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DIÁRIO DE UM

TENENTE DA FEB

ESCRITO PELO TENENTE


ORACY RIBEIRO GRANJA

PERÍODO: 2ª. GUERRA MUNDIAL


1944/1945

LOCAL: ITÁLIA

EDIÇÃO PÓSTUMA

RIO DE JANEIRO

2019
Copyright 2019 – Augusto Otávio Miranda Granja e
Márcio Miranda Granja

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui
violação dos direitos autorais. (LEI 9.610/98).

Projeto gráfico e composição:


Augusto Otávio Miranda Granja
Augustogranja3@gmail.com
Celular (22) 99966-5377

Capa:
Augusto Otávio Miranda Granja

Digitação:
Natália Benini da Cunha

Designer gráfico:
Fabio da Silva

Gráfica:
Edigrafica Editora e Gráfica ltda.

Granja, Oracy Ribeiro – *1917 + 2001 (In Memorian)

Diário de um tenente da FEB / Oracy Ribeiro Granja


Rio de Janeiro : Produção independente
1 ed. – 2019
56p. : 21 cm.

1. Literatura Brasileira.
2. Relato de guerra.
Apresentação

Este diário foi escrito pelo tenente Oracy Ribeiro Granja durante o
período em que esteve em combate durante a Segunda Guerra Mundial
na Itália.
O tenente Granja partiu do Rio de Janeiro, recém-casado com Zeny
Miranda Granja, para os campos de batalha na Itália, dominados pelas
tropas alemãs e italianas.
Foi em meio aos bombardeios e ao pipocar das metralhadoras que
o tenente recebeu uma carta de sua esposa, participando a gravidez do
primeiro filho deles, que seria batizado com o nome de Augusto Otávio,
nascido em 30 de janeiro de 1945. Três anos depois, nasceu Márcio em
19 de maio de 1948.
O Tenente Granja serviu à Pátria durante trinta anos em diversas
unidades do exército brasileiro, sendo promovido aos postos previstos,
Capitão, Major, Tenente-Coronel e Coronel e, em seguida, pedindo
reforma, como General de Brigada, encerrando sua carreira militar.
Este diário nos foi legado por nosso pai, morto em 3 de outubro de
2001, o qual guardamos com muito cuidado e este ano resolvemos editá-
lo, pois entendemos que se trata de um documento histórico, e doar alguns
exemplares para o Clube Militar onde temos certeza será bem apreciado.
O original do diário pretendemos oferecer ao museu da FEB, pois
contém, em suas páginas, um pouco da história da gloriosa Força
Expedicionária Brasileira e dos seus heróis.
O esforço desses bravos brasileiros foi fundamental para termos hoje
um mundo livre das atrocidades do Führer e do jugo nazista. Muitos
perderam suas vidas nas batalhas e foram enterrados no cemitério de
Pistoia, posteriormente, os restos mortais foram trasladados para o Rio
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de Janeiro e atualmente jazem no monumento aos pracinhas no Aterro do


Flamengo. Com a esperança de termos cada vez mais um mundo menos
belicoso e na certeza de que nosso pai aprova nossa iniciativa, dedicamos
à memória do bravo tenente as próximas páginas.
Forças Armadas Brasileiras – Pilar da Soberania Nacional contra
as ameaças internas e externas. Pátria amada, BRASIL.

Augusto Otávio Miranda Granja


Márcio Miranda Granja
DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

Este diário foi iniciado a 21 de outubro de 1944, tendo o cuidado


de relembrar os pontos mais importantes decorridos desde o início
de nossa viagem até a data do retorno a nossa Pátria e ao seio de
nossas famílias.
A 20 de Setembro de 1944, às 16h30min, entrávamos a bordo do
General Mags, grande transporte de tropas da Marinha Americana.
Nele embarcaram o 110 R. I. e tropas de artilharia, engenharia e do
Esquadrão de Reconhecimento e ainda a Companhia de Guardas do
Quartel General da F. E. B., compondo um total de pouco mais de
6.000 homens. No mesmo cais da Praça Mauá, em outro transporte
de igual tamanho, o General Maus, embarcava o Regimento
Sampaio e outras unidades menores. Neste navio viajou o Exmo
Sr. General Cordeiro de Faria e no primeiro, o Exmo Sr. General
Falconiéri.
Às 12h30min do dia 22, deixávamos a bela Baía de Guanabara,
com uma escolta de dois cruzadores e dois destróieres. Um dos
cruzadores era o Rio Grande do Sul, da Marinha Brasileira, os
demais eram da Marinha Americana.
Viajamos os dias 22, 23 e 24, quando na tarde deste último dia
vieram ao nosso encontro mais um cruzador e dois destróieres da
Marinha Americana, a fim de reforçar a nossa escolta.
O total das tropas Brasileiras era da ordem de 12.000 homens.
Quando atingimos a divisa entre os Estados de Bahia com Sergipe
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o cruzador Rio Grande do Sul abandonou o comboio, ficamos


assim, com uma escolta de dois cruzadores e quatro destróieres que
enquadravam nossos navios.
Pouco depois de deixarmos a Guanabara, a terra desaparecera de
nossas vistas, para só tornarmos a vê-la 11 dias mais tarde, mesmo
assim apenas por alguns minutos.
Desde o primeiro dia tivemos treinamento de abandono do
navio, o que se repetiu durante toda a viagem; o meu barco era o
5-A e estava situado a meia-nau a boreste.
Não sabíamos o nosso destino exato, alguns diziam que era a
Itália, outros o sul da França.
Já começávamos a sentir saudades de casa, quando no segundo
dia de viagem, sentimos palpitar os nossos corações ao ser anunciado
no alto-falante de bordo, pela primeira vez: “À meia-noite todos os
relógios de bordo serão adiantados em uma hora”; vimos então que
deixávamos o Brasil!
A ordem de “blackout” era severa. Todos os dias às 18h30min
ouvia-se a voz aborrecida no alto-falante: “Atenção! Escurecimento
total do navio! Quem estiver fumando deve apagar imediatamente
o cigarro!”. Éramos obrigados a nos recolher ao salão de estar
dos oficiais, o navio era todo fechado e nenhuma luz aparecia no
exterior. O calor aumentava e o ar se tornava viciado, apesar da
grande quantidade de aparelhos de exaustão existentes a bordo.
Os oficiais viajavam em camarotes e as praças em compartimento
(espécie de porão, com adaptação para beliches). Durante toda
a viagem, éramos obrigados a usar os salva-vidas. A comida de
bordo não agradava ao nosso paladar, pois era doce e perfumada.
Comíamos duas vezes ao dia, havendo, porém, uma refeição extra
para o pessoal de serviço permanente, a qual era servida ao meio-
dia. Eu fazia parte desse grupo, que fora escolhido entre os que não
sentiam enjôo pelo balanço do mar, e o meu posto de serviço era no
compartimento A-304-L, situado no porão n0 3 de proa. Em cada
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compartimento havia seis oficiais de serviço, cabendo a cada um,


diariamente, um quarto de quatro horas. A nossa missão era: zelar
pela disciplina e higiene no interior dos compartimentos; tomar
todas as providências para a ventilação e exaustão do ar viciado;
fiscalizar o rancho das praças; e assumir a direção do compartimento
a fim de evacuá-lo em caso de abandono do navio, cabendo esta
tarefa ao oficial que estivesse de serviço no momento.
Durante o dia, várias orquestras, brasileiras e americanas,
alegravam-nos com variadas músicas, das quais a mais aplaudida
era sempre a “Aquarela do Brasil”.
No dia 27 cruzamos o Equador, quando então recebemos a visita
de “S. M. Netuno”, que foi acolhido com uma formidável festa,
percorrendo todo o navio acompanhado por cordões carnavalescos,
que conduziam cartazes interessantes, dos quais se destacava um
que trazia uma cobra com um cachimbo na boca. Nesse dia tivemos
uma feijoada à brasileira (sem açúcar), e a satisfação foi geral. Nos
primeiros dias da viagem, houve muita gente que enjoasse, mas a
essa altura, já quase todos estavam acostumados ao jogo do navio.
Até a manhã do dia 29 nenhuma novidade fora assinalada;
eram precisamente 10h30min (8h30min no Rio de Janeiro), eu
havia terminado uma carta para a minha esposa, quando sofremos o
primeiro ataque de submarino; estávamos então às costas africanas;
o nosso comboio, em segundos tomou nova formação, enquanto que
um dos destróieres lançando bombas de profundidade se colocou em
perseguição ao inimigo, voltando mais tarde a ocupar o seu lugar na
escolta, durante o restante da viagem nada mais vimos ou soubemos.
Somente em Nápoles é que tivemos conhecimento de que fomos
perseguidos e atacados por duas noites consecutivas.
Até a manhã do dia 3 de outubro não havia sido visto ainda
nenhum sinal de terra, quando ao cair da tarde avistamos ao longe
umas elevações; depois percebemos a costa africana de um lado
e a espanhola do outro, era o estreito de Gibraltar. Quando todo
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mundo procurava o convés do navio, na loucura de ver terra, o alto-


falante anunciava o escurecimento do navio. Perdemos assim uma
bela oportunidade de ver a passagem do estreito, que tinha de um
lado a cidade africana de “Tanger” e do outro a cidade espanhola
“La Lima”.
No dia 6 de outubro às 6h da manhã passávamos em frente à
ilha de Cápria e às 8h já estávamos no Porto de Nápoles. Somente
dois destróieres nos escoltaram no Mar Mediterrâneo, os demais
navios voltaram de Gibraltar ou aí ficaram.
Em Nápoles o panorama do porto mostrava o efeito dos
bombardeios; navios afundados, outros com as quilhas para
o ar, dezenas de esqueletos de navios destroçados, edifícios
completamente destroçados, etc...
No cais a gurizada malvestida e com a fome estampada no rosto,
brigava na disputa de um pedaço de chocolate, um maço de cigarros
ou qualquer coisa que lhes fosse atirada do navio. Via-se nesse
quadro triste, o grau de miséria a que chegara a Itália. Ao sul de
Nápoles aparecia o célebre “Vesúvio” e mais abaixo as cidades de
“Herculana” e “Pompéia”. Do outro lado do Vesúvio, “Salermo”,
que há pouco fora teatro de sangrenta batalha.
Durante três dias permanecemos a bordo, sem permissão para ir
à terra. No dia 9 à tarde mudamos de embarcação, passamos agora
para os históricos L. C. I. – as célebres barcaças que tomaram parte
na invasão da França. No dia seguinte pela madrugada, 62 barcaças
conduzindo todo o 20 Escalão da F. E. B., rumavam para Livôrno
numa viagem de 33 horas. Esperávamos que a aviação alemã
nos fizesse uma visita, mas apenas os caças aliados apareciam de
quando em vez... Algumas vezes éramos forçados a desviar a rota,
por causa do grande número de minas flutuantes, as quais eram
feitas explodir a tiros de metralhadora.
Às 14h do dia 11 chegávamos a Livôrno. O porto, bastante
danificado pelo efeito dos bombardeios, dificultava a entrada dos
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navios, e, somente às 18h30min conseguimos encostar, porém


permanecendo a bordo, para só desembarcarmos na manhã do dia 12.
De baixo de uma forte chuva tomamos os caminhões, que nos
conduziram para o acampamento, situado no “Campo da Caçada
Real”, distante 5 km da cidade de “Piza”. Visitei depois essa cidade,
a qual apresentava um aspecto triste. Ruas inteiras destruídas,
principalmente nas margens do Rio Arno, onde a destruição foi
total. Nas ruas, era de chocar as crianças implorando um pedaço de
chocolate, biscoitos ou qualquer coisa de comer. Fui depois a Luca,
porém, esta apresentava bom aspecto, não tendo sofrido destruição.
No dia 25 de outubro segui para o front, a fim de fazer um estágio
de 3 dias, tendo ficado adido à 4a Cia. Do 6o R. I., que ocupava o “Monte
Trasílico”. Durante esse período, assisti à ocupação de “Galicano” e
“Calomini” pelas nossas tropas, o que nos deu o controle de uma
estrada, vindo a facilitar o reabastecimento de víveres, que até então
era feito em costas de muares, através de 4 km de marcha por sobre
os “Montes Apeninos”. No dia 30 regressei ao acampamento.
Hoje, 10 de novembro, baixei ao hospital de Livôrno por estar
com uma inflamação no rosto, o que foi diagnosticada como sendo
caxumba, indo eu para o isolamento.
Ontem, 31 de outubro, as tropas brasileiras sofreram seu
primeiro revés ao serem contra-atacadas por tropas da S. S.
alemãs, que desalojaram de suas posições o I/6o R. I., com perdas
aproximadas de 50 homens.
O total de nossas baixas, até esta data, entre mortos, feridos,
acidentados com minas ou boby-traps e desaparecidos, vai pouco
além de uma centena. Cumpre observar que até agora, somente o 6o
R. I., que constitui o primeiro escalão da F. E. B., entrou em linha,
permanecendo em treinamento as componentes do 2o escalão.
Até hoje, menos de 10 prisioneiros brasileiros foram feitos
pelo inimigo, no entanto já foram aprisionados pelas nossas tropas
aproximadamente 200 homens.
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Hoje, 15 de novembro, continuo ainda no hospital de Livôrno,


muito embora já esteja são. Este hospital é bem vasto, sendo
composto de grande número de dependências; segundo ouvi dizer,
aqui funcionava o maior colégio feminino da Itália. Soube hoje que
os brasileiros irão operar na frente de “Bologna” (a mais importante
frente italiana), e que os 1o e 11o R. I. que estavam acampados em
“San Rosorio”, já se acham em preparativos para se deslocar para
aquele setor, devendo antes permanecer duas semanas na região de
“Filetole”, a fim de completarem o adestramento da tropa.
Hoje, 17 de novembro, completo nesta data 27 anos de idade;
tive alta hoje do hospital de Livôrno.
Dia 19 de novembro – nesta data nos deslocamos para o
“Monte Radicata”, próximo de Filetole, a fim de ser feito o último
treinamento de combate.
Dia 28 de novembro – foi encerrado ontem o treinamento final
da tropa, o qual foi feito debaixo de chuva, barro e muito frio. Hoje
foi um descanso geral.
Dia 30 de outubro – Ontem nos deslocamos de caminhão para
“Borgi Campagni”, a caminho do FRONT.

