Professional Documents
Culture Documents
RAIKOVIC, Pierre - O Sono Dogmático de Freud - Kant, Schopenhauer, Freud
RAIKOVIC, Pierre - O Sono Dogmático de Freud - Kant, Schopenhauer, Freud
O SONO DOGMATICO
DEFREUD
Kant, Schopenhauer, Freud
Pierre Raikovic
O SONO DOGMÁTICO
DEFREUD
(Kapt, Schopenhauer, Freud)
Tradução:
TEilESA RESENDE
Revisão técnica:
M ARCOS COMARU
~stn em reoria
psíauttJlítica. UFRJ
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Uvros, RJ.
Raikovic, Pierre .
· R 129s O sono dogmático de Freud: (Kant, Schopen-
bauer, Freud) I Pierre Raikovic; tradução Teresa
Resende Costa; revisão técnica Marcos Comaru. -
Rio de J:llleiro: Jorge Zahar Ed., 1996
(Tr:lllsmissão da psicanálise).
Tradução de: Le sommeil dogrnatique de Freud:
( Kant, Schopenhauer, Freud).
ISBN 85-7110-372-0
1. Freud, Sigmund. 1856-1939. 2. Psicanálise
e filosofia. I. Titulo. 11. Série.
CDD - 150.1 952
96- 1472 CDU - 159.964.2
Sumário
INTRODUÇÃO, 7
CONCLUSÃO, 150
•• O trabalho teórico - e disso me convenço cada dia
mais- faz pelo mundo mais do que o trabalho prático;
se o mundo das idéias for revolucionado, a realidade
não poderá pennanecer tal qual é."
7
8 o sono dogmático de Freud
NOTAS
I. Husscrl, E., Philosophie premiêre, trad. A.L. Kelkel, Paris. 1970, t.l, p.85.
2. Em vinude desta ausência de confrontação, a fil osofia não pôde conquistar,
aqui, aquilo que Heidegger teria chamado de sua autêntica liberdade, "aquela
liberdade (verwinden) {que} se assemelha à de um homem que 'domina' (verwun-
den) a dor e que, em vez de livrar-se dela ou esquecê-la. nela se aloja". Heidegger,
M., " Le toumant''. in Questions IV, ttad. Lauxerrois l e Roels C., Paris, t 976,
p.144.
3. Wcil, E., Logique de ln phiwsophie. Paris, 1970, p.58.
4. Citado in Brocharei, V., Les sceptiques grecs, Paris, reed. 1969, p.393. E Brochard
ainda acrescenta: "Mais um pouco e se estariam impedindo os filósofos de ocu-
parem-se de certas coisas como se impedem as crianças de brincar com fogo''
(ibidem).
5. Granier, l, Le discours du monde, Paris, 1977, p.5.
6. Dalbiez, R., La mithode psychanalytique et la doclrinefreudienne, Paris, 1936.
1. Ricoeur, P.. De l'interprélalion. Paris, 1965. p.416.
8. "Este conceito não é de Freud e de forma alguma é nossa intenção impô-lo à
leitura de Freud ou, por astúcia, achá-lo em sua obra. É um conceito que formo
para ter a compreensão de mim mesmo quando leío Freud" (íbidem).
9. Kant, E., Critique de la rai.son pure. trad. Trémesaygues, A., e Pacaud. B .•
Paris, 81 ed., 1975, p.421 .
10. Ricoeur, P .. De l'imerprétation. op. cit., pAIO.
11. Alquié, F., La nostalgie de l'êlre, Paris, 1973, p.6.
CAPÍTULO I
A polêmica antifilosófica
de Freud
11
12 o sono dogmático d~ Freud
Ao mesmo tempo que ele a tem como patológica, Freud sustenta que
a filosofia jamais levou em co~sideração aquilo que, no pensamento,
escapa à consciência. 18 A psicanálise vê nesta pretensa carência uma
razão a mais para afinnar que a Metafísica sempre se absteve de ir a
fundo na questão do pensamento, que nada fez senão perseguir qui-
meras.
Ora, as coisas não se passam bem assim. Na realidade, embora
a filosofia não se separe do problema da vinualidade no pensamento,
ela jamais foi levada a formar o conceito de um inconscier;tte no
sentido qué Freud dá à palavra: uma "instãneia" autônoma e dinâmica
a polêmica amijilosójica de Frer.ui lS
próprias declarações- nós nos damos conta daquilo que esta tentativa
implicaria.
A unicidade da posição afirmada por Freud sobre suas possibi-
lidades não pára aqui. Quando lemos sua obra não podemos deixar
de surpreender-nos com a estranha semelhança que ela apresenta com
muitas das passagens de O mundo como vontade e como representação
de Schopenhauer e, em particular, com a homologia entre a metapsí-
cologia freudiana e os" Suplementos", no segundo livro de O mundo...
Por outra parte, em meio ao turbilhão dos ataques lançados por
Freud contra a filosofia, percebemos que o único filósofo a merecer,
a seus oJhos, elogios é Schopenhauer. Claro, há também Kant - em
quem Freud várias vezes procurou apoiar-se - , mas rapidamente
percebemos que se trata unicamente da visão schopenhaueriana de
Kant o que lhe motiva as alegações. Mas Schopenhauer é uma fonte
realmente particular: com ele, surge na história da filosofia um dis-
cípulo de Kant de fato curioso; Schopenhauer afinna continuar o
Criticismo valendo-se da autoridade - e com razão - da Ideologia
e, através desta, dos empiri·stas.ingleses e dos enciclopedistas franceses.
Ele é o primeiro a tentar uma sistematização da perspectiva antífilo- -~?
sófica e, por esta razão, pode ajudar-nos a elucidar o ponto litigioso
do texto freudiano; não é possível deixar, como se fosse algo perfei-
tamente natural, este último retomar um dos argumentos do antifilo-
sofismo desde a sua origem - referimo-nos à irrealidade da filosofia
- e interpretar, de forma sistemática, não só a reflexão filosófica mas
também OJ,ltras m aneiras do pensar, como se tudQ não passasse de um
processo delirante. ·
Cumpre-nos, portanto, investigar com atenção os caminhos que
levaram Freud a acreditar que podia questionar a relação da psicanálise
com outros pensamentos que não fossem os seus. Mesmo porque, a
despeito da evidente insuficiência de sua argumentação, o freudismo
não recebeu de seu adversário filosófico uma verdadeira resposta. Ora,
isto que parece uma irresolução da filosofia concede a Freu,d o direito
de - mas ao mesmo tempo o condena a - ficar como um corpo
estranho na história das manifestações do espírito.
Freud, pelo menos uma vez, confessou ter tomado conhecimento
da obra de Schopenhauer; trata-se de uma espécie de confidência feita
numa carta aLou Andréas Salomé,30 onde ele informa ter lido a obra •
de Schopenhauer por obrigação e sem prazer. Daí a necessidade de
examinar com cuidado que tipo de relação existe entre os dois textos.
20 o sonn dogmático de Freud
NOTAS
I. Freud, S., L 'interprél. .. ·.,n des rêves, trad. I. Mcyerson, reed. D. Berger, Paris.
PUF, 1967, p.5J7.
2. Ibidem.
3. Freud, S .• Abrégé de psychanalyse, trad. A. Bennan, reed. J. Laplanche, Paris,
PUF, 1975, p.69.
4. Freud, S., " La personnalité psyd!ique", in Nouvelles conférinces sur· la psy-
chanalyse, trad. A. Berman, Paris, co!. "Idées" , Gallimard, reed. 1978, p.69.
5. Aristóteles, Métaphysique, trad. J. Tricot, Paris, 1974r 3, l005b 19-20.
6. 1bidem, r 5, 1009b 27-30.
7. Freud, S., "Pour introduire Ie narcissisme'' . in IA vie sexuelte. trad. 1. Laplanche,
Paris, PUF, 1969, p. J00-1.
8. Freud, S., '' L'inconscient'' . in Métapsychologie, trad·. J. Laplanche e J.-8 Pon-
talís, Paris, ~oi. " ldées", Gallimard, reimpr. 1983. p.\22-3.
· 9. Freud, S., '' Résistances à la psychanalyse". in Rev1w juive, Genehra, 15 mar.
1925, I, 2, 209-.19.
10. Freud, S., " D'une conception de l'univers" , in Nouvelles conférences sur la
psycltanalyse, p.210-l.
