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AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA:

INFANTIL, ADULTO E IDOSO E


BIOFÍSICA ACÚSTICA
APLICADA À REABILITAÇÃO
AUDITIVA
Elaboração

Julia de Souza Pinto Valente

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO....................................................................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA.................................................................................................. 5

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................................. 7

UNIDADE I
FÍSICA ACÚSTICA APLICADA À FONOAUDIOLOGIA.............................................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1
BASES FÍSICAS DO SOM E PSICOACÚSTICA............................................................................................................................................ 9

CAPÍTULO 2
NÍVEL DE INTENSIDADE SONORA E NÍVEL DE PRESSÃO SONORA.............................................................................................. 14

CAPÍTULO 3
LIMIARES AUDITIVOS E SENSIBILIDADE AUDITIVA.............................................................................................................................. 16

UNIDADE II
BASES FÍSICAS DA AUDIÇÃO.......................................................................................................................................................................................... 19

CAPÍTULO 1
ESTUDO DO APARELHO AUDITIVO PERIFÉRICO: ORELHA EXTERNA, MÉDIA E INTERNA.................................................. 19

CAPÍTULO 2
VIAS AUDITIVAS CENTRAIS............................................................................................................................................................................ 24

CAPÍTULO 3
VIAS VESTIBULARES......................................................................................................................................................................................... 26

UNIDADE III
AUDIOLOGIA BÁSICA......................................................................................................................................................................................................... 28

CAPÍTULO 1
AUDIÇÃO NORMAL E PATOLÓGICA. PATOLOGIAS ASSOCIADAS À PERDA AUDITIVA......................................................... 28

CAPÍTULO 2
CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS AUDITIVAS.............................................................................................................................................. 37

CAPÍTULO 3
AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA BÁSICA............................................................................................................................................................. 44

UNIDADE IV
AUDIOLOGIA BÁSICA........................................................................................................................................................................................................ 88

CAPÍTULO 1
AVALIAÇÃO AUDITIVA NA CRIANÇA........................................................................................................................................................... 88

CAPÍTULO 2
AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA EM ADULTOS............................................................................................................................................... 102

CAPÍTULO 3
AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA EM IDOSOS................................................................................................................................................... 104

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................................................................... 106

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................................................................ 107
APRESENTAÇÃO

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como
pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia
da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de


modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal
quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas


em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio
de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que
visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes
de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto
antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente
para o autor conteudista.

Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma
pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em
seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas
experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida
para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar


Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do
estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o
caso.

Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam
para a síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/
conclusões sobre o assunto abordado.

Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo,
facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar


Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar
a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o
módulo estudado.

6
INTRODUÇÃO

A audição é um dos sentidos mais importantes para o ser humano. É por meio
dela que o indivíduo se desenvolve, adquire linguagem e “aprende a falar”.
Sabe-se que, a não ser em casos de dificuldade de aquisição da linguagem, a língua
não é aprendida ou ensinada, e, sim, vivida. E, para que essa vivência da língua
ocorra, é fundamental que o indivíduo possua a capacidade de ouvir.

O nosso sistema auditivo é extremamente complexo, possuindo diversas funções,


tanto periféricas como centrais. O sistema auditivo periférico está pronto
quando nascemos (apenas algumas estruturas aumentam de tamanho junto com
o crescimento facial). No entanto, o sistema auditivo central se desenvolve no
decorrer da vida e precisa ser exposto ao som para que esse desenvolvimento
aconteça.

Diversas alterações podem acometer o nosso sistema auditivo e impedir


que este consiga desempenhar seu papel de forma correta, acarretando uma
perda auditiva. Essas alterações podem acontecer desde a nossa embriogênese
(quando o aparelho auditivo está sendo formado), passando por percalços
durante o decorrer da vida do indivíduo, até sofrerem as consequências do
envelhecimento. Independente do momento em que a perda auditiva ocorre,
ela sempre trará prejuízos.

A perda auditiva, quando congênita ou na infância, traz prejuízos na aquisição da


linguagem e no desenvolvimento do indivíduo como um todo. Quando ocorre
após esse período traz consigo o isolamento social e, muitas vezes, dificuldade
em exercer o papel laboral. Já na população idosa, a perda auditiva soma-se a
outros fatores, como senescência, e, muitas vezes, agrava casos de rebaixamento
cognitivo. Independente da época da vida em que se instala, o seu diagnóstico
precoce é fundamental para uma melhor reabilitação.

O diagnóstico da perda auditiva é realizado pelo fonoaudiólogo por meio,


inicialmente, da avaliação audiológica básica (composta por audiometria e
imitanciometria). Esses exames avaliam a capacidade de o indivíduo ouvir o
som, avaliando o mais baixo que cada ouvido é capaz de ouvir. Para a realização
desses exames é fundamental o conhecimento da física acústica do som, além da
fisiologia do aparelho auditivo, os quais serão os enfoques da primeira e segunda
unidade.
7
Introdução

Após esses conceitos bem estabelecidos, a técnica de realização dos exames, bem
como a classificação dos resultados encontrados, serão abordadas na terceira
unidade. Por fim, na quarta unidade será abordada a particularidade da realização
dos exames nas diferentes faixas etárias (criança, adultos e idoso) a fim de
possibilitar a aplicação correta dos testes, levando em conta as especificidades do
sujeito avaliado.

Todos esses tópicos necessários para a realização do exame audiológico básico e


diagnóstico da perda auditiva serão abordados nesse módulo, conforme objetivos
abaixo.

Objetivos
» Compreender os princípios básicos da Física Acústica e das bases físicas
aplicadas à audição.

» Compreender os princípios básicos da Avaliação Audiológica Básica.

» Analisar e correlacionar os dados obtidos por meio da Avaliação


Audiológica Básica.

8
FÍSICA ACÚSTICA
APLICADA À UNIDADE I
FONOAUDIOLOGIA

Ao realizarmos a avaliação auditiva de um indivíduo, estamos analisando se o


seu sentido de audição é capaz de detectar e reconhecer o som. Para realizar essa
avaliação, o ponto de saída é compreender o que é o som e suas características, o
que será abordado nesta unidade, sempre correlacionando com a prática clínica.

Ao avaliarmos a audição de uma pessoa, estamos avaliando a sua capacidade


de detectar e processar a informação sonora. Como poderemos avaliar bem
essa capacidade se não conhecermos bem o que é som? Como podemos
querer avaliar algo que não conhecemos?

Precisamos ter muito claro o nosso papel quanto avaliador e a responsabilidade


que carregamos. Quanto mais conhecimento tivermos sobre o objeto avaliado,
mais precisão teremos em nossas avaliações.

CAPÍTULO 1
Bases Físicas do som e Psicoacústica

Bases físicas do som


Para compreendermos as bases físicas do som, precisamos inicialmente ter em
mente que na verdade estamos falando de uma onda sonora, ou seja, o som é
uma onda que se propaga através da movimentação de moléculas do meio
(normalmente o ar, porém podemos ouvir debaixo da água, pois ela se propaga
no meio aquoso também).

Uma onda pode ser definida como uma perturbação ou abalo que é transmitido
através do vácuo ou de um meio gasoso, líquido ou sólido. Importante ressaltar
que toda a onda transmite energia de um ponto a outro (no nosso caso, a onda
sonora transmite o som). Podemos ver na figura abaixo um exemplo de onda:

9
Unidade i | Física acústica aplicada à fonoaudiologia

Figura 1. Exemplo de onda.

Fonte: elaborada pelo autor.

As ondas podem ser de duas naturezas:

» Mecânica ‒ ondas que se propagam em meios deformáveis ou elásticos


(onda na água, onda na corda, onda sonora...).

» Não mecânica ‒ ondas que não necessitam de um meio material para


sua propagação e são constituídas por variações de campos elétricos e
magnéticos.

Ao analisarmos especificamente a onda sonora, observamos algumas de suas


características que influenciarão posteriormente na realização da audiometria:

O som é uma ONDA MECÂNICA LOGITUDINAL.

Por que MECÂNICA?

Porque ela movimenta matéria, no caso, o Ar. Se não tiver ar, como no vácuo,
não tem som. Outro tipo de onda são as eletromagnéticas, que não movimentam
massa, como a luz. Não é o nosso caso.

Por que LONGITUDINAL?

O Som é longitudinal pois sua “vibração” é na mesma direção da propagação


da onda. Outra possibilidade seria a onda TRANSVERSAL, onde a direção da
oscilação e da propagação seria ortogonal (90º), como uma onda numa corda.

Mas, você deve estar se perguntando, e por que isso importa?

O Som (uma onda mecânica transversal) vibra próximo do tímpano e faz uma
força sobre sua superfície. E uma força sobre uma superfície (área) é o que
conhecemos como pressão. É daí que surge o conceito de PRESSÃO SONORA.
A unidade de medida de pressão é Pascal (Pa), que pode ser expressa também

10
Física acústica aplicada à fonoaudiologia | Unidade i

como N/m². Veremos mais adiante sobre essa pressão sonora, mas saiba que ela
é uma das formas de medir o som.

Além disso, por ser uma onda, um outro conceito sobre som bastante utilizado
quando falamos de avaliação auditiva é o de frequência, que na verdade é uma
característica do som e, por consequência, da onda sonora. A frequência pode
ser definida como número de ciclos (ondas) que as partículas materiais realizam
em um segundo. Sua medida ocorre em Hertz (Hz) ‒ ciclos por segundo.

Durante a audiometria, realizamos a medição de 8 frequências em cada orelha.


Existem sons de todas as frequências, porém a audição humana é sensível
somente aos sons cuja faixa de frequência varia de 20 a 20.000 Hz, por isso as
ondas sonoras abaixo de 20 Hz são chamadas de Infrassom e as ondas sonoras
acima de 20.000 Hz são chamadas de Ultrassom (ambas não ouvidas pelo ser
humano). Na figura abaixo, podemos observar a faixa de frequência da audição
humana.

Figura 2. Faixa de frequência da audição humana.

250Hz 20mil Hz

INFRASSON FAIXA AUDÍVEL AO SER HUMANO ULTRASSON

Fonte: elaborada pelo autor.

Observando a imagem acima, conseguimos perceber que sons mais graves


possuem um comprimento de onda maior (menos ciclos por segundo) e sons
mais agudos possuem um comprimento de onda menor (mais ciclos por
segundo). Isso faz com que os sons mais graves se propaguem de forma mais
fácil e, por consequência, sejam mais difíceis de ser isolados (utilizamos muito
esse conceito quando precisamos atenuar o som em local laboral, por exemplo).

Na avaliação auditiva padrão (audiometria) são avaliadas as frequências de 250,


500, 1000, 2000, 3000, 4000, 6000 e 8000 Hz bilateralmente.

Outro conceito importante que temos que entender para a avaliação auditiva é
o de intensidade. Enquanto a frequência está relacionada a ciclos por segundo

11
Unidade i | Física acústica aplicada à fonoaudiologia

e ao comprimento de onda, a intensidade se relaciona com o tamanho da onda,


conforme observamos na figura abaixo:

Figura 3. Representação de intensidade da onda sonora.

SOM FRACO SOM FORTE

Fonte: elaborada pelo autor.

Como podemos observar, quanto maior a amplitude da onda, maior a pressão


efetiva e a energia transportada, por consequência mais forte o som. Quanto
menor for a amplitude, mais fraco será o som. Na avaliação audiológica,
avaliamos a intensidade mínima que o indivíduo escuta, sendo testado de – 10
até 120 dB.

Agora, com esses dois conceitos de frequência e intensidade bem definidos,


conseguimos entender que na audiometria testamos o mais baixo de intensidade
que o indivíduo ouve para diversas frequências.

Aprofundaremos mais sobre essas relações com o estudo da Psicoacústica, a


seguir.

Psicoacústica
A Psicoacústica está relacionada com aquilo que se ouve, pois ela descreve as
relações existentes entre as sensações auditivas do indivíduo e as propriedades
físicas de um estímulo sonoro, levando em conta a frequência e a intensidade.
Ela lida com os atributos de sensação do indivíduo para a frequência (Pitch) e
para a intensidade (Loudness), além de lidar com os julgamentos ou impressões
individuais em relação a ruídos, sons musicais, vozes humanas, entre outros.

O Pitch é um atributo da sensação auditiva em termos de sons que podem ser


ordenados em uma escala de tonalidade, ou seja, Grave x Agudo. É a nossa
sensação subjetiva da variação de frequência do som. Porém, por ser subjetiva
não há precisão em sua avaliação e, muitas vezes, frequências de Pitch mais
agudo tendem também a ser interpretadas de intensidade mais altas (mesmo essa
informação não sendo verdadeira), pois estão relacionadas também ao Loudness,
que também é subjetivo.

12
Física acústica aplicada à fonoaudiologia | Unidade i

O Loudness é o atributo da sensação auditiva em termos dos quais os sons podem


ser ordenados em uma escala que varia de fraco a forte. É a nossa sensação
subjetiva de intensidade do som. A nossa sensibilidade auditiva para mudanças
na intensidade sonora é menos precisa do que na frequência e é necessário pelo
menos 1 dB de intervalo para percepção de diferença na intensidade.

A audiologia e a psicoacústica são áreas afins, uma vez que os testes audiométricos
subjetivos para medição da acuidade auditiva do indivíduo são denominados
testes psicométricos ou psicoacústicos (dependem que o indivíduo detecte e,
algumas vezes, interprete os sons).

Durante toda a vida, o indivíduo recebe uma grande quantidade de informações


sonoras que são captadas, classificadas e arquivadas na memória. Por isso,
dependendo do indivíduo, os sons podem provocar diferentes reações físicas e
emocionais.

A audição humana se comporta como um radar, uma vez que capta sons de todas
as direções e de diferentes distâncias, nos informa sobre localização e distância
da fonte sonora, funcionando como mecanismo de alerta e de defesa. Nossos
ouvidos permanecem em constante vigília (por isso, colocamos um alarme
sonoro como despertador, mesmo dormindo ele está funcionando, diferente,
por exemplo, da visão).

Além disso, a audição permite o desenvolvimento completo do indivíduo e sua


comunicação em sociedade; por isso, seu pleno funcionamento é de extrema
importância.

13
CAPÍTULO 2
Nível de intensidade sonora e nível de
pressão sonora

Quando falamos de som, como já vimos acima, podemos observar a sua


intensidade (que varia de fraca a forte) e a sua frequência (que varia de grave a
aguda). Quando falamos de avaliar o som mais baixo que o indivíduo consegue
ouvir, estamos avaliando o nível de intensidade sonora ou o nível de pressão
sonora mais baixo que o paciente consegue ouvir. Por isso, o nível de intensidade
sonora e o nível de pressão sonora são dois conceitos bem importantes quando
tratamos de exames de audição, assim, vamos estudá-los mais detalhadamente
agora.

Nível de intensidade sonora


Para entendermos o nível de intensidade sonora, precisamos lembrar que
intensidade sonora é uma medida da potência sonora por unidade de área e a
expressamos em watt/m2. Para entender melhor esse conceito, não podemos
esquecer que o som é uma vibração, ou seja, uma energia, e essa energia (som) se
propaga pelo ambiente (por uma área), por isso é expressa em watt/m2.

A variação de intensidade sonora (ou seja, a energia propagada em uma


determinada área) que o ouvido humano é capaz de captar é bem variável,
pois ouvimos de sons bem baixos (como o sussurro) até sons bem fortes (como
de uma explosão). Para que possamos representar essa variação em uma escala
mais correta e fidedigna, a escala de decibel (que é uma escala logarítmica) se
mostra adequada para casos de grande variação e é por isso que medimos o
som e, por consequência, a audição em decibéis.

O decibel (dB) é uma unidade que indica a proporção de uma quantidade


física (geralmente energia ou intensidade) em relação a um nível de referência
especificado ou implícito. Um decibel é um décimo de um bel, uma unidade
raramente usada.

Ou seja, ao medirmos um nível de intensidade sonora, o convertemos para


a escala de decibel e passamos a ter, então, o nível de intensidade sonora em
decibel, por exemplo, 20 dB de intensidade sonora.

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Física acústica aplicada à fonoaudiologia | Unidade i

Aqui, o importante é entender que o decibel de nível de intensidade sonora que


medimos, seja na audiometria, seja em um som ambiente, é uma escala relativa,
ou seja, o zero não significa ausência de som, mas, sim, um valor baixo em uma
escala relativa (esse conceito será melhor explicado quando falarmos de limiares
auditivos).

Nível de pressão sonora


Um outro modo de realizar a medição do som é avaliar o nível de pressão
sonora propagada no ambiente. Lembremos que durante a propagação da onda
sonora, há o efeito de variação da pressão do ar, as partículas se movem e com
esse movimento vibratório há, alternadamente, zonas de compressão e zonas de
rarefação. O nível de pressão sonora, da mesma forma que o nível de intensidade
sonora, abarca uma grande variação e, por isso, também faz o uso da escala em
decibel.

Em resumo, podemos tanto usar o nível de intensidade sonora quanto o nível


de pressão sonora para realizar a medição de som. Da mesma forma, podemos
apresentar um som controlando o seu nível de intensidade sonora ou seu nível de
pressão sonora. É por esse motivo que precisamos saber qual das duas medidas o
equipamento que estamos utilizando para realizar os exames usa.

Ambas as medidas usarão como escala o decibel. O importante é saber que só


podemos fazer comparações de cálculos com sons com medidas iguais (ou seja,
sons medidos em pressão sonora devem ser comprados apenas com outros sons
que utilizarem a mesma medição). Essa última parte é importante pois, durante
a avaliação audiológica básica, para se determinar o diferencial entre limiar
auditivo e limiar de reflexo, fazemos o cálculo de duas intensidades sonoras que
devem ter sido obtidas usando a mesma medida.

Caso haja a necessidade de realizar a conversão de uma medida para outra, o


nível de pressão sonora é 30dB mais baixo, aproximadamente. Ou seja, 120 dB de
pressão sonora irá corresponder a 90 dB de nível de intensidade sonora. Porém,
novamente vale ressaltar que a título de comparação e cálculo devemos sempre
ter as duas intensidades sonoras realizadas com a mesma medida.

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CAPÍTULO 3
Limiares auditivos e sensibilidade
auditiva

Como vimos anteriormente, o ouvido humano não é sensível a todos os sons,


ele possui uma faixa de frequências que consegue captar e, dentro dessa faixa de
frequência, essa sensibilidade varia. Por isso, quando fazemos audiometria de alta
frequência o limiar de normalidade difere do usado na audiometria convencional,
pois a nossa sensibilidade para as frequências mais altas é diferente. Essa faixa de
audição humana foi esclarecida por meio de experimentos psicoacústicos.

O limiar mínimo de detecção do som pelo indivíduo é chamado de limiar auditivo.


Esse mínimo é definido como a intensidade mais baixa de som que é capaz de
ser percebida pelo indivíduo para um tom puro em 50% das vezes em que for
apresentado. Observem que não esperamos que no mais baixo se escute todas
as vezes, isso porque nossa percepção de ouvir o baixo é influenciada por vários
aspectos, como, por exemplo, a atenção.

É importante que esse conceito de limiar auditivo esteja bem estabelecido


para quem realizará a audiometria. Vejo que, na prática clínica, o conceito
de 50% muitas vezes não é seguido, porém é obrigatório assumir os 50% de
acerto para considerar o limiar auditivo, uma vez que toda a padronização
para classificação dos resultados se baseia nesse conceito. A pesquisa do
limiar auditivo deve ser extremamente criteriosa.

A área de audibilidade foi estabelecida por meio de uma pesquisa realizada com
indivíduos otologicamente normais, entre 18 e 25 anos, na Inglaterra e nos
EUA. Observou-se nesse estudo que a área da fala concentra energia na faixa de
frequência entre aproximadamente 100 e 8000 Hz, com intensidade entre 30 a
80 dB. Baseado nisso, na audiometria, determinamos os limiares auditivos para
cada frequência entre 250 e 8000 Hz, os resultados obtidos foram anotados no
audiograma abaixo:

Figura 4. Audiograma.
125 250 500 1k 2k 3k 4k 6k 8k (Hz)
0

10

20

30

40
59

60

70
80

90

100

110

120

Fonte: elaborada pelo autor.

16
Física acústica aplicada à fonoaudiologia | Unidade i

Observamos que há valores negativos quando analisamos a intensidade no


audiograma. Isso ocorre pelo fato de que há indivíduos que ouvem em valores
de pressão sonora inferior ao valor de referência. Lembremos o que já foi dito
acima quando vimos a medida de medição sonora, onde por ser uma escala
relativa, o zero não significava ausência de som. Essa escala e o padrão de
normalidade foram criados a partir de referências de medicação da audição de
pessoas consideradas normais. Na nossa prática clínica encontraremos pessoas
que ouvem pior que a média (o que caracteriza a perda auditiva se for acima
de 25 dB) e pessoas que ouvem melhor que a média estabelecida através dos
estudos.

Com o conceito de limiar auditivo bem estabelecido, precisamos, por fim,


entender o conceito de nível de sensação sonora. O nível de sensação sonora
(também medida em dB) é a diferença entre o nível do limiar auditivo do
indivíduo e o estímulo sonoro apresentado. Portanto, é individual e varia de
acordo com a frequência e a intensidade do estímulo apresentado.

Por exemplo, temos três indivíduos com níveis de audição diferentes expostos
a mesma intensidade, com isso, o nível de sensação auditiva será diferente para
cada um deles.

Figura 5. Exemplos de nível de sensação.

Nível de audição Exposição: 100 dB Níveis de sensação

Indivíduo 1 - 20 dB Indivíduo 1 - 80 dB
Indivíduo 2 - 40 dB Indivíduo 2 - 60 dB
Indivíduo 3 - 60 dB Indivíduo 3 - 40 dB

Fonte: elaborada pelo autor.

É importante novamente ressaltar que para a obtenção do nível de sensação


precisamos do limiar auditivo e do som de exposição medidos com a mesma
medida.