ENTRADA EM AÇÃO.
Vai iniciar para nós uma nova fase, ou seja, o nosso contato
direto com a frente de combate.
1o de dezembro – 14 horas. Dentro de poucas horas seguiremos
para a linha de frente, teremos que viajar uns 15 minutos de
caminhão e depois fazer um percurso a pé de cerca de 8 km, a fim
de que possamos ocupar as nossas posições esta noite. A cobra
aqui fuma dia e noite sem cessar.
“A cobra está fumando” – Esta é uma frase criada pelos
pracinhas brasileiros (assim eram chamados os soldados brasileiros)
para dizer que a coisa está feia. Nos momentos de bombardeio,
costuma-se dizer que a cobra está fumando.
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Um batalhão do meu Regimento que já entrou em combate,


teve só na 7a Cia., 38 baixas no primeiro dia. Temos conseguido
a conquista de nossos objetivos, mas nos têm custado algumas
perdas; não posso precisar o número, mas calculo mais ou menos
300 homens.
Passamos estas últimas noites em “Granallione”, onde ficamos
acantonados em uma casa, enquanto aguardávamos condução para
o front. Esta noite, porém, e outras que aí virão, não espero mais
que uma toca de raposa (posição de combate que os americanos
chamam de fox-holle).
A guerra é como a guerra! E assim há de ser!
Só me preocupa não ter tido até esta data nenhuma notícia de
minha esposa; já escrevi-lhe 14 cartas e passei 2 telegramas, sem
nenhuma resposta até hoje.
7 de dezembro de 1944. – Na noite de 2 para 3 do corrente
tivemos o nosso batismo de fogo num combate violento que durou
quase toda a noite, durante o qual foram feitas três investidas sobre
as nossas linhas. Eu ocupava o flanco esquerdo do 1o Batalhão e
contava apenas com 2 grupos de combate reforçados por uma seção
de metralhadora da Cia. de Petrechos Pesados do 1oBatalhão.
Às 7 horas da noite uma patrulha inimiga tentou se infiltrar
pelas minhas posições, tendo se aproximado até 200m das peças
de metralhadoras. A noite estava muito clara devido ao luar, o que
facilitou essa observação. Comuniquei ao meu Comandante da Cia.,
que pediu tiros de artilharia nessa região. Recebi ordem para enviar
uma patrulha de 10 homens, a fim de verificar se havia elementos
inimigos feridos e fazer um reconhecimento na frente. Cumprida
esta missão, o Comandante da patrulha informou que nada havia
encontrado.
Cerca das 21 horas o inimigo desfechava sua primeira investida,
conduzida sobre a 1a Cia., do Cap. Cotrim; nesse momento nova
patrulha tenta se infiltrar pelas minhas posições, sendo afastada
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pela segunda vez. De 21 horas do dia 2 até as 3 horas do dia 3,


várias vezes o inimigo esteve em contato com as minhas posições.
Pouco depois da meia-noite foram assinalados elementos inimigos
no meu flanco esquerdo, tentando infiltrar-se pela retaguarda;
recebi então o reforço de uma peça de metralhadora PT. 30, que
coloquei em posição para bater o flanco esquerdo, enquanto tomava
providências para garantir a retaguarda. Trouxe para o meu P. C.
a equipe de bazuca (para defesa do P. C.) ao mesmo tempo em
que fazia distribuir aos homens maior quantidade de granadas de
mão. De ambos os lados (amigo e inimigo) chovia granadas de
artilharia e morteiro. Eu tinha à minha direita a 2a Cia. do Cap.
Silvio Shilleider e com ela um grupo de combate do meu pelotão.
A segunda investida é desencadeada sobre a 1a e 2a Cias., não
posso precisar a hora. Mais ou menos a 1 hora da madrugada, um
mensageiro vem comunicar-me por ordem do Cmt. do Batalhão
que a cobra ia fumar feio para o meu lado. Sentindo ameaçado o
meu flanco esquerdo, fiz retrair os 2 Grupos de Combate para junto
do meu P. C., circundando-o e deixando campo livre para o fogo
da metralhadora (as posições anteriormente ocupadas haviam sido
iniciadas nessa noite e não ofereciam ainda proteção suficiente
para o combate). Transformei o meu P. C. num reduto de grande
capacidade de fogo, difícil de ser conquistado pelo inimigo, desde
que a 2a Cia., que se achava a minha direita, se mantivesse nas
posições, pois em caso contrário eu ficaria em grande inferioridade
de terreno. Às 2h30min aproximadamente, o inimigo leva a efeito
o seu 3o ataque, desta vez mais poderoso, sobre as 1a e 2a Cias.,
que combateram até o término da munição. Às 3 horas recebo um
ataque pelo flanco esquerdo (este ataque foi levado a efeito por
patrulhas inimigas que conseguiram se infiltrar), ao qual repeli
lançando mão de todas as armas automáticas de que dispunha.
Logo em seguida recebo ordem do meu Cmt. de Cia. para retrair
um G. C. para junto do meu P. C.; nesse mesmo instante chega o
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Ten. Abílio da C. P. P. 1 e diz: “vou retirar minha seção”. Esta seção


de metralhadoras estava a minha disposição como reforço ao meu
Pelotão. Determinei o retraimento de um dos G. C. para o P. C.
da Cia. em cumprimento à ordem recebida, mas este ao percorrer
200 m à retaguarda, percebe que a 2a Cia. está se retraindo pela
estrada que conduz a “Sila” e disso me dá conhecimento. Procurei
ligação com os elementos da 2a Cia. e fui informado por dois de
seus oficiais que todo o Batalhão já havia retraído para “Porreta-
Terme”. Fui ao telefone e procurei comunicar-me com o Cmt. da
Cia., mas os fios estavam partidos; fiz uso do rádio, mas ninguém me
respondeu. Enviei um estafeta e esta não mais encontrou o P. C. da
Cia. Com o meu flanco exposto e com uma seção de metralhadoras
a menos e sem saber o destino do P. C. da Cia., decidi retrair com o
Pelotão até um ponto onde a minha retirada não pudesse ser cortada
pelo inimigo. Neste retraimento, fui ter ao P. C. do Batalhão, onde
encontrei o Cmt. do Btl., o Sub-Cmt., 3 Capitães, a 1a e 2a Cias.,
parte da 3a Cia. e parte da C. P. P. 1. O fato de não ter conseguido me
comunicar com o Capitão, se deu em virtude de nesse momento o P.
C. da Cia. estar se deslocando para o do Batalhão. Outros elementos
foram chegando, até que o Batalhão todo conseguiu se reunir e o
Comandante tentava reorganizá-lo para um contra-ataque. Em
resumo, o que se passou foi isto: o inimigo havia rompido as linhas
da 1a Cia. fazendo-a recuar; o pânico fez arrastar também a 2a Cia.
Os elementos restantes foram forçados a retirar-se, pois não seria
possível permanecer no terreno com intervalos abertos.
Ao amanhecer o Cmt. do Btl., auxiliado pelos oficiais, tentava
reorganizar o Batalhão para recapturar as posições, mas a artilharia
inimiga castigando severamente, impediu que isto fosse feito.
Vivemos assim o nosso batismo de fogo no Front Italiano! De
lamentável recordação para nós, pois que o inimigo nos fez recuar
e marcou para nós o primeiro e único revés. Serviu, entretanto,
de uma grande lição, de cujos ensinamentos nos aproveitamos
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até o final da guerra. Nesse mesmo dia, as nossas posições foram


reocupadas pela tropa reserva do R. I. Esse combate foi travado na
frente de Monte Castelo, elevação esta de mais de 900 m de altura
e que se achava em poder do inimigo, que dominava assim todas as
nossas posições e vistas para todas as estradas. O nosso Batalhão, a
seguir, foi concentrado em Porreta, onde se reorganizou para quatro
dias depois retornar ao “front”.
8 de dezembro 1944 – A minha Companhia – 30 / 110 RI – está
agora em posição na região denominada Três Casas de Guanela.
O meu Pelotão – 10 Pelotão – ocupa o centro do dispositivo da
Companhia. À nossa frente, o célebre Monte Castelo, e dando
acesso ao mesmo a Aldeia (na Itália chamam de país) de Abetaia,
reduto da poderosa resistência inimiga. O inimigo ocupa ainda
as regiões de Vale, Fornelo, Cavoulo, etc.... Vitaline e Lá Cá são
terras de ninguém, esta fica a menos de 300 m à frente das minhas
posições e ambas são visitadas quase todas as noites por patrulhas
alemãs. A nossa artilharia martela dia e noite as posições inimigas
e, constantemente, faz um bombardeio sobre Abetaia. O inimigo
atira muito pouco com artilharia, mas atira muito com morteiro
88. Apesar dos agasalhos de lã, distribuídos à tropa, à noite os
homens chegam a ficar quase congelados no “fox-holle” (tipo de
trincheira). O frio é intenso! Usamos como calçado uns “galochões”
de borracha, os quais enchemos de feno (jeitinho brasileiro) para
aquecimento dos pés e, estes ainda são enrolados em uns pedaços
de cobertor. Com estes galochões não usamos os borzeguins de
couro, pois prejudicam o aquecimento dos pés. Aqui existe muito
barro, e nele muitas vezes fui obrigado a me deitar para escapar dos
estilhaços do célebre morteiro 88, cujas granadas explodiam a 15
ou 20 metros de distância.
11 de dezembro 1944 – Véspera de um ataque ao Monte Castelo,
onde o inimigo se acha poderosamente organizado. À tarde recebi
ordem para às 21:00 h executar com meu pelotão um “golpe de
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mão” (incursão para efetuar prisioneiros e/ou reconhecimento de


local) sobre Abetaia. Ligando o interior de nossas posições à
Abetaia e a Monte Castelo, havia uma auto-estrada, principal
rodovia que corta todo o território italiano de norte a sul. Ela seria
o eixo de penetração mais importante para as posições inimigas.
Precedendo o “golpe de mão”, deveria ser desencadeado sobre
Abetaia um forte bombardeio de artilharia. Um Pelotão da 1a Cia.,
comandado pelo Ten. Aloísio deveria ocupar as minhas posições,
tapando a brecha que ficaria aberta com a minha saída. A minha
missão era entrar em Abetaia, fazer prisioneiros e retrair pela estrada
de Bombiana até o P. C. do Batalhão. A hora prevista foi adiada em
30 minutos, saí às 21:30 h com 27 homens e mais o Sgt. Max Wolf
da C. C. I., que atuou como meu auxiliar. Havia muito barro e a
noite era escura e chuvosa. Logo na saída fiz voltar 2 homens que
começaram a tossir. Prosseguimos com os demais, escalonados em
profundidade. Recomendei aos homens que mantivessem uma
preocupação constante da ligação, para que não se perdessem uns
dos outros, mergulhados na escuridão da noite, pois apenas se
avistava um vulto preto que se deslocava... era o companheiro da
frente. Andávamos uns 30 ou 40 passos e fazíamos uma ligeira
parada para observar, e, se havia alguma dúvida, esta parada se
prolongava por alguns minutos, até que ela fosse dissipada. A
qualquer suspeita parávamos e ajoelhávamos, e se ela aumentasse
deitávamos e tomávamos um dispositivo circular, a fim de evitarmos
surpresa de qualquer direção. Os nossos sentidos trabalhavam com
vivacidade! Passamos o limite de Lá Cá e depois atravessamos a
vala que fica ao sul de Abetaia. O menor ruído provocado pela
Patrulha poderia ter trazido um insucesso para nós. Na altura do
Km 15 percebemos um barulho de ferramenta perfurando o solo,
detivemo-nos por muito tempo e conseguimos identificar que os
alemães estavam colocando minas na estrada e suas adjacências. A
minha missão era Abetaia e, além disso, havia em mim a preocupação
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de garantir o meu caminho de retraimento, isto é, a estrada Abetaia


– Bombiana, por essa razão julguei mais acertado evitar combate
com os mesmos naquele local. Prosseguimos em direção a Abetaia
e chegamos até 50 metros de uma casa “abandonada”. Um ruído
estranho partia de lá! Detivemo-nos e nos deitamos no solo,
procurando com os ouvidos identificar o som. Com armas
automáticas apontadas para lá e vigilância para outras direções, eu,
o Sgt. Wolf e um mensageiro rastejamos naquela direção, deixando,
porém livre a direção de tiro, que deveria ser desencadeado caso
abrissem fogo contra nós. Esta era a primeira das casas existentes
em nosso itinerário, e ficava um pouco isolada das demais. O ruído
repetia-se espaçadamente e desconfiávamos que a casa estivesse
ocupada por elementos de vigilância. Após mais de 20 minutos de
observação, conseguimos perceber que era produzido por uma
janela que batia com o vento. Mandei que o mensageiro conduzisse
para junto de nós o restante da Patrulha. Todo o movimento teria
que ser feito em silêncio, pois o menor ruído poderia denunciar a
nossa presença. Coloquei novamente as armas em posição e fiz
reconhecer a casa. Estava desocupada. Esperávamos a todo instante
um choque com o inimigo. A nossa roupa já se achava molhada e
cada vez pesava mais, dificultando os nossos movimentos.
Prosseguimos! À nossa frente e um pouco à direita, mais duas casas
velhas, que reconhecidas deixamos para trás. Em dado momento
fomos sair em cima de uma posição alemã, que se achava nos
escombros de uma casa, 20 metros à nossa frente. Paramos,
ajoelhamos e observamos um instante. Depois fiz a Patrulha recuar
um pouco, para que não ficasse completamente exposta ao alcance
das granadas de mão. Fiz os homens deitarem no terreno, coloquei
as armas em posição e dei missão aos G. C. para a eventualidade de
ser travado um combate. Feito isto, eu, o Sgt. Wolf e meu ordenança
procuramos rastejar em direção a posição inimiga. Chegamos a 15
metros da mesma e por algum tempo estivemos observando.
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Ouvíamos vozes e percebíamos nitidamente as pisadas dos homens


sobre o feno colocado no solo. Concluímos que se tratava de uma
posição de metralhadora, ou pelo menos de uma outra arma
automática, devido ao número de sua guarnição. Recuamos para
junto da Patrulha e consultava na minha imaginação, a decisão a
tomar. Devo salientar que o Sgt. Wolf foi um grande auxiliar,
ajudando-me a analisar as conseqüências favoráveis e desfavoráveis
que nos poderiam apresentar. Refleti sobre as conseqüências
desastrosas que poderiam acarretar para a minha patrulha, caso
provocasse um combate em tal situação de terreno, onde a minha
proteção não estava assegurada. O inimigo se achava protegido
pelas “casamatas”, e, se bem que a escuridão da noite nos protegesse
e dificultasse um fogo ajustado do inimigo sobre nós, tínhamos a
desvantagem de estarmos em terreno completamente limpo, tendo
o inimigo pela frente e as posições amigas pela retarguada, as quais
não poderiam fazer a nossa proteção, sob o risco de nos colocar
debaixo de seus próprios fogos. Havíamos identificado apenas uma
posição inimiga e não sabíamos de onde poderiam surgir outros
fogos sobre nós. Preocupava-me também para minha segurança,
galgar a estrada Bombiana-Abetaia, que era o itinerário previsto
para meu retraimento. Esta estrada fazia com a estrada principal um
ângulo aproximado de 30 graus, convergindo ambas sobre Abetaia.
Para alcançá-la teríamos de atravessar a estrada principal, transpor
a garupa de uma pequena elevação, fazendo reconhecimento para
ver se não havia algum posto inimigo, e só então ter o caminho de
retraimento assegurado. Margeando a estrada principal havia um
renque de plantas secas que deveríamos saltar! Inevitavelmente a
nossa presença seria revelada pelo barulho da folhagem seca, que
então teria de ser feito. Dispus então todos os homens da patrulha,
em linha, com as baionetas armadas, e a um só tempo transpusemos
esse pequeno obstáculo, atravessando a estrada e galgando a garupa
situada na outra margem. Se por ventura alguma posição inimiga
18 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

até se revelasse, teríamos de assaltá-la a baioneta, pois que outra


alternativa não restava. Ocupada essa garupa, mandei fazer
reconhecimento ao longo da estrada Bombiana-Abetaia até fazer
ligação com um posto-avançado nosso, denominado “grupo da
Paúra”. Enquanto isto, permanecíamos os demais, observando
Abetaia a menos de 100 metros de distância. Uma forte patrulha
inimiga de aproximadamente 20 homens foi fazer reconhecimento
do local onde havíamos transposto, e pudemos então observar o seu
movimento nas proximidades da estrada. Esta patrulha retornou
para o interior de suas posições e pelo seu efetivo, podíamos avaliar
o valor do inimigo no reduto de Abetaia. Terminando o
reconhecimento que mandei proceder, ocupamos posição a
cavaleiro da estrada, na entrada daquela aldeia, evitando assim que
pudesse ser cortado o nosso retraimento para Bombiana. Volvi
minha atenção para a missão que recebi: “era preciso dar um golpe
em Abetaia para fazer prisioneiros!”. Iniciei um breve estudo para
uma abordagem, protegida de perto por armas que seriam mantidas
em posição, mas pouco depois o Sargento Wolf, que estava
examinando o armamento do pessoal, vem me informar de que
somente poderíamos contar com quatro ou cinco fuzis em condições
de atirar, pois que os demais se achavam cheios de lama, devido aos
escorregões inevitáveis naquela tenebrosa escuridão. Procurei me
comunicar pelo rádio com o comandante da minha companhia, afim
de pedir um bombardeio de artilharia sobre Abetaia, que
possibilitasse um assalto à baioneta aos postos de vigilância daquela
posição avançada. Foram, porém, muitas as tentativas; as condições
atmosféricas prejudicavam o raio de alcance! Utilizei então fogos
de artifício, conforme código estabelecido, mas estes não foram
percebidos, devido à forte cerração que fazia. É interessante
assinalar que quando fazia uso do rádio, o meu ordenança, que é
descendente de alemão, conseguiu captar um comunicado inimigo
operando na mesma frequência que dava as coordenadas de um
ORACY RIBEIRO GRANJA | 19

