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REPRESENTAGAO E PARTICIPAGAO DAS ELITES PROVINCIAIS E LOCAIS NAS INSTITUIGOES DA MONARQUIA BRASILEIRA Miriam Dolhnikoff* ‘A adogio da monarquia constitucional no Brasil foi marcada pelo conflito ex tre projeto de unidade da América portuguesa ¢ 0s interesses das elites regionais ¢ locais, resultantes da configuragio herdada do petiodo colonial. Séculos de co- lonizacao haviam engendtado na América lusitana regides distintas e com fracos vinculos entre si, fossem politicos ou econdmicos, cujas elites, no inicio do sécu Jo x1x, demandavam autonomia. Tendéncias centrifugas, como as chamou Sérgi Buarque de Holanda, que podiam conduzir A fragmentagio da América portugue: sa, uma ver declarada sua independéncia. Contudo, se havia elementos a estimular a fragmentacio, por outro lado, estavs presente também a alternativa de unidade da América lusitana sob 0 governo do Rio de Janeiro. Os principais factores que propiciavam este projeto eram a trans feténcia da corte portuguesa para a coldnia em 1808, coma instalagio de um go~ vverno que chamava para si a direcio de todo 0 tertitério, ¢ os desafios impostos ‘a manutengdo da ordein escravista. Neste caso, a unidade em torno de um Fista- do sob um regime monrquico favoreceria a defesa do trifico negreiro, ameacado pelas pressdes da Inglaterra para sua extinglo, ¢ a preservacio da ordem interna, ina repressio a escravos e homens livres pobres * Universidade de Sio Pal * Ver, entre outros, Sérgio Buarque de Holanda, «A heranga colonial ~ soa desagregacion,S.B de Holand (org), Hisna Geral da Ciigas Brains, 6° ed, Sto Paulo, Del, 985, pp. 9-38, T. TV. 1" Maria Ouilada Silva Dias, «A interiorizacio da metr6pole, in CG. Mota (org), 1822 Di ‘mnie, 2? ed, Sto Paulo, Perspectiva, 1986, pp. 160-84; José Mutilo de Carvalho, A Coma de (Onde, Brasiia, UNB, 1981; Ilmar de Mattos, O Tenpo Saguarema, Sio Paolo, Hucites, 1997; Istvan “Janceé¢ Joo Paulo Pimenta, sPegas de um mosaco (ou apontamentos para o estado da emergéncia Moxa Brasil pés-independéncia, © 4 svcarquia constitucional, no ¢2 ox da América portugues, * propos anores do periods sder local. A primeira delas ers .riodo colonial), neste tex soadia aos municfpios, vilas ¢ p seal A vitéria do projeto de sob uma monarquis, foi ps x integgar provincias e localics A época, na discussio & 20s 2. do Estado que deles resulto= debate sobre a integracio mnomia para getir seus Pr sais nas decisdes do govers constitucional federalista fosse. 4 scare em virias delas” Do Reo G Paulo e Minas Gerais a prom scocurar apontar aqui, est ® grupos locais € provinciais). No que dizia respeito a0 poder judiciétio, conforme aponta Monica D contrapunha-se 0 modelo de uma dustica cidadio, com base em autor: calmente eleitas, defendida pelos lberais, ¢, de outro lado, a justica oxgantz Forma hiesarquica, com cixo na magistratura de carreiza, ¢ dirigida em tle tincia pelo governo central, advogada pelos conservadores.* Quanto a ore ‘Gio das eleigdes € ao perfil dos representantes, a mesma oposicio se coloc= liberais defendiam um sistema eleitoral que garantisse 0 controle dos pleiwos == cidadaos localmente eleitos ¢ a adogio do voto distrital, que fortaleceria 2s ese | lidades, propiciando uma representagio no patlamento que fosse uma es espelho da sociedade, na medida em que contemplasse os diferentes sect elite ¢ 0s dois partidos. Os conservadores, por seu turno, insistiam que = tengo da ordem estava necessariamente atrelada a eleicbes controladas por = ridades nomeadas pelo governo central & preservacio do voto por prov ‘modo a garantira escolha de representantes