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As Medicinas Tradicionais Sagradas PDF Free
As Medicinas Tradicionais Sagradas PDF Free
CLAUDINE BRELET-RUEFF
Capa de Edições 70
ISBN 972-44-0793-4
NO BRASIL: EDIÇõES 70, BRASIL, LTDA. - Rua São Francisco Xavier, 224-A (TIJUCA)
CEP 20550 RIO DE JANEIRO, RJ
Telef. 284 29 42 Telex: 40385 AMI---J B
Fax: 2842942
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xerocópia, sem prévia autorização do Editor. Qualquer transgressão à Lei dos
Direitos de Autor será passível de procedimento judicial.
PRÓLoGO
Não confundamos sagrado com religião, com magia ou com superstição! Ao longo
deste livro, abordaremos o campo do pensamento «sagrado», quase raiando por
vezes os limites da magia. Num capítulo como o consagrado às medicinas
africanas, veremos que a magia não é mais que a «perversão» de uma determinada
busca com vista ao conhecimento do Homem e do Universo.
Por sagrado, entendemos toda a procura que visa estabelecer a harmonia entre o
«interno» e o «externo» , o «interior» e o «exterior», o individual e o
colectivo, o microcosmo e o macrocosmo, ou o Homem e o Universo. Esta busca
assemelha-se ao que o homem moderno chama ecologia. Não a ecologia ultrapassada,
preocupada apenas com a vida dos seres na abundância, mas sim a que se preocupa
com a energia solar e com a física vibratória.
Ecologia? Este nome vem da palavra grega oikos, ou habitat, casa, a qual deu
origem à palavra «escola» na nossa língua... Assim, a ecologia traz já implícito
no próprio nome, e graças ao duplo sentido da palavra, um programa bem
estabelecido: aprender, aprender a viver com o seu habitat, com a sua aldeia ou
cidade, com o seu país, com o seu planeta, com o Cosmos. Aprender a estudar a
relação que nos une a todos num destino comum: quais são os fundamentos da vida
humana? O nascimento, a alimentação, a aprendizagem e a educação.
O que é que faz o pensamento sagrado, senão uma (tentativa de) Síntese?...
Síntese do Homem e do Cosmos
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CAPITULO 1
O XAMANISMO
(’) Cf. Eliade (M): O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do r'xIase (Pauis, Payot,
1951).
-êxtase, seguida de uma nova vida: o xamã torna-se um homem diferente.
Não deve confundir-se esta iniciação com uma aprendizagem técnica dada por um
mestre. A primeira escola do xamã é uma experiência cósmica, directa.
O RETRATO DE UM XAMÃ
C) «Um verdadeiro xamã deve ser sério, possuidor de tacto, saber convencer os
que o rodeiam. Sobretudo, não deve mostrar-se presunçoso, orgulhoso, fátuo», diz
Sieroszewski em «Du chamanisme d'aprés les croyances des Yakontes», Revue de
I'Histoire des Religions, p. 46, 1902.
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«Como o Xamanismo não implica nem celibato nem interdição de ter descendentes, o
xamã é muitas vezes casado; o seu cônjuge serve-lhe de assistente, e os filhos
herdam a sucessão médico-mágica.» (1) Sem no entanto se tornarem por sua vez
xamãs, é necessário acrescentar, já que não é preciso atingir o êxtase para
poder praticar a medicina das plantas ou os «segredos», nem para poder ser
médico, parteira ou endireita.
Quando não celebra, o seu rosto aparentemente não se distingue do dos outros.
Diferencia-se pela alma, pelos seus poderes e pelo trajo, que os representa.
Só o veste quando realiza as suas curas terapêuticas. Sob certo aspecto, este
trajo é a antena que permite ao niedecine-man captar os espíritos e
metamorfosear-se num verdadeiro transformador de energia, reconhecido e aceite
por todos.
(’) Cf. Bouteiller (M.): Chamanisme et guérison inagiqííe (Paris, PU, coll.
Bibliothèque de philosophie contemporaine,
1950).
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dos magos que aparecem nos frescos pintados pelos nossos antepassados pré-
históricos e cujo tema encontramos desde a Gália à Escandinávia. Frequentemente
esses capacetes-coroas têm igualmente uma espessa franja, escondendo os olhos do
xamã, que não tem necessidade senão do seu olhar interior, uma vez que é um
clarividente. Diversos acessórios completam este trajo: o guizo, o tambor cheio
de guizos, e por vezes, como entre os Tártaros e os Lapões, desenhos que
representam a árvore do Mundo, o Sol, a Lua, o arco-íris, etc., ou um arco, como
nos Altaicos e nas Américas, e por vezes também entre os Trácios.
O arco e o tambor não fazem parte de um armamento no qual o ruído cumpriria uma
função antidemoníaca. São instrumentos de magia médica que participam, como toda
a dança mágica do xamã, da sua viagem extática ao país dos espíritos.
Não nos demoraremos mais no rico simbolismo deste trajo, que obedece contudo às
necessidades das diversas latitudes.
O APRENDIZ DE XAMÃ
A herança
Os poderes xamanísticos podem ser herdados dos pais, assim como os «segredos»
médico-mágicos, tal como
(’) «A eloquência associada à inteligência, juntamente com a faculdade
divinatória, que não tem nem mais nem menos relação que elas com a ordem
extranatural.» Cf. Lot-FaIk (E.): «La Divination dans L'Arctique» em La
Divination, t. II, Paris, PUF, 1968.
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já vimos. O termo «herdar» não deve, no entanto, ser tomado unicamente no
sentido em que normalmente o utilizamos. Assim, um defunto de família, próximo
ou afastado, pode transformar-se em embaixador dos espíritos: «O meu pai, que
era xamã-conta um índio paviotoso (’) -, morreu há uma quinzena de anos. Começou
a aparecer-me quando eu tinha cerca de cinquenta anos. Mandou-me que amasse os
doentes. Durante um certo tempo, o poder aparecia-me sempre que eu sonhava.
Depois esses sonhos acabaram. Uma cascavel disse-me o que era preciso fazer».
Também uma índia papago conta que quando recebeu a sua «herança» desenvolveram-
se-lhe no corpo cristais mágicos (”). Deste modo, o «herdeiro» observa toda uma
série de rituais purificatórios: abstinência sexual, alimentar (limitada por
vezes apenas à carne e ao sal). Abandona as suas actividades habituais para se
consagrar à busca dos acessórios mágicos, cujo uso lhe será explicado mais tarde
por um mestre xamã.
A busca voluntária
No contexto ocidental, esta busca pode ser comparada a uma viagem, que nos
lembra a fuga das crianças ou dos adolescentes, até mesmo dos adultos, ávidos de
descobrir o mundo. Deixando os seus, abandonam o campo restrito das suas
cidades, para se impregnarem de orvalho, e deixarem-se conduzir pela sinfonia de
uma natureza que os envolve e os fascina ao mesmo tempo. Como o xamã, também
eles possuem geralmente um temperamento que se qualifica classicamente como
epileptóide.
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futuro público, tal com o fez Rimbaud no seu Bateau ivre, Lawrence Durrell
reencontrando o seu Labyrinthe ou o Miroir à cinq faces da sua Justine de
Alexandria. Ou ainda Henry Miller, possuído pela sede de penetrar nos mistérios
da alma e do corpo.
Nesta busca, a privação dos bens materiais parece ser necessária. O poeta não
hesita em arrostar com a miséria, pelo menos durante o seu tempo de iniciação,
ou seja a sua juventude. O xamã, esse vai até à nudez mais completa.
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nariz. Perdem pouco a pouco a consciência e entram em transe.»
A busca involuntária
«Quanto mais poderoso for o espírito, tanto maior será a doença do seu novo
protegido.» O
Esta informação, recolhida na tribo dos índios Haidu, foi confirmada pelas
observações psiquiátricas do Dr. Guirdham. () Este médico britânico verificou,
num grande número de doentes, que um estado de depressão intensa é tanto mais
vezes seguido de fenómenos mediúnicos, de «comunicação silenciosa», quanto o
«doente» mostrar um temperamento psíquico. Bem entendido, um estado semelhante
ao da doença ou da depressão pode também ser induzido das «mortificações» da
busca voluntária, visando ultrapassar a condição humana normal.
Mas vejamos como um índio céptico se pode transformar num grande xamã. O
etnógrafo americano Franz Boas recolheu a história do maravilhoso encontro do
índio Kwakiut], Quesaliá, com um lobo (), reproduzida na pág. 24 deste livro.
A VIAGEM-TRANSE
O xamã é um «homem de corpo aberto». Ele é a sede dos espíritos que incorpora.
No transe que o possui, nada entrava a comunicação entre o microcosmo e o
macrocosmo: pode portanto curar.
(’) Cf. «Wintu etnography», in American Archeology and Antropology, vol. 36, n.*
1, Berkeley, 1935. (’) Cf. «The Northern Maidu», in Bulletin of American Museum
of Natural History, vol. 17, New York, 1905. (’) Cf. Dr. Guirdham, Ia
Communication Silenciezíse, trad. CI. Brelet (Paris, Payot, 1972). (’), Cf. Boas
(F.): The Religion of the Kivakiutl Indians (New York, Columbia University
Press, 1930),.
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Exorciza o seu paciente extirpando-lhe (técnica do nosso herói Ouesalid), a
maior parte das vezes por sucção, uma penugem ensanguentada, qualquer cristal de
rocha, um verme, um sapo... ou outros objectos e animais mais
ou menos repelentes. É esta a fase da cura xamanística que frequentemente mais
impressiona o observador ocidental. Porque «isto resulta!».
A assistência participa com fervor da narração que ele faz da sua viagem ao
reino dos espíritos.
O poeta-médico
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vendo-se no corpo interior deverá conservar a mesma vivacidade, o mesmo carácter
da experiência vivida, cujas condições são impostas pelo xamã favorecido pelo
estado patológico e por uma técnica obsidiante apropriada.(’)
O DRAMA TERAPÊUTICO
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tes sociedades, uma verdade que ela própria perdeu. Esta verdade era a
capacidade de endosmose do médico com o seu doente, ou do actor com o seu
público, e da qual a «transmissão» não é senão um pálido reflexo.
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potência em que se encontram de dialogar verdadeiramente com os seus doentes. A
psicanálise é a ciência do monólogo. Alguns confessam uma certa confusão perante
uma transmissão demasiado «bruta» que os torna vítimas das perguntas inesperadas
dos seus doentes, até aí afastados do mundo, estendidos no divã.
Até hoje ninguém pôde ainda explicar esses fenómenos racionalmente e, assim, há
alguns anos o «histérico»
ou o «epiléptico» corriam ainda o risco de se verem internados a trouxe-mouxe
nas prisões rebaptizadas de asilos. Ó
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Se o psicanalista recusa o gesto que poderia acalmar a ansiedade afectiva e o
desejo de ser «acarinhado» do seu analisado, Groddeck, por sua vez, soube
exercer a arte de curar por meio de massagens (muitas vezes praticadas pelo
xamã), acompanhadas de banhos quentes, e pela sua poderosa palavra, que não
recuava diante do obsceno, o qual floresce tantas vezes em metáforas poéticas no
inconsciente do enfermo. A história dos melegans penetrando a parturiente como
um falo seria certamente considerada «obscena» no nosso contexto médico-
cultural!
A um nível mais colectivo, também um determinado teatro tenta, por sua vez,
reencontrar o poder da catarse colectiva por meio do divertimento e da poesia,
como é o caso do polaco Grotowski e do americano Julian Beck.
O xamanismo é tudo isso, mas é mais ainda, porque o xamanismo não vive numa
sociedade onde o indivíduo morre de isolamento, tentando tudo para remediá-lo
artificial e por vezes tragicamente.
O xamã induz uma verdadeira aberração no seu paciente. Esta por sua vez poderá
induzir uma transformação orgânica.
Quanto a nós, o xamã possui a chave tão procurada pelos nossos psicossomáticos
modernos. É aliás a essa
(’) Cf. Guirdham (Dr. A.): les Cathares et Ia Reincarnation, trad. CI. Brelet
(Paris, Payot, 1971), e, do mesmo autor, les Facteurs Cosmiques de Ia Maladie,
pref. e trad. de CI. Brelet (Paris, Fayard, 1974).
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mesma conclusão que parece ter chegado o Prof. Coullomb, director do hospital
psiquiátrico de Dacar.
Para tratar alguns dos seus doentes, não hesita em levá-los à sua aldeia, onde o
feiticeiro toma então a iniciativa e colabora assim com a terapêutica ocidental
clássica.
OS CELTAS E O XAMANISMO
(1) «A reprodução do visco faz-se de maneira diferente das outras plantas 1 ...
1. Se o grão cair na terra não germinará. É
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crescimento no espaço e no tempo escapa, com efeito, à atracção da terra
mineral, à qual obedeceram todas as outras plantas.
Vestígio desse universo móvel em que tudo tem a forma líquida, o visco, planta
lemurianá utilizada pelos druidas, pode lançar-nos na pista que nos conduza às
civilizações paleolíticas...
AUTOBIOGRAFIA DE UM XAMÃ
«Eu sou um pobre caçador de toda a espécie de animais (... ). Fui também um dos
que menos acreditavam nos xamãs quando eles contavam que curavam os doentes e
diziam ver a alma dos homens. E, isto, tenho de confessá-lo. Um dia fiz-me ao
mar para caçar focas. Quando cheguei a Axiolis vi sobre um rochedo um lobo que
se contorcia com dores. A boca sangrava-lhe. Observei-lha e vi que tinha um osso
de gamo atravessado fortemente de um lado ao outro do maxilar, entre os dentes.
Entrancei-os para fazer uma corda. Depois, voltei para o rochedo onde ele
estava, de boca aberta ( ... ). Finalmente livre desse osso, o lobo olhou-me
simplesmente, sem me fazer mal. Disse-lhe: “Amigo, estás curado! Agora, toma
cuidado contigo e não te portes mal.'-’ Então o lobo partiu lentamente,
trotando.
preciso que a baga seja comida por um pássaro para que se termine a formação
orgânica da substância fecundante. Ela é evacuada depois da digestão, que dura
apenas 8 a 10 minutos, e, se cair num ramo, espeta o estilete na casca e dá
origem a uma nova planta. O visco utiliza assim um alto grau de continuidade de
vida que caracteriza o animal e desconhece o enfraquecimento que toda a planta
de grãos sofre, antes de engendrar uma nova vida.» Jean Palaiseul: «Enquête sur
une thérapeutique du cancer», in Triades, suplemento n.o 3, Paris, 1956.
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Mas para isso não podes dormir com a tua mulher durante quatro anos. Assim,
cumprirás o que deves cumprir.” Depois desapareceu.»
Quesalid revê o lobo que tinha salvo. Este sentou-se e puxou o índio pela cara
para o obrigar a deitar-se de costas, esfregou então o focinho na «parte mais
baixa do esterno» de Quesalid. Depois «vomitou sobre mim o poder mágico».
Quesalid continua o seu relato: «Então, acordei. O meu corpo tremia e o meu
espírito tinha-se tornado diferente devido ao que os lobos me haviam dado.
Tinha-me transformado num xamã.»
Mais tarde, Quesalid encontrou outros xamãs. Sempre céptico e quase contra a sua
vontade, a sua reputação espalhou-se, na América, a todas as tribos de índios
Kivakiutl da costa Norte do Pacífico.
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CAPITULO II
A Hassam Fathy, arquitecto do povo egípcio, que soube manter fresca uma rosa,
desde o Cairo a Nova Iorque, passando por Paris...
(1) Os Egípcios escreviam sobre papiros, tela, pele, pergaminho, e até mesmo
sobre tijolos de terra cozida, que lhes serviam algumas vezes de « rascunho»,
por exemplo para fazerem as suas contas. O papiro, espécie de tecelagem de
fibras sobrepostas de uma planta que crescia nos charcos, era preservado da
podridão, das picadas dos vermes e do bafio com óleo de cedro, com o qual se
esfregava antes de escrever.
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Quando ela lhe perguntou o nome para poder agir, o deus deu-lhe sucessivamente
vários nomes, mas todos eles falsos, para evitar cair sob o seu domínio. Por
fim, já esgotado, confessou-lhe o seu verdadeiro nome. Deste modo, ela curou-o,
mas venceu-o.
«Eu saí de Heliópolis com os Grandes dos templos (os deuses), os que possuem
protecção, os senhores da eternidade [... ]. Eles deram-me a sua protecção; eu
possuo fórmulas que foram feitas pelo Mestre Universal (o Deus-Sol, Rá), para
fazerem desaparecer a dor causada
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por um Deus ou uma deusa, por um morto ou uma morta [ ... 1, as quais estão na
minha cabeça, nas minhas vértebras, nos meus ombros, na minha carne, nos meus
membros, e para castigar o Caluniador (o diabo), o chefe dos que provocam a
desordem na minha carne e a doença nos meus membros, como qualquer coisa que
entra na minha carne, cabeça, ombros, corpo, membros. Eu pertenço a Rá. Ele
disse: «Serei eu quem protegerá o doente dos seus inimigos. Tote será o seu
guia, o que fará falar as escrituras e é autor das fórmulas; dará a habilidade
aos sábios e aos médicos-mágicos, seus discípulos, para curar da doença aqueles
que deus deseja manter vivos.»
Este texto é extraído dos papiros de Ebers (’), o mais célebre documento sobre a
medicina egípcia, e que foi desenterrado em Tebas.
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senta exactamente um cúbito» (’), medida que era utilizada na construção de
todos os templos. Além disso, segundo Plutarco, a Lua, que é a cópia nocturna do
Sol, ou Rá, tem também as cores da plumagem negra e branca deste pássaro.
Também, mais tarde, Tote, o deus-lua, seria assimilado a Rá, no tempo da
decadência, quando os homens se esqueceram dos segredos contidos nas escrituras.
Chefe supremo da Casa de Vida, é ele o primeiro iniciado. «O íbis, quando dorme,
esconde a cabeça debaixo da asa, e toma a forma de um coração.» O sono faz parte
da terapêutica mágica, como veremos mais adiante.
TOTE, O ETERNO
Muitos médicos do nosso moderno Ocidente ignoram que devem a sua ciência ao deus
da Antiguidade Heliópolis. Contudo, o seu cadlICCLI (’) representa essa noção
O pequeno cúbito era composto de cinco palmos. (@) Hotep significa «aquele que é
elevado à classe dos deuses». Atribuem-lhe a arquitectura da mais célebre
pirâmide de degraus, de Sakkara, 2850 a.C. (’) Sobre o caduceu, ver Rihouct-
Coroze: «Le signe du caducéc», in Revite Triades, vol. VIII, n.’ 3, Outono de
1960.
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de espiral ou turbilhão das forças construtivas do Universo, ou ainda a
serpente, que, no segundo dos hieróglifos, significa o movimento eterno da vida.
Foi em 458 antes de J. C., com 19 anos de idade, que Hipócrates, desprezando os
conselhos de seus pais, atravessou o mar, remando, torso nu, para chegar à terra
do Nilo, onde ainda duravam os calores tórridos do mês de Pyanepsien. Depois de
três anos de estudo nos templos egípcios, foi-lhe dada a honra da iniciação.
Nenhum médico, por mais racionalista que seja, deixará de se curvar perante a
descrição que Baissete nos faz da estada do jovem Hipócrates no Egipto.
(’) Quer dizer, a escada que teremos de subir para atingir a verdadeira
sabedoria. (@’) Cf. Auber (Dr. T. C. E.): Institutions de Hipocrate, ou Exposé
Philosophique... stir Ia Constitution de Ia Médecine (Paris, Baillière, 1964),
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outros para os dentes, outros para as cólicas intestinais, outros, enfim, para
as doenças internas.»
Isto é sem dúvida válido para o período de Ptolomeu. Mas nos períodos antigos,
os que nos interessam, os médicos mais célebres não eram especialistas e
praticavam a medicina juntamente com a magia. Tal foi o caso de Iri, no declínio
do Antigo Império, médico e decano dos médicos da corte faraónica, especialista
de doenças de estômago, dos intestinos e do ânus, oculista e... ocultista.
O papiro Smith (’), traduzido e comentado por J. H. Breasted, revela uma ordem
lógica de conhecimentos que nos demonstra irreparavelmente que os Egípcios da
época faraónica não eram tão desprovidos de espírito científico como durante
tanto tempo se acreditou, atribuindo-se essa paternidade aos Gregos.
Salientemos uma vez mais que não consideramos Hipócrates como o inventor da
nossa medicina, mas sim que o «Velho de Cos», grande iniciado dos templos de
Thop, foi encarregado pelos seus sacerdotes e médicos-mágicos de levar os seus
conhecimentos para uma outra etapa do desenvolvimento da humanidade ocidental
(’).
(’) Cf. F. Datimas: les Dieííx de I'Egyple (Paris, PU, col. «Que sais-je?»,
1970). (’) redigido em escrita hebraica (quer dizer, abreviada e cursiva), o
papiro de Edwin Smith divide-se em três partes. A primeira é um tratado de
cirurgia, de medicina cirúrgica, de terapêutica externa e anatomia. A segunda é
um encantamento «para afastar o vento do ano da peste»; a terceira um
encantamento para transformar um velho num jovem de 20 anos. (’> A este
respeito, consultar Steiner (R.): Mytes et Mystères Êgypliens (Paris, ed.
Triades, 1971).
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Uma leitura atenta dos tratados de Hipócrates permite-nos reconstruir o caminho
que terá percorrido aquele que se tornou sacerdote e médico-mágico.
Para Hipócrates, fiel aos ensinamentos dos tempos antigos do Egipto, há uma
condição primeira e principal: o talento natural. Quem for dotado de uma
intuição natural conseguirá adquirir por si mesmo essa arte que não se pode
possuir sem inteligência e que é necessário estudar enquanto se é Jovem e num
lugar propício a essa aprendizagem.
Além disso, precisa de trabalhar muito e durante muito tempo a fim de que a
ciência, tornando-se como que natural, cresça por si mesma, dê raízes e frutos.
O estudo da medicina pode-se comparar à cultura das plantas. Aliás, o homem tem
por missão cultivar a terra, quer dizer, domesticar a matéria. Começar a estudar
cedo, muito jovem, é lançar a semente dos preceitos médicos na altura própria.
Ter bons hábitos faz também parte das condições necessárias, porque os bons
costumes são como o ar puro, que alimenta a semente e a faz crescer. E o amor ao
trabalho representa todos os cuidados que se tem de dar à terra para a tornar
fértil. Mas existe ainda uma última condição: ter tempo, porque só ele dá às
coisas a possibilidade de fortificarem, de se alimentarem e de se amadurecerem.
Hipócrates acrescenta ainda: «As coisas sagradas não devem ser ensinadas senão
às pessoas puras; é um sacrilégio transmiti-las aos profanos antes de os ter
iniciado nos mistérios da ciência.» (1)
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figuras que significam respectivamente a vibração ou o ar, o ser
individualizado, portador da vida sobre a Terra, e a boca, através da qual passa
a respiração que se manifesta nas pulsações do coração. A figura do coração
significa «ser bom». Constitui a base a partir da qual se formam outros
hieróglifos significando o bem, o útil, a beleza(’). A inteligência, segundo os
egípcios, encontra-se no coração.
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cientista educado na escola positivista perante as descrições deste tratado. É
sem dúvida necessário relê-lo tentando compreender o espírito das palavras, em
vez de tomá-las à letra. Talvez seja necessário inspirarmo-nos no caminho
seguido pela acupunctura tradicional, na sua fisiologia das energias (’).
Metu traduz-se por «vasos». Mas, por outro lado, esta palavra designa também
aquilo a que chamamos músculos e tecidos fibrosos.
Estes metu, em número de quarenta e cinco neste tratado, são descritos como
canais ocos cheios de líquidos, de detritos e de ar. O coração, por intermédio
dos metu, distribui a energia e regulariza o funcionamento do organismo humano
em todos os seus detalhes.
A ciência sagrada dos egípcios considera que o sangue de cada indivíduo possui a
sua própria frequência vibratória. Nenhum ser humano se parece nem existem duas
frequências vibratórias idênticas entre dois seres. Vejamos o que nos diz um
célebre especialista anglo-saxÓnico do esoterismo e do misticismo: o Dr. George
H. Williamson:
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«Quatro melu vão até aos dois ouvidos; dois ao direito e dois ao esquerdo. O
sopro da vida entra pelo ouvido direito e o sopro da morte pelo ouvido esquerdo.
Ou, melhor, o sopro da vida entra pelo lado direito e o sopro da morte pelo lado
esquerdo.»
Portanto, os inelti tanto são condutores das forças vitais como das mortais, nas
quais alguns autores modernos tentaram reconhecer os «germes mórbidos» (’).
(’) Cf. Dr. N. Riad, Ia Médechie au Temps des Plial*M)lis (Paris, Maloine,
1955).
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Mas, por agora, continuemos com as múmias. As múmias egípcias foram utilizadas
em França como medicamento depois do século VII, quando da conquista dos Árabes.
Já na Antiguidade clássica o asfalto era utilizado em fumigações contra a tosse
e a asma, em unguentos e emplastros contra as comichões e entorses, assim como
para amadurecer os abcessos, em fricções contra a erisipela, como hemostático
para as hemorragias,, como talas para imobilizar as fracturas. Ingerido, o
asfalto aliviava as pleurites, as bronquites e as menstruações difíceis.
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mais lhe prestou atenção. No fim do século XVII, desapareceu da farmacopeia (1).
OS SEGREDOS DA AROMOTERAPIA
(’) Fourquet possuía ainda duas múmias nos seus sarcófagos, em Saint Mandè, na
sua casa de campo. (-’) Consideradas antigamente como espécies definidas, as
essências oferecem-nos -escreveu o Dr. Taylor, da Universidade de Austin
(Texas)- mais composições novas que as que todos os químicos do mundo poderiam
jamais sintetizar durante mil anos de trabalho. Agora, sabemos que se trata da
mistura de numerosos componentes: terpenos, álcoois, éteres, aldeídos, cetonas,
fenóis, etc. Cf. Dr. J. Valnet: Aromothérapie (Paris, Maloine,
1971).
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É o processo primitivo de destilação, fácil de realizar para os que residem no
campo. Foi ele que deu origem à destilação dos nossos licores e dos nossos
perfumes.
PERFUMES MÁGICOS
Os perfumadores existiam em todo o Egipto. Nos templos, nos palácios, nas mais
humildes casas. Os hieróglifos que representam o perfumador exprimem também a
alma de Bâ, chama de vida que queima e se apaga um dia ao cimo da terra.
Perfumes cujas emanações chegam aos céus!
(’) A este respeito ver uma compilação de artigos, aparecida sob a direcção do
Prof. Alajouarnine: Les Grandes Activités du RIzinencéphate, Paris, Masson,
1961. (’) Cf. o artigo de Passouant e Cadilhac, in les Grandes Activités du
Rhinencéphale.
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de Amon representa uma estrutura onde se encontra i, construído” o processo
emocional que, pelas vias conhecidas, é transmitido ao córtex, de onde irradia
para as outras regiões corticais.»
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verde sobre fundo dourado, depois o sono, durante o qual sonhavam com aparições
fantásticas (’).
O precioso incenso é queimado nos templos dos deuses com a mirra e o manjericão.
Esta última planta entra igualmente na composição dos produtos utilizados no
embalsamamento dos mortos. A sua essência, obtida pela destilação das folhas,
tem o poder de curar a epilepsia ou, pelo menos, parar as crises epilépticas e
«acalmar os nervos».
Para terminar esta longa parte destinada às plantas, falta-nos sublinhar aqui
que nos medicamentos compostos pelos médicos-mágicos do Egipto predomina o reino
vegetal. Mas, se o papiro de Ebers nos diz que a medicamentação pelas plantas é
benéfica, diz-nos também que ela é «secreta». Os que traiam os deuses eram
muitas vezes condenados a morrer envenenados.
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crianças L... ]; conchas de tartaruga ratos cozidos ou crus... Também o
reino mineral forneceu um certo número de medicamentos: lascas de sílex,
petróleo, natrão, ocre amarelo, mármore, etc. Citemos também o memphitis, ou
mármore do Cairo, que Plínio diz ser utilizado sob a forma de pó misturado com
vinagre. «Esta composição entorpece tão bem o local onde se aplica», diz ele,
«que o cirurgião pode cortar ou cauterizar sem que o doente sinta dores».
Efectivamente, o vinagre, ou ácido acético, produz, em contacto com o carbonato
de cálcio que compõe o mármore, uma certa quantidade de gás carbónico que pode
actuar como anestésico local. O seu poder é ainda maior no estado de reacção do
que em pulverizações gasosas.
Este ioga foi-nos transmitido pelo professor indiano Otoman Zar-Adusht Hanish
(’). Vamos dar a palavra a dois dos seus discípulos: «O ioga irano-faraónico,
tal como Hanish no-lo transmitiu, é fácil, progressivo, dinâmico, respiratório,
vertebral, ortopédico. É vivo. Adapta-se aos europeus. É compatível com a vida
dos comedores de vacas. É sempre correctivo; não contém posturas deformantes,
anormais, monstruosas ou destrutivas. Não é nem entorpecente, nem estático, nem
perigoso para o cérebro e as articulações. Qualquer pessoa pode praticá-lo. Pode
fazer-se sentado, de joelhos, na cama, deitado no chão, contra uma porta, contra
uma árvore, em qualquer idade.»
Para estes autores, a origem dos gestos do padre católico quando celebra a missa
está nas posturas que tomavam os médicos-mágicos do Egipto antigo para des-
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pertar os chacrãs superiores depois de terem «normalizado» os chacrãs
inferiores. Entre os dois, o diafragma, que os limita e os associa. Na base da
inspiração está o trabalho que o diafragma exerce comandando os pulmões; e este
trabalho é a base do ritmo psíquico de cada indivíduo.
Aparentemente simples, não é? Este exercício é a base de uma posição que nos
ensina também uma das estátuas mais célebres do mundo: a do escriba acocorado.