ponto, que atribuímos o de onde nos encontrávamos. Já estávamos


entrando pela madrugada e decidi retrair para Bombiana. Passamos
pelo “grupo da paúra”; logo depois pelo pelotão do tenente Varoli,
que ocupava uma posição defensiva dentro de uma casa à margem
da estrada, bem instalada, as paredes eram de pedra, sendo algumas
arrancadas para se fazer seteiras e o teto era de cimento armado.
Fomos ter em Bombiana ao P.C. do Batalhão, onde às 05:00 da
madrugada do dia 12 participei ao Maj. Jacy Guimarães, comandante
do Batalhão, não ter podido executar o golpe de mão, mas ter
cumprido uma missão de patrulha num percurso de 3 km em 05.30
h., observando tudo o que se passava nas orlas de Abetaia. Informei
então com precisão sobre uma posição existente frente à Guanela, e
que eu supunha tratar-se de uma posição de metralhadora. Nesse
mesmo instante recebi ordem para substituir o pelotão do tenente
Varoli, pois que este iria tomar parte no ataque a Monte Castelo às
06:00 h. da manhã. Cumprindo a ordem, efetuei a substituição, e
informado pelo tenente Varoli de que o seu primeiro objetivo era
Abetaia, mostrei-lhe na carta a posição que eu havia identificado.
Infelizmente, este oficial, depois de atuar com bravura e heroísmo,
foi feito prisioneiro, algumas horas mais tarde, justamente nas
proximidades daquela resistência!
12-XII-44 – Nesta data fora executado um ataque sobre o Monte
Castelo, no qual tomaram parte o I/11ºr.i., II/1ºR.I e III/6ºR.I. Hora
H- 06:00 h; Linha de partida: Região de Guanela. A companhia a
que eu pertencia, constituiu Reserva de ataque do Batalhão. O
combate se desenrolou em lances impressionantes, no qual as nossas
tropas progrediram debaixo de uma verdadeira chuva de granadas
de artilharia, morteiro e metralhas, ao mesmo tempo que a nossa
artilharia não calava um minuto. Foram 04:30 h de verdadeiro inferno
de arrebentamento de granadas em todos os cantos! Da posição
ocupada pelo meu pelotão, acompanhávamos todos os movimentos
da tropa que atacava. Meu rádio de mão em sintonia permanente com
20 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

a da Companhia, recebia e transmitia informações, E foi com grande


vibração que recebi a informação da ocupação de “La Cá” “Fornelo”
e “Vale”! Todavia, Abetaia não caíra! Este, era objetivo da 2º Cia do
11º R.I. Abetaia! Onde eu havia passado a noite anterior, exatamente
7 horas antes, foi onde se sacrificava a maioria dos nossos homens. Aí
foi aprisionado o tenente Emilio Varoli, a quem eu havia substituído
às 03;00h da manhã na estrada de Bombiana, ficando ainda feridos,
nas proximidades desse ponto, o comandante da Companhia Capitão
Bueno e grande número de soldados, tendo sido alguns aprisionados.
O tenente Aloísio também ficou ferido durante o combate, porém
sem gravidade. Um outro Pelotão não conseguiu passar de “La Cá”,
ficando detido nessa região. As tropas que haviam atingido “Fornelo”
e “Vale” passaram essa zona, ainda encoberta pela cerração. Uma Cia
do Regimento Sampaio não conseguiu sair da base de partida, ficando
detida nos primeiros metros. O inimigo estava e ainda está bem
organizado, possuindo uma poderosa linha defensiva, muito difícil de
ser abordada. Com o fracasso em conquista de Abetaia, todos outros
elementos tiveram que recuar. Não faltou fibra aos nossos soldados
e nem apoio de nossa artilharia, que só faltava derrubar o Monte
Castelo, tal era o inferno de bombas que arremessava sobre o seu
dorso! Se tivéssemos conseguido conquistar este importante objetivo
(Monte Castelo), teríamos conseguido a mais espetacular vitória até
hoje assinalada por nossas tropas em campos europeus! Desejaria, se
a vitória nos tivesse sorrido, ver repetir na tela a cena emocionante
deste combate, que bem mostra a audácia da FEB e a fibra dos
seus soldados, ao tentar abordar esta poderosa fortaleza! Este foi o
segundo assalto ao Monte Castelo e outros virão até a sua conquista!
Com pesar assinalo nestas linhas que a nossa perda neste dia fora
elevada. Tivemos poucos mortos, porém, mais de uma centena de
feridos e alguns prisioneiros, estes por não terem conseguido retrair.
Na minha Companhia, foram feridos o Ten. Neves, Ten. Fábio e 1
soldado. Ficou também ferido o Sub Comandante do meu Batalhão.
ORACY RIBEIRO GRANJA | 21

Não nos desanimaremos e esperamos dentro em pouco conquistar


este grande objetivo, que permitirá assim mais rapidez no avanço
sobre Bologna.
18-XII-44 – Até esta data já recebi 13 cartas do Brasil, das quais
7 da Zeny. Recebi também alguns telegramas. A satisfação que a
gente sente ao receber uma carta de casa, a notícia de que tudo
vai bem, não pode deixar de produzir uma sensação de conforto
depois de algumas horas de combate! No dia 11, quando saí com
uma patrulha noturna para uma missão arriscada, lamentei que
ainda não tivesse recebido uma cartinha de casa. Não sabia qual
a surpresa que me aguardava e me preocupava a falta de notícia.
Felizmente tudo foi bem!
19-XII-44 – Recebi mais duas cartas, sendo uma de Zeny, que me
confortou bastante e outra da minha mãe. Todas as cartas que até hoje
recebi foram no front e aproveito sempre os momentos mais calmos
para as reler.
20-XII-44 – A nossa artilharia, como sempre está ativa, batendo
as posições inimigas e pronta a atender qualquer pedido nosso. Às
18.30h mais ou menos, já em plena noite, pois esta se fizera desde as
16.30h, uma sentinela vem comunicar-me que está ouvindo ruídos
na região de La Cá. Informei ao meu comandante da Cia. Cap. Hésio,
depois desci até 60 m. À frente de minhas posições em companhia
de um oficial de artilharia (observador avançado). Observamos por
algum tempo e concluímos que eles vinham na direção de La Cá,
Viteline e proximidades de Fornelo. Parecia que os alemães estavam
colocando minas nessas regiões e pedimos tiros de artilharia sobre
elas. Dados alguns tiros o Tenente Cândido, oficial de artilharia,
observou que os tiros eram longos e pediu para diminuir a alça em
100 metros. Inexplicavelmente, esta alça foi diminuída de muito,
fazendo um bombardeio sobre as minhas próprias posições, tendo
perecido um soldado do meu Pelotão, ficando dois outros feridos.
21-XII-44 – Já estamos nesta posição há 13 dias e consta que
22 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

amanhã seremos substituídos por um Batalhão do 1º R.I; teremos


talvez 5 ou 6 dias de descanso.
23-XII-44 – Ontem à noite fomos substituídos pela 9º Cia. Do
Regimento Sampaio. Estamos em Sila. Dizem que é para descanso,
mas descanso como este é preferível ficar no front!
24-XII-44 – Esta seria a primeira noite de Natal a passar ao
lado da minha adorada esposa! Permita Deus eu possa estar junto
a ela no ano próximo! Nesta data faço-lhe os melhores votos de
felicidade, assegurando-lhe um porvir risonho e cor de rosa e que
juntos desfrutemos no futuro, com a nossa ou nosso filhinho prestes
a nascer, toda essa felicidade que nos está reservada! A você, minha
querida e à nossa ou nosso filhinho, meus melhores votos de um
Feliz Natal e Ano Novo!
26-XII-44 – Hoje, ao cabo de um mês e dias, consegui tomar um
banho. Estou até sentindo mais leve!
27-XII-44 – “Sila”- Esta madrugada os Tedescos (alemães) nos
fizeram uma alvorada com um violento bombardeio.
29-XII-44 – Ontem à noite, de 21.00h às 24.00h., os tedescos
nos fizeram uma inquietação, conseguindo mesmo enquadrar a casa
onde estávamos alojados, o que nos obrigou a abandoná-la.
1-I-1945 – Findara ontem o ano de 1944, que teve os seus últimos
dias encobertos pela neblina, como a esconder as destruições, os
danos, os massacres e as vítimas destes últimos tempos, produzidos
por esta guerra brutal! Hoje o dia amanheceu claro e o Sol se pôs de
fora, como uma recepção do astro-rei ao ano da vitória! E, na data
que hoje se comemora, longe do Brasil e dos que me são caros, elevo
a eles o meu pensamento, lamentando que esteja ausente do meu lar,
de minha esposa e dessa terra tão boa que é o Brasil! A você, minha
adorada Zeny, os meus votos sinceros de felicidade, um abraço leal
e amigo do marido que a adora muito e que luta com o pensamento
voltado para você, esperando um dia ter a felicidade de ser recebido
com orgulho nos braços da mulher que ama! Minha filha ou filho
ORACY RIBEIRO GRANJA | 23

querido! Você será o orgulho e encanto do nosso lar! Peço a Deus que
me leve de volta ao Brasil, para que não fique no mundo sem pai! A
guerra é, entretanto, traiçoeira... muitas crianças andam pelo mundo à
procura de seus pais que ela consumiu, mas Deus é poderoso e há de
fazer com que você tenha a felicidade de receber o carinho de seu pai!
Seja bem-vindo! Você virá sob um novo mundo; de glória, de paz e da
vitória! Aos meus pais, minhas saudades, meus abraços, meus votos
de Feliz Ano Novo e meu pedido de bênção. À minha sogra, meus
irmãos, minhas cunhadas e cunhados, os meus melhores votos de
Boas Festas, acompanhados de um grande abraço pela data de hoje.
Sila-12 Jan.45 – Ainda permanecemos neste lugar! No período
de 5 a 11 estivemos como instrutores da tropa recentemente chegada
do Brasil e que virá completar o efetivo do nosso R.I.
14 Jan.45 – Nesta data fui fazer um reconhecimento em Gaggio
Montano para ocuparmos posições.
15 Jan.45 – Hoje nos deslocamos de Sila para La Grilla.
Partimos às 19.00h, fazendo um percurso de caminhão até Cruciale
e, deste ponto a La Grilla a pé. Estou com dois grupos apenas. Um
ao Norte de La Grilla e outro em cota “685”, avançado cerca de
300m. Aqui temos casa para repousar, ficando mais abrigado do
frio. Estamos bem em baixo dos alemães, que têm vistas sobre toda
esta região. Não podemos nos movimentar, durante o dia, de uma
para outra casa. Recebemos de madrugada uma ração quente, que
vem transportada em muares, e mais uma fria para o resto do dia,
isto é, para o almoço, porque à noite recebemos nova ração quente
para o jantar. Durante o dia não se pode fazer movimento nenhum,
para evitar que o inimigo localize nossos postos. As comunicações
dentro desta vila para com os diversos postos são feitas por meio de
telefones magnetos, ou, quando é necessária uma ligação pessoal,
por meio de disfarce, utilizando roupas dos italianos.
16.1.45 – Hoje saíram, duas patrulhas noturnas partindo de cota
“685”, ambas regressaram sem novidade.
24 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

17.1.45 – Esta madrugada fui à cota “685” inspecionar as posições


do 1º G.C., não pude regressar durante o dia, o que somente fiz ao
anoitecer.
Do P.O (postos de observação) pude observar os rastros deixados
na neve por uma patrulha inimiga, que desceu de Mazancana Nova
em direção à cota “685”, até onde se perdeu num ângulo morto
do terreno a 600m à frente desse grupo. Assinalei também duas
posições de morteiros inimigos a 100m à direita de Mazancana
Nova. Às 19.30 h de hoje enviei uma patrulha de vigilância, que
percorreu 300m, regressando sem novidade.
18.1.45 – Às 4h de hoje enviei nova patrulha de vigilância, que
fez o mesmo percurso anterior, regressando às 6.00h sem novidade.
ÀS 10:00h de hoje foi feito um bombardeio sobre as posições
inimigas ontem assinaladas. Esta madrugada tive o prazer de
receber 3 cartas, 2 de Zeny e uma de meu pai. Tenho dormido quase
nada e sinto-me bastante cansado. À noite dificilmente se dorme.
22.1.45 – Ontem recebi ordem para enviar uma patrulha de 8
homens até a nascente que tinha abaixo de Mazancana Velha. Essa
patrulha partiu da cota “685” às 23.00h e regressou a 1.00h da
madrugada de hoje, não tendo podido atingir o ponto determinado,
devido à grande quantidade de neve, que estava a 0,70 m de altura.
Ela se manteve até 400 m do ponto de origem, permanecendo em
escuta, não tendo percebido nenhum movimento do inimigo.
23.1.45 – Tivemos informação de que o inimigo está abandonando
Mazancana.
24.1.45 – Às 11.00h de hoje recebi ordem para armar uma
patrulha composta de 2 sargentos, 1 cabo e 7 soldados, levando 2
fuzis-metralhadores, 3 metralhadoras de mão, 5 fuzis, uma bazuca
e um projetor de sinalização; todos os homens com capa branca
(por conta da neve). De Lago Grago deveria partir outra patrulha
comandada por um tenente. Ambas as patrulhas deveriam se
juntar na ravina logo abaixo de Mazancana para depois agirem em
ORACY RIBEIRO GRANJA | 25

conjunto. A missão era reconhecer se o inimigo havia abandonado


as posições.
Às 14.30h participavam as 2 patrulhas, que progrediram bem
até à ravina, onde fizeram junção. Desse ponto partiram em direção
de Mazancana Nova e atingiram a crista da elevação pelo lado
direito. Tomaram posição e se dispunham a vasculhar uma casa a
caminho de Mazancana Velha, quando surgiram os primeiros tiros
de fuzil. A seguir foram recebidos por rajadas de LURDINHA e
tiros de morteiros. Responderam com fogo de fuzil-metralhadora.
Localizaram uma posição de metralhadora inimiga no canto
esquerdo da casa de Mazancana Velha e um morteiro que atirava
de suas proximidades. Foram feridos 3 homens nossos, dos quais 2
pertenciam ao meu pelotão. A neve era intensa e dificultou muito o
movimento da patrulha. Às 17.00h as duas patrulhas regressaram,
encontrando dificuldade para isso, pois o inimigo abriu-lhe intenso
fogo de morteiro e metralhadora. Finalmente todos os nossos
homens foram recuperados.
25.1.45 – Hoje pela manhã a nossa artilharia fez intenso
bombardeio sobre Mazancana Velha e suas encostas. Este
bombardeio deveria ter sido feito ontem no momento em que as
nossas patrulhas recebiam fogo inimigo, mas acontece que um
foguete verde falhou, aparecendo apenas um vermelho, que indicava
tiros sobre FORNACE, assim ao invés de bombardear Mazancana
Velha foi bombardeada FORNACE. Ontem recebi mais duas cartas
de Zeny, sendo, com esta, 21 cartas ao todo.
29.1.45 – Hoje às 3.00h da manhã enviei uma patrulha de 10
homens até a ravina de Mazancana. Esta patrulha tinha a missão
de fazer uma tocaia para a patrulha alemã, que por duas noites
seguidas viera cortar o nosso fio telefônico. Às 5.00h a patrulha
regressava sem nenhum contato com a patrulha inimiga. A neve
está se desfazendo nos montes, que já se acham com cores branca e
escura, tornando difícil o movimento de patrulhas, pois estas andam
26 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

até certo ponto com as capas brancas e depois já sentem dificuldade


de movimentar com elas.
30.1.45 – Ontem às 22.00h enviei nova patrulha de 10 homens
com a mesma missão anterior, tendo regressado à 0.30 h de hoje
sem contato com o inimigo. A noite estava muito fria e o vento
soprando muito forte. Hoje às 19.00h nova patrulha de mesmo
efetivo saiu, regressando às 21h sem novidade.
31.1.45 – Hoje não enviei nenhuma patrulha, no entanto,
o inimigo enviou uma às nossas linhas. Pouco antes das 21.00h
ouvimos tiros de fuzil, rajadas de metralhadora e arrebentamento
de granadas de mão, produzidos à minha direita e a 200 m das
minhas posições. Fora uma patrulha alemã, que chegara até o 2º
pelotão da minha Companhia, havendo troca de tiros entre ela e
os nossos soldados, do que resultara a morte de um soldado nosso,
ficando outro ferido.
Enquanto a patrulha inimiga recuava, os alemãs enviaram uma
verdadeira rajada de artilharia, que passava zunindo por cima de
nossas cabeças, indo as granadas se arrebentar em Gaggio Montana,
onde se achava localizado o P.C. da Cia. Logo depois, uma patrulha
enviada pelo meu Pelotão, procedeu a um reconhecimento, sem
contudo encontrar o inimigo, que já havia retraído para as suas
posições. Não sabemos se houve feridos por parte do inimigo, mas
os soldados que atiraram, afirmaram ter acertado pelo menos um
alemão.
1.2.45 – Hoje vou dar início à construção de umas casamatas,
pois a neve está diminuindo, facilitando assim a ação do inimigo.
2.2.45 – Ontem às 19.00h enviei uma patrulha de reconhecimento
composta de 8 homens, que deveria ir até a ravina de Mazancana
auscultar o movimento de patrulhas alemãs, para o preparo de uma
cilada. A nossa patrulha, entretanto, não chegou ao seu destino,
pois foi obrigada a regressar, perseguida por uma patrulha alemã
muito mais numerosa. Foi dado o alarme e todos ocuparam as suas
ORACY RIBEIRO GRANJA | 27

