You are on page 1of 134
Yi-Fu Tuan Espaco © Lugar A Perspectiva da Experiéncia Tradugao de Livia de Oliveira (Professora-Adjunta do Departamento de Geografia do Instituto de Geociéncias e Ciéncias Exatas da UNESP — Campus de Rio Claro) mB] DIFEL -e39boymtuLioveck ve Gieauan = 2S Civmantn & orstassyivony cUnITiBs LTDA SS org 1,080.00 “SF Tovmo No, 501/93 Registro:212, 907 gs sins § BH 000 273673 £2 rong: SF Spevend act The Prepac Boerce SS conyrighe @1977 by the University of Minnesota S SS) Capa: Natanae de Olivera (CW. Brasil. Catalogagao-na-Publcagto (Chmara Brass do Livro, SP ‘Tuan, YEFu, 1930 ‘THe Eepago e lugar : a perspectiva da experincia 7 Yiu Tuan teadugto de Livia de Oliveira. — Sto Paso: DIFEL, 1983, 1. Bspago — Percept, Peroepsdo gegritica L. Tul, epp.133.752 3.0607 155.96 Inaies para catsogo sistem 1. Bspago: Infugncias:Picoloyia 155.96 2. Espago: Pereepedo humana: Psicologia 153.752 3. Homem: Pereepgto do spaco : Psicologia 153.752 4. Lagares: Imagens mentas = Priclapi 155,96 5. Percepydo googriicn Psicologia 155.96 1983 Diretos de wadugio reservados para Bra por mp] DIFEL. Sede Av. Wisin de Carat, 40 — 5° andar EPO1210 — Sto Paulo SP “Telex: 32294 DFEL-AR ‘els 21-6921 6293-4619 Vendas: Ru Doze de Setembro, 1.205 — V. Guilherme CEP 02052 ~ Sto Paulo —~ SP ‘Tok: 267.0301 Prefacio vida das idéias € uma est6ria continua, como a propria A vida: um livro se origina de outro assim como, na esfera do compromisso politico, uma ago conduz a outra. Escrevi um livro intitulado Topofilia premido pela necessidade de separar e ordenar de alguma maneira a ampla variedade de alitudes ¢ valores relacionados com 0 meio ambiente fisico do homem. Embora apreciasse observar a riqueza e a amplitude da experiéncia do homem.com o-meio-ambiente, no pude nessa época encontrar um tema ou conceito abrangente com © qual estruturar o meu heterogéneo material; e, portanto, mui tas veres tive de recorrer a categorias convenientes e conven- cionais (como subjirbio, vila, cidade, ou tratar separada~ mente os sentidos humanos) em vez de usar eategorias que cevoluissem logicamente de um tema central. Neste livro pro euro alcangar uma posigdo mais coerente. Para tanto re duzi meu enfoque para “espago” e “tugar" enquanto ele~ mentos do meio ambiente, intimamente relacionados. Ainda mais importante, procurei-desenvolver meu material de-ima ‘inica perspectiva —a_da experitncia. A complexa natu- feza da experiéncia humana, que varia do sentimento primé- rio até a concepco explicita, orienta 0 conteido e os temas deste livro. 7 g Oe G8OOLObe -- leew eves Prefacio Freqiientemente, tem-me sido dificil 0 devido reconheci- mento das obrigagdes intelectuais. Uma razio 6 que devo tanto ¢ tantos. Um problema ainda maior 6 que posso dei de agradecer as pessoas a quem devo mais. Eu as “devorei”! Suas idéias se transformaram em meus pensamentos mais profundos. Os meus mentores an6nimos sdo os estudantes € colegas da Universidade de Minnesota. Confio que eles sejam indulgentes com qualquer apropriag%o inconsciente de seus insights, e todos os professores saben que esta 6 a forma mais sincera de reconhecimento. ‘Tenho, também, agradecimentos espeefficos ¢ é com pra. zer que os faco. Sou profundamente grato a J. B. Jackson & P. W. Porter por terem encorajado meus esforgos iniciais; a Su-chang Wang, Sandra Haas ¢ Patricia Burwell pelos dia- gramas que atingiram a elegincia formal que em meu texto ficou apenas no nivel da intencio; e a Dorian Kottler da University Press pelo meticuloso trabalho-de revisao. Desejo, também, agradecer as seguintes instituigdes pelos recursos ‘que me permitiram trabalhar no Espaco e Lugar, com peque- nas interrupg®es, nos dois tiltimos anos: & Universidade de Minnesota, por conceder-me a licenga para viagem de estu- dos, seguida de mais um ano de afastamento; A Universidade do Havai, onde pela primeira vez explorei os temas deste livro, com um pequeno grupo de estudantes de pds-graduagio, inte- ressades no assunto; 4 Fundag&o Educacional Australiano- Americana (Programa Fulbright-Hays), por me ter possibili- tado uma visita A Australia; ao Departamento de Geografia Humana, da Universidade Nacional da Australia, por ter me propiciado um ambiente agradvel e estimulante para pensar e escrever; © a Universidade da California, em Davis, por um ano de sol e calor, tanto humano como climético. Yi-Fu Tuan Ano Novo Chinés, 1977. Preticio V Iustragdes 1X 1 Introdugao 3 2__ PerspectivaExperiencial 6 Espago, LugareaCrianga 4 Corpo, Relagdes Pessoais ¢ Valores Espaciais 9 2 Sumario 5, Espaciosidade e Apinhamento $8 6 | Habilidade Espacial, Conhecimento ¢ Lugar 7) Espace Mitico e Liigar 8 Espago Arquitet6nico ¢ Conhecimento 9. Tempo no Espago Experiencial 132 10° Experigneias Intimas com Lugar 151 LL) Al io pela Patria 165 96 12 Visibilidade: A Criagdo de Lugar 179 13° Tempo e Lugar 198 14 Epilogo 220 Notas 227 113 39 16 SS wn/a1sLi0TEOA DE CHENCIA E TECKOLOGLA = ivaanta € o1Stayebivonk CURITIBA LTDA BS cry 1.00.00 . SZ Terma Ho 501/93 Regist ro:242, 901 s/t = sS 3 ‘Titulo Original: BA 000 P1364? © Space and Pace: The Perpctveof Experience Copyright © 1977 by the University of Minnesota Capa: Natanael L, de Over (CIP.Brasl Ctalogugo-ma-Pblicagae (Chara Beasiera di Tan, YEP, 190: T82e Espace Ingne 8.0007 teadugde de Livia de Olvera. ine, SP 1 permpectiva da experincia 7 YiFw Twan j ‘Sto Paulo DIFEL, 1983, peo goografeaL, Titulo, epp.1s3.732 1155.96 Indies para catiogo sistemitcn 1. Bspago aca: Psicologia 155.96 2. Bspago: Percepgto humana Psicologia 153.752 3. Homem : Percepeto do espago Psicologia 183.752 44. Ligure Imagens mentah: Psicologia 155,96 5. Pereepeaoweogrifia : Psicologia. 158.96 1983 ‘Diretos de wadugto reservados parao Brasil por wp] OWE Sade ‘Ay. Vieira de Cara, 40 — CEP 01210 — Sto Palo — SP “Telex: 32394 DFELAR Tale 23-6923 « 21-4619 ve Ru Doze de Setembro 1.305 (CEP 02052 ~ Sto Paulo — SP ‘Tel: 267.0501 V. Guilere Prefacio vida das idéias € uma est6ria continua, como a propria vida: um livro se origina de outro assim como, na esfera do compromisso politico, uma aco conduz a outra. Escrevium livro intitulado Topofitia premido pela necessidade de separar ¢ ordenar de alguma maneira a ampla variedade de atitudes e valores relacionados com 0 meio ambiente fisico do homem. Embora apreciasse observar a riqueza ea amplitude da experineia do homem.com-o-meio-ambiente, nao pude nessa época encontrar um tema ou conceito abrangente com o qual estruturar o meu heterogéneo material; e, portanto, mui- tas vezes tive de recorrer a categorias convenientes e conven cionais (como subiirbio, vila, cidade, ou tratar separada- mente 03 sentidos humanos) em ver de usar categorias que evoluissem logicamente de um tema central, Neste livro pro- curo aleancar uma posigiio mais coerente, Para tanto