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A morada do educador: ética e cidadania The educator's living place: ethics and citizenship Asautl Catlos Feteita Resumo © artigo apresenta a moracia do educador em seu desdobramento ético e politico, Para tal, discute a definigéo do saber em abordagens relacionadas com a drea de conhecimento, relagdo intersubjetiva e @ tormagdo tundamental do educador, Apresenta principles e aprendizades para a compreensdo do ethos educacionel numa dialética pessivel da intetioridade ética e da exterioridade politica, Palavras-chave: Ethos; Etica; Cidadania ApsTRACT The crticle presents the educator's living place and it's political nd ethical development, To do so, it discusses the knowing definition in approaches related to the Knovledgement area, the intersubjective relation and the educator's basic formation. It presents principies and! learnings to the educational ethos understanding in a pessibie dialectics ot the ethic interior and the poltica! outsider, Keywords: Ethos; ethics: Citizenship | Professor do Departamento de Filosctia da Pontificia Universidace Cotdice ce Minas Gerais (Belo Hodzonte, Brasi}. E-mail: rmitolog@tera.com.by. Educngo em Revit, Belo Hotiznte, v.43, p, 57-72 jun, 2006 — 2 O nascimento larente do mundo: dé-se a partit da morada. E, Levinas (1980, p. 139) A morada do educador é ontologicamente ética e politica. Fugir a essa dimensio 6 trair-se enquanto pessoa. A articulagao desses dois termos, no ato de educar para a vida, convoca-nos a refletir sobre o prazer e a dor de conduzir o outro a caminhos possiveis do exercicio de sua liberdade. Nessa diregdo, aprender a se tornar sujeito exige persisténcia, pois o formar-se para a vida 6 a longo tempo. Educa-se durante a vida inteira e, ao educar, se 0 isco de errar. Faz parte da condigéo humana o erro. Ea Falha Porsc# que se registra a cada dia na tapegaria da oxisténcia. corr No entanto, a arte de educar pode se transformar em fruigao. A fruigao que se manifesta ao educador que se sente parte do jogo do mundo. Nesse sentido, ela 6 coletiva, pois esta ancorada na aprendizagem de valores possiveis. Nao haveria espago para um educador que pensasse somente em simesmo. Seu dever é para além das fronteiras do seu egoismo. E disposigao, realizagao em processo que, so aproveitado, transforma a escolha de ser educador em um ato generoso de solidariedade para com aqueles que 0 sao escolhidos. Nao se escolhe filhos, alunos, fiéis, colegas. Escolhe-se mediante um objetivo que ultrapasse a realizagao individual. Quando ha escolhas, ha possibilidades de acertos ¢ erros. Dessa forma, a ousadia de educar para além do agora se transforma em fruigao, pois, ao se compreender que a aprendizagem ética é a longo prazo, seu desdobramento no espago da cidade requer tempo. Assim, nao ha espaco para o educador que nao se permite ser autonomo, ser sujeito e livre. Nao hé frnigéo para quem nao cultive a sensibilidade de estar cuidando de sua formagao para wn desdobramento futuro. Ao oscolher essa ardua tarefa de educar, é necessdrio cuidar de interioridade e de sua extensao. Para que ocorra frnigao é preciso compromisso 2A tabula da Falna Persa esta ligada cos tapetes, © dissipulo desea aprender o tecer topetes ¢ o mesite 0 ensina. 0 discipulo tece tapstes pertfelies, mas o mesic os desmanehs, Faz vatios, © © Mestre conlinus desrnanchendo, Cansado de tecer tapeles, © ciscipulo volla-se pola © mestie @ diz: "Mestte, © senhor me ensinou ci tecer tapetes. Tego tapctes com grande perteigéo @ o senhor os desmancha. Fo: Gud" O mestie clna para © discipuo e diz; Perfelfo 86 Deus. Todo fapete persa pass. a tatha, Pare incicar que somes impertaitos" Be —— ocao er Revi, Bel oka, 43. 0. 7-72 de. 2008 com 0 outro, Nesse sentido, o lugar do educador expressa uma dialética possivel da interioridade ética ¢ de sua exterioridade politica. A Morapa bo Epucapor Amorada do educador, no que se refere a ética, necessita de um olhar que percorra os subterransos de nossas ascolhas e atitudes, retirando excessos que o impegam de ver o caminho. A verdadeira sabedoria consiste em aprender a olhar para o que jé passou, excluir excessos e dar forma ao contetido do vivido. ‘Ao se pensar a ética como morada do educador, deve-so cultivar 0 exercicio da reflexao, tomando por fundamento o que significa ser um sujeito autdnomo: aquele que ao escolher ser justo escolhe em relagao ao outro, A catogoria