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Cartas dos lahatmas, ; Masa Ses. “Volume 1 if Baz Abr ey then ils: Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett scrus pos Mahauras Me KH “Vamsera ec pr AE Baer (0 movimento teoséfico mio tem dogmas. Seu lema ¢ “nio hi selgivo superior verdad” Assim, estas Cartas dos Mahatma rio so objeto de eg para ning. Porém, 3 importineia do seu contedde parece inegivel no ‘mundo todo para muitosestudan- tes da sabecora dvina, afiiacox ‘ou nda institugees loses ou religiosas, Por iso, dese a sua publicagioem Londresem dezem- bbrode 1923, asedigies das Cartas dos. Mahatma én chegando a novospaisese iomas, em quanto ‘surgem.naweslivroscomestuddose “pesuians sobre elas Hd duas manciras principals ‘de ler as Cartas. A primeira delas é shordaro texto seu context historicoe tentar compreender as ircunstncias especifcas em que cle foi esrit. A segunda maneira Ger o texto como se fos deta mente dirgido a eada um de ns. Neste caso, aplicamos is nossas vidhs tudo que, dealgum modo, fur sentido para nds, ¢ deiamos de lado que ignoramas des temas abordids, marcando eseparando 1s frases cheias de sabedoria eas ‘etdades universsis que aparece 4 cada instante no texto, rmisuuradasa discusses de fatosde canto pram domanimento tesco dh década de 1880. Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Volume I Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Escritas pelos Mahatmas M. e K. H. Transcritas e compiladas por A.T. Barker Volume [ Em seqiiéncia cronolégica. Editadas por Vicente Hao Chin, Jr. conforme a cronologia estabelecida por George E. Linton e Virginia Hanson no livro Reader’s Guide to the Mahatma Letters. Com notas ¢ comentarios de Virginia Hanson, ¢ incluindo Anexos com outras cartas para A.P. Sinnett e A.O. Hume. ‘Tradugae: Murillo Nunes de Azevedo e Carlos Cardoso Aveline ‘Coordenagiio Editorial: Carlos Cardoso Aveline 6 EDITORA TEOSOFICA Brasilis-DF Edigées.em inglés I edig&o, Londres, dezernbro de 1923 22 edigio, margo de 1926 3 edi 0, T.P HL india, 1962: 4 edigiio (eronol6gica). 7,P.H., Filipinas, 1993 io em portugues EDITORA TEOSOFICA, Sociedade Civil SGAS — Quadra 603 - Conj. B, s/n* 70.200-630 ~ Brasi DP. ‘Tel.: (Oxx61) 322-7843 Fax: (Oxx61) 226-3703 Esmail: st@stborg.br Home Page: www.stb.org bli vrar-htnal Capa: Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Escritas pelos Mahatmas M. e K. H. A. Trevor Barker (Comp.) digo em dois volumes seis Brasilia, julho/2001 Volume 1 ISBN 85-85961-67-8 1. Ceultismo 2. Teosofia 3. Discipulado epp 141 FFemando Lopes Diagramagio: Repinalde Alves Arajo Coordenagio Faitorial « Notas da Faigio Brasileira: Carlos Cardoso Aveling| Sumario do Volume I Prefiicio da Edigio Cronolégica Cronotégie. Preficio’hEdigdo em Lingua Portuguese Guia de Leitura da Edigao Cronolégie: Abreviaturas.. As Cartas dos Mahatmas ‘As cartas esto numeradas de acordo com sua orem eronolégica, Os nimeros entre parénteses, precedidos das letras MZ, reproduzem a nume~ ago usada nas trés primeiras edicbes. Carta nt Dan (MLAD Cartan 17 de outubro de 1880... ios AB “ ecebida em 19 de outubro de 1880. a2 Cana n23 cer 20 de outubro de 1880... 47 Carta? 3B vss (MIL-3B).-.eoee Reeebida ern 20 de outubro de 1880....000 48 (Cartan? 3C a (MIL-3C).. non Recebida em 20 de outubro de 1880......... 50 Carta 1 4s (MIL-143),.... Recebida em 27 de outubro de 1880.. SI (Carta 12 Sen (MILAA) eros Recebida em 3 de novembre dé 1880 52 (Carta 12 6c (ML-126) anne Recebida em 3 de novembro de 1880, él Recebida entre 3 ¢ 20.de novembro de 1880. Recebica em 20 ce novembro de 1880. Recebidla em 12 de dezembro de 1880 ou 61 a mais tarde. sone 66 Carta WF 1c asos(MLS).. Recebida depois de® de dezembro de 1880... 6 Cartan? 1 aesML-28) wo Recebida em dezembro de 1880 B Cartan 12 MIL6) Recebida em 10 de dezembro de 1880... 85 Carta n? [Biea(ML-T) noun 30 de janeiro de 1881 88 Carta n? LA... (ML-142A) ... Reeebida antes de 20 de Fevereiro de 1881 a . 90 Recebida antes de 20 de fevereiro de 1881 5 Recebida em de 188 ~ Recebida em I? de margo de 1881 _. Recebida em 26 de marco de 188 Recebida em 5 de jullo de 1881 ~, Recebida em 11 de jutho de 1881 Revebida em 5 de agosto de 1881 ~ Recebida no outono de 1881... Recebida em Simla no outono de 1881 Recebida cm outubro de 1881 .nrnnn M45 Outubro de 1381 ..... ‘Outubro de 1881... "Outubro de 1881 » Outubro de 1881 vn Outubro de 1881 Outubro de 1881. Recebida em toro de de novembro de 1881... Recebida em novembro de 1881 ‘Recebida em novembre de 1881 Dezembro de 1881... ” Recebida em dezembro de 1881 Reeebidaem derembro de 1881 Recebida em janeiro de 1882, + Recebida em janciro de 1882 Datada de 26 de novembro de 1881. Recebida em janciro de 1882 wees Janeiro de 1882. .» Janeiro de 1882. Recebida em janciro de 1882 Recebida em janeiro de 1882 ‘Carta ni 14B......(ML-142B) Carta n? 15. Carta n® 16... Carta n® 17. Carta n® 18.. Carta n® 19. Carta nf 31. Carta n® 32. Carta n?41.. Carta n® 42 Carta n?43, Carta n?.44, Recebida cm janeiro de 1882. Carta n®.45.. Recebida em fevereira de 188: Carta n? 46, _. Recebida em feverciro de 1882.. Carta n® 47. Recebida em fevereiro de 1882 _Recebida em 3 de margo de 1882 Recebida em 3 de margo de 1882. .. Datada de 11 de marco de 1882... » Recebida em margo de 1882... Cartan? 48... Carta n? 49. Carta n? 50, Cartan? 51. Carta n® 52. Recebida em 14 demargo de 1882 Carta n? 53... Datada de 17 de margo de 1882 Carta nt 54. Recebida em 18 de margo-de 1882... Carta n? 55. Recebida em 24 de margo de 1882 Carta n® 56. Carta n® 57. Carta a? $8. Carta n? 59. Carta n? 60, Carta n? 61, Carta n# 62, 25 de margo de 1882... Datada de 27 de abril de 1882.. Datada de 7 de maio de 1882 ... "Sem indicagao de data... 1 Sem dat. mnen _ Datada de junho de 188: Datada de junko de 1882 Datada de junho de 1882 ~ Datada de 26 de junho de 1882. Recebida em 30 de junho de 18 " Recebida em 9 de jutho de 1882 . Carta n# 65... (MILI) Carta 18 66... (ML-H4) (Carta n# 67......