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ceo = ms (CIP) Bibliografia ISBN 978+ | a | | 1. Filosofia antiga |. Titulo. | gee CDD-180 | Marcos Sandrini AS ORIGENS GREGAS DA FILOSOFIA y EDITORA VOZES Petropolis Filosofia é palavra segunda... 1.1 “Primeiro viver, depois filosofar” ou “as ideias movem o mundo”? Hi uma expresséo; um provérbio, que diz: “primeiro viver, depois filoso- far”. O latim diz de forma concisa: “primum vivere ac deinde philosophare™. Essa expressio pode ter diversas interpretagdes. Vamos ressaltar apenas duas. A primeira é que ndo adianta filosofar se nao se consegue viver, isto é, se nio se tem os bens necess4rios para viver: alimento, moradia, transporte, satide, educa- que a felicidade humana comega com a satisfacdo das necessidades de sobrevivencia da pessoa e de todas as pessoas. Nisso estamos todos de acordo. Por isso, um bom filésofo é aquele que luta pela justiga social. Ninguém nessa linha de pensamento hé outro provérbio popular interessante: “é melhor io, lazer... O proprio Aristételes josofa bem de barriga vazia. Ligada a essa expressio e um burro vivo que um doutor morto”. Outra interpretacéo do primeiro viver € que a palavra primeira é a vida. A fi losofia interpreta a vida. Portanto, a vida € antes ¢ depois, € 0 pensamento. Nao € 0 pensamento que constr6i a vida, mas € a vida que constréi o pensamento, de aprofundar porque a vida nunca teve apenas uma interpreta- ‘<0. Por isso que, de certa maneia, nao ha filosofia, mas filosofias. Se examinar- Isto nio € diff mos o pensamento da assim chamada filosofia antiga, veremos que Platio e Aris- toteles divergem fundamentalmente e nao apenas superficialmente em suas con- viegdes filos6ficas. © mesmo se diga de Heréclito e Parménides. Ha, ainda, os essencialistas ¢ os existencialistas. A filosofia de Marx nao é a mesma de Kant e vice-versa, Hé os iusnaturalistas € 0s consensualistas. H4 os ortodoxos ¢ 0s hete- rodoxos. Nao se espante com essas palavras, pois vamos aprofundé-las no de- correr de nosso estudo. Nao é a filosofia quecria a realidade, mas € a realidade que cra a flosofia. © ais frequente € que a realidade muda, ¢ 2 filosofia continua refletindo sobre ‘uma realidade que nao existe mais. Entao é que temos uma filosofia de conser- vagio... A realidade sempre est mais & frente que a filosofia, A tendéncia da losofia é cristalizar uma interpretagio da realidade como se fosse a prépria rea dade, Entio, nesse caso, quer-se que a realidade se adapte & filosofia quando se- losofia se adaptasse & realidade, Nenhuma reflexio lade. s interessante que a loséfica esgota toda a rea la € muito maior que a filosofia. 1.2. Natural ou cultural? Ha uma palavra muito usada na linguagem habitual das pessoas, sobretudo is de escolaridade. Trata-se da palavra natural que na de quem tem um pouco n provém de natureza. Em nosso linguajar usamos algumas expresses com a pal ra natural. Dizemos, por exemplo, que é natural que a mulher seja mais insuiti- va eque o homem seja dedutivo; que a mulher sea mais emogio e que ohhomem reza ou se transfor- seja mais razdo. Seré que homem e mulher sio assim por nat ‘maram assim por cultura? Ja que estamos falando em filosofia grega, vamos dar tum exemplo a partir de Platao e de Aristételes. Todos os dois defenderam a es- cravidio. Um de forma mais branda que outro, mas todos 0s dois eram undni- mes na defesa dessa realidade cruel. Por qué? Porque sem escravos era imposs(- wel viver! A sociedade grega organizada em cidades necessitava de esctavos. Cal- ceala-se que a cidade de Atenas tinha cerca de 250.000 habitantes por volta do século IV a.C., época em que viveram esses dois filésofos. A democracia grega tinha como centro a Agora, isto é, a praca piiblica, Era ali que os cidadios livres iam sobre os rumos da sociedade grega. Nao é que todos fos- refletiam e deci sem cidadaos livres. Para que os poucos