posições. A artilharia amiga executou tiros 300m a nossa frente e


em seguida enviei nova patrulha, que não mais encontrou sinal de
inimigo.
3.2.45 – A noite está bastante escura e os nossos holofotes, que
estão permanentemente assestados na direção do inimigo, não
conseguem atravessar a densa neblina. Nenhuma novidade no dia
de hoje.
7.2.45 – Ontem à noite, enviei duas patrulhas que apenas
encontraram vestígios de uma patrulha inimiga, deixados na neve
restante.
8.2.45 – Esta madrugada enviei nova patrulha, que permaneceu
por duas horas na ravina ao Sul de Mazancana, numa missão de
emboscada para aprisionar patrulha inimiga, que, no entanto,
não apareceu. Vínhamos preparando constantes armadilhas para
apanhar elementos de patrulhas alemãs, mas até o momento ainda
não caíram na ratoeira.
10.2.45 – Ontem nenhuma novidade ocorreu. As montanhas que
até poucos dias estavam completamente brancas pela neve, já agora
estão ficando com a sua coloração natural. Qualquer dia vai haver
um carnaval! Aqui ou lá... O inimigo que se cuide!
11.2.45 – Ontem à noite saiu da “Ilha 1” uma patrulha de 8
homens, que foi permanecer em escuta próximo aos alemães,
regressando 3 horas mais tarde, sem novidade. “Ilha 1” e “Ilha 4”
são assim chamados dois pontos de apoio, que estão sob o meu
comando. Hoje, domingo de carnaval, o dia está calmo, ainda não
se ouviu um tiro!
No Rio de Janeiro, que confusão! Cordões carnavalescos,
músicas, fantasias, confetes, serpentinas! Este front tem sido
bastante calmo, mas dentro dessa calma existente, já desconfio de
algum projeto que esteja sendo elaborado. Já ouvi uma conversa
sobre novas modificações, parece que o meu Pelotão vai deixar
suas posições para os americanos, indo ocupar novas posições no
28 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

flanco direito de minha Cia. Vem rolando Monte Castelo!.. Estou


vendo pela frente algum abacaxi! Não há de ser nada. Desta vez, o
tedesco (alemão) “portare via” (vai embora)!
13/2/45 – Ontem à noite houve um show carnavalesco à minha
esquerda, isto é, na frente das 7º e 8º Cias! Foi o seguinte: elementos
dessas duas Cias foram dar um golpe de mão em Ronquidos de
Sopro e um dos homens esbarrou num “boby trap” iluminativo
dos alemães, fazendo-o funcionar. A Lurdinha (metralhadora
alemã) cantou, os nossos responderam ao fogo, mas acabaram
sendo cercados pelos alemães. Para que os nossos companheiros
pudessem se libertar do cerco, foi feito um violento bombardeio
de artilharia e morteiro nas imediações do ponto crítico e sobre
as posições inimigas, mantendo também um fogo inquietante de
metralhadora sobre aquelas posições.
15/2/45 – Ontem às 21.30 h uma patrulha alemã desceu o morro
fazendo uma gritaria enorme, imitando o canto da coruja; estivemos
esperando até tarde, mas não chegaram às nossas posições. Esta
madrugada os alemães atearam fogo em algumas casas que se
acham em suas linhas.
19/2/45 – Ontem à noite o meu Pelotão foi substituído por uma
Cia do Regimento Sampaio, tendo eu me deslocado para SILA,
região onde tem sido concentrada a reserva. O meu Batalhão
acha-se agora como reserva do IV Corpo. As posições ocupadas
anteriormente pelo meu Batalhão, passaram agora a ser ocupadas
por todo o Regimento Sampaio. Regimento ocupando área de um
Batalhão, isto é significativo! Deve ser preparativo para um ataque.
20/2/45 – Esta madrugada os americanos iniciaram o ataque
sobre Belvedere, Ronquidos e Mazancana, logrando conquistar
todos os seus objetivos e fazendo numerosos prisioneiros.
Os americanos empregaram para o ataque uma divisão de
Infantaria e tiveram o apoio da aviação brasileira, que teve um
papel saliente, desalojando o inimigo de sua toca.
ORACY RIBEIRO GRANJA | 29

Foi uma grande ofensiva iniciada pelo V Exército e que ainda


está em prosseguimento. Três vezes os alemães contra-atacaram o
Monte Belvedere, sendo que no último deles, o mais pesado dos
três, a nossa aviação cooperou decisivamente para aniquilar o
inimigo. Durante o dia de hoje, no decorrer das ações, os americanos
efetuaram 361 prisioneiros.
22/2/45 – Ontem, desde a madrugada, as tropas brasileiras
iniciaram um violento ataque sobre Monte Castelo. Nesta operação
as tropas brasileiras foram apoiadas pela aviação brasileira e por
tanques americanos que faziam tiros diretos sobre as casamatas
alemãs. As tropas americanas que haviam conquistado Belvedere,
Ronquidos e Mazancana, fizeram a cobertura de flanco, contribuindo
grandemente para a queda de Monte Castelo. Até ao meio-dia os
brasileiros haviam conquistado FORNACE e os pontos cotados 746
e 803. O ataque desta vez se processou de flanco, ao contrário das
outras vezes, que havia sido frontal. Nesta operação tivemos uma
baixa relativamente pequena, 14 mortos e poucos feridos, ao contrário
dos americanos que na jornada do dia 20 tiveram pesadas baixas.
Os brasileiros efetuaram 62 prisioneiros. Às 18.20 h estava coroado
o objetivo com a ocupação total de Monte Castelo. Os americanos
continuaram o seu avanço, já tendo atingido o monte La Torrácia.
23/2/45 – A situação no momento é a seguinte: as tropas
brasileiras e americanas acham-se em “02” e preparam-se para o
assalto “03”. O meu Batalhão acha-se ainda em situação de reserva
do IV Corpo. Não fomos ainda empregados nessa fase ofensiva, e
aguardamos a qualquer momento a nossa entrada no show.
28/2/45 – Ontem deslocamo-nos de Sila para Vidiciático. Hoje
às 19.00h, com grande satisfação para mim, recebi um telegrama
da minha adorada Zeny comunicando-me o nascimento do nosso
primeiro filho. A minha alegria foi imensa. E como desejei estar
em minha casa nesse instante! Ao meu filhinho, o querido Augusto
Otávio, minhas bênçãos e todo meu afeto paternal!
30 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

3/3/45 – Continuando como reserva do IV Corpo deslocamo-nos


hoje à 1:00h da madrugada de Vidiciático para Porreta-Terme.
Neste mesmo dia, às 19:00h fizemos novo deslocamento, indo
para Riola Vecchia. A seguir, o meu Pelotão substituiu um Pelotão
da 3º Cia do 6º R.I.
4/3/45 – Nesta data recebi ordem de me deslocar para Monte
Cavaloro, a fim de ocupar “linha de partida” para o ataque a
Castelnuovo, que deveria se realizar ao alvorecer do dia 5. Fui
substituído em Lissano pela 4º Cia do 11º R.I.
5/3/45 – Às 4:30h de hoje recebi contra-ordem sobre o ataque
a Castelnuovo, devendo retornar a Lissano, a fim de substituir a
4ºCia/11º R.I. que deveria seguir para a “LP” (linha de partida) em
“Iareda de Soto” e “Iareda de Mezzo”. A esse tempo já o 6º R.I.
estava atacando SOPRASSASSO, que foi circulado, prosseguindo
o avanço sobre cotas 680, 722 e 720, que foram ocupadas até às
16:00h. Ao meio-dia as 4º e 5º Cias do 11ºR.I. iniciaram o ataque
pela direita. A 4º Cia não teve muita dificuldade, pois não encontrou
forte resistência. A 5º Cia ocupou a “LP” (linha de partida) debaixo
de intenso fogo de morteiro e de metralhadoras, sofreu 18 baixas
somente em um Pelotão.
Nesse mesmo dia a minha Cia recebeu ordem de continuar o
ataque sobre Castelnuovo, operando nessa missão em conjunto
com uma Cia do 6º R.I.
O meu Pelotão achava-se a muita distância da “LP”, que era em
Monte Cavaloro, sendo então substituído por um Pelotão da 2º Cia.
Por essa razão, o meu Pelotão passou à disposição daquela Cia e me
desloquei à noite para Boccacio, na ocasião em que a minha Cia já
atacava Castelnuovo. Uma concentração de toda a artilharia direto
sobre Castelnuovo e os tiros diretos dos tanques, fez com que o
inimigo apresentasse fraca resistência. Castelnuovo foi recuperado
e a minha Cia fez 3 prisioneiros nessa noite, fazendo mais 2 ao
alvorecer do dia 6. Não sofreu baixas, mas teve dificuldade de
movimentação devido a terreno minado que encontrou pela frente.
ORACY RIBEIRO GRANJA | 31

6/3/45 – Ao meio-dia desloquei-me para o km 54 onde fui


mandado reunir-me à minha Cia. Recebi então ordem para retornar
a Monte Cavaloro onde permaneci em situação de reserva até
às 11:00h do dia 7 quando as posições conquistadas se achavam
consolidadas. Já desloquei-me para o km 35 e de lá para Porreta-
Terme em um Comboio de Viaturas.
Chegando ao destino, a minha Cia recebeu ordem para regressar
a Riola Vecchia para onde nos deslocamos à noite, tendo acantonado
em La Quinta, onde chegamos às 22:00h.
10/3/45- Neste dia nos deslocamos para ocupar posição em
nova frente. Passei por Abetaia, onde no dia 11 de Dezembro eu
havia entrado nas linhas alemãs; passei por Monte Castelo e o ví
pela retaguarda. Estou agora em Montfort e substituí uma tropa
americana.
11/3/45 – A noite de ontem foi calma, os alemães deixaram esta
região há 8 dias e a distância que nos separa é de aproximadamente
1 km. Estou procurando identificar o terreno com auxílio da carta.
12/3/45 – Ontem à noite os alemães fizeram um carnaval de
luzes em diversos pontos à nossa frente. Desta vez os papéis se
inverteram, nós estamos em cima e eles embaixo. Na madrugada
de hoje uma patrulha alemã que veio ter às minhas linhas deixaram
3 prisioneiros.
Às 08:00h enviei também uma patrulha para reconhecer alguns
pontos à frente; ela foi até Maserno Vecchio, de onde trouxe mais
3 prisioneiros, inclusive um oficial yugoslavo, que se achava com
os alemães.
13/3/45 – Enviei uma patrulha às 13:00h, que foi até Monciano,
sem tomar contato com o inimigo, no entanto, encontrou
abandonadas muita munição de artilharia, bazucas, Lurdinhas e
morteiros.
Outra patrulha encontrou 3 canhões destruídos e um calibre 55
em prefeito estado, e também 2 caminhões danificados. Grande
32 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

número de civis refugiados tem vindo cruzar as minhas linhas, pois


eles se achavam em terra de ninguém em terreno anteriormente
ocupado pelos alemães.
Por intermédio deles tenho colhido importantes informações
sobre localização de armas inimigas. Entre estas, fiquei sabendo
que existe na cota 747 uma peça de metralhadora e que o efetivo
que defende esse reduto é da ordem de 15 homens. A S.E. de Riva,
em uma casa isolada, uma outra guarnição composta de 12 homens,
dispondo também de uma metralhadora.
Em Carnevale existe um observador alemão e em Chioso 4
canhões inimigos de grosso calibre.
Em Brussola a N.O. de Casteleto estão instalando 2 canhões 75.
Em cota 483 estão 3 canhões de pequeno calibre, e outros 3,
também de pequeno calibre, estão instalados em Cá de Gnoco.
No ponto de coordenadas L(540.300) existe em canhão anti-
aéreo.
Numa curva de estrada, na região do ponto L(558.244), estão
colocadas 10 (dez) minas.
14/3/45 – Às 15:00h de hoje enviei uma patrulha de 10 homens
que foi até as duas casas à direita de Roncali. Ela foi equipada com
rádio, mantendo uma constante comunicação comigo. Não houve
interferência do inimigo na sua missão, e, após ter vasculhado as
casas, dei ordem para que regressasse.
15/3/45 – Estou comandando uma linha de P.A. (postos
avançados) constituída de “Montfort” ponto cotado ao “S” de
Montfort- casas da cota 783, com um efetivo total de 66 homens. As
casas da cota 783 são ocupadas somente à noite. O meu P.C. se acha
em Montfort, onde também possuo um P.O. (Posto de Observação).
Este ponto é bastante elevado (cota 931) e tem a vantagem de
observar em quase 360º, por isso ocorre para ele um grande numero
de outros P.O., como o da artilharia, da CPPI, dos americanos, dos
ingleses e um observatório do 11º R.I.. o CAPITÃO Salomão,
ORACY RIBEIRO GRANJA | 33

observador avançado da artilharia, ocupa também o meu P.C. e,


através de uma magnífica luneta que existe em seu P.O., temos visto
ao longe alguns movimentos do inimigo.
Ao lado de meu P.C. existe uma casa, que está ocupada por
um capitão inglês, que se tornou muito meu amigo. Sua equipe é
composta de sete (7) homens, que guarneceu o P.O da artilharia
pesada inglesa que atua nesta frente. São todos boas pessoas, muito
amáveis e bastante camaradas.
Às vezes o capitão me convida para fazer uma pequena patrulha
à frente das posições quando ouve algum barulho, produzido muitas
vezes por coelhos que se movimentavam durante à noite.
Em cumprimento à ordem recebida, enviei às 15:00 h de hoje
uma patrulha de 10 homens, comandada por um sargento, a fim de
fazer um reconhecimento sobre Roncali, pequena aldeia situada a
uns 1000 m à frente. Como meio de comunicação, ela foi equipada
com um rádio, um projetor de sinais, 4 cartuchos verdes e 4
vermelhos. Como armamento, todos com metralhadora de mão e 3
granadas por homem.
Essa patrulha deveria manter-se em comunicação comigo pelo
rádio, somente utilizando os sinais em caso de sua falha.
Código de sinais: três estrelas verdes significavam pedido de
tiros sobre Roncali, três estrelas vermelhas – pedido de tiros sobre
cota 747. A patrulha levou também uma equipe de minas para
destruir a munição alemã encontrada em Monciani.
Os pontos 741,732 e Monciani foram atingidos sem nenhum
incidente, tendo ficado neste último a equipe de minas, em
preparativo para a destruição da munição por meio de dinamite.
Quando a patrulha se aproximava de Roncali ouviu-se um tiro
de fuzil seguido de intenso fogo de morteiro sobre ela. O meu rádio,
que havia ficado na escuta, manteve contato com a mesma até o
momento em que ela deixara Monciani, tendo a partir desse ponto,
o rádio da patrulha permanecido em silêncio.
34 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

