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Organizado por Johannes Neuhauser Para que o amor dé certo . is er O trabalho terapéutico de 5) Cll com Ccasais len itty Titulo original: Wie Liebe Gelingt. Copyright © 2001 Zeig, Tucker & Theisen, Inc. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrénico ou mecanico, inclusive fotocépias, gravacSes ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissao por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas criticas ou artigos de revistas. A Editora Pensamento-Cultrix Leda. nao se responsabiliza por eventuais mudancas ocorridas nos enderecos convencionais ou eletrdnicos citados neste livro. Dados Internacionais de Catalogacio na Publicagéo (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Para que o amor dé certo : o trabalho terapéutico de Bert Hellinger com easais {Johannes Neuhauser (org) ; tradugao Eloisa Gianeali Titoni, Truyuko Jinno-Spelter. -- 2. ed. --S4oPaulo : Cultrix, 2006. Titulo original : Wie Liebe gelinge. ISBN85-316-0834-1 L.Amor 2, Casais 3.Hellinger, Bert 4. Homem-muther ~ Relacionamento 5, Intimidade (Psicologia) 1. Neuhauser, Johannes, 1957-. II. Titulo: Para que © amor de certo : O trabalho teraptuticade Bert Hellinger com casais. 06.1700 CDD-306.7 fndices para catélogo sistemético: 1,Homens ¢ mulheres : Relacionamento : Sociologia 306.7 2. Relacionamento : Homens e mulheres : Sociologia 306.7 704 esquerda indica a edigio, ou reedisdo, desta obra. A peimeiea descna & ta indica 0 ano em que esta edigio, ou reedigto fs publica Edigio Ano. 234567.89-10:11-12-13 (06-07-08-09-10-11-1213, Direitos de traducao para a lingua portuguesa adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA. Rua Dr. Mario Vicente, 368 - 04270-000 - Sao Paulo, SP Fone: 61669000 ~ Fax: 61669008 E-mail: pensamento@cultrix.com.br http://werw pensamentocultrix.com br auie se reserva a propriedade literaria desta tradugo. Impresso em nossas oficinas graficas, Sumario Introdugio do Editor ....... eee Bie eRe A 1B Agradecimentos 0.0.0.0. 0. 2 hears Bie V7 L.__S6 se pode amar o imperfeito . 21 Qhomem ea muther precisam um do out... esses eevee cee eee a O vinculo as suas conseqiiéncias .... . 2 Emaranhamentos que se estendem por geragies ¢ suas solugdes 2 A grandeza da sexualidade 23 Dare aceitar_.. “ 23 Casar-se também com a familia do cOnjuge . 24 Golpes do destino ¢ 0 relacionamento de um casal 25 Qrelacionamento do casal cem precedéncia em tek Apaternidade _. bs se 25 IL. sa que o amor. dé certo i com quinze easais 27 O relacionamento de um casal 6a época culminante da vida... 27 ‘Traumas da infaincia refletem-se na relacao do casal Poder entregar-se totalmente... 1s... sees eee O equilibrio entre o dare © aceitar . Quando se quer reeducar o parceiro_ Uma relagiio sem casamento ¢ ferir-se continuamente ...... ve» Sh 7 Material com direitos autorais Martin: “Eu a aceito agora como minha filha” A familia acual, incluindo a companheira anterior ¢ uma filha aba ee eee er ee ED Os parceiras ficam vinculados um ao outro através dos filhos | inbenbadleese: saa% sce taprsaeeareenata career apees: 90) Asolu ontra na propria alma 40 Abortos em relacionamentos anteriores ¢ como 0s novos parceiros podem lidar com isso tie AD Silvia: “Com vocé, sou mulher” uindo o parcel em harmonia com o seu pai sao mais atraentes 48 “Mamie, eu fago isso por voce” . : 48 Quando toda a culpa é atribufda aos pais... a) Quem rejeita os pais rejeita a si mesmo e€ ao parceiro - $2 Quando © genro € a sogra se desprezam ¢ se odeiam mutuamente 53 Dois culpados se entendem melhor . eaatanony s BTiS Nae 54 Daniela: “Segure-me para que eu fique’ A familia de origem, incluindo 0 marido . : 54 E imprescindivel que as filhas estejam na esfera de | that rR mae? 63 Matthias: “Agora eu 0 aceite come meu pai” A familia de origem .. 64 Nao existe uma melhor edigo shecompnlire 2 AesEppTAGRG wc wasn eevee con wae ata B Quando um anes rejeita o aes do outro od ter filhos 74 Na maioria das vezes € justamente 0 contnirio do que se diz... 4 Steffen: “Com o papai posso ficar” A familia de origem 0.2.0.0... 5 “NGs nos permitimos comegar de novo” ... . 34 As solugdes simples sio freqdientemente encaradas como uma ofihes a. B4 Alguns parceiros empregam seus sonhos para pregar uma pegane outro... 85 Sabine: “Mamas, meu meu lugar é com vocé” A dissolugdo de idenvificag bes. pose 92 Quando os casais descobrem os emaranhai de origem podem agir melhor... . 92 A pergunta pelo porqué . 93 Muitas pessoas correm atris da fel cidade... _ 94 O principal obstdeulo para a reconeilingao & éo coeagaite ro qe Pensa estar com a razio 95 Katharina e Georg: “Othe-n0s com benevollscl - A familia atual ¢ as familias de origem 96 Material com direitos autorais Palavras como vitétia ou derrota destroem o relacionamento de um casal 107 Os meus valores sfo certos, nfio os seus! oo. ee eee eee 108 A acusagio ..... ’ ence pane NTO No campo i tensio entre o o filho ¢ocompanheiro .. O pedir. Hans e Sabine: “Agora aceito vocé como meu companheiro” A familia atual incluindo os parceiros anteriores e os filhos desses relacionamentos 112 O relacionamento de casal tem rldrideloacbpen parerekis. 8 Quem rejeita os seus pais pode transmitir muito pouco su Hs Pais divorciados que voliam a se casar 8 Meu desejo mais profundo para o relacionamente A familia atual 121 inculo © AMET seeks eres eens Quando cada um insiste em seu ponto de vista... -...---- 127 Deserever o problema é uma forma de perpetuii-lo....... 0... 127 Ele thedeve algo .....- Deixar a nova imagem fazer efeito Voeé me faz lembrar.. 