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VINCE - Serie Agiotas em Chamas - Rafaela Perver
VINCE - Serie Agiotas em Chamas - Rafaela Perver
Capa | Diagramação:
Revisão: Lidiane Mastello
Nem acredito que hoje foi o meu último dia nesse inferno. Fui pego,
sem poder negar e apagar completamente as provas que me entregavam. A
voz do juiz ainda ressoa na minha mente, dele ditando o meu crime e meia
hora depois decretando a minha sentença.
Eu caminho para fora da prisão, respirando a minha liberdade, após
oito meses recluso.
— Seu grande filho da puta! — Hoss grita do outro lado, correndo
até mim, juntamente com o Rael e o tio Argus.
Hoss, primeiro me dá um soco de leve no estômago, antes de me
abraçar com força.
— Ai, essa doeu, seu sem coração.
— Tem sorte de não atirarmos nessa sua cara. E como é bom poder
te ver livre, polaco azedo. — Rael também me abraça, bagunçando todo o
meu cabelo.
— Filho, que saudades de você... — Por último, é a vez do tio
Argus.
— Nem acredito que estou em liberdade, senti tanta falta da família.
Não vejo a hora de rever os meus sobrinhos.
— Você vai rever, todos estão te esperando com um banquete.
— É assim que eu gosto, amo vocês.
Sorrio e abraço os meus irmãos de novo.
Durante o percurso na estrada, eu faço questão de abrir a janela,
para olhar tudo o que posso e que há oito meses nem sequer me importava.
Eu vou mudar a minha vida, tomar mais juízo... só que antes,
preciso descobrir quem hackeou o meu computador e me entregou para a
polícia.
— Vince, está com a cabeça na Lua?
Olho para o Rael, sorrindo.
— Estou ansioso para ver as minhas mulheres. Jolie e Elena devem
ter sentido muita falta de um homem de verdade em casa.
Hoss e Rael reviram os olhos.
— Vamos relevar porque estávamos sentindo muita falta de te
suportar.
— É claro que estavam, aquele castelo sem mim é igual a terra sem
o sol e a lua.
— Falta de humildade saiu intacta da prisão...
Para matar a saudade, continuo implicando com eles, até chegarmos
ao castelo e o meu coração disparar.
Como é bom estar em casa, não consigo nem acreditar. Pensei por
meses nesse momento. E isso me revolta, eu juro que vou descobrir quem
me privou de viver a minha vida por esses meses, de estar com as pessoas
que amo.
Desço rápido do carro, correndo para dentro. Então, arrombo a sala,
assustando a todos com a minha presença, cheguei a gritar “surpresa”.
— VINCE!
— TIO VINCE!
— É você, meu Deus, é você!
Hera, Jolie, Elena e Maria correm para me abraçar, todas chorando
de felicidade.
— Não precisam mais chorar, seu homem está em casa, minhas
deusas.
— Ah! Como senti falta desse humor idiota.
Elas me soltam, limpando as lágrimas do rosto.
— Chorei todos os dias, tio Vince — Maria revela, emocionada. —
Eu queria te ver, mas o meu pai não deixava... ninguém deixava —
resmunga.
— Isso não importa mais, agora, estou aqui, pequena piolhenta, não
vamos mais nos separar.
Ela ri e volta a me abraçar, toda mocinha com seus dez anos.
— Você leu as minhas cartas, né? Pelo menos isso o meu pai levava
à força.
— Acho que a Maria tem o espírito do Rael, durante esses meses
todos, ela só faltou me render e me obrigar a entrar num helicóptero, para
sobrevoar a prisão e te resgatar — Morcego comenta, vindo me abraçar
também.
— Eu não duvido nada da capacidade dessa criatura.
— Saudades, irmão, é bom demais te ter de volta...
Sorrio para ele, para todos. Enfim, nossa família está reunida, como
sempre deve ser.
— Vontade de acabar com essa sua cara, não sabe como sofremos
por você. — Hera me dá um tapa ardido, sem pena.
— Meu Deus, vocês são fãs ou haters? Mulher, se controla.
— Eu também não sei como não acabei com a raça dele. — Hoss se
senta no sofá, ao lado do Rael, igual dois marrentos.
— Não fizemos isso porque o tio Argus nos impediu.
— Mentirosos, choraram iguais crianças quando me viram. Rael
disse que quase morreu sem mim e que essa casa sem a minha presença era
igual a terra sem o sol e a lua.
— Ah, vai a merda seu filho da...
— Rael! — Jolie pisa no pé dele. — Temos uma criança aqui.
— Se estiver falando de mim, eu já tenho dez anos, tia! — Maria se
defende, de peito inflado. — Já sou pré-adolescente.
— Exatamente. — Puxo a minha sobrinha por trás. — Já está na
hora do titio ajudar a nossa princesa a arrumar um namorado.
— Eu vou te matar, desgraçado!
— Hoss!
Ele dá um pulo do sofá, pronto para quebrar o meu pescoço.
Morcego e Elena o seguraram.
— Desta vez sou eu quem vai ser preso, por matar esse estrume.
— Calma, meu anjo, é bom já analisarmos os preten...
— Vince! — Hera me fuzila.
A arteira da Maria só sabe segurar a vontade de rir. Acho bom não
rir muito, pois se depender do seu pai, é capaz dela chegar solteira aos
quarenta anos. E nem estou brincando.
Ficamos mais um pouco reunidos na sala, até o Luiz aparecer e
comunicar que a mesa do café está pronta. Isso é música para os meus
ouvidos. Abraço o Luiz perto da porta, surpreendendo o nosso
engomadinho e dizendo que senti falta dele também. Ele fica sem reação.
Até a cozinheira e as nossas empregadas não escaparam do meu abraço.
E finalmente, sentado à mesa, eu devoro o café da manhã, sentindo
falta de comer uma boa comida. A prisão é horrível, saí traumatizado.
— Já terminamos a nossa casa — Rael comenta.
Eu sorrio, feliz por ele e pela Jolie. Hoss e Elena também
construíram sua casa luxuosa nos hectares do castelo. Um pouco longe e ao
mesmo tempo perto. E isso, para a família sempre estar reunida. Apenas a
Hera e o Morcego que optaram por continuarem morando no castelo, já que
aqui é enorme e restou só eu e o tio Argus.
— Esse castelo ficará ainda mais frio e solitário — tio Argus
confessa.
— Que nada, sempre estaremos por aqui.
— Igual eu e o Hoss, temos a nossa casa por perto, mas estamos
quase todos os dias no castelo. Além de que, o Henry prefere ficar aqui, por
causa do Gian. Ele já acorda perguntando do primo.
— Falando nisso, onde estão os meus outros sobrinhos? — pergunto
de boca cheia.
Além do Henry de três anos, Hoss e Elena tiveram a Pétala, que já
deve estar com um ano, pois quando eu fui preso, a bebê estava fazendo
dois meses. Já Rael e Jolie tiveram o Gian, de dois aninhos.
— Estão todos dormindo no quarto, graças a Deus — Maria
responde, tentando roubar o último pão doce da cesta, mas eu sou mais
rápido. — Tio Vince, era meu!
— Perdeu, piolhenta.
— Esses dois implicantes não mudam nunca...
— Eu sou o tio preferido, aceita, Morcego.
— Vince, os bebês estão enormes — Hera comenta, de repente, com
sua carinha de prima boba e puxa saco. — Gian já me chama de “Hela”,
igual nosso pequeno Henry. Fico toda derretida.
— Em oito meses deve ter crescido muito — murmuro, e eles se
olham, calados.
Minha família não imagina o quanto eu sofri de saudade das
crianças, meu coração vai doer tanto quando eu vir a Pétala enorme. Ela era
uma recém-nascida tão pequenininha, cabia na minha mão. Já os meninos
eram os meus grudes, como a Maria.
— Quanto mais eles crescem, mais mexem nas minhas coisas —
Maria reclama. — Henry quebrou meu batom brilhoso da Monster High.
— Ai que triste, acabou o mundo para ela — debocho, e a
bezerrinha me fuzila.
— Que história é essa de batom? — Hoss olha incrédulo para Elena,
quase bravo. — Batom para uma criança de dez anos?
— Sou pré-adolescente, pai!
— Larga de ser chato. É um gloss de um desenho de meninas, ela é
fã, tem até bonecas. — Elena dá de ombros.
— É das Monster High, tenho as maquiagens que a tia Jolie trouxe
ano passado dos Estados Unidos.
— Já as bonecas, fui eu quem dei — Hera se gaba, tirando um
sorriso enorme da Maria.
— Já eu, darei os meus ensinamentos para ela arrumar um
namorado — digo calmamente.
— Hoss!
Meu irmão me jogou uma colher de chá na testa e depois de gemer
de dor, eu comecei a gargalhar sem parar.
Como senti falta dessa diversão, de estar com eles, implicando,
rindo e fazendo parte de todos esses momentos marcantes.
Não aceito viver nem mais um dia longe da minha família. Oito
meses foram anos, sinto que tiraram momentos importantes de mim.
Vivi um inferno naquele canil, agora, algo devora o meu coração,
deixa-me sedento para saber quem fez isso e por quê.
— Vince? — Tio Argus bate à porta do meu quarto, abrindo-a e
entrando. — Desculpa atrapalhar o seu descanso.
— Relaxa, tio, ainda ia tomar banho.
— Está realmente tudo bem com você?
Ele se senta na beirada da cama, olhando-me com seus olhos de
gavião, capaz de ler até os nossos mais profundos pensamentos.
— Está sim...
— Conheço você, o seu olhar está diferente.
— Eu senti muita falta da família, do castelo, essas coisas estão me
fazendo refletir em silêncio, é só isso.
— Sinto muito pelo que aconteceu.
— Eu também sinto. Não entendo como aconteceu, pois nunca
deixo rastros do que faço.
— Eles tiveram provas de você invadindo os sites do governo, além
da casa da moeda. Não tinha como contestar as evidências. É um teimoso,
eu e os seus irmãos havíamos pedido centenas de vezes para que parasse de
cometer esses crimes cibernéticos.
— Eu parei há uns três anos, não era para ter essas malditas provas,
a qual provocaram meu julgamento.
— Poderia ter sido muito mais meses, sabe disso.
— Mas não foi. E não quero essa vida, tio. Desejo mudar.
— Quis dizer, criar juízo? Pois concordo, já está com 30 anos.
— Ah, obrigado por jogar na minha cara.
— Que está ficando um velho rebelde? Não sei ainda como nunca
apareceu com uma penca de filhos, acho que a sua única responsabilidade é
com a camisinha.
Eu rolo os olhos e me deito na cama, fingindo-me de morto.
— Quando sair, feche a porta, pelo amor de Deus — resmungo.
— É assim que resolve os seus problemas, fingido que eles não
existem?
— É o senhor que está criando esses problemas, graças a Deus a
minha terapia está em dia.
— Céus, me dê paciência... — Tio Argus resmunga e sai do quarto.
Respiro fundo e inspiro, concentrando-me para não pensar na merda
da minha vida.
Assim que o motorista para com o carro em frente ao castelo, eu
sinto um aperto gigantesco no peito. Demoro para descer, fico olhando a
imponência luxuosa da residência.
— Senhorita... — O motorista pigarreia.
Eu desço e paro ao lado das minhas malas.
— Obrigada, Xavier.
Ele assente, educado.
Então subo os degraus, indo até a grandiosa porta. Não chamo pelo
mordomo, simplesmente entro, já sendo de casa, praticamente.
— Lila! — Hera me vê no arco da sala e se ergue do sofá, correndo
até mim. — Que bom que decidiu passar esses dias conosco! Jolie vai ficar
tão feliz!
Sorrio, abraçando-a.
É a décima vez que eu venho ficar no castelo e isso... só em oito
meses. O que me fez criar mais laços com a família Calatrone. Eles são
incríveis.
— Ela nem imagina que estou em Portugal, desta vez, para ficar.
— É sério? — Hera segura os meus ombros. — Ahhh! Que notícia
boa, minha querida. É tão bom ter os amigos por perto.
— Eu comprei um apartamento no centro de Lisboa e já estou
mobiliando.
Ela força um sorriso, querendo dizer algo.
— O seu tio Paulo e a sua madrasta sabem?
— Sim, mas entre os dois, eu tenho mais medo da minha madrasta.
— Eu teria mesmo, Jolie é bem protetora com você... Paulo então...
— Tio Paulo é insuportável, acredita que ele colocou dez seguranças
no meu pé, desde que eu pisei no aeroporto? Contando com o motorista. Lá
em Londres era a mesma coisa.
— Paulo retomou os negócios do seu avô, de uma forma mais
“light” e menos sanguinária.
— Ainda somos uma máfia, é isso o que quis dizer e tudo bem. —
Dou de ombros. — O crime continua sendo a nossa linhagem, é o que nos
deixa quase bilionários.
— Não tivemos muita escolha, não é mesmo?
— Pois é...
Sento-me no sofá, relaxando as costas.
— E aí, vai querer ficar no Castelo ou na casa da Jolie e do Rael?
— Eles já se mudaram?
— Sim, tem uns dias. A casa ficou chique, depois vamos lá visitar.
— Vamos sim. Estou morrendo de saudades do Gian, trouxe
presentes para o meu pequeno pupilo. Ah, e também para o Henry, a Maria
e a bebê da Elena.
— Maria quando te vir vai subir aos céus, é a melhor amiga dela.
— Como ela cresceu, né? Daqui a pouco vira mocinha e por fim
uma mulher.
— O terror do Hoss e dos tios ciumentos.
Caímos na gargalhada.
— Não vejo a hora de vê-la interessada em algum namoradinho.
— Hoss mata todos. Ele até odeia que falem dessas coisas perto
dele.
— Imagino o Vince implicando. — Sorrio. — É a cara daquele
implicante fazer isso.
— Já está sabendo? — Hera muda de assunto.
— Do quê?
— Vince saiu hoje...
Arregalo os olhos, sem acreditar no que ouvi.
— O-o que disse?
— Vince ganhou a sua liberdade hoje. Chegou esta manhã.
Meu Deus, não posso acreditar, faz tanto tempo que não o vejo, que
não conversamos. Chorei tanto quando soube da sua prisão, depois da sua
sentença. Foi uma das piores dores que já senti, tive que tomar remédios
para ansiedade.
— Lila?
— Eu... eu estou tão feliz por ele finalmente estar livre. Achei que
iria sair só no final desse mês.
— Os advogados adiantaram as coisas. Mas é por isso que está
aqui? — Ela tenta esconder o sorriso discreto, mas consigo notá-lo.
— Não, claro que não, estou aqui por causa da Jolie e de vocês.
— Dalila...
— Hera, não invente coisa. Vou passar só o final de semana no
castelo e segunda já vou para o meu apartamento, viver a minha vida.
— Você é apaixonada por ele desde a sua adolescência, não é
segredo nem para o papa.
— Vai insistir mesmo nesse assunto?
— E vai fugir até quando dele?
— Não estou fugindo de nada, isso é passado, coisa de adolescente
apaixonadinha. Já tenho 22 anos, uma adulta formada e independente.
Tenho outra mentalidade. Por favor, não fale mais disso.
— Tudo bem, já entendi. E desculpe-me se fui inconveniente.
— Não foi, não se preocupe.
— Prometo não tocar mais no assunto. Vou pedir para o Luiz se
encarregar de subir as suas malas, não sei se deseja descansar da viagem.
— Eu descansei bem no avião.
— Então, quer um lanchinho da tarde?
— Sim, estou faminta.
— Pois venha, têm tortas de todos os sabores.
Levanto-me com entusiasmo do sofá, para acompanhá-la até a
cozinha. Só que ainda vou meio tonta e em choque pela notícia do Vince.
Não paro de pensar nele.
Ele está aqui, tão perto de mim. Não é possível que esses batimentos
descompensados sejam normais, só de pensar nesse homem. Queria
esquecê-lo, tirá-lo da minha cabeça, faz tantos anos, por que não supero?
Tento não ficar estranha. Como o meu lanchinho saboroso, que é
torta de frango. Também me divirto com a Hera e as empregadas, ouvindo-
as contarem uma fofoca que aconteceu entre os famosos essa semana. Acho
que ficamos umas duas horas só fofocando.