cidadios livres, cerca de dez por cento da populagdo, pudessem participar das assembleias, era necessério que uma lao de pessoas produisse. Entio, 0s outros gregos, cerca de 90%, trabax hava no pesado, usava seu corpo para que a méquina produtiva ateniense avan- ‘gasse. Af se incluem as mulheres, as eriancas, os estrangeiros, os escravos. Essa organizagio social € um dado cultural. $6 que 0 dado cultural se transformou s vai usar em seus livros a expressio num dado natural. Assim & que Arist6t natureza ¢ natural com uma frequéncia incrfvel. Embora muito evoluida para a sua época (¢ para a nossa tam- bém), a democracia grega foi sustentada por forte repressio mi- litar, que se via as voltas com constantes rebelides. Esse carter restrtivo fica claro se levarmos em conta 2 composicio da popu- lagdo ateniense: 50 mil estrangeitos e seus descendentes; 120 iil escravos; 60 mil mulheres e menares de 35 anos; 15 mil ci dadaos (PEREIRA, 1994: 77). que fez a filosofia? Refletiu sobre essa realidade e a reforgou. A realida- de é uma s6. A interpretacio da realidade é que é miltipla, Fundamentalmen- te, hd uma filosofia para justificar a realidade e outra para transforma a res dade. Platio e Aristételes fizeram uma filosofia de jusificagao. Alguns nascem escravos e outros nascem livres. A natureza os fez assim! Hoje é impossivel pensar assim. Quem fez a escravidao foram as relac6es de trabalho, o modo de produgio. Ela néo é um dado natural, mas um dado cultural. Cultura é tudo 0 gue criagéo humana, Essa naturalizagéo de aspectos culturais impregnou tio fortemente a filoso- fia © a nossa ética que hoje, embora néo precisemos mais de escravos porque a méquina faz o que eles faziam € com muito mais eficiéncia, rapidez e produtivi- dade, idade escravagista nda se continua com a ment ‘Um grande banco, por exemplo, hd vinte anos tinha 140,000 funcionétios. Hoje, com a informatizacio e a automaéo, nfo tem mais que 60.000. O: continuam estratosféricos. Quem ficou com o lucro? Os trabalhadores de dos, a sociedade? Ainda se continua acumulando, © pensamento que rege é 0 da maquina enxuta. No entanto, 6 importante dizer que todo esse progresso tecno- legico s6 foi possivel gracas a0 trabalho dos escravos do mundo antigo, dos tra balhadores da gleba medies zado pelos terceitizados, pelos cooperativados, pelos trabalhadores da informa- is dos operarios da era moderna. Hoje isso € re lidade, Nao é justo que alguns se apropriem desse progresso da humanidade em beneficio préprio sem uma visio de equanimidade social. Nao é justo dizer que a acumulagio € fruto de desempenho pesso: Também a questao da familia é envolvida nessa perspectiva de filosofia como palavra segunda. Na sociedade antiga, agricola, fundamentada no setor primério, era muito importante uma familia patriarcal extensa. Quanto mais fi- Ihos, ‘obra. Com o advento da industrializagio e da urbanizacio com a concentragio hor. Isto porque o progresso da sociedade estava baseado na mio de também mudou. Entao temos a familia nuclear. Hoje, tir da vivéncia conereta das pessoas. 0 filésofo Karl Marx (1818-1883) aprofundou muito sua reflexso filos6fi ca com 0s conceitos de infraestrutura e superestrutura. Para e 1a, abase da sociedade, €a produgio eas relagbes de produgio. Os bens da natu- is ainda mudou a par a infraestrutu- ze1a estio af. Da forma de sua organizagéo é que brota a reflexio, a filosofia € todas as outras ciéncias. A sociedade capi priedade privada, Entdo, a partir desta infraestrurura ¢ que se constréi toda are- sta estd organizada em cima da pro- flexdo. Entio se criam as ideologias em sentido negativo, O que € uma ideolo- ‘gia? Em sentido negativo, chama-se ideologia toda a construcio de justificativas para a organizagio concreta da sociedade. Na linha de Marx, uin autor francés chamado Louis Althusser (1918-1990) diz que 0 estado ca defender a infraestrutura como