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Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista Zj]URUA rl — PSICOLOGIA ia | -——-FENOMENOLGGICA ae — EXISTENCIAL } A PRATICA PSICOLOGICA ALUZ DE HEIDEGGER 1. Psicologia fenomenologica. 2. Psicologia existencial. | 3. Fenomenologia. I. Titulo, \ i 5 CD 150.192 (22.¢4.) oi e90076 CDU 159.994 ee SD Visite nossos sites rjaruapsicologia.com.br © www.editorialjurua.com sicologia@jurva.com.br wer um estudo tedrico sobre a hist. is desdobramentos, com énfase nq Portanto, pretendo desenvol 7 ger. Consider ria da influéncia da fenom: este filésofo 0 primeiro a S@ ape 1, delineado por Bena es“ do DSC aos fenonenoliins. Em SBN 6 yarecem na psicologia, -ncial”, conforme supracitado. ogrfica indica que esta pesquisa nfo foi desen- ‘So muitos os trabalhos que apresentam as raizes loséficas das psicologias humanistas, exis € fenomenolégicas, ‘mas nenhum que acompanhe o desenvolvime térico dessas aborda- tense delimit, se for possvel, o que caracteriza uma psicologia baseada do do termo fenomenologia tra tal como ele por si mes § 7). Mas... como proceder? Qual método seguir? 1927/2012, p. 1a rapida conversa com o prof. Dr. Roberto Novaes Sé, jeio i USP para palestrar no XXV Coléquio LEI essa pergunta € el pperplexo co ‘0 ou pleno - que, quando explicitado, desfaz ‘iio define ot we pode ow na esta obra de fea”, Seri isso um problema? de ser nfo fenomet nais, entendem que ela convoca uma resposta p ica nesta abordagem, fi modos de ser psicdlogo. Penso que todas as reagdes remetem a concepgdes prévias do que € fenomenologia e de como a ontologia heideggeriana influencia a iis 2 Rodrigues Alves Evang 2______ Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelisig «glo des Método cientifico em pesquisa pereurso no doutorado, entro com dade. O trabalho como psicélogo is exigéncins da pés- que preciso lo do projeto de pesquisa, que segue um modelo diferente do projeto que apresentei no concurso para ~graduagiio. Sua estrutura &, por assim dizer, mai contemplar os seguinte da bibliografia fundament ‘nograma de sua execugio; dos resultados. Num primeiro momento, no vej . no vejo nada de estranho... Desde 0 colegial, quando estudava quimica, fi i sial, quando e fisica, biologia estou pproceder assim. Na faculdade esse modelo fot ut aiuius vost, Estou acostumado a proceder cientifi Para afirmar que a Psicologia esta a de pesquisa. També; 1) Inrodugio e justificativa, 2) Objetivos; 3) Plano de trabal ) Material © métodos; 5) Forma de a1 compéem 0 cor- . ento de HONS Pesquisas. Além disso, introdugao Psicologia Fenomenolégica Existencial teérica situa 0 pesquisador e os possiveis leitores em relagiio ao contexto te6rico, entendido como o recorte da realidade tomado como objeto ¢ a perspectiva a partir de qual esse recorte seri acessado. Feita essa introdu- Gio, indicam-se os objetivos. O objetivo de toda pesquisa é conhecer algo que ainda nao se conhece, que deve ser formulado como hipotese a ser confirmada ou refutada. Também jé se tomou habito formular o objetivo das pesquisas na forma de hipéteses. O método € 0 conjunto de procedimentos que sera usado para perseguir a hipétese, devendo ser correspondente ao tipo dos entes presentes nesse recorte da realidade. A intervengiio no recorte do real através dos procedimentos delineados pelo método de pesquisa gera re~ fados, que, em geral, so dados brutos que precisam de um novo recorte, 6, uma determi da perspectiva a partir da qual esses resultados serdo avaliados, analisados. Esse modelo é resumido por Heidegger como: ) da delimitagio da matéria; b) da doutrina do trabalho metédico com objeto e da tarefa da ciéneia);¢) da observagai das investiga {goes precedentes de colocar e resolver tarefas cientificas. (Heidegger, pesquisa é imediatamente confrontado e acusado de no reconhecer as conquistas que a ciéncia proporciona: melhores condigbes de higiene, elevagdo na expectativa de vida, tratamento de doengas etc. método ‘entifico. Mesmo as psicologias que questionam 0 Positivismo e postu- lam-se nio cientifico-naturais seguem esse modelo: introdugio, objetivo, metodo, resultados. A pluralidade de abordagens psicolégicas abre para uma diversidade de métodos: estatist do comportamento ob- servavel, quantitativa, qualitativa, empi ialética, pragmatica, pesqui- sa-participante, pesquisa-acio etc. (Amat 2001). Sao varias perspec- tivas possiveis, mas todas seguem a mesma estrutura. Por qué? Por que as pesquisas iniciam com uma introducdo tedrica, hipoteses, método de ‘aeesso ao real e de andlise de dados? i o = samt pa Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista scotia Fenomenoligica Existensal 3S. Seri assim que devo proceder nesta pesquisa? Se for, meu ca- rminho jé esta tragado. Recorro aos fundamentos filoséficos da fenomeno- logia da existéncia de Heidegger