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Coleeso Debates Dirgia por J. Gainsburg adeline daumard HIERARQUIA E RIQUEZA ' NA SOCIEDADE BURGUESA Sv Ave 4 EDITORA PERSPECTIVA mie Dein ety on ae Acasa ae A= 2, DADOS ECONOMICOS E HISTORIA SOCAL* ‘Bm todas as 6pocas procurou-se descrever as sociedades’ hhumanas, porém, durante muito tempo, tema reteve a atengto de cronistas ou de filésofos. Hé alguns anos, ao contrério, hito- riadores cada vez mais numerosos interessaram-so pelos estudos socials, introduzindo o método quantitativo nas pesquisas. Sem omitir os acontacimentos ou o papel dos individuos, ohistoria- dor procurou depreender as caracteristcas dos diversos grupos socials. EntSo se impés a necesidade de medir: os eBmputos «statisticos adaptam-se melhor do que a desrigao de casos tfp- 0s, sempre contestiveis, ao estudo dos grupos, apresentando ‘uma gerantia'maior de objetividede, pois permiti eliminar mais facilmente 0: casos aberrantes, Obviamente, tudo o que procede da deserigdo social nfo & mensurével, porém um dos objetivos do historiador ¢ ampliar ao maximo 0 campo da estatistica, * Données économiques et hiktore soviale, Resue économé ‘que, Pais, 1965, n° 1, pp. 62-85, 31 ‘mesmo em dominios que pareciam, antes destas tentativas, completamente irreduttveis a uma apreciago numérica, © historiador nfo se encontra sozinho na busca daquilo ‘que pode ser mensurével. Numerosas outras disciplinas que se relacionam mais ou menos estreitamente as ciéncias humans utilizam sfries estatisticas para conhecer a evoluezo do passado, as tendéncias do presente e até para “prospectar” 0 futuro, Estabeleceram-se contatos entre historiadores ¢ economistas, porém confrontou-se principalmente a histéria econdmica com, © pensamento dos economistas.’ Resta estudar as relagdes da historia social com a economia politica. Esta questo levanta © problema do lugar que o estudo dos fatos sociais deve conce- Get gos dados eondmicor-E um vanfoasmnto que nor Prope. ‘mos esborar apenas e sob um Angulo particular. Nosso ponto de partida no ser4 um raciocfnio abstrato, porém muito mais simplesmente uma experiéncia, a tese que consagramos a0 estudo da burguesia parisiense sob 2 Monarquia Censitéria.” Nestas condigdes, nossas reflexes sfo apenas um ensaio provi- sério, uma simples orientagdo destinada a ser revista quando ovas sinteses estiverem & nossa disposigio. Contudo, desde jé, possfvel e itil estudar, a partir de um easo preciso e do ponto de vista do historiador, como @ histéria social e a econdmica podem se amparay mutuamente. 3. Um Quadro: As Estatisticas Beondmicas Para todos aqueles que se interessam pela histria socal 4a Franga contemporines, existe uma dificuldade relacionada & falta de um quadro que agrupe o coxjunto da populagéo: nada -de categoriasjuriicas andlogas ds ordens da monarquiaabsoluta;, ;pouco ou nada de agrupamentos de fato, profissionas (sindice tos ou associagbes), politicos (partidos organizados com nume- 0%0s membros), religioso, confessionsis, esportvos até, cultu- rais ou outros. Deve-se, portanto, encontrar um viés para fazer com que aparegam of grupos, matéria-prima do extudo social, depois para apreciar a evolugio da condigdo dos diversos meios. 1. J, MARCZEWSKI, “iste quantitative; buts et métho- es", Cahiers de TESEA., 09° 115 (tio AF, 09 1), pp, HELIV e 3 LHONME, “Lattitude de Péconomiste devant histoire éeonomigas Rerue historique, abiikjanha de 1964, pp. 297-306. 2. A. DAUMARD, La bourgeoisie priianne de 1815 4 1848, Paris, 1963; edigdo abrevada: Les bourgeots de Parts au XIX® sibel Paris, 1970, 32 A este respeito, no tocante a Paris da Monarquia Censité- ria, muitos fatores sfo suscetiveis de consideragdo: & o caso dos fatos demogrificos, cuja importincia foi destacada por virias obras dedicadas & populaedo parisiense,? ou dos fatos politicos que forecem no s6 uma cronologia, mas também reagrups ‘mentos em razio do sistema eleitoral censitério e da selegto feita pelo recrutamento da guarde nacional parisiense. Todavis, devese prestar ateng#0 particular aos fatores econdmicos. © ‘grupo dos eleitores censitérios, por exemplo, tem sus existéncia ligada a fortuna, mesmo que 0 censo fornega apenas uma gr0s- seira aproximaeao do valor dos bens. Acima de tudo, a monar- quia constitucional coincide, em Paris, com o surto econémico consideravel do qual grande parte da burguesia se beneticia; a alternancia de fases de prosperidade e de crise desempenha um papel tanto mais importante quanto a condiedo de uma grande parte dos burgueses de Pars liga-se diretamente 20 movimento dos negécios ¢ & expansio econémica. Enfim, simples argumento de fato mas nfo despreztvel, existem estatisticas econémicas, quer publicadas quer passiveis de serem elaboradas a custadeum ‘trabalho mais ou menos longo, estatisticas que fomecem dados numéricos relativamente ficeis de reunir. Sem divide, para ‘outros perfodos, para outros tipos de civlizagzo, outros critérios poderiam se impor. Mas cumpre reter um ponto de interesse geral: a hist6ria social deve constituir arcabougos, procurar qua- {ros para neles integrar as suas observagdes; por outro lado, em rnossas civilizagGes de tipo ocidental moderno, onde a atividade principal da maioria dos homens ¢ orientada para o desejo de produzir’ou de vender e de ganhar, seja um salétio, seja um bbeneficio, os dados econdmicos ndo poderiam jamais ser despre: zados mesmo se, em ditima andlise, eles no paregam sempre determinantes. Encontrar os dados econtmicos de base & uma das dificul- dades com as quais se chocou, desde o inicio, 0 nosso estudo sobre a burguesia parisiense de 1815 a 1848. Toria sido desejavel spor de dados conjunturais que caracterizassem a evolugio econGmica do perfodo na Franca inteira e, mais especialmente, ‘em Paris: ora, a5 fases da atividade econdmica, a evolugso dos pregos, das rendas e dos salérios 6 eram conhecidos de maneira ‘muito aproximada ou fragmentiria. Era mais diffcl ainda arro- Jar 0s dados de estrutura: os recenseamentos demogréficos, 3. L CHEVALIER, Le formation de la population parisenne ‘au XIK® siéie, Paris, 1950 e Classes labourtauses et elassesdangereuses (OKVIIN, Pais, 1958. 