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Revista Brasileira de Nutrição Esportiva


ISSN 1981-9927 versão eletrônica
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PERFIL ALIMENTAR E ANTROPOMÉTRICO DE UM TIME DE ATLETAS DE HANDEBOL


DA CATEGORIA JÚNIOR

Jéssica Marcela Caprio1, João Paulo Contini Machado1


Gabriel Silveira Franco1, Marina Garcia Manochio1

RESUMO ABSTRACT

O presente estudo teve como objetivo avaliar o Feed and anthropometric analysis of a
perfil antropométrico e alimentar dos atletas de handball team in the junior category
handebol da Categoria Junior do time de
Franca-SP. Participaram do estudo 12 atletas The present study aimed to evaluate the
do sexo masculino, com idade de 18 a 21 anthropometric profile and feed status of
anos. Para auxiliar na coleta, foi construído um handball players in Category Junior team of
questionário, com as questões a serem Franca SP. Participated study 12 male
pesquisadas nos prontuários da Clínica de athletes, aged 18 to 21 years. To assist in the
Nutrição da Universidade de Franca contendo collection, a questionnaire was built, with the
as variáveis: antropométricas, por meio da issues to be researched in the records of the
análise do exame de bioimpedância, consumo Nutrition Clinic at the University of Franca and
energético de macronutrientes, fibras e cálcio, the variables studied were: anthropometric,
avaliados pelo software Diet Pro5i®. Para through analysis exam of bioelectrical
análise de dados foi utilizado o teste de t de impedance, power consumption of
Student. Em relação aos dados do peso atual macronutrients fibers and calcium, evaluated
e peso médio de massa magra, não se through the Diet Pro5i®. For data analysis,
observou diferença significativa do padrão de was used outtest Student t. In relation to the
normalidade. O percentual de gordura atual data of the current weight and average weight
14,23 Kg ± 4,65, apresentou-se superior ao of lean body mass, there is no significant
percentual médio de gordura ideal 11,50 Kg± difference in the pattern of normality. The fat
1,86 (p=0,0810). A porcentagem de percentage current 14.23 Kg ± 4.65, is higher
adequação dos macronutrientes do padrão than the average percentage of fat ideal 11.50
alimentar dos atletas, se mostrou dentro do Kg± 1.86 (p= 0,0810). The percentage of
padrão, de acordo com a análise e estatística. adequacy of macronutrient dietary pattern of
Verificou-se que o consumo de fibra alimentar athletes, if they are within the standard in
41,74g±22,03 se encontrava em padrões accordance with the analysis and statistics.
adequados, segundo as DRIs específicas de The consumption of dietary fiber 41,74g±22.03
referência em consumo de 38 g por dia. O is appropriate standards according to the DRIs
consumo de cálcio em mg estava specific reference in consumption of 38g per
significativamente abaixo do valor de day. The calcium intake in mg is significantly
referência especificada, com relevância below the reference value specified with
estatística (p<0,0001). Assim, propõe-se que statistical significance (p < 0.0001). It is
estudos futuros preconizem a prática de proposed that future study with the athletes
educação ou intervenção nutricional nos and staff advocate the practice of education or
atletas e seus possíveis efeitos na qualidade nutritional intervention in athletes and their
dos tecidos musculares, na performance possible effects on the quality of muscle tissue,
esportiva, na melhora da qualidade da dieta e in sports performance, improvement of the
correção das deficiências alimentares quality of the diet and correction of nutritional
evidenciadas no presente estudo. deficiencies identified in the study.

Palavras-chave: Avaliação nutricional. Estado Key words: Nutritional assessment. Nutritional


Nutricional. Composição corporal. status. Body composition.

1-Universidade de Franca (UNIFRAN), Franca-


SP, Brasil.