ela se apresenta ¢ € concebida. Como ele 0 de fende? Através de dois grandes mecanismos ou aparelhos: 0 ideoldgico 0 re fa existe para pressivo, Os Aparelhos Ideolégicos do Estado (AIE) sio as ideias que se criam e sua divulgagio. Entre os ATE mais poderosos encontramos a Escola, os Meios de Comunicagio Social, as Religides. Esses AIE sio tdo fortes que conseguem no justa, mas fazer com que as pessoas a defendam de for sma apaixonada, Se falharem esses AIE, entio entram os Aparelhos Repressivos, do Estado (ARE), Sao eles a policia, o exército, as leis, as prises, etc. Os Meios de Comunicagio Social exercem uma influéncia extraordinéria, ‘No Brasil existe 0 Tbope que é um instiruro de pesquisa. Em relagio 20s MCS ele cria um circulo vicioso. As emissoras de ridio e TV ficam atentas para caprar 0 que a média da sociedade esté esperando ¢ isto € feito através do indice de au- digncia. A partir dat as emissoras teforcam isto € vio continuando a cultivar © mundo ilusdrio das pessoas, Eo mito da caverna de Platéo em aco como vere- mos mais adiante. 1.3 Elica e moral Podemos fazer uma reflexo interessante sobre a di Gio entre étiea e mo- ral. Na linguagem comum, no senso comum, no se faz distingo entre ética € moral. Dizer que alguém tem ética ou moral €a mesma coisa. Alguns pensadores farem distinggo. A ética diz respeito aos grandes horizontes, aos grandes princi- n T | | belecido, isto é, as leis, as normas, os costumes, 0s US0s, 05 habitos. Liriamos que a ética €0 instituinte e a moral o instiudo. ‘Vamos retornar novamente &filosofia de Platao ¢ Aristoteles. Platéo afirma emA epublica que, por natureza, h4 ts tipos de pessoas: as que usam a cabeca, fs que usam o peito e as que usam o ventte. As primeiras, 0s filbsofos, sio de uro. As segundas, os guerreiros, sto de prata, As terceiras, os lavradores e artt- fices, sio de ferro ¢ bronze. Nao é por acaso que as Olimpiadas nasceram na Grécia e ainda hoje se encregam medalhas de ouro, prata e bronze! Essa versio estratificada e estratificadora da sociedade determina toda a politica, a econo- mia, a pedagogia, a rel cristalizagio do que acontecia na sociedade ateniense. A tarefa de interpretar e questionar essa moral ‘a moral. Ela nada mais € que a ica, justamente, tem a Por isso ordena Deus, principalmente aos magistrados, que se cocupem antes de rudo em conhecer de que metal é feita a alma ddecada criangae que, se em seus proprios filhos encontrarem al ‘guma mescla de ferro ou cobre,tratem-nos sem nenhuma merce e releguem-nos A categoria dos artesios ou lavradores. Também requer Deus que, e estes iltimos tiverem filhos que venham a0 mundo com mescla de ouro ou prata, elevem estes categoria de magistrados, aquelesa de guezzeiros. Porque hé um orculo gue afirma que a Repitblica se extinguiré no dia em que for governa- da pelo ferro ¢ pelo bronze (PLATAO, sd.: 96). ‘A mesma andlise podemos fazer a partir do pensamento de Aristoteles. Ele ustifica a divisio da sociedade em classes a partir da natureza. Somente no I vro A politica séo utilizados 84 vezes os termos “natural” e “por natureza’ ‘Assim, a escravidao é determinada pela natureza, conforme podemos observar nesta passagem: [ul aquele, que € capaz de prever com sua inteligencia, é natu ralmente chefe e senhor, e 0 que pode executar com seu corpo essas previs0es é sidito e escravo por natureza; por i860, 0 se- hor € 0 escravo tém os mesmos interesses (ARISTOTELES, 2002, 12524), © que era um dado cultural se transformou num dado natural. Em nome da lei nararal ou da natureza, justificam-se muitas staagbes verdadeiramente des 1manas ¢ consolidam-se exclusées de toda espécie, sobretudo de classes, género, Nao foi nem Platao e nem Aristételes quem criow a sociedade dividida em classes. Eles viveram dentro de uma sociedade concreta, a ateniense, que era eli- tista, classista e escravagista. A organizacéo econdmica, politica ¢ social sacrali- zou essa divisio. O que Platéo e Aristételes fizeram foi criat ou reproduzic uma filosofia para justificar essa divisio social. A palavra primeira é sempre da prati- ca, da vida, da realidade. A palavra segunda € das varias ciéncias. Assim, existe ‘uma filosofia para confirmar o status quo, como ‘ste uma filosofia para ques- tionar 0 status quo, para superé-lo e transformé-lo, Status quo € uma expressio latina que significa a realidade como ela se apresenta. Nao s6 a filosofia pode justificar a realidade, mas também a teologia, a sociologia, a biologia. Enfim, to- das as cién inda hoje hé quem queira sacralizar uma moral fechando-a a qualquer in- terpelagéo ética, Francis Fukuyama (1952-),filésofo ¢ economista p\ po-estadunidense, figura chave e um dos idedlogos do governo Ronald Reagan (1911-2004), graduado em Yale ¢ funciondrio do Departamento de Estado dos Estados Unidos, numa célebre conferéncia pronunciada em Chicago, ganha no- toriedade e fama descobrindo que o fim da guerra fria € o fim da historia. O ideal capitalista, uma vez vencido seu ini igo por decomposigao interna, avan- a inexoravelmente. Qualquer alternativa ao capitalismo foi esgotada ou extin- ta, estd condenada ao fracasso. Nao havers mais contradicdes histéricas, haverd sempre mais a repetigéo do mesmo. & a sacralizagio de uma moral ¢ o fim da éti- a, “Fim da histéria, O tempo para, 0 mundo deixa de girar. O amanba € outro nome de hoje. A mesa esté servida. A civlizagio ocident direito de mendigar as sobras (FUKUYAMA, 199: ‘Toda moral que se fecha A inguietagio, a0 questionamento, & refundacio, transforma-se em moralismo. Este trabalha muito com prescrigSes: voce deve, vvocé precisa... Uma norma quando precisa de um “reforgo” exterior a ela para ser observada, significa que nao tem forga em si mesma. A grande tarefa da edu- cagio e da filosofia é, justamente, tornar as pessoas auténomas. O contratio € a anomia ea heteronomia, Anomia € falta de | nifica ter Ici imposta pelos outros. A autonomia consiste em as pessoas assumi- vale tudo, Heteronomia sig- rem um projeto de vida que brota de suas convicgdes ¢ viverem em coeréncia com ele. Quando o instimuinte ¢ o instituido se identifica, quando érica ¢ moral ge identificam, realmente a hist6ria chegou ao fim, os horizontesse fecham, 2 ¢s- peranga fenece, acabaram-se as utopias € os sonhos. Filosofia no existe para fechar horizontes, para dizer 0 ébvio, para repetir ‘que todo mundo ja sabe. Filosofia existe para abrir horizontes de sentido. Ne- sahuma ciéncia existe para si mesma, mas para a felicidade das pessoas e das co snunidades. Contam que quando Albert Einstein (1879-1955), lalemao radicado nos Estados Unidos, visitou a india, um mestre de espirito per- ajudou as pessoas a serem mais f ico te6rico. jguntou a ele: “em que sentido sua yes?” Essa pergunta martelou em sua cabeca pelo resto da vida, Este € 0 objetivo da filosofia: ajudar as pessoas a serem felizes junto com as outras! 1.4 Todo ponto de vista é a vista de um ponto ‘O conhecimento da realidade nunca se realiza de forma totalmente objetiva. COlhar para qualquer fendmeno néo significa tirar uma fotografia de algo que pode ser visto da mesma maneira por qualquer pessoa. Nosso conhecimento é sempre mediado pelos condicionamentos culturais e biogréficos. A visio que te- ‘mos da realidade é “uma construgio do nosso mundo a partir da selecdo, inter- pretacio e organizagdo dos elementos que existem no mundo exterior” (MO SUNG, 2005: 100). Hi aspectos que estio diante de nossos olhas, mas que nfo conseguimos en- xergar. Fssa invisiblidade “nio se deve a nenhuina falta de informacao devida & falta de alguém, mas a uma fragmentacio preestabelecida da realidade, uma clas- sificagio das pessoas coisas que a compreendem, que faz algumas delas vs ‘outras invisiveis” (MOSCOVICI, 2003: 31). Temos acesso a realidade