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REVISTA BRASILEIRA DE CIENCIAS CRIMINAIS Ano 27 ® vol. 156 ® jun. / 2019 Instituto Bra de Ciéncias Criminais REVISTA DOS TRIBUNAIS" THOMSON REUTERS Eitoriae p Alegre Para aLém 00 BARD: uma critica A CRESCENTE ADOCAO DO STANDARD DE PROVA “PARA ALEM DE TODA A DUVIDA RAZOAVEL" NO PROCESO PENAL BRASILEIRO EVALUATION OF THE ADOPT BLE DOUBT OF PROOF IN BRAZILIAN CRIMI TICE SYSTEM 'AS THE STANI tora em Direto ersitat de Girona, Espana. Meste © < amento de Teoria do Diteto da FNDIUF ie Sou- D 1octatco de Direita da OABIR).Co-lder do Grupo ais (GREAT, da FNDUFR). Professors convidada de Lean 580 Penal e Garant ANTONI VieiRa sana. Professor de Process io Salvador (BA) Membro Fundadore ex-pesidente do IBADPP idado dos cursos de especilizagdo em Dirita © Processo Penal da ABDCONS tba eProcesso Penal e Garantias Fundamentais da ABDCONST - Rio de Janeiro. antonio @vieraadvcom b Autores convidados Aaeas v0 Dinero: Pro Resuwo: 0 presente artigo Asstacr: This paper presents 3 critical analy lise erica 4 on the adoption of the US standard of nse coninecido known a5 "beyond a reasonable doubt ove by the Brazilian justice sytem, Contrary to t practice of Braziian operators and its jus prudence, including that of judges, p attorneys, the BARD is nat perce fequate solution to reducing legal i Pravnas-cuaves Processo peral ~ Stondor aos: Criminal procedure ~ prove - Prova alr de toda divida razodvel - ~ Proaf bey reasonable Subjetvisme = lravional sm = lratonalty ~ Rational theory of clonal da pr Evidentia legal reasoning Sunda: 1. 2. al) 3. Sobre standards de pro ncias do contexta pro 4.0 BAR’ 7 4.1.0 BARD e eu tratamento pelo tibunas brasle- 420 BARD & 5 8, Referencias bibliograficas 1. IntRopugio a tem sido, nos tiltimos anos, cada vez mais comum quando se discorre sobre temas probatérios, no ambito do direito processual brasileiro. De fato, tanto na doutrina como na praxis forense, cada v A referéncia ao term standard de prov ais autores e operadores juridicos recorrem a expressao para designar critérios de suficiencia probatoria, os quais, no campo do processo penal, permitiriam sa- ber quando ha prova suficiente para proferir uma decisio condenatsria € quan- sbsolver o réu por nao haver do, pelo contrario, estaria 0 magistrado obrigado a alcancado um minimo probatério necessario para a desfecho de condena¢it. No entanto, a despeito desse aumento no numero de referencia s, parece nao haver pleno dominio ~ quer pelos doutrinadores, quer por magistrados. membros do ministério publico, defensores etc. — do que seja efetivamente um standard probatério e, principalmente, qual funcao ele cumpre (ou deve- ria cumprir) no campo do processo judicial. Dai vir chamando atengao 0 mo- do como tem ganhado forca, no Brasil de hoje, 0 standard de prova classico do processo penal estadunider ra em adiante, BARD); 0 qt a duvida razoavel Independentemente des sar 0 “para além de todaa certo modismo, ist debatido, em termos deraci cos, Em certa medida, é com 6, jé garantisse racionalida subjetivismos e dos caprich Evidentemente, nao €b istencia de prova traz consigo qualquer garan e valoracao racional duivida razodvel nao assegu tenha atendido um standan sos penais. O fato € que, no Brasil, ¢ em parte da doutrina e dos de origem anglo-saxa umae 0s problemas que as discuss em relagao ao BARD tem feit nologi pouco ou quase ng epistemélogos, filésofos ju Assi im, enquanto em ou torno do desafio de elabora ao entre elaboracao, compr juridico interno, mais uma acritico de institutos caracte As meng6es ao BARD cot ao do processo de american 1. A expressio foi usada por a década de 1970, em rela hechos. 2. ed. Madrid: Trou 2. Comoexplica Langer, desd daGuerra Fria, osistemale, Dovrrn processo penal estadunidense de raemadiant ominado beyond a reasonable doubt (de ago- BARD); o que entre nés foi traduzido como “para além de toda fo root oe a divida razodve E reasons to call Independentemente de que se esteja em dia com o significado da expressao, “para al n de toda a duivida razoavel”, em tempos atuais, soa como um certo modismo, isto ¢, uma maneira de parecer up to date! com o que vem sendo debatido, em termos de raciocinio probatorio, em outros paises e sistemas juridi- cos, Em certa medida, € como se a mera presenca discursiv 6, jf garantisse racionalidade a decisao, sendo cap: subjetivismos e dos caprichos judiciais, context of ada expressio, por si le livra-la dos perigos dos Evidentemente, nio é bem assim qu coisas funcionam. A simples rele lem da diivida razoavel em uma sentenga nao pro- além da sla prova que com suliciéncia gente, como deve ocorrer nos proces- isténcia de Tova pa traz consigo qualquer garantia de quea decisio tenha sido tomada apos u cesso de valoragao racional da prova. A men clo a existencia de prov diivida razoavel nao assegura que realmente e tenha atendido um standard de prova exig. 0s penais, O fato é que, no Brasil, 0 BAI em parte da doutrina e do de ori RD vem produzindo um certo “encantamento operadores juridicos, que aparenta ver no standard n anglo-saxa uma espécie de panaceia, com aptidao para resolver todos os problemas que as discussées probatorias suscitem. © entusiasmo exagerado em relacao ao BARD tem feito com que, espeito da crescente circulagao termi- nologica, pouco ou quase nada se discuta em rela¢ io as criticas que importantes epistemologos, fildsofos ¢ juristas, mundo a fora, tém dirigido ao BARD. desenvolver torno do desafio de elaboragéo de um standard de prova inos, cada vez 3 do direito nse, cada vez Assim, enquanto em outros sistemas juridico: e debates em objetivo, dada distin- 1o eaplicagao de standards de prova, no cenario Juridico interno, mais uma vez, o que observamos so os perigos do transplante acritico de institutos caracterfsticos de outras matrizes juridi cao entre elaboragao, compreensai jgnar critérios irmitiriam sa- ico-culturais. toria ¢ quan- As mengdes ao BARD correm o risco de significarem apenas