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A CONCEPGAO MARXIANA DE ALI ENACAO E A FRAGMENTAGAO POS-MODERNA. Aline Kipper Mestranda em Direito do CPGDIUFSC Sumiario: Introdugiio. 1. Caracterizagao da alicnagao na modernidade. 1.1. A alienagdo em Rousseau e Hegel. 1.2. A alienagdo marxiana 1.2.1, Alienagdo como falta de auto-realizagao e falta de autono- mia. 1.2.2. A divisdo do trabalho co fetichismo da mercadoria. fragmentagao pos-moderna. 2.1. Conceituando 0 pds-modernis- mo. 2.2. A fragmentagao do sujeito. Consideragées finais. Referén- cias bibliograficas. Introducio Parece ser consenso no mundo neoliberal globalizado considerar a morte de categorias marxianas em virtude de alguns acontecimentos verificados no final da década de oitenta, como a queda do muro de Berlim ea derrocada dos regimes comunistas do leste europeu. O conceito de alienagiio, inclusive, nao foge a regra. Torna-se pertinente, assim, analisar - ainda que através de breves considera- ges - a atualidade da alienaciio marxiana (¢ seus antecessores), contrariamente ao pretenso pensamento hegem@nico pds-moderno, que insiste em dizer gue Marx mor- reu, Cabe aqui perguntar a que(m) serve este quadro apresentado e em que medidaa fragmentagao pos-moderna tem relagdo com a alienagao marxiana. Nao resta dtivida de que muitos dos pressupostos vislumbrados por Marx ainda hoje persistem, como acrescente desigualdade social ocasionada pelo acirramento do capitalismo; aalienagao, conseqiientemente, continuaa existir, como dependéncia c falta de autonomia, mesmo que de uma certa forma assuma nova identidade num mundo chamado pés-moderno. 1.Caracterizagao da alicnagéo na modernidade O uso corrente do termo designa - de forma genérica - uma siluagaio de perda da propria identidade individual ou coletiva, relacionada com uma situagao negativa de dependéncia e de falta de autonomia.' A par desse sentido usual, o conceito de alienagdo comporta plurissignificados, assim como a maioria de termos que apresentam complexidade semantica. Das varias formas de alienagiio pode-se conceber, por exemplo, aalienagio dos trabalhadores, na medida em que executam tarefas despersonalizadas ¢ sem ter nenhum poder nas deci- ses fuundamentais ea alienagao das massas através da manipulagaio dos meios de comu- nicagdio de massa e da publicidade.? Deve-se, portanto, delimita-la situando-a na cultura moderna, sobretudo fazendo referéncias ds nogdes de Rousseau e Marx. De fato, na época moderna foram os tedricos do contratualismo que mais traba- Iharam com essa categoria, especialmente Rousseau, em “O Contrato Social”? E, anteriormente a Marx, foram os fildsofos Hegel e Feuerbach que desenvolveram a no- cao de alienagao. 1.1. A alienagao em Rousseau e Hegel 1.1.1. A alienagio em Rousseau Rousseau pode ser considerado, sob certos aspectos, como precursor de Marx, ja que teria adiantado alguns conccitos da teoria marxiana, como odealienagao:' * “Rousseau registra a presenga na ‘sociedade civil’ de fendmenos que, mais tarde, Marx ira designar com o nome de ‘alienagao’: as objetivagdes criadas pelos homens sociais reciprocamente dependen- tes nado mais sdo apropriadas de modo auténomo pelos seus criadores, produzindo-se assim um antagonismo entre a esséncia social-objetiva ' De acordo com o verbete alienagao elaborado por Cesare Pianciola in “BOBBIO, Norberto et al. Diciondrio de Politica. Brasilia: Editora Universidade de Brasilia, 10° ed., 1997. * Idem, 5“(...) a propria idéia do Contrato Social pode ser vista como uma tentativa de fazer progressos no sentido da desalienagao (conseguir maior liberdade, ou pelo menos maior seguranga), por meio de uma alienagao parcial deliberada.” Cf. verbete alienagdo in“BOTTOMORE, Tom (org.). Di io do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 1988.” * De acordo com Carlos Nelson Coutinho, Rousseau teria antecipado alguns conceitos do materialismo historico, como a articulagao dialética entre propriedade privada, divisdo do traba- Iho e alienago e, ainda, o vinculo entre o desenvolvimento das forgas produtivas e a gestagao de diferentes modos de produgio e de formagao sociais. (COUTINHO, Carlos Nelson. Critica e Utopia em Rousseau. /: Lua Nova. Sio Paulo: Cedec, n° 38, 1996, pp. 15-16) * De acordo com Mészaros, ha muitos poucos filésofos antes de Marx que possam ser compa- rados a Rousseau, em matéria de realismo social. (MESZAROS, Istvan. Marx: a teoria da alienagao. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1981, p. 49) da humanidade ¢ a existéncia singular de cada individuo. (...) E esse antagonismo entre a independéncia (do homem natural) e a depen- déncia (do homem da ‘sociedade civil’) - questdo central no pens: mento de Jean-Jacques - que 0 aproxima estreitamente da problema- tica marxiana da alienagao. Na verdade, o que Rousseau critica nado é tanto o fato de que os homens dependam uns dos outros para satisfa- zer seus carecimentos, mas sim 0 modo peculiar pelo qual se dependéncia, ou seja, nos quadros da propriedade privada e da divi do trabalho. Isso, segundo ele, leva 4 perda da autonomia ¢, por con- seguinte, da independéncia ¢ da liberdade dos individuos.” ® 7 A essa Para Rousseau, o homem nao pode alienar a sua liberdade, vendendo-se a si mesmo, porque isso significa transformar a pessoa humana num mercenario; ele con- sidera, assim, a riqueza uma das responsaveis pelo fendmeno da alienagao.$ Assim como Marx, Rousseau faz uma critica contundente a sociedade burguesa de seu tem- po, no caso, a sociedade mercantil, considerada a emergente sociedade capitalista. Tal critica se deve ao fato desta sociedade apresentar grandes desigualdades sociais. Rousseau afirma que entre as causas da desigualdade estaria justamente a alienacdo, ou seja, a perda da autonomia e conseqiientemente a liberdade ¢ inde- s consistiriam no nascimento da proprie- pendéncia dos individuos. As outras caus dade privada’ e no surgimento e intensificagdo da divisdo do trabalho.!” Na verdade, poderiam existir duas espécies de “contrato”, tendo em vista o pensamento de Rousseau: 0 contrato iniquo, que seria o da sociedade da época, onde ele vislumbrava a desigualdade social ¢, portanto, a existéncia de alienagao; ¢ um pacto legitimo, que seria considerado a utopia democratica ¢ condizente coma autonomia.'' Desta forma, Rousseau contrapée duas situagdes: a sociedade existente dadesigualdade e alienagao e a sociedade ideal da igualdade e autonomia, justamente “ COUTINHO, Carlos Nelson, op. cit., pp.14-15 7S(...)a oposigiio estabelecida por Rousseau entre o homem natural (...) € 0 homem social (...) poderia ser comparada com a oposi¢ao entre o homem nao-alienado ¢ o homem auto-alienado, © 0 projeto rousseauniano de superagdo da contradigao entre a volonté générale ea volonté particuliéré pode ser considerado como um programa para a aboli¢ao da alicnagao.” Tom Bottomore, op. cit., p. 5. * MESZAROS, Istvan, op. cit., p. 53. ”“O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lIembrou-se de dizer isto ¢ meu ¢ encontrou pessoas suficientemente simplorias para acreditar nele.” ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a Origem ¢ os Fundamentos da Desigualda- de entre os Homens. Sao Paulo: Atica, 1989, “Cf Carlos Nelson Coutinho, op. cit., p. 14, “Idem. p. 6 por relacionar aalienagao com desigualdade social. Em uma passagem bastante significativa, Rousseau se refere a uma socieda- de em que nao haveria -pode-se dizer - a “alienagdo da forga de trabalho”, ou seja, uma sociedade livre e sem desigualdades: “que nenhuin cidaddo seja assaz opu- lento para poder comprar o outro, ¢ nentiun assaz pobre para ser obrigado a vender-se."? A liberdade do ser humano para Rousseau, ent&o, consistiria em nao ser alienado mas ser auténomo. Esta desigualdade constatada por Rousseau na sociedade de sua época, entre ricos e pobres, mesmo sem uma nogao precisa de classe social, de uma ceria forma antecipa mais um conceito que iria ser desenvolvido por Marx ode queo poder politico, numa sociedade antagonica, dividida em classes, assume ne- cessariamente tragos opressivos, precisamente na medida em que representa os interesses de uma classe minoritéria mas economicamente dominante.’ Contudo, apesar de Rousseau atentar para o problema da aliena¢ao, capaz de identificar as suas causas, segundo Istvan Més : TOS: “Rousseau se opde no ao poder alienante do dinheiro e da proprieda- de, mas a um modo particular desse poder se exercer, na forma de concentragao da riqueza, ¢ a tudo aquilo que decorre da mobilidade social produzida pelo dinamismo do capital em expansido e em con- centracdo. Ele rejeita os efeitos, mas da todo o apoio, mesmo incons- cientemente, as causas”.'" Desta forma, pelo fato de Rousseau nao atacar eletivamente as causas da alienagao, nado questionando suas premissas basicas, como a propricdade privada e ariqueza, so restaria a ele, entdo, o apelo moralizante, educacional, aos individuos, através de um discurso moral radical. '7 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. Sdo Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 60. "Como bem observa Macpherson, ‘a referencia [de Rousseau] a comprar ¢ vender pessoas manifestamente nao diz respeito a escravidao. porque esse principio ¢ enunciado como norma permanente para os cidadaos, isto é, homens livres; presumivelmente, entdo, trata-se de uma proibigéio de compra e venda de mao-de obra assalariada livre.’ (...) Trata-se, assim, da proibigao de uma relagao social que esta na base do capitalismo.” (Carlos Nelson Coutinho, op. cit., p. 17.) “Idem, p. 19. 