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‘VIDA E MORTE DA MORAES Alpada Baptista ‘A Livraria Morses Edita ¢ quase um volume ds minh euto- Diogratia porue foi, sobretudo, cme experineia multe pessoal ‘que naturalmente sofreu das vaplagens © inconvenientes da fen fativa de realizar sonhos, ‘Ba nfo tina ain‘ trnta anos, exerciaadvocscia em Lisboa com algurr éxito, mas devo confessar que ser advogado me macava ‘ito, Quero dizer e eiclarecer aqui que nfo tenho multo mito pessoal nesta opsées, que sparentemente parocem implicar wna Sorta renuta e uma certa abnegagio, mae, normalmente, Figo 48 fquilo que me epetece, Deirei a advoeacin sobretudo poraue me ‘mogava mullo mas tambétn verdade que, por cata da edscagio ‘que tive nos Jesuttas, da influgncia do Padre Magalies, da riz: tava chen de fares © Intervensio na sociedad daquele tempo Isto fol nos fins das fot 50 e principio dos anos 60. Eu rensava que era necessiria ‘oma presenga intelectual bascada num catolicisno aber. iler- ‘yentor que rents poder insplrarse na experiéacla de. Mounier fda revista Esprit A experiéacia de Mounier e da revisa teve lua grande Importincia para mim nema altura em que estava, tudo contaminado por ma visio dialéctica de historia e da soci ade, A revista Esprit © Mounier vierom dersne outra reeréncia ‘2 que eu muito me agere. ‘A Livraria Moraes; era uma tradicional eitora juriica,estava ‘ venda e eu com mais dois amigos e um liveiro resolvemos com préla. S6 um de n6s tinha algum dinhelro ea livara fot com: prada com grandes faciidades. A experiécia foi mi desde 0 Inicio © pouca tempo depois a sociedade fot desflt htretanio, tinh tomado contacto com um grupo de rapazet recémformados,catdlicos com preoeupagces idénticas as minhas, ‘que se tinham ligado, no tempo da JU. através do jornal Encon {ro ¢ so Cine Clube Catélica. Eram o Pero Tstnen, 0 Toto Be- tard da Cort, o Nuno de Bragatsa,o Alberto Var da Silva, entre Dutros. A saida dos outros sche coinidis com o nosro conbeet ALTER /EGO, Lisbon (5) 1988, pp. 9398 98 mento, Com um grande empenhamento ¢ com of mesmos soahos resolvemos faze: a editors, Falmente,o grande iastnimento de ‘cin «reales sigue dav non provcureste DE {odo 0 grupo 60 0 Pedro. Tamen COTS mas era de cert forma. representante dees todos. Juntavano‘os, com agrande frequen, para tratar dos sssuntos da ediora na perspec. lve de ge cil tempo, caavamoycpontoads, A cinha para ser editor, fol muito mal compreendida elas pestoas que Ie rodearam, a no sor po ese pequeno grupo. For una coisa aque me Smpresionou muito ver como as pessoas estavarn, no undo, tcmatizadas creferidas as motivages do sstema porae, mesmo os padres que eu conhera © que me acompaabsram nivel da linguagem en evocativas acqdes de «Aportolado> e de ‘Servis, flcaram muito expantados e dislam-me que eu tina feito uma grande aneira em dear o meu esritorio que prometia ‘muito por uma editora, anda para mals » fazer livros que no dariam nada. Com a vinda do grupo, a Livraria Moraes Ealtora comeyou a vera sua epopea © eu nem sequer uma vee Penge gue aguilera uma empress comercial que naturamente tine ‘Que dar furo, Isto fol uma das razGes do fracasso da ivraria ‘Porque munca nex passou pela cabega neta teins a preocupasao | Ge the dar uma estrutara empresarial. Querfamos era publicar |, lum certo nimero delivos aue, em nosso, lam aa exeono | das preocupagier de alguns milhares de paruguests. Imaginiva: | ros" que, co tavamos sedentos de novas ideas, aioe acorreriam aos livros que editissemes e tudo ira corer bem. ‘Naquele tempo as edigSes eram normaimente de 3000 exc lars. nunca nos passou pela cabeca que nio havia em Por fg 3000 pests corn a mesma ansiedade qe as. qi, Dor Isso, esgoariam as nossa edicdes A primeira cosecda Tangada foi uma que chanavames 0 Ciclo da Himaaisna esti, Ofbume nism era enti ura polavrazito que implicava uma nova eee rente visto da vida, que era simultaneamente ma forma de com promisto na alterasso das eatruturas de ma sociedade, que con Ederdvamos hipicritae injusta. Lembrome que, para failiar compra desta coleeco, ela podia ser comprada mediante a ass: natura de ums quota mensl de 25900 e daria dreto a um livro de dois em dois meses. As assinatures qunea atingiram