outra manifest sao do processo de americanizacdo® do nosso sistema jurfdico, proces or nao haver este que inclenacao. Incias, parece imagistrados, 1. Aexpressao foi usada por Taruffo para tratar do fenou 1 década de 1970, em relacdo ao bayesianismo (TARUTF Trotta, 2005. p. 194-195} semelhante, ocorrido ap Michele. La prueba de los lefetivamente re (ou deve- \¢40 0 mo 2. Comoexplica Langer, desde final da Segunda Guerrae, principal wente,apartirdofim stados Unidosse tornouo maisinfluentedo mundo, a clissico do daGuerra ria, osistema egal do: contribu para que institutos e categorias jurtdicas tipicas dos EUA sejam impor- tadas a realidade brasileira sem a devida cautela ou sem a necesséria traducao. A consequéncia indesejavel de tudo isso & que o BARD acabe sendo utiliz: do no sistema de justica criminal brasileiro para cumprir papel diametralmente ‘oposto daquele que seria o esperavel. O perigo para o qual queremos sinalizai que o BARD termine do asservir como um elemento puramente retorico de justificat juncionando como um “anti-standard” de prova, 10 das decisoes, em nada diminuindo os espacos de subjetivismo, de discricionar ou mes ‘mo de arbitrariedade que precisamente se quer evitar a partir da adocao de um modelo racionalista de prova (o qual recorre a um standard justamente por reco- yentaro controle intersubjetivo da nhecer-Ihe como instrumento capaz de incre decisdes judiciais) Motivados por essa eocupagdes, 0 presente artigo preten anilisecriticado BARD eda forma como esse standard vem sendo aplicad: Bra sil, Para tanto, no item 2 apresentaremos a definigao e a funcao dos standards, de modoa esclarecer seus tracos caracteristicos bem como as situacdes paraas quais es reservam a formulagao de stan 08 responséveis pelo desenho das instituicé dards. A continu: Nele, o leitor encontraré a justificagao subjacente a imp dards probatérios mais conhecidos (entre eles, do BARD). F oferece um relato do estado de coisas referente a0 BARD no cenatio brasile ro, Ficars claro ao leitor que, a despeito de sua crescente notoriedade, a simples mengao a “prova além de toda duivida razoavel” nao tem contribuido para um cenatio de avangos no que se refere as garantias dos jurisdicionados. No item 5. oitem 3 concentra-se nos standards em matéria probatéria, mentacao dos stan almente, o item 4 apresentaremos a nossa conclusao, 2. Do CONCEITO E DA FUNCAO ESPERADA DE UM STANDARD (EM GERAL) Se nos voltamos as estratégias normativas presentes nos mais diversos siste- mas juridicos, sera possivel detectar a presenca de normas ora formuladas me os—estas iltimascom bordas diante termos mais precisos, ora em termos mais vag le aplicacdo mais indefinidas e que requerem mais trabalho para determinar se 0 passando a inspirar, de diversas maneiras, 0s sistemas juridic fenomeno dew luy (LANGER, Maximo. From legal transplants to k ining and the americanization thesis in criminal procedure. Harvard Interna Journal. 45,1. 1, 2004. p. 1) uum processo que costuma ser denominado de america > ent sob exame cai d até o limite de velocidade goes distintas (muito embo: seja reconduzivel a preocug estd presente nas regras jur tea formulagao dos chamad mentagdo do propésito deg As regras sio estratégias éliberar os agentes do peso ximo permitido, a regra det de uma série de considerage comportame que a regra tem um modo ¢ pre maa ele. No exemplo da te cende implementar algu limite de velocidade é sulici podendo o aplicador, em «i riscos efetivamente causad notoria habilidade para dir) bera a multa por ter dirigid de risco concreto a integrid valor da regra é que, em lon, serve ao propésito de s regra g que prejudicial a persecuga re alguns resultados 3. SULLIVAN, K.M.; AMAR, ¥.106, 1992. p, 63: "Rules zing the elaborate, time-c ples to facts Como argumento a favor aggregate, even if that requ makers think is the right likea lawyer: anew introde Press, 2009, p, 212), 5, Isso é oque Schauer denon incidéncia quando compa mentar; ¢ subinclusiva qua avlde prova revta Brsicrade Or pjam impor: traducao, indo utiliza: petralmente ova, passan: jas decisoes, lade oun Jocao de um te por reco: psubjetivoda pferecer uma ficado no Bra- standards, de $para as quais lacio de stan- ja probatéria. a0 dos stan enie,o item + pari brasilei- bce, a simples ido para um ps. No item 5, p ceRAl) iversos siste- rmuladas m tros paises. Esse obalization of eS caso entao sob exame cai dentro ou fora da drea de incidencia da norma. Dirigir ‘até o limite de velocidade de 80 kh” e “d rigir prudentemente” s4o formula. (es distintas (muito embora possamos reconhecer que o fundamento de ambas seja reconduzivel a preocupagao com a seguranga das pessoas). A primeira delas esti presente nas regras juridicas, enquanto que a segunda se expressa median tea formulacio dos chamados standards, Sao estratégias diferentes para a imple- mentagao do propésito de garantira seguranga das pessoas. As regras so estrat jias pensadas pa 2 a situacdes nas quais o que se pretende €liberar os agentes do peso da reflexio n decisoes futuras®, Ao estipular o ma ximo permitido, a regra de transito, por exemplo, livra seus futuros aplic: deuma série de consideragoes. Paraa suaaplicacao, ésuficiente a verificacao da ocorrencia do comportamento presente em seu predicado fatico. E é assim por- que a regra tem um modo caracteristico de implementat seu propésito: a regra pretende implementar algum propésito, mas, para isso, reconhece-se aut maa ele, No exemplo da regra de transito, a verificagao de conducao acima do limite de velocidade € suliciente paraa aplicacao da consequé ia juridica, nao podendo o aplicador, em cada caso individual, colocar-se a refletir acerca dos riscos efetivamente causados por cada motorista. Um piloto de Férmula 1 com notoria habilidade para dirigit com segurana mesmo em alta velocidade rece- be or ter dirigido acima do limite permitido. Pouco importa a falta de risco conereto a integridade fisica que a conduta dele tenha representado. O valor da