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Prefeitura de Itupeva Memorando n° 152/2021 Itupeva, 13 de maio de 2021. : Secretaria Municipal de Assuntos Juridicos Para: Secretaria Municipal de Obras / Secretaria Municipal de Meio Ambiente / Divisao de Regularizagao Fundiaria Senhores Secretarios, Senhora Diretora, Para fins de conhecimento, tomo a liberdade de enviar recente deciséo do Superior Tribunal de Justiga - STJ, em sede de recursos repetitivos, portanto com repercussao geral, acerca dos limites a serem observados para o licenciamento de construges 4s margens de cursos de agua Desse modo, pelo decidido, prevalece a disposigao contida no Cédigo ‘Floresta’ e, © nos-_futuros, licenciamentos/regularizagées, ha que ser observada, a despeito de eventual disposigao em contrario na legislagéo municipal. Respeitosamente, Virgini jal Secretaria Municipal de Assuntos Juridicos Interina ‘hv. Eduardo Anibal Lourecon, 15, Parque das Vinhas | Itupeva, SP | CEP 13295-000 | Fone (11) 4591-8100 Bvequil PS08 eb olen eb Ef sveqaut PSOSISS? °n cbnstomemM eooibhul, sofnused sb taqiainuM shatesse2 oC cieM ob tsgicinuM shiktoroe® \ asicO ob legicinull shatewek ce69 shaibnu o8gashstugest eb ofeiviG | eineidmA WoteiO morinse sohatswee esrorine? ‘9b ebebredi © omot omertiderinas eb an? mint 90 ober me LTZ ~ epiteul eb tenudhT rehequ? ob ofsineh eitiabes 1sivie “marae 8 eetirl ecb seas mop ofeeumeqe: moo oInEhoy wovitene) soenie6 supA sb Bonu sb anogiem af aBbguMEnas ob otnemeinedl o mq dobaIEEdS & sostavery .ctilbiveh leq obo seest fowht — 2678 ataenOF © opib8 ~— on bitnay agai Teuineve 9b oflaqesd 2 ,ebevieede ves sup ait eecoashelupeheaiemntoneslt Jegsiumofsteigs en chinines me obgigoge ° »sSinemmzafiaqasA enftain! eooibhwl soinuasA sb shite? Goi@-102h (1) awe? | GOO-2ESEN WED | AR bregutl } ene nod agri 2: Jongenwe. laixA atau ik aie RECURSO ESPECIAL N° 1.770.760 - SC (2018/0263124-2) RELATOR : MINISTRO BENEDITO GONGALVES RECORRENTE —: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. RECORRIDO JAIR CLAUDINO ACLINO RECORRIDO DARCT SUMARIVA ACLINIO ADVOGADOS __: AISLAN GONCALVES GARCIA - $C040235 INTERES. VOLMIR DE MOURA -SC040211 : MUNICIPIO DE RIO DO SUL ADVOGADOS _: TIAGO ROPELATTO MACEDO E OUTRO(S) - SC035013 INTERES. RICARDO PEREIRA - SC037428 : CAMARA BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO - "AMICUS CURIAE" ADVOGADOS —_: MARCOS ANDRE BRUXEL SAES - SC020864 INTERES. ANA PAULA SIGOUNAS MUHAMMAD - $C050452 MANUELA KUHNEN HERMENEGILDO ANDRIANI - $C044175 GLEYSE DOS SANTOS GULIN - RJ172476 NELSON TONON NETO - RJ221813 ALINE REGINA LIMA DE BARROS - RJ226303 : CONFEDERACAO NACIONAL DE MUNICIPIOS - "AMICUS CURIAE" ADVOGADO PAULO ANTONIO CALIENDO VELLOSO DA SILVEIRA - INTERES. RS033940 : UNIAO - "AMICUS CURIAE” EMENTA RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. AMBIENTAL. CONTROVERSIA A ESPEITO DA INCIDENCIA DO ART, 4°, I, DA LEI N, 12.651/2012 (NOVO CODIGO FLORESTAL) OU DO ART. 4°, CAPUT, IIL, DA LELN. 6.766/1979 (LEI DE PARCELAMENTO DO SOLO URBANO). DELIMITACAO DA EXTENSAO DA FAIXA NAO EDIFICAVEL A PARTIR DAS MARGENS DE CURSOS D'AGUA NATURAIS EM. TRECHOS CARACTERIZADOS COMO AREA URBANA CONSOLIDADA. 1. Nos termos em que decidido pelo Plenario do STJ na sessio de 9/3/2016, aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisdes publicadas a partir de 18 de margo de 2016) serao exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma ncle prevista (Enunciado Administrativo n. 3). 2. Discussio dos autos: Trata-se de mandado de seguranga impetrado contra ato de Seeretério Municipal questionando o indeferimento de pedido de reforma de imével_ derrubada de casa para construgio de outra) que dista menos de 30 (trinta) metros do Rio Itajai-Agu, encontrando-se em Area de Preservagdo Permanente urbana. O acérdio recorrido negou provimento ao reexame necessiio e manteve a concessao da ordem a fim de que seja observado no pedido administrativo a Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei n. 6,766/1979), que prevé o recuo de 15 (quinze) metros da margem do curso d’égua. 3. Delimitagio da controvérsia: Extensio da faixa nio edificavel a partir das margens de cursos d’égua naturais em trechos caracterizados como drea urbana consolidada: se corresponde a area de preservac%o permanente prevista no art. 4°, I, da Ministros da Sgpein Sribenal de festive linea "a", da revogada Lei n. 4.771/1965) °, caput, Ill, da Lei n. 6. a incidir sobre 0 caso deve garatia methor mals fear natural e ao meio ambiente artificial, em cumprimento ao disposto no a F/1988, sempre com os olhos também voltados a0 5, O art. 4°, caput, inciso I, da Lei n, 12.651/2012 mantém-se higido no sistema normativo federal, aps os julgamentos da ADC n. 42 ¢ das ADIs ns. 4.901, 4.902, 4,903 e 4.937. 6. A disciplina da extensdo das faixas marginais a cursos d'igua no meio urbano foi apreciada inicialmente nesta Corte Superior no julgamento do REsp 1.518.490/SC, Relator Ministro Og Femandes, Segunda Turma, DJe de 15/10/2019, precedente esse que solucionou, especificamente, a antinomia entre @ norma do antigo Cédigo Florestal (art. 2° da Lei n, 4,771/1965) e a norma da Lei de Parcelamento do Solo Urbano (art. 4°, III, da Lei n. 6766/1976), com a afirmagao de que o normativo do antigo Cédigo Florestal é o que deve disciplinar a largura minima das faixas marginais ‘a0 longo dos cursos d'égua no meio urbano. Nesse sentido: Resp 1.505.083/SC, Rel. Min, Napoledo Nunes Maia Filho, Primeita Turma, Dje 10/12/2018; Agint no REsp 1.484,153/SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, DJe 19/12/2018; REsp 1.546 415/SC, Rel. Min, Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 28/2/2019; e Agint no REsp 1.542.756/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 2/4/2019. 7. Exsurge inarredivel que a norma inserta no novo Cédigo Florestal (art. 4°, caput, inciso 1), a0 prever medidas minimas superiores para as faixas marginais de qualquer curso d°agua natural perene e intermitente, sendo especial e especifica para o caso em face do previsto no att. 4°, Il, da Lei n. 6,766/1976, é a que deve reger a protegtio das 'APPs ciliares ou ripérias em Areas urbanas consolidadas, espagos territoriais especialmente protegidos (art. 225, Il, da CF/1988), que ndo se condicionam a fronteiras entre o meio rural ¢ 0 urbano. 8. A supervenincia da Lei n. 13.913, de 25 de novembro de 2019, que suprimiu a expressiio “[..] salvo maiores exigéncias da legislagdo especifica.” do inciso IMT do art. 4 da Lei n, 6.766/1976, no afasta a aplicagao do art. 4°, caput, e I, da Lei n. 12.651/2012 as reas urbanas de ocupagio consolidada, pois, pelo eritério da especialidade, esse normative is “10. Recurso especial conhecido e provido. 