re- duzi meu enfoque para “espago" e “lugar” enquanio ele- mentos do meio ambiente, intimamente relacionados. Ainda mais importante, procurei-desenvolver meu material de-tima inica _perspectiva — a da experiéncia. A_complexa Feza da experiéneia humana, que varia do s rio até a concepeao explicita, orienta o contetido e os temas deste livro, wooo - + rvevves Prefacio | Freqiientemente, tem-me sido dificil o devido reconheci- | mento das obrigagdes intelectuais. Uma razaio é que devo tanto a tantos. Um problema ainda maior é que posso d de agradecer as pessoas a quem devo mais. Eu as "devort Suas idéias se transformaram em meus pensamentos mais profundos. Os meus mentores andnimos sfo os estudantes j colegas da Universidade de Minnesota. Confio que eles sejam | indulgentes com qualquer apropriacZo inconsciente de seus insights, e todos os professores sabem que esta é a forma mais sincera de reconhecimento. Tenho, também, agradecimentos especificos e € com pra ver que 0s fago. Sou profundamente grato a J. B. Jackson € P. W. Porter por terem encorajado meus esforgos iniciais; a Su-chang Wang, Sandra Haase Patricia Burwell pelos dia- gramas que atingiram a elegincia formal que em meu texto — ficou apenas no nivel da intengdo; e a Dorian Kottler da } eta University Press pelo meticuloso trabalho'de revisio. Desejo, | tier também, agradecer as seguintes instituigSes pelos recursos { Suméario Hustragdes 1X {que me permitiram trabalhar no Espaco e Lugar, com peque- 1 Introdugao 3 nas interrupgdes, nos dois diltimos anos: 4 Universidade de 2_ PerspectivaExperiencial 9 Minnesota, por conceder-me a licenga para viagem de estu- G Espago, LugareaCrianga 22 dos, seguida de mais um ano de afastamento; & Universidade | 4° Corpo, Relagtes P ‘Valores Espaciais 39 do Hayat, onde pela primeira vez explorei os temas deste livro, i Hayat onde vag patie 3 5. Espaciosidade e Apinhamento 58 com um pequeno grupo de estudantes de pos-graduacao, inte- ressados no assunto; A Fundagio Educacional Australiano- Americana (Programa Fulbright-Hays), por me ter poss | 6 | Habilidade Espacial, Conhecimento e Lugar 76 (7), Espago Mitico e Lugar 96 tado uma visita A Austrilia; ao Departamento de Geografia 8 Espago Arquiteténico ¢ Conhecimento 113 Humana, da Universidade Nacional da Australia, por ter me 9 Tempo no Espago Experiencial 132 propciado um ambiente agradive estimulante para pensar 0° Bxpecibiictas Intima comm Lugak 151 e escrever; € & Universidade da Califrnia, em Davis, por um Ol madoenres ie ano de sol e calor, tanto humano como climatic. is 12 Visibilidade: A Criagdo de Lugar 179 YiFuTuan 13 Tempo e Lugar 198 ‘Ano Novo Chines, 1977 14 Eptlogo 220 { Notas 227 1. 18, 19. - Espago definido como localizagao rela . De espago a lugar . Distorgdes nos lal . Mito cosmogonico e espago orientado: viagens mitol ILUSTRACOES iva € como espaco ik. demareado. Mapas do mundo dos A\ . A estrutura do corpo humano, espago e tempo. “Centro” sugere “elevagio" e vice-versa: 0 exemplo de Pequim. Organizagbes egocéntricas ¢ etnocéntricas do espago, aprendizagem de um labirinto. intos desenhados. Elak — nayegagao celeste micronésia. 1. Concepedo do espaco como lugar-repleto (oceano Pact- fico) de Tupaia. |. Espacos mitico-conceituais. |. Cosmos ptolomaico. . Casas com patios intern © grande contraste entre 0 “interior” e o “exterior” . Oyurt mongol ¢ 0 pantedo de Adriano: o-domo simbélico e suas expressies arquitet@nicas. A casa como cosmos € mundo social: 0 exemplo da casa dos Atoni no Timor indonésio, - Acampamento pigmeu: a separagio do espago social sagrado. Espago € tempo dos Hopi: 0s reinos subjetivo e objetivo, gicas dos herdis ancestrais dos Walbiri na Austrélia cen- tral. Espago sagrado simétrico (Ming ‘T’ang) ¢ Cidade do Ho- mem assimétrica. O lugar como um simbolo piiblico nitidamente visivel: as places royales de Patis, segundo o plano de M. Patte. Lugares duradouros: rochedo de Ayers Stonehenge. faivenvenvanvenvenvenvenven ee eos DACARHEECEEOEEaeecer A ~~ weve vee ved: 20. a1. 2. Aldeias, cidades comerciais e areas comerciais: lugares visiveis e “invisiveis". Movimento, tempo e lugar: a. caminhos ¢ lugares linea- res; b. caminhos e lugares ciclicos/pendulares. s anéis de crescimento (tempo) das muralhas de Paris, Espago e Lugar A Perspectiva da Experiéncia t Introdugao GG YEN 00007 £ tase” sto terms familiares que indi- m experiéneias comuns. Vivemos no espaco. No ‘ha lugar para outro edificio no lote. As Grandes Planicies dio a sensagao de espaciosidade. O lugar é seguranga e.o-espaco é liberdade: estamos ligacios a0-p ja tyos ooutro, Nao ha lugar como o lar. O-que é tar? Ba velha isa, 0 velho bairro, a velha cidade ou.a patria. Os gebgrafos es tudaiit 0s lugares. Os planejadores gostam de evocar “um sen- tido de luga slo componentes biisicas do mundo vivo, ‘Quando, no entanto, pensamos sobre eles, po- significados inesperados e levantam questées que ‘no nos ocorreria indagar. Que é espago? Vejamos um episddio, da vida do tedlogo Paul Tillich que servira de enfoque & questao sobre u signi ficado do espago na experiéncia. Tillich nasceu ¢ cresceu em ‘uma pequena cidade da Alemanha Oriental em fins do século passado. A cidade tinha caracteristicas medievais. Circun- dada por uma muralha e administrada do edificio da prefei- tura municipal construido na Idade Média, dava a impressio de um pequeno mundo, protegido ¢ auto-suficiente. A uma crianga imaginativa, a cidade pareceria estreita e limitadora. 3 ~ eee ewe eevee ves ‘Todos os anos, no entanto, o jovem Tillich podia eseapar com sua familia para o mar Baltico. A viagem para o litoral — 0 espago aberlo © 0 horizonte sem limites — era um grande acontecimento. Mais tarde Tillich elegeu um lugar no oceano ‘Atlintico para viver apés a aposentadoria, decisto esta que sem divida deve muito as experiéncias da juventude. Quando crianga, Tillich também pOde eseapar as limitacdes da vida de uma cidade pequena fazendo viagens a Berlim. As visitas & grande cidade curiosamente the lembravam o mar. Berlim, também, deu a Tillich a sensagio de amplidao, de infinito, de espaco sem limitagdes.' Experiéncias deste tipo nos levam novamente a refletir sobre o significado de uma palavra como “espaco” ou “espaciosidade”, que pensamos conhecer bem. Que é um lugar? O que dé identidade e aura a um lugar? Estas perguntas ocorreram aos fisicos Niels Bohr e Werner Heisenberg quando visitaram o castelo de Kronberg na Dina- marea. Bohr disse a Heisenberg: Ito ¢ interessante como este castelo muda to Jogo 1 gente imagina que Hamlet vireu aqui? Como cientistas, aereditamos que um eastelo consiste $6 ‘em pedras, © admiramos a forma como 0 arquiteto as ordencu. As pedras, ‘O teto verde com a patina, os entalhes de madeira na igreja constituem 0 tastelo todo, Nada disto deveria mudar pelo fato