regra é que, em longo prazo e na consideravel maior parte dos casos, ela serve ao propdsito de se gatantir a integridade fisica das pessoas. Mesmo que a regra gerealguns resultados injustos, no cémputo tot mule p a regra € mais benéfica’ que prejudicial persecugao de determinado propésito®, Ad nais, nao se pode SULLIVAN, K.M.; AMAR, A, R. The Supreme Court, 1991 Term. Harvand Law Review ¥: 106, 1992. p. 63: “Rules promote economies forthe legal decisionmaker by minima: 2ing the elaborate, time-consuming, and repetitive application of background princi ples to facts #. Como argumento a favor das regras, elas servem a realizar “the greatest good in the aggregate, even if that requires giving up the aspiration to do what particular de ‘makers think is the right thing in particular cases" (SCHAUER, Frederick. Thinking likea lawyer: a new introduction to legal reasoning, Massachussets: Harvard University Press, 2009. p.212) 5. Isso ¢0 que Schauer denomina de subotimidade das regras. Toda regr potencialmente iusiva:¢ sobreinclusiva quando inchui mais do que deveria em sua area de incidéncia quando comparamos esta ultima ao propdsito que a regra pretend ‘mentatr; € subinclusiva quando incl n sobre e subi 226 Revista Baas uous Cana 2019 # RBCCRid 156 esquecer a consideravel vantagem de previsibilidade® quanto aos resultados fu- dado que o standard preteng ne das especificidades dos caso turos que a regra apres sobre os casos futuros* Por sua vez, o standard representa um tipo de estratégia normativa di te, Ao fa mais div rem uso de termos vagos na formulacao normativa, os arquitetos dos sos sistemas juridicos objetivam garantir espaco a discricionariedade 3. SOBRE STANDARDS DE | dos aplicadores. A vagueza faz com que a area de incidéncia do standard sejame- CONTEMPORANEO nos definida do que a area de incidencia da regra. E, assim, o standard tem capacidade de ser mais sensivel em cada caso em que sua aplicacao seja posta A partir dessas considera gra pretende garantir determinado proposito desco: 0 da formulacao de stand je fundamento ao dos sistemas juridicos cont em questio. Enquanto a rages politico-morais que Ihe serviram lando-se das consi¢ sua formulacao, o standard representa um convite permanente are compatibilizar a valoracto k sget. Nao por outra razio, cionalidade das decisoes ju momento flexdes sobre a realizacao do proposito que ele visa prot excluir da punigao o piloto de Formu- garantir ao julgador liberda Ja 1 que no nosso & 0 km/h. Verificando a habilida: plica anuencia ao subjetivis de do piloto de conduzir com seguranca mesmo em alta velocidade, 0 aplicador preocupacao em nosdistane interpreta 0 caso individual com da multa, Fica claro que o standard representa uma porta aberta a0 exercicio in- telectual do aplicador sobre quais comportamentos, nos casos individuais, re- presentam ameaca ao propésito que visa protege estratégia mais justa para os casos concretos, pois sempre resguarda ao agente como alternativa critica a irn discricionariedade para analisar 0 caso individual e suas especificidades tendo o to, nao ha defesa racional po ral abstrato, as provas. Parg o standard “dirija prudentemente” pod mplo conduzia a mais de conforme ao standard e, por isso mesmo, livre das provas tarifadas, mas na nides intimas dos juizes. No do por dois movimentos cor O standard pretende ser uma Num primeiro momente ptopésito parao qual foicriado’. Como desvantagem quando comparadoa re mesmo fato nem torna taisal ridoo fato narrado; que uma namente correspondente a determinacao dos fatos indi decisdes injustas e irraciona ficar no exemplo da regra de transito: ¢ sob formula 1 mesmo que ele nao tenha colocado em risco a integri cidadaos, a0 mesmo tempo em que ¢ subinclusiva 20 deixar de punir alguém que dirt- (oes esputrias* de acordo con xe centro do limite de velocidade mas olha para os outdoors dispostos no caminho. A dade,a declaracao de duas pt respeito da sobre e subinclusividade das regras, ver SCHAUER, F Playing by the rules: a contrastassea decane Philosophical examination of rule-based decision-making in law and in life. Claredon trastasseadeclaragaiay Press, 1991. p.31-345p. 149-5 vesse explicacto diversa pag 6. Sobre a previsibilidade produzida pela regra, ver SULLIVAN, KM, Amar, A. R. The Supreme Court, 1991 Term, Harvard Law Review, v. 108, 19 [J rules affor —_ —- ertainty and predictabilityte actors, enabling them to order their affairs productively substantively like. [J Th Sobte os argumentos comumente apresentados a favor dos standards, ver SULLIVAN, altar of rules, notwithstand K.M.; Amar, A. R. The Supreme Court, 1991 Term, Harvard Law Review, v. 106, 1992, 8. As panicularidades relevar p. 66; “If fairness consists of treating like cases alike, then there is na argument that clo contravio, seria wma reg standards ate fairer than rules. Rule-based decisionmaking suppresses relevant simi o. A expresso € de Schauer ( s to treat like cases that are Ty inva Tid BARD a citee jtados fu- bdiferen. 10s dos pariedade fsejame- rd tema cia posta to desco: mento ao jenteare- Formu- fhabilida. aplicador smo, livre : prcicio in- Hluais, re- bo agente bs tendoo fo a regra, penta. Para piloto de Bes dena fn que dit minho. A Claredon Rte es aor ptuctively LLIVAN jament th ps tha ae Downe 227 dado que o standard pretende oferecer uma pluralidade de respostas as especificidades d ender ertezase imprevisibilidade ‘casos individuais, é fonte sobre os casos futuros 3. SoBre sTanpar CONTEMPORANEO DE PROV ‘AS EXIGENCIAS DO CONTEXTO PROBATORIO A partir dessas consideracdes conceituais, ¢ possivel compreender a justifica- da formulacao de standards probat6rios para o contexto da decisio judicial dos sistemas juridicos contemporaneos. Trata-se de uma estratégia que busca compatibilizar a valoracao livre das provas com a necessidade de controlar a ra- lidade das decisoes judiciais. Se atualmente se entende que ¢ importante garantir ao julg dor liberdade no que tange a valoragao probatoria, isso