You are on page 1of 131
Be Elliot Aronson Timothy D, Wilson LTC Robin M. Akert Terceita Eficéo Teytod CoGNIGAO SocIAL: Como PENSAMOS SOBRE 0 MUNDO SOCIAL VISAO GERAL DO CAPITULO (0 Homem como Te6rico do Dia-a-Dia: Os Esquemas e como Eles nos Influenciam ‘A Fungo dos Esquemas: Por que os Temos? Determinantes Culturais dos Esquemas Os Esquemas Podem Distorcer 0 que Vemos e Lembramos Os Esquemas Podem Persistir, Mesmo Depois de Desacreditados Tornando Realidade Nossos Esquemas: A Profecia Auto-Realizadora Estratégias e Atalhos Mentais Com que Facilidade Ela nos Ocorre? A Heuristica da Disponibilidade Desfazer Mentalmente o Passado: 0 Raciocinio Antitactual AAté que Ponto A se Parece com B? A Heuristca da Representatividade Aceltagdo das Coisas pelo Seu Valor Aparente: A Heuristica da Ancoragem e do Ajustamento 0 Pensador Social Flexivel 0 Pensadlor Social Motivado Pensamento Automético versus Pensamento Controlado Grenga Automética, Descrenga Controlada Processamento Irénico e Supressdo de Pensamento Um Retrato do Juizo Social Ensinando Habilidades de Raciocinio ‘ova York, domingo, 11 de maio de 1997: em uma espantosa derrota, Gary Kasparov, 0 campeio mundial de xadrez, perdew para tum desafiante sem nenhuma classificago. Kasparov entregou 0 jogo apés apenas 19 movimentos, reconhecendo a derrota no sexto e decisivo {jogo do encontro, Estranhamente, essa era a primeira vez fem que Kasparov perdia um jogo como profissional Mais surpreendente ainda, perdeu nfo para outro ser hhumano, mas para um computador da IBM chamado Deep Blue, alojado em duas imponentes caixas pretas, cada. uma delas com 194em de altura, Pela primeira vez 38 Cognko Social: Como Pensamos sobre @ Mundo Soda nia histéria, uma méquina chocou-se cabega com cabega (ou chip com cabega) com um dos homens mais inteli gemtes da nossa espécie e saiu vtoriosa. Um comentaris- ta, 20 ouvir a noticia, disse que sentiu “uma pontada com 4 perda do Ql ¢ um aumento de pélos"(Dunn, 1997). Os computadores, claro, j nos superaram de muitas rmaneciras: guiam espagonaves até Mare, solucionam diliceis, problemas matemstics ecaleulam o saldo do nosso tao de cheque com una exatdio de centavos. Houve, porém, algo muito perturbador na derrota de Gary Kasparov para o Deep Blue. O xadrez é considerado um dos desafos mas ices A mente humana, exigindo incrivel insight, concentragio € criatividade, Seri que nds, humanos, deixamos de ser 0 que cde mais inteligente existe no planeta? ‘Na verdade, continuamos a ser. Por mais assombrosa que tenha sido a vit6ria do Deep Blue, 0 homem é ainda muito relhor do que os computadores em alguns tipos muito importantes de pensamento, Estamos nos referindo 3 sua le eomo|pensador soeial — a eapacidad de com- preender e pensar a respeito de outras pessoas. Uma coisa & ‘um computador caeular um excelente movimento no xadte © outra, muito diferente, ¢ saber como so as pessoas. Imagine, por exemplo, que 0 Beep Biue estava ao seu Jado em sua primeira semana na faculdade, Ao ser apre- sentado & uma nova pessoa, um operador de computador escancia a foto dela, carrega-a no computador ¢ digita tudo 0 que ela diz. ( operador seria nevessério porque os computadores so muito incompetentes quando o assun- to € compreender a finguagem humana ¢ reconhecer ros- tos; Pinker, 1994.) Ao fim da semana, vocé ¢ © computa- dlorfazem virias avaliagbes das pessoas que vo8 conhe- eu, do quanto elas gostaram de voes e de como gostam "umas das outras, Embora esse experimento jamais tenha sido ito, no temos diivida de que voe’ seria muito superior a0 computador nesses tips de jutzos sociais, Suponhamos que voc® seja apresentada & sua nova companheira de quarto, Cindy, e ela diz: “Prazer em conhes@-la!", com entusiasmo e calor humano auténticos. Ela parece mesmo boazinha, e voeé acha que voces vao se dar muito bem, No fim do mesmo dia, voc€ conhece Jason, que, por acaso, é primo do seu ex-namorado, Voc © 0 ex no estio nas melhores relagBes passives, ¢ Jason conhece todos os sanguinolentos detalhes do caso. Apés ser apresentado, ele diz também: “Prazer em conhecé-la!