O nível de sensação será um conceito bastante trabalhado na reabilitação do


paciente com perda auditiva, pois o objetivo será restabelecer o nível de sensação
igual ou próximo ao ouvinte normal, possibilitando, assim, a compreensão dos
sons.

17
Unidade i | Física acústica aplicada à fonoaudiologia

O estudo do som, entender suas características e como ele se propaga é


muito importante para a compreensão da audição como um todo. Segue um
vídeo em que podemos visualizar de forma didática o conteúdo abordado
até aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=kR5FSlOPrhI&ab_channel=BrasilEscola.

18
BASES FÍSICAS DA
AUDIÇÃO UNIDADE II

Ao realizarmos a avaliação auditiva, estamos avaliando o desempenho do aparelho


auditivo desse indivíduo. Para que essa avaliação ocorra de forma correta é
imprescindível conhecer a anatomia e a fisiologia daquilo que será analisado,
bem como suas possíveis alterações. Esse conhecimento nos proporciona a
possibilidade do raciocínio clínico, que, em muitas situações, é o diferencial para
um diagnóstico correto da audição. Ter o poder de realizar o raciocínio clínico
faz toda a diferença durante a prática profissional do audiologista.

Nesta unidade, conheceremos como é a fisiopatologia do sistema auditivo (tanto


central, como periférico) bem como do aparelho vestibular. Esse conhecimento
será fundamental para os raciocínios que serão demonstrados posteriormente,
quando falarmos sobre os exames.

Vale ressaltar que, para fins didáticos, o aparelho auditivo será dividido em porção
periférica (ouvido externo, médio e interno) e em vias auditivas centrais.

CAPÍTULO 1
Estudo do aparelho auditivo periférico:
orelha externa, média e interna

Como já comentado acima, para um melhor estudo do nosso aparelho auditivo,


ele será dividido em duas porções: a periférica e a central. Neste primeiro capítulo,
falaremos sobre a parte periférica, a qual é composta por orelha externa, média e
interna.

Figura 6. Parte periférica do aparelho auditivo (orelha externa, média e interna).

Fonte: https://br.depositphotos.com/stock-photos/ouvido-interno.html?filter=all.

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Unidade ii | Bases físicas da audição

A primeira coisa que precisamos ter em mente quando falamos da nossa parte
periférica da audição é que ela já nasce pronta, como já mencionado anteriormente.
O único fato que acontece com ela durante a nossa vida é aumentar de tamanho
junto com o nosso crescimento facial (sendo a nossa cóclea a única estrutura que
não participa desse crescimento, uma vez que já nasce com o tamanho que terá
durante toda a nossa vida). Dito isso, vamos agora às três orelhas que compõem
nossa estrutura auditiva externa: a orelha externa, a média e a interna.

Orelha externa
A orelha externa é constituída pelo pavilhão auricular (estrutura cartilaginosa)
e pelo meato acústico externo (com porção cartilaginosa e porção óssea), como
podemos ver na figura abaixo:

Figura 7. Orelha externa.

Fonte: https://br.depositphotos.com/stock-photos/anatomia-da-orelha.html?filter=al.

Em crianças, a porção óssea só se desenvolve após os 6 meses e, por isso, quando


vamos realizar o exame de imitanciometria em crianças com menos de 6 meses
precisamos de uma sonda diferente (guardem essa informação, pois voltaremos
nela quando falarmos de avaliação de crianças).

A função da orelha externa é proteger o meato acústico externo (MAE) e a


membrana timpânica (MT) contra danos mecânicos, além de promover a
captação e o encaminhamento da onda sonora para a orelha média. O som
captado pela orelha externa percorre o meato acústico externo e, ao encontrar
com a MT, faz com que ela vibre. Essa vibração da MT é transmitida aos
ossículos localizados na orelha média e ligados à janela oval.

20
Bases físicas da audição | Unidade ii

É aqui, na orelha externa, que encontramos as rolhas de ceras que nos impedem
de realizar os exames auditivos. A cera é a proteção do ouvido contra agentes
externos, porém, alguns indivíduos possuem uma produção exacerbada da cera,
acarretando o acúmulo desta ou o uso frequente de cotonetes (que podem,
inicialmente, dar a impressão de estarem limpando o ouvido, mas, na verdade,
fazem com que a cera se acumule mais). Em casos de obstrução do meato acústico
externo por presença de cera, observado na meatoscopia, o paciente deve ser
encaminhado para remoção e o exame só deve ser realizado após a limpeza
completa.

Orelha média
A orelha média é uma cavidade que contém a cadeia ossicular e tuba auditiva,
como podemos observar na figura abaixo:

Figura 8. Orelha média.

Fonte: https://ecomedice.com.br/produto/protese-ossicular-em-ptfe/.

A cadeia ossicular é composta pelo martelo, o estribo e a bigorna, ossículos


ligados entre si. Esses três ossículos são os menores ossos do corpo humano
(cada um tem aproximadamente o tamanho de um grão de feijão), mas possuem
uma função muito importante. O martelo se fixa na membrana timpânica e o
estribo se liga ao vestíbulo, tendo, então, a bigorna a função de interligar os
dois. Ainda na orelha média, também fazem parte dessa estrutura os músculos:
estapédio e tensor do tímpano (esses músculos são importantes na pesquisa do
reflexo acústico estapediano, exame que veremos posteriormente).

21
Unidade ii | Bases físicas da audição

Os ossículos têm duas funções principais: transmitir as vibrações sonoras


aos líquidos da orelha interna e evitar que esta seja invadida por vibrações
excessivamente fortes. Devido à sua anatomia, os ossículos produzem um efeito
de alavanca que amplifica essa vibração para transmiti-la à janela redonda. A
amplificação dessa vibração também ocorre devido à diferença de área existente
entre a MT e a janela redonda. Essa amplificação é necessária para compensar
a perda de energia que irá ocorrer na orelha interna, já que ela é preenchida de
endolinfa.

Na orelha média também encontramos a tuba auditiva, responsável por


estabelecer comunicação entre a orelha média e a nasofaringe (conforme
observado na figura acima). Ela tem como funções biológicas permitir
que a pressão da orelha média seja equalizada com a pressão externa do ar,
possibilitando a drenagem das secreções normais ou decorrentes de doença
da orelha média, para a nasofaringe. Quando a tuba não funciona bem, temos
problemas de orelha média que podem gerar otites e causar perdas auditivas.

Orelha interna
A orelha interna, localizada na porção petrosa do osso temporal, é formada
pelo labirinto ósseo e o membranoso. Na parte anterior da orelha interna,
encontra-se a cóclea, principal responsável pela função auditiva.

A cóclea é uma estrutura helicoidal, com aproximadamente duas voltas e meia.


Esse canal em espiral é dividido em duas porções pela lâmina espiral: a rampa
do vestíbulo e a rampa do tímpano, ambas preenchidas por perilinfa e que
se comunicam pelo helicotrema. Duas membranas, a basilar e a de Ressiner,
partem da lâmina espiral e se fixam no ligamento espiral, formando entre si uma
terceira rampa preenchida por endolinfa. Sobre a superfície da membrana basilar
está localizado o órgão de Corti, o qual contém células eletromecanicamente
sensíveis, chamadas de células ciliadas, as quais são receptores terminais que
geram impulsos nervosos em resposta às vibrações sonoras.

A vibração da janela redonda faz com que a endolinfa dentro da orelha interna
se movimente. Ao se movimentar, as células ciliadas sofrem ação mecânica e
realizam o seu papel de transdutor mecano-elétrico, enviando a informação
para o nervo auditivo, o qual transmitirá este sinal auditivo até o córtex pelas
vias auditivas. Abaixo, podemos ver a cóclea conforme acabamos de descrever.

22
Bases físicas da audição | Unidade ii

Figura 9. Orelha interna.

Fonte: https://pt.dreamstime.com/illustration/c%C3%B3clea.html.

O estudo da anatomia e fisiologia é muito importante para entendermos o


que estamos avaliando. Os links, a seguir, são dois vídeos que mostram a
fisiologia da audição de forma bem didática e ilustrativa:

» https://www.youtube.com/watch?v=FLUwYCHFVas&ab_channel=MED-.

» https://www.youtube.com/watch?v=RBtufjmnwRw&ab_channel=Isolda
Bravin.

23
CAPÍTULO 2
Vias auditivas centrais

As vias centrais iniciam logo após a saída da cóclea com o VIII par craniano
(nervo vestíbulo coclear), conforme a figura abaixo demonstra.

Figura 10. Vias auditivas centrais.

Córtex auditivo
Tálamo

Colículo Inferior

Leminisco lateral
Núcleo coclear

Nervo auditivo
Complexo olivar superior
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/816418238680132106/.

Essas vias auditivas são compostas por todas as estruturas que formam o trajeto
que a informação sonora percorre saindo da cóclea até o córtex auditivo. Os
impulsos sonoros são transmitidos do nervo auditivo até os núcleos cocleares
bilateralmente, chegando até o tronco encefálico. Posteriormente, a informação
será transmitida ao córtex auditivo.

Quando as fibras nervosas saem da cóclea, ao chegarem no tronco encefálico


formam um ramo coclear do nervo auditivo, gerando os núcleos cocleares. Lá, o
impulso pode ser modificado e é onde se inicia a sua decodificação. Neste núcleo,
as fibras estão organizadas de forma a manter a tonotopia da cóclea. Esta é a única
estrutura até o tronco encefálico que recebe informações ipsilaterais. Lesões nessa
região podem gerar dificuldade na percepção ipsilateral e podem simular uma
disfunção do nervo auditivo.

24
Bases físicas da audição | Unidade ii

É importante entender bem essa via, pois um dos exames eletrofisiológicos


mais realizado pelo fonoaudiólogo, o PEATE (potencial evocado auditivo de
tronco encefálico), analisa a via neurológica da saída da cóclea até tronco
encefálico.

A próxima estrutura no caminho da via auditiva até o córtex auditivo é o lemnisco


lateral. Ele é a via primária de tráfego de informações auditivas ascendentes e
descendentes. Como os núcleos cocleares, aqui também existe a organização
tonotópica, enviando informações inibitórias e excitatórias ao colículo inferior.

O colículo inferior, por sua vez, mantém a organização tonotópica e apresenta uma
alta resolução de frequência, sendo também sensível a modificações espaciais e de
tempo e estimulação binaural, sugerindo, assim, sua participação na localização
sonora. Acredita-se que devido a sua provável participação em diversas áreas
sensoriais, ele seja o principal centro envolvido no processamento de informações
auditivas que interferem no comportamento do indivíduo.

Ainda no tronco encefálico, o corpo geniculado é a próxima estrutura, no caminho


ascendente, e sua parte ventral parece ser a região que transmite informação
específica de discriminação para o córtex auditivo. As informações que chegam
são prioritariamente contralaterais do colículo inferior. Aqui, também é mantida a
tonotopia das informações.

A formação reticular está ligada ao controle da informação eletrocortical. Quando


ativado, o sistema reticular ativador ascendente se projeta para o córtex cerebral,
exercendo sobre ele a função ativadora. Devido a esta função, especula-se que
ele seja responsável pela habilidade de ouvir na presença do ruído (habilidade de
figura-fundo).

Por fim, a última estrutura da via auditiva é o córtex auditivo, o qual mantém
também a tonotopia existente durante todo o trajeto do impulso nervoso. Ele
não é homogêneo e é circulado pela área de associação auditiva (área 42 de
Brodmann). O córtex auditivo primário é responsável pela sensação e percepção
auditiva e, sua ligação com a área Wernick, constitui o córtex de associação da
linguagem.

25
CAPÍTULO 3
Vias vestibulares

Podemos observar que as vias vestibulares compartilham várias estruturas


com a via auditiva (por exemplo: orelha interna e nervo vestíbulo-coclear).
Por esse motivo, pacientes com queixa de tontura devem, também, realizar
a avaliação auditiva e do VIII par. Essa avaliação, muitas vezes, auxilia no
topodiagnóstico e no diagnóstico etiológico da patologia.

O sistema Vestibular é constituído pelo labirinto posterior e possui uma porção


óssea – labirinto ósseo vestibular, constituído por canais semicirculares, e uma
porção membranosa – labirinto mebranáceo, constituído por sáculo, útriculo e
ductos semicirculares. Todas essas estruturas estão na orelha juntamente com a
cóclea, conforme figura abaixo:

Figura 11. Sistema Vestibular.


Utrículo
Canal Semicircular anterior

Canal
Semicircular
Nervo Vestibular lateral
Sáculo
Canal Semicircular posterior

Fonte: https://docplayer.com.br/54400593-Reabilitacao-vestibular-no-ambiente-e-abordagem-do-metodo-pilates-e-seus-acessorios.html.

Desta forma, a orelha interna apresenta duas funções: a de audição e a de equilíbrio.


Esse entendimento é importante para avaliações de alterações em uma dessas
funções, uma vez que por serem o mesmo órgão, o que acometeu uma função pode
também ter afetado a outra.

Os canais semicirculares correspondem a dois terços de um círculo, dispõem-se de


modo a formar ângulos retos entre si (como podemos observar na figura acima)
e representam diferentes eixos de rotação, correspondendo à movimentação de
cabeça angular para frente, para trás e para os lados. Eles formam entre si os
seguintes pares sinérgicos: canais laterais esquerdo e direito, canal semicircular
anterior direito e posterior esquerdo e canal semicircular posterior direito e
anterior esquerdo.

26
Bases físicas da audição | Unidade ii

Os três canais semicirculares possuem em sua extremidade a ampola, onde


encontram-se as células ciliadas receptoras. Em cada ampola há um espessamento
da parede onde a parte mais proeminente é denominada crista ampolar, a qual
contém epitélio de células ciliadas e de células de sustentação. Essas células ciliadas
não são sensíveis à aceleração angular. Quando há a movimentação da cabeça e
o deslocamento da endolinfa dentro dos canais semicirculares, as células ciliadas
são estimuladas e, por consequência, ocorre a descarga neuronal (mecanismo
similar ao que acontece na cóclea).

O sáculo e o utrículo são os outros dois órgãos que formam o aparelho vestibular,
sendo ambos responsáveis pela aceleração linear. O sáculo é uma bolsa de forma
globular que se situa próximo à abertura da rampa vestibular da cóclea. Já o
utrículo, uma bolsa de forma oblonga, localiza-se póstero-superiormente à crista
vestibular. Os receptores da mácula do saco e do utrículo, as células ciliadas, têm
como estímulo a aceleração linear. Devido à gravidade, quando a cabeça está em
repouso, as células estão recebendo continuadamente descarga neuronal; quando
ocorre o movimento e, consequentemente, a movimentação da membrana
otolíitica em relação ao epitélio sensorial, os cílios se inclinam a um aumento ou
uma diminuição da pressão exercida pelos otólitos, gerando, assim, descargas de
acordo com o movimento, enviando informações acerca da aceleração linear.

O sistema vestibular é inervado pelo nervo vestibulococlear (VII par), mesmo par
craniano da audição, que está alojado no meato acústico interno, através da sua
porção vestibular.

Conseguir visualizar a anatomia e a fisiologia do sistema nos auxilia bastante


na compreensão e assimilação deste. Por isso, segue um vídeo sobre o sistema
vestibular:

https://www.youtube.com/watch?v=5qO85eNbsco&ab_channel=Motus
Hominis.

27
AUDIOLOGIA BÁSICA UNIDADE III

CAPÍTULO 1
Audição normal e patológica.
Patologias associadas à perda auditiva

Ser capaz de diagnosticar uma audição como normal ou patológica é um dos


principais papéis do audiologista. Além disso, compreender as patologias que
causam perda auditiva é fundamental para nossa prática clínica. Neste capítulo,
abordaremos esses dois temas importantes para nossa formação.

Atualmente, o JOINT COMMITTEE ON INFANT HEARING, em sua mais recente


publicação, lançou um questionamento para reflexão daqueles profissionais
que trabalham com diagnóstico auditivo infantil: o termo “perda auditiva” é
corretamente utilizado para aqueles indivíduos com perda auditiva congênita?

A reflexão baseia-se no fato de que o termo perda auditiva parte do


pressuposto que alguém tinha audição normal e a perdeu. Porém, bebês
que nascem já com a perda auditiva nunca possuíram uma audição normal
para perdê-la e possuírem a perda auditiva. O termo a ser utilizado nesses
casos ainda não foi definido, porém a reflexão é válida, principalmente se
pensarmos no significado que a palavra “perda” carrega em si.

Audição normal e patológica


Ouvir bem é fundamental para o indivíduo. Quando nascemos necessitamos
da audição para aprender, desenvolver linguagem e nos comunicarmos com o
mundo. Após esse período, ouvir bem nos proporciona participar de forma mais
efetiva no ensino formal e no desenvolver nas relações interpessoais e, então,
ingressar no mundo laboral. Após a vida adulta, ao entrar na senescência, ouvir
bem possibilita a interação e retardamento da debilitação cognitiva.

Mas, afinal, o que seria uma audição normal e uma audição patológica? Existe
um padrão de normalidade para o que consideramos audição normal. Se formos
crianças (até 8 anos) e ouvirmos os sons testados na audiometria até 15dB,
28
Audiologia básica | Unidade iii

temos a audição normal. Já para adultos, consideramos normal até 25 dB. Essa
diferença acontece, pois, a criança precisa ouvir melhor e se expor a todos os
sons para que seu desenvolvimento aconteça de forma plena.

Quando realizamos um exame de audição e não ouvimos mais os sons testados


até as intensidades descritas acima, então estamos diante de uma perda auditiva.
A partir desse momento, podemos dizer que temos uma audição patológica.
Existem diversos tipos de perda auditiva, mas isso é assunto para o nosso
próximo capítulo.

O importante aqui é entender que, por mínima que seja, uma audição patológica
traz prejuízo para o indivíduo, seja ele criança, adulto ou idoso. Nesse cenário,
o diagnóstico precoce da perda auditiva é fundamental, pois proporciona uma
reabilitação ágil, evitando maiores prejuízos.

Um ponto importante a ressaltar é que, mesmo que aconteça de forma unilateral,


ou seja, em apenas um ouvido, a perda auditiva é prejudicial. Nós possuímos
dois ouvidos por alguma razão. Funções auditivas superiores, como localização
sonora e figura-fundo, precisam da audição bilateral para acontecerem de forma
eficaz. Por isso, mesmo que seja unilateral, não podemos ignorar uma perda
auditiva.

O impacto de qualquer perda auditiva na vida do indivíduo depende muito da


sua demanda auditiva. Perdas auditivas maiores e bilaterais tendem a ter uma
consequência maior. Porém, pessoas com demandas auditivas importantes (como
aquelas que trabalham com o público em locais barulhentos) sofrem alterações
auditivas leves.

Patologias associadas à perda auditiva


Diversas patologias estão associadas à perda auditiva. As patologias podem
ocorrer em diversos momentos da vida do indivíduo e causar todos os tipos de
perda auditiva. Neste capítulo, veremos as principais patologias e entenderemos
quais são as principais alterações esperadas.

Para fim didático, estudaremos as patologias a partir de qual estrutura do


aparelho auditivo é afetada, uma vez que esses dados nos dizem muito sobre
qual alteração encontraremos no exame. Sempre será correlacionada a patologia
com a alteração auditiva resultante dela.

29
Unidade iii | Audiologia básica

Eventualmente, já fui questionada por alguns alunos sobre a necessidade de


se saber sobre patologias associadas à perda auditiva sob o argumento de
que a audiometria tem apenas a função de fazer o diagnóstico auditivo da
audição e não da patologia.

Primeiramente, é importante entender que o conhecimento sempre nos auxilia


na nossa prática clínica. Precisamos lembrar que a audiometria é um exame
objetivo. Saber, de antemão, qual a perda auditiva esperada para aquela
patologia que o paciente refere ter nos auxilia bastante na certeza de que os
achados do exame são confiáveis.

Além disso, precisamos sempre lembrar do nosso papel como profissional


de saúde. Conhecer as patologias que envolvem a audição nos possibilita
poder orientar o paciente sobre o que está causando a alteração auditiva,
informar quais as possibilidades de tratamento e realizar encaminhamentos
pertinentes ao caso.

Patologias associadas à perda auditiva a partir do


local do sistema auditivo acometido

Patologias associadas à orelha externa

As patologias associadas à orelha externa são aquelas que envolvem, normalmente,


o meato acústico externo. Todas essas patologias terão como consequência
a perda auditiva condutiva, uma vez que o som encontrará dificuldade de se
propagar pelo sistema auditivo e, por consequência, perderá energia para chegar
à membrana timpânica.

A primeira patologia que podemos pensar é a má formação, que seria também


classificada como uma alteração congênita (ou seja, ocorreu ainda no período
embrionário). Nesses casos, o meato acústico externo não se forma ou apresenta
alguma alteração anatômica. Normalmente, nesses casos o pavilhão auricular
também apresenta alteração. O tamanho do comprometimento auditivo está
relacionado a como a má formação irá afetar o trajeto do som, por isso, é bastante
variável. O tratamento para esses casos pode ser cirúrgico, (normalmente, após
o crescimento facial ter acontecido) ou através do uso de aparelhos auditivos.
Importante ressaltar que até a realização da cirurgia, a criança deve, sim, fazer
o uso de Aparelho de Amplificação Sonora Individuais (AASI), uma vez que a
30
Audiologia básica | Unidade iii

estimulação auditiva é fundamental para o desenvolvimento. Para casos em que


a má formação não permite a colocação do AASI convencional, pode-se lançar
mão do uso do aparelho auditivo em BAHA.

Vale destacar que em muitas situações de má formação do conduto auditivo,


durante a avaliação auditiva, não é possível realizar exames que necessitam
da inserção de uma oliva, como, por exemplo, a imitanciometria e emissão
otoacústica.

Ainda existe a otite externa, uma patologia da orelha externa bastante comum em
indivíduos que tomam muito banho de piscina e de mar, que ocorre, em sua maioria,
pela presença de fungos. A principal característica é a otalgia e, normalmente, não
há perda auditiva (a não ser em casos em que ocorra edema do conduto auditivo).
Além disso, o costume de manipular o ouvido com objetos pode acarretar
pequenas lesões no MAE, que pode infeccionar e ocasionar também a otite externa
(a pele do nosso conduto auditivo é bem fina e sensível a traumas).