0... eo a Discutir para descansar do amor... 2... 140 Brigar 6 uma maneira de criar distancia em relagio ao comipantioina’ 14 A compensagao tanto positiva como negativa 142 bia” 1 A familia atual ¢ 0 antigo namorado da esposa, que tentou maté-la... 144 Constelagées niio so ordens de agir . . . 4 : .. 150 Quando casais nao podem ter filhos i aol ita ar 151 O que ajuda é a realidade . we 152 Vocé quer viver? .. 152 Sentic-se aptisionado . 153 154 154 162 Material com direitos autorais Ocontato comega com golhar......-.....-. 110. ee eee 162 Sinto falta de meu pai x : ASE CR - 163 Alexandra: “Sou filha ilegitima” A familia de origem .. 1... Dee gee sos 163. O relacionamento de casal € um proceso sie morte ateon i -. 168 Amore ordem 169 lacionamento. pops cere eae 171 1,0 relacionamento bem-sucedido ceux VE) Orelacionamento de casal & 0 grande 171 Enamoramento cego ¢ amor que vé 171 As raiz fe tes iil acm a . 2 Reconhecer ¢ valorizar o que é diferente... . 10. 173 A consumagio sexual do amor weweane mene wearer BD Os limites do dar ¢ do aceitar 174 ‘Oamor sé pode se desenvelver no ambito de uma ordem 0... 175 No amor existe umia hlererguta Ovando nasce um fiho de uma relagio extraconjusal Compensagio em um relacionamento sem filhos .......00...... 177 Longos relacionamentos sem casamento infidelida Omedo de ser abandonado ....... 179 A “confissdo” de relagdes extraconjugais . 179 O “perdio” de relagdes extraconjugais . 180 Quem perdoa se encontra em posigdo superior . 180 Reconciliar-se e comegar de novo ......+ 180 Aalianga . 181 4. Como conseguir a separagio 181 Quando acabou . eee eee eect eee 181 vida o 3 Aautonomia 83 A dor da separagdo .. A despedida do provisério ... IV. Temas especiais ... Niio se deve falar sobre relagdes intimas anteriores _.. O marido nao pode gerar filhos - A histéria de alguém que queria saber exatamente Quando um casal planeja ter um filho oo... Qessencial nos ¢ dado. Z Quando uma crianga nase . Um abort espontineo pertence ao sistema familiar? -- - Quando ¢ necessirio um teste de paternidade? Continuar sendo pais depois do divércio A quem pertencem as criangas depois do di morta. (© que pode fazer o pai quando nao lhe permitem ver os filhos 192 Ocaminho errado .. . 193 A dupla transferéncia 194 Aborto provocado e culpa . 194 A “pilula do dia seguinte” ...... . 196 Quando uma pessoa mais velha se casa com. al nic bem mais jovem .. 197 Quando se casa com um gémeo so... 197 A espera com amor . 197 Relacionamento Adistincia 0.198 A indissolubilidade do vineul 199 Casar nem sempre é 0 melhor . ar aves 200 O balango matrimonial _. 201 Osoltar 202 V._Pares em situagGes especiais ............- exovmsunnes cox BOF “Vivemos uma relagio a trés" oo 00.00. 203 “Tivemos um grave acidente de automdvel” ... 213 Ohdspede ... 216 A mulher sofre de uma doenga mortal... O parceiro tem grave doenca mental. a Quando um pareeiro tem deficiéneia fisica .....+se.- ee. 11 Material com direitos autorais A compensagio no nfvel do amor... 236 Inseminagao artificial ¢ adogao em um relacionamento sawumenes aR Amor Homosexual A familia de origem de um homem homos 259 O destino homossexual .. seus 270 A homossexualidade é reversivel? 271 Amor homosexual dignidade 272 VI. OrientagSes terapéuticas ........... avons 273 © que um casal deve levar em conta antes de fazer uma terapia Quanto ao procedimento Aatitude fundamental. A interrupetio como importante medida terapeuti O terapeuta s6 vai até onde deseja o cliente Por que € que os representantes sao capazes de sentir nas constelagées familiares? .......... O vivo niio € ligico ... : Pibifels seis poulss Aco hi da cotitelai Neste Primeiro deixe atuar e depois entre em agio Perde-se muito através de deserigdes casufstica 2 78 Querendo, qualquer um pode agir . . 279 Nio existem pessoas melhores ou piores 180 Nos caminhamios entre os mortos O terapeuta respeita a morte .. Olbar a morte nos olhos. O circule Agora lembre-se do seu primeiro amor . A despedida 4 Seamimaleigat Chandon pemekatielind olcadimmepabaal: Deon, ae Suicidio depois de uma separagio 0s. ....0seee eee wis. 285 A relagio tardia é como o par-do-sol_.. 286 Qaperfeigoamento vem depois da relagiio de casal 286 12 Introdu¢ao do editor Em um curso de Bert Hellinger compareceram duas mulheres e um homem que viviam um triangulo amoroso. Hellinger perguntou-lhes o assunto que deseja- vam trabalhar. O homem respondeu: “Existe amor. No entanto, vez por outra nosso amor nao dé certo porque um dos trés fica magoado”. Bert Hellinger re- trucou que acabava de lhe ocorrer uma histéria oriental e comegou a conté-la: Um homem se acercou de outro e contou muito entusiasmado: “Agora tenho duas mulheres. Vocé ndo pode imaginar como é bom! Vocé tam- bém tem de experimentar!” O outro se deixou convencer facilmente e pouco tempo depois casou-se com uma segunda mulher. Em conseqiién- cia disso, a primeira mulher ficou zangada e ndo quis mais dormir com ele. E a segunda mulher também nao queria mais nada com ele. De re- pente, viu-se completamente sé. Em sua afligdo, foi a meia-noite para a mesquita. Para sua surpresa, encontrou ld, rezando, aquele homem que tinha dado a dica das duas mulheres. Foi ao seu encontro e disse: “E ter- rivel ter duas mulheres!” . “Sim”, retrucow o outro, “eu s6 the disse aqui- lo porque me sentia muito solitdrio na mesquita a noite e queria ter um pouco de companhia.” Tao singular e diversificada como o inicio des ssfio de terapia foi também a forma de colaboragdo que conduziu a este livro. Minha contribuigao consistiu em gravar em video, no decorrer de trés anos, 180 terapias de casais ¢ sete