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A TEORIA DO CONHECIMENTO UMA INTRODUGAO TEMATICA Paul K. Moser Dwayne H. Mulder J. D. Trout “Tadugio Maaceto Beano Croats Martins Fontes Sao Paulo 2004 W 57464 Pes-Cead 07. 1.659.49, 29/08/2007 RS30.24 l2] mer ). ta ‘she ind eae sn 7 ne Ad eee opm oneannen en Te cxorame igen Bape ete vont ni pctv en Or toda uncon eta at 08 ‘tcerte acevo sano CIPOLLA (ape nS Rewer rai Prarie Gera as su omits alone de Crap na Peo) (Canara een 58 al Tens Pak ‘Mote Drayae Nl! ro eer Ml Bas ‘Sis Stoo: Mati ac 00" (ctn Ue ‘Tae Teheran: aan bust. iors "Consol, Denys Lt et, Tacs para eo diana ‘tease ttn sen le 2 Todos on dives dest dito par Brat reiervodor& rare Martie Fonte tora Lit ‘na Conseltir Ramat. 330 0132-000 Seo Paulo SP Beast Tel 11) 32413677 Fax (U1 3105 6867 mat nfocgmartnsonas.cambr tp lien mariafontes.comtbr Prefiio carrito cartruto cxtruo INDICE 1| Aepistemologia: um primeiro exame .... Por que esnidae 0 conhecimento? Algumas diividas sobre o conhecimento . ‘A definigéo tradicional de conhecimento Conhecimento e experiencia As intuigdes ¢ a teoria 2| Uma explicagao do conhecimento (© campo da epistermologia © conceito de conhecimento . 7 Epistemologia, naturalismo e pragmatistio O valor na epistemologia .. sp Acrenga oo. c ce As crengas ¢ os estados de representagio . ... As crencas e a atribuiglo de crengas ‘Acaso as crengas s4o transparentes? As ctengas € os ideais tedrice (O climinativismo e suas previsies...... CAPITULO 6 AS FONTES DO CONHECIMENTO Neste capitulo, examinaremos as fontes do conhecimento e trata- remos especificamente do tema: de onde vem 0 conhecimento, Apre- sentaremos as fontes tradicionais debatidas pelos racionalistas ¢ empi- tists trataremos de fortes corn a percepgio ea meméria. Depois, nés nos voltaremos para o/papel complexo e essencial desempenhado pelo tesceimunho no processo de conhecimento. O testemunho envolve uma diversificads rede de dependéncias sociaise suscita assim uma pergun- 1; por acaso o catéter social das atividades intelectuais contribui para ‘o conhecimento? Em caso afirmativo, de que modo o faz? (© RACIONALISMO, 0 EMPIRISMO E 6 INATISMO. No decorrer da hist6ria, 0s filésofos adotaram sempre uma combi: hago de duas correntes de pensamento: 0 racionalismo ¢ o empitis- smo, Eas cortentes resistem a urna caracterizacio simples, mas seus ta- {908 extzemos ¢ mais opostos podem ser expressos, grosso modo, como segue: segundo o racionalismo, a razdo no empirica é a fonte de todo _conhecimento, 20 passo que, segundo o empirismo, afonte de todo co- nihecimento é a experiéneia sensorial. Vamos comecar por examinar as ~ posigfes basicas de cada um dos lads. 112 JA THORIA 90 cONAECIMENTO 4S Fontes D0 cowsscinseno | 113 empirimo basico assevera que nio é possivel adquirir conheci- Segundo 0 racionalismo, certas proposigées detém um status epis- mento da reilidade através do uso no empirico da razo. Afirma, por ‘emoldgico privilegiado pela sua prépria natureza, Pense, por exemplo, exemplo, que nao podemos ter conhecimento algum averca da realida- . nas duas proposigdes seguintes: 7 i" de ou itrealidade dos unicdrnios pelo puto e simples exame do concei- wo ou idfia de unicéenio. O mesmo vale, digamos, para a questio da 1. Todo acontecimento tem ura catisa. realidade dos elefantes: no podemos saber se eles sio reais ou nfo pelo 2. Dois objetos nfo podem ocupar exatamente o mesmo lugar mero uso nfo empirico da razio. O racionaliomo bdsico, pot ousto lado, AE: ‘pago a0 mesmo tempo. eine afitma que temos acesso a alguns conhecimentos por essa via. Néo po- ‘demos determinar se os clefantes existem pelo uso no empirico dara Segundo ‘os rttonalints emai propasigics so eplaremo ‘io, mat, segundo 0 racionalisma bisico, podemes determina, por exem- te expeciais pelo fato de ser de cooncae ee plo, que todo acontecimento tem uma causa. Alguns racionalistas as, ou sea, sintéticas. Pode-se dizer que sio co voces « ror poe (mas nem todos) diriam também que podemos provat a existéncia de © que nfo sio nem adquiridas