sujeito, como elemento indissociavel da autonomia moderna, remonta ao século XVIII. O século XIX aos poucos vai configurando-lhe outro estatuto na medida em que o projeto iluminista 6 interpelado em suas bases estruturantes por pensadores como Nietzsche, Marx e Freud — pouco lidos, antretanto, em sua época. O sujeito, com seu cardter autténomo, liga-se ao conceito de cultura, Segundo Manfredo Aratijo de Oliveira (1995, p. 119-120), aautonomia ¢ conceito-chave da modernidade, apesar de sex também categoria com uma longa histéria. Em sua origem grega, ela sipnificou a meta das cidades-estados de poderem determina suas questies pedptias na independéncia de poderes estranhos. Na modernidade, na época das guerras de religiao, ela exprimia a pretensio de uma autodeterminacio religiosa-confessional. Kant a introduziu na esfeca da retlexto filosdfica e através disto lhe deu a determinidade de exprimir aquilo que o homem tem de mais proprio ¢ que, assim, & distingue dos demais seres. A autonomia significa, a partir de entio, a capacidade ¢ a tarefa que caracteriza o homem como homem, ou seja, de autodeterminar-se ¢ de autoconsteuir-se em acordo com as regras de sua prdpria cazio. A escola passa a ser qualificada como sendo o espaco de realizagao do ser humano, que s0 se concretiza no exercicio de sna agao ética. Esse exercicio pressupée a liberdade. E no século XVIII que a atencdo dada a escola ¢ A educacao volta-se para a acéo de ensinar. Kant (1724-1804), em seu ensaio Sobre a Podlagogia, ontondia a educagdo como o cuidado da infancia do ser humano (a conservagao, o trato), desdobrando-se na disciplina ena instrug’o dacagn om Revista, Goa Hataont, 43, $7.72 jx, 2006 53 que alicergam a formac&o. Afirmava que um dos problemas da educagao seria o de conciliar a submissio ao constrangimento das leis com 0 exercicio da liberdade (Kant, 2002, p. 32]. Ainda hoje aquelas trés categorias, cuidado, disciplina e instrugao sao fundamentais para a formagao do sujeito livre. Ao se pensar na educagao como um exercicio da liberdade é preciso estar aberto a valores novos @ a pratica da reflexao. Todavia, hé o desafio do exercicio da pratica da liberdade no espago da escola. Se as instituigdes de formagao (familia, religido, escola etc.} forem organizadas apenas como portadoras de normas que estabelecem limites, sem didlogo e reconhecimento das diferengas, a violéncia se objetiva. Ela é oreflexo do que se vive quotidianamente, Nesse sentido, ha uma necessidade intrinseca de se procurar educar para a vida, nao se eximindo do conflito. A convivéncia como outro implica reciprocidade, @ 0 conflito esté subjacente ao processo de ensinofaprendizagem. Oconflito, considerado como desordem, pode possibilitar a instauragéo de wma ordem imposta que poder nfo estar centrada em nenhuma das partes. Ele nao se resolve pelo estabelecimento de um ponto comum que satisfaga proviséria e parcialmente as partes envolvidas, mas sim numa construgao que permita a efetivagao de uma lei comum. O educando, ao interiorizar as normas morais, decide sobre sua aceitagao ou recusa, instaura dentro de si o que representa um processo de avaliar a decisao a ser tomada. Nesse processo, a recusa da norma instituida pode criar situagées de conflito. Segundo Lima Vaz (1988, p. 31), “o conflito deve pois ser caractorizado fundamentalmente como conflito de valores e nao como revolta do individuo contre a lei”. Por ser considerada necesséria a organizagao socio-cultural, a mudanga da lei moral sé ocorre quando a transyressao ao que est posto implica num processo radical de transformagao dos valores. Recusar normas impostas e procurar novas possibilidades de estar bem no mundo, consigo mesmo e com outro, é 0 ideal da agao ética, ¥ nas fronteiras do relacionamento com o outro que o conflito pode se instaurar num processo imperativo da norma moral e, nesse contexto, 6 preciso criar a disposicao para se refletir sobre a agao ética e moral, tendo em vista o mundo da cultura no qual o individuo esta inserido. Paralelamente, ha que ce tentar compreender 0 processo de interiorizagao/exteriorizagéo danorma. soa om Rei, Bo azote, 6 43. p. 7-72 ce 2008 Conflitos podem possibilitar o surgimento de uma nova ética quo valorize o ser humano ¢ expresse o respeito as diferengas, O outro, como pertencente a espécie humana, passa a ser o limite da nao-violéncia. O sujeito abre-se ao didlogo exigindo justiga, respeito e solidariedade para