portadotes da «ilustragion nec para melhor decidit sobre o bem comum. A prioridade voltava-se par 2 ¢ dos cidadiios mais «virtuosos». Passados 30 anos da independéncia, conservadores ¢ liberais haviam = ocidenta sade e pelo cliemtelismo, 0 = wwernos representativos ito ~cislativo € nomear e demitis eno exclusive brasileiro. Tal face de ao regime, nto era de ene o monarca atuava em Us © + aos demais poderes, 5 legislativo, fosse o getal, fo “cn de manobra para adotar po go imperadot Ao m poderia agir sem al ‘A eseravidio e limitagbes P concepodes de governo 5 20 smundo dos homens livs= -viamente excluido, embs “eeco20 imprimir determinas: ios paises que 0 adoe jpenas uma restita else sa dos contextos daquele centais em relacio as & cases sobre como 5 do Parlamento, indica 4 | a de que através da svar, Foi assim, por sesulton no arranjo f vit6rias parciais. No poder judiciésio, especialmente no que tange & organi da primeitainstincia, prevaleceu, em grande parte, o modelo proposto pelos = servadores. Ji no modo de realizar as eleigdes foi vitoriosa a agenda dos b= do que se tornassem Desta forma, o arranjo federativo determinou 0 caminho da integracio das smo objetivo dim provinciais, enquanto as localidades integraram-se através da sua efetiv2 p pacio no processo eleitoral. (Os debates e as medidas adotadas se deram no quadro do governo re tativo materializado pela monarquia constitucional. Ao se considerar 0s = nos representativos no século xix, é possivel identificar na monarquia br invegrar as for 1. embate sobee S do Estado que estav2 <= =uia constitucional. De “Monica Dantas, «Constiigio, poderes ecidadania na formagio do Estado nacional Bs unos do Cidadenia, Sio Paulo, Insttato Prometheus, 210, Moniea Dantas, O Cédigo & So Ctiminal ea Reforma de 1841: dois modelos de organizagio do Estado», Conferéncia a> tha no TV Congresso do Tasttuto Braileto de Histéra do Direito, Sio Paulo, Faculdade de 2008, e6pin cdi pela autor. « ——————ee [Nisam Doth, «lms ¥.21, 2008, pp: 13-23 Moyargois & Popsnes Peairfnicos Hescamente as mesmas caracteristicas deste tipo de governo presentes em outros secs ocidlentais. Se, de acordo com relatos da época, as eleigdes eram marcadas Ss Fraude e pelo clientelismo, o mesmo problema também afetava os pleitos dos sees governos representativos oitocentistas. © poder do imperador de dissol Teo legisativo e nomear e demitrlivremente 0 Ministério tampouco foi um fe Seeeno exclusivo brasileiro, Tal faculdade, se foi importante para garantir certa Scetilade a0 regime, no era de magnitude a falsear 0 governo representativo, Tee que o monarca atuava em um sistema politico que garantia significativa au- Deeomia aos demais poderes, assim como na disputa politica ¢ partckria. Tanto soxrer legisativo, fosse 0 geral, fossem os provinciais, como o executivo tinham Seecem de manobra para adotar posigdes no necessariamente de acordo com a Heenade do imperador.’ Ao mesmo tempo, mesmo no exercicio do poder mode- “Sec no poderia agir sem algum geau de articulagio com a ete politica ¢ os par- “sees A escravidio e limitagdes para a participagio dos homens livres condiziam ‘soe as concepcbes de governo representative prevalecentes em Oitocentos. Des- » 20 mundo dos homens livres, podia conviver com uma populacio escrava -eco ao imprimir determinadas caracteristica ao regime brasileiro, Além disso, “> obviamente excluido, embora fosse inevitivel que a ordem escravista cobi riados paises que o adotaram foi organizado de forma a ter nos cargos de- Secios apenas uma restrita elite. Ampliava a participagio, mas de forma limitada. Becprias dos contextos daquele periodo, guardavam