33 a_i i af por exemplo, que, aliis, formecem indicagGes sobre as caracte- abordar este ponto que ¢ da algada dos historiadores especie risticas das profissOes econOmices e sua importincia em relagdo lizados em histéria econdmica. Mas, forgoso & indicar que & populagg0 total, desapareceram, destruidos como tantos _- Teoonstituir sobre estas bases a evolugo econdmica do passado outros arquivos piblicos da capital; do mesmo modo, é impos- parbce responder com dificuldade is ex sivel fentar uma reconstituiggo aproximada dos niveis de fortuna ou de renda segundo os repistros fiscas, pois estes nfo [Em nosso estudo sobre a burguesia parisiense foi reunido (© maior ntinero possivel de dados econdmicos e nada teria sido mais existem. ‘mais desejvel que poder ampliar mais ainda o leque dos elemen- Por certo, as lacunas nas fontes sf0 uma das dificuldades tos recenseados se estes tivessom sido arrolados pelos estudos inerontes &s pesquisas histricas (a outra, nfo menos constran- dos contemporéneos ¢ por trabalhos atuais. Porém, tis dados gedora, ¢ a pletora dos documentos de substituigso suscetiveis nfo foram selecionados globalmente de modo a éonstituir um de fomnecer informagdes tteis, por vezes essencias, porém 20 conjunto em cujo seio se hajafxado de antemdo olugar da desce- ‘prego do um trabalho muito nais considerdvel) Esta dificuldade [fo social. Foram escolhidos um @ um como simbolos, entre ‘fo 6 insuperdvel, endo que uma equipe de economists, dri Outros, de uma situapdo social que o objeto de trabalho deveria sida por J. Marczowski, elabora atualmente uma “histria justamente ospecificar. Uma dupla preocupagio orientava a quantitativa da economia francesa” da-qual-ainda nfo foi post escolha: 2 de utilizar do méximo os dados numéricos legados vel, infelizmente, tomar conhecimento"no momento em que pelo passado (sejam as estatisticas propriamente ditas, sejam redigimos a nossa obra..Na introducdo"geral que precede 0 09s diversos documentos bastante mumerosos e bastante precisos primeiro cademo, J. Marezewski indica em que espiito traba- para poder fornecer computos relacionéveis a um todo rigorosa- Tham os seus colaboradores e confronta 2 atitude do economista mente definido); necessidade de seter testemunhos acerca dos com a do historiador.* Para J. Marczewski, a historia econtmica ‘mecanismos postos em evidencia em data posterior & 6poca estu- cesctite pelos historiadores nfo merece ser plenamente chamada dada, no caso presente, as relagbes de forgas econdmicas © sua de quinltating, “pols 0 Histocador TEA apenas algun evolugao, mas também acerca dos fatos que chamavam a aten- aspectos da evolucio_econémica, sindo_que as sinteses que fo dos homens do passado, sfmbolos de sua mentalidade. A ‘prope se fundam em andlises incompletas. AO contrério, 0 sscolha dos dados econdmicos repousi, portanto, nfo 6 em tema_do_economiita, baseado na concepyéo da “macroeco- ¢ hipéteses de trabalho em uma consinugio te6rica elaborads mia” esforgace por sedurir a parte da escolha na observa, \S atualmenfe, mas deve ter igualmente.em conta as realidades colocando, no infeio, um “modelo”, digamos mais simplesmente, a historia, € feita em funcdo da natureza das fontes e das ‘um sistema que se apreseita como independente de um perfodo aracteristicas da sociedade e da cWvilizagto que estas revelam. ‘strlen dedo.ea Op Eee a O estudo da burguesia parisiense teria sido facilitado se 1 yudesse apoiar-se no conhecimento das estruturas econdmicas ‘forgas economicas: Esta concepefo apresenta inlimeras vaniagens Shae aia to no domtiodoe d enubilade do tebao: uma ver | 0 ahém no conhesineto d onus propriate laborado o sistema, @ tranguilidade de espirito do pesquisador © | pormitia 4 pesquisa social encontrar todas as bases desejiveis; 6 perfeita, ele nada mais 6 que um artesdo trabathando na exe- | : | eugfo de tum plano e\0 labor em equipe torna-s fil de organi- fata aepperenperittapatantes pein arate zat. Por outro lado, estando fixado o esquema geral, faz-s2 Bear ee necetees aaner ects es ee : tituir com frequéncia estatsticas inexistentes. ppossfvel efetuar interpolagSes sem muito risco e preencher os vazios quando falta documentacio, ja que cada componente Duas categorias de dados sfo essenciais, uma concerme ‘ccupa um lugar em um conjunto previamente construfdo. Este 20 conjunto de Paris, outrarelacione-se mas particularmente a0 raodo,basado nt aplcagto de teoras economics, €aplieéve estudo especifico de burgueste. Numerosas sfries permitem hitria~economled~propramente-ditz-menos-wstemdtca | 0 desrever primero « expansio econdmica da capital de 1815 a ieee vez aaa a peoeupagten ah Gomplevas No relamos Y 1848, bem como suas fases de prosperidade e de crise. Seria necessirio ainda reconstituir estatisticas que, salvo excegdes, 4. Histoire quantitative; buts et méthodes, op. cit pp. WVU, 5. A. DAUMARD, op lt, pp. 416-480, 34 | 35 ae nfo eram fornecides diretamente. A. progressf0 do nimero de contribuiates licenciados ¢ do produto dos alvaris de contri buintes, a do valor das exportagées declaradas na alfindega de Paris, o proprio eumento do ntmero de repistros de socie- dades apresentados 20 Tribunal de Coméreio do Departamento do Sena (ge bem que sejam necesstrios corretivos para levar em conta eventualmente a eriagio de sociedades puramente espe- culativas,* 0 desenvolvimento das indistrias, 0 da construgio, como também aquelas.cujos tragos subsistem nos relatérios do Conseiho de Salubridade, formecem simbotos de progressfo dos negécios, sensivel no final da Restauragao, antes da criso que enquadra a Revolugdo de 1830, mais particularmeste deentuada durante 0s dltimos anos do reinado de Luis Filipe. Progressfo entrecortada por crises, conhecidas no quadro nacional, mas ccuja gravidade especifiamente parisiense se mede pelas varia g6es dos fatores acima citados, assim como pelo niimero de {aléncias e por sua importanca, avaliada segundo o montante do passivo. O ritmo e as caracterfsticas da expansfo econdmica da capital apresentam um interesse geral, pois saientam principal- ‘mente o papel motor desempenhado pelos grandes promotores do negétios ¢ pelos grandes negociantes parsienses no desenvol- vimento da economia francesa que ganha entdo grande ritmo comega a adotar, nos tiltimos dez anos do.reinado de Lu‘s Filipe, as formas modernas do capitalism. 