'S8(_.)a vistio de Rousseau quanto aos miltiplos problemas da alienagao ¢ desumani mais aguda do que a de qualquer outro, antes de Ma seu entendimento das causas da alienagao.” MESZ. "Idem, p. $7. "Ibidem, p. 58. 'S“Marx, cuja propria teoria de historia e conceitos de propriedade, ideologia ¢ alienagao asse- ‘aio € <. O mesmo nao se pode dizer, porém, de ROS, Istvan, op. cit. p. 54. Os objetivos de dentincia da desigualdade social e desmascaramento da impostura politica so parte de um posicionamento de radicalismo ético, que Rousseau assume explicitamente, para revelar a tensao existente entre as liberdades civis con- quistadas sob o liberalismo, de um lado, ea opressao, a injustiga ea violéncia que, por outro lado, uns exercem sobre os outros nesta mesma sociedade, com 0 apoio do Estado.” 1.1.2. A alicnagéo em Hegel Conforme ja referido, antes ainda de ter sido desenvolvida como um con- ceito revolucionario por Marx, aalicnagdo foi também objeto de estudo principal- mente de Hegel e Feuerbach. A critica moralizante da alienagao € plenamente superada em Hegel, segun- do Istvan Mészéros” , por ter abordado a questiio da superagao da alienagao nao como um problema de dever moral, mas como uma necessidade imanente. A alie- nacdo consistia na dissociacao radical da individualidade ao mesmo tempo em coisa e em ator - num sujeito que procura controlar seu destino ¢ um objeto que é mani- pulado pelos outros.! Entretanto, para Leandro Konder, Hegel nao enfrentou a questao que, para Marx, foi fundamental: por que o trabalho teria se tornado estranho ao trabalhador; de onde se originaria esse estranhamento, essa alienagéio? Em suma, “por que 0 trabalho, de atividade intrinsicamente criativa que foi em sua origem, possibilitando 0 tornar-se humano do homem, chegoua se transformar nessa realidade sufocante e opressora que conhecemos hoje? melham-se surpreendentemente a opinides de Rousseu, nao se sentia muito atraido por elas, em grande parte por acreditar que elas tinham sido concebidas numa revolugao meramente burgue- sa que ainda teria de ser substituida pelo comunismo. Mas 0s pensadores marxistas que lamen- tam aauséncia de uma nitida filosofia moral no socialismo cientifico tém se voltado com freqiiéneia para a inspiragao do pensamento politico de Rousseau. Da mesma forma, os radicais com outras conviegbes ¢ os liberais também; igualmente os nacionalistas ¢ os defensores da participagao democratica, e mesmo os anarquistas, impressionados com o conceito de Rousseau quanto 4 autonomia, se nao quanto a soberania. Embora ele acreditasse que a nossa ética fosse moldada pela politica, nenhum outro escritor antes ou desde ent&o imaginou uma teoria politica mais apaixonadamente estruturada pela conviccao moral.” Wokler, Robert. Jean-Jacques Rousseau: a decadéncia moral ea busca da liberdade. /m: Redhead, Brian (introd.). O pensamento politico de Plato 4 OTAN . Rio de Janeiro: Imago Ed., 1989, p. 137. ” PORTES, Luiz Roberto Salinas. Rousseau: da Teo! Pratica. Sao Paulo: Atica, 1976, p. 30. 2” MESZAROS, Istvan, op. cit., pp.59-60. > Cf. Daniel Bell, O fim da ideologia, p.289. ~ Cf. KONDER, Leandro. O futuro da filosofia da praxis: 0 pensamento de Marx no século XX1 Rio de Janeiro: Paze Terra, 1992, p.109. Desta forma, ao localizar a alienagado do homem no trabalho, Marx teria ¢ado um passo revolucionatio, firmando a filosofia na atividade humana concreta.”* “Na organizagao do trabalho, que o transformava em mercadoria, 0 homem se tornava um objeto, usado pelos outros ¢ incapaz de obter satisfacdo com a sua propria atividade. Tornando-se uma mercadoria, perdia o sentido de identidade, a percepgao de si mesmo como indivi- duo”. 1.2. A alienagao em Marx Na teoria marxiana um dos conceitos mais significe cura explicar a relacaio de opres ttivos existentes, que pro- io ¢ exploraciio da classe trabalhadora, é exatamente o de alienagio. A alienagao ¢ S la por Marx como um dos defeitos do capitalismo e, portanto, uma das razées para aboli-lo ¢ implementar o comunismo onde, entao, ela nao existiria. Marx a designa como agao (ou estado) pela qual um individuo, grupo, insti- tuig¢&o ou ainda uma sociedade inteira se tornam (ou permanecem) alheios, estranhos, alienados aos resultados ou produtos de sua propria atividade (¢ a atividade ela mes- ma), e/oua natureza na qual vivem, e/ou a outros seres humanos e, por isso mesmo, também a si mesmos, em relagao as suas possibilidades humanas (auto-alienagao).°> “A alienagdo aparece tanto no fato de que mew meio de vida é de oulro, que meu desejo € a posse inacessivel de outro, como no fato de que cada coisa ¢ outra que ela me: ma, que minha atividade é outra coisa, & que, finalmente (¢ isto 6 valido também para o capita- lista), domina em geral o poder desumano”.