É importante ressaltar que algumas alterações de orelha externa, como presença de


obstrução por cera ou de algum objetivo, podem vir a causar dor, desconforto e até
perda auditiva. Porém, nessas situações, o exame auditivo não deve ser realizado.
O paciente deve ser encaminhado ao otorrinolaringologista e, posteriormente à
remoção, retornar para realização do exame.

Patologias associadas à orelha média

Quando pensamos em patologias associadas à orelha média, devemos ter em


mente que o comprometimento condutivo estará presente.

Durante a infância temos um elevado número de otites, uma vez que em crianças
a tuba auditiva é mais horizontalizada, possibilitando que o alimento, durante
a alimentação, migre para a orelha média causando infecção. Muitas vezes, a
infecção acaba por acarretar a perfuração timpânica, sendo, então, necessária
a sua reconstrução por meio de cirurgia (quando a perfuração não é muito
ampla, pode ocorrer a sua recuperação de forma espontânea). O tratamento para
otites é basicamente medicamentoso, com antibióticos. Em casos persistentes,
pode-se fazer o uso de tubo de ventilação (tubinho colocado na membrana
timpânica) para auxiliar o ouvido a drenar os fluidos da orelha média.

31
Unidade iii | Audiologia básica

Apesar de mais frequente na infância, a otite média pode ocorrer em adultos e


idosos também, principalmente pacientes que apresentem sinusites e renites de
repetição ou mau funcionamento da tuba auditiva. Nestes casos, o ouvido médio
não é arejado de forma correta, gerando pressão negativa e, consequentemente,
otites.

Casos de otites apresentam na audiometria perda auditiva condutiva (de grau


variado) e a imitanciometria poderá apresentar curvas tipo C ou B, com reflexos
acústicos não captados na orelha acometida. Nesses casos, a imitanciometria tem
papel fundamental para a avaliação da evolução dos pacientes.

Um outro quadro que se assemelha à otite média, porém apresenta maior


gravidade, são os colesteatomas. O colesteatoma é um tumor benigno que afeta
o ouvido médio, onde há um acúmulo de camadas de pele localizadas atrás da
membrana timpânica. Em muitos casos, ele pode permanecer estável durante
toda a vida. Mas, em outros, não para de crescer, invadem as estruturas da orelha
e as destrói gradualmente. Quando a orelha média é destruída e a membrana
timpânica perfurada, ocorre otorreia fétida e de cor amarelada. Diferentemente
da otite, o colesteatoma não responde bem a antibióticos, sendo seu principal
tratamento o cirúrgico, onde há a retirada de toda a cavidade da orelha média,
gerando um importante componente condutivo que só pode ser reabilitado por
meio do uso de AASI.

As infecções de ouvido são as principais patologias que afetam a orelha média,


porém existe uma patologia que ocorre em adultos e que, apesar de não ser uma
otite, altera o funcionamento desta região do ouvido: a otosclerose.

Para entendermos a otosclerose, precisamos lembrar que a orelha média possui


a cadeia ossicular, que, ao se movimentar, realiza a amplificação do som (esse
movimento pode ser avaliado na imitanciometria). Na otosclerose, ocorre a
calcificação desses ossículos, fazendo com que a cadeia ossicular se torne rígida
e, por consequência, não realize a amplificação do som de forma satisfatória,
acarretando uma perda auditiva condutiva. Como a principal característica é
a rigidez da cadeia ossicular, temos uma imitanciometria alterada com o pico
baixo (normalmente tipo Ar) e reflexos acústicos ausentes.

32
Audiologia básica | Unidade iii

A incidência da otosclerose ocorre, principalmente, em mulheres brancas


(havendo importante piora durante a gestação) e de forma bilateral. O fator
hereditário é bem importante nesses casos. O tratamento possível para
recuperação da audição é cirúrgico, onde ocorre a retirada da cadeia ossicular,
sendo colocado no local uma prótese que restabelecerá o funcionamento da
orelha média. Nos casos em que a cirurgia não é indicada ou desejada, o uso do
AASI apresenta ótimos resultados.

Como observado acima, os casos de alteração de orelha média são


normalmente tratados com medicação ou cirurgia. Nos casos de avaliação
auditiva pós-cirúrgica ou do uso de tubo de ventilação, a imitanciometria
não deve ser realizada. Precisamos lembrar que a imitanciometria
movimenta a cadeia ossicular ao colocar e retirar pressão no conduto
auditivo, o que não é indicado para um ouvido que passou por uma cirurgia.
Além disso, em casos de perfuração timpânica também não conseguimos
realizar o exame, uma vez que não conseguimos vedar o conduto auditivo
externo para a colocação de pressão.

Patologias associadas à orelha interna

Quando falamos de patologias que acometem a orelha interna, estamos falando


de um universo bem vasto. Normalmente, essas alterações destroem as células
ciliadas existentes na cóclea e causam uma perda auditiva sensorioneural de
variado grau e configuração.

A primeira alteração que ocorre na orelha interna é a congênita. A maioria


das perdas auditivas identificadas na triagem auditiva neonatal (TAN) são
alterações na orelha interna. Essa alteração pode ocorrer por um problema de
desenvolvimento embrionário ou genético, por alguma doença infecciosa que
a mãe teve durante a gestação (por exemplo: rubéola) ou pelo uso materno de
medicação ototóxica. Na maioria dos casos, a perda auditiva é importante (de
grau severo ou profundo), bilateral, sendo fundamental a realização da TAN
para diagnóstico e reabilitação precoce. A reabilitação pode ocorrer pelo uso do
AASI ou de Implante Coclear associado à terapia auditiva.

Após o nascimento, se tudo ocorreu bem, o acometimento da orelha interna


ocorre mais em adultos e em idosos. Em crianças e adolescentes, a orelha
interna pode ser afetada em um caso de perda auditiva genética ou com o uso de
medicamentos ototóxicos.

33
Unidade iii | Audiologia básica

Medicações ototóxicas são aquelas que apresentam afinidade por células


ciliadas, ou seja, além de realizarem a função para a qual foram criadas, também
destroem as células da orelha interna responsáveis pela decodificação do som.
Alguns quimioterápicos e antibióticos estão entre os remédios ototóxicos. O seu
uso ocorre de acordo com a doença apresentada pelo indivíduo (seja criança,
adulto ou idoso). Não há como impedir a perda auditiva como efeito colateral,
sendo, nesses casos, fundamental o acompanhamento auditivo periódico e, caso
pertinente, o uso de aparelho auditivo para a reabilitação.

Já na vida adulta, a perda auditiva induzida por ruído (PAIR) é uma patologia
de orelha interna bem conhecida. Indivíduos que em seu processo laboral estão
expostos a níveis elevados de pressão sonora podem desenvolver a PAIR. A
PAIR pode ser definida como a morte das células ciliadas devido à exposição
excessiva a ruído. Sua principal característica é ser simétrica, sensorioneural e
afetar, principalmente, as frequências de 3 a 6 kHz. Por ser sensorioneural, não é
possível reverter a perda auditiva após instalada, porém, caso a exposição cesse,
a mesma não piora. Na PAIR, a prevenção (ou seja, o uso de EPI) é o melhor
remédio.

Por fim, com o envelhecimento nossas células ciliadas também envelhecem,


causando a presbiacusia. Quando ela se inicia e como evoluirá é muito individual,
variando de pessoa para pessoa. Sabe-se que homens brancos possuem uma maior
incidência de presbiacusia. Normalmente, as frequências agudas são acometidas
primeiro, o que acaba por fazer com que seu diagnóstico não seja tão inicial
(uma vez que perdas auditivas em agudos impactam menos na inteligibilidade
de fala). Um ponto importante da presbiacusia é que ela vem acompanhada do
envelhecimento geral do indivíduo, com rebaixamento da visão e do cognitivo,
por exemplo. Sua principal consequência é o isolamento social do idoso e, por
isso, o diagnóstico e a reabilitação precoces são fundamentais. Por se tratar de
uma perda auditiva sensorioneural, o indicado é o uso do AASI, o qual deve ser
adaptado assim que diagnosticada a perda auditiva, uma vez que o tempo de
adaptação do idoso tende a ser maior.

Patologias associadas às vias auditivas centrais

As patologias do sistema aditivo que geram perdas auditivas não acontecem só


na porção periférica. Elas podem ocorrer após a cóclea, acometendo o nervo
auditivo, ou serem de caráter mais centrais.

34
Audiologia básica | Unidade iii

Podemos ter de forma congênita uma agenesia ou má formação do nervo auditivo,


que acarretaria uma perda auditiva profunda com possibilidades restritas de
reabilitação, uma vez que tanto AASI quanto o implante coclear precisam da parte
central com bom funcionamento. Caso seja bilateral, o uso de LIBRAS pode ser
uma boa alternativa para o desenvolvimento nesse indivíduo.

Ainda pensando em nervo auditivo, o neurinoma do acústico representa uma


alteração importante das vias auditivas centrais. Ele é um tumor benigno que
se origina nas células que recobrem o nervo vestibular (células de Schwann) e
por isso também é conhecido como Schwannoma do Acústico. Normalmente,
é unilateral e pode gerar zumbido, perda auditiva e tontura quando comprime
o nervo. Em muitos casos, o PEATE (potencial evocado auditivo de tronco
encefálico) apresenta alteração. Quanto à audiometria, pode apresentar resultado
normal ou perda auditiva sensorioneural, com discriminação de fala ruim. Na
imitanciometria, os reflexos acústicos podem estar ausentes quando a expectativa
é que estivessem presentes.

O tratamento para o neurinoma é cirúrgico com sua retirada (em alguns casos,
pode-se optar pelo acompanhamento inicialmente). A consequência da cirurgia,
em sua maioria, é a secção do nervo auditivo, acarretando perda auditiva profunda.

Outra alteração que podemos encontrar é a dissincronia do nervo auditivo


que, muitas vezes, não acarreta a perda auditiva, mas pode, sim, comprometer
a discriminação de fala (testes de fala não estariam compatíveis com limiares
tonais na audiometria). Devido a essa alteração, o PEATE encontra-se alterado.
A reabilitação pode ocorrer por meio da terapia auditiva e, em alguns casos,
observam-se benefícios com o implante coclear.

Alguns casos de queixas auditivas, como dificuldade de entendimento, apresentam


audiometria normal. Esses casos podem ter o comprometimento auditivo de
vias auditivas superiores (após tronco encefálico) não apresentando alteração
no PEATE. Esses casos apresentam alteração do processamento auditivo e
dificuldades em algumas habilidades auditivas. Existe o exame de Processamento
Auditivo Central, o qual vai avaliar as habilidades auditivas desse indivíduo,
indicando onde está a alteração, auxiliando, assim, na terapia auditiva.

35
Unidade iii | Audiologia básica

Podemos observar que a gama de patologias associadas à perda auditiva é grande.


É importante conhecer as principais e quais as alterações auditivas esperadas
para realizar um diagnóstico auditivo. Esse diagnóstico será fundamental para a
indicação de uma reabilitação efetiva e pertinente a cada caso.

36
CAPÍTULO 2
Classificação das perdas auditivas

Neste capítulo, há diversas possibilidades e autores que podemos utilizar


para classificar a perda auditiva. É importante sempre deixar claro
qual a classificação está sendo utilizada. Na tentativa de padronizar as
classificações, o Conselho Federal de Fonoaudiologia lançou o “Manual
de Audiologia” com sugestões de como realizar essa classificação. A
leitura do Manual é interessante e deve ser feita de forma crítica para que
implementemos em nossa prática clínica as orientações que julgarmos
pertinentes.

Quando falamos de perda auditiva, algumas classificações podem ser realizadas.


Podemos classificar as perdas auditivas da seguinte forma:

» Quanto ao tipo da perda auditiva (sugiro que, sempre que possível,


essa classificação deve ser realizada).

» Quanto ao grau (sugiro que seja realizada em perdas auditivas planas).

» Quanto à configuração (sugiro que seja realizada quando não for


plana e por isso não possamos dar grau).

Ainda há casos que não podemos encaixar em nenhuma das três opções acima e
teremos que dar um laudo mais descritivo.

A seguir, veremos caso a caso.

Tipo de perda auditiva


As perdas auditivas podem ser divididas em três tipos: sensorioneural, condutiva
e mista.

Na perda auditiva do tipo sensorioneural são encontrados limiares de via óssea


e aérea acima dos limites normais, onde esses limiares vão estar acoplados (ou
seja, possuem o mesmo valor), porém o resultado encontrado no IRF é mais
baixo do que os encontrados em perda condutiva devido à distorção que é
decorrente do comprometimento sensorioneural desse tipo de perda auditiva.

37
Unidade iii | Audiologia básica

Na perda auditiva do tipo condutiva são encontrados limiares de via aérea acima
dos limites normais e vias ósseas normais, com presença de GAP (diferencial aéreo
e ósseo de 15 dB ou mais). O resultado encontrado no IRF é normal, pois não há
distorção.

Já na perda auditiva mista, há um componente condutivo associado a um


sensorioneural, ou seja, há um comprometimento da orelha externa e/ou média
e orelha interna. Os limiares de via aérea e óssea vão estar acima dos limites
normais, ambos acima de 25 dB, e o gap entre via aérea e óssea pode estar presente
em todas as frequências ou em apenas algumas. Os resultados encontrados no
IRF geralmente são bons, porém são piores do que a perda condutiva devido à
presença do componente sensorioneural, onde ocorre a distorção das palavras.

» Perda auditiva sensorioneural: limiares aéreos superiores a 25 dBNA,


limiares por via óssea superiores a 25 dBNA com diferencial aéreo-ósseo
inferior a 15 dBNA.

» Perda auditiva condutiva: limiares aéreos superiores a 25 dBNA, limiares


ósseos inferiores a 25 dBNA e diferencial aéreo-ósseo superior a 10
dBNA.

» Perda auditiva mista: limiares aéreos superiores a 25 dBNA, diferencial


aéreo-ósseo superior a 10 dBNA em pelo menos uma frequência e limiar
ósseo superior a 25 dBNA em pelo menos uma frequência.

Grau da perda auditiva


Quando a perda auditiva é plana, podemos classificar quanto ao grau. Dizemos
que a perda auditiva é plana quando todas as frequências estão em valores
próximos, ou seja, todas se encaixam em um grau e, com isso, podemos dizer
que o “grau tal” representa o exame.

Existem diversos autores que sugerem a classificação do grau. O importante


é escolher um autor com estudos pertinentes e sempre, no seu laudo, deixar
registrado qual o autor está sendo utilizado. Sugiro a classificação seguindo
Lloyd e Kaplan, 1978.

Normal: < ou = a 25 dBNA.

Leve: > 25 e < ou = 40 dBNA.

38
Audiologia básica | Unidade iii

Moderado: > 40 e < ou = 55 dBNA.

Moderadamente severo: > 55 e < ou = 70 dBNA.

Grau severo: > 70 e <ou = 90 dBNA.

Grau profundo: > 90 dBNA.

É necessário ressaltar que, para crianças até 8 anos, o padrão de normalidade


é até 15dB, por isso, para esse público existe o grau de perda auditiva discreta,
que seria a audição entre 16 e 25 dB.

Configuração da perda auditiva


Em muitas situações, a perda auditiva não é plana e, por isso, não conseguimos
classificá-la em um determinado grau. Porém, ao observarmos o registro no
audiograma verificamos que ela possui uma configuração característica, assim,
podemos utilizar essa configuração para descrição. As configurações mais
comumente utilizadas são:
Ascendente

Figura 12. Audiometria de configuração ascendente (orelha direita).

Fonte: elaborada pelo autor.

Descendente

Figura 13. Audiometria de configuração descendente (orelha esquerda).

Fonte: elaborada pelo autor.

39
Unidade iii | Audiologia básica

Em “U”

Figura 14. Audiometria em configuração de “U” (orelha direita).

Fonte: elaborada pelo autor.

Em “U” invertido

Figura 15. Audiometria de configuração de “U” invertido (orelha esquerda).

Fonte: elaborada pelo autor.

E quando a curva audiométrica não é plana e nem


apresenta uma configuração?
Muitas vezes, ao terminarmos o nosso exame, não conseguimos dar o grau (por
não ser plana) e não observamos uma configuração bem definida. Quando isso
acontece, devemos lembrar que o nosso laudo é basicamente descritivo.

Nos casos de perdas auditivas sensorioneurais, devido à tonotopia da cóclea,


podemos descrever onde encontramos a perda auditiva.
40
Audiologia básica | Unidade iii

Perda auditiva sensorioneural a partir de “x” frequência

Figura 16. Audiometria com perda auditiva sensorioneural a partir de 4kHz (orelha esquerda).

Fonte: elaborada pelo autor.

Perda auditiva sensorioneural a isolada em “x”


frequência

Figura 17. Audiometria com perda auditiva sensorioneural isolada em 8kHz (orelha direita).

Fonte: elaborada pelo autor.

Perda auditiva sensorioneural restrita às “Xs”


frequências

Figura 18. Audiometria com perda auditiva sensorioneural restrita às frequências de 2 e 6kHz (orelha esquerda).

Fonte: elaborada pelo autor.

41
Unidade iii | Audiologia básica

Porém, em muitos casos, não é possível dar grau, nem configuração e nem
descrever de forma reduzida. Casos assim, apenas colocamos o tipo de perda
auditiva. Como há o registro das respostas encontradas no audiograma, o
profissional que recebe a audiometria pode analisar, detalhadamente, cada
resposta encontrada ao observar o gráfico.

Perdas auditivas com componente condutivo (perdas auditivas condutivas


ou mistas) podem ser classificadas quanto ao grau ou configuração. Apesar
disso, não realizo essa classificação na minha prática clínica, pois julgo
que, pela via aérea e via óssea não possuírem o mesmo valor, a descrição
de grau ou configuração se baseará apenas por via aérea, não descrevendo
bem o exame. Quando a perda é condutiva ou mista, termino o laudo apenas
no tipo, exemplo: “perda auditiva condutiva”.

Contudo, o uso do grau e de configuração neste tipo de perda auditiva


não está errado. O que não pode ser utilizado em perdas auditivas com
componente condutivo é a classificação de “a partir”, “isolada” ou “restrita”,
uma vez que elas se baseiam na tonopia da cóclea e o componente condutivo
não possui essa tonotopia.

Como dar o laudo?


Após tudo visto acima, podemos finalmente pensar em como esquematizar o nosso
laudo. Cabe ressaltar, aqui, que existem várias possibilidades de como se laudar
uma audiometria. O importante é que seja correto, descreva bem o exame e que o
examinador utilize sempre o mesmo critério.

O primeiro passo é entender que precisamos descrever, separadamente, cada


orelha. Caso o achado seja simétrico, podemos ao final adicionar o “bilateral” e
fazer uma descrição única.

Descrevo, abaixo, o passo a passo que uso para laudar as audiometrias:

1. É normal ou possui perda auditiva:

› Normal: Limiares auditivos dentro dos padrões de normalidade.

› Alterado: Perda auditiva.

2. Qual o tipo da perda auditiva?

› Perda auditiva sensorioneural.

42
Audiologia básica | Unidade iii

› Perda auditiva mista – encerro o laudo aqui.

› Perda auditiva condutiva – encerro laudo aqui.

É importante lembrar que a orelha inteira possui um tipo de perda


auditiva. Por isso, observe o audiograma todo de cada orelha para
classificar o tipo.

3. Perda auditiva Sensorioneural: grau ou configuração ou descrição:

› Perda auditiva Sensorioneural de grau moderado.

› Perda auditiva Sensorioneural de configuração descendente.

› Perda auditiva Sensorioneural a partir de 3 kHz.

› Perda auditiva Sensorioneural isolada em 8 kHz.

É sempre importante ressaltar que o nosso laudo é descritivo e deve se basear


nos achados da audiometria registrados.

43
CAPÍTULO 3
Avaliação audiológica básica

A avaliação audiológica básica, como o nome já diz, são os exames base para
qualquer diagnóstico auditivo ou vestibular. Essa avalição é composta por
audiometria (tonal e vocal) e imitanciometria. São esses exames, sua realização e
interpretação, que iremos abordar neste capítulo.

Audiometria
A audiometria é um teste utilizado para medir a audição do indivíduo e se divide
em audiometria tonal e vocal, que junto com a imitanciometria compõem a
avaliação audiológica básica. Como o nome já diz, a audiometria é o exame base
para qualquer avaliação auditiva e é fundamental para o diagnóstico audiológico
do indivíduo.

Porém, antes de realizar a audiometria em si, três procedimentos são fundamentais:


a meatoscopia, verificação do colabamento do MAE e a anamnese.

Meatoscopia
Para a investigação auditiva é necessário que os sujeitos apresentem meato
auditivo externo livre. Desta forma, previamente a qualquer exame auditivo,
deve ser realizada a inspeção do meato auditivo externo para verificação de
obstrução por cerúmen ou qualquer outro objetivo com o otoscópio. Caso
seja observada qualquer alteração, o indivíduo deve ser encaminhado ao
otorrinolaringologista e orientado a retornar para a realização do exame após
a remoção.

Verificação do colabamento do MAE


O colabamento do MAE pode ser definido como o fechamento ou redução da
luz do MAE quando uma pressão é exercida sobre o pavilhão auricular (essa
pressão será exercida quando colocarmos o fone para realizarmos o exame).
Isso pode ocorrer em orelhas mais flácidas e é uma variação anatômica, não
sendo considerada alteração. O problema ocorre quando não o detectamos e
fazemos uso da técnica para evitar que aconteça, uma vez que sem o uso da
técnica podemos encontrar uma falsa perda auditiva na audiometria.

44
Audiologia básica | Unidade iii

Observamos a sua presença ou ausência quando, logo após realizar a meatoscopia,


pressionamos o pavilhão do paciente para trás e vemos novamente o MAE.
Caso não feche, não há colabamento. Se houver uma importante redução no
diâmetro do conduto auditivo, há então colabamento, e precisamos lançar mão
de técnicas para evitar que ele aconteça quando colocarmos o fone.

