You are on page 1of 16
.. EMILIO GARCIA MENDEZ ANTONIO CARLOS GOMES DA COSTA DAS NECESSIDADES AOS DIREITOS GERE DIREITOS DA CRIANCA 4 5 A PooTRINA DE PROTECAO INTEGRAL INFANCIA DAs NAGOES UNIDAS 5.1.A respeito das origens da dou! trina da situagao irregular — 5.2 O tratamento indiscriminado de “menores” abandonades-delin rina em situagao irregular — 5.3 Uma mu : dan: $4 fundamental de paradigma: a doutrina da protecdo integral 5.1 A respeito das origens da doutrina da situa¢gao irregular Uma rigorosa anilise hist6rica demonstra que a histéria da infancia é a hist6ria de seu controle.' Esta perspectiva parte da repulsa de se considerar a infancia como uma categoria ontol6- gica, sustentando, pelo contrario, que a mesma constitui 0 resul- tado de um complexo processo de constru¢ao social cujas ori- gens podem ser encontradas por volta do século XVII. Em ou- tras palavras, isso significa afirmar que a infancia de hoje nao foi notada como uma categoria diferenciada dos adultos, antes de tal periodo. Esta posic¢ao remonta ao excelente € ja classico tra- balho de Philippe Aries (1985), que, utilizando uma fonte de do- cumentos completamente heterodoxa — como a pintura da épo- ca — demonstra que antes do século XVII, depois de passado 0 periodo estrito de dependéncia materna, esse individuos peque- Nos se integram totalmente ao mundo dos adultos. As fontes do- cumentais de Aries mostram aqueles que hoje consideramos na- tural e obviamente como criangas vestindo as mesmas roupas dos adultos ¢ realizando suas mesmas atividades. neira pesquisa sobre a historia dos mecanisme® te ciate paises latino-americanos b t Venenicla) a partir da qual fot possivel obter informaco.no tempo até 0 surg ‘mento da primeira lei especifica de “menores”- SIDADES AOS DIREITOS: DAS NEC! i ° aco do retrato de famm, do século XVII, a utilizagio mo ee terespeuieice, permite Seat uma clara ties pequenos individuos aparecem, agora tendéncia. Aquele® Prise no centro do retrato ‘amiiae Uae Co th com ee ae Ce ae cae ia de ori : anton veloc a oferta de prove io" ieee racio de algum tipo de inca acidade. Parece Possivel identificar aqui, a génese € a pré-historia da chamada doutrina da situacag irregular. oe ge Mas a construcao social da categoria infancia seria vel de se entender sem mencionar a instituigao que conttibuiy decisivamente para a sua consolidagao ¢ reprodi u a escola. No entanto, nem todos os integrantes d goria tém acesso A instituic¢do escola, e, inclusive, uma parte, matriculados acabam expulsos da mesma por diversos motiyos, Tal é a diferenga s6cio-cultural que se estabelece no interior do universo infancia, entre aqueles que permanecem } lado: instituicao escola e aqueles que nao tém acesso ow dela, que 0 conceito genérico infancia nao podera it dos. Os excluidos se converterao em “‘menores’’. _ Para a infancia, a familia e a escola cumprirao | controle e socializacao. Para os ‘“‘menores’’, sera nece cao de uma instancia de controle s6cio-penal: o nores (que, nao por acaso, recebe esta denomin; origens). Em outras oportunidades, ja fiz referéncia aos m criacao, reproducao ampliada, ¢ finalmente, expo América Latina desta institui¢ao de controle especi ibu: ores (E. Garcia Mendez, 19: cifica deste processo p da introdu¢ao de um: do que de uma if 4 DOUTRINA DE:PROTECAO INTEGRAL DA INFANCIA DA ONU 65 sigao daqueles portadores dos direi emanam trumento juridico como o cberiace og ee A estrutura juridico-institucional do tribunal responde ao processo sécio-cult ee ‘o”’. Entre o principio deste século ea metade da década de 