as 400 ‘© lives que publicémos dos grandes autores, progressstas © Tertadores do tempo, foramse acumulando no srmazém. No ‘entano, 0 nosso entsiasmo era tal que nem pensivamos nso ” ¢, uma bola de neve, cada ver iamoseditiodo mas lio, com {Inte sos porn oe ra > Soahectnento de umn pro 3 apasscatshcos progresists g, Stroes Lives Moc. iam a-ainassto “Seni histo ton eno depios ori oapon reves © Toco 0 Modo, Eva wine segunde fae etm plano gic a gente de {rio no tinhn em vst a etorn lage o wos qu ram formar os nonsos liters ea revista er um snpundo Tad D0 SGanko de" iervenego. pica na sockdads portugues De fexto'O Tompo't a'Modo channvace wevate Je pesaneno aeaos, Tales colaborae de nioeatlcos: Maro Soares {Sgn Zaha, etre outro, fea pare do Conslho Cosa So da revit, Ba coco oe fot ale, a primeira er qe cal ltose no etlces pena crn Portugal conjntomente nome intrvengio police © ea experiencia GeO Tempo ¢ 0 Modo tie con toprao, No encanto rvsa inch pass doe 700 Scsimanes ea sun tageo sr de crc do 800 cxomplres “Taha un srereiro de Teacp que oreo Jono Beard da Conta en dls edatons,Profsdonsizsdosextaram ore fio um doa redctores A revista dara 6 nom, om cores da ensure cram numevouoe © como trbalfiha der para ac Sur jt composto impren, pode tmagnarae 0 prejizo que Sovbua dna Digimon que tn O Tome e 0 Modo, lmbrome Gus pend al une 00 cate, © ve sao tempo hoe cre. IE Zow conte, O inkivo pare to do tinh como ra nin origem o queer ensue ort qe corsa en ros baos nds tia nmigoe pesos ou de ea qs me ism dexcontando fatasetnzanas sucessives. A crt altar igus pessoas com {buican lrgemente are agila oragen, un, o tale oo Domingos Megre eo etre forse oat Lis Ory, 0 Femand Pune co. Aitedo Maria Carb ‘sul uve ura outs nit, be eam casou mata pertubario na Iga fon pubinta da revista Conca Toaiquee Helos Var da Siac reel competentes etait, nv langamento de qualquer niin. A revit chamavase Come ‘lon pongo, enrtamo,tnba sparciso o Coneto Vteao Tk ava uma rove interacona, poten em sete ngs, Elta lon grandee wclogr da renovarto cosiar © ns ramos 0+ litres de revista tn Portus Se vine om prisoners Si rosa evn tints idageo: Livan Morac Editor, Lisbooe Teaco imprimatur era dad por , Helier Chars. ist poraue In o Carded! Patarcr tem nesham oul Bipo portugts toe ava o imprimatur para publicacdo da revists. Como cle podia ser dado no sitio onde sia impresso ou na sede, imogindenor ma sede fantasma na casa de D. Helder, no Recife. Als, em relags0 8 imprimaturs, as nossasrelagées com a Igreja frat sempre ines. Litas pores, incisive, ma, vex rece uma carta do; Blopy de Lishoa, que era o D. Manuel dos Santos Rocha, dizendore sine plesmente que nio dava mais imprimatur & Livraria Moraes, Isto sanonicemente é um erro que nos colocava na situagso de 220) nos darem autorizao cclesistien mesmo para a publicegzo do, Novo Testament Fale com o Petriasa, com quem tinha uma boa relagio,e que procurava resolverme esas situapdes, Esta fol uma das que cle resolveu. Este tipo de inicatvas, que ersm, se certo modo, urna contribuigdo e tentativa de resposta a uma lacomodidade pessoal, (que n6s julgivames que era uma incomodidade colectiva e que, de certo modo, tinhamos 0 eco dessa incomodidade,terminow por volta de 1972, quando o meu dinhelro tinha sido gato. Tinhamse feito tambem alguns rllhares de contos de dividas fe eu tive nessa altura a extraordindtia colaborapio do Miguel Caetano, do Jodo Botequllha e do Eduardo Gomes Cardoso, que ‘lo se dimltaram a emprestar dnheiro, como todos 0 dss & tarde estavam na Moraes. Estadarom a sus vabiliade © chegaram 3 conclusio, depois de multo trabalho, de que néo havia nada @ fazer que era necessirio ¢ aconscihavel liguidar « socledade ‘Acompanharemvme também to acordo que fz com os eredores ‘Ainds num gesto amigo o Professor Teixeira Pinto, que esta ‘va frente da Sesiodade Pinancera Portuguesa comprou 2 socle- dade por 25% do seu passivo, Pagaramme, ctelo, 2 todos os Fomecedores ea banca recebou 25 do seu edit, Multos svais pessoas ficaram a meu cargo e ainda hoje, 15 anos depois, des: conto parte do meu ordenado de funciondrio publice para page ‘mento’ de alguns desses avai, Por curlosidade acreseento ae, quando era Ministro das Finangas o Joo Dias Rosas, autoriot 1 Sociedade Flnanceira fazer a compra mas, logo que ele si, ‘como a ediora tvesse publicado um livro do Francisco $8 Car. Aciro, © novo Ministro das Finangas, obrigou a Sociedade Finan ceira a vender a Moraes. 