A técnica mais usada é a do rolo de gaze, onde há a colocação de um rolinho


feito com gaze denso atrás do pavilhão auricular, impedindo, assim, que este se
encoste na região temporal quando o fone for colocado.

Em casos de colabamento mais importante, o rolo de gaze pode não resolver,


sendo necessário o uso de um tubo de borracha que impeça a deformação ou
fechamento do MAE. No momento em que o fone for colocado, o tubo vai evitar
o fechamento das paredes. É recomendável prender uma linha resistente ao
tubo para assegurar que ele possa ser retirado facilmente após o procedimento.

Caso ocorra o colabamento e ele não seja identificado e, por consequência,


não se faça uso de nenhuma técnica para evitá-lo, ainda podemos suspeitar
dele durante o exame. Nesse caso, encontraremos uma falsa perda auditiva
condutiva, principalmente em agudos (sendo que em perdas auditivas
condutivas verdadeiras os graves são mais acometidos em geral), e teremos
reflexos acústicos captados, gerando, assim, uma incompatibilidade no exame.

Anamnese
A anamnese deve proceder à avaliação auditiva, pois ela é capaz de trazer
informações fundamentais que poderão auxiliar nas hipóteses diagnósticas.
Durante este procedimento também pode ser realizada uma avaliação sobre o
comportamento auditivo do paciente, que também poderá auxiliar na hora da
realização dos exames.

A anamnese deve ser direcionada à queixa apresentada pelo paciente. Alguns


serviços apresentam uma ficha de anamnese que deve ser preenchida e outros
deixam os profissionais livres para atuar. Independente de qual seja o seu caso
na prática clínica, é importante compreender o motivo pelo qual o exame será
realizado.

45
Unidade iii | Audiologia básica

Após a realização da anamnese e da meatoscopia, dar-se início a audiometria, a


qual é dividida em audiometria tonal e vocal.

Audiometria tonal
A audiometria tonal é o exame subjetivo mais utilizado para avaliar a função
auditiva, que mensura a audição periférica através da intensidade mínima audível
que o indivíduo que está sendo avaliado consegue sinalizar que ouviu. Para a
realização desse teste, é necessária a utilização de uma cabine acústica, a qual tem
a função de atenuar os ruídos externos, de um audiômetro.

O objetivo desse exame é medir a sensibilidade auditiva em função da frequência


através do som apresentado por via aérea e óssea (esta última apenas quando
necessário), para poder quantificar a audição da pessoa e classificar qual o tipo da
perda auditiva, caso exista.

Os limiares tonais de audibilidade devem ser pesquisados nas frequências de


1000, 2000, 3000, 4000, 6000, 8000, 500 e 250 Hz sequencialmente. A presença
de limiares auditivos aéreos superiores a 25 dBNA, ou a identificação de
comprometimentos de orelha média identificados na pesquisa imitanciométrica,
determinará a investigação dos limiares tonais por via óssea em 1000, 2000,
3000, 4000 e 500 Hz sucessivamente.

Muitas pessoas julgam que a pesquisa de via óssea (VO) é trabalhosa, uma vez
que muitas vezes precisamos retestar com mascaramento contralateral (assunto
do nosso próximo capítulo). Porém, é através da via óssea que conseguimos
identificar o tipo da perda auditiva e realizar seu topodiagnóstico. A técnica para
pesquisa do limiar auditivo para VO é a mesma utilizada na via aérea, apenas
o estímulo sonoro é apresentado de forma diferente, por meio de um vibrador
ósseo que é colocado na mastoide.

A orelha pela qual o exame deve ser realizado é aquela que o paciente refere ser
a melhor. Caso o paciente relate que escuta igual dos dois lados, a convenção é
iniciar pelo lado direito.

Além disso, em algumas situações é necessário pesquisar as frequências


intermediárias de 750 e/ou 1500 Hz. Essa pesquisa se faz necessária sempre que

46
Audiologia básica | Unidade iii

entre 500 e 1000 Hz houver a diferença de 20 dB (sendo pesquisado, então,


750 Hz) ou 20 dB de diferença entre 1000 e 2000Hz (onde se pesquisa 1500
Hz). É importante lembrar também que, caso se pesquise intermediariamente
de um lado, obrigatoriamente deve se pesquisar do outro (mesmo que não
exista essa diferença). Em alguns programas de registro da audiometria não
há a opção de marcar no audiograma as frequências intermediárias. Nesse
caso, os resultados encontrados na pesquisa devem ser descritos no laudo ou
no campo de observações, o que não pode é não pesquisar!

Para a pesquisa dos limiares tonais, os pacientes devem ser orientados a sinalizar
(dando o sinal com a mão ou apertando a pera de estímulo luminoso) toda vez
que perceberem o tom teste, sendo registradas as intensidades em que o som foi
identificado em 50% das apresentações (ou seja, ele precisa responder para 2 de 4
estímulos dados).

A pesquisa de limiar pode ocorrer tanto pela técnica descendente como pela
ascendente. Na técnica descendente, a pesquisa do limiar começa de um som
alto, que o paciente ouça, e vamos baixando até encontrar o limiar auditivo.
Já na técnica ascendente, a pesquisa é realizada no som inaudível e este vai ser
aumentado até o paciente ouvir e se encontrar o limiar.

A escolha de qual técnica utilizar é livre, porém a mais recomendada (e que


em geral apresenta melhores respostas) é a técnica descendente. Nesta técnica,
inicia-se com um alto e, caso o paciente refira ouvir, deve-se diminuir a
intensidade de 10 em 10 dB até que ele não mais responda. Quando o paciente
parar de escutar o som, o examinador sobe de 5 em 5 dB até que ele volte
a escutar. Neste ponto, deve-se alternar a intensidade entre níveis maiores e
menores, variando de 5 dB, até o ponto em que o paciente responda pelo menos
50% das vezes na mesma intensidade, encontrando assim o limiar auditivo
daquela frequência pesquisada. Esse procedimento deve ser realizado em todas
as oito frequências de cada lado (e nas intermediárias, caso necessário).

Segue, abaixo, um exemplo de pesquisa de limiar na técnica descendente:

47
Unidade iii | Audiologia básica

Tabela 1. Exemplo de pesquisa de limiar com técnica descendente.

40 dB OUVIU – valor inicial que o paciente ouça. A cada acerto desce 10 dB.
30 dB OUVIU
20 dB OUVIU
10 dB OUVIU
0 dB NÃO OUVIU - a partir do momento que não ouve, a mudança de intensidade passa a ser de 5 dB
em busca do limiar.
5 dB OUVIU
0 dB NÃO OUVIU
5 dB OUVIU
0 dB NÃO OUVIU
5 dB OUVIU Limiar - acertou ao menos 2 em 5dB (ou seja, 50% de 4) e errou 3 em 0 dB (não tem como
fazer 50% de 4).
Fonte: elaborada pelo autor.

Aqui é preciso fazer um destaque. Precisamos ser extremamente criteriosos na


pesquisa do limiar auditivo e assinalar a intensidade mais baixa em que o paciente
responde 50%. Observo casos em que já se considera limiar quando o paciente
responde apenas uma vez (o que não é limiar, pois para ser limiar precisa de
2 de 4) ou casos em que o paciente não responde as 4 vezes, mas se insiste na
intensidade até que ele responda, na tentativa de se obter uma melhor resposta.
Em ambos os casos, o examinador está fazendo o exame de forma incorreta.
Precisamos ser extremamente criteriosos, sempre.

Outro ponto que devemos observar durante a pesquisa dos limiares tonais é
qual estímulo iremos utilizar. O padrão do exame é realizar a pesquisa com Tom
puro, porém em casos de zumbido ou de dificuldade de resposta, podemos fazer
o uso do tom Warble. A apresentação do estímulo deve ter, no mínimo, dois
segundos, para que possa ser identificado pelo paciente. Além disso, recomenda-se
a utilização do som pulsátil, pois o contraste som x silêncio ajuda na detecção do
som quando estamos perto do limiar.

Após a pesquisa de todos os limiares de via aérea e via óssea (quando necessário),
os resultados encontrados são assinalados no audiograma, conforme o exemplo
abaixo.

48
Audiologia básica | Unidade iii

Figura 19. Exemplo de um audiograma.

Orelha direita Orelha esquerda

Fonte: elaborada pelo autor.

Nesse exemplo, podemos ver que a orelha direita é sempre assinalada com a cor
vermelha e está com o símbolo dos limiares (via aérea e via óssea) obtidos após
o uso do mascaramento contralateral. Já a esquerda é sempre assinalada de azul e
os limiares de via aérea (não foi necessário realizar a pesquisa de via óssea) foram
encontrados sem o uso de mascaramento.

No Manual de Audiologia, está disponível o modo como o gráfico do audiograma


deve ser configurado. Ele deve manter a proporção vertical x horizontal
conforme apresentado na figura, pois, muitas vezes, ao olhar para os gráficos,
conseguimos fazer uma análise da perda auditiva. Caso não se use a proporção
preconizada, pode ocorrer de uma perda parecer ser maior ou pior do que ela
realmente é quando olharmos o gráfico.

Também é importante lembrar que em cada situação de pesquisa de limiar há


uma simbologia e cor específica, conforme quadro abaixo:

Tabela 2. Simbologia para registro de audiometria.

Via aérea Via óssea Aérea ausente Via óssea ausente

Direita sem
mascaramento

Direita com
mascaramento
Esquerda sem
mascaramento
Esquerda com
mascaramento
Fonte: elaborada pelo autor.

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Unidade iii | Audiologia básica

Observo na prática clínica que muitos fonoaudiólogos fazem uso da pera,


para que o paciente sinalize que ouviu o som, por julgarem mais prático e
rápido. Tentar tornar o exame mais rápido é importante, porém temos que
tomar cuidado em não tornar algo automatizado demais. Devemos sempre
lembrar que é um exame subjetivo e que precisamos confiar na resposta
apresentada, confiar que realmente é o mais baixo que o paciente é capaz
de ouvir. Nesse sentido, particularmente acho interessante solicitar que o
paciente sempre sinalize com as mãos (com exceção dos casos em que o
paciente apresenta dificuldade de realizar). Muitas vezes, quando o som
é muito baixo o paciente faz um gesto de ser baixo, nos indicando que
estamos perto do limiar, o que não é possível com o uso da pera. Além
disso, é importante sempre realizar contato visual com o paciente, indicar
e reforçar respostas certas. Temos que lembrar que o exame é comum para
nós que realizamos, porém não para o paciente. Em muitas situações existe
o receio, por parte do paciente, de não estar realizado de forma correta.
Esse contato visual faz com que tenhamos que prestar mais atenção em
não fornecer pistas visuais, tornando o exame um pouco mais trabalhoso.
Porém, julgo que seja extremamente necessário avaliar o comportamento
do paciente durante as respostas.

Audiometria vocal
O teste da audiometria vocal ocupa um importante lugar na avaliação auditiva
básica. Ele testa a habilidade do indivíduo de perceber e reconhecer os sons de
fala por meio de testes básicos como limiar de recepção de fala (LRF), limiar
de detecção de fala (LDF) e índice de reconhecimento de fala (IRF). Os testes
de fala também têm o objetivo de confirmar os dados obtidos por via aérea na
audiometria e demonstrar o desempenho do indivíduo ao ouvir os sons da fala.

Para a realização dos testes de fala, alguns cuidados devem ser tomados. As
duas preocupações principais são: não fornecer pistas visuais e falar em uma
intensidade baixa, mas sem sussurrar. O controle da voz inicialmente pode
ser difícil, mas com a prática acaba se tornando habitual. Esse controle é
importante, pois se falarmos em uma intensidade muito alta, o paciente pode
ouvir “por fora da cabine” e não pelos fones em uma intensidade controlada.

Uma dica que auxilia muito na realização de qualquer teste de fala é possuir
uma lista de palavras para LRF e IRF impressa. Isso ajudará bastante na hora
de realizar o exame, pois haverá uma “cola” para ler as palavras. Além disso,
50
Audiologia básica | Unidade iii

precisamos lembrar de tampar a boca para que o paciente não possa fazer
leitura labial e você pode usar a própria lista de palavras para isso.

Veremos agora cada teste separadamente, lembrando que caso o paciente seja
capaz de compreender, realizamos o LRF e o IRF, caso não (perdas profundas,
por exemplo), lançamos mão, então, do LDF.

» Limiar de Recepção de Fala (LRF): o limiar de recepção de fala é a


menor intensidade em que o examinado repete adequadamente duas
entre quatro palavras apresentadas. Neste teste, a técnica utilizada na
pesquisa de limiar é igual à realizada na audiometria tonal, porém ao
invés de sinalizar que ouviu o tom o paciente deve repetir a palavra dita.

O LRF nos permite confirmar os achados da audiometria tonal, o que


é de grande valia, já que estamos falando de um exame subjetivo. Isso é
possível pois ele não pode ser melhor do que a média tritonal composta
pelas principais frequências da fala (500, 1000 e 2000 KHz), podendo
então ser igual ou até 10 dB pior. Isso acontece pelo fato de ser um teste
mais complexo que exige reconhecimento, enquanto a pesquisa tonal só
exige detecção. O único caso em que isso não ocorre, ou seja, a exceção,
são as perdas auditivas de configuração descendente, onde o LRF pode
ser melhor que a média tritonal (uma vez que os graves estão melhores
ajudam bastante no entendimento da fala).

» Índice de Reconhecimento de Fala (IRF): o IRF fornece


informações sobre a capacidade do indivíduo de perceber e reconhecer
os sons da fala. Isso é feito através da obtenção de um percentual de
inteligibilidade da fala em uma intensidade fixa, na qual espera-se
que o paciente ouça e repita o maior número de palavras possíveis.
Essa pesquisa é feita através de, inicialmente, uma lista de 25 palavras
monossílabas em intensidade alta. Será registrado o percentual de
acertos desses monossílabos e, caso este seja inferior a 88%, será
realizada nova pesquisa utilizando listas de dissílabos, e, caso esses
também tenham resultados inferiores a 88%, deve-se, então, realizar
com os trissílabos.

Como dito acima, o teste é realizado em uma intensidade fixa audível


para o paciente. Para encontrar esse valor soma-se a média tritonal
de 30 a 40 dB. A cada acerto são pontuados 4%. Assim, ao final das 25

51
Unidade iii | Audiologia básica

palavras o paciente pode obter um índice de 100%. Em caso de erro,


pode-se repetir mais uma vez a palavra que o paciente errou ao final,
dando mais uma chance e evitando que o erro tenha ocorrido devido
a uma pronúncia errada do examinador.

Diferentemente do LRF, aqui não observamos se o resultado é


compatível com média tritonal, mas, sim, se o resultado encontrado
é o esperado para a audiometria tonal que o paciente apresenta. Em
casos de audição normal ou perda do tipo condutiva é esperado que
o paciente seja capaz de ter o resultado acima de 92% de acerto nos
monossílabos, uma vez que não há alteração de decodificação. Já em
casos de perdas sensorioneurais, quando o comprometimento for
coclear, é esperado um desempenho pior, porém, conforme aumente
as pistas auditivas, o percentual de acertos melhore. Já nas alterações
retrococleares, isso não acontecerá: conforme houver aumento das
pistas auditivas, a porcentagem permanecerá a mesma ou piorará.

Em alguns programas de registro da audiometria, não há a opção


de marcar o resultado dos trissílabos, porém como comentado nas
frequências intermediárias, aqui também os resultados encontrados
devem ser descritos no laudo ou no campo de observações.

» Limiar de Detecção de Fala (LDF): o limiar de detecção de fala é a


menor intensidade em que o examinado sinaliza ter ouvido a voz duas
entre quatro vezes, ou seja, aqui também a técnica utilizada na pesquisa
de limiar é igual a realizada na audiometria tonal, porém ao invés de
sinalizar que ouviu o tom o paciente sinalizará que ouviu a voz.

Esse teste deve ser realizado quando o paciente não compreende a


linguagem oral (frequentemente em perdas auditivas profundas). Para
realizar a sua pesquisa, normalmente usamos a repetição do “pá pá pá”.

Da mesma forma que o LRF, aqui precisamos observar se o resultado


encontrado é compatível com a audiometria tonal. Por não exigir a
compreensão, seu resultado pode ser igual ou até 10dB pior do que o
melhor limiar tonal do paciente e não da média tritonal, como acontece
no LRF.

52
Audiologia básica | Unidade iii

Quando é necessário realizar o LDF, não se realiza nem o LRF e o IRF,


uma vez que esses últimos exigem reconhecimento do paciente; e a
indicação de uso do LDF é justamente o paciente não conseguir repetir
e reconhecer.

Os testes de fala resumem-se em três:

» LRF: o paciente precisa repetir palavras polissílabas (a dificuldade é a


baixa intensidade na pesquisa de limiar e a facilidade de serem palavras
grandes). Pode ser até 10dB pior que a média tritonal.

» IRF: o paciente precisa repetir palavras pequenas em uma intensidade


alta (a dificuldade é a palavra ser pequena e a facilidade a palavra alta).
Caso haja três ou mais erros, são feitos dissílabos e trissílabos.

» LDF: realizado em caso de não compreensão da fala, apenas a detecção.


Não exige reconhecimento e o limiar entrado pode ser até 10dB pior
que o melhor limiar da audiometria.

Por fim, observem que, durante a descrição dos testes de fala, foi sempre dito
quando o mesmo estaria compatível ou não com a audiometria tonal. Muitos
alunos reclamam que tem sempre que ficar “conferindo” a compatibilidade dos
testes, porém é válido ressaltar o quanto essa compatibilidade é, na verdade,
nossa aliada. Devemos lembrar que a audiometria é um exame subjetivo,
dependemos sempre da resposta do paciente. Se o nosso exame está com os testes
de fala e os limiares tonais compatíveis, é um ótimo indício de que as respostas
são confiáveis e, por consequência, temos um exame verdadeiro. Tenham
sempre a compatibilidade dos exames como uma aliada, isso será importante
na prática clínica.

Mascaramento
Neste capítulo, iremos abordar o assunto mais temido na audiologia, o
mascaramento. Costumo falar que esse medo vem de uma “lenda urbana” de
que é um tema difícil. Porém, o mascaramento não é esse bicho de sete cabeças.
Quando conseguimos entender o porquê ele é necessário e quando e como o
usamos, ele se torna nosso aliado para a realização de uma audiometria correta.

Para uma abordagem mais didática, iremos separar o uso mascaramento na


audiometria tonal e na vocal, e sempre vamos ter duas perguntas: “quando
mascarar?” e “como mascarar?”. Ao respondermos essas duas perguntas, veremos

53
Unidade iii | Audiologia básica

como o uso do mascaramento pode ocorrer de forma fácil e intuitiva na nossa


prática.

Porém, antes de estudarmos o mascaramento para cada teste, precisamos entender,


afinal, o que é mascaramento.

O que é o mascaramento?
Para estudarmos o mascaramento de forma detalhada, um fenômeno que
deve ser bem compreendido é a Atenuação Interaural. Atenuar significa
reduzir. Na atenuação interaural, um som dado em uma orelha com fones
supra-aurais irá perder parte da sua energia para fazer o crânio vibrar
(e então poder ser ouvido pela via óssea do outro lado). Isso acontece
pois precisamos lembrar que o som é vibração. Vibração que está sendo
dada pelo ar (meio rarefeito) e entrará pelo MAE e seguirá seu percurso
fisiológico da audição. Porém, a vibração também se espalhará pelo crânio
que está em contato com o fone, mas, como o crânio é mais denso, a vibração
perderá energia para fazer o osso vibrar. É por isso que para a via aérea
consideramos uma atenuação de mínimo 40 dB (o quanto o som perde para
fazer o crânio vibrar) e para via óssea (que já é vibração, então não perde
nada) consideramos zero.

Quando falo sobre mascaramento, gosto de fazer uma analogia com o exame
de acuidade visual realizado pelos oftalmologistas. Sempre que querem avaliar
o olho direito eles tampam o esquerdo; e para avaliar o esquerdo, tampam o
direito. Isso é necessário pois caso um olho seja bom e outro ruim, o olho bom
pode “ajudar” o olho ruim e, por isso, para avaliar cada olho separadamente
precisamos tampar o outro (e evitar sua interferência).

O que precisamos ter em mente é que esse processo “de ajuda” também acontece
na audição. Se um ouvido não ouvir nada e o outro lado for normal, o lado bom
também irá ajudar e interferir no exame, como acontece com a visão. Quando
colocamos os fones para realizar a audiometria nós separamos as orelhas, o
que já nos ajuda a avaliar cada lado separado, porém, pela característica física
do som (de ser uma vibração), às vezes a vibração de um som dado por um
fone de um lado pode ser ouvido pela orelha do outro lado.

Isso acontece por conta da Atenuação Interaural, uma vez que a vibração do som
poderá fazer o crânio vibrar e, então, a via óssea do outro lado poderá ouvir.

54
Audiologia básica | Unidade iii

Quando o lado não testado pode ouvir essa vibração do crânio, causada pelo som
dado no lado testado, é que precisamos utilizar o mascaramento.

Voltando para o exemplo do exame da acuidade visual, quando queremos


excluir um olho para que ele não interfira na avaliação do outro, basta tampá-lo.
Porém, na avaliação auditiva esse processo não é tão fácil, uma vez que o ouvido
que queremos excluir para que não interfira na avaliação está ouvindo através
da vibração do crânio. Então, para excluir o ouvido não testado da avaliação
causamos uma falsa perda auditiva colocando ruído mascarante nele, por isso
chamamos a técnica de mascaramento. Causamos uma falsa perda auditiva
deste lado ao colocarmos o ruído e, com isso, ele não consegue mais ouvir a
vibração do crânio.

Então, quando pensamos na pergunta “quando mascarar?” estamos falando em


identificar quando o som dado na orelha testada fará o crânio vibrar em uma
intensidade que a cóclea da orelha não testada possa ouvir e interferir no exame.