20, esta cultura institucional j4 havia sido instaura- da cm quase todos os paises europeus. Entre 1919 (Argentina) € 1939 (Venezuela), este processo se repete no ees Tee americano. No entanto, nao corresponde a producio de leis de menores, a nado ser numa minima proporcdo, a criacao das estru- turas institucionais dispostas pelas proprias leis.3 Existe, neste caso, a tentacao de tratar de se explicar a falta de materializacao das disposigoes legislativas apelando, basica- mente, aos argumentos das deficiéncias orgamentarias ou 4 irre- levancia das conseqiiéncias reais da lei na América Latina, her- deira da cultura do ‘‘se respeita mas nao se cumpre’’, produto do periodo da conquista e da colonizacao. As causas reais desta situag4o sao, no entanto, muito mais complexas, remontando ao estado da correlagao de forgas entre os saberes-poderes ‘‘cienti- ficos’’ que disputavam, na época, o patriménio sobre estes sujei- tos vulneraveis: a corporagao juridica e a corporagao médica. Convém recordar, aqui, que a introdugao desta idéia insti- tucional no jpanimrailnosseriesnnsira iene wets o don egemonia do pensamento positivista de corte antropologico, cu- = ismo aparecia diretamente vinculado a capacidade de ca. dos seus enunciados. se estranhar a existéncia de uma forte ten- dos problemas sociais, onde estru- io, no minimo, irrelevantes. Neste sen- a época € nitida ¢ altamente repre- endo castigo para as criangas delin- a do Estado, que significado teriam n completamente imuteis. Se as aperfeigoamento das instituigoes os ¢ da Europa, nos (argentinos) pode- na com um critério mais moderno € DAS NECESSIDADES AOS DIREITOS ainda mais decisivo no sentido do progresso, 7, ac wr ye tivesse eit ‘um ato anti-social seria levada ae crianga Se pacttite ‘de Observacio ¢ Classificacdo do Departamen. e deste lugar, depois de um minucioso es. to ae o-pedagégico, seria enviada ao estabelecimento mais ease seu tratamento- médico-pedagégico. Para um crite. sea ritamente ‘cientifico, 0 propdsito € proteger € N40 castigar. Otribunal, portanto, édesnecessario”’ (A. Foradori, 1938, p. 343) Ay desta afirmagao “radical” a existéncia de leis de me. lores em todos os paises latino-americanos, € €m menor propor- cdo de tribunais especificos, pode ser entendida como uma solu- ao de c isso entre o poder de ambas as corporagdes. Mais ainda, a pratica real dos tribunais demonstra a funcionalidade, em termos de eficacia como insttumento de controle, deste pac- to de cavalheiros re: 66 alizado na década de 30 de nosso século. Paradoxalmente, 0 carater cientifico deste acordo descansa ‘em um instrumento que por sua ambigitidade € absoluta falta de taxatividade torna-se a negacao das proprias premissas que 0 pro- prio incorpora no seu discurso legitimador: a dou- ‘trina da situacao irregular.* “Somente a anilise historico-critica permite mostrar os me- canismos que explicam a assombrosa sobrevivéncia de uma dou- trina como a da situacao irregular que, na pratica, resultou na ne- gacao de todas e de cada uma de suas declaradas funcdes. O en- foque proposto remonta a necessidade de analisar sua metodo- logia e lugar institucional de producao, assim como sua capaci- dade de criar mitos € ut /négativas em fun¢ao da manuten- ¢40 de uma certa ordem € de sua autoconservacao. _ Parece-me audacioso, apesar de nao desprovido de sentido, m certo paralelismo entre a doutrina da si- mitos — jamais realizados — que rina do chamado socialismo real. eee a produgao tedrica é realizada a existente 08 textos “‘classi- ‘A DOUTRINA DE PROTEGAO INTEGRAL DA INFANCIA