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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE


INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE AMBIENTES AQUÁTICOS CONTINENTAIS

CARACTERIZAÇÃO LIMNOLÓGICA E QUALIDADE DA ÁGUA DA LAGOA CAIUBÁ,


RIO GRANDE - RS

Autor: Raquel Wigg Cunha

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Biologia de Ambientes Aquáticos
Continentais para obtenção do Título de Mestre
em Biologia de Ambientes Aquáticos Continentais.

Rio Grande, Março de 2011.


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE AMBIENTES AQUÁTICOS CONTINENTAIS
LABORATÓRIO DE LIMNOLOGIA

CARACTERIZAÇÃO LIMNOLÓGICA E QUALIDADE DA ÁGUA DA LAGOA


CAIUBÁ, RIO GRANDE - RS

Aluna: Raquel Wigg Cunha


Orientador: Cleber Palma Silva

Rio Grande, Março de 2011.

i
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à Deus por ter me dado a vida e a dedicação pelos


meus estudos e por sempre estar presente.
Agradeço ao meu orientador pela oportunidade e a ajuda para desenvolver este
trabalho, e por ter sido um ótimo conselheiro.
Agradeço à todas as pessoas que participaram das coletas em campo e das
análises em laboratório, principalmente à Sabrina, amiga e colega de trabalho; aos
estagiários Helen, Mariane e Manuel; e aos técnicos de laboratório Clara, Carol,
Cláudio e Leonardo pela grande ajuda e apoio.
Aos funcionários do ICMBio que atuam na ESEC Taim, Carol, Silvério, Serginho
e Amauri, pela paciência e disposição, sem os quais este trabalho não seria possível.
À Granja 4 Irmãos por permitir nossos acesso pelas suas terras.
Aos professores do mestrado pelos ensinamentos importantes.
Aos colegas de mestrado, por todos os seminários e trabalhos realizados juntos
e por sempre contar com eles para qualquer dúvida.
À FURG, CAPES, EMBRAPA, FAPERGS e CNPq pelo apoio e infraestrutura
fornecida.
Aos meus pais pelo carinho e apoio que sempre pude contar.
Ao meu noivo, Marcelo, por sempre estar ao meu lado.
Aos meus amigos, que, apesar de não ter tido muito tempo para eles, sempre
estão nos meus pensamentos e sei que sempre poderei contar com eles.
Agradeço a todos que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a realização
deste trabalho.

ii
RESUMO

A lagoa Caiubá (RS, Brasil) está inserida numa área de importância ambiental e
econômica, sendo utilizada para irrigação da cultura do arroz, produção pecuária e
pesca, mas ainda apresenta margens bem preservadas, com banhados e dunas. O
objetivo do trabalho foi identificar padrões de variação sazonal e espacial das suas
características físicas, químicas e biológicas, e avaliar a qualidade de suas águas,
através da aplicação do IQA da National Sanitation Foundation modificado pelo
COMITESINOS e das classes da Resolução CONAMA 357/2005 (legislação ambiental
brasileira), e seu estado trófico pelo IET de Carlson. As amostragens foram de
Dezembro de 2009 a Novembro de 2010, sendo realizada duas coletas por estação do
ano, em 9 pontos da lagoa, representando sua região norte, central e sul. Para análise
dos dados limnológicos foram utilizados ANOVA one-way (teste de Tukey, p<0,05) e
análise fatorial/análise de componentes principais (AF/ACP). A lagoa Caiubá
apresentou uma variação sazonal nas suas características físico-químicas e biológicas,
influenciado principalmente pelo clima da região e pelas atividades agropecuárias no
seu entorno. A AF/ACP indica que apenas as medidas de transparência, clorofila-a,
turbidez, material em suspensão e sólidos dissolvidos totais seriam necessários para
explicar a variação temporal. O IET indica que a lagoa se apresenta mais eutrofizada
durante o Inverno e de acordo com o IQA, as condições da água são próprias para
abastecimento público durante todo o ano, variando de boa a excelente qualidade.
Segundo a classificação do CONAMA, possui águas propicias para as atividades
agropecuárias, com exceção das variáveis fósforo total e turbidez que se encontraram
acima dos valores determinados pela legislação. Quanto às diferenças espaciais, ficou
evidenciado, tanto pela análise individual das variáveis, quanto pelo IET e pelo IQA,
que a parte norte da lagoa Caiubá, durante o Verão, é mais sensível às variações
devido à sua morfologia. Um monitoramento contínuo das suas características é
necessário a fim de melhor descrever o seu padrão de variação sazonal e espacial,
informações imprescindíveis para a gestão da lagoa. Além disso, é preciso a criação de
um índice que melhor represente o estado atual desta lagoa rasa costeira com
influência antrópica.

Palavras-chave: lago raso; variação sazonal; variação espacial; IET; IQA, CONAMA
357/2005.

iii
ABSTRACT

The lake Caiubá (RS, Brazil) is inserted in an area of environmental and economic
importance, being used for irrigation of rice, livestock and fishing, but still has well
preserved margins, with wetlands and dunes. The objective was to identify patterns of
seasonal and spatial variation of its physical, chemical and biological characteristics,
and the quality of its waters through the implementation of the Carlson’s TSI, WQI of the
National Sanitation Foundation amended by COMITESINOS, and classes of CONAMA
357/2005 (the Brazilian environmental legislation). Samples were December 2009 to
November 2010, being held two collections per season, in nine points in the lake
representing its northern, central and south. For analysis of limnological data were used
ANOVA one-way (Tukey test, p<0.05) and factor analysis / principal component
analysis (FA/PCA). The lake Caiubá showed a seasonal variation in their characteristics
physico-chemical and biological, particularly influenced by the climate of the region and
by the agricultural activities in their surroundings. The FA/PCA indicates that only
measures of transparency, chlorophyll-a, turbidity, solids suspended and solids
dissolved total would be needed to explain the temporal variation. The TSI indicates that
the lake is more eutrophic over the winter and according to the WQI, the water
conditions are suitable for public water supply throughout the year, ranging from good to
excellent quality. According to the classification of CONAMA, its waters are favorable for
agricultural activities, except for total phosphorus and turbidity variables that were found
above the values determined by legislation. For the spatial differences, it was evident
that by the analysis of individual variables, and by the TSI and the WQI, the northern
part of the lagoon Caiubá during the summer, is more sensitive to variations due to its
morphology. A continuous monitoring of their characteristics is necessary in order to
better describe the pattern of seasonal variation and spatial information essential to the
management of the lagoon. Moreover, it is necessary to create an index that best
represents the current state of the coastal shallow lake with human influence.

Keywords: shallow lake; seasonal variation; spatial variation; TSI; WQI; CONAMA
357/2005.

iv
SUMÁRIO

RESUMO...................................................................................................................iii
ABSTRACT................................................................................................................iv
LISTA DE FIGURAS..................................................................................................vi
LISTA DE TABELAS.................................................................................................vii
1. INTRODUÇÃO GERAL..............................................................................................8
ECOLOGIA DE LAGOS RASOS................................................................................8
PRINCIPAIS IMPACTOS.........................................................................................10
SISTEMA HIDROLÓGICO DO TAIM.......................................................................10
ÍNDICES AMBIENTAIS............................................................................................11
2. JUSTIFICATIVA.......................................................................................................12
3. OBJETIVOS.............................................................................................................12
4. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO...................................................................................13
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................13
CAPÍTULO 1............................................................................................................16
CAPÍTULO 2............................................................................................................39
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................63

v
LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1

Fig. 1 Localização do Sistema Hidrológico do Taim (delimitado pela linha pontilhada),


da Estação Ecológica do Taim (ESEC Taim), da lagoa Caiubá e dos nove pontos de
amostragens (P1 a P9)...................................................................................................22

Fig. 2 Médias das variáveis limnológicas dos pontos amostrais da lagoa Caiubá para
cada estação do ano. Os resultados estão expressos como média e desvio padrão. *P1
e P5 maior do que o P3 e P4 para o Verão, p<0,05;**P1, P2 e P3 menor do que os
demais para o Verão, p<0,01; #P1, P2 e P3 maior do que os demais para o Inverno,
p<0,01; +P1 e P3 maior do que o P7, P8 e P9 para a Primavera, p<0,05; ##P1 maior do
que os demais para o Outono, p<0,05; ++P1, P2 e P3 maior do que nos demais para o
Verão, p<0,05; ***P1 maior do que o P7 e P8 para o Verão, p<0,05 (OD = Oxigênio
Dissolvido; CE = Condutividade Elétrica; Alcal = Alcalinidade; MS = Material em
Suspensão; Chl-a = Clorofila-a; DBO = Demanda Bioquímica de Oxigênio; SDT =
Sólidos Dissolvidos Totais; Col. Fecais = Coliformes Fecais; PT = Fósforo Total; NK =
Nitrogênio Kjedahl; PO4 = Fosfato; NO3 = Nitrato; NO2 = Nitrito; SO4 = Sulfato; F-1 =
Fluoreto; Cl-1 = Cloreto; Br-1 = Brometo).........................................................................27

CAPÍTULO 2

Figura 1. Localização do Sistema Hidrológico do Taim (delimitado pela linha


pontilhada), da Estação Ecológica do Taim (ESEC Taim), da lagoa Caiubá e dos
pontos de amostragens (P1 a P9)..................................................................................58

Figura 2. Variação sazonal do Índice de Estado Trófico (IET) na lagoa Caiubá............58


Figura 3. Variação espacial do Índice de Estado Trófico (IET) para cada estação do ano
na lagoa Caiubá..............................................................................................................59

Figura 4. Variação sazonal do Índice de Qualidade da Água (IQA) na lagoa Caiubá....59

Figura 5. Variação espacial do Índice de Qualidade da Água (IQA) para cada estação
do ano na lagoa Caiubá..................................................................................................60
Figura 6. Variação sazonal na proporção de classificação das variáveis físicas,
químicas e biológicas da lagoa Caiubá segundo CONAMA (2005) (*classe incluída
neste estudo)..................................................................................................................60
Figura 7. Variação espacial na proporção de classificação das variáveis físicas,
químicas e biológicas da lagoa Caiubá para cada estação do ano segundo CONAMA
(2005) (*classe incluída neste estudo)...........................................................................61

Figura 8. Frequência de ocorrência de cada variável física, química e biológica da lagoa


Caiubá nas classes do CONAMA (2005) por estação do ano (*classe incluída neste
estudo) (OD = oxigênio dissolvido; DBO = demanda bioquímica de oxigênio; Turb =
turbidez; Chl-a = clorofila-a; SDT = sólidos dissolvidos totais; PT = fósforo total; NO3 =
nitrato; NO2 = nitrito; CF = coliformes fecais; Cl-1 = cloreto; F-1 = fluoreto; SO4 =
sulfato)............................................................................................................................62
vi
LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 1

Tabela 1 Dados médios meteorológicos para as estações do ano durante o período de


estudo.............................................................................................................................24

Tabela 2 Médias sazonais das variáveis limnológicas da lagoa Caiubá........................25

Tabela 3 Carga dos fatores e escores fatoriais..............................................................26

CAPÍTULO 2

Tabela 1. Classificação das águas doces segundo seu uso preponderantes de acordo
com CONAMA (2005).....................................................................................................56

Tabela 2. Valores máximos dos parâmetros estabelecidos para cada Classe do


CONAMA (2005).............................................................................................................57

vii
1. INTRODUÇÃO GERAL

A Planície Costeira do Rio Grande do Sul ocupa uma estreita e diversificada faixa
ambiental, onde os ambientes lagunar-lacustre são os mais predominantes (Vieira &
Rangel, 1988), consistindo de ecossistemas ricos em biodiversidade, mas
extremamente frágeis.
As lagoas costeiras estão entre os mais dinâmicos e complexos ambientes
aquáticos, caracterizadas por múltiplas interfaces, alta resiliência e produtividade
biológica e capacidade de acumular nutrientes de toda a bacia hidrográfica (Tett et al.,
2003). Acabam refletindo a troca de material e energia com os ecossistemas
adjacentes, sejam eles agrícolas, urbanos ou marítimos.

