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Parametros de corte Na aula passada, vooé aprendeu que usinagem é todo o proces- 80 de fabricagéo pelo qual o formato de uma pega € modificado pela remogao progressiva de cavacos ou aparas de material. Vo- é aprendeu, também, que peas metalicas brutas produzidas por outros processos como fundigo e forjamento, normalmente pas- sam por operagées de usinagem que Ines conferem tanto exati- do de formas e de dimensées quanto acabamento de superficie. Um bom exemplo disso é 0 bloco de motor, que é fundido e de- pois tem os alojamentos das camisas (dentro das quais se movi- mentarao os pistdes), as faces e 0s mancais usinados com limites de exatidao muito rigorosos. Para que isso acontega, uma ferra- menta de corte em forma de cunha é forgada através do metal para remover cavaco da superficie. O resultado obtido so super- ficies geometricamente perfeitas Mas (existe sempre um “mas") dentro desse principio aparente- mente simples, muitas informagées tecnolégicas estdo contidas. Por exemplo: vamos supor que em uma operagao de furar algum material, 0 operador perceba que, ao retirar a broca do furo, ela mudou de cor, Ficou azulada, Quando a operagao foi iniciada, ela estava perfeita. O que sera que aconteceu? \Vocé sé vai saber a resposta, se estudar esta aula. Os parametros Toda empresa, quando fabrica alguma coisa, visa lucro, Para que isso aconteca, é preciso que ela produza bem e barato. E produ- 7 zir bem e barato significa ndo sé ter bons funcionarios, boas insta- lagées e maquinario modemo, E necessario que todo esse patri- ménio seja usado da maneira mais produtiva possivel. Um dos modos de garantir isso é aplicando © conhecimento tecnolégico ligado ao processo de fabricagao adotado, Por exemplo, se a empresa produz pegas por usinagem, muitos dados técnicos devem ser considerados para um bom resultado em termos de produto. A pergunta de nossa aula é “por que a broca ficou azulada"? Por enquanto nao vamos dar a resposta, mas podemos adiantar que 0 erro do operador foi deixar de con siderar uma série de dados antes de comegar a operaco. Esses dados s4o os parémetros de corte. Parametros de corte so grandezas numéricas que representam valores de deslocamento da ferramenta ou da pega, adequados a0 tipo de trabalho a ser executado, ao material a ser usinado a0 material da ferramenta. Os parémetros ajudam a obter uma perfeita usinagem por meio da utlizago racional dos recursos oferecidos por determinada maquina-ferramenta Para uma operagdo de usinagem, o operador considera princi. palmente os parametros: + velocidade de corte, identificada por ve; + avango, identificado pelas letras s, ou f. ‘S40 esses os parametros que estudaremos com mais detalhes nesta aula. ‘Além desses, ha outros parametros mais complexos tecnicamen- te e usados em nivel de projeto. Eles so: + profundidade de corte, identificada pela letra a. E uma grande- za numérica que define a penetracao da ferramenta para a rea- lizagao de uma determinada operago, permitindo a remogo de uma certa quantidade de cavaco; + area de corte, identificada pela letra A; + pressio especifica de corte, identificada pelas letras Ks. E um valor constante que depende do material a ser usinado do es- tado de afiagao, do material e da geometria da ferramenta, da 18 rea de segdo do cavaco, da lubrificagao e de velocidade de corte. & um dado de tabela; + forga de corte, identificada pela sigla Fe; + poténcia de corte, ou Pe, A determinagao desses parametros depende de muitos fatores: 0 tipo de operagao, o material a ser usinado, o tipo de maquina- ferramenta, a geometria e o material da ferramenta de corte. Além disso, os parémetros se inter-relacionam de tal forma que, para determinar um, geralmente, ¢ necessério conhecer os ou- tros. Como e quando determinar a velocidade de corte e o avango da maquina é 0 assunto da préxima parte desta aula. Antes disso, leia esta primeira parte e faca os exercicios a seguir. Pare! Estude! Respondal Exercicios Responda, a) O que é necessario para uma empresa produzir bem & barato? b) © que 0 operador deve considerar antes de iniciar a ope- ragao de corte? ©) O que sdo parametros