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Chico Viana (O1g.) O Rosto Escuro de Narc Ensaios sobre literatura e melancolia SO Jogo Pessoa, ‘2008 Opes 5 ‘Todos os direttos e responsabilidades do autor. eae Primera Parte Metréatonioapa sens Motes -MELANCOLIA:SENTIDO E FORMA ‘raneiseo José Games Corela (Chic Viana) 0 Revisio DITADURA B ESTETICA DO-TRAUMA: stare Gans EXILIOE FANTASMAGORIA Jaime Ginzburg AMELANCOLIATROPICAL (Depolmento) ‘Moacyr Sei o Segunda Parte Oe ee AUGUSTO DOS ANOS. Seuss Gams re Ces UMAESTETICA MELANCOLICA, ap ‘Ana Leia Rixeta de Carvalho se "a Bain [NOLETARGO DO ANIQUILAMENTO: AMELANCOLIAEM “TEDIO", DE OLAVCBILAC a) rane couse PALAVRAS DE UM MORTOWVIVO: FRAGNENTOS DODISCURSO MELANCOLICO EM MEMORIAS PosTUMAS DEBRAscURAS “alma Souto de vel % MORE MELANCOLIA NUMACANGAO DECHICO BUAROUEE TOM JOMIM Jao Osas 19 |AMFLANCOLIA EM TEXTOS DE MARIO QUINTANA EDITORALTDA, ASAS DA MELANCOLIA: ALEGORIA E IRONIA, (05) 222-900 NAPOESIADEAUGUSTO Dos ANJOS. deneditora@k com br Rosida Alves Bezara 1 ‘denedtonteacom br AGUA VIVA: PALAVRAE VAZIO. ‘aeth daiar do Nascimento ast rouse) SONTAG, Susan, Sob osigno de Satumo, Prto Alegre: LAPM, 1906. SOUSA, Edson Lit André de, Une esttica negativa em Freud Im — TESSLER, Fla e SLAVUTZKY, Abtao (orgs) invengdo a vida: anew psicanlise, Porto Alegre: Artes e Oficios, 2008 Oa Er ese = DITADURA E ESTETICA DO TRAUMA: EXILIOE FANTASMAGORIA Jaime GINZBURG (USP) Dentro das reflexdes histéricas e culturais sobre a dlitadura militar no Brasil, um campo de estudo aberto que merece atengéo é o das repercusstes da experiencia antoritéria nas geracbes posteriores.O impacto exereico pela violéncia do Estado se estende para além do periodo do regime, chegando 4 contemporaneidade. Torturas, ‘mutilagbes e mortesatingiram pessoas que tinham amigos familiares que permaneceram, cultivando lembrangas dos que se foram. ‘A producio cultural rferente @ essas lembrancas fhequentemente assume uma configuragéo melancélica, indicando que as perdasafetivas nao foram superadas. Com uma concepsdo catastréfica da histéria, algumas obves de arte se dedicaram a trabalhar com as lacunas provocedas pela agdodo regime autoritri. Os livros Morangos mofados {de Caio Fernando Abreu e Metade da arte de Marcos Siscar, 0s discos O tempo néo para de Cazuzae Pierrot do Brasil de Marina Lima, e arte recente de Cildo Meiteles fazem parte o itinerério da formulagéo problemética do passado, em lum esforgo de interpretagdo do Brasil em perspectiva zelancélica,respeitando a dor dos que ficaram, na falta dos ‘quese foram. Nessestrabalhos, as imagens do pals aparecem ‘marcadas pelo esfacelamento, em perspectiva canfitive. A ‘melancoliapertence ao cerne da sva concepeio de historia ‘os espagos em vermelho de Meireles, os "homens em guerra’ de Marina e os “cadaveres" acumulados em Abreu Py ste Gety ‘pontam para um pals de lusdes decompostas, em que as ‘expectativas sao incerta eo horor se alastra por todo lado. Essas cbs configuram uma represenlogio da hietcia ‘como trauma, para seguir conceite de Marcio Seligman Siva. Em vez de se encaminharem para a progiesso, como ‘querom of ideaie postvstan a3 trnsformatdessecais leva ‘uma corrosio profunda dos lagos de sociabilidade © das condigées para exerccio da cidadania, A produgao culture ‘marcada pelo trauma ¢requentemente assinalada pelo abalo fdas delimitagbes convencionais do trabalho da meméria € da percepgio da realidade, Ador provoca um estado coetivo de transtornee instabilidade, Eazasituagdo esteticamente € indicada por elementos como o exiio © a fantasmagoria. ‘Que definiermos mais adlante. O filme 15 hos, de Maria Oliveira e Marta Nehring, pode ser detinide como um documento, com sustentaczo Jomalistica, mas se encontra em tertile hibrido, pelo se ‘cabamento esttico. Recursos