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rige ’ SL doles 0 fensamento de Babin Si 4b 206. r? St-60 A intertextualidade Esse termo nfo aparece na vbia de Baki chega a falar em relagdes entre textos. Esse vocdbulo € introduzido como pertencente ao universo bakhtiniano por Julia Kristeva, em stia apresentagao de Bakhtin na Franga, publicada em 1967, na revista Critique. A sei Sta diz que, ps discurso literério nfo € um ponto, um sentido fix, mas um eru- zamento de superficies textuais, um didlogo de varias escrituras, uum cruzamento de citagdes. Como ela vai Chamar rex 0 que askhtin denomina emciads, ela acnba por designar por inter- textualidade a nagao de dialogismo. Roland Barthes vai difundir ‘o pensamento de Kristeva e, a partir dai, 0 termo intertextualidade passa.a substituir e palavra dialogismo, Qualquer relagio dialogica € denominada intertextualidade. Esse uso é equivocado, porque hi, em Bakhtin, uma distingao entre texto ¢ enunciado. Este ¢ um todo de sentido, marcado pelo acabamento, dado pela possibilidade de admitir uma réplica. Ele tem uma natureza dialégica. O enunciado ¢ uma posi¢ao assumida por um enunciador, é um sentido. O texto é a manitestagso co enunciado, é uma realidade imediata, dotada da materialidade que advém do fato de ser um conjunto de signos, O enunciado € da ordem do sentido; a texto, do dominio da munifestagto. ° enunciado nao é manifestado apenas verbaituenie, 0 que si que, para Bakhtin, 0 texto nao € exclusivamente verbal, pois € qualquer conjunto coerente de signos, seja qual for sua forma de expressdo (pictdrica, gestual, etc.). Sc ha uni dislinglo entre discurse © texte, por zer que hé relagaes dialégicas entre enunciades ¢ entre tentos. 2 flveofo mesa, 0 iamos din Fe rene 5B mrodugéo ve penvomente de Bakhtin Assim, deve-se chamer intertextualidade apenas a relagdes inbertextunlidade implica a existéncia. dew uma ae (relagdes entre enunciados), mas nem toda interdiscursividade implica uma intertextualidade. Por exemplo, quanda-um texto nao mostra, no seu fio, o discurso do outro, nao ha intertextua~ lidade, mas hé interdiscursividade. Poroutro lado, Bakhtin diz que hé relagdes entre textos ¢ dentro dos textos. [ss0 significa que se deve diferengar a intertextualidade da intratextualidade. Assim, quando duas vozes s4o mostradas no interior do texto, como, por exemplo, no discurso direto, no indireto ow no indireto livre, nao se deve falar em intertextualidade. Intertextualidade deveria sera denominagao de um tipo com- posicional de dialogismo: aquele em que hf no interior do texto 0 ‘encontro de duas materialidades linguisticas, de dois textos, Para que isso ocorra, ¢ preciso que um texto tenha existéncin indepen dente do texto que com ele dialoga. ‘Ora, (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, que, para ouviclas, muita vez desperto ce abro as janelas, pilido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto: a Via Laetea, como um pili aberto, cintila, E, a0 vir do sol, saudoso ¢ em pranto, ind as procuro pelo ou deserto. Js sian len cance SSRI eR Re ieee © dlalaciome 59 Direis agora: “Treslouvado amigo! ‘Que converses com elas? Que sentido ‘tem o que ¢las dizem, quando estio contigo?” E eu vos direi: “Amai para entend3-las! Pois s6 quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estretas.” (Olave Bilao, in Racker, 1061; 391) ‘Ouvir estrelas (Ora, diveis, ou last ojo k ‘que estés beirando a maluquive extrema, 5 ‘No enianto 0 certo ¢ que nfio perco 0 ensejo de ouvi-las nos programas de cinema, ‘Nato perco fita f...) Direis agora: Mas, enfim, meu caro, as estrelas que dizem? Que sentido tem suas frases de sabor to raro? Amigo, aprende inglés pars entend@-ta:, pois sb sahonds inglés s¢ tem ouvido capa de ouvir ¢ de entender estrelas. (Bastos Tigre, in Becker. 1961: 323) Otexto de Bastos igs ¢ uma parédia do de Bilac, pois inverte completamente 0 sentido do poema bilaquiano. Enquanto este é um texto sério, aquele & jocoso. No soneto de Bilac, estrela tem o sentido de “corpo celeste produtor e emissor de energia, com luz propria”, enquanto, node Rastns Tigre, estrela significa “atriz muits famosa”, Enquanto 0 texto bilaquiano ¢ uma construgio metaforica 60. Inireduxie ao pensemanta de Boktin que indica que aquele que ama divaga com a cabeca nas estrelas, 9 poema de Bastos Tigre tem um sentido literal. Por isso, como a maioria dos filmes ¢ estadunidense, basta saber inglés para entender o que as estrelas dizem, ‘Trata-se de intertextualidade, porque, no segundo soneto, encontram-se duas materialidades linguisticas, 0 texto de Bilac e o de Bastos Tigre. Além disso. 0 poema bilaquiano tem existencia independente do de Bastos Tigre. Poder-se-ia alargar um pouco esse conceito, para considerar também intertextualidade os casos de parddia e de estilizagdo de estilo, pois, dado que o estilo coriém purtivuiaridades wxtuais, ele também é da ordem da manifestagiio, do dominio da mate- rialidade linguistica. Terceiro concelto de dialogismo A subjetividade é constituida pelo conjunto de relagdes soviais participa o snjeifo, Por isso. em Bakhtin. o suieito ndo é assujeitado, ou seja, submisso as estruturas sociais, nem & uma subjetividade auldnoma em relagdo a sociedade. O principio geral do agir € que o sujeito atua em relagao aos ‘outros; 0 individuo constitui-se em relagdo ao outro, Isso significa que o dialogismo 6 0 principio de constituigo do individuo eo seu principio de apao. Vamos entender methor isso. A consciéncia constréi-se na comunicagio social, ou seja, na Sociedade. na Historia, Por isso, os contetidos que a formam a manifestam sto semi6ticos. Isso explica a importancia que tem a linguagem no projeto bakhtiniano de construgao de uma a sama stich

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