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Ação de Consignação em Pagamento - Recusa Indevida No Recebimento Das Parcelas
Ação de Consignação em Pagamento - Recusa Indevida No Recebimento Das Parcelas
XXXXXXX, brasileira, casada, portadora do RG nº. XXXX, ins crita no CPF sob o nº XXXX, residente e
domiciliado na Rua XXXX, por seus advogados infra-assinados, com endereço à Rua Mamoré, 1055, Mercês CEP 80.810-
080 – Curitiba – Paraná, vem respeitosamente a presença de Vossa Excelência, propor a presente;
em face XXXXX, inscrita no CNPJ nº XXXX, com sede em Brasília, DF, e com endereço na XXXX, pelas razões de
fato e direito que passa a expor:
A requerente, mais precisamente em 31 de Julho de 2013, firmou contrato de Financiamento de Veículo com a Caixa
Econômica Federal, denominado de CRÉDITO AUTO CAIXA, este no importe de R$ 50.700,00 (cinquenta mil e
setecentos reais), sendo o valor de R$ 5.070,00 (cinco mil e setenta reais) pagos a vista e, a diferença de R$ 45.630,00
(quarenta e cinco mil seiscentos e trinta reais) financiado em 60 pagamentos iguais e consecutivos de R$ 1.131,73 (um mil
cento e trinta e um reais e setenta e três centavos), conforme autorização de faturamento de veículo anexo.
Até o presente momento a autora adimpliu regularmente o equiva lente a 10 parcelas, a saber, de 31/08/13 à
31/05/14.
A época da contratação, a autora trabalha como oficial de promotoria do Ministério Público estadual, executando suas
funções junto a xxxx, ocorre porém, que em 18 de março de 2014, após ser alvo de um processo administrativo de avaliação
e desempenho de estágio probatório, foi exonerada de suas funções, desde então ficando completamente sem renda, o que
por certo lhe trouxe transtornos várias a sua situação econômica.
Não bastasse isso, logo após foi acometida de uma profunda de pressão, que revelou um câncer, contra o qual a
autora labuta, isso tudo desencadeado pela terrível situação financeira que mergulhou, sem ao menos imaginar que tal fato
pudesse ocorrer.
Diante deste fato, as prestações referentes ao contrato supra citado começaram a ser adimplidas com atraso,
acarretando uma penosa taxa de juros ao valor que doravante já se mostrava demasiado difícil de cumprir. No entanto,
sabedora de suas obrigações, autora entrou em contato com seu gerente de relacionamento, onde buscou uma forma de
realizar uma composição amigável com o intuito de saldar os seus débitos pendentes.
Qual foi seu espanto em saber que uma composição para pagamento do crédito adquirido para compra do veículo
automotor da família, somente seria possível, se junto fossem inclusos alem de novas taxas e tarifas, também os outros
crédito que neste momento encontram-se pendentes em seu nome, tais como, limite de crédito pessoal, cartão de
credito e afins, o que elevaria seu já penoso fardo para o incrível importe de R$ 86.042,23 (oitenta e seis mil e quarenta
e dois reais e vinte e três centavos).
A proposta realizada pela instituição financeira ré, consistiu em uma entrada no valor de R$ 2.242,00 e mais 96 (noventa
e seis) parcelas iguais e sucessivas de R$ 2.241,18 (dois duzentos e quarenta e um reais e dezoito centavos), valores que
traziam uma taxa de juros de 2,42 % a.m. e 33,84% a.a. (conforme proposta de renegociação de débitos anexo).
Diante de proposto, muito aquém de suas possibilidades, que inviabilizam por completo a sua tentativa de
composição, nada mais restou a autora senão buscar guarida no Poder Judiciário para ver satisfeita sua pretensão, e trazer
justiça ao caso concreto. Afinal o bem objeto deste contrato, o veículo Volkswagen Space Fox 1.6, ano 2013, é uso da
família, veículo com o qual hoje realiza seu tratamento médico, além de atender as necessidades de suas filhas no que diz
respeito à escola e afins.
