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Lélia Parreira Duarte (organizadora) A ESCRITA DA FINITUDE de Orfeu e de Perséfone Lélia Parreira Duarte (organizadora) A ESCRITA DA FINITUDE de Orfeu e de Perséfone Coles Ogi DOA Copyright ©2009 by Lilia Parreira Duarte (Org) "Todos os direitos reservados & Veredas & Cendtios ~ Educagio, arte e cultura ‘este, Léa Pareta Org) dane i itade de Gre e de Persfone/ Duarte la Tareira (Org).—1 e A Selo Horizonte Veredas de Cenis, 200 rik 21 en (Colegdo Obras em Dobra) ISON S7B8S-1508-0-8 1 tteratura.2 Terk itera 3 Literatura Compareda 4 Esaos bases Pat to Ula Pre IL Titulo Sée cpp seat ee Diregoecoordenaco editorial Felton Gangalves de Souza Organizapto [Lia Pareira Duarte Editor de texto Helton Gongalves de Souza reparagtode originals ‘Srgio Gomide Capa, projet gifcoe arte final "Marcos Lourenco Vieira Produgioetoriat Lips Laz Ltda Apoio: Qeneq |C* Impresstoeacabemento Editora O Lutador Praga Padre falio Mari no. 1~ Planalto 31740-240-~ Belo Horizonte ~ MG Brasil “Tlefone e fax: 31) 3499-8000 comerdialsotutadororg br SUMARIO 1RTIUM DATUR. Pore Finazai-Age® A privagio do finitoem A ct aero, de Jofo Gilberto Nol. Cu Onto Bylaedl enigma e dissipagior 1A corte do Nort de Agustina Besse-Luts. Dai Calato As potncias do falso em Waly Salomao. Fo Boawentura Pastoral e Finisterm, de Carlos de Oliveira Tinguagem e paisagem moventes. Ia Ferera Ales Lapide e versio: ibeicosrevisitados na poesia de Flama Hasse Peis Brando, Jorge Fernandes da Siteira ‘André Sant Anna ¢ o seal da linguagem. Kart Erik Schlthamomer ‘Carade-bronze” ¢ as méscaras de Perséfone. Alia Parvira Duarte Quatro confidéncias e um testemunho: a Gnaen ce Inquéito ds quatro confdéncis, de Maria Gabriela ansol Lac Rus Repensando o campo litertio a partie do testemunho: tim pereurso de Esquilo a Lobo Antunes. ‘Marcio Selignann-Siloa Soletrando a more: Teitura de Crflha do Siléncio, de Francisco J.C, Dantas. ‘Maria Licia Dal Fare Vf falar da vida de um homem de cuja mort, porkanto” Miesgo Sabre o ser para a morte em algumas estérias de Guimardes Rosa Marie Lucia Guimaries de Faria ‘Ameméria amorosa portuguesa entre sombras ¢ transgressoes Maria Theresa Abelha Alves 3 35 a ot 101 15 13 1% 181 201 Quatro confidéncias e um testemunho: uma leitura de Inquérito as quatro confidéncias, de Maria Gabriela Llansol Luci Ruas Escrevo nestes endernos para que, de fato, a experiéncia do tempo possa ser absorvida. Pensei que, wm dia, ler estes tex- tos, provenientes da minha tensao de esvair-me e curular- ‘me em metamorfoses poderia proporcionar-me indicios do eterno retorno do nuituo. Llansol, Finita Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mios indbeis 0 que fulgurow e nfo morres. Vergilio Ferreira, Aparicio Me Gabriela Llansol parece ter inaugurado, na literatura por ‘uguesa contemporanea, um espago para 0 didlogo entre se~ res que constituem a sua “comunidade de afetos”, sublinhado por franca inclinagio lirica, onde se cria a possibilidade de reviver e/ou de conviver. E possivel dizer que, numa espécie de peregrinagao pe- Tos caminhos da escritura ~ Llansol comega o seu Inguérito as quatro confidéncias com “eu vou que sé se completa nas iltimas paginas — fa autora compoe uma nova rede de possiveis sentidos ao construir tum texto “sem romantismo, sem drama, sem consolacio”, como ela mesma afirma, mas revelador de uma espécie de “dom poético”, onde a aprendizagem do ser se da no exercicio da propria escrita. ‘Em Inquérito as quatro confidéncias, publicado em 1996, Maria Gabriela Llansol afirma a certa altura: “E sempre o mesmo livro que ‘eu esctevo" (IQC, p. 176)!, declaragao que nos aponta um caminho até aqui percorrido pela escritora, que parece fazer do seu oficio, ou 1 Ao longo deste trabalho sero utilizadas, para 0s textos de Marin Gxbriela Llansol, as eguintesabrevaturas: CFP, para Ui falco no pun, ¢ IOC, pare Ingurito ds quatro con fidéncas. |ABSCRITADA FINTTUDE de Oveve de Petre m5 do seu verbo ~ 0 escrever -, uma constante reescritura, ou um cons- tante apelo para que acorram as paginas em branco todos aqueles que compéem com o sujeito da enunciagdo a sua “comunidade” de interlocutores