™ Embora parega muito satisfeito, voo8 acha que ele nio est sendo sincero. Apés uma répida troca de gentilezas, ele pede licenga e deixa a sala, Embora poss parceer ffeil inteprelar essus intragbies simples ecaleular que a coisas vo ser melhores com Cindy’ «do que com Jason, pense no imenso volume de conbecimen- to que voed usou para chegar a essa conclusdo, Voc® sabe muita eoisa sobre relacionamentos rommanticos, © que acon- tece quando eles terminam, quanto tempo vooe deve conver- sar com alguém que acaba de conhecer antes de pedir licen. «2 pa ir emora, © que seu ex Ihe disse sobre Jason, © que voce ouviu dizer sobre Cindy ¢ assim por diane. Rapidamente e com hablidade, voo® combina esse enorme volume de conhecimentos para formar uma opinido sobre Cindy e Jason. Seria muito dificil fornecer ao computador todo esse tipo de conhecimento, Mesmo que pudéssemos, seta dificilimo eserever um programa que he dissesse como usé-lo para coneluir que o “Prazer em conhecé-la!" de Jason significava algo muito diferente das palavras idénticas de Cindy. Talvez o Deep Biue seja muito bom em xadrez, mas, até agora, ni hi computador algum que sequer se aproxime velo ou joelho esfolados. Vood, provavelmente, estava se co ‘centrando no que fazia com as ps, os joelhos eas mos € pare cia que voe8 jamais conseguiria dominar aquele rogo. Quando se tomnou um ciclsta habil, porém, seus movimentos passaram 4 ser automaticos, no sentido de voe® mio pensar mais no que estava fazendo. Exatamente como nossas agdes, nosso modo de pensar twoina-se automético (Bargh, 1994, 1996, Wegner & Bargh, 1998). Quanto mais prtica temos em pensar de certa maneira, mais automitico se torna esse tipo de pensamento, chegando 30 ponto de podermos fazer isso inconscientemente, sem esforG0 ‘lgum, © processamento automstico pode ser definide como © pensamento inconseiente, nio-intencional, involuntirio e fie. Embora diferentes tipos de pensamento automtico satis- fagam esses critérios em graus varidveis (Bargh, 1989), para © ‘que nos interessa podemos definir como automtico © pensa- mento que satisfaz a todos ou a mato desses critério. ‘© processamento automatic & dificil de descrever precisa ‘mente porque acon fora da conseigncia e, por isso, no nos & familiar, Na verdade, j4 descrevemos alguns exemplos desse tipo de pensamento — a saber, © uso de esquemas para com. ‘preender o mundo social, Os seres humanos estio programados para categorizar © mundo ripida e eficiemtemente. Quando centramos em uma sala de aula, no vemos um feixe de objetos ‘que tém plataformas paralelas ao chao, ligadas a quatro pernas, ‘com uma outra superficie plana em Angulo reto, que entao ‘moatamos mentalmente para chegar a uma idéia do que sao. Em ver de ter que parar para pensar “Vamos ver. Ah, sim, essas coisas af so cadeiras”, nés, ripida e inconscientemente, sem forgo, categorizamos os objetos no nosso esuema “eadeira”. fato de fazermos isso automaticamente permite: ‘nos usar a mente consciente para outras Gnalidades mais, importantes (“Quais vao ser os quesitos da prova de hoje?” ou “Devo ou nfo puxar conversa com aquele cara bonito na ter ceira fila?”). De modo semethante, quando conhecemos outs pessoas, inclufmo-las, sem © menor esforgo, em esquemas ji formados. Agir assim poupa-nos tempo e estore. Como acontece, contudo, com todas «propre ddades da cognigio social estudadas anteriormente, a efieiéncia tem um custo. Se, automaticamente, eategorizamos de modo cerrado uma coisa ou pessoa, podemos nos meter em uma fra Imagine o embarago de um amigo nosso que foi até um rest rante gri-fino e, notando a placa que indicava estaeionamento ‘com manobrista, dew as chaves do carro a um jover hispainico {que viu junto & porta, Fsse homem, porém, no era manobeis ‘a mas outro cliente que ja justamente entiar no restasrante, Ow lembre-se do exemplo dos professores ca profecia auto-e zadora. Uma das rues por que as expeetativas podem € an- tas conseqiigneias & que elas operam automaticamente, sem intengio nossa, tormando dlffeil 3s pessoas saberem quitndo, ‘agem de acorde com essa expectativas. Sem demora, enfiamos ts pessoas em escaninhos, de tal maneira yue nossos esqueMas, nenhum 54 cagngio Social: Como Pensamos sobre o Munde Sadia bascados em raga, sexo, idade ou atraglofsica so invocados, atomaticamente (Devine, 1989; Fiske, 1980) Esta € uma das razies da dficuldade de superar os estretipos:freqientemen- te les operam sem nos darimos conta diss. Evidentemente, nem todo pensamento & automsético, Tal como a estétua do pensador, de Rein, paramos as vezese pen- samos profundamente em as mesimos € no mundo social Esse tipo de pensamento denomina-se processamento contro- lado, gue & definido como pensamento conseiente, intencio “pal, voluntatio e que requer esfrgo. Temos um exemplo desse rocessaniento no tipo de perpunta que as pessoas consciente- ‘mente se fazem com freqiéncia: “O