come o emprego de lr, cos ‘montagem ea tilha sonora constituem no fame expressoes de uma inteligéncia visual avticuleda, A criatividade da ‘ebordagem € necesséria diante da delicadeza do assunto twatado, ‘A obra apresenta depoimentos de quinze pessoas cles estruturas familiares foram marcadas pela perseguigaa politica durante a ditadura militar na década de 1970, Os tentrevistados so motivados a falar sobre o passado, Em todos 195 casos, o passado € abslado pelo impacto histoico da violencia ditatorial ‘Todos os entrevstados perderam pelo menos um dos familiares, em clrcunstincias de perseguigi politica. filme se volta para as perdas afetivas, com um movimento de busca de conhecimento e compreensio, que contempla lacunas © tensbes do processo Logo no inicio, s30 apresentados depoimentos de pessoas que dizem nao ter tido informagéo sabre os nomes fe familiares, indicando a relaggo problematica com 0 Ose Eros s passado a ser examinado. *Perdi a inocéncia", diz André Herzog, um dos entrevistados, sobre sua situacio, sendo obrigado aos sete anos de idade a assumic posites perente percurso da Historia, Abra estabelece ume dupla perspeetin. Por mado, ‘as entrevista io fetas caso a caso, deixand que os dlemas individuals se contigurem com suas especificidades, Por ‘outro, écrado aos poucos um elo profundo, uma ariculacso subliminar entre as varias entrevistas, que ultrapassa Sdiossincrasias especificas e chega ao ponto de deliniro campo colelivo da experiéncia como um trauma sgeneralizado, que unifica os ragmentosdiscursvos em uma Yor plural. A composicdo agrupa os timbres em um gesto sinfonico, fezendo com que as vozes individuais remetam lumas as outtas, e as recorténciae e afinidades permitaz perceber o horizonte socal colado as dicebes individuals. Poucas obras produzidasno Brasil fram tao longe na {merséo no tema das perdas ndo superadas, resultantes da violéncia politica. A melancolia atravessa o filme do inicio a0 fim, como elemento delinidor da perspectiva da diecSo, ‘como presenca nas vozes dos entrevistados, A relagdo que 9s filhos estabelecem com as perdas ¢ definida pelo ‘mpossiblidade de superagio. Adar estendida notempo nda mostra sinais de conclusio ou esgotamenta; pelo contri, ‘em vérios momentos, o filme expée a combinacio de dor profunda com inconformidade, indignagio © descen: framento. Os componentes melancélicos nao. 380 resultantes de uma op¢o consciente, nem artificialmente arbitrada pelos entrevstados. Eles surgem como marcas da necessidade histérica que conduz os transtornes desertos polos entrevistados. ‘Uma categoria muito produtiva para entender filme a nogéo de trauma sequencial, proposta por Sven Kramer. De acordo com o autor, uma experincia histérica de wioléncla ndo atinge apenas os que estio imediatamente vinculados a ela. Na medida em que essa experiéncia ndo % smear soja superada, por varios caminhos mediados, suas marcas se prolongam para as gezacoes sequintes, Temporalidade. Iimplacdvel: enquanto a sociedade néo assimilar superar inteiramente a dor do que viveu, suas perplexidedes € Iragildades serdo estendidas. Os entrevistados ndo foram les proprios os persequides politicos. Noentanto, as perdas ‘fetivas provocaram um grau deimpacto tio intenso, que cles renovam e atualizam, em suas vidas, limitagées perturbasdes da geracdo anterior Os movimentos ‘autoconscientes so pautados pelaresticéo de conhecimento ‘quanto ao passado, pelos limites impostos ds vivéncias, em situagées ti basicas quanto conkecer orosto de um pai ou reconhecera imagem de uma man Construido como painel de marcas de trauma seqiencialoflme mostra sofento dos flnosindicando que a dor de suas perdas néo fol superada, e que o modo como véem a si mesmos esté condicionedo por esse problema. Em termos conceitaais, o que