DA. ONU 67 Além disso, parece-me oportuno lembra na da situacio irregular aparece Praticamente | tee Coker América Latina até bem avancados os anos 80. = Em segundo lugar, esta doutrina também m sink stander sa dowtina também mogzow uma et ideais, desvirtuados pela pratica. Uma excelente legislagio eek: nores latino-americana, mas que ndo se aplica, constituia até pon co tempo atrés uma idéia hegeménica fundamental do sentido juridico e ‘‘comum”’ no nosso continente. Em terceiro lugar, nao ha dividas de que os eufemismos e os “‘como se” €, por iiltimo, o desentendimento das conseqiién- cias reais de sua aplicagdo sao as bases que ajudam a entender sua sobrevivéncia, apesar do cardter fisiolégico do fracasso dos seus declarados objetivos. A miséria dos programas de ressocia- lizacdo, o tratamento indiscriminado de menotes ‘‘supostamen- te’’ abandonados e “‘supostamente’’ delingiientes> ¢ os milhares de jovens confinados em instituigdes penitencidrias para adultos constituem, apenas, a ponta do “‘iceberg’’ de um imenso proces- so de mistificagao. Em quarto lugar, convém perguntar se nao sao outras fun- ces, € nao aquelas declaradas, as que ajudam a manter uma dou- trina que a consciéncia s6cio-juridica nacional ¢ internacional con- tribuiu decisivamente, nos tltimos tempos, para colocar em si- tuacao irregular. © muro de Berlim nao foi 0 primeiro e, certa- mente, tampouco ser4 o dltimo a cair. 5.2 O tratamento indiscriminado de “‘menores”” abandonados-delinqiientes: uma doutrina em situagao irregular a sconcretas da doutrina da situacao irre- politicas sociais basicas no con- nado faz referencia A inexisténcia de 0 do estado de abandono: 68 RSE icano, A esséncia pa opieina resume na idico que legitime uma intervengig eg. eas oe do produto residual da cate. infiincia, constituida pelo mundo dos “‘menores’’. A indis. tingdo entre abandonados ¢ delingiientes éa pedra angular deste magma juridico, Neste sentido, a ampliagao do uso da doutring da situacio irregular resulta inversamente proporcional a expan. i: jicas. Zo ¢ qualidade das politicas sociais bas: . q = ae termos eerste todo o contexto latino-americano, ay ruturais provocadas pela crise dos anos 30, soma. eae ese de imigracao, determinaram UM Cresej- mento significativo do mundo dos ““menores’’. A falta de recur. sos, ou se preferem, a falta de uma vontade politica que permi. tisse priorizar aquelas categorias vulneraveis mais afetadas pela crise, motivaram a “judicializacio” deste problema. A doutrina da situacdo irregular constituiu 0 apoio juridico ideal para legiti- mar as prioridades estabelecidas. As politicas distribucionistas ensaiadas, com maior ou me- nor intensidade, a partir da década de 50, refletem-se positiva- mente no campo das politicas sociais basicas dedicadas 4 infan- cia. Os ‘‘menores”’ diminuem na América Latina, e com eles, a incidéncia da aplicagao da doutrina da situagao irregular. Estas transformagées, no entanto, nao afetam a esséncia da cultura das intervengdes. Os ‘‘menores’’ se convertem de obje- to do direito a objeto das politicas piblicas. A prova esta no fato de que o panorama legislativo permanece substancialmen- te sem modificagées.