que a convivéncia seja possivel. Assim, a aprendizagem de valores na escola depende do cultivo de principios que faculte reconhecer no outro a sua humanidade; dai o exercicio do cuidado de se educar para a vida e nao para algumas instituigdes. O educador, no espago da escola que demanda a formagao de valores, deve procurar ser um profissional sem certozas, despertando no outro o respeito miituo. a solidariedade, a procura incessante pela justica, mediante um didlogo face & presenca do mistério que é 0 outro. Como afirma Lévinas (1982, p. 87-88), a ética nfo aparece como suplemento de uma base existencial prévia; é 1a ética catendida como responsabilidade que se di o préprio né do subjetivo. A subjetividade nfo é um para si, ela é para 0 outro. A cesponsabilidade como responsabilidade por outzem, portanto, como responsabilidade por aquilo que néo fui eu que fiz, ou aio me diz cespeita, ou que precisamente me diz cespeito, é por mim abordado como rosto. Parte mais expressiva do outro. O ato de se educar para a vida 6 um processo e exige sabedoria, Para que esse processo ocorra, 6 necessério comproender a educagao como arte, como bem preconizou Kant, no século XVII, quando afirmava que “a educagao é uma arte, cuja pratica deve ser aperfeigoada por varias geragdas” (Kant, 2002, p. 19). Portanto, a arte de educar carece de seu tempo, carece de um tempo de Jonga duragév que ordinariamente chamamos de formacao. Nesse tempo, ocultivo dos saberes significa saborear aprendizagens gostosas e desgostosas que se inscrevem na meméria e fundam no tempo uma morada: a morada do educador, lugar da articulagao de saberes, O saber enquanto sapere, que em latim tem o sentido de ter sabor, pode ser compreendido na vida do educado a partir da qualificagio de saboroso. Entao, uma triade de sabores — constituida pelo saber de érea, saber intersubjetivo e saber fundamental — atua, visando ao fim iltimo da educagao:a aprendizagem. Aprendizagem compreendida como uma mudanca de situagao que possibilite ao ser humano uma nova forma de compreensio do mundo. ‘Edvcec’o om Revista, Belo Marionte,v. 43. p. 57-92. fon, 2006, —________ nL) O saber de area pode ser compreendido como saber técnico ou de contevido, buscando seu fundamento em regras para a area de conhecimento a qual se vincula. Esse tipo de saber, na vida do educador, concentra-se no dominio de contetido que ele ministra. Pressupée que a area de conhecimento do educador soja a de sua formagao, enriquecida mediante pesquisas, estudos, métodos didaticos etc. Enfim, um saber que permita um didlogo. O saber intersubjetivo 6 aquele que pressupée uma relagao possivel com os demais. Depende de um saber lingitisticamente articulado que exige interagao e reciprocidade, Para o educador, a linguagem, no que tange ao ato de educar, precisa estar em harmonia com a fase de desenvolvimento do educando. Nessa direcao, o educador necessita adequar o conteddo a uma linguagem que possibilite compreensia A interagao desses dois saberes concretiza-se em outro saber que atravessa 0 ultrapassa as instituigdes de formacao: o saber fundamental. E no territério do saber fundamental que esta reflexao se inscrave, esculpe a morada do educador e abre novas possibilidades no horizonte da liberdade do estar como outro, Assim, a morada do educador ira pressupor prineipios ligados a ética, que se tornam pilares para se educar para a vida. Os principios so apenas unidades de raferéncia que possibilitam ao educador agir conforme sua consciéncia, Pode-se assinalar quatro principios na ago ética do sujeito contemporaneo: o da justiga, o da nao-violéncia, o da solidariedade e o da responsabilidade. No principio da justiga, o ideal inspira-se no respeito ao outro, igualado na espécie, mas que se diferencia em sua singularidade. E através do senso de justiga, existente entre os homens, que a lei moral e a ética se objetivam. O sujeito exerce sua autonomia, tendo a liberdade como possibilidade de escolha, ao se tomar decisées. Nao existe modelo de justiga, nem caminhos a serem percorridos para estabelecer seus parametros. O prinefpio da justiga pode se aliar ao da igualdade de condigées de sobrevivéncia. Isso implica a exigéncia permanente de direitos e de oportumidades sociais. Dessa forma, a justiga torna-se um critério para avaliar atos, 0 que nos leva a compreender desigualdades nas relacdes entre sujeitos, levando o ser humano ao exercicio da recusa a qualquer