** fantastico que Marx tenha tomado um conceito no qual a filosofia alema via um fato ontolégico e Ihe tenha atribuido um conccito social. Do ponto de vista ontologico, o homem nao pode deixar de aceitar a alienagdo; mas como fato social, vinculado a um sistema especifico de relag6es historicas, a alienagdo pode ser remediada mediante a transformagao do sistema social.” Cf. Daniel Bell, p.291 = Idem, pp. 290-291. Cf. Tom Bottomore, op. cit., p. 5. “Assim concebida, a alienagao & sempre alienagio de si préprio ou auto-alicnagio, isto ¢, alienagio do homem (ou de seu ser proprio) em relagao a si ‘mesmo (as suas possibilidades humanas), através dele proprio (pela sua propria atividade). Ea Alienagdo de si mesmo nao ¢ apenas uma entre outras formas de alienagdo, mas a sua propria esséneia ¢ estrutura basica”. ~ MARX, Karl. Manuscritos Econdmico-Filoséficos. Sido Paulo: Abril Cultural, col. Os pensa- s,2°ed., 1978, p. 22 1.2.1. Alienagiio como falta de auto-realizagao ¢ falta de autonomia De acordo com Elster. a falta de auto-realizagao é uma das principais for- mas de alienagaio.” E proprio do si stema capitalista insuflar desejos que s6 podem ser realizados por uma parcela muito pequena da populagao, sendo negada a maio- ria as oportunidades para tanto. Somente no comunismo, como pensava Marx, & que todos teriam oportunidades iguais e possibilidades de se auto-realizarem. Outra forma de alienagdo seria a falta de autonomia, 0 que ocorre em gran- de escala no sistema capitalista. Aparentemente as pessoas agem livremente neste sistema, que proporciona liberdade de escolha aos individuos, Porém, Marx afirma- va que no capitalismo esta liberdade de escolha era distorcida e subvertida e que, portanto, os individuos nao tinham realmente autonomia” , nao controlando suas emogées ¢ nem as suas causas ¢ conseqtiéncias (0 que seria possivel somente no comunismo). 1.2.2. A divis 4io do trabatho ¢ o fetichismo da mercadoria Marx concebia aalienagaio como resultante da divisdo do trabalho” , diver- samente de uma concep¢io moral, rcligiosa ou abstrata, que anteriormente predo- (...) A alienagao pode ser descrita em termos amplos como falta de percepeaio de significado. Como tal, ela nado implica uma percepgao de falta ignificado. E apenas esta tltima poderia criar uma motivagao para a agdo. Consideremos a falta de auto-realizagao uma das principais formas de alienagao. Se tomar a forma de um desejo nao salisfeito de auto-realizagdo, pode motivar as pessoas a criarem uma sociedade em que esse desejo possa ser satisfeito, supondo: que acreditem tal sociedade possivel. Se, porém, as pessoas nem ao menos tém o desejo, o fato de que este poderia ser satisfeito em uma organizagdo social alternativa carece de poder explicativo.” ELSTER, Jon. Marx hoje. Rio de Janciro: Paz. Terra, 1989. p. 56-7. “Auto-realizagdo, no sentido de Marx, pode ser definida como a plena ¢ livre atualizagiio ¢ externalizacdo dos poderes ¢ capacidades do individuo.” Idem, p. 58. * Ibidem. pp. 64-65. "De um lado, a formagiio dos desejos ocorre num proceso que o individuo nao compreende ¢ com o qual niio se identifica. Com freqiiéncia seus proprios desejos Ihe aparecem como poderes alhcios, ¢ nao proprios ¢ livres. De outro, a realizagaio dos desejos & também freqiientemente frustrada por falta de coordenagao ¢ planejamento. O resultado agre- gado das ages individuais aparece como uma forga independente e mesmo hostil, ¢ no como buscada livre e conjuntamente. *C_.) Em Manuscritos econdmico-filoséficos de 1844 (...) [Marx] investia contra a sociedade burguesa, acusando-a de aprofundar 0 fosso do pela propriedade privada entre 0 sujeito humano criador ¢ a realidade objetiva por ele criada. A dilaceragdo da comunidade humana, decorrente da competigéio desenfreada dos homens em torno das vantagens da apropriagio privada das riquezas, impedia os sujeitos de se reconhecerem universalmente na histéria que minava através do desenvolvimento das teorias de Rousseau, Feuerbach e Hegel. “A divisao do trabalho ¢ a expresso econdmica do carater social do trabalho no interior da alienagao. Ou, posto que o trabalho nao ¢ senio uma expr . da exteriorizagao da vida como alienagao da vida, assim também a divi- sao do trabalho nada mais ¢ do que o pér alienado, alheado da atividade humana enquanto atividade genérica real ou como atividade do homem 9 da atividade humana no interior da aliena enquanto ser genérico”."' Aalienagao, assim, deriva da divisio social do trabalho, da propriedade pri- vada, De acordo com Leandro Konder, a distorgao ideolégica mais perversa do modo de producao capitalista é alcangada através da redugao desta forga humana de traba- Iho amercadoria.” A sociedade capitalista tende a transformar tudo em mercadoria e, ent&o, 0S sujeitos acabam desaparecendo por tris dos objetos. Este fendmeno foi chama- do por Lukacs de coisificagaio (ou reificagio).