Para tomar consciência das costas e dominá-las, acocorar-se contra uma parede,
destacando bem o pescoço. As mãos na nuca e os braços em cruz são os movi-
(’) Para ter uma ideia do som cantado utilizando o diafragma como «caixa de
ressonância», basta escutar a linguagem russa ou búlgara, ou então os cantos
gregorianos.
43
nientos básicos que se executam nesta posição, chamada o «acocorado».
É sem dúvida por isso que o sono no templo continua a ser um enigma para o homem
moderno. Contudo, um homem pertencente à vanguarda da ciência deste século,
Rudolf Steiner (), deu-nos em poucas palavras um es-
44
boço perfeito do sono no templo, um dos melhores remédios e dos mais antigos dos
sacerdotes egípcios:
«Aquele que sofria de qualquer perturbação de saúde não era, nesse tempo,
tratado com remédios externos; isso acontecia muito raramente. A maior parte das
vezes, o doente ia ao templo, onde o adormeciam. Contudo, este não era um sono
normal, mas sim um sono sonambúlico tão profundo que o doente era capaz de ter
não apenas sonhos caóticos mas sim verdadeiras visões. Durante esse sono, via
formas etéricas no mundo espiritual, e os mágicos conheciam o modo de agir sobre
estas visões; podiam guiá-las e dirigi-las. Suponhamos um doente mergulhado
nesse sono, com um mágico-curandeiro ao seu lado. A partir do momento em que o
doente era adormecido, quer dizer, penetrava num mundo de formas etéricas, o
sacerdote dirigia esse sono graças ao poder que lhe tinha sido conferido por
iniciação, e que não era possível senão nesses tempos recuados em que havia
ainda condições de existência raras hoje em dia, se é que não desapareceram já.
O mágico modelava as visões e os seres etéricos, de maneira que, como por
sortilégio, apareciam ao dormidor seres nos quais os Atlantes viam os seus
deuses. Entre essas formas divinas, as que se ligavam à ideia de uma cura
completa eram colocadas perante a alma do dormidor. Se o homem mantivesse a sua
consciência desperta não teria nunca possibilidades de fazer com que essas
forças actuassem nele. Os sacerdotes dirigiam portanto esses sonos de uma
maneira tal que as forças poderosas o penetrassem, harmonizando e regularizando
o corpo, cujas forças vitais estavam em desarmonia e desordem. Isto não era
possível senão graças à atenuação da consciência do Eu.» (’)
R. Steincr: Mytes ei Mystères Êgyptiens, op. cit. Este processo que utiliza a
concentração mental e a consciência imaginativa foi descrito de uma maneira
bastante simples para ser experimentado sem dificuldades por Jagot (P. C.):
Unfluence à Distance, Ia Transmission de Pensée et Ia Suggestion Mentale (Paris,
Dangles, 1925). É, com efeito, uma das aplicações da técnica da hipnose.
45
à sua capacidade de concentração mental e de consciência imaginativa, que lhes
permitia atingir os mais altos graus da iniciação.
Toda a pirâmide emitia esta onda particular, que, dizem, ainda aparece sob a
forma de uma auréola azul quando se observa a pirâmide de Gizé durante a noite.
Esta vibração era uma onda de vida ou de morte, conforme se era ou não iniciado.
É bom constatar que esta pirâmide foi construída num lugar geométrico
particularmente interessante: sobre o trigésimo paralelo a partir do Equador e
sobre um meridiano que tem a particularidade de dividir em duas partes iguais
todas as zonas imersas do Planeta, de atravessar o máximo delas e, finalmente,
de dividir o delta do Nilo com grande precisão pelo cruzamento de diagonais.
46
Assim, verdadeiro farol radiestésico que dirige o viajante tanto no mar como no
deserto, a pirâmide construída por Kéops é também o «formulário vivo e total da
ciência egípcia» (’).
(’) Moreux (abade): Ia Science M.vstériet4se des Pliaraons (Paris, Plon, 1958).
47
bém ser utilizados no tratamento de diversas doenças, entre as quais a
tuberculose.
48
parte do grande plano da evolução do mundo, e a sua vinda tinha sido preparada
pela reforma de Akhenaton, esse faraó que destruiu os ídolos, que se haviam
tornado as estátuas divinas dos templos, e ordenou ao seu povo o monoteísmo
solar. Esta tradição, que se manteve no plano religioso, permitiu preservar uma
parte do conhecimento dos sacerdotes do Egipto.
Graças aos coptas, alguns indícios permitem estabelecer com toda a exactidão uma
ligação entre o longínquo passado, onde, por ocasião da iniciação do sacerdote-
terapeuta egípcio, o conhecimento supremo se definia como um meio de elevação
espiritual, e os «segredos» terapêuticos das diferentes correntes gnósticas.
Seth poderia perfeitamente ser o deus do mal da Génese gnóstica, ou o Tífon que
presidia aos rituais judaico-gnósticos. No «Evangelho dos Egípcios», trata-se de
lugares misteriosos, vigiados por determinados guardiães... Poderia talvez
tratar-se dos covis secretos do Leão, um dos quais é guardado pela Esfinge.
A HERANÇA DO EGIPTO
A terra negra dos Egípcios, ou chime, deu origem à nossa «química», porque chime
significa também «a ciência egípcia», já que foi sobre esta terra que se
desenvolveu esta ciência durante a Antiguidade clássica.
(’) Ver Douesse (J.): les Livres Secrets des Gnostiques d'Egypte (Paris, Doin,
1925).
49
Quem é que sabe que a palavra amoníaco deriva simplesmente de Amon (1), porque
essa substância se encontrava em Siual perto do templo do deus dos faraós?
A nossa palavra «farmácia» tem por étimo Ph-ar-maki, e esta expressão significa,
em egípcio, «aquele que procura segurança». Ph-ar-maki significa também Tote, o
deus das três centenas de nomes.
Acrescentemos que a origem do récipe, que figura sob a forma de Rp. nas receitas
que se mandam ao farmacêutico para que as execute, tem a forma do olho de
Hórtis, olho esse que se assemelha a um nervo. Esta convenção médica persistiu
desde o Egipto até aos nossos dias, ou seja, mais ou menos sessenta séculos.
OS ENCANTAMENTOS
(’) O grande templo de Ãmon, em Karnak, está construído junto de um lago sagrado
sobre o qual, segundo Heródoto, se desenrolavam as cenas mais importantes dos
mistérios de Osiris. (2 ) Do grego hemi, e kranion, cabeça ou crânio. (’) Por
exemplo: a palavra copta que deu origem a adobe, que em espanhol e provençal
significa os tijolos cozidos ao sol, técnica que era utilizada pelos egípcios. A
este respeito, consultar Hasan Fathy: Construire avec le Peuple (Paris,
Martimeau, 1971).
50
A não ser, claro, quando o médico se encontra perante uma «doença que não curo»;
trata-se nesse caso de uma doença cármica decisiva, pondo termo a uma encarnação
presente. O veredicto do médico é dado de acordo com as irês expressões
seguintes: «Doença que eu trato (prognóstico favorável); doença que combaterei
(prognóstico duvidoso); doença que não curo ... »
Existem encantamentos que são de aplicação muito geral, porque o seu poder é dos
maiores. Não são acompanhados da indicação de um tratamento e parecem agir
simplesmente devido ao seu poder sobrenatural. Mas para isso é necessário que o
doente termine gritando: «Eu sou aquele que Deus deseja manter vivo!», no fim do
discurso de Rã prosodiado pelo médico-mágica.
«Ide, remédios! Ide e expulsai o que está no meu coração e nos meus membros!
Não vos lembrais de como Hórus e Seth foram criados juntos no grande templo de
Heliópolis?»
No entanto, na maior parte das vezes, os encantamentos não operam senão mediante
um substrato material, determinado em relação a cada uma das doenças, quer
dizer, por meio de uma preparação medicamentosa à base de produtos naturais,
relativamente simples de encontrar... no tempo dos faraós! Citemos, por exemplo,
o
51
encantamento que se deve salmodiar quando a córnea se cobre de belidas brancas
que obscurecem a visão:
Encantamento que se deve recitar sobre bílis de tartaruga. Misturar com mel e
colocar sobre «as costas dos olhos» (as pálpebras).
Segundo alguns autores, Tobias teria ido ao Egipto em busca de um remédio que
lhe curasse a cegueira. Será que temos de ver no fel de peixe que o anjo Rafael
lhe receitou uma má tradução de «bílis de tartaruga»? O caso é que na
Antiguidade os oftalmologistas egípcios gozavam de uma fama enorme (1). Isto era
indiscutivelmente devido ao facto de as infecções oftalmológicas estarem, como
aliás ainda hoje acontece, muito espalhadas, começando pelo tracoma, ou oftalmia
do Egipto (’). Eis, para acabar, um encantamento e o remédio correspondente,
destinado a curar uma doença também muito difundida no Egipto:
«Outro remédio para curar a pelada: “õ tu, o Luminoso que continua imutável! Que
aquele que combate a fenda, Aton, se acautele com o que se tornou dono do alto
da cabeça!”
(’) Sabemos por Heródoto que Ciro mandou vir do Egipto tini célebre
oftalmologista. Segundo Meyerhof, os egípcios faziam correctamente a operação às
cataratas. Cf. VOpération de Ia cataracte du cirurgien Atity11e d'Alexandrie em
Livre d'or pour le jubilé dií Pr Papayoannou, Cairo, 1932. (’~’) O papiro de
Ebers contém um Livre des Yeux que descreve uma vintena de doenças oculares e
umas seis centenas de observações. Entre essas doenças encontra-se o tracoma.
Com a bilharziose, é o grande responsável pela maioria das doenças
oftalmológicas tratadas pelos médicos egípcios.
52
mel. Deixar ferver até reduzir, e aplicar depois em emplastro.» (1)
AMULETOS E TALISMÃS
Símbolo da eternidade desde sempre, já que as suas linhas partem para o infinito
e nunca se encontrarão, a
53
cruz do Egipto tem na parte superior uma asa que podemos associar ao hieróglifo
que representa um laço de um cabo e significa «conjuração» ou «unir pelas
palavras». Por conseguinte, o ankh significa, ao nível do microcosmo, o homem: a
asa representa a cabeça ou o sol da sua inteligência, o princípio que o anima; a
barra, os braços levantados para o céu ou estendidos para a terra. Ao nível
macrocósmico, o ankh representa os três elementos: sol, céu e terra. Visto sob o
ângulo do talismã, a cruz alada é a materialização de todos os encantos, fazendo
apelo ao desenvolvimento da vida no homem, verdadeiro nó mágico ou secreto da
combinação específica dos elementos que formam um indivíduo e o seu destino.
(’), Died, palavra comparada com udjat, que significa a «saúde». O pilar de Djed
representa a coluna, tendo no alto quatro andares correspondentes aos «andares»
cerebral, ocular, nasal, digestivo. Por cima, o disco solar ornamentado por duas
serpentes «cobras» levando cada uma coroa diferente, que podemos comparar com as
duas forças postas em jogo no kundaliiii do ioga tântríco. Cf. A. Avalon: La
Puissance du Serpente (Paris, 1973). (-) O hieróglifo do escaravelho (Kephara)
significa a «força da transformação eterna», ou «criar formas». (’) Ou o olho
disfarçado que representa os dois aspectos do Sol, à noite e de manhã. O olho é
o verbo luminoso.
C) A pele, ut, era um dos atributos do deus Anúbis; é também chamada «nascimento
do duplo».
54
REJUVENESCIMENTO E RESSURREIÇÃO
Com o decorrer dos séculos, este ritual foi-se simplificando cada vez mais, até
se tornar numa simples recitação de gestos e fórmulas, e finalmente desapareceu.
Mas o Úkenu-feto figura no galhardete dos cortejos reais, e os textos asseguram
que «passamos por ela (a pele real) para irmos ao céu».
O signo das três peles atadas juntas pode ser comparado com o da pele malhada no
estandarte no alto da estaca que se cravava em frente da estátua de Osiris,
durante algumas festas. A pele do deus Anúbis permite que Osiris ressuscite.
Também o sacerdote leva uma pele sarapintada de pantera, quando realiza o ritual
fúnebre.
A TÉCNICA DA MUMIFICAÇÃO
Três ou quatro dias depois da morte, o corpo era confiado aos embalsamadores,
que, durante os setenta dias do ritual de embalsamamento, faziam dezassete
incisões, conservando apenas o «envelope» do defunto.
O embalsamamento realizava-se num quarto mobilado com uma mesa de autópsias, de
madeira ou de pedra, tendo ainda uma espécie de tina destinada a receber os
líquidos orgânicos ou as águas de lavagem.
O corpo era colocado sobre quatro cepos, postos sob os pés, os ombros, a bacia e
a cabeça. A excerebração
55
era feita introduzindo nas narinas um gancho que permitia a extracção da
substância cerebral, que escorria pelo nariz quando o cadáver era colocado de
barriga para baixo. Este gancho media cerca de 30 cm. A trepanação foi muito
pouco utilizada nesta «limpeza cerebral». Os embalsamadores introduziam pelo
funil nasal uma substância liquidificada, resina ou betume, solidificada por
arrefecimento. A evisceração era praticada utilizando facas de sílex ou
obsidiana: «Com uma pedra etíope aguçada, cortam a ilharga e fazem sair os
intestinos do abdómen», diz-nos Heródoto. Depois, introduziam na cavidade
abdominal uma espécie de cutelo bastante comprido e curvo, para extrair o
coração, o baço, o fígado, os pulmões, os intestinos, os rins e a bexiga. Por
vezes deixavam o coração e os rins. Tal como no caso do cérebro, os
embalsamadores faziam o vazamento de chumbagem, de betume ou de resina, na
cavidade torácico-abdominal. Um grande tampão de pedaços de tecido impregnados
de resina enchia a bacia e outro a cavidade ilíaca. Às vezes também faziam a
amputação do pénis e dos testículos.
56
nastia, manteve-se até à época romana (sob os Ptolomeus), altura em que apareceu
o hábito de deixar macerar os cadáveres em betume fervente. Estes vasos eram
colocados ao lado do sarcófago.
O alho deve o seu odor muito particular a um óleo essencial muito volátil,
constituído quase totalmente por sulfureto de alicina. Heródoto conta que uma
inscrição gravada na pirâmide de Gizé dizia que os operários que participaram na
sua construção recebiam todas as manhãs um dente de alho, por causa das suas
propriedades tonificantes e anti-sépticas. As suas virtudes são tais que um
simples dente de alho quase pode ser considerado como uma panaceia. É um anti-
séptico intestinal e pulmonar, um bacteriostático e bactericida, um tónico que
se pode comparar à quinina, um hipotensor nos casos de hipertensão, um
retardador do pulso, antiespasmódico, reequilibrante glandular, antiesclerótico,
diurético, antiartrítico; aperitivo estimulante e digestivo; é além disso um
verdadeiro vermífugo e, em certos casos, um excelente preventivo do cancro:
-um ou dois dentes de alho tomados todas as manhãs permitem conservar a saúde.
Para evitar os inconvenientes de um hálito «forte», basta mastigar em seguida
dois ou três grãos de café, ou alguns grãos de anis ou cominho, uma maçã ou um
ramo de salsa;
57
A cebola é rica em açúcar, sais minerais e vitaminas. È uni excelente
estimulante do sistema nervoso, hepático e renal. É antiescorbútica, anti-
infecciosa e anti-séptica. Secretória e expectorante, utiliza-se com sucesso nas
afecções respiratórias e nas gripes (prepara-se uma maceração de quatro cebolas
picadas num litro de água e bebe-se um copo desta preparação entre as refeições
e antes de deitar durante 15 dias). Factor de saúde e de longevidade (os que a
comem regularmente morrem centenários!), é aconselhada em caso de astenia
provocada quer por esgotamento intelectual ou físico quer pelo crescimento.
Não podemos encerrar esta parte da medicina sagrada dos egípcios consagrada às
plantas sem falar do diagnóstico da gravidez, assim como do prognóstico do sexo
da criança que estava para nascer.
Eis outra fórmula egípcia: «Para saber se a mulher está grávida, faz-lhe
fumigações: se ela vomitar imedia-
58
tamente, não está grávida.» Hipócrates acrescenta: «Fuiniga as suas partes com
excremento de hipopótamo.»
Quanto ao prognóstico precoce do sexo da criança que está para nascer, é um meio
muito simples, que chegou até nós graças ao papiro de Berlin (1350 anos antes de
J. C.): «Colocam-se grãos de trigo e de cevada em dois sacos que são regados
todos os dias com urina da mulher grávida. Se só crescer a cevada, será uma
rapariga. Se crescer apenas o trigo, será um rapaz; se não crescer nenhum deles,
não há gravidez.» (’)
59
São igualmente numerosos os prognósticos acerca das possibilidades de vida do
recém-nascido (1). A saúde das crianças é muito vigiada, e a mulher que os
amamenta deve tomar os mesmos remédios da criança, sobretudo no que respeita à
incontinência ou à retenção da urina.
(’) Eis alguns desses prognósticos, sempre mencionados pelo papiro de Ebers. «Se
ele diz ny, viverá. Se diz embi, morrerá. Se a voz for como um queixume ou
baixar o rosto, morrerá.»
60
CAPITULO III
A Bulgária, terra que cante e pátria de Orfeu, o pai da nossa moderna ecologia.
Deste modo, não é por acaso que encontramos na sua história, nas suas lendas,
aspectos do xamanismo.
61
conhecendo todos os segredos da Natureza, pode subjugar as leis aos simples
acordes da sua lira, às harmonias do seu canto.
Não é sem motivo que a grande etnóloga americana Ruth Benedict segue a distinção
nietzschiana, classificando certas populações etnológicas como «apolíneas» e
«dionisíacas». E é interessante constatar que esta tipologia das sociedades
corresponde, pouco mais ou menos, à que foi estabelecida pelo Dr. Léon Vannier,
cé lebre homeopata do começo do século, que classificou os grandes tipos humanos
segundo as divindades antigas que também governavam os planetas do nosso
sistema().
(’) Cf. Vannier (Dr. L.) La Typologie et ses Applicatiwis Thérapetitiques. Les
tempérainents: Prototypes et Métatypes (Paris, Doin, 1955).
62
privada, tanto mais se rodeia de luxo e sumptuosidade sempre que tem de.
aparecer em cerimónias [ ... ]. Os apolíneos são também sujeitos a
estranhas mudanças de fortuna, e a sua espantosa ascensão é muitas vezes seguida
de uma queda extraordinária e retumbante.»
63
ao passado... O que é preciso é viver com o presente. » E a saúde dos Búlgaros
tornou-se proverbial: deveríamos dizer «sensato e são como um búlgaro!».
Infelizmente não encontrámos o Dr. Lozanov na Bulgária, mas os Búlgaros, que nos
surpreenderam devido à s faculdades psíquicas que possuem, deram-nos a mesma
resposta do Dr. Lozanov a esses jornalistas americanos: «A Bulgária é a pátria
de Orfeu, um velho país [ ... 1. Haveis notado esta harmonia que aqui
existe entre o homem e a natureza?»
64
utilizam um material ultramoderno e muito sofisticado: máquinas EEG (”),
gravadores de vinte pistas, vídeos, instrumentos de electrocardiografia,
osciloscópios, equipamentos fotográficos especiais com estimuladores fóticos,
peças guardadas em gaiolas de Faraday, etc. Trabalham nele trinta sábios:
médicos-físicos, engenheiros-físicos, pedagogos, psicólogos.
O Instituto é rodeado por um jardim cheio de rosas. Aí, tudo é agradável, calmo.
É um centro de descoberta do ser humano na sua totalidade. Os investigadores que
aí trabalham, como outros investigadores dos países do Leste, pensam que os
acontecimentos paranormais obedecem muito provavelmente a leis específicas que
devem ser descobertas pelo materialismo científico:
-Por que razão os videntes têm uns dias mais propícios que outros à precognição?
-Intervêm factores médicos? -Existirão campos biológicos à volta dos seus corpos
que afectarão a precognição. -O seu cérebro funcionará de maneira diferente do
dos outros? -Qual é o perfil psicológico do vidente?, etc.
O estudo dos fenómenos da parapsicologia começou com o estudo dos dons de uma
das videntes mais célebres do mundo, Vanga Dimitrova (cegou aos vinte anos),
cujas precognições demonstraram ser 80 por cento certas - graças ao importante
ficheiro do Instituto, que permite estabelecer as estatísticas e, bem entendido,
proceder a verificações. Vanga Dimitrova é, como qualquer outro trabalhador,
funcionária pública, e credenciais para a consulta são passadas pela
administração da aldeia de Rhodope, onde ela vive.
UM INSTITUTO DE SUGESTIOLOGIA
65
«O medo cria tensões e envenena a vida. A vida deveria ser uma corrente
incessante de felicidade. Mas é impossível ser feliz quando se está
fanaticamente amarrado a coisas que mais tarde ou mais cedo se perderão»,
declarou ele aos jornalistas americanos. É esta a grande lição que devemos tirar
do mito de Orfeu. Mas como? Os jornalistas descrevem-nos uma sessão dirigida
pelo Dr. Lozanov:
«No sanatório de Bankya, a sessão começou pelas explicações dadas pelo Dr.
Lozanov sobre a possibilidade que o espírito tem de ajudar o corpo a curar-se.
Em seguida, a sua voz melodiosa e calma dirigiu-se aos pacientes relaxados, mas
totalmente acordados e conscientes: “Relaxem-se profundamente, profundamente...
Nada os preocupa. O vosso corpo está totalmente relaxado. Todos os vossos
músculos estão em repouso. A partir de agora podeis superar todas as
dificuldades.” Depois de 20 minutos de sugestão de relaxamento, Lozanov
concluiu: “Senti-vos perfeitamente bem. Dormis bem. Tendes bom apetite.” E, para
terminar, um cantor começou a recitação melódica de um poema conhecido. “É muito
importante fixar a atenção num fim elevado para se manter uma perspectiva
criativa”, diz Lozanov.»
(’) Cf. Lozanov (Dr.): «Un cas inhabituel dans Ia pratique médical», in Sofia
Prai,da de 27 de Agosto de 1965 (em búlgaro).
66
vezes a aprendizagem e permite, por exemplo, o ensino de uma língua estrangeira
(normalmente repartido por dois anos) em apenas 20 dias. Este ensino é
administrado no Instituto, em salas mobiladas com cadeiras de relaxe, a grupos
de doze pessoas, mais ou menos. A luz é velada. Os estudantes escutam primeiro
uma música suave, relaxante, depois ouvem a voz do professor: umas vezes suave,
também ela, outras vezes imperiosa, brutal, inesperada. A voz canta, ordena. No
final de uma sessão de duas horas, 150 novas palavras, mais ou menos, são
assimiladas. Os alunos não devem pensar em nada. Eles absorvem estas «lições»
como se ouvissem encantamentos, palavras prosodiadas, articuladas num ambiente
musical...
AS FESTAS DE DIONISO-BACO
Por todo o lado e na maior parte do Planeta nós perdemos em festas o que
ganhámos em nevroses.
(’) Cf. Guthrie (W. K. C.),: Orphée et Ia Réligion Grecque (Paris, Payot, 1956);
Na sua obra Le Carnaval (Paris, Payot, 1974), CI. Gaignebet cita uma série de
ritos curiosos que apareceram durante este período do ano, sobretudo o do
«pequeno leito de Jesus».
67
Infernos. Uma nota de H. Jeanmaire vem muito a propósito: «Uma constante, se
assim se pode chamar, do sistema religioso das antigas populações europeias é
que as festas dos mortos, muitas vezes compreendidas como a reaparição da alma
dos defuntos, se realizavam no começo do período invernal ou no seu término.» E
acrescenta: «Ê dos mortos que nos vem o alimento é uma fórmula que foi
conservada por uma obra atribuída a Hipócrates.» (’)
Como o xamã primitivo, Dioniso-Baco está também mascarado. Mas o êxtase já não é
domínio reservado a uma só pessoa: à volta de Dioniso-Baco organiza-se o cortejo
que conduz os homens eas máscaras da cidade-Vila aos campos. Tivemos a sorte de
presenciar a recordação viva dessas festas na Bulgária, na Stara Planina. No
cortejo, aqui e ali no decurso da festa, vimos paus fálicos brandidos por
rapazes jovens, enquanto diziam pausadamente: «o meu é mais grosso, maior, mais
forte», etc., rindo às gargalhadas. Na Antiguidade, a procissão aldeã levava
para o campo um falo mágico, destinado a aumentar a fertilidade das terras
cultivadas e a fecundidade dos casais. Via-se aí a ânfora de vinho, a cesta dos
figos, a hera e os tirsos, um bode, sacrificado nos tempos mais remotos e
substituído mais tarde, parece, por bolachas ou papas de farinha.
Walter F. Otto explica-nos muito claramente que «não são todos os seres sobre-
humanos que se apresentam na mascarada, mas apenas os seres naturais, os que
pertencem à Terra. Era em sua honra que os mascarados executavam as múltiplas e
variadas danças» (’).
(’) Cf. Jearimaire (H.): Dionysos, Histoire du Culte de Bacchtis (Paris, Payot,
1970). (2) Otto ^ F.): Dion.vsos, le Mythe et le Culte (Paris, Merctire de
France, 1969).
68
O papel de Orfeu foi muitas vezes associado ao do celezistes, o cantor que
ritmava o movimento dos remadores. Na realidade, era bastante mais «cósmico».
69
O tempo da constelação da lira será o da procissão de Elêusis quando gritavam:
«Iacol» Não, laco não é na realidade o nome sagrado de Baco-Dioniso, como o
afirmam certos dicionários. Este nome de Iaco corresponde, dizem, ao de S.
Tiago, que monta num cavalo branco como Pégaso e que corresponde à constelação
do Cocheiro. Ele indica a direcção oeste, a mesma que os alquimistas utilizarão
mais tarde para Santiago de Compostela, a fim de descobrirem o segredo de uma
determinada luz C).
Orfeu. será o nome secreto que deram a Hórus os iniciados que participavam na
procissão de Elêusis, aqueles que conheciam os «verdadeiros mistérios»,
cuidadosamente escondidos dos Gregos. Hórus, filho de fris e Osiris, simboliza
também a luz transcendental, metafísica, que emana do Sol em determinados
momentos do ano, por vezes chamada «raio verde» (’). Seria esta irradiação que
favoreceria, dizem, a maleabilidade dos metais. E por conseguinte a sua
transformação.
Mas que nos diz a interpretação esotérica e profana do rito órfico? Que a música
pode curar a alma e o corpo.
AS VIRTUDES DA MúSICA
Uma terapêutica muito simples à primeira vista! Mas a nossa percepção, a nossa
maneira de sentir o mundo e as forças que nos rodeiam, devem ser bem diferentes
das dos primeiros tempos. O xamã dos caçadores-colectores também cantava.
Cantava as suas viagens e descobria «o espírito ou o demónio» autor da doença.
Deste modo, tranquilizava igualmente quer a assistência quer o doente, o que,
como todos sabem graças aos nossos actuais psicólogos, é de uma importância
primordial para o moral e a cura do doente.
A lira tem sete cordas. Sete, número mágico em quase todas as civilizações. Sete
cordas, sete notas, tal como actualmente: dó-ré-mi-fá-sól-lá-si.
70
Ninguém nega os poderes afectivos da música. Apesar da expansão do disco, nós
perdemos talvez a capacidade de agarrar a relação «catártica» que pode unir o
executante ao seu auditório. Porque o homem é ao mesmo tempo activo e passivo,
emissor e receptor, e é importante manter um equilíbrio entre estes dois
estados.
Música e comunicação
A criança deixa o jardim de infância e, a partir daí, não mais deve contentar-se
com repetir mais ou menos bem os sons e as palavras, introduzindo neles
variantes
71
pessoais. Aprende a apreender, a compreender, a memorizar: aprende para penetrar
no domínio de um certo equilíbrio, o do seu corpo e o da sua afectividade, que
alguns chamam «disciplina». Esta etapa corresponde à aprendizagem da canção e da
melodia. A criança termina então os seus estudos primários. Vem então o tempo da
adolescência, aquele que, ao nível da escolarização, corresponde à descoberta de
duas novas funções veiculadas pela linguagem: abstracção e intuição, estudo das
matemáticas e da arte literária. Esta descoberta da linguagem simbólica é também
a da linguagem mística, que encontra a sua correspondência, no plano musical,
nas óperas ou nos dramas líricos, quer dizer, nessas obras em que a narrativa e
a música se juntam para equilibrar o fundo e a forma. Citaremos por exemplo o
Don Juan, de Mozart, que Kierkegaard. louva como obra-prima, o triunfo máximo do
género musical.
Nessa altura, mesmo que seja um ateu convicto, a sua harmonia e a sua paz
profunda traduzem-se, no plano musical, nas grandes liturgias sagradas.
É curioso constatar que a cultura e o gosto da música param, na maior parte dos
nossos contemporâneos, no que corresponde ao período da pré -adolescência, ou
seja ao nível da aprendizagem, a do equilíbrio (segundo uns) ou da disciplina
(segundo outros) do corpo e da afectividade. É talvez doloroso constatar também
que o período que corresponde à socialização, o das canções populares
mensageiras do folclore musical, é bem curta e rapidamente apagado pela
«disciplina».
Platão, que dizem ter sido iniciado nos mistérios órficos, a que faz referência
no Cármides, desenvolveu na República uma transposição dos diferentes níveis do
corpo humano para o plano social. A estes níveis corres-
72
pondem diferentes funções tanto no indivíduo como na colectividade, e essas
«distribuições» correspondem aliás aos mundos que «organizam» o universo,
segundo a cabala.
Um amigo nosso, antigo trapista que continuou um grande apreciador dos cantos
gregorianos, afirmou-nos que estes agem ao nível do ventre, talvez mesmo do
hara, ou seja, esta zona de equilíbrio entre «os do Planteta» e o Cosmos. Deste
modo, acrescenta ele, os cantos gregorianos podem servir de suporte para
transcender o desejo de comunicação entre aqueles que fazem voto de celibato.