0 Jorge de Brita que entao era proprie- tério de O Século, comprou 2 socledade através daguele Jrtal. Deve dizerce que, enquanto estewe na sdiminisirasio da Socieda de Financeira e de O Século, as finangas forse equilradas, mas ‘com a revolugéo de Abril a sociedade nso aguentou a perturbagio a partir dai munca mals se equiiox, 6 © que eu digo desta minha experidneia: nio & aconselhirel sonar quando se tem como instrumeato de sonho uma empress, {que nlo obedece as lls empresarsis. Tamibem nfo posso debar Se diner que ha agus responssblidedes,e grandes, da noseasocie- dade, porque este sonho no era um sonho individual era, pare: came a mim, qualquer coisa que se repercutia numa ansiedade folectva e que se poderia resolver através da compra dos lives © que tudo isso sempre fol recusao. Tembrome de algumas histirias que de facto repercutem ess inseguranga e esse modo, de chemada burguesia eatdlsa, Incomodads, e cujos problemas nés estivamos incumbidos de resolver sem qualquer contribulelo da sua parte, Digamos que tinlem arranjado ‘uma solucdo éptima porque poderiam cont ‘uae a gimhar 0 961 dinkeiro © 30 mesmo tepo eentiam que & ‘sm face estava a ser salva através daquela insituigso. Quando © Tempo ¢ 0 Modo passou das minhas méos para as mos dos ‘masta, ex recebi un telefonema de uma senhora com alias Zs potsablldades no mundo da Aco Catcica que ene dizi, muito Exngada, que ea ndo tha 0 dirlto de deixar O Tempo e 0 Modo, ‘que cu era uina pessoa com responsablidades neste pals, Die The: — ao perecbo erte telefonema porque afinal O Tempo 0 ‘Modo dares 6 anos, eu perdi 700 contos com ele © voce mm lnqutr era aesinante. Vooé tem de oe explicar qual razio for que eu, 2 minha cusa, tenho de resolver 0s problemas das pes- {ous que andam a trafar da sua vida, A stuagio do medo era fal {que as pessoas nem o disfurgavam, achavam-ao natural. Leuteo- “Ine que, uma vez, alguém me encontrou na rua deuroe os parabens pelt existéncia 0 Tempo e0 Modo —e clareme: — sabe, eu 180 soxrassinante, eu compro sempre mas livrarias porqve tenho meio Aue um dia vé ld a PEDIE, buscar o fichero dos asinantes. Por: {ano as pessoas tm que se interrogar quanto a esta falta de gene rosidade foal que tém em relagio coisas que no sejam os seus Interesse imodiatos. A gente vé que, por exemplo, nos Estalos Unidos qualquer pessoa, qualquer Fundagio, di generosamente inher para as Colts mals lnsdlitas e mals estranbas, quanto mass para uma coisa que era anseo de muitos. O que realmente Seati—fora as quatro ou cinco pesioas que eu nomee!, e crlo {que mio eaquect inguém mals—e que, a0 nivel de converss © erbalizgio da sitaedo, multa gente nos apoiava mas que iso ra feito em troca de nada, titha de cer gretuito, Perguntome hoje se aquela experiencia valew a pena. Devo dizer que os tempos ils eifices da minha vida foram os 2 altos anos, em que ‘eu } no acreditava na Moraes © que tinha que estar alia geri 4 sun queda, o seu fracasso. No eatanto farone impreseo ainda, Squnndo, out aime ver, encunteet unt lca dor que extversm Ietidos no 25 de Abril que me disse: — «Teno que lhe agradecer porque, estava ex Id no meio da Africa, foi através #0 Tempo 0 Modo que es tomel consiéncia do que se passiva aqui. ‘Em resumo, acho quo houve essa irresponsatildade empre} svial por nosss parte, mas houve também uma recusa profunda | data m.consclncia, con x vanngen “de no ter de compromeierse Wt nada. ‘Gostava de acrescontar uma coisa: o regime que existia na, censura era 0 seguinte: a5 publicagSes peiodiens fam & censura, prévia e os los do fam, mss podiam ver apreendidos, N6s, ‘quundo foi '0 Tempo e 0 Modo, para fugi a essa censura prévia publicimos dois caderaos, O eademo sobre o Casamento, se hoje © lermos veve que é de uma ingenuidade de catequee, no entanto, ‘fo poder imaginar © ercindslo que fol apublicaio desse cadet” ‘ho que a PLLDE. apreendeu. Depois publicimos tm outro sobre Deus 0 Que E e que nio fei spreendizo. om va oO

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