vemos € = impossibilidade de constituicao pena de subjetividades. Os {quince fos, em suas falas, mostam ser sujeitos ue nunca, chegaram ase consitut, pois ocerme de suas relagoes com, a linguagem e a sociablidade fi sbalado. Como vitimas de trauma, 0 que dizem e sentem pode ser deserito com duas categoria, ‘A primeira, sequindo as elexdes de Marcelo Vihar ¢ o exlio, entendido ndo no sentido geopolitco, mas como ‘condigdo de problematizacao do lujerde enunciagdoda voz. Sabemos que os perseguides tiveram de lidar com « alteridade como coniigio de sobrevivéncia, Esconderios, ‘nomes falsos, comportamentos ercenados, resistencia nas elas de tortura. Esse esforco de ser outro, constituindo uma rojesio para sobreviver no sistema vesistindo a ele, ‘slabelece uma condicao dupla ce existencia que escapa ‘205 padrdes identitérios convencionais. Os filhos dos [perseguidos, por sua vez, aprenden desde cedo a potenciar ‘essa duplicidade em seu proprio interior Com isso, exilam a feeb Eno daca s suto-imagem de si mesma, aprendendo na remota infincia ‘dizer que ndo sio quem so, nao nasceram como nasceram. Enilam a propria consciéneia, a prépria vor, quardando 6 impacto do exilio no tecido da construgaa discursiva Flam de si duplamente, como se fossem os mesmos-e outros, como se devessem ter feito coisas que nao fzeram, devesser ter vivido expengncias que nao conhecerarn ‘A partir de que lugar se pode falar da perda de um pal, da destruigdo de uma mie? Na perspectiva do filme, 0 lugar escothido deve estar em um ponto que néo carresponde 4 idealizagdo abstrata das figuras, nem ao relato de ‘convivéncia concreta, que no ocorreu. Bum lugara marge ‘as cateyorias de sociablidade convencionais, como familia, insttuigdo, ordem social. Nesse lugar toda a sociabilidade ‘se mostrou falha 0 tempo 6 trigico, ea consciéncia entrenta seus proprios limites de elaboracéo da interacio com & realidade externa. Cada um dos filhorseexila desi mesmo para poder falar, se refere a si como se fosse outro, outro tempo, outro olhar, sendo que quando 0 mecanisino de distingdo entre sujeitoe objeto do discurso fala, ea vor se reconhece diretamente, a inguagem se contra 0 fluxo se esgarca. "Nao reconhect minha mae", diz uma das fenlrevistadas, sobre sou encontro com a'mée torturada ‘quando criancs, 0 exilio, entendido como colapso da constituigdo do sujeito, que fala de si como se fosse outro, € um recurso estratégico de preservacie da consciéneia. O grau de dor & to intenso que, quando a voz se encona especularmente consigo mesa, ela cede a seu proprio limite. Em uma das falas, uma moca explica que se lembra de, em ering, ter ficado revoliada com uma guarda do presidio, eter "batido ‘muito nela", ou ent “ter tide muita vontade de fazer isso" Alembranca suprime a distingao entre flegéo e realidade, lmaginacao e vivéneia. A supressdo acorte em razao de que 4 Yor presente vacila a0 procurar o passado, Nessas ‘condigées trauméticas, relatar objelivamente © em order ey meesrg tudo o que aconteceu seria superficalizar os eventos & remover dels as profundas camadas de dor individual & coletiva Orelato que se volta para seus prépris limites, 0 testemtinho que ullrapassa convencbes sematicas ese abre para a incorporagio deincertezas, desses fundamentosaflora lim discurso que precisa construit, como mecanismo defensvo da dor estratégias de protegdo. "Sera que estou lmagivando?”, pergunta asi mesma uma das entrevistades. ‘Um dos aspectos mais terivels dessa condiga0 est na indicasio, dada nas entrevisas, de que a repressio politica tava os flhos de perseguidos como perseguidos perigosos, Num dos depoimentos, aparece a lembranca de ‘que, entre criangas, «entrevstada era apontada por adultos ‘como terrorist, da qual as utras eiancas deveriam ser atastadas. A elaboragao da