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VINCE – Agiotas em Chamas (Livro 3)
1ª Edição

Capa | Diagramação:
Revisão: Lidiane Mastello

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, personagens,


lugares ou fatos terá sido uma mera coincidência.
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer
meios existentes – tangíveis ou intangíveis – sem prévia autorização da
autora. A violação dos direitos autorais é crime, estabelecido na lei nº
9.610/98, punido pelo artigo 184 do código penal.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995).
O fogo do Vince é arriscado e proibido. Não aconselho
desafiar suas chamas...
Dedico a todas as minhas leitoras que chamo carinhosamente de perversas.
Obrigada por chegarem até aqui comigo. Que Vince cause muitos estragos
nas calcinhas e nos corações...
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Bônus
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
EPÍLOGO 1
EPÍLOGO 2
NOTA DA AUTORA
REDES SOCIAIS
OUTROS LIVROS DA AUTORA
Vince é o terceiro irmão da família de agiotas, os Calatrone. Sendo o caçula
e sempre o mais rebelde, ele se envolve numa grande enrascada e acaba
perdendo a sua liberdade. Mas jura vingança e promete descobrir quem
armou para ele... Isso, se Dalila Borghi, sua prima, não tivesse entrado no
seu caminho e desviado todo o seu foco com a sua paixão proibida e
libidinosa.
Dalila Borghi é herdeira da ex-máfia mais poderosa de Portugal. Após
perder todos que amava, ela cria forças e segue em frente... ou quase, se não
fosse por Vince Calatrone, a sua paixão avassaladora da adolescência. Ela
só não esperava descobrir seus laços sanguíneos e que ele fosse rejeitá-la
tão dolorosamente.
Vince vai precisar lutar contra as chamas proibidas do coração e enfrentar
inimigos que ameaçam a sua vida e de todos que ama.
Eu agradeço por finalmente poder devorar a mesa de docinhos.
Estou no paraíso, tem até brigadeiro brasileiro! Puta merda, quase gozei!
— Os noivos mal saíram do salão e você já está aqui, igual um
esfomeado — fala Igor, o meu melhor amigo, como se a sua opinião
importasse.
— Já foi cuidar da sua vida hoje? — questiono de boca cheia. — Vai
ver se estou na esquina, invejoso.
Ele revira os olhos.
Mastigo uns cinco brigadeiros de uma vez e o sujo, que estava
falando mal do mal lavado, não perde tempo de também me acompanhar no
furto aos doces, até a sua esposa aparecer no flagra, puxar a sua orelha e
levá-lo para abraçar e parabenizar os noivos.
Sorrio, observando de longe a felicidade dos meus irmãos.
Rael foi pego completamente de surpresa com o casamento armado
pela Jolie e por todos nós da família. Primeiro, foi a Elena que propôs a
perversidade de aproveitar que ela e Hoss iriam se casar, para Jolie e Rael
também se unirem em matrimônio, mas sem o pobre coitado do noivo
saber. Resumindo, o melhor de tudo foi quando ele viu a Jolie entrando de
noiva, sem esperar, sem sequer imaginar que era o seu casamento. Nunca
me segurei tanto para não rir da cara de alguém, Rael faltou desmaiar de
choque. Hoje vou dar um dia de paz para ele, mas amanhã já começo a
infernizá-lo sem dó.
Respiro fundo, muito mais do que feliz por ver os meus dois irmãos
apaixonados, casados e prontos para construírem sua família. Que orgulho.
— Vince?
Ouço uma voz feminina, já bem conhecida por mim.
Viro-me e encaro a Lila.
— Olá, meu doce de brigadeiro.
— O quê? — Ela franze a sobrancelha, sem entender.
Então rio e ergo o doce.
— Brigadeiro brasileiro, meu preferido.
— Ah, deveria imaginar que estava roubando doces, é da sua índole
tal feitio.
— É a minha maior especialidade, sabia?
— E como eu não saberia?
— Eu não lembro de ter lhe contado.
— Não sabia. — Ela dá de ombros, estranha.
— O que foi, Lila? Está assim pela Jolie ter se casado?
— Não, estou feliz pela minha madrasta. Eu a amo e quero muito a
sua felicidade. Ela merece, depois de tudo que passou nas mãos do meu pai.
Rael é um cara incrível, eu o adoro também.
— Então, por que dessa carinha estranha? Você não é assim, é bem
mais divertida.
Ele olha no fundo dos meus olhos, com as suas íris escuras. Meu
coração até apertou. Sinto-a triste.
— Sou eu, a minha vida. Desculpa.
— Não peça desculpa. Vem, vamos dar uma volta.
Ela assente e me acompanha.
— Queria te tirar um pouco da movimentação do casamento, é
melhor para conversarmos.
— Vou te agradecer, pois estou me sentindo mal por não estar
compartilhando da mesma felicidade que os outros.
— Infelizmente, ainda é recente as suas perdas. E sou o seu amigo,
me importo com você, sempre saiba disso.
Lila permanece quieta.
— Entendeu?
— Sim, somos amigos. Na verdade, você é o meu único amigo.
Paro com ela na segunda área do castelo e nos sentamos em um dos
sofás confortáveis.
— Quero te contar uma coisa.
— Estou a todos ouvidos.
— Eu pedi para o meu tio Paulo me deixar fazer faculdade em
Londres e ele permitiu.
Rapidamente me ajeito no assento.
— Como assim? Isso é muito arriscado, seu sobrenome, os inimigos
da sua família. E tudo aquilo que aconteceu, só faz um mês.
— Eu não tenho medo, estará tudo bem e seguro.
— Não vai estar, você é neta do Toretto, é uma Borghi, tem ideia da
magnitude disso? Pessoas ruins podem tentar te sequestrar, te machucar.
Como Paulo pode permitir?
— Ele permitiu porque eu vou fazer dezoito anos e é a minha
decisão. Não se comporte como se fosse o meu pai!
— Estou sendo o seu irmão mais velho.
Ela aperta os olhos, quase chorando.
Fico sem chão.
— Não, não quero que seja o meu irmão mais velho...
— Ei, Lila... não chora. — Tento limpar a sua bochecha, mas ela se
afasta tão rápido, que fico constrangido. — Desculpe-me.
— Você é mais do que tudo isso para mim e nunca vai entender,
porque só me vê como...
— É claro que te entendo, e entendo que não é essa garota triste,
nunca foi. É uma pessoa que compartilha do mesmo humor que o meu. E
desde que nos conhecemos pela internet e que eu soube da sua história,
você se tornou a minha protegida. Só quero o seu bem.
— Eu também quero o seu bem, sou feliz por ter te conhecido
naqueles jogos on-line, se tornou mais do que a minha companhia... tenho
medo de te perder.
Eu sorrio, compadecido por ela.
— Não vai me perder. Nunca vou deixar de falar com você, de ser a
sua companhia, o seu ombro de consolo e de desabafo. É para isso que
amigos servem, minha garota de cabelos loiros.
Lila assente, voltando a se aproximar de mim. Ela toca no meu
braço, bem retraída e trêmula.
— Gosto quando você me chama assim.
— Eu salvava o seu nome nos jogos de “minha garota”, às vezes o
“loira” não cabia.
Ela ri, tão mais próxima, que sinto o seu doce perfume.
— Eu salvava o seu como “a Magali agiota”.
— Ah, mas que gentil, ficou um apelido bem carinhoso.
— Acho que vou sentir falta do seu humor pessoalmente.
— É claro que sentirá, não sei como vai sobreviver sem mim. Devia
ter aceitado morar algumas semanas aqui no castelo, teria aproveitado ainda
mais da minha adorável, divertida e insuportável pessoa, além de
irresistível.
Lila revira os olhos.
— Você que vai sentir falta da minha maravilhosa pessoa, tenho
certeza, queridinho.
— Hummm, super humilde. E que tal colocarmos uma música
obscena naquela festa, para dançarmos e você se animar um pouco? O povo
está muito parado, gosto de causar.
Puxo-a pelo braço, e ela vem sem escolha.
Escolho algo bem dançante, que faz todos pularem e se divertirem.
Tento a todo momento empurrar bebida alcoólica para Dalila e levo tapas
dolorosos da Jolie e da Hera.
— Vince!
— Ela vai fazer dezoito anos, deixa a menina viver... ai! — Hera me
bate de novo.
Lila só sabe rir da minha cara, até que surpreendendo a todos, ela
vira uma garrafa de champanhe na boca.
— Dalila!
— Essa é minha garota loira!
Festejamos até cair a madrugada, exceto por Elena, que foi
descansar cedo por causa dos inchaços nos pés, coisa da gravidez.
Estamos mortos e bêbados.
— Eu não consigo ficar mais, vamos, amor... — Rael pega a Jolie
no colo e leva-a para dentro.
Eu me deito no gramado úmido, ao lado da Lila. Somos os últimos.
— Todos já foram para dentro, isso significa que é a sua hora
também.
— Não... olha como estão as estrelas — sussurra e aponta para o
céu.
Meio tonto, eu não consigo ver nada, se vejo, é só o céu rodando.
— Estão lindas, todas brilhantes.
— Você nem olhou para elas, seu mentiroso descabido.
— Não estou em condições nem de contar quantos dedos eu tenho.
— Nem eu... — Lila se deita no meu peito e acaricia a minha barba.
Fico incomodado com o carinho, ela não é disso, nunca nos
aproximamos mais do que foi hoje, naquele sofá. Só que não tenho forças
nem para abrir a boca. Estou podre, bebi tanta cerveja.
— Vince, não quero que me veja só como uma “garota”, sou mais
do que isso, sou uma mulher.
— Ué, você nunca foi mulher?
— Meu Deus, seu idiota. — Ela não ri, ao contrário de mim, que
está igual um bobão alcoolizado. — Quero que me dê algo, antes de eu ir
embora para Londres.
— Você ainda não decidiu se vai.
— Eu vou... já fiz a matrícula e as malas estão prontas. Só falta eu
contar para a Jolie.
— Ela não vai concordar com essa decisão — digo, sonolento.
— Já espero, por isso, vou contar por último.
Sinto as suas mãos macias no meu rosto.
— Vince, quero perder a minha virgindade com você...
Arregalo os olhos, tendo certeza de que escutei um delírio. Só posso
estar louco, bebi demais, tenho certeza.
— Eu ouvi algo, melhor entrarmos.
— Você me ouviu.
Ela puxa o meu braço, impedindo-me de me levantar.
— Não, não disso o que eu ouvi, tenho certeza. Estava quase
cochilando e...
— Quero perder a minha virgindade com você.
Volto a arregalar os olhos.
— Ficou louca, Dalila? Como pode me pedir uma merda dessa?
Somos primos! Só pode ter bebido muito mesmo, é claro, não é de beber e
se descontrolou.
— Talvez a bebida só tenha me dado coragem de falar o que eu
quero.
Afasto-me dela, não querendo vê-la com outros olhos.
— Eu sou uma mulher atraente, dá para me ver assim?
— Eu te vejo com uma irmã, que precisa de proteção!
— Poupe-me, eu sou treinada para me defender desde que nasci,
acha que não sei lutar? Empunhar uma arma? Meu avô sempre me preparou
para ser uma mulher forte, para confrontar os nossos inimigos, sem abaixar
a cabeça. Eu nasci na máfia!
— Ok, é uma mulher foda, está feliz agora? Pois eu nunca disse o
contrário. Mas fazer o que está me pedindo. Ficou maluca? Tem noção do
que me pediu?
— Não é possível que nunca teve outros olhos para mim, como eu
tive por você o tempo todo.
Meu Deus, Lila gosta de mim, e desse jeito?
— Não, não tive, nem nunca vou ter! — exclamo tão rude e
chocado, que sinto o meu sangue ferver, como se eu estivesse incorporando
a porra da fúria dos meus dois irmãos.
— Não é difícil de ter... — Ela abaixa rapidamente as alças do
vestido, revelando os seus seios.
Foi tudo tão rápido, que não tive tempo de reagir.
Não, não posso olhar, o que estou fazendo?
Meus instintos masculinos são maiores... vejo-os... são perfeitos,
médios, rosados e empinados. Ela se arrepia pelo frio e assisto aos dois
mamilos se enrijecerem.
Lila se aproxima e antes que eu pudesse correr dessa garota louca,
ouvimos a voz de alguém. Isso me fez puxá-la com agilidade, para proteger
a sua nudez.
— Vince? Dalila? Mas que porra é essa?!
Respiro forte, colado ao rosto dela e sentindo os seus seios se
apertarem no meu peitoral. Eu endureço, sem nunca sequer imaginar que
isso pudesse acontecer, não justo por ela. E não poderia, eu não quero ter
esse desejo, Dalila sequer faz o meu tipo de mulher. A garota ingênua
interpretou tudo errado.
Mas é tarde para desfazer a desgraça que provocou.
— Eu não posso acreditar nisso! — Depois de Rael aparecer
berrando, é a vez da Hera.
Eles dois nos pegam no flagra, numa posição que não tenho muito o
que discutir e me defender. Só há uma interpretação errada, a única que a
minha família vai acreditar.
Lila tenta abrir a boca para se explicar, mas não deixo em nenhum
momento que assuma a culpa. Eu assumo tudo, sem nem discutir.
Ela teve perdas dolorosas, e por mais que a sua família fosse a droga
de uma máfia sem escrúpulos, amava-os. E como eu imaginava, isso é
usado contra mim a todo momento, a vulnerabilidade dela, os traumas
recentes. Saio como o grande filho da puta aproveitador, já que a minha
fama é de um cafajeste sem compromisso mesmo.
É o fim. Corto qualquer relação com a Dalila.
Ela é nova, vai amadurecer e encontrar o seu destino com alguém
que a mereça.
Cinco anos depois...

Nem acredito que hoje foi o meu último dia nesse inferno. Fui pego,
sem poder negar e apagar completamente as provas que me entregavam. A
voz do juiz ainda ressoa na minha mente, dele ditando o meu crime e meia
hora depois decretando a minha sentença.
Eu caminho para fora da prisão, respirando a minha liberdade, após
oito meses recluso.
— Seu grande filho da puta! — Hoss grita do outro lado, correndo
até mim, juntamente com o Rael e o tio Argus.
Hoss, primeiro me dá um soco de leve no estômago, antes de me
abraçar com força.
— Ai, essa doeu, seu sem coração.
— Tem sorte de não atirarmos nessa sua cara. E como é bom poder
te ver livre, polaco azedo. — Rael também me abraça, bagunçando todo o
meu cabelo.
— Filho, que saudades de você... — Por último, é a vez do tio
Argus.
— Nem acredito que estou em liberdade, senti tanta falta da família.
Não vejo a hora de rever os meus sobrinhos.
— Você vai rever, todos estão te esperando com um banquete.
— É assim que eu gosto, amo vocês.
Sorrio e abraço os meus irmãos de novo.
Durante o percurso na estrada, eu faço questão de abrir a janela,
para olhar tudo o que posso e que há oito meses nem sequer me importava.
Eu vou mudar a minha vida, tomar mais juízo... só que antes,
preciso descobrir quem hackeou o meu computador e me entregou para a
polícia.
— Vince, está com a cabeça na Lua?
Olho para o Rael, sorrindo.
— Estou ansioso para ver as minhas mulheres. Jolie e Elena devem
ter sentido muita falta de um homem de verdade em casa.
Hoss e Rael reviram os olhos.
— Vamos relevar porque estávamos sentindo muita falta de te
suportar.
— É claro que estavam, aquele castelo sem mim é igual a terra sem
o sol e a lua.
— Falta de humildade saiu intacta da prisão...
Para matar a saudade, continuo implicando com eles, até chegarmos
ao castelo e o meu coração disparar.
Como é bom estar em casa, não consigo nem acreditar. Pensei por
meses nesse momento. E isso me revolta, eu juro que vou descobrir quem
me privou de viver a minha vida por esses meses, de estar com as pessoas
que amo.
Desço rápido do carro, correndo para dentro. Então, arrombo a sala,
assustando a todos com a minha presença, cheguei a gritar “surpresa”.
— VINCE!
— TIO VINCE!
— É você, meu Deus, é você!
Hera, Jolie, Elena e Maria correm para me abraçar, todas chorando
de felicidade.
— Não precisam mais chorar, seu homem está em casa, minhas
deusas.
— Ah! Como senti falta desse humor idiota.
Elas me soltam, limpando as lágrimas do rosto.
— Chorei todos os dias, tio Vince — Maria revela, emocionada. —
Eu queria te ver, mas o meu pai não deixava... ninguém deixava —
resmunga.
— Isso não importa mais, agora, estou aqui, pequena piolhenta, não
vamos mais nos separar.
Ela ri e volta a me abraçar, toda mocinha com seus dez anos.
— Você leu as minhas cartas, né? Pelo menos isso o meu pai levava
à força.
— Acho que a Maria tem o espírito do Rael, durante esses meses
todos, ela só faltou me render e me obrigar a entrar num helicóptero, para
sobrevoar a prisão e te resgatar — Morcego comenta, vindo me abraçar
também.
— Eu não duvido nada da capacidade dessa criatura.
— Saudades, irmão, é bom demais te ter de volta...
Sorrio para ele, para todos. Enfim, nossa família está reunida, como
sempre deve ser.
— Vontade de acabar com essa sua cara, não sabe como sofremos
por você. — Hera me dá um tapa ardido, sem pena.
— Meu Deus, vocês são fãs ou haters? Mulher, se controla.
— Eu também não sei como não acabei com a raça dele. — Hoss se
senta no sofá, ao lado do Rael, igual dois marrentos.
— Não fizemos isso porque o tio Argus nos impediu.
— Mentirosos, choraram iguais crianças quando me viram. Rael
disse que quase morreu sem mim e que essa casa sem a minha presença era
igual a terra sem o sol e a lua.
— Ah, vai a merda seu filho da...
— Rael! — Jolie pisa no pé dele. — Temos uma criança aqui.
— Se estiver falando de mim, eu já tenho dez anos, tia! — Maria se
defende, de peito inflado. — Já sou pré-adolescente.
— Exatamente. — Puxo a minha sobrinha por trás. — Já está na
hora do titio ajudar a nossa princesa a arrumar um namorado.
— Eu vou te matar, desgraçado!
— Hoss!
Ele dá um pulo do sofá, pronto para quebrar o meu pescoço.
Morcego e Elena o seguraram.
— Desta vez sou eu quem vai ser preso, por matar esse estrume.
— Calma, meu anjo, é bom já analisarmos os preten...
— Vince! — Hera me fuzila.
A arteira da Maria só sabe segurar a vontade de rir. Acho bom não
rir muito, pois se depender do seu pai, é capaz dela chegar solteira aos
quarenta anos. E nem estou brincando.
Ficamos mais um pouco reunidos na sala, até o Luiz aparecer e
comunicar que a mesa do café está pronta. Isso é música para os meus
ouvidos. Abraço o Luiz perto da porta, surpreendendo o nosso
engomadinho e dizendo que senti falta dele também. Ele fica sem reação.
Até a cozinheira e as nossas empregadas não escaparam do meu abraço.
E finalmente, sentado à mesa, eu devoro o café da manhã, sentindo
falta de comer uma boa comida. A prisão é horrível, saí traumatizado.
— Já terminamos a nossa casa — Rael comenta.
Eu sorrio, feliz por ele e pela Jolie. Hoss e Elena também
construíram sua casa luxuosa nos hectares do castelo. Um pouco longe e ao
mesmo tempo perto. E isso, para a família sempre estar reunida. Apenas a
Hera e o Morcego que optaram por continuarem morando no castelo, já que
aqui é enorme e restou só eu e o tio Argus.
— Esse castelo ficará ainda mais frio e solitário — tio Argus
confessa.
— Que nada, sempre estaremos por aqui.
— Igual eu e o Hoss, temos a nossa casa por perto, mas estamos
quase todos os dias no castelo. Além de que, o Henry prefere ficar aqui, por
causa do Gian. Ele já acorda perguntando do primo.
— Falando nisso, onde estão os meus outros sobrinhos? — pergunto
de boca cheia.
Além do Henry de três anos, Hoss e Elena tiveram a Pétala, que já
deve estar com um ano, pois quando eu fui preso, a bebê estava fazendo
dois meses. Já Rael e Jolie tiveram o Gian, de dois aninhos.
— Estão todos dormindo no quarto, graças a Deus — Maria
responde, tentando roubar o último pão doce da cesta, mas eu sou mais
rápido. — Tio Vince, era meu!
— Perdeu, piolhenta.
— Esses dois implicantes não mudam nunca...
— Eu sou o tio preferido, aceita, Morcego.
— Vince, os bebês estão enormes — Hera comenta, de repente, com
sua carinha de prima boba e puxa saco. — Gian já me chama de “Hela”,
igual nosso pequeno Henry. Fico toda derretida.
— Em oito meses deve ter crescido muito — murmuro, e eles se
olham, calados.
Minha família não imagina o quanto eu sofri de saudade das
crianças, meu coração vai doer tanto quando eu vir a Pétala enorme. Ela era
uma recém-nascida tão pequenininha, cabia na minha mão. Já os meninos
eram os meus grudes, como a Maria.
— Quanto mais eles crescem, mais mexem nas minhas coisas —
Maria reclama. — Henry quebrou meu batom brilhoso da Monster High.
— Ai que triste, acabou o mundo para ela — debocho, e a
bezerrinha me fuzila.
— Que história é essa de batom? — Hoss olha incrédulo para Elena,
quase bravo. — Batom para uma criança de dez anos?
— Sou pré-adolescente, pai!
— Larga de ser chato. É um gloss de um desenho de meninas, ela é
fã, tem até bonecas. — Elena dá de ombros.
— É das Monster High, tenho as maquiagens que a tia Jolie trouxe
ano passado dos Estados Unidos.
— Já as bonecas, fui eu quem dei — Hera se gaba, tirando um
sorriso enorme da Maria.
— Já eu, darei os meus ensinamentos para ela arrumar um
namorado — digo calmamente.
— Hoss!
Meu irmão me jogou uma colher de chá na testa e depois de gemer
de dor, eu comecei a gargalhar sem parar.
Como senti falta dessa diversão, de estar com eles, implicando,
rindo e fazendo parte de todos esses momentos marcantes.
Não aceito viver nem mais um dia longe da minha família. Oito
meses foram anos, sinto que tiraram momentos importantes de mim.
Vivi um inferno naquele canil, agora, algo devora o meu coração,
deixa-me sedento para saber quem fez isso e por quê.
— Vince? — Tio Argus bate à porta do meu quarto, abrindo-a e
entrando. — Desculpa atrapalhar o seu descanso.
— Relaxa, tio, ainda ia tomar banho.
— Está realmente tudo bem com você?
Ele se senta na beirada da cama, olhando-me com seus olhos de
gavião, capaz de ler até os nossos mais profundos pensamentos.
— Está sim...
— Conheço você, o seu olhar está diferente.
— Eu senti muita falta da família, do castelo, essas coisas estão me
fazendo refletir em silêncio, é só isso.
— Sinto muito pelo que aconteceu.
— Eu também sinto. Não entendo como aconteceu, pois nunca
deixo rastros do que faço.
— Eles tiveram provas de você invadindo os sites do governo, além
da casa da moeda. Não tinha como contestar as evidências. É um teimoso,
eu e os seus irmãos havíamos pedido centenas de vezes para que parasse de
cometer esses crimes cibernéticos.
— Eu parei há uns três anos, não era para ter essas malditas provas,
a qual provocaram meu julgamento.
— Poderia ter sido muito mais meses, sabe disso.
— Mas não foi. E não quero essa vida, tio. Desejo mudar.
— Quis dizer, criar juízo? Pois concordo, já está com 30 anos.
— Ah, obrigado por jogar na minha cara.
— Que está ficando um velho rebelde? Não sei ainda como nunca
apareceu com uma penca de filhos, acho que a sua única responsabilidade é
com a camisinha.
Eu rolo os olhos e me deito na cama, fingindo-me de morto.
— Quando sair, feche a porta, pelo amor de Deus — resmungo.
— É assim que resolve os seus problemas, fingido que eles não
existem?
— É o senhor que está criando esses problemas, graças a Deus a
minha terapia está em dia.
— Céus, me dê paciência... — Tio Argus resmunga e sai do quarto.
Respiro fundo e inspiro, concentrando-me para não pensar na merda
da minha vida.
Assim que o motorista para com o carro em frente ao castelo, eu
sinto um aperto gigantesco no peito. Demoro para descer, fico olhando a
imponência luxuosa da residência.
— Senhorita... — O motorista pigarreia.
Eu desço e paro ao lado das minhas malas.
— Obrigada, Xavier.
Ele assente, educado.
Então subo os degraus, indo até a grandiosa porta. Não chamo pelo
mordomo, simplesmente entro, já sendo de casa, praticamente.
— Lila! — Hera me vê no arco da sala e se ergue do sofá, correndo
até mim. — Que bom que decidiu passar esses dias conosco! Jolie vai ficar
tão feliz!
Sorrio, abraçando-a.
É a décima vez que eu venho ficar no castelo e isso... só em oito
meses. O que me fez criar mais laços com a família Calatrone. Eles são
incríveis.
— Ela nem imagina que estou em Portugal, desta vez, para ficar.
— É sério? — Hera segura os meus ombros. — Ahhh! Que notícia
boa, minha querida. É tão bom ter os amigos por perto.
— Eu comprei um apartamento no centro de Lisboa e já estou
mobiliando.
Ela força um sorriso, querendo dizer algo.
— O seu tio Paulo e a sua madrasta sabem?
— Sim, mas entre os dois, eu tenho mais medo da minha madrasta.
— Eu teria mesmo, Jolie é bem protetora com você... Paulo então...
— Tio Paulo é insuportável, acredita que ele colocou dez seguranças
no meu pé, desde que eu pisei no aeroporto? Contando com o motorista. Lá
em Londres era a mesma coisa.
— Paulo retomou os negócios do seu avô, de uma forma mais
“light” e menos sanguinária.
— Ainda somos uma máfia, é isso o que quis dizer e tudo bem. —
Dou de ombros. — O crime continua sendo a nossa linhagem, é o que nos
deixa quase bilionários.
— Não tivemos muita escolha, não é mesmo?
— Pois é...
Sento-me no sofá, relaxando as costas.
— E aí, vai querer ficar no Castelo ou na casa da Jolie e do Rael?
— Eles já se mudaram?
— Sim, tem uns dias. A casa ficou chique, depois vamos lá visitar.
— Vamos sim. Estou morrendo de saudades do Gian, trouxe
presentes para o meu pequeno pupilo. Ah, e também para o Henry, a Maria
e a bebê da Elena.
— Maria quando te vir vai subir aos céus, é a melhor amiga dela.
— Como ela cresceu, né? Daqui a pouco vira mocinha e por fim
uma mulher.
— O terror do Hoss e dos tios ciumentos.
Caímos na gargalhada.
— Não vejo a hora de vê-la interessada em algum namoradinho.
— Hoss mata todos. Ele até odeia que falem dessas coisas perto
dele.
— Imagino o Vince implicando. — Sorrio. — É a cara daquele
implicante fazer isso.
— Já está sabendo? — Hera muda de assunto.
— Do quê?
— Vince saiu hoje...
Arregalo os olhos, sem acreditar no que ouvi.
— O-o que disse?
— Vince ganhou a sua liberdade hoje. Chegou esta manhã.
Meu Deus, não posso acreditar, faz tanto tempo que não o vejo, que
não conversamos. Chorei tanto quando soube da sua prisão, depois da sua
sentença. Foi uma das piores dores que já senti, tive que tomar remédios
para ansiedade.
— Lila?
— Eu... eu estou tão feliz por ele finalmente estar livre. Achei que
iria sair só no final desse mês.
— Os advogados adiantaram as coisas. Mas é por isso que está
aqui? — Ela tenta esconder o sorriso discreto, mas consigo notá-lo.
— Não, claro que não, estou aqui por causa da Jolie e de vocês.
— Dalila...
— Hera, não invente coisa. Vou passar só o final de semana no
castelo e segunda já vou para o meu apartamento, viver a minha vida.
— Você é apaixonada por ele desde a sua adolescência, não é
segredo nem para o papa.
— Vai insistir mesmo nesse assunto?
— E vai fugir até quando dele?
— Não estou fugindo de nada, isso é passado, coisa de adolescente
apaixonadinha. Já tenho 22 anos, uma adulta formada e independente.
Tenho outra mentalidade. Por favor, não fale mais disso.
— Tudo bem, já entendi. E desculpe-me se fui inconveniente.
— Não foi, não se preocupe.
— Prometo não tocar mais no assunto. Vou pedir para o Luiz se
encarregar de subir as suas malas, não sei se deseja descansar da viagem.
— Eu descansei bem no avião.
— Então, quer um lanchinho da tarde?
— Sim, estou faminta.
— Pois venha, têm tortas de todos os sabores.
Levanto-me com entusiasmo do sofá, para acompanhá-la até a
cozinha. Só que ainda vou meio tonta e em choque pela notícia do Vince.
Não paro de pensar nele.
Ele está aqui, tão perto de mim. Não é possível que esses batimentos
descompensados sejam normais, só de pensar nesse homem. Queria
esquecê-lo, tirá-lo da minha cabeça, faz tantos anos, por que não supero?
Tento não ficar estranha. Como o meu lanchinho saboroso, que é
torta de frango. Também me divirto com a Hera e as empregadas, ouvindo-
as contarem uma fofoca que aconteceu entre os famosos essa semana. Acho
que ficamos umas duas horas só fofocando.
— Lila, vai tomar um banho e se arrumar, os meninos estão
querendo fazer um churrasco com muita cerveja. Daqui a pouco estão aí
com a Elena, a Jolie e as crianças.
— Vou daqui a pouco, preciso ligar primeiro para a minha tia
Lupita, para saber como ela e os meus sobrinhos estão.
Hera assente, dizendo que vai se arrumar e retira-se para o elevador.
Fico sozinha na sala, primeiramente, respondendo às mensagens dos
meus amigos de Londres. Eles estão tristes com a minha mudança
definitiva. Depois ligo para a tia Lupi...
— Hera, onde o Morcego está?
De repente, ouço uma voz grossa atravessar o ambiente enorme, de
dois pés direito. Ergo a cabeça, agradecendo por estar sentada.
Não é possível...
Meu corpo paralisa, parece que não sei mais respirar, nem mexer um
membro sequer. Meus olhos nem piscam.
— Hera?
Ele chega mais perto e para no meio da sala, vendo-me finalmente.
Parece que demora para reconhecer a minha pessoa. Está me escaneando.
Eu entrei na fase adulta e mudei muito, criei mais corpo e clareei
ainda mais os cabelos.
— Dalila? — Então reconhece.
E isso me faz tremer de pavor.
Como o Vince pode ficar ainda mais bonito? Está mais forte, com
um porte atlético de quem treina todos os dias, barba grande e o rosto
envelheceu, não é aquele garoto de olhar leve. Vince mudou, seus olhos
estão mais profundos, aterrorizantes e sombrios.
— O-oi... — sussurro, surpreendida por ter conseguido abrir a boca
e reproduzido algum som entendível.
Ele chega mais perto de mim.
— Nossa, como mudou, Lila, é você mesmo?
Coro envergonhada, erguendo-me.
— Sim, sou eu, cheguei há umas duas horas no castelo.
— Pra quê? Por minha causa?
Meu peito para e gelo dos pés à cabeça.
— Não mesmo, eu só vim passar o final de semana, cheguei de
Londres, desta vez para morar em Lisboa.
— E resolveu vir direto para o castelo?
Meu rosto fica ainda mais vermelho.
Por que ele está agindo assim? Cadê o meu Vince engraçado e
carinhoso comigo?
— Eu sempre venho para cá, quero dizer... comecei a vir nos
últimos meses. Tenho minha madrasta aqui, esqueceu?
— Não poderia esquecer, enfim, fique à vontade, já deve ser de
casa.
— Vince, espera... — Antes que ele possa virar as costas, paro-o.
Ele se vira, olhando-me.
— Queria dizer que estou feliz por estar livre e de volta à sua
família. Fiquei arrasada quando...
— Obrigado, Dalila — ele me interrompe. — Igualmente fico feliz
por vê-la bem. É bom rever os antigos amigos... com licença — diz calmo,
virando as costas e retirando-se.
Eu volto a soltar o ar dos pulmões, sentindo os meus olhos arderem.
Que saudades de você, seu idiota. Por que agiu assim comigo? Na
minha mente, esse momento era diferente... ele me abraçava com seu jeito
brincalhão, chamava-me de “minha garota loira” e dizia o quanto sentia a
minha falta.
Foi pior do que levar um soco no estômago. Mas, tudo bem, já faz
cinco anos, mudamos, né? Perdemos aquela intimidade de quando eu tinha
17. Hoje eu tenho 22. Não sou mais a garota que ele se importava. Aquilo é
passado. Ainda mais depois daquele acontecimento vergonhoso. É o meu
pior remorso, como eu tive coragem de... não, não! Não pense nessa merda,
Dalila!
Você é trouxa! Deve esquecê-lo!
Chega disso, não existe só o Vince de homem no mundo!
Supera, maldito coração!
Aquela não pode ser a Lila. Puta que pariu, ela ficou uma mulher
linda! Parece até uma modelo. Só não entendo o porquê de ela estar no
castelo. Será que soube que eu seria liberado hoje e veio por pena? Se for,
dou um foda-se.
Não quero ninguém sentindo pena ou tocando nesse assunto. Não
temos mais nenhuma intimidade.
Eu subo para o meu quarto, arrumo-me e desço vinte minutos
depois, para aguardar o pessoal na área de churrasco.
Morcego é o primeiro a chegar.
— Hera ainda está se arrumando.
— Já acendi a churrasqueira.
— Temos funcionário para cuidar disso.
— Não sou capaz de tamanha confiança. Faço questão de cuidar da
carne, é uma honra.
— É um passa fome de olho gordo.
— Não te perguntei nada, ridículo.
Ele dá de ombros.
Sento-me na ponta da enorme mesa de madeira.
— Estão todos felizes por você estar de volta.
— Eu sei, esse castelo não tem graça sem minha humilde pessoa.
Morcego revira os olhos.
— “Humilde pessoa”.
— Mas sério, também senti muita falta de vocês. Não é fácil ficar
preso, mas sou grato pela pena não ter sido de anos.
— Se tivessem mais provas, com certeza estaria ainda naquele
inferno. Graças a Deus que já passou, agora é viver a vida da melhor forma,
que só você sabe.
— Preciso urgente foder umas cinco de uma vez. Tenho tanto
esperma guardado que já deve ter petrificado.
— Como perco tempo ouvindo tanta merda de você?
— Sabe que sou o seu cunhado-primo preferido, amorzinho.
Ele me xinga e mudamos de assunto, para falarmos dos negócios da
família. Precisava entender como foram as coisas durante esses meses que
estive preso igual a um porco para o abate.
Enquanto isso, a família foi chegando com as crianças, até todos
estarem reunidos, com a carne já na churrasqueira e a cerveja sendo servida.
As mulheres ficam mais nos drinks.
— Falem comigo, garotões. — Antes que Henry e Gian pudessem
correr, peguei os dois cabeçudinhos no colo. — O tio estava com
saudades...
Eles me abraçam.
— Tio preferido! — Henry fala bem alto, fazendo Rael, Morcego e
Hoss revirarem os olhos.
— Eu já falei para vocês não deixarem as crianças sozinhas com o
Vince, ele só ensina a falarem o que não presta.
— Invejosos, né, crianças? Só porque o titio é o preferido.
— SIIIMM! — eles exclamam, dando beijos na minha bochecha.
— Idiota...
Coloco os pirralhos no chão e vou me sentar com a família à mesa.
Sento-me bem ao lado da Elena, só para ficar fazendo careta para a bebê.
Tiro risadas altas dela.
— Você chegou que horas, Lila? — Jolie pergunta.
— Há umas duas horas e meia. Eu vim direto do aeroporto.
— Veio sozinha? — Rael questiona, já todo protetor.
— Não, tio Paulo fez questão de deixar dez seguranças, incluindo o
motorista, aguardando-me para ir embora.
— Foi muito pouco.
— Jolie! — Rael dá uma cotovelada nela.
— Estou feliz, porque a minha melhor amiga está de volta. Você tem
que ir ao meu quarto novo, Lila, ele está incrível!
Assim que Maria viu a Dalila, faltou sufocá-la com tantos abraços
apertados. Já a Jolie, quase teve um ataque cardíaco por ver a enteada de
surpresa. Ela não avisou para ninguém que voltaria para Lisboa.
Eu estou a todo momento na minha, mais ouvindo do que
interagindo.
Lila me olha várias vezes, o que me deixa desconfortável com ela.
Tento não me importar e para a minha surpresa, durante o churrasco, vou
me soltando naturalmente, certeza que por causa do álcool.
Começo a fazer todos rirem, tendo essa como uma das melhores
noites da minha vida. Comemos, brincamos, rimos e até nos emocionamos
com as histórias dos partos da Jolie e da Elena.
Eu amo tanto a minha família.
Que noite, que momento indescritível!
— Vince, chega de beber.
— Eu não TÔ BEBENDO...
Hoss e Rael me pegam em cada braço.
— A diversão acabou, polaco azedo. Todos já foram para dentro.
— Nem amanheceu. — Sorrio, torcendo as pernas.
— Desde quando foi de beber assim, seu bastardo?
— Também estou surpreendido — Rael complementa.
Respondo meio embolado, meio rindo e meio tonto. Não entendo
nada. Em algum momento só sinto as minhas costas repousando numa
cama, meus olhos se fechando e nada mais existindo.

Vou acordar no dia seguinte, com uma puta dor de cabeça do


inferno.
Que droga foi essa que tomei?
Permaneço na cama, sem conseguir erguer um cílio sequer, pois se
eu faço isso, sinto uma agulhada horrível na cabeça.
— Vince? — Ouço a voz de uma mulher, sem ter certeza de quem é.
— Seu monte de merda fedida, levante-se dessa cama imediatamente! — E
sem ter mais dúvidas, constato que é a Hera. — Já vai dar 17h da tarde!
— Estou fodido — sussurro rouco.
— Bem-feito, bebeu mais do que devia ontem. Ainda, cutuquei o
Hoss e o Rael milhares de vezes, para esconderem a cerveja de você —
fala, enquanto abre as benditas cortinas.
— Fecha essas drogas, a luz está cozinhando os meus olhos!
— Se não reagir, essa ressaca não vai passar. Levanta e vai tomar
um banho, anda, estou mandando.
Sem respondê-la e sem fazer um mísero esforço para mover um
dedo sequer, ela vem até mim e começa a beliscar as minhas costelas.
— Vince, pelo amor de Deus!
— AI, AI! Pelo amor de Deus, digo eu, sua Titanoboa!
Sento-me à força no colchão, com vontade de voltar a deitar, mas
Hera me impede, puxando-me e tentando tirar a minha camisa.
— Seu marido vai saber que você está querendo me ver nu.
— Eu vou meter um soco nesses seus dentes se não colaborar para
entrar embaixo do chuveiro.
— Eu tenho 30 anos, mulher, está parecendo uma mãe.
— É, devo ter feito muito mal nas minhas outras vidas, para merecer
ser mãe de um marmanjo.
— Você me ama. — Beijo a testa dela, e ela retribui o carinho.
— É claro que te amo, agora vai tomar um banho, bebezão. —
Desta vez ela belisca a minha orelha sem dó.
— Ai, caralho...
— Se não descer em meia hora eu volto com uma arma.
Hera se retira.
Espreguiço-me emburrado, e criando forças para finalmente entrar
embaixo do chuveiro gelado e sentir o meu corpo se limpar.
Logo que me arrumo, desço para devorar tudo que deixaram na
mesa para mim, parece que estive mil anos hibernando.
— Luizinho, cadê todo mundo? — pergunto ao mordomo.
A casa está vazia, sem uma alma penada sequer.
— Sra. Hera foi para casa da Jolie, já seus irmãos saíram para a
boate, para resolver um problema elétrico. No castelo só tem o Sr. Argus e a
Srta. Dalila.
— Dalila não foi com a Hera?
— Não, ela estava muito indisposta, acordou com febre e dor de
garganta.
— Onde Lila está?
— Na terceira sala de chás. Acabei de levar uma refeição para ela.
— Tá, obrigado.
Já que estou entediado, vou atrás dela, para vê-la e saber se está
realmente tudo bem.
Ao entrar na sala, encontro-a sentada no sofá, com as pernas
erguidas e cobertas por um cobertor branco.
— Lila?
Ela leva um susto ao me ver e quase deixa a sua caneca quente cair.
— Ei, cuidado! — exclamo, dando um passo rápido.
— Não caiu, está tudo bem — fala baixinho e meio rouca.
— Luiz me disse que acordou indisposta.
— É só uma dor de garganta.
Ela não olha para mim.
— Tem que se agasalhar mais e tomar os remédios corretos,
também, se alimentar muito bem.
Ouço-a debochar com os lábios e me sento bem ao seu lado,
fazendo-a arregalar os olhos e encolher mais as pernas. Ela não estava
esperando por isso.
— Está ainda com resquícios do álcool que bebeu ontem?
— Estou intacto, é igual tomar água. Acordei novinho em folha.
— Depois de dormir quase o dia todo.
— Está me julgando? — pergunto, assistindo-a levar sua caneca
quente até os lábios.
— Não, só estou surpreendida com você.
— Surpreendida comigo?
Ela então me olha, com suas íris tão claras e bonitas.
— Por estar conversando tão de boa comigo, depois de tanto
tempo...
— Faz o quê, só cinco anos? — Dou de ombros, tentando roubar um
pedaço de bolo do seu prato, mas ela dá um tapa na minha mão.
— Vai na cozinha buscar pra você, esses o Luiz me trouxe!
Sorrio, mas rapidamente finjo tristeza.
— Tudo bem, eu não queria mesmo.
— Pois ótimo, problema seu.
Cara, ela continua a mesma garota impiedosa e de nariz empinado.
— Não mudou nada, sua entojada.
— Eu entojada?! — Após a minha acusação, Lila se impõe,
fuzilando-me como se fosse verdade o fato de ter se ofendido. — Você que
é um guloso e preguiçoso, sem capacidade de ir até a cozinha buscar um
pedaço de bolo, tem que ficar roubando dos pratos dos outros.
— Você não estava nem comendo, é pecado desperdiçar comida.
Ela rola os olhos, segurando a vontade de rir.
Poderíamos ficar até amanhã assim, implicando um com o outro.
Senti falta disso, quando nos conhecemos era a mesma coisa. Foi o motivo
dessa garota ter me cativado, como se já fosse uma parente minha. Senti
muita pena dela, por ser nova, ter perdido o pai e por estar tão perdida na
vida, que fora capaz de desabafar suas frustrações por um chat de jogo, com
um desconhecido. Senti-me triste e com vontade de torná-la feliz, pelo
menos virtualmente. Mas, infelizmente, as coisas foram para outro
caminho, pelo menos da parte dela. Eu devia ter imaginado que isso
pudesse acontecer.
— Eu havia esquecido de como pode ser irritante, Vince.
— Essa é a minha melhor qualidade, minha família não nega tal
talento.
Lila por fim sorri, encarando-me.
Ficamos em silêncio, até a curiosidade me apertar.
— Como foi a sua vida durante esses cinco anos?
— Foram os melhores anos da minha vida! — exclama, empolgada,
sem disfarçar o seu brilho de felicidade. — Quatro foi dentro da
universidade. Conheci diversas pessoas novas, fiz amigos, bebi, dancei e...
— desvia — namorei.
— Isso é bom.
— Não tanto... quero dizer, foi bom... a parte do namoro, né? Pois
estudar Tecnologia da Informação e ter feito amigos novos foi bom
também. Maravilhoso.
Começo a rir.
— É, eu estava me referindo ao pacote todo. Ganhou muita
experiência de vida, fiquei feliz por você.
— Sim, depois que me formei, permaneci mais um ano em Londres,
trabalhando na empresa onde comecei o meu estágio.
— E por que resolveu vir embora? E logo para Portugal, um lugar
muito perigoso para você.
— Já faz anos, ninguém faria mal para mim, nem para o meu tio
Paulo, ele está mais “tranquilo”, por não provocar guerra por território e
poder. Sinto-me confiante em começar a minha vida em Lisboa, já tenho até
o meu apartamento no centro.
— Vai morar sozinha? — indago, chocado. — Não pode confiar
tanto assim, Lila, ainda mais para morar sozinha.
— É num apartamento, é seguro. E já tenho 22 anos, sou uma
adulta, caso não tenha percebido.
Calo-me, suspirando.
Como eu posso me preocupar tanto assim com ela? Será que nada
mudou?
— É claro, já é uma adulta, pode tomar todas as decisões sobre a sua
vida.
— Exatamente, isso inclui trabalhar e viver normal.
“Viver normal”. Ela é sem noção? Será que esqueceu que carrega a
porra de um sobrenome “Borghi”.
Incomodado e meio estressado, levanto-me.
— Vince, tudo bem?
— E por que eu não estaria bem, Dalila? — questiono tão
grosseiramente, que ela franze o cenho e engole em seco.
— Porque mudou de repente.
— Lembrei de algo para fazer.
— Antes de ir, gostaria de te dizer uma coisa... que estou muito feliz
por você estar livre, não imagino o que passou durante esses oitos meses
naquele inferno. E que, por mais que tenha passado todos esses anos sem
querer falar comigo, eu ainda me importo e o considero como o meu amigo,
pois jamais esqueci que me ajudou nos momentos mais difíceis da minha
adolescência. Obrigada, de verdade...
Molho os lábios, afetado pelas suas palavras.
— Está tudo certo, Lila, também é minha amiga e me importo com
você. Estou feliz pelas suas conquistas e experiências, se tornou uma
mulher muito forte e dona de si.
Ela sorri e enquanto estava toda bobinha com a sua carinha
melancólica, eu roubei seus dois pedaços de bolo e saí correndo da sala. Só
a ouvi gritando o meu nome e tentando acertar algo atrás das minhas costas.
Vince saiu correndo da sala com os meus dois pedaços de bolo. A
almofada que tentei jogar nele nem triscou nas suas costas.
Que guloso maldito! Cara de pau!
Depois de xingá-lo mentalmente, começo a sorrir, sentindo-me
estranha, com um friozinho na barriga.
Ainda posso inalar o cheiro do seu perfume pelo ar, sentir o calor do
seu corpo presente ao meu lado...
O que está acontecendo comigo?
Estou até parecendo aquela adolescente de cinco anos atrás.
Balanço a cabeça, respirando fundo e mentalizando os meus planos
para hoje à noite. Já que estou melhor, vou me arrumar e ir para a boate
Fogo com a Hera e a Jolie. É isso que importa, vou me esforçar para me
divertir.
Quando a Hera volta para o castelo, informo para ela que já estou
melhor e que quero ir para a boate.
Ela coloca a mão na minha testa, pergunta se estou bem mesmo da
febre e depois de eu afirmar mil vezes que estou melhor, ela concorda que
eu vá. Até fica animada, já ansiosa para mexer os esqueletos.
Eu fico mais um pouquinho na sala, ansiosa para dar o horário de
nos arrumar. E assim que dá, vou correndo separar o meu vestido, os
sapatos e a maquiagem. Tomo banho, cuido do cabelo, make e depois de me
arrumar, fico pronta às 19h00.
Analiso-me no espelho, com medo de me verem tão vulgar com esse
vestido curto e decotado... penso nele me vendo assim, como uma mulher
de verdade...
Pare! — exclamo contra mim mesma.
Hoje eu vou dançar, beber e quem sabe beijar um homem diferente
do meu ex-namorado? Já faz dois anos. Ele foi o único que eu beijei em
toda a minha vida. E só beijo, nunca consegui chegar aos finalmentes, por
mais que Alan sempre tentasse, eu não conseguia. Isso o frustrou tanto, que
terminamos o relacionamento. Já o superei da minha vida amorosa, por
mais que sejamos ainda amigos e nos falemos de vez em quando.
Sinto vergonha. É horrível ser virgem aos 22 anos. Prometi perder
só com ele... E isso é tão ridículo! Foi uma promessa de uma adolescente
trouxa, apaixonada e que não sabia de nada direito.
Agora, faz cinco anos, não posso continuar com essa obsessão e,
também, não posso continuar virgem!
Não aguento mais pensar em sexo, em como seria sentir um pau
dentro de mim, dando-me prazer ao entrar e sair duro. Só penso nisso, igual
a uma psicopata, delinquente e devassa safada, que a cada dez pensamentos,
onze é rola de homem, ainda a rola dele, de quem eu prometi perder a
virgindade!
Droga, eu vou enlouquecer!
Chega disso! Não posso ter esses pensamentos, Vince é o meu
primo também. Ele é filho da minha tia-avó. Somos parentes! E descobrir
nosso parentesco foi como levar uma adaga no coração, foi chocante.
Forçou-me a cada vez mais tentar superá-lo... sem sucesso.
— Dalila? — Hera me vê parada no corredor e fica boquiaberta. —
Puta merda! Está uma tremenda gostosa! Como foi que você cresceu e se
tornou esse mulherão? Que bunda enorme, menina. Deus tem mesmo seus
preferidos.
Eu começo a rir. Até parece.
Hera é uma morena lindíssima, de corpão mais avantajado do que o
meu, incluindo, que tem mais de vinte centímetros, comparado aos meus
1,57 m.
— Tem mesmo, já olhou para o seu corpo no espelho? É gostosa!
Tem vinte vezes mais peito e coxa do que eu, e olha esses cabelos
cacheados, parece uma princesa! Ezequiel deve se sentir o homem mais
sortudo do mundo.
É a vez de ela rir.
— Sortudo mesmo, além de ser um safado que me comia pelos
olhos. Mas ele não tinha coragem de chegar em mim, de jeito nenhum,
acredita? Tive que tomar a iniciativa das coisas.
— Também, seu pai, Hoss, Rael e Vince, que pretendente teria
coragem de enfrentar esse exército de músculos?
— Nem me fale desses machos insuportáveis. — Revira os olhos.
— Em compensação, era divertido seduzir o Ezequiel, adorava vestir
sainhas curtas e ir ao escritório dele, fazer perguntas nada a ver, tipo “você
sabe se meu pai está no castelo”. Ah, ainda vestia uma blusinha sem sutiã e
com os bicos dos peitos bem-marcados. — Descemos, com ela, contando
com maior prazer no rosto dos seus métodos de sedução.
Fico boquiaberta.
Que maldosa.
— Hera, você fez o inferno na vida do seu marido. Inferno, não,
você deve ter sido o próprio diabo em pele de cordeiro.
— Fiz mesmo, para ele eu era proibida, só tinha dezenove anos e ele
vinte e seis. Além de eu ser filha de Argus Calatrone. Meu pai causa
arrepios até em baratas, alguns acham que ele é uma lenda viva.
— Nem me diga... confesso que o Sr. Argus dá calafrios, parece que
ele vê todos os nossos segredos com aqueles olhos cor mel, tão profundos.
Os olhos da Hera são da mesma cor que os dele. Ambos têm um
olhar marcante, só que o do Sr. Argus continua sendo único, arrepiante e
tenebroso. Penso nesse homem quando era jovem, as mulheres deviam
enlouquecer para conquistá-lo ou fugir ao receber o seu olhar. Ele devia ser
muito bonito, mais do que é hoje.
— O pobre do Ezequiel sentia calafrios triplos, dele e dos meus
primos-irmãos.
— Ainda assim, seduziu e provocou o coitado.
— Nem imagina, levei-o ao limite do tesão diversas vezes. Ele me
chamava de ninfeta endemoniada. — Ela ri ao lembrar. — Dizia que eu
estava com o demônio no corpo para enlouquecê-lo e fazer o meu pai e os
meus primos castrá-lo. Eu era a sua morte declarada, a sua ida para o
inferno. Ai, ai... bons tempos. Hoss quase o matou mesmo, Ezequiel chegou
a parar no hospital, mas vamos deixar essa história para outra hora...
Enquanto ela ri, eu só sei balançar a cabeça, admirada com o nível
de perversidade da Hera. Adoraria ser assim também... uma diaba com
poder de enlouquecer um homem a ponto de ficar aos meus pés, desejando-
me com todo o tesão do mundo.
Por que eu não dou uma sorte dessa?
Odeio a minha personalidade covarde, sem ação.
— Vamos, Hera! Que bendita demora é essa, mulher, com essa sua
cara de palhaça, nem precisa de maquiagem. — Vince ri e mal esperava que
levaria uma bolsada de metal na cabeça.
Ele geme.
— Porra, formiguinha sem coração!
— Vai ver se estou na esquina, Vince, e vamos logo, Ezequiel está
lá fora nos esperando.
Ele se vira e então me olha, paralisando, sem conseguir pronunciar
um “A”. É como se tivesse visto um fantasma em vez de mim.
Molho os lábios, sentindo as minhas bochechas arderem e o meu
corpo queimar com o seu olhar estranho, obscuro. Tento ajeitar o vestido,
muito envergonhada e insegura com a minha própria aparência.
Ele já deve ter visto e ficado com tantas mulheres mais bonitas do
que eu.
Sou sem graça demais...
— Vamos, gente! — Hera chama de novo, quase do outro lado do
hall.
Vince passa a mão no cabelo, depois na barba e espera eu ir na
frente.
Eu vou quase tropeçando nos meus saltos enormes, que me dão um
pouco de altura e de dignidade.
— Jolie vai deixar o pequeno Gian com a Elena e ir depois com o
Rael, vamos encontrá-los na boate.
Dentro do carro, eu vou atrás com o Vince, ouvindo a Hera e o
Morcego conversarem. Não falamos nada, estamos quietos.
Meu coração não parou um minuto de bater descompensado, ao
senti-lo tão próximo de mim e numa tensão que não compreendo direito. Lá
fora está frio, já aqui no interior do carro, um forno, um calor, que me
deixou sem fôlego. Só pude respirar direito quando chegamos à boate,
graças a Deus.
Agarrei-me ao meu sobretudo e entrei ao lado da Hera e do
Morcego. Já Vince, fez questão de sumir de vista, deve ter ido atrás das
dançarinas.
— Nosso lugarzinho VIP.
— Aqui é maravilhoso — falo, amando o espaço de sofá dourado.
— Vamos pedir um drink até a Jolie e o Rael chegarem, ou se quiser
dar uma voltinha por aí. — Hera pisca safada para mim.
— Talvez eu queira... — Pisco de volta.
— Assim que eu gosto, gatinha. Tem que aproveitar esse corpinho e
essa solteirice, antes que você se apaixone igual uma trouxa e não consiga
sentar em outros machos.
— Que porra é essa, Hera? — Morcego belisca a bunda dela e puxa-
a com força para cair no seu colo.
— Amor, doeu!
— Eu sou o seu único macho!
— É exatamente, seu idiota! Você é o único macho que tenho olhos
e que consigo sentar, não interpretou direito?!
Meu Deus, eu não acredito que eles estão “brigando” por causa do
que a Hera disse, ou na verdade, ela deve ter dito de propósito, parece bem
da índole dessa “diaba”. Sinto imensa dó do Ezequiel, ou não, ele também
não parece ser flor que se cheire.
— Acho bom.
— Acha bom nada, te amo...
— Te amo mais... — Eles se beijam, como se eu nem existisse no
momento.
Deixo os pombinhos namorando e resolvo dar uma voltinha. Até
chegar ao bar, recebo muitos olhares maliciosos dos homens. Fiz careta para
todos, sem nem disfarçar a minha cara de ranço.
Por que eu sou assim? Que ódio! Não posso desprezar todos os
caras do mundo, desse jeito eu vou morrer virgem e mais lacrada que o meu
próprio caixão.
Preciso tentar chegar em algum cara para mudar as minhas
probabilidades de morte. Isso não deve ser difícil, a bebida vai me dar a
coragem necessária.
— O que a moça deseja? — o bartender pergunta.
Dou de ombros e peço qualquer coisa que ele ache bom e que não
me faria ficar tonta na primeira golada, mas me faria chegar em qualquer
homem — sim, repito essas mesmas palavras e ele me serve um drink de
cor verde. Não é azedo e nem muito doce. Bebi tudo e ainda pedi mais dois,
só que no terceiro, uma mão apareceu, segurando o meu drink e os meus
dedos com força.
— Garota, você vai se levantar dessa bendita cadeira e vai sentir até
a sua terceira geração rodar.
Arrepio-me com o som da sua voz grave, misturada com a música
alta da boate.
— Eu estou bebendo para criar coragem — resmungo, tentando
afastar a sua mão grossa e pesada do meu copo, isso me causa arrepios. —
Vince, solta a minha bebida!
— Eu vou soltar é um beliscão em você!
Ele arranca o copo de mim e quando eu vou tentar levantar da
baqueta, sinto realmente a terceira, quinta e todas as minhas gerações
rodarem na cabeça.
Puta que pariu, eu bebi só dois drinks!
— Eu avisei, sua teimosa. Na próxima, desenho na sua testa.
Se não fosse os braços fortes do Vince puxando-me, teria visto
estrelas no chão, mas agora, fiquei ainda mais tonta, com ele segurando-me
tão firme e com tanta posse. Nunca senti o meu corpo tão tenso e as minhas
pernas tão gelatinosas
Recupero as forças e empurro-o para longe.
— Já passou, eu que levantei muito rápido.
— Ah, ótimo, e posso saber qual a sua intenção de beber tanto para
tomar coragem?
— É que eu queria chegar nos homens que estavam me olhando.
Vince se fixa em mim, antes de virar o pescoço e analisar o lugar
cheio.
— Isso não é hora de nenhum homem chegar em você.
— Como assim?
— É o começo da brincadeira, eles vão se acomodar nos seus
lugares e apreciar as meninas nos poles, vão beber, rir e só no final vão
chegar nas mulheres que os interessam.
— Só no final?
— A maioria — Vince explica e vira o drink que arrancou de mim.
— Hummm... Mas não quero esperar o final.
— O quê?
— Nada. — Sorrio fraca, afastando-me dele. — Pode me deixar
sozinha e voltar para o sei lá o que estava fazendo, caso eu o esteja
atrapalhando em algo.
E como está me atrapalhando, puta merda...
Assim que eu vi um monte de homens a comendo pelos olhos e
depois ela se sentando no bar para beber, como se tivesse experiência, isso
me incomodou, já que a Lila não parece ter experiência de nada na vida.
Ou tem?
Merda, eu não sei o que viveu na faculdade. Só queria que ela não
provocasse esse instinto protetor, como se fosse mesmo a minha irmã mais
nova.
— Não interrompeu nada. Eu só fui ver o que tinha de petiscos e
comi metade das azeitonas.
Ela ri.
— Não muda mesmo, Vince.
— E não tem direito de rir, dona Dalila.
— Eu tenho sim, inclusive, vou pedir um gin.
Minha vontade de impedi-la berra dentro de mim, só que não posso,
já que essa criatura é adulta. Engulo a minha vontade a seco, com a maior
cara de bunda.
— Por que está com essa cara? Ela é bem incomum.
Como eu posso dizer que ela é responsável por essa cara?
— Algo pessoal...
Ela dá de ombros, olhando para todas as pessoas à nossa volta.
— Ah, a Jolie chegou! — exclama, enquanto a cunhadinha, junto da
Hera, aproxima-se sorridente da gente.
— Lila, melhorou da gripe? — Jolie pergunta, após abraçá-la.
— Pelo jeito sim, pois está enchendo a cara de álcool — resmungo
de propósito.
— Eu não estava enchendo a cara — retruca de volta. — Só
bebericando dos drinks. Mas agora quero dançar.
— Vamos! — Hera chama animada. — Quero muito rebolar até o
chão, necessito de me divertir!
— E vai dançar com essa minissaia? — pergunto, analisando a
indecência da sua roupa. — Você não tem marido não, mulher?
— Eu tenho, queridinho, e se ele não gostar da minha roupa, eu
compro uma mais comprida para ele vestir. Quer uma também?
Elas riem, e eu rolo os olhos, roubando com rapidez o gin que o
garçom colocou no balcão.
— Vince, era o meu Gin!
— Era seu? Não tinha o seu nome.
— Idiota — murmura, tentando tomar a taça da minha mão.
— Devolve!
— Pede outro.
Ela ergue o braço para pegar a bebida e roça sem querer os seios no
meu cotovelo. Perco as forças na mesma hora, o que a faz conseguir a
bebida de volta.
— Consegui! — Ela bebe ligeira, em um único gole.
— Vocês dois parecem dois adolescentes.
Não evito olhar rápido para o seu decote, chocado com a beleza dos
seus seios avantajados e empinados no decote.
Não eram assim, ou eram?
As lembranças daquela noite vêm à tona, desta vez, diferente,
comigo tentando lembrar de como era a sua nudez. Foi tudo tão rápido,
olhei, mas fiz questão de esquecer na mesma hora.
— Vamos logo dançar! — Hera puxa a Jolie e a Lila para o meio da
pista.
Eu continuo igual um trouxa, paralisado ainda com a sensação.
Isso é errado, completamente inadequado!
Merda, eu abomino qualquer pensamento com essa garota. Preciso
foder alguma mulher para limpar as minhas ideias doentes.
— Olha só, resolveu espairecer um pouco? — Rael pisca.
Acabo de me sentar perto dele e do Morcego.
— E que cara é essa? — Morcego questiona.
— E qual o problema da minha cara? Eu estou normal, porra!
Eles se olham, franzindo o cenho.
— Esse não é o mesmo polaco azedo e insuportável que
conhecemos.
— É, ele esteve preso por oito meses... — resmungo, olhando para a
Lila do outro lado.
Ela está dançando funk, com a bunda rebolando sem a menor
vergonha. Que ódio!
— Ficou preso e voltou incorporado no Hoss estressadinho.
— Em vez de me encherem o saco, vocês deviam estar cuidando das
mulheres de vocês, que estão rebolando a bunda quase nuas lá na pista.
Eles então olham e xingam juntos.
— Que... caralho de mulheres!
— Minha vontade era de ir até lá e puxar a Hera pelos cabelos! —
Morcego esbraveja, segurando-se para não voar igual a um neandertal na
sua esposa.
Não sei por que concordei internamente com essa ideia, mas com
aquela garota no lugar. Olha o tamanho do seu vestido indecente, quase
vejo a sua calci... não, inferno, eu não posso ficar olhando para ela!
— Eu preciso foder uma mulher! — exclamo desesperado, passando
as mãos no rosto. — Uma não, no mínimo três! Ou vou enlouquecer!
— Está precisando mesmo, depois de tanto tempo sem uma boceta,
deve ser isso que te deixou mais insuportável.
— Já foi pastar hoje, boi? Espero que os caras estejam apreciando
com muito gosto a bunda da Jolie. E que bunda viu...
Rael me dá um soco no braço.
Levanto-me, rindo com prazer da cara dele, ainda mando beijo para
os dois bois. Adiante, viro as costas e vou até as nossas lindas dançarinas,
solicitar um serviço mais especial para o seu chefe. Duas delas fazem
questão de tocar no meu volume e me puxarem para o elevador da boate.
Beijo uma delas antes mesmo das portas se fecharem. E no quarto, as
coelhinhas fazem o serviço completo, com direito a garganta profunda, anal
e espanhola. Não sobra esperma nem para a quinta geração. Demoro com
elas, sem pressa desse delicioso momento acabar. E faço questão de acabar
só na carne viva.
Mais tarde eu desço de novo, varado de fome. Vou para a cozinha da
boate, louco por uns dez sanduíches. Como e retorno ao salão da boate.
Encontro o Rael, o Morcego, a Hera e a Jolie sentados no sofá
redondo. Estão bebendo e se divertindo. Estranho a Lila não estar no meio
deles. Será que ela foi embora? Mas se tivesse ido, a Jolie não estaria aqui
também.
— Oi, Alex, viu a Lila, aquela garota loira que chegou junto com a
minha família? — pergunto para o segurança.
— Sim, ela estava no bar, conversando por longos minutos com um
rapaz alto, cabeça raspada e olhos claros. Os dois saíram para algum lugar.
— Como assim para algum lugar? E você não foi atrás, seu porra?
Ele estremece com o meu tom de voz autoritário, porém, mantém-se
firme.
— Não, senhor, não recebi ordens para fazer a segurança da moça,
sinto muito.
— Imprestável! — exclamo e saio andando pelos arredores, atrás da
Dalila.
E nem sei por que também estou atrás dessa garota.
É claro que eu sei, mas que tortura!
Mil pensamentos passam pela minha cabeça, talvez Hera e Jolie
devem ter concordado dela ter saído. Ou não? Ela saiu da boate com um
cara! Não, Jolie, nem Hera e nem Rael concordariam de uma mulher, ainda
que faça parte da nossa família, sair assim de vista. Somos agiotas, com
dezenas de inimigos. Sem falar que ela é um Borghi!