E quando pensamos em “como mascarar?” estamos falando em quanto de ruído


precisamos colocar na orelha não testada para que cause uma perda auditiva que
faça com que ela não possa mais ouvir a vibração e interferir no exame.

Resumindo, o mascaramento auditivo é o ato de colocar um ruído em uma orelha


para lhe causar uma falsa perda auditiva e impedir que ela possa interferir na
avaliação da acuidade auditiva da orelha contralateral.

Esse ruído deve ser capaz de encobrir todo o estímulo que está sendo testado,
por isso, normalmente é utilizado um ruído com um faixa de frequência que
envolva as frequências que estão sendo testadas. Para o mascaramento de tom
fazemos uso do narrow band, o qual contém uma faixa próxima ao tom que
estamos avaliando; e para os testes de fala usamos o speech noise, que contém um
ruído próximo às frequências da fala.

Agora, veremos como identificar a necessidade de mascarar e quanto de ruído


mascarante colocar em cada teste que compõe a audiometria.

Mascaramento na audiometria tonal


Via aérea

Quando lidamos com mascaramento de via aérea (VA), precisamos pensar em


como o som é apresentado. Em sua ampla maioria, são usados fones supra-aurais
55
Unidade iii | Audiologia básica

que apresentam uma superfície de contato maior com o crânio do que um fone
de inserção. Quando damos um som pelo fone, a vibração desse som fará o crânio
vibrar, porém, para isso, perderá uma certa energia devido à mudança de meio (o
som que inicialmente está vibrando em um meio rarefeito terá que fazer o crânio,
uma superfície mais densa, vibrar).

A quantidade de energia perdida varia de frequência para frequência e de acordo


com a densidade do crânio do indivíduo. Diante dessas variáveis, sabe-se que a
perda de energia pode variar de 40 a 80 dB. Na figura abaixo, conseguimos ver o
esquema que demonstra um exemplo de como uma orelha pode ouvir o som dado
de forma contralateral.

Figura 20. Esquema da atenuação interaural por via aérea.

60 dB vibração

100dB
20 dB

Fonte: elaborada pelo autor.

Podemos observar na figura que o som é apresentado a 100 dB na orelha


direita. Assumindo que o som perderá 40 dB para fazer todo o crânio vibrar,
essa vibração ocorrerá em 60 dB. Ao olharmos a via óssea (VO) contralateral
(esquerda), observamos que ela pode ouvir vibrações a partir de 20dB, então
conseguirá ouvir a vibração do crânio e irá atrapalhar o teste da orelha direita.
Como solução desse problema, colocamos um som na orelha esquerda para criar
uma falsa perda auditiva, impedindo, então, que ela ouça a vibração.

Como não sabemos qual será a atenuação de cada frequência para cada indivíduo,
assume-se que todos perdem 40 dB, pois essa é a pior situação. Tomando 40dB
como atenuação interaural de todos os indivíduos, não deixamos de retesar
com mascaramento nenhuma frequência que precisa, mas pode acontecer de
mascararmos algumas que não precisariam. Como encontrar o limiar com
mascaramento contralateral é fundamental para o exame correto, assume-se que
é melhor mascarar alguma frequência que não precisa (que não tem problema

56
Audiologia básica | Unidade iii

algum, sempre encontraremos a manutenção do limiar), mas ter a garantia de que


todas que precisam sejam mascaradas.

Diante do que já vimos sobre o mascaramento por via aérea, podemos, então,
responder a duas perguntas fundamentais.

Quando precisamos mascarar a via aérea?

Sempre que ela possuir uma diferença igual ou maior do que 40dB com a via
óssea contralateral.

Exemplo:

Frequência de 1000 Hz

OD OE

VA: 60 dB VA: 10 dB

VO: 10 dB

No exemplo acima, ao analisarmos a VA da direita, sabemos que ela fará o crânio


vibrar em 20 dB (60 – 40 =20). A VO contralateral (ou seja, da esquerda) pode
ouvir vibrações a partir de 10 (a VO não foi realizada, por esse lado apresenta
limiar normal e então a consideramos acoplada), então poderá, sim, responder
quando testarmos a VA da direita.

Esse raciocínio deve ser realizado para todas as frequências de via aérea dos
dois lados após a determinação do seu limiar. Após esse cálculo e a identificação
de quais frequências precisam ser retestadas com o uso do mascaramento
contralateral, vamos para a segunda pergunta “como mascarar?”.

Como mascarar a via aérea?

A técnica mais utilizada (e por mim recomendada) é a Técnica de Hood, também


conhecida como técnica do platô. Nessa técnica, utilizamos pouco cálculo e
devemos entender bem o processo para que possamos fazê-lo de forma correta.

Vamos usar o exemplo já citado acima:

57
Unidade iii | Audiologia básica

Frequência de 1000 Hz

OD OE

VA: 60 dB VA: 10 dB

VO: 10 dB

Independente da frequência que iremos retestar, SEMPRE vamos colocar 10 dB


de ruído acima do limiar da orelha que queremos atrapalhar, que no exemplo
escuta em 10 dB, então, vamos iniciar com 20 dB de mascaramento.

Limiar 100 Hz VA OD mascaramento OE por VA

60 x

No esquema acima, temos o que encontramos inicialmente, sem o uso do


mascaramento. Agora, iremos iniciar colocando 20 dB de ruído à esquerda e
observar se à direita o limiar continua sendo 60 ou se muda.

Limiar 100 Hz VA OD mascaramento OE por VA

60 x

60 20

Observamos no exemplo acima que houve uma manutenção da resposta,


ou seja, o valor encontrado sem mascaramento se manteve com o primeiro
incremento de ruído, configurando assim um platô. É importante observar
que o platô não é o incremento de ruído e, sim, a manutenção da resposta,
como observado abaixo:
Limiar 1000 Hz VA OD mascaramento OE por VA
60 x
1 platô
60 20

Para termos a confirmação de que esse limiar encontrado é o real daquela


orelha e não resposta do outro lado, é necessário encontrarmos 3 platôs
seguidos, ou seja, 3 manutenções do limiar com incrementos de 10 dB de
ruído mascarante.

58
Audiologia básica | Unidade iii

Vamos continuar com nosso exemplo. Para continuar a pesquisa, precisamos


colocar mais um incremento de 10 dB de ruído (20+10=30) e ver qual será o
limiar da orelha testada, analisando se conseguimos ou não mais um platô.
Limiar 1000 Hz VA OD mascaramento OE por VA
60 x
1 platô
60 20

60 30

No exemplo apresentado, o limiar se manteve e, por consequência, obtivemos o


segundo platô:
Limiar 1000 Hz VA OD mascaramento OE por VA
60 x
1 platô
60 20
2 platô
60 30

Como já dito acima, para ter certeza de que a orelha esquerda não está
respondendo precisamos de três platôs e, para isso, colocamos mais um
incremento de 10 dB de ruído (30 +10=40):
Limiar 1000 Hz VA OD mascaramento OE por VA
60 x
1 platô
60 20
2 platô
60 30
40

Igual já realizado antes, agora com esse novo valor de ruído precisamos pesquisar
novamente o limiar da orelha direita:

59
Unidade iii | Audiologia básica

Limiar 1000 Hz VA OD mascaramento OE por VA


60 x
1 platô
60 20
2 platô
60 30
60 40

Com a manutenção novamente do limiar, conseguimos, então, obter nosso


terceiro platô e então ter certeza de que os 60dB é realmente a resposta da
orelha direita e que a orelha esquerda não está interferindo na pesquisa deste
limiar.
Limiar 1000 Hz VA OD mascaramento OE por VA
60 x
1o platô
60 20
2o platô.
60 30
3 o platô
60 40

É interessante observar que ao final do teste a orelha esquerda, que era a orelha
a ser excluída do exame, apresentava uma falsa perda auditiva de 40 dB (valor
final de ruído utilizado no mascaramento). Por isso, podemos afirmar que
causamos uma falsa perda auditiva, a qual seria o equivalente a tampar o olho
na pesquisa da acuidade visual.

Diante do exemplo acima, podemos, então, entender como acontece o


mascaramento, desde a identificação da sua necessidade até em como o realizamos.
Vamos, agora, esquematizar esse passo a passo:

» Primeiro, devemos comparar os limiares tonais de via aérea sem


mascaramento com limiares da via óssea da outra orelha.

60
Audiologia básica | Unidade iii

» Após isso, precisamos fazer a análise de todas as frequências para


identificar se há uma diferença ≥ 40 dB com a via óssea contralateral; se
houver, precisamos retestar com mascaramento contralateral.

» Se houver a necessidade do reteste, iremos acrescentar 10 dB de ruído


mascarante acima do limiar da via aérea na orelha a ser excluída e,
então, vamos novamente pesquisar o limiar da orelha.

» Caso o limiar se mantenha, temos o primeiro platô, caso mude,


anotamos esse resultado e vamos aumentar o mascaramento em
10 dB e pesquisar, novamente, o limiar com esse novo valor de
mascaramento.

» Esse procedimento deve ser realizado até conseguirmos obter 3 platôs,


ou seja, 3 manutenções do limiar a cada incremento de ruído, conforme
vemos no esquema abaixo:
Limiar VA a ser confirmado mascaramento contralateral por VA
X -
Y limiar deste lado +10
1 platô
Y limiar deste lado +10+10
2 platô
Y limiar deste lado +10+10 +10
3 platô
Y limiar deste lado +10+10+10+10

Existem casos em que o lado que iremos colocar o ruído também apresenta uma
perda auditiva e, por isso, o valor do mascaramento inicial já é alto. A maioria
dos audiômetros possuem saída máxima de ruído mascarante de 100 dB. Caso o
valor inicial do ruído já seja próximo à saída máxima do equipamento, podemos
fazer uso de incrementos de 5 B ao invés de 10, para que possamos achar os 3
platôs.

O uso do incremento de 10 dB até obtermos 3 platôs de forma correta é


fundamental (a exceção o caso citado acima). Caso coloquemos pouco ruído,
teremos um mascaramento suficiente ou submascaramento, o que significa que
não conseguiremos eliminar a orelha que pode estar ajudando (isso normalmente

61
Unidade iii | Audiologia básica

acontece quando paramos o teste ao obtermos apenas 1 ou 2 platôs). O inverso


também pode acontecer e o chamamos de supermascaramento, ou seja, usamos
ruído demais e isso também interfere na testagem.

O supermascaramento normalmente acontece quando continuamos a pesquisa


após já termos obtidos os 3 platôs ou quando o paciente apresenta um GAP
muito grande na orelha que colocaremos o ruído (uma vez que o ruído
também fará o crânio vibrar e poderá ser ouvido pela orelha que está sendo
testada). Esse último caso citado pode ser resolvido com o uso de incremento
de 5 dB ao invés de 10. Caso, mesmo assim, o supermascaramento continue
acontecendo, isso se torna uma limitação do exame e devemos sempre
descrever que não foi possível retestar com mascaramento contralateral, pois
ocorreu supermascaramento (observe que é uma limitação do exame, mas não
percebe que aconteceu e assinalar como mascarado é um erro!)

Via óssea

A pesquisa de via óssea é fundamental para a audiometria, pois é por meio dela
que conseguimos realizar o topodiagnóstico da perda auditiva, classificando seu
tipo. Além disso, é observando o valor dela que analisamos quando precisaremos
mascarar via aérea e fala.

A grande questão quando falamos de mascaramento de via óssea é entender que


aqui o som não se perde para fazer o crânio vibrar (uma vez que o estímulo já
é apresentado em forma de vibração) e, por isso, a atenuação interaural é zero.
Essa é a grande diferença do mascaramento de via óssea para o mascaramento
de via aérea, o quando mascarar. O como mascarar é exatamente igual
e vamos ver essas duas perguntas agora, como vimos na via aérea.

Quando precisamos mascarar a via óssea?

A resposta para essa pergunta é SEMPRE.

Pelo fato de a atenuação de via óssea ser zero, SEMPRE teremos que mascará-la,
uma vez que a via óssea contralateral frequentemente estará ajudando. Vejam o
exemplo abaixo:

Exemplo:

62
Audiologia básica | Unidade iii

Frequência de 1000 Hz

OD OE

VA: 60 dB VA: 10 dB

VO: 10 dB

Observamos que VO da direita é 10 e que a da esquerda também (a VO não foi


realizada, por esse lado apresenta limiar normal e então a considera acoplada).
Ao colocarmos o vibrador em 10 na orelha direita fazemos com que todo o
crânio vibre em 10 dB, podendo, então, a via óssea da esquerda responder, por
isso sempre temos que mascarar a VO. Abaixo, podemos ver o esquema do que
acabamos de observar:

Figura 21. Esquema da atenuação interaural por via óssea.

10dB de vibração

“Som”/vibração- 100 dB
S

20 dB

Fonte: elaborada pelo autor.

Como para toda regra existe uma exceção, aqui também possui. Na verdade,
existem dois casos em que não precisaremos retestar a via óssea com mascaramento
contralateral. Veremos agora os dois.

O primeiro caso é quando a via óssea está acoplada em via aérea, conforme
exemplo abaixo:

Frequência de 1000 Hz

OD OE

VA: 40 dB VA: 40 dB

VO: 40 dB VO: 40 dB

63
Unidade iii | Audiologia básica

Sabemos que a via óssea nunca pode ser pior que a via aérea (pois a via óssea
está contida, ou seja, faz parte da via aérea) e sempre que retestamos um
limiar auditivo com mascaramento ou ele se mantém ou ele piora (ele nunca
melhora). Assim, quando a via óssea está acoplada ela não poderá piorar, então
só resta manter o valor que encontramos. Essa situação de VO estar acoplada é
normalmente encontrada em perdas auditivas sensorioneurais simétricas.

A outra exceção é quando a via óssea testada é muito melhor que a contralateral e
não pode ser ajudada, conforme exemplo abaixo:

OD OE

VA: 60 dB VA: 40 dB

VO: 60 dB VO: 10 dB

Observe que a VO da esquerda está em 10 B e faz o crânio vibrar nessa mesma


intensidade. A VO contralateral (da direita) está em 60 dB e jamais poderá ouvir
essa vibração em 10dB e responder interferindo no resultado, por isso, não é
necessário mascarar.

Essa análise descrita acima deve ser realizada em todas as vias ósseas pesquisadas
e, caso detectada necessidade, devem ser retestadas com mascaramento. Veremos,
agora, como realizar esse mascaramento.

Como mascarar a via óssea?

A técnica para mascarar a via óssea é exatamente a mesma utilizada para a via
aérea. Os incrementos de 10 dB de ruído são dados na via aérea contralateral até
se obter 3 platôs da via óssea pesquisada. Aqui, é necessário bastante atenção,
pois o principal erro observado na prática clínica é a colocação de ruído em
cima de via óssea.

Como o ruído é dado por via aérea, precisamos posicionar na cabeça do paciente
o fone e o vibrador. Primeiro, deve-se colocar o vibrador na posição de pesquisa
e, então, por cima o fone. Importante ressaltar que deve ficar encaixado no ouvido
do paciente apenas o fone do lado do ruído, o lado que o vibrador está colocado
não pode ter a orelha tampada pelo fone (o fone desse lado pode, por exemplo,
ser apoiado na testa. Para isso, basta diminuir o tamanho da alça do fone).

64
Audiologia básica | Unidade iii

Vamos, agora, observar um exemplo de mascaramento de via óssea:

Frequência de 1000 Hz

OD OE

VA: 40 dB VA: 10 dB

VO: 10 dB

Independente da frequência que iremos retestar, SEMPRE vamos colocar 10 dB


de ruído acima do limiar da via aérea orelha que queremos atrapalhar, que no
exemplo é de 10 dB, então vamos iniciar com 20 dB de mascaramento.

Limiar 1000 Hz VO OD mascaramento OE por VA

10 x

No esquema acima, temos o que encontramos inicialmente, sem o uso do


mascaramento. Agora, iremos iniciar colocando 20 dB de ruído à esquerda e
observar se à direita o limiar continua sendo 10 ou se muda:

Limiar 1000 Hz VO OD mascaramento OE por VA

10 x

10 20

Observamos no exemplo acima que houve uma manutenção da resposta,


ou seja, o valor encontrado sem mascaramento se manteve com o primeiro
incremento de ruído, configurando, assim, um platô. É importante observar
que o platô não é o incremento de ruído e, sim, a manutenção da resposta como
observado abaixo:
Limiar 1000 Hz VO OD mascaramento OE por VA
10 x
1 platô
10 20

Para termos a confirmação de que esse limiar encontrado é o real daquela orelha e
não resposta do outro lado é necessário encontrarmos 3 platôs seguidos, ou seja, 3
manutenções do limiar com incrementos de 10 dB de ruído mascarante.
65
Unidade iii | Audiologia básica

Vamos continuar com nosso exemplo. Para continuar a pesquisa, precisamos


colocar mais um incremento de 10 dB de ruído (20+10=30) e ver qual será o
limiar da orelha testada e analisar se conseguimos ou não mais um platô.

Limiar 1000 Hz VO OD mascaramento OE por VA


10 x
1 platô
10 20
10 30

No exemplo apresentado, o limiar se manteve e, por consequência, obtivemos o


segundo platô:

Limiar 1000 Hz VO OD mascaramento OE por VA


10 x
1 platô
10 20
2 platô
10 30

Como já dito acima, para ter certeza de que a orelha esquerda não está
respondendo precisamos de três platôs e, para isso, é necessário colocar mais um
incremento de 10 dB de ruído (30 +10=40).

Limiar 1000 Hz VO OD mascaramento OE por VA


10 x
1 platô
10 20
2 platô
10 30
40

Igual já realizado antes, agora com esse novo valor de ruído, precisamos
pesquisar novamente o limiar da orelha direita:

66
Audiologia básica | Unidade iii

Limiar 1000 Hz VO OD mascaramento OE por VA


10 x
1o platô
10 20
2o platô.
10 30
10 40

Com a manutenção novamente do limiar conseguimos, então, obter nosso


terceiro platô e, então, ter certeza de que os 10dB é realmente a resposta da
orelha direita e que a orelha esquerda não está interferindo na pesquisa do limiar.

Limiar 1000 Hz VO OD mascaramento OE por VA


10 x
1 platô
10 20
2 platô
10 30
3 platô
10 40

Como podemos observar e já mencionado acima, a técnica utilizada para mascarar


a via óssea e a via aérea é exatamente a mesma. São utilizados incrementos de
10 dB de ruído na orelha não testada até obter-se 3 platôs na orelha testada.
Na pesquisa de via óssea, existe apenas um caso em que não é necessário
achar 3 platôs: quando após mascarada a via óssea acopla na aérea, conforme
exemplo abaixo:

Frequência de 1000 Hz

OD OE

VA: 60 dB VA: 10 dB

VO: 10 dB

67
Unidade iii | Audiologia básica

Limiar 1000 Hz VO OD mascaramento OE por VA

10 x

20 20

30 30

40 40

Podemos observar que a VO piorou até chegar no mesmo valor da via aérea
do mesmo lado (40dB). Como a via óssea não pode ser pior que via aérea, ao
acoplar, a pesquisa com mascaramento contralateral pode ser encerrada.

Como a via óssea precisa ser retestada com mascaramento sempre, uma tática
utilizada por muitos para agilizar o exame é realizar a pesquisa inicial da via
óssea com o paciente já posicionado com o fone contralateral para mascarar. Ao
se realizar a pesquisa, caso não acople já se retesta com o mascaramento. Essa
prática agiliza o exame, porém só deve ser realizada quando o examinador já
tiver, bem assimilados, os conceitos e a técnica do mascaramento para que não
ocorram erros.

Independentemente de se estar mascarando a via óssea ou a via aérea, precisamos


orientar ao paciente que ele deve responder para o apito e não para o som.
Observo que, na prática clínica, alguns pacientes ficam confusos quando
colocamos o ruído e, muitas vezes, respondem para ele e não para o tom. Uma
orientação bem realizada, além de inicialmente colocar o tom alto quando o
ruído é inserido para mostrar ao paciente o que ele deve ouvir, também ajuda
para este apresente respostas consistentes.

O mascaramento deve ser utilizado sempre que houver a possibilidade de o


sinal de teste ser percebido pela orelha não testada.

Na audiometria por via aérea: quando houver uma diferença ≥ 40 DB na


comparação do limiar de via aérea da orelha testada com o limiar de via óssea
da orelha não testada.

Na audiometria por via óssea: sempre, porque a atenuação interaural é zero.

Para mascarar tanto a via aérea quanto a óssea usamos a técnica do platô,
em que damos incrementos de 10 dB na orelha que queremos excluir até
obtermos 3 manutenções de resulta na orelha que estamos pesquisando o
limiar.

68
Audiologia básica | Unidade iii

Mascaramento na audiometria vocal


Após estudarmos o mascaramento da audiometria tonal, precisamos agora
entender como acontece com os testes de fala. Vamos ver quando e como
mascaramos os testes de fala.

Quando mascarar os testes de fala?

A primeira coisa que precisamos nos atentar é que o teste de fala é realizado por
meio de fones, por isso o raciocínio de quando mascarar se assemelha ao que
realizamos para tonal via aérea.

Outro ponto importante é entender a atenuação interaural dos testes de fala.


Por ser feito por fone, já sabemos que uma intensidade será perdida para fazer o
crânio vibrar. Nos testes de fala que exigem reconhecimento (ou seja, o paciente
precisa entender e repetir) essa atenuação é de 45 dB. O LRF e o IRF são os
testes que precisam de reconhecimento. Já no LDF, só é necessário detectar a
fala, por isso, sua atenção é de 40 dB igual à audiometria tonal que exige também
apenas detecção. O fato de o paciente precisar entender a palavra para que seja
considerado resposta é o que faz a atenuação do teste ter 5DB a mais dos testes
que só precisam de detecção.

Após calcularmos com quanto o crânio vibrará no teste, precisamos observar se


a via óssea contralateral pode estar ouvindo e, com isso, interferindo no exame.
Aqui, é outro ponto que precisamos prestar atenção, pois estamos comparando
a fala do exame realizado com a via óssea que é pesquisada em tom. Sempre que
compararmos fala com tom, devemos comparar com a média tritonal. Por isso,
precisamos comparar a intensidade que a fala faz o crânio vibrar com a média
tritonal da via óssea contralateral.

