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Aristoteles Os PengadoréS Aristoteles “Foi pela. admikacdo. que os ho mens, assim hoje como no comego, to tam levados a filosotar, senda primeira~ mente abalados pelas _dificuldaces mais Obvias, & progredinds em segui- da pouce 4 pGUCe até resolverem pro blemias maigtes: por exemplo, a mu- dangas da Lua, as do Sol e dos astros a pinese do Universo: Ora, quem duvi- dda © se admira julga ignorar: par isso, também quem ama os mitos &, de cer- ta maneira, fil6salo, porque © mito re- sulla do maravilhoso.” ARISTOTELES: Mesafisica “A virude moral € um meioier- mo éntre dois yicios, um das quais.en- valve excessa e outro deficiéncia, e is- $0 porque a sua natureza ¢ visar a me diania nas paixdes e nos atos." ARISTOTELES: ftica a Nicémaco “Nao @ olftia de poeta nartar 0 que aconteceu; ¢, sim, o de mepresen tar 9 que poderia acontecer, quer ‘2er: 0 que & poss{vel segundo a verossi milhanga © a necessidade. Com efeito, nic diferem o historudor e © poeta por excreverem verso ou prasa (...}, di ferem, sim, em que diz um as coisas Que sucederam, € outro as que pode ram suceder. Por i380 a poesia € alga de mais filoséfico © mais série do que a histéria, pois refere aquela principal- mente © universal, © esia o particus tot ARISTOTELES: Padtica Os PensadoréS nea Seatnnete ae -Publicasio rasileira do Livro, SP Aristotetes, 384-322 A.C. Metafisica : livea 1 e livre 2 ; Btica a Nicemaco ; Poétiea / Aristé- eles ; selegio de textos de José Américo Mota Pessanha = [uadugdes. de} Vineen2o Caceo ... [et al ies tate Abril Cultural, 1984, (Os pensadores) Bibliografia 1. Aristteles - Btica 2. Aristételes - Metafisica 3, Avistételes - i, Pesaaka, José América Mota, 1982 - Ul. Tite icimaso. V, Titulo: Postica. VI. Série, ea L, Corea, Vinee lo. IV, Titulo: Etice CDD-185 “110 170 808: Indices para catSlogo sistemiitice: 1. Sristiteles : Obras filoséticas 185 2. Brice = Filosofia 170 3. Filosofia aristotélies. 185 4, Metafisiea : Filosofia 110 5. Poética = Retérica : Literatura 808.1 ARISTOTELES METAFISICA (LIVRO |e LIVRO II) ‘Tradagio direia do grepo por Vineenzo Coceo de Carvalho notas e Joaquim ETICA A NICOMACO Hint te Lone eienae jerd Hornheim da versio inglesa de W. D. Does POETICA ‘Tradugio, comentirios indices analitico e onomiastico de Eudoro de Souza Selegiin de textos de José Américo Motta Pessunha i 1984 EDITOR: VICTOR CIVITA ‘Titeles originals: Te peri oi duos (Metaiisicn) Tlepi Daveyrvatis (Postica) Hundt Newopoicte: tiea a MicOmaco) © Copyright dexta edigso, Abril S.A, Culnoral, ‘Sho Paulo, 1964. “Tuslugton put sob Nheeegs da Editors Atimica. Couns (Metafixica — Livrog | ell), ¢ da Editors Globa 8.4. Pon Alegre (Enea a Nicdmece, Poeticay METAFISICA Tradlugiio direta do greno por Vinzenz0 Cocco = notas de Joaquim de Carvalho Re —— ee Nota do Tradutor A presente tradugdo seguiu 0 texto da Aristotelis Opera omnia graece et latine, Volumen secundum, Parisiis Editoribus Firmin-Didot et Sociis (s. a) [1938). Nas notas @ traducdo sdo citadas abreviadamente us seguintes tradugses: rae da Fonseca — In Libros Metaphysicorum Aristotelis. ¢. 1, ed. de Lyon, £591. Aristore — La Métaphysique. Livre 1. Lovaina, 1912; e Livro ui, ibid. 1972-1922. Trad. et commentaire de G. Colle. W. D. Rass — The Works of Aristoteles, vol. vit. Oxford, ed. de 1948. Aristotle — La Metafisica. Voigarizzala e commensata da Ruggiero Bonghi, compietata ¢ ristampata con la parte inedita. Introduzione © Appendice da Michele Federico Sciacca, vol, . Mildo, 1942, Aristotle — La Métaphysique. Trad. e noes par J. Tricor, t. 1, 2." ed., Paris, 1948. LIVRO | (A) Capituo [' Todos os homens tém, por natureza, desejo de conhecer: uma prova disso & ‘© prazer dag sensagies, pois, fora até da sua utilidade, clas nos agradam por si mesmas e, mais que todas as outras, as visuais, Com feito, no 36 para agir, mas até quando nfo nos propo- mos operar coisa alguma, preferimos, por assim dizer, a vista ao demais. A razio ¢ que ola 6, de todos os sentidos, © que melhor nos faz conhecer as coi- sas ¢ mais diferencas nos descobre. (2) Por natureza, seguramente, os animais sao dotados de sensacao, mas, nuns, da sensagao nao se gera a memoria, ¢ outros, gera-se?, Por isso, estes So mais intcligentes ¢ mais aplos para. aprender do que os que sie incapaxes de recordar, Inteligentes, pois, mas sem possibilidade de aprender, sia todos os que no podem captar os sons, como as abelhas, © qualquer outra espécie parecida de animais. Pelo contrario, tem faculdade de aprender todos os seres que, além da memoria, sao providos também deste sentido. (3) Os outros [animais] vivem: portante de imagens ¢ recordagies, ¢ 1 Rote cipltulo em par fim mostrar que o desea de saber & natural: que hit graus diversas de contiesi- Glosofia, 3 A razio ¢ que nom todos os animais possuem a faculdade dé conscrvar a experiencia trantaia por imagens. de experiéncia poueo possuem. Mas a ‘a [vive] também de arte 3. (4) E da meméria que deriva aos homens a: experiencia: pols as recordagdes repetidas da mesma coisa produzem o feito duma dnica experiencia. € a experiéncia quase se parece com a ciéncia ¢ a arte. Na reali- dade, porém, a ciéncia ¢ a arte ven aos homens por intermédio da experiéncia, porque a experiéncia, como afirma Polos4, e bem, cricu @ arte, ¢ a inexpe- rigncia, o acaso. (5) E a arte aparece quando, de um complexo de nogdes experimentadas, se exprime um tnico juizo universal dos [casos| semelhan- tes. Com efeito, ter a nogao de que Calias, atingido de tal doenga, tal remédio deu alivio, e a Sécrates tam- bém, ¢, da mesma maneira, a outros tomados singularmente, é da experién- ia; mas julgar que tenha aliviado a todos os semelhantes, determinados. segundo uma dnica espécie, atingidas de tal doenga, como os fleumaticos, os biliosos ou os incomodados por febre ardente, isso é da arte. (6) Ora, no que respeita a vida pratica, a experiéncia em nada parece diferir da arte; vemos, > Arisibieles discrimina ws gins md, canheck ‘mento sensivel dos irracionais, que com Fonsces x podem designae de infimo, médio e superior. O knit proprio dos animais que someste vivern a experiéncia presente; o médio, dos que podem con servar a experiencia passada mas nip avem, ¢ 0 superior, dos que ouvem, possuem memiria © poder ser adcatrados. Foi win lune do sofista Gérgiiss Vid. Plato, Gorgias, 2 ARISTOTELES até, 03 empiricos ucertarem melhor do que os que possuem a necdo. mas nao a experiencia. E isto porque a eape- riéncia € conhecimento dos singulares. ¢ a arte, dos universais: c, por outro tado, porque as operaches © as pera- gdcs todas dizem respeito ao singular. Nao ¢ 0 Homem, com efeito, a quem o médico cura, se nao por acidente, mas Calias ou Sécrates, ou a qualquer um outro assim designado, ao qual aconte- ceu também ser homem ». (7) Portanto, quem possua a nogao sem a experién- cia, e conheca © universal ignorando o particular nele contido, enganar-se- 4 muitas vezes no tratamento, porque o objeto da cura &, de preferéncia, o sin gular, No entanto, nés julgamos que ha mais saber ¢ conhecimento na arte do que na experiéncia, © consideramos ‘os homens de arte mais sdbios que os empiricos, visto a sabedoria acompa- thar em todos. de preferéncia, o saber*. [sto porque uns conhecem a causa, ¢ 05 Outros nfo, Com efeita, os empiricos sabem o “qué”, mas nao o “porqué”; ao passo que os outros sabem o “porque” ¢ a causa?. (8) Por isso nds pensamos que of mesires-de- ® Passo de explicario dificil, pols consists em ave riguar a razito piausivel por que Aristbtcles dir que £ um acidente ve Cilia. de Socrancs, ou de qua- ‘quer outro individuo. ser homem. Fundado em Ale aandre (Aporias.... 