e mostro como foram aplicados na Psi- ol logos ou aplico esses fundamentos num campo Por exemplo, posso fazer a aplicagio da feno- previamente delimit provavelmente menologia de Heidegger num caso clinico ou numa sup. ou na Br pesquisa com esse embasamento andlise de uma situacdo grupal ou institucional. Procedendo assim, a fe~ fnentagdo de muitas pesquisas em psicolo nomenologia existencial revela-se abordagem ou perspectiva, isto é, um Mas seré que sua propos! do de procedimentos aplica a pretagdo de dados: Sendo a pesquisa obediéncia a0 método da anali vvigs de aproximacio de um dado bruto da realidade. Assim ct saa ‘realidade’ perspectiva fenomenol acessé-la pela psicandlise, pela psicologia s6ci Mas isto envoive o pressuposto de que a realidade ¢, mento, um dado bruto e que a psicologia fenomenologica ‘mais uma abordagem no mercado das abordagens psi a uma determinagao do que pode um psiedlogo fenomen cial, no sentido de descrever que tipos de interpretagdes e intervengdes nolégico, mostr: escolha e3td sfio ou no correspondentes a essa abordagem? Serd que descrevendo um. método ou um conjunto de modalidades de int dendo 0 que caracteriza a perspectiva fenomenolégica exist o método que devo seguir? Analitica do Sentido ___ Ainda na faculdade aprendo que a fenomenologia existencial é contréria a0 método cientfico-natural de pesquisa. Mas, considerando isso agora, se ja @ assumo como contréria, estou tomando partido sem clareza do sentido disso. Por isso, suspendo essa por fe € recorro juisa que me foi apresentado como fenomenoldgi 5 ¢ . Essas perguntas, ea do sentido, desenvolvida por Dulce Critelli (1996). - te presen el mo conhecime , ba é, ceiro ano de Poesrneimento desta obra em 1999, quando estou no ter- psicologia, No semestre seguinte m i Ne e matriculo lina ministrada por esta filésofa na PUC- oy cam enorme clareza os pensamentos de uas proximidades e divergéncias. Assis~ anos quai : icologia. Quando retomo a universiden es oe 0 da mesma professora que pela primeira vez numa di h Aren to essas aulas do curso nha formagao em Psi trado é sob orientag sa.em Filosofia elisa nado Rodrigues Alves B 10 método cientifico-natural, cujo de Este modo de proceder dro un, permanente imutdve, sentido é a elaboragiio de uma representagé , precisa e segura sobre o que se quer compreender. Tal representagao € Formulada como conceito uno, eterno ¢ incorruptivel, de acordo com as decisdes tomadas a0 longo da histéria do ocidente. Se 0 método cientifico-natural for seguido nesta pesquisa, 0 re- sultado obtido sera uma representagao clara que responde o que é a psico- logia fenomenolégica existencial, apresentando suas propriedades. Mas a analitica do sentido mostra que mesmo as ciéncias naturais sio um modo de existir e habitar o mundo. A caracteristica principal desse modo de ser a busca por seguranca diante da pluratidade de modos de a realidade. aparecer, da multiplicidade de opinides possiveis e da inconstincia. do conhecimento produzido pelo homem. Jé a verdade buscada pela feno- menologia no evita a inconstancia, nema considera erro. Pelo contrario, assume-a.como marca humana; 0 conhecimento verdadeito € fruto do existir humano, que € inconstante, incerto, inseguro. Conirariamente, portanto, & metafisicd que busca a chance de pensar ha Seguranga da representaplo, a fenomenologia & a postura do conhe- cer que medra na angistia, na inseguranca do ser. Assim, enguanto.a melafisica se articula no Ambito da conceituagao, a fenomenologia se articula no ambito da existéncia, (Critelli, 1996, p. 23) * Levando as tltimas consequéncias esta proposta metodolégica, _ 8 Tesposta & pergunta “o que pode um psicdlogo,fenomenolégico-exis- tencial?” € provisoria, incerta, relativa e descritiva de um modo de ser € de habitar a realidade que considera tanto as tramas de sentido comparti- <\ Ihadas quanto a possibilidade de ruptura das mesmas. “Viver como ho- ‘mens é jamais alcangar qualquer fixidez” (Critelli, 1996, p. 16). Retomando o perguntar pelas possibilidades de ser psicélogo fenomenolégico existencial quanto ao modo como surgiu, percebo que brota de uma inquietagdo, que, por sua vez, gera inseguranca. Eu tinha {Go certo para mim o que é ser psicdlogo nesta abordagem e, de repente, 0 chio desaparece de sob meus pés e jd ndo conhego mais o que conhecia nem me reconhe¢o mais como me reconhecia, E desse estranhamento que nasce a possibilidade de pesquisar, segundo Critelli (1996). Por que ¢ como ¢ isso exige uma compreensio do modo de ser do pergunta- Gorfpesquisador, de modo que aparece aqui um tema a ser inve parece aqui um t¢ a ser investigado Psicologia Fenomenolégica Existencil 37 'S6 & possivel pesquisar quando algo se apresenta como desco- nhecido ao pesquisador; algo que se insinua a ele de modo @ suscitar-Ihe curiosidade. Na Grécia antiga, o pathos da ciéncia