11, Acérdto sujeito 20 regime previsto no art. 1.036 e seguintes do CPC/2015. ACORDAO Vistos, relatados ¢ discutidos os autos em que siio partes as acima indicadas, acordam os imeira Segio do Superior Tribunal de Justiga por unanimidade, conhecer ¢ dar Chane cums gina Spin Sribunalde fasta provimento ao recurso especial para, nos termos do art. 487, I, do CPC/2015, julgar improcedente 0 pedido contido na inicial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Assusete Magalhaes, Regina Helena Costa, Gurgel de Faria, Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF-5* Regidio), Francisco Faleio, Herman Benjamin, Og Femandes ¢ Mauro Campbell Marques votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o julgamento o Sr, Ministro Sérgio Kukina. Brasilia (DF), 28 de abril de 2021 (Data do Julgamento) MINISTRO BENEDITO GONGALVES. Relator Came eek neds sta eral es FL__ CERTIDAO DE JULGAMENTO PRIMEIRA SECAO Numero Registro: 2018/0263124-2 PROCESSO ELETRONICO REsp 1.770.760/SC Nameros Origem: 03052706220168240054 0305270622016824005450000 3052706220168240054 305270622016824005450000 EM MESA JULGADO: 09/12/2020 Relator Exmo, Sr, Ministro BENEDITO GONGALVES, Presidente da Sesséo Exmo, Sr. Ministro BENEDITO GONGALVES, ‘Subprocuradora-Geral da Repiblica Exma, Sra. Dra. SANDRA VERONICA CUREAU Secretaria Bela. BARBARA AMORIM SOUSA CAMUNA AuTUAGAO RECORRENTE MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA RECORRIDO JAIR CLAUDINO ACLINO| RECORRIDO DARCI SUMARIVA ACLINIO ADVOGADOS: AISLAN GONGALVES GARCIA - $C040235, VOLMIR DE MOURA - SC040211 INTERES. MUNICIPIO DE RIO DO SUL ADVOGADOS TIAGO ROPELATTO MACEDO E OUTRO(S) - $C035013 RICARDO PEREIRA ~- SC037428 INTERES. CAMARA BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO - "AMICUS ‘CURIAE" ADVOGADOS. MARCOS ANDRE BRUXEL SAES - SC020864 ANA PAULA SIGOUNAS MUHAMMAD - SC050452 MANUELA KUHNEN HERMENEGILDO ANDRIANI - SCO44175 GLEYSE DOS SANTOS GULIN -RJ172476 NELSON TONON NETO - RJ221813, ALINE REGINA LIMA DE BARROS. - RJ226303 INTERES. CONFEDERAGAO NACIONAL DE MUNICIPIOS - "AMICUS CURIAE" ADVOGADO PAULO ANTONIO CALIENDO VELLOSO DA SILVEIRA - RS033940) INTERES UNIAO - "AMICUS CURIAE” ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATERIAS DE DIREITO PUBLICO - Meio ‘Ambiente - Area de Preservago Permanente CERTIDAO Certifico que a egrégia PRIMEIRA SECAO, ao apreciar 0 proceso em epigrafe na sessao realizada nesta data, proferiu a seguinte deciséo: Adiado por falta de tempo habil para julgamento, 2018/0263124-2 - REsp Cpa lenalde Jasiige ST % Sw Fi. CERTIDAO DE JULGAMENTO PRIMEIRA SEGAO Namero Registro: 2018/0263124-2 PROCESSO ELETRONICO REsp 1.770.760/SC Numeros Origem: 03052706220168240054 0305270622016824005450000 3052706220168240054 '305270622016824005450000 PAUTA: 10/02/2021 JULGADO: 10/02/2024 Relator Exmo. Sr. Ministro BENEDITO GONGALVES, Presidente da Sessao Exmo, Sr, Ministro SERGIO KUKINA ‘Subprocurador-Geral da Republica Exmo. Sr. Dr. BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS Secretaria Bela, MARIANA COUTINHO MOLINA AUTUAGAO RECORRENTE MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA RECORRIDO JAIR CLAUDINO ACLINO RECORRIDO DARCI SUMARIVA ACLINIO ADVOGADOS AISLAN GONCALVES GARCIA - SC040235 VOLMIR DE MOURA - $C040211 INTERES, MUNICIPIO DE RIO DO SUL ADVOGADOS TIAGO ROPELATTO MACEDO E OUTROS) - SC035013 RICARDO PEREIRA - SCO37428 INTERES, CAMARA BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO - "AMICUS CURIAE" ADVOGADOS MARCOS ANDRE BRUXEL SAES - SCO20864 ANA PAULA SIGOUNAS MUHAMMAD - SCO50452 MANUELA KUHNEN HERMENEGILDO ANDRIANI - SC044175 GLEYSE DOS SANTOS GULIN - RJ172476 NELSON TONON NETO -RJ221813 ALINE REGINA LIMA DE BARROS - RJ226303 INTERES CONFEDERAGAO NACIONAL DE MUNICIPIOS - "AMICUS CURIAE” ADVOGADO PAULO ANTONIO CALIENDO VELLOSO DA SILVEIRA - RS033040 INTERES, UNIAO - "AMICUS CURIAE" ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATERIAS DE DIREITO PUBLICO - Meio ‘Ambiente - Area de Preservagao Permanente CERTIDAO Certifico que a egrégia PRIMEIRA SEGAO, ao apreciar 0 processo em epigrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte decisao. ‘Adiado por indicagéo do Sr. Ministro Relator. RELATOR RECORRENTE RECORRIDO RECORRIDO ADVOGADOS INTERES. ADVOGADOS INTERES. ADVOGADOS a SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIGA RECURSO ESPECIAL N° 1770760 - SC (2018/0263124-2) : MINISTRO BENEDITO GONCALVES, : MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. JAIR CLAUDINO ACLINO : DARCI SUMARIVA ACLINIO : AISLAN GONGALVES GARCIA - $C040235 VOLMIR DE MOURA - $C040211 : MUNICIPIO DE RIO DO SUL : TIAGO ROPELATTO MACEDO E OUTRO(S) - $C035013 RICARDO PEREIRA - $C037428 CAMARA BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO - "AMICUS CURIAE" MARCOS ANDRE BRUXEL SAES - SC020864 ANA PAULA SIGOUNAS MUHAMMAD - $C030452 MANUELA KUHNEN HERMENEGILDO ANDRIANI - $C044175 GLEYSE DOS SANTOS GULIN - RJ172476 NELSON TONON NETO - R221813 ALINE REGINA LIMA DE BARROS - RJ226303 : CONFEDERACAO NACIONAL DE MUNICIPIOS - "AMICUS CURIAE" ADVOGADO PAULO ANTONIO CALIENDO VELLOSO DA SILVEIRA - RS033940 : UNIAO - "AMICUS CURIAE" EMENTA RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. AMBIENTAL. CONTROVERSIA A RESPEITO DA INCIDENCIA DO ART. 4°, I, DA LEIN. 12.651/2012 (NOVO CODIGO FLORESTAL) OU DO ART. 4°, CAPUT, IIL, DA LELN. 6.766/1979 (LEI DE PARCELAMENTO DO SOLO URBANO). DELIMITACAO DA EXTENSAO DA FAIXA NAO EDIFICAVEL A PARTIR DAS MARGENS DE CURSOS D'AGUA NATURAIS EM TRECHOS CARACTERIZADOS COMO AREA URBANA CONSOLIDADA. 1. Nos termos em que decidido pelo Plenétio do STJ na sesstio de 9/3/2016, aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisées publicadas a partir de 18 de margo de 2016) serdo exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma nele prevista (Enuneiado Administrativo n. 3), 2. Discusso dos autos: Trata-se de mandado de seguranga impetrado contra ato de Secretério Municipal questionando 0 indeferimento de pedido de reforma de imével (derrubada de casa para construgao de outra) que dista menos de 30 (trinta) metros do Rio Itajai-Agu, encontrando-se em Area de Preservacao Permanente urbana. O acérdio recorrido negou provimento ao reexame necessario e manteve a concessfio da ordem a fim de que seja observado no pedido administrative aLei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei n. 6.766/1979), que prevé o recuo de 15 (quinze) metros da margem do curso d’égua. 3. Delimitagao da controvérsia: Extensio da faixa no edificivel a partir das margens de cursos d'égua naturais em trechos caracterizados como érea urbana consolidada: se corresponde drea de preservago permanente prevista no art. 4°, I, da Lei n. 12.651/2012 (equivalente ao art. 2°, alinea "a", da revogada Lei n. 4.771/1965), cuja largura varia de 30 (trinta) a $00 (quinhentos) metros, ou ao recuo de 15 (quinze) metros determinado no art. 4°, caput, III, da Lei n, 6.766/1979. 4. A definigio da norma a incidir sobre 0 caso deve garantit a melhor ¢ mais eficaz protegdo ao meio ambiente natural e ao meio am |, em cumprimento 20 disposto no art. 225 da CF/1988, sempre com os olhos também voltados ao principio do desenvolvimento sustentivel (art. 170, VI) ¢ as fungées social e ecoldgica da propriedade. 5. O art. 4°, caput, inciso 1, da Lei n, 12.651/2012 mantém-se higido no sistema normative federal, apds os julgamentos da ADC n. 42 e das ADIs ns. 4.901, 4.902, 4.903 ¢ 4.937. 