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saints, 0328 CURIA. Documents InfoCuria Jurisprudéncia portugués (pt) Inicio > Formulério de pesquisa > Lista de resultados > Documentos s Lingua do documento : portugués ¥ — ECLI:EU:C:2015:493, CONCLUSOES DO ADVOGADO-GERAL MACIEJ SZPUNAR apresentadas em 16 de julho de 2015 (1) Processo C-74/14 «Eturas» UAB «Freshtravel» UAB ‘«Neoturas» UAB «Visveta> UAB «Baltic Clipper» UAB «Guliverio kelionés> UAB «Baltic Tours Vilnius» UAB ««Kelioniy laikas> UAB « UAB ‘«Ferona»> UAB «Kelioniy akademija» UAB «Travelonline Baltics» UAB ««Kelioniy gurmanai» UAB «Litamicus> UAB «Megaturas» UAB «TopTravel> UAB «Zigzag Travel» UAB «ZIP Travel» UAB contra Lietuvos Respublikos konkurencijos taryba {pedido de deciséo prejudicial apresentado pelo Lietuvos vyriausiasis administracinis teismas (Litudnia)] «Concorréncia — artigo 101.°, n, 1, TFUE — Elementos constitutives de uma prética concertada — Agéncias de viagens que utlizam um sistema informatizado comum de informagio sobre reservas — Restricéo da taxa de desconto maxima para as reservas em linha — Mensagem do administrador do Sistema que anuncia essa restricéo = Concertago ~ Nexo causal entre a concertagio e 0 compartamento no mercado — Onus da prova — Presungso de inocéncia» I= Introdugio 1. __Numa andlise frequentemente citada de uma «pratica concertada» nos termos do artigo 101.°, n.° 1, TFUE, © juiz Bo Vesterdorf atuando na qualidade de advogado-geral, escreveu: «problema pode provavelmente reduzir-se & questo de saber a partir de que momento a infracdo se verifica» (2). 2. © Lietuvos vyriausiasis administracinis teismas (Supremo Tribunal Administrativo da Lituénia) coloca uma questo semelhante no contexto da impugnagéo da validade da decisdo adotada pela autoridade nacional da concorréncia, segundo a qual varias agéncias de viagens coordenaram a taxa de desconto aplicdvel aos seus dlientes. 3. ‘A questo original subjacente a0 processo assenta no facto de as provas da concertagdo dizerem essencialmente respeito & atuaco de um terceiro, 0 proprietario e administrador do sistema de reservas em linha utilizado pelas agéncias de viagens em causa, que impés uma restricgo técnica & taxa de desconto, tendo enviado uma mensagem a anunciar a referida restric&o. Para o érgo jurisdicional de reenvio nao esta claro que estes elementos satisfagam 0 nivel de prova exigido para se concluir por uma violagao do artigo 101.°, n.° 1, TFUE II - Contexto factual, tramitacao e questées prejudiciais 4. __A.UAB «Eturas> é 0 titular dos direitos exclusivos e o administrador do sistema de reservas de viagens em linha E-TURAS (a seguir «Sistema E-TURAS») 5. Este sistema é controlade por um administrador Unico e pode ser integrado nos sitios Web das diferentes agéncias de viagens que tenham adquiride uma licenca junto da UAB «Eturas». O contrato tipo de aquisicéo de licencas da UAB 10, 0 diretor da UAB ) (9) 34, Decorre da jurisprudéncia que a «presungao Anic» — ou seja a presungdo de um nexo de causalidade entre a concertagéo e o comportamento no mercado das empresas participantes — pode igualmente aplicar-se no caso de um contacto dnico entre concorrentes (10). 35. Como 0 Tribunal de Justica declarou no acérdéio T-Mobile Netherlands e 0., 0 ntimero, periodicidade e forma das reunides necessérias entre concorrentes para concertar o seu comportamento no mercado dependem tanto do objeto dessa acdo concertada como das condigées especificas de mercado. Se as empresas envolvidas criarem um cartel com um sistema complexo de concertacdo sobre uma variedade de aspetos da sua atuacéo no mercado, poderdo ser necessarios contactos regulares durante um longo periodo de tempo. Se, pelo contrério, a concertacéo for pontual e tiver por objetivo uma harmonizacao Unica da atuacéo no mercado relativamente a um Unico pardmetro da concorréncia, um sé contacto entré os concorrentes pode ser suficiente para realizar 0 objetivo anticoncorrencial visado pelas empresas envolvidas (11) 36. Além disso, tal como no caso de um acordo anticoncorrencial, a tomada em consideracao dos efeitos concretos de uma prética concertada é supérflua quando se verifique que tem por objetivo impedir, restringir ou falsear a concorréncia (12). B- Interpretacdo do artigo 101.