Um sinal de 3 estrelas verdes lançado pelo comandante da


patrulha traduzia o pedido de fogos sobre Roncali.
Imediatamente este pedido foi atendido, tendo sido aberto fogo
de metralhadoras para fazer a sua proteção, enquanto o observador
avançado da artilharia solicitava uma concentração sobre aquele
ponto. Os morteiros da CPPI também atiraram sobre os possíveis
P.O. inimigos. Por meio de mensageiro mandei uma ordem ao
comandante da patrulha para que regressasse, o que foi feito em
ordem, depois de acender o estopim para a destruição da munição,
provocando uma grande explosão em Monciani. Felizmente não
houve feridos do nosso lado, mas acredito que não tenha acontecido
o mesmo com os alemães! Nesse mesmo dia, um pouco mais tarde
o inimigo fez um violento bombardeio sobre nós, jogando nas
posições do 3º Pelotão que está à minha direita, 249 granadas. As
minhas posições foram atingidas com mais de 70 granadas. Outros
pontos de frente foram também hostilizados, tendo ocorrido as
seguintes baixas: na 2º Cia um morto e um ferido; na 3º Cia um
ferido e na CPPI dois feridos.
16/3/45 – À meia-noite de hoje enviei uma patrulha a Monciani,
para saber se este ponto era ocupado durante a noite pelo inimigo.
Após algumas horas de escuta ela regressou com informação
negativa.
17/3/45 – Esta tarde obtive os seguintes informes: 8 alemães
ocuparam uma casa em Cassano di Mezzo, outros 4 se acham em
um refúgio em Seretto, a estrada que liga o moinho de Seretto a
Montese acha-se minada.
Às 20:00 h enviei uma patrulha de vigilância, que foi até o ponto
741, regressando às 23:00h sem novidade. Às 21:00 h caíram sobre
as nossas posições 16 granadas de artilharia, sem atingir ninguém.
18/3/45 – Hoje recebi 3 cartas, uma de meu pai, outra de minha
mãe e a outra da minha adorada Zeny. A minha satisfação foi
enorme! A carta de meu pai, datada de 6 de fevereiro fala sobre o
ORACY RIBEIRO GRANJA | 35

nascimento do Augusto Otávio, o que me causou surpresa, pois eu


supunha ter ocorrido no dia 18 de fevereiro, a julgar pelo telegrama
da Zeny recebido por mim no dia 28, em cuja data de expedição me
baseei. Até agora não sei ao certo esse dia de tanta ventura para nós
e estou ansioso por receber detalhes sobre o meu querido filhinho.
19/3/45 – Esta madrugada saí de Montefort com mais 12 homens,
a fim de fazer uma sondagem sobre cota747 e Lépore, redutos
inimigos onde deveria ser realizado um golpe de mão. A minha
missão consistia no seguinte: procurar um itinerário fora das vistas
do inimigo e que conduzisse até suas proximidades; vasculhar o
terreno nessa região para levantar possíveis campos de minas e
boby traps; identificar posições inimigas organizadas naqueles
pontos e estudar a direção que maiores vantagens aferissem na sua
abordagem. Passei pela estrada que vai a Monciani, depois segui
pela ravina que vai ter em frente a Lépore, procurando frente a esta
posição, a proteção das árvores secas ali existentes. Às 05:40 h
atravessamos de rastro uma parte do terreno quase limpo e fomos
sair em uma estrada, que passando em frente à cota 747 se dirigia
para Lépore. O termo “estrada”, que usei, não significa bem a
realidade, era uma trilha, caminho para pedestre ou cavaleiro, na
Itália chamado de mulateira.
Ao longo desta mulateira havia renques de mato seco de ambos
os lados. Por pouco tempo estivemos deitados ao longo desta
estrada, bem em frente à cota 747 a uma distância aproximada
de 150 m se tanto, observando as posições inimigas, protegidos
pela folhagem seca que nos ocultava. Nada vimos que indicasse a
presença do inimigo naquela cota, nenhum movimento e nenhuma
posição defensiva que pudesse ser identificada. A impressão que
nos dava era a de que a cota estava desocupada, mas os alemães
são peritos em disfarce e camuflagem e por isso era necessário ter
muita cautela. Deixei ali alguns homens mantendo a observação,
e eu, e mais 2 componentes da patrulha protegidos por outros que
36 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

nos faziam a segurança, rastejamos na direção de Lépore até nos


colocarmos a 100 m deste ponto, de onde ficamos a observar. Aqui
também, nenhum indício do inimigo! O que nos foi dado a ver,
também era visto do meu P.O. a olho nu: 3 posições de metralhadora,
porém falsas! Uma em cota 747 e duas em W de Lépore.
Não encontramos minas nem baby traps. De rastro voltamos a
nos reunir à patrulha, e já era então dia claro!
Continuamos deitados ao longo da estrada observando a cota
747 separados dela por uma pequena ravina. Examinei toda a região
e vi em Monciani uma excelente posição para ser ocupada por um
elemento de apoio ao golpe de mão. Uma seção de metralhadoras
ali instalada protegeria a retaguarda e o flanco esquerdo, evitando
um cerco por parte de elementos inimigos que ocupavam Riva
de Biscia e a cota 712. Ao longo da mulateira, no mesmo local
onde estávamos deitados, poderia ser ocupado por 1 GC (grupo de
combate) que faria fogo direto sobre as posições inimigas em caso
de insucesso dos elementos de assalto.
O acesso à cota 747 seria mais favorável pelo Sul, ocupando uma
linha de partida a NW de Monciani, a fim de ganhar a parte mais
alta em menor tempo, e também, por assim indicar as razões de
segurança. Simultaneamente com o de 747 deveria ser desfechado
o assalto a Lépore, escolhendo como LP (linha de partida) a ravina
que passa a N.E. deste ponto. Nesta região o terreno é quase limpo,
por isso era aconselhável aproveitar o máximo a escuridão, para
que ao amanhecer não nos tornássemos alvos fáceis das casamatas
alemães. Isto impunha a ocupação da “LP” o mais tarde às 04:30 h
e para isso deveríamos sair de nossas posições às 03:30 h.
Completando este estudo e após ter observado por mais de
2 horas a cota 747, estava terminada a minha missão neste dia!
Resolvi regressar ao P.C., e já era então 08:10 h da manhã.
Ao meio dia fui chamado ao P.C do Batalhão em Iola, onde expus
ao Cmt do Batalhão toda a minha observação e o meu planejamento
para a abordagem dessas duas posições defensivas do inimigo.
ORACY RIBEIRO GRANJA | 37

Fui então designado para comandar esse golpe de mão, a ser


realizado na madrugada do dia seguinte, tendo sido aprovado todo
o meu plano. Pedi na ocasião, para que não houvesse preparação de
artilharia, o que nos possibilitaria surpreender o inimigo.
A artilharia e os morteiros seriam utilizados durante o retraimento
se necessários.
Deveria levar comigo um rádio e em caso de sua falha, ficou
estabelecido o seguinte código de sinais:
Tiros de Artilharia
1 sinal amarelo –sobre Riva de Biscia;
1 sinal verde – sobre encruzilhada de estradas;
1 sinal vermelho – sobre cota 712;
2 sinais de vermelhos – fumígenos sobre Cassano di Mezzo.

Tiros de Morteiro
2 sinais amarelos – sobre Rôncole;
2 sinais verdes – Cassano di Mezzo;
1 sinal branco com coifa – sobre Lépore;
1 sinal branco com paraquedas – sobre cota 747.
Às 16:00 h regressei ao meu P.C. e tomei todas as providências.
ÀS 18:30 h o Pelotão do Ten. Aloísio substituiu o meu nas
posições e entregou-me um grupo de combate em reforço, que
ficaria com a missão de apoio.
O ten. Aloísio permaneceu no meu P.C., onde também se
encontravam o Ten. Germano do pelotão de morteiros da CPPI e
o Cap. Salomão, este, observador adiantado da artilharia, já ali se
achava há algum tempo, pois o seu P.O está localizado junto ao meu.
Às 20:30 h fui me deitar. Estive algum tempo pensando na
minha querida Zeny e no meu filhinho que ainda não tive a ventura
de conhecer, e assim adormeci.
20/3/45 – Conforme minha recomendação, eu e os soldados
fomos acordados às 2:30 h da manhã. Tomamos o café, fumamos um
38 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

cigarro e às 03:30 h partimos de Montfort. Era ainda bastante escuro


e disso tirei proveito para ganhar tempo, seguindo diretamente para
a L.P, logo que passamos por Maserno.
Não levei comigo o GC do Ten. Aloísio, pois não julguei
necessário.
Um GC ocupou a LP ao S. de cota 747, outro a NE de Lépore e
o outro, com missão de apoio, postou-se ao longo da mulateira que
passava a L. de cota 747. Uma metralhadora.30 ocupou posição em
Monciani ficando em vigilância para a estrada que vai de Riva de
Biscia para cota 712.
Às 05:00 h estava ocupada a L.P. Eu me encontrava na mulateira
à L. de cota 747 juntamente com o meu grupo de comando.
Às 05:10 h teve início a abordagem à cota 747 e Lépore. O GC
que abordou cota 747 conseguiu apanhar o inimigo quase que de
surpresa, pois só fora percebido quando alguns de meus homens já
se encontravam a 50 m das posições.
Às 05:20 h um grito terrível de alarme partia de um posto de
vigilância fiscalizado à margem da estrada que dá acesso à cota
747, quando o vigia surpreendido percebe que havia nossa gente
dentro de suas linhas. Dado o alarme o vigia alemão retraiu para o
interior de suas posições. Logo em seguida ouviu-se uma rajada de
Lurdinha partindo de uma casamata situada no canto esquerdo da
casa. Outras rajadas se seguiram, às primeiras, sempre respondidas
pelos nossos fuzileiros.
Teve assim início o combate dentro das linhas inimigas, onde já
estavam sendo utilizadas de ambos os lados granadas de mão.
A esse tempo, o outro GC já abordara Lépore, sendo aqui recebido
por fogos de metralhadora aos quais respondeu com rajadas de
nosso fuzil automático, que infelizmente veio a dar um incidente
de tiros, pois após as primeiras rajadas o automático falhou. Este
GC continuou o combate a granadas de mão, pois já se achava bem
próximo. Dei ordem então ao GC de apoio para que dentro dos
ORACY RIBEIRO GRANJA | 39

limites de segurança abrisse fogo contra a cota 747 e Lépore, a fim


de tirar de difícil situação o GC que atacou Lépore e possibilitar
seu retraimento para uma posição menos desvantajosa, pois estava
também sendo hostilizado por tiros partidos de cota 747 que faziam
o flanqueamento de Lépore.
A esta altura, entrei em comunicação pelo rádio pela primeira
vez com a minha Cia, dando-lhe as informações das ocorrências
havidas até aquele instante, já debaixo de intenso fogo de morteiros.
Em 747 dois soldados meus com fuzil metralhadora, conseguiram
disbordar uma casamata alemã, indo sair à sua retaguarda.
Preparavam para atacá-la, quando viram atrás das casas e a uns 20
m deles, um morteiro que atirava desesperadamente sobre o GC
de apoio. Com uma única rajada liquidaram a sua guarnição que
era de 2 homens. Nesse instante, o Sgt. Martins tenta atravessar
pelo lado direito para atacar uma casamata que estava à frente das
casas, mas atingido por uma rajada de Lurdinha que partira da
casamata próxima daqueles dois soldados. Estes então, que já se
achavam à sua retaguarda, aproximaram-se dela até 2 metros de
distância, exterminando a sua guarnição, pois arremessaram para
o seu interior 10 granadas de mão e 80 tiros de fuzil metralhadora.
O soldado Rosálio, que no momento em que o Sgt. Martins foi
ferido se achava ainda na parte de baixo, deu um lanço para arrastá-
lo pelo braço, mas recebeu também um tiro que o prostrou ao chão.
O Sgt. Martins havia tentado atacar uma casamata localizada à
frente das casas, sem o conseguir, ela estava ainda em ação. Alguns
soldados se lançaram sobre ela e, protegidos pelo fogo de GC de
apoio, conseguiram arremessar algumas granadas no seu interior.
O GC da cota 747 já a esta altura estava sob o comando do cabo
auxiliar, que substituiu o Sgt. Martins.
Seis alemães são vistos correndo em direção a uma posição que
pretendiam ocupar, sendo aberta sobre eles uma rajada de fuzil
automático. O fuzileiro-atirador percebeu que um deles foi atingido
40 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

e caiu. Arremessou sobre os demais, todas as granadas de mão que


ainda lhe restavam.
Do P.O. da minha Cia me informaram pelo rádio que haviam
visto alguns alemães descerem a ravina que fica à minha esquerda.
Mandei prevenir a peça de metralhadora, que aliás já acompanhava
os seus movimentos, mas estes desapareceram numa dobra de
terreno logo que avistaram o meu mensageiro. Informei pelo rádio
ao meu comandante da Cia que havia dois homens feridos. O
dia já estava claro e recebi ordem para retrair. O GC que atacou
Lépore não pode sustentar por muito tempo o combate, pois
houve incidente nas duas armas automáticas sem possibilidade de
reparo no local. Retraí-o agora para Maserno. O GC de 747 já se
encontrava na ravina entre cota 747 e Monciani, conduzindo os 2
homens feridos, mas sem possibilidade de abandonar este local
porque uma metralhadora inimiga, cuja posição não pudemos
identificar, bateu o seu caminho de retraimento, enfiando com seus
fogos uma passagem obrigatória. Pedi então pelo rádio que fosse
desencadeada uma concentração de artilharia sobre cota 747, a fim
de facilitar o retraimento do GC tirando-o de difícil situação.
Esse GC ficaria fora do limite de segurança dos tiros de nossa
artilharia, mas era preciso arriscar e assim foi feito. Felizmente a
nossa artilharia foi de absoluta precisão e facilitou o seu retraimento
para o ponto 741, indo juntar-se a ele a peça de metralhadora. Já era
então 07:30 h da manhã e fiz deslocar o GC de apoio para a região
do cemitério, que fica entre Morciani e Maserno.
Numa casa do pt.741 fizemos os primeiros curativos nos dois
feridos e depois os fiz transportar para a casa do pt.800, de onde
foram conduzidos de padiola para Montfort. A este tempo, os
morteiros inimigos faziam tiros de inquietação sobre nós. Reuni
nas imediações do pt. 800 todos os homens do Pelotão e fiz subir
para Montfort, primeiramente os padioleiros conduzindo os feridos
e aos poucos o restante da patrulha. Um dos feridos, o sd. Rosálio
ORACY RIBEIRO GRANJA | 41

faleceu quando chegava ao P.C. da Cia. O Sgt. Martins recebera três


ferimentos, um na cabeça, apenas de raspão por ter sido protegido
pelo capacete de aço, que foi atravessado pelo projétil; outro nas
proximidades dos rins e um outro que quebrou-lhe uma perna.
Às 08:40 h eu chegava ao meu P.C. reassumindo o comando
das posições, que estavam entregues ao Ten. Aloísio. Um Pelotão
da 2º Cia havia ocupado a cota 806 para fazer a cobertura do meu
flanco direito na execução do golpe de mão. Durante o combate,
dois alemães, corridos da cota 747, foram ter a esse Pelotão, sendo
então aprisionados. Este dia foi um dia de vitória para mim, pois foi
quando consegui causar maiores perdas ao inimigo.
21/3/45 – Às primeiras horas de hoje grande número de refugiados
italianos vindos de Cassino di Mezzo e outras proximidades do Pt.
747, declararam que após o combate de ontem, viram sair de lá 27
padiolas conduzindo mortos e feridos.
Esses refugiados contornaram a linha inimiga durante a
madrugada para atravessarem-na nas proximidades de Riva de
Biscia, num buraco existente, onde a vigilância dos alemães é mais
fraca!
24/3/45 – Hoje ao meio-dia fui chamado ao P.C. do Btl., onde
recebi ordem para executar um novo golpe de mão sobre o pt. 747,
desta vez com preparação prévia de artilharia e morteiros. 1 Pel.
Comandado pelo Ten. Silva deveria ocupar Monciani, em condições
de fazer a minha proteção.
25/3/45 – A missão que recebi ontem deverá ser executada na
noite de hoje. Estive algum tempo no meu P.O. procurando descobrir
alguma coisa nova com relação ao inimigo. Até dei instrução aos
meus sargentos. A minha tropa já está preparada, como sempre
esteve. Nada mais tenho a fazer senão aguardar a hora prevista. E
quanta coisa vem ao pensamento da gente!..Será que eu volto desta?
Estarei vivo amanhã? Estarei prisioneiro? Tornarei a ver a minha
adorada sonequinha? E o meu filho, terei a ventura de conhecê-lo?
42 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