-(ML-I5) (ML-16) 1 (ML-69) oer ‘Carta n2 0A... (MIL-20A) . ‘Carta 1 708... (ML-20B) Recebida em jutho de 188: 1 Recebida em agosto de 1882 Carta n? 70C.....(ML-20C) wna. Regebida em agosto de 1882 Catan? TL ene(ML-19) 1a: Recebida em 12 de agosto de 1882.. 335 ML- 127) vnnne Recebida em 13 de agosto de 1882......- 336 "(ML-113)...... Recebiida em agosto de 1882 sone 338 -(ML-30) ..n.. Recebida em agosto de 1882 Recebida em 23 de agosto de 1882 Recebida em 22 de agosto de 1882.. Carta n® 75. Carta n® 76. Carta 0277, Recebida em agosto de 1882 368 Carta n®78. Recebida em 22 ce agosto de 1882 370 Carta n?79......(ML-116)....... Recebicta em agosto de 1882. 371 Cartan? $Oesnas(MILe1 18) 0» Resebids no inicio do outono de 371 Prefacio da Edic¢io Cronoldgica E um privilégio e uma honra escrever este preficio para um livre que ‘me parece abrir uma nova etapa na histéria editorial de Cartas dos Maharmas Para A.P. Sinnett, uma das obras mais importantes da literatura teas6fica, Inicialmente, devo prestar uma homenagem a Vicente Hao Chin, Jr., presidente da Sociedade Teoséfica nas Filipinas, por sua iniciativa, por sua determinagao € pelo enorme volume de trabalho que ele realizou para tomar possivel esta obra. ‘A minha contribuigio a esta nova edicio das Cartas consiste de notas compiladas enquanto dirigia diversos semingrios sobre o tema na Escola Krotona de Teosofia em Ojai, Califémnia, EUA. Apés o término desses cur- 505, ocorreu-me que seria itil, na promo de um estudo mais amplo das Cartas, redigir as minhas anotagdes de aula de mancira mais adequada ¢ shandar cépias delas para as prineipais bibliotecas teos6ficas. Isso foi feito. Entre os que receberam as anotagées estava Vicente Hao Chin, Jr., que imediatamente sentiu que elas deveriam ser publicadas visando uma distri- buig&o ainda mais ampla. Ao mesmo tempo, ele estava pensando na possibi- lidade de publicar as Cartas em ordem cronol6gica, em ver de usar a di temitica, como foi feito nas trés edigdes anteriores. (Os estudantes das Cartas so profundamente gratos a George E. Linton pela cronologia que ele desenvolveu com base em extenso estudo «as cartas originals expostas no Museu Britfnico ¢ que foi usada no livro Reade Guide to the Mahatma Letters to A.P. Sinnent (George E. Linton e Virginia Hanson, TPH. 28ed., 1988), Foi feito um cuidadoso estudo de algumas cronologias desenvolvidas anteriormente, mas acreditamos que esta disposigéo & a mais correta possivel. Como todo estudante das Cartas sabe, elas raramente eran datadas. AP. Sinnett, a quem a maioria delas foi enderegada, anotava freqiientememte a data de recebimento, mas mesmo isto era, de vez em quando, esquecido, & Eevideme que 28 Veves as datas eram inseridas depois de transcorrido muito tempo. Sinnett comentou que, s¢ livesse ficado claro desde o inicio que a correspondéncia iria se desenvolver como ocorreu, ele teria feito registros mais cuidadosos, A sua esposa, Patience Sinnett, manteve um didrio que chegou a 37 volumes com o correr dos anos, mas lamentavelmente estes volumes desapareceram. Supde-se que eles padem ter sido destruides em bombardeios durante a 1? Guerra Mundial. As cartas originais, contudo, fo- 9 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sianett ram conservadas em seguranga no Museu Britinieo, para 0 qual foram doa- das com 2 condigao de entrega irrevogdvel. Foram tomadas medidas para preservé-las. Além disso, George Linton fez com que elas fossem microfil- madas, ¢ estes filmes estio arquivados em diversos lugares, inclusive na sede central da sego norte-americana da Sociedade Teos6fica Cabe, sem divida, uma palavra final de reconhecimento a Vieente Hao Chin, Jr, E de esperar-se que esta edico seja a mais amplamente usada ceestudada no future. Virginia Hanson 10 Introdugio & Edigao Cronolégica I Esta edigdo foi preparada para atender uma necessidade sentida hé muito tempo por estudantes das Cartas das Mahatmas, devido a duas di culdades: 1) As cartas so diffceis de acompanhar nas edigdes anteriores porque os assuntos c acontecimentos mencionados nelas no aparecem em seqiiéncia adequada, © Ieitor perde, freqtientemente, @ sentide das palavras dos Mahatmas; 2) Muitas vezes, o leitor niio entende as eircunstincias que envolvem as cartas, além do fato de que muites nomes e referencias sto ‘obscuras para os leitores de hoje em dia, [Em conseqiiéncia, relativamente poucos teosofistas tiveram 0 Animo necessirio para estudar as Cartas dos Mahatmas. B uma pena, porque esta € tuma das fontes literdrias teos6fieas mais importantes. ‘A publicagdio do Reader's Guide to the Mahatma Lerters (Guia de Leitw- va das Cartas dos Mahatmas), de George Linton ¢ Virginia Hanson, ajudou muito a preencher esta lacuna. E somos muito grates a ambos por scus vali- osos esforcos. Entretanto ¢ incémodo ler as Cartas dos Mahatmas consul- tando constantemente um ou dois livros diferentes. Dai a necessidade de uma edigdlo cronolégica com anotagées, ‘Nesta edigdo, as cartas esitio numeradas e dispostas de acordo com a provavel data de recebimento. O nimero das edges anteriores esté colocar do entre parénteses, a0 lado do nimero cronolégico, logo apds as i ML (de Mahatma Letters), Pequenas anotagSes foram também acrescentadas. antes de cada carta para colocar 6 leitor a par dos acontecimentos e circuns- tdncias que envolvert a carta Estas anotagdes foram eseritas