era o thaumazein, 0 espanto, um estranhamento. O impulso interrogador brota de uma crise"®, advém da ruptura da trama de significados que sustenta 0 cotidiano. Todo conhecimento esté fundado nas ontolégicas liberdade humana e inospita- lidade do mundo (Critelli, 1996). | ‘A analitica do sentido defende, portanto, a insuficiéncia de | qualquer conjunto de procedimentos na tentativa de compreensio da exis- téncia humana. O. conhecimento-é.uma_possibilidade humana: Enquanto } tal, est findado na existéncia’e-carrega as mareas.de sew criador. Existir x é uma busca constante por fixidez deparando-se com a inospitalidade do : | mundo. Como possibilidade humana, 0 conhecimento s6 pode ser provi- S6rio, mutivel, relativo e perspectivo, cerzido na lida cotidiana com os | outros. i ‘Sere pensar se entrelacamr no movimento fenomenico da Teali« | dade, esquematizado didaticamente por Critelli (1996) emveinco momen= ~| tos» 1) desvelamento — a desocultagao de um significado por alguém; 2) \{_ revelagdo ~ 0 acolhimento na linguagem do desocultado e sua expresso; |) 3) testemunho — o ver e ouvir dos outros daquilo que foi revelado por alguém; 4) veracizagao — 0 referendar como relevante 4 comunidade | aquilo que foi testemunhado; 8) autenticago~ a vivéneia singular do que | foi veracizado. i A uz desta compreensiio da fenomenalizagao da realidade, 0 método cientifico-natural, de pesquisa é reinterpretado como um modo autenticado de ser-persquisador, mas relativizado. E um modo de buscar. guarida no mundo assegurando-se. de. sua.estabilidade que-a cada, vez. fracassa. Por isso, 0 método como sequéncia ow conjunto de procedimen- tos é abandonado em nome da comunicagaio de uma experiéneia compar- tilhével. Método € reconduzido ao seu sentido original, preservado na etimologia:| metashodos..Hodos)é caminho, enquanto meta é um prefixo indicativo de estar em busca de... e em meio a... significando também junto com e em comum."Meta-hodos*é percorrer um caminho, estar a caminho, trilhar. Sera a analitica do sentido o modo de pesquisar do psicélogo fenomenol6gico existencial? A fenomenalizagao do real tem sido aludida por pesquisadores em Psicologia que assumem a obra de Heidegger © "© Em consondineia com este contexto teérico, Cautella J. (2012) define ‘crise’ como a “esgargadura da malha existencial e a perda de rumo” (p. 20). O sentido de “erise” se- i pensade no iitimo capitulo. 38 Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista ‘Arendt como fundamentagao tedrica. Ao descrever uma experiéncia de pratica psicolégica, 0 psicblogo esté revelando-a para o testemunho, ve- Tacizagdo e autenticagao da comunidade cientifica. E assim que Morato ¢ Cabral (2003) defendem o pesquisar e que tem sido o modo de refletir sobre e publicizar a pritica psicolégica no LEFE. Todo o trabalho de pesquisa, desde 0 polimento da questio, definigo de objetivos, passando pela pesquisa bibliogrifica, elaboragio da me- todologia, trabalho de campo, andlise, até a escrita final do que vai sendo desvelado, € uma experiéncia propriamente dita. Dito de outro ‘modo, essa é uma maneira fenomenolégica possfvel de compreender ¢ realizar pesquisa. (Morato & Cabral, 2005, p. 158) ‘A pesquisa é uma possibilidade de ser psicdlogo fenomenolégi- co existencial? Sim, mas certamente no é a tinica. Na minha formagio, antes da pesquisa é a pratica psicoterapéutica que se apresenta como campo da psicologie fenomenolégica existencial. Na psicoterapia, a regio Sntica é a compreensio do sentido da experiéncia narrada pelo outro inter- pretado & luz de Dasein a fim de propiciar-he a apropriagao de seu modo de ser-no-mundo. Nesse contexto, as pesquisas so apenas estudos de caso. Mas ‘pesquisa’ se refere a fenomenalizacao do real, isto é, abrange muito mais do que 0 que acontece entre as quatro paredes do consultério, no, inn 6 Sito met-hodos tem uma proveniéncia¢ um des ino, isto é, seu de onde e seu para onde. Nenhum caminho parte de | ‘nenhum. Es reflexdo sobre o que pode um psicdlogo fenomenol6gico existencial ¢ parte de um trilhar de minha existéncia hist6rica. Desse mo- do, minha perspective € de “dentro” desse trajeto. Nao seria necessério _Situar-me fore pare olhé-lo? Confrontamento com a tradiggo © ‘ : Como descobrir 0 ‘do preciso de um ‘au pode um psicélogo fenomenolégico exis- 40 Pata isso? Mas, se 0 tenho, ndo estou si mesmo? EntZo, o primeiro passo € Psicologia Fenomenolégica Existencial 39 logia da PUC e se estende até a atualidade. © descerrar-se da psicologia fenomenoldgica existencial para mim acontece nos lugares e situagBes em que estudo, sou formado, trabalho, existo. Na minha histéria como estu- dante de psicologia, psicélogo e docente de psicologia entro em contato, compartilho e acabo repetindo e assumindo como meus definigdes, con- ceitos, determinagdes, preconceitos; em suma, tradigées. A