— Lila, vai tomar um banho e se arrumar, os meninos estão
querendo fazer um churrasco com muita cerveja. Daqui a pouco estão aí
com a Elena, a Jolie e as crianças.
— Vou daqui a pouco, preciso ligar primeiro para a minha tia
Lupita, para saber como ela e os meus sobrinhos estão.
Hera assente, dizendo que vai se arrumar e retira-se para o elevador.
Fico sozinha na sala, primeiramente, respondendo às mensagens dos
meus amigos de Londres. Eles estão tristes com a minha mudança
definitiva. Depois ligo para a tia Lupi...
— Hera, onde o Morcego está?
De repente, ouço uma voz grossa atravessar o ambiente enorme, de
dois pés direito. Ergo a cabeça, agradecendo por estar sentada.
Não é possível...
Meu corpo paralisa, parece que não sei mais respirar, nem mexer um
membro sequer. Meus olhos nem piscam.
— Hera?
Ele chega mais perto e para no meio da sala, vendo-me finalmente.
Parece que demora para reconhecer a minha pessoa. Está me escaneando.
Eu entrei na fase adulta e mudei muito, criei mais corpo e clareei
ainda mais os cabelos.
— Dalila? — Então reconhece.
E isso me faz tremer de pavor.
Como o Vince pode ficar ainda mais bonito? Está mais forte, com
um porte atlético de quem treina todos os dias, barba grande e o rosto
envelheceu, não é aquele garoto de olhar leve. Vince mudou, seus olhos
estão mais profundos, aterrorizantes e sombrios.
— O-oi... — sussurro, surpreendida por ter conseguido abrir a boca
e reproduzido algum som entendível.
Ele chega mais perto de mim.
— Nossa, como mudou, Lila, é você mesmo?
Coro envergonhada, erguendo-me.
— Sim, sou eu, cheguei há umas duas horas no castelo.
— Pra quê? Por minha causa?
Meu peito para e gelo dos pés à cabeça.
— Não mesmo, eu só vim passar o final de semana, cheguei de
Londres, desta vez para morar em Lisboa.
— E resolveu vir direto para o castelo?
Meu rosto fica ainda mais vermelho.
Por que ele está agindo assim? Cadê o meu Vince engraçado e
carinhoso comigo?
— Eu sempre venho para cá, quero dizer... comecei a vir nos
últimos meses. Tenho minha madrasta aqui, esqueceu?
— Não poderia esquecer, enfim, fique à vontade, já deve ser de
casa.
— Vince, espera... — Antes que ele possa virar as costas, paro-o.
Ele se vira, olhando-me.
— Queria dizer que estou feliz por estar livre e de volta à sua
família. Fiquei arrasada quando...
— Obrigado, Dalila — ele me interrompe. — Igualmente fico feliz
por vê-la bem. É bom rever os antigos amigos... com licença — diz calmo,
virando as costas e retirando-se.
Eu volto a soltar o ar dos pulmões, sentindo os meus olhos arderem.
Que saudades de você, seu idiota. Por que agiu assim comigo? Na
minha mente, esse momento era diferente... ele me abraçava com seu jeito
brincalhão, chamava-me de “minha garota loira” e dizia o quanto sentia a
minha falta.
Foi pior do que levar um soco no estômago. Mas, tudo bem, já faz
cinco anos, mudamos, né? Perdemos aquela intimidade de quando eu tinha
17. Hoje eu tenho 22. Não sou mais a garota que ele se importava. Aquilo é
passado. Ainda mais depois daquele acontecimento vergonhoso. É o meu
pior remorso, como eu tive coragem de... não, não! Não pense nessa merda,
Dalila!
Você é trouxa! Deve esquecê-lo!
Chega disso, não existe só o Vince de homem no mundo!
Supera, maldito coração!
Aquela não pode ser a Lila. Puta que pariu, ela ficou uma mulher
linda! Parece até uma modelo. Só não entendo o porquê de ela estar no
castelo. Será que soube que eu seria liberado hoje e veio por pena? Se for,
dou um foda-se.
Não quero ninguém sentindo pena ou tocando nesse assunto. Não
temos mais nenhuma intimidade.
Eu subo para o meu quarto, arrumo-me e desço vinte minutos
depois, para aguardar o pessoal na área de churrasco.
Morcego é o primeiro a chegar.
— Hera ainda está se arrumando.
— Já acendi a churrasqueira.
— Temos funcionário para cuidar disso.
— Não sou capaz de tamanha confiança. Faço questão de cuidar da
carne, é uma honra.
— É um passa fome de olho gordo.
— Não te perguntei nada, ridículo.
Ele dá de ombros.
Sento-me na ponta da enorme mesa de madeira.
— Estão todos felizes por você estar de volta.
— Eu sei, esse castelo não tem graça sem minha humilde pessoa.
Morcego revira os olhos.
— “Humilde pessoa”.
— Mas sério, também senti muita falta de vocês. Não é fácil ficar
preso, mas sou grato pela pena não ter sido de anos.
— Se tivessem mais provas, com certeza estaria ainda naquele
inferno. Graças a Deus que já passou, agora é viver a vida da melhor forma,
que só você sabe.
— Preciso urgente foder umas cinco de uma vez. Tenho tanto
esperma guardado que já deve ter petrificado.
— Como perco tempo ouvindo tanta merda de você?
— Sabe que sou o seu cunhado-primo preferido, amorzinho.
Ele me xinga e mudamos de assunto, para falarmos dos negócios da
família. Precisava entender como foram as coisas durante esses meses que
estive preso igual a um porco para o abate.
Enquanto isso, a família foi chegando com as crianças, até todos
estarem reunidos, com a carne já na churrasqueira e a cerveja sendo servida.
As mulheres ficam mais nos drinks.
— Falem comigo, garotões. — Antes que Henry e Gian pudessem
correr, peguei os dois cabeçudinhos no colo. — O tio estava com
saudades...
Eles me abraçam.
— Tio preferido! — Henry fala bem alto, fazendo Rael, Morcego e
Hoss revirarem os olhos.
— Eu já falei para vocês não deixarem as crianças sozinhas com o
Vince, ele só ensina a falarem o que não presta.
— Invejosos, né, crianças? Só porque o titio é o preferido.
— SIIIMM! — eles exclamam, dando beijos na minha bochecha.
— Idiota...
Coloco os pirralhos no chão e vou me sentar com a família à mesa.
Sento-me bem ao lado da Elena, só para ficar fazendo careta para a bebê.
Tiro risadas altas dela.
— Você chegou que horas, Lila? — Jolie pergunta.
— Há umas duas horas e meia. Eu vim direto do aeroporto.
— Veio sozinha? — Rael questiona, já todo protetor.
— Não, tio Paulo fez questão de deixar dez seguranças, incluindo o
motorista, aguardando-me para ir embora.
— Foi muito pouco.
— Jolie! — Rael dá uma cotovelada nela.
— Estou feliz, porque a minha melhor amiga está de volta. Você tem
que ir ao meu quarto novo, Lila, ele está incrível!
Assim que Maria viu a Dalila, faltou sufocá-la com tantos abraços
apertados. Já a Jolie, quase teve um ataque cardíaco por ver a enteada de
surpresa. Ela não avisou para ninguém que voltaria para Lisboa.
Eu estou a todo momento na minha, mais ouvindo do que
interagindo.
Lila me olha várias vezes, o que me deixa desconfortável com ela.
Tento não me importar e para a minha surpresa, durante o churrasco, vou
me soltando naturalmente, certeza que por causa do álcool.
Começo a fazer todos rirem, tendo essa como uma das melhores
noites da minha vida. Comemos, brincamos, rimos e até nos emocionamos
com as histórias dos partos da Jolie e da Elena.
Eu amo tanto a minha família.
Que noite, que momento indescritível!
— Vince, chega de beber.
— Eu não TÔ BEBENDO...
Hoss e Rael me pegam em cada braço.
— A diversão acabou, polaco azedo. Todos já foram para dentro.
— Nem amanheceu. — Sorrio, torcendo as pernas.
— Desde quando foi de beber assim, seu bastardo?
— Também estou surpreendido — Rael complementa.
Respondo meio embolado, meio rindo e meio tonto. Não entendo
nada. Em algum momento só sinto as minhas costas repousando numa
cama, meus olhos se fechando e nada mais existindo.
Depois de me fazer gozar pela última vez, Vince não falou comigo.
E na volta para o Castelo, foi uma dificuldade para andar, mas eu tive que
ser forte e fingir que a cada passo uma faca não me fincava milhões de
vezes entre as pernas. Nós nos separamos antes de chegar à porta, para
ninguém nos ver. E no meu quarto, preparei uma banheira quente e me
enfiei dentro... sorrindo sem parar ao pensar nele, nas suas mãos tocando o
meu corpo e na sua boca beijando cada pedacinho de mim. Não posso
acreditar que é real... que fizemos sexo...
— Lila?
Sem eu esperar, Jolie me pega desprevenida na biblioteca. Após o
banho, passei quase a tarde toda aqui, para ninguém reparar no meu novo
andar e no sorriso que não sai da minha cara.
— Oi...
— Fugindo de mim?
Ela se escora numa das prateleiras, cruza os braços e faz aquele seu
olhar aterrorizante, intimidador.
Jolie e Hera se igualam em serem assustadoras.
— Não, por que pensou isso? Só estava lendo algo bom. Nem sabia
que estava pelo castelo.
— Sei. Andei te procurando por todos os cantos...
Que mentira, ela deve ter subornado o Luiz e ele passou a minha
localização, com aquele seu tablet amaldiçoado.
— Procurou ou subornou o Luiz?
— Tanto faz, o importante é que te achei. — Ela faz sinal de
despreocupada com a mão.
— Imagino o que veio falar comigo... ainda é sobre a tia Lupi?
— Não, é sobre o seu ex-namorado. Ele sabe quem é você?
— Sobre eu ser ligada à máfia e tal?
Ela assente.
— Não sei, enquanto estudávamos juntos em Londres eu nunca
conversei sobre o meu sobrenome com ele, e ele nunca perguntou, ou achou
estranho.
Jolie me ouve atentamente, apenas assentindo devagar.
— O que está pensando? — indago, curiosa. — Ele sequer sabe do
passado dos pais dele, Jolie.
— Apenas tome cuidado, não o traga mais para o território dos
Calatrone, quanto mais dos Borghi. Seu tio ainda não sabe de nada, nem da
causadora da crise atual do seu casamento.
— Lupita está brigada mesmo com ele?
— Ela está bem furiosa, não quer nem olhar na cara do dito cujo.
— Quando o meu tio souber da verdade, ele vai me matar! —
Arregalo os olhos.
— E vai mesmo. Lupi é bem sentimental, frágil e ciumenta. Ele vai
sofrer muito até ela o perdoar. Por isso, é melhor aguardarmos os dois se
resolverem.
— Que ódio, não paro de me culpar.
— Se tivesse segurado essa língua, eu tinha puxado muito antes a
sua orelha sobre esse tal Alan. Aliás, eu nem imaginava que você sabia do
seu tio e da história de amante. Devia imaginar que o Manuel não resistiria
e te contaria tudo há muito tempo.
Dou de ombros.
— Infelizmente, eu não sei de quase tudo.
— Do seu tio?
— Não, agora é da minha mãe. Fiz centenas de perguntas para o
Manuel e nem ele quis me dar respostas. Você sabe de algo sobre essa
mulher que me gerou e que nunca me disse antes, Jolie?
Ela me encara, sem piscar uma única vez, parece pensar muito,
antes de me dizer qualquer coisa.
— Não, eu cheguei bem depois de você já ter nascido, deve
lembrar... — Então por fim, repete com firmeza o que sempre me
respondeu. — Bom, era só isso. Vou ver o meu filho...
Suspiro e concordo.
Não quero desistir. Vou continuar investigando, um dia eu descubro
quem é a minha mãe.
— Transei com ela! — simplesmente confesso para o Igor.
— Mas o quê, porra?! — ele esbraveja, caindo chocado na cadeira.
Eu passo a mão no cabelo e viro o gargalo da minha cachaça.
— E duas vezes.
— DUAS VEZES?! — berra. — Está louco, Vince? Ela é sua
prima!
— Não precisa repetir, vitrola portuguesa! Já estou fodido o
suficiente com a minha consciência. E eu nem tive culpa dessa merda toda.
— Não teve? Então ela abaixou suas calças e te fez transar à força,
seu energúmeno?
Nervoso, eu pego a bandeja de salgadinhos e começo a comer,
emburrado.
— Praticamente, ela quem me provocou, me seduziu e me
enlouqueceu a cometer esse ato carnal!
— Isso está muito errado, está fazendo uma grande merda. Dalila é
proibida para você, ela é sua prima!
— Para de esfregar esse caralho de verdade na minha cara, mete
logo um tiro no meio da minha testa!
— Eu meteria até dois, mas seus irmãos me farão o serviço de te
matar, também o Paulo, a Jolie e a Hera!
— Isso não vai mais acontecer, Igor. Já estou dando um jeito na
minha vida, ficarei noivo até domingo.
— O quê? Com quem?
— Em breve todos vocês a conhecerão. Vou preparar um jantar
especial no castelo.
— Não, eu não posso acreditar nisso. Sabe do que precisa? De um
psiquiatra para cuidar desse seu cérebro entupido de comida.
— Eu não pedi a sua opinião para nada, vai rodar bolsinha na praça
e vender esse rabo enxerido.
— A família Calatrone devia se unir para te internar. Como acha que
pode sair escolhendo qualquer mulher por aí para se casar? Casamento não
é brincadeira, estou com a minha esposa há mais de oito anos e nos casamos
por paixão, amor.
— Isso não existe para mim. Eu não vou esperar ter amor ou paixão
pela pessoa “certa”, posso gostar de uma mulher, me casar e depois
começar a sentir isso.
Ele rola os olhos.
— As coisas não são assim, não brinque com a sua vida, com o seu
coração. Depois, pode ser difícil reverter os erros das suas más escolhas.
Ergo-me do sofá, bufando.
— Era só isso? Vou embora, não preciso ficar ouvindo uma segunda
Hera socando a porra dos meus ouvidos.
— Se está incomodado, é porque estou falando a verdade e sabe
perfeitamente disso.
— Sabe de uma verdade?
Igor cruza os braços, esperando o de sempre.
— Você ir se foder, português de merda!
— Enche o rabo de comida que esse mau humor passa.
— Vai para casa, sua esposa grávida está te esperando, enquanto eu
vou para a boate, encher a cara de álcool e foder umas putas.
Ele apenas balança a cabeça, me reprovando com cara feia.
Eu até cumpro o que disse, vou para a boate, sento-me perto do bar,
bebo, mas não fico excitado para foder com nenhuma das meninas. Não
paro de pensar nela, de me sentir culpado por estar transando com a Dalila,
por saber que tirei a sua virgindade, sendo essa peste a minha prima. E
agora, é inevitável o tesão e a atração quando estou com ela.
— Onde esteve? — Rael pergunta, após me pegar entrando entre
tropeços no castelo.
— Por acaso a gente se casou para eu te dever satisfação da minha
vida? — debocho.
— Filho da puta! Você bebeu?
Dou de ombros.
— Era para estar em casa mais cedo, esqueceu do que está
acontecendo? Do nosso tio.
— Eu estou aqui já, dá para relaxar? Está pior do que o Hoss
esquentadinho.
— Vince, leve a porra da situação a sério. Ele já foi embora e
amanhã é quinta-feira, faremos nossa reunião mais cedo e contaremos tudo
a você sabe quem...
— Ao Voldemort? — Rio.
— Arrombado, eu vou meter um murro na sua cara!
— Eu já entendi, amanhã conversaremos e, também, dividiremos os
cargos, afinal, alguém tem que ficar responsável por tudo. Imagino que seja
o Morcego e o Hoss.
— Sim, cuidaremos dos cobradores e da boate.
— Perfeito, agora, se me der licença, vou bater uma punheta no
chuveiro. — Pisco, bêbado pra caralho.
— Nunca saiu dos 13 anos, infeliz — Rael murmura. — E se eu te
pegar bêbado essa semana de novo, eu te acorrento no seu quarto!
Sem dar ouvidos ao meu irmão insuportável, eu subo para o meu
quarto. Entro, tiro a roupa e seguro a vontade de pular na cama e dormir.