1, IX), G, Colle interpreta fssim: “A universalidade é um acideme da essincia, Donde se segue que a esséncia, considerada formal- ‘mente sob a ponto de vista da exteasio. isto 6, como suniversal, & atributo abidemtal da exséncin conside- rada exclusivamente sob ponto de vista da compreensi. Pars empregar o example de Alexan- ddre:"“um animal em geval” ou, o que equivale 319 ‘mesmo, “um animal” fessincia universal) seria alri~ bute agidental de “esto animal” (esséacin conside rada & parte do seu carster univers}. Do meimo ‘modo, “um homer” seri atributo acidental de “este homer." (Le Met. Lop. 17.) * Expostas as nogics de empeiniae de séchne, Aris: 16teles inicia a exposigae das provas Gemonscrativas dio objeto do capitulo’ a Flosolia é a saber por exce- leneis, ou seja, ode comhecimento das causas. 7 Conhecer pela causa e coahecer pelo geral, isto & pelo conceito « pela exséncia: assim, © médico, sonhecendo 1 esséncta da doenga © do medic, mento, combace a relacdo sausal parm acuela, ‘*portente n cauia do restubelecinizato da aulds. obras, em todas as coisas, sa0 mais apreciaveis ¢ sabem mais que os operé- rios, pois conhecem as causas do que se faz, enquanto estes, A semelhanca de cerlos seres inanimades, agem, mas sem saberem o que fazem, tal como o fogo [quando] qucima. Os seres inani- mados executam, portanto, cada uma das suas fungdes em virtude de uma ceria natureza que Ihes € propria, ¢ os mestres pelo habito. Nao sia, portan to, mais sabios os [mestres| por terem aptidao pritica, mas pelo fato de pos- suirem a teoria ¢ conhecerem as cau: gas. (9) Em geral, a possibilidade de ensinar € indicio de saber; por isso nds consideramos mais ciéncia a arte do que a experigncia, porque [os homens de arte] podem ensinar ¢ os outros nao. Além disto, no julgamos que qualquer das sensagdes constitua a ciéncia, em- bora elas constituam, sem diivida. os conhecimentos mais seguros dos singu- lares. Mas niio dizem 0 “porqué” de coisa alguma, por exemplo. por que o fogo & quente, mas so que & quente. (10) E portanto yerossimil que quem Primeiro encontrou uma arte qualquer, fora das sensagdes comuns, excitasse a admiragao dos homens, ndo somente em razdo da utilidade da sua desco- berta, mas por ser sibio ¢ superior aos outros. E com o multiplicarse das artes, umas em vista das necessidades, outras da satisfagio, sempre conti- nuamos a considerar os inventores des- tas iltimas como mais sabios que os das outras, porque as suas ciéncias nia se subordinam ao til. (11) De modo que, constituidas todas as |ciéncias} deste genero, outras se descobriram que nfo visam nem ao prazer nem & necessidade, ¢ primeirzmente naquelas regies onde [os homens} viviam no Scio*. E assim que, em varias partes © ‘iver no Seto significn estar aliviado de trabalho mastual © ee cuidados matetiaia ¢, portana, usufriit condigdes que permitam a exercicin da atividade intelectial, ou toorkiiom sum A preosupagin de inet © que é essencial b vida de cada dia. do Egito. se organizaram pela primeira vez as artes matematicas, porque ai se consentiu que a casta sacerdotal vives- se no dcio, (12) Ja assinalamos na Etica* a diferenga que existe entre a arte, a ciéncia e as outras disciplinas do mesmo género. O motivo que nos leva agora a digcorrer @ este: que a chamada filosofia ¢ por todos conce- \ Na Etiea a Nisimaco, VI, 3-7, onde distingue € caracterizn cinco “habitos” pelos quais # pode aprender a verdade: entendinento. eidacia, sabede. ‘ha (filosofia), prudancia « arte. bida coma tendo por objeto as causas primeiras ¢ os principios; de mancira que, como acima se notou, o empirico parece ser mais sabio que o emie que unicamente possui uma sensacio qual- quer, © homem de arte*® mais do que os empiricos, 0 mestre-de-obras mais do que o operario, ¢ as ciéncias teoré ticas mais que as pralicas. Que a filo- sofia seja a eiéneia de certas causas e de certos principios ¢ evidente. +0 Fonsoca traue! arcifer, isto é, perito Capituto II" Ora, visto andarmos a procura desta ciéncia, devemos examinar de que cau- sas e de que principios a filosofia é a cigncia, Se considerarmos as opinies ‘que existem accrea do filésofo, talvez 0 problema s¢ nos manifeste com maior clareza. (2) Nos admitimos, antes de mais, que o ftésofo conhece, na medi- dis de possivel, todas as coisas, embora nao possua a ciéncia de cada uma delas por si. Em seguida, quem consiga eonhecer as coisas dificeis © que o homem n&o pode facilmente atingir, esse também consideramos filésofo (porque © conhecimento sensivel ¢ comum a todos, ¢ por isso facil € nio- Cientifico). Além disto, quem conhece aS causas com mais exatidio, ¢ € mais capaz de ax ensinar, & considerado em qualquer espécie de ciéncia como mais filésofo, (3) E, das ciéncias, a que esco- 1 Estateleckés no capitulo anteri a existéncis de flosofin (aw snbedoria), Aristbteles proper nese capitulo indsear © que caraeteriea. Em resumo &: Géncia Jas chases prinicicas, tonics, por excciéy~ ; ominentemente livre. diviea, a mais digma de arproyo, geranco a sue ayzisigdo um estado de cspi- Tito contririo ao do pasmo da ignorincia. themes por ela propria, ¢ tendo em vista o saber, é mais filosofia do que a que escolhemos em virtude dos resulta. dos; ¢ uma [ciéncia| mais elevada & mais filosofia do que uma subordi- nada, pois nio convém que 0 filésofo receba leis. mas que as dé, ¢ que nao obedega ele a outro, mas a ele quem & menos sabio. (4) Tais ¢ tantas sao, pois, a9 opinides que temos sobre a filosofia € os filésofos. E quanto a estes, © conhecimento de todas as coi. Sa$ encontra-se necessariamente na- quele que, em maior grau, possui a ciéneia universal, porque ele conhece, de certa maneira, todos os [indivi- duais| sujeitos'®. No entanto, ¢ sobre- ‘2 ‘Tradugo literal, que © comum do¥ sradutores explana, consklerando por “sujeitox” ox individuos tu casos partscularss abrangidos no corhecimento do universal. Por outras palavras: dada a concep Gao hierirquica do saber (33, 2 ciéncin mais geral F extenrio, into f, abrange maior niimera te naivuge objetos ou cass singles: poo Que, ‘quem @ possui, conhese, de certa maneira, os indivi duos, abjetos ov cass abrangidos no eorivecimento ido respectivo conceit, Fonseca averte. que por sujeitos (in nomine rerum subieciaruen) se deve suteniler nak 8 seitos ‘de predicados usiversais, man também efeitos de casas universas. 4 ARISTOTELES maneira dificil ao homem chegar a estes conhecimentos universais. porque estdo muito para além das sensagdes. Além disto, entre as ciéncias so mais exatas as que se ocupam predominan- temente dos “‘primeiros'"7; © as que de menos [elementos precisam] sao mais exatas do que as que sio chamadas “por adigao”, como a aritmética relati- vamente a geometria’*. (S) Porém. a que ensina é a ciéncia que investiga as causas, porque 3 os que dizem as cau- sas de cada coisa ¢ que ensinam. Ora, conhecer © saber por amor deles mes- mos & préprio da ciéncia do suma- mente conhecivel. Com efeito, quem Procura © conhecer pelo conhecer escolheri. de preferéncia, a ciencia que € mais ci€neia, ¢ esta € a do sumu- mente conhecivel; ¢ sumamente conhe- civeis so os principios © as causas: ¢ pois por eles e a partir deles que conhe- cemos as outras coisas, ¢ nao cles por meio destas, que sio subordinadas, (6) A mais clevada das ciéneias, ¢ superior 1) Teadugio literal, que eolocamos entre axpax para acentuar a literalidade. O comum dos tendute- re imtorpeeta pelo contexto, fazeedo equivaler “pei: meiros" a conhecimente dos prindpios. Ponteca true par prima: Seienriarum quogue eae sunt accuratissiae, qzrac tn Ix quae privma sat, maxime vervartur, Ema explonario respectiva, wosim explica: Cum égltur ea, quae sunt maxiine Luniversalic. sit prima. es simplicissiore effet wt Selentha, qaice in eorurn eonsl fe verse, 38 sMapie nacura certssima, ue quae pauclssimus, et Simplictssimats principtés rem demonscret. Sic rao facts probars allgwtd existere, gram per se exis: tere mul a alia existere, quod existere, si pris et sumplicmis quam existere per se. aut existere th allo. '* ‘Trachigao literal, O sentido temia-se mais claro, explinande com @ coraum dos tradutnres: por adi 80 de principios. Aristioeles distingue ax eidsicins {que assentam em pouens prineipios. simples ¢ abs- tratos, das que aseniam em prinsipios complexas, into G, wnenicy abstratos, Ax prameifas so mais xa tas que a8 tf iE tigno de repure 0 fate de