de que Hamlet morou tqui f, no entanto, muda completamente. De repente os muros e os baluartes {alam uma linguagem bem diferente, O proprio pttio se transforma em um ‘mundo, tum eanto escuro nos lembra a escuridto da alma humana, ¢ escu- ‘amos Hamlet "No entanto tudo 0 que realmente sabemos sobre Hamlet € que seu nome aparece em uma exOnice do sézulo XI. [Ninguém poderé provar que ele realmente existiu, e menos ainda que aqui vivew. Mas todo munda conbece as questBes que Shakespeare o fer per- iguntar, a profundeza humana que fol seu destino trazer & luz; assim, teve também que encontrar para si um lugar na Terra, aqui em Kronberg. Uma yer que sabemos disto, Kronberg se torna, para nds, um eastelo bem dite rente.? Estudos etol6gicos recentes mostram que animais ndo humanos também tém um sentido de territério ¢ lugar. Os ‘espacos sto demareados e defendidos contra os invasores. Os lugares sio centros aos quais atribuimos valor ¢ onde sito satisfeitas as necessidades bioldgicas de comida, Agua, des | canso e procriagio, Os homens compartilham com outros ani: 5 Introdugio mais certos padres de comportamento, mas como indicam as reflexdes de Tillich e Bohr, as pessoas também respondem ao espago € a0 Tugar de maneiras complicadas que-nao.se.conce- bem no reino animal. Como € possivel que tanto 0 mar Béltico como Berlim evoquem uma sensagto de vastidao ¢ infinito? ‘Como € possivel que uma simples lenda assombre o castelo de Kronberg e transtita uma sensagao que permeia as mentes de dois cientistas famosos? Se ha seriedade em nossa preocu- pagdo com a natureza e qualidade do meio ambiente humano, estas sio, certamente, perguntas basicas. Entretanto, poucas vezes elas tém sido levantadas. Ao contratio, estudamos ani- mais, como, por exemplo, ratos € lobos, dizemos que 0 comportamento humano e as seus valores so bem parecidos com os deles. Ou_medimos e mapeamos 0 espago ¢ lugar, € adquirimos leis espaciais e inventarios de recursos através de amossosesforcos. Estas sfio abordagens impo precisam ser complementadas-por dados experienciais que pOSSAMIOS iterpretar com fidedignidade, porque nos nnjesmos somos humanos. Temos o privilégio de acesso a esta- os de espirito, pensamentos e sentimentos, Temos a visto do interior dos fatos humanos, uma asserg#o que n@o podemos fazer a respeito de outros tipos de fatos. ‘As pessoas As vezes se comportam como animais encur- ralados e desconfiados. Outras veres também podem agit como cientistas frios dedicados A tarefa de formular leis ¢ mapear recursos. Nenhuma das duas atitudes dura muito, As pessoas sio seres complexos. Os dotes humanos incluem 6r- aos sensoriais semelhantes aos de outros primatas, mas so coroados por uma capacidade excepcionalmente’ refinada para a ctiagao de simbolos. Saber como 0 ser humano, que esti ao mesmo tempo no plano do animal, da fantasia e do cilculo, experiencia e entende o mundo & o tema central deste livro, Considerando os dotes humanos, de que maneira as pes- soas atribuem significado e organizam 0 espaco e 0 lugar? ‘Quando se faz esta pergunta, o cientista social é tentado a ver ‘cultura como um fator explicativo. A cultura € desenvolvida unicamente pelos seres humanos. Ela infiuencia intensamente Inirodugiio © comportamento ¢ os valores humanos. A sensagio de espago € lugar dos esquimés é bem diferente aa dos americanos. Esta abordagem é vitida, mas nao leva em conta o problema dos tragos comuns, que transcendem as particularidades culturais nto, refletem a condi¢Ro humana. Na obseryagdo dos 0 cientista comportamental provavelmente se volta para o comportamento anélogo do primata. Neste tra: balho, reconhecemos nossa heranga animal, bem eomo a im- portancia desempenhada pela cultura. A cultura & inevitavel, sendo explorada em todos os capitulos. Mas 0 propésito deste ensaio nao é escrever um manual sobre a influéncia das cul. turas nas alitudes humanas em relagéo a espaco e lugar. antes um prélogo & cultura em sua infinita diversidade; nfoca que: dias aptidBes humanas, capacidades ¢ idades, e como a cultura as acentua ou as distore: ‘és (eimas se entrelagam: - 1) Os fa icos. As criangas t@m apenas nogbes muito grosseiras sobre espago e lugar. Com o tempo adqui- rem sofisticago. Quais sio os estigios da aprendizagem? O corpo humano ou esté deitado, ou ereto. Em posigdo ereta tem alto e baixo, frente e costas, direita e esquerda. Como estas posturas corporais, divisdes ¢ valores so extrapolados para 0 espace circundant 2) As relagdes de espago e lugar. Na experiéncia, o sig ficado de espago freqientemente se funde com 0 de lugar “Espago™ € mais abstrato do que “lugar”, O que comeca ‘como espaco indiferenciado transformasse.cm lugar A medida nos melhor ¢ 0 dotamas.de.yalor. Os arquitetos iS qualidades espaciais do lugar; podem igual- mente falar das qualidades locacionais do espace. As idéias de “espago” e “ugar” no podem ser definidas uma sem a outra. A partir da seguranca e estabilidade do lugar estamos cientes da amplidio, da liberdade © da ameaga do espaco, e vice- versa. Além disso, se pensamos no espago como algo que permite movimento, entdo lugar é pausa; cada pausa no movi- ‘mento torna possivel que localizagao se transforme em lugar. 3) A amplitude da experiéncia ou conhecimento. A expe- rigneia pode ser direta e intima, ou pode ser indireta ¢ con- 7 Introdugio ceitual, mediada por simbolos, Conhecemos nossa casa inti mamente; podemos apenas conhecer algo sobre o nosso pais se ele € muito grande. Um antigo habitante da cidade de Minneapolis conhece a cidade, um chofer de taxi aprende a andar por ela, um gedgrafo estuda Minneapolis € a conhece conccitualmente, Estas sio trés formas de experienciar. Uma pessoa pode conhecer um Ingar tanto de modo intimo como ‘conceltual. Pode articular ideéias, mas tem diliculcade de ex- pressar 0 que conhece através dos sentidos do tato, paladar, olfato, audigio, e até pela visto. As pessoas tendem a eliminar aquilo que nfo podem expressar. Se uma experiéneia oferece resisténcia a uma comunicacio rapida, a resposta comum entre «s.praticos (“fazedores") 6 consideré-la particular — se nao idiossinera- ica — e portanto sem importincia. Na extensa literatura sobre qualidade ambiental, relativamente poucas obras-ten- tim compreender-o que as pessoas sentem. sobre.espago.e lugar, considerar as diferentes. maneiras.de experienciar (sen- sbrio-motora, tatil, visual, conceitual) e interpreta: espago-e lugar como imagens de sentimentos.complexos — muitas vezes ambivalentes. Os planejadores profissionais, com sua necessidade urgente de agir, apressam demais a produgio de modelos e inventérios. Por sua vez, 0 leigo aceita sem muita hesitagdo, dos planejadores carismaticos ¢, dos propagan- distas, slogans sobre 0 meio ambiente que tenha recebido atrayés da midia, esquecendo-se facilmente a rica informagio derivada da experiéncia, da qual dependem estas abstragdes. No entanto, 6 possivel articular sutis experiéncias fnumanas, tarefa a que os artistas vém se dedicando — freaiientemente com éxito, Em obras literrias, bem como em obras de psico- logia humanistica, filosofia, antropologia © geografia, esto registrados intrineados mundos de experiéncias humanas. Este livro chama a atencio para as questdes formuladas pelos humanistas sobre espago ¢ lugar.’ Procura sistematizar 6s insights humanisticos, expd-los em sistemas conceituais (aqui organizados na forma de capitulos), de mode que sua importincia seja evidente para n6s, nao somente como seres pensantes interessados em saber mais sobre a nossa propria SesvuUsEEUEEDESEY 8 Introdugao natureza — nossa potencialidade para experimentar — mas também como arrendatarios da Terra, preocupados na pri- tica com o projeto de um habitat mais humano. A abordagem € descritiva, visando mais freqientemente a sugerir do que concluir. Em uma rea de estudo que ¢ em grande parte experimental, talvez cada colocagto devesse terminar por um ponto de interrogacio ou ir acompanhada de oragbes adje- tivas. Pede-se ao leitor que as supra. Um trabatho explorat6- rio como este deve ter a virtude da clareza, mesmo que para isso seja necesshrio sacrificar o detalhe erudito e a qualifi- cacao. ‘Um termo-chave neste livro ¢ “experiéncia’”. Qual € natureza da experiéncia e da perspectiva experiencial? Perspectiva Experiencial neiras através das quais uma pessoa conhece e constréi a realidade. Estas maneiras variam desde os sentidos mais diretos e passives como 0 olfato, paladar ¢ tato, até a percepgdo visual ativa e a maneira indireta de simbolizagio.* E xperigneia 6 um termo que abrange as diferentes ma- Experiéneia ‘sensago, percepgiio, concepgao —<——— EMOCAO emogao CN eRe pensamento PENSAMENTO ‘As emogdes dio colorido a toda experiéncia humana, incluindo os niveis mais altos do pensamento. Os matemé- ticos, por exemplo, afirmam que a expressio de seus teoremas € orientada por ctitérios estéticos — nogdes de elegincia € simplicidade que respondem a uma necessidade humana. O pensamento dé colorido a toda experiéncia humana, incluindo as sensagdes primirias de calor e frio, prazer e dor. A sen- sagaio é rapidamente qualificada pelo pensamento em um tipo 9 aS Perspectiva Experiencial especial. O calor é sufocante ou ardente; a dor, aguda ou fraca; uma provocacio irritante, ou uma forga brutal. A experiéncia esti veltada para o mundo exterior. Ver e pensar claramente yao. além.do_eu, O sentimento € mais ambiguo. Segundo Paul Ricoeur, “O sentimento é (...) sem diivida intencional: € um sentimento por ‘alguma coisa’ — © amorfvel, 0 odioso, (por exemplo]. Mas é uma estranha intencionalidade: por um lado indica qualidades sentidas quanto as coisas, quanto as pessoas, quanto ao mundo, por outro manifesta ¢ revela @ maneira pela qual o eu 6 afetado intimamente’’. No sentimento, “uma intengao e uma afeigZo coincidem em uma mesma experiéncia”? A experigncia tem uma conotagao de passividade; a pa- lavra sugere o que uma pessoa fem suportado ou sofrido. Um homem ou mulher experiente é a quem tém acontecido muitas coisas. No entanto, nao falamos das experiéncias das plantas €, mesmo-Hos Féferindo aos animais inferiores, a palavra -xperiéncia” parece inapropriada. Porém existe um con- traste entre um cachorrinho e um experiente mastim; e os seres humanos so maduros ou imaturos dependendo de terem ou nio tirado vantagens dos acontecimentos. Assim, a expe- rigneia implica a capacidade de aprender a partir da propria Vivencia.’ Experienciar € aprender; significa atuar sobre o dado e criar a partir dele. O dado no pode set conhecido em sia esséncia. O que pode ser conhecido é uma realidade que 6 um constructo da experiéncia, uma criagdo de sentimento pensamenio, Como afirmou Susanne Langer: “O mundo da fisica € essencialmente 0 mundo real interpretado pelas abs- tragdes matemiticas, ¢ o saundo do sentido é 0 mundo real interpretado pelas abstragées imediatamente fornecidas pelos 6rgztos dos sentidos."* Experienciar é vencer os perigos. A palavra “experiéncia” provém da mesma raiz latina (per) de “experimento”, “ex- perto” “perigoso”? Para experienciar no sentido ativo, 6 necessario aventurar-se no desconhecido ¢ experimentar o ilu- sério o incerto. Para se tornar um experto, cumpre arris- car-se a enfrentar os perigos do novo. Por que alguém se arrisea? O individuo & compelido a isso. Esti apaixonado, u Perspectiva Experiencial 4 paixdo é um simbolo de forga mental, O repertério emo- cional de um molusco € muito restrito quando comparado com o de um cachorrinho; e a vida afetiva do chimpanzé é ‘quase to variada ¢ intensa quanto a do homem. Uma crianga nos primeiros anos de vida se distingue de outros filhotes de mamiferos tanto por seu desamparo como pelas suas bruscas reagSes de medo. Sua amplitude emocional, do sorriso a0 ‘acesso, insinua a extensao de seu potencial intelectual. experigneia é constitufda de sentimento e pensamento. sentimento humamo mao € uma sucessao de sensacdes dis- tintas; mais precisamente a meméria e a intuigao sto capazes de produzir impactos sensoriais no cambiante fluxo da expe- rigncia, de modo que poderiamos falar de uma vida do semti- mento como falamos de uma vida do pensamento, E-uma-ten- déncia comum referir-se ao sentimento e pensamento como opostos, um_registrando estados subjefivos, o outro repor- tando-se a realidade objetiva. De fato, esto proximos as duas extremidades de um continuum experiencial, ambos sao ‘maneiras de conhecer. Ver e pensar sio_processos. intimamente_relacionados. Em ingiés, “eu vejo” significa “eu entendo”. Ha muito tempo, que ja nao se considera a visio apenas um simples registro do estimulo da luz; ela é um processo seletivo e eriativo em que os estimulos ambientais s0 organizados em estruturas fluentes que fornecem sinais significativos ao 6rgio apropriado, Os sentidos do olfato e do tafo sao educados mentalmente? Ten- demos a negligenciar o poder cognitivo desses sentidos. No entanto, 0 verbo francés savoir ("‘saber”) esta intimamente relacionado com 9 ingles savour. © paladar, 0 olfato e o tato podem atingir um extraordindrio refinamento. Eles discrimi- nam em meio a riqueza de sensacdes e articulam os mundos gustativo, olfativo e textural, A inteligéncia & necessiria a estruturagio dos mundos. Do mesmo modo que os atos intelectuais de ver e ouvir, os sentidos do olfato e tato podem ser methorados com a pratica até chegarem a discernir mundos significantes. Os adultos podem desenyolver uma extraordinaria sensibilidade para uma ampla variedade de fragrancias florais’ Apesar de ser 0 a Perspectiva Experiencial nariz humano muito menos agucado que o nariz dos cies para detetar certos odores de baixa intensidade, as pessoas podem ser sensiveis a uma gama maior de odores do que 0s cies. Cachorros ¢ criangas nao apreciam o perfume das flores da mesma forma que os adultos. As criangas preferem 0 cheiro das frutas ao das flores? As frutas sto boas para comer, assim a preferncia.