sensiveis. Atendendo ao seu chamado, sem qualquer hierarquia, apresentam-se numa espécie de diélogo em que a narra- tividade, propria dos textos narrativos tradicionais, cede & textual dade, lugar onde a “continuidade do ha se fractura, onde muda de registo e de sinais” (Ibidem, p. 26), fraturando aquela narratividade que, no romance tradicional, organiza espaco e tempo em torno de uma sucesso cronolégica e quase sempre linear, Na narrativa de Llansol, e por conseguinte, também nesse Inquérito que nos propo- ‘mos a ler, 0 que se observa é a “sucesso de presentes que corre de través ao encadeamento cronolégico da narracio” (HOPFE, 2002, p. 178). A propria narradora (seria mais apropriado falar apenas em sujeito da enunciagao?), assim jé 0 tinha enunciado no primeiro vo- lume dos seus didrios, intitulado Um faledo no puenho: Como ser civil conhego 0 presente, 0 passado, e o fu- turo. Mas como escritor tenho um olhar que foca so- bretudo o espaco, livre de tempo. Nele nao ha poder, que é sempre o poder de escolher e de chegar & morte (.). Tudo, no seu contetido se equivale. Nenhum ponto vale mais do que outro (UFP, p. 132). O que se verifica dai é uma tendéncia evidente para o que Edu- ardo Prado Coelho chamou de “texto eqiiidistante” (1988), ou para 0 «que Silvina Rodrigues Lopes (1988) demonstrou ao enunciar a teoria da des-possessio. Despossessao da categoria de tempo, da autorida- de da vor narradora, detentora do conhecimento prévio de todas as ‘ages. O que passa a criar é um espaco de viagem por onde o eu que enuncia e se auto-referencia vai ao encontro do que hii para fratu- réclo, dando lugar aos inesperados encontros — 0-existente-ndo-real com um mundo que nao se faz representat, mas que se apresenta como 0 lugar onde ha “um mundo de mundos” (LLANSOL, 1994, p-121). IE, de fato, fraturada que a narrativa de Llansol se apresenta a0 leitor: “fragmentaria, singular, franqueando os limites entre a meméria e a ficgao [..., buscando sempre ‘a coisa que o signo ja rndo é, como se possivel fosse”, buscando “o além da linguagem, 0 116 in Pari Dnt raat impronunciével, o Real” (BRANCO, 1997, p. 16). 56 assim, a partir tia redugio da narrativa ao ponto postico da palavra e da reducao dda palavra a seu ponto de letra, a seu ponto de p — como afirma Lit ia Castelo Branco ~, pode renomear as coisas, acreditando, quem Sabe, que os nomes de fato ndo sao nomes, mas as coisas mesmas, cin sua singularidade, em sua corporeidade, em sua matéria bruta: ‘"Bserevo ao pé da letra” ~ diz-nos Llansol. E a letra, portanto, © ponto que marca a diferenga entte a palavra e a coisa [| (Ibidem, ° 7 propésito deste trabalho, a partir da leitura de Inquérito as quatro confidéncias, entrar no jogo de significantes de que esse tex {0 ¢ feito para verificar como Gabriela, ou “a rapariga que saiu do texto", e Vergilio Ferreira, seu “companheiro filoséfico” ou “O Mais Jovem” (considerando-se ai uma espécie de estigio intermediério entre didrio e texto de ficcio, em que Vergilio e Gabriela ~ seres do mundo sensivel ~ se transfiguram em seres do mundo imaginario, {ue passam a existirno texto de ficgo), se deixam guiar mutuamen- te, regidos pela “vontade de afecto”, num permanente exercicio de pensar e interrogar, expondo seus pontos de vista e alargando 20 limite a sua experiéncia, como seres que sio para o mundo e para a morte, Saindo da ordem da realidade imediata, os dois escritores passam a povoar as paginas do texto como figuras, Entram na “or em figural” e “poem em cena a dialogicidade intertextual”, proce- Gdimento que se faz em constante recomegar, no que chama o “eterno yo do muito”. reo eo como um didrio datado, desde janeiro de 1994 até 30 de abril de 1996, o texto encerra-se praticamente dois meses depois da morte de Vergilio Ferreira, ocorrida em 01 de margo [1996]. Sempre perturbador, inicia-se com a frase determinante: “Eu vou", a que fe seguem outras, espécie de metalinguagem, tanto da frase inicial, {quanto do processo de construcio da escritura, como um todo. Diz~ fos: Este eve vou & como 0 cabecalho de uma carta, para, em segui- Ga, afirmar: “O meu mundo moderno é perturbante. $6 no fim do texto eu 