0 estudo deste desenvolvimento esté’ em relagso direta com 0 sujeito social que & 0 objeto de nossa obra. Numerosos Durgueses de Paris, de todos os graus da hierarquia social, eram oar Haven utes de tapes por low expanco coats itica'&-tm-simbolo-daprogressto dos grupos burgueses no onjns-da populagro &-4e as Motuagber andicns nomex damente na medida em que 0 patronato, mesmo considerando- se a existencia de uma empresa popular inteiramente mediocre, ‘opde-se a0 proletariado miserével ‘A evolugdo das fortunas © das iendas esté ainda mais estreitamente relaciotada com a condigéo burguesa. Mas, mes- mo af, 05 dados de base eram ou fragmentérios ou inexistentes, sendo'necessirio portanto reconstitutlos, introduzindo-se, por vezes, a fim de se proveder is escolhas ou aos cémputos consi- deragves ligadas mais as exigéncias da pesquisa social que 0s princfpios da contabilidade nacional. Assim, foi concedida grande importéncia ao estudo dos patrimnios, cujo montante ‘variagdes foram reconstitufdos 2 partir'das declaragbes de 6. Hem p. 436 56 sucessZ0 feitas a administragao do Registro de Herangas ¢ ‘Legados de Paris em 1820 e em 1847: 0 montante dos bens deixados pelos defuntos ¢ a partihe das fortunas segundo sua importincia evidenciaram um enriquecimento de quem tinha posses, mais marcado 20 nivel das grandes fortunas, mas ngo desprezivel para 08 representantes da classe média.”’O estudo das rendss, principalmente na falta de qualquer documentagio fiscal sobre a questdo, é mais dificil de fazer-se do que o do capi- tal; por isso s6 podemos estudar a variacZo de dversos elementos ‘componentes das fortunas burguesas nem sempre escolhidos entre a5 mais significativas, mas em fungao das fontes dispont- vweis: cotagio de apélices da divide piblica francesa, da agdo do Banco da Franca, variagdo.do valor dos iméveis parisienses* © do prego das custas de tabeli6es e de procuradores. A despeito de uma grave lacuna, ligada & auséncia de informagio sobre o lucro industrial ¢ comercial, as curvas tragadas segundo estas séries? fornecem umleque bastante amplo sobre os diversos aspectos do capitalismo parisiensee permitem adiantar a seguin- te conclusfo, que confirma a observagio baseada no estudo' da fortuna: com abstraedo dos periodos de crise econdmica que ocasionam uma regresslo temporéria, 0 valor dos diversos com- ponentes da fortuna burguesa aumentou consideravelmente de 1815 a 1848. Iss 6, pois, a prova de que 0 enriquecimen- to estava igado a simples posse mesmo na falta de qualquer especulagdo.c — 0 que é corolério — que o$ individuos e os ‘meios abastados 0 bastente para ndo se verem na contingéncia de ter de alienar sew patrimonio, foram particularmente favore- cidos pelas condigdes econémicas: enriquecimento_correy Sobretudo em favor dos ricos. = 08 quadros econdmicos permitein, portant, presumir © crescimento da importincia da burguesia na cidade. Eles 430 as basos:para apreciar a evolugio da fortuna burguesa ent seu ‘onjunto certos fatores de constituigao e da conservagz0 dos ptrimdnios. Por iss, sfo importantes no sb para 0 estudo das estruturas mas’ tembém para o da formagio dos diversos relos sociais" o estudo do enriquecimento, por exomplo, dé indicaDes sobre tatas Cracarstion da mobiidade wou spect Tindamental da soedadeburgues om metade do século XIX." 1 Thi, 9.426, 8 Ibidp. 428 ep. 433. 9. Bid, p65. 10. 0 estudo da rende de ropsidade esstrulda om Pei fl tbjeto de uma outta obra: A. DAUMARD, Maizon de Pals er propria ‘es parsons eu XIX® sel (1809-1880), Pacis, 1965. 37 ee ‘Todavia, estes dados globais tém para a hist6ria somente ‘um valor limitado, Por um lado, s6 tomam sentido com refe- réncia a outros quadros que permitem considerar nfo mais, simplesmente conjunto da economia, mas novamente a totalidade da populacdo e 0 comportamento social global. Por exemplo, o estudo dos patrimonios segundo as declaragGes de sucessio somente tent sentido se considerarmos a situagdo da fortuna de todos os defuntos, inclusive, portanto, aqueles “que morrem em indigéncia quase total:! o recurso as estatis- *ticas demogréficas ¢ indispensivel e somente elas, neste caso, ("do todo seu valor is observagdes economicas. Por outro lado, 6 resultados de conjunto da medida econdmica nfo permitem por em evidéncia os tragos particulares, mesmo os puramente ‘materiais, dos grupos sociis, pois estes ndo aparecem, nos cém- pputos gerais. Portanto, devesse acrescentar & anilise econdmica uum estudo econdmico conduzido desta vez segundo a perspec- tivas da historia so. oo 2. Uma Contribuigao: Os Caracteres Econdmicos dos Grupos Socials gi, _Bem longe de estar subordinada 3 histéria econdmica ov ‘do 03 xtfair simplesmente as conseqiéncias dos resultados depre- vedios pela "macrosconomia”™ a Wits socal quande Sebraga sobre ay quotes econdtiss fomness um novo ang de visio para 0 estudo da vida econdmica que é considerada por cle nvO-mat como-ume sitade, mas como tum loment da ‘vida dos grupos sociais, Demos amplo espago em nossa obra a este ponto de vista, procurando determinar a posigdo econdmica (fecursos, fortuna, ocupagdo) dos diversos meios ¢ o comporta- ‘mento econdmico dos individuos que se Ihes relacionam: ele- mentos de um estudo de estrutura, com a ressalva do controle por outros fatores, esta andlise fornece igualmente indicagdes sobre a formagio da burguesia e sobre as reagGes coletivas; cla 6 pois, muito importante para que s@ conheca este perfodo ‘este meio. Todavia, dever-se-d atribuir um lugar privlegiado, se- no preponderante, aos fatores econdmicos na historia social? Problema essencial, mas que se esclarece se a discussfo apoiar-se em bases concretas e que exige portanto, antes de mais nada, ue sejam brevemente expostos os temas econémicos destacados em nossa obra. 11. A. DAUMARD, Le bourgeottieparsenne, pp. 236-297. 