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2021/630100238335-86992-JEF

PODER JUDICIÁRIO
JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

TERMO Nr: 6301045770/2021 SENTENÇA TIPO: A


PROCESSO Nr: 0047405-24.2020.4.03.6301 AUTUADO EM 18/11/2020
ASSUNTO: 140101 - AUXÍLIO EMERGENCIAL (LEI 13982/2020)
CLASSE: 1 - PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
AUTOR: ADMILSON ZUCATELLI
ADVOGADO(A)/DEFENSOR(A) PÚBLICO(A): SP999999 - SEM ADVOGADO
RÉU: UNIAO FEDERAL (AGU)
PROCURADOR(A)/REPRESENTANTE:
DISTRIBUIÇÃO POR SORTEIO EM 18/11/2020 07:22:45
DATA: 12/03/2021
LOCAL: Juizado Especial Federal Cível São Paulo, 1ª Subseção Judiciária do Estado
de São Paulo, à Av. Paulista, 1345, São Paulo/SP.

SENTENÇA

<#Vistos, em sentença.

Trata-se de ação ajuizada por ADMILSON ZUCATELLI, em face da


União Federal, objetivando a concessão do auxílio emergencial, o qual foi negado por renda
familiar mensal superior a meio salário mínimo por pessoa e três salários mínimos no total.

Alega que preenche todos os requisitos para a concessão do auxílio


emergencial, realizou o cadastro para recebimento do benefício, contudo o mesmo foi indeferido
sob a justificativa de renda familiar mensal superior a meio salário mínimo por pessoa e três
salários mínimos no total, impugnando esta alegação.

O pedido de tutela foi apreciado e indeferido em 08/12/2020, sendo


determinado que a apresentação da cópia integral da CTPS, extrato do CadÚnico, as CTPS dos
integrantes familiar e, eventuais holerites (anexo 10).

A parte autora apresentou documentos em 16/12/2020 (anexo 12).

Consta decisão em 16/12/2020 determinando apresentação de


declaração do imposto de renda de 2018/2019 e os comprovantes de endereço do período de março/2020
até outubro/2020 (anexo 12), o qual foi cumprido em 07/01/2021 (anexo 14).

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Instada a informar o(s) nome(s) completo(s) das pessoas com quem


reside e, apresente cópia do RG e CPF diante da alegação de que "mora de favor em casa de
amigos" (anexo 16), a parte autora acostou documentos em 04/02/2021 (anexo 17).

Em 04/03/2021 determinado que a parte autora esclarecesse a


divergência de endereço já que foram apresentou vários comprovantes de endereço distintos: -
Rua Doutor Henrique Meyer, 368 – apto5 (fatura com vencimento Vivo 05/07/2020 - fl.01 e
fl.20 - anexo 14); - Av. Parada Pinto, 3420 - apto35 (fatura com vencimento Claro 10/11/
2020 – fl.24 – anexo 14 e fl. 09 – anexo 3) e declarações de imposto de Renda de 2019 e 2020
(fls. 12 e 14 - anexo 14); - Rua Dr. Henrique Meyer, 233 – Apto. 5 BLOCO 368, em nome de
Raimundo de Souza Caze Pile conta Comgas com vencimento em: 24/03/2020 (fl.32 - anexo
14); 23/04/2020 (fl. 15- anexo 14); 25/05/2020 (fl.30- anexo 14); 25/06/2020 (fl.28- anexo
14); 27/07/2020 (fl. 26- anexo 14); 25/08/2020 (fl..18- anexo 14); 24/09/2020 (fl.38- anexo
14) e 26/10/2020 (fl. 34- anexo 14), bem como esclarecesse a apresentação do documento de
identidade de Marcio Roberto Mendes, já que não consta nenhum comprovante de residência em
nome do mesmo (anexo 19).