que serd que vamos ter hoje ao almogo"" ou “Quando é que os autores vio se mancar ¢ terminar este capitulo? Podemos “liga” ou “éesligat” & ‘ontae esse tipo de pensament etenos plena conseiéncia do due estamos pensando, ‘Um dos objetivos do pensamento eontolado & estabelecer Fimites para o processamento automatic Exatamente como 0 comandante de um avido pode desligar o pilotoautomético & ssumiro contole da aeronave quando sufge um problema, 0 pensamento controlado assume © comando quando ocorrem incidentesincomuns. Ao contri do processamnento automiti- 0, poem, © pensamento contolado exige motvagao e esfor- «0. Temos que querer fazé-loe dispor de tempo e energia para Tanto. Por isso, quando a tamos muito com a comegio de uma devsso ou juzo, mos que © pensamento avtomiice faga 0 trabalho, sem nos incomodar em confr-lo ou corigi-to. Se estamos asistindo preguigosamente a um programa de televisio apés um longo tia de tab, por exemplo, talvezjulguemos distaidamente as pessoas que vemos na fla, sem pensar muito no assunto Conforme veremos no Cap. 13, esse processamento dstaido significa muitas vees que esteretipamos as pessous, sem pen- Sa¥ muito iss, Temos que fazer esforgo par usar 0 processa- ‘mento controlada a fim de nos contrapor aos esteretipos que ‘vm ai mente de modo automitieo. CRENCA AUTOMATICA, DESCRENCA CONTROLADA HE outras maneiras interessantes pelas quais o processamento ccontrolado limita © automstico. Como vimos antes, quando Processsmento ‘usamos a heuristica da ancoragem e do ajustamento, adotamos pntos de partda em nossos juizos e deixamos de fazer os ajus- tamentos convenientes. Uma das explicagbes desse provesso & {que usamos automaticamente como ponto de partida qualquer coisa que encontremos, sem sequer nos darmos plenamente conta de que fazemos isso ¢, em seguida, tentamos introduzir ajustamentos a partir desse ponto, usando © processamento ceontrolado, Essa deserigio do juizo humano foi feita ha trés s6eulos pelo filésofo Benedict Spinova: quando vemos, ouvie ‘mos ou aprendemos alguma coisa inicialmente, nbs a aceita- ‘mos pelo seu valor aparente ea tornamos verdade. $6 depois de aceitar a verdade de um fato & que voltamos ats e decidimos, se ele pode ser falso. Embora outros filésofos (por exemplo, René Descartes) tenham discordado dessa tese, pesquisa recen- te de Daniel Gilbert ¢ colegas mostrou que Spinoza tinha razo (Gilbest, 1991, 1993, 1998; Krull & Dill, 1996), Gilbert sustenta que o homem & programado para acreditar automaticamente em tudo que ouve ou vé. Esse processo auto- iikico de "ver € rer” seria inerente ao set humano, sugere ele, porgue muito do que vemos e ouvimos ¢ verdade. Se tivésse- mos que parar e pensar sobre a veracidade de tudo com que nos dlfrontamos, a vida seria na verdade diffe (*Vejamos, parece um carro vindo em alta velocidade em minha diregio, mas na verdade talvez seja uma ilusdo... CRASH"), As vores, conte do, © que vemos ow ouvimos nio € verdade. Precisamos, por tanto, de um sistema de limitagio para podermos “desaceitar’ gui em que inicialmente aereditames. Quando ouvimos um ccandidato a governador dizer “Se eleto, vou baixar os impos- tos, equilibrar 0 orgamento, reduzir a taxa de criminalidade € Ivar seu carro todo domingo a tarde”, de incio acreditamos no ‘que ouvimos, argumenta Gilbert (1991). A parte de “desaceita- ‘¢d0” do processo, contudo, surge répida,levando-nos a duvidar da verdade do que acabamos de ouvir (“Ei, espere a...). Esse processo € mostrado na Fig. 3.7, O inveressamte nesse processo & que a parte de acetagao ini cial ocorre automaticamente, o que, conforme vimos, significa {que acontece inconscientemente e sem esforgo ou intengso. A parte de avaliagdo e desaceitaydo do processo &, contudo, pro: dduto do processamento controlado, o que significa que o ind viduo precisara de energia e motivagao para fazé-a. Se ele est preocupado, cansado ou desmotivado, a parte de aceitagio do processo opera sem controle e, dessa maneira, pode levar 2 aceitagio de falsidades, Fig. 3.7 Teoria da crenca automstica, de Gilbert. De acrdo cam Gide (1991, de inka 3 pessoas acrctam em tudo ue vem © ower Em sguida, aula $e 0 "ue cunram ou ram # ou nao verdad 0 “desacotam”, se neces, Seq dae ater parte do proces, nas uae indi avatae eta as nformacoes, gem tempe e esoro. Se 0 ind ft cana eu preoeupade, tomas ait cl parael eect 3 partes do proces 20, aumentando a probabidade de que veh a crea em nfomacies Taba (adapta de Gib, 1991)

You might also like