Tratar-se-ia, de qualquer modo, de uma desordem energética que justificaria os
cantos sagrados.
Quadro de correspondências
(para um melhor entendimento, este quadro foi aqui colocado de forma directa e
não em gráfico)
Planetas, Cores, Sons, Números, Planos humanos, Perfumes;
Júpiter
Roxo
Dó
Benjoim
Saturno
Negro, Castanho
si
9
Papoila, feto
Lua
Branco
Lá
2,9
Cânfora, sândalo
Mercúrio
Irisado
Sol
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corpo
Função no indivíduo
Função colectiva
Cabeça
Consciência
Sacerdotes, sábios
Emanação
Tronco, coração
Criação
Transformação, reprodução
Formação
Membros
Jograis e viajantes
Acção/tempo
Partindo deste exemplo, podemos aperceber-nos de que alguns sons agem sobre
diferentes zonas do corpo, tal como certos sons desencadeiam reacções emotivas
bem localizadas: a cólera recalcada (indignação) ao nível do plexo (ou
diafragma); a alegria, a felicidade intensa’
ou o medo, ao nível do coração.
A MUSICOTERAPIA
Como é que ela nasceu, na nossa época, em França? Em 1954, M. Jost, engenheiro
electroacústico, que trabalha no Centro de Pesquisas da ORTF (’) e que, além
disso, era músico (violão, piano, órgão), fez a seguinte pergunta aos que o
rodeavam: «Por que razão os psiquia-
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tras não utilizam o poder da música?» Resposta: «Não temos provas ... »
Não bastava, quanto a ele, acumular provas sobre o que ele tinha podido
verificar, como tantos outros amadores de música. Mandou fazer registos
poligráficos: electroencefalogramas, electrocardiogramas, ritmos respiratórios,
reflexos psicogalvânicos, etc...
Graças a esses registos, ainda que não conhecêssemos a natureza desta emoção
musical, saberíamos mesmo assim que ela existe, objectivamente. Realizou-se uma
primeira experiência num hospital parisiense, no ano de
1954-1955. Logo à partida, foi decidida uma pesquisa sistemática pelo período de
um ano. Aperceberam-se então de que era necessário, em primeiro lugar, associar
as obras musicais, seguindo uma ordem bem determinada:
75
1) Não dar, para começar, uma obra alegre se o doente está triste, e, por
conseguinte, manter a pessoa ao seu nível com a ajuda de uma obra que reflicta o
seu estado de alma.
O programa muda em cada nova sessão, para permitir uma tomada de consciência do
sujeito para um novo estado que vá no sentido terapêutico procurado: em geral,
uma abertura para a vida, um viver melhor.
Não se trata, bem entendido, de uma panaceia musical, mas esse programa actua
fortemente sobre pessoas dos 20 aos 30 anos, ]@ necessário insistir no facto de
que toda a receita é perigosa e de que é necessário ter em conta factores
extremamente subtis.
As sessões realizam-se ao ritmo de uma ou duas por semana. Cada uma tem a
duração de uma hora no total, dividida em 20 minutos de audição precedidos de
uma conversa.
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Os ensaios foram, até ao momento, muito frutuosos nas depressões. Entrou-se
agora numa nova fase de pesquisas: dois hospitais, graças aos seus médicos,
abrem as portas da musicoterapia a pessoas mais seriamente atingidas: psicoses,
em particular a esquizofrenia.
A musicoterapia, tal como foi concebida por M. Jost e pela equipa de médicos que
participam nas investigações, permaneceu durante muitos anos na sombra.
O REGRESSO DE ORFEU
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Este centro (’) é actualmente o único centro de pesquisa em França, juntamente
com quatro hospitais psiquiátricos equipados com uma sala de musicoterapia, um
em Limoux e os outros em Montpellier e em Paris, em Boissière, no centro da
MGEN.
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perfície. Nalgumas regiões da Bulgária, podemos ainda assistir a essas festas,
em que os mascarados, armados de ramos, podem, salvando as aparências,
«chicotear» e dizer «obscenidades» aos que não respeitam a harmonia colectiva.
Podemos dizer desta terapêutica que ela é uma reeducação sensorial e erótica, ao
mesmo tempo que é uma terapêutica de comunicação.
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provisados pelos mascarados. A nossa sociedade está bastante doente: é
certamente mais traumatizante ser obrigado a recorrer ao psicodrama no gabinete
médico que disfarçar-se e ser totalmente livre, socialmente, pelo menos por um
tempo aquele em que a sociedade é terapeuta dela mesma o tempo de
Carnaval, tão bem definido por Claude Gaignebet: «A um período de silêncio
constrangedor sucedem-se os gritos, os risos e os cautos, pelos quais a
divindade bruscamente libertada sai para fora de nós e nos livra da nossa
angústia.»()
Quando os médicos, como por exemplo Norbert Ben Said, constatam a falha da
medicina terapêutica medicamentosa e contestam o seu papel, preferindo-lhe a
simples consulta(’), quer dizer, uma certa comunicação entre o doente e o
terapeuta, parece-nos interessante reencontrar nos mitos de ontem o que poderá
ajudar as «psicodescompressões» de amanhã.
Cf. Gaignebet (C.): Le Carnaval (Paris, Payot, 1974). Cf. Ben Said (Dr. N.): Ia
Consultation (Paris, Mercure de France).
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exactamente durante este tempo de libertação: «Esse santo agrário, que abençoa e
multiplica as sementes e os animais, é pois também um santo curandeiro,
“especialista” dos males de garganta e de todas as anginas que vos estrangulam e
asfixiam.» (1)
81
Capítulo IV
Ao Dr. Arthur Guirdham e a René Nelli, que deram razão à última esperança do
pensamento dualista dos cátaros: «Ao fim de 700 anos floriu o louro.»
NO CAMINHO DA GNOSE
A palavra grega gnosis tem a mesma raiz que a palavra génesis, que significa
«génese», ou «nascimento». A via gnóstica consiste em dar ao homem a
possibilidade de um verdadeiro nascimento: aquele que não seja a con-
(1) De acordo com a tradição, a heresia teria nascido nos Balcãs, sob o impulso
de um padre camponês chamado Bogomil, que começou a pregar, no final do século
X, não uma contestação revolucionária, mas a resignação no ascetismo. Que se
trate deste padre-talvez lendário-ou do nome que tomaram os adeptos deste
movimento, parece-nos importante sublinhar que «bogomilo» quer dizer «querido de
Deus» (bog significa « Deus», e milo, «caro, querido de», em búlgaro).
83
sequência do pecado original, da queda que precipitou o homem na escravatura do
Mal.
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como uma única e mesma epopéia da luta contra o imperialismo. A Igreja de Paulo
e João, aquela que trazemos no coração e que põe o homem em comunicação directa
com o Cosmos, o sagrado (’), perdeu por amor a batalha travada contra ela pela
Igreja de Pedro, pelo ferro dos boiardos da Bulgária e pelo dos cruzados vindos
do Norte de França para o país de Oc.
O Dr. Arthur Guirdham, que se debruçou demoradamente sobre os problemas que pode
levantar o dualismo dos gnósticos, profetizou: «Virá o dia em que a medicina não
será mais considerada como uma profissão, mas sim como um dos aspectos de um
desequilíbrio generalizado.».(’)
E, para ele, a doença não é mais que a falta de harmonia que pode surgir num
indivíduo e concretizar-se por um certo mínimo de sintomas. Esta atitude
assemelha-se perfeitamente à que deveriam ter os nossos antigos gnósticos em
relação à doença do homem, e ao acto terapêutico.
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Mas, como a escola tradicional gnóstica crê na metempsicose (ou reencarnação), a
doença ou mau estado de saúde, até mesmo um acidente, podem não ser e não são na
maioria das vezes mais que as consequências de uma incarnação anterior ou de um
carma actual mal vivido (1).
(’) Esta teoria concorda perfeitamente com as pesquisas do Dr. Guirdham, que
«redescobriu» a alma do homem explorando a doença, tanto somática como psíquica.
Cf. A Theory of Diseasa, Obsession, A Foot in both WorIds (Londres, NevIle e
Spearman), assim como: les Cathares et Ia Reincarnation (Paris, Payot, 1972) e a
obra citada anteriormente. (2) Cf. Lacarrière (J.): les Gnostiques (Paris,
Gallimard, 1973).
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Como os antigos Trácios, os gnósticos da Idade Média recomendam também a
abstinência - do casamento, da carne e por vezes mesmo do vinho, nesse país de
vinhas - àqueles que forem capazes disso sem se sentirem mortificados.
A mesa dos gnósticos é uma dietética da alma. Dissemos já muitas vezes que os
bogomilos e os cátaros, assim como os seus modernos sucessores, eram e são
vegetarianos.
Segundo o Prof. René Nelli, «os Crentes podiam comer e beber o que quisessem. Os
Perfeitos traziam-lhes por vezes carne, caça que lhes tinham oferecido e da qual
não sabiam que fazer» (1). Nesse tempo, como actualmente nos campos isolados dos
Pirenéus, ou dos Balcãs, os camponeses não comiam carne senão muito raramente, e
portanto não lhes era difícil serem vegetarianos. Deste modo, podemos observar
que os Búlgaros gostam mais de frutos e de legumes frescos que de bife com
batatas fritas. Falar-lhes de vegetarianismo a esse propósito fá-los sorrir, e
tratam os ocidentais como snobs e sofisticados porque se gabam de seguir um tal
regime. Eles são vegetarianos naturalmente, sem falar nisso... tal como M.
Jourdain escrevia em prosa.
Mas, para finalizar, e voltando aos nossos Perfeitos, digamos que na mesa deles
havia peixes e frutos, mel e por vezes vinho perfumado com cravinho.
Eis o que nos ensina mestre Omraam Mikhael Ivanov, discípulo do moderno Mestre
Peter Deunov (’), acerca desta tradicional abstinência de carne para aqueles que
querem seguir o caminho da perfeição:
«Sabeis por que razão a tradição nos explica que Adão tinha um rosto radiante e
divino antes de cometer o primeiro pecado e por que todos os animais o
respeitavam e lhe obedeciam? Depois da queda, Adão perdeu esse aspecto e os
animais começaram a desprezá-lo. Se os bichos não têm confiança no homem, se os
pássaros fogem
(’) Cf. Nelli (R.) Ia Vie Quotidienne des Caffiares du Languedoc, au XIII Siècle
(Paris, Hachette, 1969),. (’) Peter Deunov «partiu», diziam os seus discípulos,
em 1944 da Bulgária. Vinte e duas das suas numerosas conferências foram
traduzidas e publicadas em francês. Cf. le Maitre Parle (Sèvres, ed. de Ia
Fraternité blanche universelle, 2 rue du Belvédère-de-la-Ronce).
87
quando ele se aproxima e toda a criação o considera como um inimigo, é porque
têm uma razão para isso: ele não soube manter-se à sua altura. Se o homem voltar
para a lei do amor, da santidade, o mundo inteiro transformar-se-á e o reino de
Deus descerá à Terra. A guerra é a consequência dos pensamentos e dos
sentimentos dos homens que não aprenderam a lei do amor e da sabedoria. Aqueles
que desejam o seu aperfeiçoamento e a sua evolução correcta não colocarão nunca,
no seu templo sagrado, o cadáver dos animais em estado de decomposição nem
produtos tais como chouriços, salsichas, morcelas, empadas, que não são nem
estéticos nem higiénicos. Alguns comentarão que na Bíblia se diz que Deus criou
as plantas e os frutos para dá-los aos homens como alimento; em nenhum lado se
diz que devemos comer os animais. No que respeita aos peixes, não acontece o
mesmo, porque estão desde há milénios em péssimas condições de evolução. O mundo
invisível tem permissão para comê-los, o que os faz evoluir. Demais, existe no
peixe um elemento especialmente feito para a nossa época.»
Além disso, mestre Ivanov explica bem que a carne contém um veneno «bastante
mais psíquico que físico, porque todas as vibrações que o animal sofre são
absorvidas pelo fígado(’), o que explicará, pelo menos em parte, por que razão
as pessoas que sofrem do fígado são muitas vezes mal humoradas, más, mordazes,
inquietas, angustiadas, etc.
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alimentos, desempenha também um papel primordial na harmonia do corpo.
Não esqueçamos que para os gnósticos, tal como para os Antigos Egípcios, o corpo
físico é o «templo de Deus». Esse corpo deve por conseguinte ser cuidado tanto
exterior como interiormente. O regime vegetariano dos gnósticos não obedece
apenas a regras que sigam uma moral e uma cosmogonia religiosas. Ele tem também
outros motivos físicos e racionais. A dietética vegetariana tem a finalidade de
atrasar o processo de envelhecimento.
É por isso que muitos médicos, apesar de não serem gnósticos ou vegetarianos
convictos, aconselham os seus doentes vítimas de infecções (constipação, gripe
ou outras ... ) a que se abstenham de comer carne e absorvam mais sopas e caldos
de legumes, legumes cozidos e fruta ou sumos de frutos naturais, quer dizer,
feitos em casa.
Além disso, alguns médicos vegetarianos estão persuadidos de que a carne pode
ser a causa de inúmeras cáries dentárias. Os detritos da carne que ficam
apertados entre
(’) O queijo, os ovos e o leite devem igualmente ser evitados, mas não o peixe,
que, segundo os conceitos cátaros, não é o fruto da geração mas o, espontâneo,
da água. Contudo, o peixe e o vinho devem ser evitados nos primeiros dias de
jejum. Bogomilos e cátaros, imitando os cristãos nisso, abstêm-se 2.,, S.& e 6.a
feiras de cada semana. Alimentam-se unicamente de pão e água, para mortificação
da carne... Cf. Borst (A.), tes Cathares (Paris, Payot, 1974).
89
os dentes putrefazen-i-se bastante mais rapidamente que os dos frutos ou
legumes.
Do mesmo modo é aconselhável comer pão «integral», quer dizer, feito de farinha
de trigo completo, em vez de pão ou doces fabricados com farinha branca, que,
devido ao tratamento sofrido, ficou desprovida de todos os sais minerais e
reduzida apenas aos componentes de amido.
(’) «A reforma ocidental do começo do século X11 não se opõe ao casamento, tem
mais tendência a exigi-lo dos padres, mas ele deve, contudo -e os primeiros
cátaros estiveram de acordo durante um certo período -, continuar a ser
privilégio dos virtuosos e não ter por fim senão a criação de descendência,
livre de qualquer gozo físico. Cf. Borst (A.): les Cathares, op. cit.
90
gia muscular está diminuída. Finalmente, a gangrena dos membros pode. aparecer
também: tornam-se então negros, nauseabundos e «separam-se mesmo nas
articulações, como se se tratasse de uma perna de pau» (1).
«O abade trouxe qualquer coisa enrolada e atada num pedaço de linho, da grossura
e do comprimento de uma onça ou da primeira falange de um dedo mínimo, à qual
estava atado um cordão que ele me passou à volta do pescoço. Era, parece, uma
planta. Fê-la descer entre os meus seios até à barriga todas as vezes que queria
ter relações comigo; colocava-a nesse sítio e deixava-a lá até ter terminado.
Quando se levantava, tirava-ma do pescoço. Se na mesma noite quisesse possuir-me
várias vezes, dizia-me: “Onde está a planta?” Eu encontrava-a puxando o fio que
tinha ao pescoço. Ele agarrava-a e colocava-ma de novo na barriga, passando-me
sempre o fio entre os seios [... 1. Pedi-lhe um dia que me confiasse a planta.
Ele respondeu-me que não fazia isso, porque, perdendo o medo de ficar grávida,
eu apressar-me-ia a entregar-me a outros homens.» (’)
Eis o contraconceptivo ideal para tranquilizar os homens que não permitem que a
mulher tome a pílula! Mas é importante sublinhar que, se a esterilidade é por
vezes de origem psíquica (por exemplo, falta de harmonia do casal, ou medo da
maternidade), a persuasão, uma fé forte, podem talvez agir também... Sem contar
que este abade libertino poderia conhecer - quem sabe? - a téc-
(’) Citado por Leclerc (H.) Précis des Phytothérapie (Paris, Masson, 1925;
reimp. 1966). O ergotismo era conhecido dos Romanos sob o nome de Ignis Sacre, e
na Idade Média sob o nome de «fogo de Santo António».
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nica de Kundalini (’), técnica que foi talvez igualmente -
porque não? - praticada por libertinos e libertinas (2) @ sem que os
inquisidores tenham tido a abertura de espírito suficiente para pensar em
averiguá-lo.
Tolerância para com a fraqueza do homem, mas gosto pela aventura espiritual, a
ultrapassagem de si mesmo em direcção à perfeição...
Os túmulos dos antigos bogomilos permitiram que chegasse até nós a sua mensagem.
E aqueles que seguem a sua tradição utilizam sempre a -saudação da mão aberta
-nada de aperto de mão, mas a mão aberta ao mundo, num gesto de bênção do
coração. Da sua força Do seu amor universal.
(’) Preconizada por Tantra Yoga, esta técnica visa utilizar a energia sexual
fazendo-a subir para o «Iótus», no alto, em vez de a gastar sob a forma de
matéria no corpo da parceira. (’) A palavra bougre (libertino) equivalia, na
Idade Média, a um anátema. Passou depois à classe dos insultos, para se tornar,
no feminino, sinónimo de mulher sem vergonha. Inicialmente significava
«herético» e derivava de «boulgare», ou búlgaro. (’ ) Alfred Laumonier, no seu
prefácio à recolha de conferèncias de Mikhael Ivanov, les Sept Lacs de Rita,
conta-nos que assistiu em Agosto de 1939 a um nascer do Sol que reuniu mais de
400 pessoas nos flancos do monte Rita, cujo célebre mosteiro foi, quando do
domínio otomano, o símbolo da resistência nacional búlgara. (’> A construção do
castelo de Montségur segue dados astronómicos muito precisos, o que faz pensar
que eles obedeciam ao ensinamento esotérico e solar dos cátaros. Cf. Oldenbourg
(L.): le Búcher de Montségur (Paris, Gallimard, 1959).
92
massa mas não têm carga eléctrica, e podemos chamar-lhes corpúsculos magnéticos.
Vejamos o que dizem o Dr. Oudinot e André Guéret: «As recentes descobertas da
atomística provaram ser indiscutível a presença de corpúsculos magnéticos nas
células vivas. Podem ser, quanto aos elementos que figuram no sangue humano por
exemplo, os granulócitos mentrófilos, a que os Anglo-Saxões chamam eucócitos
mentrófilos, quer dizer, sem polaridade eléctrica, mas vivos, uma vez que são
móveis, dotados de spin, por conseguinte magnéticos no sentido físico da
palavra. A sua importância nos fenómenos da vida é, pois, fácil de admitir.» (1)
(’) Cf. Guéret (A.) e Oudinot (P.): VHomme et les Impondérables (Paris, Dangles,
1966).
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lâmina representa «o Diabo», ou o grão-mestre das forças astrais; perto do seu
braço esquerdo figura uma inscrição em latim, coagula, ou coágulo que concentra,
capta as energias, enquanto que solve, perto do braço direito, vem lembrar que é
ele que dissolve, que emite.
Cada um de nós, pelo menos uma vez na vida, pôde encontrar uma dessas pessoas
que com a sua presença conseguem acalmar todos os que a rodeiam. Mas, melhor
ainda será observar o gesto que a mãe faz quando estende a mão para proteger a
criança que cai, mesmo que esteja bastante afastada. Para a agarrar, sem pensar
na distância que os separa, evidentemente, mas também instintivamente para
emitir a sua energia positiva, maternal, protectora.
Experimente você mesmo, um dia, a passar a mão direita sobre o plexo solar de
uma criança que chora e pense que lhe transmite o seu calor, a sua ternura, o
seu amor. Não faça força, experimente simplesmente respirar calmamente com ela.
Consegue certamente tranquilizá-la, consolá-la.
o homem pode concentrar a sua energia vital, o seu magnetismo. Alguns possuem um
potencial mais elevado do que outros. Mas cada um tem a possibilidade de
melhorar esse bem. Viver em harmonia, e estar primeiro e
94
antes de mais nada atento a essa harmonia, é a primeira forma de acumular um
potencial positivo. Tradicionalmente, existem outras. Uma das mais simples
consiste em se encostar a uma árvore, apoiar a palma da mão esquerda contra esta
(portanto por trás das costas) e a mão direita contra o plexo solar. Viver,
durante algum tempo pelo menos, na Natureza, entrar em ressonância com ela, é um
outro meio.
95
dos os momentos da sua vida quotidiana. «Evidentemente», respondeu-nos, «é
necessário cuidar sempre da harmonia. Veja o seu carro, por exemplo: você
estacionou-o orientado no sentido em que vinha. Devia tê-lo arrumado pronto para
partir ... »
Durante a imposição das mãos, é aconselhável lavar-se as mãos várias vezes com
água, de preferência corrente, ou, na falta desta, numa bacia cujo conteúdo seja
removido muitas vezes.
96
Numerosos curandeiros que curam por imposição das mãos não seguem estas regras;
sacodem violentamente as mãos e esfregam-nas uma contra a outra no gesto de
lavá-las, como que para as livrar de qualquer viscosidade. A tradição diz-nos
que se trata, com efeito, de uma espécie de geleia enegrecida que os
clarividentes podem ver cair no solo. Convém portanto que o doente evite passar
onde essa «matéria» possa cair, para obstar que ela se reintegre no corpo. A
este respeito, Max Heindel aconselha-nos a seguir a tradição, ou seja, que o
curandeiro sacuda as mãos por cima de fogo.
Se alguns doentes são verdadeiros vampiros que absorvem toda a energia do seu
curandeiro ou do médico « assistente» que os trata, alguns curandeiros,
verdadeiras pilhas energéticas, confessam que lhes é absolutamente necessário
descarregar o seu excesso de energia vital ao cuidarem do sofrimento dos outros,
para não ficarem eles mesmos intoxicados.
Mas a ciência. dos gnósticos vai mais longe. Ela torna-se profética e entra em
ressonância com a nossa época, onde a penúria das energias clássicas, petróleo,
carvão, etc., começa a inquietar os homens. Para eles, cada raio solar é uma
força. A energia solar decompõe-se em raios: vermelhos, laranja, amarelos,
verdes, azuis, anis e roxos.
Utilizar as sete virtudes das sete cores do espectro, é esse o grande segredo
dos iniciados. Já, quando de uma conferência dada em Paris no dia 5 de Novembro
de 1938, na praça da Sorbonne, sala do Luxemburgo, Omraan Mikhael Ivanov
anunciava: «Um dia a humanidade deixará de utilizar o carvão e a madeira,
trabalhará unicamente com os raios solares; porque todas estas coisas são
temporárias, um dia esgotar-se-ão, mas captar-se-á o que
97
é subtil, espiritual e inesgotável. Além disso, aprenderá a curar-se pelas cores
e fará milagres com os raios solares.» (1)
Foi necessário esperar pelo mês de Julho de 1973 para que se realizasse no
palácio da Unesco, em Paris, o primeiro congresso interdisciplinar sobre o tema:
«O sol ao serviço do homem». Este congresso reuniu seiscentos sábios de trinta
países, seiscentos sábios que acreditam que as forças solares permitirão que a
nossa civilização - e o nosso planeta - saiam desta péssima situação: poluição
crescente no mesmo ritmo do empobrecimento dos recursos.
A terapia pelas cores foi abordada por Mikhael Ivanov ao longo das suas
conferências. Legatário da tradição bogomila na Bulgária por Peter Deunov, ele
reside na Europa Ocidental desde o fim da última guerra. Escutemo-lo: «Quantos
mistérios se encontram ainda escondidos na luz! O começo de tudo é a luz.
Conhecer a luz é conhecer tudo.» (’)
OS OLHOS E AS VIBRAÇõES
O comprimento de onda das vibrações luminosas forma uma corrente contínua que
vai das maiores às mais pequenas. Sendo cada vibração circular, a corrente
formada por esta sucessão apresenta-se como uma espiral cónica.
Ivanov (M.) l'Alcliiiizie Spirititelle, op. cit. Cf. Ainotir, Sagesse, Verité,
op, cit.
98
lesões orgânicas, ou a um mau funcionamento de certos órgãos. Esta técnica
chama-se iridoscopia (’).
99
Naqueles em quem os cones predominam, a visão é solar, espiritual; estão
preparados «para olhar as coisas de alto». Esses cones representam uma espiral
de luz. À medida que o homem cresce na espiritualidade, a sua visão interior
segue a ascensão das cores, como se ele trouxesse ó culos interiores. A
expressão popular «ver vermelho» é bem significativa. Aqueles que não se
apercebem senão do domínio das vibrações vermelhas gostam de viver nos prazeres
e nas paixões. São, diz Mikhael Ivanov, os epicuristas e os militaristas. O
laranja é a cor dos «óculos interiores» dos filósofos e dos sábios
individualistas, etc.
Mestre Ivanov lembra a esse respeito a parábola de Cristo: «Felizes os que têm o
coração puro, porque eles verão a Deus.»
Este exemplo dado pela simbólica do olho e sua constituição física demonstra
claramente qual o estilo da arte terapêutica praticado na tradição gnóstica:
fixar a atenção no bem é atrair forças e levá-lo a crescer em si mesmo e nos
outros.
100
Uma falsa apreciação do dualismo dos gnósticos levou muitas vezes a pensar-se
que se tratava de um pensamento estático. Nada mais falso. O dualismo é, com
efeito, uma dialéctica dinâmica. Descobrir simultaneamente o Bem e o Mal não
consiste em parar exclusivamente no Mal para esquecer o Bem. O dualismo consiste
em observar estes dois aspectos para diminuir o lado negativo e reforçar o lado
positivo. O gnosticismo pode portanto ser encarado como um remédio do homem,
como uma terapêutica tomada no seu sentido mais lato, como uma ciência
equilibrante destinada a fazer frutificar a natureza superior que se encontra no
fundo de cada homem.
É por isso que as técnicas terapêuticas dos gnósticos são, extremamente subtis.
É tudo simultaneamente muito simples, porque elas apelam para uma natureza não
sofisticada, e também extremamente complicado, quando se torna necessário
conhecer a razão e dar explicações numa linguagem científica moderna, que nem
sempre é apropriada à do simbolismo.
Para terminar este capítulo, diremos algumas palavras acerca da água, que
desempenha um papel primordial na prevenção das doenças do homem.
Não sabemos se a ciência gnóstica tinha definido precisamente que o ser humano é
constituído por quatro
101
quintos de água. Mas ela insiste bastante sobre a sua importância na saúde e no
equilíbrio do homem.
Ao nível simbólico, eis o que nos diz Mikhael Ivanov, que perpetua na nossa
época a chama do pensamento gnóstico: «O sangue da Terra é a água. Os oceanos
são o coração, o vasto coração planetário onde o sangue se encontra com
abundância. As ribeiras, os rios e os lagos são as artérias e as veias; os
pulmões (bastantes maiores que o coração) são a atmosfera onde o sangue se
purifica. » (1)
Sem saberem que seguem assim um costume dos seus avós bogomilos, os Búlgaros
contemporâneos têm muitas vezes o hábito de beber, de manhã, em jejum, um grande
copo de água morna e bem fervida. Qual é o significado profundo, espiritual,
deste gesto?
«Se ajudarmos o nosso fígado, melhoramos o nosso destino.» A água quente tomada
todas as manhãs permite a dilatação dos tecidos, uma melhoria da circulação; ela
provoca a dissolução dos calcários, permite o regresso da elasticidade aos
tecidos. Esta acção aumenta também a resistência do organismo e atrasa o
processo de envelhecimento. (A Bulgária é considerada como um dos países onde
existe um maior número de centenários.)
«A água quente pode ser considerada como um professor. Ela diz a todas as
células: “Vós deveis ser boas, ternas, amáveis e obedientes. Trabalhai bem.”
Então o amor aumenta nas células, porque o calor provoca a sua dilatação e elas
começam a aceitar os ensinamentos do amor, que é inseparável do calor.»
102
sagrado. Que magnífica tarefa! Ensinar aos homens a pensar, a sentir e a agir
bem; e mostrar-lhes que a causa de todas as doenças se encontra para lá do corpo
físico» C).
POLARIDADES ASTROLóGICAS
103
mento do doente. É necessário portanto que exista uma polaridade entre os
elementos que os caracterizam astrologicamente e os seus respectivos
ascendentes: signo do Fogo com signo do Fogo, signo da Água com signo da Água,
etc. Isto calcula-se em relação a Saturno e à sexta Casa, que exprime a
tendência para as doenças adquiridas no decurso da vida do indivíduo, assim como
a força e o ritmo - ou os ciclos - da sua actividade.
Esta VI Casa indica por conseguinte tendência para a doença segundo os planetas
que a ocupam, mas pode também indicar um certo talento para a medicina ou a
cirurgia, em função do perfil geral do horóscopo de um indivíduo. Vejamos o que
os astros nos dizem a esse respeito (’):
Marte na VI Casa: tendências para as infecções ou acidentes que terminam com uma
intervenção cirúrgica, sã o as manifestações das dissonâncias de Marte.
Júpiter na VI Casa: esta posição não é boa para a saúde durante os primeiros
anos de vida, mas, depois, a vitalidade e a saúde melhoram, dando por vezes um
grande poder de trabalho. Com Marte e Saturno, as dissonâncias de Júpiter
provocam doenças de fígado e da vesícula biliar.
Saturno na VI Casa: esta posição não é favorável nem à saúde nem ao trabalho. As
suas dissonâncias indi-
(’) Cf. Verdier (J.G.): Ce Que Disent les Astres (Paris, Stock,
1970).
104
cam uma tendência para o reumatismo, a gota e todas as doenças motivadas por
resfriamentos.
Azul: comprimento de onda: 4750 angstrõms; cor dos pulmões, é também a da fé,
dos sentimentos religiosos. Ela implica uma respiração ampla que não permite nem
atitudes nem sentimentos egoístas e mesquinhos. É a cor da paz, da música e da
liberdade espiritual.