0 deveria dizer, mas o fim do texto ¢ imprevisivel ~ estaca subitamente. Fica dito”. Logo em seguida, como a confirmar 0 dito, interrompe-se para repetir a frase inicial ~ “eu vou” ~ como se esta- ccasse para recomesat. Esse “eu vou" abre para aidéia de viagem que percorre as paginas Inguérto as quatro confidences, em que afirma «que vai pensar a vida do seu exterior. |ASSCRITA DA INETUDE de Oxted ere 17 Enquanto reflete, Gabriela entra na cozinha onde encontra um novelo de pd, de que tenta descartar-se, atirando-o pela jane- Ja. O torvelinho retorna e provoca a frase: “repara, este é 0 grande acontecimento da manha”, refugiando-se na estante, “nico lugar onde, entre lougas, objetos e livros, sou o autor dos mapas de todos 08 autores. Ou do globo do mundo escrito”. A escrita é como esse torvelinho: permanente movimento, permanente retornar sobre si ‘mesma, permanente inquietagdo, poeira de palavras a que se agre- ‘gam varios materiais, ou melhor, “banquete de palavras” sobre uma toalha branca, a que acorrem todas as palavras, mesmo as de que no gosta, como premente, para na inquietante tarefa de escrever, adquirir novos sentidos: o contraste de sons leva-lhes o sentido para ‘outro lugar. No caso desse texto, leva a telefonar a Vergilio Ferreira, no dia do seu aniversario ~o texto escreve-se em finais de janeiro de 1994, Arma-se a toalha branca para a entrada em cena do torvelinho, Oanquete de palavras vai recolher os diferentes sentidos, jé que as Palavras nao tém sentido igual. Desta forma, abre-se espago para 0 Primeiro didlogo, feito de referencias aos episddios do dia, no caso de Gabriela, mas apreendidos e transformados em metafora de uma vida inteira, no caso de Vergilio Ferreira, 0 convidado para esse in- 4quétito: “tem piada, esse torvelinho é como eu ~ diz de la, e para de repente. ~ Passei quase toda a vida num torvelinho, mas, pot vezes, creio que fui toalha branca”, como se inquirisse a si mesmo e dis. sesse: onde foi parar toda a minha inquietacéo? Ou se como toda a sua inquictude se fizesse nada, jé que a toalha branca & 0 espaco que aguarda que o banquete seja servido. Aparttir desse primeiro encontro, o convidado passa a conviver com outras vozes que acorrem ao texto: a de Gabriela, “fendmeno atmostérico, instabilidade, neblina”; Augusto, “centro atmosférico que vive presentemente uma neblina afectiva”, mas visto na sua singularidade como “meu ambo", como se a palavra admitisse 0 singular, criando na cena figurada “nao gente”, “nem sujeitos”, mas uma “variag3o atmosférica” no universo das figuras que o texto vai acolhendo, entre misticos, poetas, animais e coisas, para compor a sua comunidade, espago do eterno retorno ao miituo. Escrito como didrio, a partir de um “torvelinho” (turbilhio, movimento, desequilibrio, torvelinho tem a mesma origem latina de torvar: turbare = enredar, por em desordem), 0 didrio de Llansol se instala a partir de um proceso de desordenagao que poe em xe- ns ate area Dust pd) que o proprio paradigma do diério, Para Maurice Blanchot, quando “escrever & descobrir o interminavel’, isto é, quando “por forca da obra’, 0 escritor deixa de pertencer ao “dominio magistral em que cexprimir-se significa exprimir a exatidao e a certeza das coisas, dos valores segundo o sentido dos seus limites” (1987, p. 17-18), o que nele fala jé nao é ele mesmo, jé nao é ninguém. Ao pronunciar o Ele, na verdade esse ele nao ¢ outro sendo o Eu convertido em ninguém, “outrem que se torna o outro”. Por contraponto, comenta, em segui- dla, “que talvez seja impressionante que, no momento em que a obra se converte em busca da arte, se converte em literatura, 0 escritor sente cada vez mais a necessidade de manter uma relagdo consigo”, experimentando uma espécie de “repugnancia extrema a renunciar asi mesmo”, revelada na preocupacao de escrever um “seu Didtio”. Para Blanchot, 0 Diario nao é necessariamente uma confissio, mas um Memorial, onde 0 escritor pode recordar-se de si mesmo, “do que é quando escreve, quando vive sua vida cotidiana, quando é um ser vivente e verdadeiro, nao agonizante e sem verdade”. Estranha, porém, que o instrumento de que se valha seja justamente o