ECOLOGIA DE LAGOS RASOS

Os corpos de água rasos se caracterizam por apresentar a coluna d’água bem


misturada, com pouca ou nenhuma estratificação vertical da temperatura, devido
principalmente à ação dos ventos (Rosman, 1989). A penetração da luz solar pode se
tornar um fator constante até o sedimento e, além disso, ambientes rasos podem
apresentar maior produtividade devido à sua maior relação volume d’água/superfície de
sedimento, o que aumenta a troca de nutrientes (Esteves, 1998).
É bem reconhecido e estudado que os lagos rasos possuem dois estados
estáveis alternativos definidos pelo padrão de turbidez do ecossistema, representando
um estado de águas claras e um estado de águas túrbidas (Scheffer et al., 2001;
Scheffer & Jeppesen, 2007). Estes estados oscilam devido às diferenças intrínsecas do
ecossistema (acumulação de fósforo e matéria orgânica) e eventos externos
(condições climáticas) (Scheffer & Jeppesen, 2007; Scheffer & van Nes, 2007).
O estado claro de transparência da água permite o desenvolvimento e dominância
da vegetação aquática submersa (Blindow et al., 1993; Scheffer, 1998; Scheffer et al.,
2001) a qual favorece o sistema à condições mesotróficas e oligotróficas através de
mecanismos que propiciam a redução da ressuspensão de nutrientes e resíduos do
sedimento, impactos alelopáticos na comunidade algal, proteção e abrigo para o
zooplâncton e peixes, promovendo um equilíbrio entre os níveis tróficos e valorizando o
ambiente para fins paisagísticos e recreacionais (van Nes et al., 2003).

8
O estado de água túrbida é decorrente da proliferação de algas fitoplanctônicas e
cria condições desfavoráveis ao estabelecimento de plantas submersas, pois a turbidez
impede a penetração da luz nas camadas mais profundas inibindo o crescimento das
mesmas. O sedimento desprotegido é frequentemente ressuspenso pela ação do vento
e pelos peixes, causando forte decréscimo da transparência da água. Pela ausência de
plantas para servirem de refúgio, o zooplâncton é constantemente predado pelos
peixes, aumentando o desenvolvimento das algas, uma vez que estas não sofrem a
pressão do pastoreio pelo zooplâncton (Scheffer, 1998). Assim, no estado turvo, há
pobre qualidade da água e perda da biodiversidade.
Existem vários fatores que vão determinar qual estado alternativo vai prevalecer,
onde cada um é estabilizado por mecanismos de feedbacks positivos e negativos que
envolvem mecanismos biológicos e físico-químicos (Scheffer & Jeppesen, 2007). O
principal fator que pode acarretar uma mudança de estado é a carga externa de
nutrientes, principalmente o fósforo (Janse et al., 2008). Outros fatores que também
podem atuar são a sazonalidade, a heterogeneidade espacial do ambiente, a dinâmica
das populações, as mudanças climáticas e ainda, fatores que podem afetar o nível de
nutrientes, como a profundidade e o tamanho do lago, assim como o clima da região
(Scheffer & van Nes, 2007).
Uma vez que o lago se torne túrbido, o nível de nutrientes se torna bastante alto e
deve ser reduzido a um nível muito abaixo para retornar ao estado claro (van Nes et al.,
2003). Algumas medidas físicas, químicas ou biológicas podem ser empregadas na
tentativa de restaurar o ecossistema aquático.
Os lagos rasos podem, ainda, se apresentar diferentes ecologicamente, mesmo
proximamente localizados, devido a fatores específicos de cada ambiente como a
influência marinha, presença de uma região de entorno mais preservada, grau de
influência antrópica e sua morfologia (Petrucio, 1998; Missaghi & Hondzo, 2010).
Podem, ainda, apresentar grande variação espacial e temporal das suas características
físicas e químicas ao longo do ano (Rodrigues et al., 2002; Dellamano-Oliveira et al.,
2003; Trindade et al., 2009; Zambrano et al., 2009). As variações sazonais acarretam
grandes mudanças no metabolismo, nas comunidades e nos parâmetros físicos,
químicos e biológicos dos ambientes rasos, afetando o seu estado trófico (Schäfer,
1984; Bezerra-Neto & Pinto-Coelho, 2002; Morrice et al., 2008).

9
PRINCIPAIS IMPACTOS

Lagos rasos são os principais mananciais utilizados pelo homem para os mais
diversos fins, como captação de água para abastecimento e irrigação, despejo de
efluentes domésticos e industriais, pesca, dessedentação de animais, navegação, lazer
e prazer estético. No entanto, a maioria destas atividades acaba poluindo os corpos
d’água. Por isso, o modo como o homem usa e ocupa o solo tem uma implicação direta
na qualidade da água dos recursos hídricos.
As atividades agropecuárias constituem fontes difusas de poluição, sendo mais
difíceis de serem medidas e, assim, mitigadas, podendo modificar as condições físico-
químicas das águas superficiais (Chellappa & Costa, 2003). São também responsáveis
por um grande aporte externo de nutrientes, principalmente P e N, para os lagos rasos,
criando ambientes vulneráveis à eutrofização devido ao enriquecimento antrópico
acelerado (Fernández et al., 2009; Roselli et al., 2009).
A cultura do arroz irrigado degrada a qualidade das águas dos corpos hídricos
devido ao manejo inadequado da água de irrigação da lavoura, especialmente nas
etapas de preparo do solo e na aplicação de agroquímicos (Toledo et al., 2002). Taranu
& Gregory-Eaves (2008) já evidenciaram que lagos rasos em bacias hidrográficas
dominadas pela agricultura são mais prováveis de apresentar maior concentração de
nutrientes. Além disso, a estabilização artificial dos níveis da água em lagos rasos em
áreas agrícolas pode agravar a tendência destes lagos a permanecerem no estado
turvo (Scheffer & Jeppesen, 2007).
A produção intensiva de gado está associada a um aumento de resíduos
(excretas) e sedimentos advindos da erosão da terra para os lagos (Townsend et al.,
2010), o que também pode promover uma mudança de estado claro para turvo.

SISTEMA HIDROLÓGICO DO TAIM

O Sistema Hidrológico do Taim (SHT) está localizado ao sul do Estado do Rio


Grande do Sul, entre o Oceano Atlântico e a Lagoa Mirim e os Município de Santa
Vitória do Palmar e de Rio Grande (32°20' e 33°00' S e 52°20' e 52°45' W) com 2.254
km2, e nela está inserida a Estação Ecológica do Taim.
A região de inserção do SHT faz parte de um continuum de áreas alagáveis,
caracterizado por banhados e lagoas associadas de água doce, em uma dinâmica de

10
baixo relevo marginal ao Oceano Atlântico. Em associação com o clima subtropical, a
área se distingue de outras áreas alagáveis existentes no Brasil (PELD, 2010), se
tornando um sistema único.
O principal impacto ambiental incidente na região do SHT, no tocante aos
recursos hídricos, é o incremento da orizicultura, que tem uma demanda de água
elevada durante a época de cultivo nos meses mais críticos em termos de déficit
hídrico. A água captada para irrigação e manutenção da lâmina necessária para a
cultura do arroz é retirada através de bombas das lagoas Mangueira, Caiubá, Flores e
Mirim para os canais de distribuição de água.
Villanueva et al. (2000) sugeriram que o ecossistema não suporta a presente taxa
de extração de água. Além disso, o aumento ou diminuição do nível da água pode
provocar mudança no balanço hídrico dos lagos, alterando a qualidade da água, a
biodiversidade e a saúde dos ecossistemas lacustres (Roselli et al., 2009).

ÍNDICES AMBIENTAIS

Qualquer programa de acompanhamento da qualidade da água, ao longo do


tempo, acaba gerando um grande número de dados analíticos. Os indicadores têm a
função de sintetizar esta quantidade de dados para que descrevam e representem de
forma compreensível e significativa o estado atual e as tendências da água, facilitando
a interpretação de extensas listas de variáveis (Gastaldini & Souza, 1994), sendo uma
ferramenta importante no processo decisório das políticas públicas.
A qualidade da água deve ser definida com base em um conjunto de variáveis
físicas e químicas que estão intimamente relacionadas com a utilização da água, e
para cada variável devem ser definidos valores aceitáveis e inaceitáveis (Córdoba et
al., 2010). Uma determinada qualidade da água pode ser boa suficiente para a
finalidade de irrigação, mas não boa o suficiente para beber e o critério de “qualidade
da água aceitável” pode variar de região para região e de tempo em tempo,
dependendo das condições prevalentes (Sarkar & Abbasi, 2006).
Em corpos de água doce a qualidade da água é uma questão complexa com
múltiplos aspectos como processos físicos, químicos e biológicos e suas interações
(Taner et al., 2011). No entanto, existem índices específicos criados para diferentes
ambientes, como corpos d’água lóticos, lênticos, estuários, salobras e reservatórios, e
com diferentes finalidades, tais como para abastecimento humano, pesca, irrigação,

11
proteção da vida aquática e determinação do estado trófico (Carlson, 1977; Dotto et al.,
1996; Štambuk-Giljanović, 2001; da Silva & Jardim, 2006; Strieder et al., 2006;
Marques et al, 2007; Morrice et al., 2008).

2. JUSTIFICATIVA

A lagoa Caiubá (32º22’ S e 52º30’ W), localizada no município de Rio Grande, faz
parte da porção norte do SHT. As principais formas de ocupação do seu entorno são a
orizicultura e a pecuária, atividades estas consideradas fontes difusas de poluição. A
manutenção da alta produtividade da orizicultura exige uma lâmina permanente de
água sobre o plantio por um período de aproximadamente 90 dias. Este método de
irrigação por inundação contínua tem uma demanda elevada de água (2 L.s-1.ha-1), a
qual é fornecida por levantes hidráulicos que bombeiam águas da lagoa para sistemas
de canais de distribuição. Com isso, podem ser modificadas as características da lagoa
(Marques et al., 2002) e a qualidade de suas águas.
A lagoa Caiubá possui uma grande importância socioeconômica e ambiental, e
não existem dados recentes sobre a caracterização limnológica e de qualidade da água
deste ecossistema. Assim, este trabalho visou obter informações sobre estas
características para, assim, subsidiar formas de manejo voltadas ao desenvolvimento
sustentável da região.

3. OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Realizar uma caracterização das variáveis físico-químicas e biológicas da lagoa


Caiubá.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Descrever o padrão de variação sazonal e espacial das características físico-


químicas e biológicas da água no período de um ano;

12
• Classificar e discutir a qualidade da sua água pela aplicação do Índice de
Qualidade de Água (IQA), do Índice de Estado Trófico (IET) e as classes da
Resolução CONAMA 357/2005.
• Averiguar se as atividades antrópicas no seu entorno exercem influência nas
suas características e qualidade da água.

4. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

O trabalho está divido em dois capítulos em formato de manuscrito. O Capítulo 1


se intitula “Caracterização limnológica de um lago raso subtropical (lagoa Caiubá,
Brasil)”, seguindo as normas da revista Hydrobiologia. O Capítulo 2 tem como título
“Qualidade da água da lagoa Caiubá (Rio Grande, RS, Brasil)”, utilizando as normas da
revista Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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15
CAPÍTULO 1

16
CARACTERIZAÇÃO LIMNOLÓGICA DE UM LAGO RASO SUBTROPICAL (LAGOA
CAIUBÁ, BRASIL)

Raquel Wigg Cunha


Laboratório de Limnologia – Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Av. Itália km 8 - Bairro Carreiros - CEP 96.201-900
Rio Grande, RS, Brasil
e-mail: raquelwigg@yahoo.com.br

Cleber Palma-Silva
Laboratório de Limnologia – Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Av. Itália km 8 - Bairro Carreiros - CEP 96.201-900
Rio Grande, RS, Brasil
e-mail: dmbcps@furg.br
Fone: (53) 3293-5110

17
RESUMO

A lagoa Caiubá (Rio Grande, RS, Brasil) está inserida em uma região de grande
importância ambiental e econômica, fazendo parte da bacia hidrográfica da lagoa
Mirim. É sazonalmente utilizada para irrigação da cultura do arroz, além da presença
da pecuária e pesca. Para suprir a lacuna de informações sobre as condições atuais
desta lagoa, o objetivo desta pesquisa foi descrever o padrão de variação sazonal e
espacial das suas variáveis fisico-químicas e biológicas. Durante os anos de 2009 e
2010 foram realizadas duas coletas por estação, em 9 pontos ao longo da lagoa,
representando sua parte norte, central e sul. Foram determinadas a profundidade,
transparência, zona eufótica, temperatura da água, oxigênio dissolvido, pH,
condutividade, turbidez, alcalinidade, material em suspensão, clorofila-a, demanda
bioquímica de oxigênio, sólidos dissolvidos totais, coliformes fecais, nitrogênio Kjeldahl,
fósforo total, razão N/P, fosfato, nitrato, nitrito, sulfato e cloreto. Os dados
meteorológicos (pressão atmosférica, temperatura do ar, umidade, precipitação,
evaporação e nebulosidade) foram obtidos junto à Estação Meteorológica Principal de
Rio Grande. Para análise dos dados foram utilizados ANOVA one-way (teste de Tukey,
p<0,05) e análise fatorial/análise de componentes principais (AF/ACP). Os resultados
evidenciaram uma variação sazonal para praticamente todos os parâmetros medidos,
estando relacionados com as atividades agropecuários e com o clima. A AF/ACP indica
que apenas as medidas de transparência, clorofila-a, turbidez, material em suspensão
e sólidos dissolvidos totais seriam necessários para explicar esta variação. A lagoa
também apresentou variação espacial das suas características físico-químicas e
biológicas, que foram mais comuns durante a época de cultivo de arroz e em sua parte
norte.

PALAVRAS-CHAVE: lagos rasos; limnologia subtropical; variação sazonal; impacto


antrópico.

18
INTRODUÇÃO

A maior parte dos lagos rasos está situado nas planícies costeiras (De Meester &
Declerck, 2005). Os lagos rasos são ecossistemas frágeis frente à poluição antrópica
(Johnson et al., 2007) e diante de um distúrbio, podem passar facilmente de um estado
de águas claras (com maior biodiversidade e boa qualidade da água) para um estado
de águas túrbidas (com menor biodiversidade e pobre qualidade da água). O principal
fator que interfere na resiliência do ecossistema é a carga externa de nutrientes,
principalmente o fósforo (Scheffer, 1998; Scheffer et al., 2001; Janse et al., 2008). Por
isso, o modo como o homem usa e ocupa o solo tem uma implicação direta no estado
ecológico do ambiente aquático.
Os lagos podem variar muito em níveis de nutrientes que podem tolerar antes de
passarem para uma condição turva (Scheffer, 1998; Scheffer et al., 2001), porém para
retornarem ao estado de águas claras, uma vez que o lago se torne túrbido como
resultado de eutrofização, o nível de nutrientes deve ser reduzido a um nível muito
abaixo do limiar crítico (van Nes et al., 2003), o que torna difícil e lento o processo de
recuperação do lago (Jeppesen et al., 2007). Geralmente, são necessários esforços
adicionais na tentativa de restaurar o ecossistema aquático (Scheffer et al., 2001,
Scheffer & Jeppesen, 2007). Assim, mudanças de estados dos ecossistemas podem
causar grandes perdas dos processos ecológicos e recursos econômicos, e restaurar
um estado desejado pode exigir intervenções caras e drásticas (Scheffer et al., 2001).
As atividades agrícolas são uma das principais causas de poluição dos corpos de
água superficiais e por constituírem fontes difusas, é difícil monitorar e prever os efeitos
destas atividades sobre os corpos hídricos. A produção intensiva de gado é bastante
poluidora, contribuindo com resíduos e excretas para os ambientes aquáticos, assim
como a agricultura intensiva, que está associada a um aumento de nitrato e fosfato
para os lagos, além de poluentes agrícolas e sedimentos advindos da erosão da terra
(Townsend et al., 2010). Parte da água utilizada para irrigação dos cultivos não retorna
ao corpo d’água original, havendo, portanto, redução da disponibilidade hídrica do
manancial, e a água que retorna da irrigação tem qualidade inferior daquela captada.
Taranu & Gregory-Eaves (2008) já evidenciaram que lagos rasos em bacias
hidrográficas dominadas pela agricultura são mais prováveis de apresentarem maiores
concentrações de nutrientes. O aumento da concentração de nutrientes é responsável

19
por alterações na fauna e flora aquática, nos padrões de qualidade da água, e
consequentemente, nos usos das águas (Esteves, 1998; Scheffer, 1998).
Além da interferência humana, outros fatores intrínsecos do ambiente podem
influenciar no estabelecimento dos estados alternativos dos lagos rasos. Entre eles o
clima da região, a sazonalidade, a heterogeneidade espacial do ambiente, mudanças
no nível da água, a dinâmica das populações, as mudanças climáticas e, ainda,
propriedades que podem afetar o nível de nutrientes, como a profundidade e o
tamanho do lago (Scheffer, 1998; Scheffer & van Nes, 2007). Além destes, cada
ambiente pode apresentar outros fatores específicos como a influência marinha, região
de entorno mais preservada, o grau de influência antrópica e a sua morfologia
(Petrucio, 1998; Bezerra-Neto & Pinto-Coelho, 2002; Hansson et al., 2010), o que faz
com que, mesmo próximos espacialmente, os ambientes se apresentem diferentes
ecologicamente.
Os lagos rasos são sensíveis às variações naturais ou induzidas devido à sua
limitada profundidade, podendo apresentar grande variação espacial e temporal das
suas características físicas e químicas ao longo do ano (Scheffer, 1998; Rodrigues et
al., 2002; Dellamano-Oliveira et al., 2003; Trindade et al., 2009; Zambrano et al., 2009).
As variações sazonais acarretam grandes mudanças no metabolismo, nas
comunidades e nos parâmetros físicos, químicos e biológicos dos ambientes rasos,
afetando o seu estado trófico (Schäfer, 1984; Bezerra-Neto & Pinto-Coelho, 2002;
Morrice et al., 2008).
Estudos sobre a ecologia dos lagos rasos têm ganhado mais atenção nas regiões
de clima subtropical, destacando-se aqueles na região sul da América do Norte, na
China e no extremo sul do Brasil (Coveney et al., 2005; Zhu et al., 2007; McCarthy et
al., 2009; Trindade et al., 2009). Por apresentar as quatro estações do ano bem
definidas, o clima subtropical pode promover variações das características físicas,
químicas e biológicas dos lagos ao longo do ano e, consequentemente, causar
alterações no metabolismo do ecossistema e na sua biodiversidade. Estudos nestes
ambientes são importantes para detectar estas variações, sendo informações
imprescindíveis para futuros planos de gestão de recursos hídricos localizados nestas
regiões.
Pelo fato da lagoa Caiubá estar inserida em uma área de grande importância
ambiental e econômica e estar sujeita à impactos antrópicos, o objetivo deste estudo foi
caracterizar a variação sazonal e espacial das suas variáveis físico-químicas e

20
biológicas no período de um ano, e avaliar se ocorre influências das atividades
exercidas no seu entorno.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi conduzido na lagoa Caiubá (32º22’ S e 52º30’ W), localizada na


Planície Costeira do Rio Grande do Sul no município de Rio Grande (Rio grande do Sul
– Brasil) (Fig. 1) e está inserida na bacia hidrográfica da lagoa Mirim. O clima na região
é o subtropical úmido (Cfa, segundo a classificação de Köppen-Geiger), possui as
estações de Verão e Inverno bem definidas com ocorrência de precipitação durante
todo o ano. Na vegetação, prevalece a ocorrência de campos, com vegetação rasteira
de gramíneas. Devido à dinâmica de formação da planície costeira, há predominância
de ambientes lacustres que sofrem a ação dos ventos constantes (Vieira & Rangel,
1988).
A lagoa faz parte do complexo Sistema Hidrológico do Taim, que forma um
continuum de áreas alagáveis caracterizado por banhados e lagoas associadas de
água doce, presença de dunas e alta biodiversidade, abrangendo uma área total de
2.254 Km2 (PELD, 2010). Ao sul da lagoa Caiubá está localizada a Estação Ecológica
do Taim com o objetivo de preservar estes ambientes e a fauna associada (IBAMA,
2010), apesar de possuir apenas 338,15 Km2.
A lagoa Caiubá possui aproximadamente 8,3 Km de comprimento e 1,2 Km de
largura e a sua margem oeste apresenta vários braços irregulares e dendríticos,
enquanto sua margem leste é retilínea, compreendendo uma área superficial de
aproximadamente 30 Km2. É a base de sustentação da produção de extensas áreas de
orizicultura no seu entorno, além da presença de pecuária e ser utilizada para pesca
artesanal. No entanto, apresenta parte de suas margens mais preservadas, com
presença de banhados e dunas.
A disponibilidade de água doce favoreceu o desenvolvimento de extensas áreas
de cultivo de arroz, que tem atualmente uma demanda de água elevada durante a
época de cultivo, e que coincide com os meses mais críticos em termos de déficit
hídrico (Dezembro a Março) (Klein, 1998), e que, portanto, tem grande efeito sobre a
hidrodinâmica da região (Villanueva et al., 2000).

21
Fig. 1 Localização do Sistema Hidrológico do Taim (delimitado pela linha pontilhada), da
Estação Ecológica do Taim (ESEC Taim), da lagoa Caiubá e dos nove pontos de amostragens
(P1 a P9).

Amostragem e variáveis analisadas

As amostragens ocorreram entre Dezembro


Dezembro de 2009 a Novembro de 2010, sendo
realizadas duas coletas por estação do ano, totalizando 8 amostragens.
Foram definidos 9 pontos amostrais, que compreenderam as regiões norte
(prevalência de campos de arroz no entorno), central (presença de campos de arroz,
ar
pecuária e alguns banhados nas margens) e sul (presença da agropecuária e dunas
nas margens) da lagoa (Fig. 1), com 3 pontos em cada região,
região, localizados próximos da
margens e na região limnética.
limnética A distância entre as margens oeste e leste na região
norte
rte amostrada é de 0,8 Km, na região central é de 2,97 Km e na região sul é de 3,5
Km.
Em cada ponto foram coletados os dados físicos,
físico químicos e biológicos da água
superficial (20 cm). Em campo, foram determinados a temperatura da água
(termômetro digital),, condutividade (condutivímetro digital), pH (phmetro digital),
profundidade e transparência pelo disco de Secchi.
S Ainda,, uma vez por estação do
ano, foi medido o perfil vertical da temperatura da água e do oxigênio dissolvido nos
pontos na região limnética da lagoa (ponto
(pontos 2, 5 e 8).