6. A disciplina da extensdo das faixas marginais a cursos d'dgua no meio urbano foi apreciada inicialmente nesta Corte Superior no julgamento do REsp 1,518.490/SC, Relator Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe de 15/10/2019, precedente ‘esse que solucionou, especificamente, a antinomia entre a norma do antigo Cédigo Florestal (art. 2° da Lei n, 4.771/1965) ¢ a norma da Lei de Parcelamento do Solo Urbano (art. 4°, III, da Lei n. 6.766/1976), com a afirmagao de que o normativo do antigo Cédigo Florestal € 0 que deve disciplinar a largura minima das faix: marginais a0 longo dos cursos d'égua no meio urbano. Nesse sentido: REsp 1.505.083/SC, Rel. Min. Napoleao Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 10/12/2018; AgInt no REsp 1.484.153/SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, DJe 19/12/2018; REsp 1.546,415/SC, Rel. Min. Og Fenandes, Segunda Turma, DJe 28/2/2019; ¢ Agint no REsp 1,542,756/SC, Rel. Min, Mauro Campbell Marques, Die 2/4/2019. 7. Exsurge inarredavel que a norma inserta no novo Cédigo Florestal (art. 4°, caput, ineiso 1), ao prever medidas minimas superiores para as faixas marginais de qualquer curso d’dgua natural perene e intermitente, sendo especial e especifica para 0 caso em face do previsto no art. 4%, Ill, da Lei n. 6.766/1976, & a que deve reger a protegdo das APPs ciliares ou ripdrias em éreas urbanas consolidadas, espagos territoriais especialmente protegidos (art. 225, III, da CE/1988), que nio se condicionam a fronteiras entre 0 meio rural e 0 urbano, 8. A superveniéncia da Lei n, 13.913, de 25 de novembro de 2019, que suprimiu a expresstio “[...] salvo maiores exigéncias da legislagio especifica.” do inciso III do art, 4° da Lei n. 6.766/1976, nio afasta a aplicagdo do art. 4°, caput, ¢ 1, da Lei n. 12.651/2012 as éreas urbanas de ocupagdo consolidada, pois, pelo critério da especialidade, esse normative do novo Cédigo Florestal é 0 que garante a mais ampla protegdo ao meio ambiente, em reas urbana e rural, € coletividade. 9. Tese fixada - Tema 1010/STJ: Na vigéncia do novo Cédigo Florestal (Lei n. 12.651/2012), a extensio nao edificdvel nas Areas de Preservagio Permanente de ‘qualquer curso d’4gua, perene ou intermitente, em trechos caracterizados como area urbana consolidada, deve respeitar 0 que disciplinado pelo seu art. 4°, caput, inciso I, alineas a, , c, dee, a fim de assegurar a mais ampla garantia ambiental a esses espagos territoriais especialmente protegidos e, por conseguint, it coletividade. 10. Recurso especial conhecido e provido. 11. Acérdao sujeito ao regime previsto no art. 1.036 e seguintes do CPC/2015. RELATORIO O SENHOR MINISTRO BENEDITO GONGALVES (Relator): Trata-se de recurso especial interposto pelo Ministério Pablico do Estado de Santa Catarina, com fundamento no art. 105, III, a, da Constituigao Federal, contra acérdao do Tribunal de Justiga do Estado de Santa Catarina, assim ementado (fl. 98): REEXAME NECESSARIO - MANDADO DE SEGURANGA - CONSULTA DE VIABILIDADE PARA CONSTRUCAO DE CASA DE ALVENARIA - NEGATIVA - EDIFICACAO QUE DISTA MENOS DE 30 METROS DO RIO ITAJAI-AGU - INAPLICABILIDADE DO CODIGO FLORESTAL AO CASO EM TELA - IMOVEL INSERIDO EM AREA URBANA CONSOLIDADA - AREA DE PRESERVACAO PERMANENTE DESCARACTERIZADA - INCIDENCIA DA LEI DE PARCELAMENTO DE SOLO URBANO, QUE PREVE AFASTAMENTO DE 15M (QUINZE METROS) DAS AGUAS’ CORRENTES - PRINCIPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE - PRECEDENTES DA CAMARA - VIOLACAO A DIREITO LiQUIDO E CERTO CONFIGURADA - CONCESSAO DA SEG UBANEA QUE SE IMPUNHA - ONUS DA SUCUMBENCIA - HONORARIOS ADVOCATICIOS - INCABIMENTO - LEI N. 12.016/2009, ART. 25; STE, SUMULA 512; E, STI, SUMULA 105 ~ CUSTAS PROCESSUAIS - ISENCAO - LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N. 156/197, ART. 33 - REMESSA OBRIGATORIA CONHECIDA E DESPROVIDA. O recorrente sustenta, em sintese, a ofensa aos arts. 4°, III, da Lei n. 6.766/1979 4°, I, c, da Lei n. 12.651/2012, apresentando os seguintes argumentos: (a) a faixa ndo edificavel prevista na Lei de Parcelamento do Solo Urbano & inferior ao limite minimo considerado para fins de preservagdo permanente previsto no novo Cédigo Florestal, que é, para 0 caso dos autos, de 100 (cem) metros "[...] esteja 0 curso d’agua inserido dentro dos limites de érea urbana ou rural (1 120)"; (b) aplicam-se os limites previstos no novo Cédigo Florestal, independentemente da drea urbana estar consolidada ou nao; (c) em caso como 0 dos autos a regra é a niio intervengio em APP ci lares, a excegdo s6 se eae em razdo de utilidade piblica ou interesse social (art. 8° da Lei n. 12.651/2012); ¢ (d) "[-] nfo poderia o Tribunal a quo, a nosso sentir, relativizar a incidéncia do direito ambiental ao permitir a edificagio de uma obra em drea de preservagao permanente (122)". Sem contrarrazdes, conforme certidao a fl. 128. A Corte de origem selecionou admitiu o recurso especial, nos termos do art. 1.036, § 1°, do CPC/2015. A Primeira Segao desta Corte Superior, com observancia dos arts. 1.036 a 1.041 do CPC/2015 ¢ 256-1 do RUSTIJ, admitiu a controvérsia sob n. 1010/STJ, nos seguintes termos (fl. 182): AMBIENTAL. PROPOSTA DE AFETACAO. RECURSO ESPECIAL. RITO DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS. EXTENSAO DA FAIXA NAO EDIFICAVEL A PARTIR DAS MARGENS DE CURSOS D'AGUA NATURAIS EM TRECHOS CARACTERIZADOS COMO AREA URBANA CONSOLIDADA. 1, Delimitago da controvérsia: Extenséo da faixa nao edificdvel a partir das margens de cursos d'igua naturais em trechos caracterizados como érea urbana consolidada: se corresponde a drea de preservagdo permanente prevista no art. 4°, [, da Lei n. 12.651/2012 (equivalente ao art. 2°, alinea ‘a’, da revogada Lei n. 4.771/1965), cuja largura varia de 30 (rinta) a 500 (quinhentos) metros, ou ao recuo de 15 (quinze) metros determinado no art. 42, capt, II, da Lei n. 6.766/1979. 2. Recurso especial afetado a0 rito do artigo 1.036 e seguintes do CPC/201S. Foram admitidos como amicus curiae a Camara Brasileira da Industria da Construgao - CBIC (fls. 402-405), com memoriais as fls. 201-343 e 996-1.002; a Confederag’o Nacional dos Municipios - CNM (fls. 1.587-1.589), com memoriais as fls. 1.490-1.533 e 1.611-1.619; ea Unio (f1s, 1.590-1.591), com memoriais as fls. 1.463-1.485, Nos termos do art. 256-J do RUSTJ, determinou-se que as Presidéncias dos Tribunais de Justiga dos Estados, do Distrito Federal ¢ dos Territérios ¢ dos Tribunais Regionais Federais informassem a respeito da jurisprudéncia local sobre o Tema 1.010/ST! (fl. 412). O Ministério Pblico Federal opinou pelo provimento do recurso especial, nos seguintes termos (fl. 190): RECURSO ESPECIAL AFETADO COMO REPRESENTATIVO DE CONTROVERSIA. MANDADO. DE SEGURANGA. CONSULTA DE VIABILIDADE PARA CONSTRUGAO DE CASA DE ALVENARIA. NEGATIVA. EDIFICACAO QUE DISTA MENOS DE 30 METROS DO RIO ITAJAI-AGU. I - MUITO EMBORA A LEI DE PARCELAMENTO DO SOLO URBANO TENHA DETERMINADO A OBSERVANCIA DO RECUO DE. 15 (QUINZE) METROS AO LONGO DOS CURSOS D'AGUA, A MENCIONADA NORMA DISPOS SEREM OBRIGATORIAS AS EXIGENCIAS MAIS. RIGOROSAS PRESENTES EM LEIS ESPECIFICAS, 0 QUE OCORRE NO CASO DO CODIGO FLORESTAL, QUE REGULAMENTA AS AREAS DE PRESERVACAO