nem justificadas ae base rer be Deus pelo uso nio empitico da razio. Se; de acordo com o empirismo sei ks giebealaiaeae Paden tue fee tae cae bisico, nds nio podemos adquirir conhecimento da realidade através ities porque tém um conteido deseo earnhe ts propaigoes do uso no empirico da razio, a realidade no se nos torna conhecida ataliiod Ulsinigtes): Chammee ter chat ny eeeeosigoet por meio da ineuico racional ou pela luz de prinefpis universisina- tuo 1) Nio pecs, por enquant, pti prespons detec Sees rom coast ne gel siéncla sensorial e do uso empftico da razio~ ede mals nada. De acor- Te ers ko bsante, eos de pensar cm como € posse! aver rento sintético € aprioristico. A questéo a ser respondida ddo com ess corrent, podemos ter aceso a ura conhecimento verdad eee pric 1; caracteristicamente, ela sustenta que podemos ter conhecimento pecs erie roposisdes sineéricas independentemente da também da realidade objetiva e independents da mente. | Muitos empiristas so empiristas conceituaise sustentam que todos: # ‘0s conceitos sao direta ou indiretamente adquiridos através da expe ridncia sensorial, E evidente que todos os conceitos simples, ¢ até mes: mo alguns conceitos complexos, so adquitidos desse modo. Inclul- mos af of conceitos de azul, amargo, cio e papel, por exemplo. Segun- do 0 empirismo conceitual, conceitos complexos como, por exemplo, 8 osde planeta, automvel, computador e fazendeiro, muito embora nfo 8 lus essa proposigao parece ser sintética, d¢ um lado, ¢ parece ser aprio- sejam adquividos direemente através da experiénci, sio compostof = rstica, de outro. Vamos caractetizar 0 uso emplrice da razdo como uma inteiramente de partes assim adquiridas. O empirismo conceitual no, b__ cle duas coisas: ou (a) 0s processos de pensamento que tém por objeto postula condigées especiais para a aquisigio do conhecimento através Wexperiéncia sensorial ou (b) os processas de raciocinio dedutivo ou da experiéncia sensorial. Oferece antes uma alternativa geral a0 inai {ndutivo que partem de premissas derivadas dos ditos processos de pen- ‘imo conceitudl, a idéia de que nés detemos a posse inata de certas con __ Sumenro. Em contraposicdo, vamos caractetizar 0 so no emptrica da ceitos, independentemente dos sentidos. O empirismo conceitual © =, Iiado como todos os demais processos de pensamento com excecao do empirismo bésico sto posigées logicamente independentes nam \lso empirico da razio. Uma inferéncia indutiva baseada em relatos de ‘em que nenhuma das duas acarreta ou implica logicamente a outra. ‘bservagao é um exemplo de uso empirico da razo, mas a simples (Os racionalistas ¢ os empiristas deram explicagées opostas para as proposigSes em questo, Os racionalistas dao énfase ao papel da razao € 08 empiristas sublinham 0 papel da experiéncia sensorial. Alids, os ‘empiristas coscumam negar a prépria existtncia de conhecimentos sin- {éticos 4 priori, como 0 conhecimento da propsigéo “Todo aconteci- ‘mento tem uma causa’; ¢ fazem de rudo para ndo ter de explicar por 114] A TEORIA DO CoNMECIMENTO i AS FoNTES 00 cowsECIMENTO | LIS inaras (5e & que taisidéiasexis- didas pela crianca quase nunca ao ensinadas explicitamente; nao obs- tante, aos quatro anos de idade, ela jd fala excepcionalmente bem. Ninguém explicou 3 crianga a funcio sintitica do verbo, o uso da vor Passa e das orag6es subordinadas. Mesmo assim, ela usa tudo isso com consideravel habilidade. Quando a crianga recebe informagées do mundo exterior, essas informarées séo as vezcs contraditérias ¢ variam de acondo com as pessoas que as dio, Ibso podetia causar uma tertfvel confi na rans nore fone pla sundae quintile de in formagbes lingiisticas que ela jd possui — ou, pelo menos, énisso que exéem os racionalistas. ape 7 7 5 consciéncia da relagio entre certas idéias tem) é um caso de uso nao cmpitico da razZo. ‘Segundo um dos principais argumentos dos racionalsta, ma pes- soa parece ter conhecimento de P, mas, em virwde de motivas expect ficos relacionados &s caracteristicas particulares do caso em questo, no poderia tet