22
Em laboratório forma determinadas a turbidez (turbidímetro de bancada), o
oxigênio dissolvido e a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) pelo método de Winkler
(Golterman et al., 1978), a alcalinidade (Carmouze, 1994), o material em suspensão
(Paranhos, 1996), os sólidos dissolvidos totais (APHA, 1989), a clorofila-a (Chorus &
Bartram, 1999), o nitrogênio Kjeldahl (Mackreth et al., 1978), o fósforo total e fosfato
(Golterman et al., 1978), a razão N/P, o nitrato, nitrito, sulfato, cloreto (cromatografia de
íons) e os coliformes fecais pelo método da membrana filtrante (APHA, 1989) (este
último, feito apenas uma vez por estação). Também foi calculada a extensão da zona
eufótica a partir do valor da transparência da água (Esteves, 1998).
Dados meteorológicos (pressão atmosférica, temperatura do ar média, máxima e
mínima, umidade relativa, velocidade e direção do vento, taxa e dias de precipitação e
taxa de evaporação) durante o período amostrado foram obtidos pela Estação
Meteorológica Principal de Rio Grande, operada pelo Laboratório de Meteorologia da
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), que fica distante aproximadamente 45
Km da lagoa Caiubá.

Análise estatística

Foi realizada uma comparação entre os pontos de coleta e as estações do ano


com ANOVA one-way e o teste de Tukey foi aplicado para comparação post hoc.
Diferenças entre as médias das variáveis limnológicas foram consideradas
significativas quando p<0,05.
A partir das médias logaritmizadas para padronizá-las foi utilizado a análise
fatorial/análise de componentes principais (AF/ACP) para determinar quais parâmetros
caracterizam sazonalmente a lagoa.
Todos os testes foram realizados utilizando o Statistica 5.0 e o GraphPad Prism 5
para confecção dos gráficos.

RESULTADOS

Padrão Sazonal

As médias sazonais dos dados meteorológicos (n=3) durante o período


amostrado são apresentadas na Tabela 1. O Verão e o Outono apresentaram as

23
maiores temperaturas do ar seco, máxima e mínima (p<0,05). A velocidade do vento foi
maior no Verão do que no Inverno (p<0,05). O Outono teve mais dias de precipitação
quando comparado à Primavera (p<0,05), apesar de não ter ocorrido diferenças na
taxa de precipitação entre as estações do ano (p>0,05). A pressão atmosférica foi
maior (p<0,05) no Inverno do que no Verão e Primavera. As variáveis umidade relativa
e taxa de evaporação não apresentaram diferenças (p>0,05) entre as estações do ano.

Tabela 1 Dados médios meteorológicos para as estações do ano durante o período de estudo
VERÃO OUTONO INVERNO PRIMAVERA
Pressão Atmosférica (hPa) 1011,9A 1016AB 1019,8B 1011,8A
Temperatura do Ar (°C) 23,8A 20AB 13,3C 17,3BC
Temperatura Máxima (°C) 27,6A 24AB 17,2C 21,4BC
A AB C
Temperatura Mínima (°C) 21 16,7 10 14,1BC
Umidade Relativa (%) 83,4A 80,4A 83,6A 75,4A
Velocidade do Vento (m/s) 3,4A 2,6AB 2,2B 2,9AB
Direção do Vento L/SE NE/SE NE/SO NE/SO/SE
Taxa de Precipitação (mm) 157,1A 127,1A 117,4A 76,3A
Dias de Precipitação 11AB 16A 12AB 8B
A A A
Taxa de Evaporação (mm) 126,1 115,1 80,7 127,3A
Fonte: Estação Meteorológica Principal de Rio Grande da Universidade Federal do Rio Grande.
Letras diferentes representam que há diferença significativa (p<0,05)

O padrão de variações sazonais, considerando os 9 pontos amostrais, para as


variáveis medidas está especificado na Tabela 2. As variáveis profundidade,
condutividade elétrica, nitrito e cloreto não apresentaram diferenças significativas
(p>0,05; n=18), enquanto a transparência, o oxigênio dissolvido, o pH, a turbidez, a
alcalinidade, o material em suspensão, a clorofila-a, a DBO, os sólidos dissolvidos
totais, o fósforo total, o nitrogênio Kjedahl, a razão N/P, os coliformes fecais, o fosfato,
o nitrato e o sulfato apresentaram uma diferença estatística (p<0,05; n=18) para, pelo
menos, duas estações do ano.
As medidas do perfil de oxigênio e temperatura da água foram homogêneas ao
longo da coluna de água, não apresentando estratificação vertical durante o período
estudado. O desvio padrão médio das medidas de temperatura da água e de oxigênio
dissolvido para os pontos medidos foi de 0,36°C e 0,57mg/L no Verão; 0,03°C e
0,11mg/L no Outono; 0,1°C e 0,25mg/L no Inverno; e 0,14°C e 0,1mg/L na Primavera.

24
A extensão da zona eufótica durante o Verão, Outono, Inverno e Primavera
compreendeu, em média, apenas 26% (0,7m), 29,8% (0,63m), 21,1% (0,55m) e 20,2%
(0,54m) da profundidade, respectivamente.

Tabela 2 Médias sazonais das variáveis físico-químicas e biológicas da lagoa Caiubá


Variáveis VERÃO OUTONO INVERNO PRIMAVERA
A A B
Temperatura da água (°C) 25,5 22,5 13,2 19,5AB
A A A A
Profundidade (m) 2,7 ± 0,7 2,1 ± 0,7 2,6 ± 0,6 2,7 ± 0,5
Transparência (m) 0,26 ± 0,05A 0,23 ± 0,05AB 0,2 ± 0,01BC 0,2 ± 0,01C
Oxigênio dissolvido (mg/L) 8,1 ± 0,4A 8,4 ± 0,8A 9,4 ± 0,7B 7,9 ± 0,4A
A B C D
pH 7,3 ± 0,3 7,8 ± 0,4 7,1 ± 0,3 7,4 ± 0,2
A A A A
Condutividade elétrica (µS/cm) 83,9 ± 4 78,5 ± 4 81,2 ± 16,2 79,5 ± 4,3
A AB BC
Turbidez (UNT) 107,7 ± 10,3 118,1 ± 22,2 125,7 ± 13,3 138,2 ± 18,3C
A B A
Alcalinidade (µeq/L) 154,5 ± 59,6 249,3 ± 62,3 169,6 ± 46,7 184,1 ± 59,8A
A AB B B
Material em suspensão (mg/L) 15,8 ± 5 18,8 ± 9,8 23,0 ± 7 24 ± 9,6
A AB B B
Clorofila-a (µg/L) 10,6 ± 8,9 6,8 ± 2,2 3,1 ± 0,7 4 ± 1,1
A B A
DBO (mg/L) 1,1 ± 0,8 0,6 ± 0,4 0,9 ± 0,7 0,7 ± 0,4A
A AB B
Sólidos dissolvidos totais (mg/L) 130,6 ± 11,9 144,3 ± 29,2 153 ± 16,5 154,9 ± 14,6B
A B A A
Coliformes fecais (org/100mL) 6,9 ± 7,6 35,7 ± 22,7 13,7 ± 14,2 3,8 ± 4,9
A AB A B
Fósforo total (µg/L) 123,6 ± 29,2 119,9 ± 34,7 126 ± 12,9 101,5 ± 12,8
A B B AB
Nitrogênio Kjedahl (mg/L) 0,97 ± 0,16 0,74 ± 0,16 0,73 ± 0,26 0,88 ± 0,12
A AB B
Razão N/P 8,4 ± 3,1 6,9 ± 2,8 6 ± 2,4 8,7 ± 0,6A
A C B AB
Fosfato (µg/L) 49,5 ± 8,1 86,2 ± 11 29 ± 26,4 44 ± 28,7
AB AC C B
Nitrato (mg/L) 1,39 ± 0,52 1,1 ± 0,37 1,07 ± 0,42 1,57 ± 0,41
Nitrito (mg/L) 0,005 ± 0,002A 0,005 ± 0,003A 0,005 ± 0,003A 0,005 ± 0,002A
Cloreto (mg/L) 15,2 ± 3,8A 13,1 ± 3,9A 13,7 ± 6,2A 13,2 ± 3,7A
A B AB AB
Sulfato (mg/L) 3,17 ± 0,83 2,46 ± 0,64 2,45 ± 1,01 2,9 ± 0,66
Os resultados estão expressos como média e desvio padrão. Letras diferentes representam que há
diferença significativa (p<0,05)

Na Tabela 3 são apresentados os resultados da AF/ACP das variáveis


limnológicas. Foram encontrados três componentes principais que concentraram 100%
das informações. As cargas fatoriais foram transformadas pela rotação Varimax para
melhor expressar a relação entre fatores e variáveis (parâmetros) (Manly, 2008). De
acordo com escores dos fatores, o Verão foi representado por ter alta transparência
(Transp) e altas concentrações de clorofila-a (Chl-a) e cloreto (Cl-1) e baixos valores de
turbidez (Turb), material em suspensão (MS), sólidos dissolvidos totais (SDT) e NO2
pelo 1º componente principal; o Outono apresentou menor profundidade (Prof), DBO e
condutividade (CE) e maiores valores de pH, alcalinidade (Alcal) e PO4 pelo 2º
componente principal; o Inverno se caracterizou por altos valores de oxigênio dissolvido
(OD), fósforo total (PT) e coliformes fecais (CF) e menores valores para o nitrogênio

25
(NK), NO3, razão N/P e SO4; e a Primavera se apresentou como o oposto do Inverno,
ambos pelo 3º componente principal.