oficinas didéticas, avaliar intimeras paginas transcritas e adequé-las & forma de um livro. A contribuigao de Bert Hellinger foi apresentar oficinas com casais na Alemanha, Austria, Suiga e nos Estados Unidos. Um curso especialmente denso em que participaram quinze casais com idade entre 27 e 56 anos cons- 13 titui o cere deste livro. Esta transcricdo possibilita, pela primeira vez, conhe- cer de perto a forma especial de trabalho de Bert Hellinger em rodadas e gru- pos de casais. No decorrer da oficina, com duragao de trés dias, os parceiros co- municam varias vezes ao dia como esto, 0 que os toca, onde avangam e onde sentem resisténcias. Bert Hellinger é um mestre em interromper padrdes que impedem o desenvol- vimento. Ele os traz 4 luz de maneira contundente e interfere energicamente nas interagdes destrutivas mantenedoras dos problemas dos casais. Por meio de suas intervengdes claras, corajosas e orientadoras exorta os parceiros a uma mudanga imediata. Isso acontece com humor, respeito e carinho, possibilitan- do aos pares experiéncias importantes em Ambitos da alma que de outra forma raramente sao tocados ou alcangados pela psicoterapia. Através da combina- ¢a0 do trabalho em rodadas e a colocagao da constelagio da familia atual ou de origem, Bert Hellinger criou um método terapéutico altamente eficiente. Entrementes, Bert Hellinger logrou, com o desenvolvimento de sua forma condensada de constelagées familiares, uma ampliagao das possibilidades de agdo terapéutica também reconhecida internacionalmente. No trabalho com constelagées familiares, o passado, o presente ¢ 0 possivel futuro de um casal so entrelagados com orientagio direcionada para a solugdo. Assim o relacio- namento pode ser visto sob uma nova luz ¢ reavaliado. Isso foi documentado minuciosamente neste livro através de um grande ndmero de constelagdes de casais e sistemas familiares os mais diversos. Durante as longas viagens de trem a caminho das oficinas para casais, Bert Hellinger gostava de ler poemas de Rainer Maria Rilke. Este escrevera, no int- cio do século XX, a uma amiga: “Fico feliz que voce exista”. Hoje, no limiar de um novo milénio, o filésofo André Comte-Sponville amplia essa frase de Ril- ke: “Para amar a gente deve estar disposto a aceitar duas solid6es, a sua propria ea do outro”. Amar significa dizer a alguém: “Sim, cu amo voce tal como vo- cé & Mesmo que vocé nao corresponda aos meus sonhos e esperangas, 0 fato de vocé existir faz-me mais feliz do que os meus sonhos”. Bert Hellinger dé um passo adiante, dizendo: “O perfeito nao nos atrai. Descansa em si mesmo, bem longe da vida normal. $6 se pode amar o imperfeito”, Durante seus 25 anos de trabalho terapéutico com casais Bert Hellinger che- gou A conclusio de que muitos homens e mulheres estao ligados & sua familia de origem através de emaranhamentos que se estendem por geragdes. Esses emaranhamentos, freqiientemente vividos como especialmente dolorosos, pe- sam gravemente na relagiio atual do casal. i4 O procedimento terapéutico de Bert Hellinger, que inclui varias geragOes, traz a luz os emaranhamentos, tornando-os compreensiveis para 0 casal. As possi- bilidades de solugao, muitas vezes surpreendentes, so apresentadas neste livro de maneira expressiva através de vérios exemplos terapéuticos e explicacées. Além disso, as afirmagdes de Hellinger sobre a sua psicoterapia sistémico-fe- nomenoldgica oferecem uma boa visio das bases filosdficas e espirituais de seu trabalho. Durante os trés anos em que trabalhamos no projeto Para que o amor dé certo erinen interesse coneentrou-se em: conseguir a colaboracao de Bert Hellinger para temas sobre os quais ele nfio havia publicado nada ou quase nada até en- tao. Com os capitulos sobre “Amor homossexual”, “Casais em situagdes espe- ciais” ou “Amor e morte” abrem-se, por assim dizer, novos horizontes. Nos tiltimos anos tornou-se evidente que, com o avangar da idade, Bert Hel- linger vem empregando as suas intervengdes terapéuticas de maneira cada vez mais concisa e precisa. Suas terapias sio comparaveis, em clareza e eficdcia, as maduras obras tardias de muitos artistas. Os ultimos quadros de Mare Chagall irradiam paz e tranquilidade. As poesias tardias de Hermann Hesse conduzem ao mundo interior. As “Quatro tiltimas cangdes” de Richard Strauss comovem através de sua espontaneidade e seu profundo assentimento a efemeridade. As exposigdes de Bert Hellinger sobre os mais diversos temas como amor e so- frimento no relacionamento a dois, o vinculo, o bem-sucedido equilibrio entre o dar e o.aceitar, patemnidade ou esterilidade compartilhadas, fidelidade e infidelidade , co- mo a separagio pode dar certo, a grandeza da sexualidade foram reunidas por mim em sete capitulos em forma de colagem. Além de ser psicoterapeuta, trabalho como diretor artistico de filmes docu- mentérios para a televisao austriaca. O meu procedimento e ética profissional em minhas atividades jornalfsticas requerem a reprodugio das opinides do en- trevistado sem modificages. Assim, o meu especial interesse foi deixar Bert Hellinger falar em tom original e, na medida do possivel, conservar 0 didlogo literal das oficinas com casais. Dessa forma foi documentado com autenticida- de o seu modo original e diversificado de expresso. Gostaria de chamar a es- pecial atengio dos leitores para o fato de que Bert Hellinger sempre faz as suas afirmagées dentro de um contexto terapéutico especifico. Quem quiser gene- ralizar precipitadamente o que foi dito ou utilizé-lo como uma receita padrio notard que, “da fruta, ficardé apenas com a casca”. Deixei sem