Artibices excep ficar a distingao com a ariemética e gcomerria. A raze € que a geomettia, em relagio & artmética, camién uma adigio de principics, ita & aos princi= Pos do nomen acrescenta as prupriedades de eapage, a qualquer subordinada. &, portanto. aquela que conhece aquilo em vista do qual cada coisa se deve fazer. E isto é © bem em cada coisa e, de mancira geral, o Stimo no conjunto da nature- za. (7) Resulta portanto de todas estas consideragdes que € a esta mesma cién- cia que se aplica o nome que procura- mos. Ela deve ser, com efeito, a [cién cia| teorética dos primeiros principios e das causas, porque o bem ¢ o “por- qué™ sio uma das causas, Que ndo & uma |ciéncia) pratica resulta {da pré- pria histérial dos que primeira filoso- faram. (8) Foi, com efcito, pela admi- regio" ® que os komens, assim hoje como no comego, foram levados a filo sofar, sendo primeiramente abalados pelas dificuldades mais dbvias, € pro- gredindo em seguida pouco a pouco até resolverem problemas maiores: por exemplo, as mudangas da Lua, as do Sol e dos astros ¢ a génese do Univer- so. Ora, quem duvida e se admira julga ignorar: por isso, também quem ama of mitos 4, de certa maneira, filésofo, porque o mito resulta do maravilhoso. Pelo que, se foi para fugir 4 ignorancia que filosofaram, claro esté que procu- raram a ciincia pelo desejo de conhe- cer, e nao em vista de qualquer utilida- de. (9) Testemunha-o 0 que de fato se passou. Quando ja existia quase tudo que é indispensavel ao bem-estar ¢ & comodidade, entio é que sé comegou a wocurar uma disciplina deste génera. pois evidente que nao a procuramos por qualquer outro interesse mas, da mesma omaneira que chamamos homem livre a quem existe por sie nio por outros. assim também esta ciéncia 4.de todas, a tinica que é livre, pois’ sd 1% Fonsece aproxima deste pasa o de Plata, 0 Teele, cm que Socrates die a Yeutoro que @ oda Fagao € principio da flexor METAFISICA —L 1 éla existe | por si]? ®. E por tal razio, poderia justamente considerar-se mai que humana a sua aguisigao. Por tan- tas formas é, na verdade, a natureza serva dos homens que, segundo Simd- 6 Deus poderia gozar deste ",e nie convém so homem Procurar uma ciéncia qué [he nao esta proporcionada. (10) Se. como dizem os poetas, a divindade é por natureza invejnsa, nisto sobretudo deveria ver-se © efeito, ¢ todes os mais categorizades serem infelizes' ?. Ora, nem @ admis- sivel que a divindade seja invejosa, ©. segundo o provérbio, “os poetas dizem muitas mentiras”, nem se pode admitir que haja outra ciéncia mais apreciavel gue esta. Com efeite, a mais divina € também a mais apreciavel. ¢ 36 em duas manciras o pode ser: ou por ser possuida principalmente por Deus, ou por ter como abjeto as coisas divinas. ‘Ora, 96 a nossa ciéncia tem estas duas prerrogativas, Deus. com efeito. parece ‘ser, para todos, a causa ¢ principio, ¢ uma tal ciéncia 96 Deus, ou Deus principalmemte, poderia possui-la. (11) Todas as outras s&o. pois. mais neces- sarias do que ela, mas nenhuma se lhe V6 Popaeee trada assim’ a parte fiant do perindas Ubera eat, quot sola si sui gratia, Ma explanetio ‘Faspectiva diserimina ono livre de ciénoia liberal: Liberalis enim est, quae est digna homine libero, ex ‘Opponinuy Meconicae, seu sordidae, nonutlesque practices complectiur, wt Rictoricam, et Diaiecti Gam: fibers autem est, ano ea! ul gratia, hor ek quae Non 1 ¢feriur ad Opus, Aue St rnasies, mee eatin eecaeere ae 17 Alguas coment 06 reportam uw este Pindaro. Ph X- 31. —_ sobreleva em exceléncia. E o estado em que nos deve deixar 2 sua aquisicao é inteiramente contrario ao do das. pri- milivas indagagSes. pois. dissemes ngs, todas comegam pela admiragio' * de como as coisas so: tais og autéma tos, aos olhos daqueles que no exami- haram ainda a Causa. ou os solsticios, ou a incomensurabilidade do diame- wo'®: parece, de fato, maravilhoso para todas que kaja uma quantidade néo comensurdvel pela mais pequena unidade [que se quiser}. (12) Ora, nos devemos acabar, segundo o prover: bio2®, pelo contrario © pelo melhor como acontece nestes [exemplos|, desde que se conhegam [as causas}; nada, efetivamente, espantaria tanto um gedmetra como o diametro tornar- s¢ comensuravel. Fica assim estabele- sida a natureza da céncia que procu- ramos ¢ também o fim que a nossa investigagiio ¢ todo o tratado devem aleangar, '® Foaseca obserea penetrantemente na explanatio respectiva: Adwerte autem ienorationcm, a qua lies i, discursus Philosophicus, non esse (gnorationem ‘puroe privationis, sed quadammodo ichoatae for: mee. 19 Segundo Fenseea € outros comentadares (¥. g. Colle, 1, 32), dilmetro tem neste pusio 0 sentido de diagonal do guadrada, coma no Fe ariena, 11, 408 31, Além deita eaaio. parece ainda que Ariswotele: desconheceu n incomensurnbilidade wo da coisa, © Nao no sentide absoluus, porque se assim. iti fosse © conhecimento de cada cols exigiria o conheciment do objeto formal da metafisica, Vid. Colle I. pp. H4-a1 2 Literalmente: qual erao sér. Fquivale ao sentido Prdprio de cada coisa enguanto pensada cm si mesma, ¢ que & designade pela definigie cxsencial ‘msec irsdhur por; Quidditutem rei. Especialmente, ne liv. 1, cups. 3 © 7. Haraelin considera este parigrafo coma restimo do que Aris- Abinles desemuoluers nm Fis, I. 3. (Vid, Aristore, Peyvigque 11, Trad.st commantaive (— Paris, 2" oc. 1931p. 101. causas; tal exame serf portante util ao nosso estudo, porque ou descobri- remos uma outra espécie de causas, ou daremos mais crédito 4s que acabamos de enumerar. A maior parte dos pri- meiros filésofos considerou como prin cipios de todas as coisas unicamente 05 que sao da natureza da matéria, E aquilo de que todos os seres siio consti- tuidas, ¢ de que primeiro se geram, © em. que por fim se dissoivem, enquanto a substincia subsiste, mudando-ge uni- camente as suas de‘erminagdes, tal é. para eles, o elemento ¢ o principin dos seres, (3) Por isso, opinam que nada se gera e nada se destrdi, como se tal naturezk subsistisse indefinidamente, da mesma maneira que nao afirmamos que Socrates € gerado, em sentido absoluto, quando ele se torna belo ou musico, asm que ele morre quando perde estas qualidades. porque o sujei- to, © proprio Séerates, permanece; ¢ assim quanto as outras coisas, porque deve haver uma natureza qualquer, ou mais do que uma? *, donde as outras derivem, mas conservando-se ela inal- terada. (4) Quanto a niimero ¢ A natu reza destes principios? §, nem todos pensam da mesma mancira. Tales? ’, 0 fundador de tal filosofia*?. diz ser a gua (é por isto que ele declarou tam- bem que a terra assemta sobre a agua), levado sem divida a esta concepgiu por observar que © alimento de todas 24 Taw 6, uma natureea, que seja una, cu maltipia. £6 Isto €, principiog materiaisfundamrentaiz 27 Bo findsder ta Escola Sénicn; natural de Mi to, vieeu entre 650 $50 aC. 24 Tra & da fiosofia que conifere significagio ontakigics substantive a elementos natursis, as coisas € imido e gue o proprio quente dele? pracade e dele vive (ora, aquilo donde as coisas vém é, para todas, o seu principic). Foi desta observayio, portanto, que cle derivou tal concepgao, como ainda do fata de todas us sementes terem uma natureza Gmida e ser 2 agua, para as coisas timi- das. o principio da sua natureza. (5) A parecer de alguns. também as mais antigos, agueles que muite antes da nossa geragdo © primeiramente teolo- gizaram39 ‘teriam concebido a matu- teza da mesma maneira. De falo, consideraram o Oceano e Tétis como os pais da geragao, e fazem jurar os deuses pela Agua, 4 qual os poetas cha. mam Estiges?': ara, se o mais antigo é © mais veneravel, o juramento é, sem divida, o que ha de mais venerando, (6) Se esta opinizo sobre a natureza antiga e vetusta, niio esti bem claro; em todo © caso. assim parece ter-se exprimido Tales acerca da causa pr meira. Quanto a Hipon?2, ninguém. de certeza. pensaria em o colocar na série Gestes [pensadores], em raziio de pou- quidade do seu pensamento. (7) Ana- ximenes** e Didgenes? * consideram o ar como anterior 4 igus, e, entre os corpos simples, como o princfpio por exceléncia?", enquanto para Hipaso. ** Segundo alguns oomentaderes, Tales pensava quee calor eo fogo s¢ originayum pela cvaporacio do amide. $4 Refere-se a Homira ea Hesiods como os pri- rosir0s tedlogas, isto é como eseritures que primi umente se ocuparam des dese, 2" Na itieda, XIV, 201-266, e XV, 37; Bonitz esclareceu que ‘Arisidteles aproximou Hipan de Tales nao pela idade, pois vivew ne epoca Ge Périctes. mas pelos principios que professava, ‘Sumplicic diz que Hipon era atew: taiver por eme Mativo Aristteles se referit a ele com deseonside ragio. 