escrever, “o préprio elemento do esquecimento”. Na sua concepgio, a ver dade do Didrio ndo esté nos comentrios interessantes, de recorte literario, mas nos detalhes insignificantes, nas coisas verdadeiras, onde quem fala nao perdeu ainda o seu nome e em nome dele falar, escrito “que se realiza por medo da angtistia da solidao que atinge © escritor por intermédio da obra”. O Didrio enraiza o movimento de escrever no tempo, na humildade do cotidiano datado e preser- vado por sua data. Assinala que aquele que escreve ja deixou de ser capaz de pertencer ao tempo pela firmeza ordinéria da acio, pela comunidade do trabalho, do oficio, pela simplicidade da fala intima, a forca da irreflexao. Jé deixou de ser realmente hist6rico, mas ndo quer perder o tempo. E acrescenta, a titulo de conclusio, que esses escritores que mantém um didrio “sao os mais literarios de todos os escritores mas talvez, precisamente, porque eles evitam o extremo da literatura, se esta é de fato, o reino fascinante da auséncia de tempo” (BLANCHOT, 1987, p. 19-20), Essa constatacao do fildsofo parece adequar-se, de certa manei- ra, ao texto de Maria Gabriela Llansol, uma vez que ela mantém 0 seu proprio nome (assim como os nomes daqueles que integram a sua “comunidade”), data os acontecimentos que se inscrevem no cotidiano e da a eles cardter de verdade. Todavia, ao mesmo tempo, [ABSCRETADA FINTTUDE de One de Rsone permite que a escritura se constitua num fopos deslizante, onde a ambigitidade destrona certezas e 0 texto conseguido, em lugar de constituir-se como possibilidade de “recordar-se de si mesmo”, rea- lize-se como “Encontro inesperado do diverso”, subtitulo de Lisbo- Aleipzig I (1994). Ougamos um trecho desse diario em que Augusto fala do interesse de Vergilio Ferreira pela obra de Gabriela Ora ele observou que tu, por vezes a anos de distancia, nao apagas o rasto do teu trajecto. Tudo é fragmento; tudo esta datado; nada segue uma ordem cronolégica. ‘Muitas vezes € preciso esperar pelo passado para com- preender o futuro. Outras vezes, no. Que o tempo nao conduz. Que o fio condutor esta na légica dos encon- ros. As figuras do texto, que jé vém de muito longe, no prosseguem um enigma, nem vivem um drama: dedicam-se a experimentar vivéncias afectivo-mentais conseqiientes. Reparou que, sem 0 menor trago de con- fessionalismo, fazes tua busca delas. E, acima de tudo, no Ihe escapou que, nessa procura, se joga 0 corpo eo pensamento (IQC, p. 27) © que se encena na fala de Augusto é um jogo de contrétios: 05 rastros do trajeto nao se apagam nesse enredamento das aces, mas tudo ¢ fragmentario. Tudo é datado, mas nada segue uma or dem cronolégica. O tempo, na verdade, nao conduz 0 proceso de ‘enunciagdo, nem hé uma ldgica a estabelecer nexos de causalidade. A tinica légica é a dos encontros, em que se incluem ~ e Gabriela diz que nao pode ser de outra forma ~ os textos jé escritos, os que jé lew © 08 que esta a traduzir, como os de Rimbaud. Além disso, seja nos Diérios, seja nos outros textos jé publi- cados, o processo de deflagracao da escrita é sempre o mesmno: 08 Diarios sao uma porta aberta para a entrada das figuras de ficgao. “Textos sobre textos” ou “textos eqiiidistantes”, os Did- ios, como este Inquérito is quatro confidéncias, seguem 0 mesmo Processo de construgao dos que se poderiam chamar textos fic- cionais. O Eu que assim se chama no diario acaba por se situar no mesmo nivel das figuras que entram nas cenas e passam a entabular uma conversa, driblando, assim, o carter meramente memorialista desse diario. 