necessariamente diferengas amentais em telacio is democracias contemporineas \s discussdes sobre como integrar as forcas provincizis ¢ as locais, realizadas mbito do Parlamento, indicavam sua autonomia deciséria ea confianga da eli- itica de que através da normatizacio era possivel vencer os problemas que se secesentavam, Foi assim, por meio da legislagio, que se materializou 0 acordo po- » que resultou no arranjo federativo ¢ também se procurou regrar as cleig@es de modo que se tornassem uma arena de efetiva disputa politica. As leis eleitorais 1m como objetivo diminuir as fraudes, definir o tipo de representante que se- ito, garantir a separacio dos poderes e, no que interessa para este capitulo, sma de integrar as Forgas locais. havia embate sobre a organizagio do regime, em suas diversas facetas, pre ceu, com excecio de vores minoritisias, 0 consenso de que qualquer que fosse ‘do Estado que estava sendo construido, o regime que o isia dirigit seria a scnatquia constitucional. Desde o inicio, o imperador foi considerado elemento Ver Miriam Dolhnikoff, clmpério ¢ governo tepresentativo: tama rleturi, Caders de CRH BA), ¥. 21, 2008, pp. 13-23. 180 A Mowaxauia CowsriruciowaL bos BRAGANEAS Ru PORTUGAL E NO Bras Monane fundamental para a preservacio da ordem; a dimensio de seu papel, contudo, = penderia do desenho institucional adotado. "secsinquico. A opgio separatists se _ee= depois no Rio Grande do S cava o reconhecimento de “= same oferecia espagos ins | sccm legislatura, o8 parlame “soma que iriam gerir a ordem © O arranjo federativo Depois de proclamada a independéncia, sob a diresio de D. Pedto, realizaca= -se eleicSes para uma Assembléia Constituinte, na qual seria escrita a constinois com o pressuposto da unidade da antiga América portuguesa sob uma mon: “seewam para conferir prot .cio de elites provinciais sue criava 0 cargo de juiz d= cestacado 11a organizacio Se foram objeto de normaniz seuniio da Assembleia Ger: == do governo monirquico © ssserador, gerando nova sup > monarca. O aprofandames constitucional. Apesar das diferengas que as distinguiam, quase todas as provin=s mandaram deputados para a Constituinte, o que permite concluir que estavam postas a accitar tanto a unidade como a monarquia. A negociacio que se coloces cera como se daria a orgnnizagio de ambos. © imperador aparecia como fiadc unidade e da ordem, em uma sociedade escravista e com um grande segment homens livres pobres. A monarquia haveria de ser constitucional, mas, entse tos ites presentes no debate, o modelo liberal de representaio deveria a sda abdicacio, puderam = { dderes, este deveria ter seu protagonismo assegurado. formas da década de 189 ‘8 anscios das elites regionais. Concretamente, isto significava garantir-lhes = fu a segunda legislatura ds (sm so 20 poder decisério em dois niveis: nas suas provincias, autonomia para gens pela abdicagio do trono, c= #8 sem grande intervengio do governo central; no centro, far-se-iam represen’ Uma das questdes em pasts Parlamento, mas para que sua influéncia tivesse peso politico, na divisio entre > ente iberais moderadom ‘As divergéncias entre 0 grupo do imperador e os deputados, contudo, ress ram no fechamento da Constituinte, no final de 1823, e na outorga de uma Cans ompromisco dos diversos defendida pelos iberas d jornalsta fuminense, wens «Bor toa a parte desis ma imprudéncia nfo ced. im 1832, as reformas €=: ssis, Hondtio Hermeto a administagio pobli ce desenvolverem 0s princi mais algorma indepen: wineia sica, A fiscalizacio ¢ distribuic ‘© Ato Adicional foi resul= se iniciara em 1831, quando = Den Seca ee Came Pn Sore Ae ieee a O12 sen PENT Games Ss cima dn Bs Mowaxquis & Poounes Pestrenicos 183 4a aclamagio de D. Pedro de Alcantara em primeira imperador do Brasil, no qual professava sua crenga na monarquia constitucional.