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INTRODUÇÃO balanço energético e o seu real consumo é um


importante fator para a manutenção do estado
Homero, na Odisseia, foi quem nutricional do atleta, ofertando com qualidade
primeiro citou o handebol; depois foram os macro e micronutrientes e energia, evitando
romanos; mas a Alemanha é quem iniciou o excessos e deficiências nutricionais.
jogo, como é conhecido na atualidade. No Deficiências no consumo desses nutrientes,
Brasil, foi introduzido no século passado pelos em específico, podem causar perda excessiva
imigrantes alemães, e em 1979 foi criada a de massa muscular, maior susceptibilidade a
Confederação Brasileira de Handebol lesões e infecções, disfunções hormonais,
(Dellagrana e colaboradores, 2010; Martorelli e perda óssea e, consequentemente, queda no
colaboradores, 2008). rendimento físico.
O handebol é uma modalidade O trabalho da nutrição esportiva vem
aeróbica mista devido aos esforços aeróbico- ganhando espaço, pois na medida em que os
anaeróbicos, principalmente nos momentos de esportes estão evoluindo, a demanda dos
ataque, retorno defensivo, volta ao contra- treinos também está aumentando, obrigando
ataque, ação de finta e lançamento. É os atletas a se prepararem melhor fisicamente,
classificado como um esporte coletivo e pode sendo que esse preparo também é auxiliado
ser considerado uma fusão entre elementos do pela alimentação adequada (Dellagrana e
basquete e do futebol. Os esforços físicos do colaboradores, 2010; Wolinsky e Hickson Jr,
desporto apresentam características de alta 1996).
intensidade e curta duração com ênfase no A alimentação é fator essencial no
esforço motor de velocidade e força (Martorelli desempenho esportivo, apontada em estudos
e colaboradores, 2008). científicos, evidenciando que atletas do sexo
O acompanhamento da evolução no masculino em longo período de treinamento
treinamento é importante e de igual relevância podem apresentar necessidades energéticas
a avaliação da composição corpórea, já que a entre 3000 a 5000 kcal por dia, energia que
característica específica dos tecidos, sendo pode ser difícil de ser alcançada apenas com a
estes, massa gorda e massa magra, apresenta alimentação sólida. Alcançar tal demanda
interferências positivas e negativas, energética pode ser um desafio para o
respectivamente, no desempenho atlético. A profissional, visto que modismos alimentares
composição corporal e o peso são dois dos podem estar instaurados na rotina do atleta,
vários fatores que contribuem para a ótima havendo preferência por dietas hiperproteicas
performance. O peso corporal pode influenciar e hiperlipídicas (Dellagrana e colaboradores,
na velocidade, resistência e potência dos 2010; Martorelli e colaboradores, 2008; Souza
atletas, enquanto a composição corporal pode e colaboradores, 2006).
afetar a força, a agilidade e a aparência dos Os aspectos individuais do atleta
mesmos (Blair e Taylor, 2013; Dellagrana e devem ser considerados, tais como:
colaboradores, 2010; McArdle, Frank e Katch, preferência e tolerância por determinados tipos
2014; Oliveira e colaboradores, 2012; Siegel e de alimentos, digestibilidade, apetite,
Castellan Jr, 2006; Wolinsky e Hickson Jr, disponibilidade de tempo para a refeição,
1996). visando à oferta ótima de nutrientes e proteção
A nutrição é um dos fatores que pode ao seu estado nutricional (Ferigollo, Trentin e
otimizar o desempenho atlético. Sendo bem Confortin, 2012; Hirschbruch e Carvalho, 2008;
equilibrada pode reduzir a fadiga, o que Siegel e Castellan Jr, 2006).
permitirá que o atleta treine por tempo maior, Para tais prescrições e
ou tenha melhor recuperação. A nutrição acompanhamento dinâmico e eficaz, o
adequada pode potencializar os depósitos de profissional nutricionista deve possuir
energia para a competição, reduzir as experiência prática, para que haja a orientação
possibilidades de enfermidades que com comprometimento dos atletas, e agir
prejudicam os períodos de treino, melhorar o facilitando a adesão dos mesmos a estratégias
condicionamento e a saúde geral (Wolinsky e nutricionais simplistas e inseridas a seu
Hickson Jr, 1996). contexto cultural (Hirschbruch e Carvalho,
A necessidade de energia de atletas é 2008).
consideravelmente maior do que indivíduos Dessa forma, este estudo teve como
sedentários. Dessa forma, o equilíbrio entre o objetivo avaliar o perfil antropométrico e

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alimentar dos atletas de handebol da D’Agostino & Pearson para se definir a