120 ta Pan Daten) Ao inserir 0 pronome de primeira pessoa singular no espaco da escrita, este nao marca a presenca, mas a au- séncia do sujeito da enunciacao [...). £ paradoxalmente, desta maneira, que se apresenta a dimensio biogrética do diario; a sobreimpressao da escrita diaristica quoti- dianamente recomecada acumula as facetas do proprio devir textual. A narragao interrompe a sua continuida- de; por outro lado provoca a submersio do “eu” dia- rista (0 eu do autor) e com ele, a sua realidade, na cena ficcional (HOPFE, 2002, p. 181). Se 0 texto que se oferece & nossa leitura, a0 nosso mergulho nos intervalos intencionalmente deixados nas paginas, néo é um Memorial na acepcao mais plena da palavra, também nao dei- xa de sé-lo, Como um memorial que se enraiza na experiéncia sensual e especialissima do ler/escrever, Maria Gabriela Llansol constréi uma cena fulgor, epiffinica, de onde se ergue a “arvore da escrita’, 0 texto, de onde caem livros, “cortados com tesoura ou lamina de jardineiro”, “a drvore dos textos repartidos em li- vros”, entre eles “os livros desta fase da [...] vida, fase de ganhar © pao”. Diante do fendmeno, Gabriela declara: “e vi que / __ havia continuagio absolutamente necessdria do Diério para deixar ver e ler até que ponto tudo nascia do mesmo tronco [..] 1d esté Vergilio, que nao é nome de livro mas de caminho como indica 0 sonho” (IQC, p. 41). Bis a origem e a justificativa desse Diério. O texto enuncia-se, entdo, como “a arte do verbal e do olhar”, mas é, sobretudo, “a arte do ha. Do que hé entre”, onde se inscreve cada confidéncia que trocam entre si e se define como “o que hé entre os olhares”. ‘Aos poucos, Vergilio, compankeiro filoséfico de Gabriela, vai entrando no texto-corpo de Llansol para se encontrar com as outras figuras, como ela mesma diz, “seres tio diversos e diferentes, tao inconcilidveis — transeuntes de dessemelhantes proveniéncias ~ até que sejam simplesmente pessoas desapare- cidas, ¢ outros figuras presentes”. Transforma-se em “objecto do amor”, o sujeito que surge “a correr e ofegante”, reconhecido em seu modo de apresentar-se como “um ser humano verdadei- ro, a quem [pode] fazer [as] confidéncias” que entdo se enun- ciam (IQC, p. 47): ABSCRITADA FINTTUDE donee do enone 121 A primeira confidéncia & que nada somos (Nao se irtite”) O eu como nome é nada. Hé um lugar de escravidao. ‘A segunda confidéncia 4 que nossos actos, mesmo a transumancia ou a trans- plantagao do azul da jarra, so menores que nés. [..] Aterceira confidéncia € que nao ha contemporneos, mas elos de auséncias presentes; ha um anel de fuga. Na pratica, é uma cena infinita ~o lugar onde somos figuras. A quarta confidéncia € sobre 0 desejo a repulsa da identidade. [...] De fac- to, deram-nos um nome, o nome por que nos chamam, mas nio é um consistente -¢ um verbo. O nosso verbo, por exempll, é escrever. (QC, p. 48). Nessas quatro confidéncias parece definir-se como 0 proceso de escrita constréi a escritura que nos convida a voltar a Blanchot: a de que, no ato de escrever, o nome ndo é mais que uma referéncia esvaziada, que os atos no dao conta da dimensao de ser, revelada nos momentos de fulgor (para Llansol) ou de conhecimento ~ ou de aparicio (para Vergilio Ferreira); que nesse processo o objeto do conhecimento nao ¢ 0 objeto, mas a apresentacéo da sua auséncia, € que, ao escrever, 0 escritor nao tem um nome, senio o que the & dado pelo verbo criador que o define. A partir dese momento de revelagdo e a cada fragmento da- tado se vao somando e sobrepondo experiéncias de ser e de escre- ver em que Gabriela insiste na necessidade de juntarem as maos, numa espécie de ato de contrico que implica 0 fortalecimento de ambos em busca da sua maior aventura: a da escrita, ott da criago de mundos. A partir de um desejo do escritor, o A inaugural pode ser “girado”, envolvido pelo “torvelinho’, transfigurando-se em Hi, ‘omundo que passa a existir: “Estava muito cansado, e escrevi", diz ele. “Estava cheia de energia, e escrevi”, respondo-Ihe em surdina, Sao estes os dois estados em que nos podemos reve- zar a escrever; nos estados intermédios, precisamos de 122 1a Par Dc gids) juntar as maos. / — Escrevo para que nos venha a forga da mansio, do Ha do mundo - diz ele. /- Escrevo para girar de A em Hé, rodopiar com as vibragbes que s0- bem e nos elevam até o Tugar em que jé no podemos descer, nem evadir-nos — 0 Hii sobre o Hé. // assim sendo, a criagdo do mundo compreende-nos; € compreende os nossos iguais, mesmo os mais ignotos. | ~ todos os indiziveis, todos os que se me que foram meu né e sao, afinal, o fio que estendi pelo universo = diz 0 companheiro filoséfico (IQC, p. 51). Frtos do cansago ou da energia, assim se definem os textos le Vergilio/Llansol, escritos no espaco da intersubjetividade, onde 