11. Freud, S .. lmroduction li la psyclumalyse, trad. S. J ankélévitcb, Paris, col.
" ldées", Gallimard, 1978, p.210.
12. " A concepção segundo a qual a psique é, em si, inconsciente permitiu fazer
da psicologia um ramo, semelhante a todas as outras, das ciências naturais" (Freud,
S., Abrégé de psychanalyse, op.cit., p.20-l).
13. Locke, J., Essai philosophiq~ concemant L"entendement humain, trad. P.
Cosre. Paris, 1972, p.S73.
14. "o rune conception de l'univers", in Nouvelles conférences sur la psychanalyse,
op. cit., p.209. ·
15. Ibidem, p.231.
16. Freud, S., Études sur l'hystérie, trad. A. Berman. Paris, PUF, 1967, p.228. (0
grifo é nosso.) ·
. 17. Kant, E., Cn"tique de la raison pure, op.cit., p.36.
18. Dentre as muitas passagens onde Freud admite. uma adequação da reflexão
filosófica com uma consciência única, tomemos aquela em que ele diz que "desta
forma, (esbarra-se) na contradição dos filósofos que, embora considerando o
'consciente' e o 'psíquico' como idênticos, alegavam não poder representar para
si o absurdo do 'inconsciente psfquico'. Mas, paciência, a melhor coisa era dar
de ombros para esta idiossincrasia dos filósofos" (freud. s:, Ma vie etla psycha-
nalyse, lrad. M. Bonaparte, Paris, col. "(dées" , Gallimard, reed. 1981-, p.40).
19. Plotino, Ennéades. trad. E. Brehier, Paris, Les Belles Lenres. 1927. IV, 4, 4.
20. " Por pensamento, entendo tudo aquilo que está de tal forma em nós que
imediatamente nos apercebemos do que seja", Descartes, R., " Méditations m~-
a polêmica antiftlosóficâ de Fr~ud 21
A presença schopenhaueriana
no texto freudiano
Fara da se
A acusação de plágio
no íntimo de seu ser, sem conhecer aquilo que elas são em si e por
si. Até este ponto estou de acordo com Kant." 41 Schopenhauer irá,
então, opor a esta incognoscibilídade do mundo exterior uma possi-
bilidade de conhecimento de nova espécie que se assenta sobre o
mundo interior e que deverá poder basear-se na fonnulação das de-
terminações do Eu enquanto vontade: •• Mas face à verdade que ele
[Kant] estabeleceu, enunciei uma outra que constitui seu contrapeso;
nós não somos somente o sujeito que conhece, pois pertencemos nós
mesmos à categoria das coisas a serem conhecidas, nós mesmos somos
a coisa em si, e em conseqüência, se não pudermos, partindo de fora,
penetrar no íntimo das coisas, no próprio ser delas, resta-nos um
caminho aberto que parte de dentro para fora: este será, de certo modo,
uma via subterrânea, uma comunicação secreta que, por urna espécie
de traição, irá,. de súbito, introduzir-nos na fortaleza contra a qual
fracassaram todos os ataques vindos de fora." 4 2
Freud retomará exatamente o mesmo discurso quando for sus-
tentar que nem todo saber é inapreensível, pois se aquele que está
fundamentado no mundo exterior é impossível, o conhecimento do
mundo interior abre-se à investigação. No trecho em que apela para
a autoridade de Kant, escreve Freud: " ... não irá demorar muito para
termos a satisfação de saber que a correção da percepção interna não
oferece dificuldade tão grande quanto a da percepção externa e que •
o objeto interior é menos inconhecível do que o mundo exterior" .43
Aquilo que corresponde ao "objeto interior" de Freud - e que
Schopenhauer chama o ''interior da fortaleza" - é determinado por
fatos psíquicos, os mesmos que são vistos desacreditados a partir de
Descartes e que Schopenhauer decidiu, ao contrário, retomar porque
os considera como providos de uma cognoscibilidade superior à do
mundo exterior. Kant dava como inconhecível uma tal experência do
Eu porque ela se densenvolveria unicamente num tempo subjetivo,
· não permitindo, por isso, ao Eu de sei: objetivado no tempo da física.
Justamente porque as representações do Eu- do Eu enquanto vontade
- só se desenvolvem no tempo (e não também através do espaço e
da causalidade, como é o caso das representações do mundo exterior)
é que Schopenhauer acredita poder descobrir aqui uma via privilegiada
para abordar a coisa em si que é a Vontade sobre a qual, diz ele, é
em si inconhedvel.
Para fornecer as provas da existência desta Vontade, Schopen-
hauer se vê obrigado, em seguida, a demonstrar que ela é, ao mesmo
tempo, una no universo e está presente em cada ser individual. E
34 o sono dogmático de Freud
geiros que parecem até mais fortes que aqueles que estão submelidos
ao Eu [ ... ], ou então sobrevêm impulsões que parecem provir de uma
pessoa estrangeira; embora o Eu as n~gue, ele se vê assustado e é
obrigado a tomar precauções contra elas. O Eu fala para si .mesmo
que existe aqui uma doença, uma invasão estrangeira, e redobra a
vigilância, mas não pode compreender por que se sente tão estranha-
mente incapaz." 53
Dentre as críticas dirigidas à psicanálise, talvez a principal seja
a de que ela nos tenha levado a abdicar da razão, daquela força que,
segundo Descartes, "é a única coisa que nos faz sermos homens e
~ nos distingue dos animais" .54 A crítica torna-se ainda mais severa
pelo fato de a razão perder seu status de soberana para ficar na condição
de simples cidadão privado de seus direitos cívicos. Parece que de
tanto ir atrás das pegadas de Schopenhauer, Freud acabou fazendo da
razão (ou da consciência, pois, nele, os dois termos são intercambiá-
veis) uma criatura incapaz, e viu-se, em seguida, na impossibilidade
de organizar uma sociedade composta de seres tão desunidos. É o que
dá a entender Henri Ey quando escreve: " ... ao jogar. no Inconsciente,
toda a estrutura do ser consciente, o aparelho psíquico se dissolve.
Esta é, em nossa opinião, a principal contradição do sistema do In-
• consciente freudiano. Ela constitui, no próprio Freud, uma inversão
de sua intuição fundamental e primeira do Inconsciente. Este, pela
coerência lógica de seu sistema. é e deve ser 'autônomo' , quer dizer,
tem de subtrair-se radicalmente à consciência sob pena de con:fundir-se
com o Pré-consciente e perder, em definitivo, seu sentido absoluto de
renúncia e de negação [ ... ], uma das exigências da doutrina constan-
temente reafirmada por Freud (até 1915) e reafirmada por todos seus
discípulos como dogma é a de separar o Jcs. do Cs . Ora, basta repor-
tar-nos ao que acabamos de expor sobre as infiltrações e confusões
das três instâncias ou ·sobre a retomada da questão do recalcamento
para convencermo-nos de que Freud novamente voltou a atacar este
ponto. Sobretudo em Das Unbewusste, quando a separação entre os
dois sistemas Bw-V.bw (Consciente-Pré-consciente) e U.bw (lncons-
ciente) é, aqui, preenchida pela teoria das 'ramificações' do incons-
ciente e de uma dupla censura - ou ainda em Das Jch und das Es,
quando nos convida a lembrar que não há duas variedades de incons-
ciente, mas uma só e que ele, ao invés de separar o Pré-consciente
do Inconscienle , de preferência os aproxima." 55
A emergência do tema da eminência do Inconsciente é insepa-
rável, na pena de Freud, do aparecimento de determinações que já
a presença schopenhaueriana no uxro freudiano
através de nosso espírito , como ser infin ito, incapaz de qualquer espéc ie
de aumento."87 Se esta faculdade é suscetfvel de vir a ser nossa. ela
dará testemunho daquilo que nosso espírito é capaz de fazer com os
próprios pensamentos desta fac uldade que exclui o antes e o depois;
e isto sucede, para retomar aqui a fórmula de Kant, quando a razão
" nos engana com a ilusão de uma extensão do entendimento puro" ,88
no caso, pelo uso transcendente da primeira máxima da razão pura.
Descartes transpõe para o ser humano aquilo que a tradição somente
v ia em Deus, tal como o faria Kant quando interiorizou no homem o
espaço e o Lempo que, para Newton, eram órgãos sensoriais de Deus.