por Virginia Hanson, que devotou muitos anos de estudo as Cartas dos Mahatmas ¢ esereveu alguns livros sobre o assunto, principalmente Masters and Men (Mestres ¢ Hlomens). @ Reader's Guide (com George Linton), ¢ Introduction to the Mahatrra Letters, Em 1986, ap6s dirigir durante muitos anos cursos sobre as Cartas dos Mahamras, se. Hanson reuniu as suas inémeras anotagies sobre 28 Cartas, dando-lhes 0 titul “Notas sobre as Cartas dos Mahatmas Para AP. Sinnett”, Este editor conversou com ela sobre © uso das “Notas” numa edi- gio cronolégica das cartas dos Mahatmas. Ela apoiou firmemente # idéia e deu permissiio para se usar qualquer parte das suas “Notas” com essa finali- dade, As novas notas de pé de pdgina desta edigao (identifieadas por “Ed. Cartas dos Mahannas Para A.P. Sinnett CC." de “edigtio cronolégica” — baseiam-se essencialmente nestas “Notas”, Algumas delas baseiam-se no livro Reader's Guide to the Mahatma Letters, compilado por George Linton e Virginia Hanson~As notas que precedem as Cartas nos Anexos foram, entretanto, elaboradas por este editor. (© texto das cartas nesta edigdo reproduz o da terccira edigio, de Mahatina Letters to A.P. Sinnett (editada por Christmas Humphreys ¢ Elsie Benjamin), inclusive as notas de pé de pagina. Nenhuma mudanga foi feita com a excegio, obviamente, de erros tipogrificas. Fora isso, esta edigto segue fielmente toda 4 geafia e pontuago da terceira edigio. Nesta edigio foram adotados os seguintes formatos de texto: (a) As cartas nao-escritas pelos Mahatmas estdio sem negrito para dis- fi-las das enviadas por eles. Em edigdes anteriores foram usados tipos ‘0 que, as vezes, pode causar confusdio. (by As vezes, os Mahatmas sublinham certas palavras em cartas escri- tas por outros. Isso 6 repetido na atual edigiio, em vez de se usar tipos ne- gritos como em edigdes anteriores. (o) As notas de pé de pégina das edigdes anteriores que s¢ referem a niimeros de Cartas, paginas ou estilos tipogrificos foram corrigidas nesta edigio de modo a ficarem de acordo com o formato revisado e a paginagao a nova edigaa. Estas corregdes so sempre colocadas entre colehetes. ‘Foram acrescentades novos anexos a fim de incluir outras cartas ¢ no- tas dirigidas a A.P. Sinnett ou A.O. Hume, que nio haviam sido incluidas em Cartas dos Mahaimas. Sao os seguintes: (a) a primeira carta do Mahatins KH. para Hume, reimpressa de Combined Chronology (Cranologia Combinada), de Margaret Conger (Theosophical University Press, Pasadena); (b) cartas contidas em Cartas dos Mestres de Sabedoria, Série 1, editadas por C. Jina- rajadasa!, ¢ (c) as contidas em Leiters of H.P. Blavatsky to A.P. Sinnet, (Cartas de H.P, Blavatsky Para A.P. Sinneit), transeritas e compiladas por TT. Barker (Theosophical University Press, Pasadena), IL Uma breve historia das edigdes anteriores Depois que © sr. Alfred Percy Sinnett faleccu em 1921, a sua testa- menteira, stta. Maud Hoffman, acertou com o st. A. Trevor Barker que ele editaria ¢ publicaria as cartas dos Mahaimas, © liveo foi colocado & venda em dezembro de 1923, uma edigio revisada apareceu em 1926. Em seu prefaeio, o sr. Barker afirm 1 A edigdo brasileira exelui estes textos porque elas j4 fazem parte do volume Cartas idos Mesires de Sebedoria, Editora Teaséfiea, Brasilia, 1996, (N. ed. bras.) 12 Intraducito a Eitigdo Cronolégica “0 leitor deve ter em mente que, com excerdo de uma au duas -cartas, nethuma delas foi datadla pelos sets autores. Em muitas delas contudo, as datas e os lugares de recebimento foram anotados com a caligrafia do sr. Sinnett ¢ aparecem em tipo pequeno logo apés os nifmeros das eartas. Deve ficar clara, exceto nos casos em que se afirme de outro mocdo, que: 1, Cada carta foi transerita diretamente do original. 2. Todas as cartas foram escritas para A.P. Sinnet 3. Todas as notas de pé de pagina so edpias dle notas que apa- recem ¢ pertencem ds préprias cartas, a ndo ser quando assinaladas com a inscrigao ‘Ed.'. Nestes casos foram acrescentadas pelo compi- lador”. O st, Barker escreve também: “pede-se ao leitor que ereia que 0 tra- ‘batho de transcriglo foi feito com 0 maximo cuidado; todos os manuscritos foram conferides palavra por palavra com os originais, © foi Feito todo 0 possivel para evitar erros. Entretanto, é provavelmente exeessiva a expecta- tiva de que o livto iamprersa no contenha erra algum. Eles so quase inevi- Lived” Em 1962, uma tereeira edigao foi publicada conjuntamente por Christmas Humphreys ¢ Elsie Benjamin. A terceira edigio implicou uma meticulosa revisio da transcrigio das edigdes limeriores. A edigiio contou com a inestinive! assisténeia do st. C. Jinarajadasa, ex-presidente da S dade Teosofiea, do st, James Graham, e do st. Boris de Zirkoff, compilador dos Collected Writings (Escritos Reunidos) de H,P. Blavatsky. Como esta edigdo eronolégica esta essenciaimente bascada na terceira edigio, € necessério citar © st, Humphreys ¢ a sra. Benjamin no que se refere 2 transerigao feita por eles, como relatado no preticio daquela edi “A idéia de transcrever o material exaramente coma ele surgite foi. de imediato, abandonada. Uma razdo apenas bastou: a de que Trevor Barker jé fizera muitas corregdes na artografia, pontuagdo, etc, e decidiu-se, pertanto, producir un livro de maior valor para os estudantes e que, ao mesmo tempo, fosse fiel as idétas presentes no original, Entretanto, no passado, foram levantadas fortes argumentagdes em relagao a alteragoes feitas em edigdes posteriores de obras dos primeiras escritores teaséficos, Assim, & importante que se declare, 1B Cartas dos Mahatmas Para A.P. Simett como agora se faz, que! (a) nesta obra, nem uma sé palavra foi acres centada, a néo