* Desta forma, concebida inicialmente por Ma qual o individuo perdia a capacidade de expr sava a ser vista como explor: ulho.™! como um processo pelo sar-se no trabalho, a alienagao pas: 0 - a apropriacio pelo capitalista da mais-valia do faziam. As criagdes humanas apareciam diante de seus criadores como realidades ‘estranhas* (...), ameacadoras. Em tais circunstancias, d divisdio externa da sociedade nao poderia deixar de corresponder uma certa divisao interior nos homens.” Cf. Leandro Konder, p. 31-32 " Marx, Karl., op. cit., p.24 = Cf. Leandro Konder, pp. 109-110 » Idem, pp. 89-90. O redescobrimento contemporanco da idéia de alienagaio no pensamento marxista se deve a Lukes. “Por meio de sua andlise da coisificagdo, Lukacs redescobriu (ou recriou) elementos fundamentais de Marx a respeito da ‘alicnagdo’ (ou ‘estranhamento’). (...) Baseando-se numa leitura acentuadamente pessoal de O capital, ¢ partindo da teoria do “fetichismo da mercadoria’, Lukdcs observou que, com a redugao da forga humana de trabalho 4 condigao de mercadoria, a objetividade do mercado impunha aos trabalhadores uma raciona- lizagao ditada por uma ‘razao instrumental’, que desqualificava a subjetividade dos homens.” “ Cf. Daniel Bell, p. 292. “(..) O trabalho alienado produzia uma dupla perda: do controle sobre as condigdes do seu trabalho, e do produto do trabalho. (...) a perda de controle do trabalho representava uma desumanizagdo, ocasionada pela divisio do trabalho e¢ intensificada pela tecnologia: a perda do produto, uma exploragdo, ja que uma parte do que era produzido pelo trabalhador (a mais-valia) era expropriada pelo empregador. (...) No capitulo mais importante do Capital, sobre *fetichismo da mereadoria’, Marx expés 0 processo de exploragao capitalista, mostrando que embora os trabalhadores se sentissem formalmente livres, no complicado pro- cesso de troca perdiam mais-valia do que produziam. A solugdo, portanto, era simples: abolida a propriedade privada, desapareceria a exploragao.” (p. 295-6) 2. A fragmentagao pos-moderna Com 0 surgimento de um “novo” paradigma, o pds-modernismo, quer-se renegar a heranga iluminista caracteristica da modernidade: trata-se da emergéncia ¢ defesa de irracionalismos, de um mundo fragmentado e de um relativismo total, caracterizando uma visdo extremamente pessimista. Esta visdio pessimista e defensora de uma fragmentagao e relativismo abso- luto impede uma posi¢ao de transformagao da realidade social, j4 que ocasiona a idéia de que nada o que se faga adiantara, pois todas as teorias teriam 0 mesmo valor e, portanto, nao faria diferenga a escolha de qualquer uma delas. Como con- seqtiéncia, tem-se o imobilismo ¢ o conformismo, Quer-se dizer coma fragmentagio do sujeito que nao existe mais um sujeito uno ¢ plenamente identificavel; 0 sujeito nado se enquadra to-somente em uma classe so- cial, mas ele pode se identificar, por exemplo, com as questdes de género e etnia. Desta forma, as reivindicagdes dos sujcilos se diluem em cada categoria em que se encontram situados. 2.1. Conceituando o pés-modernismo** O pos-modernismo é um termo muito amplo, complexo ¢ ambiguo. Dai a dificuldade de situa-lo adequadamente. Dentro da teoria maior da pos-modernidade existem multiplas outras teorias, tendéncias, posicionamentos. Contudo, verifica-se que a maior parte das teorias pés-modernistas tem um viés conservador, que pre- tende manter 0 sfafu quo. Nao ha anecessidade de se criticar a modernidade e nem a pés-modernidade em sua totalidade. Certas criticas em relagdo aalguns de seus pressupostos tém procedéncia, outras nao. Talvez se possa criticar o discurso em si, posto que este adquiriu uma conotagdo ja de dominio do senso comum. Nao se pode negar, no entanto, que alguns objetivos e conseqtiéncias sido funestos, como no caso da critica as metanarrativas no sentido de se invalidar um projeto socialista: do niilismo ao pretender uma passividade da sociedade -ja que nada mais faria sentido e nao se teria pelo que lutar, pois nada poderia mudar - ¢ em relagéio a fragmentagiio do sujeito como forma de reforgar a alienacao. De qualquer forma, em linhas gerais, pode-se dizer, segundo as palavras de gleton, que a % Aqui esta se usando indistintamente os termos pés-modernismo, p6s-modernidade e pos- modernizagio Pos-modernidade & uma linha de pensamento que qu icas de verdade, a idéia de progresso ou emancipagao universal, os sistemas tinicos, as grandes narrativas ou os fundamentos definitivos de explicagio. Contrariando essas normas do iluminismo, vé 6 mundo como contingente, gratuito, diverso, instavel, imprevisivel, um conjunto de culturas ou interpretagdes desunificadas ge- rando um certo grau de ceticismo em relagao a objetividade da verdade, da historia das normas, cm relagao as idiossiner dades. Essa maneira de ver, ms- tancias coneretas: ela emerge da mudanga historica ocorrida no Ocidente para uma nova forma de capitalismo - para o mundo efémero e descentra- lizado da tecnologia, do consumismo ¢ da indiistria cultural, no qual trias de serv ona tiona as nog! Wo, identidade e objetividade, as ca coeréncia de identi- no sustentam alguns, baseia-se em c! s indlis- finangas e informagao triunfam sobre a produgiio tradici- a politica tradicional de classes cede terreno a uma série diftisa de *politicas de identidade””™.” 