29” Anaximenes, de Mile, filbsofo da ccota Sai a, morren cirea $28-524 4.0. 14 Nacural de Apolinis, fo) contemsporiineo de ‘Anaximencs. 3 Isto 6, em ver da Sgua. come Tales, estes dois ‘dsufos consideravam gue 6 ar € 0 principio pei. tmordial de tous 8s colsas Metapontino’ * ¢ Heraclito de Bfeso3 ? 0 fogo, ¢ para Empédoeles** sio os quatro elementos, visto ele acrescentar um quarto aos que acabamos de refe- tir: a terra. Estes clementos subsistem sempre e nde sie gerados, salva no que toca ao aumento ou diminuigfio, quer s¢ unam numa unidade, quer se divi- dam a partir dela. (8) Anaxagoras de Clazomenes*®, anterior a Empedocles pela idade, mas posterior pelas obras. afirma que os principios sio infinitos. Quase tudo o que é constituide de par- tes semelhantes*®, como a agua ou 0 fogo, diz ele, est sujeito a geragio ¢ A destruicao de uma s0 maneira.a saber, pela unido ¢ pela desunido: as coisas nao nascem de outra maneira, nem morrem, mas subsistem cternamente, (9) Resulta daqui que deveria conside- Tar-se como causa tinica somente aque- la que esté na espécie da matéria. Assim prosseguinds, a propria reali dade mostrou-lhes 0 caminho e obri- fou-08 a um estudo ulterior. Com efei- to, ainda que toda a geragao e toda a corrup¢aa procedam de um unico prin- cipio ou de varios, por que € que isso acontece € qual a causa? Nao ¢ segura- mente © sujeite o autor das suas pr6- prias mudangas: por exemplo. nem a madeira, nem o bronze sio a causa das proprias modificagdes, pois nao é¢ a madeira que faz a cama, ou o bronze a estatua, mas alguma outra coisa é¢ a 34 Filosafo do séc, VI aC. que alguns historia ores filiam na Escala Pitagirica. 2) Ienaram-sc as datas da seu nascimento ¢ morte, admitinds-s2, 6@ harmonia com informes attigas, notidamente de Diogenes Ladrcio, que florescia ieee senagesinan mona clizapiadn (508 500 4.C.). Ariudieles aprstentwe camo Maiblogo su MsiGo! Zeber. porém, julgou que deve ser considerade Some promotir de uma orientale Hlowsifiva pro: stibora se ligue a Escola JOnica. De Agrigento: Noresceu pelo segundo tera do steal Va. C. “ 38 Nasecu em Claximenes circa $00 a.C.¢ morrew Limpsaco circa 428 aC. Literalmeate: Aomeomeriat. 18 ARISTOTELES causa da mudanga. Ora, procurar esta outra coisa € procurar o outro princi. pio donde. como dissemos, |provém| a origem do movimento. (10) Aqueles que, primeiramente. se empenharam neste género de investigagio ¢ afirma- ram que o sujeito é tnico*’ nao se deram conta desta dificuldade, mas alguns. pelo menos entre os que pro- clamavam esta unidade, quase que vencides pela prépria questao, afir- mam que 0 uno & imOvel e que toda a natureza o &*#, nao sO quanto @ gera- gio e & corrupgaa (crenga esta primi- tiva © que todas adetaram), mas tam- bém no que respeita a toda e qualouer outra mudanga. Esta doutrina éthes privativa*3. (11) Entre os gue afirma- fam que © Universo ¢ uno, a nenhum ecorreu entrever tal causa, a nfo ser talvez Parménides**, € este somente enquanto reconhece nao usm dnica causa, mas, em certo sentido, duas* *. Quanto aos que admitem varios * * [ele- mentos|, acontece que dizem mais, como, por exemplo, os que [admitem| © calor ¢ a frio, ou o fogo e a terra, Eles, com cfeito, servem-se do fogo como sé este possuisse uma natureza cinética, ¢ da igua, du terra e dos ou- 4) Aeisbtelenrefere-se Tales © w Anuximencs. £1 Teg amp vinta ds Gleainn: Xeifencs, Mellsse © Parméaides. ‘ “2 Refere-se aos clcatas, segumdo ov guile o Uni verso € uno, isto é. sorente ecnferinm Feslidade ao er no qual nada de neve advém a existéncia, © ja mais cessa de etistir ou seire qualquer mydanys substuncial ¢ a acidental. A juizo de Arissdteles, os. eleatas continuavam & arienlajao de Tales e de Apaximencs. por admiti sem somente 4 causa material Te Fadsofo da Escola de Fléie, cue fioresseu pela sexagérimin nana olimpiada (504-501 8.) 0 Paso obscuro, mas no qual se nao vé contradi G20, de harmonia com o comentirio de Alexandre: ob'o pont de visa da verdad {ratio}, Purmésides Bfitmava que o Universo & uno, sam comega « esfé igo, ¢ portanto carecente unisamente da causa materialy parém, solr © punto de vinta sensivel (da nratureza), na negara quc houvesie ourra causa. saber, acticiente.£ esta s explivagae de Fonseca. 40 Talvez tenha em visia Empedecles. ios elementos andlogos, como. [se possuissem) uma |natureza) contraria. (12) Depois destes, ¢ de tais principios, visto serem insuficientes para gerar a natureza das coisas, os fildsofos, de novo constrangidos, como dissemos. pela propria verdade. foram & procura do principio que se Ihe seguia* ?. Com efeito, © existir ou o produzir-se da ordem e do belo nas coisas nao & provavelmente originado nem pelo fogo. nem pela terra, nem por oulre clomento deste género, ¢ nfo € mesmo verassimil que ¢les © tivessem pensado. Por outro lado, nfo era razoavel atri buir ao acaso € 2 fortuna uma tae grande obra, (13) Quem. portanto, afir mou que existia na natureza, como entre os animais, uma Inteligéncia, causa do mundo ¢ da ordem universal, apareceu jejuno, em comparagéo dos que atiteriormente afirmaram coisas vis*® Quem alcangou abertamente estas nogdes. sabemo-lo, foi Anaxage ras, mas foi precedido, diz-se. por Her- métimo de Clazémenes. (14) Os que, pois, assim pensaram fizeram uma mesma coisa da causa que ¢ principio do bem nos seres © da causa donde Vern aos seres.o movimento #9. 47 Fonseca iniscpreiou ire paso no sentido, de dhe Armcesien deniana pela exprenstio — principin que ge Ihe seguin’ 0 cauxa eficiente. non [amen bar quaesiveruns sub ratiane finalis. sed sab vation ‘ene, reeteyae efficients, id est. alicujus bon! gratia, Bonive sustentou que Aristiteles se referinn A sau inal. € G. Colle € ve opinilo que ye tratm da ens eficionig, embers lnis fi6sofos inquirisscrn a rarbo daordem no Universo, “4 Tradugao literal. O semido &: Quem primeire mente sustentan: que no Univerw? existe uma inte {goncin que € causa da disposigio de tudo 0 que nele xisie apareceu como em jerum perente os discursos ios dos filbsofes que o precederam. ‘Bode diseutit-ae (vid. nova 47) sez cause queé pelnciple do bam” 6. causa final ou a eficiomte pot Soro dir Colle (1, $7) 1 ietelligence qs ordanne on ue du bien, ou Vamour gui tend aw bien ne soat poins causes finales, mais raves efficientes: c'est Je ‘bien furméme que es! couse finale”, ra & indubi tivel que Sa causa donde ven aos s8res o mavimen 10" € 4 causa effente ou motora, METAFISICA — I cr) CariruLo IV* Poder-se-ia supor que Hesioda foi o primeira que procurou alguma coisa de parecido, ¢ com ele os que supuse- ram nos seres o amor ou © descjo como principio. Parménides por exem- plo. Este, com efcito, expande a génese do Universo, diz: “antes de todos os deuses, criou o amor)”, & Hesiod: “antes de tudo foi o Caos. depoi terra dos grandes seios, eo amor que a todas os imortais supera” *2, to con- veniente era que se encontrasse nos seres uma causa cupaz de dar movi- mento ¢ ordem 4s coisas*?. Quanto a disiribui-los relativamente a priorida- de®, sejanos permitido remeter para mais tarde a nossa opinido®*. (2) Como os contrarios do bem aparecem também na natureza, ¢ nio sa ordem ¢ 0 belo sendo ainda a desordem ¢ o feio, ¢ 0 mal em maior quantidade que © bem, ¢ © feio do que 0 belo, ocorreu entéo a outro fildsofo intreduzir a ami- zade ¢ a discordia, cada uma delas causa contraria de efeitos contrarios, (3) Se alguém, pois, seguir o raciocinio de Empédocles, atendendo mais ao espirito do que @ sea maneira balbu- 8° Maite capitulo: continta 9 cepasigao’ das con wepyies fisicas dos Tlésofos pré-socrivico, expe Sialmene dc Einpidectes ¢ dos axomintas, Sempre sob y punto de vista da teoria das causa, ** fo fragment 13 da coktines de Diels, 8: Na Teovonia, v. |\b-120. A citacio nao € tex- tual, indicando que Arisiteles 2 fea de memoria: mas eonlorme ay seniide. 