Desse modo, diante recusa injustificada por parte da instituição financeira ré, consistente em condicionar a
quitação das parcelas em atraso de seu veículo à quitação de outros débitos relacionados a outros contratos, mostra-se
cabível o ajuizamento da presente demanda, com o intuito de consignar em pagamento os valores devidos.
Neste condão, vale ressaltar que, quando a autora sofreu drástica mudança em sua situação econômica, com a perda
do recurso advindo com seu salário, sua primeira opção foi buscar junto à ré um acordo para composição da dívida, sabendo
que havia tomado de empréstimo o montante de R$ 46.457,71, o qual fora lhe dividido em 60 pagamentos iguais e
sucessivos de R$ 1.131,73, dos quais já havia adimplido 10 prestações.
Buscando então saldar os débitos das parcelas do seu veículo que haviam ficado em aberto, a autora procurou o
gerente de sua agencia bancária, ocasião em que foi surpreendida com a informação de que, não poderia realizar o
pagamento das parcelas em atraso do seu financiamento de veículo, mas, tão somente realizar um refinanciamento
de “todo” o débito existente junto ao banco, ou seja, além das parcelas relativas ao financiamento do veículo, teria
que, obrigatoriamente, saldar o seu limite de crédito de conta corrente e outra dívida existente oriunda de cartão de
credito.
No entanto, para saldar conjuntamente esses débitos, teria que pagar o exorbitante valor de R$ 86.042,23 (oitenta e seis
mil e quarenta e dois reais e vinte e três centavos)!
A forma de pagamento sugerida pela requerida foi uma entrada de R$ 2.242,00 e mais 96 (noventa e seis)
parcelas iguais e sucessivas de R$ 2.241,18 (dois duzentos e quarenta e um reais e dezoito centavos), valores que
traziam uma alta taxa de juros de 2,42 % a.m. e 33,84% a.a., senão vejamos a proposta entregue a autora pelo gerente
da ré (documento anexo):
Veja-se Exª, que o valor exigido pela ré a título de prestações multiplicado ao prazo proposto, e somado a entrada
exigida, alcançara o inimaginável valor de R$ 217.395,28 (duzentos e dezessete mil trezentos e noventa e cinco reais e
vinte e oito centavos).
Portanto, não só a ré negou-se a receber a avença do contrato aqui guerreado, como ainda quis obrigar a autora e
“refinanciar” seus débitos em patamar muito superior as suas possibilidades, o que, por certo, torna IMPOSSÍVEL a
celebração do acordo entre as partes. Caracterizada a INJUSTA RECUSA da instituição financeira em receber os valores
das parcelas em atraso, relativas ao financiamento do veículo da autora, perfeitamente cabível o ajuizamento da ação de
consignação em pagamento.
2 - DO DIREITO
Ora, MM. JUIZ, é inconteste que a requerente, como devedora, tem o direito de solver suas dívidas, sendo, para
tanto, amparada pelo ordenamento jurídico que propugna, justamente, pelo adimplemento das obrigações, conforme se
pode facilmente verificar, nas seguintes disposições do Código Civil, adiante transcritas:
“Art. 334: Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da
coisa devida, nos casos e forma legais.”
Estipula, ainda, o mesmo diploma legal as hipóteses em que se entende cabível o pagamento em consignação, sendo
certo, a uma simples leitura do artigo 335, inciso I, que se transcreve:
“I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma.”
3 - DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO
Cumpre anotar, nos termos do art. 539 do novo CPC, a possibilidade da presente ação:
§ 1º Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em estabelecimento bancário, oficial onde
houver, situado no lugar do pagamento, cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento, assinado o
prazo de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa.
§ 2º Decorrido o prazo do § 1º, contado do retorno do aviso de re cebimento, sem a manifestação de recusa,
considerar-se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à disposição do credor a quantia depositada.
§ 3º Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, poderá ser proposta, dentro de 1 (um) mês, a
ação de consignação, instruindo-se a inicial com a prova do depósito e da recusa.
§ 4º Não proposta a ação no prazo do parágrafo anterior, ficará sem efeito o depósito, podendo levantá-lo o
depositante.”