PERMANENTE. II - AS DISPOSICOES DO ART. 2%, DA LEI N° 4.771/1965 (CODIGO FLORESTAL REVOGADO) E DO ART. 4°, DA LEI N° 12.651/2012 (NOVO CODIGO FLORESTAL), IMPOEM QUE SEJAM RESPEITADAS AS AREAS DE PRESERVACAO PERMANENTE NAS ZONAS RURAIS E_ URBANAS, INDISTINTAMENTE, NOS LIMITES DISCIPLINADOS PELA. CODIFICAGAO (ART. 4, L, DA LEI N° 12.651/2012). Ill - PARECER PELO PROVIMENTO DO RECURSO ESPECIAL. Eo relatério. voTo © SENHOR MINISTRO BENEDITO GONGALYES (Relator): Nos termos em que decidido pelo Plenario do STJ na sesso de 9/3/2016, aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisées publicadas a partir de 18 de margo de 2016) serio exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma nele prevista (Enunciado Administrativo n. 3). No caso dos autos, o recurso especial preenche os pressupostos de admissibilidade, razio por que deve ser conhecido, ‘A controvérsia diz, respeito a qual norma deve ser aplicével para fins de definir a extenstio da faixa ndo edificavel a partir das margens de cursos d'jgua naturais em trechos caracterizados como area urbana consolidada: se corresponde a area de preservagio permanente prevista no art. 4°, I, da Lei n, 12.651/2012 (equivalente ao art. 2°, alinea "a", da revogada Lei n. 4.771/1965), cuja largura varia de 30 (trinta) a 500 (quinhentos) metros, ou ao recuo de 15 (quinze) metros determinado no art. 4°, caput, III, da Lei n. 6.766/1979. 0 tratamento da extensio da faixa nio edificdvel nas margens de cursos d'égua naturais em trechos caracterizados como area urbana consolidada esti umbilicalmente associado & definigao e as fungdes das Areas de Preservagio Permanente (APPs), que se incluem, constitucionalmente, entre os espagos territoriais “[..] a serem especialmente protegidos, sendo a alterago € a supresstio permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilizagaio que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua protegao (art. 225, § 1°, IIL, da CF/1988)”, e contribuem para assegurar a efetividade do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 1. O hist6rico legislativo, a definigio legal de Area de Preservacéo Permanente — APP, fungdes da APP ciliar ou riparia ¢ 0 ndo impacto na demanda do julgamento da ADC n. 42 e das ADIs ns, 4.901, 4,902, 4.903 ¢ 4.937. A protego contempordnea das florestas no Pais se inicia com a edigdo do Decreto n, 4.421, de 28 de dezembro de 1921, que criou o Servigo Florestal do Brasil, e tinha por objetivo a conservagio, o beneficiamento, a reconstituigdo, a formagaio ¢ aproveitamento das florestas. © Decreto n, 23.793/1934 ( protetoras que, por sua localizaga idigo Florestal de 1934) dispds a respeito da florestas erviam para: conservar 0 regime de Aguas; evitar a erosio das terras pelos agentes naturais; fixar as dunas; auxiliar a defesa das fronteiras; assegurar condigdes de salubridade pablica; proteger sitios que, por sua beleza, mereciam ser conservados ¢ asilar espécimes raros de fauna indigena (art. 4°). A previsio de conservagao do regime de Aguas associada a vegetagao denota a inicial preocupago do legislador de 1934 com a protegiio desses recursos naturais finitos e, porque nao dizer, introduz disciplina, ainda que embrionéria, da sustentabilidade dos recursos para as geragGes viventes a época ¢ futuras. Florestas protetoras, segundo a doutrina, foram 0 embrito do que atualmente compée 0 coneeito de APPS; todavia, a Epoca, nao se tratou a respeito do tamanho da drea, ainda que minima, a ser protegida. A partir do Cédigo Florestal de 1965 (Lei n. 4.771/1965), tem-se, entdo, a disciplina da Preservaco permanente das florestas e demais formas de vegetagio naturais, conforme localizago, com 0 estabelecimento de faixas minimas de vegetagio as margens dos cursos d'égua. Confiram-se, nas redagdes originais, os arts. 2° ¢ 3°: Art, 2° Consideram-se de preservarao permanente, pelo s6 efeito desta Lei, as florestas & demais formas de vegetagao natural situadas: ) ao longo dos rios ou de outro qualquer curso d'égua, em faixa marginal euja largura 1- de 5 (cinco) metros para os rios de menos de 10 (dez.) metros de largura: 2- igual a metade da largura dos cursos que megam de 10 (dez) a 200 (duzentos) metros de distancia entre as margens; 3- de 100 (cem) metros para todos os cursos cuja largura seja superior a 200 (duzentos) ‘metros. ’) ao redor das lagoas, lagos ou reservatérios d'égua naturais ou artificiais, ©) nas nascentes, mesmo nos chamados “olhos d'égua", seja qual for a sua situagio topogratica; 4) no topo de morros, montes, montanhas e serras; €) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive; 4) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; 8) nas bordas dos taboleiros ou chapadas; 1h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, nos campos naturais ou attificiais, as florestas nativas e as vegetagdes campestres. Art. 3° Consideram-se, ainda, de preservago permanentes, quando assim declaradas por ato do Poder Paiblico, as florestas e demais formas de vegetagto natural destinadas: a) a atenuar a erosdo das terras; b)a fixar as dunas; ©) a formar faixas de protego ao longo de rodovias e ferrovias; 4) a auxiliar a defesa do territério nacional a crtério das autoridades militares; ©) a proteger sitios de excepcional beleza ou de valor cientifico ou historieo: £) aasilar exemplares da fauna ou flora ameagados de extingao; £) a manter o ambiente necessério & vida das populagdes silvicolas; +) a assegurar condigdes de bem-estar piiblico. § 1° A supressdo total ou parcial de florestas de preservagao permanente s6 seré admitida com prévia autorizagdo do Poder Executivo Federal, quando for necesséria & execugdo de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade piblica ou interesse social. § 2° As florestas que integram o Patriménio Indjgena ficam sujeitas ao regime de Preservagao permanente (letra g) pelo sé efeito desta Lei, Um novo desenho das faixas marginais ao longo dos rios ou cursos d'égua foi feito com a edigdo da Lei n. 7.511/1986, que alterou o antigo Cédigo Florestal. O art. 2° passou entio a ter a seguinte redagao: Art. 2° Consideram-se de preservagio permanente, pelo s6 efeito desta Lei, as florestas € demais formas de vegetagao natural situadas: 4) a0 longo dos rios ou de outro qualquer curso d'Sgua, em faixa marginal cuja largura ininima seréz 1. de 30 (trinta) metros para os rios de menos de 10 (dez) metros de largura; 2. de 50 (cingdenta) metros para os cursos d’égua que tenham de 10 (dez) a 50 (cingienta) metros de largura; 3. de 100 (cem) metros para os cursos d’gua que megam entre 50 (cingilenta) e 100 (cem) metros de largura; 4. de 150 (cento e cingdenta) metros para os cursos d”égua que possuam entre 100 (cem) € 200 (duzentos) metros de largura; igual & distncia entre as margens para os cursos digua com largura superior a 200 (duzentos) metros; O art. 2° do antigo ‘Cédigo Florestal foi novamente alterado pela Lei n. 7.803/1989, sendo significativo observar a previsio expressa de aplicagdo desse diploma legal as reas urbanas, verbis: "No caso de reas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perimetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regides