tipo de violéncia. O principio da nao-violéncia coloca a possibilidade de se respeitar e preservar as diferencas. Gera uma atitude de reconhecimento do outro como um ser que perience a espécie humana. O outro 6 compreendido como sendo © proximo, & FE fucogio om Reis, Belo Horizot, v.83, p, SPP de, 2086 © préximo pode sex aquele [e €] aquele que me é descanhecido, me enfrenta face a face. E uma telaco de parentesco fora de qualquer Diologia, contra qualquer Logica. Nao pelo fato de o préximo ser reconhecido como pertencente ap mesmo género que ele me concerne. E precisamente por ser 0 outro. A comunhio com ele comega na minha obrigacio para com ele (Lopes qpid Ferreira, 2002, p. 39). Dessa maneira, 0 outro convoca-me a recusar qualquer forma de violéncia, pois o proximo 6 um ser humano qualquer; pode ser o passante, 0 turista, o homem da vida urbana, da vida rural, o mestre, o aluno, o estranho. O outro 60 primeiro que passa e toca meus sentidos, é o primeiro que chega. Por nao ser permitido violar sua integridade fisica e psiquica, é preciso aprender a nao tornar o outro um objeto, uma coisa, e nao usar a forga como maecanismo de coergao. A ética, enquanto forma de interac4o com o outro, abre campo aos sujeitos para a construgao e o exercicio da solidariedade para com o préximo, © principio da solidariedade funda-se em um dever; ela nao designa um dever. O gesto de ser solidario liga-se ao respsito a diferenga, em que o ser humano aprende a perceber que o outro também pertence ao mundo. O ‘ao solidaria pressuposto da solidariedade 6a interdependéncia humana, A a liga-se 4 construgio do sujeito face a ideais democraticos e a cidadania; envolve o outro, independente de suas escolhas, pois o ser humano é livre na tomada de decisdes. O principio de solidariedade, ao expressar rosponsabilidade para com 0 outro, sem esperar reciprocidade, faz. lembrar que “o eu tem sempre uma responsabilidade a mais do que todos os outros” (Lévinas, 1982, p. 91). O prinefpio da responsabilidade leva a perceber no outro a condigao humana, como também abre uma possibilidade de respeitar as coisas qua estéo no mundo, pois essas so relacionam com o meu préximo. A responsabilidade pela natureza do mundo esté em se conceber dentro dele um outro que difere de um ou e necesita aprender que. além da convivéncia, 6 preciso preservar o que 4 de todos. Assim, é necessario cultivar o respeito polo outro em sua singularidade, para que se concretizem os ideais de sobrevivéncia dos seres ¢ a possibilidade de viver bem. Esses principios assumidos na acéo ética expressam a concepgéo do outro como rosta, no dizer de Lévinas, quando afirma que “o acesso ao rosto 6, num primeiro momento, ético; quando se vé o nariz, os olhos, a testa, um queixo, que podem ser descritos, é que nos voltamos para outrem como daca am Bovis, Belov, «43, p, S772, wu, 200 3 para um objeto, A melhor maneira de encontrar outrem é nem sequer atentar na cor dos olhos. Quando se observa a cor dos olhos néo se esté em relagio social com outrem. A relagao com o rosto pode, sem davida, ser dominada pela percepciio, mas o que é especificamente rosto é 0 que mao se reduz a ele” (Nunes apud Ferreira, p. 40). Ea partir do ato de se educar que se visualiza o rosto, sem territério. Mas um rosto que convida & construgao de um mundo capaz de atender aos principios da ética. Esses principios podem levar o educador a uma reflexéo que ultrapasse o saber de area, estabelecendo uma articulagao entre o saber intersubjetivo e o fimdamental, numa construgéo e exigéncia de novos direitos a partir do cultivo de relagées sociais. A MORADA DA ETICA O termo ética vem do grego ethos, que significa casa, morada, lugar, e remete a idéia de costumes. Para se entender a ética como morada do educador e do préprio ser humano, é necessario ponsé-la como sendo o corpo, o pais, a escola e o mundo. O lugar da liberdade. Assim, ao se esculpir no tempo vivido uma forma, a percepgio do mundo se desvela no corpo, corpo como presenga imediata que expressa modiagées. Corpo que é presenga no mundo ¢ se torna o fundamento do cuidado. A palavra “cuidado”, em sua forma mais antiga, significa cura (em latim se escrevia cera) e era usada num contexto de relagdes de amor e de amizade. Expressava atitude de cuidado, de desvelo, de preocupagao e de inquietagao pela pessoa amada ou por um objeto de estimacio. Ou ainda no sentido de cogitare-cogitatus e sua corruptela