edquiido (ou pelo menos ndo adquitiu de fato) 0 co- nhecimento P através da experiéncia sensorial. Vemos uum caso dessa tstratéyia de argumento no Ménon de Platéo, num epis6dio envolven ido um menino escravo. Sdcrates pede ao escravo que responda a uma série de perguntas acerca das proporgées de um quedrado, O escravo far uso de uma figura quadrada desenhada por Sdcrates, mas, como 08 ‘Outto argumento em favor do inarismo foi dado por Jerry Fodor escravos da antiga Atenas nfo recebiam a mesma educacéo dos ho- ©. (1975): conclui ele que a maioria dos nossos conceitos é inata, se- nao todos eles. © argumento parte da afirmasio de que o vinico mo- mens livres, néo poderia ter adquirido esse conhecimento mediante 0 processo empitico da instruso formal. Uma vez que o escravo respon fF _delo de aprendizado de que dispomos envolve a formulagao de hipéte- de corretamente as perguntas acerca do quadrado, Sécrates ¢ seus in- ses a respeito do mundo, hipéteses essas que séo depois confirmadas ‘ou refutadas, Para formular hipéteses, porém, precisamos formuli-las rerlocutores concluem que seu conhecimento ¢ inato, ¢ no adquiride a de modo empirico. em alguma espécie de vocabulirio, As criangas pré-verbais conseguem ‘Descartes apresentou um argumento semelhante a respeito do nos 7g aprender algo acerca do mundo, como conseguem também os cachor- so conhecimento do quilidgono, um poligono regular de mil lados. Se- balances Como a todas ests falta uma linguagem natural, pando Dears, vias lags materi poetam ser dedi o vocab am que so nerormente formuladas as hipsteses ndo é go conhecimento da natureza do quilidgono, mas essa dedugéo néo Tinga eo fem de ser uma outra espécie de lingnagem: uma poderiaproceder com base nem nos scntidos internos(introspectivos) en eee era ea ene ae Poe them nos externos. Se al figura nos fosse apresentada visualmente, © Fels tis alge dood cei as tees ee cs Ge Pelee al conceitos so inatos. Essa versio Angulo de cada vértice seria tio préximo de 180 graus que seria muito g< tismo trata especificamente das conceitos, mas esse inatsme beter dite! distinguie 0 quilidgono de um cfrculo. Quand procuramos co fon pode ot sie ba re ° sihecer esa figura pela introspecgio, diz Descartes, deparamo-nos com Elo aprioieda paubliieeioaceniies ¢ meno problema. Portanto, nosso conhecimento das caractrisicas Uma discussio completa do inatismo lingistico ultrapassari dh quildgono deve ser inao, « a0 adquirido neta pelos sentidos in- tuto o ambitn deste lio. Para capar bem «compleidade do senin- rernos nem pelos exernos. ok peas alt par ‘O aagumentoreconalsa favor do conhecimenc ato tem uma itntamo. Dense ov iioegut es peed one ssn ote ada as vezes de argumento da pobreza do: titar 08 exemplos de criangas que cresceram oe eect pode al estimulo, Segundo esse argumento, 2 existencia do conhecimento ina } - ouvindo pouco a linguagem falada, e que néo eram. sone de ee a to ¢ inforida a partir de um dominio especifico, por set a melhor expl 4 thuma lingua natural. Sio poucos os casos regist oe falar ne- tagio para ofato de adquiritmos alguma competéneia ou capecidade: dele Gs pede later utseet sees Le Fase argumento éusado sobzerudo na lingtstca moderna em virtud ‘Aparentemente as pessoas que aprendem a falar depender do efe princgumente da obra de Noam Chomsky. As primeira palevras apt ible da Uae Rss see gente ee pea encarnagio moderna, cham: 116] TEORIA DO CONHECINENTO AS PONTES Do cotieerMENTO | 117 nao tém accesso aos efeitos perceptivos comuns da fala, no sto capazes de adquirir uma fluéncia normal £ evidente, porém, que 0 etimulo (neste caso, a fala audivel e visivel) nao é pobre em relacdo as necessi- dades daquele que aprende. Ao mesmo tempo, exes cis sf exte- frascologia semincica, os terms que expressam esses conceitos no te mamente difieis de interpreta, Parece que muitas capacidades tela- iam sentido nenhum: plicada e néo precisamos cratar dela aqui cepgbes obtidas pela faculdade intuitiva, Pode ser que logo alguém ve- ‘Ameméria parece ser um privilégio da primeira pessoa, Muito