A parte autora informou que no período de 07/03/2020 a 11/10/2020


residiu de favor na Rua Dr. Henrique Meyer, 368 – apto. 5 (conta vivo fixo e cobrança por falta
de pagamento), o imóvel pertencia ao falecido Raimundo Souza Caze, tendo sido cedido por
Francisco Antonio Siqueira Neto; no período de 11/10/2020 a 23/12/2020 morou na Av. Parada
Pinto, 3420 bloco 12 apto.35 (conta Net/Claro); no período de 23/12/2020 até o momento vive
na Av. Professora Virgila Rodrigues Alves de Carvalho Pinto, nº300 apto. 2 em um quarto cedido
por Marcio Santiago Mendes (anexo 24).

Vieram os autos conclusos.

É o breve relatório. DECIDO.

Conheço do processo em seu estado, para julgar antecipadamente o


pedido, nos termos do artigo 355, I, do CPC/2015, diante da desnecessidade de mais provas,
em audiência ou fora dela, para a formação da convicção deste Juízo; de modo a restar em
aberto apenas questões de direito.

Passo a análise do mérito.

Para bem situar a demanda e o conflito presente nos autos, em termos

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processuais, veja-se a especificidade do processo civil brasileiro quanto aos ônus da prova. O
ônus da prova é o encargo atribuído a cada uma das partes para demonstrar a ocorrência dos
fatos cuja demonstração seja de seu interesse. Essa regra parte do princípio de que toda
afirmação feita em juízo necessita de sustentação. Sem provas e argumentos, uma afirmação
perde seu valor argumentativo e, por conseguinte, sua aptidão para persuadir o julgador.

Conforme as normas de processo civil brasileira, salvo alguns casos em


processo coletivo, a falta de prova não leva à extinção da demanda, sem resolução do mérito,
mas sim a sua improcedência. Nada mais aí do que outra regra elementar do processo civil,
descrita há muito no CPC, atualmente em seu artigo 373, inciso I, prevendo que, como regra
geral, o encargo subjetivo de apresentação da prova em Juízo incube a quem alega o fato. Não
atendendo a seu encargo, aquele que afirmou o evento situa-se em posição visivelmente
desfavorável, pois o declarado, em regra, simplesmente restará sem suporte para acolhimento.

O panorama decorrente do novo coronavírus (COVID19), com a


pandemia que se instaurou, exigiu do Poder Público atuação para o amparo de grande parte da
população. Diante disso, houve a promulgação da Lei nº 13.982/2020 e Lei nº. 13.998/2020
estabelecendo medidas excepcionais de proteção social a serem adotadas durante o período de
enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do
coronavírus, dentre eles a concessão do auxílio emergencial.

Estas novas legislações (assim como outras), alteraram a Lei nº. 8.742
de 1993, que dispõe sobre o benefício de prestação continuada (BPC), exatamente pela
circunstância atual levar à vulnerabilidade social de uma grande parcela de indivíduos.

Referida Lei nº. 13.982/2020 (já atualizada pela Lei nº. 13.998/2020)
em seu artigo 2ª e seguintes dispôs sobre o benefício e indicando os requisitos para percepção
do mesmo:

Art. 2º Durante o período de 3 (três) meses, a contar da publicação


desta Lei, será concedido auxílio emergencial no valor de R$ 600,00 (
seiscentos reais) mensais ao trabalhador que cumpra cumulativamente
os seguintes requisitos:
I - seja maior de 18 (dezoito) anos de idade, salvo no caso de mães
adolescentes;
II - não tenha emprego formal ativo;
III - não seja titular de benefício previdenciário ou assistencial ou

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beneficiário do seguro-desemprego ou de programa de transferência