As imagens do Vince entrando com aquelas duas mulheres no


elevador... beijando-as e elas... alisando-o. Meu coração se apertou e doeu.
Corri para o banheiro, negando essa dor, a existência desses sentimentos
adolescentes, depois de tantos anos!
Tentei não chorar igual uma pateta e acho que consegui, pois saí do
banheiro e esbarrei com um rapaz muito bonito, alto, cabeça raspada e
olhos verdes. Ele achou estranho o meu comportamento perdido e acabou
me convencendo a aceitar uma bebida paga por ele. Quando vi, em pouco
menos de dez minutos já estava me conquistando com o seu sorriso torto e
as suas graças que roubam risadas fáceis.
Seu nome é Theo...
Ele não para de fazer piadas, nem por um minuto. Não sei quanto
tempo ou horas eu fico encostada no balcão, escutando as suas histórias,
sobre quando fez intercâmbio no Brasil e nos Estados Unidos. Esqueço do
Vince. Chega um momento que conversamos um encarando os olhos e os
lábios do outro, até que ele tenta uma aproximação para me beijar e me
afasto, sem conseguir. Peço desculpas, mas ele ainda insiste no beijo e
consegue, após fazer o primeiro contato dos seus lábios estranhos. Retribuo
com vergonha.
É o segundo homem que beijo em toda a minha vida, é... bom,
gostoso. Ficamos por minutos assim, beijando-nos.
— Vamos sair daqui? — ele sussurra a pergunta ao pé do meu
ouvido, mordiscando o lóbulo da minha orelha.
Arrepio-me, um pouco confusa.
Theo alisa o meu rosto.
— Você não deseja o mesmo que eu?
Eu quero isso... eu desejo todos os dias esse momento.
Ainda, as imagens do Vince com aquelas duas mulheres voltam
como um copo de coragem. Eu quero!
— Quer sair daqui, Dalila? — pergunta e beija o canto da minha
boca.
— Sim... eu quero.
— Então vamos...
Ele pega na minha mão e me leva rapidamente para a outra saída da
boate, essa parece ser a saída dos funcionários. Tem alguns carros
estacionados, além de latas de lixo fedidas e a penumbra da noite.
— Aqui, esse é meu carro. — Ele me puxa para trás de um carro
preto e me coloca contra o metal da porta.
O medo parece voltar, além de eu estar incomodada e me sentindo
desconfortável. Não queria me sentir assim.
— Você me parece tão nervosa... espero que não esteja arrependida
de ter vindo comigo.
— Não, eu não estou.
É a minha vez de beijá-lo, para afastar essa sensação de medo e
substituir por tesão. Só que eu não sei se estou, já que ele parece mais
excitado e mais desesperado por mim.
Theo ergue o meu vestido e começa a apertar a minha bunda.
Fico mais nervosa, mais estranha e mais desconfortável.
Por que não consigo sentir nada?
Estou tremendo.
— Theo... acho... acho que não quero.
Ele não para. Ele coloca o joelho entre as minhas pernas e passa a
mão na minha virilha.
— Que gostosa...
— Eu não quero mais. — Tento empurrá-lo, mas ele segura os meus
punhos.
— Você quer, só está fazendo charminho para ser comida com força.
Arregalo os olhos, horrorizada e com raiva desse idiota.
— Seu idiota, eu não quero. Não é não! Tira essas mãos nojentas de
mim ou acabo com você!
Ele não tira e tento golpeá-lo, até ser surpreendida pela arma que
arranca de algum lugar e mira na minha cara.
Paraliso, em choque.
— É melhor ficar quieta, putinha. Você não queria ser comida? Eu
estou a fim, agora entra nesse carro.
— NÃO! Eu vou gri...
Ele me joga contra a porta e aperta a minha boca, com a arma no
meio da minha testa.
— Não me importo de te foder morta, acho até mais gostoso e mais
silencioso.
Eu choro, negando com a cabeça.
— Não tem ninguém aqui, putinha. Eu vou tirar a mão da sua boca e
acho melhor não tentar gritar, entendeu?
Ele termina de abrir a porta e afasta a mão da minha boca.
— Por favor, não quero mais, vamos nos conhecer melhor...
— Eu já te conheço muito bem, é a neta do Toretto Borghi. — Ele
me empurra, e eu caio sentada no banco de trás do carro. — Queria muito
sentir a sua boquinha no meu pau. Você tem uma carinha de ninfetinha.
Ouço-o abrir a calça e puxar o seu membro para fora.
Meu coração falta saltar do peito, é como se eu preferisse a morte.
— Não, pelo amor de Deus, não faça isso comig... — Theo coloca a
arma dentro da minha boca, enquanto eu soluço de chorar.
— Qual era o nosso combinado, Borghi? Eu decidi te comer
primeiro, vai até gostar.
Ele empurra o meu tronco para trás e tenta erguer as minhas pernas.
Chuto-o, desesperada.
— Não, seu nojento, não me toca!
— Eu vou matar você se não fechar a boca! Abre as pernas!
Sinto os seus dedos imundos afastarem a minha calcinha e me alisar.
— Não, por favor.
Eu soluço, engasgada com as lágrimas.
Tento berrar, mas não tenho mais voz.
Desta vez ele esfrega o seu membro e quase me força, se um
barulho estridente de bala não tivesse atingido o vidro do carro e o
interrompido. É instantâneo, gotas molhadas surgem no meu rosto, seguido
de mais um barulho de tiro e cacos de vidro que me acertam. Até que o seu
corpo pesado recai por cima do meu, sem nenhum movimento.
Não consigo me mexer, não tenho forças de afastar o homem que ia
me... Ah, Deus!
Sinto alguém o puxar e disparar mais tiros.
Ergo a cabeça, e pela única iluminação do poste ao lado, vejo o
Vince com um olhar de louco, atirando sem parar nele, que já está morto no
chão.
— Vince...
Ele só para de disparar quando as balas acabam, e me olha, com
seus olhos vermelhos, ainda mais arregalados e vidrados.
— O que esse filho da puta fez com você?!
Inclino-me no banco, abraçando os meus braços e chorando. Não
consigo dizer, por mais que eu tente, não consigo, só sei soluçar, pela
vergonha e o medo.
Vince puxa o meu vestido, pega na minha cintura e me ergue no seu
colo, acolhendo-me com força.
— Eu nunca vou me perdoar por isso... — ele sussurra com a voz
embargada e me leva para longe.
Eu não vou me perdoar, meu Deus! Eu não vou!
Dalila vai atrás do banco, chorando quieta. Está ainda mais
encolhida com o seu corpo.
Eu paro no semáforo, sem saber o que fazer, que rumo tomar. Dos
meus olhos escorrem lágrimas. Meu coração bate descompensado, pedindo
vingança por ela. Quero berrar esse desespero.
— Lila... eu preciso te levar ao hospital.
— Não, eu estou bem, só me leve para o castelo — pede baixinho.
Respiro fundo, com os olhos ainda mais marejados, não consigo
nem dirigir direito, pois não paro de pensar no que aconteceu, no que aquele
desgraçado fez de pior. Mas como ela pediu, a gente vai para o castelo. Ao
chegar e estacionar o carro, Lila tenta correr para dentro, mas a paro
rapidamente, sem entender o seu comportamento.
— Espera.
— E-eu quero ficar sozinha.
— Eu não vou te deixar sozinha, nem que berre que eu a deixe.
Ela olha para mim, com a sua maquiagem toda borrada e com o
rosto respingado de sangue. Então ela espera, para entrarmos juntos e
subirmos até o seu quarto. Quando fecho a porta, assisto-a a sentar na cama
e apertar os dedos.
Chego mais perto, com medo de tocá-la, parece tão sensível. E de
novo, ela me olha, com os seus olhos vermelhos, cheios de dor.
— Estou com vergonha de você.
— Vergonha de mim? Depois do que aquele porra fez? Depois... —
Eu passo a mão no cabelo, dando um soco na escrivaninha ao lado. — Eu
devia ter feito pior! Aqueles tiros foram poucos! Eu vou descobrir a família
dele e...
— Para... você não é assim, Vince. E obrigada por ter me salvado,
não sei o que seria de mim se não tivesse chegado naquela hora.
Eu engulo em seco, passando a mão de novo no cabelo.
— Ele te fez alguma coisa? — pergunto o que está me corroendo
por dentro e quase me levando a ponto de cometer uma loucura.
Ela abaixa o cenho e balança a cabeça, negando.
— Mas se não tivesse chegado naquele momento... Ah, Vince. —
Lila puxa a minha mão e eu não aguento, abraço-a com força. Ela desaba no
meu peito. — Eu fui culpada por isso. E se não houvesse você? E se eu
estivesse realmente sozinha?
— Calma, não está sozinha, você tem a Jolie, o seu tio Paulo, toda a
família Calatrone e principalmente a mim. Você tem a mim! — Aperto-a
com mais força nos meus braços. — Nunca deixei de me importar com a
minha garota loira.
— Eu também nunca deixei de me importar com você... nunca
mesmo. — Ela afasta o rosto, alisando a minha camisa. — E não quero
acreditar que o tio Paulo e você têm razão, sobre eu nunca poder ter uma
vida normal, porque sempre terá pessoas ruins, querendo me fazer mal. Eu
confiei naquele homem, ele foi engraçado, carismático e até me beijou.
Aperto os punhos, irritado de novo.
— E ele te convenceu a sair da boate? — Ela assente. — E você foi,
esquecendo num estalar dos dedos que tem Borghi no nome e que esse
sobrenome tem uma longa fila de inimigos?
Ela assente, tão pequena e tão inocente, que me sinto frustrado.
— Na faculdade eu era normal, os caras chegavam assim em mim.
— Na faculdade você tinha homens infiltrados da máfia para ficar
de olho em você! Paulo jamais te deixaria livre por aí, e sabe disso!
Lila se afasta.
— Mas eu quero ser normal, viver em paz. Quero alguém especial,
quero amigos, sair, dançar.
— Lila... — Eu toco no seu rosto delicado, limpando as suas
lágrimas. Ela tem uma carinha tão de menina. — Eu, Hera, Morcego, Hoss,
Rael, Jolie e até o seu tio Paulo e a sua tia Lupita queriam também ter suas
vidas civis, como pessoas normais. Nenhum de nós pediu essa vida cheia de
riscos, fomos destinados a ela. Sei perfeitamente como se sente, eu sempre
soube. Mas deve entender que a sua realidade é outra, e que vive em riscos
constantes. Sinto muito.
Ela não fala nada, fica quieta, refletindo. E isso também não é hora
de eu dar sermão, Lila precisa de apoio feminino.
— Você vai contar desta noite para a Jolie?
— Não, ela vai se sentir culpada e... e nem sei do que seria capaz.
Também, estou sentindo muita vergonha... estranha... quero um banho
eterno para me limpar.
Sua confissão me parte a alma. Se eu não tivesse chegado... não
consigo esquecer das suas palavras cheias de dor.
Ele estava prestes a machucá-la, a violá-la, sinto que se eu tivesse
demorado mais um minuto tudo teria acontecido. Não consigo imaginar, eu
não suporto.
— Preciso ligar para o meu irmão, temos que consumir com o corpo
daquele desgraçado que matei. Posso te deixar sozinha?
— Sim... — sussurra, e eu beijo a sua cabeça.
— Manda uma mensagem para Hera e apenas diga que não está
bem, ela virá imediatamente, ok? — Agora beijo a sua testa, alisando o seu
rosto. — O pior já passou.
— Obrigada de novo... — agradece baixinho.
Apenas balanço a cabeça, solto-a devagar e viro as costas para sair
do quarto e deixá-la sozinha. Não queria fazer isso, mas não quero que a
nossa família e nem os empregados nos peguem juntos. Ainda mais comigo
dentro do seu quarto.
Ligo o celular e vejo cinco ligações perdidas do Rael. Retorno no
mesmo instante.
— Onde você está, Vince?
— Chegando ao castelo... — minto.
— Volte, porra, acabaram de executar um cara no estacionamento
dos funcionários, precisamos consumir com o corpo da nossa área.
— Cadê os nossos caras para fazerem o serviço?
— Está tarde, temos que fazer o serviço agora. Anda, estou te
esperando. — Ele desliga.
Eu bufo, dando um soco na parede. Só de pensar em ver a cara desse
monte de bosta, que matei sem dó, me deixa com mais sede de recarregar a
arma e fazer o restante do seu corpo de peneira. Minha vontade era de
contar tudo para a família, para não carregar esse fardo de injustiça sozinho.
Mas vou respeitar a Dalila, não consigo nem imaginar como deve estar se
sentindo. Nenhuma mulher merece passar por isso.
Se eu não tivesse chegado a tempo... essa frase está me matando.
Na manhã seguinte, depois de ter jogado o corpo do arrombado em
uma vala com o Rael, levanto-me, sem nem sequer ter pregado os olhos.
Minha mente já estava perturbada o bastante, agora, ficou mil vezes pior.
— Bom dia, tio Vince! — Quando Maria me vê, ela se ergue do sofá
e corre para me abraçar.
— Isso é suspeito, o que a piolhenta quer?
Abraço-a, bagunçando os seus cabelos longos.
— Tio, meu cabelo! — Ela se afasta. — Não posso mais abraçar o
meu tio preferido?
Franzo o cenho, analisando a cara de pau dessa criatura fingida de
dez anos.
— Você tem idade o suficiente para chantagear, enganar e
manipular. O que foi que os seus pais não deixaram?
Maria bufa.
— Mãe Elena não quer me deixar ir ao show do BTS, ela disse que
meu pai também não deixaria.
— E quem é esse?
— Não é “esse”, são esses, é um grupo de K-pop que gosto muito.
Minhas amigas também gostam. Eles são perfeitos. Tem o Jin, Suga, J-
Hope, RM, Jimin, V e Jungkook. O Jungkook é meu preferido, mas eu amo
todos.
Eu reviro os olhos.
— Você há um dia não estava colecionando bonecas?
— Eu coleciono. Amo minhas bonecas.
— Então, vai brincar com elas, e não me enche com a sua pré-
adolescência insuportável, cruz credo.
Passo por ela, caminhando reto para a mesa do café.
— Tio Vince!
— Sai, piolhenta, ou te jogo água benta.
— Me leva ao show deles, por favor! Nunca te pedi nada, é o meu
tio preferido.
— Eu ouvi bem? — Morcego surge de repente, cruzando os braços
embaixo do portal que divide a sala de pé alto.
— Ah... tio Ezequiel. — Maria pigarreia, sendo pega no flagra.
— Ouviu muito bem, eu sou o tio preferido. Na verdade, não é
segredo para você e nem para o Rael — debocho, sentando-me à mesa com
o pé esticado na outra cadeira.
Todos já comeram pelo jeito.
— Vai pastar, Vince. Você é o tio que cede tudo, ainda leva nossos
sobrinhos para o mau caminho.
— Morceguinho, projeto de Batman falido, já tentou largar de ser
invejoso? Aceita que eu sou o melhor tio.
— É mentira, eu amo todos os meus tios.
— Vou lembrar disso no seu aniversário. E posso saber por que a
mocinha está no castelo uma hora dessa? — Morcego questiona, sendo o tio
mais insuportável de todos.
— Eu não tenho aula hoje, aí acordei cedo e vim com a minha
bicicleta.
— Seus pais sabem?
— Eu deixei um bilhete com a empregada. — Dá de ombros.
— É um alívio quando essa criança fica o dia todo na escola e não
vem me perturbar com tal... BRT, BST. Sei lá como é o nome.
— Não sou criança, e é BTS! E queria ir ao show deles.
— Que pena que não vai.
— Você é um chato!
— Você é uma piolhenta.
— Vince, larga de implicância... — Morcego revira os olhos para
mim, e eu taco um pedaço de pão nele.
Se a Maria não tivesse aqui, já teria mandado esse projeto de
Batman tomar no rabo.
— Cadê a prima Hera?
— Foi levar o café da manhã para a Dalila no quarto, parece que
acordou indisposta.
Ouço o nome da Lila e aperto o meu copo de leite, pensando em
ontem... nela daquele jeito. Como isso dói o meu coração. Eu mal dormi
essa noite.
— Vou vê-las...
Maria se retira, dando-me paz para comer. É o único momento que
não luto com os demônios da minha mente. Ainda, preciso, necessito de ver
a Lila, saber como está hoje. Quero-a bem, é uma menina que carrega o
peso de uma família mafiosa. Gostaria que ela visse isso, que está 24 horas
correndo perigo e que jamais poderá se dar ao luxo de ter uma vida normal,
caso contrário, vai perceber a verdade da pior forma possível.
Hera traz o café da manhã na minha cama.
Ontem eu não quis estragar a sua noite com o seu marido, por isso,
não a incomodei, como o Vince aconselhou, mesmo assim, hoje ela
apareceu cedo, muito preocupada comigo.
— Ontem sumiu de repente da boate. Eu e a Jolie só não ficamos
mais preocupadas, porque o Rael informou que o Vince havia chamado o
motorista para te trazer em segurança até o castelo. Você se sentiu mal de
novo?
Abaixo a cabeça, para pegar um pedaço de torrada.
— Sim, dor de cabeça e tosse... — minto, com culpa. — Não quis te
incomodar e nem estragar a sua noite com o Morcego. Os dois estavam tão
lindos.
— Nem a Jolie? — Hera ergue o meu queixo com o polegar,
encarando profundamente os meus olhos.
Arrepio-me, tão intimidada pelo seu olhar de leoa, parece que tem a
capacidade de ler os meus pensamentos mais íntimos. Hera me causa medo.
— Jolie também estava com o Rael... e eu esbarrei com o Vince, ele
me ajudou a vir para casa.
— Ele te ajudou?
— Sim, o motorista, quero dizer, com o motorista. Enfim, estou em
casa, segura, está vendo? — Pisco, forçando um sorriso natural. — Meu
mal-estar não foi sério.
— Ainda bem, mas nos avise, não importa as circunstâncias,
entendeu? Todo cuidado é pouco.
— Tá bom...
Hera beija a minha testa.
— Você me faz me sentir igual uma garotinha de 12 anos.
— Eu faço? Talvez seja o meu mal de “sobrinhos”. — Ela dá de
ombros. — Essas crianças instalaram um grau de preocupação e cuidado
em mim, que eu pareço uma tia rabugenta.
— Isso mostra que seria uma ótima mãe. E já está na hora.
Hera rapidamente paralisa, mudando seu semblante para séria.
— Come todo o seu café, Lila. Vai te ajudar a ficar bem.
Ela se ergue da cama.
Franzo o cenho.
Será que fui desrespeitosa?
Opto por apenas assentir e retornar a encher a minha boca de
torradas.
Constatando que realmente estou bem, Hera pede licença e retira-se
do quarto.
Termino de comer tudo, tomo banho, me arrumo e desço quietinha,
sem dar muito alarme da minha presença. Por sorte, não encontro ninguém
e ando rapidamente para o jardim.
Quero ficar sozinha, para ouvir música triste e pensar na minha vida,
por isso, estendo a toalha no chão e me deito perto do lago principal, bem
isolada e em contato com a natureza.
Respiro fundo, tentando a todo momento apagar as cenas de ontem.
Eu fui criada para ser forte, para lutar e me defender, mas naquele
momento, com aquele homem mirando aquela arma na minha cara e
quase... fazendo o que ia fazer, isso foi como um soco no estômago, senti-
me vulnerável, indefesa. Senti-me sozinha, sem ninguém... até o Vince
aparecer.
Aperto os olhos, desta vez, tentando controlar as batidas do meu
coração. Também, não parei de pensar nele a madrugada inteira, no seu
toque, no seu abraço e, principalmente, no seu perfume e no seu cuidado.
Esse foi o meu maior consolo. Acho que as minhas lágrimas eram mais para
ele e para o fato de que não posso tê-lo como gostaria. Só posso conviver
com esses desejos, essas fantasias sujas, só na minha mente.
Inesperadamente, sinto uma mão tirar um dos meus fones. Ergo
apavorada as costas e arregalo os olhos para o Vince, que está deitado bem
ao meu lado.
— Vince, quer me matar?!
— Assustou?
— Ainda pergunta, seu engraçadinho? Meu coração quase saltou
pela boca.
— Desculpa, você estava deitada aí, tão quietinha e de olhos
fechados, que eu não quis te incomodar. Ou melhor, eu quis.
— E de brinde me deu um ataque cardíaco?
Ele sorri, arteiro, quase me dando um ataque cardíaco mesmo, com
essa beleza loira, de olhos claros e boca carnuda. É sua única diferença
entre os seus irmãos Calatrone, pois de resto... corpo, músculos, altura,
formato de rosto, sobrancelha, nariz, são idênticos! Os três juntos são como
deuses, não estou de brincadeira.
— Por que está me olhando assim? — Ele toca na minha mão, e eu
levo um choque tão grande, que a afasto.
Coro as bochechas.
— Estava pensando em ontem, em como foi o meu super-herói.
— Super-herói não deixa o vilão cheio de buracos de bala. E foi
pouco, Lila, eu podia ser capaz de coisas piores com o corpo daquele
desgraçado.
— Eu não ligo se fizessem pedacinhos dele, desde que não fosse
você, não desejo que cometa algo assim. Não quero, Vince.
— Eu já fiz coisas piores, sabia? Tudo pela família. Não me
arrependo, antes eles do que as pessoas que eu amo.
— E dizem que não são uma máfia — sussurro.
Ele rola os olhos.
— Deixa o Hoss te ouvir falando um absurdo desse.
— Eu não, ele é apavorante, até mais do que o Rael. Deus me livre.
Mais tranquila, volto a deitar ao seu lado, ainda mantendo distância.
Não sei explicar, mas quando ele faz qualquer contato com a minha pele, é
como se me queimasse e a ferida demorasse para se curar. Ela permanece
aqui, ardendo em mim...
— Você está bem, Lila? Seja sincera comigo, por favor.
Ver o Vince tão sério e preocupado é muito diferente, gosto disso.
— Estou sim, não sou de ficar traumatizada fácil, só em choque,
pensando no “se”. Aí quando eu caio na real, suspiro, aliviada por você ter
aparecido e me salvado.
Ele olha reflexivo para o céu.
— Eu queria que contasse comigo a todo momento, mas não posso
ser um deus onipresente, só o da inteligência e da beleza. Fica pesado tantos
fardos.
Eu rolo os olhos, antes de cair na risada.
Não acredito! Ele ficou tão sério e concentrado, que parecia que ia
sair um discurso decente da sua boca. Não dá para esquecer que ele é o
Vince, nunca!
— Só você para me tirar risos, sem ao menos esperar. E é um
metido! Deus do quê? Só se for da fome.
— Lila, não provoque meus poderes. Pode se arrepender
amargamente.
— Qual deles?
— Não posso citar, você é uma menor de idade.
— Eu tenho 22 anos, formada e independente, saiba disso. — Dou
um tapa no seu braço de pelos clarinhos.
— Refiro-me à sua ingenuidade.
— Ah, eu sou ingênua? Sabe de nada. — E não sabe mesmo, se
soubesse o que eu crio na minha cabeça com ele. — E para com isso, pois
sabe que fico tão brava que te taco as coisas nas costas.
— Essa é a melhor parte, garota loira.
E sem avisar, sem marcar hora, meu coração dispara. É como tocar
no meu maior ponto fraco.
— Não me chame assim...
— Mas você é ainda a minha garota, não é?
Preciso engolir saliva, para ajudar o coração a descer de novo pela
garganta. Que vontade de chorar, de frustração, de raiva, de tudo que
envolva esses sentimentos pelo Vince. Não queria senti-los, eu tinha certeza
de que havia superado, depois de tantos anos. Era para ser só uma paixão
adolescente.
Como pode ainda me doer na alma?
— Eu sou... — confesso, controlando a ardência nos olhos.
Vince desenha um sorriso de lado e volta a olhar para o céu.
— O que está escutando de bom nesses fones? — pergunta.
— Adele...
Dou um lado para ele ouvir.
— Mas que deprê é essa, Dalila? Bora colocar um funk brasileiro
nessa playlist, uma Ivete Sangalo cantando “acelera aê”, “hoje é festa”.
Vem, me dá esse celular aqui, se anima mulher.
Deus do céu, esse homem é uma tortura de risadas. E ele toma
mesmo o meu celular e coloca MESMO Ivete Sangalo.
Deus do céu de novo! Ele é único! Daqui a pouco estarei com os
meus olhos atrás da cabeça, de tanto que os reviro.
Ficamos um tempinho assim... juntos, ouvindo música e cantando
algumas que conhecemos. Ele muda o meu humor para mais feliz, queria
me sentir todos os dias assim.
— Essa semana eu vou para o meu novo apartamento — falo, mas
ele não volta a me encarar.
— É melhor nem discutirmos.
— Aquilo na boate foi um caso isolado, sei que se eu tomar cuidado,
nada vai me acontecer.
Ele de repente tira o fone e se ergue do chão.
— Sua ingenuidade é uma merda, vontade de... — Vince bufa. — Já
repeti a mesma coisa, centenas de vezes. Apenas faça uma retrospectiva do
seu sobrenome.
— Não fique bravo comigo, só estou conversando, como a sua
amiga. É você que se irrita à toa, nem o meu tio e a Jolie ficam assim.
Também me ergo do chão, pegando a minha toalha para ir embora.
— Não ficam, até eles saberem do acontecimento de ontem. Paulo te
trancaria a sete chaves naquela mansão, já a Jolie, nem sei do que aquela
mulher seria capaz por você.
— Eu sou adulta! — exclamo irritada. — ADULTA!
— Ser adulta não vai te impedir de levar um tiro na cara!
— Vince, como pode não me entender? Preciso de uma chance!
— Eu te entendo, mas o que você quer, é a certeza de que podem te
machucar.
— E se não me machucarem? Necessito de uma vida normal, quero
ser diferente!
— Então seja, Dalila BORGHI Foda-se! — Ele me fuzila e vira as
costas.
— Seu idiota, ogro, estúpido! — berro, enquanto o Vince se afasta
com os seus ombros largos e fortes. — VAI SE FODER VOCÊ!
O que esse infeliz quer? Que eu viva debaixo das asas do meu tio e
da minha madrasta-mãe para sempre, igual uma adolescente amedrontada?
Preciso sim ter a experiência da minha vida adulta, do jeito que eu quero! E
foda-se mesmo!
Completamente fora de mim, eu vou para dentro do castelo,
murmurando centenas de irritados palavrões. Subo para a sala de jogos,
abro uma cerveja, tiro a camisa e começo a socar o saco de pancadas, como
se não existisse o amanhã. Pareço um louco ligado no 220v.
— Uau, nunca te vi socar com tanta força assim.
Ouço a voz do Igor, o meu melhor amigo.
Ele ri, todo engraçadinho.
— Não disse isso quando eu te socava no rabo ontem.
— Vai se foder. E por que está tão revoltado desse jeito?
— Eu não estou revoltado! — respondo, dando o último soco forte.
— Eu te conheço.
Paro, ofegante, já com dor nos punhos e pego a minha cerveja para
matar a sede.
Igor também pega uma para ele.
— Quer desabafar um pouco? Está acontecendo algo?
— Eu só quero saber quem hackeou o meu computador e colocou
aquelas provas tão evidentes para me entregar. É só o que preciso.
— Então é nisso que você vive se martirizando sozinho? Para, pelo
amor de Deus, não alimente uma vingança tola. Deixe esses oito meses no
passado. Já foi, já aconteceu.
— Não é vingança tola, eu sei que alguém me hackeou. Encontrou
1% das minhas merdas e deixou facilmente a vista de qualquer perito.
— Não pensa que pode ter sido você mesmo a bobear? Ninguém é
perfeito para esconder 99% das suas merdas.
— Eu sempre fui cuidadoso. Tenho certeza de que armaram para
mim.
— Se for alguém, é difícil de saber, vocês Calatrone têm centenas de
inimigos por Lisboa. Só se você tiver um inimigo mais íntimo, que é focado
em te destruir. Tem um e nunca me falou?
— Eu não tenho, sempre fui mais na minha. E não dá para supor que
foi a máfia, obviamente. Nem o José, o nosso inimigo traficante. Ele foi
morto há dois anos pela polícia.
— Olha, repito que pra mim não há essa pessoa, foi vacilo seu
mesmo.
— Não, não foi! — esbravejo com raiva, tendo tanta certeza, que
seria capaz de sair igual louco pelo mundo, investigando um por um.
— Mudando de assunto, é verdade que você e o Rael acharam um
corpo na boate?
— Sim, na verdade, foi o Rael — digo, tirando as luvas.
— Eu estava numa cobrança com o Hoss esta madrugada e ele
pareceu bem preocupado com essa situação, também, disse que foi atrás das
câmeras de segurança e não achou nada, toda a imagem dessa noite não
existe. É como se tivessem apagado.
— Hum, estranho.
Espero que esse porra não esteja desconfiando de mim. Afinal, nem
ia fazer sentido. Ou ia?
— Muito, é melhor reforçarem a segurança da boate e ficarem mais
atentos.
— Vou dar uma olhada nessas câmeras depois... vou tomar um
banho.
— Vai lá, o cheiro da sua bunda suja está vindo aqui.
— Que fofo, até conhece o cheirinho da minha bunda. É a sua
preferida.
Ele faz careta e mostra o dedo.
Sorrio e viro as costas, indo para o meu quarto lavar até a alma.
Chego a melhorar do mau humor provocado por aquela garota loira. E
prefiro nem pensar nela, ainda mais nu, embaixo de um chuveiro quente.
Respiro fundo, fecho os olhos, dou um soco de leve na parede e saio
da água, para me secar e me arrumar.
— Vince, o que vai fazer agora?
Hera me vê entrar na sala e corre até mim.
Adoraria ter superpoderes, para neste exato momento me
teletransportar para qualquer puteiro.
— Eu ia até a boate, por quê?
— É urgente?
— Sim, pretendia foder até o pau ficar assado.
— Eu mereço escutar essas merdas... — Ela revira os olhos. —
Porque eu quero levar a Lila ao shopping, para comprarmos umas coisas de
cozinha para o seu novo apartamento.
Eu cruzo os braços, olhando para a cara lavada da Hera.
— Você está concordando com isso?
— Isso o quê?
— Da Dalila BORGHI ir morar sozinha num apartamento no meio
da cidade, como se fosse uma pessoa normal?
— Não é questão de mim ou qualquer outra pessoa concordar, Lila é
adulta e tem consciência dos riscos que pode estar correndo ou não. Ela já
tem 22 anos e é uma mulher responsável.
Ela diz isso, mas se soubesse daquela bendita noite em que a Lila
quase foi abusada! Ela e até o papa não permitiriam que essa garota saísse
do castelo.
— Dalila ainda vai se arrepender dessa escolha imbecil, não somos
normais, não tem como forçar uma vida assim.
— Isso não cabe a nós decidir. — Hera me analisa atentamente. —
E vai nos levar ou não?
— Não!
— Eu posso ir dirigindo.
Lila aparece igual fantasma, vindo até nós de narizinho arrebitado.
Eu empino o peito, contando até dez para não perder a minha santa
paz.
— A questão não é dirigir, isso eu sei, é que não queria ficar cercada
de seguranças. E um dos Calatrone homens indo, já resolvia esse nosso
problema, que odeio.
— Por que vocês odeiam ir contra as regras de segurança? Mulheres
são insuportáveis.
— Falou ele, que não vive sem elas — Lila murmura e aproximo-
me dessa criatura irritante, com os meus 1,95m a diminuindo a um anão da
branca de neve.
Mesmo assim, ela não se intimida.
— Quais? As que eu uso por uma noite e descarto na manhã
seguinte sem nem saber o nome?
— Vince!
— Qual a novidade? Todos os homens do seu tipinho são assim
mesmo, cafajestes!
— Dalila!
Hera imediatamente se coloca no nosso meio, antes que eu
avançasse nessa garota.
— Que isso? Desde quando vocês começaram a se odiar assim?
— Eu quero que esse infeliz vá para o inferno!
— E que você, sua loira cor de gema de galinha, vá para o raio que a
parta!
— E você vá para a puta que...
— CHEGA! Meu Deus! Parem já os dois, parecem duas crianças
brigando!
Eu fuzilo a Dalila, com os punhos cerrados, enquanto ela faz o
mesmo.
— Somos uma família e vocês são adultos, tratem de se entender! E
vamos logo para o shopping.
— Eu não vou com essa...
— Ah, mas você vai sim, Vince, vamos logo, anda! Isso é uma
ordem!
Hera taca a chave do carro no meu peito e as duas saem rebolando
na frente.
Eu vou atrás, sem entender a porra dessa decisão.
Eu não sou capacho de mulher para mandarem em mim! Que
desgraça!
Na porra do carro, eu vou dirigindo e xingando ao volante qualquer
pedaço de bosta que fica na minha reta. Pelo retrovisor, não paro de encarar
com raiva a Lila.
Ela é insuportável, além de irresponsável! Devíamos estar indo para
um psiquiatra, fazer o seu tratamento da cabeça.
— Não precisa ficar com essa cara.
— É a única que eu tenho... — resmungo para a Hera.
Ao chegarmos, as duas começam a passear pelos andares, como se
eu tivesse todo o tempo do mundo. Onde encontro lugares para se sentar
nas lojas, estou me sentando. Só as observo de longe, super sorridentes ao
escolherem as coisas que precisam.
Que estressante, necessito de comer nesse cacete para ver se não
mato um.
— As bonitas já compraram o que precisavam?
— Não mesmo — Lila responde, tendo coragem de olhar na minha
cara. — Só estamos começando... — Então passa na minha frente,
rebolando para o lado da Hera.
Que vontade de dar uns belos tap... não, merda! Minha cabeça
começa a imaginar eu a colocando de bruços no meu colo, erguendo o seu
vestido e estapeando sem pena a sua bunda redondinha.
Merda, merda, merda!
Abomino esses pensamentos, seguido dessa pulsação indevida!
Só ganho paz quando elas resolvem finalmente descerem para o
pátio de alimentação. Na verdade, eu as irritei para irem.
Compro quatro hambúrgueres.
— Só gostaria de saber para onde vai tanta comida assim — Hera
fala.
— Se vocês soubessem, ficariam boquiabertas.
Elas rolam os olhos.
— Hera, já vamos embora? — Dalila pergunta.
Só na primeira loja elas fizeram nossos dois seguranças subirem e
descerem com umas quinze sacolas. Fiz questão de não ajudar. Sou
totalmente contra essa palhaçada. Hera está patrocinando um atentado
contra a vida da própria Dalila.
— Temos mais duas lojas e aí vamos embora.
Mentira deslavada! Depois de comermos, Hera arrastou a Lila para
mais umas dez lojas, incluindo as de roupas.
Isso é uma tortura, um verdadeiro inferno. Não! É pior que o
inferno! Eu daria tudo para levar um tiro, acompanhado de duas pauladas na
cabeça e uma jogada de ácido em cima dos ferimentos, qualquer coisa que
substituísse essa situação infernal que fui submetido sem escolha.
— Vamos embora logo, ou começo a fazer um escândalo! —
exclamo e cruzo os braços, diante dos dois projetos de mulheres, vulgo
aprendizes do diabo!
— Você não é nem louco!
— Ah é? — Começo a andar igual um louco varrido, jogando
algumas peças de cabides no chão. — MAS QUE ESPELUNCA DE LOJA,
NÃO TEM UMA ROUPA QUE PRESTE NESSE LUGAR!
Hera pisa rápido no meu pé e dá um beliscão no meu braço.
— Pare com isso!
— Não duvidou, querida priminha? Quero ir embora!
— Você é um idiota.
— Disse algo, Lila?
— Chega, já estamos indo, Vince. É um infantil, insuportável!
Elas bufam igual dois dragões e saem me praguejando.
Pelo menos agora vamos embora.
— Como foi as comprinhas no shopping? — Jolie pergunta.
Chegamos ao castelo e ela e a Elena estavam na sala, aguardando-
nos.
Eu e a Hera vamos bufando até as duas.
— Nunca mais eu saio com o Vince!
— Como se eu tivesse pedido para ir com vocês. Fui obrigado!
— Olha, você some da minha frente ou acabo com a sua raça! —
Hera taca uma bolinha de papel na testa dele.
— Eu que não faço questão de ficar na presença desse clã de
fêmeas. Tirando você, formiguinha. — Ele sorri e escapa de levar um salto
na cara, após se abaixar atrás do sofá.
— Vince, some daqui!
— Eu vou, mas sei que vocês vão chorar a minha falta.
Ele pisca e finalmente vai embora.
Respiro fundo, jogando-me cansada na poltrona.
— As compras foram intensas — Elena brinca.
— Sim! Compramos tantas coisas — Hera diz, animada. — Pena
que vocês não foram.
— Na próxima saímos todas juntas.
— E você, Lila, amanhã vai para o seu apartamento? — Jolie
pergunta.
— Vou, estou tão ansiosa para ficar no meu cantinho.
— E eu triste, por não ter todos os dias a minha amiga no castelo.
— Sem dramas, dona Hera, sabe que estarei sempre aqui.
— Não é a mesma coisa, mas tudo bem, eu me conformo.
Nós sorrimos.
Logo o assunto é mudado e aproveito para pedir licença e subir para
o meu quarto.
Enquanto eu ajeitava as novas roupas, que ganhei da Hera, recebi
uma mensagem no celular.
É do Alan, meu ex-namorado da faculdade.
“Oii, Dalila, adivinha? Estou em Lisboa! Vamos nos ver hoje?”
Meu Deus, sorrio de orelha a orelha. Fui pega de surpresa.
Ele é uma pessoa tão especial. Antes de namorarmos, fomos
melhores amigos por mais de dois anos, até eu descobrir que ele era
apaixonado por mim e começarmos a namorar. Mas, infelizmente, nosso
relacionamento não deu certo. Eu que terminei, pois estava frustrando o
Alan... em relação a termos a nossa primeira vez. Nunca consegui passar
das carícias com ele. E o problema estava em mim. Isso me afetava, me
deixava muito triste. No fim, optamos por voltarmos a ser bons amigos.
“Não acredito! Que saudades, o que faz em Lisboa? E sim, vamos
nos ver hoje.”
Ele responde logo em seguida.
“Estou de férias do trabalho e resolvi passar aqui em Portugal.
Também estou com saudades. Onde podemos nos encontrar?”
“Vou te mandar a localização, é na boate Fogo. Estarei lá às
19h30."
“Ok, combinado.”
Envio um coração para finalizar a mensagem e já olho para o meu
vestido novo sobre a cama. É com ele que eu vou. Estou tão feliz por rever
o meu amigo. Ah, e por ter um bom motivo para sair e me divertir. Sinto-
me mais superada pelo que aconteceu.
Enquanto arrumava as minhas coisas, a Jolie apareceu para
conversarmos.
— Nem tivemos muito tempo juntas esses dias.
— Tudo bem, a neném estava doente e precisando 100% de você.
Sem falar, que agora estou em Lisboa, vamos poder nos ver quase sempre.
Ela vem até mim e me abraça.
— Fico feliz por estar por perto. Você é igual uma filha para mim,
eu te amo tanto.
— E você sempre foi a mãe que eu nunca tive. Te amo.
Retribuo o seu abraço apertado.
— Preciso te avisar que mais tarde eu vou para a boate. Um amigo
de Londres está na cidade e combinamos de nos rever.
— Se quiser, o motorista te leva. Nenhum Calatrone estará na boate
hoje.
— Pode ser, estou ansiosa para o nosso encontro. E já que o tio
Paulo não quis me liberar o carro, sigo me humilhando por caronas.
— Mas ele não te presenteou com um, quando fez 18 anos?
— Sim, mas o meu tio continua pensando que eu tenho 18 e que não
é seguro dirigir sozinha por aí.
— Bom, todo cuidado é pouco.
— Até você, Jolie?
— Eu só disse que todo cuidado é pouco.
Dou de ombros.
— Não acredito que eu sofra riscos, ninguém sabe quem eu sou.
Não de aparência.
— Mesmo assim, precisa sempre estar atenta. Não dá para confiar
em todo mundo.
— Nisso eu sou cuidadosa...
Se o Vince estivesse aqui ele já teria me refutado com fúria e com
aquele seu olhar birrento.
Jolie fica mais um tempinho comigo, ajudando-me a organizar as
minhas coisas na mala. Depois, descemos para ficar com as crianças no
parquinho do castelo. Meu dia todo é assim, em torno das crianças.
Fazemos até cineminha com filmes da Disney. Contudo, quando dá o
horário de me arrumar para reencontrar o meu amigo, eu largo meus pupilos
e corro para me produzir.
Em duas horas eu fico pronta. Cabelo escovado e ondulado no
babyliss, maquiagem marcante para a noite e meu vestidinho curto, que a
Hera comprou para mim. Eu adoro sainhas e vestidos curtos, mas como está
frio, coloquei uma meia arrastão por baixo.
Hoje eu me divirto!
— Nossa, que mulherão!
Hera, Elena e Jolie ficam boquiabertas ao me verem sair desfilando
do elevador.
Sorrio, muito poderosa e bonita.
—Você está perfeita!
— Sexy demais!
— O próprio mulherão.
— Não me deixem com vergonha...
— Lila, você é linda! Apenas a verdade! — Elena exclama, e Hera e
Jolie concordam.
— Não sei como ainda está solteira. — Hera faz uma carinha
maliciosa para mim.
— Ela disse que esta noite vai se encontrar com um “amigo” do
tempo da faculdade.
— Jolie! — Elas três agora me olham maliciosas. — É só um amigo
mesmo.
— Amigo, sei...
Reviro os olhos para essas libertinas.
— Humrun... — Escuto um pigarreio e olho para o meu pesadelo,
que acabou de sair do elevador.
Coro as bochechas, desviando desse homem insuportável... bonito,
irresistível. Droga!
— Precisamos conhecer esse tal amigo... — As três continuam
rindo.
Elas estavam cochichando tanto, que nem notaram a presença do
Vince.
— Vocês não comecem, suas chatas. E preciso ir.
— Posso saber aonde está indo? — Então a voz grossa do Vince se
faz presente.
Ele para... todo cheio de marra no meio da sala, com seus cabelos
loiros penteados para trás, jaqueta de couro preta — roupa toda nessa
tonalidade dark —, a correntinha de prata no pescoço e a sua cara de bad
boy, enquanto cruza os braços e exibe os músculos dos bíceps — quase
desmaiei com tanta beleza máscula.
Todas param de rir e olham surpresas para ele. Até eu.
E o que ele está pensando, acha que é o meu pai?
— Isso não é da sua conta — resmungo, e Jolie me encara. — O que
foi? Não é da conta dele mesmo, esse intrometido.
— Sem discussão vocês, o motorista já está te aguardando, Lila —
Hera informa. — Vá e se divirta. Ah, e não esqueça da camisinha...
Nem respondo a essas safadas, estou irritada com o idiota à minha
frente.
— Com licença! — Empino o nariz, fuzilando o Vince e saio
praticamente rebolando.
Do lado de fora do castelo, após pisar no chão de pedras, eu ouço a
porta bater e uma sombra alta surgir atrás das minhas costas.
— Está indo para onde? — Arrepio-me com o seu tom imponente.
Viro-me para ele, chocando-me ao notar que quase roçamos os
nossos narizes.
Estamos perto demais, sentindo um o perfume e a respiração quente
do outro. Sua boca está tão próxima da minha...
— Eu... eu vou... não é da sua conta! — esbravejo, saindo do transe
enquanto me afasto. — Nada vai estragar a minha noite, passar bem!
Viro as costas novamente, mas quando chego ao último degrau, o
Vince esbarra no meu ombro, vai até o motorista, toma a chave da mão
dele, em seguida, entra no carro.
Fico uns dois minutos parada no mesmo lugar.
O que ele acha que está fazendo?
Bato no vidro, ordenando que saia.
O motorista apenas nos observa, confuso.
Vince abre o vidro, sem o menor caráter na fuça.
— Seu horário não era às 19h30?
— O quê?
— Vai se atrasar, Dalila. Entra nesse carro e eu te levo até a boate,
ou você pega uma vassoura e vai voando!
— Idiota, eu te odeio!
Sem escolha, dou a volta e entro no veículo.
Nego-me a fitar a cara desse energúmeno irritante.
Ele pisa igual uma pluma no acelerador e sai dirigindo como se
estivesse numa corrida com a lebre e a tartaruga, e no caso, a tartaruga está
na nossa frente.
— Dá para acelerar esse carro, Vince?
— Por que, qual a sua pressa?
— Está fazendo isso de propósito, só para me irritar!
— Estou só fazendo o papel de motorista.
— Não estaria fazendo esse papel se tivesse deixado o motorista
de verdade me levar.
— Mas fiz questão, pois sei que adora a minha companhia.
— É? Está se iludindo sozinho? Eu te odeio!
Ele sorri fraco e então pisa com força no acelerador, desta vez, indo
mais rápido do que um jato.
Não falo nada, mas me seguro no cinto, rezando para chegar viva à
boate. E quando chegamos, eu corri imediatamente para fora do carro e
entrei igual uma fugitiva na boate. Não dei nem tempo de ele descer e dizer
algo.
Não posso ficar perto do Vince, ele está acabando com o meu
psicológico. A prova, é que enquanto dirigia, eu não parava de olhar de
canto, para a sua mão grossa girando o volante... e imaginando-as em mim.
Não aguento mais!
Meu coração está acelerado, as minhas mãos suando frias e o meu
estômago se revirando.
Mas para acalmar o meu corpo e toda essa ansiedade, encontro o
Alan sentado numa das mesas da parte superior da boate. Sorrio, feliz
demais por vê-lo. É disso que eu precisava, rever os velhos amigos... e ex-
namorado.
— Alan?
Ele olha para mim e sorri de ponta a ponta, erguendo-se para chegar
mais perto e me abraçar.
— Nem acredito! Lila, que saudades de você. Como está?
— Estou ótima e você?
— Estou bem também, vem sente-se.
Sento-me à sua frente, admirando como está bonito. Ele cortou os
cabelos e deixou a barba crescer. Ficou bem mais velho.
— Estava com saudades de você, faz um ano que não nos vemos.
— Verdade, nossos caminhos se desviaram um pouco. Depois que
eu me formei, continuei uns meses trabalhando em Londres, até que resolvi
voltar para Portugal e seguir com a minha vida aqui, ao lado da família.
— Você me contou, já eu, arrumei trabalho e fiquei muito focado em
crescer profissionalmente. Isso me fez ficar distante de todos. Fui para os
Estados Unidos.
— Que bom, pelo menos está realizado de alguma forma.
— Acho que estou, comecei a pouco tempo no emprego, tenho
muito o que mostrar do meu potencial. Antes que continuemos nossa
conversa, melhor pedirmos uma bebida.
Ele pede e voltamos a conversar com entusiasmo, relembrando dos
velhos tempos na faculdade. É maravilhoso, não paro um minuto de sorrir
das nossas histórias. Foram marcantes, assim como a nossa amizade e
namoro...
Sento-me no banco do bar e fico olhando para a Lila e o cara que ela
conversa animadinha. A garota não parou um minuto de exibir os dentes
para ele.
Quem é esse cara?
Ela se arrumou toda bonita e gostosa para esse tipinho sem graça?
Ele parece que saiu de um gibi cômico, de tão estranho e feio. Na
verdade, é o próprio Shrek. Nem no circo aceitariam essa aberração. Idiota!
— Que carinha é essa, Sr. Calatrone? — Aline, uma das nossas
garotas da boate, passa a mão na minha coxa, e eu desvio furioso da Lila,
para olhá-la.
— A carinha de quem quer pegar uma arma e estourar os miolos de
alguém.
Ela sorri e me estende uma bebida.
— Está olhando muito para aquela moça de roxo, por que não
assusta aquele babaca e chega nela? O senhor é um Calatrone, nenhuma
mulher resiste a sua beleza e ao seu charme cafajeste... — Aline volta a
acariciar a minha coxa, agora, subindo para a minha virilha e o meu
volume.
— Cara, Aline, aquela garota ali não faz o meu tipo de mulher.
Toco no decote dela, arrepiando-a.
— Sr. Calatrone... vai me deixar louca para te dar...
Volto os olhos de novo para a Lila e fecho os punhos, ao ver que ela
e o Shrek ridículo sumiram. Empurro a Aline com rompante e saio rápido,
procurando aquela garota loira por todos os lados. Acabo encontrando-a
sentada no outro bar com ele.
Respiro fundo, trincando o maxilar. Então chego mais perto deles e
taco o foda-se.
— Um Whisky com gelo — peço no balcão e viro-me por trás do
cara, fazendo a Dalila encontrar os meus olhos.
Ela abre a boca, arregala os olhos e desvia rapidamente.
— Você está tão bonita, Lila.
Bonita? Que frango arrombado! Ela está putamente gostosa, parece
um prato de brigadeiro brasileiro, maravilhosa!
— Obrigada, Alan... — Lila sussurra e tenta não me olhar de novo.
— Espero que esteja gostando de Lisboa.
— Cheguei ontem, ainda não tive tempo de explorar os pontos
turísticos.
— Eu posso te levar para conhecer!
— Vai levar uma ova... — digo meio alto, e ela me olha. — Uma
aguardente de cana... — respondo ao outro bartender, para disfarçar a porra
que eu disse.
— Eu vou adorar que me leve, bom que ficamos mais juntos, como
nos velhos tempos.
Velhos tempos? Como assim VELHOS TEMPOS?
— Ah, é claro... como nos velhos tempos. Eu adorava a sua
companhia.
— Você foi a melhor amiga e a melhor namorada que eu tive.
MAS O QUÊ?
De propósito, viro a minha bebida no pescoço dele e o Shrek se
levanta rápido.
— Vince! — Lila, também se ergue, fuzilando-me. Ela percebeu
tudo.
— Ah, desculpa, eu tropecei na banqueta... — Sorrio falso.
Era o copo de bebida, ou as minhas mãos estrangulando o pescoço
desse merda.
Ele me olha.
— Tudo bem, foi um acidente.
— Sim, deve ter sido a minha emoção de rever a Dalila — falo, e
ela me dá uma segunda fuzilada, de puro ódio.
— Rever? — Franze o cenho.
— Sim, somos amigos, né, Lila?
— Não, não somos! — ela me enfrenta.
— Não entendi, e quando viramos “ex-amigos”? — Aproximo-me
dela, afastando o ogro feio do seu lado.
— Quando, quando... — Ela se recorda de algo e engole em seco.
— Vince, para de ser insuportável! Pode nos dar licença?
— Hummm... é claro, antes, apresente-me ao seu namorado.
Ela cora as bochechas.
— Alan é o meu amigo... só isso.
— Mas fomos namorados — ele diz, e eu trinco o maxilar de novo.
E por acaso eu perguntei algo para esse bolo mofado?
Reviro os olhos.
— Sim, na faculdade, mas já acabou...
— Humm... entendi — comento, então viro-me sorridente para ele,
apertando o seu braço. — Aliás, Alan, né? — Ele assente e aproximo-me do
seu ouvido. — Se é amigo da minha amiga, é amigo meu também, por isso,
qualquer uma das dançarinas que quiser foder, fique ao seu leque de
escolhas. Só por hoje... por minha conta... — sussurro.
O cara olha para o palco e fica até sem voz.
Lila range os dentes.
E eu, afasto-me triunfante, dando outra batidinha no braço do Shrek
feioso...
Fico de longe e perto o suficiente para vigiar minha garota. Escolho
o sofá redondo de frente para o bar. E deixo que as coelhinhas gostosas,
sentem-se ao meu lado e rocem a bunda e os peitos à vontade em mim,
enquanto encaro diretamente a Dalila e fisgo várias vezes o seu olhar
envergonhado.
Não sei o que acontece comigo, mas fico excitado a cada olhada e
desviada dela. Isso é tão errado, que merda... estou ficando louco.
Ela ainda permanece uns bons minutos conversando com seu
amiguinho. E para a minha surpresa, ele parece se despedir dela, entre
sorrisos e abraços, em seguida, vai embora.
Até franzo o cenho, o cara foi embora e a deixou ali, plantada?
— Camila, segue aquele homem de camisa vermelha... — sussurro,
e ela assente, obedecendo-me.
Empurro as outras meninas e aproximo-me rapidamente da Lila.
— O babaca foi embora? — indago, sentando-me no lugar dele.
Ela me encara, com um olhar mortal.
— Por que está estragando a minha noite?
— Assim me sinto até ofendido.
— Pois eu quero que se sinta, e o Alan não é um babaca. Ele é o
meu melhor amigo da faculdade.
— E ele foi embora?
— Foi, Vince, mas amanhã passaremos o dia todo juntos.
— Hum, entendi.
— Já que entendeu, pode ir embora, se divertir com as suas garotas,
estou muito bem sozinha.
Antes que a respondesse, Camila apareceu atrás de mim, vindo até o
meu ouvido.
— O cara de camisa vermelha subiu para um dos quartos
exclusivos com a Ana... — ela informa e se retira.
Que filha da puta, ou esperto. O tal “melhor amigo” da Dalila a
deixou plantada aqui para ir comer uma das garotas, após eu dizer que ele
“estava em casa”. Que belo melhor amigo.
Lila me olha, ainda mais brava. Acho que não ouviu nada.
— Pode ir lá com ela e me deixa em paz.
— Você não é assim, por que anda tão furiosa comigo?
— Porque é um cínico, que parece querer controlar minha vida! —
exclama, erguendo-se.
— Deveria era ficar bravinha com o seu “melhor amigo”, que a
deixou plantada nesse bar para subir com uma das garotas da boate.
— É mentira! Não acredito em você!
— Duvida? Eu posso te levar até o quarto onde ele está. Eu não
minto, Lila.
Ela olha para cima e fica estática. Então, sem eu esperar, vira as
costas e sai andando para o elevador.
Corro veloz e a puxo pelo braço.
— Isso é culpa sua, Vince! Você disse que as garotas estavam
disponíveis para ele, não disse?! — Ela me empurra e tenta me bater.
— Eu disse, mas a outra cabeça do seu “melhor amigo" falou mais
alto. Não tenho culpa dessa porra não.
— EU VOU MATAR VOCÊ!
As pessoas à nossa volta começam a nos observar, enquanto eu luto
contra os tapas da Lila. Ela ainda consegue se desvencilhar de mim e desta
vez, anda em direção à saída.
— Dalila!
Vou atrás de novo e a alcanço na calçada de fora.
— Me solta, Vince! Eu vou embora.
— Você não vai a lugar nenhum. Eu que te trouxe!
— Eu vou chamar um táxi.
Lila continua a me estapear, e para fazê-la parar, agarro os seus
cabelos com força, aperto a sua cintura e a pressiono no meu corpo, cara a
cara comigo.
Ela entra em choque e perde os movimentos, aquietando-se.
— Eu vou te levar embora, em segurança — sussurro, perto dos
seus lábios. — E não quero ficar brigado com você.
Sua respiração faz seus seios subirem e descerem com ofegância no
decote. Lila toca o meu peitoral, olhando também para a minha boca.
Aperto ainda mais o seu corpo, sem controle das minhas mãos ansiosas, até
que sinto o relevo da sua peça íntima pelo tecido do vestido fino e por fim,
a solto assustado, num sentimento de frustração infernal.
O que está acontecendo comigo? Isso é errado!
— Vou buscar o carro, espere aqui, entendeu?
Ela assente, e eu saio ligeiro. Quando volto, a Dalila entra quieta no
veículo. Dirijo igual, sem dizer nada.
— Não queria que a minha noite tivesse terminado assim, eu nunca
me divirto... — Ela quebra o nosso silêncio. — É culpa sua estragar a
minha noite, eu estava feliz...
Pressiono o volante, talvez culpado. Que bosta, agora devo uma
diversão para ela.
— Sinto muito, ok? Vamos para algum lugar, sei lá, para nos
divertir.
— No momento não tenho mais clima, e eu te odeio!
— Problema seu, ainda está cedo.
Encontro uma loja de bebidas aberta e paro para comprar uma
garrafa de vinho e cervejas.
— O que é isso, Vince?
— Sua diversão. Não vou deixar que me culpe por estragar a sua
noite.
Ela dá de ombros, desviando de mim.
Sem dar atenção para a sua cara de desgosto, eu dirijo até a praia
mais próxima dos hectares do castelo. Encontro uma que eu gosto, que tem
até sofás e espreguiçadeiras.
— Ah, que genial, me trazer para ver a areia e o mar. Sinto-me até
mais divertida.
— Dalila, dá para colaborar? Estou fazendo o meu máximo.
— Seu máximo seria não ter estragado a minha noite com o Alan —
resmunga, enquanto caminha na areia, com os saltos nas mãos.
— Então tinha planos de se divertir com o seu amiguinho?
— Sim, e não do jeito que deve estar imaginando...
— Estou imaginando sim, não tem vergonha na cara não?
— Vince! Me respeita, eu não sou uma libertina igual a você não! E
nem o Alan, o conheço há mais de quatro anos!
— Isso não muda o fato do seu amigo ser homem e de eu saber
como funciona a mente masculina.
Paramos entre as espreguiçadeiras e ela se senta, com raiva.
— Eu sei perfeitamente como funciona a mente masculina, na
verdade, o cérebro de vocês é do tamanho de uma ervilha.
— Era para me ofender?
Deito-me na espreguiçadeira, abrindo uma das cervejas.
Lila pega o vinho, abre e já bebe no gargalo.
— Vai com calma, não quero te carregar bêbada não.
— Não mandei comprar bebidas.
— Você é uma chata, sabia?
— Era para me ofender? — ela repete as minhas palavras, na maior
cara de deboche.
Fico olhando para ela.
Lila também me olha.
— Por que está pegando tanto no meu pé? Não me deixa em paz por
um minuto.
— Estou fazendo isso?
— Não vem se fazer de cínico ou quebro essa garrafa na sua cabeça.
— Eu não estava, Lila... até aquela noite que te salvei. Isso mexeu
comigo. Não quero que ninguém te machuque. É inocente, vulnerável.
— Eu não sou “inocente”.
— Estou me referindo às más intenções das outras pessoas. Você foi
criada numa bolha cercada de proteção, pelo seu avô, pela sua madrasta e
pelo seu tio Paulo. Passou por tantas coisas, tantos traumas. Por isso, não
quero que ninguém te machuque. Sinto-me responsável por você.
— Não quero que se sinta responsável por mim, já sou adulta, tenho
22 anos. Fica parecendo um pai. Não é isso que eu quero.
— E o que quer? Também não tenho culpa de me importar com a
sua segurança, de você ser a minha protegida. E não é porque ajo assim, que
estou sendo o seu “pai”.
Ela se levanta, encarando-me e metendo o dedo na minha cara.
— Mas está me colocando numa bolha. Na sua bolha!
— Que porra de bolha?! Se eu tivesse metido o foda-se em você, o
que teria sido daquela noite que quase foi abusada? — É a minha vez de me
erguer e meter o dedo na cara dela. Ela abre a boca três vezes, porém, não
consegue falar. — Acorda, garota!
— Não me chame de garota!
— Uma garota mimada!
— Garota o caralho! — Ela me empurra forte contra a
espreguiçadeira e sobe no meu colo. — E NÃO SOU MIMADA!
Lila aperta as suas coxas em mim, fazendo-me perder o fôlego com
a sua força e a imagem do seu corpo sobre o meu. Fico estático, sem reação.
Ela se inclina, com os olhos semicerrados e quase esfrega o seu
decote avantajado na minha cara.
— Eu sou uma mulher, Vince! Quando vai me ver assim?
Já farta do Vince e do seu jeito de me tratar como uma garota idiota,
eu o empurro contra a espreguiçadeira e subo no seu colo. A ação foi tão
rápida, que nem eu tive controle dos meus atos.
Ele não reage, parece chocado.
— Eu sou uma mulher! — repito, furiosa com ele.
Vince se ergue e fica frente a frente comigo. Sua respiração forte
queima o meu rosto, sinto a sua ofegância, os seus batimentos cardíacos.
Meu coração também dispara.
Toco no seu peitoral e deslizo a mão para sentir os seus músculos
duros como armadura.
Não posso acreditar que isso é real, que não estou num sonho, onde
apenas fantasio esse homem e acordo frustrada.
Subo a mão para a sua barba e quando tento acariciar o seu rosto
bonito, ele segura o meu braço e se mexe embaixo de mim.
— É claro que você é uma mulher...
Desvio e caio em mim, sobre estar em cima do Vince, numa posição
completamente constrangedora e sexual, mas não quero sair daqui, quero
fazê-lo me desejar...
Sem suportar, aproximo-me e, então, roubo um beijo dele, igual aos
meus sonhos. Afundo a língua molhada, até chegar no céu da sua boca.
Vince aperta a minha cintura e reage. Ele agarra os meus cabelos
com força, pressiona o meu corpo e também brinca com a sua língua dentro
da minha boca.
Ele está retribuindo o meu beijo!
Eu enlouqueço. Tremores descem para o meu ventre, arrepiando-me
e fazendo a minha intimidade latejar. Roço nele, sem ter mais juízo de algo,
a única coisa que sinto é tesão e anseio de ser preenchida.
Roço de novo, com força e contra o volume alto da sua calça.
— Merda, Lila... — Ele estimula os meus quadris, para eu roçar
ainda mais. Está duro, latejando!
Não posso acreditar. Eu sabia que o meu corpo, a minha excitação,
tudo só daria certo com ele, eu sonhava que seria o primeiro a tirar a minha
virgindade. E preciso, necessito que o Vince faça isso, não aguento mais
esperar por esse dia... por ele.
— Vince... — arfo, puxando a sua mão para o interior das minhas
coxas.
Ele parece lutar contra as respostas do seu corpo, da sua excitação.
Não posso deixar que pare, que me rejeite... mas é o que ele faz,
após me afastar ligeiro e se levantar, cambaleando para trás.
— Dalila, o que pensa estar fazendo, porra?
Eu respiro e inspiro, tão eletrizada e quente.
— Eu... sinto muito, acho que bebi demais — sussurro,
envergonhada, mas nem um pouco arrependida.
Sei que nunca vou conseguir me entregar para outro homem até o
Vince ser o primeiro. Não consigo mudar esses pensamentos, esse desejo,
essas fantasias com ele.
Ele passa a mão no rosto, extremamente nervoso e descontrolado.
— Vamos embora... — resmunga e vira as costas
Pego os meus saltos, a garrafa de vinho e volto para o carro. Durante
o percurso, o silêncio que já era constrangedor, se torna mil vezes pior.
Quando chegamos ao castelo, ele mal conseguiu olhar na minha
cara.
— Onde vai? — pergunto, após o Vince sair marchando pela sala.
Estamos sozinhos, nem o mordomo apareceu.
— Eu vou comer! — responde, estressado.
— Também quero.
Sigo-o para a cozinha, tendo certeza de que, no momento, ele
preferia me ver bem longe da sua presença.
Vince pega um monte de pão, pasta de amendoim e joga na
banqueta.
— Por que ficou insuportavelmente irritante?
— Porque você me irrita!
Fecho a cara.
— Você atrapalhou a minha noite com o meu melhor amigo,
ofereceu uma das garotas da boate para ele comer e eu que te irrito?
— Lila, enfia a porra desse pão na boca e não fala comigo! —
exclama, fazendo um sanduíche enorme e usando a metade da pasta.
Já percebi que quando ele está feliz, come fora do normal, e quando
está bravo, come igual a cinco ursos.
— Não me mande calar a boca!
— Eu posso te mandar até para o quinto dos infernos, garota! —
esbraveja puto e de boca cheia.
— Ok, eu sou uma garota e você um moleque de 30 anos!
— O que disse? Projeto de boneca loira que deu errado!
— E você, é um boneco de posto de gasolina furado!
Vince abandona o seu pão e avança em mim.
Também avanço nele.
— Ridícula!
— Imbecil!
— Minha vontade era de te encher de tapas! — Ele puxa o meu
braço, colando a sua cara na minha.
Eu ofego, com meus pulmões bombeando oxigênio sem parar.
— E a minha vontade era de socar a sua cara...
Ele aperta o meu corpo contra o dele e roça o seu nariz no meu.
Fecho os olhos, novamente, sentindo aqueles tremores.
Penso que ele vai me beijar, pois sinto os seus lábios próximos aos
meus, a sua barba até roça na minha pele, só que o Vince me solta e se
afasta, como se não existisse a droga de uma excitação entre a gente.
O que deve estar pensando? Será que ele ainda me vê como aquela
garota de 17 anos, completamente boba e apaixonada por ele?
Resolvo deixá-lo sozinho e ir para o meu quarto. Não aguento mais
estar perto dele, a ponto de expor o quanto o quero.
Entro no meu quarto, fecho a porta e corro para tomar um banho... e
me tocar, ainda com todas as sensações frescas. Só preciso que o Vince me
leve para cama, que me satisfaça de verdade, igual ele faz com as outras
mulheres.
Embaixo do chuveiro quente eu massageio os meus seios duros,
brinco com os mamilos pontiagudos e desço para a minha intimidade
pulsante. Gemo, quando esfrego meus dedos no clitóris. Imagino-o aqui,
masturbando-me com a sua mão grossa e acelero o meu prazer, por pouco
em lágrimas.
Não aguento mais, vou cometer uma loucura se eu ficar perto dele.
Primeiramente, que merda está acontecendo? Segundamente, que
merda a Dalila está fazendo comigo? O que aconteceu essa noite?
Eu não posso ter ficado excitado, ter desejado essa garota em todas
as formas e posições que nem um filme pornô reproduziria. Lila é a minha
prima de 2° grau. É uma parente de sangue! Isso é aterrorizante, família é
algo que eu levo muito a sério. Sinto-me sujo, escroto. Só posso ter comido
a santa ceia antes de Jesus, para estar passando por isso.
Deito-me na cama, bufando de raiva.
Ela nunca deixou de gostar de mim. E agora, que está bonita pra
caralho e com um corpo de tirar o fôlego, está conseguindo me provocar e
por pouco não me levou a cometer um erro.
Fecho os olhos, lembrando dela sobre o meu colo, do seu beijo
gostoso, da sua rebolada urgente na minha ereção e dos meus dedos, quase
acariciando o destino entre as suas coxas.
NÃO, NÃO!
Ela é só bonita, Vince! Enterre essa porra de pau em qualquer puta
para perder esse desejo!
Vou dormir com a cabeça mais perturbada que o normal. Na
verdade, as duas cabeças. E não vou bater uma punheta para aliviar essa
excitação do caralho, eu sei que vou ficar pensando nela enquanto me toco.
É a minha cruz sofrer assim. Eu mereço isso.
Com dificuldades para dormir, pego no sono quase perto do
amanhecer. E isso me deixa péssimo, pois pela manhã, acordo no modo
“vontade de matar todo mundo”, e cheio de esperma reprimido. Não vou
bater punheta nessa bosta!
— Bom dia, Vince.
— Bom dia só se for para você... — resmungo contra a Hera, o
Morcego e o meu tio, que estão sentados à mesa do café.
— Acordou chupando limão? — Morcego ri, e eu agradeço por não
estar com a minha arma agora, pois ele teria levado um tiro no meio da
boca.
— E você? Acordou com o palhaço do lado? Vai se foder!
— Vince! — Tio Argus me repreende, e me calo, engolindo em seco
o meu humor.
Só para ver se melhoro, devoro a mesa toda e retiro-me para socar
um saco de pancadas na sala de jogos. Entretanto, assim que as portas do
elevador se abrem na sala, eu dou de cara com a Dalila.
Ela também paralisa, encarando-me.
Observo que está muito arrumada; calça jeans justa, botas de saltos,
um top por baixo de um casaco de couro e uma maquiagem bem-produzida.
Lembro-me do que ela disse ontem, que hoje iria passar o dia todo com o
seu amiguinho idiota.
— Oi... bom dia.
— Bom dia pra quem, Lila?
— Pelo jeito, continua com o mesmo mau humor de ontem —
murmura ao passar por mim, não sei se era para eu ouvir, mas ouvi.
— E você continua irritante.
— Me chamou do quê?
— Eu perguntei onde a senhorita está indo?
Ela cruza os braços, encarando-me.
— Já sabe, vou passar o dia com o meu melhor amigo.
— Que eu me lembre, esse aí é o seu ex-namorado brocha, e eu sou
o seu único melhor amigo.
— Hum, não é mais. Está mais para um pai postiço, que quer me
colocar dentro da sua própria bolha de proteção.
Trinco o maxilar, forçando um sorriso de ódio.
Ela faz o mesmo.
— Tio Vince!
Sem esperar, um dos meus sobrinhos surge de algum buraco e corre
para me abraçar. É o Henry.
— Oi, diabinho. — Pego a cópia do Hoss no colo e o abraço
apertado.
Quando digo cópia do Hoss, é a cópia mesmo. Além da cara, ele é
todo explosivo, igual ao pai, qualquer coisa o faz ficar bravo e tacar os
brinquedos longe.
— Vamo joga bola, tio?
— Só se usarmos a cabeça da sua prima Lila.
Ela abre a boca e segura o palavrão que ia soltar.
Henry ri e olha para ela.
— A prima não sabe jogar bola.
— Ela sabe sim. Que tal chamar a prima para jogar futebol?
— Vince, eu vou acabar com a sua raça! — ela exclama, raivosa.
Os olhinhos do Henry brilham.
— Prima Lila, vamo joga bola, vamo!
— Viu? Negar um pedido desses, de uma criança com os olhos
brilhantes em súplica, é pecar contra Jesus.
Dalila respira fundo, desvia de mim, com toda a paciência do mundo
e acaricia a mãozinha do nosso pequeno descendente de piolhentos.
— Meu amor, hoje eu não vou poder me divertir com você. Sinto
muito, tenho outro compromisso.
— É com o namoradinho dela.
— Namorado?
Lila não aguenta e chega bem perto de mim, para beliscar o meu
braço.
— Ai porr...
Seguro o xingamento e solto o Henry no sofá. E para a sorte dessa
garota, a Elena, a Hera e a Maria aparecem para salvá-la de levar um tapa
na bunda. Eu estava com a mão aberta, pronto para bater e deixá-la sem
sentar por uma semana.
Dalila as cumprimenta, ao mesmo tempo que se despede de todos,
rapidamente dizendo que precisa ir, pois tem o seu tal compromisso
importante.
Seguro-me no mesmo lugar, para não ir atrás dela. Ainda sou
obrigado a fingir que nada está acontecendo.
— Tio, que carinha feia, o senhor está bem? — Maria questiona,
após sentar-se com a bebê no colo.
Nem a fofurinha da Pétala de 1 ano consegue mudar a minha cara.
— Eu estou ótimo, pré-adolescente azucrinante.
— Tio Vince! — Ela me fuzila.
— Maria, deixa o seu tio pra lá, hoje ele está mais insuportável do
que de costume.
— Isso é raridade, aconteceu algo? — é a vez da Elena me
perguntar.
— Problema meu, cunhada. Não se preocupe, podem ficar aí,
fazendo crochê e fofocando da vida alheia. Além de perturbar a existência
dos homens.
Hera de repente pega o carrinho da mão do Henry e taca na minha
costela.
Que inferno, eu virei saco de pancadas dessas mulheres?
— Seu polaco azedo! Some da nossa reta! Vai encher essa barriga
de mais comida para ver se melhora essa cara de macho bravinho.
Viro as costas e saio resmungando.
Resolvo pegar o carro e sumir para a academia de luta, pelo menos
lá eu posso bater na cara de alguém e não dar justificativas do meu dia estar
sendo uma bosta!

É muito bom dar uns socos, tiro os problemas da mente com


violência. Antigamente, eu estaria plantado na frente de um computador,
tentando hackear a casa da moeda de Portugal. E sou capaz o bastante para
garantir que eu consegui fazer isso diversas vezes. Só que os meses naquela
prisão, dentro daquela cela fria, me traumatizaram de uma forma horrível.
Por meses senti-me sensível, desprotegido e sozinho, sem o calor da minha
família, das pessoas que sempre cuidaram de mim. Eles são tudo o que eu
tenho. E sou capaz de desistir de qualquer coisa para estar todos os dias
com eles, por mais que seja irritando-os. Afinal, ninguém vive sem a minha
maravilhosa pessoa.
Quem me odeia? Eu sou perfeito demais para ser odiável.
— Vince? — Igor, o meu melhor amigo, me encontra jogado atrás
do lixo da nossa academia de treinamento.
Terminei de lutar e vim aqui para fora, encher a cara com as bebidas
que comprei no mercado ao lado.
— Será que um fodido não pode contemplar o seu momento de
fracasso em paz?
— Que momento de fracasso? — Ele cruza os braços e encosta na
parede.
— Não sei, estou me sentindo perdido de tudo.
— Parou com as suas programações, ou sei lá o que fazia naquele
computador?
— Eu prometi que não iria mais quebrar nenhuma lei cibernética.
Não depois de ter passado por tudo aquilo na cadeia.
— Não está bem, todos estão notando isso em você. E meu amigo,
nunca foi assim.
— E o que eu sou agora, Igor? Um bosta.
— Você é você, o nosso Vince. Ainda está com o pensamento de ir
atrás de quem te incriminou?
— Não, juro que esses dias até esqueci disso.
— Ótimo, aconselho a deixar para lá. Se reerga, vai curtir e
aproveitar a vida. Ainda é novo.
— Como, se aquela garota também está me desfocando dos meus
princípios? É como se eu estivesse retrocedendo.
— Que garota?
— A Dalila — resmungo.
— O que tem essa mulher?
— O que tem, que somos parente de sangue e ontem eu quase fodi
com ela.
— Mas que... Porra, Vince! — ele exclama, chocado. — Como
assim? Eu sei quem é essa Dalila, é a enteada da Jolie e sobrinha do Paulo
Borghi. Ah, e prima de segundo grau de vocês!
— É, essa aí mesmo. Tenho certeza de que chutei alguma macumba
para essa garota estar me provocando.
— Não posso acreditar, isso é incesto?
— O QUÊ? Igor, cala essa boca de bode esgoelado! Inferno!
Ele começa a andar de um lado para o outro.
— Isso é grave, muito grave. Ou não, não sei, relacionamento entre
primos é normal, né? A tia do meu pai se casou com um primo também.
— Nossa, que benção, você está me ajudando muito. Não preciso
nem de inimigo, com um filho da puta igual a você como amigo!
Ergo-me do chão.
— E o que pensa em fazer? — pergunta.
— Não sei, no momento, não estou em condições de raciocinar.
— Eu que não queria estar no seu lugar.
— Nem eu queria estar no meu lugar. Ando pagando por todos os
meus pecados.
E pagando em dobro...
Igor me ajuda a ir embora para casa.
Chego, subo para o meu quarto e pela sorte do destino, encontro a
minha empregada favorita no corredor.
— Boa tarde, Sr. Calatrone... — Ela desvia de mim e se agacha de
propósito no carrinho, para guardar um produto de limpeza.
Não aguento ver essa bunda empinada e a agarro por trás, dando o
que essa francesa veio buscar. Abro a porta, jogo-a para dentro e começo a
tirar nossas roupas. Pareço um tarado, louco para foder.
Preciso liberar esse estresse de porra acumulada, antes que eu vire
um Hoss da vida. Nem meu doce preferido está me satisfazendo
ultimamente.
Empurro a empregada de quatro, visto a camisinha e no exato
segundo em que ia meter a rola, alguém abre a porta e solta um grito alto.
— AAAHH!
Puta merda, eu reconheço o grito e os fios loiros que saíram
esvoaçados, após bater a porta com rapidez.
Que raiva! O que eu fiz meu Deus?
Não tenho um minuto de paz!
Dou um soco na parede, empurro a empregada para longe, visto a
calça e vou atrás daquela insuportável, que só existe para me infernizar.
Alcanço-a nos degraus da escada e a agarro feito um maníaco.
Lila grita:
— ME SOLTA!
— Por que não me deixa em paz, sua praga?! — Puxo o seu braço,
prenso-a na parede e a sacudo com ódio.
Eu só queria foder! Antes que eu surtasse! E agora surtei!
Ela tenta me empurrar, mas sou mil vezes mais alto e mais forte.
Nem me movo do lugar. Estou a ponto de enlouquecer com essa menina, a
ponto de cometer uma atrocidade!
— Eu não tive culpa! — ela fala e nos encaramos, como dois touros
selvagens.
— Qual o motivo de invadir a minha privacidade sem avisar, porra?
Eu quero te matar!
— Não sabia que estava com alguém!
— Saberia, se soubesse bater na porra da porta! O que quer comigo,
além de ser um encosto no meu pé?!
— Pare me xingar! Você que é um encosto na minha vida, eu te
odeio!
— Me odeia mesmo, Dalila? — Aproximo o rosto do dela e respiro
o seu perfume doce.
Sinto que os seus batimentos ficam mais acelerados. Seus seios
sobem e descem, frenéticos, como se quisessem pular do decote.
— Eu sei que gosta de mim, seus olhos, seus gestos, tudo te entrega!
— Ela não responde, parece que não tem voz. — Diga a verdade, não me
superou!
Eu realmente surto e toco na sua boca, apreciando a maciez dos seus
lábios.
Lila ofega e toca no meu peitoral nu.
Seu toque me estremece.
— E você, não gosta de mim?
Merda, eu pressiono ainda mais bruto os seus lábios, segurando-me
para não meter um dedo dentro dessa boca.
Não sei nem descrever as minhas vontades, o meu desejo. Está na
ponta da língua, mas nenhum de nós assume.
— Está começando a me ver diferente, Vince? — Ela vira o jogo e
sopra o seu hálito sobre o meu rosto, provocando-me.
Um fogo alastra e me faz ferver as veias.
— Não brinca com fogo, Lila... — Aperto o seu pescoço e antes que
a devore, afasto-me, para não acabar cometendo uma loucura de verdade.
— E-espera...
De costas, ouço o seu sussurro e passo a mão no meu cabelo.
Preciso respirar e inspirar...
— Eu fui até o seu quarto para mexer escondida no seu
computador... não imaginei que estaria com a empregada.
— Por quê? — Encaro-a.
Ela abaixa a cabeça e aperta um papel.
— Faz uns meses que estou tentando procurar a minha mãe. O Alan,
o meu amigo, era o único que sabia disso. Hoje, durante o nosso passeio,
ele me encorajou a não desistir de procurá-la.
— E qual a sua intenção de achar a sua mãe? Isso importa agora? Já
faz muitos anos.
— Importa, porque eu não sei quem é ela, o que fazia, como os
meus pais se conheceram e o principal, por que ela me abandonou quando
eu ainda era uma recém-nascida?
— É compreensível, mas entende que o seu avô era o chefe da
máfia? Ele pode ter matado a sua mãe, assim como fez com os meus pais.
Ele era sem escrúpulos, Lila, não tinha compaixão por ninguém.
Ela fica estática, pensando nas minhas palavras.
Será que fui insensível demais?
A consciência pesa e dou um passo de arrependimento até ela.
— Desculpe, não foi a minha intenção ser insensível.
— Tudo bem, você só foi sincero. E não muda a minha ambição de
encontrá-la, de saber se está viva ou morta. Essa curiosidade consome as
minhas noites de sono também. Ela pode ser uma pessoa inocente, que
nunca me conheceu, por medo do meu avô, da máfia. Há inúmeras
justificativas.
— Sim, há, e tem o direito de conhecer a sua mãe, para saber o
começo da sua história, desde que esteja ciente de que o percurso pela
verdade pode ser decepcionante ou feliz. De qualquer forma, não quero que
se magoe, Lila.
— É o meu risco, Vince. Eu quero saber apenas a verdade, pois
sinto que a Jolie e o meu tio Paulo, o tio Argus, escondem muitas coisas de
mim. Já sou adulta, responsável, não é justo que ainda tentem me “poupar”.
Eu assinto com a cabeça, por dentro, concordando e discordando.
Não entendo o medo que eu tenho por ela, nem esse extremo
cuidado, de que não se machuque e de que os outros não a machuquem. Por
que eu sou assim, e só com ela?
— Vem, vamos dar uma olhada nas informações que você conseguiu
e ver se encontramos algo nos bancos de dados.
Ela aceita e me acompanha para o meu quarto. Mas ao entrar, Lila
fica receosa.
— Não se preocupe, a empregada já foi embora e nenhuma outra
mulher vai surgir de algum buraco.
— Não duvido, você é um mulherengo com M maiúsculo.
Reviro os olhos e para não perder o meu precioso tempo discutindo,
fecho a porta e vou para o outro cômodo do quarto. É onde está o meu
computador e tudo que possuo de informática.
Dalila entra, boquiaberta.
— Quanta coisa. Não imagino o quão bom você deva ser como
hacker.
— Nem imagine, minha querida, eu sou um dos melhores do
mundo. Tenha certeza.
— Humilde como sempre, é cativante.
— Que tal ficar caladinha e se sentar aqui, para o professor te
ensinar em minutos, algo que levou anos para aprender.
— Como pode ser tão azucrinante?
— É porque não me viu com fome — respondo e sento-me na
cadeira giratória, já sentindo um vazio no estômago. — Aliás, que tal descer
para buscar um lanchinho para mim?
Ela sorri debochada
— Come o seu orgulho, você tem de sobra.
Porra de garota respondona, por isso gosto dela.
Lila me passa o papel, com algumas informações básicas que ela
conseguiu dos antigos empregados que trabalhavam na mansão dos Borghi;
o possível primeiro nome da mulher que a deu à luz e quantos anos tinha na
época. Realmente, faz anos que ela está procurando materiais para
encontrar a sua mãe. E foi só isso que conseguiu, mas pode ajudar.
Fico sentadinha no canto do cômodo, apenas observando o Vince e
os seus dedos ágeis para digitar. Às vezes ele para por longos minutos, fixa
na tela do computador e rola o mouse. Não evito o meu olhar com mais
atenção para o seu peitoral sem camisa, analiso os seus ombros largos, os
bíceps grandes. Ele tem um porte atlético médio, não é enorme e tão
musculoso como os seus dois irmãos mais velhos, porém, está em forma,
todas as linhas do seu corpo estão destacadas.
Com vergonha de ficar babando por ele e a sua beleza de tirar o
fôlego, eu desvio para o hall e retorno para as imagens do Vince, nu e quase
transando de quatro com aquela empregada. Céus, chega!
Não quero pensar, não quero lembrar!
— Lila? — Ouço a sua voz rouca e olho para ele.
— Oi... — sussurro.
— Garanto que não vou encontrar nada com tanta rapidez, só temos
duas informações: um possível nome e uma idade.
— Estava pensando em interrogar a Jolie, pelo menos jogar uns
verdes para ver se descubro algo.
— Certo, o que conseguir você anota e me passa depois, agora, é
melhor sair daqui, não quero que ninguém nos veja juntos, ainda mais no
meu quarto.
Dou de ombros e me levanto.
— Não vou considerar que está me expulsando.
— Pois eu estou te expulsando sim, some da minha frente com a sua
existência insuportável.
Olha que... Grrr, que vontade de socar a cara dele nesse teclado.
— Eu que não estava fazendo questão de ficar nesse depósito
sexual, com milhares de DNA de mulheres.
— Que fofa, devia ter se formado em biologia.
Ele também se ergue e me faz olhar de novo para o seu peitoral
forte, definido. É inevitável, me condeno pelo ato e desvio, desesperada,
caminhando para o hall, que também fica entre o closet e o banheiro da
suíte.
— P-preciso ir... está entardecendo e vou me encontrar de novo com
o meu amigo.
— De novo?
— Sim, uma despedida. Ele vai embora amanhã.
— Uma despedida? — Vince só sabe questionar a minha fala, e de
uma forma estranha, como se estivesse irritado.
Não entendo. Por que ultimamente ele só anda irritado? Será as
sequelas de ter ficado todos esses meses preso?
— É, e para a sua alegria, também me mudo completamente para o
meu apartamento. Acho que vou passar essa noite lá.
— Passar com o seu amiguinho?
Paro no meio do quarto e o encaro.
— Claro que não. O que há de errado com você?
— Não há nada de errado comigo! — exclama, muito mais irritado.
— Eu tenho deveres mais importantes com a agiotagem do que com a
princesinha Borghi.
— Vai à merda! Que eu me lembre, nunca teve mesmo. Suas
obrigações bobas de agiotagem te tomam tempo.
— Bobas? — Ele dá mais um passo, com um olhar arrepiante. Fico
acuada. — Eu executo pessoas, Lila. Não importa se é pai de família,
irmão, tio, filho, foda-se, é um tiro certeiro na cabeça ou no peito! Eu devo
matar!
Engulo em seco, sem imaginar que o Vince fizesse o papel sujo.
Eles têm cobradores para isso.
— E-eu não sabia que...
— Que eu tirava vidas? Pois é, acho que já considero um hobby.
Sempre torço para algum cliente vacilar. É muito mais interessante quando
um Calatrone faz a cobrança ou a execução pessoalmente.
Queria sentir medo dele, dessa sua vida suja, mas não sinto, eu nasci
num lar mil vezes pior que o da agiotagem, onde o meu avô traficava
mulheres inocentes e as vendia, prostituía. Entre outras centenas de
barbaridades da máfia.
— Isso não me dá medo.
— Seria impossível te causar medo, é por isso que você é tão
vulnerável ao perigo.
Ele toca no meu braço, causando uma queimadura constante na
minha pele. É como se a sua mão estivesse em brasas. Tenho sempre essa
mesma impressão, que ele me queima.
— Eu não sou vulnerável... — sussurro, sem forças nas pernas.
Fito a sua boca, louca para avançar nesse homem e beijá-lo.
Vince chega mais perto do meu rosto, como se estivesse me
desafiando a fazer isso, a dar o segundo passo. Meu coração parece querer
pular pela garganta, de tão rápido que estão os batimentos.
— Aprendi a não insistir na verdade com você, pois sempre
acabamos brigando.
— É você que briga comigo... — digo, tão próxima da sua
respiração. — Mas não gosto, Vince...
Ele parece ficar ofegante com o sussurro do seu nome, que saiu
retraído entre os lábios secos e ansiosos.
— Não gosta do quê? — pergunta, alternando entre a minha boca e
os meus olhos.
— De... brigarmos. Eu prefiro quando... quando te beijo...
Eu não sei de onde tiro coragem, mas inclino a cabeça e o beijo. O
choque é tão grande, que meus músculos se retraem, vejo estrelas.
Vince me puxa possessivo para ele, penetra a sua língua molhada e
devora-me na mesma hora. É avassalador, como se estivéssemos pegando
fogo. Desço as mãos para o seu peitoral forte e sinto a definição dos seus
músculos rígidos.
Não quero acordar desse sonho, desse beijo perfeito. Tudo o que eu
quero é ele.
Gemo com sua língua brincando com a minha. Nossa cabeça se
move numa dança faminta e excitante.
Ele agarra os meus cabelos com força, igual fez no nosso primeiro
beijo, adiante, arfa, apertando a minha cintura e me empurrando contra a
cama.
Arregalo os olhos, sem acreditar no que está acontecendo, mas não
afasto a nossa boca, entrelaço-me nos seus quadris e o puxo mais e mais
para mim. Tenho a impressão de que ele vai parar a qualquer momento, que
vai me rejeitar. Não deixo, eu roço contra o volume do seu membro na
minha virilha.
Vince aperta os olhos e geme.
Sem fôlego, eu sou obrigada a distanciar o meu rosto para respirar.
— Merda, Lila!
— Não... — Entrelaço-me mais firme, impedindo que saia. — Eu
quero você...
Ele se abaixa, cola a nossa testa e xinga.
— Eu preciso resistir, não posso.
Deslizo as mãos pelas suas costas nuas. Então ergo os quadris e roço
de novo, desta vez, sentindo a sua ereção na minha entrada pulsante.
Vince arfa e aperta o meu maxilar, o que me causa dor.
— Porra! Não me atente, Dalila, não me queira, não brinque com
fogo!
— Você sabe a verdade, do que eu sinto... e agora, quero ir até o
fim.
Ele nega, mas sem resistir, desce a sua boca para o meu pescoço e
me chupa.
Minha boceta lateja, desejosa por muito mais, que me toque, que
explore o meu prazer, que me tome para ele e me foda.
— Também me quer, Vince... eu sou sua.
Tento tocá-lo, mas a sua mão segura o meu punho e ergue acima da
minha cabeça.
— Eu não te quero!
Meu coração dói, mas no fundo, eu sei que é mentira, ou ele teria
resistido com facilidade esse tempo todo, pelo contrário, está duro por mim.
Eu ergo a cabeça para beijá-lo, só que o Vince larga o meu braço e
se afasta bruto.
— Depois de todos esses anos ainda não superou esse sentimento?
Você não faz o meu tipo, Lila. É só uma garota mimada. Não me atice, não
me provoque, ou posso desprezá-la de novo!
Sento-me na cama, estática.
— Não diga isso... — sussurro triste, sem nem conseguir encará-lo.
— Eu esperei por você, esperei esse tempo todo para... — suspiro — estar
me vendo como uma mulher. Não pode negar que me vê assim.
— Esperou pra quê? Não aceito, Dalila! E eu posso te negar, pare de
criar fantasias erradas entre a gente.
— Esperei para que fosse o meu primeiro homem... — por fim,
solto a verdade, sem aguentar mais guardar isso por tanto tempo. — Para
que tirasse a minha virgindade.
Ele abre a boca, negando incrédulo com a cabeça.
— O quê?!
— Tem que ser você.
— Chega disso. Sai daqui!
Meu coração volta a doer e meus olhos ardem. A vergonha também
surge, constrangendo-me de uma forma humilhante.
— Vince...
— Sai daqui, Dalila, estou mandando pela segunda vez!
Sem discutir, eu obedeço e saio a passos lentos, como se eu
esperasse que ele fosse me puxar de novo para o calor dos seus braços e me
dar outro beijo avassalador.
O que estou pensando?
Fecho a porta do quarto e choro no corredor.
Sinto-me mais envergonhada e humilhada.
Queria estar com o sentimento de arrependimento, mas não estou,
eu nunca fico, eu nunca me arrependo de querer o Vince, de que ele me
queira. Contudo, isso é humilhante, vergonhoso. Não sei onde enfiar a cara.
Talvez seja melhor eu me afastar dele, tentar algo com outra pessoa, para
ver se eu esqueço esse homem. Não aguento mais ver os meus
pensamentos, os meus desejos, as minhas ambições, tudo girar em torno do
Vince!
Se eu ficar com alguém essa obsessão pode parar. E eu tenho um
alguém!
O Alan!

