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Capítulo 1 – Notebook

O barmen não para de me olhar… Ai, deve tá achando que me deram o bolo, e pode ser que tenham
dado mesmo… Olhei pra minha mochila, peguei meu celular. Nada. Faz 2 horas que eu tô aqui
esperando por um cara que eu nem sei quem é. O celular vibrou, era ele. Fiquei olhando pro visor do
celular por uns dois segundos pensando em qual seria a desculpa pra ele não vir, atendi.

—Alô.

— Oi, Emily?

— Pode falar.

— Desculpe, tá um pouco complicado agora pra mim. Só vou poder no domingo. Mesma hora e
mesmo local?

— Ah.. Certo. Tudo bem…

Ele desligou. Peguei minha mochila, deixei dez dólares em baixo do copo e fui embora. Ótimo… Voltei
pro dormitório. Peguei um livro pra me ajudar a distrair, não funcionou, peguei outro. Aí a Bel
chegou, ficou falando do namorado e não prestei atenção. Até que ela sentou do meu lado olhou pra
mim com aqueles olhos que mudavam de cor o tempo todo.

— Mas chega de falar de mim, e aí? Como foi o seu encontro?

— Quê? Que encontro?

— Com o cara do terceiro ano…

— Ah, não era um encontro Bel, e ele não foi.

— Ele marcou num bar, Emy. Que tipo de técnico marca num bar? Hmm, vai ver ele já estava com
outra e se enrolou com os dates? Ou ele simplesmente não gostou da sua cara e te dispensou?

— Eu não quero saber disso. Só quero que ele conserte o meu notebook, por um preço acessível.

— É mesmo? Eu ouvi que ele é um gato…

— Disso eu duvido, pra ser bom como dizem, deve ser um daqueles nerds sem vida social cheio de
espinha na cara e cabelo oleoso.

— Bom, não sei, mas realmente esse cara não parece ter vida. Nem tem Facebook ou qualquer outra
rede social! Ele deve ser bem recluso mesmo…

E então, bel começou a descrever o que seria uma vida normal de um estudante da NYU. Não prestei
atenção, eu tinha voltado a ler o livro e então ela começou a falar mais alto.

— Emy? Emy!!
— O que foi?

— Você não ouviu nada do que eu disse né?

— Você disse alguma coisa? — Brinquei.

— Emy!!

— O quê?

— Você é uma ótima ouvinte sabia?! Eu quero o quarto. No domingo a noite, dá pra ser?

— Ah, sério Bel? Isso é mesmo necessário? Por que vocês não vão pra um hotel?

— E desde quando o Aaron tem dinheiro pra isso? Emy, por favor, só essa noite..

— Você devia arranjar namorados com poder aquisitivo maior, é sério.

— Valeu Emy! Eu te amo, sabia!

— É.. Sei..

Ela estava me abraçando e eu fingindo um sorriso. Não é que eu não goste da Bel, em se tratando de
colegas de quarto ela, pelo menos, me pede pra fazer coisas assim. Diferente de outras pessoas que
tive o desprazer de ver mais do que eu gostaria. Nesse quesito ela é um anjo. Mas, droga ... eu não
queria sair esse domingo. Passei o sábado tentando achar uma casa ou lugar pra ficar. Ia ter corujão
mas sem o note não ia dar, um show no Webster mas nada que durasse a noite toda. As outras
garotas estavam me convidando pra sair mas eu não estava na vibe pra isso, queria ficar no meu
quarto terminando os meus projetos. Mas, como eu não estava a fim de testemunhar nada então
tinha que dar um jeito. E eu ainda tinha que consertar meu notebook. Ah sim, o Theodore Han. Vou
me encontrar com ele no The Scratcher amanhã a noite. Não queria falar com um nerd agora, mas
preciso que ele conserte o meu notebook. Ele cobra barato pelo menos. De alguma forma isso soou
estranho.

O domingo chegou, saí antes da Bel acordar, não queria ficar ouvindo tudo o que ela tinha pra falar...
não estava exatamente com humor pra isso. Passei a maior parte do dia fora, indo de um lugar pro
outro entrando e saindo de lojas, parando horas nos parques, comendo besteiras até chegar a hora
de me encontrar com o Theodore. Meu celular vibrou uma hora antes de ir pro The Scratcher, era ele.
Mandou uma mensagem alterando a hora que nos encontraríamos... Ah esse cara já estava
começando a me dar nos nervos... Mas calma, respira Emily, isso vai passar. Bom, já que ele tava me
fazendo esperar tanto, então seria justo ele me aturar a noite toda. Acho que vai ser um bom castigo.

