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Trabalho Final Disciplina EDM 5201
Trabalho Final Disciplina EDM 5201
Introdução
O contexto de abertura democrática do país na década de 1980 favoreceu um
movimento de crítica, reflexão e elaboração de novas teorias no campo da educação e,
consequentemente, também da Educação Física onde foi denominado de Movimento
Renovador. Este, em específico, reuniu um conjunto de intelectuais, de filiação
epistemológica diversa, que se ocupou de elaborar e propor novos paradigmas para a
área em substituição aos modelos esportivista e da aptidão física, que predominavam até
então. Embora distintas, essas teorias tinham em comum o uso do termo “cultura”,
seguido de complementos como, “corporal”, “do movimento”, “corporal de
movimento”, “motora”, “física”, a fim de enunciar seus objetos de estudo (DAOLIO,
2010). Foge ao escopo deste trabalho aprofundar em cada um destes objetos, portanto,
em consonância com o objetivo do ensaio de apresentar o conceito de cultura corporal,
bem como os encaminhamentos metodológicos subjacentes a ele para um ensino
culturalmente orientado da Educação Física na educação básica, vamos nos ater à esta
expressão.
Um recuo na história da Educação Física nos permite acompanhar a trajetória da
“cultura corporal”, em meio a continuidades e descontinuidades, até o presente
momento. Em 1985, o alemão Jürguen Dieckert, professor da Escola de Oldenburg e
visitante na Universidade de Santa Maria, propalou uma crítica à campanha “Esporte
para Todos” em que propunha acesso amplo e irrestrito ao esporte, além de sugerir uma
“cultura corporal” própria do povo brasileiro, definida por Dieckert como práticas
corporais construídas e reconstruídas no país, a exemplo da Capoeira, dos jogos
regionais e das danças nacionais (SOUZA JÚNIOR et al., 2011).
Sob a influência das ideias de Dieckert, dentre outras, um grupo de seis docentes
imbuídos na tarefa de apresentar uma nova possibilidade para o ensino da Educação
Física (re)configurou o conceito de cultura corporal e o (re)posicionou como objeto de
estudo na abordagem crítico-superadora, colocada em circulação no ano de 1992 com a
publicação da obra Metodologia do Ensino de Educação Física.
Este livro expõe e discute questões teórico-metodológicas da
Educação Física, tomando-a como matéria escolar que trata,
pedagogicamente, temas da cultura corporal, ou seja, os jogos, a
ginástica, as lutas, as acrobacias, a mímica, o esporte e outros. Este é o
conhecimento que constitui o conteúdo da Educação Física (SOARES
et al., 1992, p.10).
Considerações Provisórias
Este texto é um primeiro exercício de síntese da disciplina cursada e enfatizou a
dimensão pedagógica do currículo cultural. Ele não teve a pretensão de expressar o
nível de conhecimento adquirido no curso, esforço que julgo prematuro de ser assumido
neste momento. Contudo, posso afirmar, com muita segurança, que há uma distância
significativa entre este ponto de chegada e aquele de onde parti no dia 19 de agosto,
ainda que eu não tenha conseguido demonstrar este avanço nesta produção.
O recorte selecionado aqui, contempla pontos que considero fundamentais em
uma teoria pedagógica para o ensino da Educação Física. Honestamente, ainda me sinto
representada pela perspectiva crítica, embora reconheça que ela, de fato, ainda apresenta
lacunas. Entretanto, isso não me impede de realizar movimentos como este de buscar
compreender outras propostas para, enfim, optar por aquela que convirja com minhas
concepções. O que em hipótese alguma deve ser confundido com um negacionismo
científico da minha parte.
Cursar a disciplina EDM 5201 foi uma rica experiência formativa, com
contribuições que extrapolaram as esferas acadêmica e profissional. O nível de
organização, compromisso e, obviamente, de seriedade com que os professores
conduziram o processo foi um aprendizado à parte. O zelo na seleção e produção do
material didático, a objetividade nas devolutivas das atividades e a leveza na condução
dos encontros síncronos, contribuíram sobremaneira para um rico processo de
aprendizagem. Na minha avaliação, todas as estratégias adotadas para possibilitar o
acesso, a permanência e a conclusão dos alunos na disciplina foram exitosas.
Do ponto de vista teórico, o currículo cultural da Educação Física tem suas
perspectivas política, epistemológica e pedagógica alicerçadas em um referencial denso
que demanda um esforço por parte do aprendente, mas, também a mediação de pessoas
que já tenham um certo acúmulo nessa discussão. Dessa forma, tanto a presença dos três
professores, quanto dos membros mais experientes do GPEF, foi absolutamente
necessária para que os iniciantes neste debate, matriculados na disciplina, não se
sentissem perdidos e desmotivados.
Naturalmente, nem tudo que foi lido, assistido e discutido no curso dessa
disciplina pôde ser totalmente compreendido. A questão da aprendizagem, por exemplo,
objeto da exposição realizada pelo prof. Rubens no último encontro, presumo que
demandará além de esforço, condições objetivas mais favoráveis que as atuais para que
eu possa me dedicar a compreendê-la. Considerando que, no meu entendimento, a
aprendizagem é central no processo de ensino da Educação Física, independente da
teoria curricular que o consubstancia, pretendo assim que possível retornar à plataforma
e revisitar os materiais disponibilizados, bem como a gravação das aulas.
Para encerrar essas considerações provisórias reitero uma frase dita em um dos
encontros. O currículo cultural da Educação Física não é melhor e nem pior que outras
teorias elaboradas no campo, ele é diferente. Usa uma lente que ainda não havia sido
utilizada e propõe encaminhamentos coerentes com essa nova forma de interpretar a
realidade, a escola e a Educação Física.
REFERÊNCIAS
DAOLIO, Jocimar. Educação Física e o conceito de cultura. Campinas: Autores Associados,
2010.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. O esgotamento da democracia liberal. In: A nova razão
do mundo: ensaios sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016. p. 377-402.
NEIRA, Marcos Garcia. Cultura corporal no currículo cultural da Educação Física. Educação
Física Cultural GPEF FEUSP. Youtube, 2022.
NUNES, Mário Lúcio Ferrari. Afinal, o que queremos dizer com a expressão “diferença”? In:
NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. (Orgs.) Educação Física cultural: por uma pedagogia da(s)
diferença(s). Curitiba: CRV, 2016.
NUNES, Mário Lúcio Ferrari et al. Vivência e experiência no currículo cultural da Educação
Física. In: NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. (orgs.) Epistemologia e didática do currículo
cultural da Educação Física. São Paulo: FEUSP, 2022. p. 124-146.
SANTOS, Milton. Globalização Milton Santos – O mundo global visto do lado de cá.
Crabastos, Youtube, 2011.
SOUZA JÚNIOR, Marcílio et al. Coletivo de autores: a cultura corporal em questão. Revista
Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, p. 391-411, 2011.