°, n.° 1, TFUE 37. _ Com duas questées, que proponho examinar conjuntamente, o érgao jurisdicional de reenvio pergunta, em substncia, se o artigo 101.°, n.° 1, TFUE deve ser interpretado no sentido de que o conceito de pratica concertada abrange a situag3o em que varias ag@ncias de viagens que participam de um sistema comum de reservas e 0 administrador desse sistema envia um aviso em que informa os utilizadores de que os descontos aplicaveis aos clientes serao restringidos a uma taxa maxima uniforme, aviso a que posteriormente se segue uma restrigdo técnica sobre a escolha de uma taxa de desconto. 38. © érgao jurisdicional de reenvio pergunta, por conseguinte, se, e em caso afirmativo, em que circunstncias, as agéncias de viagens que tomam conhecimento dessa iniciativa ilicita ¢ que continuam a utilizar 0 sistema de reservas podem ser consideradas responsdveis pela infragao do artigo 101.°, n.° 1, TFUE. 39. Segundo jurisprudéncia constante (13), uma pratica concertada possui trés elementos constitutivos: em primeiro lugar, @ concertacgo entre empresas, em segundo lugar, um comportamento no mercado e, em terceiro lugar, um nexo de causalidade entre esses dois elementos. 40. O presente processo diz principalmente respeito ao primeiro destes elementos — a concertacdo entre ‘empresas. 41, Com efeito, desde que se comprove a concertagdo, os restantes dois elementos — 0 comportamento no mercado e 0 nexo de causalidade — nao devem ser dificeis de demonstrar, tendo em conta os factos do caso em apreco. Em conformidade com a agiu por iniciativa prépria, a fim de gerantir a fidelidade das agéncias de viagens que utilizam o sistema E-turas, isso no exclui a existéncia de uma pratica concertada entre as agéncias de viagens, uma vez que — mesmo segundo esta explicacéo alternativa — a acéo da UAB «Eturas» teria sido motivada pelos interesses dos seus clientes que tacitamente aprovaram a sua iniciativa 3. Distanclamento face & pratica concertada 82. Questo conexa é a da possibilidade de as empresas em causa se distanciarem da infragéo. 83. Segundo jurisprudéncia constante, & suficiente que a autoridade administrativa demonstre que a empresa em causa participou em reunides em que foram celebrados acordos anticoncorrenciais, sem a eles se terem oposto de forma manifesta, para provar a sua participacao no cartel. Caberd, entdo, a referida empresa apresentar os indicios que possam demonstrar que a sua participagdo nas referidas reunides se tinha verificado sem qualquer espirito anticoncorrencial, demonstrendo que tinha indicado aos seus concorrentes que participava nessas reunides numa ética diferente da deles (25). 84, ‘A razio subjacente a este principio é que, tendo participado na referida reuniio sem se distanciar publicamente do seu conteiido, a empresa deu a entender aos outros participantes que subscrevia o seu resultado e que atuaria em conformidade. A aprovacdo técita de uma iniciativa ilicita, sem se distanciar publicamente do seu contetido ou sem a denunciar as autoridades administrativas, tem por efeito incentivara continuidade da infracao e compromete a sua descoberta. Esta cumplicidade constitul um modo passivo de participacao na infracdo, pelo que & suscetivel de fazer a empresa incorrer em responsabilidade (26) 85. 0 facto de uma empresa no dar seguimento aos resultados dessas reuniées no é suscetivel de afestar a sua responsabilidade, a menos que se tenha distanciado publicamente do que foi acordado nas mesmas. Além disso, 0 papel desempenhado por uma empresa num esquema anticoncorrencial nao é relevante para estabelecer a sua responsabilidade, e s6 deve ser tide em consideracéo aquanco da avaliagao da gravidade da infracao para a determinagao do montante da coima (27). 86. Na minha opinigo, esta jurisprudéncia, embora versasse originalmente sobre a participagdo involuntéria ‘numa reunido coluséria, pode ser utilmente transposta para as circunstancias do caso em apreco. 