59 Trata-se da indapacio de uma causa diverss das dung referidas anteriormente © 4 ae Perménides antevicar confusamente, icentic cando-a com a citusa motaru, + Iai0 &, sob © ponte de wists cronotigicn. BE Atistdteles néo chegou a ocupar-se deste assun (0.00 59 He Coupou, perdieu sew que escreve. ciante® * de se exprimir, encontrara que a amizade é a causa das coisas boas, ¢ a discordia das mas. Afirmando, por- tanto, que Empédacles, em certo modo, ¢ pela primeira vez, admitiu o bem ¢ o mal como principios. talvez se acerte, visto ser o proprio bem a causa de todos 0s bens, ¢ o mal, dos males. (4) Estes, como vimos dizendo, apreen- deram evidentemente, até agora, duas: das causas que nos determinamos na Fisica® ?. @ saber, a matéria ¢ 0 princi- pio do movimento ®*, porém, de uma mancira vaga e¢ obscura, tal como fazem, nas lutas, os mal exercitados, os Quais. atirando-se de um lado para o outro, conseguem as vezes dar lindos golpes: mas nem estes [os dao} por ciéneia, nem aqueles parecem saber o que dizem. Com efeito, quase nunca os vemos ‘servir-se de tais principios, « no ser esporadicamente. (5) Anaxi- goras serve-se da inteligéncia para a geragio do Universo come de um ex mackina®®; e quando se vé embara- gado pela causa de algum fenémeno necessario, entan € que ela o atrai, Nos outros casos, ¢ a tudo o mais, salvo a inteligéncia, que ele atribui o que acon- tece**, Empedocles também se serve das causas, mais que’ este tiltimo, mas ** Esta mangira-de dizer indica que Aristételes no considerava Empédoctes camo filisafo que tivesse exposto © seu pensamenwo com clareza e rigor. Vid, adiamte 0 capitulo 10, deste livro, 47” No ji ciads livro, 3¢ 7. 54 Isto é, a causa material ¢a causa eficiente. +8 Alusio a0 recurso teatral de una cena que; como a iniervensio de um deus, nito estava no Sepuimento Hipiee da ago « que dave desfocho 3 situagae criada. 10 Vid, « jai andloge dh Pluto, no Fido. 2 ARISTOTELES de maneira. nado suficiente nem coeren- te. Em muitos casos. com efeito, a ami zade para ele separa ea distérdia une Quando, pois, o Universe se dissolve nos seus elementos sob a acao da discdrdia, entio o fogo ¢ cada um dos outros elementos retinem-se num todo; inversamente, quando sob a agio da amizade, os elementos saa reduzidos & unidade, as partes sao de nove forga- das a separar-se de cada [elemento] ®°, (6) Empédocies foi, portanto, o pri- meiro que, em opasigéd aos seus ante- cessores, introduziu esta divisio na causa em questo, admitindo néo um finico principio do movimento, mas dois diferentes ¢ contrarics. Além disto. foi o primeiro a afirmar que si0 quatro os elementos atribuidos a natu. rea material. Todavia no se serve deles como sc fosscm quatro, mas somente de dois: por um lado, o fog tomado em si, © por outro o5 seus contrarios, considerados como uma natureza Gnica, a terra, o are a agua. Podera dar conta disto quem quer que examine 3 scus poemas®?. (7) Tais $d, pois, como vimos dizendo, a natu- tera eo niimero dos principios admiti- dos por este fildsofo. Leucipo °?, pelo contrario, ¢ 9 seu amigo Demécrito ** recanhecem como elementos o pleno ¢ © vazio, a que cles chamam o ser ¢ 0 niio-ser; ¢ ainda, destes principios, o pleno ¢ 0 sdlido sio o ser, o vazio ¢ o aro 0 nao-ser (por isso afirmam que 0 + Tato €50 Universo & soesiivudo pela mistuca de: stemenios; quando estes se separam pela agin da Alsi, os elementos mines finer tt ‘oda, £ por isso que Aristireles diz que a discérdia, sob certo ponta de vista, separa, ¢, sob outro, reine, Em especial o fragmento 62 da coletanes de is «2 Fundador da Escola Aiomista, euja naturali dads se diz ter sido Abdera. Mileto e Ekta. ede cus cromologia se desconhecem datas seguras. No entanto, pode dizer-se que To! comemporines de Emptdicled ede Anaxdparas. 4" Fei discipulo de Leucip. Natural de Abders, segundo a noticis mais aceita pelos antigos, parece ter nascido cirea 400 a.C- ser nao existe mais'do que o nao-ser, porque nem o vazio [existe mais] que o corpo), & estas so ag causas dos seres enguanto matéria ® *. (8) E como ague- les que afirmam ser una a substancia come sujeito formam todes os outros seres das modificagdes dela, pondo o raro ¢ o denso como principios das modificagdes**, da mesma mancira também estes filésofos pretendem que as diferengas s40 as Causas das outras coisas. Sao. segundo eles, estas trés: a figura, a ardem ¢ a posigio. O ser, dizem eles, 96 difere pelo “rismo”, “diatigé” e “tropé”, isto é, pela “figu- ra”, “ordem” 2 “posi¢io”. Assim A di- fere de N pela figura, AN de NA pela ordem ¢ Z de N pela posigao ® ’?. Quan- to ao movimento, donde ou como se NN ontologia de Parménides, © ser compireo era a nice determinapio da existéncia c, poetanto, 0 ser absolute, Donde a iiagia de que 0 que ato é cor: Pre do existe, ov, por outras palavras, 0 nio-rer no exits, © Univerio & 0 sor plano, @ 6 vario em parte alguma we di. porque 4 identico ao niio-ser. O empregs deste wweabvlirio por Leucipo e Derhi- crita néo significa gue the Gvessem atribuldo o mesmo sentido e altance, Para estes, a alirmagio Ua ‘xisténsia do ser « do nlb-ser. a primeira vista para doxal, quer dizer que os elementos necessitios & constituigke dos corpos que compiem © Universo sso 0 yer ¢ 0 ndo-ser, entendendo por ser os somes € a3 combinagéey gue deicr se formam, ou 9 pleno, ¢ por nilo-ter, 0 varia, it 0 eapago onde cles 2. mover, Portasto soments exlcem alomos © Vazio. "© Neste passo, Arisibteles compara a concengko Mortista com a.dos fiéeofos que somente admitiam lima liniea espacie de materia, oo antes, de causa material, eomum a todos of seers: donde o estabele- cerem que enite os corpas somente havin diferengas acidentait ¢ que © raro © o demo, lito & 0 gra maior ou menor de densidade, sanstiuuia © principio da diferenciagio. +) Colle, 1, 64-5, desenvolve da sexuinte raneira gate patso: A e N diferem entre at pela orem diver- sa das suas partes (Guponda A ¢ NV de extensio igual, pois paroce que na tcoria auomista se fax abs- tragic da quantlade), AN@ NA dilerem entre si do mesmo modo que A © N, se se consderarem ANN © NA cada um come sum todo, porque AN ¢ IVA assim consideradas dife- rem pela diversidade da disposigio, iso €, a ordem diferente das suas partes. Nil &, porém, assim que cumpre considerar, por ‘a3e 0 quis importa indsger § aquilo orm que oA de AN tlifere do A de NA ou aquilo em queo.Nde AN difere do NV de NA, porque hi nisto uma di cde ousra expicie, Com efelto, 0 A de AN nis difere encontre nos sercs, também estes, somo 05 outros, negligentemente des- curaram. (9) Tal &, pois, 2 respeito das do A do NA pela ondent diferente das suas partes, porque esta orden ¢ idéntica nos dois. A: mas.o pri- meito A difere do seranda em que tdse ax parte: do primeira A estio para todas as partes de Mem relacio diferente das partes do sepusde A. Z também no difere de N pela ordem diferente ‘das partes porque, arma ver mais, ws partes ese ne foama ordem em Ze em N, mes Ze N diferen em (gue toxlas es partes te % esto relatvamente & 15608, 05 pontos do espace auma relecio diferente dx das duas causas®®, 0 ponto ao qual pare- cem ter chegado, a nosso ver, os que investigaram anteriormente |2 nds]. partes de N. Na diferenca precedente, bartava der locar N para que A mudasse segunda a difereacs Soasiderada, mas ay relogies de A com ot postoe do expago. quaisquer que estes fossem, niio sofriam modificagic aiguma. Plo contrisio, para mudar Z em Nreverte-se Z até ao momento ent que ele 6.5 que se nic faz tem Sudar a veloyso de qualiues uma das partes de Z para qualquer wma das partes: ‘a extensho real OU roel, "= ‘Isto €, = causa material €a causa eficiente. CapituLo V** Entre estes, ¢ antes deles 7°, 05 cha- mados pitagdricos consagraram-se pela primeira vez as matematicas, fazendo-as progredir, e, penetrados por estas disciplinus, julgaram que os prin- cipieg delas fossem os principios de todos 08 seres, (2) Como, porém, entre estes, 08 mimeros sao, por natureza, os primeiros?', ¢ como nos numeros jul garam [os pitagricos} aperceber mui- tissimas semelhangas com o que : © 0 que se gera, de preferéncia ao foz0, terra ¢ & figua (sendo tal determina- ao dos nimeros a justiga *, tal outra * Esce copitule expie conception de pitapbricns © de eleatas, emvordem a mostrar que aqueles pressen liraro vagamente a cosa formal, 10" Kato €: 6s stomistan "Este periodo tem sido dWversimente interpre taca, de tarmonia com 0 que se considera como antecedente de “primeiray, Assim: Coma nas rmatemticas 0§ numeres sao por nature primaet- ros; e: Como de sua natureza, ox nimeros primeiros dos seres Fonseca, ma traduein: ‘lar vero mumeri his priorer samt nalure: ni explonatios... qui numeri corm sentontia sunt priores natura rebiis omnibus corporeis, cum abs teacti ah ami corpore intelig! posrint. Vid o comenciria de Colle. 