tradigio Metafisica é uma das primeiras reflexdes de Heidegger em Ser ¢ tempo quando justifica a recolocagdo da questio do ser. Por Metafisica Heidegger se refere a0 pensamento filosofico ocidental desde Plato, quando se determinou definitivamente a verdade do conhecimento ‘como representagdo imutavel, absoluta e tinica da esséncia (universal) das coisas, desembocando na ciéncia modema, na técnica moderna € na tecnologia. Para Heidegger, a pergunta “que ser?" deixa de ser colocada desde Plato. Cada fildsofo que 0 segue assume como dada a resposta platénica e, desenvolvendo-a ou argumentando contra, permanece ligado a ela. No comeco do século XX, colocar a questo do ser é perguntar & luz do que jé foi respondido sobre isso. Ha uma historia de problemas, perguntas e respostas que compdem uma tradigtio. A tradiga0, a0 mesmo tempo que lega questées, delimita respostas possiveis ou mesmo aprisio~ nna nas ja dadas. Cada existéncia histérica esta imersa em tradig6es que @ antecedem e que passam a ser seu senso comum, delineando possibilida- des de ser. Em cada modo de ser que lhe € proprio e, portanto, também no entendimento-do-ser que Ihe & proprio, o Dasein ingressa numa interpre- tagdo-do-Dasein que lhe sobrevém e na qual ele cresce. A partir desta, ele se entende de imediato e, em certo ambito, constantemente. Esse enten- dimento abre e regula as possibilidades de seu ser. Seu priprio passado ~ ‘0 que significa o passado de sua ‘geragdo" ~ no segue atrés do Dasein ‘mas, 20 contrario, sempre o precede (Heidegger, 1927/2012, p. 81, $ 6). Isso pode ser dito de minha histéria na Psicologia. Herdando 0 que se entende por psiedlogo fenomenologico existencial nos contextos de minha formagio, assumo as possibilidades de ser delimitadas por essa tradigdo, norteado por ela. Mais especificamente, herdo o que pode um psicélogo fenomenolégico existencial do que se entende por isso na PUC-SP, trago isso para a UNIP, onde encontro outra tradi¢ao, que me ‘convoca a conhecer e confrontar ainda outra, 2 da USP. E quantas outras haverd! Habitar tradigdes € constitutivo do existir. ( enredamento na tradico revela a inseparabilidade do existir de seu mundo histérico: ser-no-mundo. Mas ha também um perigo do 40 Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista habitar tradigdes, que é a cegueira parcial que elas impdem. Segundo Heidegger: (© Dasein nto tem somente a propensio para cair em seu mundo, no dual ele 6, e para se interpretara partir do que é por este refletido, mas para a uum s6 tempo decair dentro de sua tradigzo, mais ou menos ex- pressamente apreendida. Esta Ihe subtrai a prépria conduta, 0 pergun- tare o escolher. (Heidegger, 1927/2012, p. 85, § 6) Sendo incontornavel, néo é possivel uma suspensiio para além ou para fora da tradigZio. Mas é possivel torné-la tema de pesquisa, refle- tindo cuidadosamente a cada passo. Heidegger nomeia este movimento de “destruigao” (Destruktion), que significa “dar fluidez & tradigtio empe~ demida e remover 0s encobrimentos que dela resultaram” (Heidegger, 1927/2012, p. 87, § 6). Assim, tomo como tema de reflexito a tradigio que me foi lega- da, a fim de langar luz sobre as possibilidades abertas para 0 psicélogo fenomenolégico existencial. Essa destruigdo (que, portanto, niio algo negativo) tem por objetivo mostrar os entendimentos, os pressupostos, as tendéncias, os objetivos ¢ as significagdes que se retinem na determinagiio do ser-psicdlogo fenomenolégico existencial que aprendi ¢ assumi ao Jongo de minha formagio e que passo adiante aos colegas e alunos. © modo de conduzir esta reflexdo & pela repetigo (Wiederholung) € pelo confrontamento (Auseinanderselsung) com a tradigao. Etimologi- camente, re-petigio 6 re-petere, significando pedir de novo. Heidegger usa-o no contexto de recolocar a questo do ser na historia da filosofia, significando perguntar de novo (Inwood, 2002). Assim, assumo como nova pergunta, pergunto novamente sobre as possibilidades de um ser- psicdlogo fundamentado na ontologia heideggeriana: “o que pode um paicélogo fenomenologico-xistencial?”. Para colocar novamente a per- fants € necessrio eonfrontarse com a tradigHo, assumindo-a como ou- Heidegger ¢ uc enamento Auseinandersetzung) 6 0 term usado por fora de our ates “dtcusso,porém no sentido de coloear-se um Prin ctr eg Ge 2 12). : Sree fetomada da historia da fenomenologia igo que me foi legada ¢ a que dou Psicologia Fenomenologica Existencil 4l O que ¢ perguntar? Segundo Heidegger, Todo perguntar & um buscar. Toda busca tem sua diregio prévia a par- tir do buscado. Perguntar é buscar conheser o ente em seu serjue em seu ser-assim. O busear que conhece pode se tomar ‘investigat” como determinagdo que pie-em-liberdade aquilo por que se faz ape gunta (Heidegger, 1927/2012, p. 41, §2) Isso significa que ¢ impossivel que uma pesquisa brote do na ‘Toda pergunta depende de algum envolvimento prévio com aquilo qui quer esclarecer. Isto é, pesquisador e pesquisado jf estio enredados © algum conhecimento, mesmo que ticito, aquele ji detém sobre este, O {que caracteriza a pergunta é 0 assumir-se como tal, isto é, a determinagiio de tematizar um ente para que este se revele. Torna-se investigagiio quan- do, na diregao de explicitar 0 ente investigadlo tal como ele é, @ modo de acesso (0 perguntar) é colocado em questo a cada momento, a fim de garantir que aquilo que se pergunta possa se mostrar tal como livre de atravessamentos. Isso & necessario, pois a pergunta ja esti articulada pe~ las interpretagdes tradicionais sobre o que se quer compreender. Heidegger destrincha a pergunta em 1) aquilo de que se pergun- ta, 2) aquilo a que se pergunta e 3) aquilo que se pergunta, Por exemplo, posso perguntar o prego do pio ao padeiro. Pergunto o prego (3) do pio (1) ao padeiro (2). A diregio prévia da pergunta me indica a padaria co- ‘mo o lugar onde encontrarei pies ¢ padeiros. Toda pergunta, portanto, j traz consigo interpretagdes prévias que a contextualizam, ssa interpr ‘des silo aquelas veiculadas pela tradigzo, que, do ponto de vista daqu Je’ que a habita, apres i$ coisas tal como sempre foram. Isto & & cessirio estranhar, desentranhando-se da tradigdo, para perguntar por este motivo que Husserl chama a atitude do fildsofo de atitude ants tural; cla rompe com a naturalidade do existir cotidiano. ‘A pergunta “o que pode um psicélogo fenomenologico-exis: tencial?” esté fundada na psicologia fenomenoldgica existeneial, que her- dei daqueles que me formaram, visando pér em liberdade 0 que tal psico- logia é, Na consideragio sobre 0 perguntar, Heidegger aponta ainda um quarto elemento: o perguntador. Delimitando o caminho de colocagio da questo do ser, revela-se a necessidade de explicitagiio dos modos de dirigir-se aquilo que se pergunta, de entender ¢ conceituar, de escolher corretamente a que se pergunta ¢ elaborar um modo genuino de acesso. E conelui: \ 2 ‘Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista scolher, aceder @ so comporta- ac para, entender ¢ concetuar, escolher, aceder & rae am deterninago ent, 0 ente que nS 08 PRICING So- est ae mesos (Heidepgst, 1927/2012, pp. 49-47, § 2) Com alguma licenga poética, o mesmo pode ser afirmado desta savestigagao, pois eu, investigador,considero-me um psicologo fenome- noldgico existencial, “realizando-me” assim @ cada atendimento psicolé- fico, a cada aula, a cada supervisio, a cada leitura, a cada discussio. Re~ tontheco-me bascado em uma tradigdo na qual estou imerso © QUE ‘vem se coeeyo esiranha a medida que encontro outros modos de ser psicélogo. Ocenranhamento na tradigao, do qual retio a diresdo prévia, nfo é consi derado por Heidegger um erro, pois é constitutive do modo de ser do ente fque pergunta: a existencia, Assim, é essa tradigdo que precisa se tomar explicita, possibilitando 0: confrontamento. Fenomenologia como método No caso desta investigagio, meu objetivo é tomar claro o ser- -psicdlogo fenomenolégico existencial. A investigagdo desse ‘objeto’ — ser-psicélogo como possibilidade existencial — obrign a investigaydo a seguir um método diferente daquele empregado pelas ciéncias naturais, que visam as coisas. Estas operam por abstrago, produzindo “uma isto entre o fenimeno e a vida, entre o campo de investigacao de seus objetos © 0 nexo vital histérico, material e psiquico no qual esses objetos eles mesmos desde o inicio se encontram” (Casanova, 2011, p. 11). A essa compreensio de ‘objeto’ separado do ‘sujeito’ corresponde 0 método como conjunto de procedimentos para garantir ao conhecimento a imuta- bilidade de um conceito geral i c sumac, on posite un esheeigeno edo’ radon s conhecimento valido e fidedi : fidedigno & sami pel cons de cones logicamente parametraos ede ama vat de inini nte os hamense seu mundo” (p 14). Nio€ : ocedo nesta investizago, pois ser psicdlogo & joe ep pg ¢ x, on, ee scr~ satis is posibildads exstenciais deve ser fe- Tp ase sac Regs apa oem de ser (a onto : eidegger, 1927/2012), velar a waigne he andres acme, o método de pesqui ave ree equ compari odo 8 Pesquisa visa des- te modo de compreender nomenolégico-hermené Psicologia Fenomenologica Existencial 4B a psicologia fenomenologica existencial é meu e é também compartilha- 40, pois quando leciono, supervisiono ou sou psicoterapeuta, atualizo-a & passo-a a outros. Sou, portanto, coautor de uma tradi¢o, Mas... qual ra- Uipz0? E essa a primeira pergunta para a qual preciso obter uma resposta a fim de esclarecer 0 que entendo como possibilidades do ser-psicdlogo fenomenolégico existencial. O modo de proceder exige a retomada dos textos e autores que me foram apresentados como psicélogos fenomeno- Jégico-existenciais. Essa histéria é minha histéria na Psicologia, comega