ser denira de colchetes, para tornar o sentido mais claro; e (b) nem wma _s6 palavra foi omitida, salvo uns poucos casos onde a sua presenga significava um erro gramatical ébvio.” O st. Humphreys ¢ a sta, Benjamin também declararam que 0 trata~ mento do texto seguitl 9s seguintes principi “A grafia de patavras como nomes, lugares e frases ndo ingle sax fot revisadla, e pracurow-se sistematizar mais @ use de letras metiés- ‘eulas & em itdlico. As citagées de livros ¢ de frases estrangeiras foram corrigidas quando se acharam erro. Nenlitana tentativa foi feita para se conseguir concordéncia no uso de sinais diacriticos. Quando usados, permaneceram, mas ne- hum foi acrescentado2 A grafia dos Mestres em palavras sinscritas é, as vezes, wma variacdo, adotada no norte da India, da grafia clés- sica, e ndo foi mudada. Houve mumerosas alteragdes na pontwacéo. Na maior parte dos casos, as correcdes foram melhiorias dbvias e, em caso algum, trowxe- nalquer alteracda posstvel na sentido. Algumas vezes. contcdo, 0 dificil entender uma frase, até que 0 acréscimo de uma vir- gula, ow a sua remogdo, subitamente esclarecia o sentido. Em todos esses cases, ana mudanea como essa somente foi feita apés todas as pessoas envolvidas terem concordad que ela éra necessdria para es- clavecer o sentido Como esté no mesmo preficio, os editores da terceira edigo também pensaram cuidadosamente na reordenagio das cartas em ordem cronolégica, Eles estudaram seis ordens cronolégicas conhecidas ~ a da sita. Mary K. Neff, da sra. Margaret G. Conger, da sra. Beattice Hastings, do sr. James Arthur, do sr. G.N. Slyfield e do se. KF. Vania - e decidiram abandonar a idéia devido & divergéneia nas ordens propostas pelas diferentes listas. Tam- bbém decidiram contra a incluso de outras eartas conhecidas para Sinneit ¢ Hume porque seria dificil decidir em que ponto este acréscimo deveria ces- sar. A terceira edigo excluiu 0 apéndice do st. Barker a respeito da con- trovérsia sobre “Marte © Meredrio”, como também a maior parte da introdu- 2'Na edigio erm lingua portuguesa, nio reprodurimos os sinais diacrticos do sinscrito, (N. ed. bras.) 4 Introdupde a Edigao Cronolégica feita por ele na primeira ¢ na segunda edigio, considerando que consistia seri-los na compilagio. ¢ basicamente de comentérios ¢ nio cabi mi © editor deseja agradecer & sra. Virginia Hanson a sua inestimvel atuagdo e apoio na preparacio desta edigio; ¢ a George Linton, Joy Mills, Radha Bumnier, Adam Warcup e Daniel Caldwell pelas suas sugestées © apoio. O texto foi cuidadosamente composto ¢ revisado por Pia Dagusen. Ela também preparou o abrangente indice remissivo desta edigio cronol6gi- ca em inglés. O texto foi examinado e revisado por Eugenia Tayao ¢ Roselmo Doval-Sanios. A ele ¢ outros que ajucaram, expressamos a nossa profunda gratidio. ‘Vicente Hao Chin, Jr. 15 Notas Introdutérias Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett & considerada uma das obras mais dificeis da literatura teos6fica. Ela aborda muitas situagdes complexas € contém muitos conceitos profundos, que se toram mais obscures porque, na €poca em que clas foram escritas, niio havia sido desenvolvida uma no- menclatura por meio da qual 0s Mahatmas pudessem comunicar a sua filoso- — profundamente oculta ~ a pessoas de idiomas ocidentais. Apesar disso, a obra tem um poder uma percepsio interna tremendos, ¢ reflete o drama hurano da aspiragio, do éxito e do fracasso. Ela conta uma historia ocorrida no tempo, mas a sua mensagem € eterna, quer a consideremos como narrati- va, como filosofia oculta ou como revelagao. O que é um Mahatma? Em um artigo de HP, Blayaicky intitulade Mahatmes ¢ Chelas (The Theosophist, julho de 1884), ela nos dé 0 significado do termo: “Um Mahatma € um personagem que, por meio de educagéio € rreinamento especiais, desenvolveu aquelas faculdades superiores € atingiu aquele conhecimento espirinal que a humanédade cormum ad- quirird depois de pasar por séries Fnumerdveis de encarnagées du- rante 0 processo de evolugio cdsmica, desde que, nasuralmente, neste meio tempo, ela néio vé contra as propdsitos da Naturezé..”. Ela prossegue com uma discussiio sobre 0 que € que encarna ¢ de que mado este proceso € usado como um fator da evolueio, resultando na con- quista do Adeptado, Em uma carta escrita para um amigo em 1 de julho de 1890, HLP.B. se outras coisas interessantes sobre os Mahatmas: Eles sio membros de uma Fraternidade oculta [mas] de nenhuma es- cola indiana em particular. Esta Fraternidade”, acrescentou ela, “no se ori ginow no Tibete, mas a maioria dos seus membros ¢ alguns dos mais eleva- dos entre eles esto ¢ vivem constantemente no Tibete.’ "7 Cartas dos Mahanmas Para A.P. Sianest Depois, falando dos Mahatmas, ela diz: “Sio homens vives, nio ‘espi- ritos’, nem mesmo Nirmanakayas! .. .O seu conhecimentoe erudico sio snsas, € a santidade da sua vida pessoal é maior ainda ~ entretanto, eles sido homens mortais ¢ nenhum deles tem a idade de 1.000 anos, a0 contrario do que algumas pessoas imaginam.”” Em uma conversa em 1887 com o escritor Charles Johnston (marido da sobrinha de H.P.B,, Vera), quando ele perguntou a H.P.B. sobre a idade do Mestre dela (0 Mahatma Morya), ela respondeu: “Meu querido, no pos- se dizer exatamente, porque nfio sei. Mas conto-Ihe o seguinte. Eu 0 encon- trei pela primeira vez quando tinha vinte anos. Ele era um homem no auge de sua forga, na época. Agora, sou uma mulher vetha, mas ele nio parece: rem um dia mais velho. Ele ainda esté no auge da sua forga. Isto é tudo o ‘que passo dizer. Tire suas prOprias conclusdes”. Quando o sr. Johnston in- tiu ¢ perguntou se os Mahatmas haviam descoberto o elixir da