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9-1. Natrativa de uma leitura de O Cavaleiro da Dinamarca, de Sophia de Mello Breyner Andresen” Ana Margarida Ramos (orcid.org/0000-0001-5126-4389) (Universidade de Aveiro) José Anténio Gomes (orcid.org/0000-0001-9593-302X) (ESE. Porto) Sara Reis da Silva (orcid.org/0000-0003-0041-728X) (Universidade do Minho) se, com este estudo, refletir sobre os varios sig pela “viagem” — entendida em sentido literal € conto O Cavaleiro da Dinamarca (1964), de Sophia et Andresen, uma das autoras mais embleméticas do tio portugués. Este conto, a0 narrar a viagem de um la Dinamarca até a ‘Terra Santa € 0 seu regresso 2 cas nto, configura também uma oportunidade para facetas da dimensio humana: a seligios 2 fam 5, 1998, [51.* edigio; 1+ ed. 19641. go E PEREGRINACIONS NA LIX cultural ea pessoal. A peregrinacio religios, 4, ee santos do Cristianismo, junta-se uma lugares sagrados da cultura ocid, CPi culeural pe um caminho de autodescoberta, - Rung que é descoberta, peregtinasio, religosidade, igen PpGrhis text is to reflect on the various mean: of travel - understood in a literal and symbol the short story O Cavaleiro da Dinamareg (1964 sreyner Andresen, one of the most importa jese literary panorama. This short story ht, from Denmark to the Holy Land and hig Renaissance period and also promotes an t on various facets of the human dimension; the social, the cultural and personal. To the ge to the holy places of Christianity, is rural peregrination to the sacred places of urney that is also a path of self-discovery. en ¢ justamente considerada um portuguesa contemporanea, oO” teatro ¢ ensaio, tendo como dest i A COMENTARIOS CARA A FORMACK ~ s ntiva, a par de um estilo i 4 se i ablico i: de es yolumes destinados ao piblico infantojuvenil, cy; ma Se iniciou em 1956 com O Rapaz de Bronze (s ae : Sear c¥A\Fuida Oriana em 19584 Ne ge eens is A Noite de Natal - Abet 0 Cavaleiro da Dinamarca (1964); A Floresta (1968); 0 Te . (38 78) ¢ A Arvore (1985), influenciaram de forma visivel 4 i wo lteréria posterior € marcaram varias gerages de litores ci Jo-se referéncia obrigatéria nos programas escolares de dife- 4), ae a tasia € intervenco social, maravilhoso e recria- ites his i an especialmente apurados, os contos de Sophia de Mello Brey- ons n fazem dela uma das autoras de referéncia do panora- the rio portugués para a infancia (Gomes, 2007). Tém especial , is sua obra os valores humanistas, com énfase nas questées of 2, da liberdade e da igualdade, decorrentes de uma filosofia ima do pensamento franciscano, que também ecoa em o de O Cavaleiro da Dinamarca (1964), é evidente a moti- giosa da personagem principal na sua decisto de se deslo- Santa para af celebrar o Natal, mas este esté longe de ser Ea tema do conto, j4 que o conceito de peregrinagao que nele é “ é mais amplo ¢, em tltima instancia, pode estender-se hs homens, numa alusio metaforica 4 propria vida. : ae © conta, assim, a viagem de ida e volta do protagonista, da An @ A Terra Santa, incluindo ainda outras histérias parcilha- perpen gun : m 0 fio Beaten airelslonge de Hee narrativos que al, funcionam como pequenos q! e ou principios caros & autora, ancorando @ ae ‘num tempo e num espaso Re colaborando na compreensio do seu 209 ie iealies COMENTARIOS CARA A FORMACION 1 ECTORA circular da personagem, com partida ¢ Pi re ; a mas também a motivagio religiosa que es Bresso na Di. rma a tém dlaras conotacdes simbélicas, uma yer oa a base da atca, aril ere Gheerbrant (1994: 691), “a vane re acordo da, Fa chevalier Be tcc lagem exprime um de. oi do de mudanga interior, uma necessidade de experiénci, aa $69 Pr ais ainda do que de deslocacio local”. No contexte dy va ‘05 vas , entendida enquanto uma viagem que é ‘inact e850 cpiual é relevante lembrar que 0 peregrino constitui um Eu. ‘sinbolo religioso que corresponde & situagio do homem sobre a ntes erm, que cumpre o seu tempo de provacées, para alcancar, no mo- ae ‘pento da morte, 2 Terra Prometida ou Paraiso perdido” (Chevalier nos, ‘eGheerbrant, 1994: 520). Genericamente, a peregrinacao tem a ver “res- “coma procura da Idade Ideal, numa viagem realizada em condigées € as -dealguma pobreza ou, pelo menos, de alguma contengio, jé que est " ligada ao sacrificio, ao desprendimento e & necessidade de purifica- > do do espirito, o que parece estar de