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Pratica Hi a do Roteiro _ Cinemato — Jean-Claude Carriére Pascal Bonitzer 3* edigdao JSN frase oélebre de Serge Silberman: “O primeito a sai perdendo”. dalam ¢ DA “ESCRITA™ = PROPRIAMENTE DITA Sitar uma cifey Conhecemos roteros escritos em alguns dias (onze dias para 0 primeiro Scarface, por exemplo) e outros que exigiram dois anos de trabalho, realizados por diversos grupos de roteirstas, ‘com um resultado nada satisfatsrio, Na tradicéo americana, 0 produtor, senhor absoluto do filme, encomendava uma primeira versio a0 autor, depois uma segunda a outro, ¢ assim em seguida, até que se sentisse plena- mente satisfeito, O roteiro chamava-se entio um monstro. Os roteiristas, na maior parte do tempo, ignoravam-se uns 20s outros e tinham apenas uma vaga idéia do que seria conserva- do em seu trabalho. Sabe-se que houve roteitistas ou grupos de roteitistas trabalhando ao mesmo tempo sobre o mesmo assun- to, sem que fossem informados a respeito. Essa tradigio tomnou-se consideravelmente mais flexivel. Seo procedimento permanece igual quando se trata das “Ma- jor Companies’, as grandes companhias americanas (nas quais 08 diretores sio substituidos com muito mais rapidez. do que antes, As vezes um roteirista chegando a entregaro script a uma pessoa diversa daquela que o encomendara), certos produtores, independentes apresentam uma prética muito mais préxima da tradicdo européia, em que 0 autor ou os autores trabalham ‘© mais estreitamente possivel com o ditetor, ¢ isso a partir do inicio de sua colaboracao. Com efeito, nenhuma regra universal é concebivel cada filme estabelece um novo tipo de relaglo, conforme as pessoas a ea at LV 3 j j } cu 1 Neste ou naquele j “este ou aquele assun SNE Sobre lei Sets Parecem no entanto aplica, um grande ni de casos. Vamos nos limitar, Fey ‘altamente arbitréria, a dez delas: de mancing 1) O ROTEIRISTA FREQUENTEMENTE E UM INDIVIDUO MOVEL E CURIOSO le slta rapidamente de um assunto para outro, vigja muito, conhece lugares e pessoas, lé obras variadas. E melhor para ce que trabalhe em qualquer lugar, num hotel, num bar, num ‘trem, sem nenhuma exigéncia. Lé com freqiiéncia os jornais, ve televisio, faz anotac6es. Em muitos casos, coleciona o inicig _de histérias colhidas na realidade, ou mesmo frases ouvidas 20 0 nas ruas, nos cafés. Deve adaprar-se, uma ou duas vezes 0 , um novo tema, freqiientemente a um outro lugar, a 0 colaborador. £ muito mais instével, muito menos destinada a se tornar “outra coisa”, © roteirista nio procura somente palavras, frases, ages, eventos; procura também —¢ talvez mesmo antes de tudo, em qualquer caso a0 mesmo tem. po — imagens, quadros, sons particulars, aliangas de sons, movimentos da aparelhagem, ¢ ainda uma abordagem tio pre- isa, to viva quanto possivel, do fendmeno altamente miste- rioso em que consiste o desempenho dos comediantes ‘Toda essa busca, que é partilhada com o diretor cinema- togrifico, pertence A escrita do roteto. Eis por que os conheci- mentos técnicos sao titeis e necessdrios ao roteirista — 2 sua propria inspiracio. ‘A busca de ordem técnica — 0 como-fazer-isto — pode tomar-se fonte constante ¢ insubstiuivel de inspiragdo, O como apéia © porque, supera-o As veres, provoca-o, exige-o Sem falar de uma tarefa freqiientemente indispensivel: © roteirista deve sempre poder lane 2 pees impreg- nada de angiistia: “Quanto vai custar tudo isso?” * Ble aaa no vazio, Trabalha com um objetivo concreto, bem definido: a existéncia de um novo filme, Ai é {que esta o problema: passar do virtual a0 real. Daquilo que € posstvel Aquilo que é Do mesmo modo, deve saber como pro- ceder, € nfo escrever o impossivel. -ACONTECE COM BASTANTE PREQUENCIA QUE UM ROTEIRISTA £ CULTO