vida, ela respondeu seriamente: “Isso no é um mito, E apenas o véu que esconde um proceso eculto real, o afastamento da velhice e da dissolugiio durante perio- dos que pareceriam fabulosos, e por isso nio os mencianarei. Q segredo & @ seguinte: para todo ser humano fxé um climatério, quando ele deve sc apro- ximar da morte, Se cle desperdigou as suas forgas vitais, no hé escapatria, mas se ele viveu de acordo com a lei, pode atravessar esse perfodo ¢ assim continuar no mesmo corpo quase indefinidamente’ Como as Cartas vieram a ser escritas? (Os autores das eartas so os Mahatmas Koot Hoomi ¢ Morya, geral- mente designados simplesmente pelas suas iniciais, ‘© Mahatma K.H. era um brimane de Cachemira, mas na época em que nos deparamos com ele nas cartas, ele tinha relagdes estreitas com a corrente Guelupa ou “gorro amarelo” do Budismo tibetano, Ele se refere a si proprio nas cartas como um “morador de cavernas de aquém e além dos Himalaias". H_P.B. diz em [sis Sem Véu que a doutrina de Aquém dos Hi- malaias € uma doutrina ariana muito antiga, as vezes chamada bramdnica, ‘mas que na verdade nada tem a ver com 0 bramanismo tal como nds @ en- tendemos agora. A doutrina de Akim dos Himalaias é uma doutrina esotérica tibetana, o Budismo puro ou “antigo”. Ambas doutrinas, de Aquém e Além | Aquele que nifo mais encama, mas que decidiu renuneiar a6 Nirvana por solidariedade « para ajudar os seres menos evolufdos, (N. ed. bras.) 2 Collected Writings, WolVM, p. 392. 18 Notas Intyodutérias dos Himalaias, vém originalmente de wma s6 fonte - a Religido de Sabedo- ria universa ‘O nome “Koot Hoomi? ¢ um nome mistico que ele usou em relagao & correspondéneia com A.P. Sinnett. Ele falava ¢ escrevia em francés e ingles fluentemente, Hi afirmagées na literatura teosGfica no sentido de que o Mahatma KH. estudou na Buropa. Ele estava familiarizado com os habitos e 0 modo de pensar dos curapeus, Era muito enidito e, &s vezes, escrevia passagens de grande beleza literiia. ‘© Mahatma Morya era unv principe rajput — 0s rajputs formayam a asta governante do norte da india na época. Ele era “um gigante, de quase “dois metros de altura, € de um porte magnifico; um tipo espléndide de bele- za masculina” E bastante conhecido 0 episddio da fundagio da Sociedade Teosétiea em Nova lorque, em 1875. Em 1879, es dois principais fundadores da Soci ‘edade, H.P. Blavatsky ¢ 0 coronel Henry Steel Olcott, transferiram a sede da Sociedade para Bombaim, na India e, em 1882, para Adyar, Madras (atual Chennai), no sul da {ndia, onde permanese, Morava na fia, na épaca, um inglés culto-€ muito refinado, chamado Alfred Percy Sinnett. Ele era editor de The Pioneer, o principal jornal inglés, publicado em Allahabad. Ele se interessou pela filosofia exposta pelos dois fcosofistas ¢ estava curioso a respeito dos acontecimentos notdveis que pare- iam sempre ocorrer na presenga de H.P-B. Em 25 de fevereiro de 1879, nove dias apés a chegada dos fundadores a Bombaim, Sinnett escreveu ao coronel Olcott expressando o desejo de conhecer H.P.B. e ele, e afirmando que estava disposto a publicar quaisquer fatos interessantes a respeito da missio deles na India. Em 27 de fevereiro de 1379, Olcott respondeu esta carta, Comegou 8s- sim o que Olcott chamaria de “wm vinculo produtivo e uma amizade agradi- vel”, Os fundadores foram convidados a visitar os Sinnett em Allahabad, 0 ‘que ocorreu em dezembro de 1879, Nessa visita 08 Sinnet fiiaram-se 3 So- tiedade Teosfica, ¢ 0s fundadores encontraram outros visitantes que iriam ‘cumprir um papel na vida da Sociedade: A.O. Hume ¢ sua esposa Moggy, dle Simla, ¢ a sta. Alice Gordon, esposa do tenente-coronel W. Gordon, de Cal- eu No ano seguinte, 0s fundadores visitaram os Sinnett na sua residéncia de verdo, em Simla, naquela época a capital de vero da India. Li, eles fica- ram conhecendo melhor o casal Hume e sua filha, Maric Jane (uswalmente 3 Collected Writings, vol, IL, p.399. 19 Cartas dos Mahatmas Para Aw. Sianett thamada de Minnie). © passatempo favorito de Hume era 0 estudo de passa ros, € ele mantinha um museu ornitolégico em sua espagosa casa, que cha- mava de Castelo Rothney, na colina Jakko, em Simla; também publicava uma revista sobre omitologia, Stray Feathers. Profissionalmente, cle era, havia algum tempo, membro influente do governo. Foi em Simla que aconteceram os fatos que resultaram nas cartas. pu- blicadas na obra Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett, H.P.B. realizava alguns fenémenos surpreendentes ¢ 9s airibufa aos Mahatmas, com quem ela estava em contato psiquico mais ou menos constant, Sinnett estava conven ido da veracidade desses fenOmenos, ¢ em seu livro O Mundo Oculto fez um vasto trabalho para comprovar a sua autenticidade. Ele tinha também uma mentalidade pritica ¢ cientifiea, e desejava sa- ber mais a respeito das leis que governavam essas manifestactes, Queria, especificamente, saber mais sobre aqueles seres poderosos que H.P.B. cha- mava de “Mesires” e que, segundo ela, eram os responsdveis pelos fendme- nos. Ele Ihe perguntou se seria possfvel entrar em contato com eles ¢ receber ‘instrugdes. H.PBB. disse-Ihe que nio era muito provavel, mas que tentaria. De int- cio, ela consultou 0 seu Mestre, 6 Mahatma Morya, com quem ela estava estreitamente ligada através do treinamento oculto a que se submetera ante- riormente no Tibete, mas ele se recusou categoricamente a comprometer-s¢ ‘com essa tarefa. (Mais tarde, entretanto, chegou a assumir a correspondéncia durante alguns meses, devido a circunstiincias muito especiais.) ‘Aparentemnente, HLP.B. tentow 0 mesmo com varios outros, sem suces- s0. Finalmente, 0 Mahatma Koot Hoomi concordou em manter