* Sermo que em nada lembra as paixdes cepublicanas de seu autor: «lmpério constitucional? Colocado entre a monarquia © 0 governo democritico, reine em si as vantagens de uma ¢ de outra forma e cepulsa para longe os males de ambas. Agrilhoa o despotismo e estanca os furores do povo indiscreto ¢ vokivel»? Na sua fala, Caneca tornava mais explicita a vantagem da monarquia na ma- utengio da ordem interna, uma ver. adotado 0 modelo federativo que defen \ monarquia garantiria a estabilidade e a ordem interna, ao restringir as eleicdes, exclusivamente para os Iegislativos, nacional e provinciais, de modo a, na socieda de escravista, evitar as convulsGes que se esperava de um regime republicano, no qual o chefe do Executivo era eleito. ‘Ao fazer as reformas conforme previsto na Constituigio de 1824 © ao manter 4 monarquia, a elite escravista, uma vez mais, optava pela transformagio dentro da ordem, de modo a prevenir quaisquer convulsdes que poderiam resultar, através do eavolvimento de outros sectores sociais, na reformulacio ~e, no limite, na revogacio dessa mesma ordem. A federacio deveria vir sem que a monarquia fosse derrubada. Em seguida i abdicagio, a Cmara de Deputados reuniu-se ¢ iniciou as discus sbes para redigir as emendas a Constituigio necessirias para teformd-la no senti- do da ampliagio da autonomia provincial. A federagio passou a ser explicitamente defendida pelos liberais das mais distintas provincias, Em 1832, 0 influente politico ¢ jornalista fluminense, Evaristo da Veiga, afirmava em seu jornal Aurora Fmi- nense Por toda a parte deseja-se a federagio e a reforma, todos a querem ¢ seria uma impendéncia nfo cedero"” Em 1832, as reformas eram apresentadas pelo entio deputado de Minas Ge- rais, Hondrio Hermeto Carneiro Leo, como a vit6tia da federagio, que viabiliza- vaa administracio publica: «[..] estou persuadido que existe uma necessidade de se desenvolverem os principios federais da constituigio do Estado, dando as pro- vincias mais alguma independéncia; independéncia relativa 4 administracio da jus- tiga, a fiscalizagio e distribuigio das suas rendas ¢ a sua administragao interna.»" Ato Adicional foi resultado de um proceso de negociagao parlamentar que se iniciara em 1831, quando uma comissio da Cémara foi nomeada para redigit 0 ‘Sobre este tema, er Denis Antinio de Mendonga Bernards, Ida do Pate Seca eo Casta ioulizno Frei Canc, Sao Paulo, Instiato de Fstados Avancados/ USP, 1996. ” Aad Bernades, A Ida do Paco Secon ps1. Aurore Flaminese, 0° 604, 12 de Marco de 1832, qoud Lia Masia Paschoal Guimaries, oi beraismo moderade: postoldos ideoldgicos e priticas poitcas no periodo regencial (1831-1837), in Lucia M.P.Guimaries (or), © Labware wo Bail Imperiah Rio de Jancino, Revan, 2001, p19 "Anais da Camara dos Deputados (ACD), 19 de Maio de 1852, 2* Leyslatura, p. 24 184 A Mowarquia ConstrrucionalD0s BraGascas tt PoatugaL & No Brasit rojeto de reforma da Constitui¢io. Aptovado o projeto, seu artigo primeiso clarava que «0 governo do império do Brasil serd uma monarquia federativa» seguida, estabelecia mudancas signfcativas na organizacio politica: a extinc’ poder moderador e do Conselho de Estado; a criagio das assembleias legis provinciais com autonomia pata decidir sobre diversos ¢ relevantes objetos (c impostos e obras publica); 0 fim da vitaliciedade do mandato dos senadores, ppassariam a set eleitos pelas assembléias provinciais (tal como eram eleitos o= adores nos Estados Unidos); a