38 io & Para estudar as caractristicas dos grupos soca, sejam las econdmicas ou outras, a primeira dificuldade € encontrar referéncias. De fato, s2 08 grupos fossem definidos no ponto de partie, nosso estudo teria sido quase que supérfiuo, pois © ({) essencial era precisamente saber o que se pode entender por burguesia, em lugar e época dados. Por isso, nossa maior preo- | eupagao, na procura das caracteristicas econémics, foi a de cztea 0s diversos mefos passives de portencer & burgesia, om: preendendo-se este vocdbulo em seu sentido mais lato ¢ inte srando nele principalmente os que a linguagem atual designa ‘om freqUéncia como pertencentes as classes médiss Era portento neceisrio, antes de mais nada, tenta delimtar of divers nites em que se stvava a populgio pa siense, Segundo qulseitéios? Os recursos reais ou pesos tos evidentemente’ deveriam er levados em. consderago, Porém, o estudo quanttatio era difel: 20 pESD que, 0b © Antigo. Regine, & capitapao — fosem quis fosom, als, suas imperfeigdes — visa tfutar os rendimentos, 20 pass ue, ob a Revolugéo,fzeram-n vias tentativs par ating 2 foaldade dos reeuros prestmidos dos contibuintes segundo (os signos exterores da riqueza, a cota pesca mobiliia simples monte refleiu o montante do shgael e novainente com & renal de que a baie do imposto e san sgifeagao soci sofreram modificagdes de 1815 a 1848." Na falta de indicago, mesmo elvada de err, sobre 0 conjunto dos rendimentos dos contbuintes, sein necessrio. encontrar meiosindretos para {entar etabeleer a herequia dos eeusos no so da populaglo pusen. : ‘Um primeiro recorte, a nivel elementar, permitiu avaliar aproximaduente ‘5 e1tvos da pobre © €1 iguez, Apes ‘dr ereng nat benfeltorias €o Hberalsno, ta obrgagzo nfo 26 de encarregarse dov indigenes as tam bbim de sssumir dterminados nivis de despens cbrga «que os pobres de Paris no podiam enfrentar, em como 0 mt posto sobre o aluguel de cden© 08 cosos de spultamento: ss Pequenas leases estar dipensidas 2o pagamento da taxa Tobira e 0 entero dos pobres devia ser efetuado de grace Sy pela empresa fumerdria Quando a heranea nfo podia quitar senao -2vtaxa de seultemento. At extatstins relatives 0s dbitos ¢ " enterros que mencionam o-nimero de aluguéis nio-tributados |XO” Gammitem portant contr oniimero de pobrs. Por aro, of |[° Tarde-ene@ tmporante pol see mites pt malo nade, 12, CE Ibid, 28 parte, passim, Kb debian bs pho Xz ctekiwioe bese on douder £ Que iuclicaroa 12 en eel conhecer os fndices de mortaliade segundo os msios sociais, asim como a dimensfo das familias que ocupam as diversas hhabitagbes a capital; mas, feitas estas ressalas, € possvel adiantar um némero aproximado: ao final da Monarquia de Solho, a_pateala'de-pobres da popula de Pais deveria sr Gnowies is 75 PORUsH Se Pais wt se sta primeira aproximapio era evidentemente insuficiente para uin estudo da burguesia: cumpila separar os privlegiados na massa dos que ndo_eram pobres ¢ tentar estabelecer uma Tiraguia, A alicaldade Ga anise aumettara com o despa: ecimento” dos repistros fiscais que, néo diziam respeito 20 conjuato dos rendimentos,dariam pelo menos uma idéa aproxi- ada da pirdmide ¢ da distribuigio das fortunas. Signos exte- rlores provenientes mais do nivel de vida e do género de vide ‘que da condiggo econémica podiam portanto testemunhar sozinhos 0s recursos pressupostos. Numa época em que a vida burguesa no era concebivel quase sem empregados poder.se-ia avaliar aproximadamente o efetivo das familias burguests, se ‘# conhecesse 0 nimero de lare servidos por um ou mals empre- gados domésticos. A estatistica de exiados foi levantada repe- tidas vezes em Paris, mas globalmente ou, no méximo, por bir. Para comparar 0 niimero de doméaticos ao de lares par sionses,faz-so, pois, necesséio um corretivo a fim de levar em conta 6 caso das familias ries que utlizavam pessoal numneroso. ‘A margem de incerteza é grande; todavia, parece plausivl admi- tir que os meios que viviam na abastanca, simbolizada pelo ‘emprego de pessoal doméstico, epresentavam no méximo 15% da populago parisiense.’® Para a Restauragdd, uma estatistica indicando a distribuigéo dos aluguéis, segundo 0 seu valor, permite calcular uma. porcentagem pouco diferente e esbogar ‘uma hierarquia mais detalhada, dificil aliés de ser interpretada. por si $6, pois, no tocante a este periodo, o aluguel comercial onfunde'= com 0 da habitagso pessoal. ta andlise da distribuigdo de recursos pressupostos no permitia, no entanto, delimitar as diversas “esferas” da socie- dade e, neste caso, no era a caréncia dos recursos que estava em causa. A partir deste capitulo limingr, de fato, as estatisticas ¢ 0s testemunos estabeleciam que 0 sscalonamento dos recur- 50s nfo bastaria para caraclerizar a posigfo socal, pois esta acha- ‘ers esiefamenteTgade a0 prio das dieius ooupabes, Sem dvida, era possivel que howvesss coincidéncia entre recur. 508 © profissfo, tiqueza posiglo. Mas ainda assim, cumpria 13, Cerca do 70% dos defuntos adultos 40 provislo. Destarte, desde o principio, colocaram-se dois pontos essencials: importincia e insuficiéncia do critério econdmico 4 bata_a_clasfeagio social, de um Indo; de outro, necessidade 4 ie confrontar os dados mais diversos para caracterizar 08 mei0s soda, SSS ‘No século, XIX, se 0 estudo dos rendimentos dos particu- lares € diffe, exisiem fontes, ao contrério, que permitem reconstituir os patrim@nios segundo os meios socaise, portanto, comparar posiga0 e nivel de fortuna. A fortuia dos idosos pode ser avaliada ou 2 partir das declaragSes de sucessio que forne- cem indicagBes, ainda que sejam negativas (no caso da falta de declaragdo) sobre 0 conjunto das pessoas falecidas ou a partir de inventsrios postmortem que, estabelecidos pelos tabelides, sG0 mais precios e mais completos que as declaragdes, mas inte- ressam apenss a uma ténue parcela da populacdo total. Quanto 08 bens possudos por pessoas jovens, os contratos de casamen- to dio geralmente uma idéia bastante exata, tanto mais quanto em Paris 0 regime de comunho reduzido a bens aqiestos era largamente difundido; mas era materialmente-impossivel fazer uma apuracio exaustiva de alguns anos tomados como refe- xéncia" ¢, além do mais, 08 contratos de casamento dio apenas ‘uma imagem parcial da situaeio de conjunto, pois, salvo nos reios abastados, 0s casamentos eram, com menos frequéncia do que no século XVIII, precedidos par um contrato repistrado em tabelifo. Nao hi espago aqui para disutir o valor represen- tativo destes diversos documentos: reportamo-nos neste ponto ‘4 nossa obra.!* Digamos apenss que & possivel reconstituir o Jeque das fortunas que caracterizava a sociedade parisiense, considerando-se a infludncia da idade, do peso das divides ¢ sobretudo do meio social. , ‘Um dos pontos cruciais de nosso estudo das estruturas socials repouss, com eftito; na preocupacio de comparar 0 ‘Bontans Ua fortunes oo nivel sou fal dona ont Gus, s0b 0 regime censilério ¢ com o“ascenso do capitalismo industrial, um se confunde com o outro. Primeiro, bem antes a vit6ria do Tereziro Estado e do éxito do capitalismo liberal, 4 fortuna,,ne propria Franca, desompenhiava um papel nada desprezivel na hierarquia social. Inversamente, no entanto, no século XIX, o lugar na sociedade nfo se media apenes segundo © montante e-nem sequer a destinago dos capitais: a influéncia sobre o plano local ou no quadro nacional, as fungdes adminis- 14, A. DAUMARD, Le Bourgeoisie parbenne...,p.7. 