® O carater ambiguo e indeterminado das disposig6es juridicas permite sua consolidagao como comparti- mento estanque € como variavel independente das politicas s0- texto latino-ameri nal-tutelar, as po- ‘OS, que se expan- fem a0 novo-velho di- lente na face pe- ls sas ler el cel 4 DOUTRINA DE PROTEGAO INTEGRAL DA INFANCIA DA ONU 69 nal, deslocando 0 peso de sua legitimidade do i ‘i polégico ao estrutural sociol Suicoe lo individual antro- Os desajustes emocionais, Os desvios em r . milia ideal ¢ abstrata e as novas ‘clagdo a uma fa teorias das subculturas crimi substituem, nas recorrentes Praticas de dnstimiclonalbedee segregacao privadas do menor esbogo de garantia: : oes antropol6gico-positivistas de docenereas eae ae ia colu : tebral da doutrina da situagio irregular. Também padiseoad mudou. O tristemente célebre art. 21 da Lei argentina 10.903 (Lei Agote) demonstrou um assombroso vigor legislativo e uma enor- me capacidade de penetracao em todo o continente, Este artigo estabelecia: “Em conseqiiéncia dos artigos anteriores, sera enten- dido por abandono material ou moral ou perigo moral, a incita- ¢ao pelos pais, tutores ou guardides, 4 execug4o pelo menor de atos prejudiciais 4 sua saude fisica ou moral, a mendicancia ou a vagabundagem por parte do menor, sua freqiiéncia em lugares imorais ou de jogo, ou com ladrées ou gente viciada ou de mal- viver, Ou que nao tendo completado os 18 anos de idade venda jornais, publicagGes ou objetos de qualquer natureza que seja, nas tuas ou lugares ptblicos ou quando nestes lugares exergam ofi- cios longe da vigilancia de seus pais ou guardides ou quando se- jan balhos ou empregos prejudiciais 4 moral ou riedade ilimitada desta lei, mostrou- 3 €M que a suspensao definitiva impe- zando a acao estatal através do sis- -reformas sucessivas que tratam i 22.278) se ocupam. of espe- tado da causa, se pelos es- hae eee wenaeae o material ou moral ou apre- dispord definitivamente do a dos pais, tutor ou guardido”’. exemplo argentino nado consti- lado. Assim, por exemplo, art. 6.618, de 1966 (atualmente em 1to, ainda que se chegue 70 DAS NECESSIDADES AOS DIREITOS A conclusio de que 0 ato nao foi cometido ou que o menor njo teve nenhuma participacao nele, 0 juiz podera aplicar as meg; das de protecio que esta lei contempla, sempre que 0 menor g¢ : 1” encontre em perigo material ou moral’. ‘A lenta, mas irreversivel, crise fiscal do Estado lating. americano, que se desenvolve a partir do fim da década de 69 novamente coloca em discussao, com uma ins6lita crueza, os ye. Ihos problemas que deram origem a esta historia. ‘A década de 70 aparece marcada por um autoritarismo que nao pode deixar de repercutir no campo das politicas sociais bj. sicas. A contracao do gasto social ptiblico, especialmente na dre de seus setores mais vulneraveis, determina novamente um cres. cimento desmedido do universo dos ‘‘menores’’. Na década de 80, estas tendéncias crescem € se tornam ain. da mais agudas. No entanto, o surgimento de movimentos sociais que comecam a considerar a infancia como um potencial sujeito de direitos impedem a concretude de um novo pacto de corpo- racdes. O mundo juridico se isola totalmente dos movimentos sociais ¢, de forma crescente, do setor mais avancado das politi- cas publicas. A esséncia da doutrina da situacdo irregular se resu- me em operacées de alquimia juridica, lideradas por grupos de experts que manipulam, para cima ou para baixo, os duvidosos critérios da imputabilidade-inimputabilidade. A crise dos anos 80 se manifesta com ferocidade, nesta zona da politica social na figura simb6lica da crianga da/na rua. Sua me- thor defini¢ao, como uma ilha rodeada de omissdes’ por todos aqueles que de uma forma ou de outra possuem alguma responsa- bilidade institucional a respeito, ajuda a entender melhor as vicis- sda doutrina da situacao irregular. Seu fracasso e crise defi- pedem, entretanto, que esta se manifeste como um is que, desfazendo-se