nao in plica anuencia ao subjetivismo. Dizer que a valoragao deve ser livre expressa a preocupacao em nos distanciarmos dasamarras normativas entéo catacterfsticas das provas tarifadas, mas nao significa concordancia acritica aos caprichos e opi- rides intimas dos juizes. No nosso entender, oestado atual de cois: do por dois movimentos complementares. Vejamos. é conform: Num primeiro momento, o modelo designado como livre valoracao surgiu com altetnativa critica airracionalidade do antigo sister la prova legal. De f m vincular previamente valores, de modo ge- ral eabstrato, as provas. Para citaralguns exemplos: que duas pessoas alirmem 0 to, nao ha defesa racional posstv ‘mesmo fato nem torna taisalegacdes verdadeiras em si mestnas, nem torna ocor- rido o fato narrado; que t nacusado “confesse” nao faz do fato confessado genui amente correspondente realidade, Colocar tanto peso as regras juridicas na determinagae dos \s individuals foi uma estratégia que no passado produzi decisdes injustas ¢ irracionais. As provas tarifadas descansavam em general ‘Ges espuirias? de acordo com as quais as confissées sempre tinham valor de ver. dade,a declaragao de duas pessoas semp contrastassea declaragio de uma s6 pessoa, eassim por diante. Como se nao hou- iaa verdade quando seu contetido vesse explicacio diversa para a confissao do acusado que nao 0 compromisso de substantively alike. |... They [standards] spare individuals from being sacrificed on the tar of rules, novwithstanding the good that rule-boundedness brings to 8. As particularidades relevantes de cada caso nfo est predeterminadas pelo standard do contrario, seria un regra 9. A expresso & de Schauer (SCHAUER, Frederick. Profiles, probabilities and stereotypes. Massachussets, Harvard University Press, 2006) Tara alem a0 BA lem ge tage a wii 228 Revista BRASILIA 0 dizer a verdade (por ex. tortur: nao houvesse outra razao para que duas testemunhas prestassem declaracao com mesmo contenido (por ex.:a deli berada vontade de prejudicar o acusado; owa sugestibilidade que a comunicagao entre duas ou mais testemunhas pode produzir na construcao ca memériacolet vade um evento"). Foi como alternativaa esses absurdos que valoracio livre da prova surgiu, Uma confianga nas capacidades cognitivas do julgador foi oposta prova to, quea livre valoragao também mostrou seus defeitos. em substituicao a antiga aposta nas capacidades estruturais das regras legal. Evidente, no enta faloragao acabou reconduzin- da nto, Como recordado por alguns professores'*, a liv do as decisbes aos resultados irracionais que tanto se queria evitar. No luge irractonalid: a irracionalidade judicial; esta ultima possibilitada pela compreensao da valor ao livre como “livre de qualquer tegra” ~nao apenas livre de regras juridicas de o proprio raciocinio oriunda da prova tarifada, passamos, em um segundo mor prova legal como também livres das regras provenientes l6gico™. Tal interpretagdo da livre valoracao estendeu guarida a achismos ea g neralizacdes apressadas, como se representassem um contato privilegiado entre ‘o magistrado eo inefével. Amparadas em uma simples referencia a conviccao in- tima, as decisées passaram a refletir o deturpado entendimento segundo o qual, valorar as provas com base se 0 julgador € livre, isso incluiria a sua liberdade tia quando em contato com elas! no que 10, Sobre o fendmeno da conformidacle da meméria, ver THORLEY, C. Memory confor- rity and suiggestibilty. Psychology, Crime & Lav, 2013. p. 365-375. cltran entre cles. Veja-se TARUFFO, Michele. La prueba de los heches. 2. ed, Madrid: Trotta, 2005; TARUFFO, Michele, A prova, Trad. Joto Gabriel Couto. Sao Paulo: Marcial Pons, 2014, TARUFFO, Michele LI, Michele Taruffo, Marina Gascén, Jordi Ferrer Uma simples verdade: 0 juiz ea construcio dos fatos. Trad. Vitor de Paula Ramos. Sa Paulo: Marcil Pons, 2012; GASCON ABELLAN, Marina, Loshechasen el derecho: bases argumentalesde la prueba. 2. ed, Madrid: Marcial Pons, 2004; FERRER BELTRAN, Jor di. Layaloracion racional dela prueba, Madrid: Marcial Pons, 2007, FERRER BELTRAN, Jordi, Pruebay verdad en el derecho. 2. ed. Madd: Marcial Pons, 2005, entre outros 12, Contra a interpretacao irracional da livre conviegio, Jordi Ferrer afirma: *[..] la libre valoracion de la prueba es libre solo en el sentido de que no esta sujeta a normasjuricli- ‘esa valoracion” (FERRER BELTRAN, Jordi. La ceas que predeterminen el resultado vvaloracton,cit.,p. 45), Nomesmo sentido criticoa livre conviecao entendida como livre de quaisquer regras inclusive da légica, GASCON ABELLAN, Marina, Los hechos, cit p.3435, 3. Sobre a relagdo entre o modo irracional de compreensler a livre conviegao ¢0 prinetpio dda imediagao, ver ANDRES IBANEZ, Perfecto. Sobre el valor de la inmediacion (una aproximacién critica), En torno a la jurisdiceién, Buenos Aites, Editores del Puerto, Em meio ao cenatio de) labilidade da racionalidade ganhou especial atencao, s suficiente para que uma hi probat6rio uma hipstese pi rae, na sequencia, seja incl Nos casos individuais, a di camente relevante é condi e essa é precisamente a fu standards mais conhecidos preponderance the eviden evidence (de agora em diant tendem refletir uma graday para que determinada hips respectivamente, dam trés standards, o PoE é 0 me te. Ao CCE sobraa posigao| do que o PoE. babi quentemente utilizado por Aatribuigao de p tratamiento delas prueb invacionalista de concebir| ‘como forma de captacion del imputado y delostestig forma que hace imposible deobu clon de conocimn Sobrea necessidade de just veja-se WROBLEWSKY, J Rech 33, 19 15. Dataafirmacao de Geraldo processo =o fato juridico relevancia conereta porque Justificar a condens¢io de da em respeito aos que legitimimarsa Geraldo, Prova penal e sist das provas obtidas por mét Ro para que rex.:adeli- smunicacao poria coleti pcao livre da foiproposta fs de prova : bis defeitos : jeconduzin- No lugar da p momento, : jo da valora- : jiuridicas de o raciocinio mos ea