metropolitanas e aglomeragées urbanas, em todo 0 territério abrangido, observar-se-4 0 disposto nos respectivos planos diretores ¢ leis de uso do solo, resp ia n. 2.166-67/2001 acrescentou ao art. 1° do antigo Cédigo Florestal, legal da "érea" de preservagao permanente (APP). Confira-se: Art. 1°. As florestas existentes no territério nacional e as demais formas de vewetagto, econhecidas de utilidade as terras que revestem, so bens de interesse comum a todos os hhabitantes do Pais, exercendo-se 0s direitos de propriedade, com as limitagdes que a legislagao em geral ¢ especialmente esta Lei estabelecem, § 1° As agGes ou omissdes contrérias as disposigdes deste Cédigo na utilizacdo ¢ exploragio das florestas ¢ demais formas de vegetagto sto consideradas uso nocivo da propriedade, aplicando-se, para o caso, o procedimento sumario previsto no art. 275, inciso Il, do Codigo de Processo Civil. (Renumerado do pardgrafo tinieo pela Medida Provisdria 1° 2.166-67, de 2001) § 2°, Para os efeitos deste Codigo, entende-se por: 1 IT. rea de preservagio permanente: érea protegida nos termos dos arts. 2° 3° desta Lei, oberta ou néo por vegetagao nativa, com a fungo ambiental de preservar os recursos hidricos, a paisagem, a estabilidade geoldgica, a biodiversidade, o luo génico de fauna ¢ flora, proteger o solo e assegurar 0 bem-estar das populagdes humanas; (nossos os erifos) (Inctuido pela Medida Proviséria n° 2.166-67, de 2001) Paralelamente & evolugao das normas contidas no Cédigo Florestal de 1964, sobreveio, em 1979, a Lei n. 6.766/1979 (Lei de Parcelamento do Solo Urbano - LPSU), euja redagio original dispOs sobre o tratamento das dreas urbanas non aedificandi no inciso IIT do caput do art. 4, tendo sido suprimida a expressio "dutos" em 2004, pela Lei n, 10.932/2004. Confira-se: ‘Art. 4°, Os loteamentos devertio atender, pelo menos, aos seguintes requisites: Ll Til ao longo das éguas correntes e dormentes ¢ das faixas de dominio publica das rodovias, ferrovias ¢ dutos, serd obrigatéria a reserva de uma faixa non aedificandi de 15 (quinze) metros de cada lado, salvo maiores exigencias da legislacao especifiea (grifo nosso); Nessa pequena digressio a respeito da Lei n, 6.766/1979 (LPSU), outro dispositivo nela contido interessa, ao menos para fins de contextualizayao da controvérsia. A atengao aqui, ainda que lateral, éa respeito do art. 3°, pardgrafo tinico. Confira-se: ‘Art, 3° Somente sera admitido © parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas, de expanséo urbana ou de urbanizagio especifiea, assim definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal. Parigrafo ‘nico - Nao sera permitido o parcelamento do solo: Ld WV. em areas de preservagao ecolégien ou naquelas onde a poluigio impega condicdes sanitérias suportives, até a sua corres (grifo nosso). Esse normativo deixa nitida a preocupagao do legislador de 1979 com a vedasao 20 parcelamento do solo em areas que deveriam ser protegidas da atividade antropica ¢ em éreas insalubres ao desenvolvimento humano. Entretanto, 0 conceito legal de “reas de preservagiio ecolégica”, em que seriam proibidos os parcelamentos urbanos, nfo foi abordado pela Lei n. 6.766/1979. A lei nfo 0 definiu, nfo impondo, especificamente, qualquer protegao a elas, 0 que demandou o tratamento da questao pelas legislagBes locais, por meio de planos diretores e leis espec' as (estaduais © unicipais), situagdo perfeitamente natural no ambito do poder de legislar dos entes federativos, conforme disciplina o sistema federativo brasileiro (art. 24, VI, ¢ 30, 1 ¢ Il, da CF), mas que reverbera nesta contrové sia, que sempre se fez atual. esse contexto, indispensdvel consignar a lembranga ao dever de cooperagiio constitucionalmente previsto entre Unifio, Estados, Distrito Federal e Municipios, com vistas & consecugie do equilibrio do desenvolvimento ¢ do bem-estar das pessoas em mbito nacional (art. 23, pardgrafo tinico, da CF), © que impie rota tinica a ser seguida quando se esté a tratar da neces sidade premente de se coneretizar solugdes para o bem-estar social ¢ 0 bem-estar ambiental nos meios urbano e rural, com essencial atengo a um valor maior, a busca pelo meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito fundamental de todos (arts. 5°, § 2°, 225, da CF), metaindividual por exceléncia, e com inequivoco vids solidério entre as geragdes, cuja persecugo nfo deve admitir interrupgdo entre a urbis € 0 campo. A propésito, colhe-se, por oportuna, a ligo do Ministro Celso de Mello: “A incolumidade do meio ambiente no pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivagdes de indole meramente econdmica, ainda mais se tiver presente que a atividade econdmica, considerada a disciplina constitucional que a rege, esté subordinada, dentre outros prineipios gerais, aquele que privilegia a “defesa do meio ambiente” (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das nogdes de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espago urbano) ¢ de meio ambiente laboral (ADI 3.540-MC/DF, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 3/2/2006)” Em complemento ao ponto, registra-se ser pacifica a orientagao desta Corte Superior, segundo a qual a protegio ao meio ambiente abrange, em igual medida, as regides rurais urbanas, sem distingao, em atengio ao mandamento cons vida (art, 225, caput). Confiram-se: AgRg no REsp 664.886/SC, Rel. p/ Acérdao Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 9/3/2012; Agint no AREsp 839.492/SP, Rel. Min, Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 06/03/2017; REsp n. REsp 1.667.087/RS, Rel. Min, Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 13/8/2018; AgInt no REsp 1.484.153/SC, Rel, Min, ‘Gurgel de Faria, Primeira Turma, DJe 19/12/2018. itucional do direito a sadia qualidade de Apés essa breve disciplina da legislagao federal que tratou em 1979 do pareelamento do solo urbano, retoma-se a evolugaio da legislagao de protegdo da vegetagdo nativa, atinente ao caso ‘ora sub judice, com a entrada em vigor em 2012 do novo Cédigo Florestal (Lei n. 12.651/2012). Aqui, a observagio a ser inicialmente feita é a definigfo legal da APP no novo Cédigo Florestal e de sua fungao, conforme previsto no art. 3°, Il, da Lei n. 12,651/2012, in verbis: Art. 3° Para os efeitos desta Lei, entende-se por: LJ. I - Area de Preservagao Permanente - APP: rea protegida, coberta ou nfo por vegetago nativa, com a fungao ambiental de preservar os recursos hidricos, a paisagem, a estabilidade geolégica e a biodiversidade, facilitar o fluxo génico de fauna e flora, proteger ‘solo e assegurar o bem-estar das populagdes humanas (grifo nosso); Ao coneeito legal de APP previsto no art. 3°, II, soma-se a possibilidade de serem constituidas novas Areas de preservagao permanente, conforme sejam observadas as finalidades previstas no art, 6°, Confira-se: Art. 6° Consideram-se, ainda, de preservagdo permanente, quando declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as éreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetagdo destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades: 1. conter a erosto do solo e mitigar riscos de enchentes ¢ deslizamentos de terra ¢ de rocha; IL- proteger as restingas ou veredas; IIL- proteger varzeas; TV-- abrigar exemplares da fauna ou da flora ameagados de extingo; \V-- proteger sitios de excepcional beleza ou de valor cientifico, cultural ou histérico; VI- formar faixas de protego ao longo de rodovias e ferrovias; VII - assegurar condigdes de bem-estar puiblico; VII - auxiliar @ defesa do territério nacional, a critério das autoridades militares. IX = proteger dreas timidas, especialmente as de importdncia internacional. (Incluido pela Lei n, 12.727, de 2012). Tratando-se, no caso dos autos, de areas ciliares ou riparias, € oportuna a reflexao feita pelo Ministro Herman Benjamin, no julgamento do RESp n. 1.245.149/MS, a respeito da multifuncionalidade dessas APPs: “Aferrada as margens de rios, cérregos, riachos, nascentes, lade fisico-quimica da égua, a estabilizagaio do leito hidrico ¢ do solo da bacia, a mitigag&o dos efeitos charcos, lagos, lagoas ¢ estudtios, intenta a APP ciliar assegurar, a um sé tempo, a inte nocivos das enchentes, a barragem ¢ filtragem de detritos, sedimentos ¢ poluentes, a absorga0 de nutrientes pelo sistema radicular, 0 esplendor da paisagem ¢ a propria sobrevivencia da flora ribeirinha e fauna. Essas fungées multifacetirias e insubstituiveis clevam-na ao status de pega fundamental na formagio de corredores ecoldgicos, elos de conexio da biodiversidade, genuinas veias bidticas do meio ambiente (REsp 1.245.149/MS, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 13/6/2013)". Por fim, chega-se ao outro normativo que compée a controvérsia direta a ser dirimida, 0 qual previu, expressamente, APPs em zonas urbanas. Art. 4°, caput, I, da Lei n. 12.651/2012 (com da redagdo dada pela Lei n, 12.727, de 2012), assim dispde: ‘Art. 4° Considera-se Area de Preservaciio Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei 1 - as faixas marginais de qualquer curso d’gua natural perene ¢ intermitente, excluidos os cefémeros, desde a borda da calha do leto regular, em largura minima de: (Ineluido pela Lei n° 12.727, de 2012), ) 30 ({rinta) metros, para os cursos d’égua de menos de 10 (dez) metros de largura; +) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’égua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) ‘metros de larguras 6) 100 (cem) metros, para os cursos d°gua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; 4) 200 (duzentos) metros, para os cursos d°gua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (Seiscentos) metros de largura; ¢) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’égua que tenham largura superior a 600 (eiscentos) metros (grifo nosso) (grifo nosso); Esse ¢, portanto, o painel da legislagdo federal que, no momento, interessa para 0 deslinde da hipétese objetiva, Ao contexto das normas federais, é necessério dizer ainda que 0 novo Cédigo Florestal (Lei n. 12.651/2012) teve varios dos seus dispositivos contestados no Supremo Tribunal Federal por meio da ADC n, 42 e das ADIs ns. 4.901, 4.902, 4.903 ¢ 4.937, julgadas na sessio do ‘Tribunal Pleno de 28/2/2018, com publicagao em 13/8/2019. Da certidiio dos aludidos julgamentos extrai-se que o Supremo Tribunal Federal, a0 reconhecer a constitucionalidade do art. 3°, XIX, por maioria, recusou a tese de declaragiio de inconstitucionalidade, por arrastamento, do art. 4°, 1, sendo vencidos, nesse ponto, a Ministra Carmen Livia (Presidente) ¢ 0 Ministro Ricardo Lewandowski, que votaram pelo restabelecimento dos célculos das faixas marginais dos cursos d’égua, segundo a regéncia normativa anterior, ou seja, desde o “[...] nivel mais alto” (art. 2°, “a”, da Lei n, 4.771/1965), a0 invés da referéncia trazida pelo inciso I do art. 4°, que agora declara “...] desde a borda da calha do leito regular”. Assim, conelui-se, inicialmente, que o art. 4°, inciso 1, da Lei n. 12.651/2012 mantém-se {gido no sistema normativo federal, apés os julgamentos da ADC n. 42 ¢ das ADIs ns. 4.901, 4,902, 4.903 ¢ 4.937. 2. Jurisprudéneia do STJ a respeito do limite minimo das APPs urbanas antes da entrada em vigor do novo Cédigo Florestal (Lei n. 12.651/2012). Prevaléneia do antigo Cédigo Florestal (Lei n. 4.771/1965) sobre a Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei n. 6.166/1979). Precedente: REsp n. 1.518.490/SC. Com efeito, assinale-se que esta Corte Superior pacificou compreenstio segundo o qual 0 antigo Cédigo Florestal também deve ser aplicado ao meio urbano. Confiram-se: EREsp n. 218,781/PR, Rel. Min, Herman Benjamin, Primeira Segio, DJe de 23/2/2012; AgRg no REsp n. 664.886/SC, Rel. Min, Humberto Martins, Rel. p/ acérdao Min, Herman Benjamin, Segunda ‘Turma, DJe de 9/3/2012; ¢ Agint no Agint no Agint no AREsp 747.515/SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe 15/10/2018. ‘A respeito da controvérsia especifica versada nos autos, ¢ imprescindivel observar jalmente 0 raciocinio légico-juridico externado pelo Ministro Og Fernandes, Relator do REsp 1.518.490/SC, julgado pela Segunda Turma em 9/10/2018, DJe 15/10/2018, precedente esse que solucionou a antinomia entre a norma do antigo Cédigo Florestal e a norma da Lei de i Parcelamento do Solo Urbano, quanto & disciplina das faixas marginais a cursos d'égua no meio urbano, Confira-se: ‘A controvérsia repousa em qual norma incide no caso conereto ~ hipétese de construgao em zona urbana na margem de rio ~, tendo em vista que o Cédigo Florestal vigente 4 época dos fatos (Lei n. 4.771/1965) estabelecia como area de preservagdo permanente toda vegetacao natural localizada a 50 metros dos rios ou de qualquer curso de Agua, com largura minima de 10 metros. Ocorre que a Lei n, 6.766/1979 estabelecia proibigao de apenas 15 metros do curso de dgua. ois aspectos devem ser ponderados para analisar a adequada incidéncia normativa: i) estabelecer qual o valor juridico-positivo apto a elucidar a antinomia; e ii) reconhecer se existe possibilidade de aplicar norma ambiental menos protetiva em detrimento de norma ambiental mais protetiva. ‘Ab initio, cuida-se de hipétese de antinomia, resta verificar na espécie sua extensdo: real ou aparente. A antinomia real toma impossivel a convivéncia normativa, gerando 0 afastamento dde uma das normas por meio da interpretagao ab-rogante, Jé a antinomia aparente permite a conciliagio entre os dispositivos supostamente diversos por meio da técnica da interpretagdo corretiva, Dessa forma, o interprete elimina a aparente contradigao mediante andlise sistémica e teleol6gica dos diversos dispositivos envolvidos. No tocante a convivéncia harménica de diplomas normativos que tutelam 0 mesmo bem jjuridico, José Garcia Medina, em colenda obra intitulada "Curso de Direito Processual Civil ‘Moderno", aponta que o didlogo das fontes deve objetivar a concretizagtio dos direitos fundamentais. A propésito: ‘Através desse didlogo emerge a solugtio do conflito, pela analise do ‘magistrado que pondera as fontes heterogéneas que nio se excluem. Erik Jayma, escrevendo sobre "lei dialogue des sources", discorre que