pela med acio — ou distorgio ~ de representagdes sociais que so “superimpostas” a objetos € pessoas. Dessa forma, conforme Moscov viduos ¢ objetos, nossa predisposicio genética herdada, as imagens e hibitos que 1n6s jf aprendemos, as recordagées que nés preservamos e nossas categorias cultu- rais, tudo isso se junta para fazé-las tais como as vemos” (2003: 33) “quando contemplamos esses in« abe sublinhar também que “no momento em que determinado objeto ow ideia 6 comparado ao paradigma de uma categoria, adie caracterfsticas dessa (MOSCOVICI, 2003: 61) Representar é, portanto, umm ato de reconhecer, classificar, rorular, encaixotar categoria ¢ € reajustado para que se enquadre nel 5 tum objeto ou uma pessoa em determinados esquemas ¢ categorias e, dessa for- ma, estabelecer, ou até determinar, aprioristicamente suas caracteristicas. Esses rétulos se rornam mais rigidos a medida que se distanciam de contatos diretos interpessoais. A realidade da vida cotidiana é apreendida mediante “es- ‘quemas tpificador que se distanciam da inceragio face a face. Mas as préprias relagées interpes- soais face a face, embora tenham o potencial de derrubar ou relativizar as tipi cagdes, podem ser padronizadas, sobretudo se ocorrem na rotina da vida coti- diana, Isso significa que os esquemastipificadores condicionam prof * que tendem ase tornar cada vez mais anénimos, & medida ‘nosso conhecimento e interpretagio da realidade, podendo influen ve, as caracteristcas de nossos relacionamentos primérios. 7 ‘Qualquer realidade humana € conhecida mediante esquemas tipificadores, mediante representacoes sociais, que as “encaixotam” em categorias anénimas, abstratas e estereotipadas. Em auséncia de interag6es face a face ~ ou apesar de- las — essas tipificagdes produzem generalizacdes e estereétipos que moldam os (préjjuizos sobre qualquer questio ¢influenciam, de forma contundente, as rs- postas educativas diante de seus desafios. ‘Arealidade, qualquer realidade, nao tem uma tnica interpretacio. Tanto as sim & que hi diversos tipos de filosofia. Como j acentuamos, a filosofia de Pl- tio nio €amesma de Aristoreles, ade Pascal nio é a mesma de Descartes... Uma coisa éa realidade e outra a interpretagio que fazemos dela * 1,5 Aprofundando o tema 1) Desde a Antiguidade, ha uma preocupacio em interrogar sobre 0s misté- ios do mundo ¢ os dilemas que fazem parte da vida, A Filosofia buscava, naque- Je tempo: a) negar a existéncia de mitos e valorizarasceligibes monotefstas euniversais; by questionar sobre as origens do cosmos e as quest6es da ética humana; )servie de base para a literatura religiosa com suas quest6es mais metafisieas; 4) aprofundar 0 conhecimento da mais sabioss mitologia, consagrando os sacerdotes ©) romper com a arbitrariedade dos deuses ¢ buscar entender o funciona mento da realidade através da razio. 6 2) A UEM (Universidade Estadual de Maring4), no vestibular de verdo de 12009, apresentou esta questio que serve muito bem para nossa reflexao sobre o filosofar. 0 que caracteriza a filosofia éa coragem para enfrentar a tradigio irefleti- «da, o distanciamento dos problemas imediatos da vida, a procura pela unidade do saber em face & pluralidade das cigncias, a cr gssegurando a racionalidade e a reflexéo critica. a da cultura e das ideologias, Sobre o exposto, assinale 0 que for corre. 4) Socrates, no seu trabalho de maiéutica e ironia, enfrentou a sociedade do seu tempo e obteve a pena maxima, condenado a tomar cicuta. by Fildsofo é aguele que pergunta e que transforma as respostas em pergun tas, porque nenhum saber é eterno ¢ isento de criticas em seus fundamemtos. €)A reflexio filos6fica, por ser racional ¢ abstrata, ndo tem aplicacto prati «a, reproduzindo eternamente as mesmas perguntas sem sentido. 