Tabela 3 Carga dos fatores e escores fatoriais


Carga dos fatores (Varimax)
Componentes
1 2 3
principais
Variância
45,19% 32,62% 22,19%
total
Prof 0,2074 -0,9243 -0,3205
Transp -0,9985 0,0105 -0,0538
OD 0,2539 -0,2468 0,9352
pH -0,1535 0,9676 -0,2007
CE -0,5546 -0,8320 -0,0100
Turb 0,9692 0,0919 -0,2284
Alcal 0,0855 0,9893 0,1186
MS 0,9991 0,0115 0,0401
Chl-a -0,9493 0,1022 -0,2972
DBO -0,4258 -0,9038 -0,0430
SDT 0,9813 0,1580 0,1095
PT -0,5594 -0,1893 0,8070
NK -0,4041 -0,4959 -0,7686
PO4 -0,3853 0,8845 0,2630
NO3 0,0481 -0,2590 -0,9647
CF -0,2535 0,6343 0,7304
NO2 0,8729 -0,2885 0,3934
razão N/P -0,2194 -0,1231 -0,9678
-1
Cl -0,7273 -0,0077 -0,6862
SO4 -0,4156 -0,4968 -0,7619
Escores fatoriais
VERÃO -1,2369 -0,7585 -0,3806
OUTONO -0,3663 1,4131 0,3449
INVERNO 0,6422 -0,6541 1,1874
PRIMAVERA 0,9610 -0,0005 -1,1517

Padrão Espacial em cada estação do ano

A Figura 2 apresenta o resultado do padrão espacial das variáveis físicas,


químicas e biológicas da lagoa Caiubá para cada estação do ano. As únicas variáveis
que apresentaram diferenças espaciais (p<0,05; n=2) foram a turbidez (Turb) durante o
Verão, Inverno e Primavera; a alcalinidade (Alcal) no Outono; e a clorofila-a (Chl-a), a
DBO e o oxigênio dissolvido (OD) no Verão.
Pelos valores de profundidade e de distância entre as margens, pôde-se calcular
a área de água para cada região amostrada. Assim, a parte norte da lagoa apresenta
menor área de água (1,8 Km2), a região central com área intermediária (7,2 Km2) e a
região sul a maior área de água (10 Km2).
26
Fig. 2 Médias das variáveis limnológicas dos pontos amostrais da lagoa Caiubá para cada
estação do ano. Os resultados estão expressos como média e desvio padrão. *P1 e P5 maior
do que o P3 e P4 para o Verão, p<0,05;**P1, P2 e P3 menor do que os demais para o Verão,Ver
p<0,01; #P1, P2 e P3 maior do que os demais para o Inverno, p<0,01; +P1 e P3 maior do que o
P7, P8 e P9 para a Primavera, p<0,05; ##P1 maior do que os demais para o Outono, p<0,05;
++
P1, P2 e P3 maior do que nos demais para o Verão, p<0,05; ***P1 maior do que o P7 e P8
para o Verão, p<0,05 (OD = Oxigênio Dissolvido; CE = Condutividade Elétrica; Alcal =
Alcalinidade; MS = Material em Suspensão; Chl-a
Chl = Clorofila-a;; DBO = Demanda Bioquímica
de Oxigênio; SDT = Sólidos Dissolvidos Totais; Col. Fecais = Coliformes
Coliformes Fecais; PT = Fósforo
Total; NK = Nitrogênio Kjedahl; PO4 = Fosfato; NO3 = Nitrato; NO2 = Nitrito; SO4 = Sulfato; Cl-1 =
Cloreto)

27
Fig. 2 (Continuação)

DISCUSSÃO

Padrão Sazonal

Os resultados das médias meteorológicas corroboram com as características do


clima subtropical durante o período amostrado. Apesar de não ser diferente
estatisticamente, o Outono foi a estação que apresentou a menor profundidade da

28
coluna de água, podendo ser resultado da utilização de água durante o Verão para
irrigação das lavouras de arroz.
Conforme Scheffer (1998), uma das características dos lagos rasos é a ausência
de estratificação térmica da coluna de água devido a ação do vento. A lagoa Caiubá
não apresentou estratificação térmica ou química da coluna de água durante o período
estudado. Ainda, em algumas coletas, as águas mais profundas da lagoa
apresentavam uma forte correnteza, o que dificultava a medição da sua profundidade e
perfil, pois o equipamento era arrastado. Estas ocasiões serviram para evidenciar e
comprovar a boa mistura que ocorre na água, com um padrão de mistura polimítico,
típico dos lagos rasos.
A composição química da água se deve a uma interação entre vários fatores:
erosão de rochas na bacia de drenagem, formação geológica da bacia, intensidade e
composição da água da chuva, reações químicas entre a água e o sedimento e as
ações de poluição na bacia, fontes pontuais e difusas (Dillon & Kirchner, 1975). Assim,
as características dos ambientes aquáticos são uma soma das influências naturais e
antrópicas que ocorrem nas suas margens, fazendo com que cada ambiente tenha
característica própria.
Apesar da diferença estatística do pH, seu valor ficou sempre próximo do neutro,
sendo ligeiramente alcalina. A lagoa apresenta, então, um ambiente tamponado e
propício para o desenvolvimento da biota (Esteves, 1998).
A lagoa Caiubá teve uma alta concentração de nutrientes durante praticamente
todo o ano, podendo ser classificada como eutrófica pelos valores de fósforo total
(maior do que 100µg/L) e de fosfato (maior do que 20µg/L), e mesotrófica pelos valores
de nitrogênio (entre 0,9 e 0,7mg/L) e de nitrato (em torno de 1mg/L) (Esteves, 1998).
Pode ser um indicativo de que as atividades agropecuárias no seu entorno podem estar
exercendo influência na qualidade de suas águas. O escoamento superficial (“runoff”)
agrícola pode acelerar a eutrofização de lagos (James et al., 1997), pois a maioria dos
fertilizantes agrícolas contêm nitrogênio (como amônia, nitrato e uréia), sendo
completamente solúveis em água e facilmente lavados para fora do solo pela água da
chuva ou irrigação (Addiscott, 1996). Estudos anteriores já evidenciam que as
atividades agrícolas podem degradar os lagos rasos (Hoorman et al., 2008; Nakano et
al., 2008; James et al., 2009).
Carlson (1977) sugere dar prioridade para os parâmetros biológicos que
representem visivelmente os sintomas de eutrofização, como a clorofila-a. Pelas

29
concentrações de clorofila-a, a lagoa se encontrou mais degradada apenas no Verão,
com valores maiores de 10µg/L. O fitoplâncton pôde crescer pela maior incidência de
luz neste período e a sua diminuição a partir do Outono deve ter ocorrido pela redução
da incidência solar e pelas baixas temperaturas. James et al. (1997) encontraram
resultado semelhante em outro lago raso subtropical, o lago Okeechobee (Flórida,
EUA).
Durante o Outono e Inverno ocorreu uma redução da razão N/P, que ocorreu pela
diminuição da concentração de nitrogênio. A baixa razão N/P em lagos rasos
subtropicais é capaz promover uma situação de limitação secundária por nitrogênio,
que ocorre quando o nível de fósforo é aumentado para níveis excedentes ou quando
há uma diminuição das concentrações de nitrogênio (Smith, 1983; Havens, 1995;
James et al., 2009). A queda do nitrogênio na água pode ser devido ao término da
safra do arroz, diminuindo os resíduos que a lixiviação das plantações leva para a
lagoa. Esta situação merece atenção, pois já foi constatado que lagos rasos com altas
concentrações de fósforo e baixa razão N/P são ambientes favoráveis a produção de
blooms de cianobactérias (Schindler, 1977; Havens et al., 2003).
Apesar dos lagos rasos poderem ter a penetração da luz solar como um fator
constante até o sedimento (Scheffer, 1998), a lagoa Caiubá possui a zona eufótica
pequena em comparação com a profundidade. Os organismos produtores ficam
restritos próximos à superfície, condição esta imposta pela alta turbidez da água, que
impede que a radiação solar chegue às partes mais profundas da lagoa,
impossibilitando o estabelecimento de macrófitas submersas. Segundo Loiselle et al.
(2005), a penetração da luz pode variar pelas mudanças nas concentrações dos
componentes de atenuação dominantes (fitoplâncton e matéria orgânica dissolvida),
que também podem variar no tempo. No entanto, no caso da lagoa Caiubá, a limitação
da zona produtiva é compensada pela constante circulação da coluna de água,
propiciando nutrientes e oxigênio para todos os organismos aquáticos presentes.
A partir do Verão, os valores da transparência tendem a decrescer, enquanto
ocorre o aumento da turbidez, do material em suspensão e dos sólidos dissolvidos
totais. Isto demonstra que a alta turbidez e a cor marrom da coluna de água é
provocada pela ressuspensão do sedimento, promovida pela ação do vento, que é
constante na zona costeira. Além disso, a agropecuária pode contribuir com material
fino para a lagoa através da erosão do solo (Townsend et al., 2010), contribuindo para
manter os valores de turbidez alto. Assim, a condição turva da água da lagoa Caiubá

30
não é mantida pela produção algal, como propôs Scheffer (1998), e sim pela grande
concentração de matéria em suspensão sedimentar e material fino lixiviado. Para que a
lagoa possa passar para um estado de águas claras, serão necessárias medidas que
previnam a ressuspensão do seu sedimento e diminuem o material lixiviado para suas
águas.
A presença de coliformes fecais na água, que indica contaminação por fezes de
origem animal, foi pequena. Sua ocorrência na lagoa Caiubá deve ser devido às
atividades pecuaristas no seu entorno, visto que não existem no local saídas de esgoto
doméstico. O maior número de coliformes fecais foi no Outono e deve ter ocorrido pela
concentração das bactérias pelo baixo nível da água neste período.
A composição iônica da água depende fundamentalmente das soluções diluídas e
dos compostos alcalinos do solo, em particular bicarbonatos, carbonatos, sulfatos e
cloretos (Wetzel, 1993). As concentrações de cloreto na lagoa Caiubá foram baixas e
não variaram temporalmente, indicando baixa salinidade e pouca ou quase nenhuma
influência marinha. Conforme Esteves (1998) a distribuição do íon sulfato é fortemente
influenciada pela formação geológica da bacia de drenagem do sistema, tendo sua
origem através da decomposição de rochas, chuvas (lavagem da atmosfera) e da
agricultura (através da aplicação de adubos contendo enxofre). Na lagoa Caiubá a
maior concentração do íon sulfato ocorreu no Verão, coincidindo com o período de
produção de arroz.
Os resultados da ANOVA e da AF/ACP foram semelhantes, ajudando a
caracterizar a variação sazonal que ocorre nos parâmetros limnológicos da lagoa
Caiubá. Margalef (1983) demonstrou que o uso de variáveis com altos valores de
correlação com o primeiro componente principal, indicaria que estas medidas seriam
suficientes para diagnosticar as mudanças ambientais. Dessa forma, apenas os valores
de transparência, clorofila-a, turbidez, material em suspensão e sólidos dissolvidos
totais seriam necessários para explicar a variação sazonal que ocorreu na lagoa
Caiubá. A aplicação desta técnica estatística multivariada para identificar as variáveis
físicas e químicas que contribuem para a variação sazonal do ambiente tem sido bem
utilizada (da Silva & Sacomani, 2001; Rodrigues et al., 2002; Girão et al., 2007;
Fernández et al., 2009).