1,69. 72 Brivo numero. 4, por thes parccer que. yendo o quadristo © pracuto Se dois fatoes igusis, « justign indie analogia corn esta relay, a alma e a imeligéncia?*. tal outra a tempo 7*, ¢ assim da mesma mancira para cada uma das auras); além disto. como vissem nos mimeros as modifica- goes © as proporgdes da harmonia e, enfim, como todas as outras coisas lhes parecessem, na natureca inteira, formadas a semelhanca das niimeros. ¢ os niimeros us realidades primordiais do Universo, pensaram eles que os ele- mentos dos nuimeros fossem também os elementos de todos os seres, ¢ que o céu inteiro fosse harmonia e mimero 79. E todas as concordincias que podiam notar, nos niimeros ¢ na harmonia, com as midificagdes do clu ¢ suas partes, ¢ com a ordem do Universo, 19 Era o niimeo 1, porque, segundo Tele de Esmima, a uniade & principio, ¢ indivisivel, domi- na todos 09 nimerox, cuja série comém poten cial mentee n alma tem proprigdaskes somelbantes, 7° Fa 0 muimeéro 1, por lhes parecer qué este nlims- 10 corresponde no momento favorive!. * Consideravam a harmon: propricdade dos ni isto, dado exprimirer se harmomicamente at propotbet, tt ewonrentis. te. Astin seni, 9 harmonis @ expremio da’ propria inteligibilidade, ‘quer extn av emenda come redo da. multit: cktade 3 unidade, quer como expressie sumérica de relngies ecneretar, Aristsuakes no De Coole, I, 9 fofere a concepeaa pitagériea da harmonia das eafe ras velestes 2 ARISTOTELES reuniam-nas, reduzindo-as a sistema. (3) Se nalguma parte algo faltasse, supriam logo com as adicocs necessa- rias, para que toda a sua leoria se tor- masse coerente. Assim,.como a década parece um numero perfeito ¢ parece abarcar toda a natureza dos nime- ros? ®, eles afirmam que os corpos em movimento no Universo sao dez. E como os [corpos celestes| visiveis sao somente nove, por isso conceberam um décimo, a Anti-Terra. (4) Tratames com muior precisdo destas questdes noutra parte? 7, E se a isto voltamos, ¢ porque qucremos evidenciar os princi- pios que cies admitem, ¢ como caem sob as causas ja enumeradas. (5) Tam- bém eles parecem admitir que o ntime- ro é principio, quer como matéria dos seres, quer come [constituinte das| suas modificagdes e habitos: e que do niimero [sejam clementos| 0 par ¢ ¢ impar, sendo destes o impar. finito. par, infinite, e procedendo a unidade destes dois elementos (é pois ao mesmo: tempo par ¢ impar), mas o ndmero da unidade, ¢ sendo numeros, como s¢ disse, o céu inteiro. (6) Outros?*, porém, dentre estes’ [Iilésofos), admi- tem dez principios, coordenados xox pares: finito € infinito, impar¢ par, uno e pluralidade, direito e esquerdo, macho ¢ fémea, quicto e movimentado, retilineo € curvo, luz ¢ escuridiio, bem e mal, quadrado e retangulo. Da mesma maneia parece ter pensado também Alcméon crotoniense, quer tenha recebido as suas idéias dos pita- Rérices, ou estes de Alcméon, Ele flo- rescia, com efeito, ao tempo da velhice Th A razdo dada é que a comtagem além de der faz-ve a partir da unidade; € winds porque, segundo: Taio de Eamitna, 10~ 142/344; ora, 1 princi pio dos mimeros: 2, a rota, 3, 0 triingulo (isto é, wapertisi 4, © tetraudra (isto & o sbtide}; donde adécada (= 14-24 1¢ 4vexprimir tudo.o que existe 7? No De Covin, 1, 13. 1 Enire eles parece contar-se Fulota de Pitagoras, ¢ professou uma doutrina quase idéntica. Ele afirma, pois, que a maiorta das coisas humanas vao aos parés, e cita oposigdes nao definidas como as dos pilagéricos, mas tomadas 80 caso: por exemplo. branco ¢ preto, doce e amargo, bem e¢ mal, grande pequeno. (7) Também sobre o restan- te?® emitiu ele idéias confusas, en- quanto os pitagdricos mostravam com clareza de quals ¢ quantos cram os contriirios. (2) Destas duas |escolas} podemos, portanto, unicamente saber Que os contririas so os principios dos serest quais © quantos eles sejam, s6 de uma [0 podemos|. Como possam re- portar-se as causas de que temos fala- do. nao foi pelos pitagéricos clara- mente indicado: parece. todavia, que ordenam os elementos sob a espécie da matéria. Com efeito, € destes /elemen- tos], enquante intrinsecos®®, que afir- mam ser constituida ¢ modelada a substincia. (9) Podemos a avaliar suficientemente, pelo que precede, o pensamento dos antigos que admitiram que os elementos da natureza so miil- tiplos. Filésofos ha, contudo. que se exprimiram acerca do Universo como se existisse uma Unica natureza, embo- ra nem todos da mesma mancira, quer quanto & perfeigio [da exposicao) , quer quanto a objetividade. Por conse- guinte, nesta nossa investigag3e das causas, nio haverd necessidade algu ma, de falar neles, Com efeito, naa pro- cedem & maneira de certos fisidlogos®? que, pondo ser como uno, fazem ori- ginar, no entanto, as coisas a partir do uno come s¢ fesse matéria, mas expri- mem-se de outra maneira. Enquanto os primeiros, quando criam o Universo, Ihe acrescentam 0 movimento, estes, 7* Colle (I, 77) pervs que a expressiio — resanie — sc refere 0 abmmera e espécie dos conteérios © {uo.¢. enguanto inerentes.& materia lbsofos saveriores a Socrates, (N. do E.) METAFISICA —I 2 pelo comtrario, pretendem que € imé- vel. (10) Ora, isio interessa de maneira particular 4 presente investigagao. Par ménides. com efeito, parece ter alean- gado 0 uno stgunde a razio, Melisso, segundo a matéria. Por isso, 0 primeiro declara-o finito. o segundo, infinito. Xendfanes, no entanto, que foi o pri- meira a admitir a unidade (pois Parmé- nides. 20 que parece, foi seu discipulo), nada esclareceu. nem parece ter atin: gido a natureza de alguma destas duas [eausas}. mas, olhando para o con junto do Universe, afirma que o une € Deus. (11) Estes, porém, coma disse- mos, devem excluirse da presente investigacao: dois, Xencfanes®? e Me- lisso®®, por serem as suas concepedes demasiado grosseiras. Quanto a Par- ménides, parece, de fato, ter visto me. thar o que diz. Convencido de que, além do ser, 0 nio-ser nao ¢ coisa algu- ma, ele pensa gue, necessariamente. existe uma inica coisa, o ser, ¢ nada mais: questéo esta acerca da qual ja falamos mais claramente nos livros da Fisica® +. Constrangido, porém, a se~ guir os fendmenos ¢ a dizer que a uni- dade existe segundo a razic ¢ 2 pluri- dadé segundo os sentidos. chegou a estabelecer duas novas causas e dois principios: o quente ¢ o frto, como se dissesse 0 fogo ea terra. Destes, repor- la o primeiro, © quente, ao ser, ¢ 0 outro, ao nfio-ser. (12) Do que se disse, e dos filésofos que jé se associaram ao nosso estudo, é isto, portanto, o que colhemos: os primitivos admitem um Principio corpdres (a figua, o fogo € coisas andlogas sto, pois, corpos), sendo este principio corpéreo para uns, uno, para outros, miiltiplo, mas consi- derando-o uns ¢ outros da natureza da matéria; outros, porém, admitem quer 82 Be Cilofon; parece ter florescido na, segunda metade do seule Val "2 De Samos, Florescis por 444-440 4.C. 1 Soin te 3. esta Causa, quer a causa de que provem 9 movimento, esta lambém tinica para alguns®®, dupla para outros. (13) Ate os italicos. exclusive, os outros |filé- sofas) pronunciaram- se, portanto, com certa insuficiéncia sobre tais. [princi pios| se excetunrmos, como dissemos. que recorreram a duas causas, senco uma delas, a do movimento, conside- rada unica por uns. dupla por outros. Qs pitagoricos igualmente fularam em dois principios® ®, mas com esie acres- cento que lhes @ peculiar: o finito. 