Categoria Junior do time de Franca-SP. natureza paramétrica ou não-paramétrica dos
testes de significância estatística a serem
MATERIAIS E MÉTODOS aplicados.
Em virtude da normalidade dos dados,
Foi desenvolvida uma pesquisa de para se compararem os valores médios do
campo descritiva e quantitativa com atletas de grupo de participantes com os de referência foi
handebol da categoria júnior (18 a 21 anos). utilizado o teste de t de Student para a
Primeiramente, solicitou-se autorização para a significância da diferença entre média amostral
realização da pesquisa ao responsável da e média populacional; e para comparar dois
Clínica de Nutrição da Universidade de Franca conjuntos de medidas entre si, foi aplicado o
(UNIFRAN). Após a aprovação pelo Comitê de teste t de Student Pareado, já que um mesmo
Ética em Pesquisa (CEPE) da Universidade de grupo foi observado em relação às várias
Franca, Protocolo nº 41534915.1.0000.5495, variáveis. Em todos os testes estatísticos o
os atletas de handebol foram convidados a nível de significância foi pré-fixado em 5,0%
participar da pesquisa. e os que concordaram (α=0,05) e os cálculos foram executados pelo
assinaram o Termo de Consentimento Livre e software GraphPad 5,0.
Esclarecido.
A pesquisa foi realizada por meio da RESULTADOS
análise dos prontuários dos participantes
sobre a ingestão de alimentos, e os dados A amostra foi composta por 12 atletas
antropométricos foram avaliados segundo os do sexo masculino entre 18 e 21 anos, com
resultados do exame de bioimpedância idade média de 20,09±1,033. De acordo com o
constantes nos prontuários. A ingestão exposto no Quadro 1, o peso médio foi de
energética calculada pelo EER (Estimated 79,52Kg±10,77. O peso absoluto de gordura
Energy Requiriment) para cada participante e foi de 14,23 Kg ± 4,65. Em relação à massa
de macronutrientes segundo as DRIs (Dietary magra, a média foi de 65,33 Kg ± 6,99; e o
reference intakes) foi avaliada no software Diet IMC médio amostral foi de 23,97 ± 2,19.
Pro5i®. Para auxiliar na coleta, foi elaborado A média do consumo energético real
um questionário pelos pesquisadores, com as dos atletas, calculada pelo EER (média de três
variáveis a serem pesquisadas nos dias de recordatório 24 horas), foi de 1956 kcal
prontuários, sendo preservada a identidade do ± 98,1. Em relação ao consumo de
participante (Institute of Medicine, 2002). macronutrientes, o carboidrato apresentou,
A comparação entre o consumo médio segundo análise percentual, 52,83 % ± 13,01,
de macronutrientes no grupo e os valores de com ingestão de 3,25 g/Kg/dia de carboidrato.
referência foi realizada por meio de testes de O consumo de lipídios, em percentual,
significância. Uma análise prévia sobre a estava na média do grupo (30,52% ± 10), com
normalidade projetada para a população ingestão de 0,83 g/Kg/dia de lipídios. A
definiu a natureza paramétrica ou não- ingestão proteica média era de 1,44 g/Kg ±
paramétrica da estatística a ser utilizada. As 0,68. Em relação à ingestão de fibra alimentar,
variáveis numéricas foram caracterizadas os atletas consumiam média de 41,74 g ±
pelos parâmetros descritivos: média aritmética, 22,03. Quanto ao cálcio, os atletas consumiam
desvio padrão e coeficiente de variação e média de 390,40 mg ± 180,80.
foram submetidas ao teste de normalidade de

Quadro 1 - Antropometria e resultados do teste de bioimpedância dos atletas de handebol da cidade


de Franca-SP.
Dados/Variáveis Média Desvio-Padrão Padrões de referência
Peso Atual 79,52Kg 10,77 79,15 Kg ± 8,97
Peso gordura 14,23 Kg 4,65 11,50 Kg ± 1,86 Kg
Peso massa magra 65,33 Kg 6,99 65,54Kg ±7,06
IMC Médio 23,97 Kg/m² 2,19 18,5 a 24,9 Kg m2