Veja Excelência, que o nos ensina o referido texto legal, é explicitamente o caso da autora, que busca guarida no
poder judiciário para efetuar o pagamento de obrigação, que momento algum nega dever, pelo contrário busca solver, e
infelizmente tem a ré se negado a receber querendo, contudo, valor muitas vezes superior a possibilidade real da autora e
originário de outras obrigações.
Neste ínterim, deve-se atentar para as disposições do Código Civil, Art 337, e, outrossim, para as do Código de
Processo Civil, art. 540 novo CPC, caput, no intuito de se verificar os efeitos necessários da presente ação.
“Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o devedor, à data do depósito, os
juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente.”
Assim, como se verifica, o depósito tem o condão de liberar o devedor da dívida e demais riscos, como se houvesse
pago o valor devido diretamente ao credor.
Faz-se necessário ressaltar que um dos efeitos da consignação em pagamento é a descaracterização da mora, uma vez
ter sido o credor o responsável pelo não pagamento, senão vejamos o entendimento jurisprudencial a respeito:
Portanto, uma vez que a autora pretende realizar a consignação em pagamento do valor total da parcela, não há
óbices para o deferimento de seu pleito.
5 - DA RELAÇÃO CONTRATUAL
Quanto ao instrumento entabulado entre as partes, é inarredável que se trata de contrato de adesão, conceituado pelo
Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 54, como “[...] aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor
possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo”.
Veja-se que a autora obrigou-se a aceitar, em bloco, as cláusulas estabelecidas pela Ré, aderindo a uma situação
contratual que se encontrava definida em todos os seus termos. Na relação jurídica existente entre as partes ora litigantes,
há predomínio categórico da vontade da Ré, que impôs condições contratuais favoráveis somente a si, em detrimen to
da Autora. As irregularidades apontadas prejudicam a comutatividade contratual e exigem a intervenção judicial para coibir
que prevaleçam soberanos os ditames impostos unilateralmente pela instituição financeira ré visando unicamente o seu
benefício próprio em detrimento ao direito do requerente.
Logo, é inequívoco que o instrumento de adesão sob foco foi elaborado de maneira genérica, e que as suas
cláusulas devem ser debulhadas sob a óptica do Digesto do Consumidor, conforme argumentação expendida a seguir.
Por muito tempo a questão da aplicabilidade ou não do CDC às instituições financeiras foi amplamente discutida,
sendo que os julgados de nossos tribunais, não raras vezes, apresentavam julgados discrepantes ante uma mesma situação
lançada ao crivo do Poder Judiciário.
Porém, hodiernamente, inquestionável é a aplicabilidade do referido Codex aos contratos bancários, em especial, após a
edição da Súmula 297 pelo Superior Tribunal de Justiça, que assim determina:
A atividade bancária e financeira, portanto, está indiscutivelmente sujeita às regras do Código de Defesa do
Consumidor, como expresso também no art. 3º, § 2º, da Lei nº 8.078/90.
Deve ser observado o disposto no art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, que sufraga o princípio da inversão
do ônus da prova. Preconiza o referido artigo que:
(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências”.
Como pode-se perceber, a hipossuficiência está caracterizada, pois a Autora (consumidora) está inferiorizado, em
termos econômicos, não podendo discutir em pé de igualdade com o banco réu.
Logo, mostra-se incidente a inversão do ônus da prova, nos termos do que determina o CDC, quando houver a
presença de um dos requisitos indicados no inc. VIII, do seu art. 6º, quais sejam, a verossimilhança da alegação trazida pelo
consumidor ou em razão de sua hipossuficiência.
Outrossim, faz-se importante destacar que a hipossuficiência a que se refere o dispositivo acima citado não é
somente econômica, mas também de natureza técnica, senão vejamos, in verbis:
“[...] hipossuficiência, para fins da possibilidade de inversão do ônus da prova, tem sentido de desconhecimento
técnico e informativo do produto e do serviço, de suas propriedades, de seu funcionamento vital e/ou intrínseco, de sua
distribuição, dos modos especiais de controle, dos aspectos que podem ter gerado o acidente de consumo e o dano, das
características do vício etc”. (Rizzato Nunes, in Curso de Direito do Consumidor. Saraiva, 2004, p. 731).