limitagdo deéstica a0 poder de veto do Exec (uma vez que o veto podetia ser derrubado no Paslamento por maioria simple substituigio da regéncia trina pela una, sendo que o regente deveria ser eleit las assembleias provinciais. Radicalizava-se a opcio federalista, de tal sorte ave proprio ocupante do Executivo seria escolhido pelas provincias, No Senado, contudo, algumas destas medidas foram rejeitadas pela ms Os representantes da Camara Alta no accitaram o fim da vitaliciedade do ‘mandato, como também se tecusaram a aprovar quer o fim do poder mode: ‘quer o fim do Conselho de Bstado, Foram igualmente contritios 20 artigo 1.°, previa ser o Brasil uma monarquia federativa. ‘As emendas feitas pelos senadores foram enviadas & Camara dos Dept ‘onde foi aprovada aquela que determinava a manutengio do poder moder ‘mas recusadas as demais. Conforme previa a Constituigio, tendo sido recws pelos deputados emendas aprovadas pelos senadores, estas deveriam ser vor ‘numa sesso conjunta das duas casas. O resultado desta sessio foi de parcial tia de cada lado. Foi retirado do texto final a declaracio de que o Brasil era monarquia federativa e foi mantida a vitaliciedade do mandato senatorial, Por tro lado, 05 chamados liberais moderados lograram aprovar 0 artigo do pr original, que determinava o fim do Conselho de Estado. Além disso, se noc guiram manter a eleico do regente pelas assembléias provinciais, o cargo tors de qualquer forma eletivo, a ser preenchido em eleigdes que obedeceriam ‘mesmos procedimentos da escolha dos deputados gerais. Por fim, talvez a vitéria mais decisiva dos eformistas foi que a recuss <= aptovar a definicio do regime brasileiro como uma monarquia federativa = foi acompanhada pela rejeisio aos artigos que justficavam este titulo, Ox < tecusaram 0 nome, mas niio os artigos que reformavam a constituigio de m a dividir as competéncias do Estado entre centro e unidades, cerne do pac derativo, Entre eles, o artigo que previa a criagao das assembléias provinc com elas sua autonomia. I o que salientava 0 visconde de Cairu, uma das 2e8 no Senado contra as reformas propostas pela Camara, no inicio dos de> sobre este artigo: Bezamos a0 grande seeic€ destruir a sobe © ocmeira coisa de qu Ses uma forma intein sestituiglo, de que Sesslicitos, e no a asso Opesitor da reforms, pesto do projeto. Op As alteragdes na Con binar autonomia pro» ps eacio que integraria “seta pelos liberais mo: Feito a0 procur Beemostas em 1832: «As Ses bem organizados Bee visto eseritores que Bes todos a um cer A definigio conce’ SeeSecra aquela que con Beemrcatos para se im “Se erin seus negdcios ‘So por duas instincis sssembléias terian Se cleitos os deput: © aes cabia o diteito & 0 08 impostos « Fess igualmente a0 se ‘Seto provinciais quant obrig: satro lado pe eesisias a0 desenvols peténcia para criax Ais do Senado (AS 5,4 de Junho de 1 Monangurn 6 Popsees Poanrlxicos 185 egamos 20 grande artigo. Este é que ¢ 0 forte deste projeto. O que se ata slo é destruir a soberania nacional para estabelecer soberanias provincials[-] srimeien coisa de que se trata é de uma metamorfose, € de mudar as coisas sara uma Forma inteiramente nova, o que € contritio a0 que diz o art. 1” da cnstitucio, de que o império do Brasil € a associagio politica dos ckladios sasileros, e nfo a associagio das provincias Spositor da reforma, Cairaindicava o graude transformacio que resulta da Lecovacio do projeto. Oposicio minositira, pois a autonomia provincial foi apro Secs, operando-se assim a metamorfose de que falava o visconde na Constitui¢ao institufam um arranjo federativo que procurava construgio de um Fstado capa de