é compreensivel. Mas qual €0 valor, para a sobrevivéncia, da sensibilidade aos 6leos quimicos langados pelas flores? Esta sensibilidade nfo serve a um propésito biolégico definido. Pareceria que 0 nosso nariz, tanto quanto nossos olhos, procura ampliar e compreender 0 mundo. Alguns odores tém um poderoso significado biolbgico. Por exempio, os odores do corpo podem estimular a atividade sexual, Por outro lado, por que muitos adultos acham repul sivo 0 cheiro de putrefagio? Mamiferos, com narizes muito miais agugados que o do homem, toleram e até apreciam cheiros de carne putrefata, que desagradariam ao homem. As criangas pequenas, também, parecem ser indiferentes aos cheiros fétidos. Langer sugere que os odores de putrefagao sio memento mori* para os adultos, mas que nao tém essa cono- tagdo para os animais e as criangas.* O tato articula outra classe de mundo complexo. A mao humana € incomparavel em sua forga, agilidade © sensibilidade. Os primatas, in- cluindo o homem, usam as maos para conhecer e confortar os membros de sua propria espécie, mas 0 homem também usa as mos para explorar 0 meio ambiente fisico, diferenciando-o cuidadasamente pelo tato da casca e da pedra’ Os homens adultos no gostam de ter sobre a pele substincias pegajosas, talvez, porque elas destruam a capacidade de discernimento da pele. Tais substincias entorpecem, como dculos embagados, afaculiade de exploragao. O meio ambiente arquitetOnico moderno pode agradar aos olkos, mas freqiientémente carece da personalidade esti- (©) Expresso lating que se traduz por: “Lembra-te que irs morrer’ Designa particularmente um objeto simbilico que sirva. ao homem como advertézcia de sua condigho mortal (N. da .). 3 Perspectiva Experiencial mulante que pode ser proporcionada pelos odores variados © agradaveis. Eles imprimem carster aos objetos ¢ lugares, tor- nando-os distintos, féceis de identificar ¢ lembrar. Os odores sdo importantes para os seres humanos. Fizemos referéncia a um mundo olfativo, mas podem as fragrancias € perfumes constituir um mundo? “Mundo” sugere estrutura espacial; ‘um mundo olfativo seria aquele em que os odores esto espa- cialmente arranjados, e no simplesmente aquele onde apa- regam em sucessao acidental ou como misturas rudimentares, Podem outros sentidos, além da visio e do tato, proporcionar um mundo espacialmente organizado? E possivel argumentar que o paladar, 0 odor ¢ mesmo a audio nao nos dao, por si mesmos, a sensagio de espaco.” A questtio € muito acadé- mica, porque a maioria das pessoas fazem uso dos cinco sen: tidos, que se reforgam miitua ¢ constantemente para fornecer © mundo em que vivemos, intrineadamente ordenado e carre- gado de emogbes. O paladar, por exemplo, envolve quase invariavelmente 0 tato e 0 olfato: a lingua rola ao redor da bala, explorando sua forma enquanto 0 olfato registra 0 aroma de caramelo. Se podemos ouvir e cheirar algo, pode- mos muitas vezes também vé-lo, slo os érgios sensoriais © experiéncias que. per~ seres humanos ter sentimentos intensos pelo espaco jas_qualidades espaciais? Resposta: cinestesia, visio ¢ tato.t Movimentos to simples como esticar os bragos e as pernas so bésicos para que tomemos consciéncia do espago. 0 espago'€ éxperienciado quando h& lugar para se mover. Ainda mais, mudando de um lugar para outro, a pessoa adquire um sentido de diregao. Para frente, para tris e para ‘5 lados so diferenciados pela experiéncia, isto 6, conheci- dos subconscientemente-no ato de movimentar-se. ‘O espaco assume uma organizacio coordenada rudimentar-centrada no eu, que se move e se direciona, Os olhos humanos, por terem superposicZo bifocal e capacidade estereascdpica, proporcio- am As pessoas um espaco vivido, em_trés dimensdes. A expe- rigncia, contudo, € necesséria. Uma crianga ou um adulto cegos de nascimento mas que tenham recentemente recupe- rado a visto, precisam de tempo e pratica para perceber que 0 “ Perspectiva Experiencial jundo se constitui de objetos tridimensionais estaveis e dis- postos no espago, em vex de padroes mutiveis e cores. Locar e manipular coisas com a mio produyz.um mundo de sbjetos — ‘objetos que conservam sua constancia de forma ¢ tamanho. Ayanear até as coisas e brincar com elas revela a sta descon- tinuidade e a sua distancia relativa. O movimento intencional € a percepeio, tanto visual como haptica, dao aos seres hu- manos seu mundo. familiar. de_objetos dispares_no_espaco. O lugar é uma classe especial de objeto. valor, embora no seja uma coisa valiosa, que posse ser facil- ménte manipulada ou levada.de-um.lado.para.o objeto no qual se pode morar. O espaco, como ji mencio- namos, € dado pela capacidade de mover-se. Os movimentos freaiientemente sio dirigidos para, ou repelidos por, objetos & lugares. Por isso 0 espaco pode ser experienciado de vin aneiras: como a localiz lativa de objetos ou lugares, ‘como as distancias e extfensies que. separam ou ligam. os-lu- gares, e — mais abstratamente — como a area definida por uma rede de lugares (Fig... a O paladar, o olfato, a sensibilidade da pele © a audigao ndo podem individualmente (nem sequer talvez juntos) nos tornar cientes de um mundo exterior habitado por objetos. No entanto, em combinagito com as faculdades “‘espacializantes” da visio e do tato, estes sentidos essencialmente nio distan- ciadores enriquecem muito nossa apreensio do cariter espa- cial e geométrieo do. mundo. Em inglés, por exemplo, qual ficam-se alguns sabores como sharp, € outros como flat.* O significado destes termos geométricos € realgado peio uso metaférico no reino do paladar. O odor € capaz. de sugerir massa e volume. Alguns cheiros, como de almiscar ou de angélica, so “fortes”, ao passo que outros sto “delicados”, “finos”, ou “eves”. Os carnivoros dependem do sentido agu- (*) 0s adjetivos sharp ¢ flat signficam neste contexto, respectiva- mente, “picante” e"insfpide”, Quando se referem, porém, a ormas, sto ‘outros os termos eorrespondentes em nosso idioma. Sharp equivaleria a ‘pontudo”, "em ingulo agudo”; e fla, a “plano”, “liso” (N. da E.). ‘A. Bypago definido dos entveporton (enter Abvik) ‘equlms Alvi Is Perspectiva 1 Limites do expago da eacudor SOL Figura 1. O espago como localizagho relativa e como espago demarcado. © espago da malher esquim6 (Aivilik) é definido essencialmente pela loc liragao e pela distancia de pontos significantes, na maioria entrepostos (A), como percebidas do ponto de vista da sede na itha de Southampton, ao Passo que a id€a de limite (a linhs da costa) & importante