10:00 da noite. Finalmente. Cheguei uns dez minutos depois. Olhei em volta não vi ninguém parecido
com a imagem que eu tinha na cabeça... Ele vai me deixar esperando de novo, certeza. Me virei pra ir
embora e dei de cara com um cara magro e alto, eu me desiquilibrei com o susto e quase caí de
costas, mas o poste que apareceu do nada me segurou.

- Você tá bem?

Ele me soltou. Essa voz.. Não pode ser...


- Você é o Theodore?

- Depende de quem pergunta.

- Sério? Humpf .. Obrigada por não me deixar cair. Meu nome é Emily Stuart.

- Ah, a dona do notebook quebrado. É, eu sou Theodore. Vamos sentar?

Ele falou a ultima frase sorrindo. Eu estava completamente estupefata, mas consegui dar um sorriso
sem mostrar os dentes.. Eu o segui até o balcão, consegui parecer normal, até agora... Sério, tava
bem difícil não mostrar o quanto eu estava surpresa - o que significa não mostrar a minha cara de
pateta.

Aquele cara não era um nerd normal. Quase uma cabeça e meia mais alto do que eu, e o que era
aquele cabelo?... encaracolado do jeito mais angelical possível. Os óculos tinham armação bem
fininha e os olhos tão escuros quanto os cabelos... Queria ter me vestido um pouco melhor, no
momento estava usando um camisão branco de mangas compridas até demais, calça jeans rasgada
nos joelhos e desbotada de tanto lavar, um cachecol vermelho mais velho do que eu e tênis, lógico...
Saí de casa o mais confortável possível. Mas esse cara.. Uau, parecia ter saído de um filme... Calça
jeans escura, um tênis social escuro, camisa branca e um sobretudo cáqui mas preto nas mangas.
Fiquei sem fala... até que ele forçou um pouquinho...

- O que vai querer?

- Ahn?

- Bebida?

- Ah.. ah, eu, não bebo...

Ele levantou uma sobrancelha.. Não tinha outra palavra a não ser, lindo. Não.. Pára Emily, você não
está aqui pra isso. Concentre-se!

- Um capuccino por favor. Não vai querer nada mesmo?

- Não, valeu.. – falei com um sorriso meio besta... Ahh eu realmente estava fora de mim...

- Então, qual o problema?

- Oi?

- O notebook, o problema do notebook.

- ah... é.. não consigo ligar. Não sei o que aconteceu. Simplesmente não liga.

- Posso ver?

- Sim... espera. – Peguei minha mochila e tirei o note de lá. Depois, dei a ele.

O capuccino tinha chegado..

- Deixa eu ver..
Ele tentou ligar, não conseguiu. Será que achou que eu estava mentindo? Começou a olhar todas as
partes fisicas externas do note. Bom, não sei bem o que ele estava fazendo.. Ele parou, me olhou, e
depois suspirou.

- É, você realmente tem um problema aqui. Posso levar pra minha casa... Te ligo quando eu terminar.

- Ah, sobre isso... – Agora era a minha chance.. – Será posso ir junto?

Ele franziu o cenho, o sorriso de antes não estava mais lá.

- Não gosto muito disso.

- Ai, por favor, eu sei que a gente não se conhece direito e pedir algo assim é um pouco estranho
mas... é que não dá pra voltar pro meu dormitório agora.

- Vá pra casa de alguém.

- Não tenho nenhuma amiga em casa agora, é domingo, sabe como é..

- Isso não é problema meu.

- É sério, não tenho lugar pra ir.Por favor só essa noite. – Eu juntei as mãos.

Ele ajustou o óculos no nariz, olhou pra mim e depois pro capuccino, balançou a cabeça pra um lado e
apertou os olhos enquanto fazia isso.

- Tá. – Ele disse, depois de um tempo.

Eu abrí um sorriso largo..

- Obrigada.

Ele terminou o capuccino, pegou o meu note e me disse para segui-lo, e eu fui. Não andamos muito,
paramos na frente de um hotel na Cooper Sq, o The Standard. Quando ele ia entrar eu o parei.

- Espera... o que que estamos fazendo aqui?

- Eu moro aqui.

- Como é que é?

- É o que você ouviu. Você vem?

- Vou...

Tá... isso tá ficando mais estranho ainda. Esse cara mora num hotel? E 4 estrelas ainda por cima? Ok,
tudo bem, ainda tenho o meu celular. Qualquer coisa ainda posso ligar pra emergência... Minhas
mãos estão ficando suadas.

- O elevador é por aqui..