A hipossuficiência técnica da requerente também se evidencia no presente caso e consiste no fato de que é necessária
a compreensão de complexas operações financeiras, bem como o modo como operam os bancos ao prestarem os seus
serviços. Além disso, é necessário esclarecer que a forma da cobrança do cumprimento das obrigações pactuadas está
adstrita ao sistema interno do réu, cujos componentes, regras administrativas e forma de funcionamento não estão
disponíveis a Autora, seja por desconhecimento imposto pelo próprio Réu, seja pela conduta proposital deste no sentido de
ocultar tais informações e/ou dificultá-las ao máximo, utilizando-se de termos técnicos, insuscetíveis de interpretação ao
consumidor leigo.
O Egrégio Superior Tribunal de Justiça, constatando a multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica
questão de direito, instaurou o incidente de processo repetitivo referente aos contratos bancários su bordinados ao Código
de Defesa do Consumidor, cuja aplicabilidade fora definida no julgamento da ADI nº 2591-1, pelo Excelso Pretório. Assim,
de acordo com o julgamento proferido no a, o Superior Tribunal de Justiça algumas orientações, todas relativas aos
contratos bancários e que deverão ser aplicadas no presente caso, conforme restará demonstrado a seguir:
Merecendo elogios pela objetividade e simplicidade de raciocínio, destaca-se o entendimento do Des. José Sebastião
Fagundes Cunha, da 18º C.C. do TJPR, no julgamento do agravo de instrumento nº. 0744668-4, em perfeita consonância
com o entendimento atual do Superior Tribunal de Justiça:
a) Se há reconhecida prática de abusividade pela instituição financeira no valor cobrado mensalmente, permitindo-se
o depósito daquilo que efetivamente seja adequado a título de contraprestação, o julgador reconhece que há
plausibilidade de êxito na argumentação do consumidor.
b) Assim sendo, a mora, obviamente, não pode se configurar, já que, até ulterior decisão o valor deferido para
depósito é o que se entende, para aquele momento, como realmente devido.
c) Ora, se o consumidor então cumpre a obrigação conforme autorizado pelo juízo (juízo este que enxergou
possibilidade de que realmente exista abusividade no contrato), parece-me ilógico dizer que o bem não pode ficar na
posse do consumidor.”
Aliás, só o fato de o juiz impedir a inserção do nome do consumidor nos cadastros de inadimplentes, equivale a dizer
que ele não se encontra em mora. Ora, se é assim, não estando em mora, não há fundamento para que seja desprovido da
posse do seu bem. Impraticáveis, porque contraditórias em si mesmas, as determinações judiciais dessa natureza, o que
comumente se observa nas decisões singulares.
A verdade é uma só: os requisitos cumulativos estabelecidos pelo STJ, uma vez preenchidos, resultam
obrigatoriamente nos três efeitos que são inerentes e inseparáveis: manutenção da posse, depósito judicial do valor
contratado e impossibilidade de incluir o nome do consumidor nos cadastros de proteção ao crédito”.
Portanto, uma vez que não incidem juros e encargos financeiros pelo atraso no pagamento das parcelas
convencionadas quando o credor, injustificadamente, se recusa em receber os pagamentos devidos, restará descaracterizada
a mora a partir do depósito judicial do valor das parcelas em atraso, repercutindo diretamente nos pedidos liminares.
Outrossim, consoante decidem a 17ª e a 18ª Câmaras Cíveis do E. Tribunal de Justiça do Paraná, a mora do
devedor somente é descaracterizada quando há:
“(...) demonstração de que a cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em jurisprudência consolidada
do STF ou do STJ (...)”, ou ainda, quando o devedor realiza “o depósito integral da parcela no valor originalmente
contratado [o que] equivale ao adimplemento contratual”
No caso dos autos, restou devidamente comprovada a recusa injusta por parte da instituição financeira. Tal fato aliado
ao depósito do valor INTEGRAL DAS PARCELAS VENCIDAS, possui o condão de afastar a mora.
b) Da Manutenção de Posse
Quanto a manutenção de posse, a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, julgando o REsp 1.061.530-RS,
tomado como representativo das questões bancárias, firmou entendimento de que é possível o deferimento desta pretensão,
em sede de liminar/antecipação de tutela, em ação revisional de contrato, ou mesmo em ação de busca e apreensão , desde
que não esteja caracterizada a mora contratual do devedor.