Padrão Espacial em cada estação

31
A lagoa Caiubá apresenta uma variação espacial na sua profundidade, com sua
área norte mais rasa (P1, P2 e P3) e aumentando sua profundidade para o sul (Fig. 1).
Além disso, a distância entre as margens oeste e leste também aumenta do norte para
o sul, aumentando a área de água da lagoa neste sentido. Sua morfologia distinta já foi
evidenciada em um estudo pontual, primeiro e, até então, único, sobre a lagoa Caiubá,
onde o autor classifica-a com características especiais pela sua morfologia e/ou pelas
suas características ópticas e físico-químicas (Schäfer, 1992). Esta heterogeneidade
morfológica da lagoa pode ser vista como algo positivo, pois aumenta a
disponibilidades de habitats e, assim, a diversidade de espécies no ambiente
(Zambrano et al., 2009).
Apenas algumas variáveis apresentaram mudanças espaciais dentro de cada
estação, e foram mais comuns durante o Verão, ou seja, coincidindo com a época da
orizicultura e de maior metabolismo biológico. Os pontos que apresentaram diferenças
significativas dos demais foram aqueles localizados na região norte da lagoa Caiubá
(P1, P2 e P3).
A turbidez foi o parâmetro que mais variou espacialmente nas estações. No
Verão, a parte norte da lagoa apresentou um menor valor de turbidez que o restante da
lagoa e no Inverno e Primavera ocorreu o contrário, ficando a parte norte com as águas
mais turvas. A direção predominante do vento em cada estação carrega os resíduos
para o sul da lagoa no Verão pelos ventos da direção Leste, e concentra os resíduos
na parte norte da lagoa durante o Inverno e Primavera pelos ventos vindo do Sudoeste
e Sudeste.
A alcalinidade apresentou, de maneira geral, uma tendência de ser maior na parte
norte da lagoa Caiubá, mas só foi diferente estatisticamente para o ponto 1 (P1)
durante o Outono, apresentando o seu maior valor.
Durante o Verão, os pontos 1, 2 e 3 (P1, P2, P3) apresentaram os maiores
valores de clorofila-a e o ponto 1 (P1) o maior valor de DBO. Pode ter ocorrido uma
concentração da matéria orgânica devido a parte norte da lagoa ter menor área e
concentrar os resíduos trazidos das áreas de entorno, favorecendo o maior
crescimento das algas.
As diferenças espaciais encontradas na lagoa devem ser causadas pela sua
morfologia distinta. As diferentes profundidades e formato das margens podem criar
áreas mais rasas e menores, sendo mais sensíveis às variações, pois altera o
conteúdo de calor, tempo de residência da água, os processos de erosão, transporte e

32
acumulação de sedimentos e a produtividade biológica (Panosso et al., 1998; Sperling,
1999). As atividades humanas também são capazes de modificar os padrões de
heterogeneidade espacial pelas mudanças na qualidade da água nos lagos rasos
(Roselli et al., 2009; Zambrano et al., 2009), principalmente em ambientes com
diferentes formas de ocupação das suas margens, como ocorre com a lagoa Caiubá.
A lagoa Caiubá apresenta, ainda, um sentido de fluxo de água do norte para o sul,
onde a água escoa nas épocas de cheia para as lagoas vizinhas ao sul (lagoa das
Flores e lagoa Mangueira). Este fato, aliado a sua morfologia, mais estreita e rasa na
parte norte, aumentando para o sul, fornece a esta lagoa características típicas de
reservatórios (Kimmel & Groeger, 1984; Thornton et al., 1990). Neste sentido, mais
estudos são necessários para melhor compreender o comportamento das variações
espaciais de suas características físico-químicas e biológicas.

CONCLUSÃO

O estudo evidenciou que a lagoa Caiubá se encontra num estado de água


túrbidas, mantida pela constante ressuspensão do sedimento e pelas atividades
agropecuárias no seu entorno que contribuem com material fino lixiviado. Neste
sentido, a turbidez da água é devido ao material em suspensão e não a produção algal.
A lagoa Caiubá apresentou uma grande variação sazonal nas suas variáveis
biológicas e físico-químicas, influenciados pelo clima e pelas atividades agropecuárias
no seu entorno. As diferenças espaciais evidenciam que a parte norte da lagoa
apresenta as maiores variações, também influenciadas pelas atividades de entorno e
pela morfologia da lagoa.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer à Universidade Federal do Rio Grande


(FURG), à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), à
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), à
Granja 4 Irmãos e ao Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade
(ICMBio) pelo apoio ao trabalho.

33
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38
CAPÍTULO 2

39
QUALIDADE DA ÁGUA DA LAGOA CAIUBÁ (RIO GRANDE, RS, BRASIL)

Raquel Wigg Cunha


Laboratório de Limnologia – Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Av. Itália km 8 - Bairro Carreiros - CEP 96.201-900
Rio Grande, RS, Brasil

Cleber Palma-Silva
Laboratório de Limnologia – Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Av. Itália km 8 - Bairro Carreiros - CEP 96.201-900
Rio Grande, RS, Brasil
e-mail: dmbcps@furg.br
Fone: (53) 3293-5110

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RESUMO

A lagoa Caiubá (RS, Brasil) está inserida numa área de importância ambiental e
econômica, apresentando no seu entorno regiões bem preservadas e áreas com
culturas de arroz e presença de pecuária. O objetivo do trabalho foi caracterizar
sazonal e espacialmente a qualidade de suas águas através da aplicação do IET de
Carlson, do IQA da National Sanitation Foundation modificado pelo COMITESINOS, e
das classes da Resolução CONAMA 357/2005 (legislação ambiental brasileira). As
amostragens foram de Dezembro de 2009 a Novembro de 2010, sendo realizada duas
coletas por estação do ano, em 9 pontos da lagoa. Os resultados indicam que a lagoa
Caiubá se apresenta mais eutrofizada durante o Inverno (apontado pelo IET). Segundo
a classificação do CONAMA, possui águas propícias para as atividades agropecuárias,
com exceção de algumas variáveis que se encontraram acima dos valores
determinados pela legislação. De acordo com o IQA, as condições são próprias para
abastecimento público. Estas diferentes conclusões ocorrem devido aos critérios
usados terem diferentes propósitos (avaliação para consumo humano e determinação
do estado trófico). Deste modo, a definição do índice mais adequado vai depender dos
objetivos do monitoramento. Os resultados também apresentaram pequenas variações
sazonais e espaciais que devem ser monitorados, visando gerar informações
imprescindíveis para a gestão da lagoa.

PALAVRAS-CHAVE: IQA, IET, CONAMA 357, variação sazonal, variação espacial,


lagoa rasa.

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INTRODUÇÃO

Os lagos rasos estão entre os mananciais mais utilizados pelo homem e, devido
a limitada profundidade, são sistemas sensíveis às variações naturais ou induzidas
(Scheffer, 1998). Alterações físicas como a urbanização, transportes, agricultura
(irrigação), desmatamento e reflorestamento, drenagem, canalização e represamento,
e mineração podem mudar as características da qualidade da água, modificando os
materiais com que a água interage com adição de substâncias e resíduos antrópicos
(Peters e Meybeck, 2000).
A agropecuária é a atividade que mais consome água dos corpos hídricos
superficiais, responsáveis por alterações químicas e ecológicas no sistema aquático
que conduzem ao desequilíbrio da fauna e flora, podendo resultar em prejuízos
econômicos para a região (Carvalho et al., 2000).
Uma forma de avaliar e monitorar os efeitos das atividades antrópicas sobre a
qualidade da água dos corpos hídricos é através do emprego de índices de qualidade
da água (IQA). Alguns papéis básicos que IQA possuem são: representação da
qualidade da água numa escala numérica fornecendo meios para julgar a efetividade
do programa de controle ambiental; comparação da água ao longo do tempo e em
várias localizações geográficas e; como meio de comunicação explícita entre
profissionais e o público, com a transmissão em termos simples e de fácil entendimento
de informações sobre a qualidade da água e a localização da poluição (Romeiro,
2004). O IQA instituído pela National Sanitation Foundation (NSF) (Brown et al., 1970)
é o mais empregado, sendo usado em países como Estados Unidos, Brasil e Inglaterra.
Esse índice foi desenvolvido para avaliar a qualidade das águas para abastecimento
público e, por isso, considera aspectos relativos ao tratamento dessas águas, refletindo
a interferência de substâncias orgânicas, nutrientes, sólidos e microrganismos na
qualidade das águas.
Existem, ainda, índices usados para determinar a tipologia de um corpo de água,
indicando a “saúde” do ecossistema. Em muitos casos, especialmente nos Estados
Unidos, a classificação trófica foi usada como um indicador rústico da qualidade da
água, pois permite classificar o ambiente aquático de acordo com a sua produtividade,
regime de nutrientes, oxigenação, transparência e biomassa de fitoplâncton e, assim,
avaliar as alterações da qualidade da água (isto é, mudanças de estado trófico) (von

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Sperling,1994; Parparov et al., 2006). Destes, o IET proposto por Carlson (1977) é um
dos mais comuns e usados até hoje.
A qualidade da água varia de acordo com o tipo de uso que se deseja fazer do
recurso hídrico. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão ambiental
superior do Brasil, propôs em 2005 a Resolução nº 357, que classifica os corpos de
água superficiais de acordo com o seu uso preponderante, determinando a qualidade
da água necessária, sendo uma ferramenta importante para preservar e monitorar os
ambientes aquáticos.
Este estudo foi conduzido numa lagoa rasa costeira que apresenta atividades
agropecuárias no seu entorno e teve como objetivo avaliar a influência destas
atividades sobre a qualidade de suas águas, através do Índice de Qualidade da Água
(IQA) e das classes do CONAMA (2005); e sobre seu estado trófico, através da
aplicação do Índice de Estado Trófico (IET); durante o período de um ano para avaliar
as mudanças em uma escala temporal e também espacial.

MÉTODOS

Área de estudo e Amostragem

A lagoa Caiubá (32º22’ S e 52º30’ W) está localizada na Planície Costeira do Rio


Grande do Sul no município de Rio Grande (Rio Grande do Sul – Brasil) (Figura 1). O
clima desta região é subtropical úmido (Cfa, segundo a classificação de Köppen-
Geiger) e, na vegetação natural, prevalece a ocorrência de campos, com vegetação
rasteira de gramíneas, matas de restingas e extensas áreas de banhados.
A lagoa faz parte do Sistema Hidrológico do Taim, que forma um continuum de
áreas alagáveis caracterizado por banhados e lagoas associadas de água doce,
presença de dunas e alta biodiversidade, abrangendo uma área total de 2.254 Km2.
Devido à importância ambiental, existe no local a área de proteção ambiental Estação
Ecológica do Taim, com o objetivo de preservar parte destes ambientes e a fauna
associada (IBAMA, 2010).
A lagoa Caiubá localiza-se ao norte da área de proteção e possui
aproximadamente 30 Km2 de área superficial. Com aproximadamente 8,3 Km de
comprimento, apresenta na sua margem oeste vários braços irregulares e dendríticos,
enquanto sua margem leste é retilínea, tendo largura e profundidades diferenciadas.

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Sua região norte possui profundidade média de 2,27 m e distância entre as margens
oeste a leste de 0,8 Km, e se torna mais profunda e larga à medida que vai para o sul,
onde apresenta 2,86 m de profundidade média e distância das margens de 3,5 Km
(dados do autor). Desta forma, a lagoa se caracteriza por apresentar uma morfologia
distinta.
Esta lagoa é utilizada como fonte para irrigação das culturas de arroz do seu
entorno através da utilização de bombas para canais de distribuição da água durante o
período de Verão e Outono. Também apresenta no seu entorno atividades pecuaristas,
além de ser utilizada para pesca artesanal. No entanto, ainda possui parte de suas
margens com presença de banhados e dunas.
As amostragens foram sazonais durante o período de 1 ano, de Dezembro de
2009 a Novembro de 2010, sendo realizada duas coletas por estação do ano. Nove
pontos amostrais foram georreferenciados com GPS e representaram as regiões norte
(prevalência de campos de arroz no entorno), central (presença de campos de arroz,
pecuária e alguns banhados nas margens) e sul (presença da agropecuária e dunas
nas margens) da lagoa (Figura 1). Em cada ponto foram coletados os dados de
temperatura da água (termômetro digital), pH (pHmetro digital), transparência (disco de
Secchi), turbidez (turbidímetro), oxigênio dissolvido e demanda bioquímica de oxigênio
(DBO) pelo método de Winkler (Golterman et al., 1978), sólidos dissolvidos totais
(APHA, 1989), sólidos totais (APHA, 1989), clorofila-a (Chorus e Bartram, 1999),
fósforo total e fosfato (Golterman et al., 1978), nitrogênio Kjeldahl (Mackereth et al.,
1978), razão N/P, nitrato, nitrito, sulfato, fluoreto e cloreto (cromatógrafo de íons
Dionex) e coliformes fecais pelo método da membrana filtrante (APHA, 1989) (este
último, feito apenas uma vez por estação), sendo utilizados na aplicação do Índice de
Estado Trófico, no Índice de Qualidade da Água e na classificação do CONAMA (2005).