na Faculdade, segue pelas supervises, pela pratica docente etc. Conhecer esta tradigdo de pritica psicoldgica é conhecer minha histéria na Psicolo- gia. Isso torna esta pesquisa autobiogréfica? Pode uma tese de doutorado ser uma autobiografia? Esta obra € ‘uma autobiografia? Seria se 0 que estivesse em jogo fossem apenas mi- nhas ideias e reflexdes ¢ se minha pratica autointitulada “psicologia fe- homenolégica existencial” fosse assumida como modelo a ser seguido ¢ explicitado. Nao é 0 caso. Retomar a histéria de minha formagao esté tnuis préximo de re-petir (re-petere), clamar novamente para um confron- famento, tornando 0 que me € tio dbvio algo estranho, digno de reflexio. Neste sentido, esta pesquisa esta mais para uma “heterotanatografia”, termo usado por Pessanha (2002) para se referir & histéria pessoal como tela de relagdes que se faz e refaz (grafia) com outros (hetero) em dirego 4 morte (tanatos). Investigar 0 que pode um psicdlogo fenomenolégico existencial é confrontar 0 que 0s outros com quem me encontrei na traje~ toria de tornar-me psicélogo e que encontro e contribuo para formar compreendem como “psicologia fenomenolégico existencial” € do sentido dessa pratica como possibilidade existencial. Ao mesmo tempo que desvelo ‘0 sentido de meu ser psicologo fenomenologico existencial encontro as sedimentagdes da tradig&io que compartillho e que me transcende. ‘Na obra Ser e tempo, a proposta destrutiva da historia da tradi- ‘glo ontolégica metafisica vem seguida da descrigio do método fenome- nolégico. Nao seria importante considerar a compreenstio de método desse fildsofo, que ¢ inspirador da psicologia fenomenologica existen- cial? Nas pesquisas realizadas até 0 momento para a composigao desta tese, surpreende-me que muitas que se apresentem como inspiradas nesta filosofia nem mencionem esta passagem de Heidegger. Por qué? Até ao contrario, essas pesquisas langam mio de métodos pertencentes a outros contextos tedricos. Seri que a compreensio do método fenomenologico de Heidegger nfo tem nada a oferecer & Psicologia? Tendo essas pergun- tas em vista e a fim de refletir sobre o método desta pesquisa, retomo 0 método fenomenoldgico de Heidegger descrito no § 7 de Ser e tempo. Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelist Método fenomenolégico de investigagao indicando que 0 modo de acesso a0 que se Heidegss sa langar mao, Pelo contraio, € 9 i rio € algo de que se po: aa ga esis que press nda como pode set aosssado. isso que caracteriza 0 adjetivo fenomenolégico: que as coisas efa8 mes” mas determinam seu modo-detratamento. A expressio. “is Oi mesmas” 0 lema da fenomenologia declamado por Husserl, Por ser Central a esta filosofia precisa ser compreendido mais claramente. Na ‘minha formacdo esse lema é sinnimo de buscar a experiéncia vi de qualquer teorizagdo psico contexto de Ser e tempo nao possibilitar que o ‘objeto’ tematico stig amo de acessado, O fildsofo é enfitico quanto ao adjetivo “fenomenol6gico”: Isso no prescreve ao presente tratado nem um ‘ponto-de-vista’, nem a subordinago 2 uma ‘core fenomenologia nfo nenhuma essas coisas ¢ jamais poderd fer 0 entendimento de si mesma, (Heidegger, 1927/2012, Apesar do aviso de que “fenomenolégico” nio é nem pode ser uma perspectiva ou corrente, é assim que aparece para mim na Psicolo- ‘gia, Minha primeira aula na faculdade foi Psicologia Fenomenol6gica. Na UNIP coordeno uma disciplina com o mesmo nome. Nesta situagao, ‘fe~ nomenolgico’ é usado como adjetivo de Psicologia, 0 que deixa claro que a Psicologia pode nio ser ‘fenomenologica’. De fato, concomitante- etc. Nao sera, assim, a Psicologia Fenomenol ‘ca uma contradigao? Ainda é cedo para responder, mas me parece que 0 uso do termo ‘fenomenolgico’ como adjetivo é uma deturpagdo do sen- tido desse termo na obra de Heidegger. No contexto do filésofo, expri ” caracterizador do como da conduglo da pesqui Se do manejo técnico, de construgdes soltas no ar, de conceitos no demonstrados nem demonstriveis (Heidegger, 1927/ 7012). Encontro af alguma concordéncia com a proposta de evitar psico- bes sobre a experiéncia vivida, Mas seria entio apenas isso? ED) Psicologia Fenomenolégica Existencial 45 ———Trsicologia Fenomenolégica Existencil 4S. conhecimentos cientificos que deturpem cias? (Van Den Berg, 1955/1994). Ser psi paradoxo? ___ A descrigdo de Heidegger do método no para por ai. Antes de paralisar diante destas conclusbes precipitadas é melhor seguir adiante. O termo fenomenologia é composto por dois elementos — fend- meno e Jogos ~ cuja etimologia Heidegger resgata a fim de apontar sua origem. O sentido atual destes termos esta entulhado por séculos de inter- pretagdes. Logos, por exemplo, mente de logica, ra proporgio, juizo, ciéncia. Psico-logia é a ciéneia de um recorte da re dade, o ‘psico’. Fendmeno para o senso comum é