Professional Documents
Culture Documents
Miolo - Diario de Um Tenente Da FEB - EDIGRAFICA - FIM
Miolo - Diario de Um Tenente Da FEB - EDIGRAFICA - FIM
TENENTE DA FEB
LOCAL: ITÁLIA
EDIÇÃO PÓSTUMA
RIO DE JANEIRO
2019
Copyright 2019 – Augusto Otávio Miranda Granja e
Márcio Miranda Granja
Capa:
Augusto Otávio Miranda Granja
Digitação:
Natália Benini da Cunha
Designer gráfico:
Fabio da Silva
Gráfica:
Edigrafica Editora e Gráfica ltda.
1. Literatura Brasileira.
2. Relato de guerra.
Apresentação
Este diário foi escrito pelo tenente Oracy Ribeiro Granja durante o
período em que esteve em combate durante a Segunda Guerra Mundial
na Itália.
O tenente Granja partiu do Rio de Janeiro, recém-casado com Zeny
Miranda Granja, para os campos de batalha na Itália, dominados pelas
tropas alemãs e italianas.
Foi em meio aos bombardeios e ao pipocar das metralhadoras que
o tenente recebeu uma carta de sua esposa, participando a gravidez do
primeiro filho deles, que seria batizado com o nome de Augusto Otávio,
nascido em 30 de janeiro de 1945. Três anos depois, nasceu Márcio em
19 de maio de 1948.
O Tenente Granja serviu à Pátria durante trinta anos em diversas
unidades do exército brasileiro, sendo promovido aos postos previstos,
Capitão, Major, Tenente-Coronel e Coronel e, em seguida, pedindo
reforma, como General de Brigada, encerrando sua carreira militar.
Este diário nos foi legado por nosso pai, morto em 3 de outubro de
2001, o qual guardamos com muito cuidado e este ano resolvemos editá-
lo, pois entendemos que se trata de um documento histórico, e doar alguns
exemplares para o Clube Militar onde temos certeza será bem apreciado.
O original do diário pretendemos oferecer ao museu da FEB, pois
contém, em suas páginas, um pouco da história da gloriosa Força
Expedicionária Brasileira e dos seus heróis.
O esforço desses bravos brasileiros foi fundamental para termos hoje
um mundo livre das atrocidades do Führer e do jugo nazista. Muitos
perderam suas vidas nas batalhas e foram enterrados no cemitério de
Pistoia, posteriormente, os restos mortais foram trasladados para o Rio
4 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB
ENTRADA EM AÇÃO.
Vai iniciar para nós uma nova fase, ou seja, o nosso contato
direto com a frente de combate.
1o de dezembro – 14 horas. Dentro de poucas horas seguiremos
para a linha de frente, teremos que viajar uns 15 minutos de
caminhão e depois fazer um percurso a pé de cerca de 8 km, a fim
de que possamos ocupar as nossas posições esta noite. A cobra
aqui fuma dia e noite sem cessar.
“A cobra está fumando” – Esta é uma frase criada pelos
pracinhas brasileiros (assim eram chamados os soldados brasileiros)
para dizer que a coisa está feia. Nos momentos de bombardeio,
costuma-se dizer que a cobra está fumando.
ORACY RIBEIRO GRANJA | 11
querido! Você será o orgulho e encanto do nosso lar! Peço a Deus que
me leve de volta ao Brasil, para que não fique no mundo sem pai! A
guerra é, entretanto, traiçoeira... muitas crianças andam pelo mundo à
procura de seus pais que ela consumiu, mas Deus é poderoso e há de
fazer com que você tenha a felicidade de receber o carinho de seu pai!
Seja bem-vindo! Você virá sob um novo mundo; de glória, de paz e da
vitória! Aos meus pais, minhas saudades, meus abraços, meus votos
de Feliz Ano Novo e meu pedido de bênção. À minha sogra, meus
irmãos, minhas cunhadas e cunhados, os meus melhores votos de
Boas Festas, acompanhados de um grande abraço pela data de hoje.
Sila-12 Jan.45 – Ainda permanecemos neste lugar! No período
de 5 a 11 estivemos como instrutores da tropa recentemente chegada
do Brasil e que virá completar o efetivo do nosso R.I.
14 Jan.45 – Nesta data fui fazer um reconhecimento em Gaggio
Montano para ocuparmos posições.
15 Jan.45 – Hoje nos deslocamos de Sila para La Grilla.
Partimos às 19.00h, fazendo um percurso de caminhão até Cruciale
e, deste ponto a La Grilla a pé. Estou com dois grupos apenas. Um
ao Norte de La Grilla e outro em cota “685”, avançado cerca de
300m. Aqui temos casa para repousar, ficando mais abrigado do
frio. Estamos bem em baixo dos alemães, que têm vistas sobre toda
esta região. Não podemos nos movimentar, durante o dia, de uma
para outra casa. Recebemos de madrugada uma ração quente, que
vem transportada em muares, e mais uma fria para o resto do dia,
isto é, para o almoço, porque à noite recebemos nova ração quente
para o jantar. Durante o dia não se pode fazer movimento nenhum,
para evitar que o inimigo localize nossos postos. As comunicações
dentro desta vila para com os diversos postos são feitas por meio de
telefones magnetos, ou, quando é necessária uma ligação pessoal,
por meio de disfarce, utilizando roupas dos italianos.
16.1.45 – Hoje saíram, duas patrulhas noturnas partindo de cota
“685”, ambas regressaram sem novidade.