4) Com as teses do materialismo histérico de Karl Marx, a filosofia perdeu sua vocagio pritica de transformar a realidade e ficou ainda mais isolada, con- denada a sala de aula e ao cfrculo dos intelectuais. @) Mais do que um saber tedrico, a filosofia € uma atitude ¢ um modo de vida, pois ndo se trata de acumular verdades, mas radicalizar a facio diante dos problemas fundamentais da vida ida e a insati Uma celebre banda brasileira, Titds, cantou um poema de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromere Sérgio Brito inttulado Comsda. Esse poema reflete um pouco 0 que aprofundamos neste rulo. Procure escuté-la, Ao mesmo tempo, pro- ‘cure alguma outra banda ou cantor(a) mais atual que tenha uma misica cuja le tea trate do que estamos refletindo. W 2 O mundo grego e o surgimento da filosofia 2.1 O mundo grego, um espaco geocultural Se vocé procurar no mapa-miindi, veré que hoje a Grécia € um pequeno encantador pais situado na Europa. A Grécia Antiga, porém, era muito maior aque esse pequeno pats. E importante observa, porém, que para os antigos gre- gos 0 mundo grego no é um conceito geogrifico, mas cultural. Ele si totalidade dos grupos humanos que, mesmo espalhados em iniimeras localida: des, tinham a mesma cultura. Os gregos, espalhiados por varios paises (conceito ‘geogrifico), consttufam uma tinica nagdo (conceito cultural) porque tinham @ mesma cultura, Cultura é a maneira de ser de um povo, diversa da maneira de ser de outro povo. £ aquilo que faz com que um povo tenha suas le corganizagdes, seus costumes e suas erencas prOPri cultura, em sua compreensio mais extensa, representa o modo particular com {que os homens ¢ os povos cultivam sua relagio nos, consigo mesmos € com Deus, a fim de conseguir uma existéncia plena- mente humana” (Doc. Aparecida, 476) com a nanuseza e com seus ir jas as muitas ilhas que povoam Faziam parte do mundo grego antigo: a Ge 6 Mar Egeu; as orlas maritimas da Asia Menor, do Mar Negro ¢ do Norte da Africas as terras na Itélia, na Sicilia e no sul da Franga. (Os gregos nao constitulam um s6 estado, mas varios.. Aqui zer uma distingdo entre estado e nagao. Comumente os termos “pats”, “nagio”, ¢ “estado” edo usados como se fossem sindnimos. Num sentido mais estrto, po- pode-se ¢ deve-se fazer uta distingo, Nagdo é a lingua, a cultura, os us0s, tos costumes, a tradigSo, ahist6ria, a indole de um povo. Estado € uma institu sao organizada politicamente, socialmente ejuridicamente, ocupando wm terri t6rio definido, normalmente onde a méxima é uma Constituigio escrita, edi rigida por um governo que possuisoberania reconhecida tanto interna como ex- ternamente. Pode haver ¢ hé nagao sem estado. Pensemos, hoje, nos palestinos, mos curdos. Ele io uma nagSo, mas nao sio um estado. Por outro lado, hi es rejosimpostosepostigos. Fé noslembrarmos na antiga lgeslivia, Este foi um trad critdo apés a Primeira Guerra Mundial reunindo povos e nagées diver sas: eslovenos, croatas, macedénios, sérvios... Quando houve possibilidade, aconteceu o desmembramento de rodos esses povos que constituiram estados novos ¢ independentes. No mundo atual ainda hé muitas nacées sem estado também estados que retinem diferentes nagées. Essa situagdo € uma fonte de conflitos permanentes. ois bem, os gregos consttuiam uma nacio, mas no um estado ico. AS ci- dades-Estado greges, independentes entre si do ponto de vista politico, forma- ‘vam vitios estados espalhados em varias regides e tinham consciéncia de consti tufrem um todo cultural, uma nagéo, 2.2. Evolucéo da Grécia Coseuma-se dividi yetfodo que vamos aprofundar da filosofia grega antiga em trés fases. A primeira, chamada de Idade de Bronze, compreende o perfodo de 3000 2 1200 a.C., durante a qual loresceram as cvilizagdes minoana e micenia- na. A segunda, [dade Média grega, compreendida de 1.100 a 900 a.C., quando se registraram vérios surtos migratérios no Mediterraneo. A terceira c tltima, Idade do Renascimento, que abrange o perfodo do século IX-VIII ao século i a.C., que assinala o triunfo da civilizagio helénica e a colonizacio, pelos povos da Hélade, de quase todo 0 mundo mediterrineo e das costas ocidentais da Asia Menor. 