gé peiado entr pnviccao pndo o qual, fas com base FS, Michele, ro. Michele BELTRAN To PERBECTRAN, [od la bre RAN Jord a os hecho, ty Em meio ao cenatio de criticas labilidade ganhou especial atencao, Sua funcao consiste em fixar 0 grau de corroboracéo suficiente para que uma hipétese seja considerada verdadei probatorio arbitrariedades judiciais, a falta de contro. racionalidade de suas decisoes, € que a nogo de standard de prova Quanto suporte uma hipdtese precisa apresentar para que seja considerada verdadei- rae, nasequéncia, seja incluida como premissa menor do raciocinio decis6rio? Nos casos individuais, a determinacao suficiente da ocorréncia do fato juridi camente relevante é condicao inafastavel da justificada condenacao de alguém € essa € precisamente a funcao que um standard de prova deve cumprir, Os standards mais conhec idos sio originarios da cultura ju preponderance of the evidence (de agora em diante, PoE), 0 evidence (de agora em d estadunidense: 0 sar and convincing onable doubt (BARD) pre- cendem refletir uma gradacéo quanto exigéncia de corroboracdo probatoria gtadacao vai, respectivamente, da menor a maior exigéncia de corroboracao. Ou seja: entre os ards, o PoE € o menos exigente enquanto que o BARD € 0 mais exigen- te, Ao CCE sobra a posigao intermediaria de exigir menos do que o BARD e mais do que o PoE. ante, CCE) € 0 beyond any re. para que determinada hipotese seja considerada verdadeira. E Aatribuigao de probabilidades matematicasa cada um deles € um recurso fre quentemente uti zado por parte dos autores de modo a esclarecer as diferentes prictica dela inmediacion en el ‘tatamiento de las pruebas personales hasido peligrosamente contaminada por el modo inracionalista de concebir el principio de la libre conviceisn. En efecto, entendido como forma de captacién emocional o intuitiva de lo expresado py la prueba, como tuna suerte de contacto con lo inefable, la audicion y valoracion de rmanifestaciones del imputadoy de los testigos solo podrian producirse en ese ambitodeap forma que hace imposible cualquier pretension de racional lizar w objetivar tal proceso de obtencion de conocimiento y lajustficacién de los resultad 4. Sobrea necessidade de justficagao da premissa menor (Fatica) veja-se WROBLEWSKY, Jerzy Rechistheorie33, 1974 15. Daiaafirmacao de 0 racioeinio decisotio, egal syllogism and rationality of judicial decision. 5 ido Prado: “A indiscutivel centralidade da questao de mérito do cao penal atributdo ao acusado process0 ~0 fat juridico definido como int acquire relevinela concreta porque no lugar da alegacao do erime e da condicao de criminoso justificar a condenagao de alguém (direito penal do autor), sera a prova deste lato, Produzida em respeito aos mencionados standards probat6rios ( fortes as orientadoras a punicéo conforme o caso (‘diteito penal do fato')” (PRADO, Geraldo, Prova penal e sistema de controle epistémicos: a quebra da cadeia de custédia {das provas obtidas por métodos ocultos, Sao Paulo: Marcial Pons, 2014. p. 40} que legitim 229 230 Resta Brastena o€ CINCH ainais 2019 # RBCCRa 1 exigencias dos standards", As probabilidades matematicas indicadas como re- presentativas de cada um deles sao as seguintes: BARD é de 95%, CCE€ de 75% € do PoE € de 50%+1 (qualquer ponto acima de 50%). Signilica que, para que uma hipétese seja considerada verdadeira segundo o BARD ela tem de aleancar uma probabilidade (de ser verdadeira) de 95% ou mais; j& para que seja considerada verdadeira segundo o CCE ela tem de alcangar uma probabilidade em torno de rte se atingir qual: 75%, e, por altimo, caso estejamos diante do PoE, sera sulic quer probabilidade superior a 50% de chance de ser verdadeira, Ou seja: Uma mesma hipétese x pode ser considerada verdadeira quando se Ihe aplique o PoE ladeira (ou, em termos menos precisos, falsa) quando seja o BARD 0 enao standard aplicavel. Isso acontece porque 0 mesmo conjunto probatério pode ser verdadeira suficiente para alcangar o patamar de 50%+1 de probabilidade de jlidade de ser verdad fo de distintos standards de provas serv ¢ insuficiente para alcangar o patamar de 95% de proba ra. Log dificultar (ou facilitar, a depender de qual perspectiva se assume) determinadas .€ certo concluir quea impo dlecisses sobre os fatos. Nao é por outra razdo que o BARD ¢ aplicavel originalmente no ambito da Justica criminal e impoe a exigéncia de 95% de probabilidade a hipdtese da acu. sagao. Enquanto isso, na Jurisdicao civil atuam standands de prova menos exi- gentes, 05 quais produzem assimetrias menos profundas entre os resultados 0 ambito da Justica crim mente pior condenar um inocente do que absolver possiveis. Desde Blackstone”, reco! nal, é manif m culpado. A formulacao do BARD teria em sua origem a pretensao de dificultar a condena- ao de inocentes. Como? Dificultando as condenagdes em geral. Seo sistema cri- ‘minal passa a exigit robustamente mais da hipotese de condenagao para que seja 16. Como exemplos deste recurso numérico, Schauer ¢ Laudan. SCHAUER, Frederick. Thinking tke « assigna rough numerical ‘obability... Wecan thus startwith thep hat the prosecution must pro stich that the jury toconviet, must be 95 percent certain of the defendants guilt”, LAUDAN, Larry. Verdad, error y proceso pe epistemologia juridica. Trad. Carmen Vazquez ¢ Edgar Aguilera, Madrid: Marcial Pons, 2013, p.95:°Si obabilisticos la cual va de ceto a uno, Bajo esta interpretacidn, BARD probablemente se ubicarfa en payer, cit, p. 220: *I..J For purposes of simplicity and desea, podemos explicarnos esta escala en terminos algiin punto entre 0.9 70.95 o incluso en puntos nasaltos. Porsu parte, PCCse ubicaria cerca del 0.75, Por ultimo, PoD seria todo aquello arriba de 0.5 (y menor BLACKSTONE, William. Commen ‘or the law holds, that itis better that ten guilty persons escape, than that one innocent sulfer” 24,1769; of England. Livro IV, considerada verda também as condenagdes de leira (9 vigoes de culpadosse veem robabilidades al em um