0 “existente é nao real”, porque é ficgao. “Escrevo para girar 0 A em 114”, para dar existéncia ao que nao se escreve nas tébuas da lei. To- dos os indiziveis apresentam-se como “nés constructivos”, apontan- do para a grande fungdo ut6pica do literdrio, que faz da literatura a um tempo “realista — porque tem 0 real como objeto de desejo” e “irrealista”, porque “acredita sensato o desejo do impossivel” (BARTHES, 1980, p. 23), “o Hé sobre o Ha”, sintese imagética do processo de criagio. ‘As cenas se vo construindo passo a passo, entre as reflexdes sobre 0 escrever e o ler, ¢ se encaminham inexoravelmente para 0 desfecho indesejado. © tempo dos encontros comeca a preparar a cena da despedida. Vergilio sempre gostou de falar da hora que nos coube (como a que coube a Pessoa), a0 tempo, ao mundo que tam- bém nos coube. A conversa que travam 0 “Mais Jovem” e “a Rapari _ga que saiu do texto” para ver “o ha que ha” nas coisas - referencia concreta ao sofrer a existéncia - é um conversa aflitiva, de quem cumpre a sua travessia e enfrenta 0 medo dessa forca que Ihe vai roubando a forga de escrita. “Poucos perceberam como eu tentei en- cenar um pensamento inauidito, Fiquei tao longe nao acha? Por que ‘nascemos com o Pessoa, neste pais? Que fazemos aqui?” —indaga “o Mais Jovem” (IQC, p.115), vestido de Arlequim (persona tragica de ‘um drama desestabilizador), personagem de um drama cujo fim vai se aproximando. Se, como quer Maria Gabriela Llansol, “A escrita é ‘um armazém de sinais’, a seqiiéncia de ages que se vao acumulan- do dé conta desse futuro sem futuro: AESCRETA DA FINITUDE de Of de Petene Quando ele partir, Ficarei ainda mais longe das referéncias da compre- ensio, da ponderabilidade das coisas, dos segmentos certeiros e eficazes do ler comum. O Augusto que me ‘uve tenta centrar-me, a revelia do que sinto: — Sao mi- IhGes de anos, e alguns encontros. Sempre assim foi, Maria Gabriela. Escusam de gemer. Voots, os dois, ti- veram uma oportunidade rarissima, E nao tens pena? ~ Tenho, mas nao serve de muito. De qualquer modo, Por agora, quem se muda é ele e, que eu saiba, nascer ¢ ‘motrer s4o ocorréncias em que nao estamos particular- mente treinados (IQC, p. 118) Maria Gabriela inclui, em sua cartografia de afetos, um territé- rio para acolher 0 Mais Jovem, quando “tudo acabar”. Aproxima-se Para o companheito filoséfico a sua hora e “ir ver como é..”, cum= Prida a sua tarefa de dizer, onde ressoa aquele tanto de magoa de ‘do ter quase encontrado lugar para esse dizer e quem mergulhasse no dito para o compreender. “Quando acabar, tudo serd conserva- do na escrita, com luz prépria” ~ afirma, como se pudesse fixar em Presenca 0 que partiu, “Eu vou” e “quando acabar” sio expresses que, somadas, revelam 0 quanto ¢ dificil dizer a morte, por ser 0 indizivel e o ndo experienciavel. No fragmento datado com o dia da morte de Vergilio Ferreira, 0 texto cede espaco mais uma vez as qua- tro confidéncias, quando se reafirma a impossibilidade de contar a experiéncia do ver morrer. O que ocupa esse vazio de qualquer sig- nificagio € 0 grito de vida, ou o clamor do desejo de permanéncia, enquanto 0 que se afirma no presente ¢ a presenca dessa auséncia definitiva. Apropriando-se do que poderiam ser as palavras de Ver- gilio Ferreira, colhidas aqui e ali nos textos que escreveu, como 0 canto da Irene de Estrela polar, ou a voz.que ecoa entre as montanhas de Para sempre, para sempre fixadas na cena em que o desconsolo assinala o sentimento de perda, a voz de Maria Gabriela Llansol diz, apropriando-se das palavras do escritor: "Eu sou um homem, seja qual for o mundo” Silenciada a voz do “companheiro filos6fico”, texto parece en- contrar um momento de serenidade, para dar voz a “rapariga que saiu do texto para ver o hé que ha”, que faz a sua tiltima confidéncia, sintese da experiéncia vivida desde que o torvelinho a fez levan- 124 ta Pari Duara) lure para telefonar ao amigo, que aniversariava, como se o diario lisse o lugar ideal para, sem se perder de si, descrever o seu modo ule criar, numa espécie de trapaca desafiadora frente aos que afir- ‘mam que o diario é um texto diccional (Genette), “em que