É esta idéia do antes e depois do conhecimento - retomada na
Crítica da razão pura, quando Kant irá querer unir os dois termos
para, além de pensá-los simultaneamente, saber o" como" desta relação
- que irá constituir-se no essencial do problema transcendental. Po-
demos, portanto, dizer que o conteúdo da expressão tota simu/ encon-
tra-se igualmente em Kant, ao nível da sfntese da diversidade, na
Dedução subjetiva da primeira edição de 178 1. O " desenrolar suces-
sivo da díversidade"89 somente pode proporcionar a unidade da in-
tuição pela "compreensão deste desenrolar (die Zusammennehmung
desselben)" 90 e esta apreensão é em si intemporal a fim de que possam
ser percebidas as modificações da consciência empí-rica que também
estão sujeitas à dispersão do tempo e são objetos de uma consciência
psicológica. Tais mudanças, para serem percebidas corno tais, neces-
sitam de um "eu fixo e permanente" ;91 então levadas pelo flu xo dos
dados do sentido interno, elas são possíveis de serem apreendidas em
sua diferença, à condição de que esta possa instaurar-se entre o mo vente
e o idêntico, que escapa, no que lhe diz respeito, à dispersão temporal.
Para Kant, a consciência transcendental não pode ser, em si mesma, •
o objeto de uma consciência empírica, mas por causa de seu status
fora do tempo, e la pode ter condição de apreender as representações
q ue se escoam no tempo. Quanto ao tempo percebido conscientemente,
este é, em si, determinado por um tempo puro, intemporal e permanente
que é aquele de uma consciência pura cuja intemporaJidade é fonnulada
de maneira exemplar pela "Dedução subjetiva" das categorias, tal
como se acha exposta na primeira edição da Critica da razão pura.
Somente a afinidade dos fenômenos é psicologicamente consciente
no interior da consciência empírica: a consciência pura, também cha-
mada de apercepção transcendental, é, de fato , inconsciente, e somente
ela realiza a unidade objetiva da consciência, o que pennite a objeti-
vidade dos fenômenos. Torna-se, portanto, evidente que a intempora-
48 o sono dogmático de Freud
NOTAS
1. Goethe, J.W. von, Maximem tmd rejle.xwnen, t.XXXVIll, p. IIO, citado in Andler,
Ch., Nieczsclre. sa vie ec sa pensée, Paris, Gallimard, 1958, 1.1, p.9 .
2. Freud, S., Jung, C.G ., CoiTcspondance, trad. Fivaz-Silberman R., 1.11, p.230.
3. Ibidem.
4. Freud, S., Concribution à J'hi.ttoire du mouvement psychanalytique, trad. S .
Janké lévi tch, in Cinq leçons sur la psychanalyse, o p cit., p.88.
5. Ibidem, p.90.
6. Freud, S., Ma vie et la psyc:hanalyse, trad. M. Bonaparte, Pnris, co!. "ldées'',
Gallimard, rced. 1981 , p. 74.
7 . Ibidem.
8. Perelman. Ch., e Olbrechts·Tyteca, L., Traicé de l 'argumentation. La nouvclle
rhétorique, Bruxelas, Ed. de I' Université de Bruxelles, 31 ed., 1976, p.493-4.
9 . Freud, S., "Lettre à J. Boutonier'', li de abril de ! 920, citado in Bullezin Seé
Française de philosophie, jan.-mar. I 955, n.l , p.3-4.
10. Assoun, P.-L., Freud, IA philosophie et Jes philosoplles. Paris, PUF, 19 76,
p.24.
11 . Freud, S ., "Lettre à J. Boutonier", op.cít., ibidem.
12. Freud, S .. e Abraham. K., Correspondance, trad. E. Cambon e 1.-P. Grossein,
Paris. Gallimard, 1969, p.J03.
13. Freud. S., " Contribution à \' histoire du mouvement psychanalytique" , trad.
S . Jankélévitch, in Cinq /eçons sur la psyclwnalyse, op.cit., p.80.
14. Ibidem. O grifo é nosso.
15. Ibidem. p.80-l. O grifo é nosso.
16. " Entretanto, outros leram e releram esta passagem sem fazer a descoberta em
questão, e provavelmente o mesmo teria acontecido comigo, se tivesse na mocidade
um pouco mais de gosto por le ituras filosóficas ." (Ibidem, p.82).
17. Freud, S., " L'angoisse et la vie instinctuelle" , in Nouvet.les conférences sur
la psychanalyse, op.cit. , p. I 41.
18. l bidcm. O grifo ~ nosso.
19. Guéroult, M., Plailosophie de l'histoire de la phílosophit, Paris, Aubier, 1979,
p.74. .
20. Kanl, E., L 'unique fondement possible d'une démonstration de l'ui.slence de
Dieu, trad. S. Zac, Paris, col. La Pléiade. Gallimard, p.330.
a prtunçu schopenhaueriana no lt!.no freudiano 51
54
uma lógica da aparência SS
uma ilusão de natureza ainda não elucidada. Eis aqui uma idéia da
qual Kant, sem tê-la levado a uma consciência explícita, deu suas
detemiinações numa análise da faculdade dos princípios. Da mesma
fonna que as idéias do Eu, do Mundo e de Deus, esta idéia não se
situa no plano da experiência possível, mas, contrariamente a estas,
este conceito da razão difere da ordem da unidade de modo a corres-
ponder àquele da pura diversidade. Esta idéia, que podemos chamar
de idéia de vida, será o determinante da obra de Schopenhauer. Quando
se conhece a dependência do freudismo face às linhas de força do
sistema de Schopenhauer, toma-se evidente a necessidade de eluCi-
dar-se a gênese do texto deste último para atingir-se a problemática
originária e fundadora da psicanálise. ·
Ao proclamar-se sucessor de Kant, Schopenhauer introduz certa
ambigüidade, na verdade, uma conseqüência direta do uso excessivo
do poder de interpretação. Com efeito, o texto kantiano mantém real-
mente oculta a origem desta ambigüidade. Kant, por sinal, havia an-
tecipado tal possibilidade ao observar que "nada há de extraordinário
no fato de que possamos compreender·melhor um autor do que ele
próprio pode compreender-se, e se tal acontece é por não ter sido ele
capaz de determinar suficientemente sua concepção" ;6 isto leva a
supor certas determinações incluídas no pensamento de origem que
não puderam ser transpostas pelo autor à uma consciência explícita.
Esta compreensão da sucessão dos sistemas remonta a Aristóteles que
se revela, assim, o promotor do conceito da história da filosofia. Numa
passagem da Metafísica, Aristóteles opõe ao termo PouJ.ta9at o de
~uxp9pouv para significar que os filósofos deixam perceber, em seus
textos, determinado pensamento apesar de não o enunciar explicita-
mente. P. Aubenque citava esta observação do estagirita para mos-
trar-nos a possibilidade de estabelecer uma distinção nos filósofos
entre "sua consciência de si psicológica [...J e sua consciência de si
absoluta" .1 E a propósito dos partidários da teoria das idéias, Aristó-
a
teles insiste: "Embora os partidários desta doutrina não articulem
com muita clareza, é, no entanto, isto que eles têm tendência a dizer.''s
Como a maioria dos leitores do século XX, Schopenbauer fez da
Crítica da razão pura urna obra antropológica, confundindo o a priori
• com o inato e rebaixando, para usar a palavra de A. Philonenko, a
noção kantiana de método à condição de órgão; o que relega o idealismo
transcendental da Crítica a um estado psicológico que ainda era aquele
da Dissertaçãp de 1770: " Já na Doutrina da ciência, Kant percebe
uma transformação de sua fil~sofia que lhe trai tanto a fonna como
uma lógica da aparincia 57
dido como pura unidade e é aquele que vai do Primeiro Motor aris-
totélico ao Deus de Leibniz.