em- noha 2 dar uma tal explicagio, mas nfo hé nenhuma que goze de cons ~ bora nossas memérias telativas & nossa proptia pessoa contenham mui- senso na epistemologia contemporines. tas informagbes propositivas erréneas (ou seja, informagbes exrbncas 124 |ATEORA D0 conHECINENTO acerca do objeto de lembranca), quase nunca acontece de termos dvi- das quanto ao fato de aquilo ter acontecido conasco. E certo que, as ve- 225, 0 que pensamos tet acontecido conosco aconteceu na verdade com lum amigo 01 um irméo, Os casos desse tipo niio se prestam a uma ex plicacdo simples ¢ uniforme. Do mesmo modo, é comum que as pes- ‘soas reparem na dificuldade que envolve o fendmeno da miitipla per- sonalidade quando ouver quer um relato clinico de que “o paciente tem trés petsonalidades”, quer umm relato em primeira pessoa de que “eu tenho trés personalidades”. A que se referem, nesses casos, 05 ter mos “o paciente”-c “eu”? Essa questio suscita uma preocupacio mais = afim do problema merafisico da identidade pessoal do que do proble- ma epistemoldgico do papel da meméria no conhecimento. Mesmo assim, vale a pena mencionar os dois problemas em conjunto, pois ro- ddas as lembrangas tém um sujeito eum objeto. Existem, portanto, pelo ‘menos das modalidades de erxo possfvel na meméria: uma identifica ‘eo incorreta do sujeito e uma identificacio incorteta do objero. Embora a meméria seja evidentemente falivel, costumamos su- por que o ato da lembranga € como a exibigéo de uma fica de videos mas o peso das evidencias experimentais dé a entender que essa supo- sigio ¢ falsa, Pense, por exemplo, no experimento do qual falaremos a seguir (ver Loftus ¢ Ketcham, 1994). Primeiro, os voluneériosassistem 1 um detetminado acontecimento. Depois, recebem informagdes ver- bais a respeito do acontecimento (uma informagio que pode ou mi86 conmter detalhes cruciais insetidos ali pare causar confuséo). Por fim, ‘so submetidos a um teste de meméria com perguntas sobre esses de- talhes cruciais. Num determinado estudo, os voluntitios asistiram a | tuma série de slides que retratavam um acidente de automével. Mai tarde, alguns voluntitios receberam uma sugestio crr6nea a respeito do tipo de sinal de tinsito que marcava uma determinada intersecgfo: viram um sinal de “Pare” na intessecyo, mas foram levados a crer que | cere um sinal de “Sige”. Depois, dos os voluncirios foram submetidos a um teste de escolha, com duas altemnativas. Foram instrufdos a iden tificar qual de dois slides haviam visto na exibicio original. A maior das quest6es do teste consistia em detalhes do acontecimenco compa~ rados a novos elementos de distragio, mas a questio “critica” era uum. 3 detalhe do acontecimento comparado ao detalhe erréneo anterior As FONTES DO CONHECIMENTO | 125 ‘mente sugerido(sinal de “Parc” e sinal de “Siga", por exemplo). Eo efei- to dessa sugestio errénea? Nas questées criticas, os voluntiios que re- ceberam Informagbes Erréneas Pés-Acontecimento (Misleading Paste- ‘vent Information ~ MPL) responderam com muito menos preciso do que 0s que nao as receberam. 0 efeito da informagio enxénca sobre a meméria € poderoso; nfo & mera ctiagio das pesquisas de laboratbtio sobre a meméria, A tinica controvérsia em torno desse efeito € uma discordincia entre os psics- logos quanto a ele ser causado pela obliteragio ou “substituigio” da informacio corsera originalmente processada ou pelo fato de a infor- magio etrénea prejudicar a capacidade de recuperagio da meméria original. © ponto mais importance, agora, é que a explicagao sisvemé- tica da contribuigéo da meméria para 0 conhecimento tem de levar em conta ossas questbes te6ricas complexas quanto & natureza da me- ‘méria: em particular, a confiabilidade da memeéria, sua vulnerabilida- de as sugestdes € 05 danos que podem resultar das informagées err6- reas pés-acontecimento, AUNIFICAGAO TEORICA ‘Outra fonte de conhecimento se nos fax dispontvel através da uni- ficagio de fend menos aparentemente desconexos. O fato de 0 conhe- cimento ter fontes distintas torna possivel uma determinada