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Quadro 2 - Dados referentes ao consumo e adequação da dieta dos jogadores de Handebol da


cidade de Franca.
Dados/Variáveis Média Desvio-Padrão* Padrões de referência
Energia 1956 kcal/dia 98,1 3730 kcal. ± 198
Carboidratos 52,83% 13,01 45 a 65%
Lipídeos 30,52% 10 20 a 35%
Proteínas 21,48 % 9,48 10 a 35%
Gramas de proteína/Kg 1,44 g 0,68 0,8 a 2,0 gramas/Kg
Fibras 41,74 g 22,03 38 gramas
Cálcio 390,40mg 180,80 1000 mg

DISCUSSÃO tipo de tecido compõe todo o físico, não


diferenciando massa muscular, de massa
Segundo Hirschbruch e Carvalho gorda. Dessa forma, os resultados obtidos no
(2008), o padrão alimentar e sua respectiva IMC médio da presente pesquisa não
qualidade apresenta essencial importância nos corroboram os achados desses autores, pois o
praticantes de atividade física de qualquer padrão médio encontrado foi de 23,97 ± 2,55,
nível, já que uma dieta deficiente pode classificados pela literatura como eutróficos.
ocasionar queda no rendimento, perda de O peso absoluto de gordura dos
massa muscular, lesões musculares, perdas atletas (14,23 Kg ± 4,65) foi superior ao peso
ósseas, dentre outros aspectos. A nutrição absoluto de gordura ideal (11,50 Kg ± 1,86)
esportiva beneficia os atletas de elite, na para os praticantes de handebol da amostra.
busca por resultados que estão além do nível Dados que não corroboram os de Dellagrana e
recreativo. colaboradores (2010), que analisaram a
Os atletas avaliados apresentavam composição corporal e verificaram que a
idade de 18 a 21 anos, com média de 20,09 maioria dos praticantes da modalidade
anos ±1,033 semelhante a outros estudos, esportiva, se encontravam com score de
como o de Kravchynchyn, Silva e Machado percentual de gordura classificados como
(2013), que analisaram o risco de transtornos moderadamente altos. Ferrigolo, Trentin e
alimentares em modalidades coletivas, Confortin (2012) evidenciaram que os atletas
incluindo o handebol, e a média de idade de avaliados, apresentavam percentual de
toda a amostra era de 15 a 26 anos. Silva, gordura médio ótimo para a realização de
Silva e Santos (2012), utilizaram um teste atividades físicas.
funcional em atletas amadores da modalidade Fatores como intensidade de
de handebol, obtiveram média de idade de exercício, volume de treinamentos e jogos e os
17,72 ± 2,16. Tais estudos fortalecem a aspectos nutricionais não devem ser
assertiva que a prática de esportes coletivos é desprezados, devido a sua influência na
comum em indivíduos na fase final da alteração do estado nutricional.
adolescência e início da idade adulta. A massa muscular é imprescindível
Em relação ao peso médio atual dos para o desempenho esportivo, principalmente
atletas (79,52 ± 10,77) não houve diferença no handebol, em que o contato físico é
estatisticamente significativa em comparação constante, podendo fazer toda a diferença no
ao peso médio ideal, de acordo com a média resultado de treinamentos e competições. O
de todos os indivíduos estudados (79,15 ± ganho de massa muscular, assim como sua
8,97) (p=0,3563). Os achados do presente preservação, é necessário, já que isso
estudo pouco se diferiram dos de Ferrigolo, aumenta a resistência e a força, e oferece
Trentin e Confortin (2012) que analisaram a proteção contra lesões. Uma dieta equilibrada,
composição corporal, sudorese e hidratação que oferece substratos energéticos,
de atletas profissionais em Santa Catarina, reguladores e construtores é importante para
que apresentavam IMC médio (27,45 ± 2,50) ganho e manutenção desse tecido
amostral de sobrepeso, mas de acordo com os metabolicamente ativo, para que seja evitado
resultados, a análise desse parâmetro isolado o seu catabolismo durante os esforços
não apresentou relevância, pois não se sabe intensos (Ferigollo, Trentin e Confortin, 2012;
ao certo, sem a avaliação antropométrica, que Kravchynchyn, Silva e Machado, 2013; López