— Nossa, que gata! — Hera entra no meu quarto e me encontra


terminando de colocar as joias.
Estou pronta e completamente sexy... até mais do que as próprias
garotas da boate. Nunca imaginei que pudesse ficar tão gostosa como elas.
— Lila, se você der uma inclinada já mostra toda a sua bunda — ela
fala, chocada com a minha minissaia.
— Essa era a intenção... — sussurro.
— Humm... — Hera me analisa, maliciosa. — Seu amigo vai
embora amanhã?
— Sim, passamos o dia juntos, agora é a nossa despedida. E não
insinue nada.
— Eu não insinuei... — Ela sorri, “inocente”. — Onde vão? Para a
boate Fogo?
— Não, ele quer me levar para outro lugar.
— Cuidado, viu, mantenha o seu celular sempre ligado.
— Não se preocupe, o Alan é um amigo de longa data da faculdade.
Ah, outra coisa, eu vou direto para o meu apartamento. Já mandei umas
malas para lá esta tarde.
— Avisou a Jolie e ao seu tio?
— Hera, eu sou adulta!
— Avisar não é sinônimo de estar invadindo a sua privacidade, é só
uma forma de garantir que se acontecer algo, todos saberão do seu
paradeiro. Pois, nossos sobrenomes não são comuns, se me entende.
Assinto.
— Certo, pode avisar a eles?
— É claro, gatinha. E divirta-se, está linda.
Despeço-me da Hera com um abraço. E desço as escadas de cabeça
erguida, ao encontro do Alan, vamos passar para pegá-lo.
Estou nervosa, ansiosa. Minha cabeça também não para de pensar
no Vince e no que aconteceu há poucas horas. Chorei a tarde toda, triste,
derrotada, mas é o basta... além de ser humilhante.
Dentro do carro, olho várias vezes para o retrovisor do motorista,
esperando ver ele..., mas não é.
Em dez minutos paramos no hotel do Alan. Ele desce, me
cumprimenta e assim que o veículo dá partida para o destino informado, o
meu celular toca. Atendo.
— Dalila?
— Oi, tio Paulo. Que foi?
— Posso saber onde está?
Estranho o seu tom de voz autoritário.
— No carro, a caminho de um encontro, por quê?
— Que encontro? Volte agora mesmo para o castelo, precisamos
conversar!
Ah, não, isso só pode ser piada. Meu tio liga assim, achando que eu
sou um LosBor, que ele manda e eles obedecem, rolando e latindo iguais
cachorrinhos?
— Com quem o senhor pensa que está falando? Não vou voltar.
Amanhã conversamos.
— O assunto não pode esperar, Dalila! Volte agora mesmo para o
castelo, acabei de chegar. Isso é uma ordem!
— Não vou! Que inferno, não tenho um dia de paz para viver a
minha vida! Todos acham que são meus donos!
— Lupita, fala com essa menina, estou sem a droga da paciência —
ouço-o murmurar e passar o telefone para a minha tia.
— Lila, querida?
— Tia Lupi, o que está acontecendo com o tio Paulo? Ele está
louco?
— Desculpe a ignorância do seu tio, ele só está estressado com um
problema que surgiu e tem a ver com você.
— Comigo?
— Bem... tem a ver com todos nós, incluindo os Calatrone. É de
suma importância que retorne e vocês conversem. Por favor, querida. Jolie e
toda a família também estão aqui.
— Não entendo, o que houve? É grave?
De repente, o motorista para com o carro e faz uma baliza de
retorno, e sem eu mandar.
Alan me olha, preocupado.
— Lila, o que está acontecendo? — ele pergunta
— Agora não terá escolha de não voltar! — o meu tio brada alto,
para eu ouvir.
Mexo o maxilar, irritada.
— Desculpa... é muito importante a sua presença.
— Tudo bem, tia, pelo jeito, não tenho escolha. E o Alan está indo
junto, tá?
— Alan? O Alan Bacci? O seu ex-namorado da faculdade?
— TIA LUPI! — exclamo, mas é tarde demais.
— QUE MERDA DE NAMORADO, LUPITA? — meu tio surta, e
eu desligo imediatamente o telefone, sem acreditar que a minha tia revelou
isso perto dele.
E só ela sabia, até agora. Merda!
Estou fodida, incluindo o Alan.
— Lila, o que está acontecendo, não íamos pra...
— Alan, desculpe-me, aconteceu algo bem grave na minha família e
o meu tio ordenou que eu voltasse. Tudo bem, você ir junto?
— Sem problemas, se eu também puder fazer algo.
— Acho melhor não... outra coisa... meu tio pode querer te matar.
— O quê?! — Ele arregala os olhos.
— Minha tia Lupita acabou de deixar escapar que somos ex-
namorados.
— E isso é motivo para ele querer me matar?
— Bem... — pigarreio. — Sim, pois ele é extremamente protetor,
ciumento e me tem como uma filha.
Acho melhor deixar de lado que o meu tio é chefe da máfia, assim
como os Calatrone são agiotas, e os mais poderosos de Portugal. Ou seja,
ele está fodido em dobro!
Merda, merda e merda. Eu não tenho uma família normal! Meu tio
não diz abertamente que é chefe da máfia, ou que é uma máfia, mas ele
ainda mantém muitos homens LosBor e vive com dinheiro estranho.
É demais eu querer viver a minha vida igual um ser humano?
— Nossa, isso é uma fortaleza? — Alan questiona, após pararmos
na frente dos portões enormes do castelo. Os muros também são gigantes,
com cerca e cobertos por plantas trepadeiras.
— É porque você ainda não viu lá dentro.
O motorista nos leva para o interior e Alan dá de cara com a vista do
imponente castelo de cinco andares. É lindo e esplendoroso. Seria o meu
sonho morar para sempre nesse lugar... desde que o Vince não morasse e
acendesse essa paixão e o desejo que sinto por ele.
— Céus, Lila, eu não imaginava que a sua família era tão rica.
Dou de ombros e descemos.
Deixa só ele saber de onde vem essa fortuna toda.
Eu respiro fundo, nervosa.
— Fique calma, vai dar tudo certo.
— Acredite, estou assim por você, mas sei que o tio Argus não vai
deixar meu tio Paulo te matar... nem Rael... ou o Vince...
Acho que o Vince é bem capaz de querer torturar e matar o Alan.
— Misericórdia, Dalila, é melhor eu ir embora então.
— Srta. Dalila? — Luiz de repente abre a porta, assustando-me.
O mordomo dos Calatrone parece um bruxo, e a sua varinha é esse
tablet que ele vigia todo mundo. Imagino quantos segredos não deve saber
sobre a família.
— Estou indo, Luiz. E é tarde, vem, Alan... assim que essa reunião
acabar, podemos voltar aos nossos planos.
Ele assente e entramos. No interior da sala de pé alto, eu dou de cara
com o silêncio e o vazio do ambiente.
— Todos estão reunidos na sala de reunião — Luiz informa.
— Certo, cuida do Alan para mim, já volto.
Dou um olhar de desculpa para o meu amigo, em seguida, vou ao
encontro da família.
— E o que você quer insinuar com isso?
— Ele quer insinuar que tudo pode desmoronar!
— Hera é uma medrosa do caramba!
— VINCE VAI À MERDA!
Mal entro na sala e encontro todos berrando.
Tio Argus ainda não está no local, isso explica a bagunça, tem até
armas sobre a mesa, acho que é para garantir que não vão tentar se matar.
Eu passo pela porta e todos me olham em silêncio, incluindo o tio
Paulo, que me fuzila bravo.
É a primeira vez que participo de uma confraternização assim.
De repente, sinto uma sombra na minha lateral. Inclino a cabeça e
entendo o motivo deles terem parado a sua discussão à flor dos nervos e
ficado em silêncio. O tio Argus acabou de chegar junto comigo.
E ele é de causar arrepios até no diabo.
— Lila. — Argus sorri discreto. — Sente-se junto aos outros.
Eu faço, imediatamente, escolhendo me sentar entre a Hera e a Jolie,
pois elas duas são umas leoas que vão me proteger de qualquer coisa.
Inclusive desses homens brutos.
— Olá, Paulo. — Argus acena para ele.
— Olá, Gavião. Estamos todos reunidos, como foi pedido.
— Eu não estou entendendo porra nenhuma... — Hoss resmunga e
fuzila o meu tio.
— Se você deixar o nosso tio Argus explicar, vai entender — ele
rebate.
— Eu não falei com você, resto de lixo humano. Cala a boca.
— Hoss, Paulo! — Rael aponta a arma para eles. — Fechem o bico
ou meto uma bala na testa de ambos. Depois vocês se digladiam lá fora!
Esses dois nunca se deram bem e acho que nunca vão se dar, por
conta do passado com a Elena, mas de resto, todo mundo é amigo e
família.
— Vamos manter a calma e realizar essa reunião, dando tempo para
cada um conversar — fala Morcego, o mais sensato de todos, e Hoss
resmunga palavrões.
Nós mulheres: eu, Hera, Jolie, Elena e Lupi, só observamos.
— Então, pai? — Hera faz o sinal de continuidade com a mão.
Argus suspira e para em pé, do outro lado da mesa.
Vince que está quieto no canto, olha para mim e desvia.
— Paulo que pediu essa reunião de última hora entre os Calatrone e
os Borghi, para avisar de algo que está acontecendo.
Tio Paulo se ajeita na cadeira, muito nervoso.
— E o que está acontecendo?
— Um novo inimigo está surgindo e coloca a vida de todos aqui em
risco.
— Seria interessante se nos dissesse quem é esse inimigo, nossas
bolas não são de cristais — Vince fala, como se estivéssemos discutindo o
cardápio do almoço. Ele nunca leva as coisas a sério.
— Não sabemos, mas ele tentou sequestrar os meus filhos — tio
Paulo explica, e aperta a mão da Lupi. — Foi esta tarde.
Fico em choque sem acreditar.
— Meu Deus, que horror! — Elena se desespera.
— Tem certeza disso? Foi do nada? — pergunto.
— Sim, teve duas trocas de tiros. As crianças estavam no carro
comigo, graças a Deus não aconteceu nada.
Vince volta a me olhar, como se dissesse: “eu tinha razão”.
— Não só isso, as câmeras flagraram três carros rondando os muros
e as terras do castelo.
— Não, não é possível que essa merda esteja acontecendo de novo...
— Hera sussurra, incrédula.
Nem eu. Eu só queria paz para viver.
— Tem pelo menos ideia de quem seja, Paulo? — Rael questiona.
— Pode ser qualquer inimigo antigo dos Borghi.
— E que tenha pendências com os Calatrone também — Argus
complementa.
— Até termos certeza de que o perigo vem de algum inimigo com
sangue nos olhos por vingança, precisamos intensificar a segurança da
família e termos cuidados redobrados — Hoss diz, e Elena acaricia o braço
dele, para ele não surtar. — Não vou aceitar que qualquer perigo esteja
rondando os nossos filhos e mulheres.
— Também não! — Rael bate na mesa, tendo o apoio do tio Paulo e
do Morcego.
Eles parecem animais ferozes.
— É melhor termos calma e investigar esses acontecimentos.
— Jolie tem razão. — Elena olha para eles. — Vamos investigar se
o perigo é iminente.
— Concordo. E não tem isso de proteger as mulheres, somos bem
mais inteligentes do que as testosteronas de vocês homens juntos.
— Às vezes é bem necessário você não opinar — Vince debocha da
Hera.
— Eu disse homens, não direcionei a você, priminho.
— Vou fingir que não entendo seus latidos.
— Vince! — Hoss o fuzila. — Dá para levar a porra da situação a
sério?
— O que querem? Esses perigos, esses inimigos, essas tentativas de
sequestro e mortes sempre estarão presentes, tanto no clã Borghi, como no
nosso. Só o que me impressiona, é o querido Paulo e a minha querida
cunhadinha Jolie, permitirem que a Lila vá morar sozinha no centro de
Lisboa.
Desgraçado!
Eu que estava quieta na minha, apenas ouvindo a discussão, recebo
de imediato a atenção de todos. Parecem urubus me julgando.
Eu juro que vou matar essa Magali! Juro!
— O que foi? — murmuro contra eles.
— Você iria morar sozinha quando? — Tio Paulo me olha com
advertência.
— Hoje à noite eu iria para o meu AP.
— Pois não vai para lugar nenhum, ou você fica no castelo ou volta
para a mansão comigo.
— Não pode dar ordens na minha vida!
— Eu posso, desde que a sua vida e a sua segurança estejam em
risco!
— O seu tio tem razão, filha.
— Jolie! — Olho para ela, também para a Hera, a Elena, a tia
Lupita, o tio Argus, o Rael e eles concordam, traindo-me.
— Eu posso muito bem me proteger sozinha!
— Ah, que piada. — Vince ri e cruza as pernas.
Num ato de revolta, e praticamente loucura, ergo-me da cadeira e
avanço nesse filho da puta, que estava sentado na ponta. Começo a socar o
peitoral dele.
— EU VOU TE MATAR!
— Dalila! — Jolie e a Hera me seguram.
— Pronto, a garota surtou! — Ele ergue as mãos.
— Eu odeio você, seu imbecil, só quer foder com a minha vida, já
que a sua está uma merda!
— Lila, controle-se!
— Deixem-me em paz! — Afasto-me com ódio e saio correndo da
sala.
— Eu vou conversar com ela — Paulo fala e sai atrás da sua
sobrinha.
A consciência me pesa e eu coço a barba, segurando-me para
também não ir atrás da Lila e pedir desculpas.
— Por qual motivo gosta de irritá-la, Vince? — Hera me fuzila. —
Quanta implicância entre vocês, não são dois adultos?
— Pronto, a culpa vai recair em mim?
— Passam-se anos, décadas e esse polaco azedo não muda.
— Ninguém pediu a sua opinião, bola de fogo — respondo, e o
Hoss se levanta.
— Eu vou socar a sua cara, não teste a minha paciência logo hoje.
— Por favor, sobrinhos, sem discussões — Tio Argus pede e
olhamos respeitoso para ele. — Por ora, é isso, retornaremos a essa reunião
na quinta, com licença.
— Eu também já vou, preciso de uma bebida.
— Vou te acompanhar nessa... — Morcego e Hoss se retiram juntos.
Fica só eu, o Rael e as mulheres.
— Querem saber de uma coisa? — eu digo repentinamente, e elas
me olham desinteressadas.
Que abuso de mulheres sem coração.
— Vindo de você, não queremos saber.
— Ah, quanto amor, querida Jolie. Vou lembrar disso quando vir me
pedir consolo de madrugada, porque brigou com o seu maridinho
impotente.
— Filho da puta!
— Rael, você não é louco! — Elena exclama para ele, que ergueu a
arma na minha direção.
— Acho que eu já estou tão acostumada ao Vince irritando e tirando
todos do controle, que nem me afeta. — Jolie boceja e se levanta.
— Sou suspeita para dizer que me acostumei. — Lupita dá de
ombros.
— Esperem, vocês não me deixaram terminar de falar.
— Então fala, estrupício!
— Eu também te amo, irmãozinho bastardo. Enfim, acho que vou
me casar.
Em segundos, a Jolie volta ao seu assento e o restante ficam
boquiabertos.
— Mas... o quê?! A-a gente ouviu isso mesmo? A minha pressão
baixou... — Hera começa a se abanar.
— Sim, ouviram. Preciso tomar um rumo, quero me casar.
— Assim, de repente? Você conheceu alguém?
— Esse adotado só pode estar bêbado. — Rael vem até mim e me
sacode. — Acorda, filho da puta! — Ele me dá um tapa.
— Ai, porra, eu estou sóbrio.
— Não é possível, você se casar? Ter uma mulher, uma
responsabilidade? — Hera está desacreditada ainda. — E tem alguém que
conheceu, para estar pensando em casamento?
— Não, mas isso é o de menos. Eu posso encontrar uma mulher que
valha a pena.
— Eu não ouvi isso. O amor não se encontra assim, de uma hora
para a outra, com você decidindo que vai encontrar uma mulher para
matrimônio, como se estivéssemos à venda no shopping. Não mudou nada,
Vince. — Hera aponta o dedo na minha cara, mas sei que no fundo ela
queria meter duas balas na minha testa. — E não é hora dessa conversa,
mais tarde discutiremos o assunto. Vem, vamos beber, porque depois de
tudo isso que ouvi, sou eu quem estou precisando encher a cara de álcool.
A gangue das diabas se junta e sai cochichando.
Rael é o único que sobra.
Ele cruza os braços.
— Vince, que merda você está pensando?
— Que preciso dar um rumo na minha vida. Ter um motivo para
continuar vivendo nesta bosta de terra. Assim como vocês têm, com suas
mulheres e filhos.
— Acha que escolhemos as nossas mulheres? Esqueceu de como a
Elena entrou na vida do Hoss? A Jolie na minha, a Hera na do Morcego e a
Lupita na do Paulo? Não acordamos em um dia da semana e resolvemos
que iríamos nos casar com qualquer uma que aparecesse pela frente! Para
falar a verdade, a gente nem queria se casar, ou sequer ter um
relacionamento! Tudo só aconteceu, naturalmente!
— Eu sei, mas a minha história pode ser diferente. Eu vou achar
essa mulher certa. Ela deve estar por aí, não é possível.
— É? Quem sabe você não encontra no supermercado, deve estar
congelada em algum freezer, só te esperando!
— Rael, vai se foder, vai!
— Presta atenção, estrume! Estou te aconselhando como o seu
irmão mais experiente. Não faça igual a esse cotonete de pau, e se apresse
em enfiar uma aliança na primeira que aparecer. Deixe tudo fluir
naturalmente, pois na hora certa, essa guerreira que vai te suportar, irá
aparecer e todos nós faremos questão de dar apoio psicológico para ela te
aguentar até nos últimos dias.
Eu soco o braço do meu irmão.
— Está me aconselhando ou me ofendendo, cara de vagabunda?
— Estou é tendo muita paciência para não castrar as suas bolas.
Hoss poderia estar sendo bem pior. Ainda bem que ele não estava aqui para
ouvir essa merda.
— Eu já entendi. Mas compreende que falta algo? Queria estar me
sentindo completo com alguém... ter a minha família.
— Você vai ter, irmão, só não se apresse. Sei que os meses na cadeia
mexeram com o seu psicológico, te fez mudar. Foi há pouco tempo tudo
isso, tenha calma.
Respiro fundo, assentindo.
— Vou à cozinha roubar biscoitos, comer sempre resolve os meus
problemas.
Rael revira os olhos e sai andando ao meu lado. Entramos no
elevador e descemos para a sala. Estão todos reunidos de novo, para beber,
discutir e se matarem longe do tio Argus.
Abandono-os e passo pela segunda sala, sem resistir a dar uma
espiadinha na nossa creche de crianças. Maria está sendo a babá dos
piolhentos, enquanto os adultos se fodem com seus assuntos de adultos.
Não resisto aos meus diabinhos e vou até eles, receber abraços e
beijos. Os filhos do Paulo e da Lupi também vem me dar carinho.
— Tio Vince, aconteceu algo? — Maria me pergunta bem baixinho
no meu ouvido, puxando-me para o canto, está curiosa.
— Por que a pergunta, dona fofoqueira?
— Porque agora pouco eu vi pelo vão da porta a prima Lila
passando correndo por aqui.
— Ela passou?
— Sim, e até o namorado foi atrás.
— Namorado, que po... que namorado, Maria?
— Eu o conheci há poucos minutos, para estar com a Lila, deduzi
que fosse namorado.
— Vou ver isso.
— Foi 100 euros a informação — ela diz e estende a mão.
Mas que pirralha golpista.
Orgulho do tio, não nega o sangue agiota.
Dou o dinheiro para essa criatura do mal e saio da sala de chás sem
olhar para trás, passo na principal, onde está reunida a nossa família, mas
não vejo sinal da Dalila, nem do porra que ela enfiou no castelo. Mas vejo o
Paulo e deduzo que os dois já devem ter conversado.
Volto para o elevador e saio no terceiro andar do quarto dela.
Caminho até a porta, paro, giro a maçaneta e percebo que já estava aberta.
Então entro devagar, dando de cara com o filho da puta em cima dela,
beijando-a.
— VINCE!
Eu só ouço o berro da Lila, após eu pular neles, empurrá-la para o
chão e começar a socar a cara do monte de merda.
— PARA! PARA! — Dalila me bate nas costas, berrando que eu
pare. — VAI MATÁ-LO!
Mas não consigo, eu não consigo pausar os meus punhos pesados,
não até vê-lo cuspindo sangue e por pouco desmaiando, é aí que eu paro.
— O que fez, seu louco?!! — Ela chora, dando murros em mim. —
Seu desgraçado!
Eu paraliso, revivendo o medo e a adrenalina de quando salvei a
minha Lila de ser abusada. O trauma das lembranças, tudo volta em dobro.
Ergo-me da cama, soltando o infeliz ensanguentado. Minhas mãos
tremem, meus olhos ficam vidrados. Olho para ela e as alças do seu vestido
soltas, em seguida, para o infeliz deitado no colchão, com a calça aberta.
— Você ia transar com ele?
Sem me responder, a Lila vira o corpo e o ajuda a retornar à
consciência.
— Alan, você está bem? Fala comigo! Desculpa por isso.
— Eu estou, por favor, só quero ir embora.
Ela me olha, tão furiosa, tão revoltada, que recolho os meus punhos
e levo um soco de culpa. Eu não tinha esse direito.
— Solte-me, quero ir embora.
— Alan, eu posso te levar até o...
— Não, o seu motorista me leva.
— Pelo menos eu te acompanho para a minha família não te ver.
Ele sai do quarto, e ela desaparece atrás.
Respiro fundo, caindo na poltrona ao lado. Xingo e praguejo até a
próxima reencarnação de todos os “Vince”.
O que aconteceu comigo?
Dalila está acabando com a minha cabeça, com o meu autocontrole.
A ficha começa a cair, das revelações dela essa tarde, sobre ter me
esperado esse tempo todo, para eu ser o seu primeiro. Como essa mulher
não teve relação com nenhum outro homem? E se manteve virgem para
mim?
Isso é errado. Somos primos, família. Não posso querê-la, desejá-la
com eloquência de fodermos. Por mais que eu deseje, e o todo tempo.
Não, não é certo!
Passo a mão no cabelo, quase o puxando da cabeça.
Mas ela ia se entregar para aquele idiota, depois do que me disse?
Depois de ter se guardado esse tempo todo para mim? Lila ia fazer isso
mesmo?
Meu sangue começa a ferver e eu chuto a porra da mesinha de
cabeceira.
Dalila volta alguns minutos depois, fecha a porta e me vê ainda no
seu quarto, sentado no mesmo lugar.
Ela não berra, ou faz escândalo, só demonstra cansaço.
— Sai daqui, Vince. O Alan já foi embora.
— Não sei o que está fazendo comigo.
— Eu não estou fazendo nada, por favor, deixe-me sozinha, estou
cansada desses surtos seus.
Levanto-me e vou até ela.
— Você ia transar com ele? Me responda!
Lila engole em seco e me enfrenta:
— E o que te importa? Vai querer se meter até nessa parte da minha
vida também?
— Esqueceu do que me confessou horas atrás?
Os olhos dela se avermelham, assim como as maçãs do seu rosto.
— Não... nunca vou esquecer de como foi humilhante te confessar o
que escondi por anos, e mesmo sabendo que eu seria rejeitada, tive coragem
de dizer. E acho que te agradeço pelo que fez, pois me desencantou e abriu
os meus olhos para o tanto de homem que tenho à minha volta, e que não
negariam de foder comigo!
Suas palavras me enfurecem e me fazem surtar de novo.
Eu a agarro com força e a prenso contra a parede.
— Eu poderia arrancar a sua roupa agora mesmo, te jogar nessa
cama e mostrar como eu tenho vontade de você, de possuí-la e tomar a
virgindade que guardou esse tempo todo para mim! — Ela respira afobada,
fixada no meu rosto. — O que renego, é o quanto essa atração é errada,
você é minha família, Dalila!
— Somos primos... — sussurra. — Mas isso não importa, nem
fomos criados juntos...
— Inferno de garota, você é louca!
— Eu não sou louca, mas posso ficar... — Lila toca na minha barba.
É o toque mais doce e inflamável que senti na vida. Um fogo se alastra de
dentro para fora. — E não se preocupe, não vou mais insistir em você. Não
quero estragar a nossa amizade, nem o cuidado que tem comigo. Por isso,
vou tentar ficar com outro homem, para acabar com essa obsessão... é
melhor assim.
A ideia da Lila nua, entregando-se para qualquer outro homem, que
não seja eu, me torna cego, maluco de furor. Eu não consigo me conformar
com o pensamento e de novo, prendo-a nos meus braços, no meu corpo
forte e beijo-a com uma ferocidade sem medida.
Ela retribui o beijo com seus lábios em urgência, medo, desespero.
Como se eu fosse parar e desistir a qualquer momento. Até as suas mãos me
tocam assim, trêmulas e imediatas.
Eu quero parar, eu quero negá-la, mas não consigo mais resistir a
essa garota, ao seu perfume, ao seu beijo, ao contato da sua pele, ao seu
corpo perfeito. Eu quero a Lila, igual quero o doce mais raro e mais gostoso
do mundo.
Afasto-me para trás e a empurro sobre a cama. As alças do seu
vestido arrebentam e revelam a nudez dos seus seios. Isso são manjares! As
recordações de cinco anos atrás são inevitáveis, além da comparação. Eles
estão esbeltos, maiores, empinados e saborosos. Os biquinhos rosados
ficam mais duros de tesão.
Eu olho para Dalila, salivando para devorá-la.
Ela aproxima a sua boca e me beija com urgência.
— Eu quero negar você... — resmungo e desço os beijos pelo seu
pescoço. — Isso é proibido... errado... — Paro com a boca entre os dois
seios, ansioso para prová-los.
— Foda-se o errado! — Ela puxa com força o meu cabelo e esfrega
a minha cara nos seus peitos.
— Caralho! — Simplesmente, abocanho-os.
Contorno a língua molhada nas auréolas, arrepiando-a e enrijecendo
ainda mais os biquinhos rosados. Sua pele é tão macia, como seda. Eu fico
obstinado. Mamo, chupo, sugo e lambo os mamilos com imenso deleite,
gosto.
Ela se contorce embaixo de mim, em prazer.
É a primeira vez que sinto necessidade de provar uma mulher assim.
Meu coração ficou até mais acelerado, angustiado. Eu sou o primeiro dela...
o homem que Lila esperou por tanto tempo para esse momento.
— Eu quero mais — diz, ofegante.
Seu pedido faz o meu pau latejar dentro da calça apertada.
Ela realmente quer isso...
Dou uma mordida no seu peito e continuo a descer entre os vales
dos seios, a barriga, o umbigo... até o destino que me faz suar em brasas, em
apenas imaginá-la desnuda de tudo. Pressiono seus quadris, as coxas,
criando coragem para erguer o vestido.
Lila me olha e então ergue o tecido para cima.
Aperto os olhos, diante do cós da sua calcinha vermelha.
Ela não sente um pingo de vergonha do seu corpo. Também, como
sentir, se é perfeita? Além de estar obstinada a acabar com a minha vida. Se
os meus irmãos, a Hera, o Paulo, principalmente a Jolie, saberem que eu...
fodi com a princesinha Borghi, serei castrado. Ainda mais que tirei a sua
virgindade!
— Vince...
Não quero vê-la assim, eu mereço essa tortura.
Subo na altura do seu rosto angelical e toco na sua pele, mapeando
seus traços delicados, sentindo a textura aveludada envolver os meus dedos.
Ela geme e entrelaça as coxas em mim.
— Por que você não me quer? — Os olhinhos dela brilham,
entristecidos.
Meu coração dói, minha alma vai aos pedaços, porque é frustrante a
forma que eu a quero. E quero muito! Mas sinto remorso em dar qualquer
outro passo, aqui parece ser o limite, até onde posso chegar.
Sinto os nossos corações batendo na mesma sintonia.
Dalila beija os meus dedos e com a sua outra mão, ela desliza por
baixo de mim e se toca, olhando no fundo dos meus olhos.
Abro a boca, tão em choque e extasiado.
Ela não fez isso, ela não está fazendo isso! Ela não está se tocando!
— Vince... — ela geme o meu nome, enquanto se masturba.
Eu vou enlouquecer!
Lila enfia o meu dedo dentro da sua boca quente e molhada, sem
parar de se acariciar.
Que pecado, que inferno!
Não vou aguentar, meu pau e minhas bolas doem, de tão pulsante e
latejante que estão.
— Hummm...
— Garota insuportável! — rosno, beijando-a, violento e afastando a
sua mão, para eu agora terminar o que começou.
Se é foda-se, então foda-se!
Abro mais as suas pernas e passo do limite que temia, apalpando e
massageando sua bocetinha por cima da calcinha encharcada de excitação.
Eu vou aos céus e volto, sem acreditar no que estou fazendo, no que
estou sentindo.
Repouso o meu rosto sobre o dela, gemendo e fecho os olhos, para
afastar a renda e sentir finalmente os seus lábios macios e o clitóris.
Lila pressiona rapidamente a minha cintura, grunhindo, conforme a
acaricio na bocetinha encharcada.
— I-isso é tão bom... — Sua voz excitada me faz abrir as pálpebras
e encará-la. — Mas, eu sabia... que podia ainda ser melhor com você.
Vince...
Isso é jogo baixo, é meu martírio!
Esfrego dois dedos nos lábios inferiores, subindo e descendo forte.
Mordo a sua boca, também, segurando os seus cabelos loiros. E
penetro um dedo dentro dela.
É instantâneo. Observo a Lila arquear as costas.
Que cena mais esplendorosa. Que satisfatório é sentir o canal
molhadinho da sua bocetinha apertada. Ela está pronta para mim... sempre
esteve. Mas eu não vou aguentar mais...
Antes de me afastar, masturbo-a, até perder a sua tensão sexual.
Faço a gozar e contemplar o seu ápice do prazer. Então saio de cima do seu
corpo, quieto e focado em observá-la esparramada na cama.
Seus seios estão expostos, sua calcinha mal-ajeitada e Lila está
pressionando as coxas, após gozar.
Que linda, puta que pariu.
Eu vou descer de tobogã no inferno.
— Não pare...
Ela cria forças para se inclinar e me olhar meio zonza.
Não falo nada, apenas tiro a camisa, abro o cinto e desço a calça
junto com a boxer, sem desviar um segundo sequer das suas íris.
Ela abre a boca e arregala os olhos.
Toco-me, e pulso, por pouco não gozando.
Agora, parece que nada importa mais, eu a quero e vou tê-la.
Volto para Lila, acariciando o seu corpo... o tornozelo, o interior das
coxas quentes... ela arfa, se contorcendo com minhas mãos subindo
necessitadas. Pego nas duas alças da sua calcinha, desço o tecido e olho
para onde estava resistindo. E sou eu quem fico tonto. É perfeita, sinto
vontade de chupar essa bocetinha lisinha e rosadinha.
— Não é para pensar... — Ela abre mais as pernas e acolhe os meus
quadris.
Meu pau roça sozinho na sua entrada.
Dalila geme, tão ansiosa e excitada.
Que merda, eu quero demais essa garota.
Pego a camisinha, visto e a encaro, bem no fundo dos seus olhos,
para ter certeza de que quer isso, pois eu quero muito. Não consigo nem
dizer como. Estou no limite do tesão. Eu entraria agora mesmo dentro dela,
sem pensar por um segundo.
— Tem que ser com você — sussurra e morde a minha boca.
É claro que tem que ser!
Eu retribuo a mordida, seguro os seus cabelos, posiciono o meu
pênis e pressiono a sua entrada, tão molhada, que escorrego com facilidade.
Continuo pressionando-a.
Lila ofega sobre a minha boca.
Sinto que estou sendo esmagado, devido à pressão que está fazendo.
— Relaxa, para ficar bom... — murmuro, louco para acelerar e nos
satisfazer.
Beijo a sua boca, e me movimento, desta vez, para forçar o seu
hímen e acabar com essa tortura o quanto antes.
Dalila choraminga, afastando-se rapidamente.
— Lila, eu te machuquei?
Eu também paro, aguardando-a dizer algo, mas não fala, pelo
contrário, ela se mexe, provocando contrações no meu pau já sufocado
pelas suas paredes extremamente apertadas.
— Eu... eu posso continuar? — pergunto, com dificuldade até para
bombear oxigênio para o cérebro.
— S-sim...
Lila então rebola embaixo de mim. E é mais do que um sim!
Beijo-a, faminto, saindo e entrando pela primeira vez, ainda
vagaroso, para ela poder se acostumar com o meu tamanho. E por mais que
tudo isso esteja sendo a porra de uma tortura, ainda analiso os traços do seu
rosto, para saber se estou a machucando ou não. Nunca fiz algo assim,
normalmente, não saio tirando a virgindade das mulheres, eu nem sabia que
existiam mulheres virgens nesse mundo. É quase um mito na trajetória de
qualquer homem. E caralho, e no que eu estou pensando? Só para não gozar
rápido!
Movimento-me, estocando pela terceira vez.
Ela choraminga de prazer e aperta o meu braço.
— Mais, Vince... mais... — pede.
Lila me leva à loucura com seu pedido.
Intensifico as arremetidas, agora, para valer. Fica maravilhoso, eu
meto sem parar e ela geme, sentindo prazer de verdade.
— Ahhh... Lila...
O calor me envolve, o suor, a pele com pele, o roçar dos seus seios
em mim, o movimento dos meus quadris enquanto a fodo... eu vejo estrelas
e alcanço finalmente o limite dessa tortura apertada.
Dalila recai ofegante no travesseiro, de olhos fechados.
Continuo enrijecido por cima do seu corpo, respirando e inspirando
com força. Queria muito mais.
Não sei nem descrever o que faria com ela; de quatro, de lado, de
cabeça para baixo, de todas as posições para treparmos!
Mas isso está bom, esse ato não pode mais acontecer. Já dei o que
tanto a Lila queria... e eu quis. Sei que o arrependimento não vai tardar, ou
já está tardando...
Meus batimentos estão a mil, nunca senti tanta adrenalina. O meu
corpo está tendo tremores involuntários e parece que o quanto eu respiro
não é o suficiente para me dar o oxigênio necessário. Estou transpirando e
respirando.
Vince se afasta e se senta na beirada da cama.
Sem o seu peso sobre mim, tenho a sensação de vazio.
— Aonde vai? — sussurro, após ele se erguer e começar a vestir
suas roupas.
— Embora.
Ele fica quieto.
Puxo o lençol e me enrolo. Não tenho coragem de falar mais nada.
Só sei pensar que agora aconteceu, e foi com o Vince. O tanto que eu sonhei
com esse momento... e foi perfeito. Não quero ficar arrependida, e nem vou.
Sofri tanto o querendo. Essa paixão, essa obsessão, nunca passou.
Ele vira as costas e vai embora.
Tento não ficar triste após escutar a porta ser fechada, mas a bendita
ardência nos olhos, acompanhado das lágrimas, surge.
Eu devia imaginar que seria assim. O que eu esperava? Que ele
fosse continuar nessa cama? Comigo deitada sobre o seu peito e recebendo
afago, carinho? Claro que não!
Não quero saber das consequências do amanhã, nem que ele
também se importasse...
Limpo as bochechas e vou para o chuveiro. Sinto dor ao caminhar,
mas agradeço por não ter sangrado uma gota. Não há manchas, nenhum
vestígio.
Sem querer ver ninguém, depois do banho, vou para debaixo das
cobertas e não durmo nada. Começo a subir e descer numa montanha-russa
de pensamentos.
Não acredito no que aconteceu, não acredito que perdi minha a
virgindade com o Vince... — a minha mente só consegue martelar essa frase
sem parar. Mas cochilo, devido à exaustão e o cansaço ser maior.
Pela manhã, desperto e para não continuar na cama, mastigando os
meus pensamentos, eu desço e encontro o Luiz no seu posto de sempre.
— Bom dia, Luiz.
— Bom dia. A senhorita acordou cedo, e ontem, não me recebeu
com o seu jantar.
— Ah... nem com fome eu estava, desculpa. Eu quis só fugir e ficar
sozinha.
Luiz me observa, deixando-me constrangida. É como se ele
soubesse realmente o que aconteceu ontem e estivesse me julgando. Eu
considero o Luiz o corvo/bruxo do tio Argus, ele deve olhar, observar e
contar tudo em segredo.
— Imaginei que fosse isso. Mas tenho uma pergunta.
— Sim? — Pigarreio.
— O seu amigo ontem, não o vi mais pelo castelo, ele foi embora?
— E-ele? Sim, ele foi embora meio escondido, para o meu tio não o
ver.
— Ver quem, posso saber? — Uma voz mais do que conhecida,
surge, arrepiando-me.
Arregalo os olhos para o Luiz.
— Por estar tarde ontem, o seu tio e a sua tia resolveram ficar no
castelo... — ele sussurra e pede licença.
Que ótimo, era só o que me faltava.
— Dalila?
Viro-me e encaro os olhos negros e intimidadores dele.
— Oi, tio, bom dia.
— Quem foi embora escondido?
— Então... após exigir a minha presença na reunião, eu havia trazido
o meu amigo, o qual eu tinha um encontro, mas fiz questão de fazê-lo ir
embora escondido, para o senhor não o assustar, pois sei que faria isso. Ah,
e eu tenho 22 anos, antes que comece com os mesmos papos protetores.
Tio Paulo cruza os braços.
— Tudo bem, eu não ia matar o seu ex-namorado. E eu sei que ele é
o seu ex! — exclama, tentando ser o mais "agradável" possível.
— Ah, não ia?
— Não. E não vou perdoar você e nem a Lupita por terem me
escondido isso. Fiz questão de informar a Jolie sobre o fato.
Volto a arregalar os olhos.
— Você não fez isso.
— Fiz, agora, arque com ela. Graças a Deus eu só tive filhos
homens. Sem meninas para me matarem, ou melhor, que me façam matar
esses desgraçados, carniceiros...
Coitado, tomara que a tia Lupi fique grávida de gêmeas de novo,
duas meninas para ele sofrer.
Sento-me no sofá, sem dar mais ouvidos ao meu tio.
— Outra coisa, dona Dalila — ele também se senta ao meu lado —,
sei que conversamos ontem à noite e nos resolvemos... por enquanto, mas
queria reafirmar meu pedido, para continuar no castelo ou voltar para a
mansão. Só por algumas semanas, até eu e os Calatrone resolverem as
coisas. Precisamos ter certeza do que está acontecendo.
— E depois dessas semanas eu poderia morar no meu apartamento?
Ele demonstra nervosismo, pois até enrijece os músculos.
— Essa conversa eu deixo para a sua mãe de consideração.
— Por que tem que empurrar todos os assuntos sérios para a Jolie?
Ela pode ser assustadora, arrepiante. Ela é!
— Exatamente por isso, pois ela é amedrontadora, e a senhorita
teme e a obedece sem pensar duas vezes. E é pelo seu bem, querida Lila,
seu tio a ama e não suportaria que algo de ruim acontece com você. É por
isso.
— Estou tão cansada de todo esse excesso de cuidado comigo, é
Jolie, tio Argus, o senhor, o Vin... todos. Acho que posso me cuidar sozinha,
tudo aquilo já está no passado.
— Mas coisas ruins ainda podem acontecer no presente, e
exatamente por causa do passado dos Borghi. Tem muitas coisas que não
sabe, até sobre a sua própria vida.
— E já não está na hora de me contar? Inclusive, sobre a minha
mãe?
Tio Paulo me encara, nervoso.
— O que tem a sua mãe?
— Quem é ela?
— Eu não sei, era uma qualquer, que seu pai ficava e que ele acabou
engravidando.
— Que o meu pai ficava? Eu sei que ele era gay, sei do tal caso com
o príncipe da Espanha.
— O quê? — Meu tio entra em choque. — Céus, Jolie já te disse
tudo? Quando isso?
— Tudo bem, não vou brigar com o senhor, faz uns três anos que a
Jolie me detalhou a verdade. Eu era bem adulta e madura para entender o
meu passado.
Ele segura a minha mão.
— Sinto muito, querida. Isso é um assunto delicado, que eu só
queria esquecer. Sofremos e agora podemos seguir em frente com uma vida
nova. Não queria te contar, para não te ver triste. Seria a mesma coisa de ser
apunhalado no peito.
— Tio, já disse que está tudo bem. Eu conheço a história da nossa
família, do meu pai, do meu avô. O que eu tinha para sofrer, sofri. Nem
penso muito mais nisso.
— Que ótimo, sinto que tirei outro peso das costas, além da culpa
por esconder essas coisas. Agradeço por ter a Jolie nas nossas vidas.
— Mas e sobre a minha mãe? — pergunto de novo, obstinada por
pistas.
— Eu já disse que não sei, Dalila. — Ele se ergue do sofá, ainda
mais nervoso.
— Não sabe? E por que está nervoso?
— Eu não estou!
Viu, ele está...
— Só perguntei da minha mãe, queria saber quem é essa mulher. Se
está viva, ou se o meu avô fez questão de matá-la.
— Chega de perguntas. Ela era uma prostituta qualquer, e fim de
história — resmunga e sai em direção a outro lugar, só para fugir da nossa
conversa.
Que estranho, extremamente estranho.
Jolie também disse a mesma coisa, há muito tempo, e não ficou
nervosa assim. Acredito de verdade que o meu pai tenha sido obrigado a
ficar com prostitutas e outros tipos de mulheres, por causa da sua
sexualidade, que ele e nem o meu avô aceitavam na época. Mas a pergunta
é, se a prostituta engravidou do herdeiro da máfia mais poderosa de
Portugal, por que o meu avô sem escrúpulos não a matou? Porque tipo, a
Jolie estava destinada ao meu pai Pedro desde o nascimento, seria mais
“correto” e limpo, vir o primeiro filho deles. É curioso, ele quis ficar com o
bebê, assumir e descartar a minha mãe. Por quê? Por que o meu pai e o meu
avô quiseram me assumir? Não vou descansar até saber da verdade, e não
vou aceitar isso de família, por mais que a família seja realmente importante
para a máfia. Acredito que a minha mãe esteja viva e que não deve ser
qualquer uma.
Concentrada em meus pensamentos de investigadora, eu mal vi a
Hera e a tia Lupita aparecerem. Nem elas me notaram sentada no sofá.
Presto atenção nas duas.
— Luiz contou que ele chegou de madrugada, bêbado e carregado
pelo Igor, o seu melhor amigo.
— Que situação, será que não está abalado pelo que aconteceu, por
ter sido preso e ficado tantos dias naquele lugar, longe da família?
— Ele está, Lupi, deve ter ficado tempo demais remoendo sobre a
vida. Vince anda estranho. Não é mais o nosso palhaço, aquele insuportável
que conhecemos tão bem. Ele anda mudado, perdido.
Elas estão falando do Vince!
— É importante que Hoss, Rael e Morcego se juntem para ajudá-lo.
— Sim, ontem eles estavam falando disso, do quanto estão
preocupados. Meu pai igualmente vai começar a pegar no pé dele, e tenha
certeza, quando o meu pai entra na história, até o diabo teme.
— Nem me fale, Argus é... Argus. Mas vamos torcer pelo melhor,
Hera, pode ser uma fase dos 30, de pensar no que fez e deixou de fazer e
que está envelhecendo.
— Pode ser, quero nem lembrar do que esse loiro maluco disse
ontem, sobre encontrar uma mulher para se...
Antes que a Hera terminasse de dizer o que eu escutava
atentamente, os meus sobrinhos surgiram, correndo atrás da mãe deles.
— Mamãe!
— Crianças, não corram assim no castelo...
Hera me vê e sorri fraco. Ela me abraça, sem tocar em qualquer
assunto sobre ontem. Tia Lupi também me cumprimenta com um abraço
carinhoso. Já as crianças, pulam em mim, gritando “tia, Lila”. Como amo
essas minhas crianças. É a cara do pai.
— Enquanto os homens se matam com os novos acontecimentos,
vamos fazer um passeio até o novo parquinho, quer ir? Elena e Jolie
também vão levar os filhos, faremos um piquenique — Hera informa.
Lembro-me do quanto estou dolorida e nego veemente.
— Melhor não, não estou muito bem.
— Você está chateada com o seu tio... por ontem?
Hera pigarreia, repreendendo com o olhar a tia Lupita, por ter
tocado no assunto.
— Claro que não, já estou acostumada com tudo dando errado na
minha vida. Fazer o quê? Fui destinada a nascer com o sobrenome Borghi e
arcar com inimigos, a qual a minha família mafiosa cultivava.
— Desculpa, querida, não queria te deixar mais chateada...
— Relaxem, eu sobrevivo. E veja, Hera terá a minha companhia por
mais algumas semanas.
Ela sorri.
— Não serei hipócrita de negar minha felicidade por ter mais da sua
companhia. Enfim, é melhor também não ir ao nosso piquenique, pois a
Jolie vai querer arrancar o seu pescoço.
— Hera! — é a vez da Lupita repreendê-la.
— Por que arrancar o meu pescoço? — Encaro as duas.
— Você vai contar? — Lupi sussurra.
— É claro, é bom que ela já esteja preparada para o pior — Hera
sussurra de volta.
— Vocês podem parar de sussurrar, como se eu não estivesse
ouvindo nada. Hera, fala logo, não me deixe mais nervosa.
— Tá bom... Jolie descobriu que o seu ex-namorado é filho dos
Souza. E não me pergunte como, ela apenas reconheceu o nome, fez uma
chamada para alguém e conseguiu todas as informações. Eu digo que a Jolie
é assustadora, realmente, o Rael tem razão, é uma bruxa.
Abro a boca, sem acreditar.
— Primeiramente, você contou até para a Hera do meu ex, tia
Lupita? — acuso, e a Lupi tenta disfarçar na maior cara de pau.
Certeza de que ela fofocou tudo há meses. Que tia, viu, e eu
achando que esse segredo era só nosso.
— Desculpa, sabe que a Hera pode ser insuportavelmente insistente.
— Ei! — Hera a cutuca com o cotovelo.
— Espero que o tio Paulo também não saiba desse sobrenome, ele
vai querer o meu pescoço, igual a Jolie... que ódio.
— Enquanto eram amigos e depois namorados, você sabia o tempo
todo que esse Alan era o Alan Miguel de Souza? O segundo filho dos
Souza?
— Sim, mas o Alan não faz ideia de que os seus pais já serviram a
máfia Borghi e que são um dos melhores golpistas já existentes. Ah, e que o
meu tio Paulo, foi amante da mãe dele por quase quatro anos.
Lupi estreita os olhos.
— Como assim?
Sorrio, triunfante.
— Dalila, você me conta isso só agora?! Sua...
— Traíra? — Sorrio de novo.
Hera também não aguenta e ri.
— É, cara Lupita, a vingança veio, que orgulho da nossa menina.
— Hera, eu vou te matar se continuar rindo!
— Ué, e vai fazer o quê? Agora aguenta o karma.
— Lila namorou o filho da ex-amante do meu marido! E eles foram
amantes por 4 anos! Como só me disse essa merda agora?!
— Mas tia, Paulo foi ex até da Elena.
— Isso é outro caso! Eu conheço essa cachorra da Geovana Souza
há anos. Por isso que, quando nos encontramos nos eventos, ela fica me
esnobando o tempo inteiro, ainda fica de sorrisinho para o meu homem,
chega a cochichar e se esfregar nele! No fim das festas sempre brigamos
por causa dessa infeliz! E a minha sobrinha sabia de tudo! Eu vou matar o
Paulo, eu vou castrar o seu tio!
— Lupi, calma...
Ela se ergue brava, furiosa.
— Calma? Esse infeliz não me falou a verdade esse tempo todo!
Hera me olha, agora séria, esperando que eu limpe a cagada já feita.
Tá, talvez eu tenha falado demais, merda... acredito que a Jolie
também já saiba disso, deve ser o motivo de querer arrancar o meu
pescoço.
— Tia Lupi, fica calma, se você confrontar o meu tio agora, ele vai
querer saber como descobriu isso e estarei perdida! Alan não é só o meu ex,
ele é uma pessoa muito especial, meu melhor amigo. É bem diferente da
família dele... por favor, você sabe como o tio Paulo pode ser cruel.
Eu e a Hera a seguramos pelo braço.
— Lupita, se acalma, as crianças também estão ali na TV, mas,
prestando atenção em tudo... não se apavore, minha amiga.
— Eu estou furiosa, me deixem! E não quero papo com você,
Dalila!
— Tia, voc...
— Não! — Ela nos empurra e sai andando igual louca, e muito mais
brava e chateada comigo.
— Hera, que merda eu fiz?!
— Bom, acho que está aí o porquê de a Jolie ter dito que iria te
matar, além de não querer entrar em detalhes conosco sobre o motivo. Ela
deve saber desse bafão há muito tempo. E vou ir lá atrás da Lupita, antes
que ela atire no meio da cara do Paulo.
Hera sai correndo.
Eu olho para as crianças entretidas na TV, mal prestaram atenção no
que aconteceu.
Droga, que desgraça eu provoquei! E faltando dez minutos para o
café da manhã. Não quero estar compartilhando desse clima caótico, por
culpa minha.
Inferno, me fodi bonito.
Por que tudo tem que acontecer comigo? Não tenho um segundo de
paz.
Acordo com a porra de uma dor de cabeça insuportável, ergo-me
com dificuldade da cama e vou até o chuveiro, me enfiar embaixo da água
fria. Tomo um banho rápido, desesperado para descer e comer até a madeira
da mesa. Estou faminto!
— Onde está indo?
— Morcego, se não quer morrer, não fale comigo quando eu estiver
com fome!
Ele revira os olhos, e eu vou até a mesa do café. Aparentemente,
todos já comeram, o que sobra mais para mim!
— Chegou arrastado ontem pelo Igor.
— Se você ainda não quer morrer, não provoque mais a minha dor
de cabeça.
— Ok, eu vou deixar a Hera acabar com a sua raça primeiro.
— Prefiro a morte a morrer nas mãos da Hera — falo de boca cheia.
— É, você nunca muda mesmo.
Dou de ombros.
Tomo o meu café e me jogo de barriga cheia no sofá da sala
principal. A minha mente não para de pensar na Lila. Nem a bebida foi
capaz de me fazer esquecer cada detalhe de ontem, ou eu que não bebi o
suficiente para esquecer.
O que eu fiz? Aquilo não devia ter acontecido, o caralho do desejo
foi maior que a razão. Não aguento mais pensar nisso.
Para não ser importunado por ninguém, me isolo na sala de jogos o
dia inteiro. Vejo filmes e jogo videogame. Luiz é o único que aparece, e
para me trazer biscoitos e bolo. Horas mais tarde o Morcego vem me
infernizar com a sua presença inconveniente.
Será que eu mereço tanto sofrimento nessa vida?
— Por que não me deixa um minuto em paz, Batman falsificado?
— Eu não sabia que você estava aqui, estrupício.
Ele pega uma cerveja e se senta no outro sofá.
— Eu só quis fugir da confusão que está rolando lá embaixo.
— Que confusão? — pergunto.
— Entre o Paulo e a Lupita, os dois estavam discutindo alto e foram
embora com os nervos à flor da pele. Hera, Jolie e Elena também estavam
tentando apaziguar as coisas entre os dois.
— Eu nem sabia que eles haviam ficado ontem no castelo.
— Estava tarde e perigoso, por isso, passaram à noite aqui. Enfim,
não sei o que aconteceu, só sei que a minha mulher logo me detalha da
fofoca.
— Não esqueça de depois compartilhar com o seu primo/cunhado,
fofocas edificam e fortalecem amizades.
Morcego ri.
Eu pisco e jogo um dos controles do videogame para ele.
— Bora esquecer os problemas...
Jogamos, brigamos, nos xingamos, até o anoitecer, ou até a Hera
aparecer com a sua inconveniente pessoa, puxando a orelha do Morcego.
Perdemos a noção do tempo.
Ela me olha feito uma naja, pronta para tacar o seu veneno contra
mim, mas essa venenosa não faz isso, por enquanto. Respiro aliviado.
Melhor da cabeça, e a fim de irritar os meus entes queridos, eu
desço para a sala, mas para me infernizar, encontro só a personificação loira
do meu pecado, sentada ao lado da Maria.
— Tio Vince! — Maria sorri ao me ver.
Ela sempre sorri, é uma alegria imensa ter um tio tão maravilhoso
como eu.
— Oi, adolescente irritante.
Lila me encara e desvia com rapidez.
Vê-la está sendo um gatilho. Ainda é tudo vivo em mim, seu toque,
seu beijo, seu corpo... nosso tesão. Que porra, ela é minha prima! Aquilo foi
um erro, e o erro mais gostoso. Puta que pariu.
— Irritante é você, fique sabendo — ela rebate.
— Irritante e com espinhas de adolescente problemática.
— Lila, me defenda! — Maria exclama, e a Lila só abre a boca, sem
ter o que dizer, devido ao constrangimento.
— Desculpa, Maria... estou sem clima... acho melhor eu subir e
tomar um banho...
— Já estou de saída também, com licença, meninas... — digo,
retirando-me.
Arrumo-me e volto para a boate, desta vez, focado em foder umas
duas mulheres e relaxar. Acho que só assim para o meu dia terminar bem.
Amanhã será tudo novo.
E darei um jeito na minha vida.
Sigo à risca os meus planos, de foder, adiante, ter uma vida nova. E
na quarta, antes do sol sequer raiar, eu acordo sendo um novo homem.
— Quais as cobranças de hoje? — Chego, invadindo a sala do tio
Argus.
Hoss, Rael e Morcego vem logo atrás.
— Nenhuma para você. — Rael sorri debochado e passa na minha
frente.
— Não lembro de ter falado a língua dos elefantes para você ter
entendido.
— Na verdade, sou eu quem entendo a língua dos cabritos fodidos.
— Não comecem logo cedo. — Hoss revira os olhos e se senta
numa das duas cadeiras na frente da mesa.
— Filhos, se acomodem. Tenho algo muito importante para dizer.
Morcego também se senta, e eu e a florzinha do Rael ficamos em pé.
— O que foi, tio?
— Vou precisar me ausentar por tempo indeterminado da cidade.
A gente se olha, surpresos.
— Se ausentar, como assim? Um dia, uma semana?
— Meses, talvez...
De novo, nós olhamos chocados.
— Tio, o senhor nunca se ausentou dos negócios! — exclamo.
— Aconteceu algo grave?
— Nada que preocupe vocês, eu iria fazer a anunciação amanhã, na
nossa reunião familiar de quinta, mas não terei tempo. E não quero a Hera
me enchendo de perguntas.
— Mas a gente quer encher o senhor de perguntas!
— Hoss, se acalme. Já disse que não é nada grave.
— Mas e o atentado que aconteceu com o Paulo, os carros suspeitos
rondando o castelo? — Rael pergunta.
— Vocês se viram com esses problemas. Já está na hora de sentirem
a minha ausência.
— Mas, tio, duas semanas sem o senhor, sem administrar
corretamente as cobranças, o recolhimento do dinheiro com juros, nossas
lavagens... vira um caos!
Tio Argus suspira.
— Vão dar conta.
— E o que fazemos com a Hera? — Morcego indaga, trazendo à
tona o pavor de todos.
— Aquela louca vai surtar! — esbravejo, querendo estar bem longe
desse castelo.
— Não faço questão de estar compartilhando do humor dela por
essas semanas.
— Se quiserem, posso deixá-la à frente dos negócios.
Arregalamos os olhos.
— É melhor nos amarrar numa cadeira de tortura, ela é o diabo
quando está responsável por algo. Nem sonhe nisso, tio Argus.
— Certo, então sairei às escondidas esta noite. Amanhã informe a
todos da minha ausência, incluindo a minha filha.
Assentimos, loucos para xingar milhares de palavrões.
Como ficaremos tantas semanas sem o coração dos Calatrone?
Tipo... essa família será um caos! Tio Argus é a nossa solução para tudo, ele
é tudo!
— Pelo menos poderemos te ligar?
— Não, não terão como entrar em contato comigo.
— Por... — Antes que eu perguntasse algo, Rael meteu o cotovelo
na minha costela.
Filho da puta.
— Ok, então cuidaremos das coisas... sem importuná-lo, até que
retorne.
— Ótimo. — Ele mantém seu olhar sério, misterioso e imponente.
— Era só isso, podem se retirar para seus afazeres.
“Era só isso”, como se fosse simples!
Eu, Morcego e meus irmãos saímos loucos da sala, e não esperamos
nem virar no corredor para começarmos a discutir.
— Como ele pode dizer que vai se ausentar da noite para o dia?! —
Rael exclama, em questionamento e revolta.
— E onde o nosso tio pensa que vai sem nos dar detalhes? —
pergunto.
— E o pior, como ele pode deixar para nós a responsabilidade de
passar o recado da sua ausência para a Hera?! Ela vai enlouquecer contra
nós!
— Que porra, ainda não pararam para pensar que teremos os
negócios da agiotagem para cuidarmos sozinhos? — Hoss bufa.
— Acho melhor irmos refrescar a cabeça e depois fazermos uma
reunião para organizar todas essas coisas.
— Eu preciso me embriagar! Bebida é sempre a solução.
— Esperem, vocês não contem nada para as suas mulheres, não
antes da Hera saber — Morcego adverte, e Rael e Hoss concordam.
Eles saem juntos e resmungando.
Sigo outro caminho, para tomar um ar fresco... e não porque eu vi a
Lila conversando com um dos nossos cobradores lá embaixo no jardim.
Que descarada!
E eu, também não tenho nada a ver com quem essa garota conversa,
o que estou fazendo nessa merda?
Antes que eu pudesse desistir, é tarde.
— Atrapalho?
Eles ouvem a minha voz grossa e o Jorge, o nosso cobrador, é o
primeiro a virar e me cumprimentar. Lila também vira.
Não desvio dos seus olhos, nem da sua beleza angelical. Os raios
solares deixam o seu rosto e os seus cabelos brilhando, resplandecidos.
— Sr. Calatrone.
Sorrio, fuzilando o Jorge. Ele parece entender.
— Bom... já estou de saída, com licença, srta. Dalila, foi um prazer
conhecê-la.
— Igualmente, espero vê-lo mais por aqui.
Vai ver é a porra do cano da minha arma estourando os miolos dele.
— Não vai ver, ele já está circulando.
— Circulando? — o rapariga ainda pergunta.
— Ah, é, português, deixe-me traduzir. Você já está indo embora,
caindo fora, saindo da minha reta! Arrivederci!
Jorge abre a boca e assente.
— Com licença.
O abestado dá meia-volta e finalmente some com a sua existência
insignificante.
Volto a olhar para Lila e ela está de braços cruzados, a ponto de me
estrangular. Confesso que gosto dela agressiva, é um charme.
— O que você acabou de fazer, seu grosso, mal-educado?
— Não sei, o que eu fiz, meu anjo de luz?
— Cínico, que vontade de te bater!
— Jura? Você sempre tem essa vontade. Aliás, não tem vergonha de
ficar dando em cima dos subordinados?
— Qual o problema? Minha vida não é da sua conta!
Lila começa a andar para o outro lado do lago.
— Onde pensa que vai?
— Eu estou passeando, apreciando a vista, o sol e o ar fresco. Se
quiser fazer um favor, Vince, arrivederci!
— Espera, loirinha brava. — Dou uma corridinha e paro ao seu
lado. — Só queria conversar.
— Achei que não queria nem me ver mais... — ela confessa,
olhando para frente.
— Como eu não veria esses cabelos amarelos, se moramos sobre o
mesmo teto?
— Hum... deve estar feliz pelo meu tio ter me obrigado a ficar no
Castelo.
— Estou sim.
— Vince! — Ela bufa e desacelera os passos.
— Por enquanto, Lila... está perigoso lá fora. Foi o melhor.
— Só por algumas semanas, logo estarei no meu apartamento. E o
que queria falar comigo?
— Se está bem...
— Não... — sussurra. — Fiz uma grande merda ontem, é
relacionado ao meu tio Paulo e a minha tia Lupita.
— O que aconteceu?
Lila de repente para e me olha. Parece ter pensado imediatamente
em alguma coisa.
— Hã... bem... sabe o meu melhor amigo?
Mordo o maxilar, tendo lembranças do meu punho socando a cara
daquele idiota.
— Hum?
— Namoramos por três anos, durante a faculdade — ela admite, e
eu fecho as mãos, arrependido por não o ter matado estrangulado!
— Você mentiu para mim, Dalila?
— O quê? Eu... só omiti para todos. E não foi exatamente para você.
— Ele não era a porra do seu melhor amigo? Vocês namoraram, sua
mentirosa!
— Por que está xingando? Eu apenas OMITI! E eu e o Alan ainda
somos melhores amigos, estava falando agorinha com ele e perguntando
como estavam os ferimentos no seu rosto, depois de você, Sr. Vince
Calatrone, ter o machucado cruelmente!
Pego no braço dela e a puxo para mim, tendo o baque da sua beleza
ainda mais refletida pelo sol. Até esqueço o que ia dizer.
— V-Vince... — ela gagueja, com a mão contra o meu peitoral.
— Eu devia ter machucado ainda mais a cara dele.
— E por quê? Ele não te fez nada, nem o conhece.
Eu olho para os seus olhos, mesclando entre os seus lábios
carnudos.
Lila me tira todos os argumentos, pois nem eu sei por que quero
matar esse cara, só quero!
Solto-a, suspirando de nervoso.
— Era uma raridade te ver tão nervoso assim, não é o seu jeito.
— Preciso dar um rumo na minha vida, é só isso.
Ela fica quieta e voltamos a caminhar.
— Termine a história que começou, até esqueci de onde paramos.
— Desde que não enlouqueça de novo...
— Querida, eu sou o próprio autocontrole, está me confundindo
com o desequilibrado do meu irmão mais velho?
— Que piada, vou nem te dar corda. — Ela revira os olhos. — Mas
voltando ao assunto. Alan é o filho dos Souza.
— Quem são esses?
— Acho melhor nos sentarmos ali naquele banco, a história é
longa...
Sentamos e ela começa a detalhar que esses Souza — um casal com
dois filhos —, faziam parte da máfia Borghi. Eram golpistas profissionais, e
que Paulo foi amante da esposa de Giovana Souza por quatro anos, há uns
dez anos, o que já ficou no passado. Só que a Lila conta que a Lupita nunca
soube de nada, ainda, se encontrava com essa mulher, a ex-amante de
Paulo, pelos eventos que são convidados mensalmente, e que as duas se
detestam, pois a ex-amante ainda se exibe para o Paulo. Resumindo, Lila
ontem revelou sem querer a verdade para Lupi e está prestes a destruir o
casamento dos seus tios, e tudo porque se relacionou com essa merda do
Alan Souza.
— E o seu tio não sabe de nada sobre esse seu ex?
— Não, e nem pode saber, nem que foi por mim que a Lupita soube
disso! Ontem ela brigou feio com ele e revelou tudo, menos como descobriu
a verdade... pelo menos a minha tia teve compaixão de mim.
— Parabéns, que bonito, dona Dalila.
— Para, Vince! A Jolie está furiosa, tivemos uma conversa feia e eu
não tive coragem de dizer um A!
— Puta merda, Jolie já sabia de tudo?
— Sim, ela reconheceu o sobrenome do Alan... ela sempre soube,
tio Paulo e Jolie eram como irmãos, confidentes. Nem imagino os segredos
que guardam do passado dos Borghi.
— E como sabia dessa história do seu tio?
— Ah, pelo Manuel, ele está na nossa família há anos e sempre
cuidou do tio Paulo... acho que o conhece. Agora, está velhinho e cuida da
mansão, é tipo o Luiz de vocês. Foi ele que me contou essa fofoca nas férias
do ano passado, e sem querer, depois de também reconhecer o sobrenome
do meu melhor amigo, ou ex...
Ela suspira.
— Você se fodeu bonito, ainda bem que não é problema meu.
— Obrigada, é um ótimo amigo... para que inimigos?
Amigos não tiram a virgindade do outro — minha mente pensa e eu
balanço a cabeça, lutando para não me infernizar com isso. Dá para passar
uma borracha e fingir que aquela noite nunca aconteceu.
— Relaxa, Lila, seus tios nunca vão se separar, no mínimo é só a
Lupita que vai ficar furiosa, a ponto de matá-lo a cada instante, mas no
final, sempre vão se resolver e se perdoar. Eles se amam, e a gente conhece
a história dos dois. Paulo ficou igual aos meus irmãos, tudo cachorro bem-
mandado de suas fêmeas. Uma vergonha. Não existem mais homens como
antigamente.
Lila ri.
— E você se considera um homem antigo?
— Não, mas um homem sem coleira e não pau mandado de mulher.
Ela rola os olhos.
— Meus olhos ainda vão parar atrás da cabeça, e por sua causa.
— E vai continuar linda — não aguento e murmuro, sem deixar de
analisar esse ser humano irritante.
Parece que ela está cada dia mais bonita.
Dalila também me observa.
— Hoje está quente... eu queria nadar no rio... — comenta.
— Tem um bem perto, quer ir?
Ela concorda e continuamos a nossa trilha, agora, por dentro das
árvores.
Andamos uns quinze minutos, e conversando sobre flores. Qualquer
assunto com a Lila fica interessante e relaxante. Ela sabe falar e prender a
minha atenção, sempre foi desse jeito, desde que a conheci.
— Se andássemos mais uma hora, chegaríamos à praia.
— Não, pelo amor, minhas pernas já cansaram só de imaginar.
Ela para perto do rio, é pequeno, mas fundo e dá para nadar.
— Não vai entrar? — pergunto.
— De roupa? — Lila arqueia a sobrancelha.
— E por que disse que queria vir aqui nadar, peste?
— Peste é você, Magali passa fome. E quer saber? Eu ia entrar sim,
e vou!
Para a minha surpresa e o meu choque, a Dalila tira os tênis, o
vestido e entra de lingerie no rio.
Não me mexo, não quero gravar a bendita cena da sua bunda
grande, redondinha e empinada mergulhando na água. Merda!
— Está horrível de fria, meu Deus! — reclama, após emergir para a
superfície. — Entra também, Vince.
Não, eu não posso estar com ela, eu sei que não vou aguentar...
posso fazer outra besteira.
— Não quer? O corpo se acostuma com a temperatura.
Ela parece o demônio me chamando para a profundeza do inferno,
para cometer um pecado.
— É melhor não. Aproveite sozinha, vou ficar aqui.
Ela grita “tá bom” e continua aproveitando o seu momento.
Sento-me no chão, frustrado. E enquanto a observo, noto que a Lila
mergulhou faz um minuto e ainda não retornou para buscar ar.
Ergo-me de novo, preocupado.
— Lila!!!
Ela não volta, só vejo as bolhas subindo.
— LILA!
Aguardo mais alguns segundos e ainda nada dela aparecer. Me
desespero, não posso mais esperar. Arranco os sapatos e pulo no rio.
— LILA!
Mergulho fundo e agarro a sua cintura, trazendo a Dalila de volta
para a superfície.
Ela se assusta e se segura no meu pescoço.
— Vince, que isso?!
— Você está bem? Estava se afogando!
— Eu não estava me afogando.
— Por que não voltou para cima então?
— Porque eu gosto de segurar a respiração embaixo da água.
Consigo por três minutos.
— Não gostei, quer me matar do coração? — Toco no seu rosto, não
sei nem descrever como me desesperei, pensando que ela havia se afogado.
— Achou mesmo que eu não voltaria para cima? — sussurra, sem
desviar os nossos olhos.
— É claro, eu pulei com roupa e tudo no rio, para te salvar.
Lila morde o lábio e se aproxima mais.
— Fico feliz em saber disso, que não pensaria duas vezes em me
salvar.
Percebo que estou pressionando-a tão forte, que seus seios estão
espremidos no meu peitoral.
Ela toca no meu rosto e desestabiliza todas as minhas forças.
— É melhor sair daqui... vestir suas roupas e irmos embora.
Afasto-a, mas Lila segura o meu braço, volta a se aproximar com o
seu rosto e me rouba um beijo, penetrando a sua língua até o céu da minha
boca.
Xingo mentalmente e retribuo o beijo na mesma hora. É gostoso,
feroz, quero devorá-la!
Aperto a sua bunda com força e aliso as suas costas, para sentir o
seu corpo se fundir ao meu, enquanto nossas línguas se entrelaçam, numa
dança sensual e excitante.
— Eu quero te matar... — resmungo ofegante, puxando os seus
cabelos para trás.
Ela me encara, também ofegante.
Meu pau lateja e pulsa contra a calça, já duro, petrificado por ela.
— Isso não deve acontecer, Dalila. Não faça mais isso.
— Fazer o quê? — pergunta, como se fosse um ser inocente.
— Você sabe o que está fazendo.
— Não sei.
— Mentirosa! — Eu puxo mais os seus cabelos, e ela geme.
Por pouco não enlouqueço com o seu gemido e a visão dos seus
peitos balançando.
— Está me provocando, me fazendo te querer de novo, não entende
a gravidade disso?
— Qual o problema de você me querer? De apenas ficarmos...
Deus do céu, eu preciso ter paciência para não a afogar ou fodê-la.
— Já tentou analisar a árvore genealógica da nossa família? A
ligação sanguínea que temos?
Lila dá de ombros, como se nada importasse.
— Primos de sei lá quantos graus. — Dá de ombros.
Ela está louca, essa peste!
— Você é uma peste, e será a minha ruína!
Empurro-a na água e saio do rio, e com esse bendito pau tarado
pulsando.
— Vince...
O cão vem atrás de mim. Tenho certeza de que o diabo é assim, com
a sua voz angelical, chamando e induzindo a vítima a cair em seus pecados.
— Não fala o meu nome! Vou caçar água benta para me benzer de
você!
— Como é idiota...
Dalila para na minha frente. Ela não tem um pingo de vergonha de
estar com essa lingerie. E eu de olhar.
No entanto, não consigo evitar, eu não consigo parar de vê-la, de
desejá-la!
— Veste o seu vestido, anda!
Taco a roupa na sua cara.
— Não pode nem me ver só de calcinha e sutiã?
Inferno, inferno!
Eu vou surtar!
— Não, Dalila!
— Por quê?
Avanço nela.
— Porque estou segurando a minha vontade de te jogar nesse chão,
abrir as suas pernas e te foder com tanta força, com tanta vontade, que sairia
daqui rastejando, sem saber como andar! Agora, veste essa porra de vestido,
cala essa boca e não me provoque, garota!
Eu perco o ar, as forças, fico em choque com a confissão do Vince.
Eu o excito, o faço me desejar a todo momento. Não imaginava que o
provocava sexualmente assim, como ele me provoca só de estar perto,
existindo.
Ele é tão lindo, alto, forte, tatuado, engraçado, sempre amigo,
cuidadoso, amoroso, é perfeito. Há inúmeras qualidades irresistíveis.
Não paro um segundo de pensar em como foi tão mágico a minha
primeira vez... E agora que ele está gostando de mim, do jeito que eu tanto
almejava, não vou deixar que isso acabe. Vince pode encontrar outras
mulheres e perder todo o encanto comigo.
Não, não vou aceitar uma grande frustração dessas.
— Pode ir sozinho, vou continuar aqui, nadando — digo e sorrio de
lábios fechados.
— Sozinha?
— Não, eu e Deus.
— Garota irritante! Lila, vista sua roupa e vamos logo!
— Já disse para ir embora, vou continuar aproveitando a minha
manhã, com você ou sem você.
Não sei qual será a sua interpretação, mas eu adoraria que fosse com
ele, de preferência, beijando a sua boca e sentindo as suas mãos grossas no
meu corpo.
Eu devia provocá-lo de verdade, aproveitar todas as armas que
tenho. Fazê-lo ficar louco por mim. Posso ser uma mulher tão poderosa e
irresistível quanto a Jolie, ela é a minha maior inspiração.
Viro-me de costas para ele, arrumo lentamente a calcinha e volto
para a água. Nado, mergulho, boio, sem pressa.
O Vince não arredou o pé em nenhum momento para ir embora.
Sem falar do seu olhar de querer me afogar até a morte... ou é tesão?
Vontade de entrar na água e me foder de novo?
Eu me arrepio, tonta e excitada.
Logo saio do rio e vou até ele.
Vince cruza os braços, tentando não olhar para o meu corpo. Ele
está bem irritado.
— Já mandei você ir embora. Por que não foi?
— Por que eu não quis?
— Hum... ficou por mim?
Mordo o lábio, olhando sem disfarçar para a sua barriga definida e
marcada pela camisa molhada.
— Desvia esse olhar! — Ele joga o vestido na minha cara, de novo.
— Estou excitada.
— Dalila! — Vince imediatamente brada e passa a mão no cabelo.
— Eu preciso de um balde de água benta!
— Eu só fui sincera...
— Não finja que é inocente, sua praga.
Bom, está aí o plano, eu posso fingir o tempo todo que sou inocente,
por mais que não seja... seguro o sorriso cínico.
Visto o meu vestido e olho para os olhos desse deus grego. Eu o
peguei no flagra, vendo a minha bunda.
— Você acabou de me olhar.
— Vamos, Dalila!
— Saiba que nem precisa me tocar para eu sentir essas coisas no
meu corpo? Apenas fico excitada, é incontrolável.
Ele não aguenta mais e me puxa pela cintura, quase me machucando
com seus dedos fortes.
— Eu vou costurar a sua boca! — exclama e me pressiona com mais
força.
Meu coração começa a acelerar.
Vince roça o seu rosto no meu.
Eu fico nas pontinhas dos pés, louca para beijá-lo de novo.
— Vince... — gemo, e ele chega ao limite.
É a sua vez de reagir e me beijar com a sua língua impetuosa. É
sempre faminto, insaciável.
Toco no seu peitoral, por baixo da camisa e sinto os seus gominhos,
com a mesma mão toco no cós da sua calça, ansiosa para ir mais em baixo.
Vince volta e segura o meu pescoço.
— Eu vou te foder, Lila...
De repente, ele me empurra contra o rio, e eu caio, mergulhando. Ao
subir para cima, só tive a imagem do Vince, tirando a roupa e mergulhando
nu, atrás de mim.
É rápido, é intenso.
Ele finalmente me alcança, me beija e me faz ficar nua do mesmo
jeito, sem nenhuma peça no corpo. Em seguida, não conseguimos falar mais
nada, apenas nos tocar e nos roçar, ansiosos para satisfazer o nosso desejo.
A minha vontade é tanta, que necessito dele entrando de uma só vez em
mim. Vince não para com as suas mãos safadas, nem com a sua boca
mamando os meus peitos. Também exploro o seu corpo, deliciando-me com
a sua pele molhada, os músculos definidos, mas quando finalmente toco no
seu membro duro, levo um choque por senti-lo... é a primeira vez que toco
no pau de um homem assim.
Ele percebe o meu recuo e apalpa o meu traseiro.
Arfo, entrelaçando mais as minhas pernas.
— Quando me tocar de novo, aperta com vontade que eu vou gostar
muito — sussurra e mordisca o meu ouvido.
Gemo, arrepiando-me.
— Assim? — Corajosa, envolvo a mão por baixo da água, em torno
do seu pênis duro e pulsante, e aperto com vontade, como pediu.
Isso parece enlouquecê-lo, pois grunhe o meu nome e dá um tapa na
minha bunda. É a minha vez de arfar, de dor.
— De virgem você só tinha a cara mesmo.
— Nem imagina quantas vezes me toquei, pensando no seu pau
entrando e saindo entre as minhas pernas...
Antes que ele dissesse algo como “não diga essas coisas”, seguido
de um palavrão, ou “peste”, beijei-o novamente, agora, obstinada a senti-lo
duro dentro de mim...
— Droga, Lila... eu vou te dar o que quer.
— O que queremos... — advirto.
Vince envolve o meu cabelo, esfrega a minha boceta com a
cabecinha do seu membro e começa a me penetrar.
Sinto a dor de estar sendo arregaçada de novo, até jogo a cabeça
para trás e choramingo. Pensei que não fosse doer, mas ele é tão grande e
grosso. Lacrimejo, aguentando a penetração dolorosa, para agora sentir
prazer com os seus movimentos lentos, de vai e vem. Fico mais lubrificada,
mais escorregadia para ele acelerar.
— Está chorando. — Ele segura nervoso o meu rosto.
— Porque é gostoso e doloroso. Não para, por favor, quero mais
rápido... — peço desesperada, puxando os seus cabelos.
Ele então apoia as suas mãos na minha bunda e acelera, me
elevando para trás e para frente.
Sinto muito mais prazer, e muita mais vontade de berrar para o
mundo ouvir o quanto isso está gostoso. Fazer sexo é maravilhoso.
— Mais, mais! Eu quero mais! — ordeno, louca e gemendo sem
parar.
Vince faz. Vince me fode como eu sempre sonhei. E isso está
melhor que nos meus sonhos... é de verdade, agora eu sinto realmente o seu
pau, me envolvendo e me bombardeando.
Nunca imaginei que ser fodida fosse tão bom.
— Você quer acabar comigo...
Quando atingimos o ápice, ele não parou, desta vez, chupando os
meus peitos, lambendo o meu corpo, masturbando a minha bocetinha e me
comendo de novo, com força e sem piedade.
Jamais vou esquecer dessa foda, nem em outras vidas!