sé-lo, mesmo se a sua cultura, adquirida Blsetim tnko per eds Plc rque ei do roo tem mas dS i aos de iu com o cinema uma forma realmente extn, Ela gui com 9 nem ws em mn vsaeita NOvidade), vinc gas formas de narrativa, Desde a ori em de ‘ = p taram os conselh a co fais narrativas, ou do teatro, nj de elos invisiveis, portadores do saber e de vida, que teciam as . im, um velho livro chings re? narrativas, as historias. Blas enrique f a todo escrtor que desconte dos ent > hie recomendes Fee cokuceas dnc tt Sintnce cones i aelituie jocas enriquecem, diz-s, a terra dos jardins que atraves- te a repetigées © mantenha um bom rite one te ei. — : ae interesse certamente diminuirg, # C880 Contritig, ¢ ; 2 eae eset ativos de tas narrado- eee res, Saibam disso ou nio, eles retomaram o archote. Seu ugar japonés do No definiu a famosg e pestis um grande mestre peeceiciede ech definido ha muito tempo. Sua responsa- €m trés movimentos no somente En pee dlvisio a We fon parénteses) rt 6a, mi: re parénteses) que numerosos so os quer “ent a pea, de toda frase na cena e (elie paises tradicionais em que precisamente o contador de histéri- mo qualquer palavra. Es. ‘Sumas vezes mes- as desempenhava um papel preponderante, na A\fica por exem- que pplo, que hoje nao podem pagar os meios de transmissio exigi- dos pelos contadores modernos. Também, por falta de produ- em nen! ; a ; : Parasio, desenvolvimento, brilh ae lingua (digamos: “pre- Ss oecllncgzandoacinen!dogeiccsthegs 08 surpreendentes quando nai 10°), Prestam ainda hoje servi- a0 ponto de s6 ver e escutar as histérias dos outros, metodica- tever ou como representar peat muito bem como es- mente compostas sob céus estrangeiros, com freqiiéncia aquilo. Trata-se talvez de californianos, para encobrir de maneira mediocre a terra repri- ‘indo suas singularidades que h& pouco eram preciosas. 4) EXISTEM REGRAS, MAS DEVEM SER VIOLADAS ‘Ao ouvir certos tedricos americanos, dos quais se duvida te- rnham lido Aristételes Boileau, homens e mulheres ave so nam com persisténciae grandes gestos com régua.acficics “estrucuras”, ¢ que tao-somente se interessam pelo sucesso oe blico imediato (0 que no século XVII se chamava agidat. poder-se-ia acredirar que um roveirista contemporineo ie antes de tudo enrijecer 0 espirito, endurecé-o, eae le - ee. Cae irma da se tornaria entdo quase perigoss come aed cultura. E preciso estudar aquilo que funcionou be 135 ous} 2 tom E a famosa regra das tés unidades, que dew origem a algumas obras-primas e, a0 longo do século XVIII, a diversas centenas de tragédias infelizes que hoje no sio mais represen tadas. Assim ocorre com toda regra: éexercida algum tempo com proveito, no meio cultural e histérico que lhe convémn, em seguida cai rapidamente em desuso. £ necessério esquect- la depressa, é necessitio esquecé-la mesmo mais cedo possi- vel se se quer produzir uma obra dotada de vida. No que tange por exemplo aos precetos ditados pelos professores americanos, é certo que podem conduzir a alguns sucessos nos seriadas de televisio de nivel mediano. Em caso algum, porém, saberiam conduzir a uma obra signficativa, € isso por definigao, pois que tais preceitos cultivam unicamente © comum, aquilo que jé foi visto. Mas sobretudo — além do faco de que toda diretrizartstca dessa ordem, de tipo ditaor al, faz com que roteiristas se fechem, em vez dese abrirem ¢ desabrocharem — os preceitos os conduzem necessariamente, depois de varios anos de atividade repetitva e as vezes bem- sucedida, a se verem abandonados na areia, no. momento em. que a maré se retra, Pois o mundo se transforma, queiramos, ‘ou no, alguns aré dizem que muda cada vex. mais depressa, © aqueles que permanecem de mancira mecinica secos ¢ fecha~ ddos em torno das receitas bem decoradas