Esta perspectiva, que explica a eclosão dos sistemas metafísicos
depois da filosofia de Aristóteles e que mostra a sucessão das doutrinas
como reflexo da estrutura das Faculdades do conhecer, revela-se, em
suma, uma lógica da filosofia. De fato, ela não é um esclarecimento
daqueles "objetos da razão cuja variedade é infinita" ,49 mas a partir
desses objetos, do que é determinado - como a matemática e a física
puras, a Metafísica é também um conhecimento determinado, ou seja,
no que lhe compete, um conhecimento dos sistemas em sua sucessão
histórica - , ela, uma vez que o conhecimento transcendental é um
conhecimento que "se ocupa menos dos objetos do que de nossos
conceitos a priori de objetos" ,50 busca saber como é possível uma
ciência desse determinado que é a história da filosofia. O esforço da
razão para compreender os objetos da Metafísica foi , freqüentemente,
qualificado de negação do individual5 1 que é apreendido na forma
daquela mobilidade própria das determinações de qualquer ser indi-
vidualizado sensível, mobilidade que coloca, por sinal, o indivíduo
Fora do alcance da atividade racional.
O individual obedece a necessidades, a disposições que não ces-
sam de variar e cuja ausência de pennanência se dá na esfera da
sensação. É clássico dizer que o indivíduo pode ser pensado segundo
uma ou segundo outra das duas perspectivas que são, por um lado, a
unidade do indivíduo, e por outro, a unicidade deste mesmo indivíduo,
correspondendo esta última àquele pano de fundo que foi, para a
reflexão filosófica, a noção do individual. Junto com a tradição aris-
totélica, Kant recebeu de herança um hilemorfismo que continua a
impor suas condições: é preciso pensar o indivíduo - tanto faz que
seja ele um ser individualizado como um objeto de pensamento -
segundo um dos dois termos dos pares das noções forma-matéria ou
unidade-unicidade. Ora, a forma sozinha, ou uma só unicidade jamais
puderam explicar todas as determinações do indivíduo; quando o aris-
totelismo, apoiando-se nos textos do estagirita, for colocar o problema
da individuação, ele encontrará certamente textos que lhe parecerão
permitir fundar a gênese dos seres individuais sobre uma única forma,
mas será, por outro lado, confrontado com outros textos - não menos
detenninantes - onde a individuação se fará por uma única matéria.
Esta. questão do indivíduo reside no centro dos esforços da reflexão
filosófica; depois de ter sido, durante vários séculos, objeto de dis-
cussões, ao tempo da escolástica medieval, ela se viu novamente posta
68 o sono dogmático de Frêud
mento, ao mesmo tempo, que o restringe." 75 Fora isso, devemos {" Pri~
meira analogia da e~periência") buscar o critirio empirico da perma-
nência que é , segundo Kant, " uma condição necessária e a única que
permite aos fenômenos serem determináveis como coisas ou objetos
numa experiência possível" .76
No equilíbrio que Kaot supõe existir entre as duas máximas da
razão, subsiste uma indeterminação que deixa em aberto uma via para
um possível uso exclusivo da segunda máxima da razão lógica. Esta
irá tomar-se princípio da razão pura tão Jogo lhe façamos um uso que
ultrapasse os limites da experiência possível. De certa maneira. não
é assim que evoca K.ant aquela pessoa que de tão especulativa tem
seu entendimento orientado apenas pelo primeiro princípio, ou aquela
outra que se entrega ao empirismo mesmo com risco de ver-se na
dependência exclusiva do segundo princípio da razão? O uso imode~
rado do segundo princípio da razão pura só pode levar o entendimento
a uma apreensão, agora em compreensão, que não mais respeita a
atribuição per se, mas somente per accidens.
Dessa forma, vamos ao encontro da perspectiva dos nominalistas
para quem a compreensão se define de maneira puramente subjetiva,
como sendo o conjunto das notas que explicitam t:lão somente o estado
da ciência num dado momento. mas lambém as disposições individuais.
E a compreensão do conceito nada é senão a coleção de qualidades
empiricamente constatadas. Há confusão dos fatos com a essência que
qualquer atitude racional necessariamente conhece quando, pretendeo~
do esta última invocar a seu favor o empirismo, quer dar às suas
definições um valor universal e necessário.
Quando o segundo princípio da razão é utilizado sozinho e sem
qualquer relação com a noçlo de necessidade que deve existir entre
um conceito e as notas que lhe são atribuídas, nós nos aproximamos
de uma compreensão infinita onde qualquer elo necessário é negado.
Temos. ent:W, uma sucessão e uma diversidade absolutas. Na primeira
parte da " Dialética". por sinal, quando defme a aparência transcen-
dental. Kant fala dos princípios da razãon - por nós já tratados aqui
- , fazendo, ao longo de sua exposição. o uso do plural. Tal como
as idéias do Eu, do Mundo e de Deus, que resultam de um uso trans-
cendente do primeiro princípio da razão e foram denunciadas como
ilusões, o segundo princípio pode ver~se objeto de uma aplicação que
leva o entendimento a sair dos limites da experiência. A segunda
máxima da razão lógica toma~se princípio da razão pura quando fa~
14 . o sono dogmático de Fmul
será personificado como pôde ser a idéia de um Ser divino. Ele será,
em contrapartida, quase sempre, entendido e representado como uma
substância natural amorfa, à maneira da Vontade de Schopenhauer.
Esta Idéia de uma nova espécie, que podemos definir deduzindo-a
das condições da possibilidade de uma Idéia geral, também não deriva
dos dados da sensação e tampouco se situa na mesma esfera em que
se acham os conceitos do entendimento. 87
Por causa da perspectiva extensivista da " Analítica dos concei-
tos", Kant, freqüentemente, viu-se alvo dos ataques de filósofos que
defendiam o ponto de vista da compreensão. Mais perto de nós, seria
o caso de O. Hamelin e de G . Rodier que tiveram, a contragosto, de
reconhecer que se eles não levassem em consideração o ponto de vista
da extensão estariam incorrendo no risco de enfrentar uma atividade
racional capaz de elaborar silogismos tão artificiosos quanto este:
É uma certa idéia, " tim simples substrato". como diz Schelling, que
Schopenhauer vai retomar ao colocar-se como sucessor de Kant.
Para Schopenhauer, a Vontade é a coisa em si, aquela realidade não
fen omenal. E a possibilidade que ele vê de apreender esta ordem última
do sistema que se dispõe a construir estaria num procedimento bastante
particular, aquele mesmo procedimento que irá responder por uma
ati vidade racional guiada pelo segundo princípio da razão pura. Depois
da " Introdução" de sua tese de doutorado. A quádrupla raiz: do prin-
cípio de razão suficiente, a maneira pela qual define Scbopenhauer
os princípios da razão e pela qual lhes atribui uma patef!1idade kantiana
tem tudo para surpreender-nos. Ele começa por lembrar que os dois
princípios racionais estabelecidos pelo seu mestre92 foram prefigurados
por Platão no Filebo. Numa passagem deste diálogo, Sócrates e"põe,
com efeito, que ao lado de uma necessária apreensão da unidade,93 é
igualmente necessário pôr-se, ao mesmo tempo, em busca da diver-
sidade.94 Nestas duas regras enunciadas pela filosofia platônica, Scho-
penhauer situa a fonte dos dois princípios da razão emitidos por Kant
na " Dialética transcendental". Sem dúvida, podemos reconhecer, no
princípio da homogeneidade, o avatar desta regra estabelecida no· Fi-
lebo e segundo a qual é necessário " procurar em cada caso uma forma
única" .95 Tal é o sentido do preceito ensinado por Kant quando lemos,
na Crítica da razão pura, que " esta hannonia se encontra também na
na.t ureza, é isto que supõem os filósofos na regra de tão conhecida
escola: que não devemos multiplicar os princípios sem necessidade
(etttia praeter necessitarem notl esse multiplicanda)" .9 6 Realmente~ já
desde o começo de sua reflexão, Schopenhauer tomou definitivamente
o partido de uma perspectiva bem determinada, perspectiva, sem dú-
vida, também presente na Crítica da razão pura, mas que, embora
seu autor não lhe tenha reservado um lugar exclusivo, o filósofo de
Frankfurt nem por isso deixará de privilegiar com .um papel que ul-
trapassa muito em importância ao que se encontra no texto kantiano.