estcaégia de justificagéo. Partindo do pressuposto de que qualquer objeto real tem diversos efeitos (uma drvore, por exemplo, dé sombra, fornece oxi- gfaio, consome Agua, etc), nosso conhecimento a respeito de um ob- jeto pode provir de diversas rotas de informacio. Quando a existéncia cou a naturera de algo € matéria de controvérsia ou desentendimento, isso exige uma hip6tese especifica sobre algo, uma hipérese tal que pos- sa unificar uma variedade de informagdes emplticas ¢ teéticas. A teo- ria da gravidade nao explica somente os diversos sistemas orbitais, mas também 0 comportamento dos corpos especificos dentro desses siste- mas. A teoria atbmica da matéria explica a relacéo causal entre fendme- nos que de outro modo parecetian ndo ter relacdo entre si, como 0 mo- -vimento browniano, aelerrdlise ea emissio de raios beta, entre outros. 129] A TE0R1A DO CoNHscIMENTO A estratégia da unificagio tebrica se manifesta nos primérdios das cigneias experimentais modemas, bem como. em outros contextos. Um exemplo do principio orientador da unificagio explicativa ocorre nos Novos experimentos fisicomeciicos concernentes a elasticidade do area seus cfetes, de Robert Boyle ((1660]). Considere o brilho des- pretensioso com que Boyle demonstra o funcionamento da bomba de far ¢ a necessidade que os Spequenos animais” tém de respirar, Relata ptimeiro gic, depois de colocar uma “mosca da carne” no recipiente ligado & bomaba, “a mosca, depois de algumas bombadas de ar, caiu das paredes laterais do vidro, onde estava andando”. Num experimento anterior, ele havia usado uma abelha; depois de a bomba ter funciona do por algum tempo, a abelha caiu das flores que haviam sido pendu- radas na parte de cima do recipiente. Porém, esses resultados experi- mentais nfo permitiam que Boyle distinguisse entre duas hipéreses plaustveis que podiam explicar 0 comportamento da moscat ¢ da abe~ 4 Iha; e Boyle sabia disso, pois afirmou que um outro experimento seria necessério para determinar “se a queda da abelha, bem como a do ou- to inseto, foi devida zo fato de 0 meio aérea ser demasiado rarefeivo, ou simplesmente da fraqueza, ¢ como que do desmaio, dos préprios animais" ({1660], p. 97). Seja qual for a hipstese pela qual se opte (a falta de apoio do meio aéreo ou o desmaio), a hipétese nfo seleciona- da ena uma hipétese plausivel. Por isso, fizeram-se novos experimentos; ceujos participantes involuntérios foram uma cotavia, uma fémea dé ppardal e um camundongo. Nesses trés casos, os animais cafram na in ‘consciéncia a0 cabo de cerca de dex: minutos. Boyle partia do pressuposto de que uma hipstese reérica pode set 4 comprovada ou refutada por um novo experimento; supunha ainda, _que.o que distingue a boa hipétese da md nao ¢ sé 0 seu valor de ver~ dade, mas também a sua capacidade unificativa. Uma hipétese te6rica capaz.de unificar “a queda da abelha” e 08 outros fendmenos correlatos ‘observados ~ fazendo apelo a uma ou mais causas no observiveis ~ & preferivel a outra que nfo possa unificélos. Uma das principals carac- teristiczs da experimentagio & que os expetimentos dever ser conccbi- dos de tal modo que uma hipSese possa set comparada &s suas m: provavelsrivas. A disteminada preferéncia tebrica por explicagSes que’? uunifiquem dados que de outro modo estariam desconexos ¢ favordvel AS FONTES DO CONMECIMENTO | 127 a0 quese chatna de nogio explicacionista da justificagéo. (Nos Capfeu- los 8 € 9 voltaremos a este ponto, manifestando o nosso apoio a uma abordagern explicacionista da justificagao e da propria epistemologia.) Na prética, temos bons motivos para aceitar a hipSeese que unifica os dados em questio porque é el que oferece a melhor cxplicasio para os da- dos que precisam ser explicados. O explicacionismo aplicado & justficagio no ¢ demasiado técni- co nem complicado. Aplica-se nao s6 as ciéncias, mas também a0 di reito e ao lazer, bem como a diversos outros dominios. Quando, por exemplo, voc? ouve certs ruldes no foro no meio da noite (€ no

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