para o sentido de ‘espago do horem esquim6 (B). Edmund Carpenter, Frederick Varley © ober Faherty, Eskimo, Toronts, Univesity of Toronto Pres, 1989, p. 6 ipresso cor! permissto da Un versity of Toranto Press ado do olfato para seguir ¢ capturar a presa, ¢ pode ser que seu nariz seja capax de articular um mundo espacialmente estruturado — pelo menos aquele que se diferencia pela dire- cio e distancia. O nariz do homem é um érgio bastante atro- fiado. Dependemos da vista para localizar as fontes de perigo ede atracao, mas, com o aurilio de um mundo visual anterior, © nariz do homem também pode discernir diregdo e caleular distiincia relativa através daintensidade de um cheiro, ‘Uma pessoa que manipula um objeto, sente no apenas sua textura mas suas propriedades geométricas de tamanho forma. Prescinclindo da manipulagdo, a sensibilidade da pele, € 6 & & e 6 & c 6 © © & & & & & & & S e ° & o ° e e © o cS e ce ©e 16 Perspectiva Experiencial por si s6, contribui para a experiéncia espacial do homem? Ela contribui, embora de forma limitada. A pele registra sensagies, Informa sobre sua propria condigio e ao mesmo tempo sobre a condigao do objeto que a esta pressionando. Porém a pele nao sente a distancia. Neste aspecto a pereepeao t4til esté no extremo oposto da visual. A pele 6 capaz de transmitir certas idéias espaciais e pode fazé-lo sem o apoio dos outros sentidos, dependendo somente da estrutura do corpo e da capacidade de movimento. O comprimento rela- ivo, por exemplo, é registrado quando diferentes partes do corpo silo tocadas ao mesmo tempo. A pele pode transmitir uma sensagio de volume e massa. Ninguém duvida de que “entrar em uma banheira com Agua moma dé A nossa pele ‘uma sensagao mais maci¢a do que uma alfinetada”.” A pele, quando entra em contato com objetos achatados, pode avaliar aproximadamente a sua forma e tamanho, Em pequeno nivel, ‘a aspereza ¢ suavidade so propriedades geométricas que a pele reconhece facilmente. Os objetos também siio duros ou moles, A percepgio titil diferencia estas caracteristicas na evidéncia espacio-geométrica. Assim, um objeto duro, sob pressdo, retém a sua forma, enquanto um objeto mole nio a retém.”” O sentido de distancia e de espago se origina da capaci: dade auditiva? O mundo do som parece estar espacialmente estruturado, embora sem a agudeza do mundo visual. E possi- vel que 0 cego que pode ouvir, mas nao tem maos € apenas pode mover-se, careca de sentido de espaco; talvez para tais pessoas todos os sons sejam sensagdes corporais e nao indi- ‘caches sobre o cardter de um meio ambiente, Poucas pessoas tém deficiéncias to sérias. Tendo visto ¢ possibilidade de mover-se e de usar as maos, 0s sons enriquecem muito 0 sentimento humano em relagio ao espago. As orelhas do homem nao sao flexiveis, por isso estdo menos aparelhadas para discernir direco do que, por exemplo, as orelhas de um lobo. Mas, virando a cabeca, uma pessoa pode aproximada: mente dizer a diregdo dos sons. As pessoas identificam sub: conscientemente as fontes de ruido, e a partir dessa infor- mago constroem 0 espaco auditivo, Perspectiva Experiencial s sons, embora vagamente loealizados, podem transen tir um acentuado sentido de tamanho (volume) e de distancia, Por exemplo, numa catedral vazia, 0 rufdo de passos res. soando claramente no chivo de pedra cria a impressio de uma vastidao cayernosa. A respeito do poder do som em evoear distancia, Albert Camus escreveu: “A noite, na Algéria, po- demos ouvir 0s latidos dos cies a uma distincia dex. vezes maior do que na Europa, Assim, o ruido assume uma nos- lalgia desconhecida em nossos paises confinados.’" Os cegos desenvolvem uma aguda sensibilidade para os sons; sio capa- zes de usiclos © a suas ressonfincias para avaliar 0 carter espacial do meio ambiente. As pessoas que podem ver sii0 menos sensiveis aos indicadores auditivos porque nao depen: demi tanto detes. Todos os seres humanos aprendem a relacio- nar som e distincia ao falar. Alteramos o tom da nossa voz, de baixo para alto, de intimo para piblico, de acordo com a fincia social ¢ fisica percebida entre n6s ¢ os outros. O volume e a expressio da nossa vor, tanto como 0 que procu famos dine, st lenbrees permanentes de proximidade ¢ de distancia, proprio som pode evocar impressves espaciais. Os es- trondos do trovao sao volumosos; o estridulo do giz. no quadro negro & “comprimido” © fino, Os tons musicais baixos sao volumosos, enquanto 0s agudos parecem finos e penetrantes. Os musicélogos falam de “espago musical”. Em misica criam-se ilusBes espaciais completamente independentes do fendmeno de volume ¢ do fato de © movimento logicamente implicar espago." Com freqiiéncia se diz. que « musica tem forma, A forma musical pode dar ver.a uma confirmagio do sentido de orientagio. Para o musicélogo Roberto Gerhard, “forma na miisica significa saber exatamente, a cada ins- tante, onde se esta. A consciéneia da forma é realmente uma sensagio de orientagio”.* Os diversos espagos sensoriais parecem-se muito pouco entre si. O espaco visual, com a sua nitidez.e tamanho, difere profundamente dos difusos espacos auditivo e titil-sensorio- motor. Um homem cego cujo conhecimento do espago deriva de indicadores auditivos e tateis nao pode, por algum tempo, Perspectiva Experiencial apreciar 0 mundo visual quando recupera a visio. O interior abobadado de uma catedral e a sensagio de entrar em uma banheira com 4gua morna significam volume ou espaciosi- dade, apesar de serem as experiéncias dificilmente comp: raveis. Da mesma forma, o significado de distincia é to va- riado quanto as maneiras de experienei-la: adquirimos 0 sentido de distancia, pelo esforgo de mover-nos de um lugar para outro, pela necessidade de projetar nossa voz, por ouvir 0 latido dos cies & noite, e pelo reconhecimento dos indicadores ambientais da perspectiva visual. ‘A dependéncia visual do homem para organizar 0 espago no tem igual. Os outros sentidos ampliam e enriquecem o espago visual. Assim, 0 som aumenta a nossa consciéneia, incluindo éreas que estao atras de nossa cabera e nao podem ser vistas. E 0 que é miais importante: 0 som dramatiza a ‘experiéncia espacial. Um espaco silencioso parece calmo e sem vida nao obstante a sua visivel atividade, quando obser- vamos, por exemplo, acontecimentos através de bindculos ou na tela da televisio com 0 som desligado, ou em uma cidade abafada por um manto de neve fresca.” /> Osespacos do homem refletem a qualidade dos seus sen- ‘tidos e sua mentalidade. A mente freqtientemente extrapola além da evidéncia sensorial. Considere-se a nogao de vastidao. A vastiddo de um oceano nao é percebida diretamente. “Pen- Samos no oceano como um todo", diz William James, “multi- plicando mentalmente a impressio que temos a qualquer ins- tante em que estamos em alto mar.""