É horrível! Nos momentos que antecedem a uma ação onde se tem


a certeza de que vai haver combate, apodera-se da gente um estado
de pânico e milhões de pensamentos vem à nossa mente. E para ser
honesto, a gente sente medo, sente um verdadeiro pavor! Assim, tem
acontecido de outras vezes... Interessante este estado psicológico!
A gente sente medo antes e depois de realizar a ação, mas durante
a sua execução nem se lembra disto, e, o que se apodera da gente
é um espírito de agressividade que nos conduz à valentia durante a
refrega e que nos leva a enfrentar o perigo com calma, segurança e
sem temor, tendo como objetivo: cumprir a missão!
Passado o impacto da luta, e quando nenhum perigo já não
existe, revivendo os momentos difíceis por que passou, a gente é
tomado novamente de pânico e inexplicavelmente volta a sentir
medo. Foi isso o que eu senti antes, durante e depois da ação
levada a efeito sobre a cota 747 na noite de 25/3/45 e que passo a
descrever. Ontem à noite, o Ten. Silva, comandando o Pelotão da 1º
Cia ocupou Monciani, a fim de prestar apoio ao golpe de mão que
eu vou executar esta noite sobre a cota 747.
A minha L.P. (linha de partida) fica na região do pt. 732. Para
ela deverá retrair às 21:00h o Pelotão do Ten. Silva, a fim de dar
à artilharia a margem de segurança necessária para bombardear a
cota 747, devendo retornar a Monciani após essa preparação.
Às 19:30 h saí de Montfort com um total de 30 homens. Às
21:00h entrei em ligação com o Ten. Silva e ocupei a L.P. A noite
estava claríssima, o que dificultava muito a minha ação, devido
ao terreno ser completamente limpo, facilitando por outro lado a
observação inimiga.
Às 21:30 h teve início a preparação de artilharia, que durou 5
minutos. Às 21:35 h saímos da L.P, continuando a bater os arredores
da cota 747, dando-nos proteção para uma aproximação. A nossa
progressão foi demorada, pois a noite muito clara prejudicava
bastante os nossos movimentos. Não se tratava de um ataque de
ORACY RIBEIRO GRANJA | 43

ocupação e sim de golpe de mão, visando a captura de algum


prisioneiro, e por isso minha intenção era surpreender as sentinelas
inimigas.
Tentei fazer a infiltração por uma ravina, mas como havia muitos
obstáculos a transpor, tive receio de que a nossa presença fosse
denunciada. Resolvi então contornar Monciani pelo lado W e
tomar a estrada que passa a S.W. de cota 747. Nessa estrada o nosso
movimento foi bastante demorado, pois era grande o cuidado para
que não fossemos percebidos.
Às 23:30 h nos encontrávamos ao longo desta estrada e
tomávamos posição para atacar as casamatas. Eu dispunha de 4
armas automáticas (armas para ação coletiva, pois as metralhadoras
de mão são para ação individual) e a cada uma dei uma missão.
Já conhecíamos 2 casamatas próximas ao casario e estas seriam
abordadas sob a proteção de 2 armas automáticas, enquanto as outras
2 participariam do cerco, encarregando-se de outras resistências
que se revelassem no momento. A estrada onde nos encontrávamos
era ligada ao casario por um caminho, e era por ele que deveríamos
subir.
Junto a cada arma automática ia um homem com granadas anti-
ataque, que eram usadas também para destruição de casamatas.
Dos demais, alguns estavam armados com metralhadora de mão
e outros conduziram fuzil com baioneta armada.
Mandei que subisse um dos grupos procurando disbordar pela
retaguarda, enquanto os outros iriam diretos às casamatas. Aquele
deveria partir primeiro, e assim foi feito. Mas, logo que começou
a subir, uma sentinela alemã saiu de sua toca à beira do caminho e
correu para uma das casas dando o alarme.
O Sgt. fez parar o grupo e voltou para me informar. Dei ordem
para que prosseguisse. Quando voltava para se reunir ao seu G.C.
avistou uma casamata a 25 m a nossa esquerda e nela viu entrar
um tedesco (tedesco é alemão em italiano). Temendo que não
44 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

poderíamos mais fazer a surpresa e aproveitando de haver uma


casamata próxima de nós resolvi atacá-la com intuito de fazer
prisioneiros.
Dei ordem ao grupo para retornar à estrada, onde um barranco de
0,50 m de altura nos dava alguma proteção. Fiz um rápido estudo e
tomei uma decisão:
1º – uma arma automática ficaria apontada para uma casamata já
conhecida, localizada na região do casario, a fim de neutralizar os
seus fogos sobre nós; a outra casamata ali identificada ficava mais a
L. e não dispunha de campo de tiro para nos hostilizar.
2º – outra arma automática deveria proteger a abordagem até o
momento do assalto.
3º – uma outra seria destacada à nossa retaguarda, frente para
Riva de Biscia, a fim de guardar o nosso caminho de retraimento;
4º – a última delas ficaria em reserva, pronta para uma missão
eventual;
5º – um sargento e mais 5 homens deveriam se aproximar dessa
casamata e nela atirar granadas de mão e granadas anti-tanque;
6º – um cabo e 5 soldados, finda a ação anterior, deveriam se
lançar sobre ela, a fim de aprisionar os elementos que a ocupavam,
feridos ou não.
Situação geral –
À frente: inimigo;
À esquerda: inimigo; 500m à retaguarda: inimigo; à direita:
tropa inimiga.
Dei ordem para iniciar a abordagem e os 6 homens se
aproximaram da casamata.
Quando chegaram a uma distância de 3 m, um tiro de pistola
partido de lá quase arranca a orelha direita do Sgt. Contreira. Sem
perda de tempo, um soldado abre uma rajada de metralhadora
de mão, que atinge um alemão e este escorrega para dentro da
casamata. A seguir lançaram sobre ela granadas de mão e granadas
ORACY RIBEIRO GRANJA | 45

anti-tanques, cumprindo assim a ordem recebida.


O cabo Oliveira com 5 soldados, iam se lançar para a captura
de prisioneiros, quando à sua frente é aberta uma barragem de
metralhadora, que o impede de cumprir a missão.
As nossas armas entraram em ação e respondiam ao fogo do inimigo.
Os alemães atiravam com duas metralhadoras pesadas localizadas na
região do casario. Nesse momento eu tinha 12 homens separados do
Pelotão, impedidos de se reunirem a mim, pois teriam de atravessar
a estrada que estava sendo batida por fogos de metralhadoras. A esse
tempo, a artilharia e morteiros inimigos já estavam bombardeando
a minha retaguarda. Era seguramente 01:00 h da manhã! Decidi
recuperar todo o Pelotão. Para isso fiz convergir todo o fogo de que
eu dispunha, sobre o ponto onde supúnhamos estar localizada a arma
que enfiava a estrada, permitindo que o restante do Pelotão viesse se
reunir a nós após uma transposição feita homem a homem.
01:30 h da manhã! Todo o meu Pelotão já se achava reunido ao
longo de uma estrada.
O fogo inimigo aumenta de intensidade! Agora estamos recebendo
também fogos da esquerda. Duas metralhadoras cruzavam fogos
sobre as nossas cabeças, enquanto granadas anti-ataque barravam
uma linha do terreno 15 m à nossa frente e a artilharia e morteiros
inimigos batiam a nossa retaguarda. O inimigo solta um foguete
vermelho que levou confusão ao nosso observador de anti-artilharia,
pois esse sinal dado por mim, significava pedido de concentração
sobre 747, ou em outras palavras: em cima de meu Pelotão.
Tentei usar o rádio pela primeira vez, mas não consegui ser
ouvido. Nisso o inimigo solta outro foguete, desta vez “verde”,
o que deixou o observador de artilharia ainda mais atrapalhado,
resolvendo não atender ao pedido do inimigo, continuando, porém,
a atirar nos arredores. 02:15 h da manhã! Estou recebendo fogos
de frente, da esquerda e agora também da direita. A situação não
está boa! Estou ameaçado de cerco e é preciso retrair com máxima
46 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

urgência. Mas à minha direita havia um Pelotão amigo com o qual


eu me havia ligado há 1:00 h para pedir apoio aos fogos!..
Onde está este Pelotão? Decidi então retrair. Para isso teríamos
de transpor um caminhamento que ligava Monciani ao local onde
nos achávamos. Este caminhamento estava sendo enfiado por uma
metralhadora que atirava de cota 747, mas nele havia uma lombada
que, uma vez transposta, deixava em ângulo morto os elementos
que o fizessem..
Observei, então, que a metralhadora alemã dava rajadas
longas intervaladas de poucos segundos. Tomei o dispositivo para
retraimento e dei instruções aos meus sargentos. O retraimento foi
feito por lanço de dois em dois homens, no intervalo das rajadas,
enquanto um G.C. continuava a atirar em regime acelerado. Mandei
em primeiro lugar um sargento e um fuzileiro-atirador.
O Sargento deveria ocupar a cota 732 com todos os elementos
que fosse retraindo e colocar em posição a arma automática, para
com seus fogos fazer a proteção dos últimos elementos. Dessa
maneira consegui retrair com todo o Pelotão sem perder um só
homem. Por fim, eu, o meu mensageiro e um cabo, num mesmo
lanço transpusemos também a zona batida.
Ao chegar na cota 732 encontrei lá o Pelotão do Ten. Silva e
este explicou-me que havia recuado para esse ponto, devido
ao movimento de elementos inimigos que, vindos de Lépore,
disbordaram à sua frente para tomar-lhe o flanco direito.
Entrei em ligação telefônica com a minha Cia e esta com o P.C.
do Btl. Recebemos ordem para repetir o golpe, cabendo ao Pelotão
do Ten. Silva a execução da ação principal.
Seria aproximadamente 03:15 h da manhã... O dispositivo para
a nova investida estava sendo tomado, quando o inimigo abre sobre
nós violento fogo de artilharia que nos fez recuar até cota 741 a SE
de 732. Fomos também aí hostilizados, e já às 04:00 h recebemos
contra-ordem, devendo regressar ao P.C.
ORACY RIBEIRO GRANJA | 47

Às 04:30 cheguei ao P.C do meu Pelotão em Montfort e recebi


ordem de passar à reserva, devendo ir para Iola, onde o Pelotão
ficaria em repouso. O Pelotão do Ten. Aloísio, que havia substituído
o meu durante o golpe de mão, continuou nas posições.
30/3/45 – Nesta data segui para Roma em gozo de uma semana
de dispensa. Viajei de caminhão até Montecatini, onde tomei um
trem que faz uma linha especial para transporte do pessoal do V
Exército em dispensa.
1/4/45 – Às 8:00 horas de hoje cheguei a Roma. No mesmo
trem viajaram também muitos oficias e praças, brasileiros e
americanos. Desembarcamos na estação e tomamos os caminhões
que nos aguardavam, os quais nos conduziram para o Rest. Center
no Forum Mussolini, de onde os oficiais, foram levados para o
Excelsior Hotel no centro da cidade, onde fiquei hospedado. Havia
em Roma vários hotéis controlados pelos americanos e destinados
a receber os elementos do 5º Exército em gozo de dispensa. As
praças ficavam no Forum Mussolini, que é uma grande praça de
esporte e que dispõe de vários alojamentos.
5/4/45 – Amanhã deverei regressar para o front. A impressão que
tive desta Roma tão célebre, foi bem boa. Gostei muito da cidade,
que não é tão velha no aspecto como eu supunha, e que, em sua
parte principal apresenta estilo moderno. É bonita e suas ruas são
largas e bem limpas. Há muita dificuldade de transporte; ônibus
não existe; os bondes são poucos e há algumas camionetes feitas de
motocicletas. O povo de Roma não apresenta o aspecto de miséria,
que se vê em Pisa; a sua população ainda ostenta algum luxo. Visitei
o Coliseu. Ele nada tem de beleza, mas há muito que se admirar na
sua construção! Vi a furna onde ficavam os leões e a arena onde
ficavam as vítimas expostas à voracidade das feras.
Estive no Vaticano, onde eu e outros oficiais, percorremos várias
salas, acompanhados por um elemento da guarda, que era de origem
brasileira. Levou-nos o nosso acompanhante a uma sala, cujo teto
é todo de ouro, e disse-nos ele que esse metal havia sido trazido do
48 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

Brasil. Depois assisti a uma bênção feita pelo Papa Pio XII, que
no final, olhando para nós brasileiros, disse: “agora uma bênção
especial para o Brasil”! Estas palavras foram pronunciadas em bom
português.
Há muitas coisas notáveis em Roma, que deixei de conhecer por
falta de transporte. Afastando-se do centro da cidade, vê-se imensos
castelos, que ainda hoje são muitos bem conservados. Gostei da
minha viagem a Roma!
6/4/45 – Deixo Roma e retorno de trem a Montecatini.
7/4/45 – Chego a Montecatini e aí, juntamente com outros
militares, embarco de regresso ao front, num dos caminhões que
nos aguardavam. Reúno-me à minha Companhia em Iola, onde ela
se achava em situação de reserva do Batalhão.
13/4/45 – Recebi ordem de me deslocar esta noite para ocupar as
posições que vão ser deixadas por um Pelotão da 2º Cia. Essa Cia.
cerrará sobre Tufi e Bichochi, a fim de ocupar a linha de partida,
na madrugada de amanhã, em MONTAURÍGOLA, para o ataque a
MONTESE.
14/4/45 – Os americanos iniciaram o ataque esta manhã. Estão
atacando à nossa direita. Os brasileiros ainda não entraram em
ação. A participação da FEB é com o 11º R.I. em missão principal!
Ao III Btl coube a missão de atacar Serreto e Taravento e ao I
Btl às suas Cias:
1º Cia – ocupar as cotas 808-806-706 – Maserno e Montfort,
fazendo a cobertura do flanco esquerdo da 2º Cia.
2ºCia: Com o flanco esquerdo coberto pela 1º Cia e tendo à
direita o III Btl, recebeu a missão de atacar Montese.
3º Cia – reserva do ataque, devendo manter dois pelotões em
Bichochi e dois em cota 930.
CPP1: Missão de apoio e reforço à Cia de ataque.
Hora H: 13:00 horas.
À hora H partiu a 2º Cia sobre Montese e o III/Btl sobre Serreto
ORACY RIBEIRO GRANJA | 49

e Paravento.
Os americanos, que desde ao amanhecer estavam atacando pela
direita, recuaram para aquém da base de partida. Montese está
apresentando uma encarniçada resistência, apesar do tremendo
bombardeio que recebeu de nossa artilharia e do martelar contínuo
das metralhadoras de nossa base de fogos. Os pelotões progridem
com grande dificuldade, atravessando campos minados, debaixo de
fogo em toda espécie!
Um pelotão da 2º Cia é quase totalmente aniquilado, ficando o
seu comandante, o Ten. Ary, mortalmente ferido.
Os remanescentes deste Pelotão, já sem comando, recuam
procurando socorrer os feridos.
A 3º Cia recebe ordem de lançar um de seus pelotões sobre o
objetivo daquele, mas infelizmente também perde logo de início,
17 homens, isto é, a metade do seu efetivo.
Às 15:30 h recebo ordem de me deslocar para Bichochi e daí
para Montaurígola, passando à disposição da 2º Cia para prosseguir
no ataque. Quando me apresento ao comandante da 2º Cia, fiquei
ciente que um pelotão de sua Cia, e o único que lhe restava, havia
atingido a primeira casa, na orla SE de Montese. Em seguida, mais
um pelotão de minha Cia, passou à disposição da 2º Cia. Os alemães
bombardeiam violentamente diferentes pontos que de Montaurígola
dão acesso a Montese.
Já quase ao anoitecer recebo ordem de partir para Montese, onde
já se achava o pelotão do Ten. Iporã, que conseguira conquistar o seu
objetivo e nele se mantinha, com o seu pessoal fisicamente esgotado,
faltando ainda proceder à operação de limpeza, isto é, de capturar os
elementos inimigos que ainda se conservavam nos arredores.
Para chegar a Montese, tive de atravessar com o meu Pelotão,
uma faixa de terreno fortemente batida pela artilharia e morteiros
do inimigo. Algumas metralhadoras inimigas ainda atiravam da
parte mais alta de Montese.
50 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