2.2.1 Ci \¢4o minoana e miceniana Por volta do ano 3000 a.C., colonizadores procedentes da Mesopotémia, ainda no estigio neolitico, ocuparam Chipre, Greta, algumas das Ciclades e éreas orientais da Grécia Co do 0 uso do cobre, Essa ci izagio, que teve como centro politico ¢ cultural ‘Chossos, em Creta, atingiu sua plenitude no século XV a.C. Aantiga denomina- io desse povo é desconhecida, mas a maioria dos historiadores, baseados em Homero, refere-se a uma civilizagio minoana, descendente de Minos. Ha difi 19 ‘culdade de aprofundar as caracteristicas dessa populagio porque a escrita linear Jnventada pelos cretenses ainda nao foi decifrada, Os nicleos populacionais de algumas das Ciclades e das regides mais quentes da Grécia Continental reccberam, a partir de 2600 a.C., novas ondas de coloniza- J6rios e solidos) izagio, que floresceu em Micenas (Pelopone- dores asidticos, que se misturaram a0s gregos ou helenos (j6nios, dando origem @ uma vigorosa ci 0); Tirintae Pilos entre 1650 e 1125 a.C. Registros em escrita miceniana, parc mente decifrada, revelam que o grego era a lingua dos governantes e que pelo me- nos alguns dos deuses olimpicos nomeados por Homero jé eram entio culeuados. O declinio do comér fia, Troia, Siia e Egito¢ o desastreiniciado com organizagbes heterogéneas que a historia das migragées dos indo-europeus fez se encontrarem, um dia, nos solos da Grécia. De wm lado, temos o sistema pala- iano cretense. De outro, est a realidade dos grupos helénicos organizados em |, fratria (conjunto de famslias pa- ~ povos) rentes) ¢ tribo, nas muitas ald ‘Dem lado, 0 palicio, 0 re. Dele tudo depende. O rei € a sltima palavra em todos os setores da vidai 0 econdmico, o administrativo, 0 pol jos0. Vém depois os guerreiros. Eles constituem 0 séquito do r mas, 20 mesmo tempo, exercem fangdes administrativas, pois estéo 3 frente das unida- des militares, Hé ainda os possuidores de terra, attulo particular, num sistema semelhante ao sistema feudal De outro lado, encontramos as aldeias ou démoi (povos). Ai viviam agri tores ¢ pastores. Vigorava o sistema comunal de posse da terra. A terra ndo era propriedade de ninguém, mas era de uso com mia relativa. Em todas hi um rei que nao mora em paléicio. Controla todo o sis- Na aldeia ibera com ele . Cada aldeia tem uma autono- tema tributério e, como vassalo, paga seu tributo ao rei do pal existe um conselho de vellios, a geroussia, que assessora o rei d £ constituido por chefes das casas mais influentes. 2.2.2 O advento das cidades-fstado Os dois tipos de organizagio, de certa maneira superpostos, mas articula- dos, coexistiram a0 longo de todo o perfodo micénico ¢ desmoronaram com a i ij i ‘ entrada dos dérios em cena, Entre 1.200 ¢ 1.100 a.C., chegam os dérios & Gré ‘Ga e ilhas do Mar Egeu, Desmorona o sistema palaciano, desarticulam-se as a vidades comerciais e 0 artesanato. Desaparecida a organizagio palaciana centra- saadora, cada cidade se organiza como centro auténomo. No final do século VII, é esto delineados os tragos da cidade-Estado, insti- tuigdo que caracterizaré o helenismo. Ela € fruto de dois movimentos conjugados: o desaparecimento do sistema palaciano centralizador ¢ o desagregar-se do siste- ma de parentesco dominante nas aldeias ou povos. Aos poucos, a posse da terra -yaj deixando de ser comunitéria e passando para as mios do primogénito. Agora a terra ndo é mais propriedade de todos, mas de uma pessoa. A heranga é passada do pai para o filho mais velho, Isto vai gerar problemas sérios de migragdo e tera ‘como consequéncia a fundagio, crescimento e consolidacio das cidade. Isto fer com que a0 lado do cultivo ¢ do desenvolvimento da agricultura

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