2.2. A fragmentagio do sujeito Haveria no mundo pés-moderno uma crise de identidade do sujeito. Jao homem da sociedade moderna tinha uma identidade bem definida e localizada no mundo social ¢ cultural, Ocorreu, assim, uma multiplicidade do sujcito, um esgota- mento do sujeito politico: os agentes sociais so hoje varias coisas ao mesmo tem- po. Eo que se denomina de descentramento do sujeito e de fragmentagao. Entende-se, entao, que categorias como classe social, hierarquia piramidal, o sindicato como representagaio dos trabalhadores, 0 partido politico como meio de representagao, a figura do Estado-Nagao. ‘Jo categorias do entendimento social ul- trapassadas. Hoje fala-se em transversalidade: espaco social complexe, posi¢des que As vezes se superpdem umias as outras. Pode-se exemplificar essa nova situagao com amultiplicidade de fungées do sujeito no caso de uma mulher negra e operaria (género -raca - classe). No mundo do fragmento, assim, ¢ preciso aprender a totalizar. Uma das tarefas basicas hoje é discernir as formas de nossa insergAo como individuos em um conjunto multidimensional de realidades percebidas como radicalmente descontinuas.”” * Estas teorias da fragmentagdo pés-moderna acabam, na verdade, por re- “ EAGLETON, Terry. As ilusdes do pos-modernismo. Rio de ahar, 1998, p.7 " Deacordo com Terry Fagleton, “no pés-modernismo, a idéia de um sujeito humano unificado janciro: forgar a alienacito do sujeito. Diz-se que com a fragmentagao do sujeito nao é pos- rioum sivel conceber a alicnacao no sentido marxista, ja que para tanto é nece: sujeito uno, coeso, inteiramente identificado com uma classe social. Entretanto, esta “substituigaio” da alienagao pela fragmentagao sé reforga a nogao de que seja prati- camente impossivel que a luta por um Juturo melhor tenha resultado favoravel.” “Ja ndo podemos conceber o individuo alicnado no sentido maryista classico, porque ser alienado pressupde um sentido de eu coerente, ¢ nao-fragmentado, do qual se alicnar. Somente em termos de um tal sentido centrado de identidade pessoal podem os individuos se dedicar a projetos que se estendem no tempo.ou pensar de modo coeso sobre aprodugao de um futuro significativamente melhor do que o tempo presente e passado. O modernismo dedicava-se muito 4 busca de futuros melhores, mesmo que a [rustragao perpétua desse alvo levas- se d parandia. Mas 0 pos-modernismo tipicamente descarta essa pos- sibilidade ao concentrar-se nas circunstancias esquizolrénicas induzidas pela fragmentagao e por todas as instabilidades (inclusive as lingiiisticas) que nos impedem até mesmo de representar coerente- mente, para nao falar de conceber estratégias para produzir, algum o bastante para entabular uma acao significativamente transformadora poderia implodir pouco a pouco, junto com a fé, no conhecimento que costumanos tomar por certo. Em vez disso, teceriamos exaltagGes ao sujeito esquizdide, baguncado, cuja capacidade de amarrar os prépri- 08 sapatos, sem falar na de derrubar a situagao politica vigente, permaneceria uma inedgnita” s“Para Foucault, ndio ha poder centralizador ¢ localizavel, assim como nao existem ideologias tangiveis. (...) Com isso, Foucault inaugurou um outro tipo de estratégia analitica que abandona o suporte das metateorias, numa rejeigdo deliberada a qualquer concepgao holistica do capita- lismo. Depois de Foucault, essa tendéncia foi se acentuando, tendo se exacerbado com a chega- da dos teéricos da condi¢do pos-moderna. As racteristicas mais nilidas que esses tedricos tém colocado em evidéncia como definidoras dessa condigdo esto principalmente na pulveri- zagdo das metanarrativas ¢ na explosao da cultura em todos os aspectos da vida, implicando a estetizagdo dos dominios social, politico e econémico.Entretanto, o tiro da estratégia foucaultiana acabou saindo pela culatra. Quando a légica dissipativa das redes dispersas do micropoder & levada as tltimas conseqiiéncias, cla acaba por dissolver 0 poder numa uniformidade indiferenciada que o neutraliza por inteiro. Essa é a tese defendida por Baudrillard (...).Ora, essa exacerbacao de Baudrillard apenas evidence Estado, ideolog ja que, quando