Índice de Estado Trófico (IET)

Foi utilizado o IET de Carlson (1997) que se baseia nos valores de transparência
(IET = 60 - 14,1 * Ln(transparência)), clorofila-a (IET = 9,81 * Ln(clorofila) + 30,6) e
fósforo total (IET = 14,42 * Ln(fósforo) + 4,15), onde cada um destes parâmetros
produz uma medida do estado trófico, considerada independente, numa escala que
varia de 0 a 100. Foi realizada uma média ponderada entre os índices e classificado o
estado trófico de acordo com os limites estabelecidos por Kratzer e Brezonick (1981):

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IET < 20 – ultra-oligotrófico; 21 < IET < 40 – oligotrófico; 41 < IET < 50 – mesotrófico;
51 < IET < 50 – eutrófico e; IET > 61 – hipereutrófico.
Quando usamos o IET devemos ter em consideração o pressuposto de que o
fósforo total é o principal fator limitante no crescimento das algas (Carlson, 1977). Para
averiguar isso, foi também medido a concentração de nitrogênio para determinar a
razão N/P, sendo utilizado o critério de que: razão N/P < 7 representa um ambiente
potencialmente limitado pelo nitrogênio; e razão N/P > 7 representa um ambiente
potencialmente limitado pelo fósforo, ou pelo nitrogênio e fósforo (Havens et al., 2003).

Índice de Qualidade da Água (IQA)

A determinação do IQA é obtida pelo produtório ponderado correspondente a 8


parâmetros (i), sendo calculado a partir da qualidade relativa (q) de cada parâmetro,
ente 0 e 100, obtido da respectiva “curva média de variação de qualidade”, em função
de sua concentração ou medida; e do peso relativo (w) de cada parâmetro, um número
entre 0 e 1, atribuído em função da sua importância para a conformação global de
qualidade (IQA = ∏qiwi) (COMITESINOS, 1990). A partir do cálculo efetuado,
determina-se a qualidade das águas brutas numa escala que varia de 0 a 100: 0 < IQA
< 25 – muito ruim; 26 < IQA < 50 – ruim; 51 < IQA < 70 – regular; 71 < IQA < 90 – bom
e; 91 < IQA < 100 – excelente (COMITESINOS, 1990). Os parâmetros que fazem parte
do cálculo do IQA são o oxigênio dissolvido de saturação (%), demanda bioquímica de
oxigênio (5 dias, 20°C), coliformes fecais, pH, nitrato, fosfato, turbidez e sólidos totais.
Este índice foi aplicado apenas uma vez por estação do ano.

Classificação segundo a Resolução CONAMA 357/2005

Segundo CONAMA (2005), as águas doces são classificadas em 5 Classes:


Classe Especial, Classe 1, Classe 2, Classe 3 e Classe 4. Quanto maior o número da
classe, menos nobres são os usos destinados para a água e as águas de melhor
qualidade podem ser aproveitadas em uso menos exigente, desde que este não
prejudique a sua qualidade (CONAMA, 2005) (Tabela 1).
Os parâmetros analisados e os limites para determinação de cada Classe estão
especificados na Tabela 2, com exceção da Classe Especial, que é voltada para sua
preservação e conservação e que devem ser mantidas as condições originais da água.
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Os padrões de qualidade das águas determinados nesta Resolução estabelecem
limites individuais para cada parâmetro em cada classe e a classificação do corpo
hídrico é definida pelos usos preponderantes mais restritivos da água, atuais ou
pretendidos (CONAMA, 2005).
A Classe 4 só estabelece valores para o pH e o oxigênio dissolvido e alguns dos
outros parâmetros, que são determinados só até a Classe 3, apresentaram valores
acima. Para classificar estas variáveis foi incluído neste trabalho uma nova classe
chamada de “>Classe 3” (maior do que a Classe 3) (Tabela 2).
Segundo CONAMA (2005), enquanto não estabelecido o enquadramento, as
águas doces superficiais são consideradas Classe 2. Está é, portanto, a classificação
atual provisória da lagoa Caiubá.
Os resultados foram expressos como frequência de ocorrência nas Classes do
CONAMA para cada uma das variáveis analisadas. Este procedimento foi utilizado com
o objetivo de valorizar o conjunto de dados disponíveis e considerar a relevância de
eventuais alterações de qualidade observadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Índice de Estado Trófico (IET)

Em uma coleta no Verão, uma no Outono e uma no Inverno a razão N/P acabou
ficando baixa (menor do que 7), indicando um ambiente potencialmente limitado pelo
nitrogênio (Havens et al., 2003). Nestes casos, o fósforo total foi excluído da média do
IET por não atender um pressuposto do sistema para a sua aplicação, além de
superestimar o estado trófico. Ainda, houve amostras em que a concentração de
clorofila-a foi muito baixa, não sendo determinada pelo método, ocorrendo em uma
amostragem no Inverno e uma na Primavera, também não podendo ser usada no IET.
Nestes dois casos, a média ponderada foi realizada apenas com as variáveis restantes.
As médias do IET classificaram a lagoa Caiubá no Verão, Outono e na Primavera
como mesotrófico e no Inverno como eutrófico (Figura 2). A condição mais eutrofizada
da lagoa no inverno pode ser devido à influência das culturas de arroz no período
anterior, fornecendo uma carga externa de nutrientes e resíduos para a lagoa,
causando sua degradação.

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Todas as estações apresentaram um desvio padrão devido às diferenças entre os
pontos de amostragem (Figura 3), indicando também ocorrência de variação espacial
no valor do estado trófico da lagoa Caiubá. O Verão apresentou as maiores diferenças
espaciais no IET, classificando os pontos 1, 2 e 3 (P1, P2 e P3) como eutróficos e
melhorando ao longo dos outros pontos, sendo classificado como mesotrófico e até
oligotrófico (Figura 3). Assim, a parte norte da lagoa se encontrou mais degradada,
podendo ser consequência da sua menor profundidade e ser mais estreita, e acabar
concentrando os resíduos e a matéria orgânica provenientes das suas margens,
principalmente por neste período ser a época do cultivo de arroz e serem
predominantes nesta região da lagoa.
Os diferentes usos da terra podem estar alterando os padrões de qualidade da
água criando uma heterogeneidade espacial (Zambrano et al., 2009). Havens (1995) já
evidenciou a influência das atividades agrícolas sobre o estado trófico no lago
Okechobee (Flórida, EUA), responsável por aumentar os valores de fósforo e nitrogênio
da água.
No Outono não houve diferenças espaciais no estado trófico, ficando todos os
pontos classificados como mesotróficos (Figura 3). O Inverno apresentou os pontos 1,
2, 3, 8 e 9 (P1, P2, P3, P8 e P9) como eutróficos e os pontos 4, 5, 6 e 7 (P4, P5, P6 e
P7) como mesotróficos (Figura 3). A Primavera obteve condições mesotróficas nos
pontos 1, 2, 3, 5, 6, 7 e 8 (P1, P2, P3, P5, P6, P7 e P8) e oligotróficas nos pontos 4 e 9
(P4 e P9) (Figura 3).
O IET possui muitas vantagens, incluindo sua simplicidade, poucos dados
requeridos, objetividade e depender dos três mais comuns e bem entendidos
indicadores tróficos (Kratzer e Brezonik, 1981). Apesar de ter sido desenvolvido para
ambientes temperado, o IET de Carlson (1977) é utilizado no Brasil (Schäfer,1988;
Mercante e Tucci-Moura, 1999; Fia et al., 2009).

Índice de Qualidade da Água (IQA)

No Estado do Rio Grande do Sul, o Comitê de Gerenciamento da Bacia


Hidrográfica do Rio dos Sinos (COMITESINOS, 1990) adaptou o IQA da NSF para o
monitoramento do Rio dos Sinos, não utilizando as medidas de temperatura, visto que
testes preliminares com e sem o uso de dados de temperatura, indicaram variações no
IQA de apenas de 5% e que a maioria dos rios do Estado não apresenta problemas de

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poluição térmica, passando de 9 para 8 parâmetros. Seu peso relativo foi então
proporcionalmente distribuído entre os demais parâmetros. No entanto, a temperatura é
indiretamente considerada através da saturação de oxigênio dissolvido. É um dos
índices mais usado no Brasil, sendo aplicado tanto em rios como em lagos (Bendati et
al., 2000; Strieder et al., 2006; Lopes et al., 2008) e utilizado pela Fundação Estadual
de Proteção Ambiental (FEPAM), órgão ambiental do Estado do Rio Grande do Sul.
O IQA classificou as águas da lagoa Caiubá no Verão, Inverno e Primavera como
de “excelente” qualidade, e no Outono como de “boa” qualidade (Figura 4),
representando uma água propicia para abastecimento humano. A diminuição da
qualidade da água no Outono pode ser reflexo das atividades de irrigação na lagoa,
onde o escoamento superficial promove uma carga externa de poluentes agrícolas,
como fertilizantes contendo fosfato e nitrato, matéria em suspensão e resíduos
orgânicos (Júnior et al., 2004).
Todas as estações mostraram pequena variação espacial nos valores do índice
do norte da lagoa para o sul, sendo mais evidente durante o Inverno, apresentando
uma melhora na qualidade da água na sua parte sul (Figura 5). Isto também pode estar
relacionado com a morfologia da lagoa Caiubá, maior e mais profunda na sua porção
sul, criando diferentes condições de mistura e diluição (Missaghi e Hondzo, 2010).
Diferenças espaciais na qualidade da água também foram constatadas para o lago
Guaíba e estavam diretamente relacionada com as atividades antrópicas no seu
entorno (Bendati et al., 2000). As atividades agropecuárias podem promover alterações
no solo e mudanças na vegetação, que acabam mudando o balanço da água e
alterando os processos que controlam a qualidade da água (Peters e Meybeck, 2000).
O IQA é utilizado em corpos de água para averiguar seu potencial para consumo
humano, ou seja, para abastecimento público, e as variáveis que fazem parte do
cálculo refletem, principalmente, a contaminação dos corpos hídricos pelo lançamento
de esgotos domésticos. No entanto, não foi detectado na lagoa Caiubá, pontos de
lançamento de esgotos, sendo as atividades agropecuárias as únicas fontes de
poluição. Estudos em outros corpos hídricos mostram que a agricultura e a pecuária
não alteraram a qualidade das suas águas, enquanto a presença de indústrias e
Estações de Tratamento de Esgotos mostram significativas perdas na qualidade da
água (Bendati et al., 2000; Lopes et al., 2008), evidenciando que o IQA pode não ser
preciso quando a fonte de poluição é outra, além de esgotos. Carvalho et al. (2000)

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afirmaram que o IQA não atinge uma abordagem multidimensional por não considerar
os defensivos agrícolas.
Além disso, o IQA apresenta algumas limitações, como superestimar a qualidade
de um determinado recurso hídrico pela compensação da maior parte das variáveis que
se enquadram nos padrões e atenuar o impacto negativo de alguma outra variável
(chamado de “efeito eclipse”) (da Silva e Jardim, 2006). Assim, deve-se levar em
consideração a análise individual dos parâmetros, sob risco de que uma situação de
degradação seja amenizada pela conjugação dos valores do índice. O IQA também
não contempla substâncias tóxicas (metais pesados, pesticidas, compostos orgânicos e
clorados), protozoários patogênicos, bem como substâncias que interferem nas
propriedades organolépticas.