disposigdes sobre direitos humanos, convengdes internacionais, constituigdes etc. so Fontes que no se excluem, necessariamente, mas "eonversam” entre si. Conclui 0 autor que os juizes devem “coordenar” essas fontes e "ouvir 0 que clas dizem'. No aso, como afirma Claudia Lima Marques, "muda-se assim 0 paradigma: da retirada simples (revogago) de uma das normas em conflito do sistema juridico ou do 'monélogo' de uma s6 norma (a 'comunicar’ a solugo Justa), a convivéncia desta normas, a0 ‘didlogo' das normas para alcangar a sua ratio, a finalidade visada ou 'narrada' em ambas" Em conclusao, "o desafio € este, aplicar as fontes em didlogo de forma justa’. (MEDINA, p. 97, 2018) Nesse aspecto, cumpre observar a previsio legal em choque, respectivamente 0 Cédigo Florestal (1965) e a Lei de Parcelamento de Solo Urbano (6.766/1979): ‘Art 2° Consideram-se de preservagao permanente, pelo s6 efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetagao natural situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'égua desde o seu nivel mais alto em faixa marginal cuja largura minima sera: (Redagao dada pela Lei n° 7.803 de 18.7.1989) 2- de 50 (cinquenta) metros para os cursos d’égua que tenham de 10 (dez) a 50 (Cinquenta) metros de largura; Parigrafo winico. No caso de areas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perimetros urbanos definidos por let municipal, e nas regides metropolitanas e aglomeragées urbanas, em todo 0 territ6rio abrangido, obervar-se-4 0 disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princfpios ¢ limites a que se refere este artigo. (Incluido pela Lei n° 7.803 de 18,7.1989) Art 4°, Os loteamentos deverio atender, pelo menos, aos seguintes requisitos: TIT ao longo das aguas correntes e dormentes e das faixas de dominio piblico das rodovias e ferrovias, seré obrigat6ria a reserva de uma faixa nio-edificavel de 15 (quinze) metros de cada lado, salvo maiores exigéncias da legislagao especifica; (Redagao dada pela Lei n° 10.932, de 2004) No caso em tela, verifica-se apenas uma antinomia aparente, tendo em vista que o proprio ordenamento juridico fornece diretrizes para superar 0 suposto conflito, sem a necessidade de afastar a inicidéncia de uma das normas. Mediante andlise teleologica, compreendo que a Lei de Parcelamento Urbano impingiu reforgo normativo a proibigio de construgo nas margens dos cursos de gua, uma vez que indica uma minima protegZo & margem imediata, delegando a legislagto especifica a possibilidade de ampliar os limites de protecio. Ademais, sob o vyértice da especificidade, percebo que a propria Lei n. 6.766/1979 — cuja finalidade € estabelecer critérios para o loteamento urbano — reconhece nfo ser a sua ificidade a protegdo ambiental dos cursos de agua, razio pela qual indica a possibilidade da legislagao especifica impor maior restrigdo do que a referida norma Cumpre estabelecer qual é a norma mais especifica em matéria de proteso das dreas de preservagdo permanente (proterdo que alberga os cursos de égu. instituto das reas de preservagio permanente tem objetivos expressos em relago & integridade dos ecossistemas e a qualidade do meio ambiente. Como se verifica, as érea de preservagio permanentes t&m esse papel de abrigar a biodiversidade ¢ promover a propagagao da vida, assegurar a qualidade do solo e garantir o armazenamento de recurso hidrico em condigdes favordveis de quantidade e qualidade. O sistema normativo brasileiro j4 protegia claramente as dreas de preservagio permanente desde 0 antigo Cédigo Florestal z Trata-se de legislago com conte‘ido robusto quanto & proteco dos nossos biomas, #0 que se colhe, também, da abalizada doutrina de Ingo Wolfgang Sarlet em sua obra "Constituigo ¢ Legislagdo Ambiental Comentadas'": Dentre as questées mais destacadas trazidas pela legislagao em questi, podemos apontar os institutos juridicos da rea de preservagdo permanente (APP) e da reserva legal (RL). (SARLET, p. 647-648, 2015) Dessa forma, considero que 0 Cédigo Florestal é mais especifico, no que atine & proteso dos cursos de gua, do que a Lei de Parcelamento de Solo Urbano (erifo nosso). Assim sendo, restou interpretar 0 pardgrafo ‘nico do art. 2° do referido Cédigo Florest E inegivel que o dispositivo supracitado indica, nos easos de dreas urbanas, a observ das leis de uso do solo. Entretanto, mediante leitura atenta do diploma legal percebe-se que, ‘ao excepcionar a tutela das edificagdes, a norma impés essencial observincia aos prineipios ¢ limites insculpidos no Cédigo Florestal. Logo, cuida-se de permissio para impor mais restrigdes ambientais, jamais de salvo-conduto para redugo do patamar protetivo Por fim, a titulo argumentativo, assevero que, mesmo compreendendo a situagdio como antinomia real, nao se pode admitir uma construgdo a menos de 50 metros do curso de égua. Incidindo a antinomia real no caso concreto seria inevitdvel o afastamento da previsio do art, 4°, III, da Lei n. 6,766/1979. [1 Ante 0 exposto, dou parcial provimento ao recurso especial, para reformar 0 acérdio recorrido determinando 0 respeito ao limite de 50 metros de area de preservagdo permanente, devendo o PRAD contemplar a integral recomposigo da érea de preservacdo Permanente. Apés o julgamento do REsp 1.518.490/SC, outros recursos especiais sobre o referido tema foram apreciados pela Primeira e Segunda Turmas da Primeira Segio desta Corte Superior, tendo sido mantido 0 entendimento segundo o qual ¢ o art. 2° da Lei n. 4.771/1965 que deve ser aplicado nas éreas urbanas para fins de disciplina das dreas non aedificandi as margens dos cursos d’égua, ¢ nao o art. 4°, III, da Lei n. 6.766/1976. Confiram-se: RECURSO ESPECIAL. AGAO CIVIL PUBLICA. ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AREA DE PRESERVACAO PERMANENTE-APP, SUPOSTA ANTINOMIA DO CODIGO FLORESTAL COM A LEI DE PARCELAMENTO DO SOLO URBANO NO QUE TANGE A DEFINICAO DA AREA NAO-EDIFICAVEL AS MARGENS DE RIO. MAIOR PROTECAO DO MEIO AMBIENTE. INCIDENCIA DO LIMITE PREVISTO NO CODIGO AMBIENTAL VIGENTE A EPOCA DOS FATOS. RECURSO ESPECIAL DO MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA PROVIDO, PARA RECONHECER A IMPOSSIBILIDADE DE CONTINUIDADE OU PERMANENCIA DE QUALQUER EDIFICACAO NA AREA DE PRESERVACAO DAS MARGENS DO RIO TUBARAO. 1. Discute-se nos autos, no ambito de anilise desta Corte Superior de Justiga, o suposto conflito da Lei de Parcelamento do Solo Urbano (art. 4o., Ill, da Lei 6.766/1979) sobre o Cédigo Florestal (art. 20. da Lei 4.771/1965) no que tange & definigéo da dimensio non aedificandi no leito do Rio Tubarao, considerada como Area de Preservagdo Permanente- APP, restando incontroverso nos autos que os recorridos edificaram a uma distincia de 22 ‘metros do corpo d'égua, 2. A aparente antinomia das normas foi enfrentada pela Corte de origem com enfoque na suposta especialidade da Lei 6.766/1979, compreendendo que a Lei 4.771/1965 cederia espaco a aplicagdo da Lei de Parcelamento do Solo no ambito urbano. 