a rentncia a conccitos como classe, é levada as tiltimas conseqiiéncias, 0 fcitigo analitico se vira contra o f ei ro, pois. ao anular todas as diferenciagdes da vida coletiva que se vé transformada em ficgdo, 0 analista ¢ posto a servigo da propria mistificagdo que visava denunciar.” SANTAELLA, Licia. Produgio de linguagem ¢ ldeologia. Sio Paulo: Cortez, 1996, pp. 322-3-4. A modernidade propds uma dupla possibilidade para a humanidade. Por uma delas, a realiza- cio da razio seria o desenvolvimento universal para um sistema social que concretizasse 0 futuro radicalmente diferente. O modernismo, com efeito, nao deixa- va de ter scts momentos esquizdides - em particular ao tentar combi- nar o mito com a modernidade herdica -, havendo uma significativa historia de ‘deformagao da raziio’ ¢ de *modernismos reacionarios’ para sugerir que a circunstancia esquizofréncia, embora dominada na maio- ria das vezes, sempre estava latente no movimento modernista. Nao obstante, ha boas razdes para acreditar que a ‘alienagdo do sujeito é deslocada pela fragmentagao do sujeito’ na estética pos-moderna (...) Se, como insistia Marx, 0 individuo alienado é necessario para se buscar 9 projeto iluminista com uma tenacidade ¢ coeréncia suficientes p: nos trazer algum futuro melhor, a perda do sujeito alienado pareceria impedir a construgao consciente de futuros sociais alternativo: Consideragées fin Em fins do século XX comegou a se formar um novo senso comum - inclu- sive em setores da chamada “esquerda” - de que o marxismo nao teria mais condi- ces de se contrapor ao capitalismo, especialmente em sua mais “nova” modalida- de, o neoliberalismo. O principal argumento que orienta este posicionamento praticamente unani- me no cendrio mundial ¢ a derrocada dos regimes comunistas queda do muro de Berlim, considcrados exemplos his do leste europeuca téricos e determinantes da impossibilidade da implementagaio com sucesso dos pressupostos da teoria marxis ta. Foi inclusive com este discurso que passou-se a alardear o fim da historia, primei- ramente com Fukuyama - um expoente do ncoliberalismo, ao considerar a vitoria irreversivel do mercado ¢ da demoeracia liberal. Ora, na verdade trata-se de uma falsa identificagdo do marxismo com os sistemas do chamado “socialismo real” do leste europeu. Esta situagao historica é apenas um exemplo para ilustrar a utilizagdo de um discurso comensurador neoliberal, ou seja, com 0 objetivo de se convencer da possibilidade de existéncia de um tinico paradigma, 0 neoliberal globalizante. Faz parte deste discurso ¢ desta pratica politica, assim, procurar enfraque- principio da *igualdade formal’, através da crescente redugdio das desigualdades reais no mun= do moderno. Tal nfo aconteceu. Ao contririo, o que ocorreu foi a pos-modernidade aprofundar a irracionalidade, aumentar as diferencas sociais e consolidar relagdes cada vez mais aliena- das.” STRECK, Lenio Luis. Hermenéutica Juridica e(m) crise. Uma exploragao hermenéuti da construgio do Direito, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999, p.20 ” CL HARVEY, David, Condigiio pés-moderna, Sio Paulo: Loyola, 1994. cer as lutas de classes, ao propagar a abolicdo de categorias ma estariam inevitavelmente ultrapassadas. Com as teorias pos-modernistas quer que se acredite que nao mais seja possivel estabelecer projetos futuros, que visem a alternativas sociais, tendo em vista a recusa de todo e qualquer projeto ou metanarrativa. Entretanto, o resultado deste discurso nada mais é do que o fortaleci- mento de uma grande teoria ¢ sistema: 0 capitalismo. Desta forma, a desigual- dade social ainda é uma realidade bem presente no mundo pds-moderno, prin- cipalmente nos paises periféricos. Sendo assim, categorias como classe social ¢ luta de classes apresentam uma grande atualidade, contrariamente ao discurso pos-moderno; a fragmentagao do su- Jjeito,em contraposigao a um sujeito uno e plenamente identificado, serve apenas para enfraquecer a sua luta contra as injustigas sociais ¢ redobrar a alienagao. Rousseau é considerado atual no momento em que se refere a perda da autonomiae liberdade dos individuos em fungao de sua dependéncia em uma reali- dade de divisao do trabalho ¢ da propriedade privada. Enquanto continuar existindo grandes desigualdades sociais - 0 que Rousseau denunciou tao propriamente - a luta de classes ainda tem necessidade de perdurar; sem contar que 0 capitalismo apenas assumiu uma nova roupagem, modificando um pouco o discurso para reforgar a exploracdo e opressio."