Depois de me fazer gozar pela última vez, Vince não falou comigo.
E na volta para o Castelo, foi uma dificuldade para andar, mas eu tive que
ser forte e fingir que a cada passo uma faca não me fincava milhões de
vezes entre as pernas. Nós nos separamos antes de chegar à porta, para
ninguém nos ver. E no meu quarto, preparei uma banheira quente e me
enfiei dentro... sorrindo sem parar ao pensar nele, nas suas mãos tocando o
meu corpo e na sua boca beijando cada pedacinho de mim. Não posso
acreditar que é real... que fizemos sexo...
— Lila?
Sem eu esperar, Jolie me pega desprevenida na biblioteca. Após o
banho, passei quase a tarde toda aqui, para ninguém reparar no meu novo
andar e no sorriso que não sai da minha cara.
— Oi...
— Fugindo de mim?
Ela se escora numa das prateleiras, cruza os braços e faz aquele seu
olhar aterrorizante, intimidador.
Jolie e Hera se igualam em serem assustadoras.
— Não, por que pensou isso? Só estava lendo algo bom. Nem sabia
que estava pelo castelo.
— Sei. Andei te procurando por todos os cantos...
Que mentira, ela deve ter subornado o Luiz e ele passou a minha
localização, com aquele seu tablet amaldiçoado.
— Procurou ou subornou o Luiz?
— Tanto faz, o importante é que te achei. — Ela faz sinal de
despreocupada com a mão.
— Imagino o que veio falar comigo... ainda é sobre a tia Lupi?
— Não, é sobre o seu ex-namorado. Ele sabe quem é você?
— Sobre eu ser ligada à máfia e tal?
Ela assente.
— Não sei, enquanto estudávamos juntos em Londres eu nunca
conversei sobre o meu sobrenome com ele, e ele nunca perguntou, ou achou
estranho.
Jolie me ouve atentamente, apenas assentindo devagar.
— O que está pensando? — indago, curiosa. — Ele sequer sabe do
passado dos pais dele, Jolie.
— Apenas tome cuidado, não o traga mais para o território dos
Calatrone, quanto mais dos Borghi. Seu tio ainda não sabe de nada, nem da
causadora da crise atual do seu casamento.
— Lupita está brigada mesmo com ele?
— Ela está bem furiosa, não quer nem olhar na cara do dito cujo.
— Quando o meu tio souber da verdade, ele vai me matar! —
Arregalo os olhos.
— E vai mesmo. Lupi é bem sentimental, frágil e ciumenta. Ele vai
sofrer muito até ela o perdoar. Por isso, é melhor aguardarmos os dois se
resolverem.
— Que ódio, não paro de me culpar.
— Se tivesse segurado essa língua, eu tinha puxado muito antes a
sua orelha sobre esse tal Alan. Aliás, eu nem imaginava que você sabia do
seu tio e da história de amante. Devia imaginar que o Manuel não resistiria
e te contaria tudo há muito tempo.
Dou de ombros.
— Infelizmente, eu não sei de quase tudo.
— Do seu tio?
— Não, agora é da minha mãe. Fiz centenas de perguntas para o
Manuel e nem ele quis me dar respostas. Você sabe de algo sobre essa
mulher que me gerou e que nunca me disse antes, Jolie?
Ela me encara, sem piscar uma única vez, parece pensar muito,
antes de me dizer qualquer coisa.
— Não, eu cheguei bem depois de você já ter nascido, deve
lembrar... — Então por fim, repete com firmeza o que sempre me
respondeu. — Bom, era só isso. Vou ver o meu filho...
Suspiro e concordo.
Não quero desistir. Vou continuar investigando, um dia eu descubro
quem é a minha mãe.
— Transei com ela! — simplesmente confesso para o Igor.
— Mas o quê, porra?! — ele esbraveja, caindo chocado na cadeira.
Eu passo a mão no cabelo e viro o gargalo da minha cachaça.
— E duas vezes.
— DUAS VEZES?! — berra. — Está louco, Vince? Ela é sua
prima!
— Não precisa repetir, vitrola portuguesa! Já estou fodido o
suficiente com a minha consciência. E eu nem tive culpa dessa merda toda.
— Não teve? Então ela abaixou suas calças e te fez transar à força,
seu energúmeno?
Nervoso, eu pego a bandeja de salgadinhos e começo a comer,
emburrado.
— Praticamente, ela quem me provocou, me seduziu e me
enlouqueceu a cometer esse ato carnal!
— Isso está muito errado, está fazendo uma grande merda. Dalila é
proibida para você, ela é sua prima!
— Para de esfregar esse caralho de verdade na minha cara, mete
logo um tiro no meio da minha testa!
— Eu meteria até dois, mas seus irmãos me farão o serviço de te
matar, também o Paulo, a Jolie e a Hera!
— Isso não vai mais acontecer, Igor. Já estou dando um jeito na
minha vida, ficarei noivo até domingo.
— O quê? Com quem?
— Em breve todos vocês a conhecerão. Vou preparar um jantar
especial no castelo.
— Não, eu não posso acreditar nisso. Sabe do que precisa? De um
psiquiatra para cuidar desse seu cérebro entupido de comida.
— Eu não pedi a sua opinião para nada, vai rodar bolsinha na praça
e vender esse rabo enxerido.
— A família Calatrone devia se unir para te internar. Como acha que
pode sair escolhendo qualquer mulher por aí para se casar? Casamento não
é brincadeira, estou com a minha esposa há mais de oito anos e nos casamos
por paixão, amor.
— Isso não existe para mim. Eu não vou esperar ter amor ou paixão
pela pessoa “certa”, posso gostar de uma mulher, me casar e depois
começar a sentir isso.
Ele rola os olhos.
— As coisas não são assim, não brinque com a sua vida, com o seu
coração. Depois, pode ser difícil reverter os erros das suas más escolhas.
Ergo-me do sofá, bufando.
— Era só isso? Vou embora, não preciso ficar ouvindo uma segunda
Hera socando a porra dos meus ouvidos.
— Se está incomodado, é porque estou falando a verdade e sabe
perfeitamente disso.
— Sabe de uma verdade?
Igor cruza os braços, esperando o de sempre.
— Você ir se foder, português de merda!
— Enche o rabo de comida que esse mau humor passa.
— Vai para casa, sua esposa grávida está te esperando, enquanto eu
vou para a boate, encher a cara de álcool e foder umas putas.
Ele apenas balança a cabeça, me reprovando com cara feia.
Eu até cumpro o que disse, vou para a boate, sento-me perto do bar,
bebo, mas não fico excitado para foder com nenhuma das meninas. Não
paro de pensar nela, de me sentir culpado por estar transando com a Dalila,
por saber que tirei a sua virgindade, sendo essa peste a minha prima. E
agora, é inevitável o tesão e a atração quando estou com ela.
— Onde esteve? — Rael pergunta, após me pegar entrando entre
tropeços no castelo.
— Por acaso a gente se casou para eu te dever satisfação da minha
vida? — debocho.
— Filho da puta! Você bebeu?
Dou de ombros.
— Era para estar em casa mais cedo, esqueceu do que está
acontecendo? Do nosso tio.
— Eu estou aqui já, dá para relaxar? Está pior do que o Hoss
esquentadinho.
— Vince, leve a porra da situação a sério. Ele já foi embora e
amanhã é quinta-feira, faremos nossa reunião mais cedo e contaremos tudo
a você sabe quem...
— Ao Voldemort? — Rio.
— Arrombado, eu vou meter um murro na sua cara!
— Eu já entendi, amanhã conversaremos e, também, dividiremos os
cargos, afinal, alguém tem que ficar responsável por tudo. Imagino que seja
o Morcego e o Hoss.
— Sim, cuidaremos dos cobradores e da boate.
— Perfeito, agora, se me der licença, vou bater uma punheta no
chuveiro. — Pisco, bêbado pra caralho.
— Nunca saiu dos 13 anos, infeliz — Rael murmura. — E se eu te
pegar bêbado essa semana de novo, eu te acorrento no seu quarto!
Sem dar ouvidos ao meu irmão insuportável, eu subo para o meu
quarto. Entro, tiro a roupa e seguro a vontade de pular na cama e dormir.
Mas ouço um barulho de algo caindo no outro cômodo, que me chama a
atenção para averiguar. Enrolo a toalha na cintura, caminho até o local,
acendo a luz e não encontro nada, ou melhor encontro. Olho para a mesa do
computador e percebo uma xícara de café ainda quente.
Peste infernal!
Bufo e abro a porta do primeiro armário perto dos computadores.
Dalila arregala os olhos, corando envergonhada por ter sido pega no
flagra.
QUE INFERNO!
— Que bonito, porra, posso saber o que está fazendo no meu quarto,
e escondida?
— E-eu estava te esperando.
— Humm... — Cruzo os braços. — Esperando para me ver pelado,
sua safada miserável?
— Vince!
Ela arregala os olhos de novo, após olhar para o meu corpo enrolado
da cintura para baixo com a toalha.
— O que quer aqui, então? Estava mexendo no meu computador?
— Primeiro, dá para me dar licença e me deixar sair desse armário?
— Não, não deixo, vai ficar aí.
Rapidamente, fecho o armário e Lila começa a bater nas portas.
— VINCE, ABRE ESSA DROGA!
Encosto-me, rindo da sua cara.
— ABRE LOGO OU EU VOU GRITAR!
— Grita, esse castelo é enorme, ninguém vai te ouvir.
— Anda, eu vou morrer sufocada aqui dentro!
Com dó, abro a porta e a louca avança em mim, batendo-me com
força.
— Seu idiota, sem graça!
— Ei, Ei, loirinha violenta!
Seguro os seus punhos e a prenso na mesa do computador.
Lila respira, acelerada.
Eu olho para o seu pijama e reparo nas suas coxas desnudas e no
bico dos seios marcados no tecido da blusinha.
Merda de pica tarada, o meu corpo se arrepia e o meu pau
corresponde com uma pulsação instantânea.
— O que quer comigo? — sussurro, bem pertinho do seu rosto.
— Você está cheirando a álcool...
— O que quer comigo? — repito a pergunta.
Que vontade de a beijar, de devorar esses lábios rosados.
Lila molha a boca, sem desviar dos meus olhos penetrantes.
— Eu preciso da sua ajuda...
Afasto um fio loiro da sua testa e chego ainda mais perto.
— Depende, para quê?
Sinto-a se arrepiar, meio fraca
— É sobre a minha mãe, eu sei de uma pessoa que pode me ajudar a
descobrir quem é essa mulher.
— Quem?
Inclino-me na mesa, para analisar atentamente os seus traços
angelicais, únicos...
— O ex-subchefe da máfia do meu avô.
Na mesma hora eu ergo a cabeça e me afasto. Inconformado.
— Está louca? Você não dizia que detestava esse homem, que ele
também não gostava de você e, principalmente, da sua madrasta Jolie?
Esse homem não presta!
Lila cruza os braços.
— Mas ele sabe de tudo, Marcos com certeza sabe quem é a minha
mãe. E ele poderia me dizer a verdade.
— Não, não mesmo! Você não vai se colocar num risco desses!
— Vince...
Eu volto para o quarto e Lila vem atrás de mim.
— Por favor, me ajuda... eu só quero descobrir quem é ela.
— Não me peça esse absurdo, Lila!
— Ok. Se você não quer me ajudar, foda-se! Eu vou atrás do Marcos
sozinha!
— Vai uma ova!
Seguro o seu braço e a puxo bruto para mim.
— Me larga!
— Você é uma irritante sua peste!
— Peste é você, seu ridículo!
Que vontade de dar uns tapas bem dados nessa garota.
Lila me empurra.
— Não sei nem como eu achei que poderia contar com você, não
somos mais amigos!
— Amigos? — Eu rio debochado. — Depois de tudo que aconteceu
entre a gente, ainda acha que podemos ter a mesma amizade?
Ela não responde.
Ficamos em silêncio.
Suspiro, rendido pela sua carinha de decepção. Isso é culpa da
cachaça, tenho certeza.
— Eu me importo com você, Lila, sei que quer descobrir quem é a
sua mãe, mas não quero que coloque a sua vida em risco. Que vá atrás desse
homem sozinha.
— Então vai me ajudar?
— Merda, eu ajudo, porém, será a última vez, entendeu?
Ela sorri.
— Não será não.
— Não vou discutir, preciso de um banho para superar o álcool no
meu corpo.
Ela me olha, percebendo o meu estado.
— Ah... desculpa invadir a sua privacidade.
— Imagina, é de casa, eu ia até te convidar para um banho —
debocho.
Ela revira os olhos, para disfarçar como ficou corada.
— Amanhã conversamos...
— Não faço questão de ver a sua cara amanhã — resmungo,
afastando-me para o hall.
— Larga de ser assim comigo, está o tempo inteiro insuportável.
— Eu era muito diferente com você, até me infernizar e transarmos,
espero que se encontre feliz com as mudanças.
— E o que muda?
Ela ainda faz esse tipo de pergunta idiota?
Eu paro, com a mão na cintura e conto até dez, antes de encará-la e
responder.
— Muda, que agora, quando vejo você, a minha “priminha”, penso
em te comer em mais de mil posições! Ou acha que eu faria questão de
estarmos conversando, com você dentro desse pijama provocador, enquanto
tem uma cama entre nós, onde poderíamos estar fodendo?
A garota arregala os olhos, sem palavras.
— N-não sabia que poderia ficar assim comigo...
— É porque você é uma praga bonita e gostosa! E eu não devia estar
te desejando, te querendo! É culpa sua, que não pensou nas consequências!
Por isso, se não quiser ficar mais assada entre as pernas, sai daqui ou não
respondo por mim e te meto a porra do pau!
Ela assente, chocada, mas antes de sair, a peste ainda olhou bem
para o meu pênis que se enrijeceu e marcou a toalha.
Eu até corri atrás dessa loira provocadora, mas ela acabou sendo
mais rápida, escapando e batendo a porta, antes de eu enlouquecer e agarrá-
la.
Que castigo. Eu fiz o que para merecer uma cruz dessa? Não tenho
paz nem na minha própria casa!
No dia seguinte, toda a família se reúne para a reunião de quinta
pela manhã.
Eu, Morcego e os meus irmãos nos encaramos, em seguida a Hera.
— Por que dessa reunião tão cedo? E por que estão me olhando
assim?
— Vamos dizer...
— Estão esperando o meu pai chegar? — ela pergunta e olha para o
lugar vazio dele.
— Não, mas é sobre ele que queremos conversar — Hoss diz. —
Tio Argus mandou avisar que ficará algumas semanas ausente.
— O quê? — ela indaga, surpresa. — Quando ele disse isso?
— Ontem, antes de ir embora — Rael explica.
— Eu não posso acreditar, e ele não me disse nada?! Apenas foi
embora, deixando vocês para me dar a notícia?
— Pronto, ela vai surtar em 3, 2, 1... — digo e cruzo as pernas.
— Vince, vai se foder!
Hera se levanta, furiosa.
— Meu pai nunca fez isso!
— Se acalma — Elena pede.
— Hera e calma na mesma frase? — debocho.
Morcego me olha feio.
— Também não entendemos o que aconteceu, Argus só disse isso,
sem dar maiores explicações. Você conhece o seu pai, amor.
— Mas ele devia ter vindo falar comigo, e se estiver acontecendo
algo grave? Como vocês o deixaram ir assim, sem me dizer nada?!
— Como fala uma coisa dessa? Sabe que o tio Argus é... o tio
Argus! Ninguém manda nele! — Hoss exclama. — Você conhece o seu pai
melhor do que a gente.
— Isso é uma tremenda traição!
Sem discutir e sem fazer maiores escândalos, Hera vira as costas e
sai da sala de reuniões.
Elena e Jolie também se retiram atrás dela.
— Eu achei que poderia ter sido pior, tipo, ela cuspir fogo igual um
dragão.
— Você sempre tão necessário, né, Vince?
— Eu sou o eixo dessa família, caro Hoss. Mas, e agora? Quero
saber como vai ficar dividido as tarefas.
— Eu e o Morcego cuidaremos da gerência da agiotagem, e você e o
Rael serão responsáveis pelos cobradores e as cobranças. A boate também.
— Certo, hoje tem uma cobrança, vou fazer com o Igor — aviso, e
eles concordam.
— Eu vou para boate “guardar” dinheiro — Rael informa.
— Perfeito, durante os dias vamos nos revezando para não haver
nenhum erro.
Assentimos. E com tudo resolvido, retiro-me para devorar o café da
manhã.
— Vince?
Após comer e sair com dois pães doces na mão, eu dou de cara com
a Lila no corredor.
E que ódio.
Como essa criatura é lindamente irritante.
Não aguento e analiso as suas roupas mais justas do que de costume.
Isso só pode ser proposital para me infernizar.
— Por que aparece sempre assim, igual uma assombração?
— Eu não apareço igual assombração — rebate.
— Verdade, você é a própria assombração.
— Idiota, eu queria falar com você.
— Tem cinco segundos para falar — digo de boca cheia.
— Cinco?
— 4.. 3...
— Vince, seja sério comigo! Que vontade de socar a sua cara.
— Eu adoraria não ter papo nenhum com você, nem contato.
— Problema seu, vem aqui.
Ela entra na sala de chás e me puxa para dentro, em seguida, fecha
as portas.
Fico pertinho dela, sentindo o seu perfume gostoso.
Lila morde o lábio inferior e me olha.
— Então? — resmungo, já louco para arrancar as roupas do seu
corpo.
Dalila me provoca um calor fora do normal.
— Tenho a localização do Marcos e onde podemos encontrá-lo.
— Como? Estava torcendo para que não achasse nada.
— Ah, querido, obrigada pela ajuda. Porém, para a sua infelicidade,
eu achei. Encontrei o perfil da filha dele nas redes sociais e começamos a
conversar. Ela não me revelou nada com exatidão, mas deu uma pista.
— Qual pista?
— Amanhã é a sua festa de formatura da faculdade, ou seja, Marcos
vai estar lá para privilegiar a filha. E nós vamos.
— “E nós vamos”. Será a última vez que vou te ajudar, entendeu
bem, Dalila? — digo, aproximando-me dela. — E ficaremos um longe do
outro.
— Até eu ir para o meu apartamento?
— Até eu parar de te desejar.
Ela toca no meu peitoral e me enrijeço.
— Não quero ficar longe de você...
— Precisamos, isso nem é questão de escolha.
— É sim... — Ela chega bem mais perto do meu rosto.
Sinto a sua respiração quente ser soprada contra a minha pele.
— Eu sou bem resolvida para escolher o que eu quero.
— O que não pode... — sussurro e inclino a cabeça para mais perto
do seu pescoço. — Isso é proibido.
— Por isso é tão bom.
Ela quase me beija, se alguém não tivesse tentado abrir a porta e me
feito me afastar rapidamente dessa tentação.
Graças a Deus! É um anjo me salvando de crescer ainda mais essa
culpa e não resistir ao pecado.
Eu preciso resistir, tem que ser fácil!
Espero dois minutos, para quem for que seja, ir embora e eu também
sair, para não ser pego com a Lila... de novo.

****
Passo o dia com o Rael, resolvendo e definindo a agenda de
estratégias com os nossos cobradores. À noite, vamos para a boate fazer a
contagem, de madrugada, saio para uma cobrança importante com o Igor.
Só chego ao Castelo para guardar o dinheiro, jantar, tomar banho e dormir.
Levanto-me só depois do almoço, e para comer. Amo comer!
— Essa rotina vai me matar, detesto ficar limitado a quatro paredes,
detesto escritório! — Hoss exclama ao parar na sala.
— Só gosta de ficar limitado em quatro paredes quando é para foder.
— Já tentou ir ao caralho que lhe parta, seu bastardo azedo?
— Acho bem-feito — Hera declara, após se sentar na poltrona e
cruzar as pernas, com um olhar mortal para mim, o Hoss e o Morcego. —
Quero que vocês se lasquem.
— Querida priminha, não somos culpados do seu ódio — digo e
sorrio. — Estão todos no mesmo barco.
— Eu não falei com você, bastardo azedo.
— Olha só, ela está agressiva hoje.
Sem esperar, levo uma almofada na cara por esse dragão furioso.
— Aiii, caralho, essa doeu! Morcego não fez ontem o trabalho de
dar orgasmos para essa mulher acordar melhor não?
Antes que ele também socasse a minha cara, a Jolie e a Elena
chegaram com as crianças. E claro, elas correm para os braços do tio
preferido delas. Eu!
Noto a ausência da Lila, mas descubro pela Jolie, que depois do
almoço, ela foi para a biblioteca. Confesso que passo a tarde toda fugindo
dessa maluca, para ver se mudou de ideia e desistiu de ir à tal formatura se
encontrar com o Marcos. Contudo, quando dá 19h, ela aparece batendo à
porta do meu quarto.
E puta que pariu, eu tive que me segurar no portal, para não cair no
chão com a tamanha beleza dela, dentro de um vestido preto, justo, com
fenda na perna e decotado. E nem me pergunte dos saltos, eu tenho tara por
mulheres de salto alto fino.
— Está pronto para irmos?
Demoro alguns segundos para respondê-la. Nem sei mais o meu
nome.
— Vince?
— Merda... — Saio do transe e foco na sua cara atraente e marcada
pela maquiagem sexy. — Onde pensa que vai vestida assim?
— Você não vem com esse show, sabe perfeitamente onde estamos
indo. E troca essa camiseta por uma camisa social pelo menos.
Bufo e sem a porra da escolha, eu vou trocar de roupa, para
acompanhá-la nessa droga de formatura. Porém antes de sairmos
escondidos, eu me armo com um arsenal. Pareço até o Rambo, com facas e
artilharia. Até dou duas armas para ela se proteger.
Mesmo com uma cara de bravo e emburrado, Vince me leva para o
endereço da formatura da Daniela, a filha do Marcos, o ex-subchefe da
máfia do meu avô. Por mais que eu não goste mais dela, éramos muito
amigas na adolescência. Hoje, se tornou uma metidinha de nariz empinado,
ou sempre foi assim, e eu que não prestava muita atenção. Mas isso não
importa, o importante é achar o Marcos, conseguir conversar a sós com ele
e descobrir a verdade sobre a minha mãe.
— Não é para desgrudar de mim, Lila. — Ele aperta a minha
cintura, e eu suspiro.
Isso será o maior prazer, não desgrudar desse homem...
— Preciso encontrar o Marcos.
— Eu nem sei como é esse homem.
— Não se preocupe, convivi com a cara dele durante a minha vida
toda, impossível esquecer aquela cicatriz no seu queixo...
— Então vamos circular, que a formatura vai começar daqui a
pouco.
Vince entrelaça a sua mão na minha e me acompanha para andarmos
em torno do salão. Confesso que meu corpo se arrepiou na hora que senti
seus dedos grossos se entrelaçando nos meus.
Caminhamos, sem conhecer ninguém. E uns dez minutos antes do
evento se iniciar, encontro a mesa do Marcos. Ele está sentado ao lado da
esposa e da filha.
— Eu o achei...
Vince acompanha o meu olhar e, também o encontra.
— É aquele homem? O que pensa em fazer?
— Simples... eu vou até a mesa dele, cumprimento a Daniela, sua
filha, a esposa e viro-me para ele, pedindo para conversarmos a sós.
Vince dá ok e eu coloco meu plano em ação. Aproximo-me,
cumprimento as mulheres, em seguida, antes que eu dissesse algo para o
Marcos, ele segurou o meu braço. No mesmo instante em que me
aproximava ele já havia me reconhecido.
— Eu sabia que uma hora ou outra você me procuraria, Dalila.
Encaro bem os seus olhos nublados e assustadores.
Vince também me segura forte, mantendo o controle para não fazer
o Marcos afastar o seu toque de mim.
— Você sabia que eu te procuraria? — pergunto.
— É claro, pois sou o contentor de toda a verdade que procura. Mas
sentem-se conosco. Não vou perder a formatura da minha filha, depois
conversamos.
Eu olho para o Vince e nos sentamos quietos.
Ficamos quase uma hora e meia prestigiando o evento, e sem dizer
mais do que o necessário que a Daniela e a sua mãe perguntavam. Só após a
formatura, quando todos começaram a aproveitar da festa, o Marcos se
levantou e pediu para segui-lo até a área externa do local.
— Vamos ser diretos. — Ele para perto do muro, sem me olhar. Está
encarando a vista noturna do oceano agitado.
— Eu vim aqui para descobrir quem é a minha mãe.
— Quem é a sua mãe?
— Sim... você era o subchefe do meu avô e sabia de tudo, esteve
presente no meu nascimento.
— Estive, eu sei quem é a sua mãe.
Ele vira e meu coração acelera.
— E quem é ela? Me diga.
— Acha que eu vou dizer tão fácil assim?
— E o que quer em troca?
— Simples, um encontro com o seu tio Paulo. Faz anos que não
consigo falar com ele, ou ter qualquer chance de aproximação para
conversarmos.
— Não, ele não vai querer te encontrar. Paulo sempre te detestou.
— Mas você consegue, querida Dalila, é a princesinha da máfia.
— Não existe mais a máfia Borghi. Isso acabou.
— Bom, essa é a minha proposta, caso queira saber quem é a sua
mãe.
— Me dê pelo menos o nome dela ou qualquer informação, para eu
pensar na sua proposta.
Vince aperta a minha mão.
— Você não vai aceitar essa loucura — ele murmura.
— Saberá quem é a sua mãe quando conseguir o meu encontro com
o seu tio. Pense na proposta e me ligue após convencê-lo.
Marcos me dá um papel com o seu número, passa ao nosso lado e se
retira para o salão de festa.
Eu respiro fundo e olho para o Vince.
Ele está bravo.
— Você não achou que ele fosse te dar informações de graça, né?
— Não sei, talvez...
— Não pode colocar o seu tio de frente com esse homem, colocará
em risco a vida dele e de todos que o ama, incluindo a sua tia Lupita e os
seus sobrinhos. E vamos sair daqui.
Quieta, eu obedeço ao Vince, e ele me leva para outro lugar.
— Vamos parar, conversar e comer algo. — Ele aponta para o bar e
eu concordo.
A seguir, entramos e nos acomodamos no local meio vazio.
Sento-me bem ao lado do Vince.
— O que eu faço? — sussurro para ele.
— Desiste dessa ideia de achar a sua mãe, isso vai colocar a sua
vida e a vida de todos em risco — Vince repete, realmente sério, sem
brincadeiras.
— Mas eu queria tanto descobrir quem é essa mulher, a minha mãe.
— Talvez seja melhor nem saber, Lila. Já se passaram tantos anos. E
come, vai se sentir melhor. Eu mesmo me sinto ótimo comendo.
As batatinhas fritas chegam e ele me empurra a metade da metade
da porção. Tipo, umas cinco meras batatas.
— Comer o quê? Você não sabe dividir, seu guloso?
— O que é dividir? — pergunta de boca cheia.
— Pode pedir mais porção para mim.
— Querida princesinha loira do meu coração, eu pedi quatro.
Que jogo baixo... eu sou a princesinha loira do coração dele.
— É um mistério para onde vai tanta comida dentro desse seu corpo.
É realmente a Magali das histórias em gibi do Brasil.
— Magali?
— Sim, amarelo ainda é a sua cor.
Ele revira os olhos e me cutuca.
— E você é a Mônica, dentucinha e bravinha.
— Ridículo. — Jogo uma batata nele e ele passa molho no meu
nariz. — Vince!
Antes que eu limpasse, ele pegou o guardanapo e se aproximou do
meu rosto, para limpar.
— Espero que esteja melhor, pois eu gostaria de te ver uma vez na
vida satisfeita... feliz.
— Feliz? — murmuro, sem desviar dos seus olhos. — E você é
feliz?
— Eu não sei, não quero ser hipócrita de dizer que não.
— Existem vários nichos de infelicidade e felicidade. E eu tenho a
sorte de ser infeliz em todos...
Desvio dele e volto a comer as batatinhas.
— Pelo menos não dá para ser infeliz comendo e bebendo.
Dou de ombros e rio.
Depois de comer, voltamos para casa e entramos escondidos no
castelo. Mas antes de me separar do Vince, em meio ao corredor escuro das
passagens — bem pouco iluminado pelas lâmpadas amarelas —, puxo o seu
braço e chego bem perto do seu corpo. Sinto que o desestabilizei todinho.
— Mesmo que tenha odiado me acompanhar, obrigada...
— Eu jamais te deixaria ir sozinha, Lila... — Ele pressiona a minha
cintura e arrepio-me, querendo muito mais. — E não vou deixar que
convença o seu tio desse encontro, está me entendendo?
Nossos lábios quase se roçam, por um momento eu até esqueço do
mundo lá fora, dos meus problemas. Mas eu não posso esquecer, e a
consciência me lembra disso.
— Eu vou pensar...
— Não vai pensar, eu quero esse número, me entregue.
— N-não... — Com dificuldade, afasto-me, só que ele não me larga
e me empurra, para me prensar na outra parede.
— Anda, me dê o papel... — fala fraco, lento, enquanto a minha
boca arfa contra o seu aperto másculo.
— Isso é jogo baixo, seu cretino — resmungo, por ele estar me
atiçando e me provocando.
— Você quer mesmo que eu tire esse número à força de você?
— Não é nem louc...
Antes que eu termine de falar, ele belisca a minha bunda e beija a
minha boca, já penetrando a sua língua e me devorando num ato insaciável.
Não consigo me desvencilhar, para não parar os seus lábios
frenéticos.
Seu beijo é intenso, quente. Sinto-me em chamas.
Meu corpo corresponde instantaneamente, retribuindo a sua
veracidade de mil homens. Puxo os seus cabelos, louca por mais, para que
me coma nessa mesma fome de beijo.
— Me fode!
— Que peste, Lila...
Vince aperta o meu pescoço com força, coloca o joelho entre as
minhas pernas e toca por dentro das minhas coxas.
Eu gemo, rebolando contra a parede fria e a sua mão.
— Nunca senti tanta fome e tanto fogo por alguém, isso me
enfurece!
Ele esfrega o dedo por cima da minha calcinha molhada e pulso,
excitada.
— Estou tão molhada, latejando por você — digo, enlouquecendo-o
mais.
Vince afasta o elástico e sente a minha lubrificação escorrendo feito
uma cachoeira.
— Você não vai aguentar mais uma surra de caralho.
— Eu vou... — minto, já ardida e dolorida por dois sexos seguidos,
contando com a perda da minha virgindade. Ele é grande e grosso. — Ou
pode me chupar, eu vou gostar muito.
Não escondo o quanto estou no modo safada, querendo-o.
— Eu posso encher a sua bunda de tapas, sua louca.
Ele esfrega de novo a sua mão grossa na minha boceta e dá um tapa
estridente no meu traseiro.
Eu solto um “ai” e mordo a sua boca com violência. Sinto até o
gosto do seu sangue.
Vince sufoca ainda mais o meu pescoço, por pouco não me
estrangulando.
Eu fico com mais tesão. É maravilhoso ser estrangulada.
Ele se afasta, desce os beijos pelo meu corpo e se ajoelha diante de
mim.
Mesmo com a pouca iluminação da passagem, eu olho para baixo,
para os seus olhos que soltam faíscas, já sabendo o que está por vir.
Não posso acreditar que terei o meu primeiro oral! E por ele, pelo
meu Vince!
Tenho a confirmação dos seus atos, após os seus dedos erguerem o
meu vestido na altura da barriga e a sua respiração se tornar intensa na linha
do elástico na calcinha.
— Você vai me chupar? — pergunto e mergulho as unhas na sua
cabeça, com força para puxar os fios loiros.
Ele xinga e lambe feito um animal a minha virilha. Então desce a
calcinha pelas minhas pernas.
Eu fico nua, sem vergonha de exibir o meu corpo e o meu sexo
feminino. Só quero prazer, o melhor prazer que pode me dar.
Nada mais importa... a não ser o Vince.
Ele é a minha primeira paixão, o meu primeiro homem e quero que
o meu corpo seja sempre dele.

Acaricio as pernas grossas da Dalila, subindo os dedos até o destino


molhado da sua boceta gostosa. Também, beijo as suas coxas, apertando-as.
Ela geme e puxa os meus cabelos, ansiosa para que eu caia de boca
logo.
Como é uma safada desesperada.
E que gemidinhos mais maravilhosos.
De cara para a sua xaninha lisinha e inchada, eu abro mais as suas
pernas, inclino a cabeça e pressiono os lábios maiores, mordiscando de
leve, antes de dar uma lambida forte, de cima para baixo.
— Ahhh... isso é tão bom...
Com certeza é o seu primeiro oral, e comigo! Sou o único a provar
da Lila. Isso me deixa mais obstinado.
Meu pau pulsa, trincado e tão enrijecido quanto uma pedra.
Não posso gozar, preciso me controlar e apreciar o seu gosto, sentir
o seu orgasmo.
Dou um tapa na sua bunda e separo os lábios vaginais com o dedão,
e no meio da xaninha lubrificada eu passo a língua hábil.
Lila se estremece na hora, chamando o meu nome.
Começo a chupar e mamar a parte interna, faço círculos no seu
ponto clitóris e penetro dois dedos no seu canal apertado. Intercalo a cada
minuto os movimentos.
— Ahhh! — Lila rebola na minha cara.
Invisto no seu prazer, enterro a língua na sua boceta sem dó e mais
rápido, isso a faz também acelerar seus gemidos.
Que sabor, isso sim é um banquete de xota bem servido.
Chupo com gosto o seu grelinho duro e encharcado, enquanto
acelero os dedos, metendo e saindo da sua boceta escorregadia e
apertadinha.
Lila treme, berrando o meu nome e se contorcendo alucinada de
prazer.
Minha língua não para de trabalhar. Pressiono o seu clitóris, socando
fundo a língua e sempre mantendo os movimentos circulares, mais forte e
mais rápido.
Eu a devoro!
— AHH! OHH!
Suas pernas começam a tremer mais, o seu abdômen a contrair
espasmos e quando vejo, ela grita e explode o seu gozo quente na minha
boca. Sedento, eu lambo cada gota de prazer que expele.
Lila perde as forças, escorregando para o chão.
Sento-me, encostado na parede, puxo-a para o calor do meu colo e
beijo a sua boca, agarrando bruto os seus cabelos.
— Isso foi tão gostoso... tão maravilhoso — ela fala ofegante e
roçando na minha ereção.
Aperto a sua bunda, querendo sentir arrependimento desse
momento, porém não há nenhum e é isso que fode o meu psicológico. Há
apenas a culpa, mas nunca o arrependimento!
— Que porra a gente está fazendo, Dalila? Eu não consigo olhar
para você sem pensar na sua nudez, nos seus gemidos, na textura da sua
pele e, em como é apertada, o quanto me sufoca quando estou entre as suas
pernas, a fodendo feito um animal.
E esses pensamentos ficaram ainda mais intensos nessa semana. A
cada oportunidade o meu cérebro me recorda que tirei a virgindade da
Lila...
Ela perde o ar de novo com a minha declaração.
— Sempre será o meu primeiro... — sussurra e acaricia o meu rosto.
— Só quero você me dando prazer...
— Isso não vai mais acontecer, estou sendo sincero.
Olho no fundo dos olhos dela, querendo acreditar nas minhas
próprias palavras. No entanto, tentarei, isso é só sexo e nada mais. Desejos
podem ser controlados.
— Não quero que acabe. — Ela pressiona o meu pau, mas, afasto a
sua mão.
— Não me provoque mais. Quero continuar sendo o mesmo Vince
com você. Porém, se for preciso me afastar para sempre, para não
acabarmos transando e nem fodendo as nossas vidas, eu farei! Entendeu?
Ela não responde.
— Responda que entendeu.
Ela abaixa a cabeça, inconformada e se afasta de mim.
— Lila?
— Não vou responder droga nenhuma.
— Vai responder sim, porque está pensando só em você! Nunca
pensa nas consequências!
— Boa noite.
— Sua mimada do caralho!
Dalila vira as costas e sai rapidamente da passagem, também, com o
pedaço de papel que eu não consegui pegar de volta.
Não vou atrás dessa garota. Soco a parede, tão fora de mim e
estressado.
Que inferno de tortura!
Eu saio da passagem e vou atrás da empregada, para aliviar o meu
tesão com um boquete. Só que para foder a minha cabeça, quando ela está
no meu quarto, chupando-me, é a maldita princesinha loira que imagino
fazendo o serviço.
Chega, amanhã será o basta, é o dia que mudarei a minha vida! Lila
saberá definitivamente que esses momentos proibidos acabaram.
Ainda furiosa, eu passo mais um dia ignorando a existência dos meus
primos, esses machos infelizes! Hoje o Hoss até tentou conversar comigo,
mas o expulsei da sala de chás, tacando um salto nas suas costas.
Cambada de traidores, mentirosos!
Como puderam permitir que o meu pai fosse embora sem pelo
menos dizer para onde ia?!
— Hera? Calma, sou eu! — Elena ergue os braços, após eu quase
jogar um par de saltos sem querer nela.
— Ah, desculpe, eu pensei que fosse algum infeliz dos meus
primos. Não quero ver esses desgraçados por enquanto.
— Ezequiel estava reclamando com o Rael que você o fez dormir
fora do quarto ontem...
— Ele disse, é? Se o Rael quiser, pode dar um teto a ele! — exclamo
e viro a minha taça de vinho.
— Você está bebendo em plena manhã?
Não respondo a Elena e continuo a beber irritada.
Luiz também surge, questionando-me sobre o cardápio de hoje.
— Faça camarão apimentado, frango grelhado e use muito alho para
refogar.
Ele abre a boca, raciocinando e me olhando.
— Mas... Hoss detesta camarão. Rael e ele também não gostam de
frango, nem coisas apimentadas, e Ezequiel tem alergia a alho.
Elena não demonstra surpresa, apenas balança a cabeça.
Sorrio, erguendo a taça.
— Apenas faça, querido Luiz.
Ele assente e pede licença.
— Quando a sua intenção é ser vingativa, você é pior que o diabo. E
mudando de assunto, Lupita te ligou?
— Sim, eu a estava aconselhando ontem, em como torturar o Paulo.
— Hera!
— O que foi? Sabe que a Lupita é meio bobona, cede e perdoa fácil.
Ela tem que fazer aquele homem se arrepender amargamente por ter
nascido. Tem que fazê-lo rastejar, se humilhar. Até hoje carrego ranço pelo
Paulo, por tanto que a Lupi sofreu, até ele se apaixonar e amá-la de verdade.
— Sim, vimos de perto a história desses dois, na verdade, você e a
Jolie viram, já que as traíras me pouparam de tudo, não foram sinceras
comigo.
— É claro, estava grávida na época, depois pariu um recém-nascido.
Jamais a deixaríamos saber da situação triste da sua irmã. Foi melhor te
poupar, omitindo a verdade. Paulo foi muito desgraçado, muito sem coração
e sem escrúpulos. Lupita não tinha culpa de estar grávida dele, de tudo que
aconteceu e por ele ter “perdido” você, a mulher que dizia amar e que fazia
questão de esfregar na cara da Lupi. Imagina ouvir todos os dias isso, e do
próprio marido: “não amo você, eu amo a sua irmã”, “você é culpada por
eu tê-la perdido” e sei lá quantas mais barbaridades que esse energúmeno
dizia a ela, mesmo a coitadinha estando grávida... até aquele trágico final.
Lupi sofreu demais. Eu entendo que o Paulo não estava bem
psicologicamente, ele viu o pai e o irmão morrer, perdeu tudo e se
encontrava num casamento obrigado e infeliz. Só que, não justificava
descontar na esposa. — Elena suspira. — Felizmente, é passado. Graças a
Deus deu tudo certo, houve a redenção, o perdão, o reconhecimento dos
erros e a promessa de um amor com um final feliz.
— Sim, graças a Deus. Ele ama muito a minha irmã, e a prova todos
os dias isso. É como eu e o Hoss, o Rael e Jolie e você e o Morcego.
— Não, igual a mim não, porque se hoje eu descobrisse que o
Ezequiel tinha uma amante do passado, a qual eu conheço e que faz questão
de me esnobar, eu já o tinha castrado e a matado sem pensar duas vezes!
Por isso, a Lupi tem que se vingar sim.
— É... no meu caso, eu já teria matado o Hoss... e aquela ruiva
infernal.
— Viu? Tem que ter vingança. E o ponto fraco deles é o sexo. É aí
que você tortura o macho.
Elena ri, mas concorda.
Continuamos conversando sobre vinganças. E mais tarde, no horário
de almoço, eu tenho o prazer de ver na cara do Hoss, Rael e Ezequiel o
ranço pela comida que eles detestam.
Os três me olham nervosos e comem só a travessa de salada com
arroz. Vince não estava, mas não faria diferença, pois aquele branquelo
azedo gosta de comer até pedra.
Ao anoitecer, fico frustrada pelo Ezequiel não estar me procurando e
me infernizando pelo meu perdão. Na verdade, esse infeliz me evitou e não
falou um “a” comigo o dia todo.
O que ele está pensando?
— Cadê a Lila?
— Ela se recolheu mais cedo hoje — Luiz informa.
— Mas ainda são 19h... — Até verifico a hora no relógio, para ter
certeza, entretanto, o Luiz me dá um olhar sugestivo, o qual nem fiz questão
de entrar muito a fundo. — É melhor deixá-la descansar... — resmungo e
peço licença.
Eu subo para o escritório do meu marido. Abro devagar a porta, só
para ver o que está fazendo, mas não encontro o dito cujo.
Onde ele está? Eu devia ter perguntado para o Luiz.
Ando o castelo todo, até encontrar uma luz acesa na academia. E
para a minha sorte, finalmente, vejo pelo vidro o dono dos meus orgasmos.
Meu gostoso está malhando e ficando ainda mais gostoso para mim.
É uma judiação essa pele morena dele, esse porte musculoso e essa
beleza que me pertence. Eu me apaixono todos os dias por esse deus grego.
Penso rápido numa forma de torturá-lo e acabo tendo certeza de que
preciso malhar também, de preferência, com uma sainha e um top bem
decotado.
Corro para trocar de roupa e voltar. Quando entro na academia finjo
que nem o estou vendo. Aumento o som dos fones e faço uns agachamentos
exagerados, só para empinar a bunda e exibir a calcinha. Troco de exercício
para treinar nos pesos e sou pega de surpresa, após o meu marido parar na
minha frente, com os braços cruzados e me fuzilando.
Fuzilo-o de volta.
— O que perdeu aqui? — Tiro os fones e pergunto.
— Não vou cair nos seus joguinhos de vingança, eu te conheço bem.
Está sendo insuportável.
Fico frustrada de novo.
— Fala isso, enquanto passa pelo seu período de um mês de
celibato!
Ele suspira, atrapalhando-me com a visão dos seus músculos
inchados.
— Se quer assim, ótimo! Você usa a porra dos seus vibradores e eu a
mão.
Ele vira as costas e tenta ir para o vestiário.
— Ezequiel!
— Não vou ficar me estressando com você, Hera. Por isso, discuta
sozinha.
— Você não age assim comigo!
— Ah, e como é provar do seu próprio veneno? — Ele vira
repentinamente e me faz bater contra o seu peitoral suado.
Ergo a cabeça, com vontade de matá-lo, mas ele é mais rápido e me
toma pela cintura, prendendo-me. Cheguei a perder as forças das pernas.
— Sabe que eu acabo com essa sua autoridade em segundos, dona
Calatrone. Sou o seu maior ponto fraco...
Ele aperta a minha bunda, afundando os dedos entre o fio dental,
sentindo a minha boceta.
Finco as unhas nos seus ombros, por pouco não gemendo.
— Não é o meu ponto fraco... — resmungo a pior mentira da minha
vida. E ele sabe que é.
Ezequiel sorri e morde a minha boca.
— Não, amor? Vamos ver...
Ele agora afasta o fio dental e esfrega os dedos, enquanto agarra os
meus cabelos e beija o meu pescoço.
Tento, falhamente, afastar-me, mas a verdade é que eu não consigo.
— Você está molhadinha, pulsando para sentir o meu pau dentro de
você.
Não aguento e deixo um gemido de prazer escapar.
— E você quer a minha boceta fodendo no seu pau... — falo e
aperto a sua ereção marcada pelo short de ginástica.
— Não, infelizmente não quero... — Então mordisca a minha orelha
e me solta.
SIM, ELE ME SOLTA!
Eu não me movo, fico estática, tentando entender de que forma eu
vou surtar e matá-lo de verdade.
Ezequiel tenta ir para o vestiário, mas eu vou atrás dele.
— Repete de novo! — Bato no seu braço, ainda mais frustrada e
com tesão.
— Não!
Ele está fazendo de propósito, só para me enlouquecer!
— Você sabe que está brincando com fogo!
Puta de raiva por ele estar se vingando, eu viro as costas e começo a
tirar minhas roupas. Fico nua e saio da academia.
— HERA!
Ele arregala os olhos e corre atrás de mim, enquanto eu caminho
para a área de descanso dos seguranças.
— Porra, sua...
Ezequiel me alcança, me pega pelas pernas e me joga nos seus
ombros.
Soco as suas costas.
— Me solta! Se não me quer, outro vai adorar comer a sua esposa!
— Cala essa maldita boca! Eu vou matar você! — Ele me dá um
tapa ardido na bunda, chego a gritar de dor.
— Cretino, infeliz!
Voltamos para a academia.
Após fechar a porta de vidro, ele me taca com tudo no tapete,
subindo em cima de mim e agarrando os meus cabelos.
— Você faz essas coisas para me ver surtar! — diz e me dá outro
tapa, não tenho nem tempo de gemer de dor, pois tampa a minha boca.
— HUMMM!
— Se algum segurança tiver te visto nua, eu vou meter uma bala na
cabeça deles!
Ele aperta os meus peitos, descendo a mão para a minha boceta já
melada e pronta para ser fodida. Eu sempre estou pronta para ele.
Abro um pouco da boca e lambo os seus dedos.
Meu homem se inclina, afasta a mão e quase me beija feroz, só que
desvio.
— Hera... — rosna, enquanto eu sorrio. — Sempre uma ninfeta
endiabrada.
Fito-o, vendo a excitação nos seus olhos.
— Sempre a ninfeta que você adora foder... eu te amo.
— Nesse momento o meu amor está convertido em te foder sem dó,
para te deixar assada amanhã.
— Disse agorinha que não me queria... — sussurro e entrelaço as
pernas nele, para roçar no seu pau duro.
— E ficou puta da vida com isso, agora, diz se eu não sou o seu
ponto fraco? — Ele lambe o meu peito, subindo a sua língua até o meu
pescoço.
Arrepio-me.
— É só tirar a prova...
Ezequiel me beija, penetrando a língua e mostrando o quanto me
deseja.
Eu puxo o seu short, por pouco não sentindo o seu pau, se ele não
tivesse me virado de cara para o chão e me dado uns tapas estridentes na
bunda.
— Ai, seu safado!
Empino a bunda de quatro e ele começa a me chupar, enquanto me
masturba com os dedos.
Rebolo na sua cara, gemendo ainda mais alto.
Sinto a sua língua molhada me lamber com vontade e antes que eu
gozasse, suas mãos grossas puxaram a minha cintura e ele se posicionou.
Primeiro pincelando a minha bocetinha com a cabeça do seu pau ereto.
Como amo esse homem gostoso!
— Soca logo, amor, está com dó?
— Mandona do inferno... — resmunga e soca de uma vez, quase me
desequilibrando.
Eu solto um gritinho, acostumando-me com a sua grossura terrível,
mas deliciosa.
Quero nem lembrar da nossa primeira vez, foi assim, eu me sentei
de uma vez e chorei sem parar, enquanto rebolava e era rasgada. Juro, fiquei
uma semana sem andar, tive que inventar um resfriado para não me levantar
da cama.
Eu olho por cima dos ombros para o meu marido e rebolo, com ele
dentro de mim. Não existe melhor sensação que essa.
Vejo-o fechar os olhos e começar a meter com força. É realmente
sem dó, do jeito que eu gosto.
A academia fica pequena para o nosso sexo violento, ligamos os
dois ares-condicionados no último e mesmo assim, suamos de pingar. Tive
que trepar nele, na esteira, depois contra o vidro e na cadeira, para cavalgar
igual uma amazona com sede de gozar.
Perfeito é pouco, como eu amo essas nossas aventuras. Já transamos
em todos os cantos possíveis e impossíveis, inclusive, na casa da árvore e
em cima do telhado do castelo.
— Te amo... — ele diz, beijando a minha mão e me pegando no
colo, para irmos até a ducha do vestiário.
— Eu amo vocês dois, mas o meu segundo marido mereceu mais o
meu amor hoje. — Aperto o seu pau.
Ezequiel ri e belisca o meu traseiro.
Roço nele, retribuindo o seu beliscão.
— Ainda vou terminar de te comer no chuveiro...
Arregalo os olhos, negando.
— Nem pensar, já estou ardendo. Às vezes você esquece que tem
dois metros de uma segunda perna entre as suas coxas!
— É? Não disse que ama o seu “segundo” marido, aguente-o, dona
Hera.
Olha que...
Nem respondo, aceito o meu papel de esposa exemplar e recebo essa
última trepada da morte, antes de eu ficar assada e bem satisfeita...
No dia seguinte, com a cabeça focada em outra coisa importante, eu
pego o meu notebook e vou para a área de lazer verificar um e-mail de
trabalho. Depois de quase um mês eles me responderam, dizendo que eu fui
contratada.
— Humm... que sorrisinho é esse?
Hera aparece, com seu chapéu de sol e segurando a sua cachorrinha
de raça.
— Ah, é o meu sorriso de felicidade, consegui um trabalho em
home-office. É para ser desenvolvedora de um site de apostas on-line. Vou
criar comandos e manter o site.
— Uau, que bom, Lila. Realmente gosta dessas coisas. Parece até o
Vince, só que do lado certo, não sendo um hacker.
Sorrio.
— Bom, vou te deixar com o seu novo trabalho e dar uma voltinha
com a Cacau. — Ela beija a cachorrinha. — Quero ir lá na casa da Elena
ver as crianças, Pétala está doentinha e Henry machucou o pé subindo em
cima do aparador. Mas já está tudo bem.
— Nossa, que bom que já está tudo bem. E acho que eu vou com
você, para andar um pouco.
Fecho o computador e saio caminhando com a Hera.
A casa do Hoss e da Elena fica uns dez minutos do castelo, assim
como a da Jolie e do Rael. O que muda é que uma casa está ao sul e a outra
ao leste, bem perto da praia. E todas são mansões luxuosas, de tirar o
fôlego.
Passamos o dia com a Elena e a Maria, mimando o Henry e a bebê.
Só mais tarde, por volta das 17h que voltamos para o castelo. Maria
veio junto.
— Onde o Vince está, Luiz? Ele já chegou?
Entramos na sala e ouvimos o Rael perguntar ao mordomo sobre o
Vince.
Só de ouvir o nome dele eu já fico estremecida, com medo de pensar
nos nossos momentos quentes e alguém ler a minha mente suja.
— Ainda não voltou, mas ligou pedindo para eu preparar a mesa do
jantar com um lugar extra.
— Como assim? — Hera entra na conversa, enquanto eu e a Maria
nos jogávamos cansadas no sofá.
— Também não sei de nada, Sra. Hera. O seu primo Calatrone
apenas ligou e fez esse pedido.
— Juro que vou matar aquela água de arroz! — Rael exclama bravo.
— O dia todo fora de casa, sem dar o ar da graça para cumprir suas
obrigações com nossos cobradores! Será que ele esqueceu que estamos sem
o nosso tio? Aquele arrom...
Hera dá um tapa no Rael.
— Rael!
— O que foi, merda? Deixe-me extravasar o meu furor, sua
formiguinha!
Ele leva outro tapa.
Resolvo deixá-los “conversando” e subo para tomar um banho.
Volto em meia hora, agora, para me juntar a Jolie, a Hera e a Maria.
Combinamos de fazer um cinema depois do jantar.
— Hoje, Hoss, Rael e Morcego passaram o dia todo enfiados
naquela sala de reuniões.
— Bem-feito, ainda estou brava com eles, por não terem me avisado
sobre o meu pai, antes de ele ir embora do castelo.
— Mas não mudaria nada, Hera, você querendo ou não, seu pai iria
de qualquer jeito.
— Isso é verdade — concordo.
— Mudaria sim, pois eu o infernizaria para saber aonde estava indo
pelo menos.
— Por isso ele não te disse. — Maria sorri.
— Vocês são tudo traíras! — Hera nos fuzila.
Enquanto esperávamos o jantar, rindo e fofocando, o Vince
apareceu.
— Onde estava? — Hera é a primeira a questioná-lo. — Seus
irmãos estão bravos, te procuraram o dia todo.
Eu o olho, igual boba derretida pela beleza desse homem.
— Conte-me uma novidade, quando esses cães com sarna não estão
raivosos? E antes de qualquer coisa, quero apresentar uma pessoa a vocês.
Um minuto...
— Quem será...
— Não sei... — elas cochicham.
Vince vai ao hall de entrada e então retorna, revelando uma pessoa.
Abro a boca, sem reação.
Ele entrelaça a sua mão na dela e pisca, sorrindo para nós, que
estamos boquiabertas.
Hera, Jolie, Maria e eu, nos olhamos.
— Essa é a Amélia, minha futura noiva.
O quê?
Não tenho reação, nenhuma de nós!
Meus olhos ardem instantaneamente, meu coração dói mil vezes
mais, é como se alguém estivesse o apunhalando com uma adaga, e sem
parar, em arremetidas rápidas e dolorosas.
Observo essa mulher, de cabelos castanhos, cacheados, olhos claros
e de corpo definido. Ela parece que saiu de uma capa de revista sexy... é
bonita, elegante e sorri para todos, tentando parecer o mais agradável
possível.
— A-A gente... bem... — Hera chega a perder a fala e gagueja,
ainda sem formular o que dizer.
— É um prazer conhecê-la, eu sou a Jolie. — Jolie reage e se
aproxima para cumprimentá-la.
Maria me olha, como se estivesse percebendo o desespero nos meus
olhos.
Não posso acreditar que seja futura noiva dele.
De onde o Vince tirou essa mulher?
E assim, do dia para o outro?
Minha vontade é de sair correndo daqui e chorar.
— Eu estou muito surpresa, Vince. — Hera consegue voltar os
sentidos para o lugar. — E, prazer, Amélia... eu sou a Hera, prima-irmã do
Vince.
— Prazer em conhecê-las.
Após a sua resposta e os apertos de mãos, ficamos num silêncio
constrangedor — aliás, eu não apertei a mão dela, não fiz questão nem de
me aproximar.
— É... Vince, podemos conversar um minutinho, querido? — Hera
sorri fraco, também, querendo entender de onde ele surgiu com essa mulher.
— Mais tarde, priminha. — Ele pisca de novo. — Em resumo, eu
vou oficializar o meu noivado com a Amélia no domingo.
— O quê?! — Hera exclama e Jolie dá uma cotovelada nela.
Os dois se olham igual um casalzinho sorridente e apaixonado.
Ele mentiu que tinha alguém...
Eu aperto os punhos e sinto os meus olhos arderem.
Vince parece não me ver, parece que eu não existo e que não estou
do lado da Hera.
Ele não se importa... eu fui só mais uma...
— Ah, sim. — Jolie pigarreia. — Sente-se, Amélia, sinta-se bem-
vinda.
Bem-vinda por quem? Eu quero matar essa mulher, depois matar o
Vince!
Chega disso!
Sem aguentar a dor no meu peito, simplesmente viro as costas e saio
sem dar satisfação a ninguém.
Atravesso o segundo hall e corro para o jardim, para me sentar em
um dos bancos e chorar... de raiva, decepção, angústia. Eu choro, prestes a
berrar.
— Lila?
Ouço a voz da Maria.
Limpo rapidamente as bochechas e me levanto.
Ela me vê e corre na minha direção.
— Tudo bem?
— S-sim, eu vim atender o telefone — digo, com a voz embargada,
erguendo o celular, para ela ver e acreditar em mim.
— Hum... eu não ouvi o seu celular tocando. — Maria chega mais
perto.
— Vibrou, estava no silencioso.
— Ah, tá... achei que...
— Que nada, está tudo bem. — Sorrio, dando o melhor de mim para
voltar ao normal.
— Achei que fosse por causa do Vince — a espertinha finalmente
fala, sem nem desviar dos meus olhos.
Sorrio novamente, agora, debochada.
— Por causa do Vince? Não faz sentido, me conte uma piada
melhor.
— Não faz sentido, tem certeza?
Pigarreio e olho para o horizonte escuro.
— Lila, não disfarça, eu sei que você é apaixonada pelo meu tio.
— Maria Calatrone! — exclamo. — Retire o que disse!
— Eu não vou reiterar o óbvio. Sempre soube que era apaixonada
por ele.
— Não sabe de nada, só tem 10 anos — resmungo.
— Minha flor, e com 10 anos você acha que eu sou inocente? A
internet está aí, para me ensinar de tudo, de ruim e de bom.
— Pois eu informarei isso ao seu pai e ele cortará a sua internet.
— Sua chata! Estou aqui, sendo a sua amiga. Não vem descontar
nada em mim não. Ficou com ciúmes do tio Vince e com vontade de matar
aquela mulherzinha estranha, parece uma melancia podre, feiosa. Uma
ridícula.
— Meu Deus, chega disso, vamos entrar, Maria.
— Está fugindo da verdade.
— Está delirando, o seu tio e eu somos... — Paro, sem conseguir
dizer.
— Primos? — ela blefa e dá de ombros. — Primos de sei lá quantos
graus, né? Isso nem importa. Tipo, a rainha Elizabeth de Londres é casada
com o primo dela também, e atualmente...
— Não, não aceito estar conversando essas coisas com você. Só tem
10 anos!
Saio andando, e ela vem atrás de mim.
— Não vou aceitar é esse noivado idiota! Tio Vince não vai ficar
com essa mulher, escutou, Lila? — ela fala, determinada, como se tivesse
poderes para impedir alguma coisa.
Queria ser assim como ela, uma adolescente sonhadora, boba,
inocente. Aliás, eu fui.
Como posso continuar apaixonada pelo Vince, e na mesma
intensidade de quando eu tinha 16 anos?
Eu quero chorar mais e mais.
Acho que fui uma tola, uma idiota! E me entreguei para ele, nos
beijamos, fizemos sexo, Vince tirou a minha virgindade. Agora, sinto ter
levado um banho de água fria, porque eu queria um conto de fadas... queria
que fosse para sempre.
Como fui tola, como fui iludida! A realidade é horrível!
Volto para dentro, para enfrentar a todos, mas com Maria ao meu
lado. Ela fica a todo instante apertando a minha mão e falando comigo.
Seus olhos leem a minha alma, entendem o meu interior.
Como essa menina pode ser assim?
Na hora do jantar, o lugar extra a qual Vince havia pedido, era para
ela, a sua “futura noiva”.
Que vontade de vomitar, depois tacar um garfo no meio da testa
dele.
Rael e Morcego souberam há pouco da notícia e não puderam
quebrar a cara dele, devido a essa tal de Amélia presente entre nós. O
silêncio constrangedor durante a refeição também explica muita coisa.
Todos foram pegos de surpresa, literalmente.
Já eu, não consegui olhar nem na cara do Vince, em nenhum
momento, para que não visse o quanto estou afetada e magoada. Janto
olhando para o meu prato e engolindo a vontade de chorar junto.
Meu alívio é só quando todos terminam de comer, vão para sala e eu
consigo sair de fininho, sem ser percebida, para entrar no meu quarto,
trancar a porta, me jogar na cama e chorar, como se não houvesse o
amanhã.
Por que o amor tem que ser assim? Por que um tem que sair
sofrendo por dois?
Que dor, que decepção — choro, engasgando-me com as lágrimas.
Eu te amo, Vince... eu queria que fosse o meu primeiro para sempre.
Rael e Morcego conseguem me tirar de todo o jeito da sala
principal. E sem escolha no caralho da minha vida, acompanho-os para a
sala de chás, e quando entro, o Rael bate a porta.
E que comece a festa...
— Vince, quem é aquela mulher? — Rael esbraveja a pergunta.
— Que isso, minhas senhoras, mais calma com o bebê aqui.
— Eu não estou para brincadeiras, seu polaco azedo!
— Não posso acreditar que levou à risca o que disse na quinta-feira,
sobre casar-se com qualquer uma! — Morcego resmunga.
— Amélia não é qualquer uma — digo, indo até a cristaleira, pegar
um copo e me servir de umas das bebidas ao lado.
— E quem é ela, qual é o seu sobrenome?
— Não se preocupem. Ela é uma ex-modelo, que arrumou um
empréstimo clandestino comigo há uns dois meses e em troca, para ela
pagar a sua dívida, a pedi em noivado, sem chances de recusar, assim
estaria quite.
— O QUÊ?!
— Algum problema?
— Isso só pode ser brincadeira. Você não ama aquela mulher! A
conhece só há dois meses e fez uma merda de proposta! — Rael fala.
— Hera tem razão, Vince não está nada bem dessa porra de cabeça!
Hoss vai acabar com a sua raça! — Morcego tenta chegar perto de mim, e
eu pego a arma, destravando e mirando neles.
— Não se metam na minha vida, eu sei muito bem o que estou
fazendo, tenho 30 anos! — Eles param no mesmo lugar, furiosos. —
Amélia é a mulher certa para mim, ela é inteligente, bonita e gosto da sua
companhia. Sei que posso criar esse tal de amor, que vocês falam tanto, por
ela.
— Isso não acontece assim. Nenhum de nós escolhemos as nossas
mulheres, não escolhemos essa porra de amor! Aprendemos a amar, a não
viver um dia sem elas! E eu sei o que está acontecendo, aqueles meses na
prisão te machucaram, te fizeram pensar demais na falta da família,
principalmente, em querer uma família matrimonial, esposa, filhos... —
Ouvir o Rael falando, fez o meu coração disparar e os meus olhos arderem,
ao lembrar de como foi passar os dias naquela cela fria, longe de todos que
eu amava... e sem ter alguém para me amar, como nosso pai, nossa mãe,
meus irmãos...
Abaixo a arma, e Rael se aproxima, para me abraçar.
— A gente te ama, e sofremos também sem você. Não queremos
que aja assim.
— Eu estou bem, juro que Amélia é a pessoa certa para mim. Eu
gosto dela, posso me apaixonar de verdade, pois quero isso.
Eles suspiram.
— Não estamos contra qual mulher arrumar para a sua vida, ok? Só
não seja precipitado ou desesperado. Vá devagar, namore, curta o momento.
É novo, irmão.
Nego com a cabeça, tendo certeza do que quero.
Eu quero ter uma família, com uma mulher ao lado...
Eu quero ter alguém...
Eu quero experimentar esse amor que os meus irmãos e as suas
esposas sentem, e a consequência desse sentimento, do tamanho de um
anãozinho, correndo por aí, com os primos e me chamando de pai. É só o
que quero, ser feliz, fazer sentido nessa terra.