Roxo: comprimento de onda: 4230 angstrõms; esta cor corresponde às vibrações dos
comprimentos de onda mais curtos, por conseguinte os mais rápidos e os mais
espirituais. Cor divina por excelência, representa a manifestação do espírito na
paz.
105
A cabeça do homem pode ser comparada a um rádio que receba diferentes emissões,
ou, empregando uma imagem de Mil-hael Ivanov, diremos que todos os centros
nervosos são como diapasões diferentes construídos para não vibrarem senão em
ressonância com certas ondas (1).
Luz verde: sabemos que uma dependência pintada ou forrada de verde repousa e
diminui os casos de excitação febril. o verde é considerado como uma excelente
preparação para a hipnose, para a auto-sugestão; prepara para a luz azul, que
permite um sono rápido e calmo. Salientemos que encontramos estas duas cores nos
blocos operatórios.
Luz branca: aumenta a tonicidade dos órgãos e pode até chegar a provocar uma
hiperemia (excesso de glóbulos vermelhos). Acelera os processos vitais.
As cores, que nós vemos no seu aspecto físico, mostram-se ao clarividente no seu
aspecto espiritual. É por isso que, para eles, cada ser está rodeado de uma aura
106
colorida, correspondente ao estado da sua alma, e ao seu comprimento de onda
espiritual, poderemos dizer.
O facto de os Perfeitos cátaros se vestirem de azul não é certamente devido ao
acaso. Uma aura azul indica a mais alta espiritualidade. A de cor verde
manifesta citime, paixão; o cinzento-aço, o medo; o negro, o desespero; o azul-
escuro, preocupação; o vermelho-escuro, ódio; o vermelho-escarlate, cólera; o
azul-celeste, esperança; o amarelo-doirado é a cor de Cristo, e nenhum homem a
possui. A atira mais elevada à qual o homem da nossa época pode chegar é o
alaranjado.
Temos de recordar aqui que o som está na origem da cor e que quando uma nota
vibra uma certa cor deverá poder aparecer. Portanto também não é por acaso que a
pátria de Orfeu se tornou a pátria dos bogomilos, a quem nós devemos, no
Ocidente, esta ciência secreta das cores e do luz.
107
CAPITULO V
A MEDICINA ALQUIMICA
«A alquimia não é apenas uma arte ou uma ciência que ensina a transmutação
metálica, mas uma verdadeira e sólida ciência que ensina a conhecer o centro de
todas as coisas, a que em linguagem divina chamamos o Espírito da Vida.»
Assim, não saberíamos apresentar-nos como candidatos à Grande Obra alquímica sem
realizarmos primeiro em nós mesmos uma parte da Obra. É pelo estudo que o adepto
faz dos textos esotéricos, dos quais a celebérrima Tábua de Esmeralda (2) é o
primeiro, que esta etapa,
109
ou alquimia interior, lhe permite chegar à sua consequência, de certo modo ao
seu epifenómeno, que é a alquimia exterior, à qual o iniciado se entrega perante
o seu atanor.
110
RetschIag (’): «Os nossos conhecimentos sobre a constituição do corpo e a
estrutura das células e das mais pequenas entidades vivas tornam perfeitamente
plausível que se possa encontrar um determinado remédio, constituído por uma
energia latente e concentrada, que agisse por isso como um remédio universal
para todas as doenças. Como a força vital é uma força electromotora, esse
remédio deve ser constituído por corpos capazes de libertar uma energia
eléctrica concentrada, depois da sua dissolução nos humores do corpo humano, da
mesma forma que existem nas pilhas galvânicas certos sais cuja dissolução produz
uma corrente mais ou menos constante entre os terminais. Das inumeráveis alusões
feitas por antigos mestres herméticos deduz-se que são igualmente certos sais
que entram como materiais de base na preparação do elixir da longa vida...
«O Sal, no que respeita ao termo colectivo que engloba tudo o que se cristaliza,
é, segundo certos antigos mestres, o primeiro ser, porque toda a matéria se
deixa reduzir a uma forma salina. É a palavra de Deus tornada matéria; um sal
especial, um agente celeste, filho do divino fogo solar, une-se a uma
terrestridade passiva, para dar uma encarnação salina.
A medicina alquímica foge, portanto, da acção ponderal dos remédios, quer dizer,
a acção física de um remédio sobre o corpo físico do organismo. Ela prefere a
acção «por cima», uma acção directa das forças estruturantes do medicamento
sobre as próprias forças estruturantes do organismo.
111
Quaisquer que sejam os diferentes domínios que a medicina alquímica oculte, o
modo de acção é sempre o da energia, da luz, da vibração. Medicina vibratória,
claro, mas também medicina multidireccional.
OS SINAIS
Com efeito, a acção de etérico para etérico, ou acção «por cima», corresponde a
um estudo astrológico do sincronismo vibratório entre o remédio e o doente. Mas
isso não é suficiente. O estudo do remédio, por um lado, e o do doente, pelo
outro, são também necessários. É a este estudo que nós chamamos a «doutrina dos
sinais» (’), pela qual a medicina alquímica supõe a consciência de uma
solidariedade cosmogenética de todas as formas vivas do Universo.
Eis como Jacob Boehrne, no seu livro De Signatura Rertim, expõe esta teoria C),
base da iatroquímica (sobre a qual falaremos mais adiante): «Todo o universo
exterior, visível, com todos os seres, é uma definição ou uma imagem do mundo
interior, espiritual; tudo o que é interior - e a sua maneira de agir - possui o
mesmo carácter no exterior. Do mesmo modo que o espírito de toda a criatura
representa e revela com o seu corpo a sua constituição nativa íntima, do mesmo
modo o seu ser eterno...
Assim, tudo o que nasce no interior possui o seu sinal. A configuração superior,
assim como é superior em força no espírito da acção, também imprime muito
profundamente a sua marca no corpo; as outras configurações ligam-se-lhe, como
se vê em todas as criaturas
(’) A «doutrina dos sinais» foi desenvolvida mais amplamente por Paracelso,
pseudónimo de Teofrasto Bombast von Hohenheim, nascido em EinsiedeIn em 1493, o
qual, depois de uma vida profundamente romanesca, acabou por se fixar em Bâle,
em
1526, onde conseguiu uma cátedra na universidade. A Paracelso devem-se as
aplicações práticas da alquimia, quanto mais não fosse pela sua orientação para
o fabrico dos remédios, Morreu em Salzbourg em 1541. (’) Jacob Boehme (1575-
1624), filósofo alemão também autor de Aurora, Ia Triple vie, explana a
justificação filosófica da teoria dos sinais. É considerado um dos grandes
percursores dos metafísicos alemães.
112
vivas pela configuração do corpo, dos costumes e dos gestos; do mesmo modo nas
ressonâncias, nas vozes e nas línguas, assim como nas ervas e nas árvores, nas
pedras e nos metais; tal é a luta que dirige o poder do espírito, tal é a
configuração do corpo, e do mesmo modo da sua vontade, enquanto ferve a seiva na
vida espiritual. »
Esta doutrina não se baseia portanto, como se crê habitualmente, numa simples
analogia da cor ou da forma entre o remédio e o doente, ou o remédio e o órgão.
Assim, por exemplo, a celidónia, cuja tintura é amarela, é um remédio para a
bílis (amarela), mas a tormentilha> cuja cor é o vermelho, não é um remédio para
o sangue. Em contrapartida, sendo esta planta governada por Marte -como o ferro
no domínio universal-, trata o processo marciano do organismo: a disenteria, por
exemplo.
Renê Berthelot lembra, a este respeito, que não é sem motivo que no Império
Romano a palavra mathematici se tornou sinónimo de astrólogo, como tão-pouco é
por acaso que a alquimia e a astrologia estiveram constantemente associadas uma
à outra desde essa época e que foram ligadas uma à outra com a ideia de uma
relação entre o que os Gregos chamaram microcosmo e macrocosmo (’) ...
113
O homem de coração puro comunica com o Sagrado. Portanto não é doente. Contudo,
a alquimia admite as fraquezas do homem, e daquele que tem a generosidade de
encontrar um meio para as curar. A medicina alquímíca apoia-se sobre o potencial
das forças de defesa do organismo. Neste sentido, ela é antepassada das
terapêuticas mais modernas, tais como a homeopatia e a bioterapia em geral.
A MEDICINA ESPAGIRICA
114
qual os grandes médicos do século XVI e do século XVII preparam os seus
remédios.
É também esta mesma assimilação energética que a homeopatia realiza por meio de
altas diluições, quer dizer, medicamentos diluídos a um ponto tal que já não
contêm nenhuma substância no sentido físico do termo. Por outro lado, esses
remédios são fisicamente orientados, como já vimos precedentemente, o que quer
dizer que estão em correspondência cosmológica com os órgãos que são
encarregados de tratar.
Assim, a alquimia é fiel à tradição que nos faz remontar do Egipto aos modernos
antropósofos, passando pelos gnósticos. órgãos tais como o coração e os olhos
são formados pelas forças solares: as suas afecções serão portanto tratadas com
esse metal solar que é o ouro. Do mesmo modo, o sistema genital, que é
venusiano, será tratado pelo cobre, metal governado por Vénus. O sistema nervoso
mercuriano será tratado com mercúrio. Lembremos a este respeito que a medicina
clássica moderna tratava a sífilis com sais de mercúrio até à descoberta da
penicilina.
Como vemos, a doutrina dos sinais, preconizada por Jacob Boehme, marca
fortemente os remédios alquímicos. E a iatroquímica, que está longe de ser de um
manejamento fácil devido às manipulações que exige, supõe um conhecimento
profundo da astrologia.
115
OS SEGREDOS DOS ADEPTOS
Os segredos são os grandes remédios secretos dos mestres e dos adeptos. Cume
insuperável da medicina alquímica, eis o que Paracelso nos diz acerca deles no
livro V da sua obra Archidoxes, na parte intitulada «De Mysteriis arcani»:
Para Paracelso, estes segredos são quatro: matéria primeira, pedra filosofal,
Mercurius vitae, tinctura.
Acreditou-se muitas vezes que os segredos e a sua realização não eram senão
símbolos espirituais. O que Paracelso diz da quarta tintura, por exemplo, refuta
totalmente esta ideia. Trata-se mesmo de um remédio:
Mas Paracelso declara que não falou senão aos próprios alquimistas: as
possibilidades terapêuticas destes segredos não têm portanto senão uma longínqua
relação com esses remédios espagíricos de primeira ordem que formam a simples
abertura dos metais. Esses remédios, a que chamamos «segredos», não se encontram
no comércio, apesar da aparição ressonante desse termo nas etiquetas postas
outrora por alguns laboratórios.
OS BENEFíCIOS DO ANTIMóNIO
116
qualquer coisa no antimónio que tem uma certa afinidade com o querer humano. O
antimónio é uma formação terciária; os seus jazigos encontram-se nas zonas
congeladas de rochas primitivas (Andes, Ariege, Vendeia), rochas que foram
deslocadas por novas formações rochosas: o antimónio exprime assim um certo
rejuvenescimento do nosso planeta.
Basílio Valentim, (’) passa por ter sido o primeiro a descrever o antimónio, e
consagrou-lhe toda uma obra intitulada Char Triomphal de l'Antimoine, obra essa
que foi comentada por um rosa-cruz, no fim do século XVIII, de uma maneira
suficientemente desenvolvida para realçar «a eficácia quase universal do
antimónio», como sublinha Alexander von Bernus. Vejamos um dos seus comentários:
(’) O autor das célebres Douze Clefs (impresso em 1602) teria vivido em Erfurt,
num convento de frades beneditinos, no começo do século XV. Segundo alguns
autores, é um personagem mítico. (’) O Dr. R.A.B. Oosterhuis é o autor do
apêndice que acompanha a obra de Von Bernus Alchimie et Médecine, onde expõe
algumas observações que lhe foi dado fazer utilizando preparações espagíricas de
Von Bernus.
117
]É evidente que se Basílio Valentim e Paracelso foram os primeiros a utilizar
quase sistematicamente o antimónio, este metal havia sido preconizado muitas
vezes pelos médicos egípcios e gregos e pelos médicos alquimistas árabes, depois
por Arnaldo de Vilanova e Raimundo Lúlio (’).
No seu curso sobre metais, Wilhelm Pelikan (’) insistia no facto de que, «pelas
suas propriedades, o antimónio possui a capacidade de fazer passar as forças
formais estruturantes do organismo humano para o sangue». E Rudolf Steiner diz,
numa das suas conferências, que «o homem é na realidade antimónio, se pusermos
de parte tudo o que se introduziu nele do exterior».
Um médico antropósofo, o Dr. Victor Bott, explica, numa linguagem mais moderna
que a dos antigos adeptos, o papel fundamental que este metal pode desempenhar:
118
é particularmente indicada para os doentes «transbordantes» tanto no psiquismo
como no físico» (’).
quando o antimónio é utilizado por mãos que já não conhecem a mensagem esotérica
e sagrada, este metal acaba por se tornar numa espécie de panaceia (inclusive
contra a histeria), panaceia muito tóxica.
O SAL,PALAVRA DE DEUS
A alquimia possui uma linguagem própria que não pode dispensar o desenvolvimento
simbólico que leva o adepto de descoberta em descoberta, quando este sabe seguir
a via da meditação sobre a Natureza e o sentido sagrado das suas leis. Assim,
diz-se, «a cozedura do Sal conduz à salvação».
Não é decerto por acaso que se oferece o pão e o sal em todas as cerimónias de
passagem, assim como o oferecemos também quando damos as boas-vindas ao hóspede
recém-chegado.
Numa obra anónima do fim do século XVIII: le Secret du Sel, le plus noble
Créature produite par Ia phis grande Bonté de Dieu dans le règne de Ia Nature,
despertou muito interesse devido a um dos seus comentários: «O Sal é extraído da
cinza, e há nele muitas virtudes escondidas.» (2)
Dizem que o Sal é a «palavra de Deus». Não é apenas uma simples alegoria. Não é
por acaso que o líquido amniótico que envolve o embrião humano é salgado como o
mar, origem da vida animada no nosso planeta. « A água total» -quer dizer, todos
os líquidos do organismo humano - representa no homem 62 % do seu peso, na
mulher 51 %, e no recém-nascido até cerca de
75 %.
Não é portanto sem motivo que o sal marinho, quando puro, não refinado, é
considerado como um excelente coadjuvante terapêutico.
119
A ÁGUA DO MAR
120
de plasma por dia. Chega-se a um regime de 1/3 e depois
1/4 do peso em 10 refeições perfeitamente toleradas. Aos
2 meses e 25 dias, a criança tinha o dobro do peso. Recebia nesse momento 15Og
de plasma por dia, o que lhe permitia tolerar um regime superior apesar dos
calores de Setembro.
O tratamento é suspenso aos 8 meses e 2 dias; a criança pesa então 6,640 kg.
Excelente desenvolvimento sob todos os pontos de vista.
OS OLIGOELEMENTOS
O sal marinho contém magnésio vivo, cuja actividade é preciosa no combate aos
efeitos cancerígenos dos químicos; iodo natural, que actua sobre a tiróide sem
os mesmos perigos do obtido quimicamente; brometo, que actua sobre o sistema
nervoso sem o enfraquecer, e numerosos outros oligoelementos, que desempenham
papel fundamental de catalisadores no desenvolvimento de diversas acções
orgânicas e que, no campo preventivo, poderão evitar o recurso aos antibióticos.
Eis algumas das suas aplicações.
Flúor: acção sobre o metabolismo do cálcio, daí o seu papel preventivo nas
cáries dentárias e de apoio na consolidação das fracturas.
121
o poder antibiótico da penicilina e reforça a defesa das células e dos tecidos.
Sílica: muito abundante no feto humano, a sua taxa diminui proporcionalmente com
a idade. A sílica encontra-se também em abundância nos frutos e nos cereais
completos (quer dizer, na sua casca). útil no envelheciinento dos tecidos,
arteroesclerose, etc.
122
tamento), doenças digestivas (diabetes, etc.). Estas preparações têm nomes
bastante elucidativos:
Sanguisol: tem a particularidade de actuar sempre que seja necessária uma acção
sobre a circulação sanguínea.
123
CAPITULO VI
De onde vens, homem doente? Qual é o teu caminho? Qual é a parte de ti que se
manifesta com a dor? Qual é o teu distúrbio? Qual é o teu Eu total? De que
desarmonia sofres? Tratar-te dos rins e do fígado não serve para nada se
ignoramos a natureza e o poder das forças que te proporcionam o sofrimento, ou a
cura.
Se bem que utilizando meios de diagnóstico e terapêuticas cada vez mais precisas
e eficazes, a medicina actual não pode responder a nenhuma destas perguntas. E
isto por uma razão muito simples: a ciência contemporânea tem demasiada
tendência para considerar o homem apenas como uma máquina um pouco mais
aperfeiçoada do que um animal ou um computador. Existem mesmo pessoas
suficientemente loucas para pensarem que as experiências animais e humanas são
equivalentes, ou para criarem modelos mecânicos ou electrónicos, a
125
fim de estudar a patologia humana por analogia com estes modelos (’).
Mas estes pretensos cientistas (há os que, como Einstein e Broglie, por exemplo,
não acreditaram nessa dialéctica omnipotente) esqueceram-se de que o homem
possui aquilo que nenhum ser vivo possuiu antes dele: o espírito, o Eu. Graças a
este espírito, o homem vindo da Natureza é a Natureza. O homem vindo do Sol
ilumina. E o homem vindo de Deus é Deus. Assim, tudo se esclarece: o médico
compreende e aprende a seguir e a dominar essas correntes de energia no homem e
no universo, esses ritmos que ligam os humanos e os planetas. A fé dos gnósticos
está baseada no conhecimento. A gnose, ciência do homem encarado nas suas
relações com o Cosmos, responde a uma pergunta que nunca foi feita em
nenhuma Faculdade de Medicina e que, no entanto, devia ser uma pergunta
essencial: «Que é o homem? Que é que o diferencia do animal?»
(’) Evidentemente que tais analogias são possíveis, mas com a condição de se
lhes fixarem os limites, como o fez por exemplo N. Wiener: «Quando comparo o
organismo vivo com uma (tal) máquina não quero dizer que os processos químicos,
físicos e espirituais da vida tal como a conhecemos geralmente sejam os mesmos
que nas máquinas. Isto significa simplesmente que uns e outros são exemplos de
processos antientrópicos locais, processos nos quais é possível encontrar
numerosas manifestações fora mesmo da biologia e da mecânica.» Cf. Wiener (N.):
Cybernétique el société (Paris, col. 10/18, 1962).
126
personagem (’), que agitou profundamente a sua época (Antoine Faivre (2 ) diz
que antes da guerra, em cada dois alemães, um simpatizava com as suas ideias,
até que Hitler começou a sua «caça às bruxas»), escreveu numerosos livros,
pronunciou cerca de 6000 conferências, deu origem a um movimento filosófico e
científico e, no que respeita à medicina, traçou, entre outros, o caminho de uma
terapia complementar do cancro.
Não há um único ramo da ciência humana que ele não explore e não enriqueça com
novos dados.
Este ponto de ruptura de uma civilização leva ao fim de um mundo, de uma época,
mas ele prevê desde já os novos tempos. Aqueles para os quais a ciência
antroposófica prepara uma nascente de conhecimento. Mas de onde vem, em
Rudolf Steiner, esta ideia-mãe, esta capacidade de síntese entre o espírito e a
sensibilidade e que o animou até ao seu último suspiro?
Com 29 anos, em 1890, foi nomeado colaborador dos Arquivos de Goethe em Weimar:
C. J. Schroer consegue que lhe entreguem a publicação das Obras Científicas de
Goethe (’).
Durante sete anos, o jovem Steiner trabalhou sem cessar em Weimar. Deve muito a
Goethe:
C), Cf. Steiner (R.): Une Autobiographie. (Paris, P.U.F.). (2) Cf. Faivre (A.):
l'Êsotérisme Chrétien du XVI azi XIX Siècle, in Histoire des Religions. (Paris,
Gallimard, 1972). (’) Uma das obras científicas de Goethe, à qual ele mesmo dava
uma grande importância, é o Traité des Coulers, que interessa tanto os físicos
como os esteticistas, os biólogos, os artistas e os psicólogos. (Paris, ed.
Triades, 1973).
127
tino esta tarefa goethiana. Teria podido seguir apenas as minhas experiências
espirituais e descrevê-las tal como me aparecessem. Teria sido absorvido mais
rapidamente pelo mundo espiritual. Mas não teria tido ocasião, sob a pressão de
uma luta constante, de mergulhar até ao fundo de mim mesmo [ ... 1. Durante
todo este trabalho de comentários, Goethe esteve constantemente presente no meu
espírito, como que advertindo-me, avisando-me sem cessar: “Quem avança rápido de
mais na senda espiritual pode chegar a uma experiência parcial do espírito; mas
não saberá aproveitar as riquezas que a vida tem.” » (’)
A COMUNIDADE CÓSMICA
128
para o domínio do conhecimento e, por conseguinte, para o domínio da medicina.
Deste modo, não é uma medicina propriamente humana, mas sim uma medicina de todo
o Universo.
129
lógico e traduz-se imediatamente por espasmos e dores. A consciência desperta a
vigilância e, finalmente, o nosso pensamento (que tem como suporte o sistema
neuro-sensorial) é acompanhado de processos de degradação, feitos à custa do
nosso organismo. A nossa actividade voluntária, em contrapartida, apoia-se nas
actividades construtivas, regeneradoras do pólo dos movimentos e das trocas.
No homem são, as actividades destas três partes são harmoniosas. Ele encontra no
sentimento a expressão do bom equilíbrio entre a vigília e o sono, e as suas
actividades realizam-se num determinado ritmo.
130
para as afecções de tipo inflamatório: furunculose, otite, infecções oculares,
algumas dores de cabeça.
A doença aparece quer seja por quebra quer por excesso de um destes processos.
(’) Esta teoria é também a do psiquiatra britânico Dr. Guirdham, que a expôs
demoradamente nas suas várias obras e em especial em Facteurs Cosmiques de Ia
Maladie, op. cit. (2) Cf. art. de F. Bessenich, «Les forces formatrices et Ia
mthode des cristallisations sensibles» na revista Triades, t. n.’ 2, Paris,
1953. E Leray (J.): «Configurations dendritiques engen drées au cours de Ia
cristallisation de solutions héterogènes», in Bulletin de Ia Société Française
de Mineralogie et de Cristallographie n.’ 93 (Paris, 1970).
Este método permite-nos obter uma imagem da cristalização que depende, por um
lado, da substância estudada e, pelo outro, dos ritmos mimerais próprios da
época. A substância estudada pode ser um extracto vegetal, animal ou humano.
REGIME DO CANCEROSO
O visgo dinamizado
132
actuar no corpo astral para que as forças de estruturação cumpram de novo o seu
trabalho convenientemente. E, para agir sobre o corpo astral, é necessária uma
planta; ‘
-actuar ao nível do corpo etérico, e, para isso, utilizar uma substância animal:
Rudolf Steiner não indicou qual, e parece que ninguém na época teve a ideia de
lho perguntar.
(’) O Iscador é conhecido em França pelo nome de Viscunz Album fermentado. Este
medicamento preparado a partir do visgo (Viscum Albuin) é desprovido de
toxicidade e pode ser injectado durante anos sem inconveniente. Há numerosos
estudos farmacológicos e químicos sobre o visgo. Vester e Nienhaus descobriram
no suco fresco do visgo obtido por pressão uma estrutura particular da
composição dos aminoácidos.
133
siderados meios insuspeitos para curar o cancro A pintura estimula as funções
sensoriais e actua profundamente sobre o metabolismo, as funções glandulares e a
respiração dos tecidos orgânicos.
O HOMEM E AS PLANTAS
134
planta. Esta influência pode ser até bastante forte, e daí resulta o
aparecimento do veneno em certas plantas que são medicamentos muito
característicos, como é o caso do acónito e da beladona.
-pelas flores, ela atrai o insecto que a frutifica. Entrar no mundo das plantas
é renovar o contacto com o ar vivo da Natureza, com as suas florestas e os seus
prados. As preparações antroposóficas, à base de substâncias vegetais, são
geralmente feitas em doses infinitesimais e administradas quer sob a forma de
injecções, quer em xaropes ou elixires. Segundo W. Pelikan, «a totalidade dos
processos patológicos do homem tem o seu reflexo invertido a sua projecção -
no mundo das plantas medicinais»
O HOMEM E OS METAIS
Como é que os sete metais actuam sobre o organismo? Vejamos, primeiro que nada,
o que nos diz um médico antropósofo, Herbert Kaufmann:
(’) Cf. Pelikan (W.): «Les forces de guérison à Pâques», in revista Triades, n.,
4, 1959-60.
135
«O verdadeiro lugar de origem dos metais é o Cosmos, ou, mais concretamente, as
forças planetárias que, durante a evolução da Terra, devido a sucessivas
condensações, engendraram os metais sob a forma pela qual nós os conhecemos. No
fundo, os metais são uns «estranhos» no mundo terrestre, e podemos considerá-los
como mensageiros do Cosmos. Eis as relações que foram estabelecidas outrora:
É por isso que o médico antropósofo leva igualmente em conta o momento espacio-
temporal da sua prescrição. A astrologia, na escolha desta terapêutica, é-lhe
inútil.
Em conclusão:
O ser humano deve a sua postura erecta, a sua atenção ao mundo que o rodeia e a
conduta da sua vida às forças dos planetas supra-solares, assim como as forças
para formar e elevar o corpo. Deve aos planetas subsolares a formação de
substância, o crescimento e a reprodução e,
136
com eles, a criatividade artística, a alegria e a vivacidade, o «prazer de
imaginar».
DIETÉTICA ANTROPOSÓFICA
Nos tempos mais recuados, as regras da alimentação eram apanágio dos chefes
espirituais das populações e, mais tarde, das religiões. Depois os homens
passaram a conduzir-se apenas pelo instinto, e finalmente perderam também esse
instinto.
137
semelhantes; o leite leva o homem à terra e dá-lhe toda a experiência da
humanidade.
O tomate. Desde que se espalhou a ideia de que ele’ é rico em vitaminas, tornou-
se um alimento muito popular. Os jardineiros sabem que cresce sobre os seus
próprios detritos: as suas forças formadoras são «pululantes», desorganizadas
como o cancro, e é por isso que é formalmente desaconselhado às pessoas
predispostas ao cancro. É uma planta degenerada.
138
sopas de cereais, pratos à base de aveia e especiarias quentes, como o funcho,
os cominhos, e o anis.
A doença faz parte da existência humana. Não basta vencê-la, o que parece ser o
único fim da nossa sociedade industrial e tecnocrática. É preciso também
utilizá-la para compreender qual é a verdadeira imagem do ser humano.
Desde o começo da sua pesquisa que Rudolf Steiner afirmou: «A nossa época não
tem de criar de novo uma antiga sabedoria, mas sim uma nova sabedoria que seja
capaz não apenas de remontar ao passado, mas também de agir como uma profecia,
como um apocalipse, em relação ao futuro.»
139
ó alegria, se a chama humana despertar lá onde ela ainda dorme! ó dor anzarga,
se o ser humano estiver acorrentado quando quiser avançar!
O HOMEM INVISÍVEL
O reino animal obedece às leis físico-químicas, das quais faz parte a lei da
gravitação universal. As reacções físico-químicas no seio do mundo universal,
traduzindo-se por uma libertação de energia, terminam sempre num nível mais
baixo, num processo de morte.
O reino vegetal, pelo contrário, luta pela essência contra a entropia universal,
ou tendência caótica do mundo físico. Sublinhemos aqui que a antroposofia
determina o papel do mundo físico, enquanto que, para a ciência clássica
moderna, este fenómeno é universal.
(’) Cf. Bott (V.): Médecine Aiztltroposopliiqtie (Paris, ed. Triades, 1973).
140
Tal como há uma oposição entre o físico e o etérico, também se produz uma
oposição fundamental entre o etérico e o astral: quanto mais evoluído for o
animal, menores serão as suas forças etéricas e as suas possibilidades de cura e
regeneração.
Rudolf Steiner dá-nos uma imagem do homem: consideremos o seu organismo como uma
casa. O locatário dessa casa é o Eu, ou «espírito humano». É ele que nos dá a
escolher entre o manter ou não essa casa.
Existe também um certo ambiente nessa casa, uma certa sensibilidade, uma certa
animação-são os produtos do equilíbrio: interiorização/exteriorização,
simpatia/antipatia ou atracção/repulsão. Este equilíbrio é devido à actividade
do corpo astral; por outras palavras, ao psiquismo: são as forças estruturantes.
Foi um arquitecto quem concebeu os planos desta casa que ele continuará sempre a
renovar para que ela seja funcional. Este arquitecto é constituído pela
actividade do corpo etérico, ou corpo de vida: são as forças modelantes.
141
Actua como tónico estimulando e aquecendo o organismo humano. Rudolf Steiner
aconselha-o no tratamento dos diabetes, para combater a fadiga e a depressão
nervosa dos esgotamentos intelectuais. Os banhos quentes à base de essência de
rosmaninho são aconselháveis. Nesta família de estimulantes entram: marroio,
alfavaca-de-cobra, orégão, manjerona, serpão, tomilho, alfazema, salva,
brissopo, segurelha.
Eis o que nos diz W. Pelikan acerca da dormideira, quer dizer, do ópio:
142
despertam as forças criadoras do futuro [ ... ]. As poderosas virtudes do suco
da dormideira podem ser úteis ao médico, mas não devem nunca ser empregues pelos
homens, ávidos de prazer, para uma evasão corruptora longe da condição
terrestre.»