standard de prova ta da perdedora para dar lug atinjam Jano ambito civil, dado consequiéncia tdo gravosa | distribuiro risco dos dois ti injustas) sime perior a 50% sera julgada s icamente, que merecia a tutela juris ciaa um pedido que em rea Jo pelos d para esses casos, um stand prejutzo prod aplicavel a Jurisdigao civil sideradas mais gravosas qu decisdes que declaram insa A logica, como se ve, él) as sejam as consequéncias dos sistemas juridicos ente) outra (CCE), ou manifesta Ho uso de standards mais ¢ deram equilibrados os risec 18. Sobre a outra cara da moi cit, p. 220: 90 percent, but only 90 p its job properly, then allt the prosecution have me defendant guilty. But beca of those acquitted defend in spite of which they ares 19, “Cua pecial wenteun tipo deen aumacostadeelevarel rie verdadera). Se tratadeun parcialmente fen torno al estandar de | n tension ¢ peuma fderada no de ir qual Uma bo PoE JARD o jode ser fade rdadei- das ito da da acu- pos exi- pcrimi- ulpado. bade! Ema cri- fue seja Federick iy let us = b+, 1760. = = Doureina considerada verdadeira (95%), entao, dificulta-se as condenagdes e, com isso. também as condenacoes de inocentes. O outro lado dessa moeda é que as absol vigdes de culpadosse vem facilitadas (pen € que as hipoteses acusatérias que atinjam probabilidades altas como 80, 90% teriam dl ser descartadas com base em um standard de prova tao exigente. A hipétese mais provavel seria considera- da perdedora para dar lu ara uma hipdtese menos provavel)" Jano ambito civil, dado que o tisco da decis4o equivocada nao envolve uma consequencia tao gravosa como a perda da liberdade, a estratégia consiste em distribuir o risco dos dois tipos de erros (improcedéncias injustas vs. procedéncias injustas) simetricamente. A hipétese fatica confirmada em qualquer ponto su perior a % sera julgada vencedora. Deixar de dar a procedéncia a um pedido que merecia a tutela jurisdicional é considerado tio ruim quanto dar proceden- cia.a um pedido que em realidade nao mereciaa tutela jurisdicional. O equanime prejuizo produzido pelos dois tipos de erros conduz o sistema juridico a adotar, para esses casos, um standard de prova menos assimétrico. Finalmente, ainda aplicavel a Juris leradas mais gravosas quando comparadas a rotin 0 civil, o CCE serve a dificultar de erminadas decisoes con. de decisdes civis, como as declaram insanidade ou a perda de direitos sucessérios. A légica, como se vé, é de exigir mais das hipéteses fiticas quanto mais gravo- sas sejam as consequéncias delas extraidas. Em situagdes nas quais 0s arquitetos dos sistemas juridicos entendam que uma das partes tm mai aperder do que a outra (CCE), ou manifestamente mais a perder do que a outra (BARD), eles fa do uso de standards mais exigentes®, Para as outras situagdes nas quais consi deram equilibrados 0s riscos de erros, farao uso de standards menos exigentes e 18. Sobre a outra cara da moeda do BARD, SCHAUER, Frederick, Thinking like a lawyer cit, p. 220: *Supose we have ten defendants, and suppose further that each of them is 90 percent, but only 90 percent, likely to have commited a crime. Ifthe jury is doing its job properly then all en defendants will go free, because in the prosecution have met the requisite burden of proof of 9: defendant guilty. But because each of the ten has been charged, we can expet that nine those acquitted defendants will actually be guilty of that for which they are on tral, inspite of which they are now going free’ ione of these cases will mat confidence in the 19, “Cuando seadopta un estindar de prueba mas exigente, lo que esta en juego esevitares recialmente un tipo de error, el falso positivo (declarar probada una proposicidn falsa ‘una costa de elevar el riesgo de falsos negatives (declararno probada una proposicion. verdadera). Se ratade un find parcialmente en tension con este steal de la puraaveriguacion de la verdad y que esta .CCATINO, Daniela. Certeza, du en torno al estindar de la prueba penal. Revista de Derecho XXXVI, p y propuestas 88). Nesse 231 rias entre as hipoteses fatica produtores de menores assim resumo,a pluralidade de standands pretende expressar a ideia de sos positivos” mais gravosos do que outros: a condenacao de um inocente é mais sgravosa, do ponto de vista social, do que.a procedéncia injusta de um pedido Feitas essas consideracoes, sera mesmo que o BARD cumpre a sua funcao de waedes de inocentes?”" Embora dificultar as condenagdes e, com elas, as condet 10 é que as e convergéncia entre diversas propostas te6: autores de consideravel peso da epistemologia juridica sejam otimist idard em materia probatéria, ¢ peito a funcionalidade de algum sta riticas ao BARD s40 um ponto ricas®, Se por um lado defend outro, estio de acordo no que tangea inadequagao do BARD satish BARD deveriam pro- n distintas propostas de prova, por sdes racionais sobre os fatos, Ora, criticas tao ferrenhas duzir cautela no cendrio brasileiro. Adotar um standard de prova nao € algo que jauum bom caminho de decisao se deva fazer a partir de meras intuigdes do qué judicial, sentidas de forma isolada pelos operadores, contexto adequado pa a uma deciséo dessa relevancia politica ¢ o das deliberacdes coletivas, nas quais 08 prés e contras das opcdes em jogo. seja possivel debater conjuntamente sobr Nao ha raz6es para conferir ao BARD o protagonismo em matéria probatoria que ‘comparagao entre ven ocupando no nosso sistema processual penal. Alias, um: BARD ea intima conviceao ilumina semelhancas dificeis de serem ignoradas e 5, pois, da mes- ‘que nos ajudam a concluir que o BARD nao traz vantagens reais" ma maneira que ocorre com a intima conviegao (ou convencimento), 0 BARD jeia dele de que os standanis servem para ponto, a autora acompanha Larry Laudan’ o entre os ertos de falsos positives e megativos. distribuir de distintos modosa propo entenda-se declarar provaca uma hip6t calidade falsa: Por faso po por falso negativo, entenda-se declarar nao-provado uma hip rerdadeira) 21, SCHAUER, ‘se ao BARD) ~ and there s scant reason (o believe that tis notin most criminal cases La 22. Entre ees, Jordi Ferrere Larry Laudan, como sera possivel ver mais adiante 23, Para Ferrer, tanto “laintima c formulagbes insatisfact6rias por distintasrazdes, mas que comp el recurs tes}, de sorte que se tra «en duda su propio cardcter de estndar de prueba” (FERRER BELTRAN, Jordi tandares de prueba en el proceso penal espanol. Cuad Derecho, x. 13, 2007). rnvicetdn” como o “mas alla de toda duda razonable” sie n de standards subjetivos “al extremo de que puede ponerse també moa intima conviecao pée napresenta uma for da decisao (certeza moral sublinha a relevancia da pi e2,f subjetivistas, absolutamen mente atribuidas a inti Se € certo afirmar que o ce ti cer que essa ameaga & Dem ralizada pelo BARD. facao™. Isso, por sua poder é favorecido pela 4. 