87. ‘Com efeito, uma empresa que utiliza um sistema de reservas em linha que & explorada como uma plataforma para uma pratica anticoncorrencial, pode efetivamente recorrer 8s duas possibilidades resultantes da Jurisprudéncia do Tribunal de Justica para e se dissociar da pratica: pode distanciar-se publicamente do contetido da iniciativa ilicita ou, ent&o, denuncié-la as autoridades administrativas. 88. Observo que nao seria claramente razodvel exigir a uma empresa que expresse a sua oposigdo a todos os perticipantes na pratica concertada. Em especial, tendo em conta as circunstncias do presente caso, é bem possivel que as identidades dos concorrentes em questo ndo pudessem ser conhecidas de imediato. Com efeito, algumas recorrentes no proceso principal alegaram nao ter tido conhecimento da identidade dos outros utlizadores do sistema E-TURAS. 89. A oposigéo deve, contudo, ser tornada publica por qualquer modo que a empresa em causa possa razoavelmente dispor, isto é, pelo menos, informando o administrador do sistema que anunciou a restrigdo e a outras empresas cuja identidade pudesse conhecer. 90, A empresa em causa deve manifestar, com suficiente clareza, 0 seu desacordo com a iniciativa e a sua intengo de no seguir a pratica. Assim, no basta, por exemplo, que a empresa em causa ignore @ comunicagéo ou instrua os seus préprios trabalhadores no sentido de ndo seguirem essa pratica. De igual modo, nao basta opor-se & pratica através de um mero comportamento no mercado — por exemplo, como foi sugerido por algumas recorrentes no presente proceso, concedendo descontos individuais, a fim de compensar a restrigo geral. Na verdade, sem oposicdo publica, esse comportamento nao se poderia faciimente distinguir de uma mera tentativa de enganar os restantes membros do cartel. 91. Por outro lado — e contrariamente & opinido expressa pelo Conselho da Concorréncia na audiéncia — a obrigagdo de se opor a restriclo ndo se pode estender até a obrigacdo de abandonar o sistema de reservas em linha 92. Concorde que a empresa em causa nao s6 deve manifestar a sua oposi¢ao, como deve também adotar uma conduta independente no mercado. No caso em apreco, 0 distanciamento piiblico inclui a obrigacao de utilizar todos os meios razoaveis para no aplicar a restrico, como informar os clientes através do seu sitio Web e, caso esses meios nao sejam eficazes, informar as autoridades administrativas, Esta obrigagdo ndo pode ser estendida & exigéncia de par termo as relagdes comerciais com a UAB «Eturas», uma vez que isso privaria a agéncia de viagens de um canal de distribuiggo que, quanto ao mais, é legal hitpscura europa eujurisdocumentidocument js ext=8doci 3591 6&pagelndex-DEdoclang=pl&mode"ltBcir=Boce-frstépart=1&cid=12... 7/10 saints, 0328 CURIA. Documents 93. Por dltimo, a oposicao deve ser expressa de forma expedita e, em todo o caso, dentro de um periodo de tempo razoavel apés ter tomado conhecimento da iniciativa ilicita. Caso essa oposicao nao seja expressa dentro de um prazo razoavel, a responsabilidade da empresa existe a partir do momento em que tomou conhecimento — ou se presume ter tomado conhecimento — da iniciativa. 4. Nivel da prova e presungao de inocéncia 94, Tendo em conta as dividas expressas pelo érg3o jurisdicional de reenvio, gostaria de tecer algumas observacies finais sobre a compatibilidade do nivel de prova exigido para estabelecer uma prética concertada com © principio da presungao de inocéncia, 95. Segundo jurisprudéncia constante do Tribunal de Justica, o principio da presungo de inacéncia, atualmente previsto no artigo 48.°, n.° 1, da Carta dos Direitos Fundamentals da Unido Europeia, aplica-se aos processos Felativos a violacdes das regras de concorréncia aplicaveis as empresas (28). 96. No quadro do sistema de execucao do direito comunitario da concorréncia, compete & Comissao produzir os elementos probatérios adequados para demonstrar suficientemente a existéncia dos factos constitutivos da infracdo ao artigo 101.°, n.