de corte? d) Quais so os dois parémetros que o operador n&o pode deixar de considerar ao realizar uma operago de usina- gem? 2. Relacione a coluna A (parametros) com a coluna B (repre- sentago do parmetros) Coluna A ColunaB a) () Poténcia de corte 1. souf b) ( ) Area de corte 2 ve ©) () Avango 3. Pc d) (.) Forga de corte Aa e) () Profundidade de corte 5A f) (_) Pressdo especifica de corte 6. Fe 9) (_) Velocidade de corte 7. Ks 19 Velocidade de corte De certa forma, o corte dos materiais para construgéo mecanica se parece com 0 corte de uma fatia de pao, Para cortar 0 pao, a faca ¢ movimentada para frente e para tras, © a cada “passada" penetra um pouco mais no pao até finalmente corté-lo. Na usinagem, o metal (ou outro material) é cortado mais ou me- nos do mesmo modo. Dependendo da operagao, a superficie da pega pode ser deslocada em relagao a ferramenta, ou a fer menta 6 deslocada em relagao a superficie da pega. Em ambos 0s casos, tem-se como resultado 0 corte, ou desbaste do materi- al. E para obter 0 maximo rendimento nessa operago, é neces- sério que tanto a ferramenta quanto a pega desenvolvam veloc. dade de corte adequada Velocidade de corte é o espago que a ferramenta percorre, cor- tando um material dentro de um determinado tempo. Uma série de fatores influenciam a velocidade de corte: + tipo de material da ferramenta; + tipo de material a ser usinado; + tipo de operagao que seré realizada; + condigées de reftigeragao; + condigées da maquina etc. Embora exista uma formula que expressa a velocidade de corte, ela é fornecida por tabelas que compatibilizam o tipo de operagao com o tipo de material da ferramenta e 0 tipo de material a ser usinado, Essas tabelas so encontradas no livro Calculo Técnico do Telecurso 2000. Quando 0 trabalho de usinagem ¢ iniciado, & preciso ajustar a rpm (numero de rotagSes por minuto) ou o gpm (numero de gol- es por minuto) da maquina-ferramenta, Isso é feito tendo como dado basico a velocidade de corte 20 Recordar é aprender Para calcular 0 niimero de rpm de uma maquina, emprega-se a formula: ve» 1000 rpm = “e_+_1000 Para calcular 0 niimero de gpm, emprega-se a férmula: gpm = Y= 1000 2.¢ A escolha de velocidade de corte correta & importantissima tanto para a obtengao de bons resultados de usinagem quanto para a manutengo da vida util da ferramenta e para o grau de acaba mento, A velocidade de corte incorreta pode ser maior ou menor que a ideal. Quando isso acontece, alguns problemas ocorrem. Eles esto listados a seguir Velocidade maior 4. Superaquecimento da ferramenta, que perde suas caracteristicas de dureza e tenacidade. 2, Superaquecimento da peca, gerando modificagao de forma e dimensdes da su- perficie usinada. 3. Desgaste prematuro da ferramenta de corte 1 \Velocidade menor © corte fica sobrecarregado, gerando travamento e posterior quebra da ferra- menta, inutlizando-a e também a pega usinada, Problemas na maquina-ferramenta, que perde rendimento do trabalho porque es- 18 sendo subutiizada Mas, voltemos @ broca do inicio da aula. Agora, vocé ja pode ar riscar um palpite sobre o motivo que fez a broca ficar azulada. Isso mesmo! A velocidade de corte usada era muito alta, Por isso, a temperatura de corte aumentou excessivamente @ alterou as caracteristicas de ferramenta, ou seja, ela perdeu a dureza. Avango Voltemos ao exemplo inicial do corte da fatia de pao, Da mesma forma que no se pode obter a fatia do po de um sé golpe, 0 21 trabalho de usinagem também nao é realizado de uma sé vez Isso acontece porque a ferramenta é muito mais estreita que a superficie a ser trabalhada, Por isso, & necessario que a ferra- menta percorra varias vezes seu trajeto, & pequena distancia e paralelamente ao percurso anterior. Assim, uma vez estabelecida a velocidade de corte, o operador deve compatibilizé-la com 0 avango da ferramenta ou da pega. O avango nada mais é que a velocidade de deslocamento de uma em relagdo @ outra a cada roto do eixo da maquina (mm/rotago). © avango pode, também, se referir ao espago em que a pega ou a ferramenta se desloca uma em relagao a outra a cada golpe do cabegote da maquina-ferramenta (mmigolpe) mmigolpe Esses valores esto reunidos em