Por ter-se limitado ao uso exclusivo do princípio de homogenei-
dade, a filosofia, diz Schopenhauer, ignorou preceitos que ele só en-
controu em Platão e Kant. A acreditar-se nisso, estes dois filósofos
teriam sido os únicos em toda a história da filo sofia que souberam
pri vílegíar a via da diversidade. Será assim que de sua pena sairão as
seguintes palavras: " Apesar de extremamente recomendada, encontro
a última dessas leis (a lei da especificação) pouquíssimo aplicada a
80 o sono túJgmáJico de Fr~ud
matérias, o matemátíco .em sua teoria pura das grandezas, deverá tam-
bém fazer o filósofo para poder determinar com segurança a parte
que tem um particular modo do conhecimento no uso corrente do
entendimento, bem como seu valor e sua influência. 107
Ora, Schopenhauer, no início de sua tese Da quádruplá raiz ... ,
pretendendo apresentar-se como seguidor de Kant e mostrar que os
dois, ele e Kant, comungam do mesmo ponto de vista no que toca ao
uso quase exclusivo do segundo princípio da razão. cita, inteiramente
fora de qualquer contexto do capítulo" A arquitetõnica da razão pura" ,
as frases de Kant mencionadas acima, com intenção de fazer esquecer
que, quando o filósofo de Ko nigsberg fala, aqui, da necessária busca
de uma diversidade dos conhecimentos não tem outro o bjetivo senão
o de obrar para que se chegue, no fim de tudo, à unidade de que fala
a Metafísica.
Vemos assim Schopenhauer armado para construir seu sistema,
aquele que ele estará constantemente expondo através das sucessivas
edições de O mundo como vontade e como represenlação. Será ape-
lando para uma caução kantiana que irá pretender - de maneira
indevida - enfrentar o sucesso j á em franca ascensão - estamos em
1813 - de Hegel e outros idealistas pós-kantianos, encarniçados ini-
migos seus.
ele afirma não ter tido conhecimento dos textos do fi lósofo de Frankfurt
antes de ter redigido o essencial de sua obra. É evidente que o neu-
rologista de Viena efetuou à vista dos tex tos de Schopenhauer um
empréstimo que participa da idéia de plágio, daquilo que o levou a
introduzir em seus textos particularidades da filosofia kantiana, sem
que, no entanto, alguma vez, se tivesse dado conta disso. A reflexão
schopenhaueriana é, desta maneira, determinante para o texto psica-
nalítico, apesar de parecer que Freud jamais tenha pensado nas con-
seqüênc ias de uma " inspiração" tão especial.
Quando se tratava de construir a própria teoria, aquele que se
valeu de argumentos psiquiátricos contra a filosofia não hesitou em
seguir um filóso fo, é verdade que dos mais particulares. Assim é que
Freud irá contentar-se em decalcar aquilo que Schopenhauer dizia da
Vomade para saber o que deveria ele pensar daquele Ser primeiro de
que tinha necessidade por acreditar sentir-lhe os efeitos. E Freud estava
longe de pressentir que o eixo em tomo do qual construíra seu trabalho
era, pelos textos schopenhauerianos interpostos, avatar de uma aporia
encerrada no sistema kantiano. É mais do que certo que Freud ignorava
como o filósofo de Frankfurt teria construído seu sistema em cima
desta aporia. E, igualmente, ignorava como, forçando os textos de
Kant, pudesse Schopenhauer ter tão rapidamente "resolvido" c;:sta
aporia.
Estamos lembrados de que é na " Dialética transcendental" onde
encontramos um dos pontos capitais do sistema kantiano, aquele mes-
mo que revela uma razão que não chega a libertar-se das determinações.
do individual. A solução de Kant, que consiste em deixar ao lado do
primeiro princípio da razão um segundo princípio suscetível, em de-
tenninadas pessoas, de tomar-se determinante, lembra a definição do
tvooÇov (confonne a opinião comum) que é matéria da dialética em
Aristóteles, no caso de estarmos referindo-nos à definição que lhe dá
Tomás de Aquino em seu comentário das " Analíticas.. : " A razão
inclina totalmente para um dos membros da contradição, mas com
receio de que o outro seja verdadeiro." 109
Na Crítica da razão pura, vemos predominar Uf:Il uso determinante
do primeiro princípio com rela.ção ao segundo, e 9 texto parece "in-
clinar totalmente" para o ponto de vista da unidade do conhecimento,
para o ponto de vista da extensão. Entretanto, Kant deverá levar em
consideração aquilo que fez entrar o sensível no conhecimento. Neste
texto, nada impede que se faça um uso transcendente do segundo
princípio. Quando quer botar na boca de Kant - para, certamente,
o sono· dogmálico de FTtüd
NOTAS
influência da razão sobre as di vis~ .dos físiJ;os é. muito fácil de1ser percebida.'.'
(Ibidem. O grifo é de Kant.) ..
3.7- lbictem, p.~5.3-•k: .. '· ..
38..Aiquié. F..,.Lo critiq~ ~ieiUie de ll.nnét4phynque, op.clt., .p\l8.
39. Kant, E., Critique"'de la =raison ·p~. ôp.cü:, ·p.258.·
40." H_us5eri,E:,·.ú.i .Crist:_#~s scienàs i~~p~~n~s;·_~p.c_it. , p.2i6. · .. · .
41 . I<a"nt, F·• Cr!t.~q_~ 1~ "tà ra4o?·f-~~; ;op:~fi:.p,iss..QgriéQ é. ~e. K~t.. . ..
42. [!>idem, .p,25.8. .. : . . . . . . ... ,. . .
43. Kant, E., iogique, trad: L. Guillennit, Paris, Vrin, 1979, p.20.
44. Kant;:Ei, CrilÍI/114·de la raú.ón pUrt!, ·op:cit.t p:267. J · ,. ··
45.· Hamelin, O., u syst~~ d'Aristote, Paris, Vrin, .1976, p.J77: ·; ·
46. Kan~ E., Logique; op.cit, p;99 .. O grifo: ~ de ·Kant~ ) · · ·' ·.
47. Alquié, F.,l..a critique kântuiW de ià milaPhysi'que, · op."Cit~ p:37. · ·· · ·
48. trico~ i . r;aiié de. Iogiq~ fo~lte~ Paris. _vrin, 197"3, p.17: ·.' . · . ,. , ...
49. Kant, E., Critique de la raison pu~, oP..ck. _ p.45. · ,;· . . ·· ..
50. Ibidem, p.46.
51 . Weil, E., Logique de la philosoplúe, op.cit., cf. em particul~, o parágrafQ, ." L.e
savoir comme négatíon de l'individu", p.33 sg. ·· · · :' ..
52. Leibniz•.G.W., " Lettre à AmauJd du 30 a~rif t'687'' . in CE~vfes 'ciwisíÚ, ~t.
L Pre-nant; Paris; Auóier· Moritajgne,···t972; ti, p.252. O grifo é 'de: Uibrui · ·
53. }ieide&ger, ~.; ~ntÚpr~Wt! 'iJ~~nplogiqu~ di la Crjtique de la ·~is~~
pure de Kailt, trad. E. Maitinéaú, Paris• .Oaiiimard. 1982, p::ii :· ·
54. Lalan~. J\., Vo~ulaire . recff!U.q~ ·~, C~itÚÍ~ lk ·l(,_'phiJ9sóp~ op.ci~:~.
p.497. . . . . ' ·., --· . . .. . . . . :. .· ·, . '' . . ..
5S . .Qerr, H.,.Avant~pr.op.o&. tús u:posis tk la 111. seJ}IQine illt~~tioM/e:tk SJP!tN:re
.n u ~'l..'ind~vid~l.ité \ .citado. in Lcw.is, G.,-L:itulividwJlité.st!ÚJil Dt!..SCQT./u, op.cit,
p.3, n. 8. O gófo é nosso. .. . .
~6. Co!DO expõe-A, de Muralt.:-~.... a·oomposição,dJ represa)tação é dupla: ·ç ada
um de se~,~s ~lem~ntQS çorresponde:l~.l por uma parte 8CM)bjeto.(;ma&éria) e poc
outra p~ a.o sujeito (f~);. Mttrait. .A., IA CJJtJScit!nç~ ttTMUceN:Wal.ale -dtw-
le cr#ic~ /uuJ.rien. EsSIIIi. pu runi~: d'op,tll:"eption~ P$ri~. Aubier~Montaigne.
1958, p.l7. . ' ...
57. Kant, E., Critiqw: tk la raison plln, op.cit, p. l48. ,. ..
~. Ibidem, p, I·SO. :. ..