0 infinilo ¢ 9 uno née seriam naturezas diferentes, tais camo o fogo. a terra ou outra coisa parecida, mas 0 proprio infinito e 0 propria uno sao a subs. tancia das coisas de que se predicam, sendo portanto o niimero a substancia de todas as coisas.(14) Tal é a mangira como eles se pronunciaram, ¢ a propd- sito do “que &” comegaram eles a falar a definir. mas procedendo com dema- siada simplicidade. Definiram, pois, superficialmente, ¢ aquilo em que a definigao dada primeiro se encon- trasse, consideravam-no ¢les como a substincia da coisa: como se fosse possivel identificar a dualidade com o duplo pelo fato de o duplo se encontrar primeiro na dualidade*?, Mas talvex nao seja a mesma coisa ser duplo ¢ dualidade; doutra forma, o uno seria uma multiplicidade, conclusdo esta a qual eles também chegaram. E isto o que dos primeiros |fildsofos| ¢ seus sucessores podemos colher. #% Gnu eles, Anaxagoras, que consideraya « trie ligtncin causa eficlente #8 Ou sejam; ofinito ¢ 9 infinite, =e "7 Neste periode. Aristételes dirige aos pitagoricas: diay erticas: dacém definigies demasiado simples, Tundadss em anslogias superficins, &. uma ver ext belecida uy cefiniciio. aplicafem-na, indiscrimioa- damente, E exempio desta segunda critica © identify ego da dualidade com o duplo, og, por outres palavraa. definida a coita dupla, qualquer que fowse tu definigio, concluvam logo que a stn essincia + iada (2), 6 que voncuy ar sbsurdo de todos os cu- plos (46-816...) serum © mesmo gue 2, [sto & 2 thada, ¥, Cogs fs 93-94, 24 ARISTOTELES CapituLo VI" As filosofias de que acabamos de falar sucedew a douirina de Platao, a maior parte das vezes conforme com elas, mas também com elementos pro- prios alheios & filosofia dos itdlicos. Tendo-se fumiliarizado. desde a sua juventude, com Critilo®® ¢ com as opi nides de Heraclito. segundo as quais todos of sensiveis estio em perpétun Muir, ¢ nao pode deles haver ciencia. também mais tarde nao deixou de pen- sar assim. Por outro lado, iravendo So- erates tratado as goisas morais, e de fenhum modo do conjunto da nature- za, nelas procurando o universal ¢, pela primeira yez, aplicande o pens mento ds definigdes, Platao, na esteira de Sécrates, foi também levado a supor que [0 universal] existisse noutras rea- lidades e ndo nalguns sensiveis. Nao seria, pois, possivel. julgava, uma defi- nigao comum de algum dos sensiveis. que sempre mudam. (2) A tais reulida- des deu entio o nome de “idéias”, exis- tindo os sensiveis fora delas, ¢ todos denominados segundo elas3?, £, com efeito, por participagio que existe a pluralidade dos sindnimos, em relacao as idéias**, Quanto a esta “participa- Bate capituls ooupmse da teotia platéniéa das idéias, om ordem a mostrar que Platio somence revorreu causa material & formal. 1 Da ccola de Hericlio, sontemporinco de Si crates. Nada indica que aio taj a parconupurn que dou norae 40 Cito, de Platio, Se suo 4; seria pole participayio gue a mulidio die objerou sindnimos se tornaris homénima cam as ian, Pardipar das idéias sigaifiea que € das ris ue os sere eceber forms #1 Traduca hieral. Tem 0 sentido: & por panic gio que existe a piuralidade das. coisas sensiveis, Univoca sm relagdo as ideas. Vid. Colle, 1, 48 Dizem-se univocas as coisas contiéiss no mewn ge nero, i510 €, Nem casGneis, coMuM. ¢ se. designan com 9 mesmo nome: ¢ éauivoeas on homitimas. 23 soigss.que somente tém de comum o nome, sm un cardter assencial a ligirlas: Vid. Coreg. 1 cao", nao mudou sendo o nome; os Pitagéricos. com efeito, dizem que os seres existem 4 imitagdo dos nameros, Platiio, por “participagao” mudando o nome; mas 0 que esta participagdo ou imitagao das idéias afinal sera, esque- ceram todos de o dizer. (3) Demais, além dos sensiveis e das idéias diz que existem, entre aqueles ¢ estes, entida des matematicas intermédias, as quais diferem dos sensiveis por serem ciernas c imoveis, e das idéias por serem multi plas ¢ semelhantes, enquanto cada ida &, por si, singular?*. Sendo as idéias os causas dos outros seres, jul gOU por isso que os seus elementos fos- sem os elementos de todos os seres; (4) © como matéria, sio principios®? o grande e o pequeno, como forma é o uno, visto ser a partir deles, ¢ pela sua Participacdo no uno. que assidéias slo nimeros, Ora, que © uno seja substin- Sia, ¢ no outra coisa, da qual se diz que é una, Platéo afirmao de acordo com os pitagdricos ¢, do mesmo modo, que os nimeros sejam as causas da substancia dos outros seres. Mas admi- tir, em lugar do infinite concebido como uno, uma diada. e constituir o infinito com © grande e 0 pequeno, cis uma concep¢do que Ihe & propria, como ainda pdr os nimeros fora dos sensiveis: [os pitagéricos| pelo comtra- "Quer diver: Segundo Piatdo exiiikim: sores sensiveis, 208 quais incrente 0 Reragao, a alisrapio © corrupglo: idGias, cada urna das quis € unica € imutivel mo, respectivo conceita, ¢ eetidader Sefes Matematicos, Cujo ser & intermed arto. entre 94 sensivels e a idllas, porquamio tem us idéins, a imutabilidade, © dos sensiveis, 1 multiplicidade ‘Tudo-dndion due Plato foi levielo a estaiclecee a existencin dos seres ideals matematieas, com onto- login pnipria, pars fundamentar @ objeto da Matematica. 9 tend ses das lias, rio, pretendem que os numeros sao as proprias coisas, s¢ bem que nao po nham, entre estas, as entidades mate- mialicas. (5) Se Platdo separou assim o uno € os numeros do mundo sensivel, comtrariamente aos pitagéricos, © in treduziu as idéias, foi por considera- glo das nogdes légicas (os seus prede- cessores nada sabiam de dialética® +); por outro lado, sc ele fez da diada uma segunda natureza. € porque os nime- ros, 4 excecao dos impares, dela faci mente derivam, como de uma matéria plastica’ 5, (6) De fato, é o contrario que se da, pois se assim fosse nfo seria consentineo com a razao. Da matéria. com efeito, [os numeras) fazem sair uma multiplicidade de coisas. ao passo que a idéia 8 gera uma vez. Assim, de *+ A dialéicn signifien o midiodo conducente 6 decobrimenia do sencelto da coun em quesile <, conseqlentemente. & obtengio da respectiva defini ‘gio, Foi por ter revonhecide, apis Steraias, que os eoneelios sia inutavels e necessirio» que Plato foi Jevido i estabelever a exisitacia das idias com ‘onkicidade poopria 3 Em prego, ekmagéinn: nda maréria mole ¢ mot divel. (M, do E.) uma s6 matéria, sd se aparella uma mesa; mas quem aplica uma idéia, se bem que esta una, produz varias |mesas}. O mesmo sucede com o macho em relaco & femea: esta é fecundada por uma nica copula, mas o macho fecunda varias fémeas. Ora. isto € imitaeao daqueles principios. (7) Tal € pois, a_conclusio de Platao Sobre as quesides que indagamos. E evidente, pelo que precede, que ele somente se serviu de duas causas: da do “que é” ¢ da que ¢ segundo a mat ria? ®, sendo as idéias a causa do que é para os sensiveis, © © uno para as idéins. E qua! a matéria subjacente, segundo a qual as idéias sho predica- das nos sensiveis ¢ 0 uno nas idéias? E a diada, o grande ¢ o pequeno. (8) Demais, cle pos num destes dois cle- mentos a causa do bem ¢ no outro, a do mal, o que, como dissemos, ja havia sido objeto de discussio de alguns dos filésefos anteriores, como Empédocles ¢ Anaxagoras, 2° Leto és.a causa formal ¢ a causa material. CapituLo VII"’ Acabamos de passar em revista, breve ¢ sumariamente, os /filésofos| que trataram das principios ¢ da verda- de € como |o fizeram], podendo assim concluir-se, relativamente aos que tra- jaram do principio ¢ da causa, que