comentarios as passagens em que as idéias de Bert Hellinger se diferenciam das minhas. Meu objetivo foi reproduzir tao claramente quanto possfvel seus pensamentos e ex- periéncias sobre como se originam os problemas de casais, as suas conseqiién- 15 cias e como se pode soluciond-los terapeuticamente. Assim, cada leitor pode- 14 abordar o texto a seu modo. Alguns temas como, por exemplo, dar e aceitar sio retomados varias ve- zes e desenvolvidos neste livro como pedras que, atiradas 4 dgua, produzem on- dulagdes que formam cftculos concéntricos. Tenho a consciéncia de que o titulo Para que o amor dé certo poderd ser mal compreendido. Eu o escolhi porque Bert Hellinger fala através de imagens vigorosas, visiondrias e o titulo reflete o grande sonho de muitos casais. O de- sejo de Bert Hellinger é decifrar com eles esse sonho para abrir 0 caminho que conduz da paixo cega a um amor que vé. “O amor dé certo através da compreensdo das ordens fundamentais da vida. Essas ordens ndo sao inventadas, elas séio descobertas. Assim che- guei a esses conhecimentos: através de uma longa observagdo para des- cobrir 0 que acontece quando as pessoas se comportam de uma determi- nada forma. E olhando no somente para o que ocorre imediatamente, sendo para aquilo que transcorve através de geragées. Por meio dessa observagdo prolongada pode-se descobrir quais sdo as ordens vigentes. Por essa razao, quando falo sobre essas ordens, também € vdlido verificar se realmente é assim, mesmo que algumas coisas pos- sam talvez parecer chocantes. Entretanto, a realidade muitas vezes estd em contradigdo com os nossos desejos. Se olharmos atentamente pode- mos verificar se algo é vilido ou ndo. E se existirem outras novas percep- ¢Ges, entaéo submeto-me a elas. Todos esses conhecimentos fluem, assim como a vida. Crescem passo a passo Ew os convido a acompanhar-me neste caminho do conhecimento pa- ra descobrir como o amor pode dar certo.” Para mim sera uma grande alegria se os textos e as terapias de casais, pro- vocantes e comoventes, servirem-lhes de estimulo e os ajudarem talvez em seu préprio relacionamento ou em seu trabalho terapéutico. Johannes Neuhauser Linz, novembro de 1998 16 Agradecimentos Em primeiro lugar agradeco a Bert Hellinger que, como amigo, me encorajou e apoiou neste trabalho. A colaboracgao com ele foi extremamente excitante, desafiadora e inspiradora, desencadeando em mim um substancial processo de desenvolvimento. Agradego A sua esposa, Herta Hellinger, por sua cordial hos- pitalidade e pelas conversas enriquecedoras. Muitas pessoas deram contribuigdes muito importantes a este livro: mi- nha esposa, Michaela — excelente jornalista —, acompanhou a redagio do ma- nuscrito de modo critico, engajado e carinhoso, dando indicagdes para uma condensagao do texto. Além disso, concedeu-me 0 espago necessdrio a um tra- balho que exige muita dedicagio. Meu amigo Gunthard Weber empenhou-se por este livro, acreditando nele e dando o dltimo retoque na versao final. Heidi e Hans Baitinger, Mi- chaela Kaden, Harald Hohnen, Christoph Eicke e Gabrielle Borkan organiza- ram com grande empenho pessoal os cursos para casais documentados neste li- vro. Martina Lienerbriinn transcreveu a maior parte das 180 terapias de casal. Franz Kéb da Radio ORF colocou & minha disposigao a cépia de uma palestra de Bert Hellinger. Otto Brink e Paul Eichinger corrigiram o manuscrito fazen- do-me muitas sugestées valiosas. A todos agradeco de todo o coragao. Em tempos de esgotamento, a mtisica do compositor francés falecido em 1992, Olivier Messiaen, foi para mim uma fonte de forga e de inspiragio. Gostaria de fazer especial mengdo e de agradecer aos intimeros casais que assentiram com a publicagdo de seus casos em video e neste livro. Desta ma- neira, abrem caminhos de solugdo também para outros casais ¢ os encorajam a confiar na forga do amor. 17 Para que o amor dé certo » SO Se pode amar o imperfeito O perfeito nfio nos atrai. Descansa em si mesmo, bem longe da vida normal. S6 se pode amar o imperfeito. Somente do imperfeito resulta um impulso de crescimento, nao do perfeito. O homem ea mulher precisam um do outro O homem aceita uma mulher porque sente que como homem lhe falta a mu- ther ¢ a mulher aceita um homem porque sente que como mulher the falta o homem. A ambos falta o que o outro tem e cada um pode dar ao outro 0 que ele precisa. Portanto, para que o relacionamento de um casal dé certo 0 ho- mem precisa ser um homem e permanecer um homem ¢ a mulher precisa ser uma mulher e permanecer uma mulher. O vinculo e as suas conseqiiéncias Por isso, quando o homem toma a mulher como sua esposa e a mulher toma o homem como marido, consumam 0 amor como homem e mulher, Essa consu- magao do amor tem um profundo efeito na alma. Através dela o homem e a mulher se vinculam de maneira indissoltivel. Depois disso j4 nfo so livres, mesmo que queiram. Explicarei por meio de alguns exemplos: Por que € tao doloroso quando um casal se separa? Por que existem dis- cussdes to violentas numa separacao? E por que afloram estes sentimentos do- lorosos de fracasso e culpa quando de uma separagdo? Isso acontece porque existe um vinculo. Quando um homem e uma mulher que esto vinculados um ao outro por meio da consumagio do amor se separam, e procuram e encontram outro par- 21 ceiro, vio logo perceber que o vinculo com o segundo niio é 0 mesmo que com 0 primeiro, porque o primeiro vinculo continua atuando. Por isso o sentimen- to de dor e culpa na separago de um segundo patceiro é menor, o de um ter- ceiro parceiro menor ainda e a partir do quarto quase nfo causa dor. Certa vez alguém me disse que procurava um relacionamento firme e du- radouro. Eu the perguntei: “Quantos relacionamentos sérios voce jd teve?” Ele respondeu: “Sete”. - “Entio voce pode esquecer a possibilidade de ter uma rela- ¢40 duradoura”. Ele perguntou: “Nao existe soluco?”