Passamos pelo saguão de entrada e entramos no elevador. Ele apertou o 14 e o elevador fechou as
portas. Momentos de sensação estranha.. aquele silêncio constrangedor estava me deixando sem ar...
até que finalmente a porta do elevador abriu, chegamos. Ele saiu e eu fui atrás. Ele parou em frente
ao 1402, abriu a porta e me deixou entrar.

- Uau... você mora mesmo aqui?

- Sim.

- A quanto tempo? 1 semana?

- 3 anos...

- ah...

Aquele apartamento não tinha praticamente nada, nem as flores habituais dos quartos de hotel. Só a
sala e a cozinha, sem tv ou luminárias, mesas ... só um sofá e as coisas mais normais de uma
cozinha... Devia ter um quarto e um banheiro em algum lugar mas eu não ia perguntar. Ele foi até a
geladeira abriu e tirou uma garrafa de água.

- Você quer?

- Sim, obrigada.

Ele jogou a garrafa. Eu peguei. Ele tirou outra e fechou a geladeira.

- Pode sentar no sofá. Vou consertar o seu note.. pode demorar.

- Tudo bem.. eu fico aqui.

- Olha... ahn, desligue o celular.

- O que? por que?

- Odeio quando essas coisas me enterrompem.

- Claro...

É obvio que eu não ia desligar meu celular! Mesmo esse nerd sendo lindo e totalmente o meu tipo.
Não o conheço, não tenho como confiar e a única coisa que me dava um pouco mais de segurança
era o celular. Bom...Pelo menos consegui um lugar pra ficar a noite toda. O sofá é confortável, a janela
tem uma vista linda da cidade e ficarei entediada até amanhecer... Ótimo, melhor que nada. Mas tem
uma coisa que não consigo tirar da cabeça, como alguém como ele consegue um apartamento assim?
Ah.. esse sofá é tão confortável.. acho que dá pra deitar aqui. Será que ele se importa se eu dormir
aqui? Quem se importa...

Tive um sonho maluco, não sei onde estava, mas parecia uma casa. Tinha umas pessoas que eu não
sei quem eram. Mas Theodore estava lá. Ele segurou minha mão e me levou até um dos quartos
perto da cozinha. Tinha uma cama de solteiro encostada na parede, uma cômoda e uma TV. Ele
sentou na cama e eu no tapete no chão. Ligou a televisão e começamos a assistir um programa de
comédia.. Encostei a minha cabeça na perna dele e ele ficou passando a mão no meu cabelo, disse
alguma coisa que eu não entendi. Me levantei e sentei ao lado dele. Deitamos na cama e ele me
abraçou. Ficamos assistindo o programa daquele jeito. Caí no sono.
Depois tive outro sonho, algo com fornalha e coisas que eu tinha que achar... Não me lembro direito.
Acordei. Ele estava sentado no chão à minha frente, o meu note no colo dele, acho que estava ligado.
Tinha um cobertor em cima de mim. Ele olhou pra mim... Os olhos eram azuis? Pensei que fossem
castanhos.. Me sentei, alguma coisa caiu da minha cabeça. Por que tinha uma toalhinha na minha
cabeça? Eu olhei pra ele depois pro cobertor e a toalhinha e pra ele de novo.

- Você teve febre. Começou a fazer uns barulhos estranhos e eu vim ver o que era. Estava suando e
não parava quieta. Te dei um remédio e fiz a compressa. Acho que você está bem agora.

- Obrigada. Eu não sei o que... me desculpe..

- Tudo bem. Toma, ele tá funcionando agora. – Ele me passou o note desligado.

- Que horas são?

- 3 da manhã. Pode ficar se quiser, você disse que não tem pra onde ir mesmo. Não vou te expulsar
agora.

- Nossa... Obrigada... eu acho.

- Ah... são 25 pratas. Tive que trocar algumas peças.

- Ah... posso dividir de duas vezes? Só tenho 10 aqui..

- Se é o jeito... Boa noite.

- Boa..

Ele já tinha se levantado e ido pro, talvez quarto dele? Sei lá. Já não estava me sentindo tão
confortável quanto antes. Não que eu estivesse lá essas coisas de confortável... Liguei meu note,
realmente o cara era bom, estava até mais rápido do que antes... Desliguei e fui dormir, tinha aula só
depois do almoço mas ainda estava com sono.

Dormi pelo que pareceu uma piscadela... Acordei com uma mão no meu ombro me levantando.

- Emily, você precisa ir embora agora.

Ele estava vestindo só uma calça comprida. Não fosse por ele ter acabado de me mandar embora eu
teria admirado por mais tempo aquele corpo que não parecia em nada com o esqueleto que eu tinha
em mente.

