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ee I a] prey) co XS FERNANDO BENDASSOLLE = . | TRABALHO E IDENTIDADE EM TEMPOS SOMBRIOS Insiguranga Ontoligica na Experiincia Asual com 0 Trabalho Preficio de Thomaz Wood J. dene (Todo ot ar reverand ei Lares 2007 dese? ihn ectinoe econ 04286 Festa ee Dade ermal de Caen Pb (CP) ratigrs doe 5 rat) bloga Niet sensi Longe Made) Raster nai Tbh can esac ojos ese Sar oa coos Thane pare ealge sortie: ‘cn Seed PARTE Il RUMO A CENTRALIDADE DO TRABALHO [Na conheci anise do mundo contemportoeo reazada pea eguidra de Heldegge, Hannah Arendt, A condi uma ‘us (Arendt, 2000), 4 auto defende que uma mudangs rea deste thio em religo 20 mundo dos ansgos a valdzago que pusou str a economia na dese de que €0 humane. Pars alguns fl6sofosgregos como vimos na arte prec dente, vida virruos (2 flcdade, liberi) ea o qu de: fin a estocia do humano ~ na caracterizapo de Aristo, lo animal police. A economia, o ska era de dominio es tstamenteprivado; hoje, es refertnls na compreensio die telagbes soca em nossa sociedades. Nesta, dia-nos Arend, ‘homtem torns-c wm bows eenonmicus, eo eu auro-ineres sto diminulo valor d ao civea politica em benefcio do ‘axo de trocat econdmicar no mereado, ‘Quanto 20 tatalho, este fi aldo 20 degrau de valor findamental, © a vids conterplaiva, no senido grego, foi In ‘ada vex mais devorada peas exigtncas © necsslaes ds vida bilgi ~ do labor. Na visio de Arendt, 2 soiedadea ‘modderss tomame sociedades de cabalhadores ¢ usa fat imensBes antriormente subordinadss da existéaca huema ‘iy 4 economia, torna-se 0 principal eitéxo de convvéneis a esiera pila e de defini des [Nesta part, identifcamos alguns elementos relevants na bistvia do ocidente industrial que tomaram o trabalho ue avidede central pelo menos sé» metade do séclo vines Ena stcalo dezenove¢ logo no inicio do via, 8fo do trabalho relzada por Karl Mars;e-0quints a cor A Fandamento 20 tome seonomicns, Buscamosis a teore econbmiea clisica de Adam Smith, mais peccnmente oe ‘eu iro Inserignpto sb a natures + as enue da rigncon ses nastes(Captealo ). Num segunda momento, nasimee <2 © acctsmo seewarzado ds ica protesant, na letra de Max Weber em seu A dice protatante eo epirve da capi. {aliens Suncionou como primeira solugio de compromico ae as nova exighncias trad pelo home ecanmiene pels induswsizacio co homem religio de moral protesant we feneiovigente (Capitulo 6). Ea seguidaanaiamos tts doutsins patrons do ecu lo desenove enderesaas & consrusto de uma iceoogis do ‘wabalho cosrente com a indosriiagto c suas slictagcer morais: © paternalism, 2 auto-ajuda ¢ 0 industealismo de ‘SaintSimon (Capitulo 7). Em quarto, discutimos © modo ‘como Karl Marx transformou o trabalho em categoriachave, uma elevasio sem precedentes na istéra do ocidente,o que, ‘em nossa anilise, ele o fez por meio ds criagSo de um sje 18 do srabalio (Capitulo 8). E, por timo, dscutimos como Emile Durkheim, em seu Ds divin do trabalio socal, cons {16i uma sokusto de compromisso entre o home economicws, 0 industlismo e a moralidade (Capitao 9). Vistos em coojunto, os expiulos aqui reunidos invest 8m + consirusio do trabalho como uma instine!a central 30 mesmo tempo objetiva ¢ subjetiva. No que diz respeito 4 primeira, encontramas a elevagso de aus contribuigdo ma «ago do valor econsmico, sua insteucionalizagio na forma de cmprego, com sua eorrespondentedivsdo racionalizagso de tars, © depois sun integragdo pelo Estado c peas vias smunta dot or bomen, nda homer tm uma propledale ‘mous preps pesou a eta laguém tem guage ceo seato ele mesmo, O wabalko de vet corp ex cba de at ‘fos, pode dzers, so propramence dele. Se 9 gue for ve certo xt que a nturens the rece eno gual ine, fs the mired 20 prpeo wablho, mend feb algo que Ine