Mas ouço um barulho de algo caindo no outro cômodo, que me chama a
atenção para averiguar. Enrolo a toalha na cintura, caminho até o local,
acendo a luz e não encontro nada, ou melhor encontro. Olho para a mesa do
computador e percebo uma xícara de café ainda quente.
Peste infernal!
Bufo e abro a porta do primeiro armário perto dos computadores.
Dalila arregala os olhos, corando envergonhada por ter sido pega no
flagra.
QUE INFERNO!
— Que bonito, porra, posso saber o que está fazendo no meu quarto,
e escondida?
— E-eu estava te esperando.
— Humm... — Cruzo os braços. — Esperando para me ver pelado,
sua safada miserável?
— Vince!
Ela arregala os olhos de novo, após olhar para o meu corpo enrolado
da cintura para baixo com a toalha.
— O que quer aqui, então? Estava mexendo no meu computador?
— Primeiro, dá para me dar licença e me deixar sair desse armário?
— Não, não deixo, vai ficar aí.
Rapidamente, fecho o armário e Lila começa a bater nas portas.
— VINCE, ABRE ESSA DROGA!
Encosto-me, rindo da sua cara.
— ABRE LOGO OU EU VOU GRITAR!
— Grita, esse castelo é enorme, ninguém vai te ouvir.
— Anda, eu vou morrer sufocada aqui dentro!
Com dó, abro a porta e a louca avança em mim, batendo-me com
força.
— Seu idiota, sem graça!
— Ei, Ei, loirinha violenta!
Seguro os seus punhos e a prenso na mesa do computador.
Lila respira, acelerada.
Eu olho para o seu pijama e reparo nas suas coxas desnudas e no
bico dos seios marcados no tecido da blusinha.
Merda de pica tarada, o meu corpo se arrepia e o meu pau
corresponde com uma pulsação instantânea.
— O que quer comigo? — sussurro, bem pertinho do seu rosto.
— Você está cheirando a álcool...
— O que quer comigo? — repito a pergunta.
Que vontade de a beijar, de devorar esses lábios rosados.
Lila molha a boca, sem desviar dos meus olhos penetrantes.
— Eu preciso da sua ajuda...
Afasto um fio loiro da sua testa e chego ainda mais perto.
— Depende, para quê?
Sinto-a se arrepiar, meio fraca
— É sobre a minha mãe, eu sei de uma pessoa que pode me ajudar a
descobrir quem é essa mulher.
— Quem?
Inclino-me na mesa, para analisar atentamente os seus traços
angelicais, únicos...
— O ex-subchefe da máfia do meu avô.
Na mesma hora eu ergo a cabeça e me afasto. Inconformado.
— Está louca? Você não dizia que detestava esse homem, que ele
também não gostava de você e, principalmente, da sua madrasta Jolie?
Esse homem não presta!
Lila cruza os braços.
— Mas ele sabe de tudo, Marcos com certeza sabe quem é a minha
mãe. E ele poderia me dizer a verdade.
— Não, não mesmo! Você não vai se colocar num risco desses!
— Vince...
Eu volto para o quarto e Lila vem atrás de mim.
— Por favor, me ajuda... eu só quero descobrir quem é ela.
— Não me peça esse absurdo, Lila!
— Ok. Se você não quer me ajudar, foda-se! Eu vou atrás do Marcos
sozinha!
— Vai uma ova!
Seguro o seu braço e a puxo bruto para mim.
— Me larga!
— Você é uma irritante sua peste!
— Peste é você, seu ridículo!
Que vontade de dar uns tapas bem dados nessa garota.
Lila me empurra.
— Não sei nem como eu achei que poderia contar com você, não
somos mais amigos!
— Amigos? — Eu rio debochado. — Depois de tudo que aconteceu
entre a gente, ainda acha que podemos ter a mesma amizade?
Ela não responde.
Ficamos em silêncio.
Suspiro, rendido pela sua carinha de decepção. Isso é culpa da
cachaça, tenho certeza.
— Eu me importo com você, Lila, sei que quer descobrir quem é a
sua mãe, mas não quero que coloque a sua vida em risco. Que vá atrás desse
homem sozinha.
— Então vai me ajudar?
— Merda, eu ajudo, porém, será a última vez, entendeu?
Ela sorri.
— Não será não.
— Não vou discutir, preciso de um banho para superar o álcool no
meu corpo.
Ela me olha, percebendo o meu estado.
— Ah... desculpa invadir a sua privacidade.
— Imagina, é de casa, eu ia até te convidar para um banho —
debocho.
Ela revira os olhos, para disfarçar como ficou corada.
— Amanhã conversamos...
— Não faço questão de ver a sua cara amanhã — resmungo,
afastando-me para o hall.
— Larga de ser assim comigo, está o tempo inteiro insuportável.
— Eu era muito diferente com você, até me infernizar e transarmos,
espero que se encontre feliz com as mudanças.
— E o que muda?
Ela ainda faz esse tipo de pergunta idiota?
Eu paro, com a mão na cintura e conto até dez, antes de encará-la e
responder.
— Muda, que agora, quando vejo você, a minha “priminha”, penso
em te comer em mais de mil posições! Ou acha que eu faria questão de
estarmos conversando, com você dentro desse pijama provocador, enquanto
tem uma cama entre nós, onde poderíamos estar fodendo?
A garota arregala os olhos, sem palavras.
— N-não sabia que poderia ficar assim comigo...
— É porque você é uma praga bonita e gostosa! E eu não devia estar
te desejando, te querendo! É culpa sua, que não pensou nas consequências!
Por isso, se não quiser ficar mais assada entre as pernas, sai daqui ou não
respondo por mim e te meto a porra do pau!
Ela assente, chocada, mas antes de sair, a peste ainda olhou bem
para o meu pênis que se enrijeceu e marcou a toalha.
Eu até corri atrás dessa loira provocadora, mas ela acabou sendo
mais rápida, escapando e batendo a porta, antes de eu enlouquecer e agarrá-
la.
Que castigo. Eu fiz o que para merecer uma cruz dessa? Não tenho
paz nem na minha própria casa!
No dia seguinte, toda a família se reúne para a reunião de quinta
pela manhã.
Eu, Morcego e os meus irmãos nos encaramos, em seguida a Hera.
— Por que dessa reunião tão cedo? E por que estão me olhando
assim?
— Vamos dizer...
— Estão esperando o meu pai chegar? — ela pergunta e olha para o
lugar vazio dele.
— Não, mas é sobre ele que queremos conversar — Hoss diz. —
Tio Argus mandou avisar que ficará algumas semanas ausente.
— O quê? — ela indaga, surpresa. — Quando ele disse isso?
— Ontem, antes de ir embora — Rael explica.
— Eu não posso acreditar, e ele não me disse nada?! Apenas foi
embora, deixando vocês para me dar a notícia?
— Pronto, ela vai surtar em 3, 2, 1... — digo e cruzo as pernas.
— Vince, vai se foder!
Hera se levanta, furiosa.
— Meu pai nunca fez isso!
— Se acalma — Elena pede.
— Hera e calma na mesma frase? — debocho.
Morcego me olha feio.
— Também não entendemos o que aconteceu, Argus só disse isso,
sem dar maiores explicações. Você conhece o seu pai, amor.
— Mas ele devia ter vindo falar comigo, e se estiver acontecendo
algo grave? Como vocês o deixaram ir assim, sem me dizer nada?!
— Como fala uma coisa dessa? Sabe que o tio Argus é... o tio
Argus! Ninguém manda nele! — Hoss exclama. — Você conhece o seu pai
melhor do que a gente.
— Isso é uma tremenda traição!
Sem discutir e sem fazer maiores escândalos, Hera vira as costas e
sai da sala de reuniões.
Elena e Jolie também se retiram atrás dela.
— Eu achei que poderia ter sido pior, tipo, ela cuspir fogo igual um
dragão.
— Você sempre tão necessário, né, Vince?
— Eu sou o eixo dessa família, caro Hoss. Mas, e agora? Quero
saber como vai ficar dividido as tarefas.
— Eu e o Morcego cuidaremos da gerência da agiotagem, e você e o
Rael serão responsáveis pelos cobradores e as cobranças. A boate também.
— Certo, hoje tem uma cobrança, vou fazer com o Igor — aviso, e
eles concordam.
— Eu vou para boate “guardar” dinheiro — Rael informa.
— Perfeito, durante os dias vamos nos revezando para não haver
nenhum erro.
Assentimos. E com tudo resolvido, retiro-me para devorar o café da
manhã.
— Vince?
Após comer e sair com dois pães doces na mão, eu dou de cara com
a Lila no corredor.
E que ódio.
Como essa criatura é lindamente irritante.
Não aguento e analiso as suas roupas mais justas do que de costume.
Isso só pode ser proposital para me infernizar.
— Por que aparece sempre assim, igual uma assombração?
— Eu não apareço igual assombração — rebate.
— Verdade, você é a própria assombração.
— Idiota, eu queria falar com você.
— Tem cinco segundos para falar — digo de boca cheia.
— Cinco?
— 4.. 3...
— Vince, seja sério comigo! Que vontade de socar a sua cara.
— Eu adoraria não ter papo nenhum com você, nem contato.
— Problema seu, vem aqui.
Ela entra na sala de chás e me puxa para dentro, em seguida, fecha
as portas.
Fico pertinho dela, sentindo o seu perfume gostoso.
Lila morde o lábio inferior e me olha.
— Então? — resmungo, já louco para arrancar as roupas do seu
corpo.
Dalila me provoca um calor fora do normal.
— Tenho a localização do Marcos e onde podemos encontrá-lo.
— Como? Estava torcendo para que não achasse nada.
— Ah, querido, obrigada pela ajuda. Porém, para a sua infelicidade,
eu achei. Encontrei o perfil da filha dele nas redes sociais e começamos a
conversar. Ela não me revelou nada com exatidão, mas deu uma pista.
— Qual pista?
— Amanhã é a sua festa de formatura da faculdade, ou seja, Marcos
vai estar lá para privilegiar a filha. E nós vamos.
— “E nós vamos”. Será a última vez que vou te ajudar, entendeu
bem, Dalila? — digo, aproximando-me dela. — E ficaremos um longe do
outro.
— Até eu ir para o meu apartamento?
— Até eu parar de te desejar.
Ela toca no meu peitoral e me enrijeço.
— Não quero ficar longe de você...
— Precisamos, isso nem é questão de escolha.
— É sim... — Ela chega bem mais perto do meu rosto.
Sinto a sua respiração quente ser soprada contra a minha pele.
— Eu sou bem resolvida para escolher o que eu quero.
— O que não pode... — sussurro e inclino a cabeça para mais perto
do seu pescoço. — Isso é proibido.
— Por isso é tão bom.
Ela quase me beija, se alguém não tivesse tentado abrir a porta e me
feito me afastar rapidamente dessa tentação.
Graças a Deus! É um anjo me salvando de crescer ainda mais essa
culpa e não resistir ao pecado.
Eu preciso resistir, tem que ser fácil!
Espero dois minutos, para quem for que seja, ir embora e eu também
sair, para não ser pego com a Lila... de novo.
****
Passo o dia com o Rael, resolvendo e definindo a agenda de
estratégias com os nossos cobradores. À noite, vamos para a boate fazer a
contagem, de madrugada, saio para uma cobrança importante com o Igor.
Só chego ao Castelo para guardar o dinheiro, jantar, tomar banho e dormir.
Levanto-me só depois do almoço, e para comer. Amo comer!
— Essa rotina vai me matar, detesto ficar limitado a quatro paredes,
detesto escritório! — Hoss exclama ao parar na sala.
— Só gosta de ficar limitado em quatro paredes quando é para foder.
— Já tentou ir ao caralho que lhe parta, seu bastardo azedo?
— Acho bem-feito — Hera declara, após se sentar na poltrona e
cruzar as pernas, com um olhar mortal para mim, o Hoss e o Morcego. —
Quero que vocês se lasquem.
— Querida priminha, não somos culpados do seu ódio — digo e
sorrio. — Estão todos no mesmo barco.
— Eu não falei com você, bastardo azedo.
— Olha só, ela está agressiva hoje.
Sem esperar, levo uma almofada na cara por esse dragão furioso.
— Aiii, caralho, essa doeu! Morcego não fez ontem o trabalho de
dar orgasmos para essa mulher acordar melhor não?
Antes que ele também socasse a minha cara, a Jolie e a Elena
chegaram com as crianças. E claro, elas correm para os braços do tio
preferido delas. Eu!
Noto a ausência da Lila, mas descubro pela Jolie, que depois do
almoço, ela foi para a biblioteca. Confesso que passo a tarde toda fugindo
dessa maluca, para ver se mudou de ideia e desistiu de ir à tal formatura se
encontrar com o Marcos. Contudo, quando dá 19h, ela aparece batendo à
porta do meu quarto.
E puta que pariu, eu tive que me segurar no portal, para não cair no
chão com a tamanha beleza dela, dentro de um vestido preto, justo, com
fenda na perna e decotado. E nem me pergunte dos saltos, eu tenho tara por
mulheres de salto alto fino.
— Está pronto para irmos?
Demoro alguns segundos para respondê-la. Nem sei mais o meu
nome.
— Vince?
— Merda... — Saio do transe e foco na sua cara atraente e marcada
pela maquiagem sexy. — Onde pensa que vai vestida assim?
— Você não vem com esse show, sabe perfeitamente onde estamos
indo. E troca essa camiseta por uma camisa social pelo menos.
Bufo e sem a porra da escolha, eu vou trocar de roupa, para
acompanhá-la nessa droga de formatura. Porém antes de sairmos
escondidos, eu me armo com um arsenal. Pareço até o Rambo, com facas e
artilharia. Até dou duas armas para ela se proteger.
Mesmo com uma cara de bravo e emburrado, Vince me leva para o
endereço da formatura da Daniela, a filha do Marcos, o ex-subchefe da
máfia do meu avô. Por mais que eu não goste mais dela, éramos muito
amigas na adolescência. Hoje, se tornou uma metidinha de nariz empinado,
ou sempre foi assim, e eu que não prestava muita atenção. Mas isso não
importa, o importante é achar o Marcos, conseguir conversar a sós com ele
e descobrir a verdade sobre a minha mãe.
— Não é para desgrudar de mim, Lila. — Ele aperta a minha
cintura, e eu suspiro.
Isso será o maior prazer, não desgrudar desse homem...
— Preciso encontrar o Marcos.
— Eu nem sei como é esse homem.
— Não se preocupe, convivi com a cara dele durante a minha vida
toda, impossível esquecer aquela cicatriz no seu queixo...
— Então vamos circular, que a formatura vai começar daqui a
pouco.
Vince entrelaça a sua mão na minha e me acompanha para andarmos
em torno do salão. Confesso que meu corpo se arrepiou na hora que senti
seus dedos grossos se entrelaçando nos meus.
Caminhamos, sem conhecer ninguém. E uns dez minutos antes do
evento se iniciar, encontro a mesa do Marcos. Ele está sentado ao lado da
esposa e da filha.
— Eu o achei...
Vince acompanha o meu olhar e, também o encontra.
— É aquele homem? O que pensa em fazer?
— Simples... eu vou até a mesa dele, cumprimento a Daniela, sua
filha, a esposa e viro-me para ele, pedindo para conversarmos a sós.
Vince dá ok e eu coloco meu plano em ação. Aproximo-me,
cumprimento as mulheres, em seguida, antes que eu dissesse algo para o
Marcos, ele segurou o meu braço. No mesmo instante em que me
aproximava ele já havia me reconhecido.
— Eu sabia que uma hora ou outra você me procuraria, Dalila.
Encaro bem os seus olhos nublados e assustadores.
Vince também me segura forte, mantendo o controle para não fazer
o Marcos afastar o seu toque de mim.
— Você sabia que eu te procuraria? — pergunto.
— É claro, pois sou o contentor de toda a verdade que procura. Mas
sentem-se conosco. Não vou perder a formatura da minha filha, depois
conversamos.
Eu olho para o Vince e nos sentamos quietos.
Ficamos quase uma hora e meia prestigiando o evento, e sem dizer
mais do que o necessário que a Daniela e a sua mãe perguntavam. Só após a
formatura, quando todos começaram a aproveitar da festa, o Marcos se
levantou e pediu para segui-lo até a área externa do local.