1S, Bid, p. 16. a trativas 08 o papel econdmico, o prostigio igado a uma posigfo pessoal ou herdsda de antepassados prestgiosos, as capacidades Intelectuais © os diplomas universitérios, a. participago nos ) gastos piblicos e a aceltacso de cargos gratuitos e de mandatos tletivos contribufam igualmente para estabelecer a posigdo de cada um, Em_um estudo estatistico de conjunto, #6 a profissio u_a condieso_podem explicar estes diversos mielos. Tal € 0 objeto de clasificacdo sécio-profissonal que werviu de base & nossa andlise das fortunas, classificagdo osta que uilliza, natu- ralmente, eritérios econdmicos, porquanto, por exemplo, os operirios sfo diferenciados dos chefes de empreses, os negocian- tes dos simples lojistas, mas que visa sobretudo autorizar as ‘comparagdes entre as pestoas suscetiveis de ter relagdes entre si, de partencer 20 mesmo mundo."® Desta confrontagfo, releva que os niveis de fortuna sfo relativamente_homogéneos’em cada categoria sdcio-profissional ) vendo as oly ds mito atos pode coro Goro sao: namento das fortunas corresponde quase so das condigoes, com a Tesualva de numeros{ssimas excegdes individuals e contanto que se escolha um leque bastante aberto para caracterizar cada ‘grupo. Porém, jé que se trata de estabelecer ume estratificagzo do conjunto da sociedade, comparando os resultados obtidos para os diversos meios sScio-profissionais, produzem-se intimeras imbricagdes. Sem divida, as diferengas sfo sensiveis: por isso, Jevando em conta ndo apenas fortunas ¢ ocupagses, mas tam. ‘bém niveis de vida e recursos pressupostos, pode-se propor uma terminologia social que exprima uma verdadeira hierarquia; mas as categorias ndo se situam exatamente umas sob as outras, elas se recobrem em suas extremidades como escainas de peixe. Esta estrutura piramidal e estes acavalamentos testemunkam, 20 ‘mesmo tempo, a importincia do capital e a insuficiéncia do ‘montante da fortuna para caracterizar os grupos socials. Acandlise do comportamento econdmico completa o estu- do estétioo das fortunas. Foram encarados trés pontos de vista, ‘mas eles foram tratsdos de modo mais ou menos completo segundo o estado dos documentos. Teria sido estencial conhecer a distribuigao das despesas segundo os meios: é um elemento {importante do género de vida que testemunha igualmente a ps- cologia coletiva. Os orgamentos privados, dos quais temos conhecimento, eram to pouco numerosos que s6 podiam forne- ‘cer uma ilustrapfo. Por isso, 0 estudo estatfstico, nico significa- tivo no caso, devia reter os simbolos imperfeitos do nivel de 16. Para o perfodo coasiderado, de fato, as atas do muito tab lionstos esto fechadas to pesjusador. 2 vida fomecidos pelos documentos, valor dos méveis a giamecer 2 moradia, caracterfsticas da habitagio pessoal, mimero de empregados domésticos, instrumentos de cultura etc. As despe- sas privadas portanto s6 podiam ser analisadas no plano quanti tativo: sua distribuigto prova que o estilo de vida, longe de estar ligado unicamente ao nfvel dos recursos, depende pelo menos ‘outro tanto da posigZo que os diversos meios se atribuem na sociedade, Acestatistica, 0 contrétio, toma os sets direitos no estu do da composigdo das fortunas. E possfvel calcular aimportin- cia dos iméveis e dos bens méveis; apreciar que parte os repre- sentantes das diversas profissGes econémicas concediam aos investimentos, analisar em que medida 4 poupanga se interessava pelos valores passives de favorecer a expansio econdmica ou se rientava pare investimentos nfo diretamente produtivos de riqueza, tais como apélices de divida piblica ou os empréstimos hipotecisios."” Tal estudo apresenta, sem dtvida, um interese para a historia econémica geral, se bom que, devido a natureza das fontes, ele repouse em bases relativamente estreitas em lugar de Interessar a um desenho global da poptlagio parisense.!® Toda- via, ainda aqui, a andlse é especialmente orientada n0 sentido da demonstragao social; em outas palavras, 0s cdleulos sf0 fe tos por referéncia aos grupos sécio-profssonais. B uma andlise de conjunto, por oposigéo a pesquia baseada no exame dos tipos que erige casos particulares em regre geal, mas no procu- ramos integré-la ao desenrolar das grandes tendéncias da evolu- 0 econdmica © comportamento dos chetes de empresa, 20 qual consi gramos um capitulo,!” pode igualmente ligar-se 4 hist6ria econdmica. E um fator no. despreivel da evolugfo, contanto aque o papel da inicativa individual sj levada em consideragao. Porém, mais uma vez, nosto ponto de vista é particular. No pelo método, pois w tivemos de renunciar aos levantamentos de conjunto ndo foi por desconfianga com relags0 a estatistica, ‘mas simplesmente devido & carénca das fontes, Mas, pelo obie- 17. A. DAUMARD, “Une référence pour V'étude dos sociétis ubaines on France aux XVITP et XIX® slices: projet do codo socio professionel”. Reme d'histoire moderne et contemporaine, jucsst 1963, pp. 185-210. 18, Empréstimos gorelmento assinaos, nesta époce, para quitar uma dfvida,feqdentemente a compra de um imével, © no para melho- sata produtividade de Uma propeedade. 19. A. DAUMARD, Le Bourgeoisie parisienne.., pp. 444-447. 4B aS tivo que persoguimos, desejariamos menos analisar a influéneia do fator humano sobre as transformagbes ¢ 0 ritmo da vida econdmica do que estudar, a partir de um exemplo concreto, 0 comportamento profissional da populagio burguesa atiya. Se ceseolhemos os chefes de empresa de preferéncia aos empregados, os funcionérios ou aos representantes das profissdes liberas, {oi porque os documentos eram mais acessiveis e mais elogien. ‘tos, ¢ também por causa da importancia numérica dos comercian- ‘ws e dos fabricantes na burguesia parisiense. O tipo, mais esco- thido em uma categoria global, substitui aqui a andlise de con- junto que no era possivelefetuar. 0 estudo social tem, pots, lagos esteitos com as pesquisas ‘econdmices. Nao somente seus dados fornecom um dos quadros fem que se desenvolve a vida coletiva, mas também a originali- dade dos diversos meios sociais nfo poderia ser dissociada das cearacteristicas de sua posicgo e do sou comportamento econd- ‘micos. Todavia, a questdo fundamental se situa além desta sim- ples constatagao de bom senso: resta estudar, agora, a interpre- tagao dos fatos. 