Vamos ver, agora, um exemplo para cada teste de fala:

LRF

LRF OD= 50 dB OE MT: 0 DB

Ao fazermos o cálculo, observamos que o crânio vibrará em 5 dB (50 - 45 =5)


e que a via óssea da orelha esquerda (média tritonal) poderá ouvir, então é
necessário retestar com mascaramento.

69
Unidade iii | Audiologia básica

IRF

IRF OD= 85 dB OE MT: 10 dB

O raciocínio utilizado é o mesmo acima, ao fazermos o cálculo observamos que


o crânio vibrará em 40 dB (85 - 45 =40) e que a via óssea da orelha esquerda
(média tritonal) poderá ouvir, então é necessário retestar com mascaramento.

Um ponto importante do IRF é que antes de ser realizado, diferente do LRF


e do LDF que são limiares, já sabemos qual o valor da intensidade que iremos
usar. Com isso, caso seja necessário usar mascaramento, já o fazemos desde o
início. No IRF, não fazemos sem e depois observamos se precisa mascarar e
retestamos, aqui o teste já é realizado com o mascaramento contralateral, caso
seja necessário.

LDF

LDF OD= 70 dB OE MT VA: 40 dB

MT VO:20 dB

Mesmo o LDF não exigindo detecção e tendo uma atenuação interaural menor, o
raciocínio ainda se mantém e é necessário retestar esse LDF. Porém, o cálculo de
perda de intensidade será de 40 (70 - 40 =30).

Nesse exemplo, há algo importante para prestarmos atenção e que é motivo de


muitos erros. O lado esquerdo (orelha que pode estar interferindo) possui um
GAP, ou seja, VA e VO possuem valores diferentes. Precisamos sempre lembrar
que o som se propaga por vibração e é a VO contralateral que pode atrapalhar
o exame, então temos que comparar com a média tritonal de VO. No exemplo,
se tivéssemos comparado com a média de VA, não teríamos mascarado, mesmo
havendo necessidade, o que seria um erro.

Após a análise do que precisa ser retestado, vamos ver como fazer.

Como mascarar os testes de fala?

O mascaramento do teste de fala não é dado por platôs e incrementos de ruídos,


mas, sim, por meio de uma fórmula para a obtenção do valor. A fórmula abaixo é
utilizada para todos os três testes.

70
Audiologia básica | Unidade iii

valor em que a cabeça vibra

3 incrementos de uma vez (30dB)

GAP do lado do ruído - MTVA-MTVO (se houver)

Vamos, agora, destrinchar cada valor dessa fórmula:

» Valor que a cabeça vibra: os testes de fala perderão 45 dB (com


reconhecimento) e 40 dB (sem reconhecimento) para fazer o crânio
vibrar. É esse valor que colocamos na fórmula. Ex: LRF 60 fará o
crânio vibrar em 15 dB (60-45= 15).

» 3 incrementos de uma vez (30dB): valor fixo a ser colocado de ruído.

» GAP do lado do ruído - MTVA-MTVO: como o ruído é colocado por


via aérea, mas queremos atrapalhar a óssea, caso haja GAP na orelha
do ruído, precisamos compensar. Como estamos falando de teste de
fala, sempre que olharmos para a tonal precisaremos olhar para a média
tritonal, por isso o GAP é da média tritonal.

Veremos, agora, um exemplo de cálculo para cada teste.

IRF

IRF OD= 85dB OE: MT: 10dB

+ 40 – quanto vibra (85-45=40)

+ 30

+ 0 – não há GAP na orelha do ruído (OE)

-------

70

No exemplo acima, o IRF será realizado em 85 dB com 70 dB de ruído


contralateral. Lembrando que o IRF já é realizado com mascaramento, caso
necessário. A intensidade do exame é fixa, por consequência seu mascaramento
também.

71
Unidade iii | Audiologia básica

LRF

LRF OD= 50 dB OE: MT: 0 dB

+ 05 – quanto vibra (50-45=5)

+ 30

+ 0 – não há GAP na orelha do ruído (OE)

-------

35

Por ser um limiar que pode mudar ao se usar o mascaramento, precisamos


testar e ver o que acontece.

» Caso o limiar sem mascaramento se mantenha quando colocarmos o


mascaramento, a pesquisa se encerra.

» Caso o limiar mude com o uso do mascaramento, deve-se recalcular


o valor de ruído para o novo limiar encontrado e retestar esse limiar
com o novo ruído. Caso se confirme, a pesquisa se encerra. Sempre
que o limiar mudar, o recálculo do ruído deve acontecer e uma nova
testagem para confirmação também.

LDF

LDF OD= 70dB OE: MT VA: 40dB

MTVO: 20DB

+ 30 – quanto vibra (70-40=30)

+ 30

+ 20 GAP da orelha do ruído (40-20)

-------

80

No exemplo acima, observamos que a orelha do ruído possui GAP e que


precisamos colocá-lo na fórmula. Por ser uma pesquisa limiar igual ao LRF,

72
Audiologia básica | Unidade iii

aqui também, se houver mudança do limiar quando colocamos o ruído, o valor


do ruído deve ser recalculado e o novo limiar testado para confirmar.

» LRF e IRF: precisam do reconhecimento da palavra – Atenuação de 45 dB.

» LDF: não precisa do reconhecimento da palavra – Atenuação de 40 dB.

Sempre precisamos comparar com a média tritonal da via óssea contralateral.

O valor do ruído é calculado pela fórmula:

valor em que a cabeça vibra

3 incrementos de uma vez (30dB)

GAP do lado do ruído - MTVA-MTVO (se houver)

Diante de tudo estudado neste capítulo denso de mascaramento, a principal


lição é que precisamos compreender muito bem a fisiologia do que acontece,
assim o mascaramento não se torna um “bicho de sete cabeças”. Além disso, o
treino e a repetição do raciocínio de como e quando mascarar fazem com que
o automatizemos e já consigamos fazer o raciocínio de forma rápida e intuitiva
durante o exame. A prática é essencial para o uso do mascaramento.

Imitanciometria
Neste item falaremos sobre a imitanciometria e seus dois principais testes:
a timpanometria e a pesquisa da curva timpanométria. Ao final, também
relacionaremos seus achados com a audiometria, uma vez que esta é uma das
principais análises que realizamos na nossa prática clínica.

A imitanciometria é um exame objetivo e de fácil execução, que deve fazer


parte da rotina clínica da avaliação audiológica. Junto com a audiometria, ela
compõe a avaliação audiológica básica. Por ser um exame objetivo, que muitas
vezes já nos possibilita ter uma ideia do que podemos encontrar na audiometria,
recomendo que ele sempre seja realizado primeiro. Desta forma, com o exame
objetivo já realizado, durante a audiometria, caso haja incompatibilidade esta
será logo detectada.
73
Unidade iii | Audiologia básica

Para a realização do exame, podemos fazer uso de equipamentos automáticos


e manuais. Os automáticos, atualmente, são os mais comuns na prática clínica.
Inicialmente, tendemos a desejar sempre fazer o uso do automático, pois ele
nos fornece a curva timpanométrica pronta, sem necessidade de pesquisar seus
pontos e de fazer cálculos.

Porém, temos que ter cuidado com o uso do equipamento automático. Em casos
de curvas timpanométricas atípicas, pode ser difícil identificar o traçado que
aparece no visor. Além disso, oriento sempre que a pesquisa do reflexo seja
feita de forma manual, pois as intensidades pesquisadas de forma automática,
muitas vezes, não são as mais baixas que geram reflexo. Caso o equipamento
disponível seja o manual, é necessário saber o passo a posso da timpanometria,
pois teremos que realizá-la.

Independente do equipamento disponível, temos que entender a fisiologia do


exame e o que os resultados significam. Caso seja possível, o ideal é saber realizar
o exame nos dois equipamentos, uma vez que cada clínica pode ter uma versão
diferente do imitanciômetro.

Veremos agora cada teste separado.

Timpanometria
A timpanometria é um procedimento objetivo que auxilia no diagnóstico de
alterações na orelha média. Ela é a medida da variação da imitância do sistema
auditivo em função da variação da pressão inserida no meato acústico externo.
O registro gráfico dessa variação é feito no sentido horizontal, em função
da variação de pressão, e no sentido vertical, em função da mobilidade ou
admitância (conforme podemos observar na figura abaixo). Esses registros são
conhecidos como Curvas timpanométricas ou timpanogramas.

Figura 22. Exemplo de gráfico da curva timpanométrica.

Admitância

Pressão

Fonte: elaborada pelo autor.

74
Audiologia básica | Unidade iii

O exame é realizado a partir da inserção de uma sonda no meato auditivo


externo do sujeito e, assim que verificado o adequado vedamento (podemos
verificar desligando a bomba de pressão e, caso a pressão se mantenha, ocorreu
o vedamento), o equipamento promoverá variações na pressão do ar contido
na cavidade (+200 a -600 dapa), a fim de verificar a mobilidade do sistema
tímpano-ossicular.

Caso se esteja fazendo uso do equipamento automático, a curva já aparecerá


desenhada no visor deste, sendo necessário anotar apenas a pressão e a compliância
do pico e a pressão em que a curva fecha. Caso o equipamento seja manual, é
preciso seguir o seguinte passo a passo:

» Colocar + 200 de pressão e observar a compliância ‒ ponto de partida


que servirá de parâmetro para o resto do exame.

» Retirar a pressão até achar o pico ‒ momento de maior compliância


(varia de pessoa para pessoa a pressão e a compliância).

» Achar o ponto negativo com a mesma compliância de + 200 ‒ momento


em que se tem a mesma rigidez que em +200.

Esses três pontos encontrados servirão para desenharmos a nossa curva. Porém,
após encontrados os 3 valores, observaremos, conforme a figura abaixo, que a
curva está “voando”.

Figura 23. Exemplo de curva timpanométrica inicial.

Orelha direita Orelha esquerda

Fonte: elaborada pelo autor.

Para realizar a classificação das curvas conforme a literatura, convencionou-se


que +200 sempre tem que ser igual a zero. Por isso, todos os pontos encontrados
devem ser diminuídos do valor de +200 (para manter a proporção encontrada
no exame). Isso deve ser feito pois +200 representa a compliância da orelha

75
Unidade iii | Audiologia básica

média e o pico da orelha média + interna. Então, ao retirarmos o valor da orelha


externa do gráfico (ou seja, o valor de +200), ficamos apenas com o valor de
orelha média, que é o objetivo da avaliação timpanométrica.

A partir daí, com a curva com +200 igual a zero, conforme observamos abaixo,
realizamos a classificação da curva encontrada.

Figura 24. Exemplo de curva timpanométrica.

Orelha direita Orelha esquerda

Fonte: elaborada pelo autor.

Essa classificação ocorre pela avaliação das medidas do volume da cavidade


e a pressão apresentada no ponto de máxima compliância do sistema (pico de
compliância). Importante aqui ressaltar que existem diversas classificações
de diversos autores. É fundamental saber qual autor está sendo utilizado na
classificação que você irá realizar (algumas clínicas já apresentam um padrão a
ser utilizado por todos os profissionais).

Aqui, usaremos a classificação segundo Carvalho, 2012, o qual classifica as curvas


timpanométricas como Tipo A, Ar, Ad, C e B. Além destas, existem a duplo pico
e a pico positivo. Veremos detalhadamente cada uma, correlacionando com os
achados da audiometria esperados.

Curva tipo A

Na curva tipo A, é observado que o ponto máximo de relaxamento (pico de


curva) ocorre na faixa de pressão entre +50 a -100 DaPa e que a compliância
varia de 0,3 a 2,5mm. Um exemplo deste tipo de curva pode ser observado na
imagem abaixo:

76
Audiologia básica | Unidade iii

Figura 25. Exemplo de curva timpanométrica tipo A (orelha direita).

Fonte: elaborada pelo autor.

A curva tipo A significa que a mobilidade do sistema tímpano-ossicular está


normal, ou seja, a orelha média funciona bem. Por isso, essa é a curva esperada
em pessoas com audição normal ou com perda sensorioneural. Porém, temos
que lembrar que há a variação pessoal. Um exemplo bem didático é pensar em
uma pessoa que inicialmente possuía uma curva tipo A com a compliância de
1,5 e, após o exame, desenvolveu a otosclerose. Ao realizar um novo exame, a
curva permaneceu tipo A, porém com a compliância de 0,5. Podemos observar
que houve, sim, um enrijecimento do sistema (a compliância de 1,5 passou para
0,5), ou seja, para essa pessoa 0,5 é a compliância do seu sistema rígido.

Curva tipo Ar

A curva tipo Ar, também conhecida como As, ocorre quando há rigidez no
sistema. Um bom modo de associar é o “r” com a rigidez. Por ser uma variante
da curva tipo A, seu pico acontece na faixa de pressão entre +50 a -100 DaPa,
porém a compliância é reduzida abaixo de 0,3mm, conforme podemos observar
na figura abaixo:

Figura 26. Exemplo de curva timpanométrica tipo Ar (orelha esquerda).

Fonte: elaborada pelo autor.

A curva tipo Ar, como está relacionada à rigidez do sistema, também está
relacionada ao componente condutivo, principalmente à otosclerose. Como
citado na descrição da curva tipo A, precisamos lembrar que existem variações
77
Unidade iii | Audiologia básica

pessoais e pode existir pessoas que, naturalmente, possuem uma rigidez maior e
que para ela isso é normal. É por isso que podemos encontrar audição normal em
pessoas com curvas timpanométricas tipo Ar.

Curva tipo Ad

A curva tipo Ad é a última variante da curva tipo A. Igual a Ar, por uma
variante do tipo A, acontece na faixa de pressão entre +50 a -100 DaPa, porém
sua compliância é grande, apresentando admitância maior que 2,5mm. Abaixo,
podemos observar um exemplo de curva timpanométrica Ad:

Figura 27. Exemplo de curva timpanométrica tipo Ad (orelha direita).

Fonte: elaborada pelo autor.

Um bom jeito de lembrar da Ad é associar o “d” à disjunção da cadeia


tímpano-ossicular, sua alteração característica. Temos que ter em mente que
na Curva Ad o sistema está tão flácido que não conduz a vibração do som como
deveria e, com isso, acaba por causar uma perda auditiva com componente
condutivo. Da mesma forma que a Ar, também podemos encontrar a curva
timpanométrica Ad em pessoas com audição normal.

Curva tipo C

A curva timpanométrica tipo C é caracterizada pelo pico de máxima admitância


deslocado para pressões negativas, abaixo de -100 Dapa. Nesse tipo de curva,
observamos que o pico não acontece mais na faixa de pressão das A e que não
importa a sua compliância, basta apenas o pico acontecer em pressão negativa,
como observamos na figura abaixo:

78
Audiologia básica | Unidade iii

Figura 28. Exemplo de curva timpanométrica tipo C (orelha esquerda).

Fonte: elaborada pelo autor.

Normalmente, as curvas tipo C estão associadas à disfunção tubária,


podendo indicar o início ou término de uma otite. Ela também é encontrada
em respiradores orais ou pessoas com rinite e sinusites recorrentes, uma
vez que, nesses casos, há o mau funcionamento da tuba auditiva. Esse mau
funcionamento não permite que ocorra a troca de ar na orelha média, gerando
a pressão negativa. Com a orelha média contendo pressão negativa, o esperado
na audiometria é a presença do componente condutivo, uma vez que a orelha
média não conseguirá realizar sua função.

Curva tipo B

A curva tipo B se caracteriza pela ausência de pico, não havendo variação da


compliância. Isso ocorre em casos de otites, onde há líquido em orelha média,
não permitindo que o sistema tímpano-ossicular se movimente. Um ponto
importante na pesquisa dessa curva é que precisamos pesquisar até a pressão de
-400 DaPa para classificá-la com B. Vejo que muitos examinadores encerram a
pesquisa em -200 DaPa quando não obtêm pico e a consideram tipo B, porém
o pico pode ocorrer em -260 DaPa, por exemplo (que seria uma curva tipo C).
Por isso, é importante que a pesquisa tenha sido feita até - 400 DaPa. Abaixo,
vemos um exemplo da curva tipo B:

Figura 29. Exemplo de curva timpanométrica tipo B (orelha direita).

Fonte: elaborada pelo autor.

79
Unidade iii | Audiologia básica

Por ser característica de otite, a curva tipo B apresenta uma audiometria


obrigatoriamente com componente condutivo. Podemos encontrar uma perda
auditiva condutiva, mista e até uma audição com limiares normais, porém com
GAP aéreo/ósseo.

Curva pico positivo

A curva pico positivo se caracteriza pela pressão do pico ser maior que +50
DaPa. Ela é encontrada em pessoas que têm o costume de realizar a manobra
de valsalva. A audiometria desses indivíduos não apresenta nada característico,
podendo ser encontrado um exame normal. Abaixo, vemos um exemplo da
curva:

Figura 30. Exemplo de curva timpanométrica tipo Pico Positivo (orelha esquerda).

Fonte: elaborada pelo autor.

Curva duplo pico

A curva duplo pico, como o nome já diz, caracteriza-se pela presença de dois
picos em momentos diferentes, conforme vemos abaixo:

Figura 31. Exemplo de curva timpanométrica tipo Duplo Pico (orelha direita).

Fonte: elaborada pelo autor.

Normalmente, esse tipo de curva acontece em ouvido que possui regeneração


(natural ou através de cirurgia) da membrana timpânica, onde a parte da

80
Audiologia básica | Unidade iii

membrana que teve origem embrionária tem mais rigidez, uma vez que possui
a camada membranosa (que só se desenvolve na fase embrionária) e outra parte
mais flácida, a regenerada, que não possui a camada fibrosa.

Esse achado também não possui uma audiometria característica. Caso o paciente
não tenha mais otites, podemos encontrar uma audiometria normal.

Diante do exposto, podemos entender, então, que a curva tipo B é a taxativa de


componente condutivo e as demais, apesar de terem alterações mais esperadas e
típicas, podem ocorrer em pessoas normais ou em patologias não tão associadas.
Nesse tocante, quando falamos de componente condutivo, a presença ou
ausência de reflexo é mais taxativa quando existir ou não componente condutivo.
Essa questão será abordada a seguir, quando estudaremos o reflexo acústico.

Pesquisa do reflexo acústico estapediano


A pesquisa do Reflexo Acústico acontece depois da realização da timpanometria,
uma vez que a sua pesquisa tem que ocorrer na pressão de maior compliância,
ou seja, na pressão em que o pico acontece. Isso ocorre pois precisamos do
sistema tímpano-ossicular bem móvel para podermos captar o enrijecimento
desse sistema a partir da contração do músculo tensor do tímpano quando há um
estímulo sonoro de forte intensidade.

O principal erro que observo na prática clínica no uso do equipamento manual


é, justamente, após a pesquisa da timpanometria, não retornar para a pressão
do pico. Com esse não retorno, o sistema fica rígido (na pressão em que a
curva fechou) e isso é o suficiente para não captarmos o reflexo (uma vez que
em um sistema já rígido não percebemos o enrijecimento proporcionado pelo
reflexo). No caso dos equipamentos automáticos esse erro não acontece, pois,
ao selecionar a opção do reflexo acústico, o equipamento automaticamente
seleciona a pressão em que o pico ocorreu.

Devido à complexidade e à participação de estruturas da via auditiva, a pesquisa


do reflexo também é utilizada na pesquisa da integridade das vias auditivas
participantes deste arco reflexo. Seu uso abrange a pesquisa da função da
orelha média, da cóclea, do nervo auditivo, tronco encefálico e nervo facial.
Um exemplo clássico de alterações retrococleares é a presença dos reflexos
ipsilaterais e ausência dos contralaterais bilateralmente.

81
Unidade iii | Audiologia básica

Os reflexos acústicos estapedianos correspondem à contração do músculo


estapediano mediante estimulação acústica de forte intensidade. Este músculo
está ligado à porção anterior da cabeça do estribo e durante a sua contração há
uma limitação do movimento dos ossículos, atenuando a vibração em todo o
sistema.

Essa ação é considerada um mecanismo que auxilia na proteção da orelha interna


aos danos causados por sons intensos. A admitância da orelha média diminui
quando os músculos estapédio e tensor do tímpano contraem-se, aumentando a
rigidez do sistema. Com a análise da ausência ou presença desse reflexo podemos
avaliar a das estruturas da orelha média e interna além do arco reflexo.

Um detalhe importante que devemos sempre lembrar é que, mesmo que a


estimulação sonora para eliciação do reflexo seja unilateral, o reflexo ocorre de
forma bilateral (ou seja, ipsi e contralateralmente) e, é por isso, que podemos
fazer a pesquisa contralateral e ipsilateral do reflexo acústico.

Quando realizamos a pesquisa do reflexo ipsilateral, estamos fornecendo o


som alto para que o reflexo aconteça do mesmo lado em que o iremos captar,
ou seja, a aferência e a eferência estão do mesmo lado, conforme observamos
na figura abaixo:
Figura 32. Exemplo do reflexo ipsilateral direito.

Fonte: elaborada pelo autor.

Já quando realizamos o contralateral, o som é dado em uma orelha e a captação


acontece na outra, então avaliamos a aferência de um lado e a eferência de outro,
conforme exemplo abaixo:
Figura 33. Exemplo do reflexo contralateral esquerdo.

Fonte: elaborada pelo autor.

82
Audiologia básica | Unidade iii

É importante observar que o estímulo dado no ipsilateral é em dBNPS, enquanto


no contralateral é em dBNa (já estudamos no início do módulo essa diferença).
É por esse motivo que quando vamos calcular o diferencial (DIF) entre o limiar
do reflexo e o limiar auditivo usamos o limiar do contralateral, assim estaremos
comparando exames que fizeram uso do mesmo tipo de estímulo sonoro (dBNa).