143
A dróSERA (OU ORVALHINHA), PLANTA CARNIVORA
Esta planta tem raízes insignificantes e o que está na sua natureza de raízes
perde-se em parte nas folhas, cobertas de pêlos vermelhos na ponta dos quais
cintilam gotinhas semelhantes a gotas de orvalho. No centro, flores brancas
muito pequenas. A sua propriedade de atrair os insectos devido à cor penetra, se
assim se pode dizer, no domínio da folha, que é normalmente vermelha. As folhas
representam o essencial da planta; as suas urnas vegetais fecham-se sobre o
insecto e há nisso mais que um simples levantamento mecânico. Verifica-se a
presença de enzimas proteolíticos muito activos que levam à destruição tanto de
um insecto vivo como de um pedaço de carne, enquanto há uma rejeição bastante
rápida de qualquer substância mineral quando posta em contacto com elas.
144
geral das contusões, sensação de leito muito duro, sensação de dor no estômago,
cãibra e endurecimento dos dedos ao agarrar uni objecto, soluços, tosse
convulsa, dor de garganta.
Mas, se olharmos para esta planta tal com o faz um médico antropósofo, veremos
que a flor é caracterizada, além da sua capacidade de atrair os insectos, pela
sua astralidade. Astralidade essa que recai já nas possibilidades da folha. Esta
constitui a zona respiratória da planta, cujo funcionamento é o inverso da zona
respiratória do homem.
145
Indicações: coadjuvante do tratamento da gripe. Convalescença depois da gripe.
Casos de astenia geral. Sinais de fadiga, esgotamento físico e intelectual.
Senilidade.
OS METAIS
146
de chumbo e de mel permite ao organismo limitar aos órgãos apropriados os
processos de desconstrução. É um remédio preventivo da esclerose cerebral, para
o qual não há, que saibamos, nenhum equivalente na farmacopeia clássica.
O estanho: Este metal pulveriza-se com o frio. Com ele, fabricam-se louças,
sinos, estátuas: ele contém e revela o que contém. Ligado a Júpiter, este metal
tem no organismo uma força plástica, particularmente ao nível das articulações.
O estanho é também usado para as doenças da boca, quer em injecções quer sob a
forma de unguento a O,1 %.
O ferro: Serve para fabricar comboios, carris, betão-armado, pontes, gruas, etc.
- que simbolizam, todos eles, o domínio do homem sobre o mundo visível -, os
utensílios que concretizam a sua acção e, outrora, o gládio e a espada, símbolos
da coragem. No soro humano, encontram-se, em média, 100 g de ferro por
mililitro.
147
O Dr. Oppert conta que no fim da última guerra, quando escasseavam os
medicamentos, algumas ampolas de ferro bastavam-lhe para restabelecer as pessoas
completamente extenuadas: «Isso não tem nada de extraordinário», diz ele,
«porque trabalhávamos então com forças e não com quantidades.»
O ouro. É tão pesado que parece completamente eslranho a tudo o que existe sobre
a Terra. Sabemos que um grama de ouro pode estender-se num fio de 1 kni de
comprimento. São necessárias 20000 lamelas de ouro para conseguir obter 1cm de
espessura. A lamela de ouro é transparente e verde. o ouro possui as forças da
luz escondidas. Contém os contrastes vividos pelos metais.
Actua sobre o coração e a circulação., assim como sobre a pulsação cardíaca, que
em medicina antroposófica é considerada como a consequência e não a causa da
circulação sanguínea. Harmonizando o corpo e a alma, é indicado em alias
diluições aos doentes em que o pólo metabólico predomina ao nível do coração:
inflamação dos tecidos do coração, perda de ritmo cardíaco ou insuficiência
cardíaca, angina de peito, enfarte, palpitações. É também o metal indicado para
os melancólicos com ideias suicidas. Associado ao ferro, à sílica e ao fosfato
de potássio, cura a neurastenia. Cognominam-no de «o café homeopático», por
brincadeira, claro, porque, ao contrário do café, o ouro é um tónico cardíaco,
um re,,,idador: o que não acontece com o café.
O cobre. É utilizado para cobrir alguns tectos (os da Opera, por exemplo):
protecção. Para fabricar os fios
148
eléctricos (telefone): conexão. Os passos de rosca das torneiras, por exemplo,
são desta matéria: a adaptação. É um metal amável que o homem utiliza para
juntar o que sem ele ficaria desunido.
Este metal ligado a Vénus, aos rins, ao plexo solar e aos processos de digestão
do intestino delgado, é prescrito em casos de espasmos, de asma, de tosse
convulsa, cólicas gastro-intestinais, ou ainda cãibras, e em todos os casos em
que a actividade neuro-sensorial não se liga bem com os processos metabólicos:
Continua entre o estado de Sal e o de Sulfur dos alquimistas. Este metal domina
todos os processos glandulares da formação das células dos órgãos do metabolismo
e do sistema linfático; é o remédio indicado para:
149
tinal; os espasmos e as diarreias, as transpirações abundantes;
A prata. Ligada à Lua, age sobre as forças de reprodução tal como a Lua actua
sobre o ciclo genital. É por isso que se utiliza nos:
150
CAPITULO VII
Tentar -explicar em algumas páginas esta atitude mental seria vão, simplista e
superficial. Digamos pelo menos, para compreender a própria essência desta
medicina, que ela pertence a uma cultura em que o domínio religioso é ilimitado,
englobando até as prescrições relativas à vida quotidiana, os tabus alimentares,
as ofertas a fazer aos brâmanes e até mesmo as observações médi-
(’) Em Bombaim, por exemplo, o pândita Shiv Sherma insiste para que os doentes
sejam hospitalizados e mantidos sob observação durante um mínimo de três ou
quatro meses.
cas e as prescrições terapêuticas. O vedismo é uma medicina viva, quotidiana e
sempre contemporânea.
Na visão do mundo que é própria dos hindus, cada um faz parte de um todo (’). A
diversidade é apenas uma das vias para a unicidade fundamental dos seres e das
coisas. E quase todos os seres e coisas possuem uma força mágica que lhes é
específica, inerente à sua natureza.
A índia é um lirismo carnal, uma poesia mágica no próprio seio da maior miséria,
graças a esta perpétua dinâmica da imaginação metafísica. Mas é também uma
curiosa tendência para a sistematização. E ambos, inseridos um no outro sobre um
fundo de grande mobilidade e praticamente intraduzível na nossa linguagem
demasiado analítica, fazem que uma vertigem nos assalte diante de tantas seitas
religiosas, tantas variantes introduzidas, uma a uma, pelo vedismo, pelo
hinduísmo, pelo budismo.
(’) Cf. Fouchet (M.-P.): l'Art Ainouretix des Indes (Paris, Galliinard). (-) Cf.
Biarilcau (M.): «Philosophie de YInde», in Histoire de Ia Philosophie, t. 1
(Paris, Gallimard, 1969). (-) Assinalemos contudo a publicação em Inglaterra de
uma tradução, citada por J. Herbert (in op. cit.): An Eight Hundred Year Old
Book o/ 1ndian Medicine and Formulas, trad. E. Sharpe (London, Luzac, 1937).
152
meio ambiente e ocupa-se igualmente da arte de cuidar das plantas, do gado, dos
cavalos, dos elefantes.
Siva, senhor da dança cósmica (ou do movimento das energias), recolhe o Ubaveda,
ou conhecimento pregado e revelado, e depois revela-o a sua esposa, Parvoti, que
o revela por sua vez a Nandi Devar. Nandi Devar escreveu uma enciclopédia, o Uba
Veda, ele próprio composto de quatro Vedas, tratados de filosofia, de moral, de
música, e de que o último é o Iajurveda.
Mas eis que, sobre a Terra, as doenças se tornam múltiplas e de tal forma
complicadas que os Azvini, os filhos do deus Sol, reúnem um congresso no
Himalaia e encarregam um sábio devoto de Indra, Bara Davassar, de tornar o longo
poema mais compreensível. Bara Davassar fê-lo em oito capítulos:
O deus Indra considera no entanto que ainda é muito comprido. Estes oito
capítulos são condensados em cinco, e depois em dois: patologia interna e
patologia externa.
Dois sábios são encarregados de ensinar e divulgar esta ciência: Bara Davassar,
que se dirige para Medina, onde divulga o ensino da patologia interna a faquires
e
153
a discípulos, o melhor dos quais foi Punarnassa, que, na sua morte, legou este
conhecimento a Agnivassar e a outros cinco discípulos, tornados por sua vez
pânditas, isto é, repetidores que receberam uma educação e um conhecimento
iniciáticos.
Com efeito, os hindus acreditam que a doença lhes é enviada por Siva ou qualquer
outro deus, e que ele lhes permite assim o seu karma. Portanto, a doença torna-
se uma espécie de bênção purificadora e não requer apenas do médico o ser um bom
técnico; é necessário também que ele esteja inteiramente ligado ao mundo sagrado
para ser capaz de permitir ao doente, curando os seus sintomas, assumir o seu
karma.
É por isso que os melhores médicos pertencentes a esta tradição não hesitam em
seguir um asceta ou um eremita, vivendo muitas vezes na selva, o que acaba por
lhes transmitir o «poder» de curar determinadas doenças. Alguns são
especialistas de doenças muito graves: tuberculose, lepra, cólera, ete.
Mas este poder adquirido tão penosamente desaparece se, por acaso, o discípulo
revela os segredos ou infringe as regras de conduta moral e espiritual que lhe
foram impostas pelo gurti. Entre esses especialistas, os mais conhecidos são os
«médicos de serpentes», que conhecem todas as magias para curar as picadas das
mais terríveis serpentes venenosas. Em princípio, tanto estes especialistas como
os outros não recebem dinheiro.
OS TRÊS HUMORES
Até metade do século XX, a índia era o único país a utilizar as pedras preciosas
- e sobretudo o diamante - com fins puramente terapêuticos. O seu brilho, por
conseguinte, não é unicamente reservado aos célebres tesouros dos marajás ou dos
seus templos.
Esse brilho produz uma radiação, quente ou fria, que pode ser fixada nas
tinturas alcoólicas e permite preparar, a partir destas tinturas-mães, grânulos
que são utilizados segundo as regras da homeopatia, como o preconiza o Dr. H. L.
Bansal, de Nova Deli.
O método preconizado pelo Dr. Bansal é extremamente simples, desde que tenhamos
à nossa disposição essas gemas durante alguns dias do mês.
Deitar algumas gotas de álcool puro ou rectificado numa garrafinha que leve mais
ou menos uma onça. Colocar a gema na garrafa e tapar bem, depois guardá-la num
local sombrio, bem protegido da luz, durante oito dias e oito noites. Tirar a
garrafa do sítio onde se guardou e agitá-la fortemente. A gema retirada da
garrafa pode ser utilizada tantas vezes quantas quisermos. O líquido dinamizado
assim obtido permite preparar os grânulos seguindo as regras da homeopatia.
O rubi: Governada pelo Sol, esta pedra desprende radiações cósmicas de cor
avermelhada, por meio de ondas quentes que controlam a humidade, absorvem o frio
e regeneram tudo o que estiver enfraquecido. A cinza de rubi melhora os três
doslias, sobretudo as esferas de i,âyu e de pitta.
Preparação para uso interno: Mergulhar num banho de urina de vaca, depois expor
ao sol durante três dias e lavar com água quente. Deixar seguidamente macerar
num banho de sumo de erva-andorinha durante três dias, depois podamizar. Esta
operação deve ser renovada cada três dias. Isto, dizem, constitui um excelente
tónico para o apetite, para as funções pulmonares, e é antiparalítico.
A pérola: Governada pela Lua, de brilho cósmico alaranjado e frio, pode tratar
as doenças produzidas por «excesso de calor». O seu brilho controla as secreções
fluidas, a circulação sanguínea, o coração e o espírito, e é útil quando o
sangue, os ossos, a gordura ou os tecidos têm necessidade de humidade; controla
também os três doslias. É um tónico do coração, dos pulmões (tuberculose, asma,
bronquite crónica), antineurasténico, tónico dos rins (litíase renal), das vias
urinárias, do fígado, antileproso, antivenenoso, antileucorreico,
antiespermatorreico, antiácido, laxante, afrodisíaco, nutritivo e sedativo. A
pérola embeleza o corpo e dá uma tez brilhante.
160
Purificação da pérola: para limpar uma pérola natural de toda a impureza, deixa-
se macerar algumas horas, ou num banho de sumo de nélia ou em vinagre, ou em
urina de vaca. Deixar macerar, depois podamizar em nila podhain(l), para obter
um pó muito fino, impalpável. É necessário tomar O,10 a O,30 centigramas deste
pó, todos os dias, com um pouco de mel.
O coral: Correctivo da pérola, o coral é governado por Marte. A sua cor cósmica
amarela liberta calor. O seu brilho seca tudo o que se refere à esfera de kapha,
ou linfa. Muito eficaz no reumatismo, faz desaparecer a linfa que se deposita na
carne e produz uma inflamação dolorosa. Utiliza-se para tratar as doenças da
pele -eczemas, úlceras, lepra-, as doenças das vias respiratórias e a
transpiração excessiva durante o dia ou a noite. É um excelente hemostático.
(’) Nila podham: técnica que consiste em colocar o corpo cujas propriedades
terapêuticas queremos utilizar num vaso estreito enterrado no solo a uma
profundidade de um cóvado e o qual desenterramos ao fim de um determinado tempo
que varia com a preparação a realizar.
A esmeralda: Governada por Mercúrio, de força cósmica fria e cor verde; as suas
radiações são úteis para as doenças dos ossos, da pele, dos intestinos, dos
rins, do fígado, da vesícula, e permitem aumentar de peso.
A sua cinza, doce e fresca, acalma todos os desequilíbrios e abre o apetite.
Utiliza-se nas febres agudas ou perniciosas, anemias, asma, dispepsia, vómitos,
náuseas, úlceras e hemorróidas de qualquer natureza.
Muito eficaz nas doenças de nervos e da pele, o seu brilho «anima e limpa o
sangue nervoso». A cinza da safira é utilizada para curar a debilidade mental e
nervosa, as depressões provocadas pelas decepções, a sonolência, a epilepsia, a
histeria, a idiotia, a loucura, as nevralgias, assim como todas as dermatites,
inclusive a sífilis e a lepra, as doenças oftalmológicas.
O ônix: Sob a influência de Rahu, a Cabeça do Dragão (’), o seu brilho é o mais
frio de todos. A sua cor cósmica é o ultravioleta. Actua nos desequilíbrios
dolorosos provocados por um calor excessivo, isto nas três esferas: vâyu, pitta
e kapha. Os raios cósmicos ultravioletas do ônix são úteis para excitar o
apetite e corrigir a digestão, por um lado, e nas desordens mentais e
perturbações glandulares, pelo outro, e finalmente, ajudam a mulher a dar à luz.
A astrologia aconselha-o em amuleto e ao nível do plexo -porque este desempenha
o papel do «cérebro nervoso» do homem - nos seguintes casos: doenças cerebrais,
tendências suicidas, anorexias, diarreias, perturbações hepáticas, prisão de
ventre, vermes, reumatismo.
Olho de gato: Governado por Ketu, a Cauda do Dragão, irradia a força mais quente
e emite um brilho infravermelho. O Iajurvédico aconselha-o para as doenças
relacionadas com a esfera do pitta. É digestivo e laxante.
(’) O Dragão forma uma das constelações do hemisfério boreal; é composto por 80
estrelas.
163
É um regularizador das tensões psíquicas que provocam ou acompanham e agravam as
doenças graves como o cancro (caso no qual o organismo arrefece, enquanto que o
tumor apresenta «um. lugar quente»), anemia, debilidade nervosa, as doenças
uterinas e as dermatoses, em especial as bexigas e a sífilis.
A astrologia aconselha que se traga ao pescoço como amuleto, nas crianças e nos
recém-nascidos, para prevenir as dificuldades respiratórias, asma, pneumonias,
etc.
A utilização destas duas últimas gemas deve fazer-se segundo uma estrita
observação de certos fenómenos astronómicos. Com efeito, segundo a mitologia
hindu, Rahií e Ketu zangaram-se com a Lua e o Sol. Desde aí os primeiros tentam
devorar estes últimos todos os anos por altura dos eclipses. Assim, os raios
cósmicos de Rahu podem dissolver a força reconfortante do Sol e tornar-se muito
frios, mesmo os mais frios de todas as irradiações que a Terra recebe. Do mesmo
modo, quando os raios cósmicos de Ketu podem tapar os da Lua, eles tornam-se
muito quentes, mesmo os mais quentes.
A vaca
(’) É por isso que os usos e costumes locais exigem tradicionalmente que todas
as manhãs, ao nascer do sol, a entrada e por vezes toda a casa sejam aspergidas
com bosta de vaca diluída em água, para afastar os insectos que aí se refugiaram
durante a noite. Do mesmo modo, depois de cada refeição, o solo é limpo com
bosta de vaca, para afastar as moscas e as formigas que podiam disputar as
migalhas. A bilgiene dos Vedas recomenda igualmente aos doentes das vias
respiratórias a escarrar sobre bosta de vaca.
164
O leite de vaca goza tradicionalmente de uma reputação quase igual à do leite
materno. Uma lenda(’) consagra até a propriedade eminentemente afrodisíaca do
leite de vaca. O soro de leite ácido é considerado refrescante, aperitivo e
estomacal; quando açucarado, como reconfortante, febrifugo e estomacal. Os
pânditas modernos aconselham a azedar o leite fervido e frio com umas gotas de
sumo de limão e, no caso de febre, beber a água que fica ao de cima.
Sem conhecer sequer a origem microbiana das doenças que se transmitem pela
saliva, o Iajurvédico prescreve a todos, e especialmente aos doentes das vias
respiratórias, que cuspam sobre bosta de vaca, que, como diz o Dr. Paramananda
Mariadassou no seu Matière Médicale Usuelle (% «absorve os infinitamente
pequenos e digere-os».
A serpente
A gordura é empregada, em uso externo, sobre a face mucosa das pálpebras, contra
a vermelhidão dos olhos, o lacrimejar, as manchas da córnea ou a sua opacidade,
e aumenta a acuidade visual.
Em fricção cura o lumbago. A pele da muda precipita o parto quando atada sobre o
ventre da parturiente. Em colar ou usada como cinto, cura a hidropisia, a
caquexia e a dificuldade de urinar.
O escorpião
A sua picada é benéfica para a paralisia dos membros, desde que seja dada fora
do conjunto vasculo- -venoso da região paralisada.
166
Uma maceração de escorpiões vivos em óleo de amêndoas amargas constitui um
excelente remédio, administrado em gotas, contra as dores de barriga e as
cólicas nefríticas. Utilizada em fricções sobre os rins, esta preparação
favorece a migração e evacuação do cálculo. Uma maceração de óleo de amêndoas
doces, aquecido e depois deitado à razão de uma a onze gotas no canal auditivo,
cura as otites.
Dez escorpiões vivos mergulhados em 50Og de óleo de amêndoas doces com raiz de
ruibarbo, junça, casca da raiz de briónia, tudo exposto ao Sol durante uma
semana, serve, em uso externo, de linimento contra a paralisia, o reumatismo
deformante, as picadas de escorpião e as artrites de todas as origens.
«As drogas são muito nocivas para o sistema nervoso. Os próprios iniciados nunca
as recomendam nem as utilizam, a não ser muito raramente e em doses
pequeníssimas; tal como o almíscar, por exemplo. Antes de ter estado na Índia,
eu já conhecia as propriedades do almíscar.
AS PLANTAS E AS ESPECIARIAS
A profusão das riquezas vegetais naturais da índia faz que a farmacopeia à base
de plantas seja muito importante. Ela está muitas vezes na origem das
preparações aromoterápicas, fitoterápicas e homeopáticas conhecidas da medicina
bioterápica ocidental.
Antes de vos falar dalgumas das prescrições mais curiosas do Iajurvédico, demos
uma vez mais a palavra ao Mestre Omraam Mikhael Ivanov: «Os indianos e os
tibetanos têm um grande conhecimento das ervas; é uma ciência que eles
transmitem de geração em geração desde há milénios. Conhecem algumas
verdadeiramente extraordinárias. Uma delas, parece, permite, quando se come,
viver durante semanas sem nenhum alimentou-ma outra, raríssima, ficar durante
dias na neve do Himalaia sem sentir frio. Foi o que disseram; evidentemente, eu
não verifiquei, mas é possível. Porque não?... Quando eu estava na índia,
mostraram-me também como se fabrica uma massa com a raiz de uma certa planta e
as folhas vermelhas de outra. Esmagam-se juntamente esfregando-as sobre uma
pedra e a mistura daí resultante aplicam-na na fronte como um sinal vermelho,
entre as sobrancelhas. Servem-se dela para meditar, porque este produto possui a
propriedade de despertar o terceiro olho. Se quiserdes, dar-vos-ei o nome dessas
plantas, mas ser-vos-á bem difícil conseguir encontrá-las... »
UM TERRENO DIFICIL.
Seria pretensioso, da nossa parte, querer dar nestas poucas páginas uma
explicação das medicinas sagradas de toda a América pré-colombiana. Sobre as
imensas planícies do continente americano, as manifestações de civilizações
humanas são extremamente diversificadas. Entre as simples tribos nómadas
constituídas pelos índios caçadores-agricultores das planícies e montanhas ao
Norte e das florestas da Amazónia ao Sul, às confederações e aos impérios
solidamente estruturados da cadeia dos Andes, existe contudo um traço comum.
Segundo a opinião de eminentes etnólogos e historiadores da pré-história, como
André Leroi-Gourhan, por exemplo, todas essas populações teriam tido por
antepassados tribos de caçadores nómadas vindos provavelmente da Ásia pelo
estreito de Béring, cento e cinquenta ou duzentos séculos antes de J. C. Mas por
que razão não mais longe ainda no tempo e no espaço?
Ao lado desta primeira tese muito oficial, existem outras hipóteses que nos
permitem pensar que as cidades gigantes do Peru tenham sido construídas em
tempos ainda mais remotos. Todas as especulações, por mais fantásticas que
sejam, estão autorizadas perante essas gigantescas plataformas da planície de
Nazca, ao sul do Peru, cuja observação aérea faz lembrar a balizagem de um campo
de aterragem, ou perante essas enormes pedras que, segundo o arqueólogo
americano Haytt Verrili, foram de qualquer modo cortadas por uma
171
massa radioactiva capaz de corroer o granito com uma precisão exacta. Ou ainda
essas lendas bolivianas relatando a epopéia das civilizações que remontam a mais
de 5000 anos a. C. e que teriam sido exterminadas por uma raça não humana cujo
sangue não era vermelho. Por seu lado, a mitologia pré-inca conta-nos que as
estrelas são habitadas e que, da constelação das Plêiades, os deuses vieram para
a terra...
Perante um tal panorama, ficamos com vertigens e o nosso propósito não será
certamente desenrolar um fio de Ariane através do labirinto dessas civilizações.
(’) J. Durand-Forest, uma das raras especialistas da língua sagrada dos Astecas,
o nahuatl, deu-nos informações precisas sobre a formação desta palavra: a
representa a raiz do termo que designa água, e t1 o sufixo próprio dos
substantivos. Esta explicação não e incompatível com a nossa hipótese.
172
Bernardino de Sahagúri desembarcou em 1529 na Nova Espanha e começou a estudar a
cultura índia em todos os níveis, com um método de investigação absolutamente
extraordinário para a época (). Graças a esses missionários, algumas informações
preciosíssimas chegaram até nós em nahuatl, sob o nome de Codex. Contudo, nem
todos estão ainda decifrados nem publicados. Sem dúvida a censura de Roma tem
uma certa culpa disso. Mas a sociedade asteca apresenta actualmente um carácter
bem mais complexo do que o de um Quetzacoatl, emplumado apressadamente nos
instantâneos dos amadores de um insólito barato.
OS CINCO APOCALIPSES
Sob a luz implacável do Sol, num céu de uma limpidez espantosa, a visão
apocalíptica dos Astecas Justifica-se uma vez mais quando Cortez destruiu
definitivamente o seu império, apenas quatro anos depois de Córdoba, antigo
marinheiro de Cristóvão Colombo, ter sido atirado por uma tempestade para a
ponta do lucatão (’).
Já quatro eras o tinham precedido. Todas terminaram com cataclismos, aos quais
nenhum homem sobreviveu. Essas quatro eras, ou «os quatro Sóis», são descritas
nas crónicas de Torquemada (’) pela ordem que figura nos baixos-relevos do
célebre monumento conhecido pelo nome de «calendário asteca». São: O Sol do
Tigre, ou izahui ocelotl (= «quatro jaguares»), que terminou com o gigantesco
massacre dos homens devorados pelos jaguares. Esta lenda relatará um
preconhecimento de uma era destruída por uma invasão vinda dos espaços
galácticos? O deus jaguar, para os Astecas, Tezcatlipoca, simboliza as trevas
manchadas de estrelas, tal como a pele do felino.
O segundo universo, ou Sol de Vento ‘ nahui eecatl, foi dizimado por uma
tempestade mágica durante a qual Quetzacoatl, a Serpente Emplumada, deus do
vento e rival mitológico de Tezcatlipoca, transformou os homens em macacos.
A era do Sol de Chuva, nahiti quiatíitl, foi submergida por uma chuva de fogo
enviada por Tlaloc, o deus ambivalente da chuva e da tempestade. Jacques
Soustelle pensa que este mito terá nascido da recordação das grandes erupções
vulcânicas que cobriram de cinzas e de lava uma parte do vale do México, algum
tempo antes da nossa era.
O quarto Universo ou Sol de Água, nahui atl, regido pela deusa da água,
Chalchicuhtlicue, foi engolido por um dilúvio que demorou cinquenta e dois anos.
Somente um casal que se abrigou num tronco de cipreste escapou, mas Tezcatlipoca
transformou-os em cães por terem desobedecido às suas ordens.
(’) Expulso pelos Indios, Córdoba foi para Cuba, onde revelou a Velázquez a
extensão de riquezas a conquistar. O governador de Cuba enviou então uma
expedição sob o comando do sobrinho Juan Grijalva, depois uma outra dirigida por
Herman Cortez, que deixou Cuba a 18 de Fevereiro de 1519.
174
Este universo foi criado por uma das manifestações cíclicas de Quetzacoatl, que,
sob o aspecto de Xoloti, o deus com cabeça de cão, desceu aos Infernos para
roubar os ossos secos dos mortos e dar-lhes vida, sacrificando para isso o seu
próprio sangue.
Este mundo actual ou Sol dos Tremores de Terra, nahid ollin, está destinado a
ser destruído por sismos enormes. A quinta era é também a do Sol do Centro,
porque «cinco» e «centro» têm o mesmo símbolo para os Astecas: o do equilíbrio.
Equilíbrio entre as forças da morte e as do renascimento, que o povo asteca deve
manter ao preço da «água preciosa», o sangue humano, digno nisso do seu deus
Quetzacoatl.
OS LUMINARES DO MUNDO
Talvez fosse mais justo falar de «renascimento», porque a Lua, que aparece e
desaparece no céu, simboliza também para os antigos Mexicanos a alternância das
estações, a morte e o renascimento das plantas, o Sol misterioso e o despertar
do homem ébrio.
(’) A 40kra de México. Nesta cidade, alto lugar da civilização «Velha Tolteca»,
levantam-se as duas pirâmides da Lua e do Sol.
175
de pústulas e de úlceras, o que e pouco glorioso para o astro tão resplandecente
no qual se transformou.
Mas os deuses viram com temor que os dois astros permaneciam imóveis lá no
horizonte, queimando o mundo com o seu fogo. Compreenderam então que esses
astros estavam mortos e que era necessário sangue para dar-lhes vida: «Morramos
todos», disseram, «e façamos com que o Sol ressuscite graças à nossa morte.» Um
deles, EecatI (quer dizer QuetzacoatI, enquanto deus do vento), encarregou-se de
os matar a todos. Mas XolotI, deus sósia e o outro reflexo de Quetzacoatl,
tentou furtar-se a isso fugindo para um campo de milho, onde se tornou numa
espiga dupla; depois escondeu-se num campo de piteiras, onde se transformou em
mexolotl ou
176
piteira dupla, por fim mergulhou na água, onde se transformou em axolot1.
Finalmente apanharam-no e mataram-no. Assim, Quetzacoatl, que já se tinha
sacrificado sob a forma de Nanauátzin, morreu uma segunda vez sob a forma de
Xolotl. Então, «por sobre os deuses sacrificados e tirando a vida da sua- morte,
o Sol e a Lua começaram o seu caminho no céu», concluiu o índio informador do
padre Sahagún.
Os terrores que reinam sobre os espíritos das populações astecas são múltiplos:
que o curso do Sol e da Lua parem, e a vida acaba. Ao nível individual, tudo é
relativo, cada um tem de morrer um dia. Mas o próprio Sol poderia ser destruído.
Assediados pelo medo dos Tzitzimime, monstros destruidores que surgirão um dia a
oeste das trevas para destruir tudo o que a humanidade fez, os filhos do Sol
vivem num clima de permanente angústia colectiva. Tudo o que vem dos domínios
tenebrosos fá-los tremer.
Resumida assim por Jacques Soustelle, toda a cosmologia dos Antigos Mexicanos
explica porquê cada gesto, desde o nascimento à morte, do mais banal ao mais
sofisticado, tem de passar pela sanção dos deuses.
(’) Cf. Soustelle (J.): La Penséc Cosi?iologiqzte des Anciens Mexicains (Paris,
Hermann, 1940). (”) Para o fazerem, aos Astecas não faltava imaginação. Eis
alguns dos castigos infligidos: àquele que mentia, furavam-se ou cortavam-se os
lábios; consoante a natureza da falta, as crianças estavam sujeitas a ser
fustigadas com espinhos, flageladas com urtigas, suspensas de cabeça para baixo,
expostas aos vapores acres do chili ou ser-lhes queimado o cabelo...
178
classe dominante, levarão num colégio religioso, ou calinacac, a vida de
austeridade monástica e de domínio de si mesmos que os tornará dignos dos seus
futuros cargos de altos funcionários da Igreja ou do Estado.