tabelas, publicadas em catélo- gos fornecidos pelos fabricantes das ferramentas. Eles esto re- lacionados com 0 material a ser usinado, a ferramenta e a opera- 0 de usinagem. E preciso lembrar que a primeira condi¢&o para a usinagem & que a ferramenta cortante seja mais dura do que o material usinado. Assim, usando a ferramenta de corte correta e os paraémetros adequados, nao ha como errar. Além disso, € necessario que o cavaco se desprenda de tal maneira que a superficie apresente as caracteristicas de acabamento e exatidio de medidas ade- quados a finalidade da pega, Vocé que esta superligado nesta aula, deve ter percebido que 0 cavaco ja foi citado algumas vezes. Ele € mesmo muito importan- te na usinagem. Por isso, ele val ficar para a proxima parte desta aula. 22 Pare! Estude! Respondal Exercicios 3. Responda as seguintes perguntas. a) O que € velocidade de corte? b) Cite ao menos trés fatores dos quais a velocidade de corte sofre influéncia. ¢) Cite ao menos trés problemas que ocorrem na usinagem por causa da velocidade de corte inadequada. 4. Complete as seguintes afirmagées. a) Bons resultados de usinagem como maior da ferramenta e melhor grau de da pega so obtidos com a escolha da de corte correta b) Na usinagem, a ferramenta deve ser sempre mais em relago a0 usinado. ¢) Avango da ferramenta € 0 deslocamento da ou da | uma em relagao a outra a cada rota 40 do eixo da maquinal.......), OU 0 espago em que a pega ou a ferramenta se desioca uma em relagdo a ote tra a cada golpe da maquina (..../o.0) Olha 0 cavaco ai, gente! © cavaco ¢ 0 resultado da retirada do sobremetal da superficie que esta sendo usinada. Pelo aspecto e formato do cavaco pro- duzido, € possivel avaliar se 0 operador escolheu a ferramenta com critério técnico correto e se usou os parametros de corte @- dequados. A quebra do cavaco necessdria para evitar que ele, ao nao se desprender da pega, prejudique a exatidao dimensional 0 acabamento da superficie usinada. Para faciltar a quebra do cavaco, € necessario que 0 avango e a profundidade de corte estejam adequados, 23 Em condigSes normais de usinagem, a formagao do cavaco ocor- re da seguinte maneira: 1. Durante a usinagem, por causa da penetragao da ferramenta na pega, uma pequena porgao de material,(ainda preso pe- 9a) € recalcada, isto é, fica presa contra a superficie da saida da ferramenta. 2. © material recalcado softe uma de-| 7 formagéo plastica que aumenta pro-| { gressivamente, até que as tensées de ee cisalhamento se tomam_ suficiente- mente grandes para que o desliza- mento comece. 3. Com a continuagao do corte, hé uma ruptura parcial ou com- pleta na regio do cisalhamento, dando origem aos diversos tipos de cavacos. 4, Na continuaco da usinagem e devido ao movimento relativo entre a ferramenta e a pega, inicia-se o desprendimento do cavaco pela superficie de saida da ferramenta, Simultanea- mente outro cavaco comega a se formar. Os cavacos podem ser diferenciados por seu formato em quatro tipos basicos: => a) cavaco em fita; Bs 1 |b) cavaco helicoidal x ©) cavaco espiral &y ba ° 4) cavaco em lascas ou pedagos. acts Fms © cavaco em fita pode provocar acidentes, ocupa muito espago e 6 dificil de ser transportado. © formato de cavaco mais convent ente é o helicoidal 24 Além do formato, quatro tipos basicos de cavacos podem ser for- mados de acordo com as caracteristicas fisicas do material e os parametros de corte usados. O quadro a seguir resume as infor- mages sobre esses tipos. Tipos de cavaco Formacao Material Cisathadog— {| XS Forma-se na usinagem de ma- terials dicteis e tenazes, com 0 emprego de grandes avangos ‘velocidades de corte geralmen- te inferiores a 100 m/min. ‘Agos liga e ago-carbono| De aang {i Forma-se na usinagem de ma- teriais frageis com avango & ‘velocidade de corte inferiores 208 anteriores. Ferro fundido, bronze duro, latao Continuo Forma-se na usinagem de ma- terials ductels e homagéneos, ‘com 0 emprego de avango mé- dio e pequeno da ferramenta, & ‘com velocidade de corte geral- mente superior a 6Onvmin ‘Ago com baixo teor de carbo- no @ aluminio, ‘Cavaco continuo com aresta postiga (ou gume postigo) 3 SSL E constituida por um depésito de material