. Repliquei: “Existe uma. Se vocé respeitar e reconhecer essas sete mulheres ¢ aceitar com amor o que elas the presentearam e se vocé honrar e acolher em seu fntimo tudo o que elas lhe deram e leva-lo para seu novo relacionamento, entao este tera uma chance”. Caso existam vinculos anteriores isso no significa que os relacionamen- tos posteriores nao darao certo. Entretanto, eles sé dio certo sob uma condigao: que os relacionamentos anteriores sejam respeitados ¢ honrados. Quando tra- balho com pessoas que se encontram em tal situa¢ao deixo, por exemple, o ho- mem falar para a primeira mulher: “Meu amor perdura”. Essa € uma bela frase. Assim a mulher é respeitada e reconhecida ¢, via de regra, fica reconciliada Quando isso nao ocotte, produzem-se envolvimentos estranhos, pois o parcei- ro anterior vai ser representado no novo relacionamento por um dos filhos, sem que esse filho ou outra pessoa tenha consciéncia disso Emaranhamentos que se estendem por geracées e suas solugdes No seio da familia existe uma profunda necessidade de justiga e compensagio. A familia e 0 grupo familiar comportam-se como se tivessem uma alma co- mum. Essa alma vela para que exista na familia um equilibrio entre a perda e © ganho, equilibrio esse que abarca varias geragdes. Por exemplo, se um ho- mem se separou levianamente de sua primeira mulher, ferindo-a, e essa mu- ther tem raiva dele, ele talvez passe pela experiéncia de que a filha do seu se- gundo matriménio fique com raiva ¢ que tenha em relaglo a ele os mesmos sentimentos da primeira mulher. A solugao seria esse homem dizer a sua primeira mulher: “Fui injusto com voet. Sinto muito. Reconhego tudo o que vocé me deu. Seu amor foi grande eo meu também e ele pode perdurar”. Assim pode-se observar que a primeira mulher fica amavel porque ¢ respeitada. O homem pode ainda dizer: “Olhe, esta ¢ agora a minha nova mulher, tenho com ela estes filhos. Por favor, olhe- noeeoen benevoléneie”. Via de cegn, a peineies talker eoncotda prascrued- mente com isso. Assim, o primeiro vinculo é dissolvide de modo positive. Em uma terapia com a filha, ela poderia dizer ao pai: “Esta aqui ¢ a mi- nha mie e eu sou a sua filha. Nao tenho nada a ver com a sua primeira mu- ther. Eu me atenho a vocés. O que houve entre vocés, adultos, nao é de minha algada. Por favor, olhe-me como sua filha ¢ eu o aceito como meu pai”. 22 A filha poderia dizer & mae: “Para mim voce é a tinica certa. Nao tenho nada a ver com a primeira mulher do papai. Coloco-me agora ao seu lado. Por favor, olhe-me como sua filha e eu a aceito como minha mae”. Se ela ainda acrescentar: “Vocé é adulta e eu sou crianga”, entdo ela assume o seu lugar co- mo filha na familia e o relacionamento anterior ja ndo pode mais atuar nega- tivamente sobre o presente. A grandeza da sexualidade Através da consumagio do amor cria-se entre o homem e a mulher um vinculo profundo. Esse vinculo ¢ indissohivel, mas nao por causa do matriménio, senao pela consumagao do amor. Até em casos de incesto ou estupro origina-se fre- qtientemente esse vinculo. Isso diz algo sobre a grandeza da sexualidade. Alguns pensam que a sexualidade ¢ algo mau. Entretanto, ela é um ins- tinto poderoso e irresistivel. A sexualidade leva adiante a vida contra todos os obstaculos. Nesse sentido, a sexualidade € maior do que o amor. Naturalmen- te, tem uma grandeza especial quando consumada com amor. Quando os par- ceiros olham-se nos olhos ao se amar, isto é a realizagao de seu amor rec{pro- co. O reconhecimento da grandeza do ato sexual é a principal condigao para que 0 amor dé certo. Existe um dito maldoso: “Os homens sé querem uma coisa e as mulheres querem a outra”. Portanto, aquele parceiro que sé “quer aquilo”, quer o certo. As vezes, em um relacionamento se desenvolve um jogo de poder ao redor da realizago do amor. Por exemplo, se um deles quer e deseja e o outro s6 con- cede, este se coloca em uma posicao de superioridade. O parceiro que precisa ¢ deseja fica, com isso, em uma posico inferior ¢ isso destréi o amor. © amor se baseia na igualdade do querer e do conceder. © amor s6 dé certo quando ambos estéio certos de que o seu desejo esta bem resguardado pelo outro e, por- tanto, ambos querem e concedem com amor. E é bvio que isso deve estar im- butdo de respeito. Dar e aceitar A igualdade no relacionamento de um casal, que se expressa fundamental- mente na consumagao do amor, estende-se também a outras areas da vida. O relacionamento de um casal obtém bom resultado através da constante equi- paragao entre o dar e o aceitar, ligada ao amor. Um exemplo: Um homem da um presente 4 sua mulher porque a ama. Tao logo ele tenha entregue o presente encontra-se em posigéo superior. Ele 6 0 que dée a mulher recebe. Mas agora ela sente uma obrigago em relag’o ao homem porque recebeu. Procura entio compensar dando-lhe algo e, por que o ama, dé-lhe, por cautela, um pouco mais do que ele lhe deu. Agora o ho- 23 4Q ‘You have either reached 3 page that is unavailable for viewing or reached your viewing lit for this book. 4Q ‘You have either reached 3 page that is unavailable for viewing or reached your viewing lit for this book. il. Para que o amor dé certo O trabalho terapéutico de Bert Hellinger numa oficina de trés dias com 15 casais Consideragées prévias O capitulo que segue