Pela sua falta de obediência, aquele que violar as regras e os tabus pode levar
à perda de todo o Universo, assim como dele mesmo: a cólera incontrolável dos
deuses pode, como tão bem o revelam os mitos, ser a fonte de cataclismos tanto
humanos como cósmicos.
O conforto mole não é o forte dos Astecas, cujo luxo, no entanto, nunca teve
igual no Ocidente. Guerreiros formidáveis submetidos à disciplina dos deuses, os
Astecas viviam como responsáveis da origem da sua doença, que se tornava assim
tanto mais terrífica e grave.
É evidente que existe uma medicina «popular» que conhece as ervas medicinais e
sabe aplicá-las correctamente nos casos banais em que o diagnóstico do
sacerdote-médico não é necessário. Essencialmente rural e fora das grandes
cidades, a população asteca possui conhecimentos rudimentares que lhe permitem
curar-se tão bem como o faziam antigamente os nossos camponeses. Nos mercados
das grandes cidades -no México, entre outras-, os panamac, como antigamente
alguns pastores das nossas montanhas, vendem plantas e cura-
179
tivos. E, como dois conselhos valem mais do que um, não é de duvidar que os dos
panamac tenham por vezes dobrado ou completado os do sacerdote-médico nos casos
menos benignos.
Estas plantas -são por vezes cultivadas nos acessos às grandes cidades, nesses
jardins flutuantes - ou chinamPas - que os Espanhóis tanto admiraram à chegada
(2).
Piteira, ou maguey (’). A maior parte das suas 170 variedades são originárias da
América do Norte e da América Central (’). Os Astecas utilizavam um emplastro
composto destas folhas pulverizadas e secas, de resina vegetal e de plumas, que
aplicavam nas feridas. A medicina popular mexicana utiliza ainda os emplastros
de maguey. Em decocção, esta planta terá tido bons resultados no tratamento da
sífilis e da gonorreia. A experiência patogenésica () forneceu como principais
indicações: astenia, anorexia, desejo de bebidas alcoolizadas. No etilismo
crónico, o Dr. Luí s de Legareta preconiza a administração de 15 gotas de
tintura-mãe a 1/1000 de diluição, de manhã em jejum, como tratamento preventivo
provocando uma repugnancia certa em relação às bebidas alcoólicas.
A TERAPÊUTICA DIVINATóRIA
Importa antes de mais ao doente descobrir como é que pôde desagradar aos deuses
e como remir-se. À disciplina que rege o espaço do gesto social, corresponde o
código ao qual está submetido o tempo socio-religioso, quer dizer, os dias ou as
noites fastos ou nefastos do indivíduo e da colectividade.
Nem por isso é menor a glória dos sacerdotes astecas encarregados do ministério
dos cultos astrais por terem sabido determinar com uma extrema precisão as fases
e os eclipses da Lua, distinguir certas constelações como a Ursa Maior e as
Plêiades, assim como a revolução de Vénus.
Esta combinação não permite reencontrar o mesmo nome afectado pelo mesmo número
senão cada cinquenta e dois anos. Os anos sagrados são, além disso, contados por
períodos de cinco, equivalendo cada período a oito anos solares (’).
Enquanto que no Império todos os fogos do ano que passou não são mais que cinzas
e se partem todos os potes, pratos e outros utensílios domésticos, cada um
espreita o momento em que será iluminado pelo Fogo novo o cume da montanha
UixachtecatI, perto da meia-noite, e as Plêiades continuam o seu curso. O
Império está salvo durante mais cinquenta e dois anos! (’). Um cativo é
sacrificado e os mensageiros vão levar a notícia através de toda a Confederação.
Nas casas as lareiras são acesas e a louça é substituída.
Cada divindade é celebrada com uma festa e cada festa é uma psicoterapia da
angústia colectiva. Nestas terras altas queimadas pelo Sol onde os deuses têm
sede e fome, onde reclamam insaciavelmente o sangue fresco
A MÁ SORTE
O Codex Vaticanus, um dos documentos nahuatI mais importantes que chegou até
nós, mostra numa das suas
(’) O poder mágico dos citiaieleo chegava até à utilização do seu braço ou mão
cortados, que permitiam aos ladrões tornarem-se invisíveis para entrarem à noite
nas casas.
C) Cf. Beltran (A.) op. cit.
186
gravuras que cada dia do ano era, além disso, proibido agir sobre uma parte
determinada do corpo.
O «TICITI.» OU MÉDICO-ADIVINHO
(’) Ver gravura de Aztec Medecffie of Mexico (Bombay Ciba Monographs, n., 16,
1953). (’) Cf. Durand-Forest Q. de): «Divination et présages dans le Mexique
ancien et moderne» in Cahiers d'Ainéi-iqtie Latine, n., 2, Paris, 1968.
187
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Os ritos do milho têm um lugar muito importante, assim como este cereal na
economia doméstica.
Quando uma criança está doente, uma mulher, «aquela que lança os “grãos de
milho"» ( in tlatolli quitepevaya), pronuncia as esconjurações e prediz o
futuro. Depois de colocar os grãos doirados num pote fechado, ela lança-os ao
solo. Se eles se espalharem, anunciam a morte; se caírem juntos, a criança cura-
se ().
Por vezes as mulheres ticitI atam cordõezinhos uns aos outros: se os nós se
desfizerem o doente pode curar-se, mas se, pelo contrário, se apertarem, o
presságio é nefasto.
Um outro rito utilizado pelo ‘homem ticitI recorre à adivinhação pela palma
da mão. Depois de se ter informado da natureza da doença, o médico-adivinho
agarra, com a mão direita, umas folhas de tabaco (adicionadas ou não COM cal) e
coloca-as na sua mão esquerda. Então, medindo o antebraço esquerdo do doente com
a palma da sua mão direita, pronuncia a invocação que lhe permitirá conhecer a
origem da doença. Para que a cura seja certa, a invocação deve terminar no
momento preciso em que os seus dedos se sobreponham aos do
(’) Cf. Garibay (A. M. K.): Paralipo,71enos de Sahagtín (México. Tlalocan, vol.
11, n.’ 1, 1945). (@’) Cf. La Serna (J. de): Manual de Ministros de índios, para
el Conocimiento de sus Idolatrias y Extirpación de Ellas (México, Ed. Fuentes
Cultural, 1953).
188
OS SACERDOTES-MÉDICOS DA AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA
doente (’). Esta prática não surpreenderá talvez os endireitas das aldeias
francesas!
Todos estes ritos médicos recorrem a media colhidos no ambiente quotidiano (’).
Mais original é a adivinhação induzida pela absorção de diversas plantas
alucinogéneas, conhecidas sob o nome de peyotl, ololiuhqui, teonanacad, com fins
terapêuticos. Entre as substâncias utilizadas pelo ticit1 como expansores
psíquicos, o peyotl e os cogumelos alucinogéneos são os mais usados.
O ÊXTASE DO «PEYOTL»
Cf. Durand-Forest (J. de): op. cil. Esta interpretação foi sugerida pelo Dr.
Anderson a R. Gordon-Wasson. Cf. Heim et Wasson: Les Chw77pignons Halhici- ?
z<)gène,,; du Mexiqt4e (Paris, ed. du Museum d'hist. nat., 1958).
189
4S MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
mente. Dir-se-ia que os rostos estavam lavados. Com as suas lágrimas, eles
limpavam os olhos.»
Continuando sempre nesta região do México, eis algumas das perguntas que um
padre católico tinha de fazer quando confessava os índios em 1661: «Bebeste
peyotl? Deste-o a beber a outras pessoas para descobrir os seus segredos ou para
encontrar, objectos perdidos ou roubados?» (:`) E o penitente respondia por
vezes: «Acreditei nos sonhos, no peyotl, no ololiuhqui ... » (4)
(’) Título atribuído aos médicos que faziam parte do júri perante o qual os
futuros médicos defendiam tese.
Cf. Alarcón (H. Ruiz de): op. cit., nota 36. Cf. León (padre Nicolas de):
Carmino del Cielo (México,
1661). (’) Cf. Alua (B. de): Confessonario maior y Menor em Lengua Mexicana
(México, 1634).
190
OS SACERDOTES-MÊDICOS DA AMÉRICA PRÊ-COLOMBIANA
a sua doença(’).
Estes dois alucinogéneos nem sempre são utilizados com fins adivinhatórios. Frei
Bernardino Sahagún conta ainda, na sua História Geral das Coisas da Nova
Espanha, que os Chichimecas o usavam normalmente porque lhes dá coragem nos
combates, permite-lhes aguentar a fome e a sede e pensa-se que pode salvar de
qualquer perigo.
ALUCINOGÉNEOS
Cf. Raffour (Dr. L.): op. cit., nota 15. Cf. DurandTorest Q. de): op. cit.
191
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Os cogumelos eram comidos crus, misturados com mel. Conhecemo-los sob as cinco
designações nahuatI (’), que nos permitem situar o local onde os Astecas os
colhiam (ou a estação):
Sahagúii completa esta descrição: «Eles crescem debaixo da erva, nos campos e
nos pântanos. São redoncios; têm um pequeno pé, longo, delgado e redondo. Quando
os comemos têm mau gosto, fazem doer a gargaWa e embebedam. São utilizados
contra a febre e a got,i. É necessário não comer mais de dois ou três. Aqueles
qii,- os comem têm visões e palpitações de coração. Estas visões são por vezes
terríveis e outras vezes cómicas. Os cogumelos excitam o deseJo sexual naqueles
que comeM muitos ou até poucos. Diz-se dos Jovens matis os maliciosos que
comeram nanacat1.» (’)
o desejo sexual, observação que pode ter «inspirado» os espanhóis do séc. XVI
que se preocupavam com a Fonte da Eterna Juventude e outros afrodisíacos, mas
esta observação não tií-yura'na versão naliuati. (Cf. R. Gordon-Wasson, op.
cit., nota 39).
192
OS SACERDOTES-MÊDICOS DA AMÉRICA PRÊ-COLOMBIANA
(’) Cf. Sahagún (fr. D. de): Historia General de Ia Cosas de Nzieva Espaiía
(México, ed. Garibay, 1956).
193
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Os Astecas não têm medo da morte. Conhecem-na demasiado! Eles têm sobretudo medo
de desagradar aos deuses, medo de não lhes satisfazer a fome.
Em contrapartida, a doença apavora-os. Ela não faz parte do seu viver pessoal e
familiar. A doença é a angústia. É a dor imprevisível e infernal, já que desta
sanção dependerá, nalguns casos, a sua morte e a sua nova vida no Além (’).
Entre nós, a doença é considerada como um golpe ao nosso esquema corporal. Ela é
tanto mais dolorosa quanto interrompe, ao mesmo tempo que a integridade do Eu, a
sensação de equilíbrio físico do corpo, ou esquema corporal.
O homem ocidental sofre tanto mais quanto mais deformado ou caricatural for a
imagem que o espelho lhe transmita (’). Para os Astecas, com o esquema corporal
sublimado na colectividade, a doença é antes de mais uma lesão cósmica. Com
efeito, a sua gravidade é vivida em função da rejeição que ela subentende da
parte dos deuses. Para curar-se, o homem deve encontrar quais os motivos que o
levaram a perder a sua confiança. È nisso, e principalmente, que o médico
intervém: fornecer a resposta a esse motivo. Vem em seguida o que nós
consideramos classicamente como terapêutica.
PROCESSOS TERAPÉUTICOS
194
OS SACERDOTES-MÊDICOS DA AMÉRICA PRÊ-COLOMBIANA
«Um célebre médico indígena do Michoacan, tendo sido chamado para comparecer sob
acusação de charlatão perante o Colégio dos Médicos do México, pediu aos juízes
que respirassem uma certa erva, o que lhes produziu uma abundante epistaxe
(hemorragia nasal); então, depois de os convidar jocosamente a parar a
hemorragia, e vendo-os incapazes de o fazerem, administrou-lhes um pó que
imediatamente produziu o efeito desejado.» (’)
(’) Herrera (A. de),: Historia General de las Indias Occidentales (1728), citado
por A. Gerste, op. cit. (’) Cf. Torquemada Q. de): Monarqttia Indiana, liv. IV,
cap. 51 (Seville, 1615).
195
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Quase todos os dias, os habitantes banhavam-se nos lagos, nas ribeiras ou nos
canais da cidade. Além desta bafficação fria, apreciavam muito os temazcalli,
sauna asteca. Durante estes banhos de vapor, o paciente era fustigado com folhas
de milho. Frequentemente, o banho terminava com um mergulho na água fria.
O oficiante estendia um lençol limpo sobre uma esteira perto do fogo onde estava
o doente, depois invocava o fogo com cabeleira de fogo, a água com sais de jade,
a mulher branca do copal, assim como a deusa da Imundície e as suas irmãs,
enquanto fumigava o doente.
Banhava-o numa água preparada com antecedência; depois secava-o com o lençol
estendido sobre a esteira
196
OS SACERDOTES-MÊDICOS DA AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA
«Eu vim, eu, o sacerdote. Eu, o senhor das metamorfoses, Eu, o tlaloc verde, o
tlaloc branco. Não excites o teu furor contra mim. Eis-me aqui, sou o sacerdote.
Tu, minha mãe com saia de estrelas, ]@s tu a causa dos seus males? Falaste-lhe
da vida? Porquê também tu te levantas contra ele? Porque te viras contra ele?
Ele é criação tua, deste-lhe a vida. Perante ti, comparece a tua obra.»
A PARANóIA DIVINA
Não é portanto por acaso que Tlazolteotl, símbolo do prazer carnal, uma das
divindades encarregadas de castigar o pecado carnal, é adorado pelo corpo médico
da sociedade asteca. Eis o que nos conta ainda Sahagú n: «Adorado pelos médicos
e pelos cirurgiões, por aqueles que praticavam a sangria e também pelas
parteiras, aquelas que davam as ervas para abortar, e também pelos adi-
197
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
«Adoravam-no também os que colocavam a sua imagem nos banhos e lhe chamavam
Teniawalteci, ou antepassado dos banhos.»
Ele simboliza a doença, que, no Codex Borgia, aparece com a língua de fora
arrastando-se sobre uma maré de imundícies provocadas pela sua incontinência.
Tlazolteotl, que presidia ao amor, foi também, de uma maneira bem significativa,
a divindade das consequências dolorosas.
Mas o que é que resta das divindades sangrentas que cies honravam e defendiam?
No México moderno, as superstições tanto médicas como profanas, que os Espanhóis
católicos durante muito tempo acreditaram ser inspiradas pelo Diabo... Uma
medicina de aldeia, a dos curanderos e curanderas... E, sobretudo, as plantas.
Entre elas, essas plantas alucinogéneas que mais impressionaram a imaginação dos
nossos contemporâneos, vítimas do constrangimento do seu conforto, que querem
reencontrar o gosto da aventura e dos paraísos perdidos. Paralelamente a isto,
no momento em que a bioquímica do cérebro permite pressagiar a etiologia
orgânica e metabólica de um certo número de doenças psíquicas, essas substâncias
alucinogéneas são chamadas a desempenhar um papel importante na pesquisa médica.
198
OS SACERDOTES-MÉDICOS DA AMÉRICA PRÊ-COLOMBIANA
Nesse momento, ele nem sequer sabe quem é. Ele desliza na respiração dos deuses
e vê o mundo em transparência. Até os seus próprios órgãos. Está em êxtase
divino. Talvez no conhecimento íntimo do presente eterno. Desintegra-se para
nascer em alegria (2).
199
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
o estado de passividade é total, pelo menos naquele que ingere a droga pela
primeira vez. A sensibilidade erótica modifica-se, variando no entanto de
indivíduo para indivíduo. Nota-se uma hipersudação.
OBSTETRíCIA
200
OS SACERDOTES-MEDICOS DA AMÉRICA PRÊ-COLOMBIANA
Os banhos mornos também são aconselhados. È durante esses banhos e à saída deles
que a parteira examina o ventre da futura mãe, a fim de determinar a posição da
criança. Em caso de má colocação, a parteira é capaz de praticar verdadeiras
mudanças por meio de exercícios externos.
Nos casos em que a criança tomou uma má posição, depois de um dia e uma noite de
esforços tenta-se de novo removê-la, por meio de massagens depois de um banho
quente. Se todas estas práticas forem vãs e a auscultação permitir diagnosticar
a morte do feto, a parteira, depois de numerosas invocações, pratica a
embriotomia por meio de uma faca de obsidiana. Este facto surpreendente
demonstra o alto grau que tinha atingido a sua técnica operatória. O cordão
umbilical é quase objecto de um culto. Depois de cortado, é enterrado junto da
lareira se se tratar de uma rapariga, como para se santificar a sua futura
tarefa familiar e doméstica. Se se tratar de um rapaz, os mais valentes
guerreiros entre os quais a criança nasceu vão enterrar esse cordão num alto
lugar de batalhas. A placenta fica em casa, enterrada num canto. Todos estes
rituais são acompanhados de encantamentos.
Finalmente, ao mesmo tempo que adivinhos tiram o seu horóscopo, a criança recebe
o seu nome profano e o seu nome totémico (o do seu duplo, animal ou planta).
201
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
TÉCNICAS CIRúRGICAS
Os sacrifícios humanos nos templos não tiveram apenas uni aspecto negativo: eles
permitiram aos astecas adquirir uma grande habilidade na dissecação e, por
conseguinte, um perfeito conhecimento da anatomia. Os seus médicos sabiam
suturar as feridas por meio de cabelos ou fios de piteira. Os seus conhecimentos
de cirurgia estética permitiam-lhes dissimular as feridas da face feitas no
decurso de batalhas e refazer o nariz dos guerreiros.
Sabiam igualmente curar certas luxações e fracturas. Para isso, o médico exercia
uma forte pressão sobre a articulação deslocada enquanto um ajudante puxava o
membro, permitindo assim que as extremidades voltassem ao lugar. Depois
colocavam um emplastro e limas talas. Eis como procediam os médicos: a zona
fracturada era coberta com uma substância aromática à base de resina de grãos de
nacazol ou toloatzin pulverizados (’), emplastro esse que por sua vez era
coberto de plumas. Só então a fractura ficava curada.
Habituados a ver sangue, os Astecas não temem recorrer à sangria, que praticavam
por vezes eles próprios, sem ajuda do médico. As sangrias eram praticadas nos
doentes com fracturas ou luxações, especialmente no caso de edenias ou
inflamações.
202
OS SACERDOTES-MÉDICOS DA AMÉRICA PRÊ-COLOMBIANA
ANESTESIA
Depois de executarem uma dança muito movimenlada, o rosto das vítimas era
polvilhado com huauhtli (1). Com esta mesma planta, os médicos preparavam
igualmente fumigações que mergulhavam as vítimas num estado de euforia. Também
davam aos escravos que iam sacrificar os comerciantes um «vinho divino»: o
teoctli, bebida embriagante, e o peyot1.
(’) O grão de amarante, que era também utilizado como cereal alimentar, tal como
o milho ou o feijão encarnado.
203
CAPITULO IX
O TAO E A ACUPUNCTURA
A filosofia cósmica do médico taoista não pode encarar o homem senão na sua
totalidade, quer dizer, no seu meio ambiente. Para ele, com efeito, as próprias
pulsações do coração formam apenas uma parcela da energia universal, o tchi ou
ki (:’), que lhe foi devolvido quando do seu nascimento. A medicina chinesa não
saberia portanto estudar o homem separando-o das suas raízes que o acorrentam à
lei universal das mutações.
205
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Em tempos recuados, as doenças internas eram causadas por génios maus que se
alojavam em partes ou na totalidade do corpo humano. Um dia uma flecha espetou-
se, acidentalmente, na parte traseira do maléolo externo, do pé de um caçador.
Este, foi ter com o xamã, que retirou a flecha e desinfectou a ferida depois de
a tei- sangrado abundantemente. Quando a ferida começou a cicatrizar, o caçador
pôs-se a dançar muito contente. Dizia: «Eu tinha há alguns dias, antes de ser
ferido, uma dor muito forte que me apanhava desde os rins até ao calcanhar. Esta
flecha era mágica: matou o kouei, porque, desde que me trataste, já não me doi
nada.»
O xamã, intrigado, meditou sobre isto. Depois foi procurar uma mulher que sofria
do mesmo mal. Armado
Assim nascera a acupunctura. Mais tarde o xamã observou que, quando chegava
demasiado tarde e o kotie'i já tinha vencido os espíritos vitais e defensivos do
doente, a flecha já não servia de nada. Foi então que um dia um tição saltou do
fogo para o braço meio paralisado de um homem que se aquecia ao lume. Esse tição
caiu na proximidade do cotovelo, no ponto kou tcheu (’). A queimadura foi
ligeira e, com grande surpresa sua, o doente pôde de novo mexer o braço. Os
espíritos vitais foram reanimados com este calor. O xamã teve então a ideia de
aquecer certos pontos, no limite da queimadura, a fim de reanimar os espíritos
vitais vencidos pelos génios maus. Foi assim que nasceram os kao (’).
Os treze demónios tinham cada um o seu poiso privilegiado no corpo humano. E eis
assim os treze primeiros pontos da acupunctura localizados...
(’)@ Este ponto corresponde ao «II G.1», ou décimo primeiro ponto do meridiano
do intestino grosso.
Ou mexa em japonês.
206
O TAO E A ACUPUNCTURA
mítico (?) Chen-Nong, cerca do ano 3218 a.C.(’), que teria escrito um livro de
matéria médica considerado como a base das principais obras modernas.
Através dos séculos, os Nei King apresentaram-se em várias versões (’), das
quais a mais clássica é sem dúvida a comentada por Wang Ping, em 762 d. C. É
este texto original chinês, recopiado no reinado dos Song (960-1126 d. C.) e no
dos Ming (1368-1644 d. C.), que o Dr. Nguyen Van Nghi reproduz no fim do
primeiro tomo da sua tradução comentada deste tratado de cosmologia e fisiologia
energética. Traduzir os Nei King, é compreender os ideogramas chineses ao mesmo
tempo que o pensamento resultante da acupunctura, e a tradução do Dr. Nguyen Van
Nghi é a primeira no Ocidente que permite apreender toda a riqueza contida
nesses tratados (’).
Podemos, com razão, perguntar por que é que a versão original não chegou até
nós. Sem dú vida lhe aconteceu o mesmo que a outros livros considerados
«malditos» (”), ou declarados como tal por aqueles que tinham toda a
207
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
O facto é que em 214 d. C. Che Huang-ti, «o tirano da dinastia dos Tsin» (256-
208 a. Q, «brandindo o seu grande chicote, governou o Mundo [ ... 1. Ele
destruiu os senhores e recusou-se a seguir o procedimento dos antigos reis;
queimou os ensinamentos das Cem Escolas a fim de deixar o povo na ignorância ...
» (’)
Yang e Yin não se opõem, pelo contrário unem-se. Desta união nasce o ritmo
criador. Assim, na China Antiga, homens e mulheres juntavam-se em torneios
poéticos, na Primavera. O Yang chama e o Yín responde, Ititando os dois antes de
se unirem.
«0 Yin e o Yane, não se opõem como o Ser e o Não Ser, nem mesmo como dois
géneros. Longe de conceber uma contradição entre os dois aspectos Yin e Yang,
admitimos que eles se completam e perfazem um ao outro, tanto na realidade corno
no pensamento. Na multiplicidade das aparências, umas (as que se podem
manifestar simultaneamente), ligadas por uma solidariedade simples e distante,
são equivalentes e contagiam-se sem se confundirem; as outras (as que
contrastam) opõem-se mas estão unidas por uma interdependência comum que torna
manifesta a sua sucessão cíclica.» (2)
(’) Cf. «Memoires historiques Sseu-ma-T'sien» II, p. 224 citado por M. Granet in
La Civilisatyion Chinoise (Paris, A. Michel, 1968). (’) Cf. Granet (M.): La
Pensée Chinoise (Paris, A. Michel, 1934 e 1968).
208
O TAO E A ACUPUNCTURA
Yang e Yin são qualidades que não se manifestam senão ligadas a substantivos,
comparados uns com os outros. Mas, além disso, Yang e Yin sã o também
quantidades e quantidades em movimento de Yang e Yin (’).
Tomemos como exemplo a alternância do dia com a noite. Esta noção, muito útil
para seguir o raciocínio no qual se baseia a acupunctura, compreender-se-á mais
facilmente:
- Ao meio-dia o Sol está no seu ponto mais alto, é o período Yang de Yang ou
«velho Yang» do dia;
41 4
209
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
- à meia-noite, o Yin está no seu apogeu. Chamamos a este período o Yin de Yin,
ou «velho Yin»;
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210
O TAO E A ACUPUNCTURA
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211
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Graças a este conhecimento dos ritmos, é fácil passar de uma categoria para a
outra. Assim, o espaço e o tempo, tal como em física moderna, já não são
categorias interdependentes sem relações físicas ou matemáticas.
Esta apreensão da essência da matéria está muito próxima daquela que nos permite
actualmente a física moderna: «a teoria ondulatória pela qual se interessam os
chineses, os Quin e os Han, está ligada ao eterno fluxo e refluxo dos dois
princípios naturais fundamentais, o Yang e o Yin. As teorias atomísticas foram
introduzidas na China em diversas ocasiões, sobretudo a partir do 11.O século
graças aos contactos dos budistas chineses com os indianos, mas elas não se
implantaram de nenhum modo na cultura chinesa» (’).
(’) Cf. Niedham (J.): La Science Chinoise et POcident (Paris, Le Seuii, 1973).
212
O TAO E A ACUPUNCTURA
(ou quanto mais «impura» for a energia no sentido chinês), menos as partículas
estão em movimento, quanto maiores forem as forças de coesão, mais tendência têm
as partículas para se aproximarem uma das outras e, portanto, mais partículas
contém um determinado volume (’).
Desde sempre, no pensamento filosófico taoista energia e matéria não são, com
efeito, senão dois aspectos complementares de um mesmo processo. A energia
condensa-se e torna-se pesada para formar a matéria.
213
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
A ENERGIA TERAPÉUTICA
Imaginemos agora que num local do corpo, a cabeça por exemplo, a energia torna-
se mais Yang do que o normal: tem portanto tendência para a «desmaterialização»,
e diremos que a energia está em plenitude. Além disso, o sangue terá tendência a
ocupar um volume cada vez maior. Clinicamente, obteremos uma gama patológica
indo da epistaxe (ou hemorragia nasal) à congestão cerebral, tudo dependendo da
intensidade e da situação da perturbação primordial, assim corno das capacidades
de defesa do organismo.
Mas se, numa determinada região, a «energia» é demasiado Yin, instalar-se-á uma
tendência demasiado grande para a materialização, e diremos igualmente que a
energia está vazia, quer dizer, em deficiência. Nos vasos sanguíneos desta
região, encontraremos portanto, clinicamente, uma tendência para a trombose.
214
O TAO E A ACUPUNCTURA
recimento, tumor benigno ... ) será bastante mais acessível à terapêutica que um
distúrbio do cristalino (catai-ata), que, tanto no Oriente como no Ocidente, é
relativamente inerte e isolado dos órgãos vizinhos. Pela mesma razão, um tumor
ou uma lesão enquistada, esclerosada, coberta de um infiltrat considerável ou de
um tecido cicatricial, será bastante menos acessível à terapêutica do que uma
lesão recente, que guardará os seus «contactos» e as suas ligações com as
estruturas vizinhas.
Sublinhemos aqui que os chineses cindiam em duas categorias, Yin e Yang, o que
os anatomistas ocidentais chamam «órgãos». As entranhas são vísceras vazias,
dotadas de movimento, em relação directa com o exterior. A sua função principal
consiste em produzir energia e impulsioná-la na circulação do corpo. Elas são
portanto consideradas como Yang em relação aos órgãos, que, esses, são vísceras
cheias, imóveis, que conservam e concentram a energia (’).
215
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
YANG
YIN
para o céu
para a terra
para o dia
para a noite
para a energia
para a matéria
para a luz
para a obscuridade
para o calor
para o frio
para o exterior
para o interior
masculinidade
feminilidade
plenitude
vazio
dilatação
contracção
não-manifestação
manifestação
sonoridade
silêncio
movimento
repouso
virtual
material
Yin alimenta Yang ....... portanto Yin produz Yang Yang protege Yin .........
portanto Yang produz Yin
216
O TAO E A ACUPUNCTURA
YANG
O coração enche-se em diástole porque a energia se acumula aí e é a não-
manifestação
YIN
O coração contrai-se em sístole; é a manifestação da descarga sanguínea. Estas
duas fases não podem ocorrer uma sem a outra.
Esta medicina é portanto, antes de mais nada, uma medicina profiláctica. A prova
disso é que os imperadores chineses não pagavam aos seus médicos senão quando
estavam doentes.
Para isso, ele tem também de saber observar tão bem o curso das estrelas, das
estações ou das marés como as estações da vida humana e a coloração da língua,
dos olhos ou da pele, o timbre da voz, a transparência do olhar, a perspicácia
da consciência...
217
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
OS CINCO ELEMENTOS
218
O TAO E A ACUPUNCTURA
Av~ Po m»~
219
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
da expressão chinesa Wou Hing por «cinco elementos» é portanto bastante má. Wou
Hing significará antes « os cinco agentes», os «cinco em mutação», os «cinco em
acção».
O homem está ligado às cinco categorias pelos seus cinco órgãos: rins-fígado-
coração-baço-pulmões.
«Cada representante de um elemento (de uma categoria) que age, sob a influência
de um stress exterior, a um nível determinado dos meus órgãos, tem um poder de
acção sobre ele, e esse poder tem o valor de uma instância do significante.» (’)
(’) Cf. Schatz (Dr. J.): «Sobre algumas noções elementares da lógica Tac, que
servem para uma melhor compreensão da acupunctura tradicional», in Nouvelle
Revue Internationale d'Acupuncture, n.o 22, Paris, 1971.