3. O Ambito de protegdo juridica das normas em confronto seria, na realidade, distinto. Enquanto art. 20. do Cédigo Florestal visa & protegio da biodiversidade, a Lei de Parcelamento do Solo tem por finalidade pree{pua a ordenago do espago urbano destinado 4 habitagdo, de modo que a protegdo pretendida estaria mais relacionada & seguranca da opulagdo, prevenindo edificagdes em terrenos alagadigos ou sujeitos a inundagdes. 4. Por ser 0 que oferece a maior protesdo ambiental, o limite que prevalece é o do art. 20. da Lei 4.771/1965, com a redagio vigente & época dos fatos, que, na espécie, remontam a0 ano de 2011. Incide, portanto, o teor dado ao dispositivo pela Lei 7.511/1986, que previu a distdncia minima de 100 metros, em detrimento do limite de 15 mettos estabelecido pela Lei de Parcelamento do Solo Urbano. Precedente da Segunda Turma: REsp. 1.518.490/SC, Rel. Min. OG FERNANDES, DJe 15.10.2018. 5. Frise-se, ademais, nfo se admitir, notadamente em temas de Direito Ambiental, a incidéncia da Teoria do Fato Consumado para a manutengio de situagio que, apesar do decurso do tempo, ¢ danosa ao ecossistema e violadora das normas de protegdo ambiental. 6. Nao se olvida que, ao que tudo indica, a particular agiu de boa-fé, amparada no Plano Diretor do Municipio de Orleans/SC (Lei Complementar Municipal 2.147/2004) - que estabelece a distancia de 20 metros - e na referida Lei do Parcelamento do Solo Urbano, tendo sua edificagao licenciada pela co-ré FUNDAGAO AMBIENTAL MUNICIPAL DE ORLEANS-FAMOR, érgao ambiental responsdvel no ambito do Municipio. Por essa razio, teri ela, a principio, direito & persecugao do ressarcimento pelas perdas e danos na via processual adequada, 7. Recurso Especial do MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA provido, reconhecendo a imprescindibilidade da observancia do limite imposto pelo Cédigo Ambiental para a edificagdo nas margens do Rio Tubardo, e, por conseguinte, a necesséria demoligo da edificago vonstruida na Area de Preservasao Permanente-APP, impondo, ainda, a FUNDACAO AMBIENTAL MUNICIPAL DE ORLEANS-FAMOR a obrigagao de nao mais expedir licenciamentos e autorizagbes para projetos de construgao na referida area (REsp 1.505.083/SC, Rel. Min. Napoleéo Nunes Maia Filho, Primeira Turma, Die 10/12/2018), PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. CODIGO FLORESTAL. AREA URBANA. APLICACAO. EDIFICACAO DE IMOVEL. DISTANCIA DE 30 METROS DE MARGEM DE CURSO D'AGUA. OBSERVANCIA. 1. 0 Plendrio do STJ decidiu que "aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (colativos a decisbes publicadas até 17 de margo de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretagées dadas até entdo pela jurisprudéncia do Superior Tribunal de Justiga” (Enunciado Administrativo n. 2), 2. E firme a orientagao jurisprudencial desta Corte de que "a protego ao meio ambiente nao difere area urbana de rural, porquanto ambas merecem a atengio em favor da garantia da qualidade de vida proporcionada pelo texto constitueional, pelo Cédigo Florestal e pelas demais normas legais sobre o tema" (REsp 1667087/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/08/2018, Die 13/08/2018). 3, As duas turmas integrantes da Primeira Seeao desta Corte tém prestigiado o disposto no art, 2, "a", item 1, da Lei n° 4.771/1965 (antigo Cédigo Florestal), 0 qual estabelece como ‘do edificavel a faixa de 30 (trinta) metros das margens dos ios, esteja o curso d'égua inserido em érea urbana ou rural 4, Agravo interno provido para denegar a seguranga (Agint no REsp 1.484.153/SC, Rel, Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, DJe 19/12/2018). AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL, ANTINOMIA DE NORMAS. APARENTE. ESPECIFICIDADE. INCIDENCIA DO CODIGO FLORESTAL. AREA DE PRESERVACAO PERMANENTE. MAIOR PROTECAO AMBIENTAL. PROVIMENTO. RESPEITO AO LIMITE IMPOSTO PELO CODIGO FLORESTAL. 1.A protegdo ao meio ambiente integra, axiologicamente, o ordenamento juridico brasileiro, ‘as normas infraconstitucionais devem respeitar a teleologia da Constituigao Federal, Dessa forma, 0 ordenamento juridico precisa ser interpretado de forma sistémica e harmonica, por ‘meio da técnica da interpretagdo corretiva, conciliando os institutos em busca do interesse piblico primério. 5. Na espécie, a antinomia entre a Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei n. 6.766/1979) © 0 Cédigo Florestal (Lei n. 12.651/2012) ¢ apenas aparente, pois a primeira estabelece uma protegao minima e a segunda tutela a protegd0 especifica, intensificando o minimo protetivo ais margens dos cursos de agua. 3. A protego marginal dos cursos de agua, em toda a sua extensdo, possui importante papel de protego contra 0 assoreamento. O Cédigo Florestal tutela em maior extensiio ¢ profundidade o bem juridico do meio ambiente, logo, ¢ a norma especifica a ser observada na espécie, 4, Recurso especial provido (REsp 1.546.415/SC, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma, Die 28/2/2019) PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO. 3/STJ. AREA URBANA. APLICABILIDADE DO CODIGO FLORESTAL. PRECEDENTES. 1. 0 presente recurso atrai a incidéncia do Enunciado Administrativo 3/STJ: "Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisées publicadas a partir de 18 de argo de 2016) sero exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo cPcr, 2. Decorre o presente recurso especial de agao civil piblica ajuizada pelo MP/SC em face da ‘ora recorrida e © Municipio de Floriandpolis, com 0 objeto de obier a remogio de ‘construgio em drea de preservago permanente, bem assim a recuperagao ambiental do local da contfovérsia. A Corte de origem manteve a sentenga de procedéncia em parte do pedido - apenas no que se tefere A frea de até quinze metros do curso <'égua -, sob o entendimento de {que a Lei de Parcelamento Urbano deve prevalecer no caso conereto, por ser especial em relagio a0 Cédigo Florestal. 3. Merece reforma o acérdao recortido, pois, nos termos da jurisprudéncia desta Corte, 0 anterior Cédigo Florestal também deve ser aplicado as éreas urbanas. ‘Ademais, conforme jé decidiu a Segunda Turma, (i) "a antinomia entre a Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei n. 6.766/1979) ¢ 0 Cédigo Florestal (Lei n. 4.771/1965) € apenas aparente, pois a primeira impinge um reforgo normativo & segunda, intensificando © minimo protetivo as margens dos cursos de gua"; (ii) "[a] Lei n. 4771/1965, a0 texcepcionar os casos de construgdes em rea urbana (art. 2°, pardgrafo tnico), condiciona a hhipdtese de excepdo a escorreita observancia dos princfpios ¢ limites insculpidos no Cédigo"; (ii) "fa} protegzo marginal dos cursos de agua, em toda sua extenso, possui importante papel de protegto contra o assoreamento"; e (iv) "[o] Cédigo Florestal (Lei n. 4.771/1965) tutela em maior extensio e profundidade o bem juridico do meio ambiente, ogo, é a norma especifica a ser observada na espécie” (REsp 1518490/SC, Rel. Ministro Og Femandes, DJe 15/10/2018). 4, Agravo interno nio provide (Agint no REsp 1.542.756/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Die 2/4/2019), No referente ao exame do art. 2° do antigo Codigo Florestal, veja-se liglio de Paulo Affonso Leme Machado:

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