59. " Estão aqw:dois.conoeitos que:servem·dé princípio· a qualquer outrueflexlo,.
pois estão in$eparâvelrncnte ligádOs a ·qualquer_uso do entendimento. O ·primeiro
significao ~ná~ M"t ~e; o '~; sua determinaç&J?!··(Ibidem, p-:235.)·
60. Arnailid, 'A.:· e NicOJC.; ·p.~' t.a ·logiijài -oâ t•an th pmst!r,' ~iis, Flamm;.nori,
1970, p:88: . . . .. :.:: . . ·. . . . . : . . ' ._. : . .. "' :: ·: . ....
6l. ícapt, E., ç~ir(q.~,'#e ,la. ~~; ~.cit~ p.4~9. ·. ..,_... _.. .".
62. Ámau!d ..!'\.t··~ ~~. ~~ ~ :iog~ ~ -l'~t1 .• ~r, ôP-~l, i~ .~.· .
63. Kant, E., Crilique:tk:i. .IVIÜID«.~·~.cit., ibidetrL O: zrito.~ de Xant. . ··. .
Ul1ill lrigü.-a .da ~rincia
A armadilha do irracional
O período racionalista
92
a amwdilha do irracional 93
fazendo parte de seu Eu: " ... eu me pus como nonna avaliar, durante
o curso da análise, o valor de uma reminiscência que surja sem levar
em consideração o seu reconheci mento pelo paciente" .46 Nessas últi-
mas páginas dos Estudos sobre a histeria, estamos, portanto, lo nge
do pacto entre as duas racionalidades que, no início da obra, se revelara
a idéia condutora do tratamento psicanalítico. A inteligência de um
dos dois protagonistas- no caso a do paciente- não é mais admitida
como apta a proteger-se contra o desconhecimento de representações
cujo traço subsistiria, entretanto, no interior do psiquismo individual.
O psicoterapeuta não confia mais senão nele próprio para decidir sobre
o que constitui - ou não constitui - parte integrante deste espírito
individual, dizendo que" é preciso ter cuidado para não superestimar-se
'a inteligência' inconsciente do doente" .47 Poderíamos objetar que se
a razão do paciente é questionada quanto à sua capacidade essencial,
o mes~o poderia ser fe ito com relação à do terapeuta. Por sinal, é o
que parece reconhecer este último quando escreve que "é preciso que
se desista, de uma vez por todas, de chegar-se ao âmago da organização
patogênica, de fonna mais direta" .48 Ainda que a atividade racional
do médico lhe permitisse atingir este objetivo, não será isto que fará
modificar a incapacidade do paciente para compreender a veracidade
dos dizeres do terapeuta. É o q ue frisa Freud quando observa que
'' mesmo admitindo-se que consiga adivinhá-la [a organização pato-
gênica ], o doente não poderia fazer qualquer uso da revelação que
lhe fosse feita e, por isso, seu psiquismo e m nada se modificari a" .49
Por conseguinte, Freud não faz mais da inaptidão da razão para
conhecer o verdadeiro, o real, apanágio de sujeitos dominados pela
doença. É evidente que, por esta época da perspectiva psicanalítica,
começa a emergir outra vez. aquele questionamento do estatuto da
razão segundo o qual o desconhecimento de certos elementos do real
pelos pacientes não é pró prio da neurose. " O prático está no direito
de exigir de um histérico associações lógicas, motivações semelhantes
às que ele exigiria de um indivíduo normal" ,so e a manutenção da
coerência lógica será, então, descrita como uma arma que se volta -
sem que disso tenha conhecimento- contra o paciente, poi s a coesão
do discurso não passa de um engodo que impede o terapeuta de ver
aquilo que a construção lógica esconde, ou até se ela esconde ou não
alguma coisa: " A narrativa que faz o doente parece acabada, consis-
tente. Nós nos encontramos, primeiro, diante dela como se na frente
de um muro tapando qualquer perspectiva e impedindo de adivinhar
112 o wno tiog,ático Ih Fr~ud
Eu que ainda o seria, mas no qual não vemos mais onde poderá ser
ele autônomo.
A indeterminação própria às definições do recalcamento, das
instâncias e de suas relações recíprocas, da mesma forma que aquela
que foi levantada na vã tentativa de esclarecer a relação entre o pen-
samento e a defesa, depende do uso transcendente do segundo princípio
da razão pura. Isto significa dizer que, seguindo intencionalmente a
reflexão schopenhaueriana, Freud combate a filosofia sob a bandeira
da pura diversidade. É assim que o veremos atacar continuamente a
Metafísica por esta proceder de um único movimento do espírito e
opor à (fUVO'fllÇ (visão de conjunto) uma teoria psicanalítica que opera,
no que lhe diz respeito, por etapas sucessivas. Já Kant avisava aos
que poderiam ver-se tentados de seguir quase que exclusivamente o
princípio de especificação, que eles acabariam buscando .. incessante-
mente cindir a natureza numa ordem tão grande de variedades que
seria quase preciso abandonar a esperança de poder julgar os fenômenos
de acordo com os princípios gerais" .74
Esta advertência aplica-se perfeitamente a Freud cujo caráter
não-limitado de seus processos de análise e propensão para, aprioris-
ticamente, fracionar a experiência se revelam em suas repetidas divi-
sões dos mecanismos, perspectivas e instâncias. Henry Ey notara, com
muita propriedade, esta tendência inerente ao método freudiano que
consiste em tomar cada vez mais complexa a elucidação dos emba-
samentos da vida psíquica: " ... aquilo que era o próprio fundame nto
da definição do Inconsciente pelo recalcamento e do recalcamento
pela consciência, tudo isto se esfuma e se funde na penumbra" .75
Freud, no entanto, não procurou dissimular o caráter inexorável de
seu procedimento. Assim, quando querendo, uma vez mais, salientar
a diferença entre a filosofia e a psicanálise, irá ele escrever , em "O
Eu e o Isso", que sua disciplina "estava obrigada a progredir gra-
dualmente na compreensão dos fenômenos psíquicos por meio de uma
decomposição analítica dos fenômenos tanto normais como anor-
mais" .76 Será ainda em função desta tendência para a especificação
que, numa carta endereçada a Groddeck,17 ele se põe à parte da filosofia
e recrimina seu correspondente por não confiar nas diferenças da
natureza, pois .u ma visão unificadora - que qualifica como " monista"
- não deixa realmente de constituir uma prova de que Groddeck, no
fundo, não passa de um filósofo. Em'' Uma dificuldade da psicanálise" ,
Freud, ao descrever o psiquismo como fracionado em instâncias de
número indefinido, explicará esta ausência de unidade no conheci-
a armadilha de irracional 125
somente são o que elas são no que diz respeito apenas às exigências
da consciência. Daí resulta que a conseqüência deste método não
poderia ser outra senão o conhecimento do Inconsciente cujas deter-
minações derivam exclusivamente da consciência. Esta tentativa de
conhecer o Ser absoluto que é o Inconsciente não deixa de lembrar
um certo proceder do pensamento antigo por meio do qual se acreditava
poder passar do conhecimento do homem para o de um Ser absoluto
de outra espécie, vale dizer, Deus. Dessa maneira, como observa J.
Pépin, a propósito da teurgia dos oráculos caldcus, " à imitação do
Deus supremo que cria à sua semelhança os deuses do céu, o homem
fabri ca à semelhança de seu rosto os próprios deuses [... ] ele é o
de o rum ficto r'' .19
uma hostilidade que fará crescer nela o desejo de matar a mãe. É esta
reviravolta afetiva que tomará impossível uma realização harmoniosa
da maturação da menina. E será a partir desta mudança que a maturação
se achará necessária e definitivamente perturbada O fato de a menina
ser vista como obrigada a expulsar o amor de seu Inconsciente para
que o ódio ali se instale só pode fazer que fiquemos muito surpresos
com a passagem desta incapacidade de tolerar, ao mesmo tempo, dois
opostos da parte de uma instância sobre a qual geralmente nos afirmam
que é ela caract.erizada pelo seu poder de fazer coexistir os contradi-
tórios. Diferentemente do que se passa com o menino onde o desa-
parecimento do complexo acarreta normalmente a instauração de um
"Supereu rigoroso" ,103 a menina se achará de tal man~ir.a colocada
diante do complexo de castração que ela verá este último "não des-
truindo o complexo de Édipo, mas favorecendo sua manutenção" . 104
Esta não-resolução do Édipo tem graves conseqüências para ela, cujo
Supereu "não consegue ter nem a força, nem a independência que
lhe são, do ponto de vista cultural, necessárias" . 105 A este propósito
acrescenta Freud: "As feministas não gostam muito de que se ressalte
a importância deste fator no caráter feminino em geral." 106 O desejo
do pênis, " especificamente feminino" ,107 conseqüência daquela ca-
rência que Freud considera essencial, irá acarretar repercussões ex-
tremas. Freud. de fato, nega à mulher qualquer determinação positiva,
fazendo dela um ser sem qualquer consistência. puro determinável,
onde a problemática própria para a apreensão do real não será modi-
ficada, nem mesmo pelo tratamento psicanalítico.