de renda federal, ressalvado, nos termos dos §§ 1º e 2º, o Bolsa
Família;
IV - cuja renda familiar mensal per capita seja de até 1/2 (meio)
salário-mínimo ou a renda familiar mensal total seja de até 3 (três)
salários mínimos;
V - que, no ano de 2018, não tenha recebido rendimentos tributáveis
acima de R$ 28.559,70 (vinte e oito mil, quinhentos e cinquenta e
nove reais e setenta centavos); e
VI - que exerça atividade na condição de:
a) microempreendedor individual (MEI);
b) contribuinte individual do Regime Geral de Previdência Social que
contribua na forma do caput ou do inciso I do §2º do art. 21 da Lei
nº8.212, de 24 de julho de 1991; ou
c) trabalhador informal, seja empregado, autônomo ou desempregado,
de qualquer natureza, inclusive o intermitente inativo, inscrito no
Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico)
até 20 de março de 2020, ou que, nos termos de autodeclararão,
cumpra o requisito do inciso IV.
§ 1º O recebimento do auxílio emergencial está limitado a 2 (dois)
membros da mesma família.
§ 2º Nas situações em que for mais vantajoso, o auxílio emergencial
substituirá, temporariamente e de ofício, o benefício do Programa
Bolsa Família, ainda que haja um único beneficiário no grupo familiar.
§2º-B O beneficiário do auxílio emergencial que receba, no ano-
calendário de 2020, outros rendimentos tributáveis em valor superior
ao valor da primeira faixa da tabela progressiva anual do Imposto de
Renda Pessoa Física fica obrigado a apresentar a Declaração de Ajuste
Anual relativa ao exercício de 2021 e deverá acrescentar ao imposto
devido o valor do referido auxílio recebido por ele ou por seus
dependentes.
§ 3º A mulher provedora de família monoparental receberá 2 (duas)
cotas do auxílio.
§ 4º As condições de renda familiar mensal per capita e total de que
trata o caput serão verificadas por meio do CadÚnico, para os
trabalhadores inscritos, e por meio de autodeclaração, para os não
inscritos, por meio de plataforma digital.

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§ 5º São considerados empregados formais, para efeitos deste artigo,


os empregados com contrato de trabalho formalizado nos termos da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e todos os agentes públicos,
independentemente da relação jurídica, inclusive os ocupantes de
cargo ou função temporários ou de cargo em comissão de livre
nomeação e exoneração e os titulares de mandato eletivo.
§ 6º A renda familiar é a soma dos rendimentos brutos auferidos por
todos os membros da unidade nuclear composta por um ou mais
indivíduos, eventualmente ampliada por outros indivíduos que
contribuam para o rendimento ou que tenham suas despesas
atendidas por aquela unidade familiar, todos moradores em um mesmo
domicílio.
§ 7º Não serão incluídos no cálculo da renda familiar mensal, para
efeitos deste artigo, os rendimentos percebidos de programas de
transferência de renda federal previstos na Lei nº10.836, de 09 de
janeiro de 2004, e em seu regulamento.
§ 8º A renda familiar per capita é a razão entre a renda familiar mensal
e o total de indivíduos na família.
§ 9º O auxílio emergencial será operacionalizado e pago, em 3 (três)
prestações mensais, por instituições financeiras públicas federais, que
ficam autorizadas a realizar o seu pagamento por meio de conta do
tipo poupança social digital, de abertura automática em nome dos
beneficiários, a qual possuirá as seguintes características:
I - dispensa da apresentação de documentos;
II - isenção de cobrança de tarifas de manutenção, observada a
regulamentação específica estabelecida pelo Conselho Monetário
Nacional;
III - ao menos 1 (uma) transferência eletrônica de valores ao mês,
sem custos, para conta bancária mantida em qualquer instituição
financeira habilitada a operar pelo Banco Central do Brasil;
IV - (VETADO); e
V - não passível de emissão de cartão físico, cheques ou ordens de
pagamento para sua movimentação.
§ 10. (VETADO).
§ 11. Os órgãos federais disponibilizarão as informações necessárias à
verificação dos requisitos para concessão do auxílio emergencial,
constantes das bases de dados de que sejam detentores.