— Vamos ser diretos. — Ele para perto do muro, sem me olhar. Está
encarando a vista noturna do oceano agitado.
— Eu vim aqui para descobrir quem é a minha mãe.
— Quem é a sua mãe?
— Sim... você era o subchefe do meu avô e sabia de tudo, esteve
presente no meu nascimento.
— Estive, eu sei quem é a sua mãe.
Ele vira e meu coração acelera.
— E quem é ela? Me diga.
— Acha que eu vou dizer tão fácil assim?
— E o que quer em troca?
— Simples, um encontro com o seu tio Paulo. Faz anos que não
consigo falar com ele, ou ter qualquer chance de aproximação para
conversarmos.
— Não, ele não vai querer te encontrar. Paulo sempre te detestou.
— Mas você consegue, querida Dalila, é a princesinha da máfia.
— Não existe mais a máfia Borghi. Isso acabou.
— Bom, essa é a minha proposta, caso queira saber quem é a sua
mãe.
— Me dê pelo menos o nome dela ou qualquer informação, para eu
pensar na sua proposta.
Vince aperta a minha mão.
— Você não vai aceitar essa loucura — ele murmura.
— Saberá quem é a sua mãe quando conseguir o meu encontro com
o seu tio. Pense na proposta e me ligue após convencê-lo.
Marcos me dá um papel com o seu número, passa ao nosso lado e se
retira para o salão de festa.
Eu respiro fundo e olho para o Vince.
Ele está bravo.
— Você não achou que ele fosse te dar informações de graça, né?
— Não sei, talvez...
— Não pode colocar o seu tio de frente com esse homem, colocará
em risco a vida dele e de todos que o ama, incluindo a sua tia Lupita e os
seus sobrinhos. E vamos sair daqui.
Quieta, eu obedeço ao Vince, e ele me leva para outro lugar.
— Vamos parar, conversar e comer algo. — Ele aponta para o bar e
eu concordo.
A seguir, entramos e nos acomodamos no local meio vazio.
Sento-me bem ao lado do Vince.
— O que eu faço? — sussurro para ele.
— Desiste dessa ideia de achar a sua mãe, isso vai colocar a sua
vida e a vida de todos em risco — Vince repete, realmente sério, sem
brincadeiras.
— Mas eu queria tanto descobrir quem é essa mulher, a minha mãe.
— Talvez seja melhor nem saber, Lila. Já se passaram tantos anos. E
come, vai se sentir melhor. Eu mesmo me sinto ótimo comendo.
As batatinhas fritas chegam e ele me empurra a metade da metade
da porção. Tipo, umas cinco meras batatas.
— Comer o quê? Você não sabe dividir, seu guloso?
— O que é dividir? — pergunta de boca cheia.
— Pode pedir mais porção para mim.
— Querida princesinha loira do meu coração, eu pedi quatro.
Que jogo baixo... eu sou a princesinha loira do coração dele.
— É um mistério para onde vai tanta comida dentro desse seu corpo.
É realmente a Magali das histórias em gibi do Brasil.
— Magali?
— Sim, amarelo ainda é a sua cor.
Ele revira os olhos e me cutuca.
— E você é a Mônica, dentucinha e bravinha.
— Ridículo. — Jogo uma batata nele e ele passa molho no meu
nariz. — Vince!
Antes que eu limpasse, ele pegou o guardanapo e se aproximou do
meu rosto, para limpar.
— Espero que esteja melhor, pois eu gostaria de te ver uma vez na
vida satisfeita... feliz.
— Feliz? — murmuro, sem desviar dos seus olhos. — E você é
feliz?
— Eu não sei, não quero ser hipócrita de dizer que não.
— Existem vários nichos de infelicidade e felicidade. E eu tenho a
sorte de ser infeliz em todos...
Desvio dele e volto a comer as batatinhas.
— Pelo menos não dá para ser infeliz comendo e bebendo.
Dou de ombros e rio.
Depois de comer, voltamos para casa e entramos escondidos no
castelo. Mas antes de me separar do Vince, em meio ao corredor escuro das
passagens — bem pouco iluminado pelas lâmpadas amarelas —, puxo o seu
braço e chego bem perto do seu corpo. Sinto que o desestabilizei todinho.
— Mesmo que tenha odiado me acompanhar, obrigada...
— Eu jamais te deixaria ir sozinha, Lila... — Ele pressiona a minha
cintura e arrepio-me, querendo muito mais. — E não vou deixar que
convença o seu tio desse encontro, está me entendendo?
Nossos lábios quase se roçam, por um momento eu até esqueço do
mundo lá fora, dos meus problemas. Mas eu não posso esquecer, e a
consciência me lembra disso.
— Eu vou pensar...
— Não vai pensar, eu quero esse número, me entregue.
— N-não... — Com dificuldade, afasto-me, só que ele não me larga
e me empurra, para me prensar na outra parede.
— Anda, me dê o papel... — fala fraco, lento, enquanto a minha
boca arfa contra o seu aperto másculo.
— Isso é jogo baixo, seu cretino — resmungo, por ele estar me
atiçando e me provocando.
— Você quer mesmo que eu tire esse número à força de você?
— Não é nem louc...
Antes que eu termine de falar, ele belisca a minha bunda e beija a
minha boca, já penetrando a sua língua e me devorando num ato insaciável.
Não consigo me desvencilhar, para não parar os seus lábios
frenéticos.
Seu beijo é intenso, quente. Sinto-me em chamas.
Meu corpo corresponde instantaneamente, retribuindo a sua
veracidade de mil homens. Puxo os seus cabelos, louca por mais, para que
me coma nessa mesma fome de beijo.
— Me fode!
— Que peste, Lila...
Vince aperta o meu pescoço com força, coloca o joelho entre as
minhas pernas e toca por dentro das minhas coxas.
Eu gemo, rebolando contra a parede fria e a sua mão.
— Nunca senti tanta fome e tanto fogo por alguém, isso me
enfurece!
Ele esfrega o dedo por cima da minha calcinha molhada e pulso,
excitada.
— Estou tão molhada, latejando por você — digo, enlouquecendo-o
mais.
Vince afasta o elástico e sente a minha lubrificação escorrendo feito
uma cachoeira.
— Você não vai aguentar mais uma surra de caralho.
— Eu vou... — minto, já ardida e dolorida por dois sexos seguidos,
contando com a perda da minha virgindade. Ele é grande e grosso. — Ou
pode me chupar, eu vou gostar muito.
Não escondo o quanto estou no modo safada, querendo-o.
— Eu posso encher a sua bunda de tapas, sua louca.
Ele esfrega de novo a sua mão grossa na minha boceta e dá um tapa
estridente no meu traseiro.
Eu solto um “ai” e mordo a sua boca com violência. Sinto até o
gosto do seu sangue.
Vince sufoca ainda mais o meu pescoço, por pouco não me
estrangulando.
Eu fico com mais tesão. É maravilhoso ser estrangulada.
Ele se afasta, desce os beijos pelo meu corpo e se ajoelha diante de
mim.
Mesmo com a pouca iluminação da passagem, eu olho para baixo,
para os seus olhos que soltam faíscas, já sabendo o que está por vir.
Não posso acreditar que terei o meu primeiro oral! E por ele, pelo
meu Vince!
Tenho a confirmação dos seus atos, após os seus dedos erguerem o
meu vestido na altura da barriga e a sua respiração se tornar intensa na linha
do elástico na calcinha.
— Você vai me chupar? — pergunto e mergulho as unhas na sua
cabeça, com força para puxar os fios loiros.
Ele xinga e lambe feito um animal a minha virilha. Então desce a
calcinha pelas minhas pernas.
Eu fico nua, sem vergonha de exibir o meu corpo e o meu sexo
feminino. Só quero prazer, o melhor prazer que pode me dar.
Nada mais importa... a não ser o Vince.
Ele é a minha primeira paixão, o meu primeiro homem e quero que
o meu corpo seja sempre dele.
Nos dias seguintes, minha relação com a Lila fica quase fora do
controle, comigo a agarrando a qualquer oportunidade que a vejo sozinha,
sempre beijando a sua boca e a provocando safado, com encoxadas e
passadas de mãos.
É mais forte do que eu. Só de vê-la eu já fico louco.
Ela também não é santa, essa peste loira adora me deixar com o pau
duro, estressado e a querendo.
Aonde eu cheguei? No inferno, sem dúvidas!
— Que humor é esse? — Hera pergunta, ao me ver sentado no outro
sofá, de frente para o meu karma e as suas pernas torneadas, expostas pelo
vestido curto.
Essa sem-vergonha, cara de ninfeta, faz de propósito.
Ela abre ainda mais as pernas e repousa as mãos entre as paredes das
coxas, acariciando-as discretamente.
QUE INFERNO! Estou duro.
Eu vou foder ela sem dó, isso não vai ficar assim!
— Estou com fome, caralho... — xingo, e a minha prima me dá um
tapa, devido às crianças do outro lado.
— Vince, as crianças! E está passando fome, por acaso? Parece que
vive com um buraco no estômago, espera que daqui a pouco sai o jantar.
Se ela soubesse o motivo dessa fome feroz! Tem nome e sobrenome.
Hoje é noite de Páscoa, por isso, toda a família se reuniu. Até o
Paulo e a Lupita estão aqui. Só está faltando mesmo o tio Argus. É estranho
não o ter conosco.
— E aí, depois de mandar a mensagem para a Baronesa, ela deu
mais algum sinal? — Paulo questiona baixinho, comigo, Rael, Hoss e
Morcego.
Estamos no canto da sala, conversando longe das mulheres.
— É isso que nos preocupa, nem matando seus homens e mandando
a mensagem, não tivemos nenhuma ação dela, nenhum recado, nada.
— Eu também hackeei algumas informações sigilosas, mas nada tão
comprometedor. Essa mulher sabe apagar rastros — comento.
— Mas é bom continuarmos intensificando a segurança da nossa
família, até o tio Argus voltar e dar alguma resposta sobre essa Baronesa.
Não podemos nos tranquilizar nunca, afinal, não sabemos das intenções
dela, o motivo de querer nos ferir.
Concordamos com o Rael, e resolvemos mudar de assunto, pois a
gangue das diabas começou a nos olhar demais, como se estivessem
desconfiadas de algo. Só na reunião de quinta-feira saberão de tudo que está
acontecendo.
Logo nos dispersamos e ficamos juntos no sofá, até o horário do
jantar, Finalmente!
Devoro quase toda a mesa, e numa guerra com a Jolie, para
pegarmos os pãezinhos. Mas ela come tanto, que pede licença e corre, como
se estivesse prestes a vomitar.
— O que está acontecendo com ela? — Rael se levanta com o filho
de dois anos no colo, preocupado com a esposa.
— Como ainda não percebeu? — Elena o observa.
— Percebi o quê?
— Homens, viu. Mas acho que nem ela notou os sintomas ainda.
— Do que estão falando? Agora eu tenho bolas de cristais?
— Vai ficar sem saber! E vou atrás dela... — Elena empina o nariz e
sai, em direção a Jolie.
— Nem tente compreender. Mulheres! — Hoss diz e tenta cortar a
carne no prato, ele também está segurando no colo a bebê. Já o pequeno
Henry está ao seu lado, igual a um homenzinho, sentado com seu
banquinho, dando altura na cadeira para comer.
— Mulheres nada, vocês que são burros e não prestam a devida
atenção em nós.
— Não vem defender sua gangue de diabas não, Hera. É a líder
delas.
— E eu te perguntei algo, Vince? Entope essa boca de arroz, seu
insuportável!
— Isso aí, prima Hera — Maria fala, acomodada ao lado da Lila.
— Eu vou raspar a sua cabeça quando estiver dormindo, piolhenta.
— Isso não me afeta, tio Vince. — A pirralha dá de ombros e olha
para as suas unhas pintadas de rosa.
— Não? E começou a pintar as unhas depois que começou a falar
com seu novo amiguinho no celular, qual o nome? João?
— Tio Vince!
Hoss imediatamente ergue a cabeça e nos olha.
— Você está falando da minha filha, seu polaco azedo?
Sorrio e Lila me belisca por baixo da mesa.
— Nada, irmãozinho.
Maria me fuzila.
— Ele é meu amigo, que gosta de Dorama... — ela sussurra,
emburrada. — E não é para ficar hackeando o meu celular.
É mais fácil ela me pedir para ficar cego, mas vou poupá-la do
castigo do seu pai. Sou um tio bonzinho...
Após o jantar e após colocarem as crianças pequenas para
dormirem, todos ficaram conversando e bebendo na sala. Com muita
dificuldade, eu e a Lila conseguimos despistá-los e saímos discretos para a
sala de chás — isso, depois de eu ameaçá-la por mensagem, para me
encontrar, pois não aguento mais as suas provocações.
— Vince, está louco? Acho que a Maria percebeu.
— É? Não estou nem aí, quero beijar você e tocar nesse corpo —
digo, puxando-a para os meus braços e finalmente beijando a minha boca
preferida.
Mergulho a língua nela, como se estivesse num oral lento e
delicioso. Lila é recíproca. Ela abandona as muletas e me agarra, sem saber
onde parar com as suas mãos safadas. A minha já encontrou conforto, entre
a sua bunda e boceta.
— Que delícia... — geme, com meus dedos massageando o seu
clitóris por cima da calcinha molhada.
— Vai ficar ainda mais gostoso depois que eu a devorar.
Empurro-a no sofá, tiro a camisa e fico por cima com meu peso.
Volto a beijá-la, descendo os lábios para o decote dos seus peitos grandes.
Vou mamar esses manjares até ficar dormente!
Lila toca no meu peitoral, cruza a perna esquerda no meu quadril e
roça com força no meu pau, enquanto abro mais o seu vestido e caio de
boca nos seus peitos.
— Você de novo, com o inferno desse assunto do passado com a
Jolie!
De repente, as portas da sala são abertas com violência e
arregalamos olhos, incrédulos com as vozes estridentes e conhecidas.
— Eu não te perdoei merda nenhuma, parece que... AAAAAAAAA.
Antes que eu e Lila pudéssemos agir, ou pensar em nos esconder, é
tarde. Porra, muito tarde!
Lupita grita, e eu me levanto rapidamente de cima da Lila.
— QUE PORRA É ESSA?! — Paulo surta. Ele parece paralisado,
sem acreditar no que vê.
E há algo para se dizer nessa situação? Está mais do que explícito.
— Gente, o que está acontecendo aqui? Quem gritou? — Para o
show ficar melhor, a plateia chega, composta da Hera e da Jolie.
Nem precisa de muitos detalhes.
— Meu Deus, Vince! Dalila!
Elas colocam a mão na boca, vendo a Lila tampar os seios com a
almofada e abaixar a cabeça.
— EU VOU TE MATAR, SEU DESGRAÇADO!
— Paulo!
Ele tira a arma da cintura e começa a disparar na minha direção.
— PAULO, PELO AMOR DE DEUS, PARA! — Hera grita.
— TIO, NÃO FAÇA ISSO! VAI FERI-LO!
— Que caralho de disparos foram esses? — E por fim, meus irmãos
aparecem ligeiros, também tendo as suas próprias conclusões, entre mim e a
Lila. Eles ficam paralisados.
— Não, a gente não pode estar... — Rael e Hoss se olham
enfurecidos. — VINCE E DALILA?!
— EU VOU TE CASTRAR, CALATRONE!
Eu não consigo me explicar, ou sequer tento, pois o Paulo volta a
atirar, quase me acertando em cheio. O tiro passou roçando e ferindo o meu
ombro.
Porra, eu me fodi! E se eu ficar aqui, eles farão picadinho de mim,
principalmente a Jolie, que acaba de puxar a sua arma!
Só olho para a Dalila e corro para a janela, jogando-me entre os
arbustos do térreo e correndo, com todos querendo me matar!
Assim que o Vince pulou a janela, eu arrumei a minha roupa e me
levantei desesperada, suplicando para o meu tio parar de atirar! Rael, Hoss
e até o Morcego já foram atrás dele.
— Tio, para com isso!
— Paulo, se acalma...
— Calma um caralho! Vocês estavam se relacionando, Dalila? —
Ele me encara furioso.
