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CURSO REAPRENDIZAGEM CRIATIVA

MÓDULO 1
AULA 4 – MITO DO ACASO
Eu acho que todo mundo já deve ter ouvido a história do Eureka.
O Eureka virou famoso: “Eureka!”. Significa “achei”, “encontrei”, “tive
um insight”.

A história do “Eureka” é a seguinte: Arquimedes era o sabichão, o


espertão do reino – o consultor, vamos dizer, assim, na linguagem de
hoje. O rei recebeu uma coroa de presente, supostamente de ouro, e
queria saber se a coroa era de ouro mesmo, ou se tinha prata
misturada. E deu para Arquimedes essa incumbência de descobrir se
era ouro puro mesmo. E não existia solução para esse problema. Não
existe um banco de dados, uma solução-padrão. Era um problema
novo, inédito – pelo menos para o conhecimento de Arquimedes, e da
época, da região dele. Ele começou a pesquisar, a analisar a coroa,
perguntar para as pessoas, estudar, tentar algumas alternativas. Até
que um dia, ele foi tomar um banho – naquela época, havia os
banheiros públicos em Siracusa – e, de repente, no meio do banho, ele
se levanta e fala: “Eureka!”. A história, a lenda, pelo menos, é a de que
ele saiu correndo, nu, pelas ruas de Siracusa, gritando “Eureka!”,
“Eureka!”, “Eureka”!, porque ele teve o insight.

Essa história do “Eureka!” faz um pouco mal, eu acho, ao mundo


da criatividade porque passa um pouco a mensagem de que as ideias
surgem do nada, e é por isso que eu coloquei isso aqui nesse muito, que
é o Mito do Acaso, o mito de que Criatividade é algo espontâneo,
totalmente incontrolável e que surge totalmente do nada. Não é
verdade isso.

Tem um livro de 1926, “The Art of Thought” (A Arte de Pensar),


de Graham Wallas. Wallas esboçou o que seria para ele o processo de
criar uma coisa e que, até hoje, é superatual e bem-aceito. Ele fala que o
processo criativo clássico é:

1. Preparação – A etapa em que você investiga, estuda o


problema e utiliza o repertório que você já tem, adiciona a ele
uma pesquisa e começa a investigar o problema.
2. Incubação – É quando você se distancia um pouco do
problema e deixa o processamento inconsciente processar. A
incubação é uma fase polêmica. Muita gente fala que é lenda, e
eu acredito muito. Comigo funciona muito, desde que eu tenha
feito uma boa preparação. As etapas têm que serem
cumpridas. Se você prepara bem – e a preparação não é só na
hora em que recebe o problema. Veja na sua vida inteira o
quanto o seu repertório está atualizado, está diversificado,
está grande, está bacana. É a sua preparação mais a pesquisa
pontual mediante aquele problema. Você incuba, distancia,
relaxa, sai do problema para que o inconsciente processe
também.
3. Iluminação – Em algum momento, surge a iluminação. É o
“Eureka!”, um insight.
4. Verificação – E depois, você vai verificar, testar.

A etapa 1, a preparação, como eu falei é o repertório mais a


pesquisa. O que você já tem mais o que você faz na hora, é a parte mais
investigativa.

A etapa 2 é a incubação, a combinação inconsciente.

Depois, a iluminação, que é a revelação da combinação que você


fez. O processamento inconsciente também é um processo
combinativo; só que é inconsciente, que está tentando combinar os
seus inputs ali.

E a iluminação é o Eureka!, quando ele fala: “Achei”, “Encontrei”,


e como eu falei, só funciona se as fases anteriores forem bem feitas.
Eu acho que a primeira fase, a preparação, é a mais importante. É
você estar preparado para que possa surgir a criatividade. É estar com
“a sala bem varrida”, o “quintal bem varrido” para receber a
criatividade.

“O acaso favorece as mentes preparadas” (Abraham Maslow).