dirigir uma As alterng Secbinar autonomia provincial oma. tiga América lusitana, A federasio explictamente de- seve nagiio que integraria ida pelos liberais moderados nao pretencia destruir a soberania nacional, confor- scusava Cairu, Nio se tatava de conferir as provincias um grau de liberdade que scasse em risco a integridade nacional, como insiste Nicolau Pereira de Campos Sequcro ao procutar convencer scus pares no Senado das vireades das reformas <—mostas em 1832: «Ao mesmo tempo que admito o principio federal em todos os bem onganizados,contudlo ao admitoaindependéncia das provincia, Mas oe s visto eseritores que também chamam federal a estaligagio de poderes legs, é neste sentido que tenho pugnado pela federaciow!? xcia que a federagio que se pre- jos todos a um centro \ definigio conceitual feita por Vergueiro esclare sia era aqucla que combinava unidade nacional, dirigila por um centro com ins sentos para se impor atodo 0 territério, com provincias munidas de auronomia sara geri seus negcios. Tendo este eixo em vista, o governo provincial seit com> soso por das insincias: as assembles legislativas ea presdncia da provincia {Ws assembléias teriam como membros deputados eleitos da mesma forma que sam eletos os deputados gerais e seu nimero seria proporcional 4 populasio. ‘o direito de determinar as despesas municipais € as provinciais, bem jam set cobrados para fazer frente a tais despesas. elas cabia mo 0s impostos que deveri ava igualmente ao seu cargo fiscalizar © emprego efetivo das rendas piblicas, 10 provinciais quanto manicipais além do controle final das contas Tinham, sor outro lado, a obtigacio de, com esses impostos, fazer construir as obsas ne scitias a0 desenvolvimento da provincia, prover a seguranca da populagio, com mapeténcia para efiar € manter uma forga policial propria para este fim, ¢ Pro Anas do Scaado (AS), 30 de Junho de1832, 2" sesso da 1 Legislatura,p. 479; AS. 4 de Junho de 1832, 2° Sess da 1 Legislatur,p. 229, 186 A Monanguia Constrructonal. bos Bracancas 6x PORTUGAL € No Brasil ‘mover a instrugio piblica (com excecio do ensino superior, de competéncia & governo central). As assembléias controlavam também os empregos provinc: © municipais. Era sua atribui¢io tanto ctiar quanto suprimir tais emptegos, be= ‘como estabelecer os seus ordenados. Cabia ainda as mesmas assembléias as divisdes civil, judiciiria ¢ eclesiastica & respectiva provincia; a desapropriacio por utilidade municipal ou provincial; 2 == gulagio da administracio dos bens provinciais; a promogao, cumulativamente com a Assembléia Geral ¢ 0 Executivo, da organizacio das estatisticas da provincia, Ss catequese e da civilizagio dos indigenas, além do estabelecimento de coldnizs por fim, a representacio frente & Assembléia c 20 Ministério contra as leis de o= ‘ras provincias que ofendessem seus dircitos."* Depois de finalmente aprovado em 1834, assim o ministro dos Negécios Império, Anténio Paulino Limpo de Abreu, apresentou o Ato Adicional a Reg (Os objetos provincias acham-se cautelosamente descritos ¢ extremados para se evitarem, destatte, 0s confitos € as lutas interminaveis, que to fatais podem se= 408 interesses dos povos [0 principio federal, amplamente desenvolido,recebe ‘apenas na sua aplicacio aquelas modificages que sio filhas do estudo e da expe- siéncia das nagées mais cults [..] Releva, pois, senhor, que V.M. Imperial se dizne de mandat promulgar esta lei de seforma, penhor da unio das provincias[ ‘Aautonomia provincial ea unidade do territério da América lusitana, sob = regio do governo do Rio de Janeiro, apareciam como dois elementos de um 1 tojeto politico que consagrava «o principio federal, considerado como a unio das provincias». Feijé, em artigo de O Justina, sintetizava as vanceo=s da seforma constitucional que consagrava a autonomia provincial: Somente 08 negécios gerais, quais os direitos ¢ obrigagdes dos cidadiios, os c digos cximinal ede processo, o emprego das forgas ¢ do dinheito nacionais sam excluidos da agao das assembléias provincia. Hoje, 2s provincias tém = seu meio a poténcia necesséria para promover todos os melhoramentos mar: riais ¢ morais. A seus filhos esti encarregada a espinhosa tarefa, mas honso=2. de fazer desenvolver os recursos necessitios a seu bem ser." "Todas estas determinacies estio contidas na Lei a 16 de 12 de Agosto de 1834. Cl Las do Inpro do Bra. " Apresentao do Asto Adiinal Regina pla Cimara des Deputdes para Sua Pramas, © Agosto de 1834, 0 Jusiare, n° 4 de 27 de Novembro de 1834, Sesanseios generalizados, coma Sebaram envolvendo-se de Sa Seecendo-se com sua preserva “se 2 outro mais ample A conseqiténcia, afirmams' Ss flhos da provincia q. = do proceso decisorio. E ot sows ordem nacional, Por meio das assem! sssomiam sua direci s=azo do Estado, nichos renciais vos sep. como explicitava p sail Ss direitos politicos indivi provinciay”, ‘algumas provincias Stucional. Ao mesmo := ansio dos interesses © Sa | 8 prdptias assembles | Sc interesses para o in Secrcio ¢ legislacio implicoms) seesior do Estado, assum o> Fosse para atender deme __Na Assembléia Geral expat |= A Cimara dos Depots eallto de sectores distinsos dag "estitucional. A partir de especializada e nomeacss Mowanqois # Popunes Pesirn A organizacio do Judicidrio € a insergo dos poderes locai is projetos em disputa imeira instincia do Judiciitio foi objeto das reformas aprovadas depois da cio, principalmente através da promulgacio do Cédigo de Proceso Crimi: 832. Nele, as figuras centrais eram o juiz de paz eleito pelos votantes, 0 ji o jiri de sentenga, ambos escolhidos por sorteio, o juiz municips ado pelo presidente da provincia a partir de uma lista triplice elaborada pela sca municipal, portanto pot vereadores eleitos, Para ocupar estes postos bas- = ser cidadio, sem necessidade de qualquer outro titulo. Mesmo para ser pro: sor nio se exigia que fosse bacharel em Dircito. partie do final da década de 1830, no entanto, uma parcela da elite politi- Be Semulava um novo projeto de reforma, tendo em vista, entre outras moti- Beets, o grande nimero de revoltas que eclodia em varias partes do pais. Por Bee: de 1837 consolidou-se a ruptura no interior do grupo conhecido como Beecsis moderados, que controlava a Camara. De um lado estavam aqueles que Seendiam rever as reformas ¢ que fundariam o Partido Conservador. De ou- = aqueles que discordavam desta revisio, fundadores do Partido Liberal, O 20 do debate era o Judicidto. \ reforma do Cédigo de Processo Criminal, em 1841, principal medida do mo- ato conhecido como Regresso, alterava substantivamente a primeira parte do stig de 1832, sobre a organizagio judiciiria, Relevantes atribuigdes dos juizes Se pxz, mormente a instrugio do processo, foram transferidas para autoridades pelo governo central, como chefes de policia, delegados, e subdelegados, secferencialmente bacharéis formados. Além disso, tornava-se de competéncia da sca togada, de nomeagio central, todos os principais atos depois de feita a de cia, Finalmente, os promotores passaram a ser de livre nomeacio e demissio mperador ou dos presidentes de provincia, preferindo-se sempre os bachatéis dos. Foi, ainda, extinto o jtiri de acusagio ¢ restringidas as competéncias do = de sentenca, sendo modificadas as exigéncias para participacio no