perceberio com tis- teza que se tornaram incapazes de se adaptar, de mudar a can- 40, de respirar 0 ar do amanha. r > Talvex seja verdade, como lemos nos manuais, que ¢ pre- iso uma agio forte nos ts primeiros minutos, uma reviravol- tainesperada no onkipmessiahabioast arent nae ‘um momento de descontrasio| . Mas o contririo também é verdadeiro. Ha muito tempo as regras dramaicas, como todas as regras, foram violadas. Hi 31 muito tempo, por exemplo, a mistura dos géneroy Para Shakespeare, inconcebivel para Boileau Patural , . € prati toda pare freqientemente com asita & ae = uuma cena, uma imagem ou uma palavra que agradam a dois y oe Tetomdos todos os clement YS ine individuos, ¢ ndo mais apenas a um s6, teré duas vezes mais Le a Peisteodan hn, lum sucessg chances de atingir um dia a massa imprecisa e compacta, cass0 total?’ Os produton indefinivel mas decisiva, 6 uma lamentam-se: “A gente nao sabe mais 0 que funciona, coisa qualquer, nao sabemos mais : Como fazer um stcesssn Ainda bem, Se pudéssemos ganhar todos os lances, Hoe : que se denomina pablico. 5) EXISTEM ONDAS NO TRABALHO DO ROTEIRO (O trabalho exercido sobre um roteiro submete-se muitas vezes auma série de ondas. ‘Algumas constituem ondas de exploragio. Abrimos to- das as portas visiveis € procuramos. Nenhum caminho nos é interditado. Nenhum beco sem saida, nenhum pordo. A ima- ginagéo parte em diregao a caca. Deixa-se ir, Pode it muito longe, até o absurdo; até o grotesco, até o esquecimento do assunto. Depois disso vem outra onda, que opera em sentido in- verso. E.a retirada, a volta ao razoivel. Retorna-se a0 ponto de partida, 20 essencial, & famosa questio: mas por que escreve- ‘mos essa histéria e nao outra? No fundo, muito simplesmente, © que € que nos interessa ali? Eo momento de encarar as questdes elementares, 0 tra- jeto seguido pelas personagens, 0 grau ees = : na qual o deslumbrament i tador etc. Voltando atrés, abandonamos pelo caminho, evi- entam se harmoniat, que as regres ce: dentemente, muias de nossas conquitar admikvis— mas ‘numa luz incerta, algumas vezes & nossa no todas forgosamente. As vezes, de uma longa viagem que ‘nos ocupou horas, resta apenas um detalhe — mas esse detalhe justifica tal viagem. Retornamos, como para um repouso tum pouco triste, um pouco frustrante, as nossas preocupagbes ¢s- colres, os clementos neces da consi da eon Ihanga. Elas podem nos parecer pequenas, todas essas preocu pages, € mesmo mesquinhas. Mas si0 indispenséveis. - dam a precisar bem a questo. Aqui, fala-se em “eademno ico juiz, quando se escreve para o terior, sala das mais obscuras, 3 ‘arts Em nossa exploraso, NGO esquecemos a cai, i $8 cata dev, wrnaegl i iris Depois o roteirista se langa em outra onda, ¢ de tal sasce ng instante? E se 0 cenério fosse modi aque entrasse de repente no quarto? °F seu rnoccone E assim por diante. Blo, as personagens sabem mais ou menos de wna, que 0s especta- ores? Indl preparar uma surpresa se 0 ptiblico jé adivinhou ‘tudo, Em que ponto se pooner esse imperceptivel ou hiporé- MOS, ou jé deixou a sala, ae eee a ‘cena ficou bem clara? Esta palavra éconhecida ago, toda ago, toda reagio existem fora de nés, em algum ugar desprovido de nome, o que significa também alguns bi- hes de possibilidades e uma busca sem fim. 6) EXISTE UMA ESCRITA INVISIVEL DO ROTEIRO Hi pouco tempo, quando todo o cinema era realizado nos es- ttidios e 0 cendgrafo, o direcor de fotografia © 0 conjunto de técnicos podiam executar fielmente tudo 0 que lhes pediam. (ou quase), 2escrita do roteiro oferecia um aspectoestritamen- te técnico, tudo era decupado, com freqiiéncia desenhado pla- no por plano, com as indicag6es precisas em relacéo a objetiva, a duracdo do plano, aos movimentos da méquina etc. ‘A filmagem