ne- nhum discorreu fora das [causas| que ads determinamos na Fisica, ¢ todos, embora confusamente, parecem té-Ins somo que pressentido, (2) Com cfeito, ® 1 Este capitulo tem por objeto o exame da relayo das concepades expostas nos capitelos anteriores com a cdncepgio aristotclica das quatrm causas. alguns falam do principio como maté- ria, quer © fagam uno ou muilliplo, cor- péreo ou incorporeo: por exemplo. para Plato, é 0 grande e o pequeno. para o! icos, 0 indeterminado, para Empédocles, o fogo, a terra, a dgua¢ 0 ar, para Anaxagoras, a infinidade das homoemerias. Todos eles entreviram esta espécie de causa, como também aqueles para ox quais é 6 ar, ou ofogo. ou a agua, ov um elemento mais denso que o fogo e mais sutil que o ar®®, Tal % Parege térem vista Anaximandro 6 ARISTOTELES &, pois, no dizer de alguns*®, o ele- mento primitive. (3) Estes ditimos, portato, nfo atingiram sendo esta causa [material]: outros, porem, aque la donde 0 principio do movimento: por exemplo, os que poem a amizade Ou a discérdia, a inteligtncia ou o amor como principio. Mas a quididade ¢ a substaneia ninguém a atingiu com claréza, embora de mais perto dela se aproximem os que admitem as iddias. Com efeita, eles nao consideram as idéias como matéria dos sensiveis, nem © uno [como matérial das idéias, nem estas sio para cles o principio do movimento (seriam antes, dizem eles, causas de imobilidade ¢ de repouso): pelo contrario, as idéias dao a cada uma das outras coisas a Qilididade, como © uno [da a esséncia| as idéias. 44) E quanto Aquilo em vista de que™™® ‘aS agGes, as mudangas € @s movimen- tos [se efetuam|, num certo senti admitem-no como causa, mas nao explicitamente. nem dizem como se originou. Com efeito, os que falam da inteligéncia ou da amizade apresentam se Rows. Mec, admit: Ales se retina & alums ats "96 bs: a causa final provavel que Arie julos de Anaximienes. estas causas como um bem, e nao como o fim pelo quai algum ser existe ou se modifica, antes, pelo contrario, como se 06 seus movimentos delas derivassem. (5) Da mesma maneira. também os que afirmam que-o uno ou © ser é desta natureza dizem que ¢ a causa da substincia, mas ndo que éem vista desta [causa] gue as coisas sao ou devém. Sucede-thes assim, de algu ma sorte. dizer ¢ nao dizer que o bem & causa: dizem-no. com efeite, nao abso- lutamente, mas por acidente’®?. (6) ‘Que nos tenhamos retamente definido aS causas, tamto no que interessa ao seu mimero como 4 sua natureza, pare- cem confirmit-le também todos aqueles que nao conseguiram descobrir outra causa diversa. E, além disto, evidente que os principios devem ser estudados, ou todos assim, ou em qualquer uma destas maneiras, Resta-nos agora expor as dividas relativas @ mancira como cada um dagueles [fildsofos| se exprimiu, ¢ 4 sua atitude para com os principios. ‘e+ Iso €: neahum destes Midsofos ating corn chareat a nogio de causa final, vinto a terens penba do, como diz Fonsica ns explanatio dente passe, per acciddens, sine ratione afters causoe. Capituto VIII'"* Todos agueles para quem o Uni verso é uno e que admitem uma certa natureza Gnicx como muatérin’9?, © vet Este capitulo tem por objeto @ critica co alga mas concepgées de Mkisofos pré-sacratscas amerior ‘mente revericas \e Tem em visia os primetros fiasolis da Escola Joniea, que aamitirem s existencis de unt 66 print io material como substanein Gnica de todes ax sos Os eleates também suscentavain que o Universo & uno, ra Arist6teles. 86 0 inclu neste paso, esta corporal ¢ provida de extensdo, caem evidentemente em muitos erros. Com efeito, somente estabelecem os. elementos dos corpos. ¢ nao os dos incorpéreos, embora existam também ‘os incorporais. (2) E depois, esforcan- do-se por explicar as causas da gera- gao (¢ da corrupgao) ¢ para dar uma explicagao da natureza do Universo. emitem © principio do movimento, (3) ‘Além disto, niio reeonhecem por causa METAFISICA — 1 2 nem a substincia nem o “que 27104 adotam, de mais, levianamenie, como principio dos seres qualquer corpo simples, com ¢xcegdo da terra, seat tomatem em consideragao como os. elementos. mutuamente se geram, tais como o fogo, a agua, a terra e 0 ar, os quais nascem uns dos outros. quer por uaiao, quer por separagio. (4) Ora, isto é fundamental para se estabelecer a anterioridade ou a posterioridade. Com efcito, poderia parever mais ele mentar de todos aquele corpo a partir do qual primeiramente os outros se geram por uniao, & esse |corpo| deve- ria ser o mais ténue ¢ o mais sutil dos corpos. Portanto, os que poem o fogo como principio falariam de maneira mais conforme com este conceito. (5) No fundo, todos os outros também reconhecem que o elemento dos corpes deve ser de tal maneira. Pelo menos. nenhum des que mais tarde admitiram um tinico elemento pensou que a terra fosse esse elemento, sem davida por causa da grandeza das suas partes. 20 Passo que cada um dos trés outros ele- mientos enconirou 0 seu defensor: para uns, com efeito, este {clemento] ¢ 0 fogo, para outros, a agua, para outros, © ar. Mas por que razdio nio admitem eles também a terra, como a maior parte dos homens? Diz-se, com efeito, que tudo é terra, ¢ Hesiode até cantou que a terra foi a primeira gerada dentre 65 corpos: tio antiga © popular esta erenca devia ser! (6) Segundo tal maneira de ver, portanto, nem os que admitem outro principio além do fogo, nem os que 0 fazem mais denso que o ar ¢ mais sutil que a gua dizem bem. Mas s¢ © que é posterior segundo a geragio é anterior pela natureza, ¢ 0 que € misturado ¢ composto é posierior segundo a geragio, sera entiio verdade 9 contraria: a agua sera anterior ao ar, ¢ a terra & Agua, (7) Tanto baste sobre VO8 bt 8: fem, 0s (filésofos] que estabeleceram 2 causa Unica gue diziamos'*®. O mesmo diga-se daqueles que as admi- tem em numero maior, como Empédo- cles, que reconheceu quatro corpos como matéria. Resultam-lhe, porém, em parte as mesmas dificuldades, em parts outras, Vemos, com efeito, estes corpas nascerem uns dos-outros. preci- samente como se 0 mesmo corpo nao subsistisse sempre fogo ou terra (e disto j& se falou nos livros da Nature- za)" *. Quanto a causa das coisas em movimento, a questio de saber se se deve reconhecer uma (causa) ou duas nao parece ter sido convenientemente resolvida, nem por forma inteiramente racional. (8) Finalmente; os que assim falam devem necessariamente rejeitar toda a alteragdo, nao podendo o umido provir do quente, nem o quente do tmido. Qual seria, pois. 0 sujeito des- tes contrarios, e qual a natureza unica que se tornaria fogo'e agua? Empédo- cles.ndo o diz'* 7. (9) Quanto a Anaxd- goras, poderia alguém supor que ele ©) Para 9. interprerapso destn critics pasigso Hlositica dos jinicos. vid. Colle, 1. p. 112-116 Esquematicamente, node dizer-se que Arist6teles ceniura estes f6sOlos por teem adatad um dos elemienton como primordial sean peeviamente Cerem examinado a anterioridade de cada um om relagio & dos outros, polo que o estahclecimems de qualquer eles como primardial é arbicrtrio. Alem disso, se anteriorklade $¢ corisiderar sob © ponte de vist da peragia. 5 componente é ane ror neragia, € noste enss deve ser elemento pri iordis! o main sutil: por be, houve querw mesten lasie gue éle era 0 ogo, © minguiem sustr fuse 9 terra. Se a cons priaridade do pecisito yobre o imperfeita, na qual © composio € aierior ao companente, € a terra que deve sero elemento primardial, por sor 6 mais espesso ¢ compiexo dos elementos, “8 Refere-se ap De Cacla, IM, 7, 0 fundo do argo mento reside nisto: dewle que‘os elementos se trams- forment wns ns outros, perdem a sua propriedade tempecifica e, porianio. dencam de ser priaciptos. 101 Em resimo, além do argamento anterior, Aris tételes critien Empédocles par nic haver determi nado # agia do smor © da discérdia coma causas ¢ or mio ter notadn que a especifieléade ens quatro Slomenios, que os torma contrarios, implicava. x exisénsia de algo que permanecesss, como sajeion onde se desiem avconitiries.

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