o sujeito «lo enunciagao é identificado com 0 nome do autor e com 0 ato de escrever”. E endo é, nessa escritura em que um torvelinho a pedra ule toque do ato de criar 0 TEXTO, titulo desse texto que descreve 0 «jue chama de “dom poético” durante estes meses procurei uma ‘geografia no uma biografia, e muito menos uma fic- Gio , sobre as relagdes destumbradas e doridas entre escritores. Parti em busca da natureza da relagio es- critural de obras ~ a do Vergilio e a minha ~ que nao sendo, de facto, construidas nos mesmos pressupostos, /acabam por chocar, / cada uma com a sua velocidade propria, com o mundo, a sua significacio e a sua eva- nescéncia. A certa altura, escrevi mesmo que essa geo- grafia era, antes e sobretudo, uma signografia-sobre-o mundo (IQC, p.167). Para compreender grafias tao distintas, lana mao da estratégia «le “sair do texto”, buscando ver “onde a continuidade do ha se frac- tura, onde muda o registo de sinais”, ou seja, onde o espaco desti- nado as representacdes vé perdido o seu poder, onde os objetos per dem a sua referéncia imediata para poder ressignificar, construindo que chama de uma “signografia”, onde os signos sdo significantes que sinalizam outra dimensao de mundo, onde a escrita é jogo on- dulante, sinuoso, acidentado, movente. “Ver é fazer e desfazer. E cciar linguagem. E criar-me. Tornar-me um ‘puzzle’ onde um dia se desenha um labirinto, outro dia um morro elevado da paisagem I" (QC, p. 169), sem a “impostura da lingua”, esquiva necessaria ara que se faca literatura, acrescentando ao que ha um “ver cria- dor” que Ihe modifica a paisagem (IQC, p. 168). Mas o texto nao se encerra nessa confidéncia que paradoxal- mente funciona como a confirmagio da inconfidéncia do escritor, da sua rebeldia contra o estabelecido, ou contra o que hé nesse esta- belecido. Levantando a voz em tom de profecia ~ 0 verbo no futuro ‘garante essa condigio -, a escritora reafirma que o seu verbo é escre- |ABSCRIA DA FINITUDE de Ove sone 125 2 despeito do mundo em que habitar, “até que o acontecimento se dé a conhecer” Em qualquer mundo serei dita edirei. Ouniverso ndo nos quer mal, simples- ‘mente ndo nos entende. Mas nao nos impede de nos dizermos. Como tempo, acolhers onosso calor. Achard estranha a nossa incapacidade de vivermos sem afecto, ota arte com que nos fazemos nele nobres e confuson, Nao seremos seus reis soberanos nem seu norte, mas os funambulos da sua consciéncia, Humanos. Ver. (IOC, P. 169), Homens a se equilibrar numa corda ténue, entre 0 que hé e 0 abismo insondivel, os escrtores, pela voz de Llansol,afirram osea Sstivel abrindo espago para uma nova possibilidade de dizer, por que tém a capacidade de ver. “Na verdade” ~ afirma ~ “todos os acontecimentos importantes saem de livros”. Quero dizer, de uma grafia onde se guarda, se acumula, ese dilapida, O ouro ¢ abolido mas o seu brilho e 0 seu reflexo num espelho sto tesourizados. Perdem matéria, guardam signifi casio, adquirem virtualidade. E esse 0 tesouro que eu queria cultivar aqui [..] Continuarei, assim, a desfiar sensagdes e memérias até que 0 acontecimento se dé a conhecer, (QC, p. 172) Nese trecho quase final, Llansol afirma o seu pacto de eseri- i © seu compromisso, e, até que se cumpra o tempo, cumprird a farefa: “Voltamos & nossa condicao de cantores cegos crisndo Os mitos da sua condigao”. Ja apaziguada pelo “discernimento susericordioso”, enuncia as suas palavras finais, de homenagem a0 amigo morto: 126 La Paria Dre peat) O mundo existe e o Vergitio morreu, mas mais uma pa- lavra me pede a escrita Ele amou apaixonadamente esta lingua, esta cultu- a seca e caética. O que pensou, pensou-o contra 0 positivismo fruste que aqui reinou. Ele foi esta terra, foi portugués. © que sempre me espantava, por minha falha insandvel de identificagao. Muitos 0 amaram por. isso. Por isso, outros 0 odiaram. O que esta feito, esta feito. Nao acharei, no entanto, estranho se, nas noites de chuva, muitos virem um funambulo aéreo a dar- Ihes f€ no conhecer, e no facto nu e incompreensivel de ser-se humano ~ homem e mulher. Nao, nao éa chuva obliqua e cintilante a bater na luz. Nao. E ele, o cantor cego, no amor que vos teve. No “discernimento misericordioso” de que foi capaz. Nao. Nao é chuva miudinha, mas uma nascente hesitante a polvilhar- nos de lucidez. (QC, p. 183). Acompletar 0 “Eu vou” que inicia esse Inquérito as quatro confi- déncias e propondo uma prazenteira e dolorosa experiéncia, Maria Gabriela Llansol inscreve como numa lépide as suas palavras finais, como se quisesse perpetuar viva na escrita a figura que freqiien- ‘ou as paginas do didrio, num permanente exercicio dialogal. Ao proceder assim, fixa na imagem criada o gesto apaixonado daquele que disse que escrevia para viver, numa lingua capaz de registrar a grandeza e a miséria da nossa condigao. Sobrepondo seu texto 20 de Pessoa, transforma o cantor da condico humana em chuva obli- qua, fazendo-o encontrar-se com o poeta que aprendeu “a pavorosa ciéncia de ver”, que cumpriu a sua aventura nesse mundo onde a vida e a morte se banalizaram e ser homem nio tem sido um valor a defender. A propésito desse desmedido da escrita, que “deseja perpetuar © vivo, mantendo sua lembranga para as geragSes futuras”, afirma Jeanne Marie Gagnebin que “s6 pode salvi-lo quando 0 codifica e 0 fixa, transformando sua plasticidade em rigidez, afirmando e confir- mando sua auséncia ~ quando pronuncia sua morte” (GAGNEBIN, 2006, p. 11). E exatamente esse efeito paradoxal que se verifica no texto llansoliano, ao afirmar que “quando acabar, tudo sera conser- vado na escrita, com luz propria.”. Para essa afirmagio do deseja de perpetuar a meméria, Gagnebin tem uma resposta a um tempo. inquietante e consoladora: inquietante, porque desestabiliza a nossa certeza de que & possivel fazer perdurar vivo 0 que se foi; conso: ladora, porque, ainda assim, frégil na sua sobrevivéncia, fica-nos ‘como testemunho do que um dia existiu: [..] a meméria dos homens se constrdi entre esses dois élos: o da transmissao oral viva, mas frégil e eféme- 1a, @ 0 da conservacao pela escrita, inscrigao que talvez perdure por mais tempo, mas que desenha o vulto da auséncia. Nem a presenga viva nem a fixacao pela es- critura conseguem assegurar a imortalidade; ambas, alids, nem mesmo garantem a certeza da duracdo, ape- nas testemunham 0 esplendor e a fragilidade da exis- tencia, e do esforgo de dizé-la (Ibidem, p. 11), Que seja assim, pois assim quer a escritora que confidencia que seu verbo ¢ escrever e vai cumprir a sua missio fazendo a sua parte, sem medo. E sem medo, portanto, que faz do diario ndo um texto onde se registram as banalidades, as insignificéncias do coti- diano, mas um territério onde a biografia e a ficcio podem convi- ver, escrevendo uma nova geografia, ou uma signografia de afetos, ainda que afirme no ter desejado fazer ficcéo. Nesse texto, que assim encerra sua trajet6ria, é possivel dizer que “se revela a forca da palavra literdria, que tende cada vez mais a escapar das con- vvengGes e das leis da linguagem cotidiana, para construir 0 sujeito literdrio e testemunhar, com 0 saber da escrita, o que nao pode ser dito: 0 vazio da linguagem e da morte” (DUARTE, 2006, p. 153). E ainda que a morte se tenha tornado um gesto banal e andnimo, a escritura intenta uma luta contra essa solidao “que mais apaga a meméria que a conserva”. Assim se cumpre a teimosia do escritor, a0 fazer com que a “impostura da lingua’, ou a sua tirania, possa ser vista fora do poder, naquela revolucao permanente de lingua- gem a que Barthes chamou literatura (e nds Ihe glosamos 0 mote 4 exaustdo). Fica uma comunidade de leitores, agora que Llansol também jase foi, com a responsabilidad de criar outras geografias, de afetos, outras signografias propostas a partir do ato— ou melhor = do “sexo de ler”, REFERENCIAS NARTHES, Roland. Aula, Tradugao de Leyla Perrone-Moisés. Si0 Poulos Culltrix, 1980. lL ANCHOT, Maurice. O espacoliterério, Tradugio de Alvaro Cabral. io de Janeiro: Rocco, 1987. \NDRADE. INRANCO, Lticia Castelo. Palavra em ponto de p. In: Al , Paulo de; SILVA, Sérgio Antonio (Org,). Unt corp’ a’ screver. Belo Ho- rizonte: FALE/UEMG, 1997. p. 14-26. COELHO, Eduardo do Prado. “Maria Gabriela Llansol: 0 texto equi- \Iistante:” fn: A noite do mundo. 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