perence,e, por iso mesmo, torandone propidade del, Retrando-o do estado comum em gue 8 fates 9 oloen, apex tbe por ese aba aig gue © {ll do dit comum de outor homens. Desde ue ee {etal ¢ propiedad exclasin do tabalhador, aha ‘uta homem pode ter dio xo ques stu, plo menos {quando hovverhatant egualmente de boa quadade cm Scour prs econ” (20) © trabalho estabelece a distingto entre 0 bem comum, que, por delegasi0 de Deus, pertence a todos, ¢ a proprie: dade individual, Ele transforma a natureza, “a mde comm de todos", no dizer de Locke, em dizcto privade do indi vidao, © texbalho fz > posse da propriedade independer de consentimenta pelo pablico: “Ve-se nos terrenos em comum, que assim cam por pacto, que € 2 romada de {qualquer parte do que & comum com 2 emo¢io pars fora do estado em que 2 naturena a deisou que di inicio & pro: priedade, sem o que o comum nenhuma utilidade teria” (p.21).E mais fente, refeindo-se posse de objetos da ppatureza, seresenta: "O trabalho que era meu, rtirindo- fs do ertado comum em que se encontravain, fxaram a minha propriedade sobre eles (p. 21). 1Na Kura de visis inérpretes de Locke, como na de ‘Macphetson (1971) die como eita de que 0 homem sé € livre na medida em que € proprietiro concribuiram, 20 3¢ infundir no liberaisine ecanémico do sfeulo dezoito, para reduziravociedade a uma sie de rapes enor proprictris, fm oatras paves, 4 reagBer de mercado. De acordo com ‘Mercure (2008), + partir desse ponto € aberta uma brecha gue seri explorada por Smith: as rlagdes entre o mereado € O trabalho, © entre exe dkimo e a origem da riquezs. Besta , preciamente, 2 primeira idea de Smith que pretendemos spresenae aqui 7 na ATEORIA DO VALOR-TRABALHO (© lugar que Smich abi ao wabalho marca uma impor ‘tote madanga de perpedva nos debates econdanicosvgentes tesa épocs. Em parila or debates entre os mereandinse ‘sfisocrats. Os primeros defendiam que a iguezs de wa na lo bssensenoscimulo de mer precious, na mod que Aependia da interven do Exo para gear equi nob Jango comerca os segundos, por seu camo ram patios da lime-troc, do Insts fire, consider quasars ers produ ¢ geri cresimento real da sguers, Decerto meds, ‘como desaca Mercire (2006), Smith prolongs a wadgfo dos fsiocratas. Com uma imporente cfsreaga, prem: em vez de sere seramaruseza a responsive pela iqueza, oque ext ma base desta ta €0 homem, mais exatarene,o home e seu ‘uablho. Em suas pépras ples (1984 [1776)} "0 tmbalho fio priv pes, «princi ocd de roca qu fl paga por todas acs, No corm our ou Prat, mas sm com sabalho, que pimeiameate fl omer Sins oda 2 quer do mundo: ac aor pre ales gue ® poner que preendem cia por quae prodator ¢ preiamente igual & guanscee de abl que les pe rite adqii poder de compra (..]O tba rrge como 2 nica medids de vale rigoom © aniver eie gu ‘ermice compuraro valor diferentes mercado em to fos empose lagee (p27: 31). essa proposgdo geal segue, na obra do economist, teses sobre como aumentar 0 valor d riqueza, Oras 0 te bilho esti na base de rods eiquezs, sobre o que eat repousa ‘© crescimento desta ikima? A respora do autor & de que, para iso ocorrer, deve primeizo ccoerero aumeato ds pottn «ia produtiva do tabalho,E de que forma iso € posse? A roposicio de Smith &premonitiria de diversas otras ters Importates soe trabalho, ‘Traase da iia da divito do trabalho. Parsee, a po- tencalzasio do tabu origina-s de sua divsto, especia: lzapfo ¢ mecanizago. A lustaglo para seu poato 6 dada pel celebre hie de brea de pregos, cua generaizapio lhe permite afirmr que “A divsto do wabalbo que pode sr fecuads em cada cso origina porém, em todas ss ids, ‘um aumento proporcioal da produtividade”(p. 8). O autor ‘em seguda alega que a divsto do trabalho pos ese elo de acordo com tr modaldades concorentes: Em prime lager, dveavobieso da denrezs dos rabedores surent, inivelmente, quantdade de bho que eles podem realy eadvso do meno, edu ‘indo ntrvenio de cada um a uma simples opergio © ‘einvformando eta cima em su io tbalbo duane tod vide amentaambém aeceiamente deena dos teaaladore. (~] Em segundo lga,avantagem que de- ‘erred mor scorelamento do tempo que normale {ee pede ao pur dem Ho de tabalo pare ovo € ste maloe do qu prima vase poderiaimagi.