- Ok,ok já estou indo... por onde fica a porta mesmo?

- Você ainda não tá bem... É por ali... Vai rápido!

Ele agarrou o meu braço e me levantou empurrando um pouco pra frente. Eu voltei pra pegar o meu
tênis e a mochila.

- Tá calma, tô indo, só vou calçar o meu tênis e..

Ele não me deixou sentar, pegou meu tênis e minha mochila e os empurrou pra mim.
- Não temos tempo pra isso, vai embora agora!

- OKAY, já vou...

Mas o que diabos estava acontecendo com esse cara? Coloquei a mochila na costa e saí com meus
sapatos na mão... Mas que cara mais imbecil, nossa nem acredito que quase me apaixonei por um
idiota desses... Estava no elevador quando a porta abriu no 10º andar e uns caras de preto
entraram... bom, a princípio eu não me liguei muito, estava calçando os meus tênis, mas quando eu
saí do hotel, percebi que eles estavam indo na mesma direção que eu. Estavam dobrando nas
mesmas ruas que eu... Comecei a ficar com medo então corri. Passei no meio de um monte de gente
e aqueles caras ainda estavam atrás de mim... E quando estava perto de um beco alguém me puxou
pro lado, me tirando da rua. A pessoa ficou me segurando bem perto da parede de forma que eu não
podia sair e nem ser vista, não conseguia ver quem era mas estava agradecida, até os caras de preto
passarem por nós... Olhei pra cima, e era o Theodore... Ele parecia um pouco mais aliviado agora e
então olhou pra mim. Eu o olhei de volta. Os olhos dele ainda pareciam azuis bem escuros. Ele estava
sem o óculos, o cabelo enrolado caindo na testa, e estava vestido.

- Você está bem?

- Estaria melhor se não tivesse me explusado da sua casa...

- Me desculpe, se te faz sentir melhor, também estou expulso...

- O quê? Como assim?

- Quer tomar café? Eu pago...

Saímos da sexta para a sétima e entramos no Café Mocha. Só agora notei que ele tava com uma
mochila nas costas e bem grande. Sentamos e ele largou a mochila enorme aos pés dele, pediu um
café expresso e uma omelete, eu pedi capuccino e muffins. Só se passaram oito horas que a gente se
conheceu e já estamos tomando café juntos... Eu comecei a rir sem perceber. Que diabos eu estava
fazendo com ele?

- Você é a primeira garota que ri comigo perto. Sou divertido pra você?

- Rir? Divertido?

Eu coloquei a minha cabeça entre minhas mãos. Não sabia porque eu estava rindo... Me lembrei dos
caras me perseguindo,a agonia de não saber o que poderia ter acontecido e de repente fui ficando
mais e mais desesperada. A minha respiração ficou cada vez mais ofegante, logo eu não conseguia
respirar direito...

- Emily? Emily, você está bem?

Eu não conseguia mais falar, nem sabia o que estava acontecendo comigo. O meu peito estava
doendo e eu não conseguia respirar. Virei de lado na cadeira, estava me sentindo tonta. O desespero
crescendo dentro de mim, eu não conseguia ar. Tentei me levantar mas não consegui nem ficar em
pé. Não sei exatamente o que aconteceu, minha mente ficou um pouco turva, em algum momento
tinha alguém me abraçando. Eu senti o calor da pessoa ao meu redor, aquilo foi me acalmando. Sentí
meu rosto molhado e a minha mente voltando aos poucos. Olhei pra cima e lá estava ele outra vez,
enterrei a cabeça no peito dele e comecei a chorar em silêncio. Ele me apertou mais no abraço e eu o
abracei de volta. Quando eu o soltei, já tinha parado de chorar, mas não tinha coragem de levantar a
cabeça outra vez, tinha um monte de gente naquele lugar, todos nos olhavam. Ele me levantou, me
fez olhar pra ele segurando o meu rosto com as duas mãos e enxugando as lágrimas. A minha franja
estava horrivelmente grudada na minha testa.

- Você está bem agora. Vou te levar pra casa.

Não consegui responder. Ele pegou a minha mão, a mochila dele na costa e a minha na outra mão
junto com uns saquinhos do Café. Theodore me tirou de lá. Chamou um taxi e foi comigo.

- Hotel Pennsylvania, por favor.

- Theodore.

- Desculpa Emily, ainda não posso te levar pra casa até ter certeza de que você vai ficar segura lá.
Confia em mim, tá bom?

- Quem é você?

Ele me olhou um pouco estranho, como se estivesse triste ou algo assim...

- Alguém que não vai deixar você se machucar.