Isso é lindo! Isso é lindo! “Ah, não, surgiu do nada.” Do nada, não. Do
nada é desvalorizar a preparação. É igual à história do dom do Oscar
Schmidt, que ele tem “mão santa”. Ou então dizer que a comédia é um
dom. É uma desvalorização ao hard work. Dizer que veio do acaso, que
veio do nada é desvalorizar o seu hard work, a sua transpiração para
poder preparar, estar preparado para resolver esse problema, não só
na hora, mas durante toda a vida. Ser criativo não é uma coisa de ser
criativo apenas agora; é um estado de ser; você é criativo a toda hora
porque está “caçando” inputs, referências, arquivando no Pinterest ou
não, mas com um olhar curioso, combinando de forma diferente e
deixando tudo preparado para o acaso vir.

É engraçado que na história de Arquimedes, eu não expliquei


como ele teve o insight. Foi o seguinte: no caso dele, foi uma incubação
misturada com um fato concreto que houve na banheira. O chuveiro é
um ótimo lugar para se ter ideias. Por quê? Porque é um lugar em que
você está relaxado, um lugar-padrão, mecanizado, é um problema
linear, programável e estruturável. Mas aquela aguinha, deixa a gente
relaxado e surgem ideias. Muito propício, de fato, para surgirem ideias.
No caso de Arquimedes, foi o seguinte: quando ele mergulhou, a
banheira estava cheia e, naturalmente, quando você mergulha e a
banheira está cheia, cai água para fora. Ele percebeu que o volume
d´água que cai é correspondente ao volume do corpo que entra. E ele
criou o princípio do empuxo, que é muito óbvio para a gente hoje em
dia, lógico, mas na época, não era. Ele descobriu que poderia, com essa
mesma lógica, medir o volume da coroa baseado na quantidade de
água que sai. Não foi a incubação do relax da banheira – talvez, tenha
sido também. Foi um fato concreto que houve ali na banheira. É
diferente da incubação sobre a qual a gente fala: estar na banheira,
relax. Por exemplo, dirigir, para mim, é um grande momento de
incubação quando eu estou indo para um caminho que eu já conheço
porque eu estou num modo linear, num modo “sem pensar”; estou
tranquilo; aquele caminho está no automático e fico com a mente
aberta para, caso tenha tido uma boa preparação, dar espaço para o
acaso aparecer, já que favorece as mentes preparadas. O caso de
Arquimedes foi um fato concreto que houve lá.

Eu tenho esse lapisinho aí que escreve em azulejo (A parede do


meu banheiro é toda escrita, e só eu entendo o insight que surge).
A parte 4 é a verificação. É quando você vai validar se aquela sua
combinação deu certou ou não, se funcionou ou não. E isso
retroalimenta. E o resultado da validação vira uma nova preparação
porque é um novo input, uma nova lição que você aprendeu.

Então, acabar com esse mito de que criatividade é algo


espontâneo, do nada, aleatório. Não! Ele surge por intermédio de um
processo que tem etapas.

Veja bem: não estou dizendo que basta seguir esse processo que
é perfeito. O processo é como uma fórmula. Se eu te falasse a Fórmula
de Bhaskara. Você decora a Fórmula de Bhaskara. Sabe para que serve
esse fórmula? Acho que ela serve para você poder ajudar seu filho na
tarefa de casa na Fórmula de Bhaskara, senão você não pode ajudar.
Mas, enfim, adianta saber a fórmula se você não coloca as varáveis
corretas? O que era para ser “x”, “y”, “b”, “a”, se não colocar os valores
corretos, a fórmula não serve. Mesma coisa com a criatividade. O
processo é esse: preparar, incubar, iluminar, validar. Mas, se você não
coloca os inputs corretos em cada fase, não serve para nada.