qualquer coisa que aparece. dio com algo grandioso, que chama a ateng40. O Diciondirio Hoauiss (2012) apresenta sete definigdes: 1) tudo 0 que se observa na natureza; 2) evento de interesse cientifico (por exemplo, fendmenos as- ot metéfora vém os significados 5) acontecimento raro e maravi- 3) objeto extraordinério; 7) um i 10 extraordinario. As tercei- ra e quarta definicdes so oriundas da filosofia de Kant, que é uma das confrontadas pot Heidegger: fendmeno significa aqui 3) a apreensdo ilu- séria de um objeto, pois a consciéneia é incapaz de atingi-lo e 4) apreen- so do objeto segundo as formas a priori (tempo e espago) da intuigao. Nessa filosofia, a realidade é inacessivel como 6, s6 podendo ser apreen- i dade que a representa, Na fenomenologia de Heidegger, fendmeno é tomado e imolégico. Deriva do grego phainesthai, que significa m se. Phainomenon & 0 que se mostra, termo usado pelos gregos no da filosofia para se referir a tudo ao seu redor, & ‘realidade’, também chamado de ‘o ente’. A raiz etimolégica ¢ phainé, de pha, como pho, luz. Indica o “trazer & luz do dia”, para o claro, para que se manifeste, para que vigore entre o manifesto (a ‘realidade’). Os entes podem se mostrar de diversos modos, inclusive como 0 que eles ndo sfio, mas parecem ser. Para evitar confusdes, Heidegger reserva o termo fenémeno para 0 mos- trar-se do ente tal como ele €. O parecer ser algo que nto é eo aparecer de algo que nao pode se mostrar a si mesmo, mas qu iterpretagao de suas vivén- logo fenomenolégico nao é um indicado!', sao fundados no mostrar-se de fendmenos. Fenémeno ¢ “o-que-se-mostra- em-si-mesmo” (Heidegger, 1927/2012). ‘Também o sentido de Jogos é resgatado por Heidegger do grego antigo, significando “tomar manifesto aquilo de que ‘se discorre’ no dis- 1 Por exemplo, os sintomas da gripe a manifestam, mas ela s6 pode se mostrar por meio dos sintomas. (Hel 1927/2012, p. 113, § 7) que Aristételes explicitou co- papi do diseurso. Apophanesthai significa fazer ver aquilo de que se discursa Aquele que discursa e aos seus interlocutores, tomando-o acessivel. Composto por apo, fazer ver, € phainesthai, mos- trar-se, 0 discurso apofintico toma acessivel aos demais aquilo que apa- rece para mim. E possivel fazer isso por um gesto. Quando aponto numa diregdo, meu interlocutor vira-se para lé. O privilégio da fala est no deta- Ihamento do compartilhado. Logos neste sentido é de-monstragaio, mos- tragdo de algo a alguém, desde 0 desvelamento ao testemunho. Fiel a esta compreensio, o daseinsanalista Medard Boss consi- dera a enorme importéncia da fala livre-associativa na relagao terapéuti- ca, pois, 20 falar, o paciente est mostrando algo desocultado para si ao seu interlocutor, psicoterapeuta, tornando-o testemunha (Boss, 1963). Sera, ent&o, este carater de testemunho do desvelado uma possibilidade do ser-psicélogo fenomenolégico existencial? Fenomeno-logia significa literalmente Jegein ta phainomena, “fazer ver a partir dele mesmo 0 que se mostra tal como ele por si mesmo se mostra” (Heidegger, 1927/2012, p. 119, § 7). Por isso fenomenologia refere-se a um como (modo) e ndo a um o qué (contetido-de-objeto). nomenologia € um modo de proceder (método) no sentido de tomar dis- cursivamente manifesto aos demais aquilo que se toma como tema da investigagao, cuidando para receber do tema a indicacio do modo de acessé-lo, Nas palavras de Heidegger: “uma apreensio de seus objetos de a holed 7 - esta em discussao a seu respeito deve ser do como fenémeno~ aquilo que é di Sefer ue é digno e merecedor de ser pensado — é 0 sez connie no i iio ia historia do Ocidente com o ente. Dai que do ser, expander eH# € ontologia; é a recolocago da questo determinagac 10 um campo te1 isto é, cise untae ah Teta piolga Ionomenoloee Mas essa pergunta no Enno, diferente das outras psicologias? : submete a f : Perspectivas discordantes entre si? Eien eia 40 conjunto das varias mo fe ‘ nomenclogia? Sto muitas as pergunine i © sentido do ter- em. Psicologia Fenomenoldgica Existencial 7 significar langar mio de um conjunto de procedimentos para coleta ¢ anilise de dados e, sim, cuidar para desvelar o tema da pesquisa tal como se mostra, Isso quer dizer que métodos niio fenomenoldgicos de pesquisa mostram seus ‘objetos’ tal como eles nao sfio? Como ¢ que outros méto- dos de pesquisa procedem? Aparentemente, eles no retiram do pesquisa- do 0 modo de acesso correspondente. Este provém da interpretagiio prévia sobre 0 que € o pesquisado. Como esta pesquisa precisa acontecer para responder a pergunta o que pode um psicélogo fenomenolégico-existencial?”