“A questão relativa a manutenção na posse relaciona-se diretamente com aquilo que restou decidido quanto
à configuração da mora. Como consolidado na Súmula 72/STJ, “a comprovação da mora é imprescindível à busca
e apreensão do bem alienado fiduciariamente”. Confira-se, ainda, nesse sentido: AgRg no REsp 400.227/RS, Rel.
Min. Aldir Passarinho Junior, DJ de 28/02/2005; AgRg no REsp 1.005.202/RS, 3ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti
DJe 07/05/2008. Logo, afastada a mora da recorrida, não há como ser acolhido o pleito da instituição
financeira de afastar a recorrida da posse do bem alienado fiduciariamente.”
Primeiramente, vale registrar que, nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
“não há óbice para o pagamento da dívida em juízo, a fim de afastar a mora debendi, mediante o deferimento de
depósito judicial, ainda que em sede de ação revisional. Precedentes (REsp nºs 56.250/M\g e 569.008/RS)”
(STJ,AgRg no REsp 817530/RS).
“De mais a mais, com o depósito das prestações nos valores contratados, os efeitos da mora são elididos, não
podendo o devedor ser privado da posse do bem, assim como, torna-se ilegal a inscrição do seu nome dos
serviços de proteção ao crédito (STJ, REsp 1061530/RS).
O TJPR em caso idêntico proferiu a seguinte decisão:
No presente caso, a mora resta descaracterizada diante da comprovada RECUSA INJUSTA por parte da
instituição financeira em receber as parcelas em atraso, bem como pelo depósito do valor INTEGRAL das parcelas.
Sendo assim, requer liminarmente seja a autora mantida na posse do bem objeto do contrato, sendo tal medida
condicionada aos depósitos regulares do valor integral das parcelas.
No que respeita à exclusão dos cadastros restritivos, já está também firmado entendimento pela Segunda Seção
de nossa Corte Superior, quando da apreciação do mesmo recurso representativo das questões de repetitivas, segundo a
ORIENTAÇÃO Nº 4, assim posta:
Neste aspecto, seguindo a mesma esteira de raciocínio, não restará caracterizada a mora, não havendo motivo algum
para ser incluído nos cadastros de devedores, o que se tornaria prática ilegal.
8 - DA TUTELA DE URGÊNCIA
O deferimento ou não da tutela antecipada requerida na sede da ação ordinária ajuizada é faculdade atribuída ao
magistrado, prendendo-se ao seu prudente arbítrio e livre convencimento, dependendo a concessão de prova inequívoca e
convencimento da verossimilhança da alegação conforme os requisitos elencados no artigo 300 do novo CPC.
“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver ele mentos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea
para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte
economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
No dizer sempre expressivo de Teori Albino Zavascki, a antecipação da tutela de mérito supõe verossimilhança
quanto ao fundamento de direito, que decorre de (relativa) certeza quanto à verdade dos fatos.
No caso dos autos, os requisitos para deferimento dos pedidos liminares se evidenciam através dos seguintes
pontos principais:
Probabilidade do Direito
Verossimilhança dos fundamentos jurídicos: Artigos 334, 335, inciso I e 337 do Código Civil e artigo 539, 540 e 890
do Novo Código de Processo Civil e em conformidade com as teses fixadas nos Recursos Repetitivos (REsp 1.061.530,
1251331 e 1255573).
Oferecimento de depósito judicial do valor CONTRATADO das parcelas, evidenciando a boa-fé do autor.
Falha na prestação de serviços por parte da instituição financeira, obstando o direito do autor de realizar o pagamento
de suas parcelas.