compreensdo critica dessa fexperiincia exige © movimento de tavessia pelas camadas ‘dedor.que permite reconheceradistineao entrea atnbuicio fextema da imagem negativa, e « propria auto-estima Dentro de uma condigdo melancélica, esa protecio se destobra como uma difculdade de encontrara simesm, ‘um olhar que se mave procurandoevitaro contato especulas, ‘© encento direto do olho consigo mesmo, que trez a tona, ‘como iluminagéo profana (nos termos de José Miguel ‘Wisnii) a iminéneia do insuportével, daquilo que nio pode servis, do mais undo abjto. Oexiio protege osujelto da ccontemplagéo do monstruoso, mas também o mantém ‘afastalo da sociabilidade, percebida como insegura & potencialmente cruel. E 0 mantém elastado da linguagem. feta, Nao se pode contlar cegamente em ninguém, depois do queacontaceu, Nem na propria memeria, nem na propria linguagem, "A segunda categoria é a fantasmagoria. Podemos entender fontasmagoria como a irrupcio de imagens no ‘dscura, a revelia do esforco consciente do sujelto em Fase En Naso 2 organizar sua fala, com propriedades negativas e impacto atormentador. As fantasmagorias, que se comportam de acordo com a concepezo benjaminiana de memoria Involuntiria, a0 lembrengas agénicas, pesadelos diurnos que se entrelagam na fala. Em 15 filhtos aparecem fantasmagorias constantemente. Marta Nehring, por ‘exemplo, ela propria entrevistada além de dietora fala de seus sonhos de guerra e violencia, Os expositores deixam surgir pontos dispersivos, ‘pequenos lapses, palavras que vem com dificuldade, mesclas esentimentos. Uma remota imagem da escola, um detalhe ‘de um gesto, um aspecto particular do espaco do presidi. Esses pequenos momentos, lenge de serem falhas dos ‘expositores, so justamente os rantos em que as dores #80 Mlagradas com maior nitidez A fantasmagoria surge recisamente quando o sujeito n2o pode evitar que 0 peso {do passado 0 suloque. ‘As varias partes do filme ~Clandestinos,Infncia, No Brasil, No Mundo, Escola, Visitas, Desaparecides,Tortara ‘alternam fragmentos de falas dos diversos entrevstados por alinidades tematicas e propéem uma multiplicidade de ‘enfoques para a memeria A Hiséria aparece no filme como ppercurso em construcio, matéris processual aberta que nao. seconcluinem pode serinteirarente delimitada. A Histia Inclut cenas que ficaram na obscuridade, em que @ linguagem cedeu ao lapso, © filme lida com uma dialética fentie meméria e esquecimento, O que deve ser lembrado toca no que deve, pela carga de dor ser esquecido. Dialética negativa, na concepcéo adorniana, em que sinteses no 0 aleangadas e impasses sao potenciads. As tensdes mais amargas nesse movimento séo pontuadas pelo senso de cexilo, pela perspectiva de que e vor ndo esta no lugar que doveria estar, que ela nao diz tudo o que deveria dizer © pelo movimento fantasmagérco, que descentra a meméria o Jane oraug ‘em vibragdes da interiorizagio do medo e da angusta. ‘Aconstitulgdo do sueito como exllado de i mesmo, ‘ea elaboracao de im discurso pautado pele fantasmagoria, ‘io responséveis por uma constante instabiidade dos contextos de releréneia histériea, O Brasil fica © ecompondo ereconstruindo dinamicamente & nossa frente A entrevistada Tessa Lacerda resume o problema da Aificuldade de estabelecer uma imagem do pase do que nele aconteceu, 20 repetir nervosamente a expressio ‘Ah, Aifell falar”. Ela néo consegue uniticar de medo coeso © que tem a dizer, por nao conseguir atribuirseniee 20 que viveu.Acxperincia édescrita como "pirante temo preciso para indicar 0 teor traumético, responsivel peo abalo da racionalidade e pelo colapso da sustentagdo do sujeito ‘A trilha sonora inelut Aos nossos filkas, cangao ‘emblemitica do entrosamento entre afetoedos, e Nada ser ‘como antes, conhecido trabalho de Milton Nascimento marcado pela