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AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Assim, dizer que o fígado corresponde à Primavera, significa que o fígado atinge
o máximo da sua actividade (de crescimento) nesta estação e que, por
consequência, a primeira é a estação em que ele se torna mais sensível ao
stress, aos desequilíbrios. Acontece o mesmo com os quatro outros órgãos: o
Verão para o coração, o fim do Verão para o baço, o Outono para os pulmões, o
Inverno para os rins.
No caso contrário, ele tão-pouco ignora, e torna-se até capaz de prever com
precisão a hora da morte, a hora em que termina um ciclo.
A-O estado fisiológico é regido por duas leis: a lei de produção e a lei de
destruição.
222
O TAO E A ACUPUNCTURA
LO VE M@
DACO
PULMÃO R” ‘ PULMÃO
Assim, podemos escrever: o fogo produz a terra -a terra produz o metal - o metal
produz a água - a água produz a madeira -a madeira produz o fogo.
Tal como um volante que rodasse a uma velocidade que aumentasse sem cessar,
também este ciclo se embalará se não for travado por uma outra categoria de
forças (). Esta segunda categoria de forças fisiológicas é regido por aquilo a
que chamamos a lei de destruição dos cinco elementos.
mos: a água destrói o fogo - o fogo destrói o metal - o metal destrói a madeira
- a madeira destrói a terra.
223
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
224
O TAO E A ACUPUNCTURA
225
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
ENERGIA ANCESTRAL
Este capital energético que o homem possui desde o seu nascimento vai diminuindo
à medida que ele vai retirando as energias necessárias para a sua sobrevivência.
Neste sentido, a expressão «tem os rins sólidos» não é-uma simples brincadeira.
Tal como numerosas expressões populares, aliás, ela encobre uma realidade, visto
que esse capital energético se localiza nos rins.
(1) A genética moderna demonstrou depois que todo o homem contém nele
cromossomas femininos, e o inverso na mulher. Aliás, isto está de acordo com as
teorias de Jung.
226
O TAO E A ACUPUNCTURA
Pode acontecer que um stress enfraqueça a energia mental dos rins. Naturalmente,
a energia ancestral contida pelos rins tende então a satisfazer esta
deficiência. A energia ancestral satisfaz o vazio psíquico assim criado (ou
vazio de energia mental), perdendo a sua natureza original e mudando de energia
física para energia psíquica. Quando esta manifestação é incompleta, ela
conserva em parte o cunho da sua natureza física; daí a aparição no ciclo de um
fenómeno (e de uma energia) deslocado. É isso que traduz o electro-encefalograma
do epiléptico pela sua hiperactivação anárquica.
Ver, adiante, «A pureza das energias puras». Cf., supra, cap. «A Medicina dos
Antropósofos». Cf. cap. «As Respirações Sublimes».
227
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Mas se a energia ancestral, ou tinh, produzida na sua origem pela fusão das
energias parentais, é a primeira fonte energética no homem ela é também
alimentada ao longo da vida pela quinta-essência, «sublimação» ou « destilação»
da energia alimentar, como iremos ver.
CENTRAIS ENERGÉTICAS
O ciclo dos doze meridianos principais, em circuito fechado, gera esta grande
circulação de energia. Voltaremos a falar nela a propósito dos meridianos.
228
O TAO E A ACUPUNCTURA
C~ZL-- <z@maxAc-dro ~~
AS ENERGIAS PURAS
Esta grande circulação de energia não canaliza toda a energia essencial, da qual
uma parte se distribui directamente do estômago e dos pulmões para os cinco
órgãos. Ela permanece nestes para os alimentar especificamente. Esta energia
chama-se energia pura dos cinco orgãos.
229
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Com efeito, os chineses consideram o sabor como a sublimação dos alimentos aos
quais estão ligados. É por esse motivo que, contrariamente aos adeptos de
Oshawa, por exemplo (’), os taoistas recomendam que não se mastigue demasiado a
comida: o que teria como consequência fazer desaparecer o sabor do alimento
ingerido, ou o seu ki. É também por esta razão que as especiarias se revestem de
uma tal importância na cozinha chinesa: equilibrar os sabores, é equilibrar a
energia pura dos órgãos, manter a força, a saúde e a sabedoria.
Quando esta energia dos cinco sabores se encontra em excesso nos órgãos, ela
passa para os rins, onde alimenta a energia ancestral. Com efeito, tinh
significa ao mesmo tempo energia pura dos cinco órgãos e energia ancestral.
A energia mental ou t1zân forma-se desde a concepção pela união das duas
energias ancestrais (ou união de dois tinh) de polaridades inversas, vindas dos
pais. Ela é mantida durante a vida humana, devido à purificação da energia pura
dos cinco órgãos e da energia respiratória, portanto por uma espécie de «quinta-
essência da quinta-essência» da energia essencial. É uma verdadeira alquimia!
Esta energia mental apela para uma concepção filosófica extraordinária:
considera-se que ela se aloja onde a matéria se encontra em estado de menor
«capacidade» de regeneração celular, nos olhos ou no cérebro, por exemplo. E se
os taoistas nunca falam de cérebro, é porque eles consideram que cada órgão pro-
230
O TAO E A ACUPUNCTURA
CORAÇÃO
RIM
PULMÃO
morte
FÍGADO
morte
BAÇO
OS CIRCUITOS ENERGÉTICOS
231
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
-a energia mental, nos meridianos «singulares». Com efeito, todas estas energias
circulam por todo o lado, dentro e por fora dos meridianos, se bem que circulem
de preferência em certas zonas O processo é o mesmo que o do Yang contendo Yin
e, inversamente, do Yin contendo Yang.
Ela é, na realidade, uma organização simbólica da ordem das energias (2)... toda
simbólica até agora, já que não é impensável que com o progresso da
neurofisiologia - ou da bioquímica - se descubra um dia o seu suporte
científico.
(’) Isso não impedia no entanto que numerosos médicos estivessem presentes
quando um castigo se transformava numa vivissecção! (’) Cf. a ilustração do Nei
King na Biblioteca Nacional francesa. (’) Confrontar o relatório dos Drs.
Labeyrie e D. Rueff: Intégration Thalamique des Sensations Douloureuses, I
Congresso da União Científica dos Médicos Acupunctadores e das Sociedades de
Acupunctura, Mónaco, Novembro de 1973.
232
O TAO E A ACUPUNCTURA
A DESCOBERTA DA DOENÇA
(’) Contrariamente aos médicos chineses, que tomam o pulso com a mão virada para
cima, os médicos ocidentais tomam-no com a mão virada para baixo; eles estudam
assim o que é estático e mensurável e não conhecem senão um «só» pulso.
233
AS AIEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
É evidente que cada pulso possui o seu aspecto particular. O bê-á-bá da tomada
de pulso consiste em reconhecer se o seu aspecto corresponde à estação; assim, o
médico taoista pode intervir antes da doença em caso de desarranjo energético
se, por exemplo, o doente tiver um pulso de Verão na Primavera. Além disso,
assim como cada meridiano atinge um máximo energético em função da hora (’),
cada pulso segue as mesmas variações.
-Ele aspira os cinco odores, emanações específicas dos cinco órgãos, sem
esquecer o odor do arroto!
«Tem sempre calor? Prefere a luz e o movimento? Nesse caso a sua tendência geral
é o Yang ... »
Bem entendido, estas perguntas são apenas o começo de uma análise mais apurada
do Yin e do Yang em movimento no indivíduo: «Está pálido, cansado e anémico? A
sua energia Yang então está esgotada.»
234
O TAO E A ACUPUNCTURA
«Ê colérico? O seu fígado deve estar doente.» «As suas urinas são turvas? Tem
grandes probabilidades de estar amedrontado.»
Mas o problema é muitas vezes bem mais complexo, e é bastante raro, sobretudo se
a afecção é antiga, que um único meridiano ou um só órgão se encontrem lesados.
Toda a arte do médico taoista consiste então em dispersar, simultaneamente ou
sucessivamente, as energias perversas em causa e servir-se dos meridianos ou dos
órgãos em bom equilíbrio energético para alimentar «o mais fraco».
MERIDIANOS E ACUPUNCTURA
235
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Os diferentes meridianos
236
O TAO E A ACUPUNCTURA
Este número, no entanto, não inclui os outros meridianos menos conhecidos, assim
como os numerosos «capilares energéticos» (minúsculos meridianos que,
percorrendo a superfície do corpo, veiculam uma parte da energia), cujo número
seria praticamente infinito (portanto impossível de conhecer), mas cujo
conhecimento da função que desempenham no organismo contra as agressões externas
(golpes de frio ou calor, por exemplo) é indispensável ao raciocínio do
acupunctador.
Os meridianos principais:
Se, levado pela curiosidade, este doente procura a resposta num manual de
divulgação da acupunctura, ele não a encontrará. Estes, não descrevem em geral
senão os trajectos superficiais dos meridianos principais.
Mas todos estes meridianos têm a montante do seu ponto de origem, ou a jusante
do seu ponto terminal, um trajecto profundo que os une aos outros meridianos.
Não esqueçamos que a circulação energética, tal como uma circulação eléctrica,
não pode ser senão contínua. Como saber se o meridiano dos pulmões, que
237
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
O homem-meridiano
O circuito deve, por outro lado, ser protegido das sobrecargas internas e
externas (cf. curto-circuito em alta de tensão) e a sua concepção deve ser tal
que toda a sobrecarga possa ser derivada para a superfície e eliminada. Em
electrónica os sistemas de resistências ou de condensadores asseguram esta
função. Em acupunctura, são os meridianos secundários, os mais superficiais, que
desempenham essa função.
238
O TAO E A ACUPUNCTURA
tanto pelos chineses, como pelos ocidentais. Esta noção poderá ser substituída,
segundo um jovem electrónico que aperfeiçoou vários aparelhos detectores de
energia em acupunctura, Michel Frey, pela de «conjuntos de pontos de acção
específica permitindo a correcção de perturbações terrestres, humanas ou
cósmicas».
OS PROCESSOS TERAPÉUTICOS
239
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
mísia que nós inflamamos na ponta e que se deixa consumir até que se manifesta
uma pequena dor; o médico varre a artemísia com as costas da mão (são os moxa
dos japoneses ou os kao dos chineses); -aproximar do ponto uma folha de
artemísia enrolada como um cigarro; -rodear o cabo de uma agulha clássica
bimetálica
com uma bola de folhas de artemísia secas e esmagadas que se deixam consumir
inteiramente (é o método de Wen Tchen ou «agulha niorna»). Esta técnica dá ao
organismo a força que lhe permite expulsar para o exterior as perturbações às
quais está sujeito, e é maravilhoso nos casos de astenia, de convalescença e de
depressão.
Os pequenos capilares congestionados que nós vemos por vezes aparecer (mais
facilmente na mulher, na face externa da coxa) são a tradução semiológica deste
acidente energético. Esta estagnação sanguínea, por mínima que seja, pode ser a
causa de dores lombares, ciática, nevralgias cervicais, dores diversas...
240
O TAO E A ACUPUNCTURA
A SAúDE TAOISTA
A dialéctica das energias do homem, qualquer que seja a sua natureza específica,
constitui um todo, um conjunto, um equilíbrio, uma totalidade. Se uma delas
enfraquecer, uma outra virá socorrê-la... Toda a arte da acupunctura, chave das
energias contraditórias, consiste em prever a eventualidade de um
enfraquecimento energético.
Se não pôde prever a doença, o médico acupunctador deve agir num sentido
fisiológico: reforço das defesas do organismo, compreendido na sua unidade
psicossomática. Os taoistas praticavam a psicossomática «total», incluindo o
cósmico no homem.
241
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
A acupunctura, como a prática do taoismo por aqueles que não são médicos, é uma
lógica de síntese. Nesta ciência puramente metafísica, e não religiosa,
verdadeira iniciação ao conhecimento do Universo, a pesquisa científica moderna
pode encontrar a inspiração para novas descobertas.
242
CAPITULO X
AS RESPIRAÇõES SUBLIMES
(’) Cf. Suzuki (D. T.) Fromm (E.) e Martino (R. de): Bouddhisme zen et
Psychanalyse (Paris, PUF, 1971). Relatório de um seminário sobre estes assuntos
em Cuernavaca (México), sob os auspícios do DeparIment of Psychoanalysis of the
Medical School, da Universidade do México. (’) Granet (M.): La Pensée Chinoise
(Paris, A. Michel, 1934. e Livre de Poche, 1968).
243
AS MEDICI.VAS TRADICIONAIS SAGRADAS
A RESPIRAÇÃO EMBRIONÁRIA
244
AS RESPIRAÇõES SUBLIMES
O campo do cinábrio superior nasce ao nível do ponto curioso Yin trang (no local
do «terceiro olho», entre as duas sobrancelhas) e prolonga-se para trás até ao
ponto Pae Roe (que os chineses chamam também «As Cem Reuniões» e que corresponde
à «Flor de Lótus» que distinguimos nas representações de Buda), que permite ao
homem comunicar com o Yang celeste. «Estrela polar» do homem, é por aí que a
alma espiritual (contida no fígado) deixa o corpo depois da morte (’).
A energia que se concentra nos três campos do cinábrio alimenta a respiração dos
tecidos. Esta energia compreende-se, também, como sopro e respiração, mas não no
sentido grego de pneuma. Não se trata, com efeito, de abordar o ar exterior,
mas, pelo contrário, de tomar a «energia» «batendo o tambor celeste». Ainda uma
vez mais, voltamos a encontrar esta noção fundamental de ritmo.
Para «bater o tambor celeste», a tradição taoista quer que expiremos o sopro
pulmonar. Depois é preciso fechar a boca até ao último momento, para impedir que
a respiração interna se escape. Esta respiração interna penetra, no homem, por
um canal mediano à esquerda e na mulher por um canal situado à direita. Ouve-se
distintamente escorrer gota a gota para o campo do cinábrio médio.
-para uma zona doente que desejamos tratar; -se desejamos apenas alimentar o
princípio vital,
245
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Esta técnica chama-se «fundir o sopro». Como vemos, a respiração sublime dos
taoistas pode assumir um papel terapêutico tal como uma acção profiláctica.
É preciso bater três vezes no «tambor celeste» para acender o fogo interior se
decidimos alimentar o princípio vital da grande alquimia interior. A energia
necessária ao desempenho desta Grande Obra é fornecida pelos movimentos
respiratórios, cuja energia, por sua vez, é transformada em circulação interna.
Tal como o fole de uma forja, esta energia activa o fogo dos cadinhos, ou
caldeiras trípodes, o braseiro que aquece os três campos do cinábrio. Devem ser
observadas diversas fases:
- Por sua vez aquecidos pelo fogo médio, estes dois elementos deixam o seu
cadinho para subir ao longo da coluna central.
246
AS RESPIRAÇõES SUBLIMES
ESFORÇO E VONTADE
247
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
penhando-se nesta via de recriação do homem por si mesmo, tal como o fazem o
zen, o ioga e outras disciplinas orientais da mesma inspiração. E esta recriação
parece-nos nem ser a única possível. «0 indivíduo não é livre senão renunciando
ao ser individual», conclui o Dr. Suzuki (’), ao sublinhar que «compreender isso
é curar nevroses, psicoses e outras agitações análogas».
RITOS E MúSICA
Esta análise de Marcel Granet pode alargar-se também às artes japonesas que
restam do domínio do sagrado pela endosmose do microcosmo e do macrocosmo que as
caracteriza, sendo no entanto praticadas por profanos. Pintura, caligrafia,
cerimónia do chá, arte floral, artes marciais, são todas fundadas na dança, no
rito e no movimento, sem intenção nem pressa para receber o mundo e para fazer
parte integrante do ambiente, tal como o teatro Nô foi definido pelo seu
teórico, o grande
Cf. Suzuki (D. T.): op. cit. Cf. Granet (M.), O Pensamento Chinês. op. cit.
248
AS RESPIRAÇõES SUBLIMES
Zeami (), como a busca de uma concordância que fizesse diminuir o afastamento
entre o acontecimento dramático da peça e o desejo do público.
Todos estes modos de expressão, de uma forma pouco ou pelo menos dificilmente
aparente para estruturas mentais ocidentais, alicerçam-se, de facto, numa mesma
concepção: identificação da acção voluntária com a acção involuntária pela via
duma Respiração Sublime.
No nosso contexto cultural actual, é-nos sem dúvida mais fácil compreender tal
fenómeno começando pela prática do seu aspecto fisiológico tal como nos é
possível encontrá-lo através das disciplinas das artes marciais ou certas
«ginásticas».
- Na inspiração, o homem que deixa agir o ki - que nós chamamos «o homem total»
ou o «homem sagrado» - contrai os músculos estriados da caixa torácica, a fim de
encher o peito. Repercutida através de todo o corpo, a inspiração corresponde à
fase de contracção dos músculos estriados e portanto à fase de acção consciente
ou da vida de relação; esta hipertonia da musculatura estriada é semelhante à
que se observa no decorrer da fase do sono lento.
C) Zeami viveu no Japão no século XIV. Filho dum dos actores mais ilustres,
Kanami, fundador da geração dos Karize que dirige ainda uma das cinco escolas
contemporâneas de actores de Nô, Zeami foi o primeiro a deixar escritos os
princípios e a tradução que lhe legou, oralmente, seu pai: Cf. Zeami, La
Tradition Secrète du Nô, trad. e com. de R. Sieffert (Paris, Gallimard, 1960), e
Arnold (P.): Le Zen (Paris, C. A. L., 1973).
249
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
dos músculos dos órgãos profundos, que são então massajados e alimentados. Esta
fase corresponde ao início da acção extrapiramidal, à vida vegetativa, pelo que
o indivíduo fica inerte e plantado como uma abóbora numa horta...
Esta fase do sono paradoxal é a que dá lugar ao sonho. Todos sabemos, depois de
Freud, que o sono é o vasadouro onde o homem despeja a sua válvula de descarga.
Experiências fisiológicas têm, desde há bastante tempo, demonstrado que o ser
humano, privado do sono paradoxal e portanto sem sonhos, cai rapidamente numa
degradação física e mental. Experiências feitas com animais, neste campo,
demonstram que privando-os do sonho paradoxal eles morrem. Assim, tal como os
tradicionalistas sabem há já muito tempo, esta fase do sono, como a fase
expiratória que lhe corresponde, constitui a fase energética e nutriente, a fase
Yang sem
* qual o Yin-matéria não pode encontrar nem realizar
* sua coesão física... e mental.
Antes de abordar o aspecto fisiológico das Respirações sagradas tal como se nos
apresentam na prática de certas disciplinas físicas que é possível praticar no
Ocidente, parece-nos indispensável fazer referência ao Seitai, técnica concebida
bastante recentemente, no Japão, e que obedece à visão e à via sagrada do tao e
do zen.
250
AS RESPIRAÇõES SUBLIMES
É esta busca de coesão física e mental que o Seitai procura, o que aliás
traduzido à letra quer dizer «coordenação física».
Depois de ter estudado todos os métodos de cura, o Mestre Noguchi (’) acabou por
concluir que nenhum deles era eficiente para salvar o homem. Foi então levado a
conceber a ideia desta técnica, bastante complexa, porque não se trata de uma
noção corrente de boa saúde, sinónimo de ausência de doença, mas sim duma
espécie ele «normalização do terreno».
As doenças, com efeito, são aceites como flutuações fisiológicas, e o homem não
procura curá-las, porque sabe explorá-las em seu benefício. É por isso que as
doenças infantis, como a rubéola e a papeira, por exemplo, são consideradas como
verdadeiras iniciações biológicas necessárias ao ser humano para lhe permitirem
atingir a maturidade genital. Na mesma perspectiva, para o homem «seitaizado», a
constipação é considerada como uma fase de eliminação; é portanto frequente, mas
dura apenas alguns minutos, às vezes até apenas segundos, ou seja o tempo dum só
espirro. Uma vez a constipação passada, o homem sente-se refrescado, regenerado,
purificado.
251
AS MLDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
As suas necessidades são exactas porque são adaptadas: o seu corpo sabe o que é
preciso comer ou o que deve fazer. A diferença entre pensamento e acção
desaparece. A imperícia dá lugar à perícia sem que se saiba como é que esta
mudança se operou. O homem «seitaizado» possui a serenidade.
Por esta razão criou depois o sistema taiheki, uma espécie de tipologia do ki no
ser humano, para facilitar o seu ensino.
O MOVIMENTO REGENERADOR
(’) O doio é o lugar onde se pratica a Arte da Respiração, assim como as Artes
Marciais. É um «espaço-tempo» sagrado que se carrega de ki à medida que o mestre
e os alunos aí trabalham.
252
AS RESPIRAÇÕES SUBLIMES
Um outro método foi então preconizado pelo mestre Noguchi. Pode considerar-se o
«Movimento Regenerador» corno o ensino esotérico do Seitai. Este movimento
permite, graças à fusão do ki pela respiração, desembaraçar o terreno (o soma)
no sentido duma coordenação física.
Fora do Japão, não existe sequer um único dojo onde se possa praticar
regularmente este movimento, que é afinal bastante fácil de executar na nossa
própria casa depois de algum treino.
Se a ginástica, tal como a entendemos, apela para o sistema motor piramidal que
comanda os movimentos voluntários, o Movimento Regenerador é, em si mesmo, um
método de treino do sistema motor extrapiramidal que comanda os movimentos
involuntários: soluços, arrepios, bocejo, etc.
AS RESPIRAÇõES MISTURADAS
2.53
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Cada participante coloca então o seu pulso esquerdo sobre a mão direita aberta
do seu vizinho, mantendo o polegar voltado para cima: o círculo torna-se então
numa cadeia de comunicação. Expiração concentrada. Quase todas as pálpebras se
cerram. Uma expressão de paz nasce em todas as caras. Há já muito tempo que os
problemas quotidianos foram abandonados, com os sapatos, à entrada dos tatamis.
É nesta fase que o observador pode verificar que «alguma coisa se está a
passar».
O dador conduz o jogo: ele expira no corpo do receptor pelas mãos. Coloca as
palmas das mãos sobre as têmporas do receptor, os polegares afastados colocados
sobre dois pontos occipitais. Depois de uma expiração concentrada à mesma
cadência, cujo ritmo é dado pelo Mestre, o dador coloca as suas mãos atrás das
costas do receptor, no corpo do qual expira através destas. As mãos foram
«conduzidas» à energia por uma posição de «prece» depois da cadeia.
Podem então sentir-se umas ligeiras picadas e um calor.
254
AS RESPIRAÇõES SUBLIMES
circula. O instinto acordado dá aos presentes uma espécie de radar para que
ninguém se chegue.
O dador continua a expirar pelas mãos, que não deixa de estender ao seu
receptor, com o qual ele está em fusão.
A GRANDE OBRA DO KI
Uma circulação normal do ki permite uma boa evacuação das anomalias. É assim que
os gestos normais lhe permitem reencontrar o equilíbrio: arrotar, bocejar,
vomitar, etc. Ã medida que se pratica o movimento, a postura apruma-se, a bacia
torna-se mais fechada e as ancas mais móveis.
Tal como durante as pesquisas para atingir a Grande Obra o adepto suporta o
efeito das experiências iniciáticas, o corpo, modificado pelo movimento,
catalisa por sua vez um equilíbrio ou reequilíbrio psíquico.
(’) Cf. Tsuda (L), I'Êcole de Ia Respiration ozi le Non-Faire (Paris, Courrier
du Livre, 1973).
255
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Obra em negro, no fim da qual chega à Obra em branco, onde o espírito e o corpo
libertos são comparados ao brotar de uma fonte. Depois vem a Obra em vermelho,
fase sublime onde o adepto integra a imortalidade ao mesmo tempo que a
universalidade. Fase do amor inefável.
O AIKIDO
o taoista Tchuang Tseu afirmava que as pessoas comuns respiravam com a garganta,
enquanto que o «Verdadeiro Homem» o fazia com todo o corpo, a partir dos
calcanhares. Quem é incapaz de respirar com os calcanhares ou com as ancas, não
é aconselhável lancar-se na prática das artes marciais.
Vejam-se esses atletas ocidentais que praticam essas artes com fins
competitivos: eles trazem consigo os estigmas dos que não sabem respirar e
colocar-se em fusão com o ki. Corpos mortificados e deformados, reu-
256
AS RESPIRAÇõES SUBLIMES
matismos precoces que os tornam inválidos, caracterizam aqueles que não praticam
a Arte Marcial do Amor, mas uma técnica de combate baptizada de judo, Aikido,
Tai Chi, etc.
É preciso ver um verdadeiro amador -para não dizer enamorado - do Tai Chi. Tal
como os que praticam o Aikido ou o tiro ao arco (cuja mestria do atirador
(’) Cf. Groddeck (G.,: Au Fond de I'Homme Cela (Paris, Gallimard, 1963).
257
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
pode ser definida por estas palavras de Herrigel (’): Ele aponta e é ao mesmo
tempo o alvo!), toda a sua energia parece subir dos calcanhares e dos pés,
raízes consumidoras da energia ao mesmo tempo que libertadoras da gravidade
donde parte todo o ritmo contracção/expansão do corpo.
Pouco conhecido dos europeus, o Tai Chi está no entanto muito difundido nos
Estados Unidos depois da guerra da Coreia. Chamam-lhe muitas vezes «boxe
chinês». Mas quando se vê praticá-lo pensa-se mais numa dança que em qualquer
outra actividade.
O Tai Chi Ch'uan é uma das vias para «obter o tao». o seu ideograma representa a
mão, cujos cinco dedos fechados encerram «todos os enrolamentos e
desenrolamentos que virão e que são os produtos da energia alimentadora
primordial» (’).
O Tai Chi, como o Movimento Regenerador, tem por finalidade pôr em alerta o
sistema extrapiramidal e,
O Na sua obra: Le Zen dans VArt Chevaleresque du Tir à l'Arc (Paris Devry-
Livres, 1970)., E. Herrigel relata todas as dificuldades que encontrou antes de
chegar a dominar a «natureza misteriosa desta arte que se revela unicamente
neste combate do arqueiro contra si mesmo». (2) Cf. Schatz (Dr. J.): «La
mecanique respíratoire dans Tai Chi Ch'uan» in Revue Internation£z1
d'Acupuncture, n.’ 13, 1969. (’) Cf- Maisel (E.),: La G~7astique Chinoise, trad.
Ph. de Merie (Paris, MCL, 1969).
258
AS RESPIRAÇOES SUBLIMES
Então quem pratica deste modo o Tai Chi torna-se Sábio e talvez reencontre, por
esta via de Respiração Sublime, no seio do Presente eterno, aquele que foi o
primeiro mestre do Tai Chi Ch'uan: o imortal Tchang, o homem sábio e ilustre que
compreendia as leis ocultas do tao, com barba e cabelos compridos e eriçados e
que parecia deslocar-se graças apenas à impulsão de uma força que actuava
através dele.
Um estudo recente, feito nos Estados Unidos por cirurgiões, pôde demonstrar, no
plano científico ocidental,
259
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Não abordamos, neste capítulo, um outro meio de libertação que é o ioga, cuja
energia motriz ou prana não é mais do que uma outra forma de denominar o ki, ou
tchi. Tal como nas disciplinas anteriormente referidas, «o fim imediato e
aparente da sua realização construtiva é o desenvolvimento das faculdades que
existem somente em potência no ser humano normal» (’).
As respirações sublimes formam um domínio da Medicina sagrada que está ainda por
explorar cientificamente, mas a experiência prova, desde há milénios, que elas
podem contribuir largamente para a felicidade do homem. Isto porque um homem
feliz é um homem de boa saúde.
260
AS RESPIRAÇOES SUBLIMES
OS DOZE «TAIHEKI»
Segundo Noguchi, há doze grupos de taiheki. Para uma mesma região de polarização
(cérebro, órgãos digestivos, pulmões, aparelho urinário e bacia), existe um
número ímpar, aplicado às pessoas que agem por excesso de energia -ou de ki -
nesta região, e um numero par, aplicado às pessoas cuja falta de ki as faz
sofrer influências exteriores.
Buli Mico da erudição, enche a cabeça sem tomar providências para a vazar. É o
tipo falhado que culpa os outros.
261
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
tempo tem para pensar, mais se atormenta, mas, como Última actividade, lança-se
na improvisação.
O seu mundo é o da cor, que ele percebe como sendo sons. Um bom número de
artistas pertence a este tipo: Segonzac, Schubert, Debussy.
Tipo S. Pulmonar activo: Tanto o corpo como a cabeça apresentam-se sobre a forma
de um triângulo. A sua forte largura de ombros projecta em frente e incha-lhe o
peito. O excesso de energia, que é permanente nele, não lhe permite nunca
tranquilidade. Estudará melhor se antecipadamente tiver feito exercícios
físicos, ginástica ou desporto para gastar a energia.
262
AS MEDICINAS AFRICANAS
decisão conta. Importam-lhe muito pouco as consequências funestas que daí possam
advir.
Este tipo não resiste à tentação de fazer exactamente o contrário daquilo que se
lhe pede. É uma presa fácil da baixa lisonja.
Tipo 9. Bacia fechada: Nele não há polarização da energia para unia região
determinada, É todo o corpo que a partir das ancas se faz tenso ou se relaxa de
um só golpe. A distância entre a abertura e o fecho da bacia é muito grande:
podem acocorar-se durante muito tempo sem afastar os calcanhares, e é essa a sua
posição de repouso. Logo que se levantam, o peso do corpo desloca-se dos bordos
exteriores dos pés para a raiz dos grossos artelhos; é então a posição de
tensão.
Logo que se concentram, não fazem apelo a uma parte das suas funções
psicossomáticas, mas a todo o seu ser. Sendo objectivos, a sua fadiga é função
do seu interesse. São capazes de enorme esforço de concentração.
Tipo 10. Bacia aberta: Por terem ancas muito largas, os ilíacos tendem a
afastar-se. Engordam à medida que
263
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
É o tipo de Madame de Rénal, tal como foi descrita por Stendhal no seu romance O
Vermelho e o Preto.