É importante saber que há um processo; não é do nada. Eu gosto


de verbalizar esse processo. Quando eu digo verbalizar é assim: fui lá,
estou na reunião com o cliente, teve o briefing, tudo direitinho. Eu
chego em casa, tenho que criar uma solução para esse evento do
cliente, para essa palestra personalizada, e eu trabalho, trabalho,
pesquiso e eu falo: “Amor, vou dar uma incubada”. Aí, eu vou ao
correio, andando, para resolver os problemas no correio, e aquela
andada é a minha incubada. Eu gosto de falar “vou encubar”, verbalizar
meu processo criativo, dar mais peso a ele.
O processo criativo clássico é esse. Mas, eu fiz o meu processo
criativo, que foi inspirado nisso aqui. Se você não conhece essa tela, é
aquela tela clássica, azul dos computadores antigos. Não sei se hoje em
dia tem ainda; acho que só os antigos. Você dava “esc”, “F5” e abria essa
tela, que era a tela da configuração. Ela chama BIOS, que significa Basic
Input Output System, que é o Sistema Básico de Entrada e Saída.
Inspirado nisso, eu criei a minha fórmula, o meu processo criativo, que
é, basicamente, os inputs, como se fosse a preparação:

 Tudo que você vê


 Tudo que você lê
 Tudo que você pesquisa
 Todo o seu conhecimento
 Todas as suas experiências.

O processamento é a combinação, esses inputs sendo misturados


de formas novas, nunca feitas até hoje. O output é quando você
compartilha aquilo com o mundo, ou seja, quando você gera a solução
criativa, o resultado criativo e compartilha com alguém, verbaliza,
escreve, “empacota” aquilo. E o looping de feedback, que é testar se
aquela solução funcionou. O resultado desse teste tem que servir para
um novo input, uma nova aprendizagem. É um erro muito clássico das
pessoas – vou falar sobre isso nos Bloqueios – não aceitar fazer essa
retroalimentação. Feedback só funciona se tiver o “feed” + “back “, que
significa “retroalimentar”. Se você acha que feedback é apenas ouvir
opinião e você não retroalimenta, não é um feedback; é uma opinião
não retroalimentada. De fato, cada coisa que você faz trazer aquilo
como aprendizagem. E eu gosto de verbalizar. Verbalizar, que eu digo,
é: tive vários inputs, combinei, gerei um output. Não deu certo por quê?
Pode ser por causa disso, disso e disso. Ok. Então, eu verbalizo: qual é a
minha aprendizagem que eu vou retroalimentar? Não fazer mais assim.
Eu gosto de verbalizar a aprendizagem para ela sedimentar melhor no
meu repertório.

Então, o processo criativo clássico é esse aí. E o processo


combinativo do Gun é esse aí, muito parecido, até porque ele é uma
combinação da BIOS do computador com a Teoria de Graham Wallas
sobre processo criativo. Eu fiz uma “combinatividade”.

Criatividade surge de um processo criativo composto de etapas.


Acabar com essa história de que vem do nada. “Ah, a piada vem do
nada?” “Não”. Eu tenho uma teoria Comedy Thinking que é o
aprofundamento do jeito de pensar do comediante. O comediante é
muito bom naquele ciclo, tem inputs diferenciados, é muito bom em
aceitar combinações loucas, que são dessas combinações que surgem
as grandes ideias. Em output, ele compartilha, está sempre “dando a
cara a tapa”, retroalimentando e virando nova aprendizagem. Como eu
falei, dá trabalho. Ser criativo dá um “puta” de um trabalho!
E como se treina criatividade se eu não sou comediante para
treinar no palco? Bem, se criatividade é uma ferramenta para resolver
problemas, para treinar você tem que resolver problemas, tem que
rodar aquele ciclo o máximo de vezes.