documenta uma oficina de trés dias com 15 casais da Alema- nha e da Austria. Ao participar da oficina esses homens e mulheres tinham entre 27 e 56 anos de idade. Sete pares eram casados. Quatro viviam juntos. Um casal néo vivia junto. Dois casais viviam uma situagdo de separagdo. Um casal estava prestes a se casar. Sete casais tinham filhos em comum. Quatro homens tinham filhos de relagées anteriores. Esses filhos viviam com as mées. Uma mulher tinha um filho de um par- ceiro anterior, que vivia com ela e o seu novo parceiro. Um casal nao podia ter fi- hos porque o homem é estéril. Um casal nao conseguia ter filhos apesar de os exa- mes médicos indicarem a possibilidade de uma gravidez. Os casais foram escolhidos pelo editor do livro. Critério decisivo era que os dois parceiros tivessem um assunto a ser tratado em seu relacionamento e¢ que fossem apresentadas na oficina as mais diversas constelagies e dindmicas de relacionamen- to, Bert Hellinger ndo recebeu nenhuma informagdo prévia sobre os casais e os vie pela primeira vez no inicio do curso, O relacionamento de um casal é a época culminante da vida BERT HELLINGER para o grupo De inicio, gostaria de dizer algo sobre o relacio- namento de um casal. © relacionamento de um casal é a vida em sua plena realizacio. A crianga, e mais tarde o adolescente, desenvolve-se nessa diregio. Essa é a meta, e esse desenvolvimento € acompanhado de grande expectativa, © que se justifica, pois o relacionamento bem-sucedido de um casal 6 a época culminante da vida. Tudo se desenvolve nessa diregao. 27 No entanto, a transigdo ao relacionamento de casal ¢ 4 paternidade im- plica uma rentincia a infancia e a juventude. Com o relacionamento transpde- se um limiar e nao se pode mais voltar atras. A infancia e a juventude se aca- bam. Uma das dificuldades no relacionamento de um casal consiste em que se deseja salvar a juventude levando-a para o relacionamento. Mas isso nao fun- ciona, isso acabou. Qualquer desenvolvimento humano sempre significa transpor um limiar. Depois que transpomos esse limiar tudo fica diferente e nao podemos mais voltar atras. O exemplo fundamental é 0 nascimento. No seio da mae a crianga se sente bem. Mas, de repente, nao agiienta mais. Precisa transpor o limiar. Entao, tudo é diferente. Ela nao pode mais voltar atrés. Os limiares importantes seguintes so o matriménio e a paternidade. A juventude passou. Nao se pode mais voltar atras. O relacionamento a dois di certo quando transpomos esse limiar e olhamos para a frente, em vez de olhar para tras. Essa foi uma primeira introdugao. Agora gostaria de fazer uma rodada, is- to é, cada um pode dizer seu nome e expor em uma ou duas frases o assunto que deseja trabalhar e qual seria para ele ou para ela um bom resultado no fi- nal desta oficina. Para Holger Vocé comega? Traumas da infancia refletem-se na relagiio do casal HOLGER Meu anseio é trazer & vida cotidiana a atmosfera na qual conheci a minha esposa. No momento isso nio est dando certo. Esse seria meu anseio. Holger estd com ldgrimas nos olhos BERT HELLINGER Gostaria de trabalhar com vocé imediatamente. Vocé est muito comovido. Holger assente com a cabega. BERT HELLINGER FE 0 movimento de uma crianga. O que aconteceu com a sua mie? HOLGER Vem-me & mente uma determinada situagdo. Estive internado num hospital quando tinha dois anos e meio e me tiraram o apéndice. A minha mae simplesmente nao estava . BERT HELLINGER Sim, exatamente. E esse o sentimento. E uma experiéncia antiga que esta sendo agora repetida no relacionamento. Com isso a mulher se sente sobrecarregada. Precisamos solucionar isso no nivel a que pertence. Fa- remos isso mais tarde. Assim a sua alma ficard mais livre e podera dedicar-se & sua mulher de outra forma. Assim a sua mulher ficaré também aliviada. 28 4Q ‘You have either reached 3 page that is unavailable for viewing or reached your viewing lit for this book. sideragdio que nem todos podem dar tudo, e que também nem todos podem re- ceber tudo. Cada um esté limitado naquilo que pode dar ¢ naquilo que pode receber. Com isso é colocado, de antemao, um limite ao dar ¢ ao receber. Em um relacionamento bem-sucedido também 6 preciso que se dé somente tanto quanto 0 outro possa receber. E que se deseje e receba somente o tanto que 0 outro possa dar. Esta , j4 de inicio, uma limitagdio. Mas 0 curios é que se a gente se adapta a isso, mais tarde o dar e o receber ainda podem crescer. para Alexandra Uma possibilidade seria que vocé lhe dissesse alguma vez, bem secretamente, 0 que dest para Markus Ela lhe diz as vezes o que deseja? MARKUS pensa um pouco Sim, acho que sim BERT HELLINGER Ela o diz concretamente, de modo que vocé possa realizé-lo? MARKUS Sim. BERT HELLINGER Vou lhe dar um exemplo do que significa um desejo concre- to. Alguns parceiros dizem ao outro: Gostaria que vocé me amasse mais! As- sim © outro parceiro nao sabe nunca quando isso foi satisfeito. Mas, se disser: Venha dar um passeio comigo por meia hora. Neste caso, ele sabe exatamen- te quando o desejo foi cumprido. E importante dizer concretamente 0 que se deseja. Senao o outro se sente pressionado por uma expectativa que nao pode satisfazer. Entéo néo da absolutamente nada porque isso é demasiado para ele. A descrigo concreta daquilo que se deseja é muito importante para ambos. Mais tarde veremos isso em detalhes. Continuagéo de Alexandra e Markus na pagina 162 Quando se quer reeducar o parceiro DETLEF Gostaria de um relacionamento bem estreito coma Sflvia. Quero real- mente dizer sim a ela e formar uma familia. BERT HELLINGER Vocés jé so casados? DETLEF Nao. SILVIA Gostaria que eu e meu parceiro nos aprecidssemos mais. Que eu possa aprecia-lo mais e a mim também. Acho que as duas coisas estao intimamente ligadas. BERT HELLINGER Gostaria de dizer algo sobre o aprego. Homens e mulheres sio diferentes, como vocés j4 puderam notar. Nao s6 no aspecto fisico como também em todos os sentidos. Quando alguém comega um relacionamento, embarca em algo que lhe é estranho. O homem comega um relacionamento com a mulher e a mulher é um enigma para ele. Por outro lado, para a mulher, o homem é também um enigma. Alguns parceiros acreditam que sio perfeitos e 0 outro nao é ainda comple- tamente perfeito. Principalmente as mulheres consideram-se, via de regra, melho- res que os homens. Mas os homens siio igualmente bons, apenas sio diferentes. 