determinagao revolucionavia astociada 00 “alvotoco no coragéo", imagem melancélica da saudade ‘ranstomnada.O filme, mantendo a consisténciajornalistica do documentério, procura no acabamento estético uma ‘configuracdo adequada. De fato, assim como os extrevstados tm uma percepedo fragmentiria do passado, também 0 ‘espectador, em razio dos procedimentes de mantagem, 6 ‘evade a rever seus ertéios de entendimenta da Histria, mergulhado nas perplexidades e incertezas delzadas pelos -depoimentos ‘0 recurso de emprego de imagens em preto © branco acentua asabriedade das entievstaseremete, pelos tons cinzentos de imagem, a atmostera Rinebre des imagens, Poroutre lado, o uso da cor para as cenas da 36" DP aproxima 9 espectador do espaco traumético, e aposta para a permanéncia no prosente de marcas do passade sérdido. instigamte, no depolmento de Janaira Telles, a fatiemagio de que 0 ocorside “née tem ponto final". No apenas ela observa acontinuidade de heranges do passado, como estabelece sua prépria inconformidade. E uma indicagao eloguente ¢ enfatica do fato de que as dores ‘expressas néo foram superadas, o trabalho de lutocoletvo 0 fol realizado, ea melancolia constitu a condicao para Iidar com o universatraumatico REFERENCIAS ADORNO, Theodor. Negative dialectics. New York: Tne Continuum Publishing Company, 1009, BENIAMIN, Walle Sobre alquns tomas em Baudelaire, In:_. ‘A moderidade eos moderns. Rio de Santo Tempo Brasler, 1982. FREUD, Sigmund. Lito emelancola, Novos estudoe Cebrap. 2.32 Sto Paulo, mari9%2, KRAMER, Sven, Sobre a rolagdo entre trauma e catarse na Iteraira. In: DUARTE, Rodrigo ot ali. Kothass, Reflexes de OLIVEIRA, Maria & NEHRI ING, Mart. 15 los. Produsio em video VHS, Sao Palo, 1997, SELIGMANN-SILVA, Marcio. A Bet6ria como trauma. In NESTROVSK, Arthur & SELIGMANN-SILVA, Mateo, orgs Catdsuofe erepesentogao, Sao Paulo: Escuta, 2000, e meaty Of Enso dace s “VIRGAR, Marcela. Exo e otra, $e Palo; Bsewta, 1992 “WISNIK, José Migual uminasées protanes. Inv VAREOS. O AMELANCOLIA TROPICAL, ‘otha. Si Paulo: Companhia das Lees, FUNARTE, 1988 (Depoimento} ‘Moacyr SCLIAR Saturno nos tépicos: « melancolia européia chega 0 Brasil nasceu quase que por acaso. Tenko interesse special por histéria da medicina (ja escrevi alguns textos sobre oassunto}¢, por causa desse interesse,chequel a uz artigo acerca de A Anatomia da Melancolia, obra do inglés Rober Burton, publicada em 1621, e que 4 fo: considerado © melhor tratado médico escrito por um leigo. E um texto trudito,recheado de citacbes em latim ¢estendendo-se por ‘mais de mil paginas. Pols o artigo dizia que este ivr havia Lido um sucesso téo grande que o editor fieara rico. A ppergunta se impunha: por que um livre assim atraira tantos Teitores? So podia ser pelo teme, a melancolia, De fato, a ‘época se caracterizou por ima verdadeira epidemia de ‘melancolia.O que néo deve surpreende: As doencas tera luma hist6rie natural, um ciclo que segue uma evalugso tipica, mas.as doencas, eoutassitiagGes que afetam os eres ‘numanos, também tém uma hist social, que pode rer recuperada inclusive através da arte, da literatura, das ‘manifestacdes culturais em geral. A peste teve uma historia, sim. A sfilse, mais recentemente a Aids, também ‘Agora: que época era aquela, caracterizada pela atmosfera melanecélica? 0 inicio daquilo que chamamos de Imodernidade, # claro que a melancolia ja existia antes: © ‘ei biblico Sau, por exemplo, pode ter sido um melanctlico ‘Na Grécia clissica, um periodo de extraordinavio avango no pensamento e na arte, a medicina hipocratica reconhecers ‘existéncia da melancolia como entidade e explcard que 8 | mesma resulta de um desequilfbrio dos humores que regulam 0 temperamento humano; no-cago, trataee de un

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