conselho usados, Nao bastava apenas ser cleitor, sendo necessirio também saber ler € Serever, ¢ possuir certa renda anual Segundo Monica Dantas, estavam em jogo dois modelos diversos de como ddiciétio deveria ser otganizado. Os liberais preconizavam um modelo que proximava da experiéncia norte-americana, privilegiando autoridades ele- s, escolhidas entre os cidadios ~ uma justica cidada. Ja os conservadores zndiam 0 modelo napolednico que fortalecia autoridades com formagio vecializada e nomeadas pelo governo, em uma estrututa hierirquica verti 190A Monanquta Covstirvctowat 0s BaacancAs ft PORTUGAL # NO BRASH cal" A discussio sobre 0 Cédigo de Processo Criminal se inseria no esfo: de organizar um novo Judiciério conforme os padrdes libernis previstos pe Constituigio de 1824, que seguia o repertério predominante na cultura polit: ocidental e que oferecia formulas distintas. Enquanto a formula defendida pe liberais conferia centralidade para as autoridades locais, a conservadora tran feria o protagonismo para ocupantes de cargos atrelados a0 governo centr: Outra medida aprovada pelo chamado Regresso foi a Interpretagio do Ax ‘Adicional, em 1840. Embora tena sido proposta e votada antes da Reforma é Cédigo de Processo Criminal, as mudancas nela previstas estavam articuladas fiz damentalmente 4 adogio do novo modelo de Judiciério. Os primeiros passos pac a ruptura do grupo dos liberais moderados se deram justamente com a apresen: io do projeto de Interpretagio na Camara, em 1836, por um deputado que sex ‘um dos principais lideres do Partido Conservador, Joaquim José Rodtigues Tor res, A Interpretagio do Ato Adicional tinha como objetivo, além de possibili ‘uma nova organizagio do Judiciério, resolver alguns pontos de conflitos geradc 1 partic da implementacio do arranjo federativo. A discriminagio das competés cias dos governos provinciais e do governo-geral abriu brecha para entendimen tos distintos. Por exemplo, a definigao do que exam empregados provinciais ¢ que eram empregados gerais. ‘Assim, a Interpretacio nao alterava o arranjo federativo, pois a reorganizaci do Judiciério nao retirava das assembléias provinciais suas principais competén cias, como a tributagio, a capacidade legislativa e a forca coetcitiva. Os conser vadores, por sua vez, nao reivindicavam a revisio total das reformas libetais. Fo: José Paulino Soares de Sousa, o visconde do Uruguai, também entre as principais liderangas conservadoras ¢ articulador da revisio, quem explicitou claramente ‘que nfo se tratava de romper com o pacto federativo, mas, a0 contritio, torné-lo vivel.” Paulino justificava, em 1839, o projeto de interpretacio do Ato Adicio- nal, considerando que cle estava de acordo com o principio essencial da emenda constitucional, ao ter como prioridade a combinagio entre unidade ¢ autonomia, federacio e monarguia. Da mesma forma, o parecer da comissio das assembléias provinciais da Ci ‘mara dos Deputados, emitido em Julho de 1837 e que deu inicio & discussio so- bre a Interpretagio do Ato Adicional, advogava a necessidade desta interpretagio "Monica Dantas, «Da Taisians para o Beast Edward Livingston eo primeito movimento cod ficator no Impésio (0 Cédigo Criminal de 1830 ¢ 0 Cédigo de Processo Criminal de 1832), Anu rode Historia de Amrita Latina, v. 52,2015; Dantas, Constiicio, poderes e cidadania..», ¢ Dantas, 10 Céxligo de Processo Ceiminal.» "ACD, 17 de Junho de 1839, 4* Legilatra sno medida necessésia © poder geral como 0 exato é indispensivel par =2constitui a principal exc snética do Norte” Portanto, niio estava srovineiais continuaram 2 *

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