Após o jantar, levo a Amélia até o apartamento dela e volto uma


hora da manhã para casa, dirigindo devagar, com uma música no rádio e
com o meu cérebro fodendo a minha cabeça ao pensar naquela garota.
Que inferno, ficar sozinho é o meu pesadelo.
Eu não devia pensar, eu preciso controlar esses desejos do diabo.
E foi melhor assim, agora a Dalila sabe que momentos como ontem,
não vão mais acontecer.
Durante os dias, a consequência da anunciação do meu noivado foi a
minha família fofocando pelos cantos. Hera, Hoss e todos, tentaram
questionar várias vezes a minha escolha, o meu coração, e esse tal de amor.
Repeti que posso aprender a amar outro ser humano.
E eu posso, é claro que posso. É só escolher a pessoa certa, e a
Amélia é a mulher certa. Inclusive, a trouxe todos os dias para o castelo,
para se sentir bem-vinda e a minha família se acostumar com ela. E acho
que estão, já que a Hera, Elena e Jolie a tratam muito bem. Ao contrário da
Lila, que se afastou de mim e sequer olha na minha cara. Ela não participa
das nossas rodinhas de papos e implicâncias, principalmente, quando a
Amélia está presente. Queria meter um foda-se nessa situação, fingir que
não me importo, mas eu me importo com a minha garota loira. Ela é e
sempre será uma pessoa importante para mim. Lila é a minha amiga.
— Queria que a Lila viesse tomar vinho conosco, anda muito
estranha... — Jolie sussurra, após ver a Dalila passar com o seu notebook do
outro lado da piscina.
Maria me olha feio, arqueando a sobrancelha e me fuzilando.
E de novo, franzo o cenho para as reações dessa piolhenta evoluída.
Faz uma semana que ela está me tratando pior do que um cachorro, ainda,
vive dando farpadas em mim.
O que está acontecendo? Eu sempre fui o seu tio preferido e
maravilhoso.
— Ela está muito focada no novo emprego em home-office — Hera
explica.
— Noite e dia, que não consegue nem estar conosco? — Elena
indaga.
— Deixe-a, depois conversamos em família...
— É, em família, sem pessoas indesejadas — Maria murmura e olha
para Amélia.
— Maria! — Elena a adverte.
Amélia sorri fraco.
Eu aperto a sua mão, rindo da minha sobrinha.
— O que está acontecendo com a barbiezinha do castelo, é a fase
insuportável dos pré-aborrecentes?
— A fase de eu ter mais inteligência e miolos que você, tio Vince!
— Nossa, vejam só. — Cruzo as pernas, como um Einstein do
deboche. — Incrível a evolução das crianças, lembro de você uma anãzinha
piolhenta, dizendo “mirolhos”.
— Vince! — é a vez da Hera me repreender. — Não comece a
implicar com a menina.
— Tio Vince, eu quero que vá para o inferno!
— Maria, que coisa feia de se dizer!
— E vá para o inferno você e essa feiosa aí! — ela responde de
novo.
— Sua respondona! Maria Calatrone, não vire as costas para mim!
Elena se ergue e Maria vira as costas, correndo emburrada e brava.
— Meu Deus, o que está acontecendo com essa garota?
— Não nega o sangue do pai mesmo... — Jolie comenta e vira o seu
vinho tranquilamente, numa única golada.
— Eu já disse que os piolhos sugaram o cérebro dela quando era
criança.
— Vince, chega, amor... — Amélia fala, mas no fundo, sempre
achando graça do que digo. — Maria é um doce de menina, deve ser
realmente uma fase da pré-adolescência, começa entre os 10 e 14 anos.
— É o que parece, mas acredito que seja ciúmes do tio dela — Hera
revela, olhando-me.
— Céus, será ciúmes de mim?
— É claro que é, Vince, ainda fica a tratando assim, com essas
brincadeiras e implicâncias. Maria começou a ter esse comportamento
depois que assumiu a Amélia.
— Realmente, pode ser ciúmes, por eu estar “roubando” o seu tio
querido — Amélia explica. — Converse com ela, amor, diga que não vou
pegar o seu lugar no coração do titio.
— Sim, converse com ela, não aguento mais tanta rebeldia. — Elena
se deixa cair no sofá e antes que eu e ela pudéssemos disputar a bandeja de
bolo, a Jolie foi mais rápida que nós e tomou a mesa.
— Misericórdia, Jolie, você encarnou a entidade esfomeada do
Vince?
— Vince que peça mais bolo para ele, minha fome é maior... —
resmunga de boca cheia.
Elena e Hera se olham demoradamente.
— É, acho que a nossa árvore vai crescer mais um pouco.
Jolie, nem eu, entendemos o sussurro delas, pois entro em guerra
contra essa ex-mafiosa, para conquistar a minha bandeja de bolo, que ela
furtou. Mas desisto, por enquanto, após essa mulher assustadora me dar um
olhar de dez leoas protegendo a sua carne recém-caçada em meio da savana
africana.
Que porra, eu tenho amor à minha vida. Ninguém se mete com Jolie.
Quem é o doido?
Pensando na doçura chamada Maria, eu vou atrás da diabinha na sua
casinha de bonecas no jardim. Essa casa não é uma das minhas preferidas,
pois os biscoitos são de mentira, o suco é água e ainda preciso aguardar dez
bonecas na minha frente para comer. Sem falar, que a dona da casa me
obriga a lavar louça, mesmo eu tendo dinheiro para pagar.
— Maria, cotoquinho do meu coração... — Bato na portinha rosa,
mas ela não me atende. — Eu sei que está aí, abre para o seu tio preferido.
— Eu não estou, vá embora!
Veja só, ela é muito inteligente.
— Então, eu vou me sentar aqui no chão e esperar, até você abrir.
Espero uns cinco minutos, e ela abre, brava, de braços cruzados.
— Não quero falar com você, tio Vince.
— Mas já está falando, amor da minha vida. — Ergo-me e a encaro.
— Por que está assim, tão brava comigo? É por causa da Amélia?
— Hum! Não quero aquela mulher chata!
— Ela não é chata, dê uma chance para conhecê-la. Será a esposa do
tio, a verá sempre no castelo.
— Não, não! Ela não é bem-vinda, nunca vou gostar dessa mulher!
Ela não é para você!
— Prometo que vai se acostumar, é só dar uma chance para
conhecê-la melhor. Verá que é uma pessoa boa.
— Não, ela não vai se casar com você! Quero aquela ridícula longe
do castelo! — exclama e volta para dentro da casinha, batendo a porta bem
na minha cara.
Respiro fundo.
Maria está irredutível, vai ser difícil até se adaptar a Amélia, mas sei
que vai...
Eu fecho o computador e olho para o meu celular e o número do
Marcos discado na tela. O tanto de vezes que eu quis apertar e ligar, mas
sempre penso no meu tio Paulo, na tia Lupita e nas crianças. Preciso
encontrar uma alternativa para descobrir quem é a minha mãe. E sozinha,
não contarei com o Vince para mais nada.
Viro o rosto e observo de longe a mulherzinha dele, toda sorridente.
Aperto os punhos, revoltada, frustrada. Mais tarde ligarei para o tio Paulo e
avisarei sobre a minha mudança definitiva para o meu novo apartamento.
Não consigo mais viver nesse castelo, pensando nesse homem, chorando
por ele e me sentindo infeliz.
Antes que Hera, Jolie ou Elena viessem me encher de perguntas
novamente, sobre o meu comportamento, retiro-me do jardim. Vou para o
meu quarto, me arrumar e ficar uma puta gostosa para beijar e transar com
alguém esta noite.
Não vou ficar mais chorando por macho, igual a uma adolescente
boba. Já tenho 22 anos, uma mulher! Preciso experimentar outros corpos,
outras bocas. Principalmente, superar esses sentimentos patéticos.
Arrumo-me e saio quietinha do castelo, vou para a boate Fogo,
beber, dançar e deixar que os homens deem em cima de mim.
— Como você é gostosa... — Um cara me pega por trás e começa a
apalpar a minha bunda, os meus peitos, enquanto danço.
Bêbada e tonta, tento gostar dos toques, mas não consigo e resolvo
afastar as mãos do maluco tarado.
— Não quero, dá para tirar a mão?!
— Você não ouviu? Tira as mãos dela ou eu mando chamar os
seguranças. — Uma mulher ruiva aparece, salvando-me do tarado.
Ele me solta e sai xingando nós duas.
— Obrigada... — Olho para ela e agradeço.
— Você já bebeu demais, é melhor ir para casa, Dalila.
— Sabe o meu nome?
— É claro, eu sou uma das meninas da boate, sei que faz parte da
família Calatrone e dos Bor...
— Não, não diga. — Aperto o seu braço. — E quero ficar aqui,
ainda não beijei ninguém.
— Então hoje o dia não é de muita sorte para você, vem, vamos até
o bar.
Ela pega a taça da minha mão e me leva para o canto. De novo, sinto
a minha cabeça rodar.
— Por que não seria o meu dia de sorte?
— Porque está muito bêbada e se acontecer algo com a senhorita, a
culpa recairá nos responsáveis pela boate, e os Calatrone não costumam ser
muito piedosos com quem não é familiar deles... — ela fala e vira a minha
taça de bebida.
— Eu não os vi sendo impiedosos... — murmuro, encostando-me no
balcão.
— Ah, e como são. Uma das nossas meninas estava passando
informações de fora e... bem, nunca mais a vimos por aqui. Sem falar da
forma que executam os devedores, são cruéis, excitantes. — Suspira.
Eu coloco as mãos no rosto, quase desmaiando com a minha cabeça
zonza.
— Dalila, acho melhor ficar nos aposentos do último andar. Amanhã
você vai embora.
A mulher ruiva me pega pelo braço e me leva para esse andar. Mal
reparei no local, só vi as coisas como flashes, antes de me deitar numa cama
e apagar, de tão cansada e fora de mim.
Durante a madrugada, com o ambiente escuro e abafado pelo
barulho da boate lá embaixo, eu acordo sentindo uma mão nos meus pés.
Pisco os olhos repetidamente, despertando-me para olhar ao meu redor com
mais atenção. E acho que vejo a sombra de um homem alto.
— Quem está aí? — sussurro e tento me erguer, para encolher as
pernas e me sentar.
A pessoa então acende a luz do abajur, e eu consigo ver quem é.
— V-Vince?
— Por que está nesse quarto, Dalila?
Engulo em seco, arrepiada e mexida com um milhão de sentimentos
fora do lugar. Não esperava ver o Vince, nem falar diretamente com ele. Faz
dias que não faço questão de olhar nem na sua cara.
— Não te interessa, vou embora... — resmungo, tentando sair rápido
da cama, mas minha cabeça volta a girar e me seguro na cortina, antes de
cair de volta no colchão.
— Está bêbada, é melhor que fique aqui mesmo e descanse.
— Não vou ficar porque você quer! Não manda em mim! E sai
daqui, some da minha frente!
— E eu vou embora se eu quiser.
— Então foda-se, eu vou.
Volto a me levantar, tento pegar a bolsa, mas quando me inclino no
chão, quase caio de novo, de cara para o chão, se o Vince não tivesse me
agarrado e me segurado.
Sinto o seu toque na minha cintura, o seu corpo tão próximo ao meu
e o seu perfume amadeirado.
Minha vontade de chorar retorna.
Olho para ele, para o seu rosto bonito, a sua barba, os olhos claros e
o cabelo num corte social bagunçado. Seus traços sérios e sorriso torto
escondem o seu ar brincalhão, tornando-o sexy e sedutor. Ele é tão lindo,
parece um deus vivo.
— Não me toca. — Afasto as suas mãos, e ele se distancia.
Só que no fundo isso me dói, pois não queria que ele se afastasse de
verdade. Eu queria que o Vince me tomasse forte, me beijasse e me
enchesse de prazer a noite inteira.
— Lila... saiba que somos amigos, que é importante para mim.
Meus olhos ardem.
— Não somos mais amigos, não somos mais nada.
— Sempre fomos amigos, jamais vou abandoná-la.
— Já fez isso... — Fito-o, sem conseguir disfarçar os olhos
marejados e evitar as lágrimas que escapam uma atrás da outra. — Ser a sua
amiga nunca vai funcionar, p-porque eu sou apaixonada por você, sempre
fui. Eu penso em nós dois 24 horas por dia! E não aguento mais sofrer,
escondendo esse maldito sentimento sem reciprocidade!
Ele abre a boca, dando mais passos para trás.
— Merda, nos envolver foi um erro. Eu não devia ter cedido a porra
do desejo... as suas provocações.
— É isso o que vai dizer?
— Eu fiz uma grande burrada, eu devia ter imaginado. Não queria
que estivesse sofrendo, que estivesse magoada comigo. Eu não queria que
nada disso tivesse acontecido.
Choro, ainda mais despedaçada por ele.
— Deixe-me, finja que o que aconteceu nunca existiu, não se
importe, não tente ser meu amigo. Volte para a sua noiva. Não atrapalharei
mais a sua vida perfeita!
Crio forças para pegar a bolsa, os saltos e sair correndo.
— Lila!
Entro no elevador ainda sem vê-lo. Na boate, caminho tonta e
trombando nas pessoas. Não, não vou deixar que me veja ainda mais
vulnerável e chorando!
Eu não devia ter confessado que era apaixonada por ele, eu não
devia! Como fui uma idiota!
Volto a correr novamente. Entro no meio da rua, quase sendo pega
por um carro. Arregalo os olhos, assustada e desorientada. Tento voltar para
a calçada, mas outro carro aparece, com os faróis altos. Ele derrapa no
asfalto, tentando frear em cima de mim, mesmo assim, bate contra o meu
corpo e me arremessa para longe. Sinto o impacto no chão, a minha cabeça
é a primeira a se chocar com força, depois os ombros e as pernas, que
rolaram até parar no meio-fio.
Pisco devagar as pálpebras, para ficar acordada. Só que dói, tudo dói
muito.
— DALILA!
Alguém grita por mim e tenta me tocar. Não consigo ver com nitidez
o seu rosto, mas pude ouvir o meu nome e saber quem era.
— Não a toque, senhor... aguarde a ambulância!
Ele aperta a minha mão.
— Lila, por favor, me desculpe, me perdoe, por favor! Meu Deus,
faça alguma coisa! Isso é culpa minha! — Ele chora.
Tento olhá-lo, dizer algo, porém, não tenho forças para continuar
acordada, é como se a minha consciência estivesse se esvaindo aos poucos,
sem suportar também a dor física.
E tudo fica escuro...

Eu choro feito uma criança sobre a Lila e o seu corpo estirado no


chão, cheio de ralados e sangue.
Ela não responde! Dalila fechou os olhos!
— Lila, por favor, acorde, não pode fazer isso comigo! — grito,
culpando-me.
Rael e Igor apareceram minutos depois, enquanto os socorristas a
colocavam desacordada na ambulância. Nenhum deles me seguraram.
Acompanhei a Lila até o hospital e só me separei dela, após
chegarmos e os enfermeiros me impedirem incessantemente de subir. Rael e
Igor também tiveram que me arrastar para fora.
— Vince, meu Deus, o que houve?! — Jolie surge na recepção,
correndo até mim.
Hera, Elena, Morcego e Hoss vêm atrás.
Eles perguntam o que aconteceu e eu explico, sob olhares
desconfiados e desesperados. Depois disso, não fazem mais perguntas.
Entretanto, eu sei o que estão pensando. A porra do motivo da Lila ter
sofrido o acidente, após estar sozinha comigo na boate!
— Vem aqui... — Rael aperta o meu braço e me leva para o outro
canto.
— Eu não preciso do caralho de sermões!
— Pois eu darei, seu infeliz! A nossa gerente disse que estava
sozinho com a Dalila na suíte do último quarto, horas depois ela a viu
saindo e correndo para fora, antes do acidente. O que está acontecendo?
— Nada, eu fui para a boate e a encontrei bêbada na suíte,
discutimos e ela correu! Foi isso, Rael!
Meu irmão aponta o dedo na minha cara.
— Eu sei que a Lila tem sentimentos por você. E não se esqueça da
cena constrangedora em que pegamos os dois há cinco anos. E só eu e a
Hera sabemos disso, nem para a minha mulher eu contei! Mas se você
estiver brincando com os sentimentos dessa menina, eu juro que te entrego
para a Jolie, o Paulo e deixo ambos acabarem com a sua raça! Esteja
avisado!
Desnorteado ainda com as imagens do acidente da Lila e a falta de
notícias, fico sem forças para discutir com o Rael. Sinto a culpa e o fundo
de verdade, sobre eu ter me relacionado com ela, agora, a machucado mil
vezes pior.
Rael vira as costas e me deixa sozinho no corredor. Chuto a parede,
tão puto e fora de mim.
Mas volto para o meio da família e somos avisados pela médica que
a Lila já está acordada e passando por uma bateria de exames,
principalmente, na cabeça. Ela teve alguns ferimentos profundos e uma
entorse forte no joelho esquerdo, que a imobilizará durante algumas
semanas. Jolie foi a única permitida de subir, para ser a sua acompanhante.
Eu respiro aliviado, por saber que a Lila já recuperou a consciência
e que não teve nada grave. Por enquanto, já que ainda estão fazendo os
exames na cabeça.
— Meu Deus, como esse acidente pode acontecer justo com a Lila?
Ela é uma menina tão maravilhosa, dócil, que já passou por tantas coisas
tristes na vida...
Fico sentado no sofá da recepção, olhando para o teto branco e
ouvindo a Elena e a Hera conversarem com pesar.
Rael e Hoss tiveram que voltar para o castelo, para cuidarem dos
negócios da agiotagem. Eu, Morcego e mais três seguranças, ficamos, para
fazer a segurança das mulheres.
Morcego senta-se ao meu lado, mas sem dizer nada.
Eu permaneço quieto, em silêncio, pensando na minha garota loira.
Queria vê-la, pedir desculpas... sou culpado por esse acidente que
quase tirou a sua vida. Sinto vontade de chorar, de berrar essa culpa
dilacerante.
Amélia me liga, mas não consigo atender as suas chamadas, apenas
retorno uma mensagem com um “tudo bem, depois nos vemos e
conversamos”.
Se passam mais de duas horas, até a Jolie aparecer com notícias
boas. Ela diz que os exames saíram e não deram nada grave, entretanto, Lila
está sentindo muita dor de cabeça, dor nos ferimentos e, principalmente, no
joelho, mas que pode receber alta esta tarde, pois Paulo está desesperado
para tirar a sobrinha do hospital.
— Por que ele quer tirá-la tão depressa daqui? — Elena questiona.
— Porque ele acha que isso foi outro atentado contra o seu
sobrenome, desta vez, usando a Dalila. Enfim, Paulo está lá, furioso e cheio
de paranoias.
— Não dá para deixar de criar "paranoias", ele é um Borghi —
Morcego acrescenta.
— Bom, não sei, mas vamos preparar tudo para a alta da Lila, ela
ainda está muito debilitada e dolorida.
— Temos dois médicos há mais de dez anos trabalhando para os
Calatrone, vou pedir para um deles se prontificar aos cuidados dela — Hera
informa.
Ainda estou sentado, com vontade de dizer algo, mas nada sai.
Jolie me olha, encarando o fundo da minha alma pecadora.
Ela, assim como a Hera e a Elena, já devem estar desconfiando de
algo.
Foda-se, eu tenho problemas maiores com o meu psicológico na
merda. E eu concordo com o Paulo, se a Lila não está com o seu quadro de
saúde grave, graças a Deus, então devemos tirá-la o quanto antes desse
hospital, não é seguro. Ela será mais bem tratada em casa —, mas não digo
isso para os meus familiares. E mais tarde, por volta de umas 16h00
conseguimos a alta para Dalila ir embora.
É tudo cuidadoso, o transporte para levá-la medicada, o momento
em que chegamos em casa e a instalamos no seu quarto. O médico
solicitado pela Hera também chega para ficar no castelo. É um amigo da
nossa família, seu falecido pai também era médico dos Calatrone.
Por fim, destruído com as imagens da Lila toda machucada, eu
desabo sozinho.
Queria falar com ela, mas não posso, não nesse momento que está
debilitada e magoada comigo.
Eu fui o causador do seu acidente, a culpa foi minha!
— Vince! — Rael bate à porta, quase a derrubando.
Abro e dou de cara com a cara de rato deformado.
— O que foi, cacete? Não pode ficar umas horas sem mim que já
sente saudade? Não tem mulher para foder não?
Rael dá um soco leve no meu braço.
— Está preso neste quarto, vim conferir se não morreu. Inclusive,
reage, pois tem suas obrigações redobradas na ausência do nosso tio.
— Apenas à noite temos serviços. E vou descer para comer.
— Eu acabei de vir lá de baixo... para me controlar e não dar uns
tapas no traseiro daquela mulher.
— O quê? — Franzo o cenho. — Crise de lençóis? Avisa a Jojo que
meu quarto está aberto para consolá-la.
— Eu vou te matar, bosta de lhama!
Rael me dá um soco forte.
Porra e esse doeu, tive que fazer o ombro voltar para o lugar.
Acompanho o meu irmão para baixo, e com a Lila o tempo todo nos
meus pensamentos. Vejo o Paulo sentado no sofá, conversando com a Jolie,
a Hera e o médico — e pelo jeito, o furor do Rael é pelo médico ser
ajeitadinho e pela Jolie, incluindo a formiguinha, estarem dando toda
atenção para o doutor. Bem-feito, mais tarde, quando estivermos a sós, vou
me acabar de zombar da cara dos cavalos selados por aliança.
Eu me finjo de fantasma para não ser visto.
— Como está a Dalila? — Após o Rael se separar de mim, consigo
achar o Luiz na cozinha e questioná-lo.
— Dormindo sob medicamentos.
— Ah, sim... — Pigarreio, nervoso.
Luiz me observa, parece que ele e todos sabem da verdade, do que
houve entre mim e a Lila.
Que inferno, eu vou me jogar no rio com uma pedra no pescoço,
assim os julgamentos acabam!
— Posso saber aonde está indo? — Jolie me pega desprevenido
perto da escada.
Pronto, aqui é o meu fim...
Sorrio fraco, tentando esconder o meu desespero interior. Essa
mulher é arrepiante, eu preferia enfrentar mil Hoss a ela. Parece que a
qualquer momento vai meter um tiro no meio da minha testa.
— Eu estava voltando da cozinha, querida cunhada, indo em direção
a vocês na sala, para saber notícias de nossa Lila.
Jolie cruza os braços.
— Vince, não sou cega, nem despercebida para não notar os
sentimentos dela por você, há anos, inclusive. — Jolie é completamente
direta e sem paciência. — E pela sua cara inerte a surpresa, também deve
saber.
— Talvez ela tenha confundido nossa amizade e meu cuidado como
um irmão. Que culpa eu tenho?
— Nenhuma, mas ela estava com você na boate.
— Rael já deve ter contado que a encontrei no quarto. Quando
cheguei na boate, a ruiva disse que Lila havia passado a noite bebendo e
dançando com um monte de tarados, e devido à sua condição alcoolizada,
ela a levou para dormir em segurança no terceiro andar. Só que ao acordar e
me ver, ainda sob efeito do álcool, ela saiu correndo e fugindo de mim... —
digo, omitindo boa parte da veracidade do acontecido.
— Dalila não está num momento bom, psicologicamente. E sei que
estava cuidando dela, sempre esteve, mas Lila o vê além de melhor amigo,
sem expor os reais sentimentos... já a vi suspirar o seu nome, olhá-lo de
outra forma. Compreende, Vince?
Assinto, revoltado comigo mesmo.
Realmente, irei atrás de uma pedra para amarrar no pescoço, melhor,
uma corda para amarrar em qualquer árvore e me enforcar.
— Conversarei com ela depois sobre isso... prometo.
Desvio do seu olhar, fodido com a verdade.
Jolie não imagina um terço desse inferno com a sua enteada. Que eu
e ela já... puta merda, já transamos... que tirei a sua virgindade e que foi e
está sendo o meu martírio relembrar de cada momento pecaminoso. Pelo
menos, a desconfiança, nem os olhares estão sendo em relação a esse tipo
de julgamento, de estar acontecendo algo sexual entre nós — por mais que
esteja. Apenas o Rael está interpretando assim. Aquele bastardo...
Pisco os olhos, recuperando a consciência e sentindo as dores pelo
meu corpo, sobretudo na cabeça, que lateja, dando a sensação de pulsação
incessante.
— Dalila?
Alguém me chama, e eu olho para o lado, vendo a imagem de um
anjo. Só pode. É um homem muito bonito.
— É um anjo? — sussurro fraca e salivando para molhar a boca
seca.
Ele sorri.
— Sou o Dr. Arthur, seu médico. Como está se sentindo?
— Tonta e com muita dor.
— Dor onde? — Ele pega o estetoscópio e começa a escutar o meu
coração.
— Em tudo...
— Humm... E a cabeça?
— Apenas latejando.
— O joelho?
— Só dói se eu me mexer. Eu não morri, né? — Olho devagar para
os lados, percebendo que estou num quarto familiar, é o meu. — Onde
estou?
— No castelo, em seu quarto. Vai se recuperar melhor aqui.
Cuidarei dos seus ferimentos e de fazê-la repousar, devido às dores de
cabeça, para daqui dois dias começarmos a fisioterapia da sua entorse. —
Enquanto ele explicava, Hera e Jolie apareceram, e com uma bandeja de
comida saborosa. Sinto o cheiro daqui.
— Bom, vou deixar que se alimente, é importante para a sua
recuperação. Mais tarde eu volto para medicá-la.
— Tá bom...
— Obrigada, doutor — Hera e Jolie falam, sorridentes, sem
disfarçar a examinação no homem.
— Hoss, Rael e Morcego vão surtar com esse médico bonitão no
castelo.
— Rael já está, ele ficou assistindo de cara feia a gente subir e
ainda, veio nos seguindo de fininho — elas sussurram, mas eu escuto.
— Ele parece um deus do olimpo. — Minha voz soa rouca e
baixinha.
— Dona Lila, dona Lila... não comprometa duas mulheres casadas
com agiotas perigosos, a concordarem com você.
Sorrio fraco.
Elas me ajudam lentamente a sentar e a apoiar as costas na cabeceira
da cama. Tudo me doí, não parei um segundo de gemer. Não pude nem
evitar a lágrima de dor.
— Vai ficar tudo bem, o pior já passou... — Jolie beija a minha
testa. — Estaremos aqui para cuidar de você. Além do médico bonitão, que
também estará prontificado 24 horas, à sua disposição.
— Que sorte viu, tire muitas casquinhas. — Hera morde o lábio e
pisca safada.
Sorrio de novo, feliz por estar bem, de certa forma, e aqui,
juntamente com a minha família.
Depois que realizo a refeição, Maria aparece para me fazer um
pouco de companhia. E mais tarde, ao anoitecer, o médico retorna, para me
medicar e me fazer dormir.

Passo dois longos dias assim, comendo, dormindo e me levantando


só para tomar banho e fazer as necessidades básicas, isso, com a ajuda da
Jolie, da Elena ou da Hera. Elas revezam para cuidar de mim. O médico
está do mesmo jeito, o tempo todo se dedicando a me ver recuperada, sem
falar que ele já viu umas quatro vezes os meus seios, devido ao ferimento
nas costas, perto da axila, que me faz ficar sem blusa e só tampada com o
lençol, para deixar mais fácil de ele esterilizar e tratar — e é justo nessa
hora que o lençol resolve me despir. Ou seja, a intimidade está
constrangedora. Tirando isso, estou adorando o meu querido doutor bonitão.
Ele virou a terapia para os meus sentimentos conturbados, que me tiram
mais lágrimas do que as dores físicas.
Fico o tempo todo pensando no Vince, no porquê de ele não vir me
ver no meu quarto, aí respondo esses mesmos "porquês" com o seu novo
status de relacionamento, aquela Amélia e o nosso passado íntimo. O Dr.
Arthur me pegou várias vezes chorando. E por mais que eu não diga o
motivo real, ele faz questão de conversar comigo, tranquilizando a minha
mente com as suas histórias inspiradoras, de pacientes... Só que, quando se
vai e me deixa sozinha, os pensamentos retornam.
Tipo agora, olhando para o teto e praguejando a minha vida infeliz.
Assim que eu me recuperar irei embora desse castelo o quanto antes.
Absorta com a minha mente perturbada, nem notei que o médico
entrou e fechou a porta. Aliás, ele não acabou de sair daqui?
Franzo o cenho e olho para a beirada da cama, instantaneamente
levando um susto. O meu coração vai a mil. Aperto o lençol, em desespero
interno por vê-lo.
— Oi, Lila. Boa noite...
Fico sem voz.
— Desculpa aparecer assim, e só agora.
— Não queria te ver — consigo falar, ou mentir...
— Para o seu azar, está me vendo.
Ele chega mais perto e me entrega uma caixinha rosa.
Demoro alguns segundos para estender o braço e pegar.
— São suas balas de gomas preferidas... confesso que, talvez,
possivelmente, não ou sim, eu tenha provado algumas sem querer.
Sacudo a caixinha, percebendo que há um espaço bem grande
dentro.
— Você comeu metade.
Ele dá de ombros.
— Não tem provas para me acusar.
— Comilão, Magali, passa fome...
Rolo os olhos e sendo indiferente, para ele não perceber o quanto
estou feliz pelo presente e por estar recebendo a sua companhia.
Odeio ver que meu coração se enche com migalhas. É humilhante!
E num silêncio vergonhoso, eu desvio dos seus olhos.
— Eu vim aqui te pedir perdão, por tudo que eu fiz... por ter te
machucado.
Mordo o lábio, com os olhos marejados.
— Está tudo bem...
— Não, não está, minha garota loira.
Ele de repente chega mais perto e se senta na beirada da cama,
pertinho de mim.
De novo, meu coração salta do peito, descompensado com as
migalhas que recebe.
— Eu sou culpado por você estar nessa cama, toda ralada e com o
joelho distendido. Ainda, poderia ter sido pior, pois o impacto contra a sua
cabeça foi forte. Não parei um minuto de sofrer, de me culpar.
Ele pega a minha mão e acaricia as costas dela.
— Mas não foi pior, Graças a Deus, e eu estou aqui, me
recuperando. Está tudo bem, não se culpe. — Aperto os seus dedos. —
Também, não lembro de muita coisa, estava bêbada, né?
— Estava... — Ele me observa atentamente. — Do que não se
lembra?
— Do antes, não sei, eu fui para o quarto dormir, aí tinha você e
logo o acidente aconteceu. Acho que estava indo embora e o carro me
atropelou. Jolie, nem Hera me deram muitos detalhes.
Vince abre a boca, estranho.
— Não lembra que discutimos?
— Não, eu já tentei lembrar, mas tudo parece flashes. O que
discutimos?
Vince solta a minha mão, mais nervoso.
— O que foi? Ficou estranho.
— Nada, a gente discutiu o mesmo de sempre, de você ir embora
morar no centro... da sua segurança...
— Ah... — Repouso a cabeça no travesseiro. — E nisso eu corri de
você?
— Sim... aí o acidente aconteceu. Estava bêbada, não cuidei de você
como deveria. Jamais irei me perdoar.
— Para, já foi, esquece isso. Agora vou me recuperar e seguir a
minha vida.
E te esquecer...
— Mesmo assim, me perdoe.
Assinto, para ele se tranquilizar.
— Já pode ir, Vince.
— Está me expulsando? — Ele se levanta, sem acreditar em como
falei firme.
— Estou sim, não quero te ver...
Se ele soubesse o quanto estou magoada e odiando esse seu
relacionamento com essa Amélia... queria que o Vince fosse só meu, que
desse prazer apenas para mim.
— Sou merecedor do seu desgosto, por isso, aceito ser chutado igual
um cachorro de rua, cheio de sarna.
— Srta. Dalila?
O médico dá uma batidinha à porta e entra, depois de eu permitir.
— Desculpa atrapalhar, está na hora do seu segundo medicamento.
Sorrio, admirando a beleza morena do doutor.
— É... — sussurro, e ele dá passos até mim.
— Como a minha paciente preferida está se sentindo?
— Hunrum... — Ouço o Vince pigarrear e o encaro.
Ele me olha sério e mais estranho do que antes. Desvio, para dar
toda a atenção para o meu médico.
— Sem dores de cabeça, ao contrário do joelho.
— Sente uma dor muito sensível, apenas ao mover a perna na cama?
— Sim, dói muito.
O médico afasta o lençol e toca na minha coxa esquerda.
— O machucado não é no joelho? — Vince esbraveja rude a
pergunta,
— Sim, Lila teve um traumatismo grande na região. A
distensão/rompimento da articulação vai deixá-la impedida de se
movimentar bruscamente, pois até dependendo do movimento, a dor pode
se agravar... — Dr. Arthur massageia as laterais da minha coxa e do joelho,
enquanto explica a situação do meu quadro.
E nossa, a massagem é sempre bem-vinda. Arrepio-me só de sentir
essas mãos grossas, deliciosas.
Olho, com minha cara de prazer, para o Vince e ele está me
observando com ódio, ou sei lá o que significa essas sobrancelhas franzidas
e quase juntas, a mandíbula apertada, lábios cerrados e olhar rígido.
— Ai, ai... — gemo baixinho, quando o doutor chega muito perto do
joelho.
— É melhor deixarmos mais suspensa a perna. — O doutor olha
para mim e concordo.
Enquanto ele coloca os travesseiros por baixo, eu encaro o Vince.
— Você não estava de saída? — murmuro.
— Eu vou quando eu quiser, Dalila.
Abro a boca, chocada com a sua grosseria.
De repente ficou puto?
Que raiva desse comilão, idiota!
— Bom, Sr. Vince, é melhor deixá-la descansar, para potencializar
sua recuperação.
Vince fuzila o médico, então vira as costas e sai batendo a porta.
O que esse homem está pensando? Entra de um jeito no meu quarto,
igual um cachorrinho com o rabo entre as pernas, pede perdão, é carinhoso
e, no final, sai assim, latindo agressivo e raivoso contra mim.
Quer saber, que ele se lasque e vá para o quinto dos infernos com a
sua noivinha patética.
Peço desculpas ao Dr. Arthur e ele continua a massagem...
excitando-me.
Não posso nem detalhar os pensamentos que estou tendo com esse
médico. Hera só pode ter o escolhido de propósito. É realmente muito
bonito, alto, forte e habilidoso com as mãos... o problema, é que o tempo
todo imagino o Vince no lugar dele, me tocando. O tesão só fica pior.
Eu saio com ódio, batendo a porta. Minha vontade era de quebrar a
cara daquele médico idiota! Ele parece um peixe-gota, feio, sem graça! E a
Lila ficou toda derretidinha por esse aborto espontâneo! Agora estão lá,
sozinhos, com o espantalho tocando na sua coxa!
— O que quer, tentação? — Hera questiona, após me sentar ao seu
lado no sofá e tomar o celular da sua mão.
— Devemos expulsar aquele médico imediatamente! — exclamo
raivoso, determinado.
— O quê? Está louco?
— Ele não é uma pessoa de confiança, não gostei da cara do
meliante.
— Como assim? Ontem mesmo vocês dois estavam conversando e
até rindo na mesa de jantar. Disse para Jolie que o Dr. Arthur era um amigo
da família. Sem falar, seu palhaço desordeiro... — Ela me dá um tapa e
belisca o meu braço.
— Ai, sua cobra!
— Ficou atiçando lenha entre Rael, Hoss e Morcego, para deixá-los
mais enciumados e com vontade de acabar com a vida do pobre Arthur!
— Eu nunca fiz isso, você que bebeu, sua louca.
Hera se ergue, com as mãos na cintura.
— Está precisando de um psiquiatra! E louca é a tua avó!
— É a sua avó, aquela banguela, careca, que você puxou! Velha
gagá!
— Eu vou te matar, seu polaco azedo do inferno! Infantil!
Hera me bate com a almofada, enquanto eu tento me defender,
rebatendo de volta com outra.
— Prima Hera, tio Vince!
Paramos de brigar e olhamos para a Maria, que bradou nossos
nomes no meio da sala.
— Vocês têm quantos anos? Parecem duas crianças — a aborrecente
de dez anos fala, e como se fosse “gente”.
— É o seu tio que tem sete anos! — Hera me dá uma última
almofadada.
— Cobra, rapariga brasileira!
— Infantil!
— Não vou ficar perdendo meu tempo com você.
— Eu que não vou.
— Tio Vince, aonde vai? — Antes que eu saísse da presença da
cobra adulta, a cobra criança me parou. — Vai atrás daquela fantasma sem
sal?
— Maria... — Hera resmunga, olhando-a feio. — Eu já disse para
respeitar a Amélia, principalmente, o seu tio.
Ela bufa, sem um pingo de arrependimento.
— Já conversamos — digo firme, e a pequena se retrai.
— Não gosto quando é sério — sussurra, desviando de mim.
Ela merece esse olhar, e retiro-me quieto, sem falar ou brincar mais.
Preciso de um aliado para mandar aquele médico para o quinto dos
infernos. Começarei com o Batman falsificado, depois o Hoss e o Rael.
Vou para o corredor da sala do Morcego, fica depois da ponte do
castelo e o salão de festas. Mas no caminho, antes que eu cruzasse o quadro
de troféus, passei pela biblioteca e notei vozes no interior.
Volto para trás, a passos silenciosos.
Quem está na biblioteca uma hora dessas?
Abro a porta bem devagar e vejo a Jolie e o Paulo juntos,
conversando inquietos, em segredo.
— Eu não queria saber disso, Paulo.
— Você precisava saber. Nossa Lila corre perigo de vida, ela já sabe
onde encontrá-la.
Ouço o nome da Dalila, somada à palavra “perigo” e aperto os
punhos. Meu coração disparado no peito.
Resolvo entrar escondido na biblioteca e me esconder atrás de uma
estante próxima, para ouvir a conversa deles.
— O que mais sabe?
— Ela foi atrás do Marcos, querendo informações da mãe. Descobri
por um olheiro.
— Meu Deus, é verdade? O que a Dalila está pensando, em ir atrás
desse homem asqueroso? Marcos é nosso inimigo! — Jolie esbraveja
furiosa. — Seria melhor contar-lhe a verdade. Conte o que me disse, Paulo.
Não quero mais guardar segredos.
— Não, por favor, vamos poupar a Lila de mais sofrimento. Ela
perdeu o pai, o avô, que por mais que fossem criminosos sem escrúpulos...
eles a amavam. E já foi doloroso, traumático para ela perdê-los.
— Eu sei, entretanto, essa mulher quer matar a própria filha, a
pedido desses desgraçados! Tudo isso para eliminar os Borghi da face da
terra. O que você pensa em fazer? Como vamos protegê-la, se a Lila se
sente “livre”?
— Não existe liberdade, nem segurança ou paz para os Borghi,
assim como para os Calatrone. Precisamos poupar a Lila, protegê-la e evitar
a guerra com outras máfias inimigas. Eles são poderosos, operam em
Setúbal, Faro e no Algarve, tendo segmentos com associados da Europa de
Leste, Brasil, África e Colômbia. Entende o tamanho dessa merda, Jolie? A
Máfia Borghi foi desestruturada, acabou nossa associação. Eu só continuo
trabalhando com o tráfico e o branqueamento de capitais para manter a
nossa fortuna e o futuro dos meus filhos, incluindo o da Lila, que também é
uma filha para mim.
Ouço a Jolie suspirar.
— Estou sentindo muito medo. Precisamos de uma reunião com o
Hoss, Rael, Vince e Hera. Isso tudo pode acabar mal para nossas famílias.
Avisou ao Gavião?
— Que pergunta é essa? Ele sabia de tudo isso há muito tempo e só
me contou a verdade no mês passado.
Meu tio é uma maldição mesmo, ele sempre sabe de tudo! — penso,
apertando mais forte os punhos.
— Esqueci que Argus é sobrenatural, deve saber até onde está a arca
de Noé. Conversarei com o Rael, para decidirmos o que fazer em relação a
Lila e a sua mãe perigosa. Não podemos deixar que essa mulher chegue
perto dela...
— Eu farei de tudo para que isso não aconteça.
— Certo, manteremos a conversa em sigilo.
Jolie e Paulo finalizam o assunto, retirando-se juntos da biblioteca.
Estendo o braço na prateleira da frente e chuto alguns livros caídos
no chão.
Sabia, eu senti que essa história da Lila ir atrás da sua mãe não era
coisa boa. E pelo que eu entendi, essa mulher é perigosa, talvez uma
mafiosa. Se ela encontrar a filha Borghi, pode matá-la. Vai saber o que
aquele infeliz do Toretto a fez.

Ao anoitecer, vou com o Rael realizar duas colheitas e uma


cobrança de vida. Deixo a execução para ele, pois minha cabeça está em
outro lugar, em específico, numa pessoa que não vai aceitar ser privada da
sua vida livre, e que agora corre perigo incessante.
Para ver se afasto esses pensamentos, passo o restante da noite
tentando relaxar com a Amélia, e concluo que nem assim consigo. Parece
que o sexo perdeu o encanto de antes...
— Vince, o que está acontecendo? — Ela sai de cima de mim e da
porra do meu pau meia-bomba.
— Não sei...
Ergo-me da cama e pego um dos seus cigarros para tragar. Vou até a
varanda, nu e estressado.
Eu queria meter um foda-se na Dalila, nesses problemas, mas não
consigo. Ela é muito importante para mim, e de uma forma que me dói o
coração.
Minha vontade era de ir até o seu quarto, puxá-la para os meus
braços e cuidar da minha garota loira. Depois, mostrar que o meu toque
pode tirar gemidos e ser muito melhor que o daquele médico chorume,
espantalho do fandango.
Merda, isso é errado!
Somos família, eu não devia sentir tesão nem nada disso por ela!
— O que está acontecendo? — Amélia se aproxima e me faz olhá-
la, sem ter qualquer sentimento profundo por seus olhos... porém, eu quero
ter, quero aprender esse maldito amor.
— É só os problemas da minha família, não se preocupe, volte para
cama. — Beijo a sua testa, mas ela não desfaz o seu olhar preocupado.
— Acho que eu devia pagar a minha dívida de outra forma... isso
pode não dar certo.
— Mas eu quero que seja pago assim, entendeu?! — exclamo
severo. — Eu quis assim.
— A minha família vai querer te matar.
— Me matar? Que piada é essa, e sobre o meu teto? — Sorrio. —
Executei o seu pai com três tiros na cabeça, seu irmão com quatro no peito.
Devia ter visto como me suplicaram a vida.
Ela engole em seco.
— E agora ficou você, querida. — Toco no seu rosto.
— Eu não sabia que havia tirado a vida deles... Meu pai e meu
irmão quase me venderam como uma puta para pagá-lo, fazia meses que
não os via.
— Eles deviam um Calatrone, e temos uma regra que seguimos à
risca. E você sabe qual, pois também me deve. Mas, por nos gostarmos
muito, poupei e parcelei a sua conta de uma forma que adorou, não negue.
— Deixou que eu pagasse com nossos encontros e “aceitando” o
seu pedido de casamento. Eu gosto de você... — Ela alisa o meu abdômen e
escorrega a mão para o meu pau, que continua morto. Esse infeliz não reage
mais. — E fiquei feliz por saber que também gosta de mim.
— Vamos dar certo, você vai ver, agora, volte para cama, quero
terminar esse cigarro a sós.
Ela assente, me dá um beijo e volta para cama.
Fico um bom tempo olhando para o horizonte escuro, até a Amélia
dormir e eu decidir me vestir rápido, para ir até o motivo dos meus
distúrbios mentais. Enquanto não a vir, não vou conseguir colocar a cabeça
no travesseiro.
Nem bato à porta, abro devagar, com cuidado, para não ser ouvido.
Já se passam das duas da manhã. Noto que o quarto está iluminado pela luz
baixa do abajur.
Aproximo-me mais e paraliso, ao vê-la acordada e suspirando,
enquanto a sua mão direita está embaixo do cobertor.
— Vince... — Lila geme o meu nome, de olhos fechados e se
contorcendo reprimida na cama. Pelo barulho, é a porra de um vibrador
fazendo o meu serviço.
Não, eu só posso estar sonhando, isso não é real!
Passo a mão no cabelo, xingando mentalmente centenas de
palavrões.
Ela ainda não me viu, sequer percebeu a minha presença.
Meu corpo fica louco, meus nervos se retraem e meu pau endurece.
A luxúria suplica para que eu faça alguma coisa, para que eu dê mais
passos, tome essa garota e a satisfaça até o dia clarear.
Que caralho!
Posso sentir e até substituir mentalmente esse vibrador pelo meu
pau, acolhido entre os seus lábios lubrificados, massageando-os, que já tive
o prazer de provar o gosto e penetrando as paredes que sufocam e
espremem até a alma... é meu martírio saber que fui o seu único homem,
que sou!
Puno-me, castigo-me, ouvindo seus suspiros e gemidos, enquanto
chama desejosa pelo meu nome.
Eu estou aqui, Lila, eu te ouço, eu te quero... estou na ponta do
precipício para enlouquecer por você e agarrá-la. É minha!
Ela retrai os movimentos, arqueia um pouco as costas, revelando a
nudez dos seus seios pontiagudos, que estavam tampados pelo cobertor, e
por fim, a cena mais esperada para terminar de cavar a minha cova de
pecados, ela chega ao seu orgasmo perfeito.
Jamais vou esquecer dessas imagens, elas estão tatuadas para
sempre em mim.
Quando abre os olhos, piscando lentamente as pálpebras, ela me vê
em pé, ao seu lado da cama.
Dalila não demonstra espanto, nem surpresa. Está ofegante, seus
seios nus, de mamilos enrijecidos, sobem e descem mais arfantes.
É realmente um sonho, só pode...

Lila estende o braço e toca na minha perna.


Entro em chamas, sinto a minha pele consumir em brasas.
— É você mesmo? — pergunta baixinho.
Sem respondê-la, sento-me na beirada da cama, pego na sua mão e
inclino-me sobre o seu rosto.
Ela suspira, gemendo.
Isso me deixa mais maluco.
Olho para os seus peitos e pressiono com a palma, tendo ondas de
espasmos.
— Não é você...
Roço meus lábios nos seus e a beijo, matando a saudade da sua boca
macia, de sentir e chupar a sua língua molhada. Beijo-a de forma ardente,
libidinosa, enquanto massageio os seus mamilos duros.
Lila afasta a mão do meu rosto e desliza para a ereção latejante
dentro do short. Ela contorna o dedo sobre o meu pau e me aperta com
posse.
Eu arfo, tirando mordidas dos seus lábios.
— I-isso é real mesmo... — sussurra de novo e me fita com mais
atenção. — Por que está aqui?
— Não consigo parar de pensar em você.
— Só pensar? — Com a outra mão ela acaricia a minha boca.
— Eu te quero tanto, Lila — rosno, puto comigo mesmo por querê-
la. — Queria te pegar com força nessa cama e te foder até o dia clarear.
Ela arqueja.
— Estava se masturbando com a porra do vibrador e pensando em
mim... eu assisti tudo.
Aperto os seus peitos, e Lila geme, após tentar fechar as pernas.
Culpo-me, sabendo que o seu principal gemido foi de dor. Isso é
loucura, posso machucá-la.
Tento me afastar, mas ela segura o meu braço.
— Eu também te quero, sempre te quis, fica comigo.
O desespero toma conta de mim, pois observo o seu rosto angelical,
de uma garota que parece que saiu do ensino médio ontem, suplicando para
que eu fique, enquanto quero ficar, quero cuidar da minha princesa.
— Não imagina, não tem ideia do quanto eu quero ficar.
— Então fica, cuida de mim...
Meu coração dói, quero gritar de desespero.
— Está muito debilitada, é melhor que eu não fique.
— É você que não está fazendo questão de mim.
— Isso é mentira, só gostaria que entendesse meu lado.
— E o meu? O que eu faço com o meu lado nessa história?
— Sinto muito, de verdade... — Respiro fundo, encarando-a. —
Confundiu as coisas desde o início.
— Eu não tive culpa, tentei superar esses sentimentos diversas
vezes, mas não consegui. Me imagino na cama com outro homem,
recebendo o seu toque, os seus beijos e não é a mesma coisa.
Fico irritado pelo que ela disse, pois também imagino isso, outro
homem tocando no que é meu... merda!
Lila não é minha... por mais que eu a queira muito.
— Não repita mais o que disse.
— O que sente por ela? — Lila questiona, de repente, após desviar e
abaixar a cabeça.
— Quem?
— Não se faça de idiota...
— Isso não importa, chega dessa conversa.
— Importa, porque eu quero saber. Seja sincero.
— Então saiba que eu ainda não sinto nada pela Amélia, mas quero
tentar sentir.
Dalila ergue os olhos, com raiva.
— Não sente nada por essa mulher e resolveu pedi-la em noivado
da noite para o dia, achando que vai se apaixonar assim, como num conto
de fadas?
— Isso não é da sua conta, sua peste.
— É um patético, está se envolvendo com uma qualquer por... sei lá
pelo quê. Vai se arrepender amargamente por essa escolha precipitada.
— Ah, vou? Repito que a minha vida não é da sua conta.
Lila abre a boca, mas antes que pudesse me xingar, ela soltou um
gemido baixo, apertou os olhos e tocou na cabeça.
Fico desesperado e seguro o seu rosto.
— Lila? Tudo bem? Eu não devia estar aqui, estou te alterando,
precisa descansar, desculpe-me.
— Estou bem, só foi uma pontada de dor. Sempre dá e passa.
— Por minha causa...
— É por sua causa, e por ser um burro, idiota e...
Não aguento e a calo, com um beijo lento, até sugar todo o ar dos
seus pulmões. Sinto-me num tipo de casa confortável, pertencente a esse
momento, a ela.
Lila retribui o beijo, penetrando a língua e me deixando quente,
quase em chamas, é como se estivéssemos fazendo um sexo.
Fico duro, excitado para avançar e transarmos, mas luto contra as
minhas vontades, dou outro beijo na sua testa e sem permitir que fale, ou
pergunte qualquer outra coisa, eu vou embora do seu quarto.
É melhor assim... pelo bem dela e o meu.
Pela manhã, acordo indo socar um saco de pancadas na academia do
castelo. E Igor aparece com a sua cara de bunda fedida.
— Bom dia, meu amigo da Disney.
— Bom dia, Patolino de chifres.
— Já disse para ir se foder?
— Quis dizer, foder você? É só empinar o rabo que realizo os seus
desejos.
Ele mostra o dedo do meio e eu mando um beijinho.
— E aí, como estão as coisas? — pergunta.
Paro de socar, limpo o rosto suado e me sento ofegante no banco.
— Posso dizer que todos os problemas estão girando em torno dela.
— Dela? Dalila?
— Sim, Lila está correndo perigo...
Conto para o meu amigo a conversa que eu ouvi escondido entre a
Jolie e o Paulo. Ele se mostra nervoso.
— Merda, Vince. E o que ela quer tentando encontrar a mãe?
— Lila pensa que a mãe pode ser boa pessoa, que vai aceitá-la.
— Pelo que ouviu do Paulo, essa mulher quer matá-la. Acharia certo
contar toda a verdade, antes que o pior aconteça.
— Eu vou conversar com a Jolie...
Discuto mais um pouco o assunto com o Igor, até ele retornar ao
trabalho e eu ir tomar uma ducha.
Na sala, encontro o Hoss com a bebê no colo, todo babão com a
filha. Já Henry, seu filho de quatro anos, está brincando no chão com os
carrinhos. Ele me vê e corre para os meus braços. Dou um beijo no mini
Hoss e ele volta a brincar. Também, faço umas caretas para a bebê, tirando
risadas dessa fofura.
— Ontem eu vi o Paulo pelo castelo — digo para ele e me sento no
sofá.
— E eu te perguntei alguma coisa?
Sorrio da sua cara de bravo.
— Falando na cunhadinha bonita, onde ela está?
— Saiu com a Hera, a Maria e o Morcego como segurança, hoje é o
meu dia de ficar com as crianças.
— Hummm, bom marido, adestrado.
Hoss chuta a minha canela, e eu seguro a vontade de xingar.
Amélia aparece, acompanhada da Jolie e do médico, me dá um beijo
e eu evito que ela faça perguntas sobre o meu paradeiro de hoje cedo. Rael
chega atrás, para complementar a festa.
— Como está a Dalila esta tarde? — ele indaga, observando o
médico, que se sentou sozinho na outra poltrona.
Também não paro de fuzilar esse filhote de lombriga feia. Ainda
bem que Luiz trouxe uns pedaços de bolo para me acalmar.
— Ela está progredindo e melhorando, não sente mais tantas dores
de cabeça, apenas no joelho lesionado e na ferida nas costas.
— Logo Lila estará 100%. Obrigada por cuidar dela, Dr. Arthur —
Jolie fala.
Eu rolo os olhos e antes que eu pegue o pedaço de bolo maior, essa
bruxa do Rael foi mais rápida.
— Devolve, sua malévola!
Ela me manda um beijinho e morde o pedaço generoso.
— Você quer guerra! Rael, eu vou esganar a sua mulher. — Meu
irmão me dá um soco. — Eu estava de olho primeiro!
— Larga de ser infantil, tem outros pedaços aí, come e enche esse
rabo — Rael fala.
— As crianças, seu infeliz! — Hoss vinga o meu soco e bate no
nosso irmão do meio.
— Não repara nesses brutamontes, Dr. Arthur. — Jolie sorri, toda
calorosa para o médico, e eu reparo no Rael, apertando a almofada com
força. Adoraria que ele estivesse apertando o pescoço desse Arthur.
— Está tudo bem...
— Bom, vou ver se meu pequeno Gian acordou.
— Só um minuto cunhadinha, podemos conversar a sós? — Ergo-
me, direcionado a Jolie.
— Conversar o que com a minha mulher, seu estrupício?
— Algo particular, que não te envolve, cara de cheats.
— Rael! — Ela segura o ogro.
Sua fúria na verdade é com o médico.
— Se acalma e vai olhar nosso filho, já volto.
— Vai lá, boizinho adestrado...
Pisco para o meu irmãozinho e saio grudado ao lado da minha
cunhadinha, vulgo malévola, para não levar um tiro do seu marido raivoso.
— Você adora botar lenha na fogueira, né, Sr. Vince?
— Eu? Nunca, sou uma alma inocente.
— Me conta uma piada melhor. E o que quer comigo?
— É sobre a Lila e a mãe dela.
Jolie imediatamente muda a sua posição tranquila, para rígida e
atenta.
— O que sabe, seja direto?
— Ela andou me pedindo ajuda para localizar a mãe.
— E você ajudou?
— Sim, até eu descobrir que essa mulher é uma possível mafiosa, de
grande calibre e que quer matar a Lila.
— Como sabe disso? — ela acusa, nervosa.
— Tenho ouvidos muito atentos... — Pisco e sento-me no encosto
do sofá.
— Não pode contar isso para ela, Vince! Precisamos poupá-la de
mais desgraças infelizes!
— Eu estou totalmente de acordo em protegê-la, até de acorrentá-la
no castelo, se for necessário, é claro.
— Vai ser uma luta, pois Lila quer sua liberdade, quer morar
sozinha num apartamento sem segurança.
— É, e eu estava desde o início tentando discutir sobre isso, com ela
e com você. Não é seguro, querendo ou não, ela é uma Borghi. Além dessa
mãe, outras pessoas podem tentar lhe fazer mal para se vingar da ex-máfia
mais poderosa e impiedosa de Portugal.
Jolie anda de um lado para o outro, inquieta, preocupada.
— Vamos marcar uma reunião amanhã, com todos os Calatrone.
— Sinto falta do tio Argus nessas horas, parece que ele saberia o
que fazer, mesmo que não nos dissesse.
— Vamos rezar para ele voltar de onde esteja, e o quanto antes. Até
lá, agiremos para proteger nossa família. E mantenha sigilo.
Assinto e ela pede licença.
Três dias depois...

Eu sou pega de surpresa por uma festa em comemoração à minha


recuperação. Por isso, Jolie, Hera, Maria e Elena foram até o meu quarto
essa tarde, me arrumar igual uma princesa. Fizeram até maquiagem em
mim, escova no cabelo, e mentindo, que era para eu ficar mais bonita.
Contudo, quando eu desci e as portas do elevador se abriram, levei um susto
com todos soltando confetes e gritando “Lila, Lila, Lila” sem parar.
Não segurei nem um pouco as lágrimas. Esse está sendo um dos
melhores dias da minha vida. Até a tia Lupi, o tio Paulo e as crianças estão
aqui. Tiramos um monte de fotos juntos, para eternizar esse momento.
— Meu maior presente foi essa cadeira de rodas — digo e olho para
o meu médico preferido.
Ele arrumou a cadeira ontem, o que me fez sair do quarto depois de
quase uma semana presa. Fiquei tão feliz.
— Eu também tenho um presente para você — Vince fala de
repente, após fuzilar o Dr. Arthur.
Meu coração acelera, olho para ele e para a sua mulherzinha ao seu
lado. Só de saber que essa idiota está aqui, no meu momento, me deixa
furiosa. Ainda tenho que sorrir e falar com ela. Preferia fingir demência.
Vince, então pega algo no aparador e vem até mim, com uma
caixinha quadrada e grande. Depois daquela noite que me viu e me beijou,
nunca mais tivemos intimidade, nem visitas...
— O que é isso? — sussurro para ele, incomodada com os olhares
da nossa família.
— É o seu presente, abre.
Ele segura a caixinha, e eu abro meio trêmula. É um colar de ouro,
com um pingente em VD, mas o D é junto com o V. Meu Deus, ele está me
dando um colar com as nossas iniciais (Vince e Dalila)! E perto da nossa
família?! Da sua noiva?! Ele está louco? Que brincadeira é essa?
Arregalo os olhos, fechando a caixinha rapidamente e pegando para
guardar.
— Gostou? — Ele sorri, deixando-me mais apavorada.
— S-sim... obrigada.
Olho para a Amélia e ela está me fuzilando. Acho que só ela
conseguiu ver o pingente. Será que interpretou algo?
Conseguinte dessa situação que me deixou constrangida, Vince fez
umas brincadeiras e despistou todos para o meio da sala, para beberem e
conversarem outros assuntos.
Não paro um minuto de olhar para ele, nem de apertar a minha
caixinha.
— Deixe-me ver, Lila — Maria pede, olhando-me desconfiada. —
Parecia um V e um D...
— Fica quieta — murmuro, e ela se cala.
— Por que vocês não namoram?
— Maria, eu vou puxar a sua orelha... — murmuro de novo,
sorrindo forçada para a Lupi, que está sentada bem ao nosso lado. Estou
com a cadeira entre os sofás.
Já jantamos e partimos o bolo, agora, todos estão acomodados na
enorme sala principal do castelo, rindo, conversando e bebendo. As crianças
estão na outra sala, que na verdade, virou um cantinho de brinquedos. Só
faltou mesmo o tio Argus.
— Está tudo bem, Lila? — Dr. Arthur chega mais perto de mim, e
eu sorrio.
— Sim, mas eu estaria melhor se o senhor liberasse pelo menos uma
taça de champanhe para eu beber.
— Não mesmo, você tomou medicamentos.
Faço biquinho, e ele não desvia de mim.
— Você ficou muito bonita nesse vestido — fala, Maria, Jolie e
Hera ouvem, olhando-nos imediatamente. O doutor nem percebeu.
— Obrigada, você também está muito bonito... — O escaneio dos
pés à cabeça, controlando-me para não demorar muito tempo no volume da
sua calça.
— Quer dar um passeio?
— Ela quer sim! — Lupita diz imediatamente.
— É, ela está precisando, né, querida? Vá, doutor, a leve! — Hera
exclama, sorrindo safada, de orelha a orelha.
— Ahh... um ar fresco faz tão bem... — Jolie sorri ainda mais
safada.
Elena me fita do outro lado, piscando para mim.
Que bandidas! Até a mini agiota da Maria abriu espaço para o
médico.
O doutor sorri, e eu aceito que me leve para fora do castelo, porém,
antes, tive o prazer de olhar no fundo dos olhos furiosos do Vince e vê-lo
me fuzilando, como se estivesse saindo chamas dos seus olhos.
O que foi? Será ciúmes de mim? Só pode!
Meus Deus, meu coração até acelerou.
— A noite está tão linda, o céu cheio de estrelas... — o Dr. Arthur
fala atrás de mim.
Eu olho para o céu, deslumbrada com a vista e concordo.
Ele me leva para a área da piscina e me acomoda bem ao lado dele e
da espreguiçadeira.
— Essa noite está combinando com um vinho, pena que o meu
médico mau me proibiu.
— Para o seu próprio bem, mocinha.
Sorrimos...
— Você só vai ficar mais essa semana cuidando de mim?
— Apenas, vou embora do castelo, mas virei todos os dias para a
sua fisioterapia, até estar 100%.
— Ainda assim... sentirei saudades de ser cuidada 24 horas por dia.
Ele toca na minha mão.
— E eu da sua companhia...
Sem coragem de dar qualquer passo íntimo, tanto da minha parte,
quanto da dele, mudamos de assunto e voltamos a falar das estrelas, depois
da minha recuperação, da nossa família e caímos na risada, com piadas
internas.
— DR. ARTHUR! POR FAVOR! — De repente, ouvimos a Elena
gritar e correr até nós.
Ele imediatamente se levanta.
— O que houve, Sra. Elena?
— É a Maria, ela acabou de passar mal e desmaiar!
Arregalo os olhos.
— Como assim?
— Rápido, Hoss já está surtando!
— Lila, desculpa, já volto para te buscar — ele avisa.
Sem tempo para falar muito, o médico corre rapidamente para
dentro. Elena também repete que já volta ou que manda alguém me buscar.
Suspiro, preocupada, mas não tento mover a cadeira sozinha, pois
quando faço isso, esforço o joelho e doí muito. Fico no silêncio, olhando
para a piscina e sentindo a brisa fria cortar o meu rosto.
Fixo-me nos reflexos da água, pensando na minha vida e nem
percebo que alguém chegou para me levar para dentro. Olho para o lado,
mas sinto uma mão atrás da minha nuca.
Respiro fundo, reconhecendo o seu maldito perfume.
— O que faz aqui?
Ele se inclina, afasta o meu cabelo e roça o nariz no meu pescoço.
Arrepio-me.
— Eu vou matar aquele médico, Lila... — ele resmunga e mordisca
a minha pele.
Empurro o seu rosto e o encaro.
— O que está acontecendo com você? Primeiro me dá aquele
pingente, com nossas iniciais, e no meio da nossa família, para todos
verem! Agora, vem aqui, atrás de mim e demonstrando traços possessivos e
ciumentos. Está louco?
— Eu não estou demonstrando nada!
— Está sim, quero saber que merda está acontecendo com você!
Não está noivo? Não tem a sua mulherzinha?
Vince coça a barba, sem respostas.
— Vem aqui... — chamo-o firme para mais perto de mim, e ele olha
para a porta de entrada, em seguida, senta-se na espreguiçadeira, olho a
olho comigo. — Você está gostando de mim, não está?
— Eu detesto você — murmura.
— É, detesta?
Toco no seu rosto, causando-lhe um choque instantâneo.
— Então, não se mete na minha relação com o Dr. Arthur, ele é um
ótimo partido, tem cara de que vai me dar muito prazer, além de cuidar
muito bem de mim... em todos os sentidos do meu corpo...
Sem esperar, Vince agarra o meu cabelo e repete o seu olhar furioso,
quase fora do controle.
Sorrio, comprovando seus sentimentos.
— Juro, se você não estivesse nessas condições, eu calava a sua
maldita boca te fodendo sem piedade! Depois, eu matava aquele fandango
do seu médico idiota!
— É, realmente está louquinho por mim... Fica comigo, me assume.
Ele paralisa.
— Que merda está dizendo?
— Quer que eu repita? — sussurro e roço meus lábios nos dele. —
Fica comigo, vamos nos assumir para a nossa família. Assim, vai poder me
foder à vontade. Sem falar, que nem gosta daquela Amélia sem graça, ela
não é nem metade do que eu represento na sua vida.
— Você é minha família... meu sangue!
— Para com isso, há cinco anos você nem sabia da minha
existência, nem que éramos primos. Não existe esse laço familiar forte,
apenas que você me quer e eu te quero, de preferência, sempre sendo o meu
único homem...
Vince parece tonto, confuso com seu cérebro embaralhado. Ele
apenas me observa, mapeando meus traços.
Não vou desistir!
Ele tem sentimentos fortes e vou fazê-lo enlouquecer cada vez mais,
para me enxergar, me assumir, e não se casar com aquela sonsa. Ela não é
mulher para ele, eu sou!
Eu mereço o Vince, eu batalhei por ele, sofrendo por anos, com esse
inferno de paixão e amor. Não tenho mais nada a perder.
Ele continua em silêncio, mas murmurando palavrões.
— Isso vai contra as regras, sua peste.
— Vai? E que regras?
— As minhas, Lila!
— Ok, então vou dar uma chance para o médico, quem sabe
casamos e ele vire o meu segundo homem, para sempre.
Vince se ergue, chutando a espreguiçadeira e se inclinando, para
meter o dedo indicador na minha cara.
Seu olhar está expelindo brasas. Sinto o calor flamejante do seu
corpo viril.
— Se você continuar falando desse monte de bosta, eu juro que vou
até a sala, pego a arma e o mato com um tiro no meio da testa!
Engulo em seco, vendo verdade em suas palavras ferozes.
— E o que pensa em fazer? Está louco de ciúmes... — Aperto a sua
mão e ergo até o meu rosto. — E se eu não posso ser de ninguém, eu sou
sua?
Ele acaricia os meus lábios, respirando pesado.
— Prometa para mim que não vai ficar de graça com aquele
imbecil?
— Você não respondeu à minha primeira pergunta.
— Que inferno, Lila, eu devia era me confessar para um padre e
mandar ele me exorcizar, para te tirar da minha cabeça.
— Responda, Vince... ou...
— Ou o quê? Vai foder com o espantalho sem graça? Ele não será
capaz de achar nem o seu ponto G. É um frouxo.
— É? E você vai se casar com a sonsa da Amélia? Ela nem se
compara a mim, não faz você ficar louco para desejá-la perdidamente. Ela
não é a sua garota loira...
— Para, Dalila!
Vince aperta o meu queixo, xinga e então avança, beijando-me
faminto.
Eu não estava esperando, levo um choque brusco, mas recupero as
forças e retribuo o seu beijo avassalador.
Ele penetra a língua, chupando a minha e ensaiando um oral.
Gemo, agarrando os seus cabelos.
— Vince!
Rapidamente nos separamos, após ouvirmos alguém gritar.
Olhamos em direção e damos de cara com Amélia, furiosa. É a
sonsa que nos viu!
— Merda! — Antes que ela se aproximasse de mim, Vince correu e
a segurou pelos braços.
— Eu desconfiava, eu sabia!
Os dois começam a discutir e o Dr. Arthur aparece para me salvar e
me levar para dentro. Graças a Deus não fiquei para ouvir a discussão. Por
outro lado, não nego o sorriso que se formou no meu rosto.
— Parece que os ares esquentaram para o casal lá fora... — O
doutor sorri fraco, já eu, é de orelha a orelha.
Apenas assinto e seguimos até a Maria, que já parece bem melhor.
Só foi um desmaio, ou não, ela me olha articulada demais. Arregalo os
olhos para essa criatura, não querendo acreditar que ela e o Vince
planejaram algo para ele ir atrás de mim!
Amélia fica puta, louca de raiva e após berrar as suas palavras, de
que eu estava mentindo sobre gostar dela, de que eu a estava enganando, ela
vira as costas e decide ir embora.
Quer saber? Eu também não vou atrás de porra nenhuma. Foda-se!
Apenas peço para o motorista e um dos seguranças a levarem, adiante, subo
para a sala de jogos e me encho de álcool e biscoitinhos.
Estou realmente fodido, nada na minha vida está dando certo. E para
piorar, estou louco pela minha própria prima!
Isso é uma praga, é macumba que eu chutei em alguma
encruzilhada.
— O que faz aqui, polaco azedo? — Hoss me encontra jogado no
chão, vegetando com meus problemas mentais, enquanto na TV rola um
pornô de duas lésbicas trepando com um pau de borracha de 30cm. — Que
porra de decadência é essa?
Ele desliga a TV, e eu jogo uma latinha de cerveja na sua cabeça.
— Vince, eu vou te estrangular!
— Quem mandou você entrar aqui assim e desligar o meu pornô
lésbico?!
Meu irmão revira os olhos e cruza os braços.
— Estávamos preocupados com você, parece que brigou com a sua
noiva e ela foi embora bem alterada.
— Acho que ela não é a mulher certa para mim — murmuro e olho
para o teto.
— Por quê? O que está acontecendo?
— Nada que seja da sua conta.
— Tem outra?
Bufo, estressado.
— Tem, e ela está fodendo com o meu psicológico.
— Então, essa é a certa para você, não Amélia.
Não merda, não pode ser!
Meu irmão não sabe a metade dessa desgraça.
— Não pode ser ela... é uma mulher proibida.
— É casada?
Quem me dera, pois eu só matava o infeliz do seu marido e a
reivindicava para mim.
— Não adianta tentar me compreender, apenas liga o meu
pornozinho aí e me deixa assistir duas gostosas se fodendo.
— Se ela estiver mesmo lascando os seus pensamentos, te deixando
louco, obsessivo e renegando o próprio coração, acredite, é essa a mulher
certa para a sua vida — Hoss fala sincero —, mas se tiver dúvidas, medo,
apenas deixe acontecer, experimente viver esses sentimentos com ela.
— Tem certeza de que é a foguenta e explosiva do meu irmão sem
paciência que está me aconselhando assim?
— É sim, sua água de arroz. E só espero que essa mulher não seja
mafiosa, ou inimiga dos agiotas. Agora, se levanta daí, vai tomar um banho,
pois às 04h temos cobrança de vida. Rael e Igor vão com você — ele
termina suas palavras e sai, deixando-me alone com a minha depressão.
Talvez, se eu explodir alguns miolos, fico melhor.