Chegamos enfim onde se achava o pelotão mais avançado e ali


organizamos o terreno para passar a noite. Em seguida lançamos
patrulhas para reconhecer o nosso flanco direito, e, para procurar
ligação com tropa amiga pertencente a outro Batalhão. A noite
estava muito escura e o inimigo bombardeava com violência, o
que nos despertava atenção para um contra-ataque, pois o terreno
ainda não estava totalmente dominado. Uma bomba incendiária cai
sobre uma casa a uns 100 m acima e passa a noite inteira a arder,
iluminando a parte voltada para nós.
15/4/45 – Esta madrugada subimos para o interior de Montese,
que possuía um aglomerado de casas, formando uma vasta aldeia, e
ali aprisionamos 7 alemães e 2 metralhadoras. Na torre da igreja, que
servia de posto de observação da artilharia inimiga, aprisionamos
ainda 2 alemães.
Às 09:00 h recebo ordem para ocupar o pt. 726 que ficava à
frente de Montese. No início fui muito bem, pois o inimigo não
tinha fogos ajustados no meu itinerário. Ao nos aproximarmos da
primeira casa, noto sacos de areia e algumas posições inimigas;
coloquei então em posição uma arma automática, a fim de proteger
a abordagem. Ocupada a posição, vasculhamos todas as casas, mas
os alemães já as haviam abandonado, o que fizeram minutos antes,
talvez com a nossa aproximação, pois ainda encontramos marmita
com comida e um pernil inteiro de carne fresca.
Pouco depois começa o bombardeio sobre nós e tiros diretos
de tanque cada vez que um homem fosse visto do lado de fora.
O inimigo estava em tamanho desespero, que gastava um tiro de
tanque em só um homem!
Às 14:00 h recebo ordem para ocupar a cota 794, o que teve início
às 15:00 h. Verificamos depois que se tratava de tiros de bazuca, e
não de tanque, como havíamos pensado. Enviei um GC (grupo de
combate) pela esquerda, na parte baixa, enquanto eu, com o restante
do pelotão ocupamos à direita do dispositivo, procurando ocupar a
ORACY RIBEIRO GRANJA | 51

parte alta em frente a Montese. O GC, progredindo por uma ravina e


com a nossa proteção, conseguiu chegar a cota 794. Eu e o restante
do pelotão, ficamos detidos num espigão abaixo de Montebufano
sob o mais violento bombardeio que eu já havia assistido até então.
Perdi a ligação com o G.C., mas sabia que ele havia chegado à
cota 794. Perdi, também, a ligação com o comandante da 2º Cia.
Não podíamos começar, e nem mesmo tentar uma ligação por
mensageiros com a retaguarda, tal era o inferno de bombas que
caíam sobre nós! Recebíamos tiros diretos de tanques, dos quais, um
em Riva de Biscia nos apanhava quase de enfiada, impedindo que
nos ligássemos com a retaguarda por meio de mensageiros, outro
na região de S. Mateus atirava tangenciando a crista da elevação em
cuja encosta nos encontrávamos. A artilharia e morteiros atiravam
sem parar, batendo em cheio a ravina que se achava a 20 m à nossa
retaguarda.
A saída de Montese, onde passa o caminho que ia até nós,
estava sendo enfiado por metralhadoras que atiravam de Montese.
O meu rádio já não funcionava e a linha telefônica destruída
pelo bombardeio, fiquei inteiramente sem comunicação com o
Cap. Sidney, comandante da 2º Cia. O bombardeio não cessou!
Continuou durante toda a tarde. A princípio ouvia as vozes das
metralhadoras amigas e presenciava a ação constante de nossa
artilharia, o que me animava bastante. Depois, isto foi diminuindo,
e eu quase só ouvia as metralhadoras inimigas! Sem poder dar
um passo com o meu pessoal, fazia na minha imaginação planos,
para recuperar o G.C. que se achava isolado de mim e romper a
retaguarda num movimento de retraimento, pois eu supunha que o
inimigo tivesse empreendido uma ação à minha direita e recuperado
pontos sensíveis, o que me isolava do restante da tropa. Isto tudo eu
não deixava transparecer, mas rezava para que a noite chegasse, a
fim de, protegido pela escuridão e confiando unicamente em Deus,
pusesse em ação o que havia planejado.
52 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

Foram 4 horas de agonia! Com o cair da noite, pudemos


restabelecer as ligações e dar cumprimento final à missão, ultimando
a ocupação da cota 794 com o resto do Pelotão, onde ainda
conseguimos efetuar 3 prisioneiros. Meia hora mais tarde recebo
ordem de recuar para a cota 726, pois a coisa em Montebufone
estava má para o nosso lado, e a minha posição estava bastante
avançada, com risco de ser cortada pelo inimigo. O resto da noite
passamos em vigília, a espera de um contra-ataque que não veio.
16/4/45 – Desde o meio-dia do dia 14 só fomos receber nova
refeição à 1:00 h da madrugada de hoje, tendo passado esse período
nos alimentando com ração de combate. O dia de hoje está sendo
de intenso bombardeio. O inimigo não dá um instante de trégua!
As bombas caem na cadência de 3 a 4 por minuto. Não dormimos
desde antes de ontem, na espera de um contra-ataque. Durante o dia
é inteiramente impossível recebermos refeição quente.
17/4/45 – Às 02:00 h da madrugada de hoje recebemos a nossa
comida de ontem. Hoje continua a ser intensamente bombardeada
toda a imediação de Montese. Parece até que todos os canhões
alemães na Itália, convergiram os seus fogos sobre este ponto, pois
desde a sua conquista o inimigo atira sem cessar!
18/4/45 – Na noite de ontem um tanque inimigo chegou bem
próximo de nós, numa curva de estrada, podendo até se perceber
o barulho das lagartas. Pedi para que a artilharia lançasse granadas
iluminativas para facilitar nossa observação, e ele desapareceu. Esta
manhã localizamos outro tanque em Aravechia, junto a uma casa cor
de rosa. Informei ao nosso observador da artilharia, que pediu uma
concentração sobre esse ponto. Que com felicidade atingiu o alvo.
Ainda era cedo e fui chamado ao P.C da Cia em Montese. Dirigí-
me para lá, driblando as granadas que a todo instante arrebentavam
perto de mim, e no trajeto encontrei o Cap. Sidney, que já vinha ao
meu encontro, para dizer-me que havia sido mudado o figurino, pois
me havia chamado para transmitir instruções para o novo ataque a
ORACY RIBEIRO GRANJA | 53

Montese, mas havia recebido nesse instante contra-ordem, pois a


divisão suspendera o ataque.
19/4/45 – Às 08:30 h da manhã recebo ordem de mandar uma
patrulha de 1 GC à cota 794, a fim de sondar a presença do inimigo
naquela região e imediações. Às 9:00 h essa patrulha saiu, levando
telefone para se comunicar comigo. Pouco depois recebo a primeira
informação: a patrulha havia chegado ao objetivo sem novidade;
não fora constatada presença do inimigo nas vizinhanças.
Comuniquei ao Cmt da Cia, de quem recebi ordem para a
patrulha permanecer lá. A divisão quer saber se a estrada que parte
de Montese em direção a Ranochio se acha em boas condições.
Recebi ordem para mandar examinar, pois essa estrada passa por
cota 794.
A informação foi dada: a estrada principal, antes de chegar à
cota 794, apresentava duas enormes crateras produzidos por bomba
de aviação, bem no meio da estrada. Havia, porém, um desvio,
transitável, e que ia retomar à estrada mais à frente. Recebo então
ordem para que essa patrulha espere a passagem dos carros de
reconhecimento, que seriam lançados à procura de contato com
o inimigo. Às 14:00 h já com o Esquadrão de Reconhecimento à
nossa frente, a patrulha regressa.
Às 17:00 h recebo ordem para ocupar VIGNA, como escalão
de Reconhecimento da Cia testa da Vanguarda, que marchava no
eixo Montese – S.Martino – Ranochio. Às 19:00 h parti, levando à
frente do pelotão uma patrulha, que constituía a ponta do Escalão
de Reconhecimento. Minha ligação com a Cia era por telefone. Uns
200 m além de Dócia a estrada se bifurcava, e nessa bifurcação, o
eixo N. se achava minado, com minas anti-tanque e anti-pessoal.
Interditei a estrada com galhos de árvore e informei à minha Cia.
Às 21:00 h atingi VIGNA, sem novidade; instalei os primeiros
vigias e participei à Cia. Esta parada havia sido imposta, e como
ainda estávamos sem juntar, mandei um guia a Montese para trazer
54 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

o jeep com a nossa comida. A partir deste ponto eu volto a receber


ordens da minha Companhia de origem, a 3º Cia, e o Cap. Hésio
veio até onde me encontro, viajando no jeep que conduz o nosso
jantar. Chega à meia-noite. Enquanto jantamos, converso com o
meu comandante. de Cia, que se adiantou aos outros pelotões que
para lá também se dirigiam. A esse tempo outras Companhias se
deslocavam à minha direita e esquerda.
20/4/45 – Às 03:40 h chega a VIGNA mais um pelotão de minha
CIA, eu recebo então ordem de me deslocar para S. Martino. Às
04:30 h chego ao destino e envio um guia para buscar o capitão,
enquanto um dos demais elementos vasculha toda a vila, obtenho
apenas a informação de que os alemães se retiraram naquela
noite. Às 06:00 h já se achava toda a Cia reunida em S. Martino,
e eu então, recebi ordem de me deslocar para Ranochio, onde
fiz ligação com o Esquadrão de Reconhecimento, comandado
pelo Cap. De Cavalaria, Plinio Pitaluga, que havia perseguido o
inimigo até às margens do rio Panaro. Substituí nesse ponto o
Esquadrão. Organizei uma patrulha e mandei reconhecer PENA,
deslocando-me depois para lá, ocupando-a, e fazendo construir
posições de tiro às margens do rio, face a Monte Gaiato situado à
Margem oposta.
21/4/45 – Na noite de ontem fui informado de que numa casa
próxima do rio havia um soldado alemão, que se teria extraviado
durante a fuga.
Mandei uma patrulha ao local e esta o prendeu, sendo então
enviado para a retaguarda, a fim de ser interrogado e tomar o destino
conveniente.
22/4/45 – Com grande surpresa para nós, o pico do monte Gaiato
amanheceu hoje cheio de bandeiras brancas. Correndo a vista com o
binóculo pelas imediações, verificamos que todas as casas também
se achavam embandeiradas. Era o sinal de retirada dos alemães. Ao
meio-dia recebemos ordem de marcha na direção de Vignale, de
ORACY RIBEIRO GRANJA | 55

onde às 16:00 h nos deslocamos para Montese, a fim de tomarmos as


viaturas e, incorporados à nossa Cia (3º Cia de Infantaria), partimos
em perseguição aos alemães, numa ação ofensiva decisiva, da qual
participou com sucesso toda a nossa gloriosa FEB.
27/4/45 – Nesta data chegamos a Casalgrande, tendo feito parte
do percurso em viaturas e parte a pé.
26/4/45 – Deslocamo-nos de Casalgrande para Montecâvalo.
28/4/45 – De Montecâvalo fomos para S. Polo Denzo, onde
permanecemos até o dia 29. Neste dia, 29 de abril, fui mandado
com uma patrulha motorizada a Castelnuovo di Monte-Serreto e
imediações, em direção a Spezia. Atingindo Firezano, fiz ligação
com a tropa americana, e daí regressei, sem nenhuma novidade
com relação ao inimigo.
30/4/45 – Deslocamo-nos hoje para Alessandria e no mesmo dia
para Solero.
1/5/45 – Após um percurso de mais de 90 km, passando por
diversas cidades, chegamos hoje a Turim.
Uma patrulha autorizada enviada pelo Regimento sob o comando
do Cap. Darcy Lázaro, faz ligação na cidade de Susa com a tropa
francesa que havia atravessado os Alpes. Os alemães a esta altura,
já transpunham as fronteiras da Suiça, para cujo país se retiraram.
3/5/45 – Neste dia foi assinada a rendição incondicional de todas
as tropas nazi-facistas ainda existentes em solo italiano, e na mesma
data determinada pelo comando do V Exército Norte Americano, a
suspensão total das hostilidades.
4/5/45 – Regressamos de Turim a Alessandria, onde permanece-
mos em reorganização.
A guerra havia acabado! Aguardo agora o momento de retornar
ao Brasil, rever a minha adorada Zeny e conhecer o meu filhinho, e
isto espero com ansiedade!
E, enquanto aguardamos as providências para o nosso regresso
e permanecemos aquartelados em Alessandria, aproveitamos o
56 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

tempo para conhecer as cidades do Norte da Itália, para o que,


empreendemos tochas diárias com os mais variados destinos.
“Tocha” é o apelido que demos às nossas incursões turísticas de
após guerra.
Por meio delas, fiquei conhecendo MILANO, TORINO
(Turim), VENEZA, TRENTO, BRESCIA, BÉRGAMO, LAGO DI
COMO, LAGO DI GARDA, e cidades que o circundam, PAVIA,
PIACENZA-ATIS, CASALE, VICENZA, ACQUI, CREMONA,
MANTOVA, PADOVA, VERONA, TREVISO, VICENZA,
VOGHERA, etc.
18/6/45 – Após um mês e duas semanas em Alessandria
deslocamo-nos para PISA, passando por GENOVA SPEZIO e toda
a costa do mar TIRRENO.
21/6/45 – Partimos de PISA para LIVORNO, onde embarcamos
no navio transporte Sestriere com destino a NÁPOLES, onde
chegamos no dia 22 e fomos para um acampamento em Francolise.
Aí ficamos, a espera do regresso ao Brasil, acampado em barracas
e suportando um calor de matar! Na Itália também faz calor, sim!
Anotação que fiz no meu diário no dia 6 de maio, e que ficou fora
de ordem por ter saltado uma página ao transpô-lo para este livro.
Alessandria, 6/5/45 – Nesta data comemoro o meu primeiro
aniversário de casamento. E quantas saudades!!! Há um ano atrás,
quando saia da igreja com a Zeny, parecia que nunca mais nos
separaríamos!... A guerra, porém, nos separou. Nossos corações,
entretanto, permaneceram unidos através das saudades! E um novo
ser, veio consolidar este vínculo eterno, e será o orgulho e encanto
do nosso modesto lar! É o Augusto Otávio, nosso primeiro filho.
Bem longe do Brasil, longe de minha esposa e de meu filho, quero
consignar nestas páginas, todo o meu amor e as minhas infinitas
saudades!
Aceite minha adorada esposa e você meu filhinho, um abraço
bem longo, um grande beijo e todo o meu amor.
ORACY RIBEIRO GRANJA | 57

24/7/45 – Após permanecer em Francolise pelo espaço de um


mês, embarquei hoje às 18:00 h no navio brasileiro, D. Pedro II,
com destino ao Brasil. Agora sim, acredito que estou regressando,
e é com imensa alegria que vi chegar esse momento!
25/7/45 – Partimos do porto de Nápoles.
28/7/45 – Chegamos a Gibraltar, de onde saímos no dia seguinte,
e após algum tempo de viagem, o relógio foi pela primeira vez
atrasado de uma hora. No trajeto até o Rio de Janeiro, ficamos
ainda em Dakar e depois em Recife, e foi com emoção que após
um ano de ausência, no dia 13/8/45 – às primeiras horas da manhã,
avistamos o Cristo Redentor no cimo do Corcovado, que com os
seus braços abertos, parecia abençoar o nosso regresso.
Pouco depois desembarcávamos na praça Maná, e eu procurava
entre as pessoas que li estavam, aquela que eu mais desejava, a
minha adorada Zeny! Não a encontrei. Imaginei logo tivesse sido
a dificuldade de condução e procurei então dirigir-me para casa o
mais rápido possível.
Um colega meu, que havia conseguido um táxi, ofereceu-me um
lugar. Em poucos minutos encontrava-me em casa, lá na rua Mariz e
Barros 467 casa III, onde ao chegar encontrei apenas a minha sogra,
a Dona Célia, que tomava conta do meu primeiro filho, o Augusto
Otávio, com apenas 6 meses de idade, e a quem eu tive a imensa
alegria de pela primeira vez tomar em meus braços e dispensar-lhes
os carinhos paternais.
Pouco depois chegavam a Zeny e o meu cunhado João Pedro,
que não conseguindo condução para ir ao cais, foram a pé,
desencontrando-se de mim.
Quanta satisfação!!! Que imensa alegria de ver novamente a
minha adorada Sonequinha! Num prolongado beijo e num abraço
bastante demorado quanto apertado, procuramos afogar todas as
saudades que enchiam os nossos corações. Nesse dia, na parte da
noite, fui homenageado em casa da Moema com uma grande festa.
58 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

Assim encerra o episódio de minha participação na FEB, desde o


momento de minha partida até o retorno para os braços dos meus
entes queridos. 13 de agosto foi esta a data. E por isso eu gosto do
número 13. Ele me dá sorte! Que Deus abençoe o nosso lar e que
nele a felicidade esteja sempre presente, é o que mais desejo agora.