30 4Q ‘You have either reached 3 page that is unavailable for viewing or reached your viewing lit for this book. Martin: “Eu a aceito agora como minha filha” A familia atual, incluindo a companheira anterior e uma filha abortada. BERT HELLINGER Vamos colocar diretamente a constelagio familiar atual. MARTIN Sim. BERT HELLINGER Qual a idade de seu filho? MARTIN Sete anos. BERT HELLINGER Um menino ou uma menina? MARTIN Um menino. BERT HELLINGER Vocé jd viu uma constelagio familiar? MARTIN Sim, ja vi num video. BERT HELLINGER Vocé escolhe agora entre os participantes deste grupo repre- sentantes para vocé, para sua companheira e para o seu filho. Depois pegue ca- da um deles pelos ombros ¢ posicione-os um em relag%o aos outros. Siga so- mente © seu sentimento interior, sem refletir. Depois a sua companheira podera também montar a constelagao. Observagées sobre o trabalho com Constelagées Familiares Martin escolhe entre os participantes do grupo representantes para si, para sua com- panheira e para seu filho de sete anos. Com equilibrio, ele posiciona essas pessoas umas em relagdo ds outras sem dizer nada. Os representantes também permanecem concentrados, sem dizer nada. Prestam atengdo aos efeitos que o lugar em que so posicionados provoca neles e comunicam isso mais tarde. Esses efeitos podem ser dra- maticos. Freqiientemente refletem de modo surpreendentemente exato o estado das pessoas representadas sem que os representantes as conhecam. 4Q ‘You have either reached 3 page that is unavailable for viewing or reached your viewing lit for this book. 4Q ‘You have either reached 3 page that is unavailable for viewing or reached your viewing lit for this book. 4Q ‘You have either reached 3 page that is unavailable for viewing or reached your viewing lit for this book. 4Q ‘You have either reached 3 page that is unavailable for viewing or reached your viewing lit for this book. Bert Hellinger escolhe uma representante para a filha abortada. Figura 4 @ By 3G = t'| FAb filha abortada BERT HELLINGER para a filha abortada Sente-se no chao em frente aos pais. Encoste-se em ambos. Concentre-se para poder perceber 0 que sente. depois de algum tempo Como se sente ai? FILHA ABORTADA Os pais nao me aceitam de verdade. Preciso tomar cuida- do para no cair para trés. Os pais no esto aqui! BERT HELLINGER para a mae da filha abortada Como é para voce? COMPANHEIRA ANTERIOR No comego queria it mais para perto do homem e abragé-lo. Quando a filha apareceu, pensei que ia chorar. A representante da mde da filha abortada chora, muito comovida. BERT HELLINGER Coloque uma mio sobre a cabega da filha. COMPANHEIRA ANTERIOR E uma dor muito grande. BERT HELLINGER Como é agora para o homem? HOMEM Agora preciso de certa distncia. Dé um pequeno passo para o lado Pre- ciso do contato com a filha abortada, mas também um pouco de distancia. BERT HELLINGER para o homem Coloque vocé também uma mio sobre a ca- bega da filha. para a filha abortada Feche os olhos. para a representante de Karola Como é agora para vocé? MULHER Estou sentindo um tremendo frio. Gostaria de puxar o filho para se- gurar-me em algo ou para aquecer-me. BERT HELLINGER Como é para o filho? 37 FILHO Também tenho uma relagio sé com a mae. BERT HELLINGER Coloque-se ao lado da mae, mas de tal forma que também possa ver o pai. Figura 5 e” Ez. BERT HELLINGER para o homem E agora, como é para vocé? HOMEM Aqui esta bem. FILHA ABORTADA Nao hd calor, mas tampouco me sinto rejeitada. Com a mae sinto-me um pouco insegura. BERT HELLINGER Como se sente com o pai? FILHA ABORTADA depois de tocar a mao do pai Sim. Hellinger pede a Martin e Karola, que acompanhavam sentados a constelagdo fami- liar, para ocuparem seus lugares. BERT HELLINGER para Martin Coloque uma das maos sobre a cabega da filha. Olhe para ela e concentre-se. Siga somente os seus sentimentos para entrar em contato. Por assim dizer, deixe que a filha o olhe. Entao diga a filha abortada: “Querida filha”. MARTIN Querida filha. BERT HELLINGER “Eu a aceito agora como minha filha.” MARTIN Eu a aceito agora como minha filha. BERT HELLINGER “Eu lhe dou um lugar em meu coragao.” MARTIN Eu lhe dou um lugar em meu coragao. BERT HELLINGER para a filha abortada Como se sente agora? A representante da filha abortada sacode a cabeca. 