em mil pedacos, volta a re- ez, apoiada em omissOes mais flagrantes ¢€ cu- is. As dis juridicas da interveng4o po- lho sujo das (nado) politicas sociais cons- das evidéncias. A propriedade de ave Phoc- i irregular em corpos legislativos latino ente aprovacdo e, inclusive, impregnados das ‘fequer uma andlise ¢ uma explicacao. esta sobreyivéncia remonta ao carater he- an : nao soube eee ae ae eis fora A DOUTRINA DE PROTEGAO INTEG) RAL i . DA INFANCIA DAONU 71 dos marcos de uma prévia declaragio cionalizagto estigmatizante. Em segundo neu, Pe de institu. téncia se relaciona a uma certa incapacidade dos atual persis. ciais para perceber a importancia e a especifici novimentos io existente entre a condi¢4o material € juridica da j de do vinculo ceiro lugar, sua capacidade como instrumento di infancia. Em ter- mais, como sucedanco ideolégico da retracdo de men, Ga a converte em duplamente funcional para aquel Basto publico privilegiam, objetivamente, a concentragio da rendve noe ee mo, a instauracdo de um ‘‘salve-se if + Por alti- social. quem puder”’ do darwinismo Mas nem tudo ‘‘cheira a podre na Dinamarca”” = Nos ah anos, uma radical inversio de paradigma comega ase ees sonjcltorts a leeiee € social. A Conyengao Internacional dos di- reitos nga constitui, ao mesmo tempo, a evidencia tor destas transformagées. Ss come 5.3 Uma mudanca fundamental de paradigma: a doutrina da protegao integral Com o termo “Doutrina da Prote¢ao Integral dos Direitos da Infancia” se faz referéncia a um conjunto de instrumentos ju- ridicos de carater internacional, que expressam um salto qualita- tivo fundamental na consideracao social da infincia. Reconhe- cendo como antecedente direto a ““Declaracao Universal dos Di- reitos da Crianga’’, esta doutrina aparece representada por qua- ia cional dos Direitos da Crianga; is Nacdes Unidas para a Administra- yemativa. Mas nao sio co que explicam & impor- exile ot 72 DAS NECESSIDADES AOS DIREITOS tincia da Convengio. Além disso, foi precisamente este o instru. mento que teve 0 mérito de chamar a atencao, tanto dos movi- mentos sociais quanto do setor mais avancado das politicas pa. blicas, sobre a importancia da dimensao juridica no processo de luta para melhorar as condigdes de vida da infancia. A Convengio constitui, sem divida alguma, uma mudanca fundamental determinando uma percep¢ao radicalmente nova da condigio da infancia. Do menor, como objeto da compaix4o-repressao, a infancia- adolescéncia, como sujeito pleno de direitos, é a expressao que melhor poderia sintetizar suas transformagdes. A Convencio cons- titui um instrumento juridico para o conjunto do universo infin- cia e nao somente para o menor abandonado-delingiiente, como resultava da letra e, mais ainda, da praxis das legisla¢gdes inspira- das na doutrina da situagao irregular. E necessario que se diga claramente, as legislagdes de me- nores na América Latina s4o absolutamente incompativeis com a letra e o espirito da Conveng¢4o Internacional (exce¢io feita a nova lei brasileira). Neste sentido, 0 proceso de ratificaces, que progressivamente est4 convertendo a Convengao em lei na- cional de um néimero crescente de Estados latino-americanos, estabelece uma situa¢4o de dualidade juridica que se torna im- perioso resolver. Conyém recordar que a adequagao da legislacao nacional po- de adquirir duas modalidades da natureza radicalmente diversa: 1) uma adequagao formal-eufemistica, ou 2) uma adequagao real, que signifique a introdugao efetiva incipios gerais do direito que a Convengao incorpora licita, com todas as