3. Sintese Economica, Stntese Social A observapo € apenas wma primeira etapa. A histéria social sb tem sentido e intarese se lovara‘uma sintsse que € 0 pr6prio objeto de toda pesquisa. Nesta perspectiva, que lugar deve-sestibuir as dados econdmioos? A experincia feita sobre a burguesie parisense de 1815 a 1848 permite conclu que as clases socias so definam segundo as condigdes da vida ccond. saical A respostas esta pergunts, mean colocalt a propo de uma pesquisa limitada, 6 primordial, pois ela pds ern questo 4 otientagio final da histria socal. Basear as pesquisa sociis na economia (mesmo sem ser de maneiraexciuiva, mas dando rimazia aos. fatores econdmicos), significa adotar mais ou ‘menos completamente os métodos aperfigoados pelos econo. misias, métodos quo #2 aparentam com uma flosofa que ap6iam as indagapdes cm uma teoria. Em sltima anise, o histo. flador deve, portano, se interrogr para sber sea teria econd- ‘mica ou, mais amplatente, um Sstema de pensamento andlogo teme deve ter um lugtr na sintose socal. ‘34 indicamos o quanto cram importantes os fatores econd= ‘micos para 0 nosso assunto; eles nfo poderiam, aids, ser menos- _prezados em relaglo aos perfodos anteriores, principalmente a0 final do Antigo Regime, quando flésofos e estadistas esbocevam ‘as grandes linhas de um sistema censitério que substituia a hie- rarquia das ordens por uma classificagio social baseada na “a fortuna, Porém, deve-se insistir agora na insuficiéncia destes dados para o préprio século XIX. Fol imposstvel, no curso de nossa pesquisa, no somente explicar o comportamento diversos-meios burgueses ou de sva formagio, e descrever corte “famente a. complexidade das estruturas da burguesia parisiense ‘sem fazer intervie nogGes estranhas & hierarquia economica. As ‘elas sbeas, por evemplo, mesmo as mals TnUMay Com as ‘que liam duas familias através do casamento, ndo se estabele- ciam apenas a base de uma identidade de fortuna; porém, muito ais freqientemerite, considerando-se a posigao social dos dois x ws, futuros edges ov, para ser mals preciso, do Tutu esposo © ‘ada familia da futura esposa. 6 se poderia chegar « conclusies stistatérias, ou sa, verficdveis em seu todo sem serem desmentidas por fatos este tistcos do mesmo valor, fazendo intervir, 20 lado dos célculos ceGonémicos, indmeras outras “‘concomiténcias”, para retomar 2 formula da Simiand. A progressio demogréfica fornece, por exemplo, uma referéncia {do indispensivel quanto a expansfo econdimicae sfo apenas as acunas de informagio neste dominio due limitaram 0 seu uso em nossa obra: um grupo numerica- ‘mente restito como a burguesia nfo aparece quase nas publice- Bes 'demogrficas da ép0ca. Todos os dados capszes de dar {estemunho sobre um conjunto social coerente ou sobre um ‘comportamento global devem ser igualmente retidos. Uns pro- vém do dominio estatistico ou poderiam ser medidos, em alguns de sous aspectos pelo menos, s os documentos de base tivessem sido consewvados em nimero bastante grande: & 0 cas0 da parti cipago nos negécios de Estado, do comportamento religioso, do zalo flantrépico ou do macenato,¢ do apego & cidade ou 20 bairro. Outros, nfo menos importante, provém mais da andlise qualitative, tal como, por exemplo, a anise dx evolugto do direito tanto pibico quanto privado, pois os textos ea interpre- tagGo que Thes deram os profissionas e, também, os leigos enquadta ¢ orienta em multas citcunstincia a vida dos indivé duos, das famflas © dos grupos que constituem a sociedade burguess, De capitulo em capitulo, A medida que as observagdes articulam em conclusses parciais, resalte que os fatos pura- mente materiais no permitem caracteizar os diversos meios sociis: produzem-se.imbricagdes de um grupo no outro, em conseqlncla, nfo existe categoria claramente delimitada; apa- recem pontos comuns mas eles carecem de precisio e homoge- neidade ¢, sobretudo, impedem que se explique a originalidade das diversas categorias profisionais e socais, bem como a da bburguesia parsense em seu todo. Deve-se, portanto, levarconte- 45 ee tives & ands econdmics, pois a observa a andise subi nim0 papel ds tadiss das renga mas erdadss, outs ailgurdas voluntaiamente ou nfo, o papel da cultura, tanto'a {ure obtem por tm longo esforga quanto que, mesmo ele Renter, ¢ umn reflno da eivizagio do tempo, 0. papl dos Temperamentos dos gosos, oda vontade, sj individual, se Cola, de prservaro stato de aos aformando-atiaes da agdo politica ¢ legal, ou 2 contro destuindo- pea vio- linc e pela revlugio. im uma palavra, a0 lado des condigoes fangiveis, divetamente” perceptive (que, lis, ltrepasiam largamente 0 quadzo puramente economico jf que, por exem. plo, podeseihes lige a expansio demogtiicaouaoxtensfo do GireHo de sutépo politico), cumpre datum largo espag & ps cologia dos grupos, ana cletiva. © estudo econdmico oferece, portanto, muita coisa: uma cronologia, o quadro e as tendéncias ‘de uma evolugio, certos elementos ‘da estrutura, j4 que a origem e a composigéo das fortunas bem como a distribuigao das rendas e dos saldrios e, em larga escala, a diversidade das profiso6es se Ihes vinculam. Estes temas sfo importantes, essenciais mesmo, no século XIX «, sem diivida, até nas épocas em que o capitalismo apresentava formis menos evoluidas. Porém, eles sio apenas um meio de ‘observagio, apenas um dos elementos de explicaso e, como tais, nfo 56 nfo poder sozinhos explicar a totalidade da evolu- (40 social, mas também ndo bastam para definir a burguesia e, até no exemplo que estudamos pelo menos, ndo tem um papel ddoterminant Sobre qué bases pode-se definir uma classe social, ou sja, depree UTS © ‘tes?