em cenérios naturais, que se generalizou com a Nouvelle Vague (por razdes estéticas e econdmicas), fez evo- Iuira escrita do roteiro. Nao se pode afastar as paredes, cons- truir uma cascata: seri necessério entio que a decupagem ¢ 0 conjunto da realizagao técnica se adaptem aos censrios — € nio 0 contratio. Porisso raramente sio os roteiros que hojese decupam a partir da escrita, Escreve-se, em geral,visando & seqiéncia, ‘numerando cada uma, e pondo como tinicasindicagbesinzeri- orou exterior, dia ou noite (as vezes madrugada ou cepisula) co hugar onde ocorte a acio. Por exemplo: 16 — Int. — Sala de jantar— dia. koe ‘No entanto, no interior mesmo dessa escritura simpli- ficada, ¢ als mais agradivel des es em que todos os ios “sonagens, texto, = ‘devem ser dados sem indicagio técni- ‘cay subsisce uma escriturainvisivel, que atua 2 nossa revels. aioe "Assim, &preferivel escreverraphdamente uma cena PY “da evice vera A rapide da eturaj fad seni a rapes REP [LVRS ecessida, de abrir eqlien, 6a de plano e em con, “Se um pardgrafo, ‘Sua mao leva w uma decupagem. Se, abrind. - o- lando de uma personagem: is pardgrafos aquele | muitas vezes, dificil de ae ‘Pedro abre a porta sorrinda Sidi epiechsaacen Meo cf for aber. ‘Mais ‘avo, se cle olha pela jancla. Mas é possvel, 20 contririo, jt ores ques: dese secretamente (ou de modo explici- tabalha com o diretor) ver as duas imagens junto, ou uma técnica de leitura que po- ' romanesca, Viram-se as pagi- rh ouvir 0 filme através dessa coisa escrita, mesmo correndo 0 isco de se enganar, de ver um outro filme. Nao é necessirio ler tum roteiro, mas, lendo-o, vé-o ja sob uma outra forma. Entre os segredos da escrita invisivel encontra-se a famo- sa sucessio dos dias ¢ das noites, que marca uma passagem temporal, até artificial (a “cena do acampamento de tropas”, ‘num faroeste, pode separar duas cenas que ocorrem no dia, as {quais, no trajeto realista da narrativa, nfo se sucederiam neces- sariamente). No interior de um “dia-tel, pode-se colocar di- ‘versos dias, diversos meses. Exercicio que é muito mais dificil no interior de uma “noite-tela’, E: muito mais penoso saltar de Juma noite para outra noite do que de um dia para outro dia. ‘Nunca pude compreender a razio disso. ‘De todo modo, um ritmo regular relativo aos dias e noi- tes, no interior do filme, é sempre desejével, qualquer que seja ‘esse ritmo. Ele funciona fortemente no inconsciente coletivo do piiblico, com o qual nos entendemas. Esse ritmo ¢ essen- Gal: todas as nossas atividades, toda a nossa vida sio ritmadas. Isso se processa desde © cosmos até os movimentos desconhe- idos de nossas células, e mesmo os das partculas que nos for- mam. Romper todo o ritmo, toda aalternncia dos dia ¢ das noites, pode conduzir a um mal-estar. A um certo fracassos talver. E dificil contar uma histéria que dura oito ‘ou dex meses tom somente uma ou duas notes. As passagens do dia noite, crrrcmenerea,extendem o tempo, fazem-no deslzarrais.de- pressa. » ‘6 dlaro, um filme néo é um io que lui com bela regula: ridade. Pode haver enchentes,cacatas turbilhies: No oH methane rgea (essa € mesmo a regia seca mas CONE faber que aalternincia itmada dos dias das nous OPUS Fe acacroeiteacs0 passnaain geese ea: lente. 