da pega que adere a face de corte da ferramenta, € que ocorre durante © escoa- mento da apara continua. ‘Ago com baixo tear de carbo- no Embora inevitével, 0 cavaco se torna indesejavel tao logo & pro- duzido, Sua presenca na regio de corte pode danificar a ferra- menta ou a superficie da pega usinada, Assim, por exemplo, a aresta postica, ou falsa apara, que é um depésito de material ade- rido @ face da ferramenta, toma-se uma falsa aresta cortante que varia constantemente durante a realizagao do corte. Ela é devida a.um forte atrito entre 0 cavaco e a ferramenta, que produz 0 ar- rancamento de pequenas particulas de metal quente do cavaco e que acabam se soldando no gume da ferramenta. 28 Na usinagem caracterizada por esse tipo de cavaco, a superficie da pega fica coberta de fragmentos adjacentes, compridos e par- cialmente aderidos a essa superficie, que fica aspera, O grau de aspereza é tanto maior quanto maiores S80 0s fragmentos. Esse tipo de cavaco pode ser evitado escolhendo-se adequadamente a espessura do cavaco, a temperatura de corte e angulo de saida, a superficie de saida da ferramenta, e o lubrificante proprio. © cavaco do tipo continuo na maioria dos casos é indesejavel, porque & muito grande e pode causar acidentes. Além disso, ele: + prejudica o corte; + provoca quebra da aresta de corte; + dificuta a refrigeragao direcionada; + dificutta 0 transporte; + faz perder o fluido de corte; + prejudica o acabamento. Para atenuar esses efeitos, empregam-se os quebra-cavacos, que so ranhuras formadas na face da ferramenta de corte. Ou, entdo, séo pegas de metal duro preso a ferramenta. Na verdade, os quebra-cavacos nao “quebram” os cavacos, mas s “encrespam" contra uma obstrugao, Essa obstrugao quebra os cavacos a intervalos regulares. quebra-cavacos ferramenta de carboneto 26 s tipos mais comuns de quebra-cavacos so a) quebra-cavaco usinado 7 diretamente na ferramen- ta ‘quebra-cavaco b) quebra-cavaco fixado vetr-cavacy mecanicamente; = (= ©) quebra-cavaco em pasti- iha sinterizada, ‘quebra-cavaco (Os quebra-cavacos reduzem 0 contato entre a apara quente ¢ a ferramenta, reduzindo a transferéncia da calor para a ferramenta Além disso, as aparas quebradas oferecem uma obstrugdo muito menor ao fluxo do fluido de corte sobre a aresta de corte, Outras vantagens do uso do quebra-cavacos so 0 menor risco de aci- dentes para 0 operador, a maior facilidade de remogao dos cava- cos e sua manipulagao mais econémica Uma vez estabelecidos os parametros de corte e controlado 0 problema da remogao dos cavacos, o bom resultado da usina~ gem passa a depender, entéo, da redugdo do atrito entre a ferra- menta € 0 cavaco, e 0 calor gerado durante o corte. Essa 6 a fun 40 dos fluidos de corte. Mas essa é uma outra historia que fica para a préxima aula. Por enquanto, fique com os nossos exercl clos, e bom estudo! 27 Pare! Estude! Respondal Exercicios 5. Responda as seguintes perguntas. a) O que é cavaco? b) Que caracteristicas do cavaco indicam se 0 operador usou os parametros de corte adequados? ¢) Quanto ao formato, quais so os tipos de cavacos que existem? d) Qual a fungao dos quebra-cavacos? @) Cite ao menos duas vantagens do uso do quebra-cavaco. 6. Associe 0 tipo de cavaco (Coluna A) com sua formagao e ma- terial que 0 produz (Coluna B) Coluna A Coluna B a) ( ) continuo 1. Grandes avangos e ve inferior a 100m/min. Materiais ducteis, ferro maleavel, aco. b) () cisalhado 2. Avango e ve pequenos. Materiais frageis, ferro fundido, latéo. 3. Depésito de material da pega que adere a ferramenta. Aco de ©) () ruptura baixo carbono, 4, Avango médio e ve superior a 60 m/min, Materiais homogé- eos, ago de baixo carbono e aluminio. Gabarito |. a) E necessério fazer com que funcionarios, instalagdes maquindrio moderno sejam usados da maneira mais pro- dutiva possivel. b) Ele deve considerar os parametros de corte. ¢) Parametros de corte so grandezas numéricas que repre- sentam valores de deslocamento da ferramenta ou da pe- ga, adequados ao tipo de trabalho a ser executado ao ma- terial a ser usinado ao material da ferramenta, d) Velocidade de corte e avango. 28

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