Na hipótese de uma razão que permaneça transcendente à defesa,
que transcenda o individual, quer dizer, no caso de que se mantenha
intacta uma faculdade de apreender o ser e o verdadeiro, poderíamos
presumir que, a despeito de todas as suas vicissitudes, a mulher possa
conservar potencialmente a integridade das disposições que a razão
· confere. De qualquer forma, para explicar a ausência relativa da mulher
no seio da vida intelectual, Freud poderia invocar a influência negativa
de fatores sócio~culturais , como a interdição de determinantes de ordem
política ou religiosa.
De fato, para explicar esta defecção, ele se vale de um tipo de
argumentação do qual inferimos que, na mulher, a razão não oculta
aquela potencialidade que gostaríamos de acreditar estivesse somente
impedida de atualizar-se. Já observamos que Freud negava à mulher
qualquer possibilidade de mudança pelo tratamento e que ele relacio-
nava esta incapacidade com a própria natureza dela; será esta linha
a amuulilha do irracional 133
continua sua crítica com a evocação do" sofisma" desses " anarqui stas"
que, g raças a suas teo rias fantasísti cas, conseguem enunciar uma con-
tra verdade, não importa qual seja. E por achar que os sofi stas poderiam
ter a audácia de discorrer sobre o mundo das coisas, ele considera
intoleráveis aquelas elaborações que, inicialmente, apresentou como
sedutoras nos limites de seu caráter especulativo. É o que diz da
segu inte maneira: "Sem dúvida, seria interessante para qualquer es-
pírito curioso de investigações teóricas saber por que vias e por meio
de quais sofismas os anarquistas conseguem arrancar da ciência tão
extraordinárias conclusões[ ... ]. Nós nos contentamos de dizer que a
doutrina anarquista parece sublime e preeminente enquanto aplicada
a especulações abstratas, mas fracassa quando se trata da vida práti-
ca."131
O leitor de Freud, que descobre a existência desta condenação
tão mal fundamentada quanto violenta e segura de suas proezas, vê-se
constrangido a deduzir que, nestas páginas, a psicanálise se revela
incapaz de avaliar o alcance de suas afi rmações no que conceme à
questão do conhecimento, o que não a impede, contudo, de achar-se
apta a legislar sobre as orientações fundamentais da física teórica.
Uma tal constatação poderia, com justa razão, levar o mesmo leitor
a reconhecer neste Freud, vituperando contra a teoria da relatividade,
traços próprios de Bouvard e Pécuchet ao denunciarem em alto e bom
som " a burrice daqueles que os cercam e [que eles] já não conseguem
mais [ ...) suportar" . Tal leitor se sentiria certamente inclinado a não
fazer caso do conteúdo desta disputa, destas invectivas que realmente
não merecem muito que se lhes preste atenção, sobretudo, porque a
desmedida da imprecação se baseia na radical incompreensão da teoria
relativista. Freud revela total ignorância do pensamento einsteinianol32
quando o coloca na categoria das produções delirantes, por conseguinte,
perigosas para a ciência. Sua rejeição provém, na verdade, do fato de
ter entendido o termo "observador" dos enunciados relativistas como
equivalente ao termo " indivíduo". A partir desta confusão da quaJ é
responsável, acreditou compreender que o espaço-tempo era, pela re-
latividade, o que fora o homem para Protágoras, ou seja, " a medida
de todas as coisas". Tal hipótese teria efetivamente conduzido esta
teoria física a um relativismo cético ou individual no qual podemos
reconhecer-lhe a origem no sofista de Abdera. Freud ignorou que os
físicos relativistas somente usavam o termo "observador" em seus
trabalhos de vulgarização e que, por outro lado, não faziam alusão a
a armadilha do irracional 143
59. Kant. E., Critique de la raison pure. op.cil. p.455-6: " ... numa determiiUlda
pessoa, é o inleresse pela diversidade que conta (segundo o princípio da especi-
ficação) e, numa outra, é o interesse pela unidade (segundo o princfpio da agre-
gação). Cada uma delas acredita formar seu julgamento a partir da visão do objeto
(aus der Einsicht des Objects) e ela o fundamenta unicamente conforme ten ha
uma ligação maior ou menor com um dos dois princfpios que não se baseiam em
fundamentos objetivos, mas somente no interesse da razão, e, por isso, melhor
seria que fossem chamados máximas do que princípios." O grifo é de Kant.
60. Ibidem, p.253-4.
61. Ibidem, p.254.
62. Imagem- de origem aristotélica- que Descartes rejeita, em O discurso do
método, pois ela implica uma tal separação entre alma e o corpo que lhes toma
impossível a unidade: " ... não basta que ela [a alma] esteja alojada no corpo
humano, tal como um piloto em seu navio, [... ] mas é preciso que ela esteja junta
e unida estreitamente com ele para ter (...]sentimentos e apetites semelhantes aos
nossos e, desta maneira. compor um verdadeiro homem". (Descartes, R. Discours
de la méthode: Cínquíeme partie, in (Euvres philosophiques, Ed. F. Alquié, o p.cit,
U, p.631 ~2; A.T. VI 59.)
63. Freud, S., "Les psychonévroses de défense", in Névrose, Psychose et Perver·
sion, op.cít., p.7.
64. Freud, S., "Lettre à W. Aiess", de 22 de dezembro de 1897, in La naissance
de la psychanalyse, op.cit, p.213.
65. Freud, S .• " Le refoulement". in Métapsychologie, op.cit, p.48.
66. Ibidem. p.49.
67. Freud, S., "Le moi et le ça", in Essais de psychaiUllyse, op.cit., p.l92.
68. Ibidem, p.230. O grifo é nosso.
69. Ibidem, p.l95.
70. Freud, S., "La personnalíté psychique", in Nouvelles conférences sur la psy-
. chanalyse, op.cil., p. l 05.
71. Freud, S., Abrégé de psychanalyse, op.cit., p.74.
72. Freud, S., ''Le refoulement'', in Métapsyclwlogie, op.cit., p.49.
73. Freud, S., " Le moi et !e ça". in Essais de psychanalyse, op.cit., p.l92-3.
74. Kant, E., Critiq~ tk la raison pure, op.cit., p.459.
75. Ey, H., " La oonscí.e nce". op.cit., p.397 . .
76. Freud, S., " Le moi et le ça", in Essais de psychanalyse, op.cit., p.205. O grifo
é nosso.
77. "Tema que você não passe de um filósofo e q ue tenha uma tendência monista
quando desdenha as belas diferenças ofertadas pela natureza em prol das seduções
da unidade" (citado in Assoun, P.-L., Freud, la phiú:Jsophie et les phiú>sop~s,
op.cit., p.55, n.l ).
78. Freud, S., "Une difficulté de la psychanalyse''. in &sais de psychano.lyse
applUjuie, op.cit., p.l 43. O griro é nosso.
79. P~pin, J., ldées grecques sur l'h.omme et sur Dieu, op.cít.. p.14.
80. Lembrando os esquemas filogenéticos que a criança traria consigo ao nascer,
Freud afirma sobre estes que eles são " semelhantes às 'categorias' filosóficas
~ o
[.-] 1.() .•OOMiji~INi*' ,tf..lõ..ft ·( ..• ] .-...
dlt........,.... 1
.L ...u.J
.,._. UQC:S .·., . (......_-
n.,.,.d , .,,,
('. u tu:•,,.,.
• '- ..-
_ -' 3YX')"".-'!
-...,.,..
iii.•GU~of~·J · tyu.s,op;rit.~ p:4l& 0'8'-ÍfO. é~osso:)
.