Nos dias seguintes, pego mais pesado no trabalho da agiotagem,


foco-me totalmente. Também, fico mais tempo na academia, lutando, dando
aula e permanecendo bem distante do castelo... distante da Dalila. Foi
difícil ficar olhando-a de longe, cruzando os nossos olhares e me torturando
de ódio por aquele médico imbecil. Eu a evitei esse tempo todo, mas já está
falhando, pois quero a nossa aproximação, as nossas conversas e
implicâncias.
Lila me faz tão bem... sinto a sua falta.
O destino é uma cadela mesmo.
Domingo à noite, da janela da sala de jogos eu observo a Lila da
piscina. Ela está sozinha, encostada na borda.
Nervoso, eu mordo o meu sanduíche com força.
Não posso ir atrás dela, não posso ser fraco e me render a essas
vontades, não posso... Caralho! Eu vou me render sim, foda-se!
Saio da sala e caminho rapidamente para a área da piscina. Fico
cada vez mais perto de alcançá-la. Sei que já está bem melhor do joelho,
consegue andar de muletas e ter mais autonomia, o que me desespera, pois
assim que estiver 100%, Lila vai querer seguir a sua vida independente, no
tal apartamento do centro.
Ela me olha, sem demonstrar surpresa pela minha presença, pelo
contrário, demonstra tédio e deboche. Vontade de dar uns tapas na sua
bunda.
— Posso saber por que revirou os olhos e fez esse bico de
desdenho?
— Porque você não existe mais para mim, cansei de você. E acho
melhor ir embora, sumir da minha frente.
— Pois não vou.
— Vai sim!
— Não vou!
— É um imbecil, ficou dias sem falar comigo, sem olhar na minha
cara e agora, aparece assim querendo ser o meu amiguinho de novo! — Ela
se agita. — Voltou com a sua Amélia, andou fodendo outras mulheres? Já
me esqueceu?
Não dou resposta nenhuma.
Paro na borda, tiro as roupas, os sapatos e mergulho na água.
Ela é surpreendida, pois submerjo e avanço na sua direção, para
encarar os seus olhos vidrados.
Lila respira desesperada, segurando-se firme, como se quisesse
correr de mim.
— Está pensando que é minha dona, garota?
— Eu poderia ser...
— Lila, Lila! — Agarro os seus cabelos, aproximo o seu rosto do
meu e fico um centímetro da sua boca, maluco de vontade de beijá-la e
provar da sua língua.
— Você some, se afasta, mal olha para mim, para dias depois
aparecer assim, me tomando possessivo, como se tivesse direito. Está
brincando comigo?
— Acha que foi fácil ficar só te olhando de longe, com vontade de
te comer?
Ela geme e toca no meu peitoral.
— Então, por que ficar longe? Está apaixonado por mim, é por isso
que me evita falhamente?
— Lila, para com isso... — Agarro mais firme os seus cabelos loiros
e roço as nossas bocas sedentas para provar uma da outra.
— Seja sincero comigo, pois sempre fui apaixonada por você.
Meu coração acelera forte, machucando a caixa torácica...
Será que sinto isso?
— Não sei dizer se essa merda é paixão, mas você me faz ficar
louco.
Ela sorri e toca no meu pau.
Gemo, também tocando na sua bunda, que apalpo com força e
pressiono contra a minha ereção.
— Ficar sem você está sendo uma tortura, não paro de pensar por
um minuto no seu pau, em você me fodendo. Não paro, Vince... por que me
rejeita? Não me quer?
Ofendido, e sem aguentar mais resistir, eu provo que ela é meu
maior desejo, beijo-a igual um animal. Devoro a minha presa, mostro que
ela é minha, que está nas minhas mãos e que agora não vou largá-la. Eu
preciso da Lila!
— Vince... — Ela arranha as minhas costas, massageando o meu
caralho duro.
Mordo a sua boca e provo o gosto do seu sangue.
— Vira.
Ela vira ofegante, e eu afasto os seus cabelos longos, desço os beijos
pela sua nuca, pescoço, enquanto aliso a sua bunda. Tento afastar a calcinha
do biquíni, mas ela pressiona as pernas e não deixa. Belisco o seu traseiro
grande.
— Abre as pernas! Você não quer ser fodida, Lila?
— Estou pensando se deixo você me comer, já que amanhã eu terei
a frustração da sua rejeição, é melhor me aliviar com o vibrador.
Inferno!
Eu tiro o pênis da cueca e roço nela.
Ela joga a cabeça contra o meu peito e geme alto.
— Sua virgindade foi minha, seu corpo é meu, sua boca, sua boceta!
Você é minha!
Lila se contorce, fincando as unhas afiadas no meu braço.
— Diz isso só para me fod...
— Nem mais um piu, garota insuportável do meu coração! —
Aperto a sua boca, abro as suas pernas à força e arrebento o maldito biquíni.
— Humm! — Ela tenta lutar contra mim, em vão.
Acaricio a sua bocetinha lubrificada por baixo da água, louco para
sentir as suas paredes apertadas me sufocando.
Estou igual a um tarado, obstinado para nos satisfazer, mas posso
forçar o seu joelho machucado. Por isso, viro-a de volta, pego-a no meu
colo e beijo-a.
Não dou tempo para que me renegue, para que lute contra o nosso
tesão. E numa única investida, estoco na sua boceta.
Ela joga a cabeça para trás, puxa os meus cabelos e me xinga.
Sinto-a se contrair e me sufocar mais.
Belisco a sua bunda gostosa e começo a me movimentar sem parar.
Bombardeio, metendo nela e a arrombando.
Pressiono os seus lábios, para não berrar e sermos ouvidos.
— Estou te fodendo, Dalila... só eu posso estar dentro de você!
Sente eu te rasgar, sente a sua boceta apertada, preenchida até o útero com
minha porra? — repito sacanagens sem fim, que a atiça a me arranhar de
prazer e de muita raiva.
Está chorando, pois não tenho o caralho de pena de fodê-la.
Com a outra mão, estimulo seu clitóris, indo e vindo nas
arremetidas. Afasto os dedos e a faço provar do seu próprio gosto.
Lila lambe o meu dedo, segurando-se firme nos meus ombros. Ela
fica entre chupar, gemer e se concentrar em ser dilacerada por meu cacete.
Estava tão necessitado por ela, tão obcecado por esse momento, que
quando gozo, é sem avisar, explodo jatos quentes dentro do seu canal.
Mesmo assim, continuo duro, fodendo-a e arremetendo. Lila também goza,
mas não permito que se concentre no seu orgasmo, pois não paro!
Eu me nego a parar de satisfazê-la!
— Vince, eu amo você.
Em choque, imediatamente tomo seus cabelos e encaro seus olhos.
Ela morde a minha boca, tonta de satisfação. É como se estivesse
delirando de prazer.
— Lila, o que diss...
É a vez dela me desestabilizar e tomar o controle, rebolando em
mim. Fecho os olhos, perdido nos seus movimentos.
Só que mesmo depois de nos satisfazer, de chegarmos juntos ao
ápice, não esqueço das suas palavras.
Ela me abraça, respirando e suspirando sem fôlego.
Tento soltar suas coxas devagar e ouço os seus gemidos de negação.
Rendo-me e a abraço mais apertado, no calor do meu peito.
— Você não precisa me responder, nem ficar bravo comigo... —
sussurra.
Distancio o seu rosto, para segurar o seu queixo e encarar os seus
olhos brilhantes. Como essa criatura é bonita, uma perfeição de mulher.
— Eu não estou bravo.
— E o que vai fazer, se afastar de novo de mim?
— Você sabe ser obstinada, né?
Ela dá de ombros.
— Eu só sei o que eu quero. E você, nunca sabe, se esquiva...
— Porque isso é errado! — Seguro firme o seu rosto. — É meu doce
proibido, Lila. Nossa família me mataria se descobrissem.
— Somos adultos... e agora, você me vê assim, uma mulher... sua
mulher.
— Sabe o que é? Uma peste!
Desço-a do meu colo, nervoso.
— É um idiota. E está nervoso, toma. — Ela alcança a bandeja de
frutas e pega morangos com chocolate.
— Está pensando que sou seu cachorrinho de estimação, que pode
alimentar assim?
— Anda, come e fica quieto.
— Peste de novo! Vou te encher de tapas!
Como, imediatamente, saboreando o maravilhoso gosto. Comer é
vida!
Lila acaricia o meu abdômen, como se estivesse me mapeando. Seu
toque delicado, curioso, me deixa em chamas, atiça o meu corpo de uma
forma abrasadora. Gosto disso, de senti-la, de estar com ela, de estar
pegando fogo para devorá-la.
Será paixão? Não sentia nada disso com a Amélia.
Vou surtar com essa garota.
Dou só mais uns beijos nela, ainda me segurando para não fazermos
mais sexo. Fiquei excitado, ereto! Como ela consegue me deixar assim em
segundos, sendo que gozamos até o esgotamento?
Que inferno de encruzilhada é essa que eu chutei? Me fodi bonito!
— É melhor eu ir, antes que nos vejam...
— Espera... — Lila segura o meu braço. — Depois disso, vai se
afastar de mim, como sempre faz?
— Não, eu prometo.
Beijo a sua testa, mas ela fica cabisbaixa.
— Lila, o que foi? Eu não faço promessas em vão, pode ter certeza.
— Tudo bem, é só que eu senti um aperto no coração, não sei.
— Não é nada...
Abraço-a forte e lhe dou outro beijo, desta vez, na boca. Só nos
separamos depois de ambos perderem o ar dos pulmões.
Eu saio da piscina e fico escondido, esperando que a minha garota
saia e vá em segurança para o seu quarto...
03h35 da manhã...

Pela madrugada, realizo a cobrança de vida com o Igor e o Rael. Só


que na volta para o castelo, somos surpreendidos por um carro tentando nos
alvejar.
— Que merda é essa? — Rael puxa o fuzil no banco de trás.
— Estávamos sendo seguidos.
Igor também pega as pistolas, enquanto eu dirijo.
— Mete bala, porra! — exclamo, e Rael começa a fuzilar o veículo
na nossa dianteira.
— O caralho do carro deles também é blindado!
— Então vou facilitar para vocês. — De repente, piso no freio,
mudo a marcha e começo a dar ré, aproximando-nos deles.
— Que porra está fazendo, Vince?
— Calem a boca e deixem o professor agir.
Os tiros ficam mais próximos. Eles acertam igual chuva a janela e a
lataria traseira, parece que a banda negra do vidro balístico vai se partir em
milhares de pedacinhos.
— Vince, se um tiro atravessar esse carro e a gente morrer, eu te
arrasto para o quinto dos infernos!
— Calma, irmãozinho... agora, podem continuar o show! — Eu rio e
giro o volante, deixando o Igor e o Rael acertarem a frente do capô deles.
É realmente certeiro, o carro explode e os disparos dos inimigos
cessam.
Rapidamente paro e descemos com dois fuzis e duas pistolas,
metralhando-os.
— Esperem! — Rael berra e se aproxima do carro em chamas, no
meio da rua.
— O que ele está fazendo?
— É o Rael sendo a porra do Rael herói, só falta a capa do
Superman! — respondo ao Igor, enquanto cobrimos as suas costas.
— Tem gente viva.
Olhamos para a janela e encontramos dois caras, quase sendo
assados vivos. Ele e seu outro comparsa sobreviveram. Um deles ainda
tenta revidar, mas miro o fuzil na sua cabeça.
— Quietinha, princesa.
Que delícia, teremos carne viva para “dialogar”.
— Precisamos ser rápidos.
Igor volta com o carro, amarramos os filhos da puta feridos,
vendamos e jogamos dentro do porta-malas. Na estrada, é comunicado ao
Hoss e ao Morcego do ocorrido, e de que estamos levando dois javalis para
a retirada de pele e o abate. Os dois ficam prontamente em alerta.
— Tem ideia de quem seja o mandante? — Igor questiona.
— Pode ser qualquer um, velhos ou novos inimigos.
— Descobriremos depois que interrogá-los — respondo.
Assim que chegamos ao castelo, já seguimos para o lado dos
calabouços, com nossos animaizinhos prontos para o sacrifício.
— Um está muito ferido, com perfuração e queimaduras, vai viver
pouco — explico, jogando a nossa presa na sua suíte master e ouvindo-o
gemer, sem forças, está agonizando.
— Filhos da puta!
Rael sorri e dá um tapa na cara do javali 2, e bem onde está com a
pele queimada. Os dois estão mais para franguinhos assados e perfurados.
— Recomendo rezarem, pois caíram nas mãos dos Calatrone.
Ele o joga no calabouço, e Hoss aparece, louco de raiva para matar
nossos prisioneiros.
— Quer começar o interrogatório?
— Nada de matá-los antes da hora — Morcego adverte o nosso
irmão mais velho.
Hoss sempre gosta de estragar as nossas brincadeiras macabras, não
deixa chegar na vez de ninguém.
— Precisamos saber para quem trabalham, já é o basta.
— Mas podem ter identidades importantes, vamos torturar o
primeiro, que já está quase de encontro com o diabo. Mais alguns minutos e
ele pode morrer.
Concordamos com o Rael e damos as honras ao Hoss, que está
sanguinário para ter a conversa com a mocinha.
Ele pega o primeiro e tortura com sufocamento. O infeliz reluta sem
medo de morrer, por mais que esteja à beira disso.
Percebo que nosso segundo prisioneiro está sorrindo da cena, então,
faço eu mesmo o interrogatório com o bostinha. Rael tenta me impedir, mas
de tanto insistir, ele e o Morcego acabam permitindo.
Eu ajo pior, acendo um isqueiro e queimo a lateral do seu rosto já
fritinho, enquanto grita, xingando-me e negando a dar qualquer informação.
— Fala, seu arrombado, ou te asso igual um ganso! — Piso em cima
da sua mão, esmagando e ouvindo os seus ossos se partirem.
— Me matem, pois eu não digo nada para os bostas dos Cala...
AAAA!
Volto a incendiar a cara dele, até ser parado pelo meu irmão.
— Não vamos matá-lo agora, por estar mais resistente, vai ser
devagar, porra! — Rael bate no meu peito. — Se controla, baixou o Hoss
em você?
E falando nele, ouvimos um tiro.
— Seu monte de merda de cavalo!
Hoss acaba de executar o nosso javali 1, com um tiro na cabeça.
— Ele disse um nome.
— Qual?
— Baronesa.
Imediatamente nós nos olhamos, sem saber quem é essa mulher.
Mas eu sei que a missão de descobrir é minha, e irei direto a fonte
do conhecimento, o Google vivo.
Ele sabe de tudo.

Sozinho, no meio do jardim escuro, eu ligo para ele. Não sou


atendido. Pois foda-se, ligo de novo e só na decima vez a minha chamada é
aceita.
Ninguém fala do outro lado.
Eu tenho só um minuto, é a regra. E que seja!
— Eu sei onde o senhor foi, onde o senhor está e o que foi fazer, tio
Argus. Em troca de manter segredo, tenho um nome. Baronesa!
Ele desliga na hora a ligação e eu respiro fundo, louco com a
adrenalina.
Não existe só um gavião neste castelo.
Conto 30 segundos e ele retorna a chamada.
— Fique longe deste nome, você e seus irmãos, para o bem da nossa
família.
— Quem é ela, tio Argus? Diga, ou revelo para Hera onde o senhor
foi.
— É muito corajoso para me ameaçar, filho. É esperto como uma
ave de rapina.
— Não como você... e não jogue comigo, seja direto.
— Procure o Paulo e diga tudo o que aconteceu esta noite.
— Ele sabe quem é essa Baronesa? Tio Arg...
Ele desliga.
— PORRA!
Eu meto o celular na grama e passo a mão no cabelo.
E caralho, espera... “Procure o Paulo e diga tudo o que aconteceu
esta noite.”
Ele sabe! Como ele sabe o que aconteceu esta noite?
TIO ARGUS, VAI PARA A PUTA QUE TE PARIU!
Irritado, fora de mim, não volto para o calabouço, pois não passarei
essas informações para os meus irmãos até descobrir quem é essa mulher.
Essa baronesa será o que agora? Uma tia distante? Uma irmã que
não sabemos? Avó? A puta que lhe parta e que virou a nossa inimiga?!
Que porra de ligação o tio Argus tem com ela?
Que ódio, que vontade de ir até esse velho misterioso e estrangulá-lo
por guardar tantos segredos de nós!
E quer saber? Não vou descansar até descobrir quem é essa mulher e
que ligação ela tem com os Calatrone, para querer nos matar e para o nosso
tio nos mandar ficar longe.
É como se tivéssemos ido atrás do perigo, sendo que foi essa
desgraçada que armou para nós hoje!
Inferno! Eu vou pirar mesmo!
— Vince? — Lila leva um susto ao me ver invadindo o seu quarto,
enquanto dormia. — O que faz aqui uma hora dessas, seu louco? São
04h50!
— Louco? É, eu posso estar bem fodido das ideias.
Jogo-me na cama, ao seu lado e viro a minha garrafa de whisky.
Dalila não se move, apenas liga o abajur e me observa, possuído
pela raiva.
— O que aconteceu? — sussurra meio sonolenta.
— Nada, é só eu mesmo.
— E por que me procurou? — Ela toca no meu rosto, acariciando a
minha cara mal-humorada.
— Se você fizer mais uma pergunta, eu te fodo! Pois estou com
fome!
Ela continua a me tocar. Seus dedos parecem me trazer a alma para
o corpo.
Fito os seus olhos lindos, mágicos. E suspiro, admirado por essa
mulher ser tão bonita, hipnotizante. É igual uma mousse de maracujá
francesa.
— Você é tão linda, Lila... eu a quero para mim.
— Mas me tem... — Sorri fraco e beija a minha testa. — Você
sempre me teve.
— Como eu posso ter o que é proibido?
É a minha vez de tocar a pele macia do seu rosto angelical, perfeito.
— Não sou proibida, nem impossível. Vamos apenas deixar
acontecer... ambos queremos isso...
Eu quero, quero muito.
Beijo-a, lento, íntimo, envolvente e apaixonante. Provo dos seus
lábios, da textura da sua boca, estímulo a sua língua, o tesão e sanidade...
porém, quando nos falta ar, Lila me para e abraça o meu peitoral.
Ficamos ofegantes.
— Descansa, eu estou aqui para cuidar de você, como sempre fez
por mim.
Como isso incendiou o meu coração...
Pela primeira vez, sinto-me em paz, no ponto onde eu queria chegar
e cheguei, sem conseguir entender como isso pode ser o certo. Só sei que
estou aqui... e com a minha garota loira...
Acabo adormecendo com o seu carinho gostoso no meu cabelo.
Praticamente desmaiei de cansaço.
Pela manhã, desperto com a claridade da janela ardendo os olhos e
sem a Lila ao meu lado da cama.
Espreguiço-me, mais aborrecido por não a ter visto. E preciso comer
ou vou começar a ficar insuportável! Mato qualquer um que aparecer na
minha reta.
Vou até o banheiro e atravesso a porta aberta, ouvindo o som da
água do chuveiro caindo atrás do boxe fechado, também, vejo as suas
muletas.
É a minha garota loira.
Chego mais perto, abro um pouco e a vejo sentada no chão, nua e
tentando tomar banho sozinha.
— Dalila! — exclamo bravo.
— AAHHH! — Ela solta um grito de susto e me taca o sabonete. —
Merda, Vince, desde ontem querendo me matar do coração!
— É assim que está tomando banho, sozinha e correndo perigo de se
machucar?
— Estou sentada, bem segura aqui, não está vendo?
— Peste respondona! E na hora de se levantar com uma perna só? E
se escorregar nesse chão liso, se ferir feio e eu não estiver aqui para te
socorrer?
— Meu Deus do céu, quando a entidade do tio Paulo possuiu o seu
corpo? Está insuportável.
— Não vou discutir com você, estou com fome!
Respiro fundo, tiro as roupas e entro no segundo chuveiro, de frente
para ela. Deixo a água fria acalmar os meus nervos.
Essa menina está me matando de estresse. Também, não estou
reconhecendo esse Vince puto.
Olho para a Lila no chão e a vejo fixada, igual psicopata, no meu
pau e no meu físico.
— Está boa a visão aí de baixo?
— Maravilhosa... — sussurra, e eu endureço, querendo ver a sua
nudez, que está tampada propositalmente pelas suas pernas. — Não me olhe
assim, seu tarado, tenho fisioterapia daqui a meia hora com o Dr. Arthur.
Ontem, já transamos o suficiente na piscina, acordei dolorida...
— Para mim, nunca é o suficiente, eu te quero a todo instante.
Ajudo esse patrimônio escultural a se erguer do chão, seguro firme a
sua cintura e a beijo gostosinho, acariciando os seus peitos cheios. Eles
sobram na minha mão grande e grossa, queria mamá-los.
— Lila? — Ouvimos a voz da Hera e arregalamos os olhos.
Ela está se aproximando do banheiro.
— É a Hera!
— Oi, já estou terminando! — Lila berra.
— Precisa de ajuda?
— N-Não, me espera no quarto, já vou...
— Está bem.
Solto o ar dos pulmões, aliviado.
— Depois nos vemos, Magali... — Ela morde a minha boca,
provocando-me com a porra de um selinho pobre.
Não deixo barato, a pressiono na parede e mostro como que se beija
um homem de instinto faminto, como eu. Ainda, dou uma esfregada na sua
boceta e um tapa estridente na sua bunda.
Lila se afasta e pressiona a boca para não gritar de dor.
— É assim que se beija um urso faminto, princesinha.
— Mais tarde eu vou te matar, Vince!
Ela pega as muletas, veste o robe e sai enraivecida comigo.
Sorrio, alisando o meu pau ereto como um poste. Acabo me
masturbando para me aliviar dessa tentação proibida.
Para a minha surpresa, após o café e antes de eu concluir o meu
plano de sair escondido do castelo, para me encontrar com o Paulo na sua
mansão, Hoss já havia o convocado para uma reunião secreta, sem nossas
mulheres... a deles no caso.
— Onde esteve, papa de arroz? Você sumiu o restante da
madrugada! — Rael me fuzila.
— Precisava descansar, agora é proibido eu ter o meu soninho da
beleza? — respondo e ergo as pernas sobre a ponta da mesa. Prazer que
posso ter quando tio Argus não está com a sua autoridade.
— Você deveria levar as coisas mais a sério.
— Se eu levar tudo a sério, viro a nossa bolinha de fogo
primogênita.
— Não vamos perder mais tempo, estou aqui para saber o que houve
ontem. Vocês interrogaram os dois bostas? — Paulo pergunta, nervoso e
com os punhos fechados.
Hoss olha para o seu cunhado preferido, mas é o Morcego quem
fala.
— Sim, um deles entregou um nome.
— Baronesa — digo rapidamente, prestando atenção no
comportamento do Paulo, que muda drasticamente, em segundos.
— O-o que disse?
— Baronesa, conhece esse nome? — Hoss questiona.
Ele fica quieto, vagando em pensamentos.
— Sim, é a ex-amante do meu pai. Isso explica muita coisa, hoje em
dia essa mulher tem grande influência na política.
— Não explica porra nenhuma, por que ela está tentando matar os
Calatrone? — Hoss bate na mesa, irritado com ele.
— Realmente, qual o motivo? — Rael murmura
— E eu quero saber só quem é essa mulher — falo, e Paulo me olha.
— É a ex-esposa do nosso presidente da câmara de Lisboa.
— O quê?
Abrimos a boca, sem acreditar.
— Isso está me cheirando a segredos do nosso tio Argus! — Hoss
conclui o mesmo pensamento que o meu. Pensamento não, certeza.
— Afinal, ele pertencia à máfia antes de nascermos. Estão todos no
mesmo barco e em família — Paulo comenta, e bufamos.
— Vou entrar em contato com o tio Argus para entendermos o grau
de perigo que essa mulher traz, e se devemos reagir, mandando alguma
mensagem.
— Acho que deveríamos mandar uma cabeça e uma língua
decepada dos nossos prisioneiros, como forma de recado, para essa
Baronesa não se meter com os Calatrone, pois não teremos medo de reagir
— Rael declara determinado.
Todos concordam com a mesma determinação.
Quando se trata de proteger a nossa família, podemos ser mais do
que sem escrúpulos. Eu mesmo sou capaz de cortar membro por membro de
qualquer inimigo que se meta com as pessoas que eu amo.
Após a nossa reunião terminar, eu vou atrás do Paulo e peço para
conversarmos a sós.
Ele aceita me acompanhar até o salão de festas do castelo.
— O que quer conversar?
— Sobre essa tal baronesa e o que você está escondendo.
Ele cruza os braços.
— Eu escondendo?
— Tenho quase certeza de que essa mulher tem ligação com a sua
sobrinha...
Paulo imediatamente dá um passo feroz, enfrentando-me.
Não fico nem um pouco intimidado.
— Se não tem certeza, cala a boca.
— E por que ficou estressadinho? Não disse que estamos no mesmo
barco? Só quero entender o tamanho da merda, se essa mulher coloca a vida
de todos em risco, principalmente a da Dalila, que está obstinada a
encontrar a mãe.
— Argus teve razão de pedir para eu ter cuidado com você. Que
vontade de socar os seus dentes, Vince. Não vou te contar nada, e isso é
para a sua própria segurança.
— Se estiver tentando poupar os Calatrone dos problemas dos
Borghi, acho que é meio tarde, não concorda, priminho? Não teria um
melhor aliado para proteger a nossa família, ainda mais a Lila. Essa mulher
é perigosa e quer matá-la. Chega de segredos, Paulo. O quanto isso já nos
fodeu?
Ele respira fundo.
— Não quero colocar o Rael, nem o Hoss nisso, não é da conta
deles, nem da sua.
— Então, vamos poupar os dois, confie em mim. Vou juntar provas
necessárias que comprometam essa Baronesa, antes que ela chegue até a
Lila.
— Essa não é a mãe da Dalila, se estiver deduzindo isso.
— E quem é?
Ele não fala.
— Só saiba que todos estão ligados à mesma máfia. Se conseguir
algo, passe-me, tentarei fazer de tudo para manter a nossa paz, sem guerras.
Assinto e sem querer mais discutir, ele pede licença, retirando-se.
Bufo.
Tio Argus deveria voltar o quanto antes, para pelo menos nos dar
um trilho do que fazer com essa situação. Penso muito na segurança da Lila,
nela se recuperando e querendo ir embora para morar sozinha. Vontade de
expor toda a verdade para ela, mas não vou fazer isso antes de descobrir a
identidade da sua mãe. Paulo pode ter só me despistado, sobre essa
baronesa.
Farto de tantos problemas, deixo que meus irmãos resolvam a
questão do nosso prisioneiro vivo.
Passo pela sala e encontro a Lila e a porra do médico massageando
as suas coxas.
Que desgraça de fisioterapia é essa?
Quero cortar os dedos desse espantalho e dar para os cachorros do
Rael comerem!
Chego bem perto deles, de braços cruzados, e ela me olha, sem
disfarçar a sua cara de prazer pela massagem do estrume de hipopótamo.
Juro que quero socar a cara desse infeliz! Matá-lo!
— Você não tem que fazer essa droga de fisioterapia só no joelho?
— praticamente berro, e ele se vira assustado.
— Vince... — Lila me fuzila.
— Quantas semanas mais vai durar isso?
Antes que eu exploda a sua bosta de cabeça!
— Mas umas dez sessões.
Dez? Eu vou surtar e desovar o corpo desse cara!
— Ainda bem que falta pouco. — Ela pigarreia, sorrindo acolhedora
para ele.
Acolhedora é a minha mão batendo no seu traseiro!
Já estressado, sento-me na poltrona e não saio por um minuto de
perto da minha... dessa garota! Até peço bolo e café, para comer rabugento,
enquanto a sessão infernal não acaba.
Dalila fica brava comigo, tenta me expulsar o tempo todo com
indiretas. O meu pau na sua testa!
Ainda, na hora que ele ousa subir para as coxas dela, eu rosno feito
um pitbull, com vontade de destroçar as mãos dele! Mais um passo e eu
faria isso!

Acho que o maior alívio do Dr. Arthur foi quando finalizou a


fisioterapia. Ele comentou que precisava ir embora, pois tinha outro
compromisso, mas eu desconfio que a cara ameaçadora do Vince seja o real
motivo dele se despedir tão rápido, nem aceitou a minha xícara de café. E
sem biscoitos, porque o passa fome da Magali comeu tudo, sem deixar
nenhum para nós.
— Por que dessa implicância toda com o meu médico? — pergunto,
depois de ficar a sós com o Vince na sala.
— Você não tem um pingo de vergonha na cara, Lila? O cara
massageando as suas coxas e você quase gozando com o toque dele!
— Vince! — Pego a revista da mesa ao lado e jogo nele. — Alguém
pode ouvir, seu idiota!
— Não quero falar com você, estou bravo!
— Se você ousar virar as costas, taco as minhas muletas na sua
cabeça.
— O que foi?! — ele resmunga, mas para e me olha.
— Não fala assim comigo, vem aqui.
Idêntico a um soldadinho bem-mandado, ele vem e eu peço o seu
braço para me ajudar a me levantar.
— Por que não pediu para o médico filho da puta? — murmura.
— É, eu devia mesmo, talvez ele estaria apertando a minha bunda
— respondo, e o Vince me aperta, pressionando o meu corpo e beliscando a
minha bunda.
— Ai!
— E eu devia me reconciliar com a Amélia!
Abro a boca e dou um tapa ardido no braço dele.
— É um cafajeste sem remorsos! Não ouse mais tocar no nome
dessa infeliz! E me larga, era só para me erguer do sofá. O meu tio Paulo
está na mansão e se vê-lo assim comigo, vai te matar — comento e acaricio
o seu peitoral atlético, gostoso.
Que vontade de beijar essa boca, de deixá-lo nu e castigá-lo por
tocar no nome daquela baranga...
— E ele também te mata por provocar o seu primo indefeso, não
esqueça que a safada aqui é você.
Rolo os olhos e antes dele me soltar, Vince morde o meu lábio. Fico
louca para retribuir, para sentir os seus lábios, só que escutamos o barulho
do elevador se abrindo e eu rapidamente me apoio nas muletas. Ele se
afasta, disfarçando que está pegando algo da mesa de centro.
— Lila, estava te procurando.
É a Hera, ela nem dá moral para a presença do seu primo.
— Precisa de mim para algo?
— Não, só vim te avisar que mais tarde eu vou te ajudar a se
arrumar, para irmos ao teatro com a Jolie, a Elena e os nossos machos
perseguidores, que não saem dos nossos pés. — Ela revira os olhos.
— Lila nem deveria ir! — Vince exclama na mesma hora e cruza os
braços.
Não aguento e admiro os seus bíceps fortes, que agora há pouco me
sustentavam com posse. Saudades inclusive. Porém, retorno com os
pensamentos sãos e fuzilo esse homem.
— A vida da Lila não é da sua conta, queridinho.
— Até a sua vida é da minha conta, cobrinha de saltos!
— Vai infernizar outra!
— Humrun... eu vou com toda a certeza, Hera. Amo teatro. É bom
que me divirto — digo.
Ela dá um sorriso de triunfo.
Vince bufa e vira as costas, deixando-nos sem a sua presença.
Passo o restante do dia com a Hera, no seu closet, sentada na
poltrona e a ajudando a separar milhares de roupas, sapatos e acessórios que
ela não quer mais e pretende doar.
Perto do anoitecer, vamos para o meu quarto e ela me ajuda a me
arrumar. A única coisa que eu não calço são os saltos, mas fico
deslumbrante com o meu vestido preto, longo e com fenda na coxa. Já o
cabelo e a maquiagem eu mesma faço. Pronta, desço sozinha para aguardar
o restante da família.
Para a minha surpresa, ou não, o Vince aparece, arrumado de terno e
camisa branca. Até os cabelos loiros penteou para trás.
Fico excitada.
Como ele pode fazer isso com o meu coraçãozinho?
— Gosta do que vê?
Ele caminha até o meio do tapete, coloca as mãos nos bolsos da
calça social e sorri de canto, malicioso.
Céus, que homem lindo, perfeito! Sinto o seu perfume daqui, estou
tonta, hipnotizada. Seus olhos ganharam até mais destaque.
Respiro fundo, recompondo o meu sangue nos lugares certos.
— Está muito bonito...
Para não dizer: um puto gostoso!
Ele também me come dos pés à cabeça.
Não sei se estou deslumbrante, porque não posso vestir saltos e fui
obrigada a optar pela sapatilha. Graças a Deus estou melhorando, já consigo
firmar o joelho. As fisioterapias estão sendo fundamentais.
— Você é a própria perfeição, princesinha loira.
Sorrio e mordo o lábio, querendo tanto agarrar esse homem. Mas
disfarço o meu tesão, pois logo a família chega e se reúne na sala.
As duas babás ficarão com as crianças no castelo, incluindo a Maria,
que fez um escândalo, furiosa para ir conosco. Infelizmente, só entram
adolescentes acima de dezesseis anos na peça reservada pela Hera.
— Vocês estão devidamente armadas? — Rael questiona, olhando
para nós mulheres.
— Sim. — Jolie então pisca. — Mas se quiser conferir, está entre as
minhas coxas — ela sussurra bem do lado dele.
— Assim desestrutura o homem. — Vince ouve e ri da cara do
irmão.
— Vai se foder.
Rael fica nervoso e abre a porta do carro, mandando a Jolie entrar
imediatamente.
— Você está com a sua? — Hoss olha para Elena, que assente
também.
Já Hera, nem precisa questionar, sabemos que ela tem um arsenal
pelo corpo. É a sua paixão o armamento. Duvido que não esteja com umas
duas ou quatro pistolas.
— Eu não posso ter uma? — pergunto.
— De jeito nenhum! — Vince exclama. — Vai segurar a arma ou as
muletas?
— Que idiota!
Dou uma cotovelada forte no palhaço sem graça.
Ele me ajuda a entrar no outro carro, junto da Hera e do Morcego.
E com todos nós prontos, seguimos animados para o teatro.
Assim que chegamos ao teatro, eu e os meus irmãos, incluindo o
Morcego, nós nos olhamos, repassando o código de segurança. Como eu já
havia avisado antes, a Lila ficará sob o meu cuidado constante. Uma tarefa
muito prazerosa, que fiz questão de escolher.
Acomodamo-nos nos nossos lugares, com cada homem ao lado das
mulheres. Eu fiquei do ladinho da loira mais gata.
— Espero que essa peça não seja entediante — digo.
— Acredito que não saiba sequer o tema.
Dou de ombros, o importante é eu estar aqui, protegendo a minha
garota.
— É sobre um príncipe, que se apaixona por uma das amantes mais
nova do seu pai e a engravida, então, os dois lutam para viver esse amor que
pode custar a vida de ambos — explica.
— Interessante, vou dormir até acabar.
Ela revira os olhos.
Quando essa peça desinteressante começa, quem eu assisto é a Lila
e as suas expressões: apaixonada, emotiva, surpresa... ela linda.
Alguns minutos seguintes, os meus irmãos se mostram mais
entediados do que eu. Hoss olhou umas cinco vezes no relógio de pulso e
Elena o beliscou, pedindo para prestar atenção. Pelo jeito, ele, Rael e
Morcego também prefeririam um tiro nos testículos, em troca dessa tortura
acabar. Acho que a parte mais interessante é quando a amante fica seminua
e todos nós olhamos atentamente para o palco.
— Nisso você presta atenção... — Lila resmunga e pressiona o meu
braço.
— É peitos, eu não vejo com muita frequência.
Ela me belisca sem dó, de novo.
Que vontade dar uns tapas na bunda dessa garota!
— Eu vou descontar isso depois, peste... — resmungo bem pertinho
do seu rosto.
Ela suspira e se afasta, olhando para a nossa família, em seguida, a
peça de teatro.
Se passam mais alguns minutos entediantes e a Lila cutuca o meu
braço, despertando-me do meu cochilo.
— Vou ao banheiro, já volto.
— Pois eu vou junto, princesa.
— Não precisa, eu já...
— Precisa sim, acha que eu vim aqui passar sono com esse tédio de
teatro? Sou seu segurança, agora, me dá essa mão e pega a outra muleta.
Ela revira os olhos e é obrigada a aceitar as minhas ordens para
ajudá-la.
— Vince, melhore essa cara — ela adverte, após a gente parar na
frente do banheiro feminino.
— Quero comer! E depois também comer você de sobremesa.
Eu aperto a sua bunda, e ela me dá um tapa.
— Antes, ficava todo louco, resistindo a mim, hoje, parece o meu
cachorrinho no cio.
— O quê? Repete, sua... — Antes que eu pudesse dar mais tapas no
seu traseiro, ela entrou rápido no sanitário.
Isso não vai ficar assim.
E que falta de paz!
Essa loira gostosa tem razão, estou igual um cachorrinho caramelo
no cio. Faz dias que não me sinto mais culpado por querê-la, por desejá-la,
por mais que seja errado. Não sei onde nós dois vamos parar com essa
situação, e igualmente nem me esforço para saber.
Dona Dalila sai do banheiro e voltamos para a peça entediante.
Mais tarde, assim que a tortura acaba, Hera propõe de todos irmos
para uma baladinha, beber e dançar, só que o Hoss, o Morcego, o Rael e eu,
nos contrapomos na hora. Nem pensar! Devido a tudo que anda
acontecendo, é melhor não arriscarmos.
— Por que o caralho do NÃO? — Hera surta.
— Porque não! — Hoss exclama sem paciência.
— Adoro ver o circo pegar fogo. — Sorrio e me escoro na minha
loirinha manca.
As mulheres estão lado a lado, fuzilando-nos. Até a Lila.
Dou de ombros.
— Foda-se o não de vocês, a gente vai! — Jolie declara, e é a vez do
Rael surtar.
— Não vai para lugar nenhum! Vocês entrem nesse carro, e para
ficarem felizes, passamos o restante da noite na nossa boate.
— Não existe só a boate Fogo! — Elena também fala brava.
— Se você der mais um piu, Elena, eu...
— Eu o que, diz, Hoss? — Os dois se enfrentam iguais fera.
Que delícia, isso sim é um espetáculo de verdade. Só faltou uma
pipoquinha doce.
— Chega disso! Vão vocês machões embora, sabemos muito bem
como nos cuidar.
— Hera, se você der mais um passo eu te pego pelos cabelos e te
levo arrastada! — Morcego brada, de um jeito que raramente o vemos.
Hera solta fogo pelas narinas.
— Que seja, maridinho!
Ela coloca a mão por baixo do vestido, a Jolie e a Elena também,
então as três miram os canos das armas na nossa direção.
Não tivemos tempo nem de reagir. Chocados!
Até a Dalila foi para o lado da gangue das diabas.
É a minha vez de enlouquecer de fúria.
— Lila, você nem pense, sua peste!
— LARGUEM ESSAS PORRAS AGORA!
— Mais um passo, e eu faço buracos no seu pé! — Jolie profere
contra o Rael. E ninguém duvida, ela é louca mesmo.
— Afinal, é especialista em atirar no seu marido! — Ele quase dá
um passo, mas Hera destrava a arma.
— Vamos pegar as três e colocar num calabouço, suas
insuportáveis!
— Vão ficar no mesmo lugarzinho. Agora, Elena, Lila, Hera, entrem
no carro, mas mirando o cano neles.
— Lila, não ouse ir com essas...
A safada não me escuta, e é a primeira a entrar.
Porra, eu juro, quando puser as mãos nela, não ficará mais manca, e
sim, voltará para a cadeira de rodas, de tanto que vou fodê-la!
Morcego segura o Hoss, para ele não surtar. Na verdade, é cada um
de nós se segurando para não enlouquecer. E assim que essas diabas entram
no veículo e saem pisando no acelerador, imediatamente acionamos nosso
batalhão de segurança para segui-las.
Eu rastreio o celular da Hera e encaminho para todos. Também,
entramos no outro carro e aceleramos atrás delas.
— Quando eu colocar as mãos na Jolie, ela vai pedir socorro até
para o diabo!
— Hera que me aguarde, eu vou acabar com a sua raça.
— Elena também saberá como é me ver fora do controle, putamente
furioso para matá-la!
Rael, Morcego e Hoss vão murmurando tudo o que vão fazer com
suas mulheres. Enquanto eu, vou quieto no banco, pela primeira vez sem
zombar deles, pois estou fodido por causa da Lila! Não sei nem descrever o
meu ódio. Minha mão está coçando para deixar hematomas roxos naquelas
ancas redondas.
— Na próxima reunião, na quinta, vamos expor tudo o que está
acontecendo para elas, para se sentirem culpadas de colocarem a Dalila em
mais perigo.
Todos nós concordamos. E o que mais me surpreende, é que a Jolie
sabe desses riscos, mesmo assim, a deixou que fosse junto!

— Que satisfação tirar esses homens do nosso pé! — Hera exclama,


enquanto dirige. — Podemos muito bem nos cuidar, não sei por que desse
inferno de marcação.
— É sempre o que eu penso, somos ótimas em defesa pessoal e em
tiro. Jolie e Hera que nos diga. — Elena ri.
— Nisso eu tenho que concordar. — Também pisco.
— Uma noite das meninas, em qualquer lugar que desejamos! Sem
machos no nosso pé!
Soltamos um gritinho, divertidas, e Hera ergue o som mais alto e
acelera para a balada.
Mesmo sabendo que o Vince rastreou a nossa localização, e ele e
seus irmãos já tenham colocado um exército atrás de nós, tudo vale a
emoção de irritá-los e mostrar a autoridade das mulheres.
— Vamos descer rápido, eu ajudo a Lila.
— Não se preocupe, já consigo me locomover ligeiramente com
uma muleta.
— Mas, ficarei ao seu lado.
Jolie me dá um olhar sério, seguido de um sorriso arteiro.
Então entramos no local, rindo iguais a adolescentes rebeldes.
Conseguimos um espaço no camarote, com bebidas e uma mesa.
Nós nos divertimos, mas não por muito tempo, pois vemos os
homens Calatrone aparecerem lá embaixo, com uns dez seguranças.
Parecem incorporados de tanta raiva. Até o meu Vince...
— Está uma confusão lá no térreo, eles chegaram.
— Deixe-os, o importante é que conseguimos vir para cá, apreciar
um novo ambiente. E o melhor, irritá-los!
Elas riem e brindamos.
Eles quatro nos encontram, e por incrível que pareça, não avançam
ou fazem qualquer show. Na verdade, sequer falam conosco, apenas viram
as costas e vão se acomodar na outra área VIP do lado.
Todas nós ficamos surpresas, sem entender nada.
— Eles estão aprontando alguma vingança, pressinto... — Hera
murmura, observando-os.
— Vamos deixar esses machos pra lá e dançar.
— Vão vocês, eu fico com a Lila — Jolie fala.
— De jeito nenhum, se você não for dançar também, te cutuco com
minha muleta.
— Tem certeza?
— É claro, vocês não têm culpa do meu joelho. Vão lá, ficarei bem
aqui, sentadinha.
Convencida, ela aceita e vai se divertir com a Elena e a Hera. Os
maridos das três também se levantaram e seguiram as suas esposas.
Permaneço de longe, observando o Vince sozinho.
Ele logo se ergue e vem devagar até mim, sentar-se ao meu lado.
Cheguei a suspirar com a beleza desse loirinho gostoso.
— Eu queria estar dançando e bebendo... — sussurro, e ele toca na
minha mão, por baixo da mesa.
— E eu queria estar dando uns bons tapas em você, depois beijando
onde bati.
Sorrio, debochando da sua cara de bravo.
— Não revira os olhos, garota. E vamos embora.
— Mas eu acabei de chegar com as meninas.
— Cada uma já está brigando com o seu homem... ou se beijando e
quase transando no meio da pista, tipo a Jolie e o Rael. — Olhamos para
eles, dando de cara com a cena quente dos dois safados se pegando na pista,
Hera e Elena não são diferentes com seus maridos. Eu as entendo, esses
homens são uma praga irresistíveis. É uma vontade de matar e foder ao
mesmo tempo. — O final já sabe. Sexo!
— Você não toma jeito mesmo. — Rio.
— Eu só sei tomar você nos meus braços... — Ele quase toca na
minha coxa, mas afasto a sua mão safada.
— Já perdeu completamente a noção do juízo comigo, Sr.
Calatrone?
— E que juízo? Você me meteu nessa, fodendo o meu juízo... e
vamos logo para casa, lá conversamos...
— Não podemos sair assim, sozinhos... nós dois...
— Nossa família sequer desconfia, infelizmente, pois sabem que a
tenho como uma irmã de consideração.
Noto que ele fica estranho e fixa o olhar distante, enquanto entra em
conflito com a sua própria cabeça.
Desespero-me, com medo dele começar a dizer o quanto isso é
errado e me rejeitar, por isso, toco no seu volume na calça, e ele fecha os
olhos, em surpresa. E muita surpresa, pois fica até sem ar com o meu toque
possessivo no seu pau.
Vince é meu!
Ele me encara com tesão, deixando claro para irmos embora
imediatamente. Avisamos só a Hera e o Morcego da nossa saída, que logo
passarão o recado para os demais.
Quando chegamos ao castelo, levei a Lila para uma das torres, com
vista para a floresta ao leste, e finalmente, a sós, beijei-a como se não
houvesse o amanhã. Só não dá para fodermos aqui, pois a Lila precisa de
uma posição que não a esforce, mas se estivesse bem, já estaria sendo
comida até de cabeça para baixo!
— Como você é deliciosa — murmuro e mordo a sua boca, viciado
em prová-la.
Ela sorri ofegante e se ajeitando no meu colo.
— Eu gosto tanto de ficar assim com você — fala e acaricia o meu
rosto, com carinho, paixão.
Acho que posso ouvir até os seus batimentos cardíacos.
— Gosta?
— Gosto muito. E você, gosta?
Agradeço a falta de luz, pois ela não nota os meus olhos se
desviarem para a vista noturna.
— Gosto, Lila. Gosto até mais do que eu gostaria de admitir.
— Então, por que não nos assumimos para a nossa família?
— Acha que estamos num relacionamento?
Ela não responde, mas sei a sua resposta, os seus desejos. Lembro
todos os dias que é apaixonada por mim.
— Não pense muito, está tudo bem — diz e começa a abrir os
botões da minha camisa.
Não está nada bem... porém, eu a quero tanto, e que se foda o
mundo ao nosso redor.
Volto a beijá-la com fervor, fome, tesão.
Ela geme nos meus braços, excitada por mais.
— Quero você me fodendo.
— Princesinha atentada, desde quando foi tão safada assim?
— Desde que foi o meu primeiro homem — ela sussurra, palavra
por palavra no meu ouvido.
Aperto os olhos, arrepiando-me.
Eu quero ser o primeiro e o único homem da minha garota, não
suporto, não tolero a ideia de outro filho da puta a tocando, provando do seu
beijo, do seu corpo.
Devido ao meu pensamento possessivo, eu a pressiono muito forte e
ela geme, por causa do joelho que se moveu abruptamente.
— Assim não dá, minha garota loira... — resmungo, e ela bufa.
— Então vamos para o quarto, eu fico paradinha na cama e o senhor
faminto faz o que quiser comigo.
— Tentador, eu vou ser obrigado a aceitar...
Ajudo-a a irmos discretos para o meu quarto.
Lila entra, senta-se na cama e me chama baixinho.
Eu tiro a camisa e chego rápido, excitado com a sua carinha safada.
Ela ergue a mão e toca na minha ereção evidente pela calça.
— O que pensa que está fazendo, safadinha?
Sem responder, ela abre o cinto, a braguilha e mergulha a sua mão
até o meu pau latejante.
— Quero chupar você...
Merda, meu pau pulsa, sufocado pela boxer.
Lila abaixa a calça de uma vez e o meu caralho salta na sua cara:
duro, atlético e cheio de veias. A cena é tão obscena e sexual, que ela fica
paralisada e boquiaberta.
— Eu nunca fiz isso... — sussurra e me toca, com seus dedos
pequenos e curiosos.
Suspiro, controlando-me para não desmaiar.
— Desde que não me castre com os dentes, de resto, pode chupar e
lamber à vontade. Já é de casa.
— Engraçadinho, não me deixe mais nervosa...
Sorrio, e ela ruboresce, desviando a sua atenção para dar a primeira
lambida na cabeça vermelha do meu pau. E ela faz...
Porra!
Eu fecho os punhos, antes de não segurar os meus impulsos de
tomar os seus cabelos com força.
Ela volta a colocar a língua para fora e escorrega na ponta da glande
pré-ejaculada, como se estivesse saboreando um sorvetinho gostoso. Dalila
repete esse movimento umas três, quatro, cinco, sei lá quantas vezes, até eu
me pressionar para frente e forçar o comprimento dentro da sua boca.
Ela quase se engasga, mas entende o recado e começa a me chupar
com mais afinco. Mesmo sem experiência, Lila me leva às nuvens.
Eu gemo com seus movimentos de vai e vem, com o barulho de
sucção e até as pressionadas que ela dá nas minhas bolas.
Ahhh... como isso está gostoso.
— Vou gozar, assim... — arfo, segurando o quanto aguento.
E mesmo eu avisando, Lila não para de me chupar.
Seguro os seus cabelos e então despejo igual uma avalanche de
esperma dentro da sua boca.
Ela tosse e engole a porra quente, afastando-se para respirar.
— Céus, Lila. Você foi espetacular!
Ela sorri, muito ofegante.
— Que bom que gostou... agora é a sua vez — diz e abre as pernas.
É uma safada, só para me enlouquecer.
Sem pensar muito, eu termino de tirar nossas roupas, jogo-a no alto
da cama e escalo o seu corpo, lambendo, beijando e apreciando essa deusa.
Também, paro entre as suas coxas e dou um oral demorado, como se o
mundo realmente tivesse parado para o nosso prazer, e claro, para eu adorar
a sua boceta.
Ouvir os seus gemidos, observar o seu corpo se contorcer, as suas
mãos apertarem o travesseiro, é a coisa mais maravilhosa que existe.
O que está acontecendo comigo?
Sinto-me cada vez mais marcado pela Lila, como se ela me
completasse... como se fosse a mulher da minha vida.
— Vince... — ela geme o meu nome e puxa os meus cabelos.
Para não pensar muito, após o oral, visto a camisinha e completo o
nosso sexo, satisfazendo com a penetração, até o esgotamento.
No fim, saio de cima dela e me sento na beirada do colchão. Estou
pingando de suor e querendo mais sexo.
— O que houve? — sussurra fraquinha, ainda recuperando as
forças.
Passo a mão no cabelo e encaro os seus olhos dóceis, meigos.
Ela se encontra descabelada, suada e vermelha.
Como é linda, linda e minha!
— Lila, será que estou me apaixonando mesmo por você?
Ela se ergue, tampa a nudez e encosta as costas na cabeceira. Está
boquiaberta.
— Está apaixonado por mim?! — pergunta, ou exclama eufórica.
— Eu quem estou fazendo a bendita pergunta.
— Eu não sei dizer, você quem devia saber.
— E por acaso eu já fui apaixonado por outra mulher para saber?
Lila toca na minha mão. E só de sentir o seu toque o meu coração já
se acalma.
— É a mesma coisa que sentia por aquela idiota da Amélia? E
espero que não esteja vendo essa mulher...
— Eu não estou vendo a Amélia. E não é a mesma coisa, Dalila,
você é completamente diferente de qualquer outra. É a minha garota, a
minha protegida, você é minha!
Eu chego tão veloz perto dela, como se quisesse fundir nossas almas
para ser apenas uma.
Ela toca no meu peito, sentindo os meus batimentos cardíacos,
acelerados. Colo nossa testa e seguro o seu rosto.
— Eu amo você... desde sempre. — Aperto os olhos, afetado pelo
que confessa. — E não espero que diga o mesmo, já te disse. Mas, espero
que seus sentimentos se encontrem e me deem um lugar no seu coração...
que esteja apaixonado por mim.
— Já tem, Lila... meu coração é praticamente seu.
Sem ter mais o que dizer, beijo-a com toda a sagacidade do meu
desejo de viver. É um beijo único, intenso.
E fico com mais tesão. Queria fodê-la de quatro, dando bons tapas
na sua bunda.
— Quando o meu joelho estiver melhor, quero cavalgar igual uma
tarada em você — fala excitada e morde a minha boca.
Também mordo a sua.
— E eu vou te colocar de quatro, para encher essa bunda de tapas.
Vai ficar semanas sem andar...
Ela sorri e avança, puxando-me por cima do seu corpo de novo.
— Jura? Assim vou me empenhar mais ainda na fisioterapia.
— Que princesa safadinha, que monstro eu criei?
— Um monstro que quer ser bem comida o tempo todo. Transar é
muito gostoso.
— Gostoso só comigo. Eu sou o único a te proporcionar prazer,
Lila. O único! — exclamo e a beijo, quase arrancando sangue da sua boca.
Ela geme, ofegante e repousa a cabeça no travesseiro.
— Eu sou só sua... — sussurra, acariciando o meu rosto.
Fito os seus olhos, sentindo a profundidade do seu olhar
apaixonado.
Ela dilata as pupilas, analisando-me.
Ficamos assim, conectados, até o meu coração disparar e eu voltar a
beijá-la, para saborear dos seus lábios e da sua língua.

Nos dias seguintes, minha relação com a Lila fica quase fora do
controle, comigo a agarrando a qualquer oportunidade que a vejo sozinha,
sempre beijando a sua boca e a provocando safado, com encoxadas e
passadas de mãos.
É mais forte do que eu. Só de vê-la eu já fico louco.
Ela também não é santa, essa peste loira adora me deixar com o pau
duro, estressado e a querendo.
Aonde eu cheguei? No inferno, sem dúvidas!
— Que humor é esse? — Hera pergunta, ao me ver sentado no outro
sofá, de frente para o meu karma e as suas pernas torneadas, expostas pelo
vestido curto.
Essa sem-vergonha, cara de ninfeta, faz de propósito.
Ela abre ainda mais as pernas e repousa as mãos entre as paredes das
coxas, acariciando-as discretamente.
QUE INFERNO! Estou duro.
Eu vou foder ela sem dó, isso não vai ficar assim!
— Estou com fome, caralho... — xingo, e a minha prima me dá um
tapa, devido às crianças do outro lado.
— Vince, as crianças! E está passando fome, por acaso? Parece que
vive com um buraco no estômago, espera que daqui a pouco sai o jantar.
Se ela soubesse o motivo dessa fome feroz! Tem nome e sobrenome.
Hoje é noite de Páscoa, por isso, toda a família se reuniu. Até o
Paulo e a Lupita estão aqui. Só está faltando mesmo o tio Argus. É estranho
não o ter conosco.
— E aí, depois de mandar a mensagem para a Baronesa, ela deu
mais algum sinal? — Paulo questiona baixinho, comigo, Rael, Hoss e
Morcego.
Estamos no canto da sala, conversando longe das mulheres.
— É isso que nos preocupa, nem matando seus homens e mandando
a mensagem, não tivemos nenhuma ação dela, nenhum recado, nada.
— Eu também hackeei algumas informações sigilosas, mas nada tão
comprometedor. Essa mulher sabe apagar rastros — comento.
— Mas é bom continuarmos intensificando a segurança da nossa
família, até o tio Argus voltar e dar alguma resposta sobre essa Baronesa.
Não podemos nos tranquilizar nunca, afinal, não sabemos das intenções
dela, o motivo de querer nos ferir.
Concordamos com o Rael, e resolvemos mudar de assunto, pois a
gangue das diabas começou a nos olhar demais, como se estivessem
desconfiadas de algo. Só na reunião de quinta-feira saberão de tudo que está
acontecendo.
Logo nos dispersamos e ficamos juntos no sofá, até o horário do
jantar, Finalmente!
Devoro quase toda a mesa, e numa guerra com a Jolie, para
pegarmos os pãezinhos. Mas ela come tanto, que pede licença e corre, como
se estivesse prestes a vomitar.
— O que está acontecendo com ela? — Rael se levanta com o filho
de dois anos no colo, preocupado com a esposa.
— Como ainda não percebeu? — Elena o observa.
— Percebi o quê?
— Homens, viu. Mas acho que nem ela notou os sintomas ainda.
— Do que estão falando? Agora eu tenho bolas de cristais?
— Vai ficar sem saber! E vou atrás dela... — Elena empina o nariz e
sai, em direção a Jolie.
— Nem tente compreender. Mulheres! — Hoss diz e tenta cortar a
carne no prato, ele também está segurando no colo a bebê. Já o pequeno
Henry está ao seu lado, igual a um homenzinho, sentado com seu
banquinho, dando altura na cadeira para comer.
— Mulheres nada, vocês que são burros e não prestam a devida
atenção em nós.
— Não vem defender sua gangue de diabas não, Hera. É a líder
delas.
— E eu te perguntei algo, Vince? Entope essa boca de arroz, seu
insuportável!
— Isso aí, prima Hera — Maria fala, acomodada ao lado da Lila.
— Eu vou raspar a sua cabeça quando estiver dormindo, piolhenta.
— Isso não me afeta, tio Vince. — A pirralha dá de ombros e olha
para as suas unhas pintadas de rosa.
— Não? E começou a pintar as unhas depois que começou a falar
com seu novo amiguinho no celular, qual o nome? João?
— Tio Vince!
Hoss imediatamente ergue a cabeça e nos olha.
— Você está falando da minha filha, seu polaco azedo?
Sorrio e Lila me belisca por baixo da mesa.
— Nada, irmãozinho.
Maria me fuzila.
— Ele é meu amigo, que gosta de Dorama... — ela sussurra,
emburrada. — E não é para ficar hackeando o meu celular.
É mais fácil ela me pedir para ficar cego, mas vou poupá-la do
castigo do seu pai. Sou um tio bonzinho...
Após o jantar e após colocarem as crianças pequenas para
dormirem, todos ficaram conversando e bebendo na sala. Com muita
dificuldade, eu e a Lila conseguimos despistá-los e saímos discretos para a
sala de chás — isso, depois de eu ameaçá-la por mensagem, para me
encontrar, pois não aguento mais as suas provocações.
— Vince, está louco? Acho que a Maria percebeu.
— É? Não estou nem aí, quero beijar você e tocar nesse corpo —
digo, puxando-a para os meus braços e finalmente beijando a minha boca
preferida.
Mergulho a língua nela, como se estivesse num oral lento e
delicioso. Lila é recíproca. Ela abandona as muletas e me agarra, sem saber
onde parar com as suas mãos safadas. A minha já encontrou conforto, entre
a sua bunda e boceta.
— Que delícia... — geme, com meus dedos massageando o seu
clitóris por cima da calcinha molhada.
— Vai ficar ainda mais gostoso depois que eu a devorar.
Empurro-a no sofá, tiro a camisa e fico por cima com meu peso.
Volto a beijá-la, descendo os lábios para o decote dos seus peitos grandes.
Vou mamar esses manjares até ficar dormente!
Lila toca no meu peitoral, cruza a perna esquerda no meu quadril e
roça com força no meu pau, enquanto abro mais o seu vestido e caio de
boca nos seus peitos.
— Você de novo, com o inferno desse assunto do passado com a
Jolie!
De repente, as portas da sala são abertas com violência e
arregalamos olhos, incrédulos com as vozes estridentes e conhecidas.
— Eu não te perdoei merda nenhuma, parece que... AAAAAAAAA.
Antes que eu e Lila pudéssemos agir, ou pensar em nos esconder, é
tarde. Porra, muito tarde!
Lupita grita, e eu me levanto rapidamente de cima da Lila.
— QUE PORRA É ESSA?! — Paulo surta. Ele parece paralisado,
sem acreditar no que vê.
E há algo para se dizer nessa situação? Está mais do que explícito.
— Gente, o que está acontecendo aqui? Quem gritou? — Para o
show ficar melhor, a plateia chega, composta da Hera e da Jolie.
Nem precisa de muitos detalhes.
— Meu Deus, Vince! Dalila!
Elas colocam a mão na boca, vendo a Lila tampar os seios com a
almofada e abaixar a cabeça.
— EU VOU TE MATAR, SEU DESGRAÇADO!
— Paulo!
Ele tira a arma da cintura e começa a disparar na minha direção.
— PAULO, PELO AMOR DE DEUS, PARA! — Hera grita.
— TIO, NÃO FAÇA ISSO! VAI FERI-LO!
— Que caralho de disparos foram esses? — E por fim, meus irmãos
aparecem ligeiros, também tendo as suas próprias conclusões, entre mim e a
Lila. Eles ficam paralisados.
— Não, a gente não pode estar... — Rael e Hoss se olham
enfurecidos. — VINCE E DALILA?!
— EU VOU TE CASTRAR, CALATRONE!
Eu não consigo me explicar, ou sequer tento, pois o Paulo volta a
atirar, quase me acertando em cheio. O tiro passou roçando e ferindo o meu
ombro.
Porra, eu me fodi! E se eu ficar aqui, eles farão picadinho de mim,
principalmente a Jolie, que acaba de puxar a sua arma!
Só olho para a Dalila e corro para a janela, jogando-me entre os
arbustos do térreo e correndo, com todos querendo me matar!
Assim que o Vince pulou a janela, eu arrumei a minha roupa e me
levantei desesperada, suplicando para o meu tio parar de atirar! Rael, Hoss
e até o Morcego já foram atrás dele.
— Tio, para com isso!
— Paulo, se acalma...
— Calma um caralho! Vocês estavam se relacionando, Dalila? —
Ele me encara furioso.
Jolie também se aproxima, brava comigo.
— Vocês dois?! Eu não posso acreditar nisso!
— Eu posso, não é, e nunca foi segredo para ninguém os
sentimentos da Lila pelo Vince.
— HERA! — Jolie exclama contra ela.
— O que foi, é verdade, só vocês que não desconfiaram, ou
desconfiaram e preferiram não acreditar.
— Desconfiando ou não, isso não importa, somos adultos —
enfrento os três. — Adultos que sabem muito bem o que estão fazendo.
— E primos! — Jolie brada. — O Vince não poderia ter o
descaramento de te seduzir!
— Não somos exatamente primos, e ele não me seduziu.
— É claro que são. Todos nós, os Calatrone e os Borghi, somos
primos!
— Não, aquele Calatrone infeliz seduziu a minha filha Borghi!
— Tio, para com isso! Eu sou uma Calatrone também. E já disse
que ele não me seduziu.
— NÃO, VOCÊ É UMA BORGHI!
— Paulo, isso é ridículo, somos todos família.
— É, vai concordar com essa situação, Lupita?
— Por favor, vamos manter a calma — Elena pede.
— Eu só sei que vou matar aquele polaco azedo, porque ele fez
questão de cuidar o tempo inteiro da Lila! Eu confiei de olhos fechados
naquele traidor!
Meu Deus, que inferno!
— Quer saber, eu quem vou atrás desse infeliz! — Meu tio destrava
a arma de novo e arregalo os olhos.
— Paulo, não ouse dar meio passo! É melhor não sair nenhum
assassinato esta noite, fique aqui! — Jolie o ameaça com a arma dela, e ele
bufa. — E eu e a Lila vamos conversar a sós... entre mulheres...
— Eu converso primeiro com ela. — Hera é rápida e puxa o meu
braço, sem dar chances para a Jolie agir.
— Hera, Jolie estava com uma arma na mão, não tem medo do
perigo? — questiono, enquanto sou arrastada para longe.
— Olha, dona Lila, é melhor nem falar muito.
Dou de ombro, após pararmos no corredor.
— Eu e o Vince estamos apaixonados.
— Eu desconfiei de vocês, mas preferi fingir que nada estava
acontecendo, pois o Vince parecia ter um cérebro, além da cabeça de baixo
e que ele jamais concordaria em se relacionar com a sua própria prima. Me
enganei, principalmente a Jolie.
— Ele não teve culpa, eu o seduzi, eu o quis e consegui. Fui
persistente.
— Bonito né, Dalila?
— Hera, dá para entender o meu lado? Eu amo o Vince, sempre
amei e consegui ele!
— Tá, você conseguiu, mas isso não vai impedir do Rael, do Hoss e
nem do seu tio quererem matá-lo
— Por que eles têm que ser assim? Somos adultos.
— É família, e todos se metem um na vida do outro. Um inferno.
Foi assim comigo e Ezequiel, Hoss e Elena e Jolie e Rael.
— Ou seja, vamos ter que suportar tudo isso.
— E calados. É nessas horas que eu sinto falta do meu pai, vou ligar
imediatamente para ele. Ah, e é melhor ir para o seu quarto, depois a Jolie
sobe para acabar com a sua raça.
Arregalo os olhos, apavorada.
— Hera, converse com ela, por favor, ameniza o meu lado, explique
os meus motivos! Jolie é apavorante!
— Humm... tentarei, mas conhece a sua ex-madrasta, já vai rezando.
— Hera então vira as costas e me deixa sozinha.
Respiro fundo, quase em surto.
O que será agora de mim e do Vince? E me refiro à nossa relação...
a nós e a tudo que estávamos vivendo.
Não vou aceitar que acabe, que ele se afaste de mim.
Sem aguentar esse martírio, resolvo ir para o quarto do Vince,
esperá-lo, até ele aparecer e podermos ficar a sós, para conversarmos sobre
toda a situação.
Após correr igual um bandido sendo pego no flagra por roubar as
calcinhas da vizinha no varal, eu tento me esconder na academia, mas a
porra dos meus irmãos me acham. Cacete de azar, eu vou morrer e não vou
deixar nem um bastardo para herdar e repassar o meu pau bem-dotado para
as próximas gerações, um desperdício!
— NEM MAIS UM PASSO, SEU MONTE DE BOSTA! — Rael
berra e atira, fazendo-me parar e erguer as mãos.
— Vão se foder, filhos da puta! Quer me matar, então acerta esse
tiro no meu peito, seu vesgo do caralho!
— Não duvide, que antes de estourar seus miolos, eu corto essa
agulhinha entre as suas pernas! Como você pode?
— Dalila é nossa parente!
— Eu posso explicar — murmuro.
Rael tenta pular no meu pescoço, mas o Hoss é mais rápido e o
segura.
— Que caralho de descontrole é esse, Rael?
— Descontrole? Há cinco anos eu peguei o Vince e Dalila na
mesma posição comprometedora. E, agora, tudo vem à tona, a verdade!
— Mas o quê? Então isso faz anos? Desde que ela era adolescente,
seu desgraçado?
Hoss enlouquece pior do que o Rael e me pega pela camisa, quase
erguendo-me pelo colarinho.
— A gente devia deixar o Paulo te matar.
— V-vão me escutar? — indago com dificuldade, por estar sendo
asfixiado.
— E tem o que para explicar, seu verme?
Ele me larga, e eu massageio o meu pescoço.
— Que, primeiramente, foi ela que infernizou e me seduziu.
— Ah, e o coitadinho de 30 anos não resistiu?
— Eu resisti diversas vezes, só que aquela Borghi é uma diabinha
do inferno! Por que só crucificam o meu lado? Ela é uma peste.
— Porque você é o adulto mais velho e com muito mais experiência
do que essa menina de 22 anos! Nessa situação, devia ter falado conosco ou
com as mulheres, Jolie, Hera, Elena, pois elas dariam um jeito na Lila. Mas
não, seu arrombado, você a queria, por isso resistiu até onde podia, até não
aguentar mais e iludi-la.
Fecho a cara e os punhos, querendo socar os meus irmãos.
— Foda-se, já foi essa merda! Eu não sou moleque, e Lila é adulta.
E eu não estou iludindo ninguém.
Meus irmãos se olham.
— Não está pensando nas consequências. E se você tiver a
engravidado? E se não tiver sentimentos fortes por ela, se tudo isso for só
desejo sexual e quando tudo acabar, você magoá-la com um filho seu na
barriga?
Surto, louco para matar os dois, mas me seguram e eu os empurro.
— SAIAM DAQUI, SUMAM DA MINHA FRENTE!
— Precisa dar um jeito na sua vida, e não dessa forma.
Não respondo mais, e os dois param de falar, balançando a cabeça.
— Só pensa um pouco no que quer...
Então se retiram.
Eu chuto a parede e vou até o frigobar pegar uma cerveja, depois
entro embaixo do chuveiro da academia, para lavar a merda do ferimento
que o Paulo fez em mim. Aproveito para pensar no caos que está a minha
vida... e mal consigo culpar a Lila por isso.
Eu quero muito tomar jeito, ter uma esposa, uma família, igual
invejo os meus irmãos. Quero também ser amado e amar alguém. Mas
agora, não sei mais o que fazer. Os meus pensamentos, a minha prioridade,
são daquela garota loira, a minha garota loira. Não consigo deixá-la, não
consigo imaginar dias, meses, nem sequer horas ou minutos sem o seu
corpo, o seu beijo e a sua intensidade quente.
Fui literalmente laçado.
Vou de fininho para o meu quarto, me esconder para não ser morto e
desovado. Ou esse era o plano, até fechar a porta e ter uma bela surpresa ao
dar de cara com o Paulo, em pé, esperando-me como um pastor, que acaba
de descobrir que a sua filha não é mais virgem, pois se envolveu com um
marginal, bandido e assassino.
— Não quero confusão, Paulo.
— Pensasse nisso antes de me enganar.
— Eu não enganei ninguém, e isso tudo nem tem a ver com você!
— Não, tem a ver com a Lila e a felicidade dela. Sabe perfeitamente
de tudo que ela passou, das suas perdas e traumas.
— É eu quem sei, estive esse tempo todo a ajudando nesse processo!
Nunca alimentei más intenções ou tentei me aproveitar dela, caso esteja
pensando assim, porra! Estou a protegendo também! — Dou um passo
furioso e o enfrento. — Eu a impedi de ir atrás da mãe sozinha, de procurar
essa mulher e correr qualquer risco de vida! Eu estive lá quando ela quase
foi estuprada! Eu sempre estive me importando e a protegendo dos inimigos
Borghi!
Paulo fica sem reação.
— Quem fez isso? Quem quase a...
— Não importa mais, eu matei o filho da puta.
— É pouco! — Ele se descontrola, com os olhos vidrados.
— Eu concordo que foi, mas agora, há problemas maiores. A mãe
da Dalila.
— Não conversarei com você sobre isso! Não é problema seu!
— E é problema de quem? Da sua sobrinha? Se você não falar a
verdade para a Lila, ela nunca vai tirar essa vontade de encontrar a mãe!
Sendo que a própria quer matá-la!
— Não, não podemos dar mais essa decepção. Precisamos continuar
agindo em segredo e a protegendo. Tio Argus também concorda que é
melhor assim.
— Eu não concordo. A mãe dela é essa Baronesa, não é? Eu sei que
sim.
— CHEGA DE PERGUNTAS!
— Não, eu quero saber! — Inesperadamente, ouvimos uma voz
feminina surgir estridente no ambiente do quarto.
Eu e o Paulo arregalamos os olhos, após a Lila sair do outro lado do
hall, com os olhos vermelhos e os punhos fechados.
— Eu tenho o direito da verdade!
— Merda, Lila...
— Não se aproximem de mim! Todos estão mentindo, me
enganando! Eu ouvi tudo!
Meu coração começa a palpitar e me desespero ao vê-la segurar as
lágrimas.
— Por que eu não posso ser tratada como uma adulta? Por que eu
não posso saber a verdade que vocês escondem?! POR QUÊ?! NÃO SOU
UMA CRIANÇA!
— Fique calma, vamos conversar, por favor...
— Eu só quero saber a verdade da minha vida, tio Paulo! Eu mereço
saber, vocês não têm o direito de me esconder nada!
— Eu vou esperar você se acalmar para conversarmos.
— Estou calma, diga agora!
Paulo nega e ela se enfurece ainda mais.
— Não vou olhar na cara de vocês até me contarem tudo que
escondem! Os joguinhos de segredos acabaram esta noite!
Lila me dá um olhar de desprezo e passa por nós, com fúria, ódio.
Respiro fundo, praguejando a todos.
— Espero que esteja feliz, Vince.
— Eu, feliz? — Cerro os punhos, com vontade de destroçar a cara
dele. — Desde o começo eu pedi para você e a Jolie contarem tudo para
ela! Era melhor que a Lila sofresse já sabendo da verdade, do que descobrir
assim, da pior forma, pois só estamos mentindo para ela!
Paulo fica puto, passa a mão no rosto e sem querer mais discutir,
vira as costas e me deixa sozinho.
Covarde!
Que porra, eu quero sair socando essas paredes!
Capítulo 32

Eu vou para o meu quarto, tranco a porta e sento-me na cama,


querendo berrar.
Não aguento mais! Estou cansada de todos decidindo o “melhor”
para mim, de me controlarem e esconderem a verdade sobre a minha vida!
O que eles pensam que eu sou? Uma criança? Uma adolescente?
E o pior! O Vince sabia de tudo o tempo todo e não me contou.
Revoltada, eu pego o meu celular e sem pensar duas vezes, clico em
cima do nome do Marcos. Ele atende na terceira chamada.
— Sou eu, a Dalila Borghi... — digo, engolindo em seco.
— Ah, minha querida Dalila. Tudo bem?
— Não, eu já sei que a Baronesa é a minha mãe!
A ligação fica muda por alguns segundos, então o ouço suspirar.
— Só ela poderia te dar essa resposta.
— E como? Quem é essa mulher? Responda-me, Marcos!
— Eu não tenho nada a ver com isso, Dalila, mas posso colocá-las
frente a frente.
Eu aperto os meus dedos, que suam frios.
— Em troca do quê, do meu tio?
— Não, eu desisti dele, estou sendo bonzinho dessa vez com você.
— Você nunca foi bonzinho com ninguém, não sei se posso confiar.
— Sabe que sempre foi uma das minhas protegidas, eu te vi crescer,
tenho grande apreço, é quase uma filha.
Não sei se posso confiar nesse homem mafioso, mas quero provar
para todos que eles não estão no controle da minha vida.
— Eu quero me encontrar com ela, desde que seja num lugar
seguro.
— Certo, logo vou te avisar de quando e onde será esse encontro.
— Tá bom... aguardarei. Boa noite.
Desligo a ligação, antes de me acontecer uma crise de ansiedade.
Chego a perder o ar.
Não vou me arrepender de ir atrás da minha progenitora, é para
provar para todos que eu decido o que fazer com a minha vida! Eles não
mandam no meu nariz!
— Lila? — Ouço a voz da Jolie, acompanhada de batidas leves à
porta.
Respiro fundo e após ela insistir, digo um “entre”.
— Não vim para brigarmos... o Paulo já me contou tudo... —
confessa e se aproxima de mim.
— E veio para quê, para mentir mais e me enganar?
— Para dizer que amamos você e que queremos te proteger.
— Chega disso, Jolie. Sou adulta! Quero saber quem é a minha
mãe! É essa Baronesa?
— Não há certeza, mas pode ser ela. Quem sabe realmente é o seu
tio.
— Mas ele nunca vai me falar, não é? Como se tivesse esse direito!
— Ele está te protegendo, para não ir atrás dessa mulher
desconhecida, que pode te fazer mal.
— Eu só quero a verdade. Odeio que mintam, que me enganem!
Jolie fica em silêncio.
— Eu vou conversar com ele, prometo.
— Não vou confiar na sua promessa. Por favor, saia daqui.
Desvio do seu olhar, esperando que vá embora.
— Tudo bem... depois eu volto com mais calma.
Ela suspira e vai, deixando-me sozinha.
Eu me deito na cama, olhando para o teto.
Penso em tudo que está acontecendo, no quanto estou cansada e
com raiva.
Eu preciso me mudar o quanto antes para o meu apartamento!