conseqiiéncias juridicas e de po- isto implica, ) tipo de adequagao faz referéncia a possibilidade la vez mais, o velho pacto de cavalheiros que per- a cias no seio da comunidade internacional querida neste caso resulta relativamente orporar uma série de direitos em termos . “esquecendo-se’’ de introduzir as técnicas 9 seu cumprimento, pelo menos uma a¢ao a sua violacao. Neste campo, foram 0s n¢Ges”’ que permitiram manter, por ada das consideradas ‘‘melhores legis- “Cédigo del Nifto”’ do Uruguai constitui . Du anos, a auséncia de um para- ido pela Convencao permitiu que aque- UTRINA DE PRO’ ADO TEGAO INTEGRAL DA INFANCIA Da ONY ory e instrumento juridico fosse apré fiesvirtuado Na pratica — para’a America Como, tim Modelo — Foi apenas recentemente que o eminente fri pr. Rodolfo Schurmann Pacheco, afirmou com chant eresuaio, digo del Nifio”” do Uruguai, aprovado no inicio de tang, oo” fia, sem daivida alguma, ter sido dectarado inconstituge aro mesmo ano de sua promulgacao: Este c6digo viola flag ‘onal jéino a propria constituicao uruguaia, também de 1934, que ee taxativamente, sobre 0 principio de igualdade pea eee Schurmann Pacheco, 1991) ale (R, De um modo quase geral, ¢ como resultad i gio dos principios basicos do direito fhursidisagnect ene volucao Francesa, quase todas as constitui¢des latino-americanas incluem 0 preceito relativo de que ninguém poder ser detido se nao for em flagrante delito ou por ordem escrita da autorida- de competente. Com a tnica exce¢io da lei brasileira nenhuma legislagao de ‘‘menores’’ latino-americana incorpora este princi- pio basico nas normas especificas. Torna-se Gbvio que todo o processo de adequacdo da legis- lagao nacional aos principios da Convengao devera comegar pe- la incorpora¢4o dos principios constitucionais, que sao lei supre- ma da nagao. Mas, inclusive, além dos principios constitucionais, a dou- trina da protegao integral estabelece principios basicos do direi- to que deverao ser levados em conta, rigorosamente, no momento de adequacao da legislacao nacional. Por este motivo, resulta altamente conveniente apresentar das « s normativas da Conyencio, e de ou- da protegio integral, para se no- io que o processo de adaptacao ‘comparaco inclui o texto da nova a existéncia real numa normati- PRINCIPIOS JURIDICOS BASICOS cONVENGAO eeree eee ies, PRINCIPIO DE HUMANIDADE Bascia-se no principio da responsabilidade so- | Art. 37 inc. a Ant 14 Arts. 15, 16 cial do Estado ¢ na obrigacio de assisténcia ine. € 17, 18, 126) para o processo de ressocializagio. Deriva-se daqui a proibicIo de penas cruéis © degradantes, PRINCIPIO DE LEGALIDADE Art. 37 inc. b Art, 2 2.2.b Arts. 110, 10 Traduzida na proibicio de existéncia de delito | Att. 40 inc. 2.a Art 17, 17.1b 103 pena sem a pré-existéncia de lei anterior (nuilum crimen, nulla poena sine lege). Art. 37 inc. d Art. 414.1 Art, 40 ine. 2, 1 PRINCIPIO DE JURISDICIONALIDADE 40 ine. 2 Pressupée a existéncia dos requisitos essen- ciais da jurisdicdo: juiz natural, independéncia ¢ imparcialidade de 6rgio. PRINCIPIOS JURIDICOS BASICOS SUBSTANCIAIS E PROCESSUAIS PRINCIPIO DA INVIOLABILIDADE DA convengao REGRAS DE BEIJING INTERNACIONAL ECA DEFESA Art. 37 ine. d Art. 77.1 111, 01 Pressupde a presenga de defensor técnico em | Art. 40 inc. 3 Art. 15 15.1 124, tM todos os atos processuais desde 0 momento 206 ‘em que se imputa 0 cometimento de uma infragio PRINCIPIO DE IMPUGNAGAO Art. 37 ine. d Art. 7 7.1 198 Pressupde a existéncia da possibilidade de se | Art. 40 inc. 2.5.V 137 recorrer perante um 6rgio superior Art. 1717.4 a PRINCIPIO