1 7) ALGUNS CONS! ELHOS SEMPRE PODEM AJUDAR pe as a0 acaso: uma chances personagens. Nio ‘em que cla se Set msatt totalmente, em que io it ae . , tant z mr meat As i, tant0-0 ator quanto os espe. ee ae vaca 2H discrigdo 4 ambigtidade e mesmo o indefni interpretago — um olhar aqu, do. Saber que a direcao “um gesto ali — dirao remente esquecida: tar 0 ques vin’ » Saber que a frase precedente conheceu notiveis excegbes. Em Persona, de Bergman, Bibi Anderson conta a Liv Ull- mann uma histéria que dura oito minutos. Ela permanece presente na imagem todo esse tempo. Depois disso temos direito & mesma histéria, palavra por palavra, mas nesta vez a ouvimos refletida no rosto de Liv Ullmann, Interrogado, Bergman respondeu que havia projetado uma montagem clissica, focalizando ora uma attiz, ora outra. Mas isso nao funcionava. Entio conservou os dois relatos um depois do ‘outro, dizendo (c é verdade): “Uma historia que se conta ndo Ea mesma que se escuta”. ¢-Dizer a si mesmo a todo momento que a literatura € 0 ini- ‘migo nimero um, que todo efeitolitertio.na escrita enve- nenardo diretor de cinema, que no saberd como transcrevé- Jo. Saber entao fazer 0 sactificio de belas frases, de belas idéias. Saber que um dislogo breve obriga diretorater imaginacio. Pensar imagens compactas, belas e ricas, imagens emble- smiticas, cada uma parecendo conter o filme intro, Buscar para cada cena essa imagem central, e construir a cena em pmo dela. Fazer com que dilogo intervenha apenas em seguida— a menos que 0 proprio ‘centro da cena seja uma palavra ou um efeio sonore. «© Escrever num tempo cinematogtifico, que nao €o tempo teatral, ngm o romanesco. Saber que nada € mais fic do Gque exerever num. romance: no dia seine. Nada € mais dificil num filme do que mostrar guinte, ¢ que é de mand. © Saber que a célebre psicolagia — virinha da. eipolgia, da jlina arbitraria, cuja vet ia — é uma disci ae ‘um de nds. Os verdadeitos carac- 10 anunciar 0 que vai ver. Ndo con- “teres sio imprevisiveis — e 1 a . A - 10 entanto 16, paicol6gica o rigor da construcio dranagh ta : ce letagao revela alguma coisa, que no mai teatro burgués do século XIX em que as wana 2 Sonagem eam pests anes mesmo de sa ele Sent oem. Eo homem quechegaa cavalo nun po enada sabemos a seu respcito. Aos poueer eelstestielcosothare: acid ‘sempre na mente um tinico ele Consearspe mento tebrico:t te dramitico, araser plenamente saisfat6rio, ae ‘mesmo: ei? i — eae Sie ; fan Livrar-seo melhor eo ee eee no 0 considerar jamais acess6- Bee sonora de um filme a partir do ro- _ fie Ebom, quando se acha que o roteir et termina, Seema inicio tendo apenas 20 som, er ~ tando jé ouvir 0 filme, Também trechos muito longos, 1 ‘Petites podem surgir, como na narrativa propriamence dita, i comes: wéncia, uma banalidade qualquer ind 8) O ROTEIRISTA EXERCITA SUA IMAGINAGAO COMO SE FOSSE UM MUSCULO ‘As quest6es que se formulam a0 espirito a propésito de seu fancionamento sio antigas. Nenhuma resposta ¢ absoluta € 0 cespirito mostra-se sempre inseguro a seu préprio respeito. ‘Mas uma coisa ¢ certa ¢ resulta da expetiéncia: a imagi- nagio é um miisculo, Por iso pode ser treinada, como a me- néria ou como 0 pianista que treina os dedos, o ouvido. Para treiné-la, como uum saltador aprimora sua elastici- dade, é preciso pé-la em pritica. E preciso obrigar-se, mesmo todo dia, a partir de uma ocorréncia policial lida num jornal, de uma hist6ria relatada por um amigo, ou simplesmente @ partir de nada ou do préprio vazio, deixando agit as longas passagenssilenciosas que nos atravessam (pois a8 que respiar Phos esta carregado de miriades de histias, como a égua que bebemos, como o som distante do sino, ou da sitene de pol cia), € preciso enfim obrigat-se a inventar uma situagio, um. Jo de narrativa, e mesmo enxergar historias em toda parte, cente a uma pessoa. Relatar uma atirude frase incomum ouvida no me- de se exercitar no sentido de inici conté-las constantem« singular entrevista na rua, uma 116, tendo como tinico objetivo inceressar alguém. 