Têm dois tipos de pessoas no mundo: as pessoas que veem os


problemas e ficam reclamando dos responsáveis, e têm as pessoas que
ficam do lado da solução: elas veem os problemas e pensam nas
possíveis soluções, mesmo não sendo as responsáveis. Resolver
problemas que não são da sua conta, que parece uma total perda de
tempo; mas é treino. Quando você vai à academia e começa a andar na
esteira, a esteira te leva para algum lugar? Não. A esteira não te leva
para lugar nenhum, mas você faz por quê? Para fins de treino, para
treinar o corpo. Por quê? Porque a demanda natural de andar do seu
dia a dia não é suficiente para treinar o seu corpo. Talvez, antigamente
o pessoal andava mais, e o tanto que eles andavam já era suficiente
para treinar o corpo. Mas, hoje em dia, não. É louco que Deus criou o
homem com .pernas para andar. Só que o homem teve a ideia de criar o
carro para não ter que usar as pernas para andar. Agora, o homem não
anda, usa o carro e, no fim do dia, ele usa o carro para poder ir à
academia para mexer as pernas. Meio louco isso. Muitas vezes, no
trânsito, você passa mais tempo no carro para ir até a academia do que,
de fato, movendo as pernas, na academia, na esteira. Teoricamente,
seria melhor você ir andando para a academia, chega lá e volta e nem
paga a academia.

O fato é o de que nós precisamos de uma demanda artificial de


andar, que é a esteira. Mesma coisa com a criatividade. Você tem
problemas? Tem. Tem que resolver de forma criativa? Deveria. Mas
não é suficiente para fins de treinos. Para treinar tem que resolver
problemas que não são da sua conta. È uma demanda artificial de
problemas para poder treinar. É resolver problemas apenas para
resolver, para fins de treinos. “Ah, mas eu não vou me preocupar com a
limpeza na cidade, eu não sou do governo, eu não tenho nenhum
parente no governo...” E daí? Pense só por pensar. Fale com um amigo,
faz uma piada, fale com alguém, ou simplesmente, pense: “Eu faria
isso”, e acabou. Você começa cada vez mais a treinar. E a solução que
você deu para a lixeira, ela vira retroalimento no seu repertório e já
vira uma solução que pode ser combinada com outra solução e
aplicada em outro contexto. Você enriquece o seu repertório de
soluções. Tem que treinar.

Eu sempre faço questão de dizer que criatividade é possível e


alcançável a qualquer um. Eu nunca disse que é fácil. Tem que ter hard
work. Hard work, uma palavra que eu adoro!

Com isso eu fecho o que eu chamo de Mito do Acaso e fecho esse


primeiro módulo de mitos. E, a essa altura, do que eu preciso é que
você esteja com a convicção e com a crença de que

 Ok, criatividade é importante para você.


 Você acredite que possa ser criativo.
 Que não é difícil; basta combinar as coisas.
 Só precisa estudar o processo e treinar.

É isso! Esse é o resumo dos quatro mitos desse módulo.

 Criatividade é para quem tem problemas, ou seja, para


todo mundo.
 Criatividade é uma capacidade inata da nossa espécie que
tem que ser trabalhada e desenvolvida.
 Criatividade é combinar de forma diferente coisas já
existentes.
 É um processo composto de etapas.

Numa frase só: “Criatividade é uma capacidade inata que precisa


ser desenvolvida por intermédio de hard work (que significa estudo e
treino) e cuja utilidade é resolver problemas por intermédio da
combinação de ideias e seguindo as etapas do processo criativo”.

A gente fecha esse primeiro módulo, Módulo de Mitos, que é


extremamente importante porque elimina o modo de esquecimento
dessas crenças. Vamos, agora, para a parte de bloqueios, que são mitos
plus. São coisas de que não basta só esquecer; tem que desaprender.
Está nas entranhas suas. Tem que “raspar” mais forte para eliminar os
bloqueios em relação aos mitos. Por isso, que eu dividi os bloqueios em
três grande grupos: os bloqueios educacionais, os bloqueios
mercadológicos e os bloqueios cerebrais.

Muito obrigado. Parabéns por ter concluído esse módulo. Espero


que tenha sido útil. Se não ficou claro para você, assiste de novo. Essa é
uma das vantagens de a gente estar podendo fazer on-line: poder
assistir na hora em que quiser. Aproveite e assista mais de uma vez,
porque é necessário, muitas vezes, mais do que um impacto para um
conhecimento se consolidar, de fato, em você. Por isso, que na
publicidade você vê uma propaganda de um produto aqui, na TV, em
outdoor, revista porque é necessário mais do que um impacto para
aquela mensagem “entrar” em você. Mesma coisa com educação: tem
que ter vários impactos.

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