38 BERT HELLINGER Nao convenceu? FILHA ABORTADA Nao. BERT HELLINGER para Martin Eu interrompo aqui. Isso agora precisa atuar pri- meiro em vocé ¢ em Karola. Esta bem. Entao foi isso. Os parceiros ficam vinculados um ao outro através dos filhos abortados BERT HELLINGER para o grupo Se houve um relacionamento no qual foi gera- do um filho, os parceiros permanecem vinculados mesmo que esse filho tenha sido abortado. Por isso é diffcil comegar uma nova relagtio. Em primeiro lugar, o relacionamento anterior precisa ser dissolvido de maneira positiva. Para a solugao € preciso que o patceito seja respeitado. E que a dor da separagao seja respeitada. Da mesma forma a crianga abortada precisa ser respeitada. Que a dor e 0 luto por essa crianga sejam admitidos e que ela receba um lugar no coragio de seus pais. Pode demorar um certo tempo até que isso aflore. Quando aflora, po- de-se fazer a separacio com respeito. Entdo o homem pode dedicar-se 4 sua no- va mulher, mas deve-se continuar a respeitar a companheira anterior assim co- mo a crianga. para Martin e Karola Por assim dizer, fazem parte de sua familia. Também de sua familia atual. Deixei bem claro? para Martin Vocé quer dizer mais alguma coisa? MARTIN A verdade é que respeito essa mulher e ainda mantenho contato com ela. Karola ri. Eu sei que a histéria do aborto ainda est latente. Nao é que te- nha sido simplesmente esquecida. Essa mulher vive agora nos Estados Unidos, mas nos vemos de vez em quando e entao é sempre muito intenso. BERT HELLINGER Sim, esta bem. Essa é a primeira mulher. Um pouco mais tarde MARTIN Antes estava muito perturbado. Agora me acalmei. Sinto-me sereno e relaxado. E uma sensagdo agradavel, em contraposigao & anterior. Porque is- so me afetou e me tocou profundamente. BERT HELLINGER A sua fisionomia mudou. Martin sorzi e acena levemente com a cabega. BERT HELLINGER Esta nova fisionomia lhe cai bem. KAROLA Estou muito agitada, mas sinto-me muito bem aqui. BERT HELLINGER Esté bem, podemos continuar com a rodada. 39 A solucio se encontra na prépria alma MARGIT Muitas vezes, durante as constelagdes, tenho dores no ventre. Quan- do se trata da primeira mulher em uma constelagao sinto que poderia ser o meu tema, poder dar & primeira mulher de meu marido o lugar que lhe é de direito. DIETER O tema “primeira mulher” também me interessou bastante. Gostaria muito que a minha primeira mulher estivesse aqui, que ela visse ou participas- se pelo menos uma vez de um trabalho com constelagGes familares. BERT HELLINGER A solugao se encontra sempre na prépria alma. A primeira mulher néio precisa estar aqui. Mas se algo se modificar em vocé, entdo vocé te- ra uma outra imagem, Entao a veré de mancira totalmente diferente. Ela tam- bém se modificaré sem que vocé lhe diga nada. Isso 0 curioso nesses casos. DIETER J coloquei a situago uma vez num outro grupo. Isso jé modificou muita coisa. BERT HELLINGER Ainda no esta solucionado. DIETER Nao, nao esta solucionado. BERT HELLINGER Vocé ainda guarda rancor por ela. DIETER Isso é verdade. BERT HELLINGER Uma das razSes para o rancor pode ser sintetizada em uma bela frase. E a seguinte: “O que foi que eu lhe fiz para estar tio zangado com voce?” A transformacdo comega quando vemos que ferimos alguém e reconhe- cemos esse fato. Desse modo o parceiro € respeitado e fica reconciliado. Continuagdo de Margit e Dieter na pagina 94 Abortos em relacionamentos anteriores e como os novos parceiros podem lidar com isso Continuagao da pagina 31 BERT HELLINGER Alguém quer dizer mais alguma coisa? DETLEF Sinto uma ligagdo com a constelagao anterior. Houve quatro abortos em meus relacionamentos anteriores. Sinto que ainda ha algo que gostaria de libertar. Um dia depois SILVIA Para mim existe um tema com o meu parceiro que ainda se encontra em aberto. BERT HELLINGER Qual? SILVIA Detlef teve quatro abortos com companheiras anteriores. Como quere- mos ter filhos, tenho a seguinte sensagao: Para mim, filhos so algo absolutamen- te singular e para ele sdo coisas corriqueiras. Nao quero lhe atribuir isso, mas... BERT HELLINGER Vocé ja o fez. Acaba de faz SILVIA Nao, gostaria simplesmente de conservar este cardter singular para nds. BERT HELLINGER Gostaria de lhe dizer uma coisa. Filhos so, sem divida, 0 maximo, mas algo muito comum. 40 SILVIA. Isso é diffeil para mim. BERT HELLINGER Filhos sio “singularmente” comuns. Imagine as muitas gera- gdes de mulheres antes de vocé, Entre elas vocé é somente uma entre muitas. Silvia sorvi e assente com a cabega. DETLEF Desde ontem sinto um alfvio muito grande. Posso respirar bem mais livremente. Esse tema da Silvia também me ocupa, porque tenho a sensago de que esto me impondo algo. Por outro lado sinto o desejo de despedir-me desses filhos. BERT HELLINGER E impossfvel despedir-se deles. Vocé precisa incluf-los. para Silvia Vocé precisa deixé-los la onde devem estar, isto €, com seu marido e suas mulheres anteriores. Vocé nao deve imiscuir-se ai. Sendo vocé vai representar essas mulheres, e com isso vocé as rebaixa. De acordo? Ela assente com a cabega. Algumas horas mais tarde DETLEF Desde a pausa para 0 almogo sinto uma dor do lado esquerdo do pei- toe no brago esquerdo. BERT HELLINGER Vocé sabe qual é a minha imagem de sua dor no brago es- querdo e sua dor sob 0 coragiio? DETLEF Nao. BERT HELLINGER Vocé precisa colocar o brago esquerdo em redor de suas com- panheiras anteriores e dar-lhes um lugar em seu coragio, a elas e a todos os fi- Thos abortados. Detlef fica comovido e assente com a cabeca. Silvia: “Com vocé, sou mulher” A familia de origem, incluindo o parceiro de Silvia BERT HELLINGER Hé algum casal que tenha pressa em trabalhar? SILVIA E DETLEF Sim. BERT HELLINGER Do que se trata? SILVIA Queremos nos casar € sinto que surgem fortes medos. Medos do tipo: “Vou destruir este casamento. Vou embora”. Tenho grande dificuldade de assumir responsabilidades. Enquanto for solteira posso assumir as minhas responsabilidades. Mas quando se trata da responsa- bilidade por nds dois tenho a impresso de que no tem nada a ver comigo. 41

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