Capítulo 2 – Stalker

O velho tá ficando cada vez pior. Não consigo acreditar no que ele está fazendo. Pensei que já tinha
tomado todas as precauções contra isso. Olhei para Emily, sentada ao meu lado no táxi.

– Emily, preciso mesmo que você fique no Pennsylvania até eu voltar. Você pode não sair de lá?

– Eu não estou entendendo nada.

Ela estava quieta desde a hora que eu disse que iria protegê-la. Estávamos quase chegando ao hotel.

– Você pode ser só um pouco paciente? Só por um pouco mais de tempo.

– E por que eu faria isso?

Eu realmente queria ter tempo pra explicar a ela. Mas ela não olhou pra mim, estava olhando pra fora
do táxi.

– Emily.

O táxi parou. Eu olhei pro motorista, tirei 100 dólares da carteira e entreguei a ele.

– Você veio aqui pegar alguém que te chamou. Nunca estivemos no seu táxi.

Emily me olhou estranho. Eu sei que EU que era o estranho da história. Saí do carro e pedi que ela
saísse também. Graças a Deus ela saiu.

– Vou te explicar tudo assim que eu voltar. Usa isso aqui pra fazer o check-in. Me espera tá bom?

Dei a ela um cartão. Ela olhou para os próprios pés, depois me olhou. A franja bagunçada, os olhos
ainda estavam um pouco inchados mas ainda conseguiam ser penetrantes, como antes. Como
quando eu a vi a primeira vez.

– Vou esperar. Quero saber onde foi que eu me meti.

A curiosidade dela estava do meu lado. Sorte a minha.

– Entra. Te encontro mais tarde aqui. Não sai do quarto.

Ela fez que sim com a cabeça e entrou. Fiquei olhando até ela sumir de vista. Peguei meu celular,
liguei, como sempre, a rede estava desconectada. Mas mensagem ainda estava lá.

“ Garota bonita.”

Saí correndo depois de ver isso naquela hora, o número era restrito. Pensei que a bronca era só
comigo mas agora ele estava envolvendo qualquer pessoa que ficasse mais de 5 horas comigo,
qualquer um que pudesse se tornar um ponto fraco pra mim. Preciso resolver isso. Logo. Desliguei o
celular depois de pegar o número da Emily pois o dela era o único que ainda não tinha tido tempo de
memorizar, queimei o chip e joguei o celular fora. Segui pra NYU e fui falar com o Sr. Baldwin. Entrei
no escritório dele e ele estava digitando algo no computador.

– Sr. Baldwin..

– Theo, o que você faz aqui? Te dei folga, lembra? - Eu nem me lembrava que ele também era o
supervisor do laboratório de informática avançada. Pouco importava agora, eu precisava o usar a
senha.

– Tenho um problema que não consigo resolver, professor. Pode me ajudar?

Só então ele olhou pra mim, entendendo o que eu realmente tinha ido fazer lá. Como era o
procedimento, para o caso de haver alguma escuta no local, ele simplesmente negou o meu pedido.

– Sinto muito, Theodore, como pode ver estou ocupado. Quem sabe em um outro momento?

Mas enquanto me dizia essas coisas, ele abriu uma gaveta e tirou uma caixinha de lá, e a colocou em
cima da mesa, eu peguei.

– Certo. Bom dia, professor.

Saí da sala com a caixa já dentro da mochila. Fui até o Washinton square park e andei até a fonte e
sentei nos degraus perto dela. Estava seca, afinal estávamos no início do inverno. Já tinha um ano.
Não importa mais, não tinha tempo. tirei a caixa de um dos bolsos da mochila e a abri a, tirei o
celular de dentro, liguei o celular pensando se haveria dado tempo de o professor fazer alguma coisa
por mim.

A mensagem chegou. Consegui 24h de vantagem. Hora de voltar.

Entrei na universidade de novo, mas dessa vez fui até o campus de direito. Corri pelos corredores até
chegar na sala certa. Olhei o relógio, quase meio dia. A aula já ia acabar. Puxei o capuz por cima da
cabeça e esperei. Cinco minutos depois as pessoas começaram a sair. Ele saiu. Segurei o braço dele.

– Cara, que susto! Aí, você tem que parar de fazer isso.

– Não dá. Problema.

Olhei ao redor sem movimentar a cabeça. Aaron sabia o que fazer então decidi que iria encontrá-lo
em outro lugar.

– Malt House em 15 minutos.

– Ok.

Ele foi embora e eu também. Comecei a digitar uma mensagem pra Emily. Deus eu realmente espero
que ela ainda esteja lá.
“Emily, chego às duas. Theodore.”