uma corres- pondéncia limituela com Sinnett. O srt. Sinnett enderegou uma carta “ao lrmio Desconhecido” e entre gou-n a HLP.B. para que a tansmitisse, Na verdade, ele estava to ansioso por defender o seu ponto de visia de modo convincente que esereveu uma segunda carta antes de receber uma resposta 2 primeira. Scguiu-se, entio, ina série de cartas notiveis, e a correspondéncia continuou por vérios anos, tendo como um dos seus vétios resultados de longo prazo a publicagio das cartas em forma de livro. Virginia Hanson 20 Prefacio & Edigéo em Lingua Portuguesa Diversas religides da humanidade preservam uma tradigio segundo a ‘qual uma coletividade de grandes sdbios inspira e conduz, silenciosamente, a rhossa humanidade no caminho que leva 3 paz. 4 sabedoria. O taofsmo men= ciona estes sibios como Imortais, e o hindufsmo usa o temo Rishis. Para o budismo, eles sio Arhats. Outros os chamam de Mahatmas, raja iogues, mestres de sabedoria, Adeptos ou, simplesmente, Iniciados. Segundo a filo- sofia esotérica, estes seres atingiram 0 Nirvana ¢ libertaram-se inteiramente do estégio atual do reino humana, mas permanecem ligados & humanidade por lagos de compaixio e solidariedade. A coletividade destes sdbios, que tem ramificagéies em vérios conti= hentes, aprovou ¢ promoveu, em 1875, a criagio da Sociedade Teosofica, Assim surgiu um uieleo da fratersidade universal sem distingao de elasse, nacionalidade, raga, easta, credo, sexo ou cor. Dois destes Mahatmas. part ciparam de moda mais especifico ¢ direto do esforco teosdfico. A presente edigio rene a correspondéncia entre estes instrutores e Alfred Sinnett, um dos principais lideres teas6ficas dos primeiros tempos. Do ponto de vista teas6fico, as Cartas das Mahatmas Para A.P. Sinmett io textos de importincia incompardvel na literatura de todos os tempos. Pela primeira vez, sébios que completararn a etapa stual da evoluco humana ealoca- Fam seus ensinamentos no papel, abrindo, durante alguns anes, wina excegio & regra milenar pela qual grandes Adeptos ¢ insirutores nada escrevem, Sio, pois, documentos de um valor inestimdvel. Pouco a pouco, & medida que passa 0 tempo, passam a ser conhecidas @ discutidos mais abertamente entre os estu- dantes da filosofia esotériea em todo 0 mundo. ‘Ao mesmo tempo, o estude das cartas apresenta dificuldades ¢ desafios significativos. Por um lado, elas foram escritas em situagOes histGricas € humanas muito espeeffieas, em grande parte desconhecidas do eidadio do século 21, Por outro lado, ao escreverem, ox Mahalmas no tiveram em vista a publicagio das suas cartas. Nao se preacuparam com a forma externa, nem com as normas de cortesia mundana, mas, ao contrétio, usaram de total franqueza. Além disso, a verdade € que o ensinamento vindo diretamente deles contratia de mode radical muitas opinides convencionais a que esta- ‘mos acostumados em diversas assuntos. Outro fator é que a dificuldade na- tural dos temas abordados torna necessirio que o estucante use a intui¢aoe a capaeidade de conviver com 0 desconhecido. Do ponto de vista da redagio das Cartas, algumas frases, longas ¢ que abordam temas complexes, no sio fiiceis de entender. Para muitos estudantes, no entanto, 0s desafios tornam 0 cestudo mais estimulante. Pa) Cartas dos Mahatmas Para A.P_ Sinnett Duas dificulddes para a compreensio das Cartas dos Mahatmas de- vem ser analisadas com mais detalhe, do ponto de vista de leitor de lingua portuguesa. A primeira delas diz respeito as criticas a cristianismo. ‘As cartas dos Nlahatmas devem ser vistas como documentos histéricos ‘© em seu contexto, As criticas dos Mahatmas se referem ao aspecto dogmi- tivo, imperial e autoritirio do eristianismo, Néo ao seu aspecto mistico e de sabedoria, Os teosofistas, com sua perspectiva ecuménica e inter-religiosa ¢ sua proposta de liberdade de pensamento, eram uma ameaca para os dogmas sd virias religides. Assim, missionétios eristios tentaram abafar e mais tarde atacaram frontalmente a Sociedade Teos6fica. E neste contexto que surgem as erfticas mais franeas e duras dos Mahatmas ao eristianismo dogmética, Para que se tenha uma idéia das mudangas de mentalidade ocorridas desde o séeulo 19, basta lembrar que os movimentos socialistas, na época, ram radicalmente eriticos ao cristianismo: afirmavamn que “a religito & 0 pio do povo”. Mas, desde entéo, a religiio iniciou uma nova caminhada. A ‘obra de autores ¢ristios de vanguarda como Teillard de Chardin, Anthony de Mello, Leonardo Boff Madre Teresa de Calcuti, para citar apenas quatro nnomes, tem aspectos essenciais em comum com a Teosofia. Hoje © reologia da libertagio. Até certo ponto, as critieas dos Mahatmas a0 Vatiea- ‘no anteciparam em um século o livro “Igreja, Carisma e Poder”, do conheci do teélogo brasileiro Leonardo Boff. A crise atual da igreja dogmstica € um fato reconhecido. A igreja progressista deseja mudangas, ¢ a aproximagiio ‘entre movimentos sociais e igrejas eristis & notdvel em muitas partes do ‘mundo. Em varios sentidos, portanto, houve transformagées significativas no cristianismo a partir da segunda metade do século 20. Qs Mahatmas slo imparciais em relagio a todas as religides. Nao cri- ticam 86-0 cristianismo, mas todas elas, no que possem de supersticioso ilusério. Isto fica claro, por exemplo, nas Cartas 88 ¢ 90. Especificamente, eles no poupam o hinduismo, a principal religiéo da fndia, conforme se verifica 20 ler a Carta 30. Na verdade, 0s Mahatmas so tio imparciais que, durante a crise da Loja teoséfica de Londres, em 1883, defenderam a mino- fia que havia adotado como prioridade o cristianismo esotérico, em detri- mento da maioria des membros da Loja que, liderada por Sinnett, seguia