24 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB
Tiros de Morteiro
2 sinais amarelos – sobre Rôncole;
2 sinais verdes – Cassano di Mezzo;
1 sinal branco com coifa – sobre Lépore;
1 sinal branco com paraquedas – sobre cota 747.
Às 16:00 h regressei ao meu P.C. e tomei todas as providências.
ÀS 18:30 h o Pelotão do Ten. Aloísio substituiu o meu nas
posições e entregou-me um grupo de combate em reforço, que
ficaria com a missão de apoio.
O ten. Aloísio permaneceu no meu P.C., onde também se
encontravam o Ten. Germano do pelotão de morteiros da CPPI e
o Cap. Salomão, este, observador adiantado da artilharia, já ali se
achava há algum tempo, pois o seu P.O está localizado junto ao meu.
Às 20:30 h fui me deitar. Estive algum tempo pensando na
minha querida Zeny e no meu filhinho que ainda não tive a ventura
de conhecer, e assim adormeci.
20/3/45 – Conforme minha recomendação, eu e os soldados
fomos acordados às 2:30 h da manhã. Tomamos o café, fumamos um
38 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB
Brasil. Depois assisti a uma bênção feita pelo Papa Pio XII, que
no final, olhando para nós brasileiros, disse: “agora uma bênção
especial para o Brasil”! Estas palavras foram pronunciadas em bom
português.
Há muitas coisas notáveis em Roma, que deixei de conhecer por
falta de transporte. Afastando-se do centro da cidade, vê-se imensos
castelos, que ainda hoje são muitos bem conservados. Gostei da
minha viagem a Roma!
6/4/45 – Deixo Roma e retorno de trem a Montecatini.
7/4/45 – Chego a Montecatini e aí, juntamente com outros
militares, embarco de regresso ao front, num dos caminhões que
nos aguardavam. Reúno-me à minha Companhia em Iola, onde ela
se achava em situação de reserva do Batalhão.
13/4/45 – Recebi ordem de me deslocar esta noite para ocupar as
posições que vão ser deixadas por um Pelotão da 2º Cia. Essa Cia.
cerrará sobre Tufi e Bichochi, a fim de ocupar a linha de partida,
na madrugada de amanhã, em MONTAURÍGOLA, para o ataque a
MONTESE.
14/4/45 – Os americanos iniciaram o ataque esta manhã. Estão
atacando à nossa direita. Os brasileiros ainda não entraram em
ação. A participação da FEB é com o 11º R.I. em missão principal!
Ao III Btl coube a missão de atacar Serreto e Taravento e ao I
Btl às suas Cias:
1º Cia – ocupar as cotas 808-806-706 – Maserno e Montfort,
fazendo a cobertura do flanco esquerdo da 2º Cia.
2ºCia: Com o flanco esquerdo coberto pela 1º Cia e tendo à
direita o III Btl, recebeu a missão de atacar Montese.
3º Cia – reserva do ataque, devendo manter dois pelotões em
Bichochi e dois em cota 930.
CPP1: Missão de apoio e reforço à Cia de ataque.
Hora H: 13:00 horas.
À hora H partiu a 2º Cia sobre Montese e o III/Btl sobre Serreto
ORACY RIBEIRO GRANJA | 49
e Paravento.
Os americanos, que desde ao amanhecer estavam atacando pela
direita, recuaram para aquém da base de partida. Montese está
apresentando uma encarniçada resistência, apesar do tremendo
bombardeio que recebeu de nossa artilharia e do martelar contínuo
das metralhadoras de nossa base de fogos. Os pelotões progridem
com grande dificuldade, atravessando campos minados, debaixo de
fogo em toda espécie!
Um pelotão da 2º Cia é quase totalmente aniquilado, ficando o
seu comandante, o Ten. Ary, mortalmente ferido.
Os remanescentes deste Pelotão, já sem comando, recuam
procurando socorrer os feridos.
A 3º Cia recebe ordem de lançar um de seus pelotões sobre o
objetivo daquele, mas infelizmente também perde logo de início,
17 homens, isto é, a metade do seu efetivo.
Às 15:30 h recebo ordem de me deslocar para Bichochi e daí
para Montaurígola, passando à disposição da 2º Cia para prosseguir
no ataque. Quando me apresento ao comandante da 2º Cia, fiquei
ciente que um pelotão de sua Cia, e o único que lhe restava, havia
atingido a primeira casa, na orla SE de Montese. Em seguida, mais
um pelotão de minha Cia, passou à disposição da 2º Cia. Os alemães
bombardeiam violentamente diferentes pontos que de Montaurígola
dão acesso a Montese.
Já quase ao anoitecer recebo ordem de partir para Montese, onde
já se achava o pelotão do Ten. Iporã, que conseguira conquistar o seu
objetivo e nele se mantinha, com o seu pessoal fisicamente esgotado,
faltando ainda proceder à operação de limpeza, isto é, de capturar os
elementos inimigos que ainda se conservavam nos arredores.
Para chegar a Montese, tive de atravessar com o meu Pelotão,
uma faixa de terreno fortemente batida pela artilharia e morteiros
do inimigo. Algumas metralhadoras inimigas ainda atiravam da
parte mais alta de Montese.
50 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB
Condecorações:
– Cruz de combate da 1º Classe
– Medalha de Campanha
– Medalha de prata
– Medalha de Guerra
– Medalha do Pacificador (Duque de Caxias)
– Medalha de Maria Quitéria
GENERAL DE BRIGADA
ORACY RIBEIRO GRANJA
(HERÓI DA FEB)
64 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB
Augusto e Márcio.