Não demorou muito ela me respondeu.

"2009"

Esse deve ser o número do quarto. Ótimo, ela ainda deve estar lá. Fui pro Malt. No caminho um
Honda preto começou a me seguir.Ele deivia saber que eu poderia voltar pra universidade, com
certeza ficou esperando eu aparecer. Merda. Eu parei e o carro também parou. Fui até ele e abri a
porta.

– A quanto tempo Sullivan, achei que tivesse me esquecido.

– Pode entrar no carro, Mr. Theodore?

Que outra escolha eu tinha? Já era hora de enfrentar isso mesmo. Me sentei no banco de trás. Meu
avô estava na tela atrás do banco do motorista.

– Por quanto tempo você pretende fugir de mim, garoto? Acha mesmo que não sei o que andou
fazendo nos últimos três anos?

– Só preciso de mais um ano. Um ano e eu volto. Prometo.

Meu avô não é do tipo que barganha, mas eu tinha que tentar.

– Já chega dessa palhaçada. Você volta agora mesmo. Um ano é tempo demais e você já ficou tempo
suficiente na América. Sullivan, traga ele de volta.

– Sinto muito. Não vou voltar agora. Preciso terminar o que comecei.

– Você ousa virar as costas pra sua família garoto?!

– Vocês que se viraram contra mim. Se o Sullivan não me deixar sair agora, um amigo meu vai ligar
pro FBI e contar que o melhor amigo dele sumiu. E se ele sumir também aposto que a terceira guerra
mundial estoura de uma vez. Quer ser responsável por isso, vovô?

A tela apagou. Saí do carro. Fiquei parado até o carro ir embora. Essa perseguição toda estava me
tirando do sério. Entrei no Malt House. Sentei o mais longe da porta que deu. Dois minutos depois o
Aaron chegou.

– Qual a história?

– Meu avô de novo. Ele me encontrou.

– Isso ia acontecer uma hora ou outra.


– É, mas ele não simplesmente me encontrou, se fosse o caso eu não teria problemas pra me
esconder de novo. O problema é que ele está envolvendo outras pessoas. E ele é meio maluco, não
sei o que pode acontecer.

– Eu tô em perigo também? Sério?

– Só me dá as passagens. Dou um jeito no resto. Prometo.

– Eu vou com você?

– Não.

– Qual é cara, é Vegas! E no Feriado de final de ano!

– Foi mal, não tô ido pra me divertir. Mas se eu não der notícias nos próximos 5 dias então você pode
ficar preocupado.

– É... Isso não tá parecendo brincadeira.

– Esse é o meu endereço pelas próximas horas.. Depois disso ainda não sei.

Passei a ele um papel com números e iniciais.

– Boa sorte cara. – Ele disse pegando o papel.

Me levantei, fui até o banheiro, troquei de roupa. Voltei até onde estávamos sentados e peguei as
passagens que o Aaron tinha deixado em cima da mesa. Saí de lá e fui pro Pennsylvania. Quando
cheguei fui direto para o vigésimo andar, bati na porta do 2009.

– Emily!

Ouvi passos e a porta destrancando. Ela abriu a porta. Estava vestindo a mesma roupa de antes mas
sem o cachecol vermelho e estava com o cabelo úmido, eram mais longos do que eu pensei. Ela me
deixou entrar. Larguei a mochila perto da entrada e fui me sentar na beira da cama. Fiquei com a
cabeça baixa um tempo. Depois olhei pra ela, forçando meus impulsos pra dentro. Ela já estava
assustada o suficiente.

– Você já almoçou? – Eu perguntei.

– Sim. Theodore, me explica por que eu estou aqui.

Eu respirei fundo, já fazia tempo que eu não contava isso. E pelo visto ela não ia deixar eu ficar
calado.

– Eu estou fugindo de alguém.

– Quem?
– Você não precisa saber quem exatamente. Só que é alguém que me quer de volta.

– Eu vou embora.

Ela já estava com a mochila nas costas e se virou pra porta. Eu tinha que fazer alguma coisa.

– Espera! – Eu segurei o pulso dela enquanto me levantava. – Eu ainda não terminei.

Ela parou e eu soltei o pulso dela.

–Vou ser bem franca com você Theo. Eu não tenho nada a ver com quem quer que te queira de volta.
Olha, eu nem sei quem você é. E nem você sabe quem eu sou. E teve aqueles caras me perseguindo...
Eu tive um ataque de pânico mais cedo, sabia? Eu nunca tinha tido um. Eu tô muito assustada. Quero
ir pra minha casa.