Jolie também se aproxima, brava comigo.
— Vocês dois?! Eu não posso acreditar nisso!
— Eu posso, não é, e nunca foi segredo para ninguém os
sentimentos da Lila pelo Vince.
— HERA! — Jolie exclama contra ela.
— O que foi, é verdade, só vocês que não desconfiaram, ou
desconfiaram e preferiram não acreditar.
— Desconfiando ou não, isso não importa, somos adultos —
enfrento os três. — Adultos que sabem muito bem o que estão fazendo.
— E primos! — Jolie brada. — O Vince não poderia ter o
descaramento de te seduzir!
— Não somos exatamente primos, e ele não me seduziu.
— É claro que são. Todos nós, os Calatrone e os Borghi, somos
primos!
— Não, aquele Calatrone infeliz seduziu a minha filha Borghi!
— Tio, para com isso! Eu sou uma Calatrone também. E já disse
que ele não me seduziu.
— NÃO, VOCÊ É UMA BORGHI!
— Paulo, isso é ridículo, somos todos família.
— É, vai concordar com essa situação, Lupita?
— Por favor, vamos manter a calma — Elena pede.
— Eu só sei que vou matar aquele polaco azedo, porque ele fez
questão de cuidar o tempo inteiro da Lila! Eu confiei de olhos fechados
naquele traidor!
Meu Deus, que inferno!
— Quer saber, eu quem vou atrás desse infeliz! — Meu tio destrava
a arma de novo e arregalo os olhos.
— Paulo, não ouse dar meio passo! É melhor não sair nenhum
assassinato esta noite, fique aqui! — Jolie o ameaça com a arma dela, e ele
bufa. — E eu e a Lila vamos conversar a sós... entre mulheres...
— Eu converso primeiro com ela. — Hera é rápida e puxa o meu
braço, sem dar chances para a Jolie agir.
— Hera, Jolie estava com uma arma na mão, não tem medo do
perigo? — questiono, enquanto sou arrastada para longe.
— Olha, dona Lila, é melhor nem falar muito.
Dou de ombro, após pararmos no corredor.
— Eu e o Vince estamos apaixonados.
— Eu desconfiei de vocês, mas preferi fingir que nada estava
acontecendo, pois o Vince parecia ter um cérebro, além da cabeça de baixo
e que ele jamais concordaria em se relacionar com a sua própria prima. Me
enganei, principalmente a Jolie.
— Ele não teve culpa, eu o seduzi, eu o quis e consegui. Fui
persistente.
— Bonito né, Dalila?
— Hera, dá para entender o meu lado? Eu amo o Vince, sempre
amei e consegui ele!
— Tá, você conseguiu, mas isso não vai impedir do Rael, do Hoss e
nem do seu tio quererem matá-lo
— Por que eles têm que ser assim? Somos adultos.
— É família, e todos se metem um na vida do outro. Um inferno.
Foi assim comigo e Ezequiel, Hoss e Elena e Jolie e Rael.
— Ou seja, vamos ter que suportar tudo isso.
— E calados. É nessas horas que eu sinto falta do meu pai, vou ligar
imediatamente para ele. Ah, e é melhor ir para o seu quarto, depois a Jolie
sobe para acabar com a sua raça.
Arregalo os olhos, apavorada.
— Hera, converse com ela, por favor, ameniza o meu lado, explique
os meus motivos! Jolie é apavorante!
— Humm... tentarei, mas conhece a sua ex-madrasta, já vai rezando.
— Hera então vira as costas e me deixa sozinha.
Respiro fundo, quase em surto.
O que será agora de mim e do Vince? E me refiro à nossa relação...
a nós e a tudo que estávamos vivendo.
Não vou aceitar que acabe, que ele se afaste de mim.
Sem aguentar esse martírio, resolvo ir para o quarto do Vince,
esperá-lo, até ele aparecer e podermos ficar a sós, para conversarmos sobre
toda a situação.
Após correr igual um bandido sendo pego no flagra por roubar as
calcinhas da vizinha no varal, eu tento me esconder na academia, mas a
porra dos meus irmãos me acham. Cacete de azar, eu vou morrer e não vou
deixar nem um bastardo para herdar e repassar o meu pau bem-dotado para
as próximas gerações, um desperdício!
— NEM MAIS UM PASSO, SEU MONTE DE BOSTA! — Rael
berra e atira, fazendo-me parar e erguer as mãos.
— Vão se foder, filhos da puta! Quer me matar, então acerta esse
tiro no meu peito, seu vesgo do caralho!
— Não duvide, que antes de estourar seus miolos, eu corto essa
agulhinha entre as suas pernas! Como você pode?
— Dalila é nossa parente!
— Eu posso explicar — murmuro.
Rael tenta pular no meu pescoço, mas o Hoss é mais rápido e o
segura.
— Que caralho de descontrole é esse, Rael?
— Descontrole? Há cinco anos eu peguei o Vince e Dalila na
mesma posição comprometedora. E, agora, tudo vem à tona, a verdade!
— Mas o quê? Então isso faz anos? Desde que ela era adolescente,
seu desgraçado?
Hoss enlouquece pior do que o Rael e me pega pela camisa, quase
erguendo-me pelo colarinho.
— A gente devia deixar o Paulo te matar.
— V-vão me escutar? — indago com dificuldade, por estar sendo
asfixiado.
— E tem o que para explicar, seu verme?
Ele me larga, e eu massageio o meu pescoço.
— Que, primeiramente, foi ela que infernizou e me seduziu.
— Ah, e o coitadinho de 30 anos não resistiu?
— Eu resisti diversas vezes, só que aquela Borghi é uma diabinha
do inferno! Por que só crucificam o meu lado? Ela é uma peste.
— Porque você é o adulto mais velho e com muito mais experiência
do que essa menina de 22 anos! Nessa situação, devia ter falado conosco ou
com as mulheres, Jolie, Hera, Elena, pois elas dariam um jeito na Lila. Mas
não, seu arrombado, você a queria, por isso resistiu até onde podia, até não
aguentar mais e iludi-la.
Fecho a cara e os punhos, querendo socar os meus irmãos.
— Foda-se, já foi essa merda! Eu não sou moleque, e Lila é adulta.
E eu não estou iludindo ninguém.
Meus irmãos se olham.
— Não está pensando nas consequências. E se você tiver a
engravidado? E se não tiver sentimentos fortes por ela, se tudo isso for só
desejo sexual e quando tudo acabar, você magoá-la com um filho seu na
barriga?
Surto, louco para matar os dois, mas me seguram e eu os empurro.
— SAIAM DAQUI, SUMAM DA MINHA FRENTE!
— Precisa dar um jeito na sua vida, e não dessa forma.
Não respondo mais, e os dois param de falar, balançando a cabeça.
— Só pensa um pouco no que quer...
Então se retiram.
Eu chuto a parede e vou até o frigobar pegar uma cerveja, depois
entro embaixo do chuveiro da academia, para lavar a merda do ferimento
que o Paulo fez em mim. Aproveito para pensar no caos que está a minha
vida... e mal consigo culpar a Lila por isso.
Eu quero muito tomar jeito, ter uma esposa, uma família, igual
invejo os meus irmãos. Quero também ser amado e amar alguém. Mas
agora, não sei mais o que fazer. Os meus pensamentos, a minha prioridade,
são daquela garota loira, a minha garota loira. Não consigo deixá-la, não
consigo imaginar dias, meses, nem sequer horas ou minutos sem o seu
corpo, o seu beijo e a sua intensidade quente.
Fui literalmente laçado.
Vou de fininho para o meu quarto, me esconder para não ser morto e
desovado. Ou esse era o plano, até fechar a porta e ter uma bela surpresa ao
dar de cara com o Paulo, em pé, esperando-me como um pastor, que acaba
de descobrir que a sua filha não é mais virgem, pois se envolveu com um
marginal, bandido e assassino.
— Não quero confusão, Paulo.
— Pensasse nisso antes de me enganar.
— Eu não enganei ninguém, e isso tudo nem tem a ver com você!
— Não, tem a ver com a Lila e a felicidade dela. Sabe perfeitamente
de tudo que ela passou, das suas perdas e traumas.
— É eu quem sei, estive esse tempo todo a ajudando nesse processo!
Nunca alimentei más intenções ou tentei me aproveitar dela, caso esteja
pensando assim, porra! Estou a protegendo também! — Dou um passo
furioso e o enfrento. — Eu a impedi de ir atrás da mãe sozinha, de procurar
essa mulher e correr qualquer risco de vida! Eu estive lá quando ela quase
foi estuprada! Eu sempre estive me importando e a protegendo dos inimigos
Borghi!
Paulo fica sem reação.
— Quem fez isso? Quem quase a...
— Não importa mais, eu matei o filho da puta.
— É pouco! — Ele se descontrola, com os olhos vidrados.
— Eu concordo que foi, mas agora, há problemas maiores. A mãe
da Dalila.
— Não conversarei com você sobre isso! Não é problema seu!
— E é problema de quem? Da sua sobrinha? Se você não falar a
verdade para a Lila, ela nunca vai tirar essa vontade de encontrar a mãe!
Sendo que a própria quer matá-la!
— Não, não podemos dar mais essa decepção. Precisamos continuar
agindo em segredo e a protegendo. Tio Argus também concorda que é
melhor assim.
— Eu não concordo. A mãe dela é essa Baronesa, não é? Eu sei que
sim.
— CHEGA DE PERGUNTAS!
— Não, eu quero saber! — Inesperadamente, ouvimos uma voz
feminina surgir estridente no ambiente do quarto.
Eu e o Paulo arregalamos os olhos, após a Lila sair do outro lado do
hall, com os olhos vermelhos e os punhos fechados.
— Eu tenho o direito da verdade!
— Merda, Lila...
— Não se aproximem de mim! Todos estão mentindo, me
enganando! Eu ouvi tudo!
Meu coração começa a palpitar e me desespero ao vê-la segurar as
lágrimas.
— Por que eu não posso ser tratada como uma adulta? Por que eu
não posso saber a verdade que vocês escondem?! POR QUÊ?! NÃO SOU
UMA CRIANÇA!
— Fique calma, vamos conversar, por favor...
— Eu só quero saber a verdade da minha vida, tio Paulo! Eu mereço
saber, vocês não têm o direito de me esconder nada!
— Eu vou esperar você se acalmar para conversarmos.
— Estou calma, diga agora!
Paulo nega e ela se enfurece ainda mais.
— Não vou olhar na cara de vocês até me contarem tudo que
escondem! Os joguinhos de segredos acabaram esta noite!
Lila me dá um olhar de desprezo e passa por nós, com fúria, ódio.
Respiro fundo, praguejando a todos.
— Espero que esteja feliz, Vince.
— Eu, feliz? — Cerro os punhos, com vontade de destroçar a cara
dele. — Desde o começo eu pedi para você e a Jolie contarem tudo para
ela! Era melhor que a Lila sofresse já sabendo da verdade, do que descobrir
assim, da pior forma, pois só estamos mentindo para ela!
Paulo fica puto, passa a mão no rosto e sem querer mais discutir,
vira as costas e me deixa sozinho.
Covarde!
Que porra, eu quero sair socando essas paredes!
Capítulo 32
— Vince!
Eu levo um susto ao sair do banheiro, enrolada na toalha e dar de
cara com ele sentado na poltrona, como se não tivesse feito nada de errado.
— Sou eu mesmo, minha princesa loira.
— Some daqui!
— É assim que vai me tratar, melhor, me maltratar?
— Não gostou? Problema seu!
Vou até as minhas roupas e começo a me vestir, como se ele não
estivesse me observando.
— Assim é judiação... — resmunga, após eu vestir a calcinha e tirar
a toalha.
Fico seminua.
— Já estou de pau duro.
Pego o vestido e visto por último. Até que sinto a sua sombra atrás
das minhas costas, arrepiando-me.
— Não ouse tocar um dedo em mim.
— Judiação comigo. E sinto muito de verdade, Lila, mas nem há
tanto motivo para você ficar brava com todo mundo.
— O quê? — Viro-me furiosa.
— É melhor eu não falar muito, né?
— Não, seu... seu... — Bufo. — É a minha vida, Vince! Você sabe o
quanto eu gostaria de conhecer a minha mãe, pois ela poderia ser uma
pessoa boa, diferente...
— Eu sei, entretanto, se o seu tio não te disse nada, foi apenas para
te proteger. E eu também respeitei isso, por mais que não concordasse e
quisesse dizer a verdade.
— Eu duvido muito, você é outro que quer controlar a minha vida,
como se fosse o meu pai!
Vince fecha a cara.
— Pai é a minha mão bem dada na sua bunda! Eu me importo, me
preocupo e não quero ninguém te fazendo mal! Isso inclui, essa Baronesa
ser a sua mãe ou não! Ela pode querer te matar, por ser uma Borghi! Sabe
perfeitamente o quanto de inimigos o seu sobrenome tem, das pessoas que
adorariam te ferir para se vingar de uma das máfias mais bárbaras de
Portugal! Pensa, porra!
— Eu penso, eu tenho consciência disso!
— Mas ainda quer pagar para ver, eu te conheço.
Xingo baixinho e tento passar mancando por ele, mas Vince me
puxa para os seus braços e me segura firme. Fico até tonta.
— É importante para mim, sabe disso. Meu coração dói só de
imaginar alguém te fazendo mal. Se coloca no meu lugar.
— Eu me coloco, pois o meu coração também dói só de pensar em
te perder, de me rejeitar.
Ele limpa o meu rosto molhado pelas lágrimas.
— Antes de qualquer outro problema e antes de eu ser morto pelos
meus irmãos, as mulheres da casa e o seu tio, precisamos resolver sobre
nós. Meu braço ainda está doendo pelo tiro de raspão que o Paulo me deu.
— Meu Deus, ele te acertou? Tira a camisa! — ordeno.
— Está tudo bem já.
— Tira, Vince, anda!
— Peste mandona.
Desespero-me, e ele tira, para eu ver.
Vejo ser um ferimento grande, que deve estar doendo. Foi bem no
bíceps esquerdo.
— Se queria me ver sem roupa, era só avisar. — Ele toca malicioso
na minha cintura.
E realmente, que físico delicioso, atlético. Sua barriga tem muitos
gominhos definidos, vontade de lamber todos, até chegar lá embaixo...
— Não está precisando de um ponto?
— Não, nem foi tão profundo. Logo cicatriza. Já estou acostumado
a ter marcas assim no corpo.
Toco no peitoral dele, sem resistir a esse homem gostoso.
— Humm... mas eu vou pedir para o Dr. Arthur dar uma olhada.
— O teu rabo! — Ele me aperta forte na bunda, tirando-me suspiro
de dor.
— Droga! Dá para ser menos agressivo?
— Você já está muito melhor, não precisa mais desse arrombado
tocando no que é meu.
Meu coração vai nas alturas.
— No que é seu? — questiono e mordo o lábio, com vontade de
beijá-lo.
— É claro, no que é meu.
Não suporto e sorrio de felicidade.
— E o que pretende fazer comigo? Logo que sou sua?
— Não ser morto pela nossa família, nem é um absurdo assim eu
foder com a minha “prima”.
Não... ele disse isso mesmo?
— Meu Deus, o Vince de um mês atrás estaria se jogando da
primeira torre do castelo, se dissesse, ou sequer pensasse nessas palavras. O
que aconteceu com ele?
— É melhor nem fazer muitas perguntas, que nem eu me reconheço
mais. E a culpa é sua. Quero te levar num lugar mais tarde, longe de tudo
isso que está acontecendo.
— Onde?
— Você verá, apenas se arrume, pegue um casaco e me espere às
21h, perto da garagem principal.
— Ficarei ansiosa...
Ele me arrasta para mais perto do seu corpo e me beija de língua.
Fico com tesão, chego a forçá-lo para cairmos na cama, mas o Vince se
afasta de propósito e pisca, dizendo que nos veremos mais tarde.
Que maldade comigo. Estou ansiosa para saber onde ele vai me
levar. Até me animo mais, porém, não faço muita questão de sair do quarto
para ver a cara do povo. Eles também não me perturbam, fico quietinha na
minha, até dar o horário que o Vince marcou e eu me arrumar animada, para
sair de fininho e me encontrar com ele. Minha ansiedade já não tem
tamanho.