os ensinamentos esotéricos transmitidas por eles priprios. A liberdade de pen- sanento a autonomia do aprendiz sio partes centrais e indispensdveis do métoda de ensino dos Mahatmas. Nas Cartas, fica claro que eles combatem o-dogmatismo com igual vigor dentro fora do movimento teos6fico. Vale a pena mencionar, neste contexto, as duras criticas feitas. nas Cartas aos jesuftas. Até hoje, no diciondrio Aurélio da lingua portuguesa, 0 significado da palavra “jesuita” & definido, entre outras. acepgdes, como 2 Preféeio a Edigao em Lingua Portuguesa “sujeito dissimulado, astucioso, fingide, hipéerita”. Uma das aeepgdes do adjetive “jesuitico” no mesme dicionério €, também, “dissimulado, astucio- 30”, Portanto, 0s Mahatmas ndo estavam sozinhos ao descrever come deso= restos os métodos da hierarquia eatélica do século 19. Isto, porém, nio nega contribuigdo cultural positiva que muitos jesufias deram, em diversas ca- sos, & cultura ocidental. E € claro que os jesuftas mudaram muito desde en- tio. Hoje, este e outros setores do cristianismo tém um pensamento moder- no, aberto, democritico © ecuménico diante das grandes questdes éticas © sociais do nosso tempo. A segunda dificuldade a ser analisada mais especialmente diz respeito &s criticas dos Mahatmas a0 movimento espfrita. Aqui, também, é impor- tante ter uma perspectiva hist6riea dos fatos. A inteng{o inieial dos fundado- res do movimento teosdfico fai trabalhar em conjunto ¢ em harmonia com @ movimento espftita. Depois de algum tempo, ficou claro que isso nao seria possivel na época. Durante algumas décadas, as relagdes foram tensas, ¢ € neste contexto que foram escritas as cartas a seguir. Mas a partir da segunda metade do século 20, ¢ especialmente no Brasil, a aproximagio entre os dois movimentos tem sido visivel, Hoje € grande © niimero de espiritas que sio teosofistas, ¢ de teosofisias que so simpiticos a muitos aspectos do espiri- tismo, A principal critica teaséfica ao espiritismo se refere & mediunidade, que os Mahatmas condenam. Eles explicam detalhadamente os motivos nas arias a seguir. O-espiritismo tem evoluido muito e, no futuro, a meta inicial de franca simpatia € cooperagia entre teosofistas e espiritas ser eada vez do mesmo mode como slo fratemnos as lagas que ligam 9 movi mento teoséfico a budistas, jainistas, hindutstas, judeus, mugulmanos, € a seguidores de diversas filosofias e religides, ou de nenhuma delas, Buscar a verdade onde ela esteja, com bom senso ¢ equilibrio, é uma idéia central para o movimento teoséfieo. Deve-se levar em conta que as cartas cram documentos absolutamente confidenciais. e que os Mahatmas deixaram claro que jamais aprovariam a sua publicagio na integra, A publicaga acabou ocorrendo longo tempo de- pois do témino da correspondéncia e do afastamento deles em relagio as atividades visiveis da Sociedade Teosofica, No inicio da década de 1920, editor A. Trevor Barker julgou que, para evitar mal-entendidos, era necessd~ tio dar a conhecer a todos, com total transparéncia, os pontos de vista ex- pressados diretamente pelos Mahatmas em relagso & vida, as religiGes, a0 cristianismo, a filosofia esotérica e ao aprendizado espiritual. © movimento teoséfico nio tem dogmas. Seu lema é “niio ha religite superior verdade”, Assim, estas Cartas dos Mahatmas nfo sio objetos de f€ cega para ninguém. Porém, a importancia do sew conteiido parece inegs- 2B Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett no mundo todo part muitos estudantes da sabedoria divina, afiliados ow do @ instituigées fllosoficas ou religiosas. Por isso, desde a sta publieago em Londres em dezembro de 1923, as edigdes das Cartas dos Mahatmas se multiplicam em diferentes paises e idiomas, assim como sempre surgem novos livros com estudos ¢ pesquisas sobre elas, O contetido essencial das cartas dos Mahatmas no s6 permanece atual € vélido para o dia de hoje, mas é um instrumento insubstitufvel para compreender o futuro. E conveniente ter em conta, ao ler as carias, que nelas os Mahatmas renunciam a consciéncia nirvanica para discutir detalhes, comentando situa es de intenso conflito humano ¢ espiritual, ¢ nio demonstram qualquer preocupacio com a manutencio de uma imagem de sébios. O que escrevem & sempre verdadeiro, mas s6 mostra uma parte da verdade multidimensional € da visto completa que cles possucmn da realidade, ¢ que seria completa- mente impossfvel colocar em palavras. Sua frangucza pode parecer dura assim como parecem demasiado severos os métodos dos mestres do e budismo, por exemplo. Eles tampouco se ajustam aos nossos padres oci- dentais de cortesia, freqlentemente aeompanhados de falsidade e hipocrisia O carter confidencial das cartas protegia © seu estilo, que poderia parecer duro para pessoas estranhas. or outra Iade, 0 leitor deve levar em conta que o carter externa mente fragmentério do ensinamento faz. parte do esquema pedagégico dos Mahatmas. Espera-se que 0 aprendiz realize com perseveranga ¢ autonomia a tarefa de ir eeunindo aqui e ali elementos aparentemente esparsos do gran- de esquema evolutivo da vida, segundo a filosofia esotérica clissica. & in- uicio despertard no decorrer deste proceso. Como cscreveu Alfred Sinnett em O Mundo Oculto (p.227), “estas revelagbes dispersas (... foram quebra- das ¢ espalhadas de propésito, de modo que sé fosse possivel chegar a uma conviccio completa sobre 0 Adeptado depois de uma certa quantidade de trabalho empregade na tarefa de reunir as provas dispersas’ pais de ler as Cartas. A primeira delas € abor- {dar o texto em seu contexto hist6rico e tentar compreender as circunstincias especfficas em que ele foi escrito. A segunda maneira é ler 0 texto como se