA Esta lucida explicagdo de "O pensamento de Heidegger sobre arquitetura” contém uma andlise linguistica de varios escritos do filésofo, seguindo o interesse do proprio Heidegger pela etimologia das palavras de uso corrente. Em resumo, o ensaio desen- volve a critica de Norberg-Schulz @ arquitetura modema, que ele considera a origem de uma crise de significado por ter criado um ambiente diagraméatico e funcionalista ‘que nao favorece 0 habitar. Referindo-se a um “momento de confuséo e crise", Nor- berg-Schulz reconhece que 0 problema do significado na arquitetura foi abordado por outros Autores que alguns partiram da semiologia (estudando a arquitetura como sistema de signos Convencionais), método que ihe parece inadequado para explicar a disciplina. Ele propde como altemativa para compreender @ arquitetura a leitura da fenomenologia heideggeriana. Norberg-Schuiz afirma que 0 propésito da arquitetura é fornecer um “ponto de apoio @xistencial” que propicie uma “orientacdo” no espaco e uma “identificaggo” com o cardter 461

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