acordo com as motivagées da iva, gem: “ —Vou partir— respondeu ele. Vou em peregrinagio cile Santa e quero passar o préximo Natal na gruta onde Cristo leto onde rezaram os pastores, os Reis Magos ¢ os Anjos. Tam- g40 quero rezar ali” (Andresen, 1998: 11). em ia na Terra Santa inclui alguns dos locais mais emblem4- ali Cristianismo, no que parece ser um percurso paralelo no pia, de Cristo, mas 4 propria religido cristé, incluindo 0 Monte ae 0 Jardim das Oliveiras, 0 rio Jordao, o lago Tiberiade, além ee de Jerusalém e dos montes da Judeia. Na Palestina, 0 Cava- ee Visita outros lugares cheios de simbolismo como os aaa oe le andaram Abrao e David, a Arca da Alianga, 0 cors)° Sabé, os exércitos da Babildnia, as legides romanas © inagdo re- : do as multidées. © momento alto mess cab 2 NACIUNS Na LI No E PEREGR x Cam em solidéo € recolhimento interior, cont ‘os natais vividos em ee eem ani, donina! it : erosa ¢ fraterna da aby F pelo ee Hespb Carlet inida Uma vez de regresso a casa, que ocupa todo © resto da pe do texto, salta a vista a diferenca entre a dug, eS , de ida e de retorno a casa, da personagem Prin ae lizado de forma r4pida e sem sobressaltos, hatrada 4, pica ¢ linear, com recurso ao sumdrio” e 4 clipse, eg do, dificil e trabalhoso, cheio de obstdculos e paragens, CUija natracig ‘inclu niveis narrativos encaixados, além de pausas descritivas Jor ‘A diferenca dbyia no tratamento diegético dos dois percursos rende. em nosso entender, com a mensagem do texto € com 0s valony . cle advoga. Se a ida do Cavaleiro até A Terra Santa constituig nperativo cristo, tendo, por isso, o favor divino e dos r6prios os naturais, a viagem de regresso a casa impée-se como uma o de marido e de pai, honrando a promessa feita. Dest de casa do Cavaleiro ¢ a perturbacao que ela origina 86 se encerrar4 com o seu retorno e com o fecha- iniciado pela primeira viagem, terminando o texto ¢40 do equilfbrio entretanto perdido. Os meios de Sati, de barco, passou a ser feita a cavalo eter da floresta e da neve do inverno. 4 casa, tealizada j4 na noite de Natal, depois de v- Obsticulos, incluindo a doenga e 0 encom Wvagens, s6 é possivel gracas ao “milagre” 42 i" alto da floresta por ago dos anjos © COMENTARIOS CARA A FORMACION Lzcrona pé também esse “milagre” que explica a tradi Xm 9 alates, arvores no Natal, estando a histéria do Geaicigad ados eiluminat “esta historia, levada de boca em boca, correu os paises : a Bé por isso que na noite de Natal se iluminam os pinhei- atti dNim{resen, 1998: 73). Mas as experiéncias religiosas ou misticas tate Co estendem-se a um outro momento do percurso de : dos a ‘casa, quando fica doente, a caminho da Flandres, e é reco- ido e tratado num convento de frades, onde demora varios meses ee recuperar de uma febre que quase lhe tira a vida. O convento a¢%0 tem, por sso, um grande significado na narrativa, na medida em que eas, funciona como espago de recuperacio, mas também de introspecao Nix ederecolhimento, onde o Cavaleiro pode usufruir de um ambiente ores ‘slencioso ¢ calmo, préximo da Natureza, onde é possivel a comu- tufa ocom Deus. A descti¢io do convento e dos elementos que o ii trios 'marcada por uma grande paz e calma profunda. Depois do uma nto, da agitacao ¢ da riqueza de Veneza e Florenca, os tinicos este jue s4o o “murmurar das fontes na cerca e os cinticos gina (Andresen, 1998: 44) ¢ as obras de arte que observa cha- es pinturas dos frescos que contavam os milagres mara- ae 0s santos” (idem, ibidem: 44). A sugestao de comunhfo e ee entre todos os seres da natureza e os elementos naturais a, também ela, uma experiéncia religiosa marcante, jé at “erguia-se uma grande paz como se os homens, os lantas ¢ as pedras tivessem encontrado um reino de (idem, ibidem: 45). Assim, ¢ possivel estabelecer uma ;ntre o papel que o convento tem na viagem de regresso a que a Terra Santa desempenha na sua vida, na medida bos locais de retiro ¢ de isolamento, de proximidade € a religiosidade que faltam no quotidiano, as destinadas & meditacio ¢ ao encontro consigo eza e com Deus. ED Referéncias bibliograficas er, Jean; Gheerbrant, Alain (coord.) (1994). Diciondrio dos ‘Anténio (2007). “Sophia de Mello Breyner Andresen ¢ para criangas e jovens”, Casa da Leitura. Texto disponi- http://www.casadaleitura.org/portalbeta/bo/documentos/

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