* Um continente separa Nova York de Sto Francisco. Uma distancia desta magnitude € compreendida através de simbolos numéricos ou verbais calculados, por exemplo, em dias de viagem. “Porém 0 sim. bolo freqilentemente nos dard o efeito emocional da percep- 40. Expresses como a abismal absboda celeste, a vastidao infinda do oceano, etc., resumem muitos cflculos da imagi- nacdo, ¢ dao a sensacdo de horizonte imenso,” Alguém com a imaginagio matematica de Blaise Pascal olhara para 0 céu € se sentird consternado pela sua infinita vastidao. Os cegos sto capazes de conhecer 0 significado de um horizonte distante. 's podem extrapolar de sua experiéncia de espago auditivo © 19 Perspectiva Experiencial da liberdade de movimento para contemplar com os olhos da mente vistas panoriimicas e 0 espaco infinito. Um cego contow. a William James que “ele acreditava que poucas pessoas que véem poderiam desfrutar, mais do que ele, o cenario do cume de uma montana.” A mente discrimina desenhos geométricos e prineipios de organizagio espacial no meio ambiente, Por exemplo, os in- dios Dakota acham em quase todas as partes da natureza a evidéncia de formas circulares, desde a forma dos ninhos dos passaros até 0 trajelo das estrelas. Ao contrario, os indios Pueblo, do Sudoeste do Estados Unidos, tendem a ver espa- gos de geometria retangular. Estes sto exemplos do espaco interpretado, que depende do poder da mente de extrapolar muito além dos dados percebidos. Tais espacos esto no ex- tremo conceitual do continunm experiencial. Existem trés tipos principais, com grandes areas de superposigaio — o mi tico, 0 pragmatico, ¢ o abstrato ou tebrico. O espaco mitico 6 um esquema conceitual, mas também é espago pragmatico no sentido de que dentro do esquema 6 ordenado um grande niimero de atividades priticas, como o plantio e a colheita. Uma diferenga entre o espaco mitico e o pragmético € que este € definide por um conjumto mais limitado de atividades eco- n6micas. O reconhecimento de um espaco pragmitico, como cinturdes de solo pobre e rico, é sem divida um feito inte- lectual. Quando uma pessoa habilidosa procura deserever cartograficamente 0 padrao do solo, usando simbolos, ocorre ‘um progresso conceitual. No mundo ocidental, os sistemas geomeétricos, isto €, espagos altamente abstratos, foram cria- dos a partir de experiéncias espaciais primordiais. Conse- qiientemente, as experiéncias sensbrio-motoras e tateis pare- cem estar na origem dos teoremas de Euclides concernentes & congruéncia de forma eo paralelismo de linhas distantes; e a percepgio visual é a base da geometria projetiva. Os homens no apenas discriminam padrdes geométricos nna natureza e criam espagos abstratos na mente, como tam- bém procuram materializar seus sentimentos, imagens e pen- samentos. O resultado é 0 espaco escultural ¢ arquitetural e, em grande eseala, a cidade planejada. Aqui o progresso vai OOOH HEOLOOEEAEAMHOEOROMMO DEP OP MABE 20 Perspectiva Experiencial desde sentimentos rudimentares pelo espaco e fugazes discer- nimentos na natureza até a sua concretizacio material e pi- blica. O lugar é umn tipo de objeto. Lugares e objetos definem 0 espago, dando-lhe uma personalidade geométrica. Nem a crianga recém-nascida, nem o cego que recupera a visto, aps uma vida de cegueira, podem reconhecer de imediato uma forma geométrica como o triangulo. A principio, o trifingulo é “espago”, uma imagem embacada, Para reconhecer 0 trian- gulo € preciso identificar previamente os Angulos — isto é, lugares. Para 0 novo morador, 0 bairro € a prinefpio uma confusio de imagens; espago embagado. Aprender a conhecer 0 bairro exige a identificagio de locais significantes, como esquinas e referenciais arquitetOnicos, dentro do espaco do bairro. Objetos e lugares so nticleos de valor. Atraem ou tepelem em graus variados de nuangas. Preocupar-se com eles mesmo momentanteamente é reconhe- cer a sua realidade e valor. O mundo do bebé carece de objetos permanentes ¢ esti dominado por impressoes fugazes. Como as impressdes, recebidas através dos sentides, adqui- rem a estabilidade de objetos ¢ lugares? A inteligéncia se manifesta em diferentes tipos de reali- zagio. Uma é a capacidade de reconhecer e sentir profunda- mente 0 particular. A diferenga entre os mundos esquemé- ticos dos animais e os dos homens que os destes estio densa- ‘mente poroados com coisas pessoais e coisas permanentes. AS coisas pessoais que valorizamos podem receber nomes: um Jogo de cha 6 Wedgewood ¢ uma cadeira ¢ Chippendale. As pessoas tém nome proprio. Elas silo coisas especiais que po: dem ser os primeiros objetos permanentes no mundo do bebé, de impressies instaveis. Um objeto como um precioso vaso de cristal é reconhecido por sua forma inigualavel, seu desenho decorativo € seu tilintar quando batido levemente. Uma ci- dade como Sao Francisco é reconhecida pelo ceriario sem par, topografia, skyline, odores ¢ ruidos das ruas.” Um objeto ou lugar atinge realidade concreta quando nossa experiéncia com le é total, isto &, através de todos os sentidos, como também com a mente ativa ¢ reflexiva. Quando residimos por muito 2 Perspectiva Experiencial tempo em determinado lugar, podemes conhecé-lo intima- mente, porém a sua imagem pode nao ser nitida, a menos que possamos também vé-lo de fora e pensemos em nossa expe- rigneia, A outzo lugar pode faltar o peso da realidade porque 0 scemos apenas de fora — através dos olhos de turistas € da leitura de um guia turistico. E uma caracteristica da espé- cie humana, produtora de simbolos, que seus membros pos- sam apegar-se apaixonadamente a lugares de grande tama- nho, como a nagdo-estado, dos quais eles sé podem ter uma experiéncia direta limitada. Espago, Lugar ea Crianga mentos ¢ idéias relacionados com espago ¢ lugar. Ori- ginam-se das experiéncias singulares'¢ comuns. No entanto cada pessoa comeca como uma crianga. Como tempo, do confuso e pequeno mundo infantil, surge a visio do mundo do adulto, subliminarmente também confusa, mas sustentada pelas estruturas da experiéncia ¢ do conhecimento conceitual. Apesar de estarem as criangas, logo apés 0 nascimento, sob influéncias culturais, os imperativos biol6gicos do erescimento impdem curvas crescentes de aprendizagem © compreensiio ‘que sao semelhantes e podem, portanto, transcender a énfase especifica da cultura. Como uma crianga pequena percebe ¢ entende 0 seu me ambiente? Existem respostas bastante satisfatdrias. O equi pamento biol6gico da crianga, por exemplo, fornece indicios «los limites de seus poderes. Ainda mais, podemos observar como se comporta a crianga em situagdes controladas ou de vida real. Podemos também nos perguntar qual é a qualidade do sentimento do mundo da crianga? Qual é a natureza de suas afeigdes pelas pessoas e pelos lugares? Estas questdes so mais dificeis de