-Grupo hipersensível, apático Tipo 11. Hipersensível: Vivem sempre unia espécie
de exagero, dramático que não cessam de fazer sentir a toda a gente que os
rodeia. Vómitos de reacção, asmas e alergias cutâneas são habituais neste tipo.
Neles, o gesto terapêutico é aquele em que ninguém crê e que o apanha de
surpresa (injecções de água em vez de morfina, por exemplo). Proust parece ter
pertencido a este grupo.
264
CAPITULO X1
AS MEDICINAS AFRICANAS
Logo que embarcámos para este périplo através de tantas civilizações mais ou
menos distantes, hesitámos bastante em fazer etapa no continente africano. Com
efeito, ou se considera a medicina como uma arte e uma ciência (quer dizer,
profana ou sagrada, pouco importa para o assunto) e então as medicinas africanas
nada têm a oferecer de particular: excepção feita a alguns grandes nomes do
Islão, tais como Avicena e Averrois, os meios de cura nascem da magia e da
crença nos espíritos e, se as histórias sobre feiticeiros são numerosas, são
também, no entanto, pouco variadas. Ou então entende-se por «medicina» todas as
espécies de meios de cura e, como aqui, em África, são apanágio de indivíduos
que não pertencem ao mundo profano, mas ao mundo «Mágico», arriscamo-nos a não
informar convenientemente o leitor sobre as medicinas sagradas
Vamos portanto traçar um breve panorama dos meios de cura conhecidos sob o
título de «medicinas africanas». Penetramos em África pelo Norte, conduzidos por
esses dois grandes médicos que foram Avicena e Averrois, cuja influência foi tão
grande em toda a Europa medieval, e em particular na velha faculdade hipocrática
de Montepellier e nos alquimistas em geral.
265
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Daí, atingiremos a África negra, onde, desde o tempo dos negreiros até aos dos
jactos, o Islão tende a servir de denominador comum entre uma quantidade enorme
de etnias, de línguas, de crenças, de organizações tribais e clássicas.
A MEDICINA ISLÂMICA
O etnólogo René Pottier escreveu o seguinte: «As ciências árabes não existem
senão para a pátria árabe; o único elo de ligação que une os muçulmanos é a
religião.» Da China à África negra passando pelas extensões ocupadas pelos
Berberes, «uma ciência está acima de todas as outras, a da religião, e um único
conhecimento é indispensável, o do Corão. Para se ser letrado, necessita-se
apenas de saber o Corão de cor, mesmo se o seu sentido escapa, porque “vale mais
saber que compreender” » (’).
(’) Cf. Bastide (R.): Les Religions Africaines au Brasil (Paris, PUF, 1960). (2)
Cf. Pottier (R.): Initiation à Ia inédecine et à Ia magie en Islam (Paris,
Sorlot, 1939).
2 6 6
AS MEDICINAS AFRICANAS
vidas numa época em que o Ocidente saía ainda dos seus balbucios bárbaros.
Aviceno, ou Ibn Sinâ em árabe, nascido em 980 d. C., deve sem dúvida a sua
reputação de mágico ao facto de se considerar a si mesmo como um adivinho e
também à sua teoria, segundo a qual «os objectos existem individualmente, mas os
espíritos das esferas superiores, participando da essência divina, têm
consciência de uma representação em si do universal. Ela reina fora de Deus e,
por múltiplos intermediários, comunica-se, por uma parte, aos objectos
particulares e, por outra, à razão humana, na qual a multiplicidade se torna um
conceito individual» (2).
Quando se sabe que aquele que foi denominado o Galeno do Islão se interessava
desde a idade dos dezasseis anos por altas especulações lógico-metafísicas e que
papel podem jogar estes intermediários na magia, compreende-se porque é que
alguns o combateram tão violentamente, No entanto, é certamente graças à
extensão das suas especulações do macrocosmo ao microcosmo humano que se tornou
um médico extraordinário.
267
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
dos humanos e a maneira de conservar o corpo com boa saúde. Segundo ele, a
medicina liga-se à especulação pela lógica e pela metafísica, mas é também
prática e preventiva antes de ser curativa. Laennec, a quem se crê devermos a
descoberta da auscultação, não fez mais que redescobrir as teorias de Aviceno.
Pode mesmo dizer-se que Aviceno se preocupou mais com a medicina profiláctica
que com a curativa. Ele insiste muito, com efeito, na higiene regulando a vida
dos adultos: dietética, duração do sono e exercícios físicos. Estes exercícios
podem servir de tratamento e vão desde os mais violentos - luta, boxe, corrida -
aos mais moderados - baloiço, passeios no dorso de carne los ou de carro, etc.
Aviceno foi um dos ocultistas mais reputados do Islão; ele preconiza o passeio
lento de carro como exercício de reeducação da vista. Recomenda as massagens,
com a condição de que o corpo não esteja maculado por humores e que o estômago
esteja ligeiramente cheio, e, para os que têm este órgão dilatado, o balanceio
de uma viagem pelo mar, que faz as vezes de uma massagem interior.
A sua heresia consistia, para uns e outros, na sua recusa em confundir alma e
inteligência. Para ele a inteligência é uma manifestação divina: ela pode unir-
se a Deus e portanto tornar-se eterna enquanto que a alma, unida à matéria, dá a
sua forma ao corpo e, existindo em todos os corpos organizados, é a força que os
anima. Essa força, essas forças, podem ser evocadas e mesmo manipuladas segundo
certos rituais, utilizados para fins bons ou maus, como nós fazemos, por
exemplo, com a electricidade, da qual não conhecemos a natureza. Esta audaciosa
teoria cheirava a enxofre e justificava todas
268
AS MEDICINAS AFRICANAS
Como se vê, era fácil cair numa má interpretação de tais teorias, e foi o que
não deixou de se passar quando a civilização islâmica entrou na decadência e as
suas universidades deram à religião um lugar tão importante que chegou a ser
exclusivo, a ponto de fazer desaparecer o ensino da medicina, no qual «os
conselhos mal interpretados conduziam aos excessos de certas seitas mágico-
religiosas, como por exemplo os Aissaoua» . A medicina árabe trazia portanto
dentro dela a sua própria degenerescência».
A recolha é feita à noite, por mulheres velhas que respeitam certas fases da
Lua, e a utilização destas ervas não deverá ser feita sem encantamentos.
Este homem é muitas vezes chamado toubib C), mas a indicação de medicamentos é
um papel que advém dos feiticeiros, os guezzana.
Existe ainda outra espécie de médico, se assim se pode chamar: o taleb, que dá
consulta também nos mer-
269
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
cados ou nas minúsculas lojas dos bairros. É o letrado, o sábio que sabe
escrever uma kitaba, ou versículo do Corão, numa folha de papel dobrada depois
de a tinta secar ao calor de um braseiro sobre o qual se deita uma pitada de
ervas aromáticas cujo odor afugentará o djinn, autor dos males de que o cliente
sofre (a tinta utilizada é também perfumada com rosas, jasmim, açafrão, etc.).
Porque todas as doenças têm por «autor» um diffin. Assim a adivinhação intervém
na terapêutica dos bazares: para conhecer as intuições dos dienoun, utiliza-se
geralmente o processo do khefif, que consiste em fundir chumbo numa colher e
vertê-lo em água fria onde se solidifica deixando partes lisas e brilhantes ou
concreções de cor negra, de que se interpretam as figuras depois dos
encantamentos.
CRENÇAS E NASCENÇAS
Os diinns estão em todo o lado: nos quatro elementos, nos objectos, nas plantas,
nos animais, em tudo o que tenha nome, tudo o que possa intervir na vida humana,
da nascença à morte. Se a baraka, a sorte, é um dom de Deus, todo o bem assim
como todo o mal é obra dos dienouii, ou génios.
Assim, desde o nascimento, logo depois de a criança ser lavada, uma matrona
cospe cominho mascado sobre o corpo do recém-nascido e, logo que o bebé é
envolvido em faixas, os olhos e as pestanas são pintados com khôl, enquanto uma
linha é desenhada, com hena, desde a testa até à raiz inferior do nariz. A hena
é alegria e bendição! Por fim aparece a «refeição dos anjos»: a mãe deposita
numa gamela as primeiras gotas do seu leite, que serão lançadas para um canto
afastado do quarto. Depois pinta o mamilo de resina de pinho, manteiga e mel
durante a primeira mamada: a resina afasta as dores, enquanto que a manteiga e o
mel chamam as alegrias da vida. Os Tuaregues fazem numerosas incisões nas costas
do recém-nascido, para que os dienoun não o confundam com qualquer outro, pois,
ferido, torna-se intransportável!
270
AS MEDICINAS AFRICANAS
EM DIRECÇÃO AO SUL
Mas logo que descemos para o Sul, para a África negra, a decepção parece ser
ainda maior para os que não se interessam nem pela magia nem pela feitiçaria:
não existe a bem dizer um «sistema médico». No entanto, aparecem alguns rumores,
havendo quem afirme que os feiticeiros possuem, por exemplo, ervas
anticoncepcionais; mas é bastante difícil verificar tais factos.
Os meios de cura africanos não legaram à espécie humana mais do que algumas
plantas:
Contra as diarreias: Fazer uma infusão de uma dúzia de folhas novas de goiaba e
dá-Ia a beber, com um pouco de açúcar, ao doente, criança ou adulto. A goiaba,
da família das mirtáceas, contém grandes quantidades de tanino, de que a
medicina popular francesa se utiliza
(’) O cordão umbilical é muitas vezes conservado. No Sara, uma parte é utilizada
para preparar colírios. A outra é enterrada na mesquita quando se deseja que a
criança se torne um letrado (taleb) ou então pendurada numa árvore. Curiosamente
este último costume é bastante seguido nos países não muçulmanos, e por toda a
parte a sorte da criança está ligada à da árvore. (-’) Assim, por exemplo, no
sétimo dia a seguir ao do casamento, o esposo, acompanhado dos seus rapazes de
honor, rouba frutos e legumes nas hortas dos vizinhos, indo depois depô-los na
saia que a sua mulher, acocorada, transforma, digamos assim, numa mesa
simbólica, para que os díenoun não deixem nunca a sua casa sem víveres. No que
respeita a crenças relativas ao número sete e à morte, a tradição diz que a alma
fica sete dias sobre os locais frequentados pelo defunto enquanto vivo. Na
África negra o feiticeiro triturará sete vezes durante sete dias uma mistura
mágica, composta de sete elementos, que o doente deverá engolir no sétimo dia de
Lua nova.
271
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
também, mas, neste caso, prescrevendo como bebida uma caneca de vinho (de
Bordéus) quente, em que o tanino contido actua como adstringente bastante
eficaz.
Profilaxia da biliose (1): O Dr. Aklilu Lomma fez testes sistemáticos, de 1969 a
1971, às bagas da Phytolacce decandra, uma bebida local cujas propriedades
detergentes permitem aos indígenas fazerem as suas barrelas nos rios, matando os
caracóis (agentes propagadores da doença) sem, no entanto, destruírem a flora.
Na aldeia de Adona, na Etiópia, a incidência da biliose pode baixar deste modo
de 50 a 15 %, e o Dr. Lomma está a ponto de conseguir a extracção activa destas
bagas, o que permitirá a baixo preço, e sem grande aparato técnico, fabricar um
«sabão protector» contra esta doença.
(’) Doença provocada por um pequeno verme (que vive parasitariamente no aparelho
circulatório humano). (’) Cf. Sechehaye (Dr. A.): le Traitement de Ia
Tuberculose Pulmonaire et Chirurgicale par l'Umkaloabo (Genebra, Georg). (’)
Esta fórmula é preparada pelos Laboratórios Brun, de Genebra.
272
AS MEDICINAS AFRICANAS
Quase sempre a doença é considerada como um mal infligido por uma força (que
corresponde à de um feiticeiro, de um espírito, ou de uma pessoa mal
intencionada com um feiticeiro por intermediário). A melhor das profilaxias
consiste portanto logicamente em afugentar a doença, quer dizer, a força que a
inflige.
(’) Cf. Julian (Dr. O.-A.): Matière Médicale I'Homéothérapie (Paris, Peyronnet,
1971). (’) Cf. Cabanais (CI.): «Notes de thérapeutique indigène au Cameroun», in
Journal de Ia Société des Africanistes, vol. XI (Paris, Musée de VHomme, 1941).
273
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
«Na Abissínia, nas províncias dos planaltos setentrionais, logo que aparece uma
epidemia, famílias inteiras abandonam as casas, em multidões compactas, durante
a noite, e dirigem-se às regiões desérticas ou mesmo às arborizadas. Nestas
moradas inabituais, a doença não se poderia orientar para se lhes juntar. Este
costume é tão frequente que, quase por instinto, ninguém se aproxima das casas
abandonadas, das quais não sai fumo.
Sempre que estas práticas não são possíveis, como por exemplo com os abissínios
do Bégamder e do Tigre, as populações tentam que seja a doença a fugir em vez de
serem elas a afastarem-se. Para este efeito, colocam, à beira do caminho que a
doença provavelmente deve seguir, uma isca de apetitosa comida, seduzindo-a e
fazendo-a portanto abandonar a casa. Uma técnica análoga era praticada pelos
Dogons. Um búzio que foi passado sobre o corpo do doente é depois abandonado num
local de passagem. Quem o apanhar contrai o mal e desembaraça-se dele o
paciente.
(’) Nome genérico das doenças das quais a mais conhecida é a triponossomíase
africana, ou doença do sono.
274
AS MEDICINAS AFRICANAS
ela nada mais que o fantasma que ela desejava tomar por vítima.» (1)
275
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Segundo as observações do Dr. Dupont (’), o cancro não se encontra «nas regiões
pouco ou nada atingidas pela civilização». Sublinha igualmente que «entre os
Negros, quase sempre subalimentados, as células, menos activas, teriam menos
tendência a se cancerizar» e que o cancro «nunca aparece entre os doentes
atacados pela doença do sono; e esta doença é bem frequente nestas regiões».
Ele faz notar ainda o papel que poderia ter o magnésio nesta ausência do cancro:
sal, piripíri, mandioca, milho painço e soja, bases da alimentação dos
autóctones, são muito mais ricos em magnésio que o nosso pão e as nossas batatas
(’).
Será o cancro uma doença da civilização, dos países onde se come muito? É essa,
em todo o caso, a opinião de alguns cientistas; em especial o Dr. Rudolf Steiner
e o Dr. Artur Guirdham, que podemos considerar como grandes mestres da medicina
sagrada. Opinião, aliás, que
(’) Palés (Dr. L.): Les inutilations tegumentaires en Afrique noire», in Journal
de Ia Société des Africanistes, vol. XVI (Paris, Musée de VHomme, 1946). (’) Cf.
Dupont (Dr. R.): le Cancer chez les Saras (Fort-Archambault), Mission Lebaudy-
Griaule, 1939.
C) Cf. Delbert (Pr.): «Le cancer dans Ia race noir», in Bulletin de l'Academie
de Médecine, n.’ 12, Paris, 1936.
276
AS MEDICINAS AFRICANAS
277
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
UM DIABO NA CABEÇA
As doenças têm na maioria das vezes uma origem sobrenatural. Podem ser devidas
ao ké1é entre os Lobis, ao zana entre os Ashantis, ou ao gnama, entre os
Bambaras. Segundo Labouret, «o gnama é um fluído nocivo, uma energia maléfica
emanada de forças ocultas, tendo por consequência a doença e a morte
[ ... ]. Este fluído é particular em certos deuses e espalha-se sobre os
animais e vegetais em que eles tocarem» (1). Esta crença no gnania nos seus
portadores, encontra-se nos Samoros, Bobos, Mossís, Sénoufos, Baoulés, etc. Por
exemplo: a papeira pode ser causada pelos crocodilos, se se tomar banho em águas
por eles provoadas ou comer a sua carne. Outro exemplo ainda: a abetarda defende
os seus filhos lançando nove doenças nos nove caminhos que
278
AS MEDICINAS AFRICANAS
conduzem ao ninho. No entanto, para ela, reserva um, não infectado (’).
É aqui, então, que surge uma hipótese que será sem dúvida rapidamente criticada
pelos mais sérios eruditos. Se se crê que a doença é devida apenas às
influências dos sortilégios malfazejos, aos mais variados e diferentes
encantamentos quê neles se introduzem, rapidamente e bem, um « diabo na cabeça»
não é também a maneira mais simples de explicar como e porquê eles levam o corpo
a ficar doente -o que corresponde a dizer que «utilizam o terreno, e ao mesmo
tempo são responsáveis pela cura. Os africanos viverão, numa linguagem
diferente, as melhores passagens das teorias psicossomáticas. Assim, tal como
cada psicossomatólogo possui as suas «fórmulas», as suas «receitas», quer se
trate de psicanálise, de treino autógeno, etc., cada feiticeiro possui os seus
exorcismos. Um, por «fricções e passes sábios, faz descer a dor lentamente pelas
costas, tronco, coxas, até ao polegar do pé direito ou do pé esquerdo segundo se
trate de um homem ou de uma mulher» (’) e, neste nível, extirpa de uma maneira
completa e definitiva o espírito maligno. Outro, depois de ter feito um retiro
secreto no mato, prepara uma estranha mistura num tacho ou «canari», e depois,
totalmente nu, tal como os seus assistentes, sacrifica um galo vermelho ou uma
galinha preta e cai em transe durante a agonia da ave. Depois, todos comem o
manjar sagrado cortado em pedaços. Outro, ainda, esfregará o lóbulo da orelha de
um recém-nascido com um pó mágico e este saberá dizer, no dia seguinte ao
acordar, se o diabo já foi destruído.
(’) Cf. Delobson (D.): les Secrets des Sorciens Noirs (Paris, Nourry, 1934). (’)
Note-se que esta relação entre o lado direito e tudo o que simboliza o homem (o
Sol, por exemplo) por um lado, e entre o lado esquerdo e tudo o que simboliza a
mulher (a Lua) por outra parte, é quase universal nas civilizações humanas.
279
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
sem dúvida na direcção desta hipótese que é precisO Procurar uma explicação que
esteja de acordo com as novas estruturas mentais, freudianas, se não se quer
afastar a priori o mistério das curas obtidas pelos ritos Iná9kos brasileiros
que foram criadas pelas religiões africanas importadas com os Negros nos navios
de escravos.
O BRASIL NEGRO
280
AS MEDICINAS AFRICANAS
FESTAS E CANDOMBLÉS
O candomblé parece ter nascido no Estado da Baía, onde residia a mais importante
colónia negra no começo do século XIX. Alguns autores vêem na origem deste nome
as festas onde se reuniam, para dançar, os escravos das plantações de café: «Dar
um “candomblé” equivalia então a um convite para uma festa. Em 1830, três
escravas libertas criaram um camdomblé aberto permanentemente num engenho de
açúcar abandonado, «0 Moinho Velho» ou «Candomblé do Engenho» e, rapida-
281
AS AIEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Idem, ibid.
282
AS MEDICINAS AFRICANAS
Um jornalista americano partiu para o Brasil por algumas semanas e ficou de tal
modo fascinado que se demorou lá cerca de doze anos! Daniel Saint-Clair escreveu
um pequeno livro extraordinariamente acessível sobre a magia brasileira(’). Nele
faz uma análise muito judiciosa do desenvolvimento do espiritismo segundo Allan
Kardec nos meios brancos, desses brancos evoluídos numa atmosfera fantástica de
histórias de amas africanas e que reencontram, na idade adulta, uma justificação
«europeia» nas teorias de Allan Kardec, do seu universo infantil.
E o Diabo, aí denominado Exti, aparece como o «deus das aberturas; é ele que
começa o ritual, como é ele que guarda a porta [ ... ]; é ele, enfim, que segura
a garganta do homem e o pune através das doenças das vias orais».
(’) Cf. Saint-Clair (D.): Magie Brésilienne (Paris, ed. «J'ai Lu», n.’ A.304,
1972).
283
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Falta-lhe aquela noção, aquela busca de harmonia universal, uma aspiração para
compreender esta lógica, essa ordem que parece reinar por todo o lado no
universo, no Cosmos, e que foi pressentida pelas grandes civilizações, pelos
grandes movimentos de pensamento dos quais falámos nos outros capítulos e que é
descoberta pela nossa ciência actual, por mais coderna que seja.
Cf. Saint-Clair (Dr.): op. cit. Cf. Saint-Clair (Dr.): Magie Brésilienne, op.
cit.
284
AS MEDICINAS AFRICANAS
Para tratar uma tez descorada: expor durante três noites consecutivas aos raios
da Lua, depois durante um dia aos do Sol, uma tijela grande cheia com ovos a que
se junta leite de cabra e lavar a cara com esta mistura. Garantido!
Para combater as rugas: picar sessenta gramas de cebola branca fresca e misturá-
la à mesma quantidade de mel.
Para combater as rugas: picar sessenta gramas de cebola fundida. Aplicar sobre
as rugas ao deitar, mas não retirar esta «máscara» de manhã.
Preparação da hena:
(’) Não ultrapassa um metro de altura no deserto do Sara. Tem numerosos ramos
com folhas pequenas, simples, de limbo denteado, de um belo verde brilhante. A
sua madeira é branca. Cultivada em sulcos espaçados de dois metros, as
plantações são segadas ao nível do solo aproximadamente cada três anos, desde
que os sulcos atinjam um metro de altura. Uma plantação pode durar vinte ou
trinta anos. Cf. Ressources végétables du Saliara (Paris, Muséum, 1932).
285
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Damos a seguir o processo para preparar a vossa tintura de hena... pelo menos
para regalar a vista se por acaso não acreditam nas virtudes má gico-religiosas
desta planta.
286
AS MEDICINAS AFRICANAS
1.sso se pode chamar dormir) com as mãos abertas em leque e os pés envolvidos em
musselina para que a tintura seja mantida no seu lugar e actue em profundidade
durante a noite. De manhã a porcaria esverdeada está transformada numa crosta
que se lava com água fria. Depois besuntam-se os pés e as mãos de óleo perfumado
para fazer ressaltar melhor a maravilhosa cor da hena; as unhas parecem ornadas
de gotas de rubis.
Ele fará parte do adereço mágico da jovem esposa e marca também uni ritual de
passagem.
(’) São elas: a Achura Mulond, festa do nascimento de Sidna Mohammed, onde as
crianças e sobretudo as meninas são ornamentadas com hena; esta festa das
crianças é celebrada com um fausto particularmente importante na região de
Tleracen em Marrocos; ‘AM ec-crir (a hena é aplicada nas mãos e nos pés, na
noite da véspera desta festa); ‘Aid el Kebir (festa celebrada sobretudo no
campo, onde se pratica o sacrifício do carneiro que fornece a Baraka, que se
santifica antes fazendo-o comer toda a hena da casa).
287
AS MEDICINAS TRADICIONAIS SAGRADAS
Para uso interno, misturada com manteiga e mel, preserva as vias respiratórias
contra as doenças infecciosas.
ALGUNS REMÉDIOS
Indigestão: Deitar num tacho de água a ferver um punhado de milho painço moído,
juntando-lhe natrão (1), e beber esta mistura; é um vomitório eficaz e de acção
imediata.
Dor de ouvidos: Encher uma meia casca de amendoim com óleo também de amendoim
quente e deitá-lo no conduto auditivo, tamponando-o com algodão em rama.
(’) Mineral incolor, branco, amarelado ou acinzentado que aparece nas zonas de
clima seco e quente em forma de eflorescencias ou em crostas. A composição
química básica é (Co3 Na2
100 H2) N.T.
288
AS MEDICINAS AFRICANAS
Oftalmia purulenta: Encher unia meia casca de amendoim com um líquido composto
de água fria onde se macerou durante algum tempo um tamarindo e a que se juntou
sumo de limão. Utiliza-se este colírio diversos dias seguidos.
Cáries: Tapá-los com resina de rarny (canarium Boivini Engl.) para diminuir a
dor. Ou obstruir a cavidade com a ajuda de fuligem e sabão ou de gengibre e sal.
Pode ainda aplicar-se a seiva espumosa que sai da extremidade de um ramo verde
de katrafey (Cedreloposis Grevei Bai11), quando aquecido até ao meio.
Dentes mal seguros: Lavar a boca várias vezes por dia com água onde se ferveram
raízes de ráfia.
289
INDICE
Prólogo ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... 9
CAPITULO 1
O XAMANISMO
O retrato de uni
xamã ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
12
O aprendiz de
xamã ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
14 A viagem-transe ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... 17
O drama
terapêutico ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
19 As modernas vias do xamanismo ... ... ... ... ... ...
... ... ... 20 Os Celtas e o xamanismo ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... 23 Autobiografia de um xamã
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 24
*/*
CAPITULO Il
291
CAPITULO III
Apolo, Dioniso,
Orfeu ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
62 Na Bulgária, o regresso às
origens ... ... ... ... ... ... ... ... 63 Um
instituto de sugestiologia ... .. ... ... ... ... ... ... ...
. . 65 As festas de Dioniso-Baco ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... 67 Duas interpretações do mito órfico
... ... . . ... ... ... ... ... 69 As virtudes da música
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 70 * república dos sons
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 73 *
musicoterapia ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... 74 * regresso de Orfeu ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... 77 * carnaval ou a loucura do sexo
... ... ... ... ... ... ... ... ... 78 Mitos de ontem e
psicodescompressões de anianhã ... ... ...
80
CAPITULO IV
CAPITULO V
A MEDICINA ALQUIMICA
O enxofre, o mercúrio e o sal ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... 110 Uma medicina energética e vibratória
... ... ... ... ... ... ... 110 Os sinais ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 112 A alquimia
perante a doença ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
113 A medicina espagírica
- . ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 114
Os segredos dos adeptos
- . ... ... ... ... ... ... ... ... ... - ... 116
Os benefícios do antimónio ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... 116
O sal, palavra de Deus .
1 . ... ... ... .. .... ... ... ... ... ... ... 119 A
água do
mar ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
120 Os oligoelenientos ... ... .
1. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 121 Os vinte e seis
remédios de Alexander von Bernus ... ... ...
122
CAPITULO Vi
292
O teatro da alma e a
doença ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
129
O cancro, flagelo do século
XX ... ... ... ... ... ... ... ... ... 131
O homem e as
plantas ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
134
O homem e os
metais ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
135 Dietética
antroposófica ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
137 A antroposofia, medicina e sabedoria do futuro?
... ... ... ... 139
O homem
invisível ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
140 As plantas que curam ... ... ... ... ... ;’’ ‘” * ..
... ... . --- ‘ --- 141 A drósera (ou orvalhinha), planta
carnivora ... ... ... ... ... 144 As preparações
antroposóficas no laboratório ... ... ... ... ...
145 Os metais ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... 146
CAPITULO VII
Uma medicina
iniciática ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
152 Do mito à realidade
histórica ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
154 Os
ka@yÍraJa ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
155 Os tres humores ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... 156 Gemas, constelações e terapêutica
... ... ... ... ... ... ... ... 158 Os dons do mundo animal
.. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 164 As plantas e as
especiarias .. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
168 Um terreno
difícil ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
170
CAPITULO VIII
OS SACERDOTES-MÉDICOS DA AMÉRICA
PRÉ-COLOMBIANA
Os cinco
apocalipses ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
173 Os luminares do
mundo ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
175 A mística social da
angústia ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
177 A aprendizagem do castigo
divino ... ... ... ... ... ... ... ... 178
O mundo das plantas que
curam ., . ... ... ... ... ... ... ... ... 179
Renascimento da fitoterapia
nahuatl ... ... ... ... ... ... ... ... 180 A
terap^utica divinatória .. . ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... 183 Psicoterapia do sacrifício
humano ... ... ... ... ... ... ... ... 184 A
má sorte ... .;, --- *** ... --- “’ - --- --- “’ --- ‘
--- ---, --- ‘ --- 185
O «ticitl» ou medico-
adivinho ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
187 Ritos do milho e outros processos de adivinhar
... ... ... ... 188
O êxtase do
«peyotI» ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
189 Os astecas e o psicodrama colectivo: os cogumelos
alucino-
géneos ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
191 Uma civilização
cogumelizada ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
192 Processos terapê
uticos . .. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
194 Epidemiologia, higiene e
urbanismo .. . ... ... ... ... ... ... ... 195
Os banhos do corpo e da
alma ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 196
A paranóia
divina ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
197 Perturbações provocadas pelos cogumelos
alucinogéneos ... 199 Obstetrícia ... .. . ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 200 Técnicas cirúrgicas
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 202
Anestesia ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... 203
293
CAPITULO IX
O TAO E A ACUPUNCTURA
A acupunctura e as suas
origens ... ... ... ... ... ... ... ... ... 205 Um
tratado médico com 5000
anos ... ... ... ... ... ... ... ... 207
O ciclo do Yang e do
Yin ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 208 A
mutação das
energias ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
212 A energia terapêutica ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... 214 A medicina das energias: uma profilaxia
... ... ... ... ... ... 217 Os cinco
elementos ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ....
218 Energia
ancestral ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
226 Centrais energéticas ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... 228 As energias
puras ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
229 A pureza das energias
puras ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 230 Os
circuitos
energéticos ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
231 A descoberta da doença ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... 233 Meridianos e
acupunctura ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
235 Os processos
terapêuticos ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
239 A saúde
taoista ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
241
CAPITULO X
AS RESPIRAÇOES SUBLIMES
A respiração
embrionária ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
244 A grande alquimia
interior ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 246
Esforço e vontade ... ... ... 1... ... ... ... ... ... .
1. ... ... ... ... 247 Ritos e
música ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
248 Fisiologia energética da
respiração ... ... ... ... ... ... ... ... 249 Uma nova
medicina sagrada: o «Seitai» ... ... ... ... ... ...
250
O movimento
regenerador ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
252 As respirações
misturadas ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
253 A grande obra do «ki» ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... 255
O
Aikido ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
256
O Tai Chi Ch'uan ... ... ... ... ... ..
257 A sombra terapêutica das respiraçoes
sublimes ... ... ... ... 259 Os doze «taiheki»
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 261
CAPITULO X1
AS MEDICINAS AFRICANAS
294