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e colaboradores, 2013; Molina-López e pelos atletas de handebol, também se


colaboradores, 2013; Nikolaidis, 2013; Silva, encontrava abaixo da recomendação para
Silva e Santos, 2012; Silva e Ferreira, 2013; proporcionar o efeito reestabelecedor e
Silva e colaboradores, 2014; Spendlove e ergogênico.
colaboradores, 2012). Longo (2005) avaliou a composição e
O consumo energético dos atletas se adequação da dieta dos atletas de handebol
encontrava muito abaixo da média, conforme da seleção Brasileira, e verificou alto consumo
exposto no Quadro 2. Os praticantes de de gordura pelos atletas; devido,
atividade física em nível competitivo principalmente, à valorização do consumo de
necessitam de um aporte energético diário que proteína animal, ultrapassando a
preencha suas necessidades, proporcionando recomendação adequada de gordura saturada
recuperação do glicogênio muscular e de menos de 10% do VET e colesterol, que
hepático, complemento de vitaminas e são valores menores que 300 mg/dia. No meio
minerais para a homeostasia corporal, esportivo é comum a adesão por dietas
proteínas para proporcionar um balanço hiperproteicas e hiperlipídicas em detrimento
nitrogenado positivo, evitando o catabolismo do baixo consumo de carboidratos, podendo
proteico e de lipídios, para o fornecimento de comprometer o desempenho adequado no
energia, manutenção dos hormônios e correta esporte, já que o handebol é uma atividade
absorção de vitaminas lipossolúveis. De forma aeróbica, que requer grande estoque de
geral, se torna imprescindível o alcance da glicogênio.
meta calórica (Ferrigolo, Trentin e Confortin, A média do consumo de proteínas
2012; Oliveira e colaboradores, 2012; pelos atletas de handebol do presente estudo
Wolinsky e Hickson, 1996). (21,48 ± 9,48) não apresentou significância
Os macronutrientes, conforme citado, estatística quando comparada com a média de
apresentaram adequação correta segundo os 25% do valor calórico total de uma dieta,
valores das DRIs utilizados para a análise. Em conforme estabelecido pelas DRIs (10% a
relação à adequação de consumo de 35%). Porém dados da literatura mostraram
carboidratos, em porcentagem, a média do resultados diferentes dos encontrados no
grupo (52,83% ± 13,01) se encontrava dentro presente estudo, pois cerca de 25% dos
do padrão de referência de consumo (45-65%) praticantes da modalidade apresentava
(Silva, Silva e Santos, 2012). consumo inferior, sendo um caso com
O exercício prolongado, depleta indicação de intervenção nutricional, pois
acentuadamente os estoques de glicogênio adolescentes ativos apresentam maior
muscular, sendo o carboidrato o nutriente susceptibilidade para adquirir desnutrição
chave para seu correto abastecimento, devido ao padrão alimentar desregulado e
fundamental para a manutenção do efeito maior gasto energético induzido pelo exercício
ergogênico e bem-vindo em todas as práticas (Leme e colaboradores, 2009; Silva e Ferreira,
esportivas. É estimado que a ingestão de 2013).
carboidratos deve estar entre 60 a 70% do O consumo de proteínas deve ser
aporte energético total da dieta para atender adequado visando estabelecer um balanço
às necessidades do treinamento e da nitrogenado positivo e beneficiar o atleta, com
competição esportiva (Martorelli e a reparação das microlesões ocasionadas pelo
colaboradores, 2008; McArdle, Frank e Katch, exercício. Os exercícios de força exigem
2014; Wolinsky e Hickson, 1996). aporte maior de proteínas, sendo uma das
Em relação ao macronutriente recomendações descritas na literatura, o
carboidrato, os dados obtidos foram distintos consumo de 1,6 a 1,7 gramas/Kg de peso
aos de Leme e colaboradores (2009), que corporal. De qualquer forma, é importante a
observaram que o consumo desse nutriente análise individualizada, pois cada atleta possui
estava abaixo da recomendação de 60% do suas peculiaridades, que podem influenciar na
valor energético total, sendo que o consumo conduta a ser estabelecida. A conscientização
especificado dos atletas era de 53,7% do valor de que o consumo exagerado desse nutriente
energético total (VET). A análise não vai surtir efeito de ganho de massa
individualizada dos atletas é importante, pois muscular acima da média deve fazer parte da
de acordo com Leme e colaboradores (2009), conduta, já que os tecidos possuem um limite
o percentual de consumo de carboidratos de aproveitamento e acúmulo. O consumo de