-A partir da experiéncia feita ®obre-a burgueda parisiense, ‘esilta primeiramente uma conclusio negativa. A pertingncia & ‘burguesia nao se baseia em um critério econdmico: nem a fortt- ‘na, nem os recursos, renda do capital ou do trabalho, permitem situéla com preciso. nem com respeite: aos meios populares, ‘nem com respeito a nobreza, pois se aparece um escalonamento elementar (tal como 6 que permite isolar aproximadamente os contingentes da abastanga em relago aos da pobreza), as mar- gens de incerteza sfo demasiado grandes; assim como, aids, nfo Sfo determinantes por si s6s, as origens familisis, as relagdes sociais, 08 privlégios politicos ou o afvel de cultura. Contudo, oda espéciee dos namarososfxtemuntios letivo, festemunhos iém sempre mersu- ves mas que, enguadrador pelos dados quantitativos, Exprh smeii-wala dos grupos sf0 0 cimento de sua coesio, AO con- 46 T af irdrio dos nobres, seus contemporineos que, em dltima andlise, colocavam 0 seu destino nas mos do principe em quem viam ‘a encamagio de um poder transcendente por sua prépria autori- dade, 20 contrério dos camponeses que suportavam as flutua- Bes das estagces ¢ viviam resignados, submissos & vontade de Deus (ou para exprimir o mesmo com outras palavras, 20 des- tino, as forsas da natureza), a0 contririo dos proletirios das cidades que se criam incapazes de obter qualquer coisa por si ‘mesmos ¢ 36 adquiriam confianga e forga misturados a seus ee =o como um meio. do. que como fim. O'seu- objet aei, fn de ofienir, sf aa tla individual, sao futuro de sua familia, sea os destinos coletivos da sociedade na qual vviam. Compreender, escolher, disigi, tas era ‘tivos emi_torno dos qu ae 1o§ a deafgios mal ou mefos amplos confor aie pertenciam.”°-Q que earacterizava ovomen parisien nesta época era uma afitude diante da vida cujos dados econd- micos, qualguer_que fosse © papel que pudessom representar, ‘exprimem apenas um aspecto, ‘Sem duvida, o estudo versou apenas sobre um caso parti- cular, o da burguesia de Paris sob a Monarquia Constitucional e deve-e perguntar qual o valor geral que é mister atribuir a estes resultados, dificil coneluir« priori, jf que nosso método con: sista justamente em ropelir qualquer definicao preestabelecida, a. fim de_tentar depreender tragos comuns, orientando nosse prospecgio em todas as divegdes possiveis. Todavie é Hicito Cotoear uma regia peal que pode sa Ge hipotese de trabalho para todas as posquisa de histdria social. O essencial 6 encontrar 6 fundamentos sobre os quais repousim as sociedades e os grupos em que s aglomeram os individuos: sociedades organi- zadas como 0s Estados, a5 napdes, as associagbes profissionais, (8s partidos politicos, os grupos confessionais ¢ as Tarejas, as familias também na medida em que possuem existéncia legal; em soguida, sociedades de fato néo definidas por ertérios prec | sos, mas que slo reconhecidas pelos habitos e usos, mas cuja . forinagdo tipica 6 0 meio social, a classe social. Tréscaracteris- | ©, tices principais permitem nda | => imatenals-e se prest vagao estat enios; quiras esto eseritas em textos que tém fo 20. Ch. 2 conctusdo gel de nossa obra, op. cit, pp. 643 ess a es lei ou de obrigacio, tals como, para tomar alguns exemplos gue possam parecer 2'conjuntura © ao8 aconteciientOs pase irs, depetdem na raldade do temperamento e des tradigpes, altura leiga e relgioss. Para desnudar estes fandamentos, muitos métodos podem e dvem ser encarados, ras, quando stata de utilizar ests nogdes para defiic os ries socias, convém antes de tudo reconstituir 0 comporta: ‘onto dos grupos ne vide coletiva, ou ej, estudar como ot THomens passives de pertenoer ao melo considerado reagem _soleivamente Ganie dos problemas materia, expsitusis ou morals qus se apresintam.em sui Vila pessoal, tamil ou Mp evica, S6 af se encontra a pedra de Toque para se descobrirem Aue bases repousa a civilzagio geradora dos. agrupamentos fociais que slo objeto de nosos estudos. B possivel que em determinadas sociedades para determinadss classes socials, 0 fatores econdmicos sejim o critrio de classiNeagao funda. rental, mas a demonstragéo seit mais probante se esta impor. tancia mesma pudese se apoiarno exame das rages coetias a 0s trabalhos dos historiadores e os dos economistas sf0 complementares, representam duas visbes diferentes, de uma ‘mesma realidade e se esclarecem mutuamente mas néo podem se fundir, pois a sintese social e a sintese econémica repousam em bases e respondem a preocupagtes completamente diferentes. Primeiramente, 0 quadro cronoléico ¢ ¢ deve ser outro. ‘Sem desprezar'o estudo das crises, os economistas se dedicam ‘mais atualmente a elaborar longas séries para dar uma visio de ‘conjunto sobre. um longo perfodo. Ponto de vista stil para a histGria social que, como jé destacamos, encontza af 0s quadros €.0 sentido de uma evolugio em eujo seio se situa o ritmo pré- pprio da evoluglo social. Porém, para o estudo dos fatos sociais ‘Ro estégio atual da pesquisa, em todo o-caso, os limites cronalo- icos_devem ser_mais restritos. Dove-se considerar sempre a ‘extensio de tempo capaz de ser percebida durante o curso da ’ vida individual, perfodo este que corresponde ou a vida ativa e licida, de quarenta a cingdenta anos em médie, ou entfo a duragio de trés geragdes, por volta de um século, jé que cada {individuo beneficiase da experitneia de sous prise participa da de seus filhos. Nos paises de evolugdo lenta, se as tradigGes “48 ‘ancestrais se perpetuam por muito tempo inalteradas, talvez conviesse escolher um lapso de tempo mais longo, porém isso no muda os dados da questo: 0 quadro normal da histéria cial vincula-se a um ritmo ligado-ao estado biol6gico e & civil Zag caracteristico's do mieio estuda ‘A consideragées préximas se relaciona a escolha dos cortes © 0 estudo dos diferentes perfodos criticas, da historia. Nosso ‘trabalho sobre a burguesia parisiense se enquadra entre duas grandes crises, econdmicas, politicas e morais de 1815 ede 1848, ‘ais cortes se imp0em pois, neste caso, as condig6es normais da vvida sto subvertidas pela passagem da guerra & paz ou pela tonsfo internacional, pelas dfculdades e transformag6es econd- ‘micas, pelas perturbagdes politicas e suas consoqiéncias mate- riais e morais que tomam a por em causa os préprios alicerces da ‘organizago anterior. Mas, durante estas 6pocas de crise aguda, gravidade dos acontecimentos é tal que, nos meios burgueses, a situagio acarreta essencialmente um reflexo de defesa, ligado ‘antes de tudo & preocupacio de salvaguardar a ordem e manter 1s estruturas anteriores. Ao contrério, quando de crises menos raves, de origens e agpectos os mais diversos, politicos, institu- sionais, econdmicos,"*. as reagGes coletivas so mais significa. tivas, pois nfo fo deturpadas pelo medo: entfo se manifestam as tendéncias, entdo se esbocam as solugGes, mesmo informes e ‘incompletas, que prefiguram o futuro. Assim, a crise de 1827, ‘em Paris, assnala a crenga da burguesia parisiense em uma civili- zagdo inteiramente orientada para a salvaguarda exclusiva dos valores individuais.