Eu não sabia mais como não dizer nada.

– Me desculpe, isso tudo é minha culpa. Eu pensei que... Ahhh, me desculpe. Eu realmente achei que
essas coisas tinham acabado, que ele tinha entendido, mas.

– Fala, ele quem?

– Meu avô.

– O seu avô mandou me perseguirem?

– Mais ou menos.

– Sinto muito. Isso realmente não é pra mim. Agora é que eu não fico aqui mesmo!

Ela se virou pra ir embora de novo e eu a puxei pra mim. Agora ela parecia um pouco surpresa e
irritada ao mesmo tempo.

– Por favor me escuta. Eu posso resolver tudo isso, mas preciso que você fique perto de mim. Cinco
dias, só cinco dias e eu resolvo tudo isso.

– Por que você acha que eu aceitaria passar cinco dias com você, aqui?

– Não seria exatamente aqui.

– Não interessa o lugar Theodore! Como é que eu posso confiar em você? Depois de tudo isso? como
posso acreditar que você não está envolvido em alguma coisa muito, muito perigosa e me arrastando
pra isso com você?

– Da mesma forma que confiou quando me pediu pra ficar no meu apartamento na noite passada. Da
mesma forma como confiou quando te deixei aqui e você esperou por mim. Tô te pedindo por favor
pra confiar desse jeito. Como você já tem feito. Eu quero te proteger. Desde o primeiro minuto que eu
pus os olhos em você.
Aqueles olhos escuros não paravam de me olhar nos olhos. Agora era tarde pra me deter, eu a puxei
pela camisa pra mais perto de mim, a beijei. Ela retribuiu por um segundo mas depois tentou me
afastar, eu não deixei. Segurei o rosto dela com as mãos enquanto ela me batia no peito. Não parei de
beijá-la, até que ela parou de bater em mim e segurou na minha camisa, me beijando de volta. Tirei a
mochila a costa dela e larguei perto da cama. Tinha parado de beijá-la mas estava com a testa
encostada na dela, respirando meio ofegante. Eu a abracei. Ficamos um bom tempo assim, então tive
coragem de falar.

– Faz, faz um ano que me apaixonei por você.

Ela olhou pra cima, pro meu rosto. Incrédula.

– Como é que é?

Merda. Agora eu preciso muito contar.

– Te vi no campus quando você veio visitar a universidade. Depois no dia do calouro. No caminho pra
NYU todo dia. Ficamos no mesmo campus. Ah, teve aquela vez que você esbarrou em mim e
derrubou um monte de pastas. Te ajudei mas você nem reparou em mim, só pediu desculpas e saiu
apressada. Não te tirei da cabeça depois disso.

– Tá falando sério?

– Você não lembra?

– Lembro das pastas, mas, não consigo acreditar. Eu não me lembro de você. Achei que nunca tinha
te visto antes de ontem.

– Tenho um amigo que pode provar o que eu tô falando, mas mudando de assunto. Onde você estava
pensando em ir no natal?

– Pra casa dos meus tios. Por que?

– Podemos ir pra lá se você quiser.

– Meus tios moram em Long Island.

– Não é tão longe assim. Alugamos um carro.

– Preciso voltar pro meu dormitório. Tenho aula amanhã e tenho que entregar um trabalho. Não
posso ir com você.

– Que horas é a aula?

– Pela manhã..

– E o trabalho?
– À tarde.

– Ainda temos algum tempo de sobra. Pode assistir a sua aula e entregar o trabalho por email. Não
queria que fosse até seu dormitório antes porque queria ter certeza de que não tinha nada estranho
lá. Acabei de receber um e-mail dizendo que está tudo bem. Mas ao meio dia de amanhã não vai mais
estar. Vem comigo pra Long Island.

Acabei falando o que não devia, não queria que fosse assim, esperava que pudesse resolver tudo
com meu avô antes de começar algo com ela, mas acho que fui estúpido demais. Meu avô não iria
me deixar em paz com este tipo de assunto, mas agora é tarde, só preciso que ela me responda sim.

– Eu não vou com você.

Ela disse isso, mas eu não acreditei no que eu tinha acabado de ouvir.

– Como?

– Eu disse que não vou com você. Eu realmente não sei o que você tem na cabeça. Acha mesmo que
eu ia perder o juízo a esse ponto só por causa de um beijo? Acha que eu sou esse tipo de idiota que
acredita em qualquer coisa?

– Emily..

- Pára. Eu não sei o que aconteceu esta manhã. Eu não sei quem você é. Eu não sei porque eu fui
idiota o bastante pra ficar te esperando aqui.