. Fenomenologi camente, precisa cuidar para acessar o perguntado garantindo-Ihe a liber dade de mostrar-se tal como &, € no de acordo com o que a tradigaio ja ‘enuncia. Assim, reencontro novamente a necessidade de explieitar e con- frontar o que ¢ ser-psicdlogo fenomenoldgico existencial para mim. A tradigio, ao sedimentar-se, pode encobrir os fendmenos. Ocorre o mesmo com predeterminagdes sobre os fendmenos, como ¢ no caso das teorias. Toda teoria ou abordagem psicolégica jé parte de uma compreensiio prévia sobre o que € seu objeto — 0 ‘psicoldgico’, Nesse prejuizo, corre o risco de encontrar somente 0 que jé colocou diante de si de antemao, encobrindo o fendmeno, Heidegger defende a necessidade da fenomenologia contra a tradigGo ontolégica sedimentada, que toma aparentemente irrelevante a questo do ser. Mas sua defesa vale para os fendmenos do dmbito da ciéncia Psicologia e para o risco de encobrimento por teorias € tradigdes. Dizele: [...] um fenémeno pode ter sido de novo encoberto, isto é, esteve antes descoberto, mas voltou a cair sob o encobrimento. Esse encobrimento pode se tomar total, ocorrendo, no entanto, em regra que o antes des- coberto ¢ ainda visfvel, mas s6 como aparéncia, Porém, quanto de apa- réncia, tanto de ‘ser’. Esse encobrimento como ‘disfarce’ é o mais fre- quente e 0 mais perigoso, pois aqui as possibilidades de engano e ex- travio so particularmente tenazes. Mas as estruturas-de-ser disponi- veis, embora ocultas no que se refere ao solo sobre o qual se assentam. aos seus conceitos, podem talvez postular seus direitos no interior de uum ‘sistema’, Mercé de sua insergao construtiva no interior de um sis- tema, elas se dio como algo ‘claro’, nfo necessitando de maior justifi- ‘cagdo e podendo, portanto, servir de ponto de partida para uma dedu- ‘80 progressiva. (Heidegger, 1927/2012, p. 123, § 7) Sera que o que aprendi e assumi como ser-psicdlogo fenomeno- logico existencial tomou-se to “claro” que dispensa novas reflexdes? indo Rodrigues Alves Evangelista 8 Paul 1 encobertos modos de ser-psicdlogo, © mesmo pode ser dito de todo psicélogo que herda da historia aborda. tens e pritieas psicoldgicas sem 0 cuidado de considerar se correspon sem situagao atual ou se a encobrem, Também vale para aqueles que se propdem a implementar estratégis interventivas elaboradas algures, A Drakcairefletida contribui para 0s enganos ¢ extravios mais fenazes, Até pesdificuldades na pritica docente ¢ o estranhamento diante das perguntas dos meus alunos, ser-psicélogo fenomenologico existencial me era claro ‘como a luz do sol. O espanto revela que minha clareza era apenas aparéncia, ‘A necessidade de confrontamento com minha histéria de forma- 40 em psicologia fenomenolégica existencial esté se revelando ineluté- Yel. Passo a re-peti-la, considerando meus primeiros contatos com a ps cologia fenomenolégica existencial. Procuro neles os aspectos da ontolo- gia heideggeriana, se é que estiio presentes, ¢ qual é a compreensio a respeito de “o que pode um psicdlogo fenomenolégico-existencial” que assumi ao longo da formagio. Neste préximo capitulo, revisito 0 que Nesse caso, corro o risco de manter aprendi na PUC-SP na graduacZ0. E quando minha jorada inicia. Na sequéncia, retomo a analitica existencidria'? de Ser ¢ tempo. A seguir, retomo outra histéria da psicologia fenomenolégica existencial que en- contrei quando comecei a lecionar na UNIP. Trata-se da fenomenologia existencial articulada com uma psicologia originalmente humanista. II “Meu Caminho para a Fenomenologia” |A busca de respostas para a questo “O que pode um psicdlogo fenomenologico-existencial?” exige que eu re-pita a psicologia fenome- nolégica existencial na minha histéria. De um modo vago ¢ indetermina- do, ja disponho de uma compreensio do que ela pode ser e esse saber prévio, que foi se configurando ao longo de minha formago em psicolo- Bia, orienta minha investigagao. Como descoberto na introdugio, esta pesquisa nfo surge do nada, pois brota de questionamentos ¢ reflexdes riundas de minha pritica clinica e docente e do encontro com estudantes de psicologia. Emerge, também, dos meus encontros com psicélogos & filésofos estudiosos de fenomenologia existencial ¢ da ontologia heide- ggeriana, A partir desses encontros foi se marcando uma compreensio de Psicologia fundamentada na ontologia heideggeriana que tem orientado minha pritica desde os estgios na graduagio. E essa compreensio pré- via, vaga e indeterminada que a pergunta “O que pode um psicdlogo fe- nomenolégico-existencial?” visa desvelar neste momento. ‘Apresentado desta forma, parece que bastaria uma investigagao introspeetiva para que a resposta aparecesse. Mas nao é assim. E no con- frontamento com a ontologia heideggeriana ¢ com as psicologias nela fandamentadas (ou que assim se apresentam) que essa compreensio pré- via se revela. Meu primeiro contato com a Psicologia Fenomenolégica Como j mencionado, a disciplina de fenomenologia é a primei- ra aula que tenho no curso de graduagio em Psicologia, E uma terga-feira

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