®® A de 1840, mais complexa, pois no aso interfereni acontecimentos externos, a crise oriental e, um caso ue s6 interessava aos franceses, oretomo das cinzas de Napoledo,’ ccoloca em evidéncia as divergéncias que comegam.a separar a alta burguesia da classe média, mas exprime sobretudo a unidade profunda dos meios burgueses, movidos por um verdadeiro ‘mperialismo intelectual ¢ moral e persuadidos de que a civiliza- fo francesa, tal como a concabia a burguesia, podia e devia ‘mplantarse em toda a Europa.” Estas crises secundétias mos- tam, portanto, melhor que 38 mais graves, as tendéncias profun- das dos meios que se sentem atingidos com os acontecimentos. 21, Naturalmente, as crise, graves ou benignas, podem tomer ‘outros aspects, um eardtor reliploo, por exemplo; nao fzemos mengio ‘ele agui pois questo no fojabsolutamentecolocads na Pals do 1815. 111848, sobretado para os meios burguoses 22. A DAUMARD, op cit, p. 632. 23, Ibid, pp. 640-641. 9 a i As, indiscutivelmente, residem os limites do método: as crises ‘ménores nfo possuem talvez a mesma importincia, nesta época, para o estudo das classes populares que roagem sobretudo diante de circunstincias excepcionais, pis sua condido as deixa alheias As agitagbes que ndo modificam suas condigoes de vida. Mas, im, s@ retoma sempre © mesmo tema: o quadro de qualquer etd ‘estudo social io a0 conhecimento dos fundamentos so- bre os civilizaggo relacionada ao grupo estudado. Como 0 ritmo eronol6gico da historia social difere do ritmo dos estudos econémicos, do mesmo modo o tratamento dos dados quantitativos reunidos pela pesquisa social tom suas exigéncias prOpris. A média que “permite ultrapassar o parti cular e 20 mesmo tempo eliminar 0 acidental”™ é de utilizagéo constante. Porém, enguanto os estudos econimicos auferem grandes vantagens em elaborar ties complexas ¢ abstratas, a historia social tem interesse em utilizar simbclos ais préximos antes ydptazen orelaborar-sri2-cOW alla ~abstetasa daquilo que é diretamente perceptivel ao .._.em: 2 médiaarit- :nética, por exemplo, que no século XIX tinha uma sigaificaro concreta ligada 2 um estado de cultua, 6 preferiel & mééia ‘mével, & mediana ou a qualquer outro sistema complexo; igual- rente; salvo excepto, & importante utilizar, tanto quanto pos- sivel, mais 0s valores reais do que os indices , em caso de mpossiblidade, indicar sempre a correspondéncia entre 0 sim- bolo e a realidade.* Somente com esta condigéo é possvel confrontar as séries quanittativas com a mentalidade coletiva. Um exemplo concreto evidenciaré melhor esta diferenga de método. A anuidade sucessorial fornece aos economistas dados Wteis sobre a fortuna dos franceses e pode encontrar lugar nha contabilidade da fortuna nacional. Para a pesquisa social, a0 contririo, as cifras brutas das declaragGes feitas ao repistro do apenas ums indicagdo insuficiente, pois 0 que importa néo é a fortuna declarada, é a ordem de grandeza da fortuna real ¢ sobretudo 0° montante dos capitais que o falecido enquanto vivo tivera A sua disposigao: eram superiores aos da heranga no caso de numerosos lares cuja verdadeiza posigfo social dependia 24. J. LHOMME, “Lrattinde de Vconomiste devant Phistoice économique”, are et, p. 305. 25. No caso de uma cvilzagzo que faz uso constante de sfmbolos abstratos,« questo se apzesentari do Gutea forma. Em nossos dis por ‘exemplo, os indices oficiais dos pregos de varejo podem ter uma signif xgHo conereta em inimeros meios socials s a imprensa izass aust feaiénte a isso e desde que coos elementos do slario de base depen. dem deles, mesmo se os grupos interessados ignorom as modalidades ae cacao, 50 do total de bens dos dois conjuges Estas dvergéncias podem {er uma importincia secundétia no levantamento do conjunto 4a anuidade sucessorial envolvendo, por exemplo, a totalidade das herangas declaradas na Franga durante um periodo dado, ‘mas ocasionam um erro nfo desprezivel para quem quer que {nteresse no pela fortuna nacional global mas pela distibuigio dos bens nas diversas categorias socials pela evolupdo segundo 15 repi6ese 0s meios. Dai por que, so estudo econdmieo pode satisfazer-se com ciftas sinbélicas, a historia social, por sua vez, deve se preocupar em_reconstituir as stuagées reais com a melhor aproximacko posivel, = A histériabaseia-e em fatos, « econom esta formula & demasiado simplsta pata explicar posigao das duas disiplinas. Na ealidade, fatosesimbolos sio apenas tanto para uma quanto para a outra, matriis, uma base pira sinteses, mas estas se propdem objetivos diferentes e corres pondem a duas tendéncias de espirito. 4 dissemos que lugar os economistas concedem a teoriae © papel que esta desempenha no proprio decurso da observagzo. Sem davida, a teoria nfo & construe apriorsticamente, foram Jongas pesquisas que-permitiram empregar, por exemplo, 0 sit tema da contabilidade nacional seus prinefpios permitem tentar adaptar ao passado 0 “modelo” do crescimento, Os hsto- riadotes devem, podem inspirar-senestas experiéncias? Natural mente, nfo seria 0 caso de desptezar as teorias dos economists assim, @ iéia do erescimento oferece uma hip6tese de trabalho interessante e nova. E preciso ir mais além e poder-seia tenta, por exemplo, construir um modelo da atividade nacional, pati chando os termos ¢ o método dos economistas. Um tal projets mereceria um longo estudo que ultrapassaria o quadro deste artigo. Digamos somente, em um esbogo apenas delineado, que semelhante pretensfo no deveria encontrar obstéculo insupe- rivel, Poderseia contar as horas empregadas no trabalho, nos lazeres, na atividades desinteressadas, no repouso: contabilidade complexa, pois as horas de lazer de uns corresponcdem as horas de trabalho de outros e, om certas profisstes, as atividades sociais ndo-remuneradas invadem as horas de trabalho; mas uma longa paciéncia permitiia sem divida elaboréla no quadro nacional para 0 perfodo atual e se inspirar nele no tocante 20 pasado, Porém, tal tentativa, ou qualquer outra que denotaske 4 mesma preocupagdo de depreender um tipo sociolégico de referencia, €desejével do ponto de vista do historiador? Talvez 26. CEA DAUMARD, Les fornunesfrangales, op. cl, pp. XVI XVI 51

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