responder. Um retorno introspectivo & nossa propria infancia é freqtientemente decepcionante, porque ten- N ‘© homem adulto so extremamente complexos os senti- 2 Expaco, Lugar ea Crianga dem a desaparecer as paisagens luminosas e sombrias de nossos primeiros anos, e perduram apenas alguns aconteci- mentos importantes, como aniversarios e o primeiro dia de escola. Esta capacidade da maioria das pessoas de recapturar clima do seu mundo infantil sugere até onde os esquemas do adulto, aparelhados principalmente para as exigéncias préti- cas da vida, diferem daqueles da crianga.' Porém a crianga 60 pai do homem, ¢ as categorias perceptivas do adulto sto de vez em quando impregnadas de emogdes que procedem das primeiras experiéneias. Estes momentos do passado, carre- gados de emogao, as vezes silo captados pelos poetas. Como instantaneos naturais extraidos do Album de familia, as suas palayras nos lembram uma inocéncia e um temor perdidos, uma proximidade de experiéncia que ainda nao sofreu (ou se beneficiou) do distanciamento do pensamento reflexivo. A biologia condiciona nosso mundo perceplivo. Quando ser humano nasce, seu c6rtex cerebral tem apenas 10.2 20% do complemento normal de células nervosas de um cérebro maduro; além disso, muitas das células nervosas existentes nao estio conectadas umas as outras.? A crianga nao tem mundo. Ela nao é capaz de distinguir entre 0 eu e 0 meio ambiente externo. Ela sente, mas suas sensagdes nao esto Jocalizadas no espaco. A dor esta af simplesmente, ¢ ela Ihe responde chorando; nfo parece que ela a localiza em uma parte especifica de seu corpo. Apenas por um curto tempo, os homens, quando criangas, conheceram como é viver em wm. mundo no dualista. Durante as primeiras semanas de vida, os olhos do recém-naseide nfo foealizam adequadamente, Ao final do primeiro més, 0 bebé é capaz de fixar o olhar em um objeto que esteja em sua visada, e ao final do segundo més comega a parecer a fixagao binocular com convergéncia? No entanto, ainda no quarto més, a crianga mostra pouco interesse em explorar visualmente o mundo além de um raio de um metro. A crianga nao se locomove e somente pode fazer pequenos movimentos com a cabeca e os membros. Moyer 0 corpo seguindo uma linha mais ou menos reta é essencial para a construgo do espago experiencial mediante as coordenadas VUSCSCEP SEES SESE EY SS See 4 Espago, Ligar ea Crianga bisicas de frente, atrés © lados. A maioria dos mamiferos, logo apés o nascimento, adquire um sentido de orientagao, dando alguns passos seguindo a mie. A erianga deve adquirit esta habilidade mais gradualmente devido sua lenta matu- Fagao, Que acontecimentos e atividades podem dar & crianga a sensagdo de espago? Um bebé, no mundo ocidental, passa grande parte de seu tempo deitado, De vez em quando é carregado para arrotar, brincar e fazer agrado. A partir desses acontecimentos pode advir a distingio experimental entre horizontal e vertical. No nivel de atividade, uma crianga co- nhece 0 espaco porque pode mover scus membros: chutar o cobertor que a incomoda é uma amostra da liberdade que, no adulto, esté associaca com a idéia de-ter espaco. Uma erianga explora o meio ambiente com sua boca.’ A boca se ajusta ao contorno do seio da mae, Mamar é uma atividade muito sratificante, pois requer a participacao de diferentes sentidos: tato, olfato e paladar. Além disso, mamar alimenta o bebé, dando-Ihe uma sensacao de prazer. O estémago se dilata e se contrai medida que o alimento entra e & digerido. Esta fungio fisiolégica, 20 contrério de respirar, & identificada conscientemente com estados alternados de desconforto e sa- tisfagdo. “Vario” ¢ “cheio” sto experiéncias viscerais de im- portancia definitiva para o homem. O bebé as conhece e res- ponde com choro ou sorriso. Para o adulto, tais experiéncias corriqueiras adquirem um significado metaf6rico adicional como sugerem as expressdes: 'chorar de barriga cheia", “sen- tir um vazio por dentro”, “estar na plenitude da vida". A crianga usa suas mos para explorar as caracteristicas titeis ¢ geométricas de seu meio ambiente. Enquanto a boca agarra o bico do seio ¢ adquire a sensagdo de espaco bucal, as maos ‘movem.se ativamente sobre 0 seio, Bem antes que os olhos da crianca possam se fixar em um pequeno objeto e discriminar sua forma, suas mAos ja o apreenderam ¢ conheceram suas propriedades fisicas através do tato. (© mundo visual da crianga é especialmente dificil de + descrever porque somos tentados a atribuir-lhe as categorias \ bem conhecidas do mundo visual do adulto. A maior parte 25 Espaco, Lugar a Crianga das vezes nos eseapa como os sentidos do olfato, paladar e tato estruturam o meio ambiente; até mesmo as pessoas cultas ndo tém um vocabulério diversificado para descrever os mundos olfativo e tatil. Mas nao enfrentamos problema algum com o visual. Gravuras e diagramas, tanto quanto as palavras, esto. nossa disposigdo. O mundo visto através dos olhos dos | adultos ou das criancas mais velhas 6 vasto e nitido nele os } objetos esto claramente ordenados no espago, Isto nao acon | tece com o bebé. Falta.ao seu espaco visual estrutura e perma | néncia. Os objetos neste espago sto impressdes; portant ten | dem a existir para elesomente enquanto permanecem em seu campo visual.’ As formas e tamanhos dos objetos carceem de consténcia, que as criangas mais velhas jé identificam. Piaget afirma que um bebé pode ndo reconhecer a mamadeirn quando é dada ao contrétrio; com cerca de vito meses aprende aviri-la” Para uma crianca mais yelha, com experiéncia, um objeto parece menor a distancia, e a diminuigdo em tamaaho de um objeto que recua é sem pensar interpretada como um aumento da distancia. Para o bebé, no entanto, um objeto que Parece pequeno porque esté distante pode ser tomado como um outro objeto, O bebé possui uma capacidade inata para reconhecer as qualidades rudimentares das coisas tridimen- sionais, sua consténcia de tamanho e forma ea distingao entre Jonge e perto, mas o reconhecimento age dentro de um campo muito restrito comparado com 0 de um bebé que ja esta enga~ tinhando! A capacidade de ver esta intensamente firmada em expe- rigncias nao visuais. Mesmo para uma crianga mais velha, a lua no alto 6 facilmente considerada como um objeto dite rente da lua no horizonte. Que a Lua se move ao redor da Terra € uma abstracdo alheia a experiéncia da erianca: a Laa é vista apenas em dados momentos, separados por intervalos de tempo que a crianca sente quase como eternos. A gravura de uma estrada que leva a um distante chalé parece facile interpretar; contudo-a estrada s6 tem sentido completo para alguém que a tenba percorrido. Uma crianga que nao anda, nao pode tor sentido de disténcia quanto ao gasto de encrgia Para veneer uma barreira espacial. Uma crianga aprende de-

You might also like