Resumo da minha vida militar:


Asp. a oficial – 4-12-1941
2º Ten. – 25-8-42
1º Ten. – 25-6-1944
Cap – 25-12-1946
Maj (por merecimento)- 25-10-1953
Ten Cel. (por merecimento) – 25-8-1961
Cel (por merecimento) -25-8-1966
Gen – Bda-30-9-1966
Transferência para a Reserva – na mesma data da promoção a
General de Brigada

Condecorações:
– Cruz de combate da 1º Classe
– Medalha de Campanha
– Medalha de prata
– Medalha de Guerra
– Medalha do Pacificador (Duque de Caxias)
– Medalha de Maria Quitéria

NB – Após a minha morte, este Diário e as condecorações


mencionadas deverão ficar com a Zeny, e, por sua falta, o Diário e
a medalha de campanha passarão a pertencer ao Márcio, para que
guarde consigo uma recordação de seu pai ligada ao tempo em que
foi combatente da FEB.
Ao Augusto Otávio, que nasceu quando eu me encontrava na
Itália, e por quem a Zeny tanto sofreu e lutou pela sua sobrevivência,
ORACY RIBEIRO GRANJA | 59

lego a mais importante das medalhas que conquistei: a Cruz de


Combate de 1a Classe, que é também a mais alta condecoração
concedida a um membro da gloriosa FEB. Esta medalha é concedida
por ação pessoal em Campanha daquele que a possui, e valorizada
pelo fato de que poucos são os que receberam. Ela é um marco de
orgulho em minha vida militar! Foi conquistada debaixo de fogo e
muito risco, o que lhe dá um valor inestimável para mim.

Data e local de nascimento -


Nascido a 17 de novembro de 1917 na fazenda Saudades,
município de Porto Murtinho, Estado de Mato Grosso, Filho de
Oscar Augusto Granja e Maria Ribeiro Granja, tenho 6 irmãos,
dos quais um faleceu na fazenda, onde passei os primeiros 7 anos
de minha infância. Chamava-se ele, Onecy. Meus outros irmãos
são: Edelcy, Omarancy, Darcy, Onecy, (recebeu o mesmo nome
do que falecera) e Coaracy. Quanto à minha data de nascimento
esclareço que ela figurou erradamente no almanaque do Exército,
onde sempre constou como sendo a 17 de março de 1917. Atribuo
esse erro à Secretaria da Escola Militar ao remeter para a Secretaria
do Ministério da Guerra a relação dos aspirantes da turma de 1941,
para que constasse do almanaque. No serviço de Identificação do
Exército, entretanto, a data está correta. Faço este esclarecimento
no sentido de dirimir qualquer dúvida no futuro por ocasião de
recebimento do pecúlio do G.B.O Ex. Quero acrescentar que, ao
me associar ao G.B.O.Ex, contava com menos de 40 anos de idade,
limite de inscrição; no entanto, pelo Almanaque do Exército, este
limite já havia sido ultrapassado. Tudo isto está perfeitamente
sanado, pois na ocasião remeti ao G.B.OEx. um atestado assinado
pelo Chefe do Estado Maior da 1º Região Militar, onde eu servia, no
qual constava os dados extraídos da minha certidão de nascimento.
Unidades em que servi –
16º R.I. – De Janeiro de 1942 a Outubro do mesmo ano foi minha
60 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

primeira unidade, e nela eu servia quando o Brasil entrou na guerra.


Nesse dia, 22 de agosto de 1942, domingo, dia da declaração de
guerra, fui mandado para a praia de Pirangi em Natal, integrando a
tropa que guarnecia o litoral. Permaneci ali até 14 de outubro, data
em que deixei a praia e segui de avião no mesmo dia para Fernando
de Noronha.
30º B.C. – De 14 de Outubro de 1942 a 14 de Junho de 1943.
Unidade sediada na Ilha de Fernando de Noronha, fazendo parte
do Destacamento Misto de Fernando de Noronha, que com mais
de 3.000 homens compunha a sentinela avançada do Brasil quando
entramos na guerra.
2º Cia Ind. de Fronteira – De agosto de 1943 a Janeiro de 1944.
Esta unidade do Exército é sediada em Porto Murtinho, Estado de
Mato Grosso, minha terra natal. Fica na fronteira com o Paraguay
e nela servi apenas 4 meses e meio, pois em Janeiro de 1944 fui
transferido para o 11º R.I., unidade que integrava a FEB. Por uma
estranha coincidência ocorrida mais tarde, também ao regressar à
minha cidade natal, já como oficial, e de onde estava ausente desde
o tempo de estudante, só fui rever os meus pais no dia 13 de agosto,
data em que pela primeira vez retornei à minha casa após longos
anos. A coincidência se deu dois anos depois, quando ao regressar
da Itália após o término da guerra, agora já casado, nesta mesma
data eu tive a grande ventura de rever a minha adorada Zeny e
pela primeira vez tomar em meus braços os meu querido filho, o
Augusto Otávio, a quem tanto ansiava conhecer. Por isso eu gosto
do dia 13 de agosto! O número 13, que muita gente não gosta, para
mim é número de sorte.
11º R.I. De Janeiro de 1944 até o regresso da Itália em julho de
1945 para aqui chegar a 13 de agosto. Esta unidade é sediada em
São João Del Rei, Minas Gerais, com ela vim para o Rio, onde
permanecemos aproximadamente 7 meses, antes de embarcarmos
para a Itália. Durante esse período estivemos em treinamento de
ORACY RIBEIRO GRANJA | 61

guerra. Os acontecimentos posteriores foram o objeto da existência


deste Diário.
2º R.I. Desde o regresso da Itália até minha promoção a capitão
em 25-12-1946, continuando adido a essa unidade da Vila Militar
até seguir para o 7º R.I. em abril de 1947.
7º R.I. – De Maio de 1947 a Abril de 1948.
Esta unidade é sediada na cidade de Santa Maria, no Rio Grande
do Sul.
Escola de Transmissões – Atualmente com o nome de Escola de
Comunicações – Nela servi como secretário até março de 1950. É
sediada em Deodoro no Rio de Janeiro.
2º Btl. Front – Sediado em Cáceres, Mato Grosso, onde servi até
fevereiro de 1951, quando vim para o Rio, a fim de cursar a Escola
de Aperfeiçoamento de Oficiais.
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais – Sediada na Vila Militar,
onde fiz o curso de aperfeiçoamento no ano de 1951. Fui desligado
em fevereiro de 1952, sendo então classificado no 3º R.I.em São
Gonçalo, Estado do Rio.
3º R.I. – Servi nesta unidade de março de 1952 a junho de 1953,
quando fui transferido para a Diretoria de Arquivo do Exército no
Ministério da Guerra – Rio de Janeiro.
Diretoria de Arquivo do Exército – Servi nesta repartição militar
de junho de 1953 a março de 1954, quando fui transferido para o 7º
CR em Goiânia.
7º C.R. – Realizada em Goiânia, onde servi de abril de 1954 a
junho de 1956.
Q.G.,da 7ª. R.M. – De Junho de 1956 a julho de 1958 servi no
Quartel General da 1º Região Militar, situado no Ministério da
Guerra – Rio de Janeiro, de onde saí com o destino à Fábrica de
Material de Comunicações, também localizada no Rio de Janeiro.
Fábrica de Material de Comunicações – Repartição militar
destinada ao fabrico de materiais de comunicação para o Exército,
62 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

tais como rádio e telefone de campanha além desta finalidade, que


é a principal, possui várias oficinas para outros fins. Exerci aí a
função de Chefe de Departamento Administrativo no período de
agosto de 1958 a novembro de 1961, quando em virtude de minha
promoção do posto de Tenente Coronel, fui transferido para o
Regimento Escola de Infantaria.
Regimento Escola de Infantaria (R.Es.I) – Sediado em Deodoro,
é a mais poderosa e completa unidade de combate, não apenas do
Exército Brasileiro, mas de toda a América do Sul com um efetivo de
mais de 3.000 homens, compõe-se de 3 Batalhões de Infantaria e 4
Companhias Regimentais, num total de 19 Cias. Aí fui comandante
do 2º B.I. no período de novembro de 1961 a abril de 1966. Esta
unidade pertence ao G.U.Es. (Grupamento de Unidade-Escola),
que é a grande unidade, organizada com efetivo de guerra, e pronto
para entrar em ação a qualquer momento e qualquer lugar. O R.Es.I.
faz parte do esquema de segurança da O.E.A (Organização dos
Estados Americanos). Já fiz deslocar, por solicitação desse órgão ao
governo brasileiro, num prazo de 5 dias, um de seus três Batalhões
para a República de São Domingos em 1965, transportados por via
aérea.
Diretoria de Armamento e Munição – Localizada no Ministério
da Guerra, aí servi com providência do R.Es.I, de abril a setembro
de 1966, quando fui promovido ao posto de Coronel e transferido
para a Reserva como general de Brigada, transferência esta a meu
pedido, encerrando assim a minha carreira no Exército após 30 anos
de serviço, período em que dei à Nação: na mocidade – o vigor de
minha juventude; no ocaso – a experiência de um veterano!
Rio de Janeiro, 11 de Setembro de 1969

ORACY RIBEIRO GRANJA


ORACY RIBEIRO GRANJA | 63

GENERAL DE BRIGADA
ORACY RIBEIRO GRANJA
(HERÓI DA FEB)
64 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

ZENY MIRANDA GRANJA


(ESPOSA)
ORACY RIBEIRO GRANJA | 65

PLAQUETA DE IDENTIFICAÇÃO E MEDALHAS CONQUISTADAS


NAS BATALHAS E NA VIDA MILITAR
ORACY RIBEIRO GRANJA | 67

CARTA PARA MINHA ESPOSA

Minha adorada Zeny. Estou escrevendo para você, para fixar no


meu diário, naquele Diário que você me mandou quando eu estava
na Itália, o Diário de um Tenente da FEB.
Quero nele escrever, tudo aquilo que eu lhe pretendia dizer no
dia 6 de maio, dia em que transcorreu as nossas bodas de prata.
O imprevisto, porém, o respeito à memória daquela velhinha,
desaparecida na semana que antecedeu às nossas bodas, e que foi
sempre a figura de relevo nas reuniões de família, impediu a realização
daquilo que estava programado para comemorar esse acontecimento.
Na data de hoje, dia do seu aniversário, e aniversário também
do nosso primeiro encontro nos salões do automóvel clube, quero,
neste instante em que cantamos o “parabéns pra você”, juntar aos
meus beijos e aos meus abraços, a expressão da minha imensa
gratidão pelos 25 anos de felicidade que tenho vivido ao seu lado.
Esposa digna e fiel, companheira incondicional de todos os mo-
mentos, alia a estes sublimes predicados, os de mãe exemplar, devo-
tada ao lar, que não mede sacrifícios pelo bem-estar de seus filhos.
E não podia ser diferente! Aquela que, dirigindo um jardim de
infância, dispensa aos filhos de outras mães, o carinho e a dedicação
que muitos deles não têm em seu próprio lar, tem que ser a mãe que
todas as crianças desejariam possuir.
Você, minha adorada Zeny, que muitas vezes lutou sem mim,
durante minha ausência, pela saúde e pela sobrevivência de nossos
filhos, se apresenta aos meus olhos como a heroína de uma grande
batalha, aquela que consagra uma verdadeira mãe!
E assim, foi por ocasião do nascimento do nosso Augusto Otávio,
quando eu me encontrava nos campos de luta da Itália. Assim foi
68 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

também, quando por imperativo de meus deveres profissionais,


tive de ausentar-me novamente, deixando a você o encargo de zelar
pelos nossos filhos.
Num e noutro caso você foi a mãe corajosa, dotada de uma
tenacidade incomum. Soube reagir com todas as suas energias para
evitar fosse o Augusto Otávio sacrificado.
A sua coragem, a sua fibra, a sua disposição inabalável, salvaram
a vida de nosso filho e você foi a vencedora dessa batalha.
Depois o Márcio, quando a sua saúde corria perigo, você so-
zinha mais uma vez, lutou com todas as suas forças e venceu a
segunda batalha.
Nessas ocasiões, distante de você, eu estava ao seu lado e tinha
você junto a mim.
Nos campos de luta, a cada missão que recebia, e foram muitas,
me transportava até você, para buscar a fé e a certeza de tornar
a vê-la. Buscava em pensamento a fé e a certeza de conhecer o
nosso filho que ainda ia nascer; aguardava com ansiedade o dia do
regresso. Sempre você a me inspirar confiança, como aconteceu em
tantas outras vezes, foi você que sozinha cuidou do Márcio, quando
ele tinha apenas 5 anos de idade, evitando que a sua saúde ficasse
comprometida para o futuro.
Você minha adorada Zeny, não é apenas a esposa dedicada e fiel,
ou a mãe exemplar, ou a mãe de outros filhos; você foi também a
filha zelosa, que esteve sempre ao lado daquela velhinha de que
todos nós gostávamos, que partilhou dos seus sofrimentos, que a
confortou em vida e por quem hoje sente saudades.
Você é ainda a criatura de espírito nobre, que vem dando o seu apoio
e o seu carinho no tratamento dispensado à minha mãe desde que se
tornou viúva, e ao meu pai quando em vida, por cuja compreensão
receba de mim toda a gratidão. E, por todas as virtudes de que você é
dotada, todas elas belas, receba de mim e de seus filhos, a expressão
do mais profundo respeito e toda a nossa admiração!
Oracy.
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HOMENAGEM DE SEUS FILHOS

Um rapaz, começando sua vida como tenente do exército


brasileiro, recém-casado, deixa sua amada esposa e parte para uma
guerra terrível.
Duas grandes embarcações levam mais de doze mil vidas, bravos
soldados e oficiais que irão lutar nos campos longínquos da Itália,
para impedir a loucura de um doente mental em seu pesadelo de
dominar o Mundo.
Muitos desses jovens não voltarão, ficarão deitados do chão de
Pistoia, na Itália. Muitas cenas de heroísmo, de soldados destemidos
que doaram suas vidas para salvar a de outros companheiros. Muitos
voltaram mutilados.
Nosso pai, o tenente Oracy Ribeiro Granja, voltou sem um
ferimento, inteiro por fora, mas ferido por dentro. Não poderia
ser diferente. Os horrores da guerra marcaram para sempre seus
sentimentos. Companheiros tombaram ao seu lado, atingidos
pelos tiros e petardos do inimigo. A cena de heroísmo do soldado
Rosálio que salvou a vida do sargento de seu pelotão, mas que
morreu atingido pelas rajadas das metralhadoras nazistas. Cidades
completamente destruídas, onde crianças famintas disputavam
qualquer migalha que lhes fosse oferecida, onde mulheres vendiam
sexo por uma barra de chocolate. Nas grandes batalhas, as de Monte
Castelo e de Montese, as bombas da artilharia sobre as posições
do inimigo e a reação das tropas alemães eram de tal ordem que
70 | DIÁRIO DE UM TENENTE DA FEB

não havia um segundo sem explodir um petardo, transformando a


batalha num verdadeiro inferno. Ressalte-se o elogio que o nosso
tenente fez ao sargento Max Wolf, cujo auxílio foi fundamental em
suas missões e batalhas.
Por tudo o que lemos do diário do tenente e, também, pelo que
nos foi relatado verbalmente por nosso pai, fica-nos uma grande
lição, que sintetizamos numa única sentença:
“Numa guerra não há vencedores, nem vencidos; só há mortos
e feridos”.
A publicação deste diário e essas poucas palavras são uma
pequena homenagem que podemos fazer ao herói que combateu
com tanta bravura para que desfrutássemos da nossa liberdade.
Pátria amada. Brasil.

Augusto e Márcio.

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