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§ 12. O Poder Executivo regulamentará o auxílio emergencial de que


trata este artigo.
§ 13. Fica vetado vedado às instituições financeiras efetuar descontos
ou compensações que impliquem a redução do valor do auxílio
emergencial, a pretexto de recompor saldos negativos ou de saldar
dívidas preexistentes do beneficiário, sendo válido o mesmo critério
para qualquer tipo de conta bancária em que houver opção de
transferência pelo beneficiário. ” (NR)

Ainda, em regulamentação à citada Lei nº 13.982/2020, sobreveio o


Decreto nº 10.316/2020, que assim estipula:

“Art. 5º Para ter acesso ao auxílio emergencial, o trabalhador deverá:


I - estar inscrito no Cadastro Único até 20 de março de 2020; ou
II - preencher o formulário disponibilizado na plataforma digital, com
autodeclaração que contenha as informações necessárias.
§ 1º A plataforma digital poderá ser utilizada para o acompanhamento
da elegibilidade ao auxílio emergencial por todos os trabalhadores.
§ 2º A inscrição no Cadastro Único ou preenchimento da
autodeclaração não garante ao trabalhador o direito ao auxílio
emergencial até que sejam verificados os critérios estabelecidos na Lei
nº 13.982, de 2020”.

Para tanto, como visto, é necessário o preenchimento concomitante de


requisitos.

No caso em tela, a parte autora alega que requereu a concessão do


auxílio emergencial, o qual foi negado diante por renda familiar mensal superior a meio salário
mínimo por pessoa e três salários mínimos no total.

Conforme informações da DATAPREV (anexo 9), a parte autora


declarou que seu grupo familiar é composto por ela, sua cônjuge e filhos. O cadastro do auxílio
emergencial é uma autodeclaração realizada pelo cidadão, dessa forma todos os dados são
informados no momento do cadastramento, assim a pessoa que realizou a inscrição incluiu
referida informação.

A parte autora realizou a retificação do Cadúnico em 11/09/2020 (fl.

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01 – anexo 3 e fl. 14 – anexo 11) por estar separado de fato de sua esposa, tendo residindo em
endereços diversos, consoante os comprovantes de endereço apresentados (fls. 08/15 – anexo
3, fls. 01/04 – anexo ; fls. 16/39 – anexo 14 e fls. 04/05 – anexo 24) e as atualizações do
endereço constantes nas declarações de imposto de renda (fls.06/14 – anexo 14).

Além disso, o autora demonstrou que não possui vínculo empregatício


ativo consoante a carteira digital apresentada às fls. 05/07 – anexo 11 e a consulta ao CNIS (fls.
10/13 – anexo 11) e nem aufere renda consoante as declarações de imposto de renda de 2016,
2017/2018 e 2019 apresentadas às fls. 06/14 – anexo 14.

Embora o autor tenha incluído em seu cadastro sua esposa e filhos


constata-se que o mesmo comprovou que esta residindo com o Sr. Marcio Rodrigues Mendes (
fls. 02/05 – anexo 24).

Portanto, resta demonstrado os requisitos legais para a concessão do


auxílio-emergencial.

DISPOSITIVO:

Ante o exposto:

I) JULGO PROCEDENTE a demanda, para CONDENAR a União Federal


à obrigação de fazer de implantar o auxílio-emergencial a parte autora, bem como o pagamento
de todas as parcelas previstas na legislação de regência (três parcelas inicialmente previstas na
Lei nº 13.982/2020, e as parcelas adicionais previstas nos atos legais e infralegais
supervenientes, desde que o preenchimento dos requisitos legais previstos na Medida Provisória
n.º, 1000/2020, regulamentada pelo Decreto n.º 10.488/2020).

II) CONDENAR a União, nos termos do artigo 311, inciso IV, do


NCPC, à tutela de evidência, determinando o cumprimento imediato da implementação do
auxílio-emergencial, no prazo de 10 dias, sob as penas da lei.

III) Encerrar o processo, resolvendo seu mérito, nos termos do


artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil de 2015 (lei nº. 13.105 e alterações posteriores)
, combinado com as leis regentes dos Juizados Especiais Federais, lei nº. 10.259/2001 e lei nº.
9.099/1995. Nos termos da mesma legislação regente dos juizados especiais, não há

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condenação em custas processuais e honorários advocatícios, bem como o prazo recursal resta
fixado em 10 dias, fazendo-se necessária a representação por advogado para tanto. Defiro os
benefícios da justiça gratuita.

Oficie-se à União Federal para a implantação do auxílio-emergencial


em 10 dias.

Cumpra-se.

P.R.I.O#>

CLAUDIA RINALDI FERNANDES


Juíza Federal

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