Independente de realizarmos a pesquisa do contralateral ou do ipsilateral,


o procedimento acontece de forma igual, diferenciando-se apenas se será
utilizado somente a sonda (pesquisa do ipsilateral) ou também o fone (pesquisa
do contralateral). A pesquisa dos reflexos acústicos ocorre nas frequências de
500, 1000, 2000 e 4000 Hz (sendo que o reflexo ipsilateral é comumente apenas
realizado em 1000 e 2000 KHz).

Precisamos lembrar que a observação do reflexo é diferente para cada equipamento.


Nos equipamentos automáticos, em sua maioria, observamos a resposta ao
estímulo como uma onda, já no manual precisamos observar se o ponteiro passa
do número 1 da escala. Ainda no quesito de observar a resposta, precisamos
fazer duas observações importantes. Independente de qual equipamento está
sendo usado, deveremos considerar reflexo sempre que houver uma mudança de
compliância (de rigidez) igual ou maior de 0,03.

Quando estamos usando o equipamento automático, a escala nos apresenta


apenas o valor de 0,05 e precisamos observar se a amplitude da onda é igual
ou maior que esse valor. Como não temos assinalado onde se encontra o
valor de 0,03, acabamos por considerar o reflexo quando passa de 0,05 que
está disponível. Isso faz com que, muitas vezes, o limiar do reflexo acústico
pesquisado nos equipamentos automáticos seja um pouco maior.

No equipamento manual há a marcação do 0,03, porém sua visualização é


bastante difícil, por isso, propositadamente, o valor de 0,03 na escala do reflexo
corresponde ao 1 na escala da compliância. Assim, podemos fazer a pesquisa
tomando o 1 como referência, porém sempre lembrando que significa a mudança
de 0,03 na compliância. Dessa forma, os reflexos encontrados em equipamentos
manuais tendem a ter menor intensidade.

Além disso, há algumas dicas que podemos observar para considerarmos que o
que vimos no imitanciômetro é realmente reflexo. Abaixo, vamos descrevê-las:

83
Unidade iii | Audiologia básica

» A oscilação da agulha do balanceômetro/registro de onda no gráfico


deve ser maior que 0,03.

» Ao aumentar a intensidade do estímulo, a amplitude do reflexo deve


aumentar também, uma vez que a contração do músculo também é
maior.

» Não ocorre reflexo em fracas intensidades (testar em 30 ou 40 dBNA).


Precisamos lembrar que o reflexo é uma resposta a um som considerado
alto. O menor DIF possível é de 30 dB. Ficar atento a isto auxilia a
detectar incompatibilidades de pacientes que respondem muito pior do
que realmente ouvem.

» Se o estímulo é mantido, o reflexo se mantém também. O reflexo deve


ocorrer sempre que houver som em alta intensidade.

Após a pesquisa dos reflexos acústicos, duas análises devem ser feitas: uma do
lado em que ele foi captado e a outra do lado que foi eliciado.

Devemos observar com muita atenção o lado da captação do reflexo (onde


está a sonda). Caso haja PELO MENOS UM reflexo captado, o lado onde essa
captação ocorre não possui componente condutivo, isso significa que, caso esse
lado possua uma perda auditiva, ela obrigatoriamente é sensorioneural. Por
isso, estimulo que a imitanciometria deve ser realizada antes da audiometria.
Caso se obtenha reflexos bilateralmente, sabemos que esse paciente possui
audição normal ou perda sensorioneural.

Já na aferência, ou seja, na eliciação do reflexo, quando temos reflexos presentes


sabemos que o paciente escuta até uma perda auditiva moderada (não recrutantes)
e moderado/severo (recrutantes), uma vez que o som foi suficientemente forte
para fazer o reflexo acontecer. Quando falamos de aferência, podemos olhar
frequência por frequência pesquisada. Além disso, é na aferência que calculamos
o DIF (diferencial do limiar auditivo para o limiar do reflexo contralateral) e o
classificamos. Aqui, usaremos a classificação segundo Jerger e Jerger (1989):

» Normal: diferença maior ou igual a 70 e inferior ou igual a 100 dBNA.

» Aumentado: diferença superior a 100 dBNA ou quando os reflexos


estiverem ausentes na presença de limiares audiométricos inferiores
a 25 dBNA (comum nas aferências de componentes condutivos e em
casos de alterações retrococleares).

84
Audiologia básica | Unidade iii

» Reduzido: diferença inferior a 60 dBNA ‒ Presença de Recrutamento


Objetivo de Metz. Fenômeno que caracteriza lesão das células ciliadas
em perdas auditivas sensoriais e sua presença deve ser descrita na
observação do exame.

Além da análise do que esperar na audiometria, também podemos pensar no


que esperar da imitanciometria a partir do que encontramos na audiometria,
uma vez que alterações nas estruturas, desde a orelha externa até o tronco
encefálico, podem interferir nas medidas do reflexo do estapédio. Vamos,
agora, relacionar os resultados da pesquisa do reflexo acústico a partir da
audiometria:

» Perdas auditivas com componentes condutivos:

› Alterações condutivas (perdas auditivas condutivas ou mistas)


reduzem a mobilidade do sistema tímpano-ossicular, não sendo
possível captar a mudança de rigidez que acontece quando temos o
reflexo. Por isso, nesses casos, o reflexo estará ausente.

› A única exceção é a fratura da crura do estribo, porém essa patologia


raramente é observada.

» Perdas auditivas cocleares:

› Perdas auditivas cocleares são encontradas na audiometria com


as perdas auditivas sensorioneurais e presença ou ausência dos
reflexos estapedianos, nestes casos, está relacionada ao grau da
perda auditiva ou limiares das frequências testadas.

» Na lesão retrococlear:

› Normalmente, caracteriza-se por uma desordem no nervo VIII par


e, geralmente, apresenta ausência de reflexo ipsi e contralaterais
quando o lado lesado é estimulado.

» Desordens do tronco encefálico:

› Quando uma lesão acomete a via do reflexo (o momento em que o


estímulo faz o cruzamento na via aferente), geralmente os reflexos
contralaterais estão ausentes na presença dos ipsilaterais.
85
Unidade iii | Audiologia básica

› As desordens retrococleares precisam de exames complementares


(PEATE) para seu diagnóstico. Porém, achados da audiometria e da
imitanciometria já podem mostrar indícios.

Vale destacar, aqui, uma indicação importante da imitanciometria que ocorre


nos casos de paralisia facial. Como sabemos, o músculo estapédio que se contrai
no reflexo é inervado pelo IV par. Nos casos de paralisia facial, ao se realizar a
imitanciometria, caso o reflexo seja captado do lado paralisado, significa que a
lesão do nervo aconteceu após o ramo do estapédio, pois o reflexo ainda acontece.
Caso o reflexo esteja ausente, pode significar que a lesão aconteceu antes do ramo
do estapédio e, por isso, o reflexo também foi afetado (quando isso acontece,
normalmente o paciente relata desconforto a sons intensos que não ocorria antes
da paralisia). Cabe ressaltar que realizar a audiometria é fundamental para nos
auxiliar na interpretação da imitanciometria, uma vez que reflexos ausentes
também são esperados em perdas auditivas com componente condutivo. Então,
nos casos de paralisia, se os reflexos estão ausentes e a audiometria está normal
ou com perda auditiva sensorioneural, muito provavelmente é por conta da
paralisia. Porém, se os reflexos estão ausentes e há componente condutivo na
audiometria, não podemos fazer essa afirmação.

Outra observação importante a se fazer refere-se a ouvidos que já passaram


por cirurgia. Caso o paciente esteja em uso de tubo de ventilação não é possível
realizar a imitanciometria e a mesma impossibilidade acontece para ouvidos
com tímpano perfurado e com cavidade cirúrgica pós-retirada de colesteatoma.
Nos casos de cirurgia de otosclerose ou reconstrução de membrana timpânica,
também não é recomendada a realização do exame, uma vez que ao colocarmos
e retirarmos a pressão na timpanometria podemos causar algum problema.
Vale a pena, nesses casos, colocar uma observação no exame, descrevendo
que o exame não foi realizado devido a histórico de cirurgia otológica.

Por fim, precisamos sempre realizar a análise de compatibilidade entre


imitanciometria e audiometria tonal. A imitanciometria, por ser objetiva, tende
a nos fornecer dados mais “seguros”, sendo esta a primeira a ser considerada
verdadeira quando há incompatibilidade com a audiometria. Precisamos sempre
“checar” se os limiares auditivos são compatíveis com a eliciação do reflexo
e se onde o reflexo é captado não há componente condutivo. Seguindo essas
orientações, a probabilidade de a avaliação audiológica básica realizada estar
errada é muito baixa.

86
Audiologia básica | Unidade iii

A imitanciometria se divide em timpanometria e pesquisa dos reflexos


acústicos estapedianos.

Na timpanometria, podemos encontrar curvas tipo A, Ar, Ad, C, B, pico positivo


e duplo pico.

A pesquisa dos reflexos acústicos estapedianos pode ser ipsilateral ou


contralateral e analisamos sua presença, ausência e limiar em que ocorre.
Presença de reflexo significa que o lado que captou não tem componente
condutivo e que o lado que eliciou possui até perda auditiva moderada (não
recrutante) e moderadamente severa (recrutante).

Além disso, deve ser calculado o diferencial entre limiar do reflexo


contralateral e da audiometria tonal.

87
AUDIOLOGIA BÁSICA UNIDADE IV

Até aqui, estudamos como acontece a avaliação audiológica básica padrão, suas
técnicas e seus possíveis resultados. Porém, a técnica a ser utilizada e como
iremos dar o laudo varia um pouco a depender da idade da pessoa avaliada,
principalmente se falarmos da avaliação infantil.

Cada etapa da vida (criança, adulto e idoso) apresenta sua particularidade na


avaliação audiológica e é isso que estudaremos nessa unidade.

CAPÍTULO 1
Avaliação auditiva na criança

O diagnóstico audiológico infantil é de extrema importância, uma vez que as


perdas auditivas causam um importante comprometimento do desenvolvimento
infantil. A avaliação auditiva infantil é a que mais difere do que estudamos até
agora neste módulo, pois crianças muito pequenas não conseguem realizar a
audiometria de forma clássica como estudamos (isso só é possível por volta de 5
anos). Mas, isso não significa que não podemos avaliar a audição da criança.

Existem técnicas específicas de audiometria para a avaliação auditiva infantil,


as quais estudaremos neste capítulo. Além disso, quando falamos de diagnóstico
audiológico infantil, o mesmo é sempre realizado por meio da junção de medidas
objetivas (PEATE, OEA e imitanciometria) e subjetivas (audiometria).

É importante ressaltar que a avaliação auditiva infantil deve se iniciar com o


teste da orelhinha (teste obrigatório em todo recém-nascido). Crianças que
falhem no teste da orelhinha precisam ir para o diagnóstico e aquelas que
passam, mas possuem indicador de fator de risco para perda auditiva, precisam
ser acompanhadas.

Antes de estudarmos as técnicas, algumas observações são necessárias:

88
Audiologia básica | Unidade iv

» A anamnese é fundamental para a avaliação auditiva infantil. É através


dela que conhecemos a criança que iremos avaliar, que sabemos quais
suas capacidades, como se comunica, suas afinidades. Na entrevista,
precisamos perguntar sobre o desenvolvimento motor, de linguagem,
sobre o que a criança gosta de brincar. Também é recomendado que
façamos perguntas à criança caso ela já tenha capacidade de responder,
para criarmos vínculo.

» A meatoscopia deve ser realizada sempre que possível. É recomendado


que a cabeça da criança esteja apoiada no colo do responsável, para
que ela não se mexa durante o procedimento e não corra o risco de se
machucar. Em alguns casos, principalmente por medo, a criança não
permite que realizemos o procedimento. Nesse caso, não é orientado
forçar ou segurar a criança, pois ela pode criar resistência e não realizar
o resto dos exames. Podemos realizar a audiometria sem a meatoscopia
e colocar uma observação no exame (principalmente se o resultado for
normal). Uma outra alternativa é realizar quando a criança dormir.

» Crianças apresentam um alto índice de colabamento do meato acústico


externo, por isso o uso da técnica é fundamental (apenas dispensável
no caso do uso de caixas acústicas ou na audiometria comportamental,
pois não há o uso de fones).

» Em muitos casos, apenas com a audiometria infantil não conseguimos


determinar com precisão o limiar auditivo da criança, porém podemos
excluir alguns graus ou tipo de perdas que acabam por auxiliar bastante
no diagnóstico.

» O limiar máximo de normalidade para uma criança (até 8 anos) é até


15dB.

Abaixo, podemos ver um resumo das técnicas que serão estudadas, segundo a
idade em que cada uma é utilizada.

» 0 a 6 meses

Reflexo Cócleo-palpebral

Audiometria de respostas comportamentais (BOA)

89
Unidade iv | Audiologia básica

» 06 meses a 2 anos

Audiometria com Reforço Visual (VRA)

» Acima dos 2 anos

Audiometria Lúdica

A descrição da técnica a partir da idade em que ela é utilizada é realizada


a fim de dar um parâmetro para qual técnica será escolhida. Porém,
precisamos considerar a idade gestacional corrigida e o que a criança é
capaz de fazer, além de dominar a técnica. A escolha errada da técnica
pode acarretar um diagnóstico auditivo errôneo.

A partir de agora, estudaremos detalhadamente as técnicas a partir da idade.

Audiometria infantil de zero a 6 meses


Quando vamos realizar a audiometria infantil de zero a 6 meses precisamos ter
em mente que estamos avaliando bebês pequenos, que não possuem capacidade
de responder de forma condicionada ao som. É por isso que aqui nós observamos
a resposta do bebê a estímulos sonoros por meio da pesquisa do Reflexo
Cócleo-palpebral (RCP) e da Audiometria Comportamental (BOA).

Reflexo cócleo palpebral

Como o nome já diz, é um reflexo que acontece com a contração do músculo


orbicular dos olhos mediante a um estímulo sonoro intenso. Os instrumentos
usados para sua pesquisa podem ser o agogô (mais utilizado), pratos ou tambor.

O instrumento deve ser percutido ao lado da criança sem que ela veja o movimento.
O responsável deve ser orientado para que não se assuste e não interfira no
resultado. Essa pesquisa não deve ser realizada caso a criança esteja chorando.
Podemos ter como resposta o RCP presente ou ausente. Vejamos, abaixo, o que
cada um desses resultados significa:

» RCP presente: encontrado em crianças com audição normal ou com


perdas auditivas até o grau moderado, se estas forem recrutantes.

90
Audiologia básica | Unidade iv

» RCP ausente: encontrado em crianças com perdas auditivas moderadas


não recrutantes, severas e profundas. Além de ausente também
em crianças com alteração central.

Observe que apenas com o RCP podemos já ter uma ideia da audição da criança
e em casos presentes eliminar perdas auditivas grandes e bilaterais. Costumo
realizar sua pesquisa logo no início da avaliação, pois assim já podemos “ter uma
ideia” da audição de quem vamos avaliar.

Audiometria comportamental (BOA)

A audiometria comportamental se baseia em observar o comportamento da


criança mediante a alguns estímulos sonoros. Aqui, não falamos de pesquisa
de limiar auditivo ou de uma frequência específica, uma vez que os estímulos
sonoros são dados por meio de instrumentos.

Para sua realização é necessária uma sala silenciosa, além disso, a criança não
pode estar chorando e nem sonolenta. Serão dados estímulos sonoros a 20 cm
do pavilhão auricular (de um lado e depois do outro), durante 10 a 20 segundos,
e será realizada a observação do comportamento (se a criança responde ao
estímulo dado). Aqui, também é necessário tomar cuidado para que a criança
não veja o estímulo a ser dado.

A posição que a criança ficará no colo do responsável vai depender da idade. Até os
5 meses, fazemos com a criança deitada e, a partir daí, sentada (uma vez que com 5
meses espera-se o controle de tronco).

Se for possível, é interessante que fique alguém na frente da criança para


que possa distraí-la enquanto o examinador, atrás dela, se prepara para dar
o estímulo (isso evita que a criança veja o instrumento e responda para o
visual ao invés do auditivo). O responsável também deve ser orientado a não
interferir em nenhuma resposta.

O ideal é que se dê estímulos sonoros de frequências diferentes (graves e


agudos) em busca do instrumento mais baixo para o qual a criança responde
dos dois lados. É necessário saber qual a faixa de frequência e a intensidade do
instrumento que está sendo utilizado. Abaixo, segue a tabela com o exemplo de
alguns instrumentos:

91
Unidade iv | Audiologia básica

Tabela 3. Exemplo de intensidade e frequência de instrumentos utilizados na BOA.

Instrumento Faixa de Frequência Intensidade


Chocalho 4000 a 8000 Hz 80 dBNPS
Guizo 2000 a 8000 Hz 70 dBNPS
Sino 4000 a 8000 Hz 90 dBNPS
Tambor 250 a 600 Hz 85 dBNPS
Castanhola 1600 a 10000 Hz 75 dBNPS
Fonte: elaborada pelo autor.

Existem Kits que já são vendidos prontos para essa função (chamados de
“bandinha” ou Kit auditivo) e já possuem a caracterização de cada estímulo.

Também é importante testar a resposta da criança para a fala. O examinador


pode chamar a criança pelo nome ou cantar uma música que seja familiar. Segue
abaixo, de forma aproximada, a intensidade da voz em diferentes situações:

» Voz sussurrada: 40-45 dB.

» Fraca intensidade: 50-55 dB.

» Média intensidade: 65-70 dB.

» Forte intensidade: 80-85 dB.

Aqui, precisamos ter em mente um conceito importante que estará presente


na audiometria infantil enquanto não for possível o uso de fones: o da melhor
orelha. A estimulação é realizada dos dois lados, porém, como não conseguimos
separar as orelhas, uma vez que o som é dado no ambiente, a melhor resposta
que encontramos é considerada sempre a da melhor orelha. Um exemplo para
entendermos melhor: se encontramos um exame normal, sabemos que ao menos
uma orelha (a melhor) é normal. Não é possível saber se as duas são normais ou
se uma é normal e a outra possui uma perda auditiva. Por isso, o laudo sempre
deve deixar claro que o resultado encontrado se refere a melhor orelha.

Um outro ponto importante que precisamos lembrar é que na Audiometria


Comportamental não falamos de limiar auditivo ou de frequência, falamos se a
audição está normal para a idade na melhor orelha. Em crianças muito pequenas,
não é esperado que esta consiga responder igual a um adulto para um som muito
baixo, conforme observamos na tabela abaixo:

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Audiologia básica | Unidade iv

Tabela 4. Intensidade de respostas da criança ao som de acordo com a idade.

IDADE INSTRUMENTO (dBNPS)


RN – 06 semanas 70 – 90
06 semanas – 4 meses 50 – 60
04 – 07 meses 40 – 50
07 – 09 meses 30 – 40
09 – 13 meses 25 – 35
13 – 16 meses 25 – 30
16 – 21 meses 25
21 – 21 meses 25
Fonte: elaborada pelo autor.

Podemos observar pela tabela que, inicialmente, é esperado que o bebê só


responda a sons altos (por isso, o diagnóstico auditivo não se dá apenas com a
audiometria e, sim, por meio da bateria de exames audiológicos). Porém, bebês
com alterações auditivas não apresentam resposta mesmo em forte intensidade.

Ainda observando a tabela, por volta dos 6 meses a criança já é capaz de


responder a sons bem mais baixos e de lateralizar para os lados, o que nos
possibilita, então, a realizar a próxima técnica: A audiometria de reforço visual.

Audiometria infantil de 06 meses a 2 anos

Audiometria com reforço visual (VRA)

A audiometria com reforço visual é indicada para crianças entre 6 meses e 2


anos. Ela é realizada em cabine acústica, com audiômetro e já nos proporciona
um controle da intensidade e da frequência apresentada, o que fornece mais
precisão ao exame. São necessárias caixas acústicas (para caso a criança não
permita a colocação dos fones) e caixas que acendam luz para a realização do
reforço visual.

O exame se baseia no condicionamento operante, que na idade em que a técnica


é realizada, funciona muito bem. É realizado um condicionamento prévio
apresentando o som alto e o reforço visual é acendido simultaneamente até que a
criança sistematize as respostas e entenda que, ao ouvir o som, ela precisa olhar
para a caixa e, então, verá a caixa iluminada com reforço. Mínimas respostas
devem ser reforçadas até que condicione a resposta. Após o condicionamento
acontecer, na técnica descendente procuramos o nível mínimo de resposta.

93
Unidade iv | Audiologia básica

O nível mínimo de resposta é a intensidade mais baixa que se responde ao


menos uma vez. Cada intensidade é testada apenas uma vez e não quatro vezes
para se achar 50%, como acontece na pesquisa de limiar. Na avaliação infantil,
fazemos uso do nível mínimo de resposta ao invés da pesquisa de limiar, pois
o exame torna-se bem mais rápido (o que é necessário, uma vez que a criança
possui um curto tempo de atenção).

Outra diferença para a audiometria adulto é que pesquisamos, prioritariamente,


as frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz e alternamos os lados (pesquisa
1000Hz da direita, depois da esquerda, então 2000 Hz da esquerda e depois da
direita e assim sucessivamente) ao invés de realizar a pesquisa de um lado todo
para depois ir para outro. Fazemos isso pois, caso a criança perca a atenção e não
seja possível continuar o exame, teremos dados das duas orelhas.

Se a criança permitir a colocação dos fones, será possível fazer a avaliação separada
das orelhas. Mas, caso o exame tenha que ser feito em campo livre, os resultados
obtidos corresponderão à resposta da melhor orelha. O estímulo usado deve ser
prioritariamente o Warble, pois ele é mais interessante e tende a chamar mais a
atenção da criança.

O teste de fala também é realizado de forma similar à audiometria tonal, com a


criança olhando para o estímulo luminoso ao ouvir a voz (o tratamos como um
LDF). É indicado o uso de músicas que a criança costuma ouvir ou até de chamar
por seu nome ou apelido.

Para a realização do VRA, é fundamental que a criança consiga sustentar o


tronco e lateralizar, uma vez que como podemos observar no esquema abaixo,
para olhar para a luz a criança precisará virar a cabeça. Como vamos considerar
como resposta a busca pela luz, precisamos que esse movimento seja claro para
o examinador.