— Vince!
Eu levo um susto ao sair do banheiro, enrolada na toalha e dar de
cara com ele sentado na poltrona, como se não tivesse feito nada de errado.
— Sou eu mesmo, minha princesa loira.
— Some daqui!
— É assim que vai me tratar, melhor, me maltratar?
— Não gostou? Problema seu!
Vou até as minhas roupas e começo a me vestir, como se ele não
estivesse me observando.
— Assim é judiação... — resmunga, após eu vestir a calcinha e tirar
a toalha.
Fico seminua.
— Já estou de pau duro.
Pego o vestido e visto por último. Até que sinto a sua sombra atrás
das minhas costas, arrepiando-me.
— Não ouse tocar um dedo em mim.
— Judiação comigo. E sinto muito de verdade, Lila, mas nem há
tanto motivo para você ficar brava com todo mundo.
— O quê? — Viro-me furiosa.
— É melhor eu não falar muito, né?
— Não, seu... seu... — Bufo. — É a minha vida, Vince! Você sabe o
quanto eu gostaria de conhecer a minha mãe, pois ela poderia ser uma
pessoa boa, diferente...
— Eu sei, entretanto, se o seu tio não te disse nada, foi apenas para
te proteger. E eu também respeitei isso, por mais que não concordasse e
quisesse dizer a verdade.
— Eu duvido muito, você é outro que quer controlar a minha vida,
como se fosse o meu pai!
Vince fecha a cara.
— Pai é a minha mão bem dada na sua bunda! Eu me importo, me
preocupo e não quero ninguém te fazendo mal! Isso inclui, essa Baronesa
ser a sua mãe ou não! Ela pode querer te matar, por ser uma Borghi! Sabe
perfeitamente o quanto de inimigos o seu sobrenome tem, das pessoas que
adorariam te ferir para se vingar de uma das máfias mais bárbaras de
Portugal! Pensa, porra!
— Eu penso, eu tenho consciência disso!
— Mas ainda quer pagar para ver, eu te conheço.
Xingo baixinho e tento passar mancando por ele, mas Vince me
puxa para os seus braços e me segura firme. Fico até tonta.
— É importante para mim, sabe disso. Meu coração dói só de
imaginar alguém te fazendo mal. Se coloca no meu lugar.
— Eu me coloco, pois o meu coração também dói só de pensar em
te perder, de me rejeitar.
Ele limpa o meu rosto molhado pelas lágrimas.
— Antes de qualquer outro problema e antes de eu ser morto pelos
meus irmãos, as mulheres da casa e o seu tio, precisamos resolver sobre
nós. Meu braço ainda está doendo pelo tiro de raspão que o Paulo me deu.
— Meu Deus, ele te acertou? Tira a camisa! — ordeno.
— Está tudo bem já.
— Tira, Vince, anda!
— Peste mandona.
Desespero-me, e ele tira, para eu ver.
Vejo ser um ferimento grande, que deve estar doendo. Foi bem no
bíceps esquerdo.
— Se queria me ver sem roupa, era só avisar. — Ele toca malicioso
na minha cintura.
E realmente, que físico delicioso, atlético. Sua barriga tem muitos
gominhos definidos, vontade de lamber todos, até chegar lá embaixo...
— Não está precisando de um ponto?
— Não, nem foi tão profundo. Logo cicatriza. Já estou acostumado
a ter marcas assim no corpo.
Toco no peitoral dele, sem resistir a esse homem gostoso.
— Humm... mas eu vou pedir para o Dr. Arthur dar uma olhada.
— O teu rabo! — Ele me aperta forte na bunda, tirando-me suspiro
de dor.
— Droga! Dá para ser menos agressivo?
— Você já está muito melhor, não precisa mais desse arrombado
tocando no que é meu.
Meu coração vai nas alturas.
— No que é seu? — questiono e mordo o lábio, com vontade de
beijá-lo.
— É claro, no que é meu.
Não suporto e sorrio de felicidade.
— E o que pretende fazer comigo? Logo que sou sua?
— Não ser morto pela nossa família, nem é um absurdo assim eu
foder com a minha “prima”.
Não... ele disse isso mesmo?
— Meu Deus, o Vince de um mês atrás estaria se jogando da
primeira torre do castelo, se dissesse, ou sequer pensasse nessas palavras. O
que aconteceu com ele?
— É melhor nem fazer muitas perguntas, que nem eu me reconheço
mais. E a culpa é sua. Quero te levar num lugar mais tarde, longe de tudo
isso que está acontecendo.
— Onde?
— Você verá, apenas se arrume, pegue um casaco e me espere às
21h, perto da garagem principal.
— Ficarei ansiosa...
Ele me arrasta para mais perto do seu corpo e me beija de língua.
Fico com tesão, chego a forçá-lo para cairmos na cama, mas o Vince se
afasta de propósito e pisca, dizendo que nos veremos mais tarde.
Que maldade comigo. Estou ansiosa para saber onde ele vai me
levar. Até me animo mais, porém, não faço muita questão de sair do quarto
para ver a cara do povo. Eles também não me perturbam, fico quietinha na
minha, até dar o horário que o Vince marcou e eu me arrumar animada, para
sair de fininho e me encontrar com ele. Minha ansiedade já não tem
tamanho.
— Foi rápida, baby... — Sou pega de surpresa, por ele saindo de trás
do pinheiro. — Vem, o carro já está pronto para irmos.
Sigo-o até a garagem. Entramos no carro e ele dirige para fora das
muralhas do castelo Calatrone.
— Para onde vamos?
— Eu estava pensando em dar mais um pouco de emoção na sua
vida.
— Como assim?
— Você verá...
Ele sorri perverso e pisa no acelerador.
Eu paro o carro na calçada, ao lado do prédio abandonado e entrego
uma arma para a minha garota loira.
— O que está aprontando seu maluco?
— Faremos uma quase cobrança. E já está firmando bem esse
joelho, qualquer coisa é só meter bala.
— Sério, é uma cobrança? — Os olhos dela brilham.
— Sabia que a Jolie e Hera amam? Elas andam fazendo um inferno
nas nossas vidas para levá-las juntas nas cobranças dos devedores.
— Hum, adorei! Podemos fazer um grupo feminino de cobrança.
Eu reviro os olhos.
— Só nos sonhos de vocês. E vem, desce do carro.
Saio do veículo, vendo outro carro nosso na calçada. Eles já devem
estar com a preciosa vítima.
Lila me acompanha para dentro do prédio abandonado.
— Isso é assustador — murmura.
— Vai ficar pior, não se preocupe.
E realmente fica, após entrarmos no salão principal e encontrar a
nossa querida vítima amarrada na mesa, de cabeça para baixo. Também,
tem dois dos nossos caras ao lado dele.
Para essa missão era necessário a presença de um Calatrone, pois o
pai dele, que fechou o empréstimo conosco, fugiu. Porém, esqueceu o único
filho na cidade. Grande erro...
— Por favor, Calatrone, tenha misericórdia de mim.
— Vince... — Dalila fica fixada no devedor.
— Hoje será apenas uma ameaça, não teremos sangue.
— E quando não tem?
— Teria, se fosse o pai dele, pois é o infeliz que nos deve. Ele sim
eu mataria com dois tiros na fuça.
Chego perto do fantoche e dou um chute na sua cabeça, ouço até o
seu nariz estalar.
— Onde está o seu pai?
Ele se engasga no sangue.
— N-não sei, mas o dinheiro está aqui, por favor, não me machuque.
— Esse não é o nosso dinheiro, nem você é o nosso inadimplente.
Dalila para ao meu lado, assistindo a tudo. Eu conheço essa
sanguinária. Não nega o sangue de mafiosa que tem.
— Juro que não sei do meu pai.
— Ele está mentindo — Lila fala.
— É, eles mentem bem. Mas não podemos deixar que nenhum
devedor saia achando que pode se safar dos Calatrone. — Agacho-me, bem
pertinho dele. — Eu vou deixar você pensando, até começar a definhar e
resolver contar a verdade. Lembre-se que a sua pobre vida depende disso.
Volto mais tarde.
Ergo-me, aceno para os nossos soldados e peço para a Lila me
acompanhar.
— Eu pensei que você fosse matá-lo — ela comenta.
— Queria me ver fazendo isso?
— Não, mas sei que é o seu “trabalho”.
— E já parou para pensar nisso? Que eu não sou um mocinho?
Antes de entrarmos no carro, a minha manquinha perfeita me
empurra contra a porta, o que me surpreende.
— Lila...
— Nada me importa, apenas que você é meu e fim.
— Que garota feroz. — Sorrio. — E bem possessiva para o meu
gosto.
— Eu também sou sua, não sou? Ou estou livre para conhecer
qualquer outro homem?
E, de repente, surto e agarro os seus cabelos com força.
— Dalila, você quer ficar com essa bendita bunda ardendo?
Ela toca no meu peitoral, descendo a mão até o meu volume, que
aperta gostoso. Também pressiono a sua bunda redonda, com tesão de fodê-
la.
— Não respondeu à minha pergunta, Sr. Calatrone.
— Eu nem consigo responder a isso, ao menos pensar, pois só sinto
vontade de matar qualquer filho da puta que ouse te tocar.
A articulosa sorri.
— Então eu posso te pedir em namoro? Logo que sou sua.
Fico mais surpreso com a sua pergunta.
Um relacionamento, eu e a Lila?
Dalila percebe que paralisei.
— Não sei o que dizer... realmente preciso pensar sobre isso.
Ela afasta a sua mão, demonstrando mágoa e revolta.
— Pensar? O quanto já estamos juntos e envolvidos, até a nossa
família sabe agora. E achei que estivesse apaixonado por mim.
— Só me deixe pensar, ok? Ter a certeza do que eu quero.
Ela mexe o maxilar, adiante, me afasta, para entrar brava no carro.
Suspiro, passando a mão no cabelo e igualmente entrando. Não
falamos nada enquanto dirijo, só a música do rádio preenche o ambiente.
— Vamos para uma balada de confiança, nos divertir um pouco?
Ela dá de ombros.
— Tanto faz.
— Por favor, Lila, não quero que fique brava comigo. Você sabe
como eu sou...
— Eu não estou brava, só estou dando o seu tempo, como deseja.
Aperto o volante, nervoso com ela. E nem posso contestar o seu
comportamento.
Preciso ter a certeza de nós, para mergulhar de cabeça nisso tudo.
Não quero destruir a vida da Lila por causa de desejo sexual e por falta de
sentimentos. Ela é uma mulher de 22 anos, linda, inteligente e que passou
por tantas coisas, que merece ser feliz, ter alguém para amá-la e respeitá-la.
E esse cara pode não ser eu, por mais que isso me machuque.
Chegamos à balada e a obriguei a entrelaçar a mão na minha, até
nos acomodar no bar.
— Agora pode soltar... — resmunga, mas em vez disso, eu puxo a
sua banqueta para mais perto e prendo as suas pernas com as minhas.
A pestinha perde toda a pose de marrenta. Como eu gosto desse seu
jeito.
— Eu só quero a minha garota loira mais coladinha em mim.
— É? Mas ela não é sua ainda, o que significa que estou livre e
desimpedida.
Porra, ela gosta de me irritar e me fazer incorporar a bola de fogo do
meu irmão mais velho.
— Não me tira do sério, eu sei que você está tentando fazer isso
para me deixar puto.
Ela dá de ombros e faz o seu pedido de drink ao barman. Eu só peço
uma cerveja.
Durante a noite, por mais que a Lila não queira falar comigo, eu fico
olhando-a e tentando puxar assunto, provoco-a e até falo sacanagens, mas
ela é irredutível. Que inferno! Acabo me estressando de verdade.
— Vamos embora então, para você ficar feliz! — exclamo e me
levanto irritado.
— Com certeza eu ficarei!
— Sua peste!
— Seu idiota!
O idiota que ela ama e jamais viveria sem — penso, sem evitar.
Nós dois vamos embora emburrados.
Durante o caminho eu recebo uma ligação do Hoss.
— Vince, onde você está?!
— Indo para casa. O que quer?
— Erro de segurança! O castelo foi invadido e estamos cercados!
— O QUÊ?
— Não temos como escapar, esses filhos das putas estão
metralhando tudo. Parece ser essa infeliz de Baronesa, ela está gritando lá
fora pelo tio Argus.
— Merda, eu estou com a Lila e com certeza os arredores do castelo
vão estar cercados.
— Entre pelo túnel da praia e espere o Paulo, ele está chegando com
mais reforços.
— Ok.
Desligo o telefone e bato no volante.
— Vince, o que está acontecendo? Quem te ligou?
Noto a mão da Lila no meu braço e o quanto ela está preocupada.
— A tal Baronesa invadiu o castelo e está metralhando tudo.
— Meu Deus! Isso é sério? Estão todos bem?
— As crianças já devem estar nos esconderijos das passagens.
Preciso te deixar em segurança também. — Após dizer isso, acelero o
quanto eu posso... até chegar à praia ao norte do castelo.
Fui o percurso todo cuidando dos retrovisores, para ter certeza de
que não estava sendo seguido.
— Por que estamos nesse lugar? Já estou assustada.
— Tem uma passagem de fuga aqui, que leva ao castelo. Só
precisamos esperar o seu tio chegar para dar reforço e entrarmos.
Lila assente, e eu beijo a sua testa, tentando acalmá-la.
— Fique calma, vai dar tudo certo.
Ela chora.
— Isso é por minha causa? Essa Baronesa é a minha mãe?
— Juro, eu te prometo que não sei de nada, não posso nem dizer se
essa mulher louca é a sua mãe ou não.
— Eu nem sei mais o que pensar, só quero que todos estejam bem.
— Hoss disse que ela está atirando no castelo e chamando pelo
nosso tio Argus.
Escondo o carro por dentro da floresta e pego o meu pequeno
notebook dentro do porta-luvas.
— O que vai fazer?
— Imagino que o Luiz já tenha acionado nossos armamentos em
pontos estratégicos, mas ele não colocou em ação — murmuro, procurando
as câmeras do castelo. — Estão paradas, sendo que é só ativar e meter fogo
nesses filhos da puta.
— O que quer dizer com isso?
— Que alguma merda está acontecendo e tem o dedo do tio Argus, e
como sempre, nem eu e nem os meus irmãos estamos sabendo de nada.
Capaz de sermos uma marionete para algum plano dele. Pensa, Lila, faz
semanas que o meu tio viajou sem dizer para onde ia, sem dar notícias. E na
sua ausência, de repente, somos seguidos e quase mortos, descobrimos
sobre a tal Baronesa, de que ela pode ser a sua mãe e agora, o castelo é
invadido nesta facilidade?
Lila olha para o notebook, também tirando as suas próprias
conclusões dos infravermelhos, posicionados bem em cima dos traços em
movimentos e prontos para serem acionados.
— Você tem razão, está tudo posicionado para fuzilar esses
desgraçados. É o Luiz que controla isso?
— Sim, ele é bem mais do que um mero mordomo. É o segundo
olho do tio Argus, e o protetor do castelo. Tenho certeza de que aquele
velho sabe de todos os segredos do meu tio.
— E o que acha que pode ser tudo isso?
— Acho que o tio Argus quer essa Baronesa, e no meio disso, tem a
informação dela ser a sua possível mãe.
Sem esperar, o meu celular toca novamente. É um número
desconhecido.
— Alô?
— Vince, está com a Dalila?
— Tio Argus? Que benção, estávamos falando agorinha do senhor,
quanto tempo. Como vai a vida?
— Eu não estou com tempo para o seu humor.
— E está para o quê? Que droga toda é essa que está fodendo em
cima de nós? O que o senhor está fazendo? É algum tipo de jogo que
envolve você, essa baronesa e a Dalila?
— Não, isso tem bem a ver com você também, Vince.
— O quê?! — exclamo. — Qual o plot dessa vez? Já sei, eu não sou
filho dos meus pais? Não, espera, eu sou só filho do meu pai e essa
Baronesa é a minha mãe?
Dalila franze o cenho ao meu lado.
Noto o meu tio suspirar do outro lado da chamada.
— Eu havia esquecido de como você é ardiloso. E não, seus pais são
seus pais. A questão aqui, é que você não foi parar na cadeia à toa.
Baronesa fez isso, após saber que alguns arquivos tinham sido hackeados
do governo. Ela conseguiu ligar o episódio bem rapidinho a você e a mim,
pelo simples fato do seu sobrenome ser Calatrone.
— Então foi essa vagabunda que fodeu a minha vida por oito meses
naquele inferno?
— Foi só a ponta da vingança, que da mesma forma provocou um
incêndio na minha vida, na de Paulo e agora na de Dalila.
— Eu quero saber o que a Lila tem a ver com isso, ela é filha da
Baronesa? Explique-se, tio Argus!
— Vamos conversar em breve, apenas coloque a Lila dentro do
castelo.
— E onde o senhor está?
— Eu estou em todo lugar, filho, não se preocupe.
Meu tio então desliga, e eu volto a socar o volante com força.
Desligo o telefone e olho para a Megan.
Ela coloca as mãos na cintura e respira fundo.
— Estou com medo, Argus.
— Você já fugiu por vinte anos, chega disso.
— Adria pensava que eu estava morta, na verdade, ela tinha muita
certeza disso, pois foi a própria, com a ajuda do Toretto, que encomendaram
a minha morte.
— Eu só preciso que confie em mim, eu já te contei tudo. E agora,
pode viver em paz em Lisboa, pois a máfia Borghi não está mais aqui.
— Estou confiando cegamente no senhor, mas a Adria é sem
escrúpulos, fará de tudo para matar você também... ela jamais aceitou que a
trocasse pela Marina, a mãe da sua filha. E se ela foi amante do Toretto, era
só na intenção de te causar ciúmes. Me lembro muito bem disso.
— É, ela ferrou muito com a Marina por causa dessa obsessão. Que
merda o Vince foi fazer ao invadir os dados do governo, para ressuscitar
esse inferno de mulher. Eu sabia que tinha alguma coisa de errado com essa
prisão dele, pois o meu sobrinho é cuidadoso.
— Precisamos proteger a Dalila. Agora que a louca sabe que estou
viva, vai querer matá-la, por vingança.
— Ela está com o Vince, creio que segura. Já avisei ao Paulo.
— E o que faremos?
Eu pego uma arma e lhe entrego.
— Na hora certa você saberá.
Ela assente e me observa.
— Obrigada por me trazer de volta à minha terra. Marina me
protegeu esse tempo todo. Eu a ajudei a se tornar a rainha do tráfico. A
maior dona de cartéis da América Latina, porém, agora é a minha vez de
seguir o meu caminho em paz.
— Eu devia ter imaginado que tinha dedo daquela mulher nisso.
— Ela é foda demais, e tão poderosa que não sei nem como te
explicar a magnitude do seu poder. Fui a primeira soldada dela, até
conquistar a sua confiança e me tornar a sua primeira mão de comando.
— Marina e eu nos reencontramos na Colômbia.
— Eu vi como vocês se olharam, a intensidade, o calor e nem quero
imaginar o que fizeram depois que ficaram a sós... ainda assim, com toda
essa intensidade e paixão complicada de vocês, não entendo como podem
ser casados, ter uma filha e cada um viver separado pelo oceano atlântico.
— Não foi a minha escolha, ela quis assim e eu jamais abandonaria
os meus sobrinhos. Tudo o que eu faço é por eles, desde a morte do meu
irmão. E Marina sabe disso, e eu também sei o quanto essa mulher é
ambiciosa para ficar quieta em Portugal. Tanto, que se tornou a rainha do
sul. — Bufo, nervoso ao pensar nela. — E por mais que eu compreenda que
somos o oposto, ainda não a perdoo por abandonar a Hera, por sequer ter
sido presente no crescimento da nossa filha, tudo por poder, dinheiro. Ela
jamais terá o meu perdão.
Megan aperta o meu braço, olhando no fundo dos meus olhos.
— Mas ela sofre, Argus, e acho que muito. Já perdi as contas de
quantas vezes a peguei olhando emocionada para a sua foto e a da filha.
Vocês são a maior fraqueza daquela fortaleza de mulher.
— Ela sabe que não é tarde para voltar para a sua família, só que o
egoísmo, o orgulho, a impedem, pois o poder sempre estará em primeiro
lugar. São as escolhas... — Ergo-me do sofá e vejo as horas no relógio de
pulso. — E vamos, Megan, já está na hora de acabarmos com isso...

Paulo chega e abraça Lila, dizendo que está tudo bem. Ele trouxe
um exército de homens, como se estivéssemos numa guerra.
— Rael e eu já colocamos alguns soldados cercando todos os
hectares do castelo. Hoss e Morcego estão fazendo a proteção das entradas
principais.
Assinto e entramos enfileirados no túnel.
— Tio! — Lila resmunga, após o seu tio afastá-la de mim.
— Você não precisa andar junto desse infeliz.
— Como se isso fosse o mínimo do que já fizemos — ela reclama.
— Dalila! — Paulo exclama e me dá um chute na canela, sendo que
eu estava quieto.
— Ai, seu porra! Eu meto um tiro no meio da sua testa!
— Só tenta, seu imbecil!
— Parem vocês!
Lila me empurra e fica entre nós.
Eu chego numa das paredes que trancam o túnel e a movo de lugar
automaticamente pelo notebook.
— Onde esse túnel vai sair?
— Numa das passagens do castelo.
Eu pego o telefone e ligo para o Hoss.
— Já estão dentro? — ele pergunta.
— Quase chegando. Como estão as coisas aí?
— Cessaram o fogo, após conseguirmos matar três caras da
Baronesa. Minha vontade era de avançar e fazer de peneira essa mulher
encapetada.
— Calma, não faça nada, quando eu chegar conversamos. É muito
importante.
— Aguardaremos você.
Desligo o telefone e volto o foco para sairmos do túnel. Em dez
minutos chegamos à passagem de fuga. É espaçoso e falo para o Paulo
deixar que seus soldados preparem os armamentos aqui. Também explico
das outras saídas e pontos estratégicos para ficarem de vigia. Ele informa
para a sua segunda mão, em seguida, sobe comigo e com a Lila para o
castelo.
— Demoraram, porra! — Rael, Hoss e Morcego vem de encontro a
nós na sala.
— Viemos o mais rápido possível, onde está a Baronesa? — Paulo
pergunta.
— Lado esquerdo da janela da sala de estar, parece que a vaca pediu
mais reforços.
— Precisamos agir então, antes que ela desmorone tudo — digo,
ansioso para colocar essa mulher no saco.
— Primeiro, vamos deixar a Dalila com as outras mulheres — Rael
diz e olha para a Lila, que estava quieta, apenas nos observando.
— Onde elas estão?
— Presas, para não interferirem mais e foderem com o resto, pois a
Hera já queria pegar a arma e meter bala na cara da Baronesa.
— E as crianças?
— Na casa do Rael, com as babás e protegidas numa das passagens
de seguranças. Estamos monitorando, pois qualquer movimentação perto,
os homens estão permitidos de atirar.
— Também deixei a Lupi e os meus filhos seguros, essa mulher é
ardilosa e pode ter uma carta na manga. Ela não tomaria essa ação de ataque
ao castelo sem ter planejado tudo antes.
— E o que sabe, Paulo? — Hoss o confronta. — Que porra você e o
nosso tio Argus estão escondendo?
— Eu vou levar a Lila, vocês acalmem os nervos — Rael fala.
— Eu a levo — aviso, e imediatamente eles me olham, com vontade
de socar a minha cara.
— O que foi, porra?
— Não ouse chegar perto da minha sobrinha, Vince, ou faço buracos
nessa sua cara!
Filho de uma puta!
Só dou um olhar para a minha garota loira, e ela assente,
acompanhando o Rael. Depois que ele volta, peço uma reunião só com os
meus irmãos, tirando o arrombado do Paulo. E conto para eles sobre a
ligação do tio Argus e o que eu acho que está acontecendo.
— Eu tinha certeza de que tudo isso tinha dedo do tio Argus.
— Eu também, já que ele mandou a gente não avançar sem segunda
ordem — Morcego murmura. — E até o Luiz está fugindo de nos dizer
algo, aquele infeliz.
— Eu só quero matar essa Baronesa, e de uma forma bem lenta e
agonizante, por todos os meses que ela me fez ficar preso naquele inferno!
E o nosso tio sabia de tudo!
— Não se preocupe, terá a sua vingança, sem primeira ou segunda
ordem.
— Não, vamos aguardar o tio Argus, pois essa mulher é a ponta do
iceberg para nos ligar a uma das máfias mais poderosas da Europa. Se for
para matá-la, tem que ser limpo, sem maiores guerras, pois queremos paz
— Rael diz, e eu bufo, tendo que concordar, querendo ou não.
Hoss e Morcego também concordam.
— E qual o plano?
— Não sei, que tal a gente amarrar o Luiz e torturá-lo até nos contar
tudo?
— Vince!
— Que porra, aquele velho poderia nos dar as respostas que
buscamos!
— Vamos voltar para a sala e para o insuportável do Paulo, até a
segunda ordem do nosso tio, já que essa porra toda é culpa dele...
— Como sempre... — murmuramos juntos.
Rael me deixa com Jolie, Elena e Hera, mas antes de fechar a porta,
ele teve que ser rápido, pois a Jolie avançou furiosa e com sangue nos olhos
para matá-lo. Até perdi as contas de quantos adjetivos ela o xingou.
— Que raiva, o que esses brutamontes, desgraçados estão
pensando?! — Hera berra.
— Eles se acham os gostosões, salvadores da pátria, enquanto nós,
as mocinhas indefesas! — Elena também se mostra revoltada e enraivecida.
— Meu Deus, vocês respirem ou vão ter um ataque cardíaco daqui a
pouco — digo para elas.
— O que sabe, Lila? — Jolie segura os meus ombros com força. —
Comece a nos dizer agora mesmo.
Primeiramente, peço para elas se sentarem e, então, começo a dizer
tudo o que sei. Por fim, Jolie resmunga um palavrão e massageia as
têmporas.
— Meu Deus, o Argus está envolvido?!
— Nem é surpresa... — Jolie murmura.
— Eu sabia que tudo isso tinha dedo do meu pai! — Hera exclama.
— Faz algumas semanas que também descobri para onde ele foi.
— Onde? — questionamos em conjunto.
— Colômbia, atrás da minha... mãe... — ela fala entre os dentes. —
Porém, não sei o que isso tem a ver com essa Baronesa, que está nos
atacando.
— Pode ter a ver com ela ser a minha mãe.
— Não faz muito sentido, Lila, ou ela teria te exigido desde o início.
O que essa Baronesa quer mesmo é o Argus... — Elena conclui, e
concordamos, exceto pela Jolie, mas ela não diz o porquê do seu olhar
contrário, apenas me observa.
— Eu fico tão revoltada por você e o tio Paulo insistirem em me
esconderem as coisas — declaro, já farta de tudo isso.
— Eu não escondo nada, só tenho as minhas dúvidas, que não posso
dizer sem ter certeza. O que precisamos fazer agora é tentar arrombar essas
portas ou caçar alguma passagem. Pois aqui, eu não fico de braços
cruzados. Sinto que alguma coisa está prestes a acontecer lá embaixo...
— É o que sinto, que algo bem pior está para acontecer.
Arrepio-me, sem ainda ter pensado por esse lado.
Realmente, parece que só estamos esperando a hora certa do pior. E
eu também não quero ficar aqui de braços cruzados.

Os soldados da Baronesa voltam a nos metralhar.


Nervoso, eu pego a bandeja de sanduíches que roubei na cozinha e
como tudo de uma vez.
— Chega, não vamos ficar de braços cruzados!
Hoss e Rael pegam as armas e vão para a janela, revidar com
armamento pesado.
— Eles explodiram o muro com dinamite para entrar, que filhos da
puta! — digo e observo os pontos estratégicos pelas câmeras escondidas.
— Já está na hora de expulsarmos essa desgraçada.
— Por favor, seu tio Argus pediu que aguardassem. — Luiz aparece,
com a sua irritante e tranquila presença.
— ESPERAR O QUÊ? ELES CONSEGUIREM DEMOLIR O
CASTELO? — Hoss berra, já fora do controle.
Nem tem como contrariá-lo, todos nós estamos assim, putos.
— Apenas mais dez minutos.
— Mais dez minutos o caralho, Luiz, vamos contra-atacar agora
mesmo.
Nós nos olhamos e concordamos.
Então pego a caixa de bombons e entrego para o Rael, que está
agachado na janela da sala de estar. Fui engatinhando até ele.
— Vê se não desperdiça os bombons.
— O quê?
— A granada, baby.
— Ah, vai se foder, seu palhaço, isso não é hora. — Rael estressa e
taca com força a granada nos arrombados.
Só escutamos a explosão e o cessar dos tiros.
— Você jogou muito perto da piscina, vai custar um rim para
consertarmos.
— Vince, se não sumir daqui, faço você engolir esse “bombom”.
Eu mando um beijo para o meu irmão nervosinho e volto para o lado
do Hoss, outro nervosinho.
— Cadê o Paulo?
— Mandei que ele levasse seus soldados para a saída do calabouço,
vão conseguir chegar por trás e atacar pelas costas.
— Não vamos esperar o tio Argus?
— Não. Estou cansado dessa merda.
— Também estou... — resmungo e começo a montar a minha Sniper
no chão. — Ele nunca nos avisa dos seus planos, só no final que
descobrimos tudo, pois somos usados iguais marionetes.
Hoss bufa, concordando.
— Vai ser o basta, vamos pegar essa Baronesa e ter paz!
— Que então comece a guerra! — Sorrio e volto a atirar nos
desgraçados.
Os soldados do Paulo também avançam, metralhando sem dó o lado
leste do muro, por onde eles estão entrando. É uma guerra de verdade e com
armamento militar do lado deles. A cada granada, as estruturas do castelo
tremem.
Essa mulher veio determinada a matar todos. Ela só não estava
esperando que do nosso lado reagíssemos mais pesado.
Dura uma hora o confronto, até eles recuarem. Eu, Hoss, Morcego e
Rael corremos para fora.
— ESTÃO CERCADOS NA ESTRADA! — Paulo grita de longe,
correndo em direção ao muro detonado.
— REFORÇE AS SAÍDAS! — Ouço meus irmãos também
berrarem.
Eu paro um pouco no gramado e respiro fundo. O jardim está com
uns 15 homens mortos. Eu pego o telefone e comunico aos nossos caras,
para começarem a faxina e levar os “entulhos” para a floresta, vamos
desovar na ilha perto do Sul e incendiar.
— Porra, isso está um apocalipse — Morcego resmunga. —
Precisamos agir logo, antes que o barulho desperte as autoridades...
— Já cuidei disso, agora Paulo, Rael e Hoss precisam pegar a
Baronesa.
— A vagabunda já está cercada perto daqui. É uma vadia louca.
Como achou que poderia bombardear e atacar o território dos Calatrone?
De repente, ouvimos uma outra explosão, desta vez, veio de dentro
do castelo.
Eu e o Morcego nos olhamos, e sem falar um “a”, corremos de
volta, como se nossas vidas dependessem disso.
— ENTRARAM, CÓDIGO 74!
Atravessamos velozmente a porta da cozinha e só ouvimos o Luiz
gritar ao telefone.
— Código 74?! O QUE FOI ESSE BARULHO?
— Eu falei para esperarem o Sr. Argus. A explosão veio da sala.
— Vou verificar. E avise aos meus irmãos que os filhos da puta
invadiram o castelo e que é para retornarem imediatamente.
— Eu vou atrás das nossas mulheres!
Morcego sai desesperado. Também o sigo, mas a gente para em
posição de mira no corredor, após ouvirmos um som de passos.
Eu tento virar a cabeça para observar o local e levo um tiro de
raspão na orelha.
Que inferno! Isso doeu pra caralho!
— Merda, Vince, você está bem?
— Sim, precisamos alcançar o elevador.
Morcego pega a arma e fica em alerta.
— Eu te cubro e você entra.
— Não sabemos quantos homens tem aqui.
— São três... — Luiz vem até nós, observando o seu tablet. — Mas
não consegui localizar as mulheres. Devem ter agido na hora da explosão.
Pelo cheiro, parece que foi dinamite e nas imagens, o impacto destruiu a
escada.
— Precisamos tirá-las daqui. Os dois me cobrem, eu vou correr até
o elevador.
— No um ou no dois?
— Agora!
No mesmo instante, me abaixo e corro, ouvindo os disparos. Não sei
se levei algum tiro, pois a adrenalina não me fez sentir nem os meus
próprios movimentos.
Consigo alcançar o elevador e me jogar dentro, mas antes, tive que
agir muito rápido e acertar um arrombado que estava na outra ponta do hall.
Encosto-me na parede de metal e quando as portas voltam a se abrir no
penúltimo andar, eu não me mexo, tento ouvir qualquer barulho.
Noto que está tudo muito quieto, então, dou o primeiro passo, sem
sair da posição de mira. Verifico e não tem ninguém!
Corro até a porta do cômodo onde as mulheres estavam e encontro o
interior vazio, o que me desespera ainda mais.
Sem nem pensar muito, abro o notebook e procuro o rastreamento
da Lila. Ela está dentro do castelo, assim como Hera, Elena e Jolie!
— Onde estão essas diabas? — resmungo, imaginando um lugar que
a Hera possa tê-las levado em segurança.
A passagem de fuga da sala de reuniões!
Nem sinto o meu coração, à medida que corro para as escadas.
Chego à sala e vejo tudo virado para os ares, têm até cadeiras quebradas e
marcas de tiro, além de projéteis no chão.
Não, merda, o que houve?!
Olho para a passagem atrás da lareira e a porta de pedras aberta,
também fuzilada. Elas jamais deixariam assim!
Entro no local escuro e estreito, andando rápido e só pedindo a Deus
para protegê-las. São nossos diamantes, nossas alegrias.
Não vou me perdoar se alguma coisa tiver acontecido, porra! Não
vou!
A passagem é extensa e a sua saída fica colada ao túnel de fuga da
praia, mas esse sai na floresta, há quinze passos do lago. Chego ofegante à
saída, e volto a posicionar a arma, enquanto eu observo a escuridão da
noite.
Não ouço nada além dos grilos. Dou alguns passos, atento.
O rastreio estava dando no ponto exato do castelo, que desgraça está
acontecendo?
Respiro fundo e assobio o som de um pássaro, se a Hera estiver por
aqui ela vai entender o nosso código e responder igual.
De repente, ouço folhas secas se mexendo. Viro-me e dou de cara
com quatro homens mirando lasers vermelhos na minha direção. São armas.
— Sr. Vince? — Alguém caminha mais próximo e eu consigo ver o
seu rosto, devido a iluminação da lua cheia.
E que filho da puta! Eu conheço esse arrombado!
— Lembrado de mim?
É o Marcos, o ex-subchefe da máfia Borghi.
— O que você quer, seu infeliz?!
— Argus sabe muito bem o que eu quero. E para concluir o meu
objetivo, eu precisava de um Calatrone em mãos. Isso eu tenho certeza de
que ele não planejou, mas eu sim, desde o início...
Tento reagir e fazer um buraco na testa desse bosta, entretanto, sinto
uma pancada forte na cabeça, que me tonteia e me faz cambalear com a
arma.
— Mandem nossos soldados agirem, façam jus ao ditado dos
Calatrone. Deixem os agiotas em chamas! — Ouço-o proferir, antes de
levar outra pancada e perder a consciência.
— Hera, para onde estamos indo?
Depois de ouvirmos uma explosão assustadora no térreo do castelo,
conseguimos sair da sala e a Hera nos levou para um banheiro inutilizado
no corredor. Ela nos enfiou numa passagem que fica por baixo da banheira
e só dá para passar com os ombros virados.
— Meu pai disse uma vez, que se algo acontecesse com o castelo,
eu deveria usar essa passagem, pois era uma das mais seguras para nos
esconder.
— Vamos sair onde? — Elena questiona.
— Isso eu já não sei, porém, espero que possamos sair em algum
lugar.
No escuro, continuamos o percurso por alguns minutos. E com cada
uma ouvindo a respiração ofegante da outra, também, soltando gritinhos,
devido as teias de aranha que se enroscam em nós.
— Uma porta! — Hera exclama aliviada, após finalmente
chegarmos ao fim do túnel. — Mas está emperrada.
— Vamos empurrar juntas...
Ficamos em alerta com nossas armas, e em posição.
— No três... — Ela conta e então no três empurramos com força,
abrindo a porta.
Paralisadas, respiramos, ofegantes e corajosas. Está um breu do
outro lado.
— Acho que é um cômodo.
Ligamos a lanterna do celular e antes que pudéssemos chegar numa
brecha de luz, alguém abriu a outra porta.
— Calma, não atirem! — Uma mulher fala rápido, mas não
abaixamos as armas.
— Que é você?
— Por favor, eu estou aqui para ajudá-las, e vocês precisam sair
desse lugar o mais rápido possível.
— O que está acontecendo?
— É melhor fazermos perguntas depois... — Hera avança, sem nem
pensar em abaixar a guarda e passa pelo ponto de luz redondo. — Vem,
meninas, estou mirando nela.
Elena vai na frente, depois eu e a Jolie.
Acabo percebendo que estamos ao ar livre, e que o ponto de luz é
uma lanterna. Eu viro a cabeça e encontro os olhos da mulher loira.
— Quem é você? — Jolie pergunta.
A mulher me olha demorado.
— Fizemos uma pergunta!
— Eu sou a Megan, Argus me mandou esperá-las aqui e dizer para a
Jolie: “confiar e seguir”.
Jolie não abaixa a arma, entretanto, vira-se para mim.
— O que foi? — Hera e Elena indagam.
A mulher loira volta a me observar, estranha, desta vez, assentindo
com a Jolie.
— O que isso significa? — questiono nervosa.
— Depois conver...
Inesperadamente, acontece outra explosão.
— Por favor, temos que sair daqui!
Concordamos e corremos pelo gramado. A passagem saiu num
depósito de ferramentas do castelo.
— Meu Deus, aquilo é fogo? — Hera grita e paramos, para olhar as
chamas que consomem o interior da sala principal.
Coloco a mão na boca, sem acreditar no que vejo. Isso não pode ser
verdade!
— Cadê os homens? Eles estão lá dentro? — Jolie se desespera.
— HERA! — alguém grita, enquanto corre até nós.
É o Morcego e o Luiz com os empregados atrás.
— O castelo está pegando fogo! — Hera chora, e o seu marido a
abraça.
— Cadê o Hoss, Rael e Vince?
— O Vince, após a explosão, havia ido atrás de vocês, imaginei que
estivesse aqui.
Arregalo os olhos.
— Ele está lá dentro? — pergunto apavorada.
— Calma, Vince deve ter escapado por alguma passagem. Daqui a
pouco aparece.
— E os homens da Baronesa?
— Hoss, Rael e Paulo haviam cercado a desgraçada na estrada perto
dos nossos muros, e estavam a caminho do nosso ponto de encontro na casa
do Rael. Eu disse que resgataríamos vocês...
Assentimos, ainda olhando para o castelo, sendo dominado pelas
chamas. Elas já estão subindo para o teto. É muito triste, pois não podemos
fazer nada... apenas assistir ao fogo consumir tudo.
— Como isso dói — Hera sussurra e senta-se sem forças no chão,
está chorando.
— Foram eles que incendiaram... — Luiz fala. — O importante é
todos estarem aqui, vivos e bem.
Jolie pega na minha mão e na da Elena, puxando-nos para um
abraço apertado. Acho que é pelo alívio de estarmos salvas.
— Aqui não é seguro, precisamos ir imediatamente para o ponto
marcado.
Luiz e Morcego nos dão mais armamentos, enquanto observam a
mulher desconhecida ao nosso lado. Jolie apenas dá um olhar para eles,
como se estivesse cessando as suas perguntas. No entanto, eu ainda quero
saber quem é ela, e o que está acontecendo. Contudo, sem muita conversa,
caminhamos rapidamente por dentro da floresta noturna, sempre em alerta
para qualquer tipo de barulho estranho.
Em dez minutos chegamos em segurança à casa do Rael, que está
cercada por bastante soldados armados. Tem até os soldados do meu tio.
— Amor! — Elena corre para os braços do marido, que nos
esperava na porta da frente.
Rael faz o mesmo com a Jolie.
Eu fico parada, tentando encontrar o Vince. Onde ele está?
— O castelo foi incendiado! — Hera exclama com a voz
embargada, e é amparada pelos primos.
— Não se apegue a isso, formiguinha... — Hoss limpa as lágrimas
dela.
— O importante é estarem aqui conosco, são nossos diamantes
preciosos. — Rael beija a testa dela. — Vai dar tudo certo.
Tio Paulo aparece e salta, para me puxar e segurar o meu rosto. Ele
está desesperado, tremendo.
— Minha querida, está bem?
— Estou...
Ele me aperta firme e beija os meus cabelos.
— Está segura agora, eu prometo.
— Vem, vamos entrar. Enquanto não mapearmos e varrermos nossos
hectares, não saberemos se estamos seguros.
Entramos e a primeira coisa que a Jolie e a Elena fazem é subirem
correndo as escadas, para verem as crianças.
— O que foi? — Sem mais aguentar o olhar da mulher loira sobre
mim, eu questiono, desconfortável.
— Oi, Megan. — Tio Paulo surge ao meu lado, entregando-me um
copo de água.
— Oi, Paulo...
— Vocês se conhecem?
A mulher me observa, assentindo.
— É uma conhecida... minha, da Jolie e do Argus. Não se preocupe.
Só achamos que ela estava há uns sete palmos do chão.
Ela sorri fraco.
— Eu ainda estaria, se não fosse a esposa do Argus.
— Precisamos conversar... — Eles trocam olhares estranhos e logo
se retiram, deixando-me igual a uma pateta, sem entender nada.
Eu sempre sobro em tudo!
Suspiro e atravesso a sala, para invadir o escritório, onde Rael,
Morcego, Hera e Hoss conversavam. Eles até pararam para me olhar.
— Onde está o Vince? — A pergunta sai numa ferocidade
desesperada.
— Ele deve estar a caminho.
— Mas ele já não devia estar aqui?
— Daqui a pouco a nossa água de arroz está aí.
— E a tal Baronesa? — Cruzo os braços e eles se fitam. — Não se
olhem assim, como se eu não estivesse aqui. Eu quero saber se essa mulher
é a minha mãe ou não.
— A pegamos, ela está presa no esconderijo. Paulo fará as honras da
entrevista.
— Meu tio? Sério?
— Viu, até a Dalila concorda. Paulo está de traição conosco, e do
lado do tio Argus! — Hoss soca a mesa. — Eu farei a entrevista com essa
vagabunda.
— Nem fodendo! — Morcego exclama e olha para o Rael. — Jolie
faz, ela é muito boa em conseguir informações... e assustadora.
— Concordo! — eu e a Hera falamos juntas.
— Concordam com o quê?
Sem esperar, levamos um choque ao ouvirmos uma voz arrepiante e
estrondosa. É como se tivesse chegado Zeus. E talvez seja mesmo...
— Porra, tio Argus!
Viro-me e ele vem até mim.
— Olá, Lila.
— Oi... tio Argus.
Ele me dá um pequeno abraço, depois se aproxima da mesa e dos
demais.
Hera não dá um passo para demonstrar qualquer carinho com o seu
pai. Pelo contrário, está furiosa, e por isso, vira na mesma hora as costas,
para sair da sala e da sua presença.
— Hera, filha...
— Não ouse se dirigir a mim! Não fale comigo! Eu sei onde esteve
esse tempo todo! Estou cansada dos seus segredos e das suas traições!
Tio Argus só inspira, e ela por fim, se retira louca de raiva.
Todos nós ficamos em silêncio.
— Adoraríamos uma boa explicação — Hoss resmunga, fechando
os punhos.
Rael está do mesmo jeito.
— Primeiro, precisamos encontrar o Vince. Quem o viu pela última
vez?
Tio Argus toca no nome dele e meu coração dispara no peito.
— Morcego disse que ele subiu o elevador para resgatar as
mulheres, depois disso, ninguém o viu.
— Eu pedi para o Igor e os nossos soldados o procurarem pelos
arredores. Não direi nada até todos da família estarem aqui, em segurança.
— Acha que o pegaram?
Não, pelo amor de Deus...— Não sei, mas se não encontrarmos o
Vince até o amanhecer, eu saberei com quem ele está... e teremos uma longa
negociação.
— Pela Baronesa?
Ele nega.
— Prometo que conversaremos após encontrarmos o Vince. Outra
coisa, eu quem farei o interrogatório com a baronesa.
— Ok...
Tio Argus retorna para a minha direção.
— E eu gostaria de falar com você, a sós.
Hoss, Morcego e Rael entendem o recado, e retiram-se nervosos.
— O que está acontecendo, tio Argus? O que houve com o Vince?
— Choro.
— Vamos encontrá-lo, e vivo. Mas preciso que saiba de uma coisa.
— O quê?
— Eu sei que andou em contato com o Marcos... E muitas coisas
depois se encaixaram, tanto para ele quanto para mim.
— Como assim? Seja claro.
— Você também é neta do Marcos, foi a filha dele que engravidou
do seu pai.
Abro a boca, tentando acreditar nisso.
— A-a Baronesa então é filha dele?
— Não, apenas uma amiga. Ela era amante de Toretto. E a Baronesa
não é a sua mãe, mas tudo isso tem bem a ver com você, pois a sua avó
materna, ex-esposa de Marcos, deixou uma herança de quase trezentos
milhões de euros para a filha, depois da sua “morte”, passou para a neta,
você no caso. Por isso, ele te quer, viva ou morta, para conseguir o dinheiro
e financiar a nova máfia. A questão, é que ele não vai conseguir isso tão
fácil, como achava, pois, a sua mãe, Lila, está viva e a herança ainda lhe
pertence.
Sento-me, tentando ligar todo o quebra cabeça.
— Juro que estou em choque... sem reação. Odiei ter o mesmo
sangue desse homem correndo pelas minhas veias. Mas gostaria de saber
quem é a minha mãe.
— Vocês acabaram de se encontrar...
— Como assim?
— Ela está aqui e você já a conheceu.
Eu volto a ficar chocada.
— A-aquela mulher é a minha mãe biológica?
— Paulo e Jolie souberam há algumas semanas. Eu preferi assim,
pela sua segurança e a dela.
— Tio Argus, como a minha vida pode ser uma novela desse jeito?
Eu só queria ser feliz, viver em paz.
— Eu prometo que terá essa vida feliz. E a Megan também. Ela é
uma mulher maravilhosa, que igualmente não teve escolha do seu destino.
— Marcos tentou assassiná-la?
— Não, Baronesa e Toretto planejaram a morte da sua mãe, pois
Megan sabia que o fato de o Pedro a ter engravidado, foi para garantir esses
milhões. Seria mais fácil manipular a neta, do que ela, então a “mataram”.
Marcos soube de tudo isso anos depois, e junto do José, o traficante, eles
planejaram o assassinato do seu pai. Foi um grande complô de vingança, o
qual Toretto morreu sem saber.
— Que reviravolta cheia de revelações. E por que dessa Baronesa
estar viva e fazendo parte disso tudo? Marcos devia tê-la matado, para
vingar a filha.
— Os dois fizeram um acordo de me matar, depois aniquilar todos
os Calatrone, assim, a Baronesa ou Adria, como é o seu nome, teria a sua
vingança por eu nunca ter cedido à sua paixão na época. Estive trabalhando
a distância para dar a volta por cima disso tudo e salvar a minha família,
incluindo você, a sua mãe biológica e o Paulo. Adria é muito poderosa, ela
faz parte de uma das máfias mais terríveis da Europa. E precisamos evitar
de chamar a atenção deles.
— E o que o senhor pensa em fazer? Saiba que eu sou capaz de me
crucificar pela vida do Vince, se algo tiver acontecido com ele!
— Acho que ele também seria capaz de fazer isso por você. Vamos
esperar a varredura dos soldados até o amanhecer, ou até qualquer sinal do
Marcos...
Apenas assinto, cansada e triste.
— Vamos ter fé, querida...
Tio Argus afaga a minha mão, beija a minha testa e pede licença.
Sozinha e sem mais suportar guardar essa pressão de sentimentos,
eu choro, para aliviar o medo e o desespero.
Jolie aparece para me consolar. Não fico brava, ou sequer toco no
assunto da minha mãe biológica. Apenas me deito no seu colo, querendo
seu afago, igual sempre fez, como uma mãe de verdade, que sempre me
amou.
Mais tarde, perto do amanhecer e sem conseguir dormir, devido aos
meus pensamentos no Vince, eu vou para a sala, ficar de olho nas
movimentações. Até a tal Megan aparecer e se aproximar de mim. Tio
Paulo se afastou para nos deixar a sós.
Eu olho para ela, admirando a sua beleza e tentando achar algum
traço meu.
— Oi, Dalila...
— Oi.
— Sinto muito por ainda não ter notícias do Vince. Todos estão bem
apreensivos...
— Eu sei que ele vai voltar para mim...
Ela sorri fraco.
— Fico feliz por vê-la, já uma mulher adulta e bonita. Gostaria que
soubesse disso.
— Obrigada, e eu fico feliz por conhecê-la e por saber que não é
alguém ruim. Esse era o meu maior medo.
— Ainda não me conhece para tirar essa conclusão.
— Mas se o Argus, a Jolie e o tio Paulo confiam em você, eu então
compreendo que tem um caráter bom. Se fosse o contrário, eles jamais
permitiriam essa aproximação, nem estaria aqui.
— Agradeço a sinceridade. Não quero invadir a sua vida do nada,
mas depois que tudo isso passar, quero conhecê-la, ser pelo menos a sua
amiga, pois sei que não tem como recuperar o tempo perdido, apenas
recomeçarmos.
— Eu quero, sempre quis isso...
Ela assente e voltamos ao silêncio.
— GENTE! — De repente, o Rael empurra a porta principal.
Ele está segurando um homem ensanguentado nos ombros.
Em instantes todos da família aparecem na sala.
Levanto-me num pulo, sentindo o meu coração descompensado.
— O que houve, Igor? — Tio Argus avança e segura o rosto do
homem ferido, é o melhor amigo do Vince. — Vince está com ele?
— Sim... os soldados do Marcos me pegaram e te mandaram um
recado, para encontrá-lo em frente ao castelo... e é para levar ela.
Todos olham para mim.
— Não, Argus, é melhor eu ir até ele — Megan interpõem.
— Eu que vou! Ele quer a mim! — exclamo.
— Nenhuma das duas vai se colocar em risco! — Paulo dá um passo
de fúria.
— Sem tempo para discutirmos, preparem-se com seus armamentos.
Assentimos e junto-me com as mulheres.
— Jolie, acho melhor não...
— Nem ouse dizer, Hera, nem ouse! Eu jamais deixaria a Lila
sozinha e sem mim.
Hera suspira.
— Mas e os seus sintomas de gravidez? Isso é perigoso.
— G-gravidez? — gaguejo, sem acreditar.
Jolie está grávida e pelo jeito só eu não sabia.
— Não vamos entrar em detalhes. Eu prometo me cuidar, agora não
toquem mais nesse assunto, ou o Rael descobre, surta e eu acabo
explodindo os miolos deles.
Balançamos a cabeça.
Em alguns minutos estamos todos prontos a caminho do castelo. Só
a Elena que ficou para cuidar do Igor. E Jolie, Hera e Morcego, que foram
de carro, levando a Baronesa. Já o restante de nós estamos indo por dentro
da floresta. Não evito algumas lágrimas ao pensar naquele meu comilão
teimoso.
Por favor, meu Deus, que ele esteja bem e que tudo isso acabe.
Eles me colocaram amarrado e sentado no chão, para assistir às
chamas queimarem o castelo. Não sei nem descrever o meu ódio, a minha
fúria e a minha vontade de matar esses desgraçados.
— Estou amando o show de fogos — digo para o arrombado à
minha frente, ainda sorrio.
Bravinho, a bonita me dá outro soco na cara.
Eu viro o rosto e cuspo o sangue.
— Qual a porra do seu plano, Marcos? — grito e ele me olha.
— Daqui a pouco verá... ah, na verdade, verá agora.
Ele aponta para os quatro homens que caminham até nós.
Está escuro, mas os reconheço, é Hoss, Rael, Paulo e tio Argus.
— Achei que fossem demorar mais. — Marcos os observa, após eles
pararem a poucos passos de nós.
— Eu devia ter te matado! — Paulo rosna.
— Mas não matou, sempre foi o mais fraco dos Borghi. E não quero
estender essa conversa, está amanhecendo, tem corpos por todos os lados e
a polícia não vai demorar para chegar. Sabe o que eu quero, Argus. Vocês já
estão cercados, e se desejam evitar mortes desnecessárias, é melhor se
render e me passar as três.
Tio Argus demonstra surpresa.
Marcos sorri.
— Também descobri que a minha filha estava viva esse tempo todo,
sua carta na manga não vai funcionar. Pois sei que não esperava que eu
fosse invadir o castelo e de brinde, pegar o seu sobrinho. Só precisamos
fazer uma troca justa.
— Filho da puta! — Rael e Hoss seguram o Paulo.
É claro que nessa porra de guerra o Marcos estaria com a vantagem,
estamos cercados pelos soldados dele. Velho do inferno!
— Peguem as três.
— Argus!
— Faça o que eu estou mandando!
No começo eu fico sem entender o pedido do meu tio, mas quando o
Paulo volta com a Lila, e mais duas mulheres, eu surto!
— NÃO, TIO! QUE PORRA VOCÊ PENSA QUE ESTÁ
FAZENDO?
Tio Argus não me escuta, sequer me olha.
— É muito bom te ver baronesa.
— Eu sabia que a Megan estava viva, não é, querida? — Elas se
olham, como duas leoas selvagens.
Argus solta a mulher ruiva e a empurra para o Marcos.
Os homens dele também me levantam.
Eu fito a Lila, que me encara e chora. Que vontade de protegê-la e
dizer que vai ficar tudo bem.
— Está irreconhecível, filha...
A outra mulher loira se aproxima dele.
— Deixe a Lila em paz, ela é só uma menina. O que tem para
resolver deve custar a minha vida, não a dela, e você sabe disso.
— Eu fazia questão de tirar a vida dessa aí... — A Baronesa sorri.
— Mas chega desse tédio. Infelizmente, só o Marcos sai vencedor hoje, o
meu desejo de tirar a sua vida continua intacto, Argus. Teremos nossos
acertos de contas em breve, eu prometo.
Antes da Lila ir para o outro lado, Paulo a abraça e limpa as suas
lágrimas.
Eu me desespero e peço para o meu tio parar, para não me trocar,
para não fazer isso.
Dalila volta a me fitar. Ela tenta correr até mim, porém, é impedida
por um dos homens do Marcos. Igualmente, sou empurrado para os meus
irmãos, que não me desamarram, porque eu começo a berrar e a tentar lutar
para me soltar. Xingo eles e o tio Argus, como um louco.
Marcos e todos os outros entram nos carros e os veículos saem
derrapando no gramado.
— Precisamos ser rápidos. — Paulo olha para eles.
— QUAL É A PORRA DO PLANO, SEUS FILHOS DA
PUTA?! — grito.
— Se acalma, Vince, e confie no seu tio.
— Eu quero matar vocês!
Rael desamarra as minhas mãos e me joga o notebook.
É claro que isso seria um plano, é claro que eles estavam calmos
demais para realizar a troca, ainda mais o Paulo, que jamais entregaria a
Lila para o inimigo assim, de mãos beijadas. Arrombados!
— Jolie, Hera e Morcego acabaram de chegar na rua de chão.
— Vou estourar seus miolos se não me contarem qual é a porra do
plano.
— Eu coloquei um rastreador na Baronesa, Marcos e ela já devem
estar a caminho de algum jatinho. É lá que vamos surpreendê-los.
Assinto e começo a acessar os dados do rastreador no notebook. Em
seguida, dois dos nossos rapazes aparecem com mais carros. Entramos e
seguimos rapidamente para a estrada.
— Qual a localização?
— Estou compartilhando no GPS.
— Manda para a Jolie, ela está mais à frente deles.
Faço isso e não tiro os olhos do notebook. Meu coração está
palpitando sem parar. Que desespero, medo...
— Estão entrando numa rua de chão! — informo, e, em cinco
minutos, também viramos e os acompanhamos até o ponto final do Marcos
e da Baronesa.
Tem um jatinho aguardando-os.
De repente, homens aparecem de moto, metralhando-nos sem parar.
— Não, Vince, deixe esses para os nossos soldados resolverem! —
Hoss exclama, quando eu abro a janela e tento acertar os filhos da puta. —
Nosso foco agora é não deixar que embarquem no jatinho.
— Eu preciso fazer buracos nesses arrombados.
Rael então pisa no freio e derrapa na terra, quase colado à aeronave.
O tempo que para, é o tempo de sairmos do carro e começarmos e atirar em
direção a eles.
Derrubamos quatro homens na base do ódio, eles nem conseguiram
apertar nos gatilhos.
— VOCÊS, FIQUEM AQUI! — Hoss berra para a Jolie e a Hera,
que também desceram do carro e tentaram avançar primeiro.
— O que fazemos, tio Argus? Não entramos nessa merda sozinho!
— falo para o meu tio, que está só olhando para as trocas de tiro.
Abaixamos rapidamente atrás do carro, após quase levarmos
projéteis na cabeça.
— Vamos correr e atirar — ele simplesmente diz, levanta-se e sai
correndo na frente.
— O QUÊ?
Só tenho tempo de olhar para os meus irmãos e segui-lo,
metralhando todos os inimigos.
— Eles entraram na aeronave! — Morcego avisa e atira nos pneus
do trem de pouso.
Eu também atiro e alcanço o jato, que agora perde as forças para
realizar o taxiamento.
— VINCE, CUIDADO! — Hoss grita, e eu me viro, a tempo de
atirar nos dois filhos da puta que pularam do carro e vieram na minha
direção.
Eu dou a volta na aeronave e fico mirando na porta, ao lado do tio
Argus.
— Desce, Marcos! Se rende, seu merda!
Jolie e Hera param ao nosso lado.
— Sai daí, seu filho da puta, acabou!
Não demora para escutarmos vários barulhos de disparo e miramos
na porta.
— O que está acontecendo lá dentro? — Paulo questiona.
Até que a porta se abre e revela a Baronesa, que sai devagar e
sorridente.
— Não se preocupem... — diz, erguendo as mãos e a arma para o
alto.
Todos ficam paralisados, olhando para ela. É como se estivéssemos
esperando por mais... pela Dalila... minha Lila.
Meu peito se aperta e o meu coração acelera, ao ponto de doer o
tórax.
— Cadê a Dalila e a Megan? — Tio Argus avança. — Onde está
o...
— Executados, não disse que faltava a minha vingança?
Pela primeira vez, em toda a minha vida, eu vejo medo e desespero
nos olhos do nosso tio.
Sem pensar em mais nada, todos se olham e correm.

Abaixamos no banco de trás do carro.


Os Calatrone nos localizaram e seus soldados estão fazendo uma
troca de tiros com os homens do Marcos e da Baronesa. Eu choro baixinho,
pedindo para Deus nos proteger e acabar logo com isso.
— O jato está pronto, vocês vão descer e correr para dentro,
ouviram? — ela esbraveja, mirando duas armas na nossa cabeça.
Megan aperta a minha mão trêmula e me abraça, assentindo.
— Tem que ser agora, Adria, não podemos deixar que esses vermes
vençam! Não vou aceitar que Argus cante nenhuma vitória!
— Está tudo sob controle, Marcos. E vou dar cobertura para você...
Ela desce do carro, abre a porta, faz o sinal para prosseguirmos e
corrermos juntas com o Marcos para dentro do jatinho. O som das trocas de
tiros se torna cada vez mais perto.
— Precisamos ir logo, façam o taxiamento! — Marcos ordena na
cabine do piloto.
A Baronesa fecha a porta e nos observa com um olhar maligno.
— Vai dar tudo certo, Lila... — Megan acaricia a minha mão, e eu a
encaro em desespero. — Nunca sinta medo, me ouviu?
— Mas eu tenho medo de perder as pessoas que eu amo... a minha
família.
— É certo pensar em morrer sem ter lutado pelas pessoas que
ama. Pense assim...
Balanço a cabeça, e ela sorri fraco.
— Que linda cena de mãe e filha — a Baronesa diz, mas antes que
ela continue, sentimos os tiros acertarem embaixo do jato.
A aeronave começa a fazer um barulho horrível e os pilotos tentam
pará-la.
— Eu não vou aceitar isso! — Marcos dá um soco na parede de
metal
Baronesa se senta na nossa frente, observando a Megan.
— Temos algo pendente, Megan.
— É uma cretina! Eu que tenho muita coisa pendente com você, já
que foi plano seu e do Toretto me assassinar para ficar com a herança da
minha mãe!
— Isso não é hora, Adria, levante-se e faça algo para sairm...
De repente, ela puxa o gatilho da arma e dá um tiro na cabeça do
Marcos.
Eu solto um grito e fecho os olhos, após Megan me proteger.
A Baronesa continua atirando, sem parar. Até que cessa os disparos
e volta a nos olhar.
Ergo a cabeça, tão em choque.
— Você o matou!
— Que foi, querida Megan, não me diga que estava com saudades
do papai? Ele é um merda, insuportável, estou fazendo um favor a todos.
— Eu te odeio, sua desgraçada!
Ela sorri e mira a arma para nós.
— Agora, é a sua vez e depois da sua filhinha Borghi. E aí eu ficarei
com todo o dinheiro!
— NÃO! — Megan me empurra para o lado e se levanta.
— Não? Pensa pelo lado bom, vocês estarão juntas eternamente,
como mãe e filha. Vão me agradecer lá no além.
— Pelo amor de Deus, Adria, poupe a Dalila, ela não tem culpa de
nada, eu te suplico!
Ela nega, e Megan se desespera, tendo a única alternativa de avançar
para nos defender. Mas é tarde, um disparo surge e como se tudo estivesse
em câmera lenta, Megan é lançada contra o chão. Levanto-me para lutar
pelas nossas vidas e outro disparo acontece.
Eu olho para baixo e toco no meu peito, sentindo algo muito
pequeno me queimar e me perfurar. É doloroso, não aguento sequer ficar de
pé e caio por trás das poltronas. A Baronesa passa por cima de nós e acerta
o piloto também, depois volta.
Choro, estancando a ferida ensanguentada e tendo certeza de que
vou morrer. Escuto vozes familiares lá fora, eles chamam autoritários pelo
Marcos...
É a minha família!
Megan geme, e eu crio forças para me rastejar devagar até ela.
Quando a vejo, não sinto mais dor, eu choro, olhando-a agonizar.
— Vo-cê não vai... morrer — ela gagueja e um filete de sangue
escorre pela sua boca.
Aos prantos, abraço-a forte.
— Por favor, você também não vai morrer, não é justo. Não
merecemos.
Ela ergue a mão, tossindo mais sangue e tocando fraca no meu
rosto.
Continuo ouvindo vozes lá fora, e desta vez, a Baronesa abre a porta
do jato e começa a falar com eles.
— O Argus e todos os Calatrone estão lá fora, acabou, eles vão
matar a desgraçada dessa Adria. Ouviu? Estamos salvas.
— Lila, eu... sempre...
— Não fale muito, está perdendo sangue.
— Te amei e... vou te amar...
— Megan!
Os olhos dela então se fixam em mim, abertos.
Eu aperto a minha ferida e a sacudo.
— Por favor, por favor! Não pode morrer! Acorde!
Eu a abraço, chorando e gritando.
— LILA! — Ouço o Vince, e ele corre até mim. — MEU DEUS!
ARGUS, ELAS ESTÃO AQUI E FERIDAS!
Eu olho para ele, para o seu rosto bonito. É o homem que eu amo.
— Lila, fala comigo! Sou eu, o Vince... — Ele ergue o meu rosto,
mas não tenho forças para me sustentar, nem para falar.
— Por favor....
A dor começa a ser horrível, insuportável.
Ele afasta a minha mão, para estancar com mais força o ferimento
do meu peito. E chora, beijando a minha testa. Isso me dói na alma.
— Seja forte, viva por mim, minha garota loira, pois se você me
deixar, eu morro também...
Eu não queria que as coisas terminassem assim, eu não queria nada
disso! Lila não merecia esse fim. Por que, Deus?
Sento-me no chão e desabo em lágrimas.
Hoss e Rael se agacham perto de mim e apertam a minha mão.
— Parece que nada é real... — sussurro, com a voz embargada. —
Ainda não caiu a ficha.
— Não pense mais em tudo que aconteceu, já foi.
— Estou cansado...
— Estamos cansados. — Hoss acaricia os meus cabelos. — Mas
vamos reconstruir tudo e recomeçar do zero. Chega, acabou de verdade, me
ouviu?
— Não me importo com nada. Eu só quero vê-la... por favor.
— Paulo e Jolie estão lá dentro, aguardando notícias do médico. Se
acalme... — Rael beija o topo da minha cabeça e se levanta.
Eu continuo sentado, olhando para as minhas mãos sujas do seu
sangue. As horas parecem que não passam, é como se o tempo estivesse
parado e me machucando.
Mais tarde, sou “convencido” e arrastado à força do hospital pelos
meus irmãos. Eles repetiram que não ia adiantar de nada eu ficar sentado,
sujo e derrotado naquele chão, pois isso não iria ajudar a minha Lila, pelo
contrário, vai ajudar se eu estiver bem e fortalecido.
E que porra, esses bostas tinham razão.
Eu fui para casa do Rael, tomei banho, vesti roupas limpas, comi,
mas não deu nem dez minutos e voltei correndo para o hospital. O restante
da família está cuidando de “limpar” a cena de guerra que aconteceu.
— Poderia dizer que isso é culpa sua... — acuso, após o meu tio se
sentar ao meu lado na recepção.
Acho que faz umas três horas que estou na mesma posição.
Não olho para ele, analiso a imagem enorme de Jesus pregado à
cruz, que está exposta na parede, perto do balcão.
— Tinha que ser assim, filho... mas não com o triste final de Megan
e Dalila.
Choro, sem querer imaginar o sofrimento delas.
— Diga que acabou, tio Argus, olhe nos meus olhos e diga isso! —
Fito-o, finalmente.
Ele me encara com os olhos vermelhos.
— Eu juro pela minha vida que acabou.
— E o que vai acontecer com aquela desgraçada?
— Não posso sujar as minhas mãos, mas a entreguei à nova máfia
poderosa de Portugal. Para eles, família e lealdade também são importantes.
Adria será executada.
— Eu mesmo queria ter matado aquela mulher e aquele bosta do
Marcos.
— Foi melhor dessa forma, não aguentaria te ver fazendo isso.
— Eu faria com o maior prazer do mundo.
Tio Argus aperta a minha mão.
— Chega, acabou, entendeu?
Assinto.
— Já cuidamos do corpo da Megan, faremos a sua cremação. E acho
melhor a Lila saber disso só depois da alta.
Respiro fundo, pensando em como vai ser doloroso. Era o seu sonho
conhecer a mãe, acreditava que ela seria uma pessoa boa, que havia um
motivo para não ter feito parte da sua vida. Dalila quase beirava à certeza. E
no fim, estava certa.
Ao anoitecer, Jolie aparece na recepção e vem até mim, dar notícias
da minha garota. Ela informa que a Lila já passou pela cirurgia e agora está
em observação na UTI. Também disse que eu só posso visitá-la amanhã e
por alguns minutos. Fiquei decepcionado, pois queria muito vê-la hoje. Mas
o meu coraçãozinho aguenta. O importante é a Dalila estar estável e no
caminho de se recuperar... para ficar 100% para mim e para recomeçarmos,
felizes.

No dia seguinte, após madrugar no hospital, finalmente eu pude ver


a Lila. Porém, quando entrei na UTI e a vi cheia de aparelhos, eu tive que
ser forte para não chorar. Apertei a sua mão e disse poucas palavras, na
verdade, eu só consegui dizer seis.
— Eu te amo, minha garota loira...
Já ela, não conseguiu me dizer nada, devido à sedação, mas eu pude
notar seus olhos piscando fracos e a tentativa de apertar os meus dedos.
Como isso encheu o meu coração de alegria.
É real, a Dalila é a mulher da minha vida. É ela que eu quero para
sempre ao meu lado. Nada mais importa!
Durante os quatro dias de UTI, Lila foi se recuperando rápido, tanto,
que saiu da área de risco e foi transferida para o quarto. Eu a visitei todos os
dias, por mais que eu tivesse que intercalar os horários de visitas com a
minha família, mesmo assim, ela soube que eu estava lá na recepção, e
louco para vê-la comigo logo.
— Como está? — Hoss me questiona.
Estamos parados no gramado e olhando para o que restou do nosso
castelo em cinzas.
— Com o sentimento de reinício, e espero que sem mais os
mistérios do tio Argus. — Reviro os olhos.
Hoss repete a revirada de olhos.
— Teremos a nossa reunião quinta, na minha casa e conversaremos
sobre isso. Tio Argus que se prepare para a revolta de todos. Estamos nos
segurando há dias para não o questionar.
— Acho que não o culpo... no final, tio Argus fez tudo isso pela
nossa felicidade. Não há muito o que questionar.
— E se refere a sua felicidade com a Dalila?
— É claro, ela é a mulher da minha vida, até vocês concordam.
— Concordamos, mas sem esquecer da sua pouca vergonha de
seduzi-la.
— Eu não seduzi aquela tentação! A carinha de anjo dela que
enganou a todos. E falando na minha garota, vou visitá-la, já está dando o
horário.
Dou uma piscada para o meu irmão, subo na moto e volto para a
casa do Rael, a minha nova residência, até começarmos a levantar as pedras
do castelo de novo. Hera e Morcego ficarão na casa do Hoss.
Arrumo-me, e como, pois, com todas essas emoções, fiquei
desnutrido. Então, monto de novo na moto e parto feito um louco para o
hospital. Chego, já passando por toda a entrada, pegando o crachá e subindo
para o andar do quarto da Lila. Deixamos dois seguranças na frente da sua
porta.
— Oi... — Adentro devagar o quarto, pegando-a no momento do seu
lanchinho da tarde.
Lila me olha e sorri, linda e descabelada. Céus, assim eu morro de
amores.
— Você só veio me visitar duas vezes... e nas duas vezes eu estava
dopada, já que foi pós UTI — acusa, tristinha.
— É claro, minha princesa, tive que revezar a sua companhia com a
nossa adorável família. Ela é bem grande e insuportável.
Chego mais perto dela e tento furtar o seu cacho de uvas.
— Vince! — Ela dá um tapinha leve na minha mão.
Dou um sorriso arteiro e me inclino para beijar a sua testa.
— Como está se sentindo?
Ela respira fundo e dá um gole no seu chá.
— Melhor, e sem dores. Tio Paulo já está dando início aos
“pedidos” de me levar para casa. Não é muito seguro eu ficar aqui. — Dá
de ombros.
— Concordo, e eu vou cuidar de você... — Acaricio os seus cabelos,
fitando os seus lindos olhos. — Do jeitinho que gosta...
Ela molha os lábios e me puxa para mais perto, para me sentar na
maca. E, em vez de me responder com algo malicioso, Lila apenas me
observa, enquanto mapeia lentamente o meu rosto. Ela toca na minha alma,
mexendo comigo.
— Eu achei que te perderia... — não aguento e digo, depois de
abaixar a cabeça, para esconder a ardência nos olhos.
— Eu também. Não tem uma noite nesse lugar que eu não sonhe e
pense naqueles momentos. Na Megan morrendo, em você me olhando com
desespero, como se fosse o nosso último olhar, o nosso último contato. —
Lila ergue o meu queixo e limpa a minha bochecha molhada. — Mas não
foi.
— E nunca será, eu juro pela minha vida. — Colo nossas testas. —
Amo você, Lila. Quero te fazer feliz, quero que supere os traumas do
passado ao meu lado. Eu vou te tratar como merece, com todo o amor do
meu coração.
Ela chora.
— Eu acredito que vai. Eu sempre te amei...
Beijo-a delicado, demonstrando mais do que em palavras o meu
amor, a minha paixão e a intensidade do meu desejo.
Ela sente e retribui do mesmo jeito.
Algumas semanas depois...