fosse diretamente dirigido a cada um de nds, Neste caso, uplicamos as nos- sas vidas tudo 0 que, de algum modo, faz sentido para nds, e deixamos de Jado 0 que ignoramos dos temas abordados, mareando e separando as frases profundas e as verdades universais que aparecem a cada instante no texto, misturadas a discusses de fatos de curto prazo do movimento teos6tico da ‘década de 1880. Uma das perguntas que podemos fazer-nos a0 ler 0 livro como agirfamos, concretamente, nas situagbes descritas, Outra pergunta &: qual o significado deste ensinamento para nossa vida real, no momento pr sente? O signifiendo pode ser imenso, renovador, revolucionstio, er) Preficia a Edigdo em Lingua Portuguesa +04 Esta edigdo 6 uma transcrigdo literal das Cartas, © por isso néo faze- mos uma sistematizago editorial no uso de letras maitisculas ou itslico. No caso do sinscrito, nfo usamos sinais diacrfticas. Para maior comodidade do leitor leigo, ha notas de pé de pagina explicando termos como Tripitaka, dak, Khudakapatha ¢ outras palavras dos idiomas tibetano, latim, francés, hindi, pali ou sinscrito, Também fazemos a ligagdo entre diversos trechos das Cartas e os avangos da ciéncia a0 longo do século 20, como é 0 caso da descoberta de Plutio em 1930, da teoria do Big Bang, dos buracos negros, da fisica quintica e dos avangos recentes na Biologia. Ovorre que, para um Mahatma, 0 futuro e @ passado longinguos so vistos como parte do: tempo presente, © 0s processes césmicos esto perfeitamente ao aleance da sua cons- cigncia espacial. Em conseqiéneia disso, € natural que as Cartas ~ escritas enire 1880 ¢ 1885 — contenham varias indicardes c antecipagbes sobre © pro- ‘eresso da ciéncia ¢ o avango da humanidade a0 longo dos séeulos 20 ¢ 21, ¢ também em séculos ¢ milénios futuros. Nao € por acaso que o Mahatma KH. esereveu na Carta 65: “A ciéncia modema & o nosso methor aliado” Todas as notas de pé de pigina, independentemente da sua origem, esto numeradas carta por carta, As notas de pé de pégina escrilas pelos Mahatmas estao em negrit. Durante o trabalho de wadugo, levamos em conta as edigées francesa € espanhola das Cartas, € consultamos toda a bibliografia dispontvel hoje internacionalmente sobre estes documentos hist6ticos de importincia incal- culdvel. ‘Queremos agradecer @ trabalho voluntério ¢ altrufsta de muitas pesso- «as que ajudaram em uma ou outa etapa da produgio destes dois volumes Entre elas estio Radha Burnier, Christina Zubelli, Joy Mills, Dilza Braga Rosa, Maria Elizabeth de Oliveira, Alcyr Anfsio Ferreira, Valéria Marques de Oliveira, Wanisa Costa Lins, Edilson de Almeida Pedrosa, Ivana Campélo Gongalves, ¢ outros que lerarn € comentaram diversas cartas durante 0 pro- cesso de tradugio e revistio. Angela Maria Hartmann prestou uma ajuda de grande valor ao empreendimento, revisando os textos € colaborando ativa~ mente do inicio ao fine do trabalho. Brasilia, 22 de abril de 2001 Carlos Cardoso Aveline Coordenador da Edig3o em Lingua Portuguesa 25 Guia de Leitura ‘ocultos, € estava extrena) ‘Mahatma K.H. Sinn Eu vi K, H. em ‘momento, mas imediatame compo no quarto de vest 0 | aguele que é charmado" (erm italico). um piqueniue na soma Prospest Meu Bom “Irmio”, I seins cnet pel] tra menor) a minha presenca comigo. Sua esposa 9 receber ‘rosa para eserever, mas 2 para 0 que tenho a dizer, 7. Comentirios feitos Por fim set € the mo: na qual voe8 esereveu guinte sob seu ditado e, TENTE seremos os primeiros serei sempre um siny com o sua correspondence, nol Roma existia ames de ROTI fag (Ea. No hemisfério norte juno e agosto. (N. ed “ON. ed. bras)”. 1.0 niimero original da carta, nas trés primei- ras edigdes das Cartas dos Mahatma, pre- ‘cedido das letras MZ (Mahatma Letters). 2. 0 mimero da carta por ordem cronoligica. 3. Notas de Virginia Hanson sobre as cartas ‘4. Anotagées originais de A-P. Sinnett (em 5.0 texto da carta do Madratma (em negrito). 6. Todas as cartes que mio provém de um Mahatma estio publicadas sem negrita. a5 carlas (em negrito 8, ds palavras sublinhadas em cartes que no provém de um Mahatma foram sub- jadas por um Mahatma, a0 K-las, 9. Notas de rodapé de A.T. Barker termi- nam com “(Nota da 1 ed.)". 10, Notas de radapé de Christmas Humphreys Aqui tes tinhas da pea origins” ¢ E. Benjamin terminam com “(N. da 3 autordacarta. (Ndfada 18630] edicao) Possivelmene Mfcch@fas, bérbai|_11, Notas de redapé do editor da edigio cro- . feitas com base mas Notas de Wire ‘Hanson, termina com "(Ed.C.)". 12. Notas de rodapé da edigo brasileira, es- critas por Carlos C. Aveline, terminam com pe Mahatmas sobre aw LL ou LLrs, M, ML ODL ST. 28 Abreviaturas Allan O, Hume Alfred Percy Sinnett Djual Khu! ou Djual Khoo! Helena Petrova Blavatsky Henry Steel Oleott Asis Sem Véw, obra de H.P. Blavatsky Mahatma Koot Hoomi Letters of H.P. Blavatsky to A.P. Sinnett (Cartas de HP. Blavatsky Pava A.P_ Sinnett), transcritas ¢ compiladas por A.T. Barker (Theasophical Univer- sity Press, 1973). Loja de Londres da Sociedade Teoséfica ‘Mahatma Morya Mahatma Lesters 10 AP. Sinmen (Cartas dos Mahatmas Para A,P, Sinnelt), transcritas © compi- Jadas por A.T. Barker Old Diary Leaves (Fothas de um Vetho Didrio), de Henry Steel Oleott Sociedade Teosofica Cehetr tea Bpegp tien of fee =tor— = ‘a= ee ee ak le epee “fr Ua alone foe foneades Wh Geo ep en ont we re pats Um exemplo da letra de "KHL", precipitada em cor azul, sob urna nota de lamodar K. Mavalankar. A maior parte das cartas de “ ‘est escrita com tinta azul ou por lipis azul Yosnps WE oaesde. opin, Ry ob ud, Aowgegge waged hid ape i PERS YEN pres we Sr bargeria. iy Po n li dae Bronte, tereph, pes ue

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