! A maioria das categorias mar ofreu, de uma certa maneira, uma com- plexidade maior com as mudangas politico-sociais que vém ocorrendo desde en- tio.” Apesar disso, muitos pressupostos de Marx ainda hoje tém grande xianas, pois elas ja jana “0 capitalismo € um sistema onde ‘o processo de produgaio domina os homens, ¢ nao os homens 0 processo de produgdo’: € um modo de produgdo onde *o trabalhador nao existe seniio para as necessidades de valorizagao da riqueza dada, ¢ nao, pelo contrario, a riqueza objetiva para as necessidades de desenvolvimento do trabalhador. (...) Marx mostra como o comportamento atomistico dos homens na economia mercantil tem como resultado necessario a forma ‘alicnada’ (...), ‘autonoma’ (...) ¢ independente de sua agdio consciente que tomam as relagdes sociais de produgao, os meios de produgio ¢ os produtos em geral: gragas a anarquia do mercado capitalista, 0 movimento social dos homens toma a forma de um movimento de coisas, que controla os homens em vez de ser controlado por cles.” LOWY, Michael. Método Dialético ¢ Teoria Politica. Rio de Janeiro: Paz.c Terra, 1989, p. 68. ) Srour construiu uma metateoria que, sem abandonar a tradic¢do marxista, fez avangos tio siderdveis na sofisticagdio dos conceitos que eles parecem dar conta da hipercomplexidade que caracteriza as relagées sociais nas sociedades contemporaneas. Partindo da divisao triadica das formagdes societarias nas dimensdes do econdmico, politico e cultural, ele nao restringe a nogao de modo de produgao apenas ao econdmico, abrangendo com cla também o politico e cultural, conce- bidos, tanto quanto 0 ccondmico, como relagdes em que agentes coletivos se confrontam mediados por instrumentos de trabalho particulares. Quer dizer, nfio hi relagdes de trabalho apenas no nivel econdmico, mas também no nivel politico ¢ cultural.” Santaella, Lticia. op. cit., p. 3 con dade , mesmo que precisem ser melhor adaptadas a nossa realidade atual; 10 exemplo, podemos entender a sua nogao de alienagao, pela qual o individuo torna alienado, estranho aos resultados de sua atividade e em relacdo as suas bilidades humanas, como auto-alienagao. Como aalienacao e a exploragao dos trabalhadores estariam intimamente relacionadas com 0 sistema capitalista" , segundo a teoria marxista, estes fendme- nos nao teriam como ocorrer no modo de producao socialista.* De qualquer for- ma. cada vez mais se torna presente o fenédmeno da alienagao, seja em seu aspecto politico, econdmico ou cultural, o que torna ainda mais necessario uma mudanga revolucionaria do mundo, uma efetiva desalienagdo. ~ ‘O marxismo como mopia, que cobra das sociedades contemporaneas a emancipagio do homem do reino da necessidade e do trabalho ea instauragao do reino da liberdade e do lazer, nao somente se justifica como seguira existindo, enquanto houver miséria e opresséio no mundo Nesse sentido, Marx continua vivo.” FREITAG, Barbara (org.). Marx morreu: viva Marx. p. 49, 4 Alienagdio enquanto sujeig’io, embora proxima da exploracdo, nao é a ela equivalente. A alienagao acrescenta a exploragao a crenga, por parte dos trabalhadores, em que o capitalista tem um direito legitimo ao excedente, por causa de sua propriedade legitima dos meios de produgao. A propriedade, por sua vez, é tida como legitima porque deriva de uma apropriagaio legitima do excedente num momento anterior. A eficacia da exploragao capitalista se apdia em sua capacidade de perpetuar as condigdes sob as quais aparece como moralmente legitima. Marx nos diz que 0 reconhecimento, pelo trabalhador, dos produtos como seus ¢ 0 julgamento de que a separagiio do trabalho e do produto é injusta sao 0 comego eo fim do capitalismo. A alienagao nesse sentido no oferece aos trabalhadores uma motivagao para abolir o capitalis mo: cla embota a motivacao.” ELSTER, Jon. op. cit., p.71 “S“(...) Marx, na tradigao hegeliana, segue uma visio profética - por crenga iluminista - na historia dos homens, em direcao & revolugao ¢ A emancipagéio. Considerava que a alienagao seria superada na historia ¢ aproximaria o homem da liberdade (...)” ARRUDA JUNIOR, Emundo de Lima. op. cit., p. 46. “O socialismo é para Marx a possibilidade objetiva de uma sociedade onde os valores humanistas sao realizados, uma sociedade de ‘homens livres’ - quer dizer uma sociedade onde os homens livremente associados controlem, segundo um plano concebido de forma consciente, 0 processo da vida social. O modo de produgao socialista é pois 0 que abole o fetichismo e a alienagaio.” LOWY, Michael. op. cit.,p. 71. Referén, ias bibliograficas BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola ¢ PASQUINO, Gianfranco. Diciona- rio de Politica. Brasilia: UnB, 1997. BOTTOMORE, Tom (org.). Dicionario do pensamento marxista. Rio de Janei- ro: Zahar, 1988. COUTINHO. Carlos Nelson. Critica ¢ Utopia em Rousseau. Sao Paulo: Lua Nova, Cedec, n. 38, 1996. ON, Terry. As ilusdes do pés-modernismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. R, Jon. Marx hoje. 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