Abusividade da exigência de pagamento de dívidas oriundas de outros contratos como condição para adimplemento
do contrato de financiamento de veículo.
O depósito judicial dos valores das parcelas com a consequente descaracterização da mora é a única alternativa que o
autor possuí para continuar adimplindo suas obrigações e evitar os inevitáveis atos de constrição de bens em ação de
execução do título.
A cada dia que se passa, maior se torna a dívida do autor, haja vista os altos encargos exigidos pela instituição
financeira, os quais ocasionaram o efeito “bola de neve” na hipótese de indeferimento das liminares.
Sem o deferimento das liminares, de nada adiantará futura sentença de procedência da demanda, uma vez que o
principal objetivo da presente ação revisional é possibilitar o adimplemento do contrato de financiamento, obstando por
imposição abusiva por parte da instituição financeira.
O fundado receio de dano irreparável não poderia estar mais caracterizado. Na realidade, não se trata de “receio”,
mas sim, de uma consequência inevitável. Caso não haja o deferimento das liminares, pos sibilitando ao autor depositar
em juízo as parcelas de seu contrato, haverá o acréscimo de encargos moratórios mensais e a iminente execução judicial
do contrato.
9. DA JUSTIÇA GRATUITA
A jurisprudência dominante tanto do Supremo Tribunal Federal como do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no
sentido de que, para o deferimento da assistência judiciária, basta a afirmação da parte na petição inicial de sua impossibilidade
no pagamento das despesas processuais sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família.
A propósito:
Para fazer prova de tais fatos, anexa aos autos sua carta de exoneração, comprovando que sofreu grave alteração em
sua condição econômica.
10. DO PEDIDO
a) A consignação em pagamento do valor correspondente às parcelas contratadas em atraso, assim como das parcelas
vincendas de forma mensal, garantindo o juízo até a respectiva quitação, momento ao qual o réu procederá a desalienação
do bem.
b) seja determinado por Vossa Excelência a não inclusão ou imediata retirada do nome da autora dos órgãos de
restrição de crédito, sob pena de multa diária a ser arbitrada por este juízo;
c) seja garantida a MANUTENÇÃO DE POSSE PROVISÓRIA do veículo a autora passando-se a condição de
depositário judicial assumindo, por certo, todas as consequências jurídicas deste ato, sendo tal medida condicionada ao
depósito regular das parcelas.
No mérito requer:
A procedência total da presente demanda, confirmando-se a liminar anteriormente deferida e, ao final, dando-se por
quitado o presente contrato com a consequente extinção da obrigação, e ainda a condenação do Réu no pagamento das
custas judiciais e honorários advocatícios.
a) seja citado o Banco-réu, no endereço inicialmente declinado, para que, querendo, apresente contestação, sob pena
de confissão e revelia, com a inversão do ônus da prova em relação a todas as alegações supra, ex vi do artigo 6.º, VIII da
Lei 8.078/90;
b) requer seja deferido os benefícios da Justiça Gratuita, com Fulcro no Art. 5º Inciso LXXIV DA CFRB/88, e nos
termos da Lei 1060/50 em seus Arts. 2º, § 2º, 3º e 5º § 4º, e leis 7.115/83 e 7.510/86”.
c) seja citado o Banco-réu, no endereço inicialmente declinado, para que, querendo, apresente contestação, sob pena
de confissão e revelia, com a inversão do ônus da prova em relação a todas as alegações supra, conforme artigo 373, §1º do
Novo CPC.
d) a designação de audiência de conciliação ou de mediação, conforme possibilidade prevista no art. 317 do novo
CPC.
e) Requer a produção de prova documental e pericial, caso venha a ser necessário para o deslinde do feito
Por fim, ao final requer a confirmação da liminar concedida com a condenação do banco-réu ao pagamento das
custas processuais e honorário advocatícios a serem arbitrados por V. Ex.ª.
Dá-se a causa o valor de R$ 45.630,00 (quarenta e cinco mil seiscentos e trinta reais).
Nestes Termos,
Pede Deferimento.