(..] 2m eee gar, por imo, no € dic veicar que © tribal fciadoeredasid quanto sues uns maguine ‘Seadapeade brea gue tralia (n)®(p.9-10) ‘Em sum, o trabalho € principal fonte de sguena¢ sua veto 0 meio pelo qual # auments s posincia produtiva ‘do tabalho. Hs, como sumaraa Mercure (2008), tts carac- ‘eriieasimportances que derivam dessa tse de Smith. Em primeiro luge, a civeio do trabalho depende de uma dink ‘nics mais global, a acumulaszo de capil, pois ext igual ‘mente contibui pars aumentar a produividade do tabalho por meio do crescimento de sua divto ¢ da aquisgio de ‘melhores intrumencor mectnicos nas beics, Em segundo, hd uma aiid distin, em Smith, entre visio theres e divs socal do tabalo,sendo que €a prime ra que Teva 8 segunda tese aemethante defendida por Marx 79 lm séulo mais tarde). em tescro haar, uma expe de eterminismo soil ma obra de Smith, “segundo o qu so. iedades modems sto modelads pels dvsio do vatelho, fe ‘némeno que nfo comport somentevantagens, poi era fen ddenimento das quabdadesintlecmalse das verdes soci (ffase de Smith), tabaladores” (Mercure, 2008, p. 121), Ess hima derantagem ¢ conheida hstoricamente ‘mente, maior + visto do taba ea quers Bt a def do Fberalo ecnmico, a qual Smith bio camino retando ese enc o pots impedies moras ques Antigidade {stcloga medina ers hava imposto&aidadeeconbmic, le rompe com ess dies, 0 mesmo tempo em que coabors. part. cliso do novos problemas que a teria ber dora nfenri, como o problema da mor remsa economia A MORAL PELO ECONOMICO No restante de Invesigagio save marureca« a caus he riguca dat nah, Smith eiscorre sobre sua teria da re [papi socal. Bm seu aspeceo esencl, es tori define © inclo social a pars da natareza sociocconémica das toa nfo mas, como na exten tradigio da qual ee presenta & fuptura, a partir de um contrato socal (aio eles diferencia, ‘por exemplo, de Hobbes), Para os propéstos deste Lire, € limportante denactr da concepelo de regulao social de Smith igus premieas que tornar, ae das mencionadas acima,a ‘economia o piv das ouzscénciassociais~, por extensio, 0 ‘ocabultio privlegisdo de descrszo do homer. ‘rimeira caracteritia,recapitulando observagdes ante lores éque «ordem social é produto da pric de individ ‘rem itera, focados na maimizar2o de seus respectivos uto-intereses, Segunda caraceitica, a sociedade, na vislo de Smith, é carecterizads pela economia de mercado, onde ot {ndviduos, inter-dependentes entre i, stfizem suas neces- tidadet minsat. Os homens sto definidos como produtores « consumidores de mereadorias,dadas taco por seu valor de ‘so como de woca, O mereado constitlo elemento central cla role toca, bem eomo o principal esponsive pea justgacetbucional, Como siteiza Mezcure (2008): 2 te fo mercado] que, por intermedi rv aa dos pep eequilbra una sce sures x sacs dos irre eats. Com fete, 0 que crete ‘omereado em Smith € fio de ele contr par cng <1 dem sok, concando no plano cleo faces pr vacos diverges que nto tn al intenglo, om tej, Sth frenta que a harmonic ¢ er rg mesa, epee ‘da por um dni Fandamentds ma deconsirgso por ar dos genes invidisdointeree geal”. 129). A sociabiidade que Smith tem em mence ort partir do desconhecimento de um “bem coletivo" por parte doin. lviduo; sua mancte, este contsbui para «economia glee

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