— Foi rápida, baby... — Sou pega de surpresa, por ele saindo de trás
do pinheiro. — Vem, o carro já está pronto para irmos.
Sigo-o até a garagem. Entramos no carro e ele dirige para fora das
muralhas do castelo Calatrone.
— Para onde vamos?
— Eu estava pensando em dar mais um pouco de emoção na sua
vida.
— Como assim?
— Você verá...
Ele sorri perverso e pisa no acelerador.
Eu paro o carro na calçada, ao lado do prédio abandonado e entrego
uma arma para a minha garota loira.
— O que está aprontando seu maluco?
— Faremos uma quase cobrança. E já está firmando bem esse
joelho, qualquer coisa é só meter bala.
— Sério, é uma cobrança? — Os olhos dela brilham.
— Sabia que a Jolie e Hera amam? Elas andam fazendo um inferno
nas nossas vidas para levá-las juntas nas cobranças dos devedores.
— Hum, adorei! Podemos fazer um grupo feminino de cobrança.
Eu reviro os olhos.
— Só nos sonhos de vocês. E vem, desce do carro.
Saio do veículo, vendo outro carro nosso na calçada. Eles já devem
estar com a preciosa vítima.
Lila me acompanha para dentro do prédio abandonado.
— Isso é assustador — murmura.
— Vai ficar pior, não se preocupe.
E realmente fica, após entrarmos no salão principal e encontrar a
nossa querida vítima amarrada na mesa, de cabeça para baixo. Também,
tem dois dos nossos caras ao lado dele.
Para essa missão era necessário a presença de um Calatrone, pois o
pai dele, que fechou o empréstimo conosco, fugiu. Porém, esqueceu o único
filho na cidade. Grande erro...
— Por favor, Calatrone, tenha misericórdia de mim.
— Vince... — Dalila fica fixada no devedor.
— Hoje será apenas uma ameaça, não teremos sangue.
— E quando não tem?
— Teria, se fosse o pai dele, pois é o infeliz que nos deve. Ele sim
eu mataria com dois tiros na fuça.
Chego perto do fantoche e dou um chute na sua cabeça, ouço até o
seu nariz estalar.
— Onde está o seu pai?
Ele se engasga no sangue.
— N-não sei, mas o dinheiro está aqui, por favor, não me machuque.
— Esse não é o nosso dinheiro, nem você é o nosso inadimplente.
Dalila para ao meu lado, assistindo a tudo. Eu conheço essa
sanguinária. Não nega o sangue de mafiosa que tem.
— Juro que não sei do meu pai.
— Ele está mentindo — Lila fala.
— É, eles mentem bem. Mas não podemos deixar que nenhum
devedor saia achando que pode se safar dos Calatrone. — Agacho-me, bem
pertinho dele. — Eu vou deixar você pensando, até começar a definhar e
resolver contar a verdade. Lembre-se que a sua pobre vida depende disso.
Volto mais tarde.
Ergo-me, aceno para os nossos soldados e peço para a Lila me
acompanhar.
— Eu pensei que você fosse matá-lo — ela comenta.
— Queria me ver fazendo isso?
— Não, mas sei que é o seu “trabalho”.
— E já parou para pensar nisso? Que eu não sou um mocinho?
Antes de entrarmos no carro, a minha manquinha perfeita me
empurra contra a porta, o que me surpreende.
— Lila...
— Nada me importa, apenas que você é meu e fim.
— Que garota feroz. — Sorrio. — E bem possessiva para o meu
gosto.
— Eu também sou sua, não sou? Ou estou livre para conhecer
qualquer outro homem?
E, de repente, surto e agarro os seus cabelos com força.
— Dalila, você quer ficar com essa bendita bunda ardendo?
Ela toca no meu peitoral, descendo a mão até o meu volume, que
aperta gostoso. Também pressiono a sua bunda redonda, com tesão de fodê-
la.
— Não respondeu à minha pergunta, Sr. Calatrone.
— Eu nem consigo responder a isso, ao menos pensar, pois só sinto
vontade de matar qualquer filho da puta que ouse te tocar.
A articulosa sorri.
— Então eu posso te pedir em namoro? Logo que sou sua.
Fico mais surpreso com a sua pergunta.
Um relacionamento, eu e a Lila?
Dalila percebe que paralisei.
— Não sei o que dizer... realmente preciso pensar sobre isso.
Ela afasta a sua mão, demonstrando mágoa e revolta.
— Pensar? O quanto já estamos juntos e envolvidos, até a nossa
família sabe agora. E achei que estivesse apaixonado por mim.
— Só me deixe pensar, ok? Ter a certeza do que eu quero.
Ela mexe o maxilar, adiante, me afasta, para entrar brava no carro.
Suspiro, passando a mão no cabelo e igualmente entrando. Não
falamos nada enquanto dirijo, só a música do rádio preenche o ambiente.
— Vamos para uma balada de confiança, nos divertir um pouco?
Ela dá de ombros.
— Tanto faz.
— Por favor, Lila, não quero que fique brava comigo. Você sabe
como eu sou...
— Eu não estou brava, só estou dando o seu tempo, como deseja.
Aperto o volante, nervoso com ela. E nem posso contestar o seu
comportamento.
Preciso ter a certeza de nós, para mergulhar de cabeça nisso tudo.
Não quero destruir a vida da Lila por causa de desejo sexual e por falta de
sentimentos. Ela é uma mulher de 22 anos, linda, inteligente e que passou
por tantas coisas, que merece ser feliz, ter alguém para amá-la e respeitá-la.
E esse cara pode não ser eu, por mais que isso me machuque.
Chegamos à balada e a obriguei a entrelaçar a mão na minha, até
nos acomodar no bar.
— Agora pode soltar... — resmunga, mas em vez disso, eu puxo a
sua banqueta para mais perto e prendo as suas pernas com as minhas.
A pestinha perde toda a pose de marrenta. Como eu gosto desse seu
jeito.
— Eu só quero a minha garota loira mais coladinha em mim.
— É? Mas ela não é sua ainda, o que significa que estou livre e
desimpedida.
Porra, ela gosta de me irritar e me fazer incorporar a bola de fogo do
meu irmão mais velho.
— Não me tira do sério, eu sei que você está tentando fazer isso
para me deixar puto.
Ela dá de ombros e faz o seu pedido de drink ao barman. Eu só peço
uma cerveja.
Durante a noite, por mais que a Lila não queira falar comigo, eu fico
olhando-a e tentando puxar assunto, provoco-a e até falo sacanagens, mas
ela é irredutível. Que inferno! Acabo me estressando de verdade.
— Vamos embora então, para você ficar feliz! — exclamo e me
levanto irritado.
— Com certeza eu ficarei!
— Sua peste!
— Seu idiota!
O idiota que ela ama e jamais viveria sem — penso, sem evitar.
Nós dois vamos embora emburrados.
Durante o caminho eu recebo uma ligação do Hoss.
— Vince, onde você está?!
— Indo para casa. O que quer?
— Erro de segurança! O castelo foi invadido e estamos cercados!
— O QUÊ?
— Não temos como escapar, esses filhos das putas estão
metralhando tudo. Parece ser essa infeliz de Baronesa, ela está gritando lá
fora pelo tio Argus.
— Merda, eu estou com a Lila e com certeza os arredores do castelo
vão estar cercados.
— Entre pelo túnel da praia e espere o Paulo, ele está chegando com
mais reforços.
— Ok.
Desligo o telefone e bato no volante.
— Vince, o que está acontecendo? Quem te ligou?
Noto a mão da Lila no meu braço e o quanto ela está preocupada.
— A tal Baronesa invadiu o castelo e está metralhando tudo.
— Meu Deus! Isso é sério? Estão todos bem?
— As crianças já devem estar nos esconderijos das passagens.
Preciso te deixar em segurança também. — Após dizer isso, acelero o
quanto eu posso... até chegar à praia ao norte do castelo.
Fui o percurso todo cuidando dos retrovisores, para ter certeza de
que não estava sendo seguido.
— Por que estamos nesse lugar? Já estou assustada.
— Tem uma passagem de fuga aqui, que leva ao castelo. Só
precisamos esperar o seu tio chegar para dar reforço e entrarmos.
Lila assente, e eu beijo a sua testa, tentando acalmá-la.
— Fique calma, vai dar tudo certo.
Ela chora.
— Isso é por minha causa? Essa Baronesa é a minha mãe?
— Juro, eu te prometo que não sei de nada, não posso nem dizer se
essa mulher louca é a sua mãe ou não.
— Eu nem sei mais o que pensar, só quero que todos estejam bem.
— Hoss disse que ela está atirando no castelo e chamando pelo
nosso tio Argus.
Escondo o carro por dentro da floresta e pego o meu pequeno
notebook dentro do porta-luvas.
— O que vai fazer?
— Imagino que o Luiz já tenha acionado nossos armamentos em
pontos estratégicos, mas ele não colocou em ação — murmuro, procurando
as câmeras do castelo. — Estão paradas, sendo que é só ativar e meter fogo
nesses filhos da puta.
— O que quer dizer com isso?
— Que alguma merda está acontecendo e tem o dedo do tio Argus, e
como sempre, nem eu e nem os meus irmãos estamos sabendo de nada.
Capaz de sermos uma marionete para algum plano dele. Pensa, Lila, faz
semanas que o meu tio viajou sem dizer para onde ia, sem dar notícias. E na
sua ausência, de repente, somos seguidos e quase mortos, descobrimos
sobre a tal Baronesa, de que ela pode ser a sua mãe e agora, o castelo é
invadido nesta facilidade?
Lila olha para o notebook, também tirando as suas próprias
conclusões dos infravermelhos, posicionados bem em cima dos traços em
movimentos e prontos para serem acionados.
— Você tem razão, está tudo posicionado para fuzilar esses
desgraçados. É o Luiz que controla isso?
— Sim, ele é bem mais do que um mero mordomo. É o segundo
olho do tio Argus, e o protetor do castelo. Tenho certeza de que aquele
velho sabe de todos os segredos do meu tio.
— E o que acha que pode ser tudo isso?
— Acho que o tio Argus quer essa Baronesa, e no meio disso, tem a
informação dela ser a sua possível mãe.
Sem esperar, o meu celular toca novamente. É um número
desconhecido.
— Alô?
— Vince, está com a Dalila?
— Tio Argus? Que benção, estávamos falando agorinha do senhor,
quanto tempo. Como vai a vida?
— Eu não estou com tempo para o seu humor.
— E está para o quê? Que droga toda é essa que está fodendo em
cima de nós? O que o senhor está fazendo? É algum tipo de jogo que
envolve você, essa baronesa e a Dalila?
— Não, isso tem bem a ver com você também, Vince.
— O quê?! — exclamo. — Qual o plot dessa vez? Já sei, eu não sou
filho dos meus pais? Não, espera, eu sou só filho do meu pai e essa
Baronesa é a minha mãe?
Dalila franze o cenho ao meu lado.
Noto o meu tio suspirar do outro lado da chamada.
— Eu havia esquecido de como você é ardiloso. E não, seus pais são
seus pais. A questão aqui, é que você não foi parar na cadeia à toa.
Baronesa fez isso, após saber que alguns arquivos tinham sido hackeados
do governo. Ela conseguiu ligar o episódio bem rapidinho a você e a mim,
pelo simples fato do seu sobrenome ser Calatrone.
— Então foi essa vagabunda que fodeu a minha vida por oito meses
naquele inferno?
— Foi só a ponta da vingança, que da mesma forma provocou um
incêndio na minha vida, na de Paulo e agora na de Dalila.
— Eu quero saber o que a Lila tem a ver com isso, ela é filha da
Baronesa? Explique-se, tio Argus!
— Vamos conversar em breve, apenas coloque a Lila dentro do
castelo.
— E onde o senhor está?
— Eu estou em todo lugar, filho, não se preocupe.
Meu tio então desliga, e eu volto a socar o volante com força.
Desligo o telefone e olho para a Megan.
Ela coloca as mãos na cintura e respira fundo.
— Estou com medo, Argus.
— Você já fugiu por vinte anos, chega disso.
— Adria pensava que eu estava morta, na verdade, ela tinha muita
certeza disso, pois foi a própria, com a ajuda do Toretto, que encomendaram
a minha morte.
— Eu só preciso que confie em mim, eu já te contei tudo. E agora,
pode viver em paz em Lisboa, pois a máfia Borghi não está mais aqui.
— Estou confiando cegamente no senhor, mas a Adria é sem
escrúpulos, fará de tudo para matar você também... ela jamais aceitou que a
trocasse pela Marina, a mãe da sua filha. E se ela foi amante do Toretto, era
só na intenção de te causar ciúmes. Me lembro muito bem disso.
— É, ela ferrou muito com a Marina por causa dessa obsessão. Que
merda o Vince foi fazer ao invadir os dados do governo, para ressuscitar
esse inferno de mulher. Eu sabia que tinha alguma coisa de errado com essa
prisão dele, pois o meu sobrinho é cuidadoso.
— Precisamos proteger a Dalila. Agora que a louca sabe que estou
viva, vai querer matá-la, por vingança.
— Ela está com o Vince, creio que segura. Já avisei ao Paulo.
— E o que faremos?
Eu pego uma arma e lhe entrego.
— Na hora certa você saberá.
Ela assente e me observa.
— Obrigada por me trazer de volta à minha terra. Marina me
protegeu esse tempo todo. Eu a ajudei a se tornar a rainha do tráfico. A
maior dona de cartéis da América Latina, porém, agora é a minha vez de
seguir o meu caminho em paz.
— Eu devia ter imaginado que tinha dedo daquela mulher nisso.
— Ela é foda demais, e tão poderosa que não sei nem como te
explicar a magnitude do seu poder. Fui a primeira soldada dela, até
conquistar a sua confiança e me tornar a sua primeira mão de comando.
— Marina e eu nos reencontramos na Colômbia.
— Eu vi como vocês se olharam, a intensidade, o calor e nem quero
imaginar o que fizeram depois que ficaram a sós... ainda assim, com toda
essa intensidade e paixão complicada de vocês, não entendo como podem
ser casados, ter uma filha e cada um viver separado pelo oceano atlântico.
— Não foi a minha escolha, ela quis assim e eu jamais abandonaria
os meus sobrinhos. Tudo o que eu faço é por eles, desde a morte do meu
irmão. E Marina sabe disso, e eu também sei o quanto essa mulher é
ambiciosa para ficar quieta em Portugal. Tanto, que se tornou a rainha do
sul. — Bufo, nervoso ao pensar nela. — E por mais que eu compreenda que
somos o oposto, ainda não a perdoo por abandonar a Hera, por sequer ter
sido presente no crescimento da nossa filha, tudo por poder, dinheiro. Ela
jamais terá o meu perdão.
Megan aperta o meu braço, olhando no fundo dos meus olhos.
— Mas ela sofre, Argus, e acho que muito. Já perdi as contas de
quantas vezes a peguei olhando emocionada para a sua foto e a da filha.
Vocês são a maior fraqueza daquela fortaleza de mulher.
— Ela sabe que não é tarde para voltar para a sua família, só que o
egoísmo, o orgulho, a impedem, pois o poder sempre estará em primeiro
lugar. São as escolhas... — Ergo-me do sofá e vejo as horas no relógio de
pulso. — E vamos, Megan, já está na hora de acabarmos com isso...
Paulo chega e abraça Lila, dizendo que está tudo bem. Ele trouxe
um exército de homens, como se estivéssemos numa guerra.
— Rael e eu já colocamos alguns soldados cercando todos os
hectares do castelo. Hoss e Morcego estão fazendo a proteção das entradas
principais.
Assinto e entramos enfileirados no túnel.
— Tio! — Lila resmunga, após o seu tio afastá-la de mim.
— Você não precisa andar junto desse infeliz.
— Como se isso fosse o mínimo do que já fizemos — ela reclama.
— Dalila! — Paulo exclama e me dá um chute na canela, sendo que
eu estava quieto.
— Ai, seu porra! Eu meto um tiro no meio da sua testa!
— Só tenta, seu imbecil!
— Parem vocês!
Lila me empurra e fica entre nós.
Eu chego numa das paredes que trancam o túnel e a movo de lugar
automaticamente pelo notebook.