0 BARD no cenari 4.1. OBARD e seu tra Ao menos desde meade: julgamentos do SupremoT do standard “para além det ocritério de suficiencia pro os registros da presenga da decisto do STF encontra-se Min. Celso de Mello e foi ju associada a ideia de que ace Em outro trabalho, umda zidos pela excessiva conf nos casos de condenagde disposto pelo art. 226 da incompativeis com a afm juizese o abandono da pr Vil Seminario Nacional do Taruffo € umn dos autores mente aplicado pelas core processo penal italiano. 0 lado, nao € possivel saber resultado”. Veja E). Em gcertos fal ente é mais pedido. Hfungao de ! Embora gs com res- ko € que as postas ted- eriam pro- Je algo que pquado pa. p nas quais Bs em jogo. batoria que Bacio entre gnoradase is, da mes ). 0 BARD be negatives lidade falsa brs realidade fiminal cases ; Fonable” sto Exiraordin rsifcan- Bale ponerse rd Los es- sofia del ibém apresenta uma forte referéns cia 20 aspecto psicologico; tanto o BARD co- moa intima conviegao poem énfase no que o ju da deciséo (certeza moral ¢ ausé leve terem menteao momento ‘oaveis), mas nenhum deles lusivo caminho para a sua satis- a objecao quanto ao tis jetivistas, absolutamente livre: ncia de duividas sublinhaa relevancia da prova como tinico ¢e facao*, 1850, por sua vez, faz que co de viabilizar decisoes 'sde qualquer controle de racionalidade—origi- ‘ibuidas a intima conviccao — também sejam atribuiveis ao BARD” certo afirmar que 0 cendrio de auséncia de controle sobre os poder é favorecido pela intima conviegao, . também é certo que temos de cer que essa ameaca a Democracia e a0 Estado de Direito esta longe de ser neu- twalizada pelo BARD. 4. 0 BARD no cENArio Juripico BRASILEIRO 4.1. OBARDe seu tratamento pelos tr rasileiros Ao menos desde meados da década de 1990, julgamentos do Supremo Tribunal F do standard “par 4 noticia do uso, no ambito dos ‘ederal brasileiro (de agora em diante, STF), ‘a além de toda a divida razoavel” com o objetivo de determinar ocritétio de suficiéncia probatoria wtilizado em suas decisdes, Um dos mais anti. ‘além de qualquer daivida razoavel” numa decisao do STF encontra-se no Acérdao do HC 73.338/R], que teve como relator 0 Min. Celso de Mello e foi ju * Turma da Corte ainda em 1996. Embora associada a ideia de quea condenacao exigia “prov os registros da presenca da expressao ado pe ‘a inequivoca”, a invocagao do 24. Emoutto trabalho, um dos coautor, idos pel deste artigo tratou dos problemas que sio prod excessiva confianea que os magistrados brasileiros possuiem em si mesmos de condenagoes fundadas em reconhecimento pessoal sem observancin do disposto pelo art. 226 do CPP Tra le decisdes absolutamente incompati 10 de que foram decidids de prova racional. Ver, MATIDA, Janaina. Standards julzes e oabandono d VII Seminario Nacion. as com base em algum standard ova: a mod: conviegdo. Arquivos da Resistencia ¢ IBADPP, Florianopolis: Tirant Lo Blanch, 2019 Anais d p. 93-110, s que destinam criticas ao BARD. “Trata-se do crtério geral- tes estadunidenses, que foi recentemente ‘impot 25. Tarulfo € um dos autor ‘mente aplicado pelas proceso penal lado, ndo € possi ado! para 0 no. O significado exato mo esse €efetivamente aplicado pelos irisestadunidenses, ereditos; por outto lado, a definicao de ‘ivida ra menos clara, eas tentativas de dar a essa uma quantificacao nao produsir ado”. Veja-seT que ndo motivam s vel’ € tudo ram qualquer FFO, Michele. Uma simples verdade, p. 253 s,especialme BARD, nos anos que se em julgamentos que tinham 0 jé citado Ministro como relator. No voto que con- duziu o julgamento do HC 80.084/PE, 0 Ministro Celso de Mello anotou: “Ne nhuma acusagao penal se presume provada. Nao compete, ao réu, demonstrar a .guiram, foi repetida varias outra sua inacéncia. Cabe, a0 contratio, ao Ministério Publico, comprovar, de forma el, aculpabilidade do acusado’ inequivoca, para além de qualquer dtivida r Parece, contudo, ter sido mesmo com o julgamento do famoso caso Mensalao (Acao Penal 470, julgada pelo STF entre 2012 e 2014) que o BARD passoua ser utilizado com mais recorréncia, inclusive com sua mencao nos votos de outros Ministros da Corte, No mais lon dos 11 Mi disseminada do BARD produzida pelo Mensalio, seguiu-se a sua conso deral do Parand, em 2014). De fato, com a Lava Jato, o BARD ganhou “fama” ¢ *notori > julgamento da hist6ria do STF, ao menos seis istros® fizeram referéncia ao BARD em seus votos. A essa adogao mais o Lava Jato (iniciada sob a jurisdi¢ao da Justica por meio da operac dade": até a atengao da imprensa foi desperta seus arrazoados, 0 Ministério Puiblico Federal passou a sustentar que o BARD era ue existe”, do outro, nas sentengas do Juiz Sérgio aparao “o melhor standard de prova Moro, a indicagdo da existéncia de prova ‘acima de qualquer diivida razoavel era utilizada de forma recorrente, como um forte argumento retorico, empregado para lastrear aco uficientes. denacio na suposta presenga de prov Ouso do BARD na Lava Jato, contudo, nao ficou restrito a primeira instancia, Também no TRF da 4* Regido, o “para alm de tod a diivida razoavel” passou a 26. Joaquim Barbosa, Celso de