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Introdução
A filosofia surge na Grécia Antiga, com os pré-socráticos. Ela nasce em
oposição às narrativas mitológicas e aspira ao conhecimento racional
acerca do mundo. Nesse primeiro momento, não há uma distinção
entre as ciências. Assim, os primeiros filósofos, os pré-socráticos, po-
dem ser chamados de físicos (do grego physis), pois se debruçavam
sobre os fenômenos da natureza. Os sofistas, por outro lado, focaram
os fenômenos e as leis intrinsecamente humanas, como as regras de
conduta, os preceitos morais e as ideias sobre como a cidade deveria ser
organizada. Os sofistas eram relativistas e foram pintados pela história
como inimigos da filosofia.
Neste capítulo, você vai estudar a origem da filosofia e conhecer os
primeiros filósofos, os pré-socráticos, e os sofistas.
A origem da filosofia
Physis e nómos
A filosofia surge no final do século VII e início do século VI a.C. na Grécia
Antiga. Naquela época, os filósofos provavelmente não eram conhecidos por
essa denominação, mas apenas como “sábios”. Na Grécia Antiga, não havia
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Nenhum texto inteiro dos pré-socráticos ou dos sofistas sobreviveu até hoje. O acesso
ao seu pensamento se dá por meio de fragmentos, frases isoladas e referências feitas por
outros filósofos, ou seja, por meio de sua doxografia. Desse modo, uma preocupação
em relação à fidelidade ao pensamento desses primeiros filósofos deve estar sempre
presente, principalmente no que diz respeito ao pensamento dos sofistas. Neste
capítulo, utilizam-se referências do compilado de fragmentos reunidos no livro Os
pré-socráticos (1996).
Os filósofos pré-socráticos
Os filósofos pré-socráticos são tidos como os primeiros filósofos. A principal
marca do seu pensamento é a busca por explicações sobre a ordem e a origem do
mundo dentro da própria natureza e de seus elementos. Por conta disso, os pré-
-socráticos são denominados “físicos” ou “filósofos naturalistas”. Eles tentaram
explicar o universo recorrendo a elementos que já estão no mundo, os elementos
naturais, e não a elementos mitológicos, que são extramundanos. Os pré-socráticos
acreditavam que o mundo era explicável e ordenado, isto é, era um cosmos. Eles
também procuravam explicar o mundo tomando como base causas e princípios
racionais, acessíveis ao ser humano por meio da razão. Por isso, para eles, havia
uma correspondência entre o logos (a razão) e o cosmos (o real ordenado).
Algumas das questões que interessavam os pré-socráticos atualmente fazem
parte das ciências empíricas. Por exemplo, questões sobre chuvas, raios e trovões
(meteorologia), formação do universo (cosmogonia) e sua ordem (cosmologia).
Todas essas ciências, que atualmente são consideradas mais “duras” e com-
prováveis, nasceram especulativas. Grande parte das hipóteses não podia ser
comprovada, mas as intuições desses sábios até hoje se mostram impressionantes.
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Tales de Mileto
Tales de Mileto (625–558 a.C.) é considerado o primeiro filósofo. Para esse
pensador, o princípio fundamental da realidade é a água. Sobre Tales de
Mileto, sabe-se muito pouco. Não se sabe nem se escreveu um livro, pois
toda informação disponível chegou por meio de escritos de outros filósofos.
Heráclito
Heráclito teria vivido por volta de 500 a.C. na cidade de Éfeso, na região
da Jônia, atual Turquia. Ele é considerado um dos mais importantes pré-
-socráticos. Para ele, o fogo seria a arché. Ele é conhecido por sua defesa de
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que tudo está em constante fluxo, de que nada é permanente. Atribui-se a ele
a frase “Tudo flui (panta rei), nada persiste, nem permanece o mesmo” (OS
PRÉ-SOCRÁTICOS, 1996). Haveria um fluxo de constante movimento, mas
a complementação dos opostos garantiria a unidade das coisas. Os opostos
seriam tais como o frio e o calor, o dia e a noite, a vida e a morte. A razão
humana seria capaz de entender a ordem e a harmonia desses movimentos.
A ideia mais famosa de Heráclito é a de que não se pode entrar duas vezes
no mesmo rio, pois tanto o rio como o sujeito seriam outros, teriam mudado.