— Onde esse túnel vai sair?
— Numa das passagens do castelo.
Eu pego o telefone e ligo para o Hoss.
— Já estão dentro? — ele pergunta.
— Quase chegando. Como estão as coisas aí?
— Cessaram o fogo, após conseguirmos matar três caras da
Baronesa. Minha vontade era de avançar e fazer de peneira essa mulher
encapetada.
— Calma, não faça nada, quando eu chegar conversamos. É muito
importante.
— Aguardaremos você.
Desligo o telefone e volto o foco para sairmos do túnel. Em dez
minutos chegamos à passagem de fuga. É espaçoso e falo para o Paulo
deixar que seus soldados preparem os armamentos aqui. Também explico
das outras saídas e pontos estratégicos para ficarem de vigia. Ele informa
para a sua segunda mão, em seguida, sobe comigo e com a Lila para o
castelo.
— Demoraram, porra! — Rael, Hoss e Morcego vem de encontro a
nós na sala.
— Viemos o mais rápido possível, onde está a Baronesa? — Paulo
pergunta.
— Lado esquerdo da janela da sala de estar, parece que a vaca pediu
mais reforços.
— Precisamos agir então, antes que ela desmorone tudo — digo,
ansioso para colocar essa mulher no saco.
— Primeiro, vamos deixar a Dalila com as outras mulheres — Rael
diz e olha para a Lila, que estava quieta, apenas nos observando.
— Onde elas estão?
— Presas, para não interferirem mais e foderem com o resto, pois a
Hera já queria pegar a arma e meter bala na cara da Baronesa.
— E as crianças?
— Na casa do Rael, com as babás e protegidas numa das passagens
de seguranças. Estamos monitorando, pois qualquer movimentação perto,
os homens estão permitidos de atirar.
— Também deixei a Lupi e os meus filhos seguros, essa mulher é
ardilosa e pode ter uma carta na manga. Ela não tomaria essa ação de ataque
ao castelo sem ter planejado tudo antes.
— E o que sabe, Paulo? — Hoss o confronta. — Que porra você e o
nosso tio Argus estão escondendo?
— Eu vou levar a Lila, vocês acalmem os nervos — Rael fala.
— Eu a levo — aviso, e imediatamente eles me olham, com vontade
de socar a minha cara.
— O que foi, porra?
— Não ouse chegar perto da minha sobrinha, Vince, ou faço buracos
nessa sua cara!
Filho de uma puta!
Só dou um olhar para a minha garota loira, e ela assente,
acompanhando o Rael. Depois que ele volta, peço uma reunião só com os
meus irmãos, tirando o arrombado do Paulo. E conto para eles sobre a
ligação do tio Argus e o que eu acho que está acontecendo.
— Eu tinha certeza de que tudo isso tinha dedo do tio Argus.
— Eu também, já que ele mandou a gente não avançar sem segunda
ordem — Morcego murmura. — E até o Luiz está fugindo de nos dizer
algo, aquele infeliz.
— Eu só quero matar essa Baronesa, e de uma forma bem lenta e
agonizante, por todos os meses que ela me fez ficar preso naquele inferno!
E o nosso tio sabia de tudo!
— Não se preocupe, terá a sua vingança, sem primeira ou segunda
ordem.
— Não, vamos aguardar o tio Argus, pois essa mulher é a ponta do
iceberg para nos ligar a uma das máfias mais poderosas da Europa. Se for
para matá-la, tem que ser limpo, sem maiores guerras, pois queremos paz
— Rael diz, e eu bufo, tendo que concordar, querendo ou não.
Hoss e Morcego também concordam.
— E qual o plano?
— Não sei, que tal a gente amarrar o Luiz e torturá-lo até nos contar
tudo?
— Vince!
— Que porra, aquele velho poderia nos dar as respostas que
buscamos!
— Vamos voltar para a sala e para o insuportável do Paulo, até a
segunda ordem do nosso tio, já que essa porra toda é culpa dele...
— Como sempre... — murmuramos juntos.
Rael me deixa com Jolie, Elena e Hera, mas antes de fechar a porta,
ele teve que ser rápido, pois a Jolie avançou furiosa e com sangue nos olhos
para matá-lo. Até perdi as contas de quantos adjetivos ela o xingou.
— Que raiva, o que esses brutamontes, desgraçados estão
pensando?! — Hera berra.
— Eles se acham os gostosões, salvadores da pátria, enquanto nós,
as mocinhas indefesas! — Elena também se mostra revoltada e enraivecida.
— Meu Deus, vocês respirem ou vão ter um ataque cardíaco daqui a
pouco — digo para elas.
— O que sabe, Lila? — Jolie segura os meus ombros com força. —
Comece a nos dizer agora mesmo.
Primeiramente, peço para elas se sentarem e, então, começo a dizer
tudo o que sei. Por fim, Jolie resmunga um palavrão e massageia as
têmporas.
— Meu Deus, o Argus está envolvido?!
— Nem é surpresa... — Jolie murmura.
— Eu sabia que tudo isso tinha dedo do meu pai! — Hera exclama.
— Faz algumas semanas que também descobri para onde ele foi.
— Onde? — questionamos em conjunto.
— Colômbia, atrás da minha... mãe... — ela fala entre os dentes. —
Porém, não sei o que isso tem a ver com essa Baronesa, que está nos
atacando.
— Pode ter a ver com ela ser a minha mãe.
— Não faz muito sentido, Lila, ou ela teria te exigido desde o início.
O que essa Baronesa quer mesmo é o Argus... — Elena conclui, e
concordamos, exceto pela Jolie, mas ela não diz o porquê do seu olhar
contrário, apenas me observa.
— Eu fico tão revoltada por você e o tio Paulo insistirem em me
esconderem as coisas — declaro, já farta de tudo isso.
— Eu não escondo nada, só tenho as minhas dúvidas, que não posso
dizer sem ter certeza. O que precisamos fazer agora é tentar arrombar essas
portas ou caçar alguma passagem. Pois aqui, eu não fico de braços
cruzados. Sinto que alguma coisa está prestes a acontecer lá embaixo...
— É o que sinto, que algo bem pior está para acontecer.
Arrepio-me, sem ainda ter pensado por esse lado.
Realmente, parece que só estamos esperando a hora certa do pior. E
eu também não quero ficar aqui de braços cruzados.
Fim
Olá, meus amores, obrigada por terem chegado até o final de Vince,
espero que tenham gostado. Esse foi o terceiro e último livro da série
Agiotas Em Chamas. Não será um adeus ao universo dos nossos agiotas,
mas um até breve, pois essa série me marcou de um jeito, que com certeza
eu quero retornar no futuro.
Não deixem de me acompanhar nas minhas redes sociais, para não
perderem datas, notícias e tudo mais sobre os meus próximos lançamentos.
Sua avaliação é muito importante para mim. Também, não deixem de
avaliar Vince e os livros anteriores. Grande beijo e nos vemos em outros
universos Perver.
INSTAGRAM: @AUTORARAFAELAPERVER
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Homem De Verdade (Livro 1 da Duologia Verdade)
Amor De Verdade (Livro 2 da Duologia Verdade)
Sereyma (Livro Único)
Me tenha (Livro 1 da Série Alencar)
Me Conquiste (Livro 2 da Série Alencar)
HOSS – Série Agiotas Em Chamas (Livro 1)
RAEL – Série Agiotas Em Chamas (Livro 2)
A Conselheira do CEO: (Livro Único)
PRÓLOGO
ANTON DEXTER
Eu estou de frente para o reflexo de um homem que hoje resta só a
carcaça podre de um covarde sem escrúpulos, sem compaixão, e que
mereceu todas as consequências possíveis deixadas por ela. Eu errei e estou
pagando por esses erros. A face é de orgulho, de angústia, e somente a
Kiara pode me arrancar dessa prisão. Eu preciso encontrar a minha esposa.
— Deveria já a ter superado, Anton. — Encaro a imagem da minha
mãe pelo espelho. Ela para bem atrás do meu ombro e aperta o meu braço.
— É um Dexter! — Ela nos observa. — Seja forte e esqueça aquela víbora.
Existem milhares de moças lindas aos teus pés.
— O que faz fora da capital, Lorenza? — Eu sou direto ao inclinar
o pescoço e perguntar de forma desprezível, cortando-a.
Ela, então, tira as mãos de mim e suspira o habitual ar de
superioridade.
— É óbvio. Eu vim para morar na fazenda. Aquele apartamento se
transformou num mar negro, úmido, gelado e sem vida. Além de eu estar
me sentindo solitária.
— Desde que não se meta nos meus negócios. Nem na decoração
da mansão, fique à vontade!
— Não mexer na decoração da mansão? Como assim? Lógico que
eu vou desinfetar cada canto possível. Já faz dois anos. Você tem que
reconstruir um novo futuro próspero. Ao lado de uma dama, uma milionária
da região.
— Eu já sou milionário. Herdei tudo do meu pai. Se não está
satisfeita com as coisas conforme a Kiara deixou, volte para a capital. Aqui
não é lugar para uma madame de joias e de salto.
— Me respeite, Anton. Eu ainda sou uma Dexter. Seu pai pode não
ter deixado as terras para mim, contudo, me deixou esse sobrenome. E
como a sua mãe, eu possuo o mesmo poder na capital e entre os povinhos
sem teto daquela vila imunda.
— Eu não tenho o dia todo para ficar te suportando! Com licença!
Eu volto a vestir o chapéu e viro as costas, deixando a minha mãe
sozinha no quarto.
— Sr. Anton. — Na sala, ao pisar no último degrau, Felícia, a
governanta vem rápido na minha direção. — Os capatazes; Jesuíta e Ratito
estão no varandão, aguardando-o.
— O que querem?
— Sinto muito, senhor, não falaram. E o café já está posto.
— Obrigado, Felícia. Volto já!
Eu passo a mão na barba, nervoso, e caminho até a porta principal.
Do lado de fora, encontro o Jesuíta e o Ratito conversando em sussurros. Os
dois, ao me verem, pigarreiam e recompõem-se sérios.
— Bom dia, patrão! — dizem.
— Bom dia. O que querem?
— Viemos trazer uma notícia do seu agrado. Vai gostar. Ouvimos
perto do rio, das fofoqueiras que lavavam roupa. É sobre uma mulher que
chegou na vila ontem de manhã.
Eles se entreolham, adiante, a minha face autoritária.
— Parece ser a patroa.
Meu peito se aperta, o coração acelera. Cerro os punhos, em furor.
— Confirmaram algo com certeza para poderem me procurar?
— Eu e o Ratito fomos conferir a informação no barraco do
Aquino, se era verdade ou não, mas o velho nos ameaçou com uma
garrucha. Não descobrimos nada. Fomos escorraçados.
— Quero que vigiem a fazenda do Padilho esta noite. Se Kiara
voltar, não irá para o barraco do avô. Ela vai para a casa daquele bêbado do
pai.
— Teremos que montar acampamento na cerca, as terras do
Padilho ficam do outro lado do rio, a duas horas.
— Eu não perguntei nada, Jesuíta! Faça o serviço de vocês e não
me voltem sem informações concretas!
— É claro, senhor Dexter! Somos seus homens de confiança!
— Podem se retirar!
Eles pedem licença e retiram-se. Eu permaneço bravo. Ela não
devia ter fugido. Kiara é a minha mulher. Seu lugar é ao meu lado. E se ela
voltou e estiver escondida no casarão do pai, a busco à força. Nem que eu
tenha que matar o Padilho! Eu comprei aquela menina! E caso contrário, ele
terá que me pagar o dobro!
— Seus irmãos vão voltar a morar na fazenda? — a minha mãe
questiona, na mesa do café, provando do chá. — Eles não entraram mais em
contato.
— Não! Eu não quero saber daqueles drogados me pedindo
dinheiro! Cansei de bancá-los!
— Eles são os seus irmãos, por mais que sejam de pais diferentes,
você tem o dever de ajudá-los, de prestar amparo. É rico, tem terras. Doe
metade para ambos.
Eu sou obrigado a rir. A minha mãe é uma madame sem menor
escrúpulo. Teve três filhos e quatro casamentos podres de rico. Eu sou o
filho do último casamento, o abandonado que herdou bens milionários do
pai e um sobrenome que ela tanto se gloria em manter para esnobar-se. Já
meus irmãos não tiveram a mesma “sorte”, eles perderam rios de dinheiro
com viagens internacionais, festas e drogas; viciaram-se em cocaína e
heroína. Nossa mãe não está nem aí para ninguém. Por pouco, não saiu
ganhando nesses quatro casamentos, exceto por Rangel Dexter, o meu
falecido pai. Ele não deixou um tostão sequer para a mercenária e me pediu
no leito de morte que eu honrasse o seu nome e sobrenome de respeito.
— A única coisa que eu vou fazer por eles, se caso me procurarem,
é interná-los! Não dou um real sequer! — Minha mãe fica em silêncio,
arqueia a sobrancelha e não contesta a minha autoridade. — E eu já vou.
Tenho que verificar o plantio dos eucaliptos urofilia. Contratei peões novos.
Volto no almoço. E não ouse maltratar as pessoas desta casa. Felícia ficará
de olho na senhora.
— Eu fui a mulher do dono. Eu ainda tenho a minha autonomia
como mãe. Não me rebaixe por empregados!
Prevejo que será um inferno ter a Lorenza de volta nessa fazenda.
Todavia, tenho problemas maiores na mente para me preocupar. Quero
terminar a verificação dos plantios antes das 13h30. Eu não vou conseguir
esperar os meus capatazes. Preciso saber logo se a Kiara retornou para
Montes Do Sol. Ela desapareceu de uma forma que nem os melhores
detetives do Brasil puderam encontrá-la. Dois anos sem informações. E
tudo graças a sua família a acobertando. Desgraçados!
— Está com a cabeça longe? — Gael, meu melhor amigo e gerente
rural, interroga, estendendo-me um copo de água fria. — Posso adivinhar?
É as fofocas da redondeza?
— O que sabe, Gael?
— Está circulando pela vila que a Kiara voltou.
— Jesuíta e Ratito já me contaram das fofocas.
— É certo, Anton. A informação saiu de dentro do casarão, pelos
próprios empregados do Padilho. Eu sei, porque foi o meu pai quem ouviu
de uma moça lá na venda.
— Como? É verdade?
— Sim!
Minha cara não esconde a vontade de pegar a caminhonete e ir
agora mesmo até aquelas terras. E é o que eu faço ao fechar a porta e ligar o
miolo da ignição.
— Anton, não seja louco! Pensa bem no que você vai fazer! —
Enquanto eu acelerava, Gael veio correndo veloz, apoiado no vidro. — Não
aja de cabeça quente! Aquela gente não é confiável!
A poeira vermelha se levanta e ele fica para trás. Eu sou capaz de
matar cada um daquela família cretina! Eles não vão me enganar! Eu não
aceito pagar de trouxa!
Círculo os hectares. E, em uma hora de rua de chão barrenta, chego
acelerando na frente do casarão alaranjado de dois andares. Eu pego a arma
e desço como um touro com sangue nos olhos. Três rapazes me avistam.
— É o Dexter! — um deles exclama para o outro, correndo até
mim.
— Onde está o Padilho?! Onde está o velho bêbado?! Me digam!
— Não é bem-vindo! Não tem permissão de pisar os pés nessas
ter...
Eu ergo a arma, e eles se calam.
— Não vou perguntar novamente! Chamem ele, ou eu faço
estragos!
— Não precisa fugir do controle, eu estou aqui, Dexter.
Ao sair dos fundos, o velho desce os degraus da varanda.
Sorridente.
— Quanto tempo não nos vemos, hein? Como vai?
— Eu quero a minha esposa! Eu sei que ela voltou! E não vão
escondê-la desta vez! Ou eu saio daqui com essa mulher, ou invado esta
propriedade com meus peões!
— Bom, teremos uma luta e tanto. Pois, na minha casa, você só
entra por cima do meu cadáver!
Furioso, eu mudo de direção e aponto a arma para ele, encarando a
expressão do Padilho.
— Saia do meu caminho, seu bêbado. Ou eu disparo!
— Então seja homem e dispare! Não é o todo poderoso, Dexter?