Mello, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Luiz Fux e Rosa Weber CARVALHO, Lu anglo-americano, O Es faklouf. “Prova de 5.Paulo, 26.01.2018. Dispontvel em: {hutps:/polit estadao.com.br/noticias/geral analise-prova-acima-dequalquer- €, de processos psicoldgicos internos do julgador)®. Em lugar d uma consi ar disso, como encia da garantia do devido processo", é preciso passara uma con. racional dos seja baseada a crenga de quem quer que se} todo de corrobor: \cao da hipétese, en ido que se de- iadeta- -cisdo adotada (motivagao esta que nao basta ico em sentido estrito), nao importando tte 0 levou a tomar a decisio, suas crengas ou prejul- que justficam a sua decisao s elementos de prova dispontveis no proce ndicaral investigador o aquel que se esta custo rizadoa consideraralgo como probado, esto es indo cuando esta auto. cuando la relacion entre la prueba o las premisas justifica la aceptacion de la conclusion como probada para os propésitos pre didos. En el derecho penal, por el contrario, esta cuestion es ignorada ent 0 sorteada descaradamente mediante algunos trucos deconhianz de especificar que el nivel del jurado respecto dela eulpabilida edepender del ofrecimiento de una prueba firme, el derecho pet hace que cl EdP sea parasitario del nivel de confianza dor (esto esel jurado) tiene respecto dela culpabilidad del acusado, Te- nos una prueba, dice laley con tal que los jurados estén totalmente perstiadidos de la cculpabilidad del acusado ocon tal que ellos easignen wna probabilidad mayor que X.en donde X es el EdP probabilistico. En cualquier caso, cuando el jurado haya llegadoa ur algo grado de confianza, eendremos una prueba, Esto es poner las revés" (LAUDAN, Larry. Por qué un estindarde prus estandar. DOXA. Cuadernos de Filosofia del Derecho), FERRER BELTRAN, Jordi, La valoracién racio 2007. p. 64 BELTRAN, Jordi Fer Revus, n.33, 2017, p. 10 FERRER BELTRAN. Jordi. La valoracia FERRER BELTRAN, Jordi, La a subjetivo y ambiguo no es un nal de ia prueba, Madrid: Marcial Pons, El control dell valor de la prueba en segunda instancia, racional, cit. p. 65. 2 em do BAR 242 As CaMnss 156 Obviamente, nao se pode ter sucesso nese propésito se nao existir um stan- subjetividade, e que possa dard (ou varios standards) de prova que seja intersubjetivamente controlavel sivel, sobre quando se pod (para o professor de Girona, a existéncia de standards intersubjetivamente con- determinado caso concret troliveis é uma condigao de operatividade da presuncao de inocéncia, enquanto Dat por que Jordi Ferre garantia processual)". De acordo com Ferrer, “determinar cuando la prueba de proposicso de tim stand cargo es suficiente para justificarla condena es precisamente la funci6n de un es ial, bem como vers SS tindar de prueba”, mas se, em contrapartida, “no se dispone de un esténdar de dards de prova (de maior’ prueba que establezca cudndo la prueba es suficiente, lamera apelacién alasuf penal”. Em suma, com ciencia no aporta garantfa alguna al ciudadano dificil de ser definido e mai De fato, ainda com Ferrer, a estrutura do raciocinio probatorio exige mostrar gueza e imprecisio, o que 10 de um que se superou determinado nivel de corrobora: justificar que ela sejaaceita como provada, mas para isso é fundamental conhecer hipotese fatiea para que recorrera ideia de cert sivel justificara tomada de decisio sobre os fatos"”.F justamente nisso que reside 69. As liminagbes de cores © perigo do BARD: o seu grau de indeterminagao faz com que ele nao ajude em bre tems, mas € clog nada na tarefa de exigir do julgador uma valoragao racional da prova (baseada demonstrar como deve s na contrastacdo das hipdteses e sem perder de vista a necessidade de um contro- método de formulagao qu portanto, reside fessor de Girona, standan possibilitar uma condenai sera considlerada como pr le criterioso das inferencias probatorias® utiliza em estabelecer um standard que, diferentemente do BARD, esteja livre de tanta seguintes condigses =a hi cegrando-os de forma coe 64. FERRER BELTRAN, Jordi. Una concepcidn minimalista y garantista de la presuncion. formular devem ter sido de inocencia, Revista de la Maestria en Derecho Procesal, (S.J, v. 4,9. 1, apr. 2010. hipoteses plaustveis expli Disponivel em: [hup://www.evistas pucp.edu,pe/index. php/derechoprocesaV/article/ inocencia do acustdo, exd view/2393/2341]. Acesso em: 11.03.2019, Ainda de acordo com Ferrer, “sole avanzan: Lavatoracion racional, cit doenla formulacion de estindares de pruebaque (aunque no sean igualesal propuesto) 70. FERRER BELTRAN, Jord) reinan caracteristicas que no los ha ocertezas subjetivas, podra a" (FERRER BELTRAN, Jor Girona, 2018. Palestrareal 07.06.2018. dotarsede sentido un derecho ala uadernos Elect di, Los est proceso penal espaol P penal esp: 71. Para Ferrer, ha necessidadl rem utilizados em diferent ambien los respectivos Filosofia del Derecho, ¥ 65. FERRERBELTRAN, Jord 66, FERRERBELTRAN, Jordi. Los estandates de prueba, cit Una concepcioh Juco suficientes para abri 67. FERRER BELTRAN, Jordi. Las estandares de prueba cit preventiva y también, ya 68, MATIDA,Janaina R; HERDY, Rachel. Asinferencis probatorias: compromissos epist tiene que tener las mismnas rlcos, notmatives ¢ interpretativos. In: CUNHA, José Eduardo (Org). Epistemologias ori. Los estndares de pra éntticasdodireito, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018. p. 209, Reerindo-sea importancla 72. MELGACOREIS, Andre¥} do controle da qualidade das inleréncias probatoriss, Geraldo Prado pontua: “Nem dle provaacima da dividar todas as inleréncias probatdrias sto epistémicas, ou seja, sem todas compartilham uma duzir ac base empirica como fundamento. Muitas delas resultam de preconceitos que tema fun: penal (guilty beyond any n (fo de normatizar nossas crencas” (PRADO, Geraldo. Preficio. GALVAO, Danye} rogatorio por videaconferéncia, Sao Paulo: LiberArs, 2012) ser acusado’ ceza pessoal (c criminoso praticado:

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