DA LEGALIDADE DO PROGEDIMENTO os Pressupde que 0 procedimento deve a m4 no pode ficar sujeito a Art, 40 ine. 2.6.10 76 DAS NECESSIDADES AOS DIREITOS Parece nao haver diividas no sentido de que o Estatuto da Crianga € do Adolescente do Brasil representa uma adequagio substancial a doutrina da protecao integral chegando, inclusive, a uma superacdo positiva de seus principios bisicos em muitos aspectos. Tal superagio se refere, especificamente, tanto a inclu- sao minuciosa de garantias substanciais € processuais destinadas a assegurar os direitos consagrados, quanto 4 institucionalizacio da participacao comunitaria no controle da claboracio e execu- ¢40 das politicas ptblicas.'° A evolugao concreta da consciéncia social ¢ a possibilidade de se realizar uma historia dos direitos humanos demonstram, cla- ramente, que estes Gltimos nado pertencem ao reino da ontolo- gia. Os direitos humanos constituem, pelo contrario, o resulta- do de um complexo processo de lutas nos campos econdmico, politico, cultural e juridico. A doutrina da proteg4o integral flete, em parte, esta consciéncia e, em parte, apresenta-se como um programa de a¢ao futura. Seria tolo ¢ arrogante afirmar que o Estatuto da Crianca e do Adolescente do Brasil nao é um instrumento sujeito a melho- rias. No entanto, seria muito mais tolo e arrogante ignorar as fon- tes reais desta possivel superac4o positiva. A Constituicao Fede- ral, a Convencao Internacional e as experiéncias concretas da so- ciedade civil marcam 0 Gnico caminho de sua futura evolucio. Numa recente publicagao, produto de um seminirio latino- americano pelos direitos da infancia, os responsaveis das cinco instituig6es organizadoras (Unicri, Unicef, Ilanud, IIN e DNI) afir- mavam: “Resulta paradoxal, ¢ é de se esperar que positivamente premonit6rio, que no contexto da ‘década perdida’ a comunida- de internacional tenha sido capaz de superar conflitos de diver- para construir uma Carta Magna dos direitos da in- ento que se torna imprescindivel colocar e que retorica vazia, nem uma vata magica pa- roblemas estruturais. A Conyengio cons- ‘oso instrumento a partir do qual e com cone x liticas, juridicas e culturais me numa década ganha para em articular e traduzir. Ar- civil e dos organismos governa- iE z A DOUTRINA DE PROTEGAO. INTEGRAL DA INFANCIA DA ONU 77 tais ¢ traduzir as diretrizes q, * carpos juridicos'e politicas sotiais no ee? Internacional em ria das condigdes de vida da infancia latingam sont: A melho- formas institucionais ¢ mudancas legislativay eases TeWUEE Fe da infancia em prioridade absoluta constitui g Drercain © tema tico-cultural se eeu Go va ‘quisito poli- Duas conclus6es imediatas podem ser i ; ma afirma¢ao. Em primeiro Nie quea ee como sujeito pleno de direitos constitui um Processo de Siesta irreversivel no seio da comunidade internacional e, em SERS lugar, que o continente latino-americano precisa hoje, mais que nunca, de utopias positivas concretas Para elaborar um futuro me. lhor. Por isso, parece-me imperioso concluir estas reflexdes tor- nando minhas as palavras de um cidadao de nossa América (Ga- briel Garcia Marquez): ‘‘...Sentimo-nos com o direito de acredi- tar que ainda nao é muito tarde para se empreender a criacio da utopia contraria. Uma nova e arrasadora utopia da vida, onde nin- guém possa decidir pelo outro até mesmo a forma de morrer, on- de, realmente, 0 amor seja certo ¢ a felicidade seja possivel, e onde as estirpes condenadas a cem anos de solidao tenham, por fim e para sempre, uma segunda oportunidade sobre a terra’’.

You might also like