° 1, TUE. A Comisso deve apresentar provas precisas e coerentes a esse respeito (29) Qualquer divida que subsista no espirito do julgador deve aproveitar 4 empresa destinataria da decisdo que declara uma infracao (30). 97. O principio da presunco de inocéncia no impede, contudo, a aplicacdo das presuncées ilidiveis no direito da concorréncia (31). 98. Sao exemplos dessas presunges @ «Presunco Anic» ou a presuncdo de que uma sociedade-mée influencia de forma determinante a politica comercial de uma filial de que detenha a totalidade do capital (32). 0 Tribunal de Justica declarou igualmente que, na medida em que a Comisso consiga demonstrar que uma empresa participou em reuniGes entre empresas de natureza manifestamente anticoncorrencial, incumbe a esta ultima fornecer outra explicacao para o contetido dessas reuniGes e refutar as conclusdes da Comissao (33), 99. Estas presuncées néo transferem o énus da prova para o destinatério da deciséo da autoridade da concorréncia. Permitem que a autoridade retire determinadas conclusdes com base na experiéncia comum (34). A conclusdo retirada prima facie pode ser refutada por prova em contrério, sob pena de se considerar que aquelas conclusdes satisfazem as exigéncias do énus da prova, que continua a recair sobre a autoridade administrativa. O recurso a essas presungées &, allés, justificado pela necessidade de assegurar o effet utile das regras da concorréncia da UE, j4 que sem elas a prova de uma infracdo pode-se tornar excessivamente dificil ou impossivel ra prética 100, Na medida em que essas presungdes decorrem do artigo 101.°, n.° 1, TFUE, tal como interpretado pelo Tribunal de Justica e, consequentemente, fazem parte integrante do direito da Unio aplicdvel, nao esto abrangidas pelo ambito de aplicacdo do principio da autonomia do direito processual nacional (35), sendo, pois, vinculativas para as autoridades nacionais quando estas aplicam as regras de concorréncia da Unio Europeia (36). 101. Da mesma forma, no caso em apreso, 0 Conselho da Concorréncia e o érgao jurisdicional de reenvio podem inferir, sem violar 0 principio da presungéo de inocéncia, que uma empresa que tomou conhecimento da notificagdo do sistema de 27 de agosto de 2009 e continuou a utilizar o sistema E-TURAS subscreveu tacitamente a iniciativa ilicita. Cabe 4 empresa em causa fornecer provas de que manifestou a sua oposico a esta iniciativa ou demonstrar que a concertacdo nao era suscetivel de afetar 0 seu comportamento no mercado 102. Ao concluir desta forma, a autoridade administrativa ou 0 érgo jurisdicional nacional néo invertem o énus da prova, em violagao dos direitos da defesa, nem anulam a presuncao de inocéncia, IV ~ Concluséo 103. Por todas as razées acima expostas, sugiro que o Tribunal de Justica responda do seguinte modo as questées submetidas pelo Lietuvos vyriausiasis administracinis teismas: © artigo 101.°, n.° 1, TFUE deve ser interpretado no sentido de que o conceito de pratica concertada abrange a situagdo em que vérias agéncias de viagens utilizam um sistema comum de reservas em linha, e 0 administrador do referido sistema envia uma notificagio para informar os seus utilizadores de que, na sequéncia das propostas e desejos expressos pelas empresas em causa, os descontos aplicaveis aos clientes sero limitados @ uma taxa maxima uniforme, notificagio esta que é seguida por uma restricao técnica da escolha das taxas de cesconto disponiveis para os utilizadores do sistema. As empresas que tomaram conhecimento dessa iniciativa ilicita e que continuaram a utilizar o sistema, sem se distanciar publicamente dessa iniciativa, nem a denunciar as autoridades administrativas, s80 responsavels pela participacao nessa pratica concertada. Lingua original: inglés. = V-conclusées Rhéne-Poulenc/Comissio (T-1/89, EU:T:1991:38, p. 939) 3— UAB «AAA Wrislit», UAB , UAB «Baltic Clipper», UAB «Guliverio kelionés», UAB «Baltic Tours Vilnius», UAB «Kelioniy laikas», UAB «Vestekspress», UAB «Kelioniy akademija», UAB «Travelonline Baltics» e UAB «Megaturas» 4— _ UAB «AAA Wrislit», UAB «Vestekspress», UAB «Kelioniy akademija», UAB «Travelonline Baltics», UAB

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