coyedar, coidar, cuidar. O sentido de cogilare-cogitatus 6 0 mesmo de cura: cogitar, pensar, colocar atengao, mostrar interesse, revelar uma atitude de desvelo e de preocupagao. O cuidado somente surge quando a oxisténcia de alguém tem importancia para mim. Passo entao a me dedicar acle; disponho-me a participar de seu destino, de sua busca, de seu sofrimento e de seu sucesso, enfim, de sua vida" (Boff, 1999, p. 91). Da atitude de cuidar de nés mesmos ¢ do outro infere-se uma ética do cuidado. O corpo 6 uma totalidade que pertence ao mundo e exige que o educador cultive a relagdo com o outro no sentido de preservar o respeito a condigéo humana. Por isso, ele se curva numa atitude de humildade e disposigao tentando despertar no outro a possibilidade do exercicio reflexivo da razao. E na ética do cuidado que os corpos aprendem a relag&o de respeito SH tito Rit, le Hore, x 4. 5.72 de. 2008 ede solidariedade. Aprender no sentido de ser convocado a mudara situago tentar, na medida do possivel, escolher a melhor diregao. O cultivo de aprendizados pede passagem para habitar essa morada do homem. Destacam- se trés aprendizados: costume, diferenga e convivéncia. O aprendizado dos costumes permite a formagao de habitos a partir de atividades rotineiras exigidas no meio em que se vive. O cuidado, ao se colocar limites, torma-se o elemento essencial para a formagao de uma unidade de referéncia possivel, que podera abrir caminhos aquele que est sendo educado para que possa refletir sobre suas agdes ao escolher, No aprendizado dos costumes, os termos ética e moral se equivalem. Moral significa em latim mos ou mores, que remete a habits. Esses sdo adquiridos no decorrer do existir dos sujeitos no mundo ou nos modos que -vao adquirindo e repraduzindo nas agées, Dai o carater histérico da formagao moral. O aprendizado da diferenca demonstra a necessidade de ressaltar que a simples existéncia moral nao significa a presenga explicila de uma ética. Um grupo pode existir tendo a moral como principio normativo para 0 agir dos sujeitos, sem despertar neles a reflexéo necessaria para uma tomada de decisées. No campo da ética, compreender diversidades oulturais implica respeilar valores que sao diferentes, de modo que, deparado o fendmeno da pluralidade cultural, surge a questao da pluralidade das agoes éticas, o que encaminha 0 ato de educar para percepgao e respeito as diferencas. © aprendizado da convivéncia desdobra-se em duas vias complementares: a descoberta progressiva do outro e a participagio em projetos para solugao de conflitos. Esse aprendizado desterritorializa 0 outro e o reconhece como pertencente 4 humanidade e implica na recusa da violéncia. A violéncia entendida como sendo a coisificagao do sujeito, nio permitindo que o mesmo seja um ser que possui desejos, projetos, pertencimento ao mundo. Essa formagao tem mostrado a necessidade do exercicio da reflexao para se compreender o campo da aprendizagem de valores. Cuidar da casa, da morada, do nosso lugar no mundo significa cultivar e aprender, a partir da formagao de habitos, a relagéo com o cutro. Da relacao entre o sujeito @ o outro, a reflexdo ética emerge como um de seus elementos constituintes. O outro se torna uma referéncia do agir, por demandar cuidado. Uma vez que, no dizer de Umberto Eco (1999, p. tuoi en iB Heer, 9.5070 2006 $8 90), “quando o outro entra em cena nasce a ética”. Todavia, 6 no exercicio da autonomia do sujeito que a norma se interioriza, que se reflete sobre ela e que se escolhe engendrar, em sua atitude, a busca pela justiga. O ato de sar justo pressupée presidir, avaliar o julgar, buscando hospedar no interior do sujeito unidades constitutivas para referenciar sua agao. £ através do senso de justica que a lei moral ¢ a ética se objetivam e possibilitam ao sujeito o exercicio da autonomia, tendo a liberdade como possibilidade de escolha para se tentar tomar a melhor decisdo, No entanto, a justiga é um prinefpio que deve ser cultivado e aprendido. numa procura constante por sor justo, o que nos lembra o simbolo da justiga com os olhos vendados e a afirmagao de Adomo de que “o lenco nos ollos da justica néo significa apenas que nao se dove interferir em seu curso, mas que ela néo nasceu da liberdade” (Adorno apud Romano, 1981, p. 39). Se a ética 6a morada da liberdade, ela é a construgao do agir justo. Em nossas escolhas, o imperativo de ser justo deve ser o indicador para uma reflexdo