— Vince! — Jolie praticamente rosna, após eu pegar os biscoitos


dela.
— Vai ser um inferno suportar essa bruxa grávida de novo! Como
aguenta, Rael?
— É bom ele nem ousar responder.
E ele não responde, mas dá um sorrisinho, que demonstra o seu
temor de ser assassinado por essa mafiosa do mal, caso diga algo que a
contraria.
— Vamos ter um pingo de paz em família hoje? — Hera pede e se
senta ao meu lado, com a bebezinha de um ano da Elena e do Hoss no colo.
Eu aperto as suas bochechas, todo bobo com esse serzinho perfeito.
Nossos outros sobrinhos estão correndo pela casa, e minhas costas estão até
quebradas de tanto brincar com eles. São os meus maiores tesouros.
— Não dá nem para acreditar que todo aquele terror passou... —
Hera suspira.
— Graças a Deus, sinto que tudo terminou, que podemos ter paz em
nossas vidas.
Enquanto Jolie, Elena e Hera desabafavam, Maria correu até nós.
— Tio Vince, a Lila chegou!
Eu até coloco a mão no coração e ergo-me, sem nenhum preparo
psicológico para a deusa loira que entra na sala, acompanhada do Paulo, da
Lupi e das crianças. Vou até ela, puxando-a devagar para os meus braços.
Desde que saiu do hospital, Dalila ficou sob os cuidados médicos na
mansão do seu tio. E obviamente, a visitei todos os dias. Cheguei a ser
expulso de madrugada pelo Paulo, esse infeliz sem escrúpulos.
— Vince...
— Está melhor? — pergunto exasperado, analisando-a.
— Estou ótima, andando e voltando à rotina. Não se preocupe.
— Ótimo. E você trouxe as suas malas, né? Para ficar por definitivo
aqui comigo?
— Eu tentei convencê-la a todo momento do contrário — Paulo
murmura, e eu finjo que um cachorro latiu.
— Você vai ficar?
Ela sorri, enquanto sussurramos nossas palavras.
— No final da noite eu te conto.
— Isso é injusto, uma tortura, como maltrata o meu coração assim?
— Você aguenta...
— Diz isso, quando eu tiver uma parada súbita por sua causa...
— Dramático...
Aproximo-me para beijá-la, sem me importar com a nossa família
nos olhando. Inclusive, hoje eu tenho um grande anúncio para eles.
— Vince, estão nos olhando...
— Eu não me importo.
— Não tem jeito mesmo.
— Tenho jeito só para você — digo, e ouço uns quatro pigarreios,
que atrapalham o nosso segundo beijo.
A gente não pode nem ter privacidade mais.
Nós nos afastamos e todos a cumprimentam saudosos, abraçam e
perguntam se está melhor. E só depois de toda a recepção, peço licença e
sequestro a Lila para mim.
Levo-a para o jardim noturno da casa do Rael. É um lugar lindo,
cheio de flores e luzes.
— O que o senhor quer me raptando?
Sentamo-nos no sofá externo e ela acaricia a minha mão.
Eu fito os seus olhos, completamente apaixonado por essa mulher.
— Dizer que amo você...
— Ah, Vince, você que quer me matar com essas declarações.
— Nem diga isso, eu só quero amor e a sua felicidade. Entendeu?
Ela assente, e eu volto a beijá-la, calmo e delicado, mas isso só por
alguns segundos, logo eu fico faminto e insaciável pela sua boca e pela sua
língua molhada.
— Obrigada... — Lila se afasta, ofegante e com desejo de mais. —
Por estar sendo tudo o que eu sempre sonhei.
— Você merece mais.
— Merecemos — diz e acaricia o meu rosto. — Eu posso te pedir
uma coisa?
— Pode me pedir até o mundo.
Minha garota sorri fraca, cabisbaixa.
— Quero que me leve até o alto-mar, para eu jogar as cinzas da
Megan.
— Amanhã?
— Sim.
Assinto e a abraço, para ela descansar a cabeça no meu peito.
— Como está se sentindo agora?
Todos os dias que eu ia visitá-la fazia essa pergunta.
— Protegida, amada e aliviada. Só quero ser feliz.
— E será, ainda mais ao meu lado. Eu esbanjo alegria e sexo,
principalmente sexo, orgasmos não vão te faltar.
Lila me dá um tapa na coxa e ri.
— Nem fala essas palavras safadas, não ouse me provocar.
— Eu te dei um orgasmo ontem, não se sentiu alegre?
Ela se distancia e sobe a mão para o meu pobre pau, que está sem
ela há quase um mês.
— Prometo que mais tarde teremos aventuras com penetração.
— Lila... — gemo com seus dedos arteiros. — Diga que isso não é
um sonho?
— Não, é muito real...
Ela morde a minha boca e eu avanço, para mergulhar a língua com
tesão, até necessitarmos de ar nos pulmões.
— É melhor voltarmos para a companhia de todos, antes que
façamos algo nesse sofá. — Ela se levanta.
— Vou protestar contra essa ideia de voltarmos, porém, estava com
saudades de ver toda a nossa família reunida.
— Eu também...
Voltamos para dentro, mas, antes que eu pudesse me sentar, o tio
Argus me chamou para conversarmos a sós.
— Fico feliz em vê-la bem.
— Eu estou, de certa forma. Acho que foram tantos traumas na
minha vida, que agora sei lidar melhor com essas situações. Digo, ter forças
para não desistir e seguir em frente.
— Eu quero que siga, que seja feliz ao lado do Vince. Sei o quanto
vocês se amam. Tem a minha benção.
— Obrigada, tio Argus.
Ele assente, então vira para o aparador ao lado, pega uma caixa
grande de madeira e me estende.
— Megan gostaria de ter te entregado essa caixa pessoalmente, mas
o destino não quis assim. Abra, por favor...
Meus olhos ardem e eu abro a tampa da caixa ornamentada. Tem
muitos papéis escritos, também objetos, como roupas, sapatos, brinquedos e
até joias. Estão velhos e amarelados, porém, não cheira a mofo, é um cheiro
de perfume agradável.
— A cada ano do seu aniversário ela te escrevia cartas, comprava
presentes e guardava tudo aqui, para um dia te encontrar e você entender
que a sua mãe sempre a tinha em seus pensamentos e coração, com
esperanças de vê-la. Megan queria muito ter te conhecido antes, porém,
cresceu sob a proteção dos Borghi e se ela voltasse, a sua morte era certa. E
por favor, Lila, acredite em mim, nem eu sabia que a sua mãe estava viva.
Foi a minha ex-mulher que a escondeu e a protegeu todos esses anos, e
também, foi a própria que me contou a verdade, já que, após a queda de
Toretto e de toda a máfia, a Megan finalmente poderia voltar para Lisboa,
para a sua cidade natal e ao lado da sua filha, a qual sempre sonhou em
conhecer. Então, a ajudei a acabar com seu último obstáculo, Marcos e
Baronesa. Eu fiz de tudo para termos um final feliz... só que o destino
resolveu ser cruel e traçar a sua própria rota. Sinto muito.
Eu choro, ouvindo o tio Argus e tocando nos objetos que valem
mais do que qualquer dinheiro no mundo. Tem até roupinhas de bebê,
sapatinhos rosas, laços de cabelo, perfumes, bonecas. Não consigo imaginar
o que a minha mãe passou todos esses anos, sendo privada de estar aqui,
para me ver andar, falar e passar por cada etapa do meu crescimento, até me
tornar uma adulta. Queria tanto que tivesse sido diferente, que ela estivesse
comigo, pois eu tenho certeza de que a amaria.
— Ela te amava muito, era a sua força. Se eu pudesse mudar esse
trágico fim...
Não aguento e abraço o tio Argus.
Ele beija a minha testa, emocionado.
— Obrigada por tudo o que fez por ela e por mim. Jamais se culpe.
— Eu seria capaz de dar a minha vida por vocês, pela minha família.
Mas o destino quis ser escrito dessa forma, para surgir novos capítulos,
novas páginas em branco, onde escreveremos apenas felicidade.
Choro ainda mais com as suas palavras perfeitas.
— Te deixarei a sós com a caixa.
— Não, por favor, eu ainda não estou pronta para isso. Quando eu
estiver melhor, aí sim vou querer estar sozinha e ler carta por carta.
— Tudo bem, talvez seja melhor que espere o momento certo.
Agradeço-o e depois de guardarmos a caixa, voltamos para a
companhia da família.
É uma noite muito feliz, com todos reunidos, bebendo, rindo e até
cantando. Mas, há algo diferente no olhar de cada um aqui presente, um
brilho de emoção e alívio por estarmos juntos novamente. Borghi e
Calatrone.
O destino é mesmo surpreendente...
— Gostaria da atenção de todos. — Vince se levanta e vai até o
meio da sala. — Ei, aqui, a atenção de todos!
Eles param de falar e o olham.
— O que quer agora, loira azeda?
— Dá para fechar a boquinha, Hoss?
— Ele vai dizer que dará férias da sua insuportável presença. —
Rael ri.
— Vocês sempre esbanjando amor entre irmãos.
— Deixem o tio Vince falar — Maria manda, igual uma soldada do
seu tio babão.
— Obrigado, minha piolhenta favorita.
Maria revira os olhos e volta para o seu lugar.
— Bom, o que eu gostaria de falar, é que me sinto feliz por vocês
estarem aqui, por estarmos vivos e tendo motivos para continuarmos. Eu,
principalmente, tenho muito motivo de querer viver, pois é fato que estou
apaixonado pela Lila e que a quero 24 horas do meu dia. É o fôlego da
minha existência, o sol que ilumina os meus dias.
As mulheres suspiram, assim como eu. Já os homens, o fuzilam,
fingindo que também não se emocionaram com a declaração da nossa
Magali.
— É por isso que, tendo a benção de vocês, eu gostaria de fazer um
pedido muito especial para a minha garota.
Ele vem até mim, estende a mão e me faz me levantar trêmula, em
choque. Mal consigo mexer as pernas.
— Vince, o que está fazendo? — sussurro, e ele só sabe sorrir.
Então, ajoelha-se na minha frente e abre um estojo branco de
aliança, surpreendendo o meu coração acelerado e a nossa família.
Meu Deus, eu não sei mais como respirar. Isso não pode ser real!
— Minha futura Dalila Calatrone, aceita se casar comigo?
Lila sorriu e sem pensar duas vezes, gritou o seu sim.
Todos vibraram. Mas só quando eu coloquei o anel no seu dedo que
a minha ficha caiu. De que eu estava fazendo a escolha mais certa de toda a
minha vida.
Eu amo essa mulher. Ela me torna o homem mais feliz do mundo
— Eu preciso te amar à noite toda... — sussurro e a levo para o
quarto. — Preciso provar que a amo.
— Eu já tive todas as provas disso...
Fecho a porta e ela se envolve no meu pescoço, beijando-me com
tesão, enquanto tiro as nossas roupas.
— Você é perfeita.
Ajoelho-me aos seus pés, puxando o seu vestido para baixo e
olhando para a sua cicatriz recente, abaixo do seu seio esquerdo. Sinto
vontade de chorar ao pensar que poderia ter perdido a Lila para sempre.
— Ela ainda dói um pouco...
— Prometo ser delicado.
Lila sorri e acaricia os meus cabelos.
Eu beijo a sua barriga, subindo lentamente para os mamilos duros e
ansiosos para serem provados. Mamo cada um, com delicadeza e empenho.
Minha garota geme. Ela é tão sensível nessa área, a cada passada de língua
se contorce mais.
Ergo-me e a faço se deitar na cama, para eu me dedicar melhor ao
seu prazer.
— Amo a sua nudez — digo e beijo a testa da sua bocetinha. —
Sempre serei o único a vê-la assim, exposta para mim.
Abro as suas coxas e esfrego a ponta do nariz nos lábios maiores e
lubrificados.
Sinto-me no paraíso.
Começo o oral, lambendo e dedilhando com toda a calma que ela
merece. Faço movimentos de sucção com a língua, sem afastar a boca.
Brinco com o seu clitóris e estímulo o seu canal lubrificado... até as suas
pernas começarem a tremer.
— Vince... — Lila geme o meu nome, arqueando as costas e
tentando pressionar as coxas.
Eu só me afasto da sua boceta depois de ver o seu líquido quente
escorrer.
Ela fecha os olhos e contempla o orgasmo.
Volto a subir os beijos pela sua barriga, chupando os mamilos,
mordiscando o pescoço e provando da sua boca faminta.
— Preciso de você dentro de mim, me fodendo gostoso.
— Dá nem para acreditar que essa safadeza saiu dessa carinha de
anjo.
Ela sorri e aperta o meu pau, masturbando-me com a sua mão
subindo e descendo devagar. Cheguei a prender a respiração, para não ter
uma parada cardíaca.
— Porra, minha noiva gostosa.
— Fala de novo...
— Gostosa?
— Não... — Lila esfrega a cabeça do meu pau na sua bocetinha
molhada.
Eu fico louco para avançar e entrar de uma vez nela. Mas prometi
que seria controlado.
— Fala, amor...
— Amor? Porra, eu vou gozar assim, sua sem coração!
— E eu sou o que sua? — ela insiste, enquanto me toca com as suas
mãos ágeis.
— Minha noiva e a minha futura esposa Calatrone. Está feliz?
— Não, pois falta você me pene...
Dalila nem precisou terminar a frase, pois o meu pau já encontrou
seu caminho de casa. Tive até que me concentrar, antes que desmaiasse de
tesão, devido ao seu canal me apertando e me sufocando. Não aguento e
inicio as arremetidas prazerosas.
É perfeito, mágico. Só penso em satisfazer a minha Lila.
Os seus gemidos são como músicas para os meus ouvidos. E saber
que eu a terei todos os dias assim, nos meus braços, amando, protegendo,
cuidando e satisfazendo, torna-me o homem mais feliz do mundo.
Tudo valeu a pena...

Cinco meses depois...


— Para você, meu doce de brigadeiro. — Entrego um pequeno
buquê para a minha garota loira, e ela me presenteia de volta, com o seu
lindo sorriso de amor.
Beijo a sua boca, escalando o seu corpo no sofá da sala, fico por
cima com o meu peso.
— Achei que estivesse no castelo, ajudando os seus irmãos com a
reforma.
— Eu estava, mas eles nem precisam de mim. Tem engenheiros,
decoradores, arquitetos e sei lá mais o que... sem falar, que já está tudo
praticamente reformado e mobiliado. Hera aproveitou para modernizar
ainda mais as coisas. Acho que essa semana voltamos.
— Eu vi e não esperava que o castelo pudesse ficar ainda mais
luxuoso.
— Imagino os nossos filhinhos correndo por todos os cantos,
explorando e fazendo muito barulho e bagunça.
— Vai ser maravilhoso, ou não, se puxar ao pai, prevejo os
pequenos “Magali” comendo até as paredes do castelo. — Lila ri, e eu dou
um tapa na sua coxa.
— Ai, amor!
— Poderíamos começar a fabricar os nossos diabinhos piolhentos e
esfomeados.
— Só depois de viajarmos pelo mundo, você me prometeu.
— E vamos, após o nosso casamento. — Encho a minha deusa de
beijos e me levanto. — Aliás, nos casamos na quarta que vem.
— O QUÊ?!
Jolie, de repente, entra na sala, e com a sua barriguinha de grávida.
Ela está um balãozinho rechonchudo, a coisa mais linda.
— Como assim vão se casar na QUARTA?! — questiona, após ter
ouvido o final da nossa conversa.
— C-casar na quarta? Oi? — Hera também surge, perplexa ao ouvir
o mesmo.
— Sim, vamos nos casar na semana que vem. — Lila se ergue e
entrelaça a mão na minha. — Decidimos apressar as coisas, foi uma decisão
nossa.
— COMO ASSIM? — Hera surta. — Vocês não podem fazer isso,
deveríamos organizar a cerimônia em quatro meses, no mínimo, para
fazermos a melhor festa de todos os tempos!
— Relaxa, priminha.
Hera me fuzila e então me taca uma revista na cara.
— Sua naja de saltos, Titanoboa de 58 milhões de anos!
— Vince, não me faça te estrangular!
— Sem escândalos, vamos nos casar no civil e fazer algo simples,
só com a família mesmo. Garanto que será tão especial e inesquecível
quanto uma festona cansativa.
Jolie assente e se senta no sofá.
— Hera, deixa assim, esses dois estão doidos para se casarem logo e
explorarem o mundo.
Lila abre um sorriso de orelha a orelha, quase dando pulinhos. A
felicidade dela enriquece o meu coração.
— Sim! Vai ser incrível, só nós dois, viajando, tirando fotos e...
— Fodendo muito.
— Vince!
Elas reviram os olhos.
— Homens, tudo igual mesmo.
— Opa, chegamos na melhor parte. Por que estamos sendo
desmoralizados? — Hoss, Morcego e Rael passam pela porta principal e
chegam para lutarmos contra a gangue das diabas, que só sabem judiar de
nós, anjos inocentes.
— E quando não somos desmoralizados por essas diabas sem amor?
Só sabem nos tratar como cachorros vira-lata.
E de novo, elas reviram os olhos.
— Nos poupem de dramas de macho.
— O que está acontecendo? — Maria, a diabinha da gangue,
questiona, desconfiada.
Sem planejar, nossa pré-adolescente, mais a Elena e o tio Argus,
aparecem em seguida, para acabar de encher a sala.
— Alguém chamou a piolhenta aqui? A creche fechou, gente?
Maria mostra a língua para mim e vai até Lila, abraçá-la.
— Vocês vão viajar e me deixar?
— Não será por muito tempo, princesa Fiona do titio Vince. Só um
ano.
Levo um beliscão da Lila.
— Esse branquelo azedo não toma jeito mesmo.
— Isso é mentira, não acredite no tio Vince, acho que vamos viajar
só por uns dois meses.
— Nunca acredite mesmo, o nariz dele o entrega.
— Cala a boquinha, Morcego. Isso é inveja, porque eu sou o tio
preferido das nossas crianças. O mais amado.
— Saudades de estar no castelo, para jogar essa água de arroz da
última torre — Hoss murmura e brinda uma cerveja com eles. Luiz acabou
de trazer o cooler.
— Cambada de bastardos.
— O amor entre essa família é lindo de se ver — Tio Argus diz,
após pegar uma cerveja.
— A gente não se ama, apenas nos suportamos, é diferente.
— Mudando de assunto. Elena, teremos apenas cinco dias para
planejar o casamento da Lila e do Vince.
— Como assim?
— Resolvemos antecipar as coisas, vamos nos casar na quarta-feira
da semana que vem.
— MEU DEUS! MENTIRA! CINCO DIAS?!
Elena vai até a Lila e a sacode.
— Como você pode fazer isso comigo?
— Não precisa ficar doida, Eleninha, queremos algo simples...
— Simples? SIMPLES?
— É melhor não enlouquecer a mulher do Hoss não... — Eu cutuco
a Lila.
— Precisamos começar imediatamente os preparativos! Vem, eu
quero todas reunidas na outra sala!
Elena puxa Dalila à força e o restante das mulheres as acompanham,
até a Maria. Ficam só os homens e o lindo cooler de cervejas geladinhas.
— Olha que paz, sem a gangue das diabas.
— Se preparem, elas vão fazer “O” casamento, mesmo com o prazo
apertado. E vai sobrar para nós.
— Ainda tem dúvidas?
— Por mim... — Dou de ombros. — Não vejo a hora de chegar
quarta e finalmente estar amarrado por um latão no dedo.
— Que bonitinho, vermos a nossa princesinha apaixonada e feliz.
Mostro o dedo do meio para o Hoss.
— Olha, pirralho, você não mostra esse dedo não.
— Que foi, está querendo ele no meio do seu rabo?
— Arrombado!
— Ah, não! Eu não deixava barato. — Rael e Morcego se levantam.
Hoss então pula em mim, junto com os outros dois animais
mutantes.
— Seus filhos da puta, vocês não ousem... me soltem!
Eles me pegam e me levam até a janela, para me colocar de cabeça
para baixo.
— Eu vou matar cada um com a porra de um tiro!
— Meninos! — Tio Argus adverte, mas os desgraçados estão rindo.
— Pede desculpas e diz que é uma princesinha.
— Princesinha é o meu pau de 25 cm na cara de vocês!
— Quis dizer 2 cm? E vai ficar aí até o sangue começar a escorrer
pelos ouvidos.
— QUE ISSO?! — Esses bostas só me puxaram de volta quando a
Lila apareceu, perguntando o motivo de estarem tentando matar o seu
noivo.
Tem coisa mais linda que essa?
Vou morrer sim, mas de amores pela minha futura esposa.
Depois de eu tentar atirar neles com a arma e tacar garrafas de
cervejas em suas cabeças para me vingar, a harmonia voltou — porque as
mulheres apareceram, bravas e puxando nossas orelhas para nós nos
comportarmos como homens normais e não animais selvagens.
Olha que absurdo! Nos tornamos cachorros adestrados mesmo.
E fazer o que, se esses diamantes são a razão do nosso viver? Não
sei o que seria de nós sem elas. Que orgulho da minha família. Não há
palavras para definir essa felicidade.
Ou há... o amor...
Eu olho para o meu caderninho, pego a caneta e circulo o primeiro
nome da lista: “Brasil”.
— Já foi se vestir? Vamos perder o café da manhã do hotel, e se isso
acontecer, pode enfiar uma faca no meu coração, eu prefiro a morte. —
Vince para na minha frente e arranca o caderninho da minha mão.
— Amor!
— Você vai ter muito tempo para escrever no seu diário de viagem.
O Brasil é o nosso primeiro país ainda.
— Mas era o meu principal sonho conhecer esse outro lado do
mundo.
— Eu nasci aqui, então, o outro lado do mundo para mim são os seis
continentes da Europa.
Eu reviro os olhos e me levanto.
Vince então me puxa rápido pela cintura e me rouba um beijo
delicioso. Não estava esperando por isso, fico toda derretida e mais
apaixonada.
— Te amo tanto. Ainda não acredito que faz três dias que nos
tornamos marido e mulher, e que estamos aqui, iniciando a nossa viagem
pelo mundo. Eu sou um homem tão sortudo e feliz. Obrigado por isso, Lila.
Emociono-me e acaricio o rosto dele.
— Eu que devo te agrade...
— Jamais deve me agradecer por nada, é a minha obrigação te amar,
cuidar e respeitar, na doença, na saúde e na fome.
Ele me faz rir, esse bobo esfomeado.
— Mesmo assim, obrigada por demonstrar que vai me fazer uma
mulher feliz.
— Você terá todos os dias a prova disso... — Meu marido safado
volta a me beijar, com tesão e me jogando na cama.
— Vince, já transamos a madrugada toda, pelo amor, deixe-me
andar hoje.
— Basta parar de ser uma tremenda gostosa, só o seu respirar me
deixa louco para devorá-la feito um cão no cio.
— Logo eu adestro esse cão — resmungo, e ele ergue a cabeça
revoltado.
— Adestrar mais o quê? Já me enfiou uma aliança no dedo, agora
quer uma coleira no meu pescoço?
— Sim, eu quero...
— Olha que diaba, sua peste...
É a minha vez de beijá-lo feroz, até enfraquecê-lo e conseguir me
desvencilhar dos seus braços fortes.
— Vamos logo tomar o café, para depois aproveitarmos a praia de
Salvador. Anda, amor. Estou tão animada!
Ele pega o travesseiro e taca em mim.
— Vince!
— Tomara que seja linchada na rua e obrigada a devolver o nosso
ouro.
E pela... até perdi as contas, eu reviro os olhos.
— Eu não roubei o ouro do Brasil.
— Seus antepassados sim, sua portuguesa ladrona. E não basta ter
roubado o nosso ouro, roubou também o meu coração. Farei um B.O mais
tarde.
Taco de volta o travesseiro nele, sem evitar a gargalhada.
— Deixa para fazer esse tal “B.O” na cama comigo. — Pisco e vou
correndo até a porta, para ele não me agarrar, mesmo assim, esse sem-
vergonha atravessa o quarto como um relâmpago e me dá um tapa doloroso
na bunda. Desconto com outro tapa na dele.
Então, seguimos para o nosso café e a praia.
Aproveitamos o nosso dia até o anoitecer.
Meus planos eram de descansar, mas o Vince me fez vestir um
vestido sexy e acompanhá-lo para uma surpresa.
— Onde o meu querido marido está me levando?
Ele me abraça por trás, me faz entrar no elevador e aperta no botão
do último andar.
— O seu querido marido está te levando para o abatedouro.
Sorrio e viro-me, para pressioná-lo contra a parede de metal.
— Lila... — ele geme, após eu acariciar o seu volume inclinado na
calça.
Sinto-o latejar e endurecer.
— Não me faça te foder agora, sua libertina.
Ele afasta a minha mão e me gira de novo. Aproveito que estou
encoxada na sua ereção, para roçar a bunda de propósito nele. Nem preciso
dizer que meu comilão ficou louco e frustrado com a minha safadeza, pois o
coitado está se esforçando para ser romântico. Resolvo colaborar e ao
chegarmos ao terraço, sou surpreendida por uma decoração romântica, a luz
de velas, com direito a muitas pétalas de rosas espalhadas, também buquês
e balões vermelhos complementando a decoração apaixonada.
— Amor, que... lindo.
Emociono-me, sem acreditar que ele preparou isso tudo para mim. É
perfeito!
— Você merece, sempre vai merecer.
Fito os seus olhos e entrelaço os braços no seu pescoço. Estou
chorando, pois me imaginar nesse momento, depois de tudo que passamos
para sermos felizes, é indescritível.
Eu sou tão grata, quero sempre valorizar essa felicidade.
Vince limpa as minhas lágrimas.
— Eu te amo tanto que não sei mais como mensurar o tamanho
desse amor. Acho que nem o infinito define — digo.
— Será mais do que o infinito, não se preocupe. E saiba, que eu te
amo tanto, que trocaria todo o açúcar do mundo para passar o resto da
minha vida com você. Vi a frase na internet.
O engraçadinho me rouba uma risada alta e me beija, pegando-me
no colo, para provar que a nossa linda noite só está começando. E realmente
sinto que sempre só estamos começando... é como uma brasa viva.
Nosso amor, nosso toque, nossa conexão, é ardente, é constante! É
um fogo inflamável, que eu ousei desafiar suas chamas, em troca do homem
que sempre amei.
E que a nossa paixão, o nosso amor, dure como fogo eterno...
Dez anos depois

— Vince, você já ligou para o Rael? Já era para estarem aqui —


Hera pergunta.
— Meu Deus, vocês estão muito ansiosas. — Reviro os olhos.
— E vai mentir que não está também? — Lila acusa, e eu tento
provar o óbvio, que não/sim.
— Saudades de um bando de pré-adolescentes entre sete e quatorze
anos?
— Amor!
— Sabemos que ele está mentindo, pois faz uma semana que não
para de choramingar pelos filhos e pelos sobrinhos.
E essas diabas têm razão, pois quando a creche chega ao castelo,
com seus gritos de “CHEGAMOS”, meus olhos se enchem de lágrimas.
Quase cai aos prantos por ver os meus pirralhos, piolhentos e insuportáveis.
Todos os sete estavam de férias na Disney, com Hoss, Elena, Rael e Jolie.
Minhas crianças correm para me abraçar!
— Tio Vince, estávamos morrendo de saudades!
— Eu sei que estavam, eu sou o tio preferido de vocês.
Eles riem.
Já Hoss, Morcego e Rael reviram os olhos.
Meus filhos, Flora de seis e Liam de nove, também abraçam o
paizão e a mamãe, contando com entusiasmo que amaram as férias na
Disney, que querem ir de novo. Abraço-os, com tanta saudade dos meus
tesouros. Foi só uma semana, mas quase morri sem eles. O castelo sem o
bando de baderneiros não é a mesma coisa.
— Depois, diz que não sentiu falta das crianças... — Lila debocha, e
eu dou um beliscão na sua bunda.
Ela faz cara feia, e pisco de propósito.
Tio Argus surge, levando uma enxurrada de abraços e beijos, na
verdade, foi isso para todos. Hera foi a pior, chorou igual uma bobona; os
abraçou, deu beijos e os apertou. Vi nos olhos deles o pedido de socorro.
— Ei, ei, nada disso, acabaram de chegar! — Hoss adverte o filho
Henry e o sobrinho Gian, que já estavam correndo para ligar o videogame.
São os aborrecentes mais velhos, de 14 e 12 anos.
Eles reviram os olhos e vão implicar com as primas.
— Cadê a Maria? — Elena pergunta.
— Chegou essa semana das férias da faculdade e não parou em casa,
todos os dias revendo os amigos e saindo — Hera informa.
— Que amigos? — Hoss já rosna, idêntico a um pitbull. — Quero a
lista completa com o nome de todos.
Elena o belisca.
— Amor, você não começa, pois sabe que a Maria já é adulta e
odeia você no pé dela, aliás, vocês! — ela acusa, eu, Rael e Morcego.
Nós nos olhamos, após cruzarmos os braços.
— Pois que se dane, é o nosso papel de pais e tios ficar no pé das
nossas meninas e matar qualquer infeliz tarado.
— Exatamente, filha minha só sai de casa casada e depois dos 30.
As mulheres colocam as mãos na cintura e respiram fundo, para não
nos xingar de todos os palavrões possíveis.
— É, os machões fiquem aí pensando que podem controlar uma
mulher de sangue Calatrone.
— Eu pensava assim, né dona, Hera? — tio Argus fala, e a sua filha
sorri cínica.
— Foi algo inevitável, papai. Veja, hoje você ama o seu genro.
— Eu só queria ter o mesmo sangue de barata do tio Argus, que não
matou o safado do Morcego por se engraçar com a sua filha casta e inocente
de 19 anos — Rael diz.
Elas riem.
— “Casta e inocentes”, em pleno século XXI.
Enquanto a família discutia, não percebemos alguém parado atrás do
sofá, nos ouvindo e nos observando com graça. Na verdade, eu fui o único
que percebi.
Maria encontra o meu olhar e sorri.
Eu pisco para a diabinha rebelde de 20 anos. Ela se tornou uma
mulher linda, de cabelos pintados de vermelho fogo e uma tatuagem bem
grande no braço, a qual seu pai ainda não viu. Hoss realmente ganhou uma
cruz para pagar por todos os seus pecados em vida, pois ninguém segura
essa menina, ainda mais agora, que tirou a sua habilitação e comprou uma
moto maior do que ela.
Maria dá um passo, com a sua bota de salto e o macacão de couro
curto. Elena então a vê e arregala os olhos, correndo para abraçar a filha.
— Maria!
Todos param imediatamente de discutir e olham para ela.
— Filha, que saudades, meu amor!
— Também estava com saudades, mãe.
O restante da família se levanta com entusiasmo para abraçá-la.
Fazia uns seis meses que não a víamos, isso, desde as suas últimas férias.
— Linda tatuagem, cabelo de fogo — falo, e o Hoss fixa os olhos na
hora.
Maria me fuzila.
— Tio Vince!
— Tá linda, querida...
— Obrigada, tia Hera. E oi, papai! — Maria vai até ele e se joga nos
seus braços. — Não sentiu a falta da sua filhinha?
Essa é afrontosa.
Hoss está bufando, mas abraça a cabelo de fogo rebelde.
Eu só sei rir e debochar da cara dele. Até o restante da família riu.
— Quero ver quando for a vez de vocês, com as suas filhas maiores
de 18 anos... — ele resmunga.
— Tá amarrado, eu vou acorrentar a Flora nos pés da cama.
Dalila ouve e me joga uma almofada na cara. Hera também me deu
um beliscão.
— Ai, suas diabas, perversas.
— Ficar calado é uma dádiva, polaco azedo.
— Por que não estão brigando com a cabelo de fogo?
— Nem comecem a me encher...
— A te encher de sermões, por estar rebelde e saindo de casa sem
avisar aonde vai?
— Pai, pelo amor. Desde que eu cheguei, sempre avisei para a
Dalila e a tia Hera aonde eu ia, não se preocupe, sei dos riscos.
— Isso é verdade.
— Não vem acobertar a sua sobrinha não, dona Hera. Já não basta a
mãe dela. — Ele olha bravo para a Elena e ela rola os olhos.
— Só de pensar que eu vou sofrer o mesmo com a Pétala... — Elena
murmura.
— Falando nela, cadê as minhas crianças?
— Na outra sala, enfiados na TV e no celular.
— Vou lá surpreender meus tesourinhos. — Maria pisca e se
levanta, após o seu pai dar um beijo na sua testa.
Apesar de toda a implicância, a verdade é que o Hoss e todos nós
sentimos muito orgulho pela mulher forte, poderosa e inteligente que a
Maria se tornou. Aliás, ela sempre foi assim, desde quando era a nossa
pequena piolhenta. Nunca vi uma criança tão esperta e com respostas
afiadas na ponta da língua.
Como os anos podem passar tão rápido assim? Às vezes eu queria
que o tempo parasse.
— No que está pensando? — Rael pergunta, após se sentar ao meu
lado e me ver olhando para o nada.
Estamos — nós homens — sozinhos na área de churrasco. Hoss e
Morcego estão cuidando de colocar a carne na grelha, já eu e Rael
terminamos de arrumar as mesas aonde vamos jantar em família.
— Em como a tua bunda é grande, enquanto caminhava até mim. —
Ele me dá um soco de leve no braço, e eu rio. — Sem agressividade,
princesa, eu só estava pensando em como os anos passaram ligeiros. Não
acha? Parece que foi ontem que eu recebi a notícia de que seria pai pela
primeira vez. Aliás, parece que foi ontem que eu me casava com a Lila e
viajávamos o mundo, igual a dois bobos apaixonados.
— É, parece que foi ontem que eu também me apaixonava pela
Elena e que me descobria pai de uma pequena respondona... — Hoss ouve a
nossa conversa e comenta.
— E parece que foi ontem que a danada da Hera laçava o meu
coração e me tornava o homem mais rendido e dominado. Oh mulher, viu...
— Espera, e tem eu. — Rael ergue a sua cerveja. — Parece que foi
ontem que eu me apaixonava por uma mafiosa e colocava toda a nossa
família de agiotas em risco.
Rimos, mas antes, o Hoss tacou uma tampinha de garrafa na cabeça
do nosso irmão do meio.
— Engraçadinha ela, né?
— Nem vem, Hoss, que você também se apaixonou pela ex-noiva
de um mafioso — Rael se defende.
— Eu prefiro esquecer dessa parte... — Ele revira os olhos. —
Contudo, estou feliz por nós, por termos passado por tudo isso e hoje
estarmos felizes com nossas mulheres e filhos. Somos realizados.
— Ei, crianças, e eu, não conta? — De repente, o tio Argus aparece
a passos lentos e para bem na nossa frente. — Parece que foi ontem que eu
ganhava mais três filhos e eles me davam uma família linda e enorme.
— Aahh, tio assim não vale!
Ficamos emocionados e partimos para abraçar o nosso velho.
— O senhor é o motivo de tudo isso, mesmo nos matando de raiva
por tantos segredos e mistérios, somos gratos pelo que fez, pois fez pelo
nosso bem e pela nossa felicidade. Nada disso seria possível sem os olhos e
as garras do nosso poderoso gavião.
— Te amamos, tio Argus. Obrigado por ser um pai para todos nós.
— Meus filhos, eu quem agradeço pelos homens que se tornaram...
— Com a voz embargada, ele se rende ao choro e beija as nossas testas.
É a primeira vez que o vemos tão emocionado, por isso, igualmente
não aguentamos e choramos igual crianças, mas para quebrar esse clima de
comoção, pegamos o nosso tio no colo e o sacudimos para cima. Ele ri,
mais leve e mais feliz. Acho que não tinha como as nossas vidas estarem
mais perfeitas.
Ao decorrer da noite, Paulo e Lupita chegam com os filhos, a mãe
da Hera também volta de viagem, por definitivo — tio Argus e ela reataram
o casamento há alguns meses. Todos já imaginavam que o fim seria esse, os
dois sempre se amaram e ele sempre esteve esperando por Marina.
Antes do jantar, mas com tudo servido sobre a mesa, eu peguei a
Hera e o Morcego juntinhos, se beijando e olhando para as crianças, que
preenchem a casa com suas risadas e badernas.
— Eu sempre quis que eles tivessem os próprios filhos... — Dalila
me abraça por trás. Ela percebeu que eu estava olhando para eles e
pensando a mesma coisa.
— Talvez, Deus não quisesse que tivessem...
— Não acho isso, acho que Deus tem outro propósito. Ou ainda não
é a hora. Hera está na flor da idade.
— Eu prefiro nem pensar nisso, pois sei o quanto eles sofrem, como
casal... por não ter um pequeno fruto do seu amor.
— Sim, eles seriam ótimos pais.
Eu giro a Lila para mim e ela acaricia o meu rosto.
— Mudando de assunto, quero te dizer uma coisa.
— O quê?
— Está preparada?
— Sim, diga, amor.
— Tem certeza?
— Vince.
— Tá bom... vou dizer... — Eu chego bem perto do seu ouvido, dou
uma mordiscada no lóbulo e sussurro, letra por letra: — E.u t.e a.m.o,
m.i.n.h.a e.t.e.r.n.a g.a.r.o.t.a l.o.i.r.a.
Dalila sorri.
— Eu também te amo, minha eterna Magali comilona.
Beijo-a com paixão, amor e o principal, tesão e fogo.
— Mais tarde continuamos esse beijo.... — resmungo e aperto a sua
bunda.
Ela concorda e voltamos para o meio da família, para nos sentarmos
à mesa, realizar a oração e finalmente devorarmos as travessas. Essa sempre
será a parte preferida da minha vida.
Eu já disse que amo comer?
No final da noite, para registrar esse momento lindo, com toda a
família reunida, tentamos tirar uma foto, onde caiba todos. Hera contratou
até fotógrafo para isso.
— As crianças, fiquem abaixadas e os adultos atrás, num tipo de
escadinha para os mais altos — Hera berra, tentando organizar o exército
familiar.
— Você é péssima para organizar as coisas... — eu digo, implicante,
mas não esperava que a formiguinha fosse revidar, me tacando uma colher
de plástico.
— POR QUE VOCÊS FICAM ME AGRESSIVANDO?
— Vince, calado... — Meus irmãos me dão um cascudo, e eu só não
mostrei o dedo do meio para eles, porque a Dalila me repreendeu.
— Todos prontos?
— AH, ESPERA! — Jolie grita e corre para puxar o Luiz, nosso
querido mordomo, que é mais da família do que qualquer um de nós.
— Agora sim! 3, 2, 1 e...
Na hora que o fotógrafo faz o clique, Hera dá um passo à frente.
— Só um momento...
Ela fica parada por alguns segundos, de olhos fechados e se
segurando no seu pai.
— Filha, está tudo bem? — Tio Argus se aproxima.
Todos se mostram apreensivos e preocupados, tentando entender o
que houve.
— Amor?
— Hera, querida, diga...
Então, ouvimos um som de fogos e olhamos para cima.
— Puta que pariu! — Dizemos em coral, repentinos.
Do céu, vemos centenas de drones desenhando a palavra “estou
grávida”.
Morcego só teve uma reação, de desmaiar e ser socorrido por todos,
enquanto berrávamos, pulávamos e abraçávamos os novos papais. Não
acredito que a Hera fez isso e nos pegou de surpresa!
Eu menti, tinha sim como as nossas vidas ficarem ainda mais
perfeitas e felizes!
Haja chamas! A família de agiotas vai ficar maior!

Fim
Olá, meus amores, obrigada por terem chegado até o final de Vince,
espero que tenham gostado. Esse foi o terceiro e último livro da série
Agiotas Em Chamas. Não será um adeus ao universo dos nossos agiotas,
mas um até breve, pois essa série me marcou de um jeito, que com certeza
eu quero retornar no futuro.
Não deixem de me acompanhar nas minhas redes sociais, para não
perderem datas, notícias e tudo mais sobre os meus próximos lançamentos.
Sua avaliação é muito importante para mim. Também, não deixem de
avaliar Vince e os livros anteriores. Grande beijo e nos vemos em outros
universos Perver.
INSTAGRAM: @AUTORARAFAELAPERVER
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Homem De Verdade (Livro 1 da Duologia Verdade)
Amor De Verdade (Livro 2 da Duologia Verdade)
Sereyma (Livro Único)
Me tenha (Livro 1 da Série Alencar)
Me Conquiste (Livro 2 da Série Alencar)
HOSS – Série Agiotas Em Chamas (Livro 1)
RAEL – Série Agiotas Em Chamas (Livro 2)
A Conselheira do CEO: (Livro Único)
PRÓLOGO

SEXTA-FEIRA, DIA 07 DE AGOSTO – DOIS ANOS ANTES


— Para onde vai, Anton?
Encaro a Kiara, arrumando de longe o colarinho da minha camisa
branca. Seus olhos estão marejados. Sua voz nervosa e trêmula, espelha no
interior um semblante triste e cansado. Eu somente respiro fundo e caminho
em sua direção.
— Eu vou sair.
— De novo? Eu já estou cansada disso, você não se importa
comigo? Você não me ama?
— Ei... eu só vou sair para tomar uma cerveja com os meus irmãos
e voltar antes mesmo que você perceba.
Puxo o seu braço, no entanto, ela me empurra.
— Mas eu percebo, eu sinto a sua falta. Você só quer saber dos
seus irmãos. É treino depois da madeireira. É jogos às quintas, é chope aos
sábados na capital. É o que mais? Chifres na minha cabeça? Eu já estou
cansada. Eu vou ficar maluca. — Ela começa a chorar. — Eu só queria ser
feliz, me casar, ter uma família linda, um marido presente, amoroso. Ter o
que eu não estou tendo!
— Kia... — Desta vez, ela não me afasta, quando eu agarro
devagar a sua cintura, alisando os seus cabelos dourados. — Não coloque
coisas na cabeça. Somos felizes.
— Não minta. Como somos felizes? Como, se não deseja nem um
bebê? Nem sequer passar períodos livres com a mulher que “escolheu” se
casar... — ela sussurra decepcionada no meu peito.
Eu, então, levanto o seu queixo dócil, observando os olhos mais
belos que eu já conheci, e limpo as suas bochechas molhadas.
— Eu prometo mudar por você. Só não me cobre filhos outra vez,
estamos bem assim.
— Você sabe que não estamos bem. Daqui três semanas,
comemoramos a terceira renovação dos nossos votos e vai ser a mesma
coisa; não pensam em crianças? Em filhos lindos, correndo pela casa?
Eu solto Kiara, passando a mão pelo rosto, nervoso.
— Chega, Kiara! Chega dessa merda de novo! Eu não vou te dar
filhos! Eu não quero! — estresso-me e esbravejo alto.
— EU ESTOU CANSADA DE FICAR SOZINHA, DE SER
TRAÍDA POR VOCÊ! DE NÃO TER AMOR! AFAGO! E SE EU NÃO
POSSO SER AMADA, TER O MEU MARIDO COMPLETAMENTE AO
MEU LADO, EU QUERO UM FILHO! ME DEIXA SER MÃE?! ME
PERMITA AMAR ALGO NOSSO?
Chuto a porra da escrivaninha e seguro a Kiara com força pelos
braços, sacudindo-a.
— INFERNO! VOCÊ QUER A PORRA DESSE FILHO? VOCÊ
QUER UM FILHO PARA ME DEIXAR EM PAZ? EU VOU ENTÃO TE
DAR ESSA MERDA DE UMA VEZ!
CAPÍTULO 1

ANTON DEXTER
Eu estou de frente para o reflexo de um homem que hoje resta só a
carcaça podre de um covarde sem escrúpulos, sem compaixão, e que
mereceu todas as consequências possíveis deixadas por ela. Eu errei e estou
pagando por esses erros. A face é de orgulho, de angústia, e somente a
Kiara pode me arrancar dessa prisão. Eu preciso encontrar a minha esposa.
— Deveria já a ter superado, Anton. — Encaro a imagem da minha
mãe pelo espelho. Ela para bem atrás do meu ombro e aperta o meu braço.
— É um Dexter! — Ela nos observa. — Seja forte e esqueça aquela víbora.
Existem milhares de moças lindas aos teus pés.
— O que faz fora da capital, Lorenza? — Eu sou direto ao inclinar
o pescoço e perguntar de forma desprezível, cortando-a.
Ela, então, tira as mãos de mim e suspira o habitual ar de
superioridade.
— É óbvio. Eu vim para morar na fazenda. Aquele apartamento se
transformou num mar negro, úmido, gelado e sem vida. Além de eu estar
me sentindo solitária.
— Desde que não se meta nos meus negócios. Nem na decoração
da mansão, fique à vontade!
— Não mexer na decoração da mansão? Como assim? Lógico que
eu vou desinfetar cada canto possível. Já faz dois anos. Você tem que
reconstruir um novo futuro próspero. Ao lado de uma dama, uma milionária
da região.
— Eu já sou milionário. Herdei tudo do meu pai. Se não está
satisfeita com as coisas conforme a Kiara deixou, volte para a capital. Aqui
não é lugar para uma madame de joias e de salto.
— Me respeite, Anton. Eu ainda sou uma Dexter. Seu pai pode não
ter deixado as terras para mim, contudo, me deixou esse sobrenome. E
como a sua mãe, eu possuo o mesmo poder na capital e entre os povinhos
sem teto daquela vila imunda.
— Eu não tenho o dia todo para ficar te suportando! Com licença!
Eu volto a vestir o chapéu e viro as costas, deixando a minha mãe
sozinha no quarto.
— Sr. Anton. — Na sala, ao pisar no último degrau, Felícia, a
governanta vem rápido na minha direção. — Os capatazes; Jesuíta e Ratito
estão no varandão, aguardando-o.
— O que querem?
— Sinto muito, senhor, não falaram. E o café já está posto.
— Obrigado, Felícia. Volto já!
Eu passo a mão na barba, nervoso, e caminho até a porta principal.
Do lado de fora, encontro o Jesuíta e o Ratito conversando em sussurros. Os
dois, ao me verem, pigarreiam e recompõem-se sérios.
— Bom dia, patrão! — dizem.
— Bom dia. O que querem?
— Viemos trazer uma notícia do seu agrado. Vai gostar. Ouvimos
perto do rio, das fofoqueiras que lavavam roupa. É sobre uma mulher que
chegou na vila ontem de manhã.
Eles se entreolham, adiante, a minha face autoritária.
— Parece ser a patroa.
Meu peito se aperta, o coração acelera. Cerro os punhos, em furor.
— Confirmaram algo com certeza para poderem me procurar?
— Eu e o Ratito fomos conferir a informação no barraco do
Aquino, se era verdade ou não, mas o velho nos ameaçou com uma
garrucha. Não descobrimos nada. Fomos escorraçados.
— Quero que vigiem a fazenda do Padilho esta noite. Se Kiara
voltar, não irá para o barraco do avô. Ela vai para a casa daquele bêbado do
pai.
— Teremos que montar acampamento na cerca, as terras do
Padilho ficam do outro lado do rio, a duas horas.
— Eu não perguntei nada, Jesuíta! Faça o serviço de vocês e não
me voltem sem informações concretas!
— É claro, senhor Dexter! Somos seus homens de confiança!
— Podem se retirar!
Eles pedem licença e retiram-se. Eu permaneço bravo. Ela não
devia ter fugido. Kiara é a minha mulher. Seu lugar é ao meu lado. E se ela
voltou e estiver escondida no casarão do pai, a busco à força. Nem que eu
tenha que matar o Padilho! Eu comprei aquela menina! E caso contrário, ele
terá que me pagar o dobro!
— Seus irmãos vão voltar a morar na fazenda? — a minha mãe
questiona, na mesa do café, provando do chá. — Eles não entraram mais em
contato.
— Não! Eu não quero saber daqueles drogados me pedindo
dinheiro! Cansei de bancá-los!
— Eles são os seus irmãos, por mais que sejam de pais diferentes,
você tem o dever de ajudá-los, de prestar amparo. É rico, tem terras. Doe
metade para ambos.
Eu sou obrigado a rir. A minha mãe é uma madame sem menor
escrúpulo. Teve três filhos e quatro casamentos podres de rico. Eu sou o
filho do último casamento, o abandonado que herdou bens milionários do
pai e um sobrenome que ela tanto se gloria em manter para esnobar-se. Já
meus irmãos não tiveram a mesma “sorte”, eles perderam rios de dinheiro
com viagens internacionais, festas e drogas; viciaram-se em cocaína e
heroína. Nossa mãe não está nem aí para ninguém. Por pouco, não saiu
ganhando nesses quatro casamentos, exceto por Rangel Dexter, o meu
falecido pai. Ele não deixou um tostão sequer para a mercenária e me pediu
no leito de morte que eu honrasse o seu nome e sobrenome de respeito.
— A única coisa que eu vou fazer por eles, se caso me procurarem,
é interná-los! Não dou um real sequer! — Minha mãe fica em silêncio,
arqueia a sobrancelha e não contesta a minha autoridade. — E eu já vou.
Tenho que verificar o plantio dos eucaliptos urofilia. Contratei peões novos.
Volto no almoço. E não ouse maltratar as pessoas desta casa. Felícia ficará
de olho na senhora.
— Eu fui a mulher do dono. Eu ainda tenho a minha autonomia
como mãe. Não me rebaixe por empregados!
Prevejo que será um inferno ter a Lorenza de volta nessa fazenda.
Todavia, tenho problemas maiores na mente para me preocupar. Quero
terminar a verificação dos plantios antes das 13h30. Eu não vou conseguir
esperar os meus capatazes. Preciso saber logo se a Kiara retornou para
Montes Do Sol. Ela desapareceu de uma forma que nem os melhores
detetives do Brasil puderam encontrá-la. Dois anos sem informações. E
tudo graças a sua família a acobertando. Desgraçados!
— Está com a cabeça longe? — Gael, meu melhor amigo e gerente
rural, interroga, estendendo-me um copo de água fria. — Posso adivinhar?
É as fofocas da redondeza?
— O que sabe, Gael?
— Está circulando pela vila que a Kiara voltou.
— Jesuíta e Ratito já me contaram das fofocas.
— É certo, Anton. A informação saiu de dentro do casarão, pelos
próprios empregados do Padilho. Eu sei, porque foi o meu pai quem ouviu
de uma moça lá na venda.
— Como? É verdade?
— Sim!
Minha cara não esconde a vontade de pegar a caminhonete e ir
agora mesmo até aquelas terras. E é o que eu faço ao fechar a porta e ligar o
miolo da ignição.
— Anton, não seja louco! Pensa bem no que você vai fazer! —
Enquanto eu acelerava, Gael veio correndo veloz, apoiado no vidro. — Não
aja de cabeça quente! Aquela gente não é confiável!
A poeira vermelha se levanta e ele fica para trás. Eu sou capaz de
matar cada um daquela família cretina! Eles não vão me enganar! Eu não
aceito pagar de trouxa!
Círculo os hectares. E, em uma hora de rua de chão barrenta, chego
acelerando na frente do casarão alaranjado de dois andares. Eu pego a arma
e desço como um touro com sangue nos olhos. Três rapazes me avistam.
— É o Dexter! — um deles exclama para o outro, correndo até
mim.
— Onde está o Padilho?! Onde está o velho bêbado?! Me digam!
— Não é bem-vindo! Não tem permissão de pisar os pés nessas
ter...
Eu ergo a arma, e eles se calam.
— Não vou perguntar novamente! Chamem ele, ou eu faço
estragos!
— Não precisa fugir do controle, eu estou aqui, Dexter.
Ao sair dos fundos, o velho desce os degraus da varanda.
Sorridente.
— Quanto tempo não nos vemos, hein? Como vai?
— Eu quero a minha esposa! Eu sei que ela voltou! E não vão
escondê-la desta vez! Ou eu saio daqui com essa mulher, ou invado esta
propriedade com meus peões!
— Bom, teremos uma luta e tanto. Pois, na minha casa, você só
entra por cima do meu cadáver!
Furioso, eu mudo de direção e aponto a arma para ele, encarando a
expressão do Padilho.
— Saia do meu caminho, seu bêbado. Ou eu disparo!
— Então seja homem e dispare! Não é o todo poderoso, Dexter?
— O que é isso?! — A mãe de Kiara sai correndo de dentro da
casa, berrando e descendo os degraus. — Parem, pelo amor de Deus! O que
faz aqui, Anton? Abaixe essa droga! Não seja um maluco!
— Eu vim buscar a minha mulher! Eu sei que ela está escondida no
casarão! E eu a levarei!
— Ela não quer te ver!
Em instantes, algo dentro do meu peito salta, explodindo de terror.
Ela está aqui! Eu preciso vê-la! Eu preciso conversar. Eu... ela tem que
voltar a ser a minha esposa!
— Se a Kiara não vir comigo, eu vou embora para retornar com
todos os meus capatazes! Não me importo de destruir a casa de vocês atrás
dela! Nem de botar fogo!
— Por favor, Anton, não faça nada que você possa se arrepender
depois!
Cuspo no chão, com a arma firme na direção do Padilho.
— Sabem do que eu me arrependo? De ter comprado a filha de
vocês e de ela ter me abandonado sem achar que eu não cobraria o meu
dinheiro de volta! Afinal, eu tirei a família dos porcos da merda!
— Não nos culpe por ser um péssimo marido! Quando a
vendemos, ela era só uma menina inocente, virgem de malícias, boba! Não
tivemos culpa de você usá-la, magoá-la! De tratá-la como um objeto! Kiara
fugiu, pois estava cansada do comportamento humilhante da sua mãe e o
seu!
— E vocês a acobertaram!
— Já te dissemos milhares de vezes que não sabíamos! — Padilho
grita. — Jamais deixaria ela aqui, seu verme! Por mim, a imbecil é sua
mulher e o dinheiro é nosso! E ponto final! Não estou nem aí se é bom ou
ruim marido!
— Não diga isso, Padilho. Kiara é a nossa filha. Ela tem que lutar
pela sua felicidade, pela sua própria liberdade. Não quero que siga o
caminho da minha mãe, da sua mãe e nem o meu. Ela não é uma submissa.
— Cala a boca, Judite! Que se dane a felicidade! Eu não avisei que
o Dexter viria atrás dela ou do dinheiro se a imbecil continuasse na nossa
casa?! E não temos mais a quantia!
Eu chuto a terra, quase disparando.
— Que seja, me devolvem ela! Cansei dessa ladainha!
Judite fica trêmula.
— Calma, Anton. Por favor.
— Já fiquei calmo por dois anos! Eu quero a minha mulher agora!
— Eu já te disse que ela não quer te ver.
— Ótimo, então eu voltarei com os meus peões!
— NÃO PISARÁ OS PÉS NA MINHA CASA! — Padilho grita.
— OU EU CHAMAREI O DELEGADO DA REGIÃO PARA PRENDÊ-
LO!
— Não me desafie, seu bêbado!
— Sai daqui! Meus homens também estão armados!
Furioso, eu olho para as janelas do casarão de dois andares e sinto
que ela está me ouvindo, observando. Eu sei que ela está!
— VOCÊ VAI VOLTAR, KIARA! JAMAIS TE DEIXAREI EM
PAZ! — O tom de voz estridente é para que ela ouça em bom som. —
CHEGA DE FUGIR! CHEGA DE SE ESCONDER!
Judite dá um passo à frente, e Padilho ergue a cabeça.
— Sai das minhas terras, eu já mandei!
— Eu vou, mas voltarei, caso a minha mulher não apareça na
fazenda até meia-noite! Fiquem avisados! E a avisem!
Com o recado dado, eu viro as costas e volto para a caminhonete.
Se ela não aparecer, eu regressarei! E não será sozinho!

KIARA DEXTER
Após ouvir as suas palavras ameaçadoras, eu fecho as cortinas com
força e corro para o quarto chorando. O que eu faço, meu Deus? Me ajude,
eu já estou cansada! Eu me sento em prantos na cama e assim que se
passam dez minutos em que a caminhonete dele some, ouço passos ligeiros
na escada de madeira que range. Levanto o rosto, vendo a minha mãe surgir
no batente da porta.
— Kia, ele já se foi. Não chore. — Ela vem até mim.
— Eu não deveria ter voltado, mamãe.
— Foi o certo, você estava passando fome, fugindo como se fosse
uma bandida. E sendo escravizada para sustentar o seu filho. Isso é
inadmissível. Tem que enfrentar aquele homem de uma vez por todas para
ser feliz.
— Eu tenho medo dele... do que Dexter pode fazer caso descubra
do meu menino. Ele odeia crianças. Ele poderia tirá-lo de mim, para me
ameaçar. — Coloco a mão no rosto e choro. — E eu o mataria! Eu faria
uma loucura!
Mamãe me abraça, em seguida, segura a minha cabeça.
— Você tem que enfrentar aquele homem bruto, entendeu?
— Eu não quero! — Afasto-me. — Eu não vou conseguir! Isso é
tudo culpa do papai! Se ele não tivesse me vendido para aquele fazendeiro
bonito, o "Dexter rico", me induzido a crer que o Anton era um príncipe
encantado, cheio de amor, eu jamais, jamais teria me casado! Eu só tinha
dezessete anos! Ele me machucou, feriu os meus sentimentos! Ele e aquela
mãe maldosa! Os dois monstros!
— Se eu também soubesse que sofreria como sofreu, eu nunca
teria permitido o casamento vendido.
— Eu fui tão boba. Ele nunca me amou. Foram três anos de
inferno, desgraças. Eu recordo de tudo. E daquela noite... — Eu coloco a
mão na barriga e encaro a mamãe. — Inclusive daquela noite!
— É essas lembranças que vão te fazer ser forte, uma guerreira.
Lembre-se das humilhações da dona Lorenza. E de como o Anton te feriu.
Não é hora de se lamentar, seja do seu pai ou do Dexter. Agora você tem
um filho, um bebezinho que não tem culpa de ter vindo ao mundo. Pense
nele. — Minha mãe aponta para o berço inacabado e sujo, onde o Gieber
dorme feito um anjinho. — Precisa protegê-lo com todas as suas forças.
— Anton voltará... e se ele tirar o meu filho de mim por raiva?
— E o que pensa? Você vai até ele?
— Não sei. Eu tenho que pensar. Estou apavorada.
— Você escutou o que o Anton disse? Sobre estar te esperando na
fazenda até meia-noite?
— O-O quê? — Arregalo os olhos.
— Ele retornará com os seus capatazes caso você não apareça na
fazenda até meia-noite.
— Esse homem é um monstro! — Eu me levanto, com vontade de
chorar novamente. — O que eu faço, mãe?
— O recomendável era você ir até o posto de polícia da vila e
denunciá-lo pelo que fez. Mas o Delegado é amigo dele.
— Eu queria me vingar, fazer o Dexter sofrer tudo o que eu sofri
naquela mansão e durante esses dois anos fugindo.
— Só que se você for até lá, o Anton te deixará confinada a ele. E
eu não aceito que viva como uma submissa mandada, sem poder de decisão.
Não como eu sou para o seu pai. Eu quero que seja livre.
Mamãe se põe de pé com o seu corpo baixo e um pouco acima do
peso e beija-me de forma demorada na testa.
— Pense bem no que você vai fazer, por favor.
— Eu pensarei... obrigada por me proteger.
— Eu te amo, filha. Meu coração de mãe morreria por você e pelo
meu neto.
Retribuo o seu beijo, e ela se retira do quarto.
Sozinha, eu limpo o rosto molhado de lágrimas, solto o ar dos
meus pulmões e vou até o berço do meu menino.
— Eu não vou deixar nada de mau acontecer com você. — Toco no
seu rostinho delicado, sem evitar o choro. — Ouviu? É a única felicidade
que eu tenho. Ninguém te fará mal.
Eu sinto tanto nojo do Anton, tanto que esses dois anos não
puderam curar nem a ponta das feridas. Só me fez criar mais revolta e mais
raiva. Eu não esquecerei, jamais. Fugi dele na manhã seguinte daquela
atrocidade de noite. Rasga-me o peito só em lembrar, eu quase não consegui
chegar ao casarão dos meus pais. Minha intimidade ardia, minhas pernas
eram um peso morto. Eu andava descalça no meio da estrada, esperando
que, a qualquer momento, um carro viesse e passasse por cima de mim e da
minha cabeça. Pois a dor teria sido menor. Eu sofri tanto. Eu não queria vê-
lo, olhar nos seus olhos. Não acreditava no que havia feito. Eu não
acreditava que ele pudesse ser tão mal, que não pudesse sentir um pingo de
amor. E, meses depois, descobrir da gravidez foi duas vezes pior e mais
doloroso. Eu preferia a morte a voltar a morar grávida naquela mansão. Eu
saí de Montes Do Sol e sairia de novo se fosse para proteger o meu filho!
Ninguém daquela família o tocará! Nem saberá da sua existência! Eu lutarei
até o último fôlego de vida!
Dexter me deu um filho da pior forma que o homem que eu amava
poderia ter me dado, e não vou esperar a vingança de Deus. Só viverei
tranquila depois de ver ele e a sua mãe rastejando de tanto sofrimento! Eu
juro que farei todos eles comerem o pão que o diabo amassou! Eu os odeio!
Sofrerão toda essa dor que sinto!

Eu decidi ficar em casa, presa no quarto, mas meu pai subiu para
me obrigar a ir até a fazenda do Dexter e me "devolver" a ele. Porém,
quando eu disse que não ia, furioso, ele só não me bateu com o cinto porque
eu estava segurando o bebê no colo.
— Se você não vai voltar, continuará nesta casa só por mais um
dia! Eu não quero aquele Dexter vindo nas minhas terras me ameaçar!
Resolva os seus problemas sem mim! Não estou nem aí para você e para
essa criança! Você é propriedade dele! Não restituirei um centavo do
dinheiro da venda!
— Por favor, eu não quero voltar. Eu não sou propriedade daquele
homem. Me deixa ficar aqui com o meu filho? É o seu neto, olha o
tamanhinho dele, é só um bebê. Não tenho para onde ir, pai.
— Se conseguiu se virar sozinha por dois anos, ainda grávida e
com um recém-nascido, pode continuar sem a minha ajuda e o meu
dinheiro! Vocês dois são só duas bocas a mais! Procure a cabana caindo aos
pedaços do seu avô! Aquele velho saberá o que fazer com vocês dois.
Eu tento não chorar e apenas assinto com a cabeça.
— Não se preocupe, eu irei hoje mesmo!
— Ótimo! Já comece a organizar suas coisas, antes que eu faça! —
Após esbravejar bruto, ele vira as costas, abandonando-me em lágrimas e
com um aperto no coração.
Coloco o meu menino no berço, pego a única mala com todas as
nossas roupas e começo a reorganizá-la em meio aos prantos desesperado.
Eu quem não quero ficar nem mais um minuto aqui. Achei que o meu pai
tivesse mudado, que ele me aceitaria de volta com o bebê. Contudo, só
soube me tratar mal desde que cheguei. Jogando na minha cara que eu e o
meu filho somos só mais duas bocas para ele alimentar.
— Filha, pelo amor de Deus, não vai embora! — Eu desço os
degraus da escada com a mala e com o Gieber chorando nos braços
— Não se mete, Judite!
— Pare, Padilho! Você está expulsando a sua única filha e o seu
único neto de um ano! Pense, é só uma criança! Kiara precisa da nossa
ajuda!
— Se você continuar a me contestar, sua porca velha, eu te bato
com o cinto! E faça esse garoto calar esse berreiro!
Minha mãe chora. Eu balanço a cabeça, encarando-a e ninando o
Gieber.
— Está tudo bem, mamãe, eu me viro.
— Ah, querida, você sabe que por mim ficaria eternamente. Eu não
vou suportar te ver indo embora e levando esse bebê indefeso. Eu amo
vocês. Daria a minha vida pelos dois.
— Eu sei, eu te amo, mas preciso ir.
— Eu também te amo. Vem, a mãe te leva até a porta.
— Não demore, Judite! Te darei cinco minutos!
Na porta principal, assim que eu saio para fora, a minha mãe me
puxa ligeira para os degraus.
— Venha...
— Mãe?
Ela, então, me para ríspida e afobada.
— Escuta, um peão, filho de uma amiga minha da vila, está te
esperando nos estábulos. Já combinei tudo com eles, com medo de uma
hora ou outra o Padilho te expulsar e não ter para onde ir. O barraco do seu
avô nem telhado tem direito. Não é seguro para ambos.
— Voc...
— Não, Kiara, não temos tempo! Anda, vai logo! Assim que eu
tiver uma oportunidade de visitar vocês, eu irei! E acalme esse menino,
tente escondê-lo!
Ela me dá um beijo materno no rosto, outro no bebê e empurra-me
com a mala para, em seguida, voltar correndo para dentro do casarão. Eu
faço o que ela me mandou, sem olhar para trás. No caminho, eu deixo o
Gieber mais calado e com sono. Acho que ele entendeu que qualquer lugar
é melhor do que a casa do avô.
Quando eu chego ofegante à porta de correr do estábulo, cheia de
mato nos sapatos, eu vejo o tal rapaz me esperando ao lado de um cavalo de
cor marrom. Ele tem uma barba grande e espessa. Sua estrutura não é tão
alta, nem tão forte. É magro.
— Boa tarde, senhorita Kiara. — Ele vem até mim e sem estender
a mão, o homem de feição séria me cumprimenta. — Sou Francisco.
Assinto, observando-o.
— Sua mãe já deve ter lhe explicado tudo, me dê a mala.
— Para onde vai me levar? — Entrego a mala de mão, enquanto o
rapaz sobe no cavalo.
— Para a casa da minha madrasta. Ela mora sozinha no povoado
da vila, não se preocupe. Quer ajuda com a criança para subir?
— Não! Eu não vou largar o meu filho!
— Tudo bem. Tudo bem. Só coloque este lenço para que não seja
reconhecida. Todos sabem como é a esposa do senhor Dexter.
— Não precisa me lembrar de que um dia eu fui algo daquele
homem. E também, não o chame de senhor.
— Sim, senhora, desculpe-me.
Com a consciência pesada de ter sido grossa com o rapaz, eu pego
o lenço, enrolo na cabeça, só deixando a visão e o nariz para respirar. Então
subo no cavalo com dificuldade, mas sem a ajuda dele.
— Iremos rápidos. Aconselho a moça a se segurar bem.
Atrás das suas costas, eu abraço o meu menino com segurança e
vou assim durante as galopadas velozes conduzidas por Francisco até a vila.
Eu fico nervosa com a proximidade a cada minuto. Ele é rápido.
E em duas horas sem pausa, quando chegamos ao povoado, eu já
tive a sorte de reconhecer perto da igreja uma amada pessoa; a dona Maria,
a cozinheira da fazenda Dexter. Ela conversa com algumas senhoras, suas
amigas. Meu desejo todo era de descer, de dar um abraço apertado nela,
dizer que eu dou valor a cada comida gostosa sua, que eu sinto saudades e
que ela e Felícia foram um anjo enviado por Deus durante os meus três anos
de moradia naquela luxuosa mansão. E que Anton, o menino que ela viu
crescer, me machucou tão doloroso... que eu só não consegui me matar
porque o meu filho estava sendo gerado para me dar um segundo motivo de
viver.
— Senhorita Kiara, é aqui. — Francisco se refere a uma casinha de
madeira e de tijolos, onde para com o cavalo.
Não sei nem explicar a dor nas minhas ancas.
— Mas está tão perto da vila.
Não está perto, é praticamente na vila.
— Posso dizer que não tem lugar mais seguro. Confie em nós.
A essa altura, eu confio e acredito que ele e a minha mãe não
poderiam ter escolhido um lugar melhor para me esconder.
Francisco me apresentou a Rosa, a sua madrasta-mãe, que é uma
ex-cartomante. Ao me receber, ela foi um verdadeiro doce de pessoa. Sua
casa é simples, tem apenas quatro cômodos pequenos. A sala era o seu local
de trabalho, ainda tem coisas bem coloridas e piscantes ao redor — sem
falar das poltronas vermelhas. A cozinha tem uma mesa com duas cadeiras,
o quarto em que eu ficarei com o Gieber só cabe a cama de casal e uma
cômoda quebrada. O que já é muito do que eu queria, esperava e gostaria.
Agradeço a Rosa do fundo do meu coração.

TRÊS DIAS DEPOIS


— A senhora acha que o meu pai está a impedindo, dona Rosa? —
Ao me referir à minha mãe, o meu olhar fica cabisbaixo.
— Não se preocupe, assim que a Judite tiver uma oportunidade de
te visitar, ela virá. Sua mãe não lhe prometeu?
— Sim... só que tem o Anton...
Enquanto falo, Rosa me entrega um prato para eu me servir da
bandeja de arroz doce, de açúcar queimado.
— Ele disse que invadiria o casarão dos meus pais se eu não
aparecesse na fazenda dele até meia-noite. E já faz três dias. Eu estou
preocupada. Acho que eu vou até lá.
— É arriscado, Kia. Não posso permitir uma loucura dessa. E se os
capatazes do Dexter te reconhecerem? Não, eu fiz uma promessa a Judite de
que não te deixaria correr nenhum risco.
Eu respiro fundo, mexendo a colher no prato de doce.
— Talvez a minha mãe tenha razão; eu preciso enfrentar aquele
homem para conquistar a minha liberdade em Montes Do Sol. Essa é a
minha cidade natal, é onde eu nasci e fui criada. Não é justo eu ficar
fugindo igual uma criminosa. Não devo nada a ninguém.
Rosa consente.
— Concordo. E o que pensa em fazer? Sabe que não pode se
esconder para sempre.
— É isso, eu não sei o que fazer. Agora tenho um filho. E seria
arriscado revelar a sua existência. Anton é rico, milionário, poderia tirá-lo
de mim. Eu o conheço, talvez faria isso para não me deixar em paz.
— Se ele não quer te deixar em paz é porque ele te ama, certo?
— Não, errado! Ele não me ama! Ele é um homem ruim! — eu
brado com raiva. — Ele me feriu, Rosa! Anton me traía, o amor dele foi
uma mentira!
— Ei, meu bem, eu sinto muito, Kiara. Não era a minha intenção te
entristecer ou ofendê-la.
— Está tudo bem, eu quem peço desculpas por ter levantado a voz.
— VÓ, SENHORITA KIARA! — Assustando-nos, o neto de doze
anos da Rosa aparece repentinamente abrindo a porta da cozinha com toda a
violência e vindo ofegante até nós.
— Que isso, Miguel?
— O-o pai Francisco mandou eu vir urgente dizer que o senhor
Dexter descobriu que a Kiara está aqui! E ele já chegou na vila!
— O... o quê?
Eu coloco a mão na boca.
— Ele disse que o senhor Dexter ofereceu dinheiro ao Padilho,
para ele contar o seu paradeiro. E Padilho vendeu a informação depois de
obrigar a esposa a falar tudo.
— Meu pai fez isso?! Meu Deus, eu tenho que sair daqui, Rosa!
Me ajuda!
— Você não vai conseguir, Kia! É melhor se esconder no quarto!
— E o Gieber? — Arregalo os olhos, apavorada.
— Deixe-o dormindo no colchão. Anton não invadirá a casa. E
caso faça, eu chamarei a polícia. Vá, se esconda, menina! — Confirmo. E
sem falar mais nada, eu corro para me esconder; fecho a porta do quarto,
trancando-a e colocando-me atrás dela. Observo de longe o meu pequeno
menino que cochila sem as maldades do mundo. O que eu faço se for o
Anton? E se ele tiver me achado? Não sei se terei força para enfrentá-lo. Eu
não sei!
Em meio ao silêncio do ambiente, não demora e ouço vozes
masculinas vindas da sala. Meu senhor... eu abraço o meu corpo, rezando
para que não seja ele. E se for, que esse homem não invada os quartos. Não
queria vê-lo agora, não queria que ele me encontrasse e nem soubesse da
existência de Gieber. Não assim, sem eu me preparar antes.
Os minutos se passam tortuosos e as vozes somem. Nervosa, eu
fico apreensiva, com o coração prestes a saltar da caixa do peito. Até que
um par de sapatos soa do curto corredor. Em seguida, dois toques são
batidos na madeira da porta, chamando-me baixinho.
— Kiara... minha querida. Sou eu, pode abrir. — Meu coração, que
acabara de descer garganta abaixo, se alivia em imediato com a voz da dona
Rosa.
Eu abro para ela, tremendo as mãos. Rosa entra no quarto, liga a
luz e encara-me. Sua face é de desespero, de culpa.
— Desculpe-me, Kia. Mas você não pode mais fugir, nem se
esconder. É o Dexter, ele está lá na sala com o delegado. Eles querem falar
com você.
CONTINUE LENDO HOMEM DE VERDADE

Homem De Verdade: Em Metamorfose dos Erros (Livro 1)

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