Figura 34. Esquema de representação do VRA.

Examinador

Cabine Acústica
Audiômetro

Reforço visual
Reforço visual
e
e
caixa acústica
caixa acústica
Paciente

Fonte: elaborada pelo autor.

94
Audiologia básica | Unidade iv

Aqui, os pais também devem ser orientados a não interferirem (principalmente


quando realizado em campo livre, pois os pais escutam os estímulos). Além disso,
após a criança olhar para a luz, é necessário distraí-la para que volte a olhar para o
centro e não para onde a luz fica.

Independente do lado que o som está sendo dado (seja por fone ou por caixa),
usamos apenas o estímulo luminoso de um lado como reforço positivo,
conforme figura abaixo. Precisamos lembrar que estamos avaliando crianças
muito pequenas e que esse conhecimento de lateralidade ainda está sendo
formado, não existe consciência de som apresentado em direita e esquerda, e
ao ouvir o som de qualquer lado ela vai estar apenas em busca do reforço visual.
Caso fôssemos usar a obrigação de a criança olhar para o reforço visual do lado
em que o som é apresentado, precisaríamos realizar um novo condicionamento
a cada mudança de orelha (lembrando que em crianças alternamos as orelhas
durante a testagem), tornando o exame inviável.

Figura 35. Esquema que representa o uso do reforço luminoso no VRA.

Examinador

Cabine Acústica Audiômetro

Reforço visual
Reforço visual
e
e
caixa acústica
caixa acústica
Paciente

Fonte: elaborada pelo autor.

No VRA, consideramos normal até 30dB, baseado na tabela já apresentada


referente às respostas esperadas para cada idade (observamos na tabela que é
esperado que a criança até 2 anos responda por volta de 2dB). Nessa técnica,
ainda não é possível fazer pesquisa de via óssea e usar mascaramento, por isso,
às vezes o laudo acontece por exclusão.

Seguem alguns exemplos de laudo:

» Níveis mínimos de respostas sugerem audição normal para as


frequências testadas, na melhor orelha (Exame normal realizado em
campo livre).
95
Unidade iv | Audiologia básica

» Níveis mínimos de resposta sugerem:

› OD = Audição normal para as frequências testadas.

› OE = Pode-se excluir perda auditiva severa a profunda nesta orelha


(no caso de paciente responder em 50 dB, porém se suspeitar que
poderia ser melhor. Exame realizado com o uso de fone).

» Níveis mínimos de resposta sugerem:

› OD = Audição normal para as frequências testadas.

› OE= Pode-se excluir audição normal, perda auditiva de leve a


moderada nesta orelha (no caso de paciente responder em 60 dB,
sendo necessário o uso de mascaramento para confirmação desse
limiar. Exame realizado com o uso do fone).

Observamos que muitas vezes não temos a determinação de um limiar, mas


já podemos ter uma boa noção da audição do paciente e, junto com o uso dos
exames complementares, se torna possível o diagnóstico completo e preciso.

Sabemos que a audição vai muito mais além do que apenas detectar
sons. Precisamos processar a informação que nosso sistema auditivo
periférico capta. A parte periférica já nasce pronta, porém a parte central
se desenvolve durante a vida, mediante a estimulação auditiva. Apesar
de algumas habilidades auditivas se desenvolverem até a adolescência,
a maior parte do sistema auditivo central (principalmente até tronco
encefálico) se desenvolve até os dois anos; e qualquer atraso nesse
desenvolvimento pode trazer prejuízos. É por isso que, até os dois anos
de idade, é fundamental realizar a pesquisa do desenvolvimento auditivo,
além da pesquisa da acuidade auditiva e registrar seu resultado no exame.

Pesquisa do desenvolvimento auditivo

A pesquisa do desenvolvimento auditivo busca de forma simples avaliar como


o sistema auditivo central da criança está se desenvolvendo. Para realizá-la,
fazemos uso dos instrumentos usados para a avaliação comportamental. A
diferença é que iremos escolher um instrumento de som alto, bem audível ao
paciente, pois queremos ter a certeza de que ele ouvirá o estímulo.

96
Audiologia básica | Unidade iv

Aqui também a percussão do instrumento deve ocorrer de modo que a criança


não veja, para que ela não responda para o visual e os pais orientados a não
interferirem. Na tabela abaixo, vemos o que é esperado para cada idade:

Tabela 5. Desenvolvimento auditivo esperado até 2 anos.

RN Despertar do sono
03 – 04 meses Virada rudimentar para os lados
04 – 07 meses Localiza para os lados
Localiza para os lados
07 – 09 meses
Localiza indireta para baixo
Localiza para os lados
09 – 13 meses
Localiza direta para baixo
Localiza para os lados
13 – 16 meses Localiza direta para baixo
Localiza indireta para cima
Localiza para os lados
16 – 21 meses Localiza direta para baixo
Localiza direta para cima
21 – 24 meses Localiza para qualquer ângulo
Fonte: elaborada pelo autor.

Qual capacidade de lateralização iremos pesquisar inicialmente (para os lados,


para cima ou para baixo) depende da idade da criança. Sempre iniciamos com o
que é esperado para idade e sempre deve ser pesquisado dos dois lados.

Podemos observar que o desenvolvimento da criança quanto à lateralidade


acompanha a sua melhora de resposta para sons mais baixos, como descrito no
quadro anterior. Além disso, é a partir dos seis meses que há a localização lateral
possibilitando realizar o VRA.

Inicialmente, a pesquisa deve obrigatoriamente ser realizada até os dois anos de


idade. Contudo, caso a criança tenha mais de 24 meses, mas apresente indícios de
alteração do desenvolvimento, ela também deve ser realizada.

Devemos sinalizar o que a criança é capaz de fazer (exemplo: criança lateraliza para
os lados e de forma indireta para baixo) e na conclusão colocar o que podemos
inferir da pesquisa que realizamos (exemplo: pesquisa do desenvolvimento
auditivo adequada para a idade/pesquisa do desenvolvimento indica atraso
para a idade).

97
Unidade iv | Audiologia básica

Audiometria infantil a partir dos dois anos

Audiometria lúdica

A audiometria lúdica abarca uma faixa ampla de idade, vai de a partir de 2 anos até
7 anos (onde já podemos realizar a audiometria semelhante ao adulto). Porém,
dos 2 aos 4 anos a audiometria lúdica apresenta características diferentes da
realizada após os 4 anos. Por isso, vamos separar a discussão nessas duas faixas
de idade.

Audiometria lúdica de 2 a 4 anos:

A audiometria lúdica em crianças bem pequenas acontece por meio de atividades


lúdicas que motivem a criança e, geralmente, envolvem brinquedos de encaixe.
Nessa idade, precisamos realmente fazer com que a criança “brinque” e, para isso,
a anamnese é fundamental (tanto para descobrir os gostos da criança bem como
para criar vínculo).

Devemos sempre pensar em atividades e histórias que possuem um significado


mais concreto e, inicialmente, o examinador executa a tarefa juntamente com a
criança, até que ela tenha entendido a atividade.

Uma questão bastante observada aqui é o medo, por isso, a criança tem que estar
mais segura e confiante possível. Sempre devemos ter por perto o responsável
e, caso necessário, solicitar sua ajuda. Além disso, desde o começo devemos
conversar também com a criança (de forma descontraída) e não só com os pais.

Um ponto importante que devemos nos policiar é nunca perguntar se a criança


quer jogar ou fazer algo e, sim, afirmar. Pois, caso a criança responda que
não quer, não haverá muito o que ser feito. Além disso, propor a atividade
mostrando entusiasmo pode incentivar a criança a também realizá-la.

As respostas corretas (exemplo: ouviu o som e encaixou) devem ser prontamente


parabenizadas, através de um reforço positivo (costumo dizer que nosso reforço
tem que ser honesto, ou seja, precisamos mostrar realmente que é legal ela ter
feito o que desejávamos). Já as respostas erradas não podem ser reforçadas, porém
tem que haver o cuidado para não desestimular a criança.

O uso de níveis mínimos de resposta, do Warble, da alternância de orelhas e da


priorização das frequências de 500 a 4000 Hz que aconteciam no VRA também
98
Audiologia básica | Unidade iv

permanece aqui. Lembrando sempre que o examinador deve entrar no “mundo


lúdico” (o ideal é que a criança realize o exame achando que está brincado e deseja
muito ter um bom desempenho).

Seguem alguns exemplos de brincadeira:

» Piloto de avião: para pilotar o avião, a criança precisa responder


sempre que ouvir o apito.

» Comida para o passarinho: precisa colocar a comida (qualquer objeto


pequeno) para o passarinho (deve-se ter um boneco de passarinho).

» Imitar o som (bater no tambor).

Crianças menores realizam melhor o exame pelo condicionamento de


ouvir-encaixar-reforço positivo.

Um outro ponto a ser avaliado e tentado é o uso de fones para que possamos
avaliar cada lado de forma separada. Caso a criança ainda não permita, deve-se
realizar em campo livre, avaliando, então, a melhor orelha.

Se a criança permitir a colocação do fone e responder bem à audiometria


lúdica, já há, então, a possibilidade do teste da via óssea (caso a criança permita
a colocação do vibrador). O mascaramento, quando necessário, deve também
ser introduzido de forma lúdica (exemplo: “agora vai começar a chover”). Vale
ressaltar que, sem a utilização de fones, não é possível a pesquisa de VO e uso de
mascaramento.

Audiometria lúdica acima dos 4 anos

A audiometria da criança a partir desta idade já necessita menos do mundo da


brincadeira lúdica, pois a criança já apresenta maior independência e compreende
melhor as ordens. O exame precisa ainda ser divertido, mas normalmente os
desafios e jogos de competição funcionam melhor.

Aqui, o medo ainda pode existir e simular no responsável como será o exame
para mostrar que não dói, muitas vezes funciona. A partir de 4 anos a colocação
do fone é praticamente sempre permitida. O ideal é continuar fazendo o uso
de Warble. A escolha entre realizar pesquisa de limiar ou níveis mínimos
de resposta ou se serão pesquisadas todas as frequências ou apenas de 5000
a 4000 Hz irá depender da avaliação do comportamento da criança, da sua
99
Unidade iv | Audiologia básica

motivação e do seu tempo de atenção. Sempre temos que tentar fazer o exame
o mais completo possível.

A pesquisa de via óssea (quando necessário) e o uso de mascaramento se tornam


mais possíveis à medida que a criança está maior. Nessa idade, normalmente, já é
possível determinar com precisão a audição de cada lado.

Independentemente da idade da criança, na audiometria lúdica os testes de fala


também são realizados. Quando muito pequenos, às vezes a repetição ainda não
é possível, mas podemos realizar o LRF através de perguntas simples (exemplo:
“como é o nome da mamãe?”) ou de ordens simples (“exemplo: solta beijo”). Nesses
casos, onde ainda não há repetição, não é possível a pesquisa do IRF.

Caso a criança já repita (pode-se usar a brincadeira do papagaio, onde ela deve
repetir tudo que for dito), deve-se realizar o LRF e o IRF.

Imitanciometria na avaliação auditiva infantil


A imitanciometria apresenta papel fundamental na avaliação infantil, uma vez
que é um exame objetivo, rápido e não invasivo que permite analisar as condições
da orelha média e tuba auditiva, além de fornecer informações sobre a acuidade
auditiva. Assim como na avaliação de adultos, seus resultados devem sempre ser
analisados em conjunto com a audiometria.

Em crianças de até 6 meses, o ideal é realizar a timpanometria com a sonda de


1000 Hz, pois o conduto ainda é muito pequeno e flácido (não possui a parte
petrosa). Caso seja usada a de 226 Hz (mesma utilizada na avaliação de adultos),
podem acontecer achados de curva tipo B sendo que o resultado verdadeiro seria
tipo A.

O medo também está presente aqui e, quando a criança é pequena e não permite
a colocação dos fones, muitas vezes o exame precisa ser realizado com a criança
dormindo, em um momento diferente da audiometria. Nesses casos, podemos
também optar por realizar apenas a pesquisa dos reflexos ipsilaterais, pois assim
não será necessária a colocação do fone.

Diante de tudo que foi exposto até aqui, observamos que a avaliação
auditiva infantil exige paciência, dedicação e entendimento da fisiologia e do
desenvolvimento da audição. Ela é fundamental para todas as crianças, mas,

100
Audiologia básica | Unidade iv

principalmente, nos casos de desordens do desenvolvimento, apresentam papel


importantíssimos nos diagnósticos diferenciais.

Todas as técnicas utilizadas durante o exame e todas as observações devem


estar bem descritas no exame de audiometria infantil. Qualquer intercorrência
ou dificuldade também precisa ser mencionada. Além disso, podemos também
sugerir a realização de exames que venham a auxiliar no diagnóstico auditivo do
paciente.

101
CAPÍTULO 2
Avaliação audiológica em adultos

A avaliação audiológica em adultos sempre será iniciada pela realização da


audiometria tonal, vocal e imitanciometria. Ela é indicada em várias situações,
quando o paciente apresenta qualquer sintoma auditivo ou vestibular, ou até
mesmo quando nunca realizou o exame (uma vez que sabemos que a perda
auditiva em agudos pode passar despercebida por diversos anos). No geral, a
audiometria em adultos é realizada sem muitos problemas quando o paciente é
bem orientado.

Aqui, na avaliação audiológica em adultos, é onde encontramos a audiometria


ocupacional, que são aqueles exames admissionais, demissionais e periódicos
realizados em trabalhadores expostos, principalmente, a níveis de pressão sonora
elevados. Atualmente, o exame audiológico ocupacional também é recomendado
para aqueles expostos a produtos químicos. O audiologista está inserido na saúde
auditiva ocupacional tanto na realização dos exames quanto no gerenciamento do
Programa de Conservação Auditiva (PCA).

A prática clínica dos exames ocupacionais difere daquela realizada em clínicas de


diagnóstico audiológico. Em sua grande maioria, é realizada apenas a audiometria
tonal, por vezes a vocal, mas sem imitanciometria. A demanda de exames a serem
realizados em um turno também é maior e, é nesse sentido, que precisamos ter
cuidado para manter a qualidade da nossa prática clínica.

Tanto na audiometria ocupacional, bem como no exame clínico, podemos


encontrar pacientes que tentam simular resultados falsos no exame. Ou os
pacientes possuem uma perda auditiva e tentam fazer com que o exame seja
normal, ou são normais e desejam simular uma perda auditiva. Além disso,
podemos também nos deparar com pacientes que realmente apresentam
dificuldade em realizar o exame, devido, por exemplo, a estarem muito cansados
diante de uma demanda laboral (o ideal é que o paciente tenha 14 horas de
repouso auditivo antes de realizar o exame).

Nos casos de respostas inconsistentes, o primeiro passo é colocar uma observação


em seu exame ressaltando que o paciente apresentou tais respostas. A avaliação
do comportamento auditivo do paciente durante a anamnese também nos ajuda a
avaliar se os resultados que estamos encontrando são verdadeiros.
102
Audiologia básica | Unidade iv

Realizar a imitanciometria primeiro (quando ela é solicitada na clínica) nos


ajuda a ter uma ideia da audição do paciente que avaliaremos. Na audiometria
ocupacional perdermos essa “ajuda”, uma vez que em sua maioria a imitanciometria
não é realizada.

Uma outra situação comum é a tentativa de simular uma anacusia unilateral. Em


muitos casos, o paciente simplesmente não responde do lado que deseja simular,
sem saber que é esperado que o lado bom resposta pelo ruim em algum momento e
que a anacusia unilateral só é obtida após o uso do mascaramento.

O principal achado que temos para os casos de respostas ruins para audiometria
tonal é a incompatibilidade com a vocal. O paciente tende sempre a responder
bem aos testes de fala e, mesmo que nos testes de fala ele também queira simular
uma perda, ele não consegue fazer de forma que tonal e vocal sejam compatíveis.

Caso alguma dessas incompatibilidades sejam observadas durante o exame,


independente do motivo pelo qual ela esteja ocorrendo, devemos orientar sobre
o exame e retestá-lo. Uma outra possibilidade, mais efetiva nos casos em que o
indivíduo não está respondendo bem por cansaço ou algo semelhante, é remarcar
o exame para um melhor dia.

Caso a incompatibilidade e a inconsistência permaneçam, o ideal é não dar


um laudo afirmando sobre a audição do paciente (afinal, você não conseguiu
avaliá-la de forma correta e precisa) e, sim, dizer que há a incompatibilidade
ou que não foi possível a determinação do limiar auditivo, sugerindo a
realização de exames objetivos para melhor diagnóstico (PEATE e OEA).

Ao terminar uma audiometria em adultos, para dar um laudo, precisamos ter


certeza do que encontramos, com respostas consistentes, sistemáticas e com o
exame compatível. Precisamos sempre ter em mente que estamos dando um
diagnóstico audiológico do indivíduo e da responsabilidade que isso carrega.
Entender bem o exame, sua fisiologia e como realizá-lo é fundamental para
conseguirmos o diagnóstico audiológico preciso.

Como visto neste capítulo, a compatibilidade dos exames que compõem a


avaliação audiológica básica é fundamental para termos certeza de que
este está correto e é confiável (precisamos lembrar que a audiometria é um
exame subjetivo). Por isso, proponho que passemos a ver essa necessidade
de o exame estar compatível como nosso aliado e não como mais uma
obrigação do exame que o torna mais difícil de ser realizado.

103
CAPÍTULO 3
Avaliação audiológica em idosos

A avaliação auditiva em idoso possui uma importância ímpar, uma vez que
sabemos que a presbiacusia acontece devido ao envelhecimento e que, nesta
população, a perda auditiva costuma acarretar um importante isolamento social
e, por consequência, piora na questão cognitiva.

Aqui, a audiometria também é a base da avaliação auditiva do idoso e o exame


deve ser realizado nos mesmos parâmetros do adulto. Precisamos prestar atenção
se o ato de levantar a mão diversas vezes, como normalmente solicitamos em
resposta ao estímulo ouvido, não é muito desgastante para o paciente idoso e,
caso seja, podemos solicitar que ele balance a cabeça ou até fale que ouviu.

Outro ponto importante é a questão da orientação. Sabemos que em muitos


idosos ocorre o rebaixamento cognitivo e, para que eles compreendam bem
o que deve ser realizado, muitas vezes é necessária uma orientação com mais
atenção. Uma boa tática é mostrar ao paciente o quão baixo o som será ou,
então, iniciar pelos testes de fala para já se ter uma ideia melhor da audição do
paciente a ser avaliado.

A presbiacusia, principal alteração encontrada nessa população, é resultado


da morte de células ciliadas devido ao envelhecimento e se inicia pelos sons
agudos, não causando muita dificuldade auditiva inicialmente. É bem comum
encontrarmos idosos que não aceitam possuir perda auditiva, pois avaliam que
escutam bem. Porém, precisamos lembrar que com o seu desenvolvimento, a
presbiacusia pode causar importante dificuldade de audição.

Ao atender um paciente idoso, precisamos sempre falar em tom alto, bem


articulado e devagar, mas tomando cuidado para não ser de forma caricaturada.
Ao mesmo tempo, precisamos passar confiança de que o paciente é capaz de
realizar o exame. Além disso, precisamos lembrar que a maioria apresenta
dificuldade de locomoção e, por isso, é obrigatório sempre acompanhá-lo para
entrar e sair da cabine.

Como acontece na avaliação auditiva infantil, aqui também é necessário


paciência. Muitos idosos apresentam uma resposta não tão boa, levando o
exame a se tornar mais extenso, devido à necessidade de retestes dos limiares.
Além disso, como a perda auditiva é muito presente, precisamos realizar via

104
Audiologia básica | Unidade iv

óssea, o que estende mais ainda o tempo do exame. Algumas vezes é necessário
realizar o exame em mais de um encontro, para que o paciente esteja sempre
atento. Caso não seja possível um novo encontro, pode-se lançar mão de uma
pausa no exame, para o paciente beber água ou ir ao banheiro.

Após o término da avaliação, principalmente nos casos de perda auditiva, a


explicação do resultado e da importância da reabilitação é fundamental. Há
uma grande resistência por parte dos idosos ao uso do aparelho auditivo de
amplificação sonora (principal reabilitação para a presbiacusia). Por isso, a
nossa orientação, deixando claro a importância de uma reabilitação precoce, é
fundamental e pode exercer um papel super importante na aceitação do paciente.

Temos, a cada dia que passa, um maior número de idosos que necessitam de
cuidados com a saúde, inclusive audição, de forma completa e acolhedora. É
nosso papel atender essa população de forma mais zelosa possível, sempre
visando o seu bem-estar.

Sabemos que a audição é muito importante para a manutenção do cognitivo


e da sociabilidade do idoso, por isso, precisamos diagnosticar e reabilitar as
perdas auditivas nesta população o mais precocemente possível.

Sugiro a leitura do artigo “Audição e percepção da perda auditiva em idosos”


de Sousa e Russo (2009) para maior aprofundamento do tema.

105
PARA (NÃO) FINALIZAR

Neste material, vimos o quão complexa é a avaliação auditiva básica, mas que,
se bem compreendida, pode ser realizada de forma tranquila e segura. A técnica
realizada de forma correta é importante, porém nunca podemos esquecer que
estamos lidando com um ser humano, que não possui apenas duas orelhas, mas,
sim, características e dificuldades próprias.

A audição é o sentido que permite às pessoas se comunicarem e avaliá-la possui


um peso importante. Que tenhamos noção da nossa responsabilidade e do nosso
privilégio de lidar com um sentido tão importante para o indivíduo.

106
REFERÊNCIAS

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Mascaramento em Audiologia. 2. ed. rev. e aum. São Paulo: Lovise, 2001.

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CARVALHO, R. M. M. Timpanometria. In: BEVILAQUA, M. C., et al. (Orgs.). Tratado de


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BEVILAQUA, M. C., et al. (Orgs.). Tratado de audiologia. São Paulo: Editora Santos, pp. 317-
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