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todos os nutrientes em equilíbrio é importante, CONCLUSÃO


pois além do desempenho, a saúde do atleta
deve ser mantida. Em estudos sobre Em suma, por mais que os atletas
programas de educação nutricional, os autores estivessem adequados quanto ao consumo de
verificaram que para melhoria na qualidade da macronutrientes, a ingestão calórica e de
dieta de atletas e nos hábitos alimentares, é Cálcio estava aquém do recomendado pela
importante um acompanhamento contínuo literatura, o que, futuramente, poderia
(Hirschbruck e Carvalho, 2008; McArdle, comprometer o desempenho físico dos
Franki e Katch, 2014; Nóbrega e mesmos.
colaboradores, 2009; Spendlove e Em princípio, não houve tempo hábil
colaboradores, 2012). para afetar os parâmetros antropométricos,
O consumo de fibras (41,74 ± 22,03) visto que a quantidade de gordura corporal e
não apresentou diferença significativa do valor de massa magra estava dentro da
de referência especificado (38,00 g) normalidade.
(p=0,5679). O consumo de fibras alimentares Todavia, em longo prazo, esta
pelos atletas de handebol da cidade de insuficiência energética poderia prejudicar tais
Franca- SP se mostrou adequado, pois está parâmetros, como, por exemplo, favorecer o
de acordo com as especificações das DRIs catabolismo proteico.
para a idade (Institute of Medicine of the Dessa forma, a orientação ministrada
national Academies, 2005). por um profissional habilitado para realizar
Alguns estudos realizados com atletas atividades de educação e/ou intervenção
de outras modalidades de esportes coletivos, nutricional seria de suma importância para
como o vôlei e futsal, mostraram um consumo correção dos hábitos alimentares.
de fibras abaixo da média pré-estabelecida, Por fim, propõem-se estudos futuros
sendo esses resultados, diferentes do com os atletas e equipes, que preconizem o
esperado, não corroborando os achados do acompanhamento de nutricionistas para
presente estudo. É sabido que o consumo de corrigir as deficiências alimentares
fibras é importante pelo efeito de otimização evidenciadas nesta pesquisa e,
do funcionamento intestinal, na redução de consequentemente, melhorar a qualidade da
ácidos biliares, do índice glicêmico e colesterol dieta.
sanguíneo (Bastos, 2006, Silva, Silva e
Santos, 2012). Outro estudo com atletas REFERÊNCIAS
juvenis, praticantes de handebol, verificou que
91,6% da amostra apresentavam um consumo 1-Bastos D. Avaliação nutricional, padrão
abaixo do esperado para fibras (Guerra, alimentar e conhecimentos de nutrição e
Knackfuss e Silveira, 2006). alimentação de jovens atletas de voleibol.
A ingestão média de cálcio em mg Trabalho de Investigação. Faculdade de
(390,40 ± 182,80), se apresentou Ciências da Nutrição e Alimentação da
significativamente abaixo do valor de Universidade do Porto. Porto-Portugal. 2006.
referência recomendado pela DRI específica
para a idade (1000,0 mg) (p<0,0001). O cálcio 2-Blair, R.C.; Taylor, R.A. Bioestatística para
é um mineral que participa do processo de ciências da saúde. São Paulo. Editora
contração muscular e também faz parte da Pearson. 2013.
composição óssea, sendo essencial para a
saúde, evitando lesões e riscos de incidência 3-Dellagrana, R.A.; Silva, M.P.; Smolarek,
de osteoporose e osteopenia. Um estudo que A.C.; Bozza, R.; Neto, A.S.; Campos, W.
analisou o padrão alimentar de atletas de Composição corporal, maturação sexual e
handebol em Municípios de Alagoas apontou desempenho motor de jovens praticantes de
que 100% das atletas avaliadas apresentavam handebol. Motriz: Revista de Educação Física
baixo consumo do mineral Cálcio, sendo (Online). Vol. 16. Núm. 4. 2010. p. 880-888.
considerado alarmante, pois há risco maior de
fraturas por estresses, devido à baixa 4-Ferigollo, M.C.; Trentin, M.M. Confortin, F.G.
densidade (López e colaboradores, 2013). Composição corporal, taxa de sudorese e
hidratação de jogadores de handebol. Revista
Brasileira de Nutrição Esportiva. Vol. 6. Núm.

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