— O que é isso?! — A mãe de Kiara sai correndo de dentro da
casa, berrando e descendo os degraus. — Parem, pelo amor de Deus! O que
faz aqui, Anton? Abaixe essa droga! Não seja um maluco!
— Eu vim buscar a minha mulher! Eu sei que ela está escondida no
casarão! E eu a levarei!
— Ela não quer te ver!
Em instantes, algo dentro do meu peito salta, explodindo de terror.
Ela está aqui! Eu preciso vê-la! Eu preciso conversar. Eu... ela tem que
voltar a ser a minha esposa!
— Se a Kiara não vir comigo, eu vou embora para retornar com
todos os meus capatazes! Não me importo de destruir a casa de vocês atrás
dela! Nem de botar fogo!
— Por favor, Anton, não faça nada que você possa se arrepender
depois!
Cuspo no chão, com a arma firme na direção do Padilho.
— Sabem do que eu me arrependo? De ter comprado a filha de
vocês e de ela ter me abandonado sem achar que eu não cobraria o meu
dinheiro de volta! Afinal, eu tirei a família dos porcos da merda!
— Não nos culpe por ser um péssimo marido! Quando a
vendemos, ela era só uma menina inocente, virgem de malícias, boba! Não
tivemos culpa de você usá-la, magoá-la! De tratá-la como um objeto! Kiara
fugiu, pois estava cansada do comportamento humilhante da sua mãe e o
seu!
— E vocês a acobertaram!
— Já te dissemos milhares de vezes que não sabíamos! — Padilho
grita. — Jamais deixaria ela aqui, seu verme! Por mim, a imbecil é sua
mulher e o dinheiro é nosso! E ponto final! Não estou nem aí se é bom ou
ruim marido!
— Não diga isso, Padilho. Kiara é a nossa filha. Ela tem que lutar
pela sua felicidade, pela sua própria liberdade. Não quero que siga o
caminho da minha mãe, da sua mãe e nem o meu. Ela não é uma submissa.
— Cala a boca, Judite! Que se dane a felicidade! Eu não avisei que
o Dexter viria atrás dela ou do dinheiro se a imbecil continuasse na nossa
casa?! E não temos mais a quantia!
Eu chuto a terra, quase disparando.
— Que seja, me devolvem ela! Cansei dessa ladainha!
Judite fica trêmula.
— Calma, Anton. Por favor.
— Já fiquei calmo por dois anos! Eu quero a minha mulher agora!
— Eu já te disse que ela não quer te ver.
— Ótimo, então eu voltarei com os meus peões!
— NÃO PISARÁ OS PÉS NA MINHA CASA! — Padilho grita.
— OU EU CHAMAREI O DELEGADO DA REGIÃO PARA PRENDÊ-
LO!
— Não me desafie, seu bêbado!
— Sai daqui! Meus homens também estão armados!
Furioso, eu olho para as janelas do casarão de dois andares e sinto
que ela está me ouvindo, observando. Eu sei que ela está!
— VOCÊ VAI VOLTAR, KIARA! JAMAIS TE DEIXAREI EM
PAZ! — O tom de voz estridente é para que ela ouça em bom som. —
CHEGA DE FUGIR! CHEGA DE SE ESCONDER!
Judite dá um passo à frente, e Padilho ergue a cabeça.
— Sai das minhas terras, eu já mandei!
— Eu vou, mas voltarei, caso a minha mulher não apareça na
fazenda até meia-noite! Fiquem avisados! E a avisem!
Com o recado dado, eu viro as costas e volto para a caminhonete.
Se ela não aparecer, eu regressarei! E não será sozinho!
KIARA DEXTER
Após ouvir as suas palavras ameaçadoras, eu fecho as cortinas com
força e corro para o quarto chorando. O que eu faço, meu Deus? Me ajude,
eu já estou cansada! Eu me sento em prantos na cama e assim que se
passam dez minutos em que a caminhonete dele some, ouço passos ligeiros
na escada de madeira que range. Levanto o rosto, vendo a minha mãe surgir
no batente da porta.
— Kia, ele já se foi. Não chore. — Ela vem até mim.
— Eu não deveria ter voltado, mamãe.
— Foi o certo, você estava passando fome, fugindo como se fosse
uma bandida. E sendo escravizada para sustentar o seu filho. Isso é
inadmissível. Tem que enfrentar aquele homem de uma vez por todas para
ser feliz.
— Eu tenho medo dele... do que Dexter pode fazer caso descubra
do meu menino. Ele odeia crianças. Ele poderia tirá-lo de mim, para me
ameaçar. — Coloco a mão no rosto e choro. — E eu o mataria! Eu faria
uma loucura!
Mamãe me abraça, em seguida, segura a minha cabeça.
— Você tem que enfrentar aquele homem bruto, entendeu?
— Eu não quero! — Afasto-me. — Eu não vou conseguir! Isso é
tudo culpa do papai! Se ele não tivesse me vendido para aquele fazendeiro
bonito, o "Dexter rico", me induzido a crer que o Anton era um príncipe
encantado, cheio de amor, eu jamais, jamais teria me casado! Eu só tinha
dezessete anos! Ele me machucou, feriu os meus sentimentos! Ele e aquela
mãe maldosa! Os dois monstros!
— Se eu também soubesse que sofreria como sofreu, eu nunca
teria permitido o casamento vendido.
— Eu fui tão boba. Ele nunca me amou. Foram três anos de
inferno, desgraças. Eu recordo de tudo. E daquela noite... — Eu coloco a
mão na barriga e encaro a mamãe. — Inclusive daquela noite!
— É essas lembranças que vão te fazer ser forte, uma guerreira.
Lembre-se das humilhações da dona Lorenza. E de como o Anton te feriu.
Não é hora de se lamentar, seja do seu pai ou do Dexter. Agora você tem
um filho, um bebezinho que não tem culpa de ter vindo ao mundo. Pense
nele. — Minha mãe aponta para o berço inacabado e sujo, onde o Gieber
dorme feito um anjinho. — Precisa protegê-lo com todas as suas forças.
— Anton voltará... e se ele tirar o meu filho de mim por raiva?
— E o que pensa? Você vai até ele?
— Não sei. Eu tenho que pensar. Estou apavorada.
— Você escutou o que o Anton disse? Sobre estar te esperando na
fazenda até meia-noite?
— O-O quê? — Arregalo os olhos.
— Ele retornará com os seus capatazes caso você não apareça na
fazenda até meia-noite.
— Esse homem é um monstro! — Eu me levanto, com vontade de
chorar novamente. — O que eu faço, mãe?
— O recomendável era você ir até o posto de polícia da vila e
denunciá-lo pelo que fez. Mas o Delegado é amigo dele.
— Eu queria me vingar, fazer o Dexter sofrer tudo o que eu sofri
naquela mansão e durante esses dois anos fugindo.
— Só que se você for até lá, o Anton te deixará confinada a ele. E
eu não aceito que viva como uma submissa mandada, sem poder de decisão.
Não como eu sou para o seu pai. Eu quero que seja livre.
Mamãe se põe de pé com o seu corpo baixo e um pouco acima do
peso e beija-me de forma demorada na testa.
— Pense bem no que você vai fazer, por favor.
— Eu pensarei... obrigada por me proteger.
— Eu te amo, filha. Meu coração de mãe morreria por você e pelo
meu neto.
Retribuo o seu beijo, e ela se retira do quarto.
Sozinha, eu limpo o rosto molhado de lágrimas, solto o ar dos
meus pulmões e vou até o berço do meu menino.
— Eu não vou deixar nada de mau acontecer com você. — Toco no
seu rostinho delicado, sem evitar o choro. — Ouviu? É a única felicidade
que eu tenho. Ninguém te fará mal.
Eu sinto tanto nojo do Anton, tanto que esses dois anos não
puderam curar nem a ponta das feridas. Só me fez criar mais revolta e mais
raiva. Eu não esquecerei, jamais. Fugi dele na manhã seguinte daquela
atrocidade de noite. Rasga-me o peito só em lembrar, eu quase não consegui
chegar ao casarão dos meus pais. Minha intimidade ardia, minhas pernas
eram um peso morto. Eu andava descalça no meio da estrada, esperando
que, a qualquer momento, um carro viesse e passasse por cima de mim e da
minha cabeça. Pois a dor teria sido menor. Eu sofri tanto. Eu não queria vê-
lo, olhar nos seus olhos. Não acreditava no que havia feito. Eu não
acreditava que ele pudesse ser tão mal, que não pudesse sentir um pingo de
amor. E, meses depois, descobrir da gravidez foi duas vezes pior e mais
doloroso. Eu preferia a morte a voltar a morar grávida naquela mansão. Eu
saí de Montes Do Sol e sairia de novo se fosse para proteger o meu filho!
Ninguém daquela família o tocará! Nem saberá da sua existência! Eu lutarei
até o último fôlego de vida!
Dexter me deu um filho da pior forma que o homem que eu amava
poderia ter me dado, e não vou esperar a vingança de Deus. Só viverei
tranquila depois de ver ele e a sua mãe rastejando de tanto sofrimento! Eu
juro que farei todos eles comerem o pão que o diabo amassou! Eu os odeio!
Sofrerão toda essa dor que sinto!
Eu decidi ficar em casa, presa no quarto, mas meu pai subiu para
me obrigar a ir até a fazenda do Dexter e me "devolver" a ele. Porém,
quando eu disse que não ia, furioso, ele só não me bateu com o cinto porque
eu estava segurando o bebê no colo.
— Se você não vai voltar, continuará nesta casa só por mais um
dia! Eu não quero aquele Dexter vindo nas minhas terras me ameaçar!
Resolva os seus problemas sem mim! Não estou nem aí para você e para
essa criança! Você é propriedade dele! Não restituirei um centavo do
dinheiro da venda!
— Por favor, eu não quero voltar. Eu não sou propriedade daquele
homem. Me deixa ficar aqui com o meu filho? É o seu neto, olha o
tamanhinho dele, é só um bebê. Não tenho para onde ir, pai.
— Se conseguiu se virar sozinha por dois anos, ainda grávida e
com um recém-nascido, pode continuar sem a minha ajuda e o meu
dinheiro! Vocês dois são só duas bocas a mais! Procure a cabana caindo aos
pedaços do seu avô! Aquele velho saberá o que fazer com vocês dois.
Eu tento não chorar e apenas assinto com a cabeça.
— Não se preocupe, eu irei hoje mesmo!
— Ótimo! Já comece a organizar suas coisas, antes que eu faça! —
Após esbravejar bruto, ele vira as costas, abandonando-me em lágrimas e
com um aperto no coração.
Coloco o meu menino no berço, pego a única mala com todas as
nossas roupas e começo a reorganizá-la em meio aos prantos desesperado.
Eu quem não quero ficar nem mais um minuto aqui. Achei que o meu pai
tivesse mudado, que ele me aceitaria de volta com o bebê. Contudo, só
soube me tratar mal desde que cheguei. Jogando na minha cara que eu e o
meu filho somos só mais duas bocas para ele alimentar.
— Filha, pelo amor de Deus, não vai embora! — Eu desço os
degraus da escada com a mala e com o Gieber chorando nos braços
— Não se mete, Judite!
— Pare, Padilho! Você está expulsando a sua única filha e o seu
único neto de um ano! Pense, é só uma criança! Kiara precisa da nossa
ajuda!
— Se você continuar a me contestar, sua porca velha, eu te bato
com o cinto! E faça esse garoto calar esse berreiro!
Minha mãe chora. Eu balanço a cabeça, encarando-a e ninando o
Gieber.
— Está tudo bem, mamãe, eu me viro.
— Ah, querida, você sabe que por mim ficaria eternamente. Eu não
vou suportar te ver indo embora e levando esse bebê indefeso. Eu amo
vocês. Daria a minha vida pelos dois.
— Eu sei, eu te amo, mas preciso ir.
— Eu também te amo. Vem, a mãe te leva até a porta.
— Não demore, Judite! Te darei cinco minutos!
Na porta principal, assim que eu saio para fora, a minha mãe me
puxa ligeira para os degraus.
— Venha...
— Mãe?
Ela, então, me para ríspida e afobada.
— Escuta, um peão, filho de uma amiga minha da vila, está te
esperando nos estábulos. Já combinei tudo com eles, com medo de uma
hora ou outra o Padilho te expulsar e não ter para onde ir. O barraco do seu
avô nem telhado tem direito. Não é seguro para ambos.
— Voc...
— Não, Kiara, não temos tempo! Anda, vai logo! Assim que eu
tiver uma oportunidade de visitar vocês, eu irei! E acalme esse menino,
tente escondê-lo!
Ela me dá um beijo materno no rosto, outro no bebê e empurra-me
com a mala para, em seguida, voltar correndo para dentro do casarão. Eu
faço o que ela me mandou, sem olhar para trás. No caminho, eu deixo o
Gieber mais calado e com sono. Acho que ele entendeu que qualquer lugar
é melhor do que a casa do avô.
Quando eu chego ofegante à porta de correr do estábulo, cheia de
mato nos sapatos, eu vejo o tal rapaz me esperando ao lado de um cavalo de
cor marrom. Ele tem uma barba grande e espessa. Sua estrutura não é tão
alta, nem tão forte. É magro.
— Boa tarde, senhorita Kiara. — Ele vem até mim e sem estender
a mão, o homem de feição séria me cumprimenta. — Sou Francisco.
Assinto, observando-o.
— Sua mãe já deve ter lhe explicado tudo, me dê a mala.
— Para onde vai me levar? — Entrego a mala de mão, enquanto o
rapaz sobe no cavalo.
— Para a casa da minha madrasta. Ela mora sozinha no povoado
da vila, não se preocupe. Quer ajuda com a criança para subir?
— Não! Eu não vou largar o meu filho!
— Tudo bem. Tudo bem. Só coloque este lenço para que não seja
reconhecida. Todos sabem como é a esposa do senhor Dexter.
— Não precisa me lembrar de que um dia eu fui algo daquele
homem. E também, não o chame de senhor.
— Sim, senhora, desculpe-me.
Com a consciência pesada de ter sido grossa com o rapaz, eu pego
o lenço, enrolo na cabeça, só deixando a visão e o nariz para respirar. Então
subo no cavalo com dificuldade, mas sem a ajuda dele.
— Iremos rápidos. Aconselho a moça a se segurar bem.
Atrás das suas costas, eu abraço o meu menino com segurança e
vou assim durante as galopadas velozes conduzidas por Francisco até a vila.
Eu fico nervosa com a proximidade a cada minuto. Ele é rápido.
E em duas horas sem pausa, quando chegamos ao povoado, eu já
tive a sorte de reconhecer perto da igreja uma amada pessoa; a dona Maria,
a cozinheira da fazenda Dexter. Ela conversa com algumas senhoras, suas
amigas. Meu desejo todo era de descer, de dar um abraço apertado nela,
dizer que eu dou valor a cada comida gostosa sua, que eu sinto saudades e
que ela e Felícia foram um anjo enviado por Deus durante os meus três anos
de moradia naquela luxuosa mansão. E que Anton, o menino que ela viu
crescer, me machucou tão doloroso... que eu só não consegui me matar
porque o meu filho estava sendo gerado para me dar um segundo motivo de
viver.
— Senhorita Kiara, é aqui. — Francisco se refere a uma casinha de
madeira e de tijolos, onde para com o cavalo.
Não sei nem explicar a dor nas minhas ancas.
— Mas está tão perto da vila.
Não está perto, é praticamente na vila.
— Posso dizer que não tem lugar mais seguro. Confie em nós.
A essa altura, eu confio e acredito que ele e a minha mãe não
poderiam ter escolhido um lugar melhor para me esconder.
Francisco me apresentou a Rosa, a sua madrasta-mãe, que é uma
ex-cartomante. Ao me receber, ela foi um verdadeiro doce de pessoa. Sua
casa é simples, tem apenas quatro cômodos pequenos. A sala era o seu local
de trabalho, ainda tem coisas bem coloridas e piscantes ao redor — sem
falar das poltronas vermelhas. A cozinha tem uma mesa com duas cadeiras,
o quarto em que eu ficarei com o Gieber só cabe a cama de casal e uma
cômoda quebrada. O que já é muito do que eu queria, esperava e gostaria.
Agradeço a Rosa do fundo do meu coração.