Ela pegou a mochila mais uma vez e saiu correndo do apartamento, mas desta vez eu não a impedi.
Não esperava por isso. Tentei segui-la mas ela já estava no elevador, as portas fechando.

– Adeus Theodore, vou ficar te devendo as 15 pratas.

As portas fecharam antes que eu pudesse entrar.

Dei um murro na parede. Não, não, não, não, isso não pode estar acontecendo! Preciso fazer alguma
coisa. A escada de emergência. Corri até lá, eram 20 andares, que bom que descer é bem mais fácil
que subir. Corri o mais rápido que pude, quase rolei escada abaixo algumas vezes mas continuei. Que
idiota eu fui, burro! O quê eu fui falar?! Droga! Ela deve estar achando que eu sou um psicopata ou
stalker! Cristo, ela me olhou com medo. Que diabos eu estava pensando?!! Continuei me odiando até
chegar ao saguão de entrada, o elevador já estava subindo outra vez, olhei em volta e não a vi em
lugar algum. Saí, perguntei pra algumas pessoas se tinham visto uma garota de branco passar,
ninguém viu nada. Fui até a recepção e perguntei se a conta do 2009 tinha sido fechada, tinha, a
recepcionista me entregou o cartão que eu tinha dado a Emily. Peguei um táxi, liguei, ela não
atendeu, continuei ligando mas só caía na caixa postal.

- Para onde, senhor?

- Dormitórios da NYU.
Esqueci minha mochila. Agora não tinha mais volta, pelo menos ainda estava com as passagens.
Ainda posso achá-la. Sei que posso. Eu vou achá-la. Deus, me ajude a achá-la.
Capítulo 3 –

Onde foi que eu me meti?

Meu Deus, um cara doido, um avô psicótico e meu celular não para de tocar... O que eu faço?

– Senhora, já tem cinco minutos que está aí. Está tudo bem? Gostaria que eu chamasse a polícia?

– Não, não, tá tudo bem, eu só… Me desculpe, posso ficar só mais cinco minutos? Ahn, tem um
telefone que eu possa usar?

– Sim, pode usar.

A recepcionista me passou um telefone. Eu estava sentada no chão atrás do balcão da recepção. Sim,
ainda estava naquele hotel. O que eu poderia fazer agora? Não podia ligar para os meus tios, isso só
ia preocupá-los. Onde eu poderia me esconder? Jesus, esse Theo parece um, ai sei lá, boa coisa, com
certeza, não. Por que todo cara minimamente bonito aos meus olhos têm algum problema
incorrigível? Ai meu Deus, eu só quero sumir.

Acho que vou ligar pra minha tia, talvez esse seja realmente um caso em que é muito melhor
envolver outras pessoas do que sofrer calada. Digitei o número que eu sabia de cor e esperei que
minha tia atendesse.

– Alô?

– Tia? Sou eu, Emily.

– Oi meu amor, sua voz está soando preocupada, o que houve?

– Eu queria saber se está tudo bem, e se eu poderia ir mais cedo pra casa esse ano.

– Está tudo bem, claro que você pode vir. Em, aconteceu alguma coisa?

– Aconteceu sim, tia. Conto quando eu chegar. Estou indo hoje.

– Okay, vejo você daqui a pouco então.

– Tchau, tia.

Desliguei o telefone e liguei para a Bel. Eu não ia voltar pro meu dormitório de jeito nenhum, só ia
esperar o suficiente pra que a Bel conseguisse arrumar uma mochila com as minhas coisas pra mim e
me entregar em algum outro lugar, provavelmente perto do metrô. Não vou brincar com esse cara,
nem com o avô maluco dele. Ainda bem que não disse pro Theo onde em Long Island meus tios
moram, pelo menos isso a minha mente idiota conseguiu fazer!

Depois de falar com a Bel e fazer com que ela entendesse o que eu precisava, marquei de encontrá-la
na estação em frente ao hotel e então devolvi o telefone à recepcionista. Finalmente arranjei
coragem pra sair de baixo do balcão e ir embora. Minhas mãos ainda tremiam um pouco e resolvi que
era melhor comer alguma coisa antes de pegar um trem pra casa. Tinha um Starbucks perto do hotel
e foi pra lá que eu andei.

[vai comprar os bilhetes pro próximo metro pra long island e fica esperando a bel]

[encontrar Bel, contar por alto o que aconteceu, se despedir]

[termina o trabalho no metro na primeira hora pra se distrair – 2h de percurso]

[no final da viagem vai acontecer uma tentativa de sequestro outra vez e o Theo vai salvar ela outra
vez, e ela vai ficar mais possessa ainda]

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