'E um pouco como os cadernos de viagem de um pintor “Aig rteristas ram foros, esbogam croqus eclhem sons no gravador, ‘ou misicas. As vezes até filmam. xistem igualmence — além do fato de narra nariat ‘cena 25 vezes diferentes — se assim recorrer a j c jogos enc: sume €8 OUttOStipos de jogo. tt Wtlizadog exemplo:eu me oloco dianre uma histéria determin: com fre Pelos: Reeinecno Biche vidas idénticas, eet Redes loquear uma situagao, encon- ‘ar aquilo eee ‘pensado, Algumas vezes a ida. a busca. quase sempre 0 caso quando se €oferecida. E preciso esgotar 0 ‘mas sem nunca perder a situa- (e-colega) que escolha, para cada transeunte, uma agdo com desenvolvimento trégico. Quanto a mim, para os mesmos tran- seuntes ou vizinhos de mesa, escolherei uma agdo cbmica. Depois disso, contamos 0 que imaginamos um a0 outro, nos corrigimos. E mudamos também: para cle, 0 engragados ppara mim, 0 patético. E preciso buscar, é certo. £. preciso, como se diz, dar tratos bola, mas preciso igualmente transportar para longea cabega € 05 olhos. Os criadores de gags para Harold Lloyd € Buster Keaton dirigiam-se aos locais da representacio, numa drugstore, rm estidio,olhavam de pert, tocavam os objets falavam com as pessoas. Estabeleciam como principio inflex- vel que o mundo inteio era o-somente um pretesto para um, Ide filme comico e que necessariamente se achava uma gag fem toda panela ott em qualquer haste de vegeta. ‘Os exercicios sio miltiplos. Pode-se adormecer e sonhat, pode-se esperar 6 amanhecer, instante magico do desperan {que os cientstas chamam “a hora da invengao’y € concentra sifciramente o pensamento naquele momento a propésto da seqléncia que deve ser realzada. Pode-se falas, mas pode-se também escutar, olhat. Pode-se ainda esquecer um roreito, luranve semanas e até meses, debando que um trabalho invic sivel se produza, para ressurgir em algum dia, ‘Mesmo a falta de agio pode ser um trabalho. Pode-se também devanear: deixar correr 0 pensamento ¢ mos esclher quase 20 acaso fotografie desconhecias ¢ imaginar histérias que ali se oculram. hotizo, » ten, U irista ve . nte, a notas. Um roteirista vé em toda parte um filme, nenhuma Tentincia, Nenhum, hd agbes em todo lugar, dentro ¢ fora de si. ied eae » Nenhum, sar-se pelo que sucede li fora, assim como pelo que ciee ‘em seu interior. E ir buscar no interior dos outros quando em seu interior nfo se encontram mais respostas. 9) MESMO AS OBSERVAGOES PRECEDENTES SAO PERIGOSAS “Assim, no & preciso obrigar ninguém — salvo em perfodo de formacéo — a fazer isto ou aquilo. Nao se obriga aguém a “no inicio oe viajar para longe se ele odeia viagens e prefere cultivar com a ee tabalhoipedeescondes ne perseveranca seu pedacinho de ard, Aaa . eM aiceoknccs ie ee Ozu por exemplo — construiram toda a sua obra em es aera ESS tomo de cinco ou seis personagens e quatro cenétios ‘cedo-ou tarde ft oon ‘erro, um atentado 4 iramente, consti- Mas a constancia repetitiva, a volta assidua ao mesmo lai6 ses0 6s imaginasao que recinto, a0 mesmo terreno, toda vez. revolvido, novamente as conseqiiéncias. ‘semeado (Ozu e seu roteitista, no inicio de cada trabalho, co- ‘megavam relendo seus antigos script, ali buscando um ponto de partida, para ver por exemplo se uma personagem, comple: tamente secundéria numa histéria jé contada, poderia passar 20 primeiro plano numa histria nova), essa éenica da idel- dade supée uma paixio pelo aprofundamento ¢ um suport ‘cultural, até espiritual, muito sélido (o budismo zen, no cso dde-Onu), sem os quais toda obra correo isco dese atingida oe mas deve one deve aprender aver-se até nas © foreirista nao trabalha poruma monotonia de superficie afi mae dow inguém & sua frente. E asdiy n Condigdo é evidentemente encontrar na profundeza 0 que 140 Wewitisiicctniiem tote se busca na ampliddo. Rigor aumentado a cada tentatva ees tS 10) A OBJETIVIDADE DO ROTEIRISTA £. FELIZMENTE IMPOSSIVEL (Cereado porum verdadeiroloque de presses de ordem tén,

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