que possa permitir a diferenga de idéias, 0 conflito e o estabelecimento de regras para uma boa convivéncia, Nao sem razdo, a prilica dos sem-lei ea arbitrariedade da vontade som o exercicio do didlogo recebem o nome de tirania. Quando ocorre umia reflex4o no sentido de se trazer 4 tona os termos ética e educagao, é necessério pontuar a importancia do educador que, nas instituigdes de formagao como familia, religiao, escola e estado, busca caminhos possiveis para educar além de seu territério. Nessa diregao, quando se constata a crise de valores na sociedade contemporanea, deve-se lembrar que 0 processo de aprendizagem é a longo prazo e que é preciso estabelecer indagagées no interior daquelas instituigdes de formagao, tais como: 0 que tem sido realizado para a formagao da autonomia? Como se constitui a agéo de trabalho educacional nas escolas? Hé diélogo? Tam-se reforgado 0 processo de aprendizagem do respeito em relagao ao outro? Cria-se possibilidade para o exercicio da democracia? ‘Talvez nao tenham sido criadas condigées para cuidarmos de nés © dos outros, pelo habito de nao se estranhar o exercicio da violéncia a que somos submetidos, ou pela incapacidade de distingao do que é justo ou injusto. Quando se aventura a refletir no campo da ética, é preciso indagara respeito do nosso lugar no mundo e de nossas agées em relagao aos nossos semelhantes. Assim, quando atitudes arbitrérias de um pais afirmam que se vai levar a liberdade a outras populagées, 4 preciso indagar sobre o que 6a 46 — -_— Edvcogdo em Resta, Bolo Hocznat,v. 43, p. $7-72, doz, 2008 liberdade. Quando atitudes de institnigdes de formagio arbitrariamento estabelecem uma norma dizendo sera favor do bem comum, é preciso indagar sobre o que 6 o bem comum-nessas circunstincias. Quando, na relag&o com © outro, estabelece-se a norma do cumpra-se, 6 necessario osclarecer seu sentido no projeto de construgao da sociedade. E preciso indagar a que ea quem serve a norma. Mas, como aprender posturas democraticas se 0 exercicio das instituigées de formagao tom sido o de provocar atitudes autoritarias? Como exigir o exercicio da orftica se 0 cuidado que se tem 4 0 da manutengao do poder soberano a qualquer custo? Muito se tem escutado sobre a crise da ética © das instituigées de formagao. Mas a crise, como nos afirma Arendt (1992, p. 223), ‘nos obriga a volmr as questdes mesmas € exige respostas nowas ou velhas [..] Uma crise s6 se tora um desastre quando respondemos a ela com juizos pré-formados, isto é, com preconceites, Uma aritude dessas nfo apenas aguea a crise como nos priva da experiéncia da tealidade ¢ da opoctunidade por ela proporcionada a reflexZo... # preciso se perguntar a respeito das atitudes tomadas ¢ a respeito da educagao dos valores, pois o ser humano tem deixado de se perceber enquanto ser em construgao @, ao se relacionar com o outro no campo da ordem moral ¢ legal, ausenta-se da formacio ética que pressupée reflexio sobre o agir do sujeito no mundo. O que se observa 6 uma oxigéncia ética, como se fosse possivel ser ético sem aprender valores necessérias 4 construgae de um novo mundo. O que se percebe 6 a estratégia de permanecer no poder, visualizando ¢ cultivando interesses pessoais apresentados como colotivos. Nao se separa 0 que é de dominio piblico e privado A morada da ética exige, portanto, aprendizados que sao constituides a longo prazo, num projeto de educar para 0 exercicio da autonomia. A MORADA DA POLITICA Quando se pensa om ética e educagéo, emerge o tema politico da cidadania: néo uma tépica em suas fronteiras, mas ultrapassando seus horizontes como realidade; como realidade e nao como objeto exterior. O educando vive em contextos socioculturais. Constréi a sua histéria locomovendo-se entre instituigdes de formagao 6 outros espagos de interacio que trangam redes de sociabilidade, Numa delas, em sociedades Educacce em Revisra, Bolo Hotzante, v.43, p. 57-72. jun. 2006 —— —__—82 democraticas, hé um lugar privilegiado: o da cidadania. Todavia, a discussio sobre os direitos do homem e da cidadania existe ainda como textos nao consagrados pela pratica. Ao considerar a cultura, em um sentido amplo, como a produgao de valores e simbolos, como nossa relagéo com o ausente, a formagdo e 0 exerofcio da cidadania lograriam constituir-se sem conflito. Entretanto, essa producao se realiza em contextos sociais. Surge aqui a diferenga entre sociedade e comunidade. Essa tiltima 6 wm