Classificação segundo a Resolução CONAMA 357/05

De acordo com CONAMA (2005), a classificação do corpo hídrico é definida pelos


usos preponderantes mais restritivos da água, atuais ou pretendidos. Como os
principais usos que ocorrem na lagoa Caiubá são para irrigação do arroz,
dessedentação de animais e para pesca, ela deve se apresentar, no máximo, como
Classe 2.
De acordo com os resultados (Figuras 6, 7 e 8) a maioria dos parâmetros
analisados (cerca de 80%) da lagoa Caiubá se enquadram nas determinações da
Classe 1, mas também apresentaram alguns parâmetros como Classe 2, 3 e >Classe
3.
A proporção dos parâmetros que se enquadraram na Classe 1 vai aumentando do
Verão para a Primavera (Figura 6), o que poderia indicar uma melhora na qualidade da
água. No entanto, também houve um aumento na frequência em >Classe 3, indicando
que os parâmetros com valores maiores que os estipulados na legislação também
aumentaram.
O Verão apresentou os pontos na parte norte da lagoa (P1, P2 e P3) com melhor
qualidade do que os outros pontos, devido à maior porcentagem de variáveis terem se
enquadrado na Classe 1 e 2, e menor porcentagem na classe >Classe 3 (Figura 7). O
oposto foi encontrado pelo IET e pelo IQA, que apontaram a região norte da lagoa com
menor qualidade. O Outono apresentou o primeiro e o quinto ponto (P1 e P5) como
sendo de melhor qualidade devido à maior ocorrência de enquadramento na Classe 1 e

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2 (Figura 7). No Inverno e na Primavera não houve diferenças espaciais na
classificação das variáveis (Figura 7).
Alguns autores chamam a atenção para os limites impostos pelo CONAMA
(2005), considerados muito tolerantes, principalmente para o nitrato e o nitrito (Silva et
al., 2008; Baumgarten et al., 2010). Isto pode ter contribuído para a ocorrência de um
resultado contrário aos outros índices na variação espacial da qualidade da água na
lagoa Caiubá.
Os parâmetros que contribuíram para a perda da qualidade da água na lagoa
Caiubá foram a turbidez, a clorofila-a e o fósforo total pela grande porcentagem
considerada como acima dos valores estabelecidos pela legislação (Figura 8),
mostrando uma tendência de eutrofização desta lagoa. A ocorrência de valores acima
dos limites recomendados pela legislação já foi constatado para outros corpos de água
brasileiros (Rolla et al., 1992; Bendati et al., 2000; da Silva e Sacomani, 2001; Silva et
al., 2008). O fósforo total apresentou valores bem acima do limite em todas as
amostras, com média de 0,12mg/L P. A turbidez teve média de 122 UNT, apresentando
valores maiores apenas no Inverno e Primavera, ficando 100% dos dados fora dos
padrões neste período. A clorofila-a teve as maiores concentrações no Verão e no
Outono, alcançando a Classe 3 e Classe 2, respectivamente.
Tanto a atividade de orizicultura como a pecuária no entorno da lagoa são
responsáveis por um grande aporte externo de nutrientes, principalmente P e N, além
de matéria em suspensão advindo da erosão do solo para os lagos rasos (Fernández
et al., 2009; Roselli et al., 2009; Townsend et al., 2010), promovendo a eutrofização e
diminuindo os padrões de potabilidade. Além disso, a estabilização artificial dos níveis
da água em lagos rasos em áreas agrícolas pode agravar a tendência destes lagos a
permanecerem no estado turvo (Scheffer & Jeppesen, 2007).
O CONAMA (2005) não determina como interpretar os dados e fazer a
classificação do corpo hídrico quando as variáveis se encontram dentro de diferentes
Classes. Se for levada em consideração a ocorrência de algumas variáveis fora dos
limites estabelecidos, as águas da lagoa estariam fora dos padrões para os seus usos
atuais. No entanto, cerca de 80% das variáveis se encontraram na Classe 1 durante o
período estudado. Com isso, é possível afirmar que as águas da lagoa Caiubá
apresentam boas condições para os usos agropastoris e, após passar por um
tratamento primário para diminuir a turbidez e as concentrações de fósforo, poderiam
ser usadas para abastecimento público, conforme indicado pelo IQA.

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CONCLUSÕES

Sazonalmente, cada método utilizado neste trabalho apresentou resultados


diferentes na determinação da qualidade da água da lagoa Caiubá. O IET mostrou que
no Inverno a lagoa se encontra eutrofizada, enquanto no restante das estações se
manteve como mesotrófica. O IQA classificou suas águas como de “excelente”
qualidade para consumo, com exceção do Outono que teve “boa” qualidade. E,
segundo a Resolução CONAMA 357/2005, a lagoa Caiubá apresentou águas em boas
condições para seus usos atuais, com poucos parâmetros acima dos padrões.
Espacialmente, o IET e o IQA mostraram resultados semelhantes, apresentando
águas mais degradadas na parte norte da lagoa, melhorando para o sul, principalmente
durante o Verão e a Primavera. A distribuição das Classes do CONAMA teve um
comportamento contrário.
Enquanto a Resolução CONAMA 357/2005 e o IQA se preocupam com a
qualidade dos corpos hídricos para consumo humanos, o IET possui uma proposta
mais ecológica, se preocupando com o estado trófico do ambiente. A escolha do índice
mais adequado vai depender dos objetivos do estudo: determinar a qualidade da água
para uso humano ou determinar o grau de degradação do ambiente, visando sua
preservação.
As atividades humanas são um dos mais importantes fatores que afetam a
hidrologia e a qualidade da água dos corpos hídricos. A irrigação é responsável por
70% do consumo de água no mundo, não havendo retorno de toda a água para o corpo
hídrico original, diminuindo a disponibilidade hídrica, além de que a água que retorna
da irrigação tem qualidade inferior àquela captada, promovendo a degradação do
recurso hídrico (Júnior et al., 2004). Assim, é recomendado o monitoramento ao longo
do tempo das atividades agropecuárias na lagoa Caiubá devido à importância
ambiental e econômica que possui.
É possível que, pelos diferentes resultados apresentados, seja necessário a
criação de um novo índice ou modificações nos existentes para que melhor represente
as reais condições desta lagoa rasa costeira que possui atividades antrópicas no seu
entorno.

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AGRADECIMENTOS

Os autores agradecer à Universidade Federal do Rio Grande (FURG), à


Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), à Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), à Granja 4
Irmãos e ao Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pelo
apoio ao trabalho.

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55
Tabela 1. Classificação das águas doces segundo seu uso preponderantes de acordo com
CONAMA (2005).
CLASSE ESPECIAL
a) abastecimento para consumo humano, com desinfecção;
b) preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas;
c) preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção
integral.
CLASSE 1
a) abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado;
b) proteção das comunidades aquáticas;
c) recreação de contato primário (natação, esqui aquático e mergulho);
d) irrigação de hortaliças que são consumidas cruas sem remoção de película e de
frutas que se desenvolvam rente ao solo;
e) proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas.
CLASSE 2
a) abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional;
b) proteção das comunidades aquáticas;
c) recreação de contato primário;
d) irrigação de hortaliças e plantas frutíferas, parques e jardins;
e) aqüicultura e pesca.
CLASSE 3
a) abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado;
b) irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;
c) pesca amadora:
d) recreação de contato secundário;
e) dessedentação de animais.
CLASSE 4
a) navegação;
b) harmonia paisagística;

56
Tabela 2. Valores máximos dos parâmetros estabelecidos para cada Classe do CONAMA
(2005).
Parâmetros Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 >Classe 3**
OD (mg/L O2) 6 5 4 2 -
-
pH 6a9 6a9 6a9 6a9
DBO5 (mg/L O2) 3 5 10 - Quando o
Turbidez (UNT) 40 100 100 - valor se
encontra
Clorofila-a (µg/L) 10 30 60 -
fora do
Sólidos dissolvidos totais (mg/L) 500 500 500 - limite
Fósforo total (mg/L P) 0,02 0,03 0,05 - estabelecido
Nitrato (mg/L NO3*) 44,3 44,3 44,3 - para a
Classe 3.
Nitrito (mg/L NO2*) 0,3 0,3 0,3 -
Coliformes fecais (NMP org/100mL) 200 1000 2500 -
Cloreto total (mg/L Cl) 250 250 250 -
Fluoreto total (mg/L F) 1,4 1,4 1,4 -
Sulfato total (mg/L SO4) 250 250 250 -
*Na Resolução 357/2005, expresso como nitrogênio (N).
**Classe incluída neste estudo.

57
Figura 1. Localização do Sistema Hidrológico do Taim (delimitado pela linha pontilhada), da
Estação Ecológica do Taim (ESEC Taim), da lagoa Caiubá e dos pontos de amostragens (P1 a
P9).

Figura 2. Variação sazonal do Índice de Estado Trófico (IET) na lagoa Caiubá.

58
Figura 3. Variação espacial do Índice de Estado Trófico (IET) para cada estação do
d ano na
lagoa Caiubá.

Figura 4. Variação sazonal do Índice de Qualidade da Água (IQA) na lagoa Caiubá.

59
Figura 5. Variação espacial do Índice de Qualidade da Água (IQA) para cada estação do ano
na lagoa Caiubá.

Figura 6. Variação sazonal na proporção de classificação das variáveis físicas, químicas e


biológicas da lagoa Caiubá segundo CONAMA (2005) (*classe incluída neste estudo).

60
Figura 7. Variação espacial na proporção de classificação das variáveis ffísicas,
ísicas, químicas e biológicas da lagoa Caiubá para cada estação
do ano segundo CONAMA (2005) (*classe incluída neste estudo).

61
Figura 8. Frequência de ocorrência de cada variável física, química e biológica da lagoa Caiubá
nas classes
lasses do CONAMA (2005) por estação do ano (*classe incluída neste estudo) (OD =
oxigênio dissolvido; DBO = demanda bioquímica de oxigênio; Turb = turbidez; Chl-a Chl = clorofila-
a; SDT = sólidos dissolvidos totais; PT = fósforo total; NO3 = nitrato; NO2 = nitrito;
nit CF =
coliformes fecais; Cl-1 = cloreto; F-1 = fluoreto; SO4 = sulfato).

62
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apenas analisando as variáveis separadamente, a lagoa Caiubá mostrou uma


grande variação sazonal nas suas características limnológicas, influenciado
principalmente pelo clima da região e pelas atividades agropecuárias no seu entorno.
No entanto, os índices, que agregam várias variáveis, não apresentaram variações
temporais muito significativas.
A lagoa Caiubá apresentou uma alta concentração de fósforo na água durante
todo o período estudado, ficando até mesmo fora dos limites estabelecidos pelo
CONAMA, e altos valores de clorofila-a durante o Verão, o que indicaria uma forte
tendência a eutrofização. Acaba sendo importante estudar cada variável
separadamente a fim de não mascarar uma situação de degradação pela agregação
dos parâmetros com comportamento estável em índices.
Quanto às diferenças espaciais, ficou evidenciado, tanto pela análise individual
das variáveis, quanto pelo IET e pelo IQA, que a parte norte da lagoa Caiubá, durante o
Verão, é mais sensível às variações devido a sua morfologia. Apenas as Classes do
CONAMA apresentaram um comportamento contrário.
O monitoramento contínuo das variáveis limnológicas da lagoa Caiubá é
necessário a fim de descrever melhor o seu padrão de variação sazonal e espacial,
assim como criar bases para a confecção de um índice que melhor represente o estado
atual desta lagoa rasa costeira, visto a sua importância ambiental e econômica.

63

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