8); :·~-o*""" w;.,. ~ <lé:~tl tét.· assim-~ o ·herdeiro dãeto~~~uo ·
dc:.iÉdip.é'' ·(lfftal,• .~: ··ue:p:obROie ~:du..masooh,sme!' ; .1"Nillrr»6;
~·«:i1ft!lnlet~·~W.. ~ p_m"S Oigrifó.é' nosso..) '
&'L:S~UDID :tam.cbisen>u:Yàul:Váléry, q~Je ··uma consooâooia làs.·ve~ ··
~:um milae.· :Giudes -dease$ ~ .del11m :nocGdi\hb: ~é'.•unm-.espéére.·
ciiLaàliW1ã:.'-''" (Vilií!IY, P.,:. Variiti.'i, 1\ms;..Gàlüiward, 19'MJ U:tr,; ·P: 1~ ·.
&3..- .V~J..;.:p_~ :·~.sas~'; i~.Vemant, 1:-P. e ·ViciaJil~~ "A.',
lrftrlit..-e~ :t~ <en ~ a!KUIIIV,' ~ •• Mãspéro Edt., .19Si ; .P>B.3:·
&&; ~~·
8S5 j!Wjpléen,; pa_,
8fi: 1tiiàlóàL:
8.1. Hiililém,· ;r.flil:·
81: !ftal.!.&. .''l.l'~:·au~: loopsl!; in.Büarnwychfattalys«s~ ~cin., ~"4t_ 8:.
st.·A·p~:pàiQ,;A:~·~e.t:ata::t•·éOOI'pal'açãó,·associandó:offló5~.~
tuw~nmàclwftl,;cam· ~ .fi~ será•uma ,conslanté cnr SX!h~haaer • e"{J ..} IJ!L'
[a} :;t:~~•u • • ..,. ·..-~ftdlle. na: Wi'.iu118eltó.fPIIWe' NJVO.iiMtliltld«' 1~- .oudlt'· o ·,
tempu~·~sã~ com;:vida'm cololid0t9/'' (Ffiblenkb:,~ A\ li..<nMre''
dr,~~it.Jt,:p.''il4.· n~i J) ··.. · .
9D.•~F.:. ü·~.-d~nfi!Ji; Psis,.w; .reedJ. l ~~ fifbJ.
99 ; ftad:,;$, ÜnW·'·~· op;c:ii:.,. ~ll21'; . .
92: Cõ1i1D •md •• ' & . c, N:~ .Sdwlfiiar: ~· tToili:·&t·:· 18/J9-·s•· l'túet6Hedj··ldl·
Jatr.~~a · • · , Dd.J.:..P. ~ Alris; oan· ró,l. l91'77. ~=lfí!'
93.;~"'Sl. "ll.iaf~ . m:~'COfJj!ient:es.·s•üPifycll~JtaDijs4çO{)Çdt~ .
fl'-I.U::·o ·. ...,.éaiJIIL . ·· ··
91~ .Bi*ila;• ~iH•.. o-~:6JIOIIS&.·.
9S.. .tlliilláai.·.
9i. .Di*!ia.·
91: llli*ílaL.
9&:.·Bílllllal.;.p::ll17i o fjllifD 'é....... .
~.'.Mif.,.jlt!g ', ff' 1 Sj ·ai . ; tOfUii,:..l.l,l.A:) ,100~:l2l l
tOl: fiial,! .Sj, ·" ü,·C . . o/.~ .ia::M i llit.tCI«</fieMel.;s•rl.IJJfiY~,_t.
.,m:,.pjl~!j
UXJ.:IIIi? . ·~·
tm:mu · of'Plu,;.
lfll:'!"s ' ~~~-·
l.IJI.:'Billillll:l.
}.IJJ5lRMiat·.
1'1*· ~ .
1•01.}.......:~ .
ta· ...-;. ~K;J .
t09.. lbklem.
· 110. Ibidem.
~ uulbidan.
.1·t2.' Ibidem.
·113.' Jbiôml•. p.l-6.6.
:ll4.fffQid,.S., Abrigé.tk· psydtaltaty1e, op.àt, p.&l.
·r t5. :Stbder, 'M., La ·,wdear, .trai:!. 'M . fllaptty, •Paris, . ~: IH6Z.
, p. f39.:O ,pjfo..é:.de ·Scbeler. ·
t 16.; Lbillan,!.p; 1-40.: O grifo é de:Scheler.
tt7. !Frald, 'S., '!La .fémimt€' ,.in 'N~ Ollltfilt1iU3 .-.r. ' /iJ:;p~.
<?P-cil, p.l74.
: l18.' Ibidem.
! lJ9.:lbidem,.pX7b.
·UO"Freud:S. ~Trois esmú-swlla tlriorie ile'la wJM'IW; !Rif.iB.':JlotiuAilowUlilrc,
iP.aris,< GaiJimard, . rol : ·~hfées·', 19.62,;p:~7. ·
i t2l.llbidem,. p:87.
.1.22.1 PWão,1Pam.iillide,: lllltl.:A. ! Ims,l-Paris,' IAs·lkl!Bsi ~•.I Ji91n·,.; IM,~ IM.
;123. !Fcam, . S., ·!La ~ féminité'~, ,in W~ ..a.firau.>· ~»~~ , IB-IfP!i"'•~·
qp.tit,;.p l ~17.
124.ilbidml.
I25.:Ibidem.
·t26.:J. Laplmtbe.e ·J.•B.;PootaJ.is. obsenam·aaae ~~ ·~~ f.. ;}:~
.fn:udi.aoa. Cl!H'resta,SQI.ÇOÍO ·a- uma eapresação qge ..,er.Wl" oHiiJiflm_. . ,..,....
darltJ. o miilo!illtlil'itlual.em que-& -teffipla: a das•IM' ds•ii1Piii'*'-' ~·
~~mmsmilidaS~ ,,vale.diz:u,. efiP'cma• .-e,.,..._81-_.i 411iÜÍ!li
~do~sujc:ico~(~: s.iol WJabán-..~cda,sicpÇío ti C•k'' ,, (ll"j lee4W 1.1,~-c:
i Ppmalis, JJJ B., '·Vocébulaire.:de:la, ps-ya..alyse,' l'aô$..l'till.',..2':-cül JWl&,;tdJ.i O
gi'ifOté!.IIOSSO.-)
.l27. l'Ftatd, ::S., '!Ui ,fémiaité"~, .in 'NtwW/ks ,tOif/iHftas. i$111'! ! la ;.ptJJIÍ"••rí!iP'·
qp.dt.Jpit'i7!:8.
• I2S . ! La; -páübleévólutioo · vus' laf ~-:aWit ·,Siiffi àipllillctl lils:~*
tl1itifi'ridO.' . (ibidem).
· l~.!Frcutly's.,· ':Dru.ue ~tion.de:J1 ai~ ,.a .,._46:sl:•iHI.Ií"**"~•
; psyt/mlrály$e,•op.éit,;p.2J2.
liGO. rIbidem.
Jf3) .ilõidan,o.p.23:2-\3.
: t·lZ.:ltnyer,iR,i&qfii.ueá.U•«·~·Io·.Jtrat-t,JIIm!is,! IF·.. 'Aimlr..' BJ0~
rp.zlll>86.
: 1\lJ. i Fmro,.~s.• 'tD'uae.~on. df:;E.LIIliwn"' .. -. ~~SMfllla
i pzydtaluilyse,.qp..cit, ;p.'23(3.
Conclusão
150
conclusão ISI
NOTAS
2. Freud não percebe que o Édipo somente pode pretender a condição de uma
explicação hipotética. Logo de início, ele o considera real. enquanto esca hipótese
não tem, a priori, qualquer alcance senão, por exemplo, o de explicar - como
antigamente se fazia - os fenômenos da visão, ou seja, o éler. Em sua obra
Teoria física, P. Duhem mostra perfeitamente a possibilidade de uma tal confusão:
"Muitas das audaciosas explorações que enonnemente contribuíram para o pro-
gresso da geografia são devidas a aventureiros que procuravam o país do ouro;
isto não é razão para fazer figurar o Eldorado nos mapa-múndi." (Dubem P.: La
théorie physique, 2.a ed., Paris, Vrin, 1981, p.42.)
3. Spinoza, B. de, Traité de la réjonne de l'entendement, trad. A. Koyré, Paris,
§19 e nota, §21 e nota.