Heráclito é denominado “o Obscuro”, pois seu pensamento é de difícil
interpretação.
Parmênides
Parmênides teria vivido na cidade de Eleia em torno de 500 a.C. Ele também
é considerado um dos mais importantes pré-socráticos e o seu pensamento é
em geral contraposto ao de Heráclito. Parmênides é considerado o filósofo da
unidade, em contraposição a Heráclito, o filósofo do movimento. Um único
texto seu sobreviveu à passagem dos anos, o Poema, que narra o caminho da
verdade. Nele, Parmênides formula uma primeira versão do princípio da não
contradição ao afirmar que “O ser é e não pode não ser e o não-ser não é e não
pode ser de modo algum” (PARMÊNIDES apud OS PRÉ-SOCRÁTICOS,
1996, p. 26).
Ele defende que o movimento é apenas aparente e uma ilusão dos sen-
tidos, não servindo como fonte para a verdade. Parmênides trabalha com
uma distinção significativa entre aparência e essência, defendendo que, para
alcançar a verdade, o pensamento deve perceber a realidade como única,
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Heráclito Parmênides
Zenão
Zenão foi discípulo de Parmênides e teria vivido na cidade de Eleia entre
490/485 e 430 a.C., aproximadamente. De acordo com Aristóteles (1969),
ele foi o inventor da dialética e também sistematizou a demonstração pelo
absurdo. Zenão procurou mostrar que o movimento é uma ilusão por meio
de diversos paradoxos. Esses paradoxos procuram apontar que a noção de
movimento conduz a conclusões absurdas. O seu paradoxo mais famoso é o
de Aquiles e a tartaruga.
Pitágoras
Pitágoras teria nascido por volta de 578 a.C. na Jônia. Ele fundou uma escola
filosófica, a escola pitagórica. A sua filosofia é marcada pela ideia de que o
número e a matemática são fundamentais para a compreensão do real. Ele
defende que o número é a arché. Isso significa que a ordem do mundo, para
ele, seria regida pela matemática. A escola pitagórica também é marcada pela
presença de elementos místicos e religiosos e pela proposta de um modo de
vida específico, que inclui a adoção do vegetarianismo.
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Pitágoras é também conhecido por outros dois feitos. Primeiro, a invenção da palavra
“filosofia” lhe é atribuída. A palavra “filosofia” (do grego Φιλοσοφία ou philosophia) é a
composição de duas outras palavras gregas: philia, que significa “amizade” ou “amor”,
e sophia, que significa “sabedoria”. Assim, “filosofia” significa “amizade pela sabedoria”
ou “amor pelo saber”. Desse modo, aquele que faz filosofia, o filósofo, é a pessoa que
tem amizade pelo saber ou que ama a sabedoria.
Segundo, Pitágoras descobriu o teorema que leva seu nome. O teorema de Pi-
tágoras é uma relação matemática entre os comprimentos dos lados do triângulo
retângulo e a hipotenusa. A formulação tradicional seria: em qualquer triângulo re-
tângulo, o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados
dos comprimentos dos catetos.
Outros pré-socráticos
Existiram outros filósofos pré-socráticos que defenderam diferentes princípios
primeiros. Anaxímenes defendia que o ar era a arché; Demócrito dizia que a
arché era o átomo; já Anaximandro defendia que a arché era o ápeiron, que
se traduz por “infinito” ou “ilimitado”. A ordem e a origem do mundo natural
eram os temas centrais de todos esses pensadores. Eles foram os primeiros a
considerar as explicações mitológicas insuficientes e a começar investigações
filosóficas regidas pela razão e passíveis de crítica e revisão.
Os sofistas
Nas pólis gregas, existiam assembleias, locais onde temas de interesse público
eram discutidos. As discussões se organizavam como diálogos racionais;
os interlocutores apresentavam os seus argumentos e buscavam consenso
entre eles e os argumentos dos ouvintes. Nesse contexto, surge o sofista.
Os sofistas eram figuras de destaque nas assembleias. Eles tinham grande
habilidade de oratória e retórica e viajavam pelas diferentes pólis realizando
discursos públicos e dando aulas pagas para aqueles que quisessem adquirir
habilidades semelhantes às suas. Os sofistas afirmavam que poderiam ensinar
aos jovens as artes da oratória e da retórica e que isso faria com que eles
fossem bons cidadãos.
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