espaco coletivo homogéneo, indiviso, uno, onde pessoas se relacionam face a face. A sociedade tem instrumentos institucionais e meios materiais que se opdem e se diferenciam por nao coabitarema um espago uno ¢ indiviso, mas por serelacionarem através de mediagées. A marca fundamental da sociedade - Maquiavel a expés jé no século XV — 6 que na sociedade existe uma divisdo origindria: o desejo dos grandes em oprimir e comandar e o desejo do povo em nao ser oprimido e comandado. Qual a origem dessa divisao? A indagagao remote a Etienne La Boétie, que abandona a tradigao do pensamento politico para refletiz sobre por que os homens se dao senhores. Marilena Chaui, uma de suas leitoras, lombra que é costume considerar a idéia de que a alienacdo é uma determinagio dos oprimidos. ‘Também a tradigao do pensamento politico distingue poder ilogitimo ¢ legitimo, consentimento ¢ desobediéncia justa, revolla e resisténcia passiva, considerando os regimes politicos pelo niimero dos que governam. Para La Boétie, essas questdos sao secundérias, assim como os conceitos usuais que descrevem contratos, cleigdes, direitos populares, sendo que o autor tampouco se ocupa em qualificar 0 bom ou mau poder. Preocupa-se com a génese do poder separado, dividido, encarnado na figuragao da soberania. Poder esse que, em qualquer de suas vertentes, detém o monopélio legitimo da forga o da violéncia fisica. Poder a quo os homens so submotem voluntariamente. De onde nasce a figura da soberania? Por que os homens se submetem a senhores? Por que esse corte abissal entre as sociedades selvagens. de liberdade, e as sociedades civilizadas, de dominagéo, que transformam o tempo em histéria? Pierre Clastres, outro leitor de La Boétie, lembra que espantar-se diante da dominagéo 6 snpor que a liberdade soja possivel. Detém- se diante do antes da liberdade, Discute as sociedades primitivas sem Estado. © chefe primitivo nao faz a /ei. Antes 6 um prisioneiro de deveres ¢ obrigagées. Coloca-se assima questao politica da soberania estatal: poderosa, Educa em Fevist, Galo Heres, v.43, 97-72, dee 2008 mas nao necesséria, Ja a leitura de Claude Lefort reforga a de Clastres a0 mostrar que a dominagao politica nao implica, necessariamente, a ciséo entre os que dirigem 0 os que obedecem, Todavia, refere-se & questao da identidade que fascina o outro, com a possibilidade de se tornar também senhor de alguém. Ha uma articulagao do cada um com cada um na sociedade de forma que a pluralidade se desfaz na produgao de um poder soberano estatal. O quese pretende, nesta discussao, é salientar a condensagao da forga e do poder soberano, capaz de gerar a sujeigao, Nao importa a textura dos regimes: trata-se de uma matriz. Nesse sentido, a afirmagéo de Maquiavel nao se ope de modo antagénico a interlocugao de Lefort, Clastres e Chaui com La Boétie (1982. p. 11-209). A diferenga de perspectivas pode gerar apenas uma contradigao: como o pove n&o deseja ser oprimido se serve voluntariamente 4 domiinacéo? Em o Discurso da Serviddo Voluntéria, La Boétie deixa oculta a realidade de uma vontade apartada, cindida entre a autonomia o a heteronomia, dividida em sua ambigiidade, presa do desejo. Talvez a contradigdo assinalada revele a existéncia de um bem imaginario. A. busca de uma identidade e ao mesmo tempo de uma liberdade. A identidade seria a realizagao da unidade de uma sociedade que dissimula sua divisao e oculta sua cisdo no poderio invisivel da soberania. Nessa diregao, é possivel pensar a matriz de um novo espago. A constituigao do um sujeito que. presa voluntaria da organizagao politica moderna da soberania, busque se libertar, em parte, Trata-se da conquista de direitos para o homem. Conquista e nao outorga. Patamares de lutas, inclusive revolucionérias, como no caso francés de 1789, que institui a figura do cidadéo moderno. A partir das colocagées acima, torna-se pertinente acsitar a realidade de uma longa caminhada pela emancipagao humana. Emancipacio que aponta o mundo perverso da necessidade. Como se fosse possivel desentranhar a liberdade da necessidado, como desejava Marx. & que a organizago da sociedad civil 6 chao da histéria, ardendo para algar véo. Nessa trajetéria, registram-se trés grandes tradicdes do ponsamento politico modemo: a republicana, a liberal e a socialista, circunscrevendo a construgao da cidadania. O eixo que as articula, no que tange ao exercicio da cidadania, 6a relagdo tensa entre interesses individuais e bem comum. Dessa forma, a cidadania configura-se como criagao e ampliagao de direitos. A liberdade sera o prinefpio central do liberalismo e sua fronteira torna- se a igual liberdade dos outros. Privilegia o individuo e seu bem-estar, 0 respeito a diferenga e a pluralidade de opinides. A tradigéo republicana doco om Revi, Ble Koizors, 89. p.S7-72. jum. 2008 8 contemplaré os ideais coletivos, o bem comum, a possibilidade de os cidadaos definirem o seu proprio destino. Ou seja, refere-se “disponibilidade do cidadéo para se envolver diretamente na tarefa do governo da colotividade” (Carvalho, 2000, p. 105). Jé na matriz da tradigio socialista emerge o principio da igualdade, Seu conceito de democracia centra-se em, uma sociedade capaz de assegurar o bam-estar social a todos os seus cidadaos. Afasta-se de um universo de csculhas trdgicas, cujas decisdes 36 favorecem. grupos privilegiados. O processo histérico de construgao da cidadania moderna se inicia no século XVILI com os direitos civis (liberdade individual), ampliando-se no século XIX com os direitos politicos (participagao no poder politico), sendo que o século XX contempla os direitos sociais (Marschall apud Carvalho, 2001, p. 9-10). Aos direitos sociais. chamados de segunda geragio, seguem- se os de terceira geracdo, os metaindividuais e us de quarta geragio, referentes ao patriménio genético e suas implicagdes biotecnolégicas, Os direitos metaindividuais dizem respeito aos individuos enquanto seres humanos ¢ enquanto membros do grupos sociais ospecificos. Referem-se a pluralidade de identidades socioculturais, circunscrevendo a cidadania aos valores de solidariedade, aos ideais coletivos, ao bem comum. Segundo Bobbio (1992, p. 10), ha uma tensdo entre os direitos reivindicados e os reconhecidos, tanto que “nao se poderia explicar a contradigio entre a literatura que faz a apologia da era dos direitos e aquela que denuncia a massa dos ‘sem direitos”. Nesse debate, Habermas (1995, p. 27) sera convocado com uma proposta que considera capaz de conciliar interesses privados e ideais coletivos. Trata-se da construgao de estruturas dialégicas que se alicercem em uma moldura argumentativa, possibilitando a todos os cidadaos integrar o processo decisério sobre o viver em comum. Para o autor, a pluralidade democrética 6 matriciada por identidades individuais e coletivas que pedem para significar. Nesse quadro geral, ao se pensar a triade escola, ética e cidadania, numa sociedade cada vez mais complexa, como transformar necessidades e caréncias em direitos? Come ser governado sem ser oprimida? O educador necessita cuidar de sua morada, buscando nos saberes sua constituigdo de ser no mundo, pois sua habitabilidade 6 ontoldgica. Para além das instituigdes de formago, educa-se para a vida e, quando se procura ensinar algo, é preciso lembrar da maxima de Heidegger (1967, p. 89): “ensinar ze {duo om Rvs, el ison, «43. p 7-72 de, 2006 a pensar”. Por pertencermos e escolhermos o exercicio do saber fundamental, cultivamos a esperanga no ato de educar, abrindo todos os dias a “Janela da Utopia”, como no poema de Eduardo Galleano (1994, p. $10): Ela esta no horizonte, dig Fernando Birt = me aproximo dois passos, ela se afasta dois pasos Caminlo dez pasos ¢ © horizonte se afasta dez passos Por mais ¢que eu caminhe, jamais @ alcangasei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para caminhar. ‘A morada do educador, por se pautar na ética e na cidadania, torna-se uum cultivo de utopias temerarias, No entanto, 6 no mundo 8 em suas moradas que a iconicidade da ética o de politica se materializa, hospedando-se no espaco da educagao. RerereNcias BislioGRAFICAS ARENDT, Hanah. Enire o Passado e o Fuluro, Sao Paulo: Perspective, 3. ed, 1992. BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiso: Campus, 1992. BOFT Leonardo. Saber Caidar: ftica do Humano-com paixao pela torra. Petropolis: Vozes, 1999. CARVALHO, José Murilo. Cidadania na Eneruzilhada, In: BIGNOTTO, Newton (Org,). Pensa a Repitblica. Belo Horizonte: UFMG, 2000. CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil. Rio de Janeiro: Civilizagao